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A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

Marcos Osório
Arqueólogo do Município do Sabugal

Resumo to proto-histórico. Esta grande unidade geográfica


Na região do vale superior do rio Côa conhe- termina apenas nos elevados relevos que fazem a
cem-se testemunhos de intensa ocupação durante a separação entre as linhas de água da bacia hidro-
Idade do Ferro. Aqui tem sido tradicionalmente assi- gráfica do rio Côa e a bacia do rio Zêzere, dando
nalada a fronteira entre os Lusitanos e os Vetões. lugar à depressão da Cova da Beira, sendo essa tran-
Analisando a tipologia de assentamento dos povoa- sição marcada por relevos bastante elevados e de
dos, observam-se algumas diferenças entre os que íngremes vertentes, separados por vales encaixados.
ocupam os relevos periféricos da margem esquerda Em anteriores publicações tentámos reunir al-
do rio Côa e os que se distribuem pela plataforma guns contributos para o estudo do I milénio a.C. nesta
mesetenha, do lado contrário do rio. Esta disparida- região (Osório, 2005a, 2008a), caracterizando as suas
de reflecte-se na sua malha de povoamento e nas populações e estabelecendo algumas conjecturas
respectivas áreas de influência, observando-se zo- sobre os seus âmbitos territoriais. Importava agora
nas de maior densidade populacional intercaladas por aprofundar, com maior detalhe, as questões relati-
áreas menos habitadas. vas aos limites culturais e territoriais destas comuni-
Ao nível da cultura material, em especial da dades da Idade do Ferro na bacia superior do rio
cerâmica, parece haver também algumas diferenças Côa, propondo algumas hipóteses de trabalho, com
entre assentamentos orientais e ocidentais, nomea- o recurso a diversos métodos de análise espacial e
damente no tocante às influências culturais e às téc- aos dados proporcionados pelo espólio cerâmico re-
nicas decorativas empregues. O que parece ser co- colhido em prospecção e escavação. Estamos cien-
mum e talvez característico destas gentes proto-his- tes de que não possuímos informação suficiente para
tóricas do Alto Côa é a abundância de recipientes a resolução desta problemática, pois os dados não
lisos e sem traços morfológicos e decorativos pró- são abundantes, ainda são poucos os sítios escava-
prios. dos, são escassos os materiais com cronologias pre-
cisas e não possuímos quaisquer datações absolu-
tas.
I.
Da listagem de estações arqueológicas proto-
A questão da fronteira entre Lusitanos e Ve- históricas do Alto Côa, excluímos para esta nova abor-
tões é uma das problemáticas de investigação mais dagem todas aquelas que estão atestadas com cro-
aliciantes no território do actual Município do Sabu- nologia recuada à Idade do Bronze Final e reduzi-
gal, que integra praticamente todo o vale superior mos o grupo a 19 núcleos populacionais, o que “não
do rio Côa, na denominada região da “Beira Mese- traduz, necessariamente, uma perda de importância
tenha” (Fig. 1), onde os investigadores situam a fron- das populações que aqui viveram nesse período”
teira ocidental dos Vetões, que classificam como a (Vilaça, 2008: 48), bem pelo contrário, demonstra
mais difícil de traçar. uma ocupação cadenciada e homogénea do territó-
rio.
Analisando a geomorfologia da região, verifi-
camos que o Alto Côa se integra ainda na superfície Presumindo que estamos numa zona de fron-
da Meseta Peninsular, dadas as suas características teira entre dois grandes grupos populacionais da Ida-
planálticas, de paisagem suave e monótona, somen- de do Ferro, olhando para o mapa de distribuição
te quebrada pelos vales do Côa e seus afluentes –o destes povoados pelo vale superior do rio Côa (Fig.
que terá condicionado obrigatoriamente o povoamen- 2), verificamos que não é fácil assinalar qualquer lin-

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ha que distinga aqueles que poderão ser lusitanos veis. Mas, infelizmente, nas estações arqueológicas
dos que seriam vetões. da Proto-história recente do Alto Côa, faltam mais
Se recorrermos aos únicos elementos culturais testemunhos de inquestionável classificação vetona,
conhecidos nesta região, que sejam facilmente inte- empregues por alguns autores na definição do terri-
gráveis em cada uma destas duas comunidades, cons- tório dos Vetões (Álvarez-Sanchís, 2004: 301): como
tatamos que, no topo de um dos povoados ociden- os verracos, as pedras fincadas, as gravuras no pa-
tais do Alto Côa, conhece-se um dos mais famosos ramento das muralhas, a cerâmica a peine ou até as
testemunhos lusitanos -a inscrição rupestre do Ca- referências epigráficas a gentilidades. O achado de
beço das Fráguas (Fig. 8)- uma rara epígrafe votiva qualquer um destes testemunhos seria um interes-
gravada com caracteres latinos, mas redigida numa sante indicador cultural na resolução desta proble-
língua indígena, convencionalmente designada por mática.
‘lusitana’, descrevendo uma oferenda de vários ani- Assim sendo, seria esse limite coincidente com
mais a divindades indígenas, algures no século II o degrau topográfico que marca o fim da Meseta
d.C. –um tipo de sacrifício, com raízes indo-europeias, Peninsular, a poente, em cujas linhas de altura se
conhecido entre os romanos por suovetaurilia (To- situam alguns destes povoados da Idade do Ferro?.
var, 1985, Curado, 1989). Ou seria o rio Côa a baliza entre lusitanos e vetões,
Por outro lado, o mais próximo indicador de como tem sido tradicionalmente apontado por vários
povoamento vetão fica apenas a 9 kms. da fronteira autores (Roldán Hervas, 1968-69: 104, Salinas de
luso-espanhola e a 17 kms. para leste do povoado Frias, 1986: 21, Álvarez-Sanchís: 1997: 36, Olivares
do Sabugal Velho –referimo-nos a Irueña (Fuente- Pedreño, 2001: 58, Bonnaud, 2002: 179)?.
guinaldo, Ciudad Rodrigo), um grande assentamen-
to de 12 hectares, sobranceiro ao rio Águeda, onde
II.
foram encontrados dois verracos (Maluquer de Mo-
tes, 1956: 63). Mais a Norte, em Castelo Mendo (Al- Comecemos esta reflexão por um dos elemen-
meida), aproximadamente a 13 kms. do nosso po- tos essenciais na caracterização dos núcleos popula-
voado mais setentrional, num esporão com boas con- cionais que é a tipologia dos assentamentos. Verifi-
dições naturais de defesa, na margem esquerda do camos que, na área nascente do território, os povoa-
rio Côa, conhecem-se também duas esculturas zo- dos ocupam os escassos relevos residuais existen-
omorfas (Fig. 8), associadas a materiais datáveis tes, pouco elevados e destacados da superfície pla-
desde o Bronze Final até à Época Romana (Bonn- náltica, correspondendo geralmente a topos de ma-
aud, 2002: 179 e 196, Perestrelo, 2004: 33), onde ciços quartzíticos ou a esporões topográficos sobran-
provavelmente habitou também uma comunidade ceiros às principais linhas de água e, em casos pon-
vetona. tuais, também se enumeram alguns povoados aber-
Com base nestas referências fixas, cremos que tos, em pequenas colinas sem quaisquer defesas
essa delimitação deverá ocorrer algures pelo centro naturais. Estes assentamentos possuem reduzida vi-
desta região e, por isso, será descabido considerar a sibilidade entre si, dada a escassa altimetria, estan-
Serra da Estrela como o limite ocidental dos Vetões do alguns praticamente encaixados e dissimulados
(Roldán Hervas, 1968-69: 88) ou, pelo contrário, nos suaves vales dos afluentes do Côa (Fig. 2).
pensar que o Alto Côa possa ser totalmente lusitano, Pelo contrário, na parte ocidental do território,
coincidindo a estrema ocidental dos Vetões com o os povoados ocupam os topos dos principais relevos
povoado de Irueña (Roldán Hervas, 1968-69: 105, que marcam as fronteiras naturais, tal como sucede
Salinas de Frías, 1986: 21, Sayas Abengoechea e em outras serranias da Beira Baixa (Vilaça, 2004:
López Melero, 1991: 79) (Fig. 8). 47) ou do Alto Mondego (Pereira, 2003: 350). Todos
Portanto, a questão que nos propusemos ave- estes sítios habitados caracterizam-se pela sua ele-
riguar era saber se o território do Alto Côa estaria vada altitude (entre 700 a 1000 metros), pelas abun-
completamente integrado nos vetões ou se, pelo dantes defesas naturais, por um comando acentua-
contrário, seria berço de gentes lusitanas, ou ainda, do e por declives com valores superiores a 25%. São
se a sua eventual fronteira cultural passaria pelo in- uma referência constante na paisagem, sendo avis-
terior desta região. Acreditamos que esta será a hi- tados de qualquer ponto da região, estabelecendo-
pótese mais provável, em função dos dados disponí- se como verdadeiros símbolos territoriais, omnipre-

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sentes nas populações; e detêm uma forte intervisi- tância advém da sua destacada posição altimétrica –
bilidade, que advinha um permanente contacto vi- que são as viewshed ou bacias de visão, e apresen-
sual. támos um exercício exemplificativo com o povoado
do São Cornélio (a 960 metros de altitude), que aqui
Conhecendo esta disparidade na morfologia
mostramos na figura 3, onde se assinalaram a verde
topográfica dos assentamentos proto-históricos do
as áreas que são visíveis desde o topo deste castro.
Alto Côa, julgámos oportuno analisar como se re-
Constatámos que daí se avistavam perfeitamente
flectem estas diferentes soluções de povoamento nas
todos os restantes sítios habitados, em torno, ex-
respectivas áreas de influência.
cepto o Sabugal, e que os outros núcleos populacio-
Apesar de se conhecerem diversas propostas nais também tinham presente o próprio São Corné-
de análise de povoamento, considerámos interessante lio, que constitui, juntamente com as Fráguas, a re-
a aplicação dos métodos de formação de territórios ferência visual mais importante para as populações
teóricos desenvolvidos por Davidson & Bailey e tam- do Alto Côa e da Cova da Beira.
bém o exercício dos Polígonos de Thiessen.
Acreditamos que este contacto visual perma-
No primeiro caso (Davidson e Bailey, 1984), a nente entre os povoados evidencia a existência de
análise das áreas de influência de um povoado, defi- laços de solidariedade, sobretudo em caso de ameaça
nidas pela contabilização dos tempos de marcha des- e de defesa mútua, sendo um dos motivos que terá
de o habitat para a periferia, é um exercício que pos- presidido a ocupação destes locais, intencionalmen-
sibilita a percepção da possível extensão máxima de te colocados em campos de visão comuns, como meio
território afecto a esse núcleo populacional, bem de coesão e provando a sua afinidade étnica (Vilaça,
como do tipo de actividade empreendida e das áreas 2004: 47).
que se pretendiam explorar colocando-se naquele
ponto. Este método permite ainda estabelecer con- Na altura, reparámos que o povoado do Sabu-
jecturas sobre a contemporaneidade entre dois po- gal, situado mais para nascente, achava-se relativa-
voados vizinhos. mente distanciado deste conjunto de núcleos castre-
jos e era-lhes completamente invisível, parecendo
Nas I Jornadas de Património de Belmonte apre- não estar aí integrado, mas pertencendo a outra rede
sentámos a aplicação preliminar deste método, ape- comunitária.
nas nos assentamentos populacionais situados na
transição da Meseta para a Cova da Beira, com vista Por isso, para esta apresentação, estendemos
à caracterização da rede de povoamento local (Osó- a aplicação destes exercícios a todo o Alto Côa, abran-
rio, 2008a: 59 e 61). O gráfico resultante mostrou gendo agora os povoados orientais (Fig. 5), de for-
que não se verificavam quaisquer sobreposições das ma a verificar se existem as mesmas interacções
áreas de 30 minutos de marcha dos povoados, mas detectadas a poente ou se ocorrem diferenças ób-
eram frequentes nas marchas de 1 hora, não respei- vias de ocupação do espaço.
tando as áreas máximas dos núcleos vizinhos. Cons- A conclusão que tiramos da análise do novo
tatou-se que os territórios dos povoados se encon- mapa alargado dos tempos de marcha é que para
travam bem encaixados com os adjacentes e rara- nascente existem duas realidades ocupacionais dis-
mente eram entremeados de extensões vazias. tintas:
Os povoados demonstravam também uma no-
a) Junto ao rio Côa, os povoados possuem
tável equidistância, numa malha cerrada, parecendo
amplos territórios de marcha e encontram-se relati-
dispor-se emparceirados, frente a frente, de oeste
vamente distanciados entre si. O Sabugal é mesmo
para leste –um posicionamento estratégico pensado
o mais isolado, constituindo uma ilha no meio das
para o controlo visual do território imediato, sobre-
redes de povoamento detectáveis. Portanto, o mes-
tudo dos corredores de penetração da planície para
mo afastamento que este manifestava em relação
o planalto mesetenho, que se efectuam neste senti-
aos castros ocidentais ocorre também com os nú-
do, mutuamente acessíveis em 30 a 40 minutos de
cleos orientais. Os restantes três povoados desta faixa
marcha.
média do Alto Côa colidem tangencialmente nos seus
Nesse trabalho, recorremos a outra operação limites de 1 hora de marcha, estando, mesmo assim,
bastante útil na análise do povoamento, especial- bastante autonomizados, com áreas de exploração
mente daqueles núcleos populacionais cuja impor- suficientemente encaixadas e não sobrepostas.

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b) Depois, mais para nascente, observa-se uma Sabugal constitui um centro populacional intermédio
nova rede de povoamento de organizada proximida- entre duas importantes redes de organização étnica,
de, onde os territórios também colidem e se sobre- merece particular atenção uma ara votiva dedicada
põem nos 30 a 45 minutos de caminhada, não con- à divindade indígena de Arentia Equotulaicense (Cu-
seguindo ter 1 hora de marcha de território próprio, rado, 1984, 1988), que aqui foi descoberta, podendo
nem respeitando as áreas de influência máxima dos este epíteto latinizado denunciar o primitivo nome
povoados vizinhos. Contudo, nota-se uma disposição do Sabugal –Equotule (Osório, 2006: 90), a partir da
espacial distinta da observada a ocidente, concen- base *Ekwo-tullo, que foi apontado recentemente por
trando-se os assentamentos em cadeia, ao longo das Blanca Prósper (2002: 120-121) e por Pedro Carval-
duas principais ribeiras afluentes da margem direita ho, como estando “relacionado com o topónimo lati-
do rio Côa, que correm no sentido Sul/Norte. Não no meditullium, com o significado de terra intermé-
existem espaços vazios entre os assentamentos, ao dia (ou zona interior ou central de um território)”
contrário do que sucede na área central onde se no- (Carvalho, 2008: 79).
tam grandes áreas desabitadas.
Nesta análise espacial do povoamento do Alto
Fizemos a mesma operação de viewshed ou Côa, recorremos também ao método dos Polígonos
bacia de visão para a área oriental do Alto Côa, colo- de Thiessen, fazendo passar alinhamentos rectilíneos
cando o ponto de observação num dos relevos mas pelos pontos intermédios entre os diversos povoa-
destacados na paisagem –o Sabugal Velho, situado dos, resultando em territórios de contorno poligonal.
num bastião setentrional da serra de Aldeia Velha, a Apesar deste exercício não produzir mais do que uma
1019 m de altitude. Uma saliência que é visualizada aproximação teórica à forma e tamanho dos territó-
por todo o Alto Côa e que parece ser dos povoados rios desses núcleos, sendo por isso muito criticado,
mais importantes (como veremos adiante). No gráfi- observando o mapa resultante da sua aplicação nes-
co resultante (Fig. 4), constatamos que este castro ta região, verificamos a disposição regular dos sítios
tinha contacto visual com todos os povoados do lado e a relativa equidistância evidenciada pela maioria
nascente (até Caria Talaia), mas não avistava nen- dos povoados, destacando-se apenas os polígonos
hum a ocidente (devido a um outeiro que lhe cobre a assinalados na zona da Beira-Côa pela sua maior di-
visão), excepto o elevadíssimo cabeço de São Cor- mensão em relação aos das extremidades (Fig. 6).
nélio. Por outro lado, confirma-se que o Sabugal Vel-
Por outro lado, atentando nas respectivas mal-
ho também não tinha contacto visual com a comuni-
has geométricas percebemos que o tipo de atracção
dade que habitava o Sabugal.
que terá condicionado a distribuição espacial das duas
Ora, estes gráficos parecem demonstrar a exis- comunidades mais extremadas é um recurso linear
tência de duas áreas de intensa proximidade huma- (sobre o assunto ver Cerrillo Martín de Cáceres, 1990:
na, com sintomas de forte espírito comunitário, nas 55-59). Na parte ocidental, a atracção comum aos
extremidades poente e nascente do Alto Côa –uma assentamentos seriam as vias que atravessavam a
com inclinação para a depressão da Cova da Beira e região, pois nelas circulava especialmente o metal
a outra com ligações topográficas à Meseta: o que (Vilaça, 2000: 33), enquanto que na parte oriental, o
parece contradizer a ideia de que as terras dos Ve- recurso condutor seriam as linhas de água e as res-
tões eram caracterizadas por menor densidade de pectivas veigas para cultivo e para pastagem do gado.
povoamento, ao contrário das áreas propriamente Estas distintas organizações e formas de exploração
lusitanas (Martín, 1996: 59). O que falta, provavel- do território teriam obrigatoriamente implicações ao
mente, é detectar os povoados abertos de planície, nível económico e sugerem que os povoados orien-
que nesta região mesetenha seriam, seguramente, tais estariam mais inclinados para a actividade agro-
frequentes, embora mais difíceis de identificar em pecuária, em detrimento da componente mineira e
trabalhos de prospecção. comercial dos assentamentos ocidentais.
Estas duas malhas de povoamento estão con- Quanto à possível concordância entre esta
sideravelmente separadas entre si, estabelecendo- marcação geométrica e os acidentes geográficos do
se no meio delas, talvez no limite das terras explora- Alto Côa, frequente em outras aplicações que fize-
das por ambas, alguns povoados mais isolados e mos deste exercício nesta mesma região (Osório,
periféricos, em especial o Sabugal. 2006: 93-94 e mapa III), nesta situação, ela é inexis-
Reforçando esta ideia de que o povoado do tente. Não se observa, por exemplo, nenhum limite

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poligonal coincidente com o rio Côa, nem com os 2001, 2001, Alarcão, 2001). Todavia, é possível «acer-
relevos que marcam a separação das bacias hidro- carse a la etnicidad del pasado a través de la cultura
gráficas. Isto reforça a nossa opinião (Osório, 2008: material” e verificar como esta se comporta na defi-
49-50) de que estamos a procurar, demasiadamen- nição dos grupos étnicos, procurando aqueles indi-
te, fronteiras para os povos proto-históricos em bali- cadores materiais que melhor possam caracterizar
zas naturais que apenas fizeram sentido nas divisões determinada comunidade (Álvarez-Sanchís, 2004: 301
provinciais e municipais da época romana e medie- e 313). Apesar de difícil e discutível, esta é uma abor-
val. No Alto Côa, alguns povoados localizam-se exac- dagem que devia ser explorada mais aprofundada-
tamente em cima das linhas de fronteira natural apon- mente, pois a cultura material tem um papel activo
tadas para estas comunidades e não nos parece cre- na criação das solidariedades sociais (Alarcão, 2001:
dível que as áreas de influência desses assentamen- 294).
tos proto-históricos estivessem restringidas a esses
A questão que se coloca é se existirão, ao nível
obstáculos fronteiriços.
da cerâmica, determinadas particularidades que pos-
Agora, por fim, confrontando directamente os sibilitem a distinção entre as duas comunidades con-
polígonos com as áreas de influência de Davidson & finantes na região.
Bailey (Fig. 7), chegamos à conclusão que nas zonas
No Alto Côa, entre os povoados da Proto-histó-
de povoamento apertado os limites dos polígonos
ria recente, dos quais possuímos dados proporciona-
coincidem com as manchas de 30 minutos de mar-
dos por escavação, destaca-se o Sabugal. As três
cha, enquanto que na região intermédia os territó-
intervenções arqueológicas realizadas no centro his-
rios teóricos obtidos pelo método de Thiessen supe-
tórico desta cidade –junto à cerca medieval, na área
ram grandemente o tempo de marcha máximo. Por-
do actual Museu Lapidário e no interior do castelo,
tanto, em áreas de povoamento espaçado, os tem-
permitiram atestar uma presença humana do Calco-
pos de marcha definem sempre territórios inferiores
lítico à Idade do Ferro, obtendo-se espólio e teste-
aos obtidos pelos polígonos de Thiessen, enquanto
munhos de estruturas que comprovam a existência
que no povoamento concentrado as áreas poligonais
de um extenso núcleo de povoamento abrangendo o
são sempre inferiores aos territórios máximos dos
topo e a encosta nascente.
tempos de marcha.
Entre os resultados mais destacáveis, encon-
Concluindo, estas metodologias de análise te-
tra-se o nível de ocupação descoberto na intervenção
rritorial insinuam, conjuntamente, que uma eventual
do Museu Lapidário, assinalado por uma estrutura
fronteira étnica e cultural entre as referidas comuni-
de combustão, com uma base rectangular de barro
dades pré-romanas deveria situar-se nas terras cen-
cozido, sobre a qual era aceso o fogo, bem como os
trais da Beira-Côa. Porém, com base na análise des-
restos de um pavimento de barro e de um buraco de
te mapa (Fig. 7), não é possível definir se o ponto
poste estruturado de um habitat da Idade do Ferro
exacto de passagem dessa eventual raia seria a poen-
te ou a nascente do amplo território do povoado do (Osório, 2005a: 41-42 e 55). Infelizmente, as movi-
Sabugal, nem a qual entidade estariam filiados os mentações de terra provocadas pela construção da
residentes de Equotule. muralha medieval, destruíram este nível de ocupação,
sobretudo a estratigrafia de abandono, mas entre os
níveis de entulhamento da vala fundacional desta
III. construção militar apareceu espólio de boa qualida-
de, nomeadamente cerâmicas de fabrico manual, com
Vamos agora incidir a nossa reflexão nos ma-
motivos penteados e estampilhados (Fig. 10).
teriais arqueológicos, em especial nas cerâmicas,
intentando obter outros indicadores para a resolução Em posteriores escavações realizadas no inte-
desta problemática. A análise do espólio arqueológi- rior do Castelo, obtivemos novos vestígios habitacio-
co tem sido esquecida nos estudos de caracterização nais da Idade do Ferro. Aí, sob estratos alto-medie-
dos Lusitanos e Vetões, especialmente na definição vais, identificou-se a parede de um edifício de planta
dos respectivos limites territoriais, em detrimento da quadrangular e um nível de circulação de terra pisa-
exaustiva interpretação das fontes clássicas (ver Rol- da, onde havia outra base de barro rectangular de
dán Hervas, 1968-69 e Bonnaud, 2002) e das re- uma lareira, semelhante à identificada na encosta
ferências epigráficas (ver Olivares Pedreño, 2000- nascente. Esta estrutura doméstica estava associa-

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da a uma mó circular e a um conjunto de cerâmicas cular castreja, com cerca de 6 m de diâmetro e com
de fabrico manual ou a torno, mas de formas sim- um átrio da entrada (Osório, 2005a: 43 e 56-57).
ples e lisas, sem quaisquer elementos morfológicos Concluiu-se que o urbanismo castrejo do Sabugal
ou decorativos característicos (Osório, 2005a: 42 e Velho era composto por dois tipos de edifícios: de
55-56). planta circular e rectangular.
Tratando-se de simples sondagens de diagnós- Nestas sondagens e nos extensos entulhamen-
tico, as informações obtidas sobre as estruturas ha- tos detectados na zona da muralha recolheu-se abun-
bitacionais e a organização do espaço deste povoa- dante espólio, como os dois cadinhos de cerâmica,
do são pouco abrangentes. No entanto, ficámos a as contas de colar, o pendente de xisto, a fíbula de
saber que persistem algumas técnicas e materiais bronze de tipo Acebuchal (séculos VII-VI a.C.) e o
de construção, já empregues anteriormente –as ba- escopro de bronze de secção quadrangular (Osório,
ses de lareira, os pavimentos de barro e as estrutu- 2005a: 65, 2008b: 60-62), semelhante a outros já
ras de apoio da cobertura com postes de madeira descobertos nesta região (Vilaça, 1995: 85-86); para
(Vilaça, 2008: 48). além da abundante cerâmica que caracteriza a cul-
tura material do Sabugal Velho e lhe atribui o enqua-
Outro local bem conhecido, fruto de intensas
dramento cronológico (Osório, 2008b: 55-57).
escavações, é o Sabugal Velho. A intervenção con-
cluiu que se tratava de uma aldeia medieval fortifica- Apesar de tudo, estes resultados mostram que
da, dos séculos XII-XIII, com a malha urbana bem se quisermos recorrer ao espólio cerâmico para es-
preservada, e que, sob este aglomerado leonês, per- tabelecer uma distinção entre o povoamento vetão e
duravam ainda níveis de ocupação mais antigos, que o lusitano, teremos ainda inúmeras dificuldades. Pri-
recuavam à Idade do Ferro. meiro, devido ao desequilíbrio patente entre a gran-
de quantidade de informação proveniente da esca-
A insuficiente área escavada e a destruição
vação de três estações arqueológicas, em contraponto
provocada pela presença medieval, impedem-nos de
aos escassos dados recolhidos em prospecção no
conhecer melhor o urbanismo do povoado proto-his-
resto da região. Segundo, porque não temos uma
tórico e de perceber a sua extensão máxima, contu-
visão uniforme do território, pois existe maior volu-
do foi ainda possível estudar os restos da muralha
me informativo procedente da zona oriental do Alto
castreja que circunda o espaço habitado. Era uma
Côa, enquanto escasseia o conhecimento dos mate-
edificação de alvenaria sólida e maciça, com uma
riais cerâmicos recolhidos nos núcleos de povoamento
técnica construtiva análoga a muitas outras fortifi-
ocidental.
cações mesetenhas (Osório, 2005b: 89). As investi-
gações permitiram concluir que havia uma entrada a Outro obstáculo do recurso à cerâmica para esta
poente (posteriormente entaipada na fase medieval), reflexão é que determinadas morfologias e deco-
feita pela simples interrupção e discordância do traça- rações que mais facilmente permitiriam caracterizar
do defensivo, formando uma entrada não directa, as comunidades do Alto Côa e definir as suas afini-
oblíqua e dissimulada, apetrechada ainda com um dades culturais, são pouco representativas. Os úni-
torreão e com socalcos defensivos (Osório, 2005b: cos exemplares cerâmicos que exibem decoração, dos
89 e 99, fig. 16). É também na Meseta espanhola milhares de fragmentos recolhidos nas escavações
que encontramos os principais paralelos arquitectó- do Sabugal Velho e do Sabugal, resumem-se a umas
nicos desta solução militar (Maluquer de Motes, 1958: escassas peças com decoração maioritariamente es-
24). tampilhada e penteada (Fig. 10), que já foram estu-
dadas e publicadas anteriormente (Osório 2005a: 40-
Nas várias sondagens realizadas na estação
49, 2008b: 55-56). Esta amostra atesta, porém, uma
arqueológica, só foi possível identificar restos de duas
nítida proveniência mesetenha, fruto de contactos
edificações da Idade do Ferro, associados a mate-
continuados com os centros populacionais vetões ou
riais de datação correspondente (Fig. 13). Detectou-
da existência de fortes laços de parentesco étnico e
se a parede de um edifício de planta quadrangular
cultural.
encostado à face interna da muralha, solução que
também se observa no mundo mesetenho; e nas Destacamos os exemplares decorados com es-
escavações abertas no centro do povoado, sob as tampilhas de semicírculos concêntricos, porque este
paredes de um grande edifício medieval, identificou- é, até agora, o único motivo repetido nestes dois
se um alinhamento curvilíneo de uma típica casa cir- povoados, para além dos círculos concêntricos e dos

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A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

ornitomorfos recolhidos apenas no Sabugal (que es- táveis impulsos criativos inovadores, designadamen-
tão presentes por exemplo em Soto de Medinilla, te nos fabricos cerâmicos, mas um certo conserva-
Padilla del Duero e Simancas) (Osório e Santos, 2003: dorismo, patente na sobrevivência de processos de
382). Sabendo que a ornamentação é feita sobre fabrico e acabamento seculares (Carvalho, 2007: 57-
cerâmica manual, podemos dar-lhe um enquadra- 58). As peças mais emblemáticas do seu espólio cerâ-
mento mais antigo, com paralelos recuados à I Ida- mico eram adquiridas por importação, vindas da
de do Ferro (Osório e Santos, 2003: 382). Meseta ou da Beira Alta, provavelmente em troca do
produto da mineração. Não eram, portanto, comuni-
A outra decoração aqui presente -a cerâmica a
dades totalmente fechadas a outros mundos, mas
peine, com paralelos em Cogotas II e Sanchorreja,
os impulsos externos chegariam com pouca intensi-
comum desde o Ferro Antigo (Osório e Santos, 2003:
dade (Carvalho, 2007: 56). Pedro Carvalho alertou
379) -tem sido considerada pelos investigadores da
já, anteriormente, que essa ausência, juntamente
Proto-história da Meseta como um forte “marcador
com o arcaísmo e monotonia das formas e fabricos,
móvil de la etnicidad” (Álvarez-Sanchís, 2004: 312),
poderiam ser a particularidade que os caracterizava
que não ultrapassará os limites do território vetão.
(Carvalho, 2007: 58).
No entanto, ainda se desconhece com exactidão a
extensão máxima da mancha de difusão das cerâmi- Do ponto de vista tecnológico, a cerâmica ma-
cas a peine para ocidente: Poderemos esperar a sua nual não decorada identificada nesta região, em es-
presença nos castros que ocupam a orla do rebordo pecial nas escavações do Sabugal e do Sabugal Vel-
da Meseta como a Serra d’Opa, o São Cornélio ou as ho (Fig. 11), caracteriza-se pelas pastas grosseiras,
Fráguas?. E não poderão chegar estas cerâmicas, de com abundante desengordurante, maioritariamente
pouca expressividade, a áreas periféricas, por via das de cozedura redutora, com superfícies rugosas, sem
trocas comerciais, ampliando exageradamente a sua qualquer tipo de acabamento cuidado, para além de
área de difusão?. Assim, talvez não possamos reco- algum alisamento ou de ligeiro cepilhado superficial.
rrer a esta cerâmica como uma verdadeira marca As tonalidades são escuras, variando entre os cas-
étnica. tanhos, avermelhados e acinzentados.
A inexistência de um conjunto cerâmico com A morfologia é sempre bastante simples, sem
traços morfológicos ou decorativos próprios e exclu- quaisquer artifícios ornamentais. As formas mais fre-
sivos é um dos factos mais destacáveis das comuni- quentes são os recipientes globulares, mas também
dades do Alto Côa. Denota-se uma tendência, que se registam potes cilíndricos, troncocónicos e bitron-
poderá ser confirmada com o incremento das esca- cocónicos, de perfil em “S”, com colos estrangulados
vações na Beira Interior, para uma relativa pobreza ou convexos, ou mesmo colos pouco desenvolvidos.
decorativa da cerâmica durante a Idade do Ferro, Os bordos são direitos, extrovertidos ou quebrados,
em comparação com os períodos cronológicos ante- sendo os lábios sempre arredondados, engrossados
riores. Os exemplares decorados correspondem a ou direitos, pontualmente com decoração incisa ou
meros fenómenos residuais na totalidade do espólio impressa. Alguns potes podem ter uma ou duas asas
recolhido. No caso do Sabugal Velho, verificamos que, verticais, geralmente de secção oval ou de fita; e os
dos 1635 fragmentos inventariados, relativos à ocu- fundos são sempre planos.
pação do sítio durante o I milénio a.C., 78% são de
No Sabugal Velho, a gritante escassez de moti-
fabrico manual e apenas 1% apresenta decoração –
vos decorativos nas peças manuais, que permitiria
os fragmentos que aqui mostramos na figura 10, com
caracterizar as produções cerâmicas, é recompensa-
nítida inspiração mesetenha. Esta ausência sugere a
da com um bom lote de fragmentos cerâmicos de
presumível inexistência de produções locais decora-
fabrico a torno, de cozedura oxidante, com pastas
das e o recurso à importação dos únicos exemplares
muito finas e depuradas, com superfícies externas
decorados.
bastante porosas, mas por vezes compactas e alisa-
Talvez a falta de preocupações decorativas na das, de tonalidade esbranquiçada, creme, castanha
produção cerâmica das comunidades lusitanas pos- clara ou alaranjada, maioritariamente lisas ou pon-
sa constituir uma das características diferenciadoras tualmente pintadas (embora mal conservada). É um
entre estes dois povos. Julgamos que os Lusitanos grupo que se destaca pela sua cor, pela reduzida
não deveriam ter uma cultura material própria e dis- espessura, por um bom acabamento e pelo som
tinta dos povos circundantes, pois não são detec- metálico característico.

101
Marcos Osório

Este conjunto de peças cerâmicas é composto Sendo uma cerâmica com origem em áreas
de alguns tipos comuns (Fig. 12). Por um lado, os meridionais da península, cuja datação mais antiga
cuencos ou taças de morfologia tulipiforme, com sua- recua ao final do séc. V a.C., só poderia ser canaliza-
ve perfil em “S”, bordo extrovertido e lábio aponta- da por rotas comerciais, seguindo os eixos naturais
do. Uma destas taças de carena alta conserva ainda de comunicação, vindos de sul, que entravam pelo
os restos de pintura em bandas horizontais de engo- sistema central e que, por sua vez, se difundiam e
be de cor vínica. Por outro lado, enumeram-se gran- distribuíam em leque pela área de povoamento ve-
des recipientes globulares, de colo pouco desenvol- tão. A facilidade de travessia do território meseten-
vido, moldurado ou não, com bordos em aba ou em ho permitia a difusão destas influências culturais ex-
forma de “cabeça de pato”: pelo lábio duplamente ternas por toda a região, até às zonas periféricas.
biselado e ressalto para encaixe de tampa. Também
Esta cerâmica interessa para esta discussão
se enumeram grandes potes ovóides, sem colo, e
porque, para além do Sabugal Velho, já apareceu,
com bordos bastante extrovertidos e lábio direito;
até agora, em outros 3 povoados orientais do Alto
ou potes com colos estreitos e bordos extrovertidos,
Côa –no Sabugal, em Vilar Maior1 e nos Castelos de
praticamente em aba e lábios arredondados ou apon-
Ozendo (aqui somente no decurso de trabalhos de
tados; ou pequenos potes troncocónicos, sem colo e
prospecção). Infelizmente, não são conhecidas pu-
bordos em aba, com lábio arredondado ou aponta-
blicações para o território português que registem o
do. Há ainda a enumerar, alguns pequenos vasos ci-
achado deste tipo de cerâmica em outros locais da
líndricos com bordos ligeiramente extrovertidos. Não
Beira Interior. Mas, julgamos que estes exemplares
podemos associar nenhum dos fundos obtidos a uma
constituem, para já, o testemunho mais ocidental
destas formas, mas verificamos que são planos (por
conhecido e agora publicado, pois os dados obtidos
vezes com pé alto) ou côncavos (com umbo central).
na bibliografia disponível provêm sobretudo de re-
Também identificámos o fragmento do pé de uma
giões mais orientais e meridionais, em relação ao
copa.
vale do Côa.
No Sabugal Velho, este constitui o conjunto
Estas cerâmicas não foram, até agora, identifi-
cerâmico mais homogéneo e melhor representado,
cadas em núcleos de povoamento da fachada oci-
ainda por cima, mais fácil de datar do que a cerâmi-
dental do Alto Côa, apesar destes não terem sido
ca manual lisa ou as restantes formas de fabrico a
ainda devidamente escavados, e têm aparecido es-
torno. Foram inventariados 340 fragmentos deste tipo
pecialmente nos povoados da área oriental. Somen-
de produção, dos quais 62 exemplares proporcionam
te procedendo a escavações intensivas na franja oci-
forma. Estatisticamente, esta cerâmica fina corres-
dental desta região, que clarifiquem a sua presença
ponde a cerca de 20% de toda a cerâmica proto-
ou não2, poderemos estipular a área máxima de di-
histórica do povoado e foi principalmente recolhida
fusão deste indicador material e empregá-lo como
nas sondagens onde foram descobertos os únicos
eventual elemento caracterizador das comunidades
testemunhos habitacionais e os restos da muralha
da Idade do Ferro da Meseta, em contraponto aos
castreja (Fig. 13).
populi lusitanos.
Se tivéssemos que definir o melhor indicador
De facto, se o panorama geral em todo o Alto
material da comunidade da Idade do Ferro residente
Côa é a abundância de cerâmica manual sem deco-
no Sabugal Velho, seria esta cerâmica fina torneada.
ração, a única distinção, a este nível, nesta região, é
Porque não é meramente residual, mas, pelo contrá-
que os povoados orientais apresentam cerâmicas fi-
rio, aparece em significativa quantidade e represen-
nas e torneadas, de proveniência meridional.
tatividade, denunciando o afluxo ao local de peças
provenientes de contactos estreitos e frequentes com
outras regiões exógenas.

1
Os trabalhos arqueológicos que estão actualmente a desenrolar-se nesta povoação, possibilitaram a recolha de outro bom conjunto de
cerâmicas deste tipo, apresentando alguns exemplares decoração pintada, ultrapassando já o número de fragmentos exumados no
Sabugal Velho.
2
Aguardamos com entusiasmo a publicação dos resultados das várias campanhas de escavação realizadas no Cabeço das Fráguas, em
especial das cerâmicas recolhidas, que poderão reforçar ou refutar algumas das nossas propostas apresentadas.

102
A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

Conclusão. prováveis semelhanças ao nível linguístico e das es-


treitas relações existentes entre ambos, atestadas
Os métodos de análise territorial aplicados nesta
nas fontes clássicas (Álvarez-Sanchís, 2004: 308).
região permitiram detectar uma dualidade de redes
Portanto, é possível que a fronteira ocidental dos
de povoamento, com áreas intermédias de carácter
Vetões com os Lusitanos fosse muito difusa e marca-
transitório e talvez fronteiriço. Mas, é através de al-
da por terras inabitadas.
gumas evidências construtivas e especialmente da
cerâmica que parece adivinhar-se uma nítida dife- Contudo, havendo essa delimitação fronteiriça,
renciação entre os povoados do rebordo da Meseta/ ela tinha que passar algures, não pelos relevos que
Cova da Beira e os núcleos de povoamento planálti- marcam o fim da bacia hidrográfica do Côa, nem
co. pelo próprio rio Côa, mas por uma terra de ninguém
Apesar de alguns autores renunciarem a ideia que ficaria entre os territórios de marcha dos povoa-
de fronteira entre estas duas “etnias”, a análise ar- dos junto ao Côa e os situados nos relevos da extre-
queológica demonstra que existem algumas dife- ma ocidental.
renças entre elas, não obstante as influências recí- Por isso, acreditamos que entre o limite da área
procas sentidas (Alarcão, 2001: 295). O exemplo mais de influência do Sabugal e os territórios de explo-
flagrante é sem dúvida a cerâmica mesetenha e ração dos povoados mais ocidentais, onde não se
meridional que chega aos povoados orientais do Alto conhecem mais habitats proto-históricos, passaria
Côa e as soluções arquitectónicas defensivas que aí algures, uma linha divisória convencional entre os
se propagam, por oposição a um vazio destes ele- Lusitanos e os Vetões (Fig. 8). É nesses terrenos,
mentos e a um conservadorismo da cerâmica, despi- afastados dos núcleos de povoamento e provavel-
da de ornamentação e especificidades próprias, que mente não explorados, que poderemos imaginar uma
impera nos cabeços inóspitos e naturalmente defen- fronteira, não assinalada por marcos ou cruzes na
didos do rebordo da meseta. pedra, mas bastante maleável. Os indivíduos sabe-
Teremos conseguido, nestas linhas, estabele- riam perfeitamente que estavam em terras alheias
cer alguns traços de distinção entre as comunidades quando saíam da sua área de influência e do âmbito
afectas aos Lusitanos e aos Vetões?. Situar-se-ia visual da respectiva comunidade de povoados. Ape-
então no Alto Côa a sua fronteira?. Cremos que sim. nas isto seria suficiente para delimitar mutuamente
Todavia, apesar da tendência dos investigadores em gentes diferentes e vizinhas, pois tudo se resumia ao
apontar o Côa como esse limite, julgamos que este controlo imediato do território, não obstante a exis-
rio, que no seu curso até ao Sabugal não é mais do tência de algumas pontuais referências simbólicas
que uma pequena ribeira semelhante aos restantes na paisagem.
afluentes do Alto Côa, nunca terá constituído qual- O São Cornélio, sendo o povoado que ficava
quer tipo de fronteira para povos pré-romanos, em imediatamente defronte do Sabugal, mas cujo terri-
especial nesta bacia superior, ao contrário do Baixo tório não colidia com este, pertenceria a uma comu-
Côa (ver Luís, no prelo). Ainda para mais, quando nidade diferente (Fig. 9). A sua ampla visibilidade e
comprovamos que o assentamento vetão de Castelo
alcance visual desde a Cova da Beira seriam factores
Mendo, já referido anteriormente, fica situado do lado
de adesão étnica ao populus dessa região. Este as-
poente deste mesmo rio.
sentamento integrava-se numa cadeia de povoamen-
Por outro lado, verificamos que os povoados to que se abria para poente, onde os territórios de
do Sabugal e de Caria Talaia ficam situados em cima marcha dos povoados colidem, possuem uma estu-
da linha do Côa (Fig. 2), e, sendo o rio facilmente penda intervisibilidade e apresentam a mesma tipo-
transposto a vau nesses locais, seria impensável que logia de assentamento (Osório, 2008a: 49), afastan-
a sua influência ficasse confinada à berma ribeirinha do-se nitidamente do mundo planáltico do vale do
e não se estendesse para as óptimas terras da outra Côa e seus afluentes mesetenhos, onde imperam
margem do rio. habitats com escassa intervisibilidade, sem vínculos
paisagísticos, pouco elevados e com maior recurso a
Talvez as dificuldades que deparamos na hora
soluções defensivas complexas.
de definir uma raia bem marcada entre estes dois
povos se prendam com o facto de serem mais as Tendo em consideração estes argumentos e,
semelhanças entre eles que as diferenças, fruto das em especial, a análise arqueológica, então o Sabu-

103
Marcos Osório

gal pertenceria a estas comunidades orientais e se- cem conceder-lhe alguma importância, já anunciada
ria o estabelecimento fronteiriço com os lusitanos, pelos materiais arqueológicos exumados nas esca-
no limite ocidental dos vetões, a 30 kms. do povoado vações (Osório, 2005a: 42 e 46) e pela extensão da
de Irueña (Fig. 9), constituindo uma espécie de en- área de vestígios.
treposto económico e cultural.
São estes os dados e as problemáticas que
E se assim fosse, confirmar-se-ia, também, a norteiam a investigação proto-histórica no Alto Côa,
proposta de que nas zonas de fronteira se localiza- que esperamos em breve ampliar com novos teste-
vam, frequentemente, povoados de grandes dimen-
munhos que confirmem ou refutem estas conside-
sões (Vilaça, 2004: 52). Pois, a grande extensão de
rações, através dos trabalhos arqueológicos previs-
território abarcada numa 1 hora de marcha, em par-
tos em outros povoados deste território.
te devido à suavidade da topografia envolvente, pare-

104
A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

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107
Marcos Osório

Figura 1. Localização da região do Alto Côa no mapa de Portugal.

Figura 2. Mapa dos povoados do Alto Côa com provável ocupação durante a Idade do Ferro.

108
A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

Figura 3. Viewshed ou bacia de visão do povoado de São Cornélio.

Figura 4. Viewshed ou bacia de visão do povoado do Sabugal Velho.

109
Marcos Osório

Figura 5. Mancha das áreas de influência dos povoados do Alto Côa.

Figura 6. Aplicação do método dos Polígonos de Thiessen nos povoados deste território.

110
A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

Figura 7. Confronto dos resultados obtidos pelos métodos de Davidson & Bailey e dos Polígonos de Thiessen.

Figura 8. Confronto dos limites naturais com as áreas de influência dos povoados, nesta região do Alto Côa.

111
Marcos Osório

Figura 9. Proposta de delimitação entre Lusitanos e Vetões no território do Alto Côa,


assinalada na carta de relevo com a marcação das áreas de influência dos povoados.

Figura 10. Representação dos escassos exemplares cerâmicos decorados,


recolhidos nas escavações de dois povoados do Alto Côa.

112
A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

Figura 11. Principais formas dos recipientes cerâmicos lisos descobertos no povoado do Sabugal Velho.

113
Marcos Osório

Figura 12. Representação de alguns exemplares cerâmicos do povoado do Sabugal Velho,


de fabrico a torno, de pastas finas e claras, de importação meridional.

114
A Idade do Ferro no Alto Côa: os dados e as problemáticas

Figura 13. Plantas do sector I e III do povoado do Sabugal Velho, com a identificação das sondagens de proveniência
das cerâmicas finas meridionais, contabilizando a quantidade de fragmentos recolhidos.

115
116

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