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Antecedentes Pré-Históricos

dos Castras da Idade do Ferro:


os Castres da Idade do Cobre
em Portugal

POR

Octávio da Veiga Ferreira

A ideia ou a necessidade dos povos da Lusitânia se fortificarem


no alto dos montes ou escarpas alcantiladas é evidente que não
começou na Idade do Ferro, nem tão-pouco foi o resultado duma
defesa ao invasor romano. Muito antes, mesmo muitos anos antes
essa necessidade de defesa foi uma realidade hoje bem demons-
trada pelos modernos trabalhos de arqueologia em Portugal.
Dum lado o começo da sedentarização a partir da revolução
neolítica, doutro lado a necessidade de defesa contra o invasor
ou mercador longínquo egeano determinaram que as diversas tri-
bos lusitanas, há pouco saídas do nomadismo puro do Paleolítico
superior, se acautelassem e se fortificassem no alto dos montes
isolados para melhor defenderem as suas vidas e seus haveres.
Não vamos nesta comunicação fazer a historiografia desses
povos neolíticos, os primeiros a construir esses castros de defesa,
mas falar sucintamente de algumas das mais importantes forta-
lezas da Idade do Cobre que aproveitaram, no todo ou em parte,
as primitivas defesas neolíticas e que são hoje conhecidas por
.castros ou castelos primitivos.
Durante muito tempo se pensou que os chamados castras ou
fortalezas de pedras miúdas com cubelos redondos eram essen-
cialmente da Idade do Bronze, porém, a pouco e pouco, e, espe-
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dalmente, a partir dos trabalhos arqueológicos realizados em Vila


Nova de S. Pedro (Cartaxo), Zambujal (Torres Vedras), Penha
Verde (Sintra), Pedra de Ouro (Alenquer), Oleias (Sintra),
Li ceia ( Barcarena) , Columbeira (Bombarral) , Rotura e Chibanes
(Setúbal), etc., se verificou que todos estes castros eram de fun~
dação neolítica ou tinham um fundo neolítico tendo todos tido
um período áureo na época cam.paniforme, ou seja em plena Época
·do Cobre, e alguns chegaram a ser romanizados. Quase todas
estas fortalezas desde o Algarve até o rio Tejo foram abandonadas
em plena Idade do Ferro, porém, algumas, com muito raras excep~
ções, chegaram a ser romanizados. Os povos do sul, em virtude
de uma maior civilização e abertura aos povos mediterrânicos de
cultura mais evoluída, cedo se desenvolveram até o ponto de essa
defesa permanente de épocas passadas deixar de ser necessária
e imperiosa.
O mesmo não sucede a partir do Tejo para o norte em espe~
cial nas regiões montanhosas das Beiras, Minho· e Trás~os~Montes
com continuação para toda a Galiza e Norte de Espanha.
As fortalezas, pertencentes ou melhor aproveitadas, por exce~
lência, na Idade do Cobre são o Castro de Vila Nova de S. Pedro
no Cartaxo, o Castro da Pedra de Ouro em Alenquer, o da Coluro~
beira no Bombarral, o do Zambujal em Torres Vedras, o de Liceia,
mesmo na povoação com este nome, cerca de Barcarena, o de
Oleias, a nascente da Granja do Marquês (Sintra), o da Penha
Verde (Sintra) e os de Rotura e Chi:banes perto de Setúbal, etc.
Não deixaremos também de mencionar alguns castros ultimamente
descobertos no Alentejo e que estão agora a ser escavados?
É bem evidente que de todos estes castros ocupados pela
civilização do cobre apenas dois se podem considerar em adian~
tado estado de exploração e cujas conclusões trouxeram um conhe~
cimento muito importante para o estudo da génese dessas fôrtifica~
ções, povos que as ocuparam e civilizações que deixaram (Fig. 1).
Em to·dos estes castros é comum o chamado «horizonte de
importação a que os arqueólo-gos alemães chamam o «estádio de
colónias» designação com a. qual não concordamos. Esse hori~
zonte de importação ou de transacção comercial ou mercantil pro~
viria do Mediterrâneo oriental, em especial da região egeana.
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Fig. 1 - Castros da Estremadura

1 -Castro de S. M;artinho (Rio Maior); 2 - Castro do Outeiro da


Assenta; 3 - Castro do Outeiro de S. Mamede; 4 - Castro da Columbeira
(Bombarral); 5 - Castro de Pragança; 6 - Castro do Pico Agudo (Vimeiro);
7 - Castro do Outeiro do Cabeço; 8 - Castro de Vila Nova de S. Pedro;
9 -Castro de S. Mateus; 1O- Castro da Achada; 11 - Castro de Mata~
cães; 12- Castro do V:aratojo; 13- Castro da Fórnea; 14- CaS;tro do
Zambujal; 15- Castro da Boiaca; 16- Castro da Portucheira; 17- Castro
do Vespeiro; 18 - Castro do Barro; 19- Castro do Penedo; 20- Castro da
Sarreira; 21-Castro da Ribaldeira; 22 -Castro da Pedranta; 23- Cas.tro do
Monte do Cartaxo; 24- Castro do Montijo; 25- Castro de Oleias; 26- Castro
de Cortegaça; 27 - Castro da Serra das Éguas; 28- Castro da Espargueira ou
Silveira; 29- Castro da Penha Verde (Sintra); 30- Castro dos Seteais;
31 -Castro do Estoril; 32 -Castro do M'urtal e povoado da Parede; 33 - CasJ
tro de Liceia; 34- Castro de Alfragide; 35 - Castro de Carnaxide; 36 Montes
Claros; 37 - Casa Pia de Belém; 38 -Castro da Alpena (Trafaria) ; 39- Cas-
tro da Fonte do Sol; 40- Castro de Chibanes; 41 - Castro do Alto da
Quei:mada; 42- Castro da Rotura; 43- Castro do Outeiro. (Sesimbra);
44- ·Castro da Comenda.
298 OCTÁVIO DA VEIGA FERREIRA

Alguns autores como Afonso do Paço, E. Sangmeister, Bea~


trice Blance, etc., afirmam que as muralhas com cubelos redondos
de Portugal na Idade do Cobre tem paralelos com as fortalezas
de Tróia e de Chalandriani em Siros. Sobre este lugar diz Beatrice
Blance: «Em Chalandriani o povoado ocupava o cimo dum escar~
pado monte, já naturalmente defendido pelas suas próprias ver~
tentes, íngremes por todos os lados à excepção do lado N ., onde
o terreno desce suavemente até o mar». A entrada única fica
entre duas torres, como em Vila Nova de S. Pedro e Zambujal.
Existem em Chalandriani cinco torres e possivelmente uma sexta,
que estão separadas de 4,5 m a 8 m e apresentam a forma semi~
circular. Duas das torres comunicavam com a acrópole tal qual
sucede no Zambujal. Podemos relatar ainda um grupo de for~
talezas da fronteira egípcia das quais duas, as de Ikkur e Buhen,
apresentam cubelos semicirculares.
Podemos concluir, pois, com Beatrice Blance, que o uso de
bastiões ou cubelos com finalidade defensiva não era desconhecido
na região do Mediterrâneo oriental, especialmente na região egeana.
Chaliandriani oferece~nos um paralelo muito aproximado com os
nossos castms da Idade do Cobre, em especial os melhores conhe~
ciclos, como o de Vila Nova de S. Pedro e o do Zambujal. Este
facto é confirmado por outros dados como a cerâmica, os alfinetes
para cabelo, os vasos de perfumes e os ídolos aparecidos nas
Cíclades. Estamos convencidos que a tradição das torres circulares
ou semicirculares da Península, podem ter passado à Sardenha
e às Baleares desenvolvendo~se aí em épocas mais modernas que
podem ter ido até à Idade do Ferro. Esta mesma tradição deve
ter perdurado, aperfeiçoando~se, na construção das muralhas e
torres dos nossos castros do Noroeste Peninsular.
A partir do penúltimo período da fortificação nestes castres
da Idade do Cobre assistimos, pois, a uma influência de povos
mediterrânicos que buscavam os metais ocidentais, em especial
os da Península, - o cobre primeiro ·e depois o estanho.
É em razão disto que no apogeu do cobre peninsular se
assiste ao reforço defensivo dos castres das Penínsulas de Lisboa
e de Setúbal com particular incidência nos castres do Zambujal
OS CASTROS DA IDADE DO COBRE EM PORTUGAL 299

em Torres Vedras tão proficientemente explorado nos últimos anos


pela equipa alemã do Prof. E. Sangmeister com Hermanfried
Shubart e Leonel Trindade descobridor desta magnífica fortaleza.
Por outro lado podemos situar, sem qualquer dúvida, em Vila
Nova de S. Pedro, a primeira oficina metalúrgica da época do
cobre peninsular, assim corno no Castro de S. Bernardo, em Moura,
o esconderijo de fundidor, agora estudado, reforça a expansão
da metalurgia peninsular primitiva na época lo cobre.
A organização primitiva destas fortalezas devia corresponder
a um circuito amuralhado no alto dum monte onde a situação de
alerta deveria ser a constante da vida daquela época. Estas pri~
mitivas muralhas eram simples e talvez sem· cubelos ou torreões
pois parece que estes surgiram no ·final da ocupação dos castres,
já co.m a Idade do Cobre e em pleno campaniforme, pelo menos a
complicação das últimas defensivas no castro do Zambujal isso
parece indicar?
De início a necessidade de fortificação nos povoados litorais
ou grandes embocaduras de rios parece ser justamente para obstar
à invasão de povos vindos do mar e a arqueologia demonstra nesta
época influências mediterrânicas, quer do Mediterrâneo oriental
(Egeu), como norte africanas ( Susa, Badarian, etc.).
Mais tarde, como acima se viu, assiste~se a uma grande com~
plicação no sistema defensivo onde as fortificações mais modernas
datadas da épuca campaniforme assentam em parte em fortifi~
cações mais antigas.
Estamos convencidos que não só o invasor estrangeiro deter~
minou este sistema de fortificações defensivas mas também o sis~
tema tribal que presidiu sempre aos aglomerados populaconais
peninsulares a isso deve ter conduzido. E a verdade é esta:
muito mais tarde, em plena Idade do Ferro, e, em especial, no
Noroeste Peninsular, assiste~se ao mesmo fenómeno de divisão
tribal que facilitou a conquista romana.
Todos os escritores antigos, que trataram dos povos da Penín~
sula, são unânimes na citação da divisão tribal em que esta estava
dividida. No ocidente do País, na Estremadura, nos montes sei~
vagens da cordilheira ocidental, entre o Douro, o Tejo e Guadiana
300 OCTÁVIO DA VEIGA FERREIRA

nas serras de S. Pedro e Guadalupe a tribo dos Vetões, parentes


próximos e aliados dos Lusitanos, era a mais importante. A região
de Betúria, entre o Betis e o Guadiana a SW era habitada pelos
Celtas e a NW pelos Twrdetanos (Túrdalos). Outras tribos
importantes habitavam a Península mas não i>nteressam por
agora ao nosso trabalho. Em todo o caso referiremos: os Galaicos
habitantes da Galaecia (Galiza), os As tares (montanhas das Astú~
vias e Picos da Europa) , os Cantábricos,. os V ascões ( Ba~cos}, etc.
Na Lusitânia mais antiga podemos citar os Túrdalos Veteres,
os Transcudanos e Egaeditanos, os Paesures, os Turdetanos, os
Grovii, etc.
Por aqui se vê o que não seria a divisão tribal em épocas mais
recuadas como na época dos castras da Idade do Cobre. Essa
divisão tribal deveria ser ainda mais intensa e só assim se com~
preende a grande quantidade de castros-cidade.
Em nosso entender o sistema de fortificação no alto dos mon~
tes no Noroeste Peninsular que deu origem a que em cada monte
se tope hoje com os restos duma citânia ou castro fortificado traduz
a ideia da cidade~estado que floresceu na mesma época por todo
o mundo mediterrânico. É bem notório que na maioria dos castras
quer Neo-eneolíücos-ldade do Cobre, quer do Bronze-Ferro, não
se poderia abrigar uma grande população. Certamente umas tantas
famílias ou clans constituindo uma tribo pertenceriam a cada
citânia ou castro e detinham próximo deles uns tantos terrenos de
agricultura primitiva de pastorícia. A descoberta de enormes
restos de .fauna de grandes mamíferos como o boi e o cavalo asso-
ciados a ossos de ovelhas ou de cabras bem demonstraram um
intenso trabalho de pastorícia. Aliás é bem sabido que todos
os povos montanheses foram em todas as épocas pastores. As
grandes lutas, dos lusitanos com o invasor romano foram em espe-
cial por causa da transumância pois os romanos com a sua con~
quista e organização social cortavam todas as possibilidades de
vida aos povos castrejos, pastores, por excelência.
Daí o estado de alerta e inquietação que deveria reinar
naquela época onde cada castro-estado detinha o poder duma área
determinada que era vigiada noite e dia do alto da fortaleza. Este
OS CASTROS DA IDADE DO COBRE EM PORTUGAL 301

estado constante de gue-rra entre as tribos ou castros~estado deixou


os seus vínculos e veio assim até os castras da Idade do Ferro
no Noroeste Peninsular.
As escavações arqueológicas nos castras nortenhos têm
demonstrado esta preocupação de defesa constante e da vida
quotidiana intramuros.
Na Idade do Cobre nas Penínsulas de Lisboa e de Setúbal
a vida não se passava apenas fechada intr.amuros do castro, pois
a arqueologia bem demonstra amplas relações com outros povos,
não só próximos, como até de longínquas paragens. O comércio,
intercâmbio e navegação na época era já bastante desenvolvido
e, como exemplo, os produtos metalúrgicos do castro de Vila Nova
de S. Pedro foram encontrados bastante longe no mundo medi~
terrânico de então.
As análises dos instrumentos de cobre encontrados em Por•
tugal deram um cobre com elevada percentagem de arsénio o que
levou alguns investigadores, menos versados em questões de meta~
!urgia primitiva, a pensarem que os primeiros metalúrgicos penin~
suJares haviam juntado aquele metalóide ao cobre. Porém as anã~
Hses dos minérios de cobre saídos da mina deram essa percentagem
o que demonstra ser um facto de jazida mineira e não qualquer
operação metalúrgica posterior. Pois justamente artefactos de cobre
encontrados em diversas jazidas arqueológicas de além~Península,
quando analisados, deram percentagens elevadas de arsénio o
que parece demonstrar uma proveniência peninsuiar muito provà~
velmente do centro metalúrgico que era o Castro de VHa Nova
de S. Pedro. E. Sangmeister, com quem estamos de acordo, emite
essa opinião.
Alguns centros metalúrgicos da Idade do Cobre devem ter
continuado pelas Idades do Bronze e do Ferro e a atestá~lo estão
as descobertas de esconderijos de fundidor em várias localidades
da Península incluindo a região dos castras.
Outros produtos seriam trocados e assim chegam ao solo
peninsular o marfim, o âmbar e as matérias mais raras ainda como
a fibrolite, a amazonite, a calaíte, a variscite, etc.
Mais tarde, em plena idade dos castros do noroeste, outros
produtos chegam, como o vidro de pasta, o ferro e o seu segredo
302 OCT Á VlO DA VEIGA FERREIRA

de fabricação, a ceram1ea exótica e até alguns cultos orientais


como, por exemplo, o mitraico.
Em plena Idade do Cobre a questão do âmbar é um caso
muito interessante e de flagrante intercâmbio internacional na
época pois o âmbar vinha das margens do Báltico e hoje pode
seguir~se bem o 'itinerário de antigo comércio pelos achados de
armas e artefactos de cobre peninsulares que protvieram certa~
mente dos centros metalúrgicos daqui e que constituíam o principal
material de troca com o âmbar.
Todas estas transacções se faziam pela navegação costeira
e pelos grandes rios. A arqueologia subaquática veio demonstrar
à saciedade esse longínquo comércio da antiguidade, quer no Medi~
terrâneo, quer no Atlântico ou Mar do Norte com infiltrações
profundas nos grandes rios da Europa. O caso do naufrágio do
Cabo Gelidónia veio provar, depois da devida escavação subaquá~
tica e do estudo do seu riquíssimo espólio, que o navio teria mer~
cadejado no Egipto, na Síria, na Palestina, em Chipre, em Tróia,
no Império Hitita em Creta e muito possivelmente na Grécia.
Isto pouco nos indica sobre a rota do navio que muito bem poderia
ter vindo da Península Ibérica. Podemos, no entanto, afirmar, e
isso é que é muito interessante, que se trata duma nave que nos
deu óptima informação sobre o comércio de há 3.000 anos em
plena Idade do Bronze. Outro caso mais recente ainda como des~
coberta é o da navio, mercante, também da mesma época, encon~
trado no antigo por,to de Agde na foz do rio Herault, no sul da
França. Um comércio marítimo tão desenvolvido já nesta época
não nos pode deixar dúvidas que teria começado certamente já
no começo da época dos metais, isto é, na Idade do Cobre.
Este panorama de transacção e comércio da Península e para
a Península na primeira idade dos metais e idades subsequentes
são bem demonstrativos dos cuidados com a defesa costeira e dos
grandes rios, não só do estrangeiro, como da própria Península,
dada a situação de cada castro ser, por assim dizer, uma cidade
independente, um estado, que ora comerciava, ora guerreava o
seu viz·inho mais próximo, isto é, o outro castro~cidade.
Na realidade se nos debruçarmos sobre uma carta topográfica
das Penínsulas de Lisboa e de Setúbal, por exemplo, verificamos
OS CASTROS DA IDADE DO COBRE EM PORTUGAL 303

que todos os castras já conhecidos ou identificados se encontram


muito perto do mar ou margens de grandes rios como o Tejo e
o Sado. Mas em qualquer outro ponto é a mesma coisa veja~se,
por exemplo, o rio Mondego com os castras de Santa Olaia, Fer~
restelo ou Tavarede.
As necrópoles desses povos fortificados nunca ficavam longe
do seu «habitat». Nalguns casos, como na Samarra, em Sintra a
sepultura colectiva estava na margem direita da pequena enseada
que ali existe e o castro ou «habitat» na margem esquerda no
sítio da Pedranta. Mas em todo o mundo da Idade do Cobre
sucede o: mesmo, quer em Oleias, quer na Penha Verde, Palmela,
Vila Chã, Barro ou Paimogo, etc., os povoados não estão muito
longe. Nalguns casos do povoado ou castro via~se muito bem a
necrópole e estamos convencidos que esta era guardada à vista
por causa dos buscadores de tesouros que ex•istiram mesmo na
época das tumulações.
Em Alcalar, no Algarve, por exemplo·, o túmulo n. 0 7 expio~
rado por Estácio da Veiga foi pilhado na época. Vê~se muito bem
por onde entraram os ladrões de tesouros na cripta tumular que
foi toda pilhada, pois um túmulo com aquela grandiosidade e
cuidados de construção não revelou nem uma peça, o· que não
pode ser.
Nós mesmo já exploramos alguns túmulos da época dos
castras da Idade do Cobre sem encontrarmos sinal de espóHo
tendo sido todo o seu conteúdo tumular revolvido até os alicerces
da construção funerária.
Este costume de vigiar a necrópole mantém~se pela Idade do
Bronze. Vejam~se por exemplo, as necrópoles da Atalaia no Alen~
tejo ou as da região de Ourique, ultimamente descobertas, que
ficam muito próximo· dos sítios de «habitat» fortificados. O mesmo
se observa na Idade do Ferro e, em especial, na civilização castreja
do noroeste. Na citânia de Briteiros o túmulo está na base do
castro e absolutamente à vista dos antigos moradores. Nalguns
casos, como revelou Garcia y Bellido, chegaram a fazer enterra~
mentos nos solos das próprias c.asas circulares, costume esse muito
mais raro, no entanto.
304 OCTÁVIO DA VEIGA FERREIRA

Do exposto, muito embolt'a o mais resumidamente possível, e


expondo um ou outro ponto mais importante, verifica-se que desde,
pelo menos, a Idade do Cobre que o sistema de castro-estado se
mantém até a Idade do Ferro tendo atingido o seu auge com a
civilização castreja no Noroeste Peninsular.

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ÜCTÁVIO DA VsiGA FERREIRA- Antecedentes Pré-Históricos dos Castras da Idade Est. I
do Ferro: os Castras da Idade do Cobre em Portugal

o 5 10cm

Fig;. 2 - Duas obras-primas em ceram1ca da cultura do campaniforme na Península -


Estação de Acebuchal (Sevilha), por obséquio do Metropolitan Museum de Nova Iorque.
OCTÁVIO DA VEIGA FERREIRA Antecedentes Pré-Históricos dos Castras da Idade Est. II
do Ferro: os Castras da Idade do Cobre em Portugal

o 5 lO cm

Fig. 3 - Idem da mesma proveniência dos exemplares da fig. 2.


OCTÁVIO DA VEIGA FERREIRA Antecedentes Pré-Históricos dos,Castros da Idade Est. III
do Ferro: os Castras da Idade do Cobre em Portugal

o 5 10cm

Fig. 4 - a e c Idem do mesmo proveniência. b - ídolo de calcário proveniente


da sepultura megalítica de Casainhos (Fonhões).
OcTÁVIO DA VEIGA FERREIRA- Antecedentes Pré-Históricos dos Castras da Idade Est. IV
do Ferro: os Castras da Idade do Cobre em Portugal

o 5 lO cm

Fig. 5 - a - Bracelete de ouro do Cerro das Antas (Ourique); b - Vaso com olhos
«tipo Almeria» da «Tholos» do Monte do Outeiro (Aljus,trel); c - Brincos de ouro da
Gruta artificial de Ermeg.t:;jra; d - Diadema de ouro da sepultura da Águia Branca
(Ota); e-· fdolo~falange gravada com olhos da Lapa da Bugalheira (Torres Novas);
f Vaso zoomórfico da Gruta do Carvalhal (Turquel).
OcTÁVIO DA VEIGA FERREIRA- Antecedentes Pré-Históricos dos Castras da Idade Est. V
do Ferro: os Castcos da Idade do Cobre em Portugal

Fig. 6 - Tipo de muralha e cubelo defensivo do período do apogeu da cultura do


campaniforme da Península de Lisboa (Castro do Zambujal- Torres Vedras).

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