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A MESOAM É RICA ANTES DE 1519


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cap ítulos de uma hist ó ria da Am é rica Latina dizem res


os PRIMEIROSnela -

habitavam antes do primeiro contato com os euro -


peito aos povos que
peus. Isso é particularmente vá lido no caso da Mesoam é rica . O M éxico, a
1

,
Guatemala , El Salvador, Honduras e, em menor grau a Nicar á gua e a Costa
Rica assim como o Equador, o Peru e a Bol ívia nos Andes centrais, t ê m suas
ra í zes profundamente enterradas no subsolo de suas civiliza ções pr é - colom -
bianas. Este cap í tulo pretende, em primeiro lugar, delinear rapidamente o
desenvolvimento dos povos e das altas culturas da Mesoam é rica antes do
estabelecimento dos mexicas ( astecas ) no vale do M é xico ( c. 1325 ) ; em
segundo lugar, examinar as principais caracter ísticas da organizaçã o polí tica
e socioecon ô mica e as realiza ções intelectuais e art ísticas durante o per íodo
de predomin â ncia ( séculos XIV e XV ) dos mexicas ( astecas ) ; e, em terceiro
lugar, apresentar uma visã o geral da situa çã o reinante na Mesoam é rica às
vésperas da invasã o europé ia ( 1519 ) .

Alguns estudiosos alemães, particularmente Eduard Seler ( 1849-1922 ) , introduziram há mais


de setenta anos a expressão Mittel America para designar a região onde floresceu uma alta cul-
tura ind ígena no M éxico central e meridional e no territó rio cont íguo dos pa íses do norte da
América Central. Muitos anos depois, em 1943, Paul Kirchhoff, em seu “ Mesoam é rica: Sus
Limites Geogr áficos, Composició n Étnica y Caracteres Culturales” , Acta Anthropologica , 1:
92-107 ( Escuela Nacional de Antropologia, M éxico, 1943) , focalizou sua aten ção nos limites
geográficos do que ele chamou Mesoamérica. Mesoamérica é mais que um termo geográfico:
designa também a região em que altas culturas e civilizações nativas se desenvolveram e disse-
minaram sob vá rias formas e em é pocas diferentes. No momento da invasão européia, em
1519, suas fronteiras ao norte eram o rio Sinaloa a noroeste e o Panuco a nordeste, enquanto
que no centro- norte ela não se estendeu al é da bacia do rio Lerma. Seus limites ao sul eram
m
o no Motagua , que
desemboca no golfo de Honduras no mar dos Cara í bas, as praias meridio-
nais do lago Nicarágua e a pen
í nsula de Nicoya na Costa Rica.

i
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Situada entre as vastas massas de terra continental da Am é rica do Norte ó dicos , algarobos. Em alguma é poca , a alta cultura da
dos rios p eri
e da Am é rica do Sul, a Mesoam é rica ( uma á rea de 906 mil quiló metros qua
- jví esoam é rica
disseminou - se de forma atenuada para algumas das sub -
Quemada e em Calchihuites em
drados ) apresenta um aspecto nitidamente ístmico com vá rias caracter ísticas •~
es do planalto norte ( como em La
geogr á ficas not á veis, como os golfos de Tehuantepec e de Fonseca do lado , de modo geral o norte á rido sempre foi o lar perma -
Zacatecas ) . No entanto
do Pac í fico e a pen í nsula de Yucat á n e o golfo de Honduras do lado do mar que vá rias vezes amea çaram a exist ê ncia dos
nente dos belicosos chichimecas .
dos Cara í bas. Essa regi ã o , onde se desenvolveram as altas culturas, mesoamencanos do norte
revela povoados
talvez maior diversidade ecológica e geogr á fica do que qualquer outra de
tamanho an á logo no mundo. Tem uma hist ó ria geol ó gica complexa DA MESOAM É RICA
AS CIVILIZA ÇÕ ES PRIMITIVAS
Principalmente , o soerguimento de montanhas e a atividade vulcâ nica
recentes — como a constitui çã o de duas cadeias montanhosas de origem A pr é - hist ó ria remota , no caso das Am é ricas
, tem in í cio por volta de
vulcâ nica ( uma que corre de leste para oeste ao longo dos limites sul do vale
35000 a.C., quando aparentemente o homem chegou pela primeira
vez ao
do M éxico e a outra na dire çã o noroeste -sudeste através do M éxico e da
continente através do estreito de Bering. Existem alguns testemunhos da
Am é rica Central ) — foram responsá veis pela forma çã o de regi ões naturais prová vel presen ça do homem , por volta de 20000 a.C., na regiã o ocupada
distintas. Embora a Mesoam é rica se localize nos tr ó picos, a complexidade de pelo México atual. No entanto, os fósseis humanos mais antigos, descober -
seu relevo e a variedade de suas formas de terreno, solos e sistemas de dre- tos no sítio arqueol ó gico de Tepexpan , cerca de 40 quil ó metros a nordeste
nagem , aliadas aos efeitos dos ventos e das correntes mar í timas, resultam de Cidade do M é xico , datam de no m á ximo 9000 a .C. Durante um longo
numa diversidade de clima , de vegeta çã o e de vida animal. Essa diversidade período habitaram a terra apenas alguns bandos de ca çadores e coletores de
é bastante acentuada nas bacias fluviais , como as de Panuco, Coatzacoalcos, alimentos. Seriam necessá rios mais tr ês ou talvez quatro mil é nios para que o
Grijalva , Usumacinta , Hondo, Motagua , Lerma - Santiago e Balsas, e nas homem da Mesoam é rica iniciasse, por volta de 5000 a .C., o processo que
á reas lacustres do vale do M éxico ou Patzcuaro em Michoac á n ; e é significa - veio desembocar na agricultura . Achados em vá rias cavernas de Sierra de
tivo que as mais importantes mudan ças culturais da Mesoam é rica tenham Tamaulipas e em Cozcatl á n ( Puebla ) mostram como pouco a pouco os anti-
ocorrido nessas regiões. As sub - regiões realmente tropicais da Mesoam é rica gos coletores iniciaram o cultivo da abó bora , da pimenta malagueta , do fei -
compreendem as plan ícies bem irrigadas de Veracruz e Tabasco: a pen í nsula jã o e do milho. A produ çã o de cer â mica teve in í cio muito mais tarde, por
de Yucat á n, coberta por uma vegeta çã o baixa; a á rea da floresta tropical das volta de 2300 a.C. Em vá rias partes do M éxico central e meridional e na
Antilhas na Am é rica Central; as plan í cies costeiras do M é xico central e Am é rica Central, começaram a proliferar aldeias de agricultores e artesã os
meridional do lado do Pac í fico ( Chiapas, Oaxaca , Guerrero, Michoac á n , de cerâ mica. Algumas dessas aldeias, situadas provavelmente em ambientes
Colima ) e da Guatemala , El Salvador , Honduras, Nicar á gua , juntamente mais adequados , como à s margens de um curso d ’á gua ou junto ao mar ,
com a pen í nsula de Nicoya e a prov í ncia de Huanacazte na Costa Rica. As experimentaram muito cedo um crescimento populacional. Muitas vezes os
o principais sub - regiões de montanha — as Sierras ( as montanhas da Am é rica habitantes dessas aldeias espalhadas por um territ ó rio t ã o vasto diferiam
étnica e linguisticamente. Dentre esses, cedo se destacou um grupo em parti-
Central, o sul de Sierra Madre, bem como por ções do oeste e do leste de
Sierra Madre, e a cadeia vulcâ nica transversal ) e as duas grandes mesas, ou cular. Achados arqueológicos revelam que uma sé rie de mudan ç as extraor -
din á rias começaram a surgir, a partir de mais ou menos 1300 a .C., numa

planaltos, do centro e do sul , embora se localizem na regiã o tropical, t ê m
região pr óxima ao golfo do M éxico , ao sul de Veracruz e no estado vizinho
clima e vegeta çã o temperados. A vasta regi ã o ao norte da Mesoam é rica,
de Tabasco. Essa regi ã o era conhecida desde os tempos pr é - colombianos

entre o planalto central e a atual fronteira M éxico Estados Unidos, é muito
pelo nome de “ Terra
da Borracha ” , Olman, terra dos olmecas.
tu

diferente em termos ecol ó gicos e assemelha - se, sob muitos aspectos, aos
tu
S grandes desertos norte - americanos. A vegeta çã o limita - se em geral a uma Escava ções feitas em centros olmecas, como, por exemplo , Tres Zapotes,
La Venta, San Lorenzo e
diversidade de cactos e alguns capões de arbustos, i ú cas ou palmillas e, perto outros, revelaram grandes transforma ções cultu -
28 29
rais. La Venta , o maior dos centros, foi erguido numa pequena ilha, a pou
. a uma cren ça na vida após a morte. Deve-se provavelmente
aliado
1X10 tos
ao longo da costa do Golfo o in ício do calend á rio e
cos metros acima do n í vel do mar , numa á rea pantanosa junto ao
rio aos olmecas que viviam ,
Tonalá, 16 quiló metros antes de sua foz no golfo do M éxico. Embora só é rica embora tenha sido em Oaxaca ( em locais que
se da escrita na Mesoam vest í -
encontrasse pedra dispon ível a 64 quiló metros do local, foram
desenterradas sofreram influ ê ncia dos olmecas ) que se desenterraram os primeiros
na regi ã o uma sé rie de colossais esculturas de pedra ( algumas delas com

^^^
três
metros de altura ) e outros monumentos. Kgl° Tudo isso, e a difusão precoce de elementos olmecas em localidades dife-
Em La Venta , do mesmo modo que em outras localidades olme
começou a desenvolver -se uma espécie de proto- urbanismo. É provável
cas,
que
I renteS muitas delas
)

ter de uma alta


longe dos centros de origem , parecem confirmar o car á -
cultura - matriz. A influ ê ncia olmeca — provavelmente atra -
tamb é m de uma esp é cie de empenho religioso
os povos agricultores que se fixaram nas proximidades de La Venta
tenham v és do com é rcio e talvez
experimentado, junto com o crescimento populacional, vá rios est í mulos
abandonar seu antigo modo de subsist ê ncia. Suas realiza ções pressupõem
a “ mission á rio ” — aparece manifesta em muitos s í
região pr óxima ao golfo do M éxico
tios arqueol ó gicos da
e no Planalto Central, em Oaxaca, na
do M é xico ( Guerrero e Michoacá n ) . Aqui esta -
mudan ç as em sua organiza çã o religiosa , pol í tica e socioecon ô mica. terra dos maias e no oeste
é rica.
At é onde sabemos, os olmecas foram os primeiros, na Mesoam é rica, a vam os antecedentes do Per íodo Clássico da Mesoam
erigir grandes complexos de constru ções, principalmente para fins religio- As extraordin á rias inova çõ es culturais dos olmecas n ã o significaram o
sos. Desse modo , o centro de La Venta , habilidosamente planejado, inclu ía desaparecimento de algumas not ó rias limita çõ es que continuavam a afetar o
pir â mides rebocadas de barro, t ú mulos circulares e alongados, altares enta - desenvolvimento dos vá rios povos mesoamericanos. Estas compreendem
lhados na pedra , grandes compartimentos de pedra , fileiras de colunas de primeiramente a ausê ncia permanente de qualquer uso pr á tico da roda , com
basalto, tumbas, sarcófagos, esteias, colossais cabe ç as de basalto e outras suas muitas consequ ê ncias, como, por exemplo, no transporte e no artesa -
esculturas menores. A existê ncia de grandes pra ças p ú blicas parece indicar nato de cerâ mica; em segundo lugar , a ausê ncia ( at é cerca de 950 d .C.) de
que as cerim ó nias religiosas eram realizadas ao ar livre. Em alguns dos espa - um tipo mesmo que elementar de metalurgia , numa presun çã o de que essa
ços abertos em frente dos edifícios religiosos foram encontradas sob o piso, tenha vindo talvez da regi ã o andina via Am é rica Central; finalmente, a
formando como que um antigo pavimento, m áscaras de jaguar, formadas de ausência de animais passí veis de domestica çã o: n ã o havia cavalos nem gado
mosaicos verdes , provavelmente para servirem de oferendas e, portanto, bovino e, com exceçã o dos perus ( para alimenta çã o ) , somente os cachorros
revestidas de argila e adobe. Aquilo que denominaremos cria ções art ísticas mexicanos sem p ê los faziam companhia ao homem em sua vida quotidiana
també m compreendia muitas peças de jade, estatuetas, colares e outros obje- — e em sua vida no al é m , uma vez que eram sacrificados para acompanhar
tos de quartzo talhado e polido, obsidiana, cristal de rocha e serpentina. É seus donos à Terra dos Mortos.
poss ível supor algum tipo de divisã o de trabâ lho. Enquanto muitos indiví- No entanto, essas e outras limita ções n ã o constitu í ram obst á culos insu -
duos continuaram a trabalhar na agricultura e em outras atividades de sub- per á veis ao desenvolvimento posterior dos grupos mesoamericanos. Por
o sist ê ncia , outros se especializaram em artes e of ícios diferentes, em garantir volta de 600 a .C., a influ ê ncia da cultura olmeca começou a se fazer sentir
em locais como Tlatilco, Zacatenco e outros, nas proximidades do que sécu -
a defesa do grupo , em empreendimentos comerciais, no culto aos deuses e
los mais tarde veio a ser Cidade do M éxico. Processos paralelos desenvolve-
no governo , que estava provavelmente nas m ã os dos chefes religiosos.
ram-se em outras regiões da Mesoam é rica central e meridional. A agricultu -
Os olmecas adoravam um deus- jaguar onipresente. Os elementos vincu -
ra se expandiu e diversificou; entre outras culturas, o algod ã o foi cultivado
lados ao simbolismo do que seria mais tarde o deus-chuva da Mesoam é rica
com sucesso. As aldeias cresceram, dando lugar a centros maiores.
< derivaram provavelmente da m á scara do deus - jaguar . Esteias e outros ia

monumentos mostram diversas representa ções de p ássaros fant ásticos, mui-


Teotihuacá n , a “ metr ó pole dos deuses” , constitui o melhor exemplo do
apogeu da civiliza ção clássica no planalto central. Recentes achados arqueo -
s tas vezes em associa çã o com jaguares, serpentes ou seres humanos. As ofe - £
lógicos no local revelaram n ã o apenas a exist ê ncia de um grande centro ceri-
rendas encontradas em funerais sã o provas da exist ê ncia de um culto aos
30 31
monial, mas també m tudo o que est á impl ícito na id é ia de uma cidade.
n ã o se desenvolveu da noite para o dia . Vá rios séculos foram necessá rios
para que gera ções de sacerdotes e arquitetos planejassem e executassem ,
^
1
j local , alé m do centro religioso constru ído no topo de uma colina,
de numerosas estruturas em suas encostas sugere a existê ncia de
urbano relativamente grande. Formas mais complexas de escrita ,
modificassem , ampliassem e aprimorassem o que talvez tenha sido concebi- UlTI
°datas nomes de lugar e outros hieróglifos presentes em vá rias inseri-
do originalmente como uma entidade destinada a uma exist ê ncia eterna. 1 ! indícios igualmente do alto n ível cultural atingido pelos zapotecas,
Alé m das duas grandes pir â mides e do Templo de Quetzalcóatl, foram des ~ I ^Kconstruíram Monte Albá n e dominaram muitos outros grupos na região
cobertos outros recintos, pal á cios, escolas e diferentes tipos de constru ção .
* ^
atual Oaxaca
Extensos bairros, onde os membros da comunidade tinham suas residê ncias í nsula de Yucat á n e pelas plan ícies e
Os maias se estenderam pela pen
rodeavam o centro administrativo e religioso mais denso. As avenidas e ruas estados mexicanos de Tabasco e Chiapas e pela Guatemala ,
eram pavimentadas, e havia um sistema de drenagem bem planejado. As
montanhas dos de Honduras . Gra ças à arqueologia, sabemos
Belize e partes de EI Salvador e
pir â mides, os templos, os pal á cios e a maioria das casas dos governantes ou centros maias de import â ncia consider á -
da exist ê ncia de mais de cinquenta
dos membros da nobreza eram decorados com pinturas murais nas quais
vel que foram ocupados durante todo o Per íodo Clássico. Alguns dos mais
estavam representados deuses , p á ssaros fant á sticos, serpentes, jaguares e , Piedras Negras e Ouirigu á na Guatemala ;
famosos sã o Tikal , Uaxact ú n
v á rias plantas.
Copá n em Honduras; Nakum em Belize; Yaxchil á n , Palenque e Bonampak
A metró pole de Teotihuacá n, que em seu apogeu , por volta dos séculos V em Chiapas; Dzibilchalt ú n , Cobá , Labn á , Kabah e os prim ó rdios de Uxmal e
ou VI d.C., se estendia por cerca de vinte quil ó metros quadrados, contava Chich én -Itzá na pen í nsula de Yucat á n .
com uma popula çã o de pelo menos 50 mil habitantes. Diferen ças de posição Muitas teses foram levantadas pró ou contra a natureza urbana dos cen -
social vinculadas à divisã o do trabalho, um exé rcito eficiente, uma agricultu - tros maias. Hoje admite -se de modo geral que as aldeias constru í das às mar -
ra extensiva e um com é rcio bem organizado, em que os comerciantes atin - gens dos rios, como aquelas pr óximas do Usumacinta ou , em geral, dentro
giam localidades bastante distantes, sã o algumas das caracter ísticas que se de uma densa floresta tropical , compreendiam n ã o só santu á rios para os
pode talvez considerar atributos da estrutura socioecon ô mica do estado de deuses e palá cios para os l í deres religiosos, como també m bairros residen -
Teotihuacá n. Os muitos vest í gios de sua influ ê ncia , encontrados em vá rias ciais para o povo.
s í tios arqueol ó gicos remotos, em Oaxaca , Chiapas e mesmo nas regi ões De um ponto de vista pol í tico, parece que alguns desses centros urbanos
montanhosas da Guatemala , parecem indicar que Teotihuacá n foi o centro estavam associados em vá rios tipos de “ confedera çõ es ” ou “ reinos ”. Na
de um grande reino ou de uma confedera çã o de diversos povos. Muitos dos sociedade maia clássica coexistiam dois estratos sociais claramente distintos:
membros da classe governante falavam provavelmente a l í ngua nahuat , uma o povo comum , ou plebeus ( devotados, em sua maioria , à agricultura e à
forma arcaica do n á huatl, que viria a ser, séculos mais tarde, a l í ngua oficial execu çã o de vá rios serviços pessoais ) , e o grupo dominante, composto de
dos astecas. governantes, sacerdotes e guerreiros de alta posi çã o. Aos sacerdotes e aos
a Os teotihuacanos cultuavam diversos deuses invocados posteriormente sá bios devem -se atribuir as extraordin á rias cria ções art ísticas. Sã o dignas de
por outros povos de l í ngua nahuat: Tlaloc e Chalchiuhtlicue , Senhor e nota a arquitetura , que produziu a abó bada guarnecida de modilh ões , a
Senhora das Á guas; Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada ; Xiuhtecuhtli, escultura , particularmente os baixos- relevos, e as pinturas murais, como as
Senhor do Fogo ; Xochipilli , Pr í ncipe das Flores. Como aconteceu com famosas de Bonampak, em Chiapas. Milhares de textos hierogl í ficos, inscri-
outras instituições, a arte que floresceu em Teotihuacá n iria influenciar de tos em esteias de pedra, escadarias, lint éis, pinturas, artigos de cerâ mica e
<
• vá rias formas outros povos mesoamericanos. livros ou códices confirmam que os sá bios e sacerdotes maias estavam de
Paralelamente ao desenvolvimento de Teotihuacá n , surgiu uma civiliza - posse de uma alta cultura 2
extremamente sofisticada. Sabemos també m que
S çã o em outras sub- regi ões da Mesoam é rica. Um dos primeiros exemplos foi maias do Per íodo Clássico tinham vá rios calend á rios de alt íssima preci -
Monte Albá n , em Oaxaca central, cujo surgimento remonta a cerca de 600 sã o. Vá rias
centenas de anos antes que os hindus desenvolvessem a id é ia ,
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possu í am igualmente um conceito do zero e um s í mbolo para delas merecem men çã o, posto
herdados talvez dos olmecas. Quem quer que consiga decifrar
denot á-l0 das realiza ções clá ssicas, e algumas .
completa, muitas influenciar a evolu çã o cultural futura dos mesoamericanos
mente a escrita maia ir á descobrir um universo de id é ias e s í
mbolos I que ’viriam a
sobreviveram à conquista espanhola e ainda hoje constituem
.
_
n ú cleo do cosmo maia. Por enquanto podemos pelo menos
. . . - afirmar- que
> o

a
Muitas delas de muitos povos do M éxico e da Am é rica Central.
elementos da cultura is caracter
civilizaçã o na Mesoam é rica clássica, da qual derivou todo o
desenvolvimen . ísticas do legado clá ssico foi o urbanismo.
to ulterior, alcan çou seu apogeu com os maias. Uma das principais
, por exemplo, podia ser constru ída sem um n ú cleo pol í ti -
Nenhuma cidade interligado. Os templos e os palá cios eram circun -
Explicações sobre o que aconteceu aos maias, aos zapotecas, aos - co- religioso estreitamente . De vez que a tradiçã o e o ensino formal eram da
abertos
huacanos e, de modo geral, aos que deram origem e sustenta çã o à
teoti-
civiliza ção
dados por espaçoslíderes religiosos, tiveram de ser constru í das escolas comu -
Bmpetência dos
em seu Período Clássico n ã o passam até agora de meras hipóteses. O
declí- bairros da cidade. Uma outra institui çã o importante era a
mo e o abandono final das esplê ndidas metr ó poles antigas, entre os sé nais em diversos
local onde n ã o só se comerciava mas també m onde as
VII e X, assumiram provavelmente diversas formas. Os testemunhos
culos pra ç a do mercado, um
os plebeus eram muito espalha -
lógicos parecem indicar um colapso repentino no caso de Teotihuacá n.
arqueo- pessoas se encontravam. As habitações para
ao redor da parte central da cidade. Além
sido incendiada a cidade, como sugerem alguns restos de paredes, vigas
Teria das e formavam grandes bairros
e da casa de um pavimento, a
maioria dos habitantes possu í a um pequeno
outras peças de madeira que remanesceram ? Ou foi uma destrui ção
causada peda ço de terra onde plantavam alguns legumes
. Os mesoamericanos gosta -
por forças externas, que, percebendo talvez que já estava em marcha o decl , vistas de
í- vam de todos os tipos de planta . Assim , muitas de suas cidades
nio, decidiram apossar - se das terras fé rteis do vale? Ou a ru í na da cidade foi ,
uma certa dist â ncia , pareciam uma mistura de pequenas florestas e jardins
o resultado de uma luta interna , política ou religiosa ? Ou , de maneira mais ali os templos e pal á cios
com telhados cobertos de palha visíveis aqui e e
simples, como insistiram alguns autores, a metró pole foi abandonada em
pintados emergindo por entre o verde em volta . Essa forma de urbanismo
decorrê ncia de mudan ças clim á ticas relacionadas com o desmatamento e o permaneceu t í pica da Mesoam é rica . Um exemplo extraordin á rio apresen -
dessecamento dos lagos, em consequê ncia de processos naturais ou talvez tou -se aos conquistadores na metr ó pole asteca , Tenochtitl á n - M éxico.
das pró prias a ções do homem ? Tanto quanto nos padrões da vida urbana , na esfera art ística encontra -
Se, segundo parece, Teotihuacá n teve um fim repentino por volta de 650 mos mais tarde a forte influ ê ncia do Per í odo Clássico, e o mesmo é v á lido no
d.C., sabemos, por outro lado, que a cidade zapoteca erigida no Monte tocante às cren ças b ásicas e às formas de culto. Pode-se buscar numa prová -
Albá n experimentou um longo per íodo de decad ê ncia antes de ser també m vel origem comum , parte do legado clássico, uma explicação satisfatória da
finalmente abandonada. No caso dos centros maias é como se houvesse che- semelhan ça e às vezes identidade entre os mitos, ritos e deuses de grupos
gado um momento irreversível quando os sacerdotes deixaram de construir diferentes do Per íodo Pós-cl á ssico ( 950 - 1519 ) . Outros elementos culturais
S/5
esteias. Depois, talvez durante um certo per íodo, as velhas cidades começa - que fizeram parte da mesma heran ça foram o calendá rio, a escrita hierogl í fi-
a ram a ser gradativamente abandonadas. N ã o se encontraram vest ígios de ata - ca , o conhecimento astron ómico e astrol ógico, uma visã o de mundo, formas
ques externos, nem de destruiçã o por fogo. Os centros foram apenas aban - básicas de organiza çã o religiosa , pol ítica e socioecon ô mica , a instituiçã o do
donados, quando seus habitantes procuraram outros locais onde se fixar. E mercado e um comércio que conseguia atingir regiões muito distantes. to

seria difícil provar que foi isso o resultado de uma mudan ça clim á tica violen- Entre os povos que se beneficiaram desse legado cultural, alguns exerce-
w ta e generalizada, de uma catástrofe agrícola ou de uma epidemia geral. ram um poder considerá vel at é a chegada dos espanhó is. Mencionem -se tam -
u
<
• Conjecturas à parte, permanece o fato de que o per íodo entre 650 e 950 b é m os muitos grupos do Norte, localizados muito alé m dos territ ó rios sujei-
Ui
S
d.C. assistiu à queda das civiliza ções clássicas da Mesoamé rica. No entanto, tos a Teotihuac á n. Alguns j á praticavam a agricultura em grau limitado,
a ru í na das cidades n ã o significou a morte da alta cultura nessa parte do como os atuais coras, huichols, tepehuanos, cahitas e pimas do noroeste do 5/5

s
Novo Mundo. Sabemos agora que outros povos herdaram e desenvolveram M éxico. Adiante da regiã o habitada por estes, sã o encontrados outros grupos,
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alguns particularmente primitivos, como os pertencentes à fam ília linguí
stica tru çã o par
ciai das famosas cidades e fortalezas zapotecas. Destacaram -se
hokan , alé m de outros que haviam alcan çado n íveis mais adiantados,
corno artes, especialmente como ourives. Por volta de 950 , foi
os chamados í ndios pueblos do atual Novo M éxico e partes do Arizona. ieualmente nas Mesoam é nca o trabalho com metais, ouro, prata, cobre e,
A arqueologia revelou que os teotihuacanos haviam exercido, pelo introduzido na , o estanho . Os mixtecas sã o també m conhecidos por seus
menos em certa medida
indiretamente, alguma influ ê ncia sobre alguns desses grupos. Isso parece
ser livros de conte
ú do hist ó rico — alguns chegaram at é n ós com registros que
particularmente verdadeiro no caso dos í ndios pueblos, os mais
remontam a 692 d.C.
2
adiantados
nos vastos territ ó rios do norte do M éxico. H á ind ícios igualmente da presen recuperado seu antigo esplendor. N ã o obstante,
- Os maias n ã o haviam
i

ç a de alguns grupos relacionados culturalmente, e talvez també m politica-


alguns pequenos reinos — Quiché e Cakchiquel nas montanhas da Guate-
, Mayapá n e Tulum na pen í nsula de Yucatá n —
mente, com Teotihuacá n , que se haviam fixado no Norte, em postos avan ça
- ala Uxmal e Chiché - n Itz á
dos, para proteger a fronteira contra as incursões dos chamados generica - . A chegada de grupos de origem tol-
revelaram alguns sinais de prosperidade
mente chichimecas, semin ô mades bá rbaros, coletores e ca çadores.
teca a Yucat á n e à Guatemala
contribuiu para essa revivescê ncia. Os que se
Os que viriam mais tarde a se chamar toltecas devem ser inclu í dos entre dirigiram à Guatemala l á chegaram como seguidores de Gucumatz, a tradu -
os colonizadores dos postos avan çados. Ao que parece, quando tomaram çã o do nome de Quetzalcó atl na l í ngua de
Quich é e de Cakchiquel. Em
conhecimento da ru í na de Teotihuacá n , decidiram “ retornar ” , como narram Yucat á n , o guia dos invasores se chamava Kukulcá n , uma palavra com id ê n -
os textos nativos, à terra de sua origem cultural , isto é, o M éxico central. tica conota çã o. Esses novos Quetzalcóatls tinham inclina ções mais guerreiras
V á rios relatos contam sua peregrina çã o antes de alcan ç arem as pequenas que religiosas. Na Guatemala — segundo o Livro Sagrado dos quich és —
cidades ainda habitadas por povos de origem teotihuacana. Os toltecas final- Gucumatz e seus seguidores dominaram os maias. Dessa maneira , ocorreu
mente se fixaram em Tuia, um local a cerca de 80 quil ó metros ao norte da uma nova mistura de povos e culturas. Os guatemaltecos foram “ tolteciza -
atual Cidade do M éxico. Tuia, ou Tollan, na verdade significa metró pole; era dos ” em diversos graus. Em Yucat á n aconteceu algo muito parecido. Foi
isso precisamente que os toltecas estavam prestes a construir. criada a chamada Liga de Mayapá n , que abrangia esta cidade, Chich é n -Itzá e
Uma figura central na histó ria dos toltecas é o famoso Quetzalcóatl, uma Uxmal. A influ ê ncia dos toltecas foi t ã o forte na regiã o que as pir â mides e
esp é cie de her ó i cultural , que tirou seu nome de um deus ( a Serpente outros templos e palá cios do Per í odo Pós - cl ássico de Chich é n - Itzá foram
Emplumada ) cultuado desde os dias de Teotihuacá n . Numerosos textos e constru ídos à imita çã o dos da metr ópole de Tula. No entanto, nem o novo
livros nativos escritos em n á huatl falam de seu nascimento, vida e feitos sangue nem os elementos culturais que haviam chegado do planalto central
prodigiosos. Conta -se que, ainda na juventude, Quetzalcóatl se retirou para do México produziram uma revivescê ncia do mundo maia. Seu destino era
Huapalcalco, uma antiga aldeia dos teotihuacanos, para dedicar -se à medita - sobreviver, mas sem esplendor, at é a é poca da conquista espanhola , que foi
çã o . L á foi convidado pelos toltecas a tornar - se seu governante e sumo- conclu ída , em 1525, na Guatemala e em 1546 em Yucatá n.
sacerdote. Palá cios e templos foram constru ídos e muitas cidades e povos O abandono total de Tuia , como havia acontecido com a ru í na anterior
a aceitaram o dom í nio de Quetzalcó atl ( o deus e seu sacerdote ) . Nã o est á de Teotihuacá n, facilitou a entrada no vale do M éxico de grupos provenien -
totalmente claro o que teria provocado o fim da idade de ouro dos toltecas e tes de al é m - fronteira norte da Mesoamé rica. Dessa vez, os bá rbaros chichi -
a queda final de Tuia por volta de 1150. Mas a ru í na dos toltecas significou a mecas foram os primeiros a penetrar no que havia sido o dom í nio dos tolte-
cas. Diversos textos nativos descrevem o que aconteceu . Os chichimecas, ao
difusã o de sua cultura e sua penetra çã o entre diversos povos distantes. A
tu presen ça dos toltecas est á registrada em anais, como os dos mixtecas de
Numa publicaçã o póstuma do estudioso mexicano Alfonso Caso, é oferecida uma an á lise
< Oaxaca e os dos maias de Yucat á n e da Guatemala. tu
dos conte údos de vá rios livros nativos dos mixtecas, os quais apresentam biografias de um
Os mixtecas sucederam aos zapotecas no vale de Oaxaca depois do declí-
bom n ú mero de governantes e homens da nobreza, de 692 a 1515 d .C. Alfonso Caso, Reyes
nio pol í tico e cultural dos ú ltimos. Podemos atribuir - lhes a funda çã o de
tu
S
y Reinos de la
novas cidades, como as de Tilantongo e Teozacualco , bem como a recons- Mixteca, M éxico, 1977-1988, 2 vols. V. especialmente vol. II.
36
tentar apossar -se do rico territ ó rio abandonado, se defrontaram com V ' . Por volta de 1430, seu governante Itzcoatl ordenou
37

mas fam ílias e grupos de toltecas que haviam ficado para tr ás.
Embora°
' aV
l f •
volvimen to e identidade
antigos , tanto os anais quanto os de conte ú do religioso ,
primeiros contatos estivessem longe de ser amistosos, aos poucos as a queima
rela çõe$ ue; 0 povo comum n ã o precisa conhecer os escritos: o
«
eg ^^^
^ ^ °difamad0 e isso somente espalhar á a feitiçaria pelas terras;
foram melhorando. Diversas fontes documentam amplamente os process sob a a
de acultura çã o 3. Os coletores de alimentos e ca çadores começaram a
fixar s '* - governo )

muitas falsidades” 4. Em seu lugar foi desenvolvida e impos-


nas proximidades das antigas cidades toltecas. Os chichimecas
de um ponto de vista pol í tico e militar. No entanto, aqueles que
estavam d<
dominaral
f

fcT
enova
1S 6
tradição que transmitia uma imagem do passado adequada
e ideais do grupo cuja domina çã
o estava em processo de rá pida
às

posse da alta cultura tolteca iriam influenciar profundamente os


cas. Esses, a princ í pio com relut â ncia e depois voluntariamente,
aceitaram a
agricultura, a vida urbana , a religiã o tolteca , o calend á rio e a arte da escrita
chichirnel ens
eX18 cias
ã o Consultando fontes
reconstituir a nova imagem
de proveniê ncia mexica ( asteca ) , é poss ível
produzida por sua elite.
Essas fontes são explícitas
acerca do tipo de exist ê ncia que os astecas tive-
Assim, no final do século XIII, existiam no M éxico central novos estados , o lugar do qual diziam originar -se.
“ senhorias ”. Alguns eram o resultado de uma espécie de renascimento
e
ram de suportar em Aztlan Chicomoztoc
das que, em Aztlan ( ou , de qualquer modo, antes de
cidades de origem tolteca, ou mesmo teotihuacana. Outros tinham entidades Suas descrições revelam
) , possu íam numerosos tra ços da cultura da
totalmente novas, resultantes da fusã o entre as culturas dos toltecas e dos chi- ingressarem no vale do M éxico
testemunhos arqueológicos ) .
chimecas. Era essa a situa çã o no vale do M éxico e na regiã o circunvizinha Mesoam é rica ( uma afirma çã o confirmada por
, de origem , estavam
Um elemento importante é o fato de que em seu lugar
quando chegaram outros grupos do Norte. Dessa vez, os recé m -chegados n ão . Chamam a esse grupo os tlatoque
falavam uma l í ngua chichimeca bá rbara , mas o n á huatl, que fora a lí ngua dos
subordinados a um grupo dominante
( governantes ) e os pipiltin ( nobres ) de Aztlan Chicomoztoc. Dã o-se a si mes-
toltecas e de um grande n ú mero de teotihuacanos. Os vá rios grupos de língua
mos o nome de macehualtin ( plebeus, com uma conota çã o de “ servos ” ) . Eram
n á huatl —as chamadas “Sete Tribos” — assemelhavam -se, em alguns aspec-
obrigados a trabalhar para os tlatoque dessa localidade e a pagar -lhes tributo.
tos, com os toltecas que haviam vivido anteriormente nos postos avançados
Deixaram Aztlan Chicomoztoc e seus antigos governantes porque se can -
do norte, na fronteira da Mesoam é rica. Textos deixados por alguns deles,
saram deles. Seu sacerdote , Huitzilopochtli, lhes havia dito que seu deus
como os tlaxcalanos e os mexicas ( astecas ), repetem com frequ ê ncia: “ Estamos Tetzahuitl Teotl ( uma manifesta çã o de Tezcatlipoca , o Espelho Fumante )
retornando do norte, estamos voltando para o lugar onde vivíamos ”. havia encontrado para eles um lugar privilegiado. A finalidade era libertar
A penetra çã o asteca , ou , como é frequentemente descrita, sua “ peregrina - “seu povo ” da sujeiçã o e conduzi -los à prosperidade. O deus anunciara que “ lá
çã o ” , precisou superar diversos obst á culos. Muitas foram as adversidades, [ no lugar prometido ] , farei de vocês pipiltin e tlatoque de todos os que habi -
perseguições, ataques etc. que tiveram de enfrentar antes de finalmente se tam a terra. [...] Seus macehualtin lhes pagarã o tributos ” 5. Por mais simplistas
fixarem na ilha de Tenochtitl á n , entre os lagos que cobriam uma grande que pareçam, os relatos dos mexicas e as pinturas em seus livros contam passo
parte do vale do M éxico. Isso ocorreu , segundo vá rias fontes, no ano de 1325. a passo como se cumpriu essa profecia. O pró prio sacerdote através do qual o
o
deus falou foi deificado. Os atributos de Huitzilopochtli e Tezcatlipoca reve-
OS MEXICAS ( ASTECAS ) lam uma notá vel semelhan ça na iconografia, como, por exemplo, nas repre-
sentações encontradas nos códices Borbonicus e Matritensis. Desenvolveu -se
Uma das realiza çõ es dos mexicas no apogeu de seu desenvolvimento todo um ciclo de poemas e mitos que rememoram os feitos de Huitzilopochtli
pol í tico e cultural ( mais ou menos os ú ltimos sessenta anos antes do contato
•< europeu ) foi o forjamento de uma imagem de suas pró prias origens, desen- Codex Matritensis, ed . A. M . Garibay e M. Leó n - Portilla , M éxico, 1958- 1969, 4 vols., f °
192v.
w 3 - Cf. Miguel Leó n - Portilla , “ La Aculturació n de los Chichimecas de Xó totl ”, Est údios de Cristobal de Castillo, Fragmentos de la Obra General sobre Historia de los Mexicanos ,
S
Cultura N á huatl, Universidad Nacional de M éxico , 1968, vol. VII , pp. 59-86. Florencia, 1908.
38 39
( seu nascimento prodigioso, sua vitó ria sobre os Quatrocentos
Guerreiros do ] . 0s se colocavam
à parte, por terem um destino singular . Entre
Sul, a assun ção por ele pró prio do destino de seu povo, sua identifica S1 mesin
o Sol , Doador da Vida ... ) 6. Todos esses acontecimentos cumprem
çã o coi
^1
1 J P° ”
á r
coisas diziam
de si mesmos que reverenciavam aquelas formas de
profecias divina , diretamente vinculadas ao sumo-
uma vez que o destino dos mexicas est á intrinsecamente ligado ao de e o rganiza çã o de origem
seu deus' I govern 0
óatl. Outros grupos anteriores aos mexicas
dos toltecas, Quetzalc
prenunciam seu cumprimento final para o pró prio povo. *
1 sacerdotecontempor â neos també m haviam percebido o valor religioso
( e
Os mexicas contam como eram extremamente pobres em
Aztlan Chiiço ou seus em afirmar ser investido de poder pela mesma fonte de
moztoc e durante sua peregrina çã o em busca do lugar prometido - político ) que havia , vários povos do México central e de localidades situa -
. Em
Aztlan praticaram a agricultura em benef ício de outros. Mais tarde, origem tolteca . Assim , haviam rece -
como coletores e ca çadores. Só ocasionalmente interromperam sua viveram distantes, como Oaxaca , Guatemala e Yucat á n
das em regiões
jornada governo do Senhor do Leste, um dos t í tulos de Quetzal-
para cultivar alguma terra . Os mexicas seguiam seus guias ( bido a insí gnia de
sacerdot es e admirar que os mexicas, já fixados em sua própria terra
capitães ). Formaram grupos que receberam o nome de calpulli ( calli: cóatl 11 . Não é de
casa > o conselho de seus antigos guias e ligar
calpulli : “ grande casa ” , com o sentido de pessoas pertencentes à prometida , tenham decidido seguir senhor de Acamapichtli , um descen
mesma tolteca . O
casa ”, talvez grupos de fam í lias ligadas por parentesco, embora não haja se a Quezalcóatl e à nobreza
cer- que também tinham ancestrais mexicas deu
teza quanto a isso ) . Uma das cró nicas nativas relata que originalmente dente dos toltecas-culhuacanos
havia início a uma nobreza asteca
. Ele e outros pipiltin culhuacanos casaram -se
sete calpulli mexicas 7. Uma outra afirma que todas juntas perfaziam
um mexicas. Os membros das
total de dez mil pessoas8. Suas lendas relatam que o deus Huitzilopochtli, com as filhas dos antigos sacerdotes e guerreiros
mexicas tamb é m foram incorpora -
quando lhes fez as promessas, deu sua palavra de que protegeria todos aque fam ílias daqueles que haviam guiado os
- dos ao grupo escolhido. Quando aconselhavam seus
filhos em suas conver -
les que pertenciam às “ casas ” ( calpulli ) , os ligados pelo sangue: “seus filhos,
sas ( Huehuetlatolli ) , os pais mexicas do estrato pipiltin lembravam -
lhes
netos, bisnetos, seus irm ã os mais jovens, seus descendentes ” 9. Ao contrá rio dos toltecas e , em ú ltima
repetidas vezes sua origem: eram descendentes
do que indicam as d ú vidas expressas por alguns estudiosos, as tradições
an á lise, do pró prio Quetzalcóatl.
insistem na id é ia de que, tanto naquele passado remoto como no presente
Dessa maneira , as tradições e os livros dos mexicas disseminavam essa
( logo após a conquista espanhola ), os membros de um calpulli tinham um
“ imagem verdadeira ” . Na época , a vida inteira da na çã o asteca estava sendo
ancestral comum 10. A tradiçã o oral e os livros nativos coincidem totalmente .
transformada no seu cará ter geral ; muitas pessoas pagavam tributos aos tlato -
nos in ú meros relatos sobre as muitas dificuldades enfrentadas pelos calpulli
que e pipiltin de Tenochtitlá n ; a profecia de Huitzilopochtli cumprira -se inte-
dos mexicas dirigidos por seus sacerdotes e guerreiros. Ocasionalmente,
gralmente: dos descendentes daqueles macehualtin , que eram “ plebeus e ser -
alguns dos mexicas desobedeceram às ordens de Huitzilopochtli, acarretan - vos” em Aztlan Chicomoztoc, nasceram os tlatoque e os pipiltin mexicas. É o
do consequ ê ncias desastrosas. A obediê ncia aos conselhos do deus sempre que ensinam os relatos orais, os livros, os poemas e as falas dos mais velhos.
H
<o
D
resultava no cumprimento de suas promessas. Veremos agora como essa “ imagem verdadeira ” se assemelha ao que
a Os mexicas ( em sua pr ó pria versã o de seu passado ) pareciam gostar de
z podemos descobrir , a partir de fontes arqueol ó gicas , etno- hist ó ricas , lin
o as
U
descrever -se como um povo que na é poca n ã o era apreciado por ningu é m. g úísticas e outras fontes documentais dispon í veis, sobre a hist ó ria , a pol í tica ,
Q UJ
to a economia , a sociedade e a cultura dos mexicas ( astecas ) duiante o ú ltimo D
to
aí UJ
UJ Cf. Florentine Codex ( doravante FC) , 12 vols., Santa Fé, N.M., 1950- 1982, livro III, cap. 1. cap ítulo de sua exist ê ncia aut ó noma. H
Z
->
to
UJ 7. Fernando Alvarado Tezozó moc, Cró nica Mexicayotl, M éxico, 1972, pp. 22 -27.
to O
8. Diego Chimalpahin Cuauhtlehuanitzin , Second Relation , reprodu çã o fac-similar em Corpus Ver , entre outros , os casos registrados nos Anales de Cuauhtitlan , em Codice '

UJ
U
Codicum Americanum Medii Aevi , Ernst Mengin ( ed. ) , Copenhagen, 1949, vol. III , P 28r. Chimalpopoca, M éxico , 1975, fos 10-11; Popol Vuh, trad , de A. Recinos, M éxico, 1953, pp.
ít
í O
2 9. Castillo, Fragmentos, pp. 66- 67. 218- 219; Anales de los Cakchiqueles, trad , de A. Recinos, M éxico, 1950, pp. 67 -68; Caso,
to
UJ

< 10. Alonso de Zorita , Breve y Sumaria Relation , M éxico, 1942, p. 36. Reyes y Reinos de la Mixteca , vol. I , pp. 81 -82.
40 41
Por volta de 1390 , morreu Acamapichtli, o primeiro governante organizadas de um com é rcio dilatado
( fc Hey
aneiras pelos mexicas. E formas
tlatoani ) de linhagem tolteca e fundador da casa governante dos sas m do “ império” mexica.
tlazo - pipiU respons is pela crescente prosperidade
áveis
tin , “ nobres ilustres ” . Ele e seus sucessores imediatos , que já
foram
económica da organiza ção política dos mexicas
t
, Huitzililuitl (
1415 ) e Chimalpopoca ( 1415- 1426 ) , ainda eram sujeitos 139 Q A só lida estrutura I ( por volta
aos tecpanecas d formada ao fim do governo de Moteuczoma
Azcapotzalco, uma “senhoria ” em que os povos de descendê ncia estava basicamente interpreta ções
' divergentes . A maioria dos cro-
na , tolteca e chichimeca se haviam fundido e que
teotihuaca - 1469 ), foi objeto de muitas , Bancroft ,
de século XIX , como Prescott
nessa época exercera^ espanh óis ( e historiadores do era
hegemonia no planalto central. A ilha de Tenochtitlá n , onde os
me
nistas
y Berra) haviam reconhecido que a
sociedade mexica ,
haviam fixado, era possessã o dos tecpanecas. Desse modo, de fato, *icas Se Ramirez e Orozco
, semelhante à dos reinos feudais da Europa
. Assim, para
em muitos aspectos
s
cas, por mais de um século desde sua chegada em 1325, haviam ° mexi- aos de reis e
o hesitaram em empregar termos semelhantes
descrevê-la , nã
Pago tribii -
tos a Azcapotzalco e realizado servi ç os pessoais para ele. , hidalgos e cortesãos; magistrados, senadores cônsules'
Em 1426, Chimalpopoca morreu , provavelmente assassinado pelos
panecas. Algum tempo depois, irrompeu a guerra entre os tecpanecas -
mexicas. Estes conseguiram a ajuda de vá rios outros povos também
tec
er os
sujeitos
príncipes; corte real
sacerdotes e pontífices; membros
;ao, proprietários rurais
,
o iniciado por Lewis H
.
da aristocracia , nobres de alta e baixa nosi
, plebeus, ser os e escravos. O revisionismo critico
. Morgan, em termos das idéias expressas em seuu
a Azcapotzalco . A “ imagem verdadeira ” destaca neste ponto ). Ele escreveu:
um episódio famoso Ancient Society ( 1877
extremamente significativo. Quando os tecpanecas estavam prestes a
iniciar
as hostilidades, a maioria do povo mexica , isto é, os macehualtin ,
ou ple- A organização asteca colocava -
se claramente diante dos espanh ó is como uma
beus, sustentaram que era melhor render -se. Em resposta , os pipiltin coisa , a não ser a mais grosseira
fizeram confederaçã o de tribos ind ígenas. Nenhuma outra
um trato: se n ã o conseguissem derrotar Azcapotzalco, obedeceriam os escritores espanh ó is a fabricar a
aos distorção de fatos óbvios, poderia ter autorizado
macehualtin para sempre. Todavia, se conseguissem derrotar os tecpanecas, monarquia asteca a partir de uma organiza çã o democr á tica.
os macehualtin deveriam total obedi ê ncia aos pipiltin 12 . A vit ó ria sobre [ .. . ]
os
tecpanecas, por volta de 1430, estabeleceu a base da t ã o enfatizada situaçã o eles [ os cronistas espanh ó is ] temerariamente inventaram para os astecas
uma mo-
política e socioeconômica dos pipiltin mexicas. narquia com caracter ísticas acentuadamente feudais ... Essa concep çã o incorreta j á se
A vit ó ria també m significou a total independ ência da senhoria mexica e o manteve por mais tempo do que merece devido à indolê ncia dos americanos
13.
ponto de partida de suas conquistas futuras. Itzcoatl ( 1426- 1440 ) , ajudado por
seu sagaz conselheiro Tlacaelel, deu in ício a uma era de mudan ças e conquis- As id éias de Morgan , aceitas e divulgadas por Adolph F. Bandelier ( 1878-
tas. Moteuczoma Ilhuicamina, “ O Velho ” ( 1440- 1469 ) , consolidou o poder e 1880 ) , exerceram uma profunda influ ê ncia. A maioria dos pesquisadores
a reputação do povo de Huitzilopochtli. Sob o governo de Axayacatl ( 1469- aceitaram a tese de que os mexicas e os outros povos que habitavam o sul do
1481 ) , de Tizoc ( 1481- 1485 ) , de Ahuitzotl ( 1486- 1502 ) e de Moteuczoma II M éxico e a Am é rica Central n ã o tinham classes sociais diferenciadas e n ã o
o ( 1502 - 1520 ) , o dom í nio asteca estendeu -se ainda mais. Um
fortalecimento haviam desenvolvido formas de organiza çã o política , como reinos ou outros
extraordin á rio de sua força militar, combinado com a confiança que tinham tipos de Estado. Reconheciam que os povos mesoamericanos eram apenas
em seu pró prio destino, resultou numa cont í nua expansã o pol ítica e econó- grupos vinculados por sangue ( vá rios tipos de “ tribos” ou “ clãs ” ) , algumas
mica. Numerosas senhorias habitadas por povos de muitas línguas diferentes, vezes associados em confedera ções.
entre os quais os totonacas e os huaxtecas nos atuais estados de Puebla e de Meio século mais tarde, um estudo mais sé rio de fontes ind í genas que
Veracruz, e os mixtecas e os zapotecas em Oaxaca, foram subjugadas de diver- niuitas vezes foram ignoradas antes conduziu a um novo revisionismo . U4
£
Manuel M. Moreno, Arturo Monzó n , Paul Kirchhoff, Alfonso Caso, Friedrich
s 12 - Diego Durá n , Historia de las í ndias de Nueva Espana, ed. A. M . Garibay, M éxico, 1967, 2 s
vols. V. especialmente vol. I, pp. 65- 75. Lewis H. Morgan, “ Montezuma’s Dinner ”, American Review, abril , 1876, p. 308.
42 43
Katz e outros chegaram a conclusões que coincidiam nos seguintes nosso, seu povo está aqui... [ e també m ] os filhos,
os macehualtin, agrupados em calpulli, constitu í ram entidades pontos, (5 mestre’
ó soberano, ó senhor
*
, os preciosos braceletes, os filhos de nos -
sociais rela , as pedras preciosas verdes
cionadas por parentesco; sua posição socioeconômica diferia
mente da dos pipiltin que se foi forçado a aceitar a exist
tão
radical
ê ncia de class
oS nobres
sos sen
* filhos
hores , e os descendentes de
Quetzalcóatl,

sociais; entre as muitas distin ções que prevaleciam entre os [ •••] _


im foram criados, onde no início foi
macehualtin e os à vida , assim nasceram assim
,
pipiltin havia uma muito importante, relacionada com as formas Assim jjeram comandar, reinar...14.
de posse , ordenado que deveriam
terra; somente os pipiltin podiam possuir a propriedade da determinado
privada da
Além disso, na organizaçã o política dos mexicas era reconhecida terra
dominante vá rios eram os n íveis de hierarquia , posi
a exist ê -
de um Estado aut êntico ( um reino). ncia Dentro do grupo ” , eram osi descendentes dos
: os tlazo - pipiltin, “ nobres ilustres
A aceita çã o geral dessas conclusões deu a impress ã o, ções e t ítulos
durante algum governantes supremos. Dentro desse grupo seleto é que
tempo, de que se atingira um solo firme no que diz respeito ao que haviam sido os
cará ter das tlatoani. Os pipiltin ( nã o como termo gené rico, como era
estruturas sociais e econ ó micas dos mexicas. No entanto, recente se escolhia o huey
uma designação específica ) eram aqueles que estavam
de Pedro Carrasco e outros, desenvolvida dentro de um arcabou
pesquisa
usado antes, mas como ) ao mesmo
ço teórico
Bailados de outras formas ( n ã o como descendentes diretos
marxista e usando como dispositivo anal í tico essencial o conceito de é m uma linhagem de origem tolteca. Os
asi á tico de produ çã o, contestou muitas conclusões aceitas de
modo grupo dirigente. Pretextavam tamb
indiv íduos assimilados de algum modo
cuau h - pipiltin, “ nobres -á guia , eram
modo geral. ”
Em suma , essa pesquisa defende a tese de que essas sociedades t ê o de “ mobilidade social ” ) em virtude
base aldeias comunais primitivas que possu íam e trabalhavam
m como
7 pelo grupo dominante ( uma indica çã
coletivamente de seus feitos, especialmente em combate
. Os tequihuaque ( traduzido por
a terra. Periodicamente, essas entidades se organizavam sob o governo exerciam importan -
um grupo dominante e despó tico que se apropriava da mais-valia e
de Alonso de Zorita por hidalgos ) eram filhos daqueles que
) , alguns deles pipil -
tes funções administrativas, como os teteuctin senhores
arbitra - (
riamente distribu ía o usufruto da terra entre seus pr ó prios membros, de
tin e outros membros ilustres de um calpulli.
acordo com sua fun çã o. ( Uma vez que n ã o possu íam a terra em car á ter pri-
Os pipiltin tinham extrema consciê ncia dessas diferen ças de hierarquia
vado, há uma certa hesita ção em usar o conceito de classe: preferem -se os
entre eles e das possíveis posições que lhes estavam abertas na administra çã o
termos “ estratos ”, “ estados ” , ou “ setores ”. ) O povo, ou o estrato dominado,
pol í tica e econ ó mica do Estado mexica. Isso se reflete no seguinte fragmento
continua a ser integrado em entidades comunais que trabalham a terra para de uma conversa de um nobre com seu filho:
subsist ê ncia e para atender às crescentes exigê ncias do grupo dominante.
Esse justifica sua exist ê ncia mediante o governo e a lideran ç a do povo e a Você sabe, você se lembra de que h á apenas um governante, o cora çã o da cidade,
direção das obras p ú blicas imponentes, principalmente a funda çã o d e cen - e que existem dois grandes dignitá rios auxiliares, um dos guerreiros ( ce quappan ) ,

a
tros urbanos, a construção de estradas e grandes obras de irriga ção. .
outro da nobreza ( ce pil - pan ) . O dos guerreiros é o Tlacatecuhtli O da nobreza é o
O ponto central do debate em torno da natureza e da estrutura da socie- ..
Tlacochcalcatl. E o guerreiro [ ... ] será que nasceu para essa posição ? Por acaso sua
dade e da economia mexicas é a posi çã o social e as realiza ções do grupo m ãe, seu pai lha legaram ? Não. Pois ele apenas foi eleito na terra , foi designado ,
dominante, os pipiltin, uma vez que controlavam efetivamente n ã o só dotado por Ele, o Supremo Doador da Vida 15.
Tenochtitlá n como també m uma vasta parte da Mesoamé rica. Segundo sua
pr ó pria opiniã o, os pipiltin estavam predestinados por seu deus a libertar Quando Moteuczoma I iniciou seu reinado, os mexicas e seus aliados j á
< seu povo ( as entidades comunais dos aldeões submetidos aos tlatoque e eram senhores de um vasto territ ó rio que compreendia a maior parte do
outros pipiltin de Aztlan Chicomoztoc ) . Textos do Huehuetlatolli ( “ s
w
Mundo Antigo ” ) exemplificam isso. Sã o as palavras de um velho dignit á rio
° 14- FC, livro VI, cap. 16.
S
que, falando para a cidade, responde a um discurso do dirigente supremo: 15- FC, livro VI, cap. 20.
44 45
Planalto Central. Para enfrentar a nova situação, sua organização pol
ítica Ml pelo governante supremo. Esses governadores
ampliada a fim de tornar -se mais eficiente. Muito mais que no indiv íduos nomeados , -
passado f ' j por de tlatoani ) . Em algumas circunst â ncias o gover
dado poder supremo e absoluto ao huey tlatoani. Embora
fosse considered'
0 ^ I eram os tlatoque ( plural
enviava um dos pipiltin da
metr ó pole asteca para governar
um representante da divindade na terra , n ã o era visto como
uma encarnaçã nante supremo subjugado . Em outros casos , era permitido que os membros do
nem como o filho de um deus. Era o comandante- chefe do exé
rcito e um dig '
o
I um dom í nio
governante das cidades conquistadas
permanecessem no cargo
nitá rio religioso, bem como o juiz supremo e o senhor cuja antigo grupo
vontade ningu
ni é m juramento de obediê ncia.
ousava contradizer. Detinha esse papel supremo, nao por sucessão após um novo supremo designava
çã o de alguns calpulli, o tlatoani
ria , mas por eleição. A elei çã o do huey tlatoani era dever e privilé heredit á - Para a administra
gio de Uni teteuctin. Como já se disse, muitas vezes eram pipiltin .
n ú mero limitado de pipiltin . Esse grupo representava a antiga
nobreza a quem oficiais, chamados , não sendo eles próprios nobres, estavam a serviço de
ões
os plebeus prometeram obediência quando correram o risco de ser Em outras ocasi
aniquilai lia de pipiltin . O grupo de unidades de produ ção administrado por
dos pelos tecpanecas. Ser eleito governante supremo pressupunha
fazer parte
uma famí de teco? // / ( casa das pessoas do pal á cio ) , isto é ,
umi teuctli era chamado
do grupo dos tlazo - pipiltin. As qualidades pessoais eram muito importantes os deveres dos teteuc-
cuidadosamente exa-
minadas pelos eleitores. Na verdade, n ã o votavam , pois seu propósito era nomeados pelo huey tlatoani. Eram o na unidade socioecon ômica que lhes
produçã
che- tin. Eram responsá veis pela
gar a uma decisã o un â nime; assim, passavam vá rios dias a consultar pessoas , além de sustentar os macehualtin que traba-
diferentes e a deliberar entre si. Finalmente, chegavam a uma aceitação un era bnfiada . Sua produ ção
os tributos aos pipiltin e, em ú ltima an álise,
nime de algu é m que, embora pudesse ser superado por outros em alguns
â- lhavam a terra , tinha de suprir
aspectos, por outro lado satisfizesse os vá rios interesses na maioria dos aspec
també m ao huey tlatoani.
reservados aos
- Os cargos administrativos mais importantes estavam
tos e fosse considerado suficientemente capaz para ser o l í der de esse cargo, bem
toda a pipiltin. Eram -lhes conferido os t í tulos que acompanhavam
nação 16. Desde Moteuczoma I até a invasão espanhola, todos os huey .
tlatoani como a posse e o usufruto de terras. Os pipiltin n ã o pagavam tributo
foram escolhidos por esse m étodo, cujos vest ígios, na opinião de alguns pes- ) fossem necess á rios
Podiam contratar tantos mayeque ( trabalhadores quanto
quisadores, ainda hoje sobrevivem nas eleições presidenciais do México atual.
para cultivar a terra. Alguns dos pipiltin també m eram encarregados dos
Por acreditarem talvez num deus dual supremo, Ometeotl, o cargo de
tecalli, que abrangiam tanto a terra quanto os macehualtin que nela trabalha -
governante supremo era complementado por um assistente e conselheiro, o vam . Os membros do grupo dominante podiam ter tantas esposas quantas
cihuacoatl. Embora o sentido mais imediato desse t í tulo seja “ serpente pudessem sustentar e outros privilégios, como ins ígnias e vestes especiais,
fê mea ”, pode- se entend ê - lo també m como “ gê meo fê mea ”. Os deveres mais formas de entretenimento e mesmo alguns tipos de alimento e bebida . Alé m
importantes do cihuacoatl eram substituir o governante supremo em sua disso, estavam sujeitos somente à jurisdiçã o de tribunais especiais.
ausê ncia ou morte e presidir o conselho de eleitores e o tribunal supremo. Os filhos dos pipiltin frequentavam os calmecac, ou centros de ensino eleva -

-..
D
Outras autoridades proeminentes eram o tlacochcalcatl ( senhor da casa do. Neles a sabedoria ancestral era cuidadosamente preservada , ampliada e
O
das lan ças ) e o tlacatecatl ( comandante dos homens ). Atuavam també m aos certo n ú mero de anos
U
pares dois ju í zes principais, dois sumos sacerdotes e dois guardiã es do tesou -
CD ro da nação. Todos esses dignitá rios presidiam seus altos conselhos corres- *** ZTó
de seu destino. Os textos nativos contam o que era ensinado no calmecac. O cr
W pondentes e participavam do supremo conselho chefiado pelo huey tlatoani jovem pipiltin aptendia formas elegantes de falar , hinos ant gos, poemas
> ou por seu substituto, o cihuacoatl. tos históricos, doutrinas religiosas, o calendá rio, astronom a, astrologta, p -
cr U
< Todas as cidades, quer as dos mexicas e de seus aliados ( Tezcoco e ceitos legais e a arte de governar. Quando os jovens nobres dentavam o calm •UJ

cacy estavam preparados para exercer um papel ativo na administração p 2


U
Tlacopan ) , quer aquelas que foram conquistadas por eles, eram governadas
c
A educação recebida em casa e no calmecac, bem como a experiê ncia obti -
16 - Cf. a descrição detalhada desse “ processo eleitoral ” em FC, livro VIII , cap. 18. da como membros do grupo dominante, instilava nos ptpilnn . . um se J s
47

V .
46
ém foram concedidas duas
responsabilidade e de dignidade. Extratos de alguns
huehuetlatolli revelam- n conselheiro do governante, Tlacaelel; e tamb
ois ao e funções...19.
o quanto os pipiltin estavam conscientes de sua
posição. O pai diz ao filh0 sS
0
1 dadas dep de terra a vários pipiltin, em proporção a seus méritos
:
1 e três pordes
E quem é você? Você é de uma linhagem nobre; voc designa çã o n á huatl das terras distribu í-
por outras fontes a
i
ê é cabelo da gente, yoc
unha da gente, você é o filho de um governante, voc
ê é um nobre do palácio,
ê é: I Coni hecemos
variado : tlatocatlalli, “ terras do
governante ” , pil+tlalli ( pillalli ),
algu ém precioso, você é um nobre...17. você é: I das de modo
rr
Kos
,
Ittn"'. Estre
pipiltin tamente vinculadas às tlatocatlalli, outras
Estreiiainciitv
terras
( tec-
“ terra despesas do pal á cio
rese rvadas especificamente para satisfazer as que os
Freqíientemente transparece nesses discursos a
atitude dos pipiltin
eram templos ( teopantlalli ) e das guerras
( yaotlalli . As terras
)
Para pantlalli ), dos eram
com os macehualtin . Num relato sobre algu é m que se por macehualtin possu íam comunitariamente
encontramos o seguinte:
excedeu na bebida calpulli constituídos calpullalli ) .
(
chamadas calpul+ tlalli e os pipiltin teriam a propriedade privada da terra
Será que o governante exercidas
Será dito: terá ele talvez feito o papel de um homem pertinentes a funções particulares que eram
comum? ou apenas privilégios que todas
seguidores de Morgan e Bandelier afirmam
pelos favorecidos? Os
à “ tribo” ou “ confederação de tribos” Outros
Ou , advertindo uma filha pertencente à nobreza , frequentemente
palavras como:
aparece: as terras pertenciam somente „
Friedrich K z, admiion aber amc
, „,=
como Alfonso Caso, Pad KirchhofFe propriedade privada da terra.
a
que os huey tlatoanii e os pipiltin tinham
nem sempre precisas quanto a esse ponto,
Declaro - lhe especialmente que voc ê é uma mulher da nobreza .
.. N ã o cause As fontes existentes, embora
em rela ção direta com
nenhum embaraço a nossos senhores, os governantes... N ão seja uma
mulher comum parecem apoiar a idéia de que a posse da terra estava
( maa timacehualti ) , n ão se pareça com uma pleb í duos favorecidos:
éia ( maa timomacehualquixti ) . o cargo e a fun ção administrativa dos indiv

Em quase todos os aspectos da expectativa de comportamento ... o senhor [ tlatoani ] possui terras em vá rios lugares
anexados a sua senhoria , e os
daqueles de , essas terras são
linhagem nobre, a comparação é enfatizada: macehualtin as cultivam para ele, e o reverenciam como um senhor e
de posse de quem o suceder como governante...
20

Você deve falar bem devagar , com muita pondera ção. . Nã o .


deve també m gritar,
a fim de que não seja visto como um imbecil, um desavergonhado
, um r ústico ( culti- Como, em alguns casos, o sucessor de um tlatoani n ã o era um descendente
vador da terra ), um verdadeiro r ústico...18. direto, o sentido do texto parece ser o de que a posse e a transmissã o da
terra se faziam em fun çã o da posiçã o hier á rquica. Por outro lado, e ver a e
A quest ã o dos pipiltin e da posse da terra é particularmente que alguns membros de determinadas fam ílias de pipiltin ocupavam
o complexa e
controversa. A primeira distribuição de terra feita pelos mexicas seguiu-se mesmo cargo administrativo por vá rias gera ções. Desfrutavam, assim,
imediatamente a sua vitó ria sobre os tecpanecas de Azcapotzalco, por volta uma forma de posse cont í nua das terras distribu í das. Um aconteciment
de 1430. O registro desse acontecimento é particularmente ocorrido na é poca do governante mexica Ahuitzotl é significativo a esse re
significativo:
peito. Os mexicas haviam conquistado a senhoria de Chalco e Ahuitzotl ins
talara um novo governante local. Esse novo governante destituiu muitos

--
Os primeiros que receberam terras foram a casa reinante;
as terras pertencentes à
senhoria, para manuten ção do governante supremo... Onze por

S 17 . FC, livro VI, cap. 20.


FC, livro VI, cap. 14.
ções de terra foram
:r s r: "
. * >
Colección de Documentos Inéditos, 42 vols., Madri, 1864-1884, vol. Xffl P
£
48 49
pipiltin locais de suas fun ções administrativas. Em consequ ê ncia , eleva -
_ . .. . . torriOh É verdade
que a constru çã o dos diques, aquedutos e caminhos
també m as terras que possu í am . Os pipiltin tadaS ^ o desenvolvimento
terrenos pantanosos facilitou enormemente
f
despojados se queixaram *

pipff
^ \-
doS ° ° asteca. Mas poder -se-á dizer
governante mexica. A rea çã o de Ahuitzotl foi ambivalente. s bre essas obras constitu í ram uma
Disse aos m que
despojados: “ Tomem suas terras de volta ”. Mas, quando o senhor
que
' da metr ÓP
° /realiza
es do grupo dominante a justificar seu dom í nio des-
çõ
ci esignara para governar em Chalco explicou seu ponto de
vista,
lhe disse: “^ Você sabe o que fazer. Destrua -os, enforque-os [ ...]
todos aqUei
Ahuitzl,II daS
Pótic° ° 1
S
restante dos mexicas ?
em descobrir algo que ( em termos do modo asiá tico
de
e es
que querem viver como pipiltin...”21. | Se msis
como um empreendimento imponente e
pr dU Ç ^ ^ descrito
° ionante’, teremos de buscar em outra parte. Os pipiltin , como vimos,
impression
No que se refere aos empreendimentos e realizações do grupo de tudo, confirmava sua
domin do ^ pró pna “ imagem ” que, acima
no contexto da sociedade que governavam, Angel Palerm afirmou , ante haviam ó pria era cósmica do sol e da humanidade.
,
dentro de manter a vida de sua pr
do arcabou ço teórico desenvolvido por Karl A. Wittfogel, que “ é
mente clara a relação causal entre o apoio oferecido a [ uma ]
suficiente
sociedade asiá -
- Bferenda de sangue ( renovando o sacrif ício primevo
essa grã cósmica ) ajudava a restaurar a energia
dos deuses quando
divina , conciliando
tica e o despotismo resultante da agricultura hidr á ulica...” 22. Pesquisando
a * *
os deuses e obtendo
deles o dom vital das águas. Para cumprir esse destino,
exist ê ncia de obras de irriga çã o economicamente relevantes na do grupo dominante passaram a ser o culto dos deu -
Mesoam é- as preocupações básicas
rica , Palerm relacionou in ú meros locais onde existem ind ícios desse tipo guerras para obter cativos e impor o dom í nio
de ses, o sacrif ício humano e as
empreendimento. , edifica çã o e a restaura çã o dos templos ( especial -
asteca. Nessa perspectiva a
No caso especí fico dos mexicas, Palerm reconhece que “ a vida econ ó Tenochtitl á n ) e a organi-
mica mente o grande conjunto de edif ícios sagrados em
dos tenochcas sob seus três primeiros governantes n ã o sugere a exist ê ncia de uma ideologia complexa ,
zação e a eficiê ncia do exé rcito, sustentadas por
cultivo agrícola ” 23. Isso fora uma decorrência, entre outros motivos, do peque
- eram as realiza ções mais impressionantes do grupo dominante dos mexicas.
no tamanho da ilha que os mexicas habitavam e das enchentes de água salgada Outras realiza ções compreenderam a urbaniza ção e o embelezamento de sua
a que estava sujeita. Em sua opiniã o, a situa çã o mudou após a vit ó ria sobre metró pole, a organiza çã o administrativa , o estabelecimento de rotas comer -
Azcapotzalco. Ent ão, os governantes mexicas ( por conselho de Nezahualcoyotl, ciais de longa dist â ncia , o funcionamento de mercados locais, a produ çã o de
o s á bio senhor de Tezcoco ) introduziram importantes obras hidr á ulicas. produtos manufaturados ( artes e of ícios ) , a manuten çã o de um sistema esco -
Foram constru ídos diques para separar a á gua doce da água salgada dos lagos e lar e a propaga çã o do n á huatl como lingua franca por toda a Mesoam é rica.
aquedutos para levar água pot á vel para a cidade. Os chinampas pequenas
ilhas artificiais, constru ídas num processo de recupera çã o das terras, onde se — Como já afirmamos, os macehualtin n ã o eram apenas parte de fam ílias
H

cultivavam hortaliças e flores receberam os benefícios da irriga çã o. ampliadas, mas també m formavam as unidades extremamente importantes
C/5

3
Mesmo aceitando tudo isso, ainda se indaga sobre a import â ncia dos chi- chamadas calpulli . Essas entidades socioecon ô micas eram comuns na
O
z
O
nampas irrigados em compara çã o com a quantidade de recursos ( milho, fei- Mesoam é rica. J á citamos alguns ind í cios em apoio à id é ia de que os mem - O
'
u j ã o , ab ó boras , hortali ç as e outras esp é cies de produtos agr í colas ) que bros de um calpulli eram ligados por parentesco, pelo menos originalmente.
<
Q UJ
C/5 Tenochtitl á n recebia como tributo das muitas cidades e senhorias conquis- Embora alguns autores se tenham inclinado a considerar o calpulli uma Q
C/5
et UJ
UJ especie de guilda ou associa çã o com finalidades econ ó micas espec í ficas, os H
Z
C /5

>
21 - Anales de Cuauhtitlan, P 39. md í cios dispon í veis parecem indicar que nos calpulli mexicas predomina - <
u
to
< 22 - Angel Palerm , “Teorias sobre la Evolución en Mesoam érica ”, em Las Civilizaciones Anti- Vam tend ê ncias endogâ micas. et

UJ
<
u
et
guas del Viejo Mundo y de América , Theo R. Crevenna ( ed. ), Washington , 1955, p. 79. Alguns calpulli eram criados como parte integrante de grandes cidades. <
O
UJ
£ -
23 Palerm, “ La Base Agr ícola de la Civilización de Mesoam érica ”, Las Civilizaciones Anti- F i o caso em cidades como Texcoco , Culhuacan e Tenochtitl á n - M é xico.
°
C/5
UJ

< guaSy p. 177. Nessa última cidade, havia mais de cinquenta calpulli na época da chegada <
50 51
dos espanh óis. Como veremos, os membros da maioria desses :; um tlahcuilo, um “ pintor de livros ”, ou
“ urbanos ” n ã o cultivavam a terra. Dedicavam -se a outras formas de
catpuin . rarregado do templo local
Produ . W^
tes ) enca principal era manter os registros de suas propriedades
çã o. Entre eles, grupos de artesã os, artistas e comerciantes haviam escriba , cuja
COnquis.® e outros dados relativos à hist ó ria do grupo. Um
tado grande import â ncia econ ó mica. Existiam outros calpulli cujos
mem I fundiá rias, dos Q$ comandantes dos esquadr ões do calpulli e o
bros constitu í am a maioria da popula çã o de cidades menores e
muitas I Zci tambim
tesoureiro ° ãos
\ eram figuras de import â ncia no calpulli.
a eias dispersas. Algumas dessas cidades, rodeadas por grupos de
dentro de territ ó rios de extensã o variada , constitu íam uma senhoriaaldeias I consel ° °
*-
propriedade comum dos membros do calpulli. No entanto,
. Essas I terX* Cr 3
deve-se ter
mente que o “ propriet á rio final ” dos recursos agr í colas,
comunidades pol í ticas eram governadas por uma nobreza local ( com
seu I ^^^, tucjG 0 que a ela estivesse vinculado, era a unidade
aparelho administrativo correspondente). Na é poca da maior expansã o
d0s I r
*
ue 0 calpuU estava submetido. Existiam també m alguns
calpulli

^^
mexicas, muitas dessas entidades situadas no planalto central e em como “ calpulli urbanos” ,
á reas de Veracruz, Guerrero, Oaxaca e Chiapas, estavam submetidas
outras rra Com exceçã o daqueles que descrevemos
de tinham de trabalhar como
que viviam nos calpulli desprovidos
de terra
diversas formas, atravé s do pagamento de tributos, aos governantes a terra dos outros ( especial -
, servos ou trabalhadores cultivando
de ,
Tenochtitl á n - M é xico. Em alguns casos, suas nobrezas locais haviam sido mayeque
mente dos pipiltiti prósperos .
)
substitu í das por pipiltiti mexicas. Em outros, foram introduzidas diversas indiv íduos
Quaisquer que fossem as circunst â ncias espec íficas de vida dos
formas de compromisso. Muitas vezes, o soberano central enviava teteuctin de um calpulli especí-
( administradores oficiais ) para as cidades e aldeias subjugadas a fim de con que não eram pipiltin, pode-se afirmar que faziam parte
- fico. A soma dos membros do calpulli ( urbano, semi - urbano e rural ) formava
trolar a produ çã o local. Dessa forma , muitos calpulli de regiões controladas vida dos mace-
o estrato social dos macehualtin. Em sua maioria , a forma de
pelos astecas eram “ outorgados ” a um teuctli mexica. Esse tipo de unidade
hualtin envolvia uma economia de auto-subsistê ncia dentro de seu calpulli e
socioecon ô mica constitu í a um teccalli. Sua organiza çã o era estruturada de
obediê ncia total a suas autoridades internas, aos teteuctin e a outros funcion á-
modo a facilitar a cobran ç a de tributos e a requisiçã o de serviç os pessoais
rios administrativos nomeados pelo grupo dominante. Alé m disso, tinham de
diretamente dos calpulli, em vez de fazê- lo simplesmente através da senhoria pagar tributo, servir o exé rcito e executar uma sé rie de outros serviços pessoais
conquistada a cuja jurisdi çã o pertenciam esses calpulli. para o Estado. Esses serviços compreendiam o trabalho manual na constru çã o
Essa estrutura imposta n ã o suprimiu as caracter ísticas socioecon ô micas de templos e palá cios ou em outras obras p ú blicas, ou o serviço de carregado -
internas dos calpulli. Cada um tinha suas autoridades locais, sobre as quais res no transporte de cargas pesadas de mercadorias para locais distantes.
escreve Alonso de Zorita: Em per íodos de dificuldade, as condições de vida dos macehualtin piora -
ram sob muitos aspectos. Assim , por exemplo, durante per íodos de escassez
Dois principales em cada calpulli convocam o povo a providenciar o pagamento de alimentos foram obrigados muitas vezes a vender -se ou a seus filhos
D
do tributo ou a obedecer ao que o governante ( teuctli ) ou outros funcion á rios como tlatlacotin, um termo que os espanhóis traduziram por escravos . No
O
tenham ordenado [ ...] e eles [ os membros do calpulli ] preferem que seus “ cabeças” entanto, na Mesoamérica a escravid ã o era muito diferente da que predomi
O
u [ os principales ] perten çam ao mesmo grupo...24. nava no mundo europeu. Na época dos mexicas, um escravo era vendido
por tempo limitado: o pró prio escravo, ou seus parentes, podiam r g

.
t/5

Esses dois calpulleque ( os encarregados dos calpulli ) , alé m de serem res- Os filhos de escravos não eram considerados escravos. Por outro H

•w
ponsá veis pela subsist ê ncia de sua pr ó pria comunidade, tinham de agir ,
nar - se utn «cravo inciuia o risco de se escolhido para o «critide, horn no,
como intermediá rios junto aos teteuctin . Os calpulli, segundo Zorita e outras
C/5
< pois o senhor tinha o
direito de oferecer seus escravos para ess
u
ui
fontes, tinham suas pró prias institui ções locais: um sacerdote ( ou sacerdo- ,
Para resutnir: é evidente < u« o ntodo de vida dos
radicalmente do dos pipiltin. A relação desses últimos com
Ui
s
o
s
24 - Zorita , Breve y Sumaria Relació n, p. 30. rais disponíveis, sua dela, sua
participação na produção e nos ru os
52
fun ção na administra ção p ú blica
com a posição social do povo, dos
os “ pobres e miserá veis”
e seus privilégios contrastavam fortem
plebeus, descritos freq íientemente
macehualtin.
ente
como
r I
se com
mais frequ ê ncia descrições do tipo e do uso. Atoctli era um termo
descrever a terra com á gua adequada e boa para a agricultura,
usado P*racuauhtlalli, “ terras de á rvores” , indicava a presen ça de resíduos
53

rq . oU terra coberta com vegetais em decomposi çã o. Nas á reas, bastante


É dif ícil estudar a vegetais
economia asteca devido à
sem permitir uma quantifica çã o
escassez de fontes que pudesJ v . favorecidas pela presen ça de á gua e material orgâ nico, evidente-
restritas»
dos elementos e forças que afetavam a pro
du çã o. N ã o h á um consenso sobre
' - mente cresceu
c o plantio de culturas b á sicas — milho, feijã o, ab ó bora ,

menta malagueta . ,
o n ú mero total de habitantes no Mé Outras terras eram destinadas a uso espec ífico, como as
central, nos estados de M éxico, xico '

najuato , Michoacá n , Colima ,


Hidalgo, Puebla , Tlaxcala , Quer étaro,
Gua - |jjmadas xochimilpan para o cultivo de flores. Os diversos territ ó rios que
recentes variavam de 12 a 25
milhões25 —

Jalisco, Guerrero e Veracruz estimativas
nem sobre o n ú mero de pesso
de uma maneira
n ã o -
ou de outra estavam sob o dom í nio dos mexicas compreen -
cultivadas onde cresciam plantas usadas como medicamen -
diam terras
cidades e aldeias. *
envolvidas em cada á rea de produ ção nas vá rias regiões,
tos, e outras
que forneciam alimento, ou á rvores para a extra çã o de madeira
Por outro lado, há pelo menos ind í cios
de constru çã o. A popula çã o animal abrangia espécies aqu ticas encontradas
confiá veis sobre as principais for á
mas de especializa çã o dentro da for -
ça de trabalho. Temos, assim, informa- rios e outras que serviam de alimento , que eram obtidas por ca ç a
ções de que havia uma divisã o do nos lagos e
trabalho de acordo com o sexo. As tarefas ou por cria çã o seletiva como no caso bem conhecido do peru . A ausê ncia de
,
agr í colas e a maior parte da produ o
çã especializada eram destinadas aos outros animais dom ésticos ( com exce çã o do cã o ) era , em grande medida ,
homens. Às mulheres eram reservadas as tarefas domé
balho pesado, como a feitura da massa de tortillas,
sticas, inclusive o tra - um obst áculo ao desenvolvimento de uma tecnologia mais eficiente. Como
que exigiam longas horas n ão havia bestas de carga ou outros animais que pudessem ser empregados
de trabalho com uma pedra de moer. A
fia çã o e a tecelagem eram també m para puxar, o uso da roda estava limitado a alguns brinquedos.
tarefas das mulheres. Temos notícia também
de outros tipos de especializa -
çã o, por exemplo, a pesca e a minera o,
çã bem como a construçã o ( pedreiros, O ouro, a prata , o cobre, o estanho e, provavelmente em escala menor, o
decoradores de pedra , carpinteiros e pintores ) e a manufatura ( chumbo eram os metais conhecidos dos mesoamericanos. Outros minerais
ceramistas,
cesteiros, curtidores, artesã os de esteiras e sand á )
lias . Havia uma ampla usados eram o cinabre ( sulfato de merc ú rio ) e a calcita ( carbonato de cá l -
variedade de artesã os que produziam objetos ú teis como cio ) , bem como os vá rios pigmentos minerais , as pedras semipreciosas e
papel, instrumentos
de pedra e de madeira , canoas, ou
objetos de luxo, principalmente para os outros tipos de pedra .
membros da nobreza e para os sacerdotes. Entre esses, Os mesoamericanos, apesar de suas realiza ções na arte e no c á lculo de
estavam os ourives, os
trabalhadores com penas, os escultores e os famosos tlahcuilo, ou pintores de calend á rio, n ã o se destacaram como produtores de instrumentos. No entan -
livros. Deve-se lembrar que, embora existissem to, suas ferramentas eram sob muitos aspectos razoavelmente adequadas.
essas especializações, a gran
a
de maioria dos macehualtin dedicavam a
maior parte de seu tempo à terra . ^ Compreendiam utens í lios de pedra , como martelos, facas, raspadeiras,
almofarizes, m ós e outros instrumentos de desenho diverso. Outras, como
As informa ções sobre os recursos ganchos, agulhas e
naturais em que se baseava a economia instrumentos para trabalhar com couro, eram feitas de
mexica sofrem o mesmo tipo de limita o
çã que as relativas aos recursos OSSO *

^
madeira era usada para fazer furadores a fogo, flechas, dardos, clavas
humanos. Essas fontes, embora algumas delas forneçam e a coa, ou vara
dados quantitativos, de cavar, usada na agricultura. Mais tarde, quando começa
s ã o em sua maioria
meramente descritivas. Por exemplo, quando tratam da ram a praticar a metalurgia, produziram com o cobre machados, enxadas,
-< terra de agricultura ,
ocasionalmente fornecem medidas, poré m encontram - furadores, facas e vá rias armas.
As t écnicas agr ícolas
eram variadas. Alé m do cultivo sazonal, no qual à s
Ver adiante, à s pp. 129- 31 , “ Nota
Invasões Européias”.
sobre as Popula ções Americanas às Vésperas dasj emPregavam alguns tipos de fertilizante, as sociedades da Mesoam é-
nca fizeram uso de
sistemas de irriga çã o, terraceamento e, principalmente
54 55
também lidavam com vá rios
na regi ã o central , introduziram os famosos chinampas,
descrit s
° muUas m de comprar e vender, os comerciantesde viabilizar seus negócios. O
vezes como “ jardins flutuantes”. Eram estruturas artificiais Alé no sentido
tas com terra fé rtil, fundeadas nos leitos dos
de Junc
i
lagos por meio de ° cober.
. tipos de contratos e empréstimos
membros da nobreza , bem como alguns dos comerciantes
estacas® e os
madeira. Nos chinampas eram plantados salgueiros para
segurá-los no lugar gover nante ( inclusive algumas mulheres), faziam contratos de empréstimo
Sobre o excelente solo dos chinampas, os mexicas
cultivavam flores e legu
| * estabeleci ^ antes qUe viajavam
a lugares distantes. Assim , um relato
mes frescos em abund â ncia . W®1 ° registra^^
. . „ lirn íl ocasião em que o rei Ahu í tzotl concedeu 1 600 mantos
O estudo dos livros nativos, como a Lista de asteca que seguiam para a costa do Pac ífico. A
Tributos e o Codex
Mendozal empr éstimo a comerciantes espe-
permite avaliar a quantidade de mercadorias
que os calpulli ( unidades b
ási
por
nfe dos mantos
pequenos, chamados quachtli, refere-se a um tipovariados ,
de tamanhos
cas de produçã o ) , as cidades e as comunidades
polí ticas ( consideradas de Sí mbolo de
troca. Eram , na verdade, mantos
as dfico vez que eram garanti -
espécie de s í mbolo monet á rio uma
unidades econó micas mais amplas ) subjugadas passavam às mã ,
nantes de Tenochtitlá n . Nã o é de admirar que os
os dos gover
- aceitos orno uma toridade do huey tlatoani asteca. Havia outros empr és-
mexicas, para obte r e au
o dos pela riqueza
pagamento imediato e correto de um tributo, tenham
desenvolvido de pequenos tubos cheios de ouro, bem como sacos de cacau
mecanismo administrativo extremamente complexo. um timos na forma
de vá rios tamanhos
.
o estabelecimento de padr ões de troca
Outros elementos de grande importâ ncia na economia do Mé
K administraçã dos mercados e
o
dos comerciantes. Al é m disso, Ixtlilxochitl
xico antigo
anti j eram duas funções importantes
eram as pra ças de mercado e o com é rcio praticado pelos pochtecas, supremos do governo, o quarto conselho
ou comer- relata que, dos quatro conselhos
ciantes. Grandemente impressionados, alguns conquistadores os administradores do rei e alguns dos mais
nos forneceram era o do Tesouro, onde todos
em suas cró nicas um quadro da principal praça de mercado
de Tlateloco, a importantes comerciantes da cidade se
reuniam para discutir as quest ões do
cidade incorporada a Tenochtitlá n . A maioria dos produtos Tesouro e os tributos reais . Sendo os
27 comerciantes conselheiros econ ó mi -
oferecidos no
adquirido in ú meros
mercado entravam na metr ó pole asteca ou trazidos por
comerciantes ou na cos do governante, n ã o é de surpreender que tenham
forma de tributo. Ao mesmo tempo, outros produtos . Alé m de
manufaturados eram privilégios que os tornaram quase iguais a membros da nobreza
negocia -
exportados pelos mexicas. Um fator que contribuiu de modo
relevante pa ra a ter seus pr ó prios tribunais, cobravam os tributos frequentemente
,
vam em nome do rei e atuavam como espiões nas regiões distantes. Por
expansão do comércio foi a necessidade de satisfazer as crescentes demandas seu
de uma nobreza mais rica e de uma vida religiosa extremamente elaborada. interm édio, o com é rcio e a economia de modo geral expandiram -se vigoro-
samente e contribu í ram para o florescimento de institui ções religiosas e
Os pochtecas, que, como plebeus, faziam parte dos calpulli, logo percebe- culturais. Inversamente, os desenvolvimentos culturais e religiosos exerce -
ram a import â ncia de suas fun ções. Transformaram sua organiza o numa
çã ram influ ê ncia considerá vel sobre o conjunto da sociedade , inclusive sobre
entidade social compará vel a uma guilda . Cada guilda tinha seu diretor

.
a economia .
o ( chamado pochtecatloque, chefe dos pochtecas )
” e vá rias categorias de mem-
bros. Entre essas estavam os Oztomecas, que eram especializados em regiões A religião predominante „
Tenoch itlá n - México na época d » conquista
stantes e falavam as l í nguas desses lugares. Havia 69 categorias diferentes espanhola foi o resultado de longo processo de fusã o e s í ntese , ao o s ,
de comerciantes, inclusive comerciantes de escravos, de metais preciosos, de estava longe de ser uma massa de elementos heterogé neos, na m
fumo, de cacau , de animais, de papel e de milho 26. que os sacerdotes haviam trabalhado duro para dar - lhe uma or em
nal que incorporasse a visão de mundo e os ideais dos mexica •UJ
£
pochtecayotl, O U com ércio. Cf.
No livro IX do FC existem abundantes informa ções sobre o
w
£ també m Bente Bittman e Thelma D. Sullivan , “ The Pochteca ”, em -
27
Fernando de Alva Ixtlilxochitl, Obras Histó ricas , M éxico, 1891- 1892, 2 vols. Ver vol. I , pp. S
Mesoamerican Commu
nication Routes and Cultural Contacts, Provo , Utah, 1978. -
211 218.

i
57
- começara a existir de um momento para o outro, mas em
dos consecutivos
. A “ primeira fundação da terra ” havia ocorrido
atr ás. Haviam existido quatro só is. Durante essas
de contas-ano
de evolu çã o haviam produzido formas, cada
“só is ” os processos
a anterior, de seres humanos, de plantas e de gê neros

^
uma mais , , e fogo ) , numa curio-
Quatro forças primevas ( terra vento á gua
^ melhan ça com o pensamento
da Antiguidade clássica, haviam governado
da quinta atual, a era do “sol do movimento ”
, a
essas eras at é a chegada
,

dos cultos ao sol e à terra, desenvolveu -se a cren -


Evoluindo talvez a partir
e numa m ãe universal como divindade dual suprema.
ça num paii onicriador
-
, no sentido de que os hinos antigos sempre a invoca -
Sem perder sua unidade
pelo nome de Ometeotl : “ o
vam no singular, essa divindade era conhecida
deus dual ”, ele e ela de nossa carne, Tonacatecuhtli e Tonacací huatl, que numa
portentosa uniã o cósmica engendraram toda a cria çã o.
O deus dual era també m “ m ã e dos deuses, pai dos deuses ”. Numa pri -
meira manifesta çã o de seu pr ó prio ser , nasceram seus quatro filhos: os
“ espelhos fumantes ” branco , preto, vermelho e azul . Esses deuses consti -
tu íam as forças primordiais que colocaram o sol em movimento e criaram a
vida na terra. Foram també m responsá veis pelas quatro destrui ções c íclicas
do mundo que aconteceram anteriormente.
Embora estivesse previsto que o destino final dessa quinta era seria um
cataclisma, os mexicas n ã o perderam o interesse pela vida. Ao contrá rio , isso
os estimulou de forma not á vel. Uma vez que foi um sacrif ício primevo dos
deuses que criou e colocou o sol em movimento , somente mediante o sacri -
fí cio dos homens é que a era atual poderia ser preservada. O “ povo do sol ”
assumiu por si mesmo a miss ã o de supri -lo com a energia vital encontrada
no l íquido precioso que mant é m o homem vivo. O sacrif ício e a guerra ceri -
monial para prear v í timas para os ritos sacrificiais eram suas atividades cen -
trais, o pr ó prio n ú cleo de sua vida pessoal, social, militar e polí tica.
H á testemunhos de que, na Mesoam é rica antes dos mexicas, se realiza -
vam sacrif ícios humanos mas aparentemente nunca antes em n ú mero t ã o
grande. Se os pipiltin mexicas acreditavam
que sua missã o era, assim , manter
av a
^ s l > també m compreendiam que, através de suas guerras para a
°
preia de vítimas
sacrificiais, ampliavam igualmente seu dom í nio e satisfa - w
ziam suas crescentes necessidades econ ó micas.
As fontes descrevem també m vá rias outras formas de culto aos muitos
deuses adorados pelos mexicas. Um lugar muito especial era reservado a s
59

se,
58 , ela irá quebrar-
esses ritos e cerim ó nias em honra da Deusa M ã e, invocada sob seja )iade
t ítulos, inclusive o mais gen é rico de Tonantzin, “ nossa Reverenda
0 numer £itib°
ra
iaa ouro
, ela é esmagada
,
Mae** Embor seja pena quetzaly ela é dilacerada
^ ,

momentinho .
29
import â ncia da Dea Mater dos mexicas ( e dos mesoamericanos em geral '
) einbor* seiupre acluli na terra; apenas um
claramente percebida pelos mission á rios espanh ó is , alguns dos quais
rejeitaram a possibilidade de uma s í ntese do conceito pré-colombia no ào
n ^ Hão Para
á n -México, a metr ó pole
asteca ,
_ espanhola , Tenochtitl
as crenças relacionadas com a Virgem Maria. Um bom exemplo é a
Vir
H s invas
ã o
de um vasto e complexo
conglomerado íticopol
de Guadalupe, cujo santuá rio foi construído onde antes ficava o de To ^ administrativo descrever a natureza
polí tica dessa
nantzin era 0 entronAmiro Vá rios autores,. ao , remo ou conjeaera

, ,
çao de senho -
socioeconon
>

termos como império


Os livros nativos e as transcri ções setecentistas em l í ngua nativa de
e
utilizaram maioria das velhas senhorias do planalto central
nu CD
mesmo tribos. A , Coyohuacan e
merosos textos preservados pela tradiçã o oral sã o os reposit ó rios das
litera rias e Amaquemeca , Cuitlahuac, Xochimilco ,
turas mesoamericanas. Neles encontramos mitos e lendas, hinos rituais,
-
as de Chalco outras nas regiões de Hidalgo, Morelos, Guerrero
uma muitas governo asteca .
diversidade de poemas, discursos, cró nicas e relatos hist ó ricos, os in ícios M Culhuacan ) e , Oaxaca, Tabasco e Chiapas reconheciam o . No entanto,
composi çã o dram á tica , doutrinas religiosas e proclama ções do governo ! Puebla, Veracruz à metrópole mexica de diferentes formas a gover -
Através desses textos pode-se obter uma imagem da vida quotidiana n ão só Estavam submetidas que os governantes locais tenham continuado
dos mexicas, mas també m de vá rios outros povos. O hino que se segue fala 1 mesmo nos casos em, reconheceram Tenochtitlá n -México comopagamento a metró pole
de
do deus dual: nar suas senhoriasoriginavam as ordens e exações, inclusive o
centrai da qual se rotas
, como a “ proteçã o das
e uma sé rie de servi ços pessoais partilhavam do
tutelares das senhorias submetidas
No lugar da autoridade, tributos
comerciais . Os deuses tutelares das
no lugar da autoridade, comandamos;
povos . Em Tenochtitl á n - México, as divindades ,
é o mandamento de nosso Senhor Principal, destino de seus eram mantidas num templo, o coateocalli
subjugadas -
Espelho que faz as coisas se manifestarem. cidades e proví ncias consideradas “ cativos divinos”. Seus desd
“casa comum dos deuses ”: eram em si
Eles já estã o a caminho, est ã o preparados. . Huitzilopochtli
ito de
que incorporou
nos ( tonalli ) ( como no mito do Sul) simbolizavam o
.

Inebriem -se, dos Quatrocentos Guerreiros


mesmo os destinos tornou -se a lin -
o Deus da Dualidade est á agindo,
destino profetizado do Povo do
Sol. Alé m disso, o ná huatl
, mazahua ,
o Inventor dos Homens,
numa vasta á rea da Mesoam é rica . Os falantes de otomi
gua franca , bem
Espelho que faz as coisas se manifestarem 28. , mazateca, mixteca , zapoteca
matlatzinca, tepehua , totonaca , tlapaneca usar
, tzeltal e tzotzil, aceitaram
como de vá rias lí nguas maias, como chontal
As palavras dos sá bios expressam às vezes suas cren ç as, por é m freq íiente- .
a l í ngua dos governantes de Tenochtitlá n
</)

conseguido resistir à penetra-

_
o mente sã o també m a manifesta çã o de suas d ú vidas. Reconhecem que a vida Por outro lado, algumas senhorias haviam
ui
án D
ou dos tarascanos de Michoac
O
U na terra é transit ó ria e que, no final, tudo deve desvanecer - se. Eis um exem - ção dos mexicas. Foi o caso dos purepechas
in
n
ltimos, em especial , haviam z
C/5 plo dessas formas mais pessoais de composiçã o poé tica: e dos tlaxcalanos no Planalto Central . Os ú <
quem foram forçados a
desenvolvido um ódio profundo aos mexicas com ”, cuja finalidade era
, u

lutar periodicamente nas famosas “ Guerras das Flores


oc •Ui
Habitamos realmente a terra ? £
N ã o é para sempre aqui na terra; apenas um momentinho. o
<S í

u pre na Biblioteca Nacional do £


29 - Coletâ nea de Canções Mexicanas, manuscrito asteca
£
28 - Historia Tolteca - Chichimeca, manuscrito mexicano 46 - 58 bis, Biblioth èque Nationals México, P 17.
Paris, P 36.

d
ou
obter vítimas para o sacrifí
cio ao Sol- Huitzilopochtli
rios sob influ ência direta
dos mexicas, nas áreas sul
. Para além dos . Embora às vezes superficiais ou errô-
61

M é xico, um grande n e norte do rque terfi a andeza dos mexicas


grau
ú mero de povos tavam conq uistadores espanhóis coincidem em vá rios
culturais distintos. No sudeste v preservaram seus pró
á rias senhorias de lí prioS
é
Nè neos, os coment
á rios dos
extra ídas de fontes nativas e da moderna pesquisa
existentes em Campeche, Yucatá , ngua e cultura Padrà as indicações
n no Petén, na pontos com Os espanhóis certamente perceberam que, no meio daquele
ou de lí ngua ná huatl ( Guatemala e em tnai as ( arqueol ógica. se sobressa í am como os

cia de qualquer organiza


em EI Salvador e na
diversos muitos elementos de sua
alta
ção pol í tica
Nicarágua )
cultura
mantiveram
ancestral, apesar de
relevante. No nordeste, - sua
l
Hondi
emJH ^ criadores
c
e
, culturas e línguas, os mexicas
povos
mosaico de governantes de uma complexa entidade pol í tica , com muitos
dentro quanto fora de sua
grande metrópole. De um lado,
orla da Mesoamé rica
ocupada pelos mexicas, -
Para al [contrastes tantoe poderosos pipiltin servidos pelos macehualtin; de outro,
n ú mero de falantes de haviam -se fixado é171 da havia os ricos
l ínguas uto -astecas, um b ças radicais entre os tlatoque mexicas que governavam em
tepecanos, os tepehuanos, entre eles os coras,
os huichols 00l notavam-se diferen a Tenochtitl á n e os destitu í dos e
os mayos, os yaquis, os ^ proví ncias submetidas
opatas. A maioria tarahumaras, os Pimas e> 0$ muitas cidades e
desses grupos viviam em pequenas e macehualtin dos povos sob o dom í nio asteca . Cort és
res sedentários. Seus padr aldeias como agricultoos obedientes pipiltin
ões d e cultura podem a situa çã o. Lado a lado com a magnificê ncia da metró po -
tantes da Mesoamérica central ser comparados aos . logo compreendeu
Grupos muito menos
na metade no Período
Pré-clássico Mé
doshabl le asteca (visitou -a como
convidado em 1519 ) estava a realidade do dom í nio
ão profundamente os totonacas, os tlaxcala -
dio, imposto dos mexicas. Sabia qu
norte do Planalto Central desenvolvidos viviam nas á reas de fronteira
os mexicas chamavam
e a nordeste da
Mesoamé rica. Em termos ao nos e muitos outros odiavam os mexicas. Tirou vantagem disso e ( sem per -
todos os habitantes dessas geraia H cebê-lo completamente ) desempenhou um papel importante no ú ltimo cap í -
isto é, os chichimecas autê regiões de
teochichimecas ^
frequentes registros de que
casas, nem campos
palavra que tem um
cultivados
nticos, os “ povos nómades
os teochichimecas não
. Eram na verdade
do arco e flecha ”.
tinham aldeias, nem
tem íveis popolocas,
Há ^
, »I tulo da hist ó ria da Mesoam é rica aut ó noma. Os inimigos de Tenochtitl á n
acreditaram que os espanh ó is os estivessem apoiando. Crendo nisso, conse-
guiram derrotar os mexicas, sem saber por algum tempo que seus aliados
significado muito pró uma estrangeiros eram os ú nicos a tirar proveito dessa vit ó ria . A ordem espanhola
ximo de “ bá rbaros ”. Num
do distante ( durante a
era tolteca e talvez passa - — —
pol í tica, religiosa , socioecon ô mica implantada inexoravelmente afeta -
mesoamericanos haviam estendido sua també m no Período Clássico), os ria igualmente os mexicas, os tlaxcalanos e todos os outros mesoamericanos.
que se tornaram possess influência para alé m dos
ã o dos teochichim territó rios
tentativa de expandir rumo ao ecas. Nã o h á registros de
qualquer
norte no per íodo de
Foi deixada aos espanh
óis ( acompanhados pelos Tenochtitl á n - México..
cas ) a conquista e a tlaxcala nos e pelos mexi-
colonização da vasta extensão
da Mesoamé rica. de territórios para além
a
Assim, um mosaico de povos,
Herná n Cort és e seus culturas e lí nguas possu íam a terra
em qu
tador cedo ficaria sabendo
seiscentos
homens logo iriam desembarcar.
da existência dos O conquis
mexicas. Foram feitas referên-
^-
cias a eles pelos maias de
Yucatá n, pelos chontals de
cas de Veracruz. Por
intermédio dos ú ltimos, e Tabasco e pelos totona-
< nos, Cortés foi informado
do poder e da ri
particularmente dos tlaxcala
riqueza da metrópole
-
seus governantes, em especial asteca e de
de Moteuczoma., Em •w
5 outros cronistas soldados ” ) seus escritos (e nos dos 2
pode-se encontrar in
aspectos mais ó bvios ú meras referê ncias aos
da estrutura polí tica,
religiosa e socioecon ô mica que

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