Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
be
ro
gra
fi
as
Revista
de estudos
ibericos
fi
chate
c
ni
ca
Coordenação deste número
Rui Jacinto
Alexandra Isidro
Apoio à Coordenação
Ana Margarida Proença
Impressão
Marques & Pereira, Lda
Edição
Centro de Estudos Ibéricos
Rua Soeiro Viegas, 8
6300-758 Guarda
cei@cei.pt
www.cei.pt
ISSN: 1646-2858
Depósito Legal:
dezembro 2021
RUI JACINTO*
*
Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território e Centro de Estudos Ibéricos.
Territorialidades,
Paisagens,,
Comunidades::
uma Arqueologia
do devir
TERRITORIALIDADES, PAISAGENS,
COMUNIDADES: UMA ARQUEOLOGIA
DO DEVIR
RAQUEL VILAÇA
Novembro de 2021
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C.
NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL).
REPRESENTAÇÕES MATERIAIS E
IMAGINADAS, FRENTES E RETAGUARDAS,
NUM MOVIMENTO PERPÉTUO
RAQUEL VILAÇA*
*
Univ Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Arqueologia, CEAACP. rvilaca@fl.uc.pt
A autora não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990.
1
A versão inglesa deste texto estará disponível no livro resultante do Colóquio Internacional Romper fron-
teiras, atravessar territórios. Identidades e intercâmbios durante a Pré-história recente no interior norte da
Península Ibérica (Porto, 23-24 de Setembro de 2021, CITCEM - Grupo de investigação “Território e Paisagem”),
coordenado por Maria de Jesus Sanches, Helena Barbosa e Joana Teixeira.
16 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Fig. 1.
A. Delimitação da área do Grupo Cultural Baiões/ Santa Luzia
(segundo SENNA-MARTINEZ et al., 2011, fig. 1, adaptado);
B. Localização dos populi da Beira Interior (segundo SILVA, 2005, mapa 7)
Fig. 1.
C. Dispersão dos achados cerâmicos relacionados com Cogotas I. Zona Nuclear (mancha mais
escura) e Zona de Contacto (mancha mais clara) (segundo ABARQUERO MORAS, 2005, fig. 20,
adaptado)
Fig. 2.
A. Serra do Ralo (Celorico da Beira) (vista aproximada de Oeste/Sudoeste),
com indicação do local de achado das estelas
B e C. Estelas 1 e 2 de Pedra da Atalaia (fotos de Danilo Pavone)
20 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
longo dos III, II e I milénios a.C., desde logo pela insuficiência dos dados numa
ampla região com imensos vazios que fragmentam qualquer narrativa inscrita
no tempo linear.
Mas a tese, que tem como lastro distintas evidências empíricas resultantes
na sua esmagadora maioria de projectos próprios, ou de colaboração, focou-
-se em particular nos finais do II milénio a.C. e inícios do seguinte. Já antes,
uma das conclusões a que se chegara foi a de que se teria verificado uma
ausência de continuidade ocupacional entre o Bronze Médio e o Bronze Final
e entre este e a I Idade do Ferro, pelo menos nas áreas central e meridional da
Beira Interior mais intensamente exploradas (VILAÇA, 1995). Sublinhamos que
esta última consideração se reportava à I Idade do Ferro e não à Idade do Ferro
em termos genéricos. E, evidentemente, essas observações encontravam-se
condicionadas pelo estádio dos nossos conhecimentos da altura.
Questionava-se então se teria havido uma concentração populacional com
2
novos núcleos habitados, criados ou não de raiz, se esses povoados permane-
ceriam nos mesmos territórios dos do Bronze Final, ou se teria havido ocupa-
ção de novas terras antes não valorizadas (VILAÇA, 1995: 423). Por outras pala-
vras, ponderava-se se as descontinuidades na ocupação de povoados seriam
também acompanhadas por uma ruptura do modelo de ocupação do espaço.
O problema colocava-se ainda na definição de balizas cronológicas, na medi-
da em que se desconheciam testemunhos a nível arqueográfico caracterizadores
de uma I Idade do Ferro. Essa indefinição foi contornada através de um conceito
de recurso, logo provisório, o de “Proto-história Antiga”, que se aplicou às si-
tuações claramente anteriores aos sécs. V-IV a.C., mas não indiscutivelmente
inseríveis no Bronze Final, i.e., sécs. XII-IX a.C. (VILAÇA, 2000: 174, 176).
As questões para as quais este texto procura agora algumas respostas é
se existem motivos para manter as ideias antes expressas, se aquele perfil
culturalmente multifacetado deve ser reforçado ou reconsiderado, se é ou não
sustentável separar um Bronze Final de uma I Idade do Ferro, se o Bronze Final
emerge sem elos explícitos e directos de ligação à fase que o precedeu, se
prevalecem rupturas ou continuidades, seja em termos específicos dos lugares
habitados, seja do povoamento mais geral.
As respostas avançam-se já e argumentam-se a seguir.
Sim, a emergência de sítios do Bronze Final parece poder continuar a colo-
car-se num cenário sem pré-existências ocupacionais, ou, a terem-se verifica-
do — como já antes se reconheceu —, mediaram muitos séculos de abandono,
quer dizer, essas ocupações não são sequenciais. Não só não se conhecem
novidades inequívocas que alterem este quadro, como parece verificar-se
idêntico fenómeno no Norte da Beira Interior conforme transparece de síntese
recente (CARDOSO, 2014: 93).
2
Conceito utilizado de modo generalista e englobando situações muito distintas, correspondendo, tão-só a
lugares onde se viveu.
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
23
Raquel Vilaça
Sim, justifica-se falar numa I Idade do Ferro na região, para a qual existem
evidências empíricas a valorizar — vejam-se em especial os casos de Vila do
Touro (Sabugal), Cabeço das Fráguas (Guarda) e Cachouça (Idanha-a-Nova) —,
pelo que aquele conceito provisório perdeu o seu prazo de validade, ou, a
manter-se, que seja tão-só como reserva para situações dúbias. Este é um dos
campos mais ingentes da Proto-história da Beira Interior. A título de exemplo
entre essas evidências empíricas podem ser referidas as "cerâmicas peinadas"
de Vila do Touro (em estudo) e da Cachouça (VILAÇA, 2007), ou as cerâmicas
de fabrico a torno de matriz orientalizante deste último sítio (Vilaça e Basílio,
2000), ou as fíbulas de tipo Alcores e de tipo Bencarrón daquele primeiro (PON-
TE et al., 2017).
E sim, há motivos para continuar a defender, e reforçar, a ideia de que na
Beira Interior desenvolveram-se dinâmicas sociais multifacetadas com abertura
transcultural e transregional, e na longa diacronia, para as quais é agora possível
aduzir novos elementos que se estendem pela Idade do Ferro adentro.
Antes de passarmos à fundamentação, que privilegiará, como referimos no
início, apenas determinadas categorias de cerâmicas, importa lançar um breve
olhar sobre alguns dos traços naturais da região e da sua individualidade; impor-
ta porque lhes reconhecemos papel especial nos processos de inter-acção, de
“fronteirização”, das comunidades beirãs, as residentes e as de passagem.
Os traços geo-estratégicos da Beira Interior e a sua caracterização encon-
tram-se sistematizados em distintos trabalhos da autora (v.g. VILAÇA, 1995:
66-74; 2013a: 193-196), pelo que salientamos aqui apenas algumas linhas de
força: i) o posicionamento no interface litoral/ interior, entre o mundo atlântico,
a continentalidade mesetenha e, a sul, a “frente” peninsular mediterrânea; ii) a
partilha de territórios onde quase se tocam as bacias dos principais rios ibéri-
cos (Douro e Tejo) que correm em direcção ao Atlântico ocidental; iii) a orienta-
ção cruzada entre aqueles eixos fluviais — nascente/ poente — e os respectivos
afluentes — sul/ norte e norte/ sul; iv) o profundo contraste geomorfológico, com
planaltos e planícies a perderem-se de vista, com serras e montanhas rasgadas
por passagens naturais que se convertem em “corredores de circulação”; v) a
existência de cabeços isolados moldados pelo granito, que emergem amiúde,
consubstanciando expressivos marcadores referenciais, frequentemente antro-
pizados; vi) a diversidade e complementaridade de recursos de montanha, de
floresta, de planície, dos rios, proporcionando alimento e materiais de constru-
ção; vii) a particularidade ao nível de outros recursos estratégicos com repercus-
são trans-regional, em concreto os principais elementos da paleta de minerais
metálicos, aluvionares ou não: estanho, sobretudo (v.g. ribeira da Gaia, Guarda
e Alto Zêzere), cobre (v.g. Quarta Feira, Sabugal, Vila Velha de Ródão), ouro (v.g.
Alto Zêzere, Erges, Águeda), chumbo (v.g. Almofala, Figueira de Castelo Rodrigo)
e ferro (v.g. Salvador, Penamacor).
24 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Estes sete eixos que configuram na nossa visão o perfil da Beira Interior
enquanto região global, mas com toda a sua heterogeneidade interna, não
poderão ter deixado de se repercutir nas comunidades que aí habitaram e na
sua autonomia, bem como nas pessoas que nela se movimentaram em dis-
tintas direcções e, evidentemente, com ritmos de intensidade muito variável.
3
Optámos por manter a designação espanhola, distinguindo assim essas cerâmicas, da Idade do Ferro, das
cerâmicas “penteadas” calcolíticas; evitam-se equívocos, não raros quando alguns autores se referem a
cerâmicas penteadas sem as ilustrarem.
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
25
Raquel Vilaça
Muito recentemente, foi possível fazer uma re-avaliação genérica das cerâ-
micas de “tipo proto-Cogotas” e “Cogotas I” na Beira Interior, a propósito do
estudo do sítio de Caria Talaia (Sabugal), com ocupação atribuível a meados
da segunda metade do II milénio a.C. e onde se recolheu, entre outros, um
expressivo recipiente de provável origem alógena (Fig. 3) (VILAÇA et al., 2020,
com bibliografia específica).
que se estendem deste modo algo difuso e abrangente, mas não aleatoria-
mente, através da Beira Interior.
4
Veja-se sobre o assunto síntese recente (VILAÇA, 2020).
5
Para o Cabeço das Fráguas não existe informação disponível, referindo-se genericamente a sua presença
(SANTOS e SCHATTNER, 2010: 103).
30 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
É nesta região Centro/ Sul da Beira Interior que se manifesta uma quarta
categoria de cerâmicas de excepção, as cerâmicas de ornatos brunidos ou de
“tipo Lapa do Fumo”.
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
35
Raquel Vilaça
São 9 os sítios para os quais existem dados seguros, todos de altura e vin-
culados a contextos habitacionais (COIXÃO, 2000; OSÓRIO, 2005; SOARES, 2019:
19; VILAÇA, 1995; 2007). É sobre alguns deles que neste momento trabalhamos,
designadamente sobre os dados aportados pelas escavações realizadas em
Vila do Touro e outros sítios sabugalenses, sendo possível vislumbrar, desde
já e em termos da sua distribuição, um modelo que mimetiza o traçado para
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
39
Raquel Vilaça
4. EM RETROSPECTIVA
Numa visão global e valorizando os dados cerâmicos como marcadores
identitários e de contacto que prefiguram territórios estilísticos, poderemos
entrever a existência de duas tendências genéricas.
Uma é a abertura da Beira Interior à Meseta ocidental expressa num “so-
pro” muito dilatado no tempo, o mais dilatado e aparentemente sem grandes
rupturas, desde a 1ª metade do II milénio a meados do I milénio a.C., pelo me-
nos. Cerâmicas “proto-Cogotas”, “Cogotas I” e “a peine” constituem as mate-
rialidades dessa conexão, desse processo de fronteirização. Este é também o
movimento mais abrangente em termos territoriais, rasgando as próprias fron-
teiras internas da Beira Interior (onde há matizes distintos sendo que, a sul,
são mais esbatidos) e rompendo-as a norte, para além Douro. Sítios como a
Fraga dos Corvos (Macedo de Cavaleiros) (LUÍS, 2013; REPRESAS, 2013, SENNA-
-MARTINEZ, neste livro) ou a Foz do Medal (Vale do Sabor) (GASPAR et al., 2014)
contribuem para ampliar territórios estilísticos afins.
Outra tendência reafirma esse acolhimento cultural, que estende e di-
versifica os elos de aproximação da Beira Interior à Beira Central, daquela
ao Tejo, à Extremadura e Andaluzia ocidental e, por estas vias, ao mundo
mediterrâneo. Esta abertura mais tentacular intensifica-se (sem se iniciar) na
transição do II para o I milénios a.C. e é particularmente visível em torno e a
sul da linha de montanhas da Cordilheira Central, onde tão bem e também
estão presentes recursos de estanho e de cobre. Assim, enquanto as cerâmi-
cas de âmbito “Cogotas I” se manifestam de norte a sul da região em análise,
as de “tipo Baiões”, de “tipo Lapa do Fumo” e de “tipo Carambolo” parecem
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
41
Raquel Vilaça
ser mais “selectivas” na sua distribuição territorial. Mas não só. Estas dis-
tintas categorias, embora não se encontrem sistemática e simultaneamente
associadas entre si a nível local, não deixam de se entrelaçar a uma escala
regional (Fig. 14).
É nesta segunda tendência que se deverão enquadrar as primeiras cerâ-
micas de fabrico a torno de timbre “orientalizante”, de momento circunscritas
Fig. 14. Áreas de enlace das cerâmicas tipo Proto-Cogotas/ Cogotas I, de tipo Baiões, de tipo
Carambolo e peinadas na Beira Interior.
42 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
à Cachouça (VILAÇA e BASÍLIO, 2000; VILAÇA, 2007). Ainda que um sítio por si
só diga pouco, não deixa de ser notório que é o mais meridional e mais próxi-
mo das franjas daquele mundo peninsular temperado pelo Mediterrâneo que,
nesta região, nos convida ao exercício de um olhar bifocal, da Extremadura ao
Baixo Tejo, ou vice-versa. De novo, e mais uma vez, olhando sempre para lá
das fronteiras da Beira Interior.
Embora se reconheçam estas duas tendências genéricas, nenhuma delas
pode ser dissociada da ênfase colocada pelas comunidades nos contextos
domésticos, na casa, nos lugares de habitação, como centro de actividades
produtivas e de sociabilidade, como referenciais identitários e marcadores ter-
ritoriais na longa diacronia abordada neste texto.
Em outros referenciais (v.g. a metalurgia, as estelas e suas técnicas, as ar-
mas do Côa) seria possível — é possível — reconhecer essa multiculturalida-
de da Beira Interior, uma região arraçada, onde dificilmente se vislumbram
fronteiras, mas se entreveem expressivos processos de fronteirização filtrados
pelo poder agenciador das comunidades beirãs e das “outras”, em função do
6
devir do tempo e do movimento perpétuo de todas elas.
AGRADECIMENTOS
A Marcos Osório, a José Luís Madeira, a Inês Soares, pela ajuda nos ele-
mentos gráficos.
REFERÊNCIAS
ABARQUERO MORAS, F. J. (2005). Cogotas I. La difusión de un tipo cerámico durante
la Edad del Bronce. Monografías en Castilla y Léon 4.
ABARQUERO MORAS, F. J. (2012). Cogotas I más allá del território nuclear. Viajes, bo-
das, banquetes y regalos en la edad del bronce peninsular. In Rodríguez Marcos
e Fernández Manzano (eds.), Cogotas I. Una cultura de la Edad del Bronce en la
Península Ibérica, pp. 59-110.
ALARCÃO, J. (2001). Novas perspectivas sobre os Lusitanos (e outros mundos). Revis-
ta Portuguesa de Arqueologia, 4 (2), Lisboa, IPA, pp. 293-349.
ALARCÃO, J. (2005). Ainda sobre a localização dos povos, referidos na inscrição da
ponte de Alcântara. In Lusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia, [2.ªs Jor-
nadas do Património da Beira Interior]. Guarda: Centro de Estudos Ibéricos, pp.
119-131.
6
Movimento Perpétuo, título da primeira obra do Poeta António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho
(1956, Coimbra: Atlântida editora) e também do disco (1971) do grande Guitarrista e Compositor Carlos Paredes
https://www.youtube.com/watch?v=0sVryi7Nuf4
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
43
Raquel Vilaça
VILAÇA, R. (1995). Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais
da Idade do Bronze. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Trabalhos de Arqueologia 9).
VILAÇA, R. (2000). Registos e leituras da Pré-história Recente e da Proto-história An-
tiga da Beira Interior. Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular, Porto,
IV, pp. 161-182.
VILAÇA, R. (2004). O povoamento proto-histórico na periferia da Gardunha: balanço
dos conhecimentos. Eburobriga, 1, pp. 40-54.
VILAÇA, R. (2005). Entre Douro e Tejo, por terras do interior: o I milénio a. C. In Lusita-
nos e Romanos no Nordeste da Lusitânia, [2.ªs Jornadas do Património da Beira
Interior]. Guarda: Centro de Estudos Ibéricos, pp. 13-32.
VILAÇA, R. (2007). A Cachouça (Idanha-a-Nova, Castelo Branco). Construção e orga-
nização de um caso singular de inícios do I milénio AC. In Jorge, S. O. et al. (ed.),
A concepção das paisagens e dos espaços na Arqueologia da Península Ibérica,
[Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular, Faro], pp. 67-75.
VILAÇA, R. (2008a). The Chalcolithic in Beira Interior (Central Portugal): data and pro-
blems. In Bueno-Ramírez, P. et al. (ed.), Graphical Markers and Megalith Builders
in the International Tagus, Iberian Península, BAR International Series 1765, pp.
157-170.
VILAÇA, R. (2008b). Reflexões em torno da presença mediterrânea no Centro do terri-
tório português, na charneira do Bronze para o Ferro. In Celestino Pérez, S. et al.
(eds.), Contacto cultural entre el Mediterráneo y el Atlántico (siglos XII-VIII ANE):
La Precolonización a debate, Madrid: Escuela Española de Historia y Arqueología
de Roma del CSIC. Série Arqueológica, pp. 371-400.
VILAÇA, R. (2013a). O povoamento da Beira Interior durante o Bronze Final: evidências,
interacção e simbolismos. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 20, pp. 191-220.
VILAÇA, R. (2013b). Late Bronze Age: Mediterranean impacts in the Western End of the
Iberian Peninsula (actions and reactions). In Aubet, E. e Pau, S. (coord.), Interac-
ción Social y Comércio en la Antesala del Colonialismo: Los Metales como Pro-
tagonistas. Cuadernos de Arqueología Mediterránea, 21, Universidad Pompeu
Fabra de Barcelona, pp. 13-30.
VILAÇA, R. (2020). O Ocidente Peninsular de há 3000 anos num cruzamento de es-
calas. Itinerários de coisas e de pessoas. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 27,
pp. 281-316.
VILAÇA, R.; BASÍLIO, L. (2000). Contributo para a caracterização arqueológica da I
Idade do Ferro da Beira Interior: cerâmicas a torno da Cachouça (Idanha-a-Nova).
Al-madan, II série, 9, Almada, pp. 39-47.
VILAÇA, R.; CARDOSO, J.L. (2017). O Tejo português durante o Bronze Final. In Celesti-
no Pérez, S. (ed.), Territórios comparados: Los valles del Guadalquivir, el Guadia-
na y el Tajo en época tartésica, Anejos del Archivo Español de Arqueología, LXXX,
CSIC., Mérida, pp. 237-281.
VILAÇA, R.; SOARES, I.; OSÓRIO, M.; GIL, F. (2018). Cerâmicas pintadas de “tipo Caram-
bolo” na Beira Interior (Centro de Portugal). SPAL, 27 (2), pp. 37-70. http://dx.doi.
org/10.12795/spal.2018i27.16
46 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
VILAÇA, R.; BAPTISTA, P. (2020). Reflexões sobre a mobilidade humana entre socieda-
des agrafas: natureza, escalas, sinais e campos de ação. In Vilaça, R. e Aguiar, R.
(coord.), (I)Mobilidades na Pré-história. Pessoas, recursos, objetos, sítios e ter-
ritórios. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, pp. 15-49. https://doi.
org/10.14195/978-989-26-1956-9_1
VILAÇA, R.; OSÓRIO, M.; FERNANDES, D.; BOTTAINI, C.; SILVA, S. (2020). A ocupação Pré-
-histórica do Cabeço de Caria Talaia (Sabugal, Portugal). Cuadernos de Prehisto-
ria y Arqueología de la Universidad Autonoma de Madrid. 46, pp. 79-117. https://
doi.org/10.15366/cupauam2020.46.003
VILAÇA, R.; SANTOS, A. T.; GOMES, S. M. (2011). As estelas de Pedra da Atalaia (Celorico
da Beira, Guarda) no seu contexto geo-arqueológico. In Vilaça, R. (coord.), Este-
las e estátuas-menires: da Pré à Proto-história, [Actas das IV Jornadas Raianas,
Sabugal], pp. 293-318.
Resumo:
Vinte anos passaram desde a publicação da primeira síntese onde a autora defendeu para
a Beira Interior a existência de processos de hibridez cultural durante o Calcolítico e o Bron-
ze Final. Em textos posteriores o assunto foi aprofundado e a argumentação consolidou-se
com o estudo de novas evidências empíricas e o cruzamento de distintas metodologias. Essas
evidências, de natureza e valor muito variável — cerâmicas, matérias e materiais exóticos,
tecnologia, marcadores territoriais, etc. —, permitiram, ao mesmo tempo, criar a ideia de um
mundo marchetado durante a Pré- e Proto-história daquela região, um mundo de fronteiras
indefiníveis, ou só vagamente perceptíveis. São fronteiras fluídas, de elevada permeabilidade,
e sempre imaginadas. No limite podem não existir.
Entretanto, dados mais recentes, alguns só parcialmente publicados, que ampliaram também
a escala cronológica, legitimam um novo inquérito no sentido de avaliar se tais evidências são
convergentes com a tese então defendida, reforçando-a, ou se, pelo contrário, apontam para
a conveniência da sua revisão. Este texto centra-se num período de cerca de mil anos, entre
meados do II e meados do I milénio a.C., e numa região, ela própria fronteira política e natural,
mas porosa, onde são notórios os contrastes geomorfológicos e mais subtis as manchas e os
vazios de povoamento. Como entendê-los?
Abstract:
Twenty years have passed since the synthesis in which the author first defended the existence
of cultural hybridization processes during the Copper and Late Bronze Age was published.
EM TORNO DOS II-I MILÉNIOS A.C. NA BEIRA RAIANA (PORTUGAL CENTRAL)
47
Raquel Vilaça
Further papers have reapproached the issue, solidifying the argumentation, either through
the study of new empirical data or the application of innovative and distinct methods. This
data, of variable nature and significance – ceramics, exotic materials and artifacts, technology,
territorial markers, etc. –, allowed, at the same time, to create the idea of a patchwork-like
world during the regional Pre and Protohistory. A world of undefinable or vaguely perceptible
borders. These borders are fluid, highly permeable and always imagined. They might not even
have existed.
Meanwhile, more recent data, some only partially published, that has magnified the chronological
scale, requires us to inquire and evaluate if these evidences are convergent with the defended
thesis, reinforcing it, or, on the contrary, point to the necessity of its revision.
This contribution is focused on a period of around a thousand years, between the middle of
the II and of the I millennium BC, in a region that while simultaneously a political and a natural
border, is permeable enough to human mobility, and where even though the geomorphological
contrasts are clear, the settlement distribution patterns remains. How to understand them?
Key words: Beira Interior (Central Portugal); Bronze Age/Iron Age; Ceramics; Cultural hybridi-
zation; Borders/Fronteirisation
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE
UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O
TEJO E O SISTEMA CENTRAL
PEDRO BAPTISTA*
1. NOTA PRÉVIA
Em projetos de investigação de âmbito territorial, a questão da definição da
área de estudo é das primeiras que se levanta e que importa responder quanto
antes. E aqui não deixa de ser paradoxal que a arqueologia, ciência que estuda o
passado, esteja tão profundamente ancorada no presente. Mas não é surpreen-
dente – também a prática arqueológica é um resultado do tempo da sua agência.
Dizemos que está ancorada no presente porque sistematicamente se têm
compartimentado estudos em função de limites administrativos atuais; nós pró-
prios o fizemos no âmbito da nossa tese de Mestrado, tendo então reconhecido
que a ausência de dados geográficos do lado espanhol limitava em muito os
resultados obtidos (BAPTISTA, 2019, pp. 95-96). Mesmo assim, confessamos que
quando nos foi feito o desafio de abordar a Alta Extremadura conjuntamente
com a Beira Interior no âmbito do nosso projeto de Doutoramento, hesitámos.
Colocavam-se diversas questões sobre a exequibilidade do mesmo – qualidade
e compatibilidade de dados geográficos, acesso a informação arqueológica, au-
torizações para a realização de trabalhos de prospeção, etc.
No entanto, face às temáticas que pretendíamos abordar, intimamente rela-
cionadas com a mobilidade humana e a reconfiguração da paisagem durante a
Proto-história, insistir em manter este limite administrativo contemporâneo sig-
nificava transpô-lo no tempo, com toda a carga anacrónica que isso acarreta.
Com efeito, a fronteira que atualmente separa Portugal de Espanha na beira
raiana materializa se no curso do rio Erges. Nascido na Serra da Malcata, corre
em direção a sul ao longo de cerca de 50 km até à sua foz na margem direita do
Tejo. Embora decalque um limite natural, esta fronteira não é mais do que uma
construção antrópica, definida e mantida desde finais do séc. XIII.
*
Instituto de Ciências Arqueológicas, Departamento de Arqueologia Pré-histórica, Universidade Albert Ludwigs
Freiburg / CEAACP, Universidade de Coimbra. pedro-esb@hotmail.com
50 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
De certa forma, podemos afirmar que ainda que separe Portugal e Espanha,
não separa as regiões da raia – o afastamento geográfico em relação ao resto
do próprio país acaba por conduzir a uma maior proximidade entre comunidades
“de fronteira”, partilhando-se tradições, festividades e inclusive uma identidade
comum (cf. AMANTE, 2010, pp. 103-106; 2014, pp. 419-420, acerca da discussão
teórica em casos de estudo da Beira Interior Norte, e Rovisca, 2010, acerca das
práticas de contrabando na raia de Idanha-a-Nova).
1
Estas práticas , partilhadas entre ambos os lados da fronteira, testemunham
a discrepância entre as decisões de um estado e a agência da sua população,
resiliente neste caso a quase oito séculos de História. Mas mais do que isso,
dizem-nos muito sobre a natureza da própria fronteira e o seu papel no território;
o Erges é um rio de características torrenciais, de caudal reduzido no estio e
elevado durante a época das chuvas, mas mesmo então de travessia possível em
zonas como Monfortinho, Salvaterra do Extremo e Segura.
Assim, despindo o Erges dos significados que o devir histórico mais recente
lhe encarregou de suportar, encontramo-nos perante não um obstáculo intrans-
ponível, mas sim um dos muitos afluentes da margem direita do Tejo, dentro de
um território que importa então caracterizar para melhor compreender as comu-
nidades que o habitaram há cerca de três milénios.
2. O TERRITÓRIO
A nossa área de estudo corresponde à Beira Interior (Centro e Sul) e à Alta
Extremadura (Norte), corporizada na bacia hidrográfica norte do Tejo, desde Vila
Velha de Ródão até ao limite com a província de Toledo, e adicionalmente o con-
celho do Sabugal, já inserido no limite ocidental da plataforma da Meseta. Desde
logo, ocupa uma posição na Península Ibérica que, apesar de interior, lhe confere
um papel central no contacto entre diferentes regiões bem definidas, como são
a costa atlântica, a Meseta, o Alentejo e os vales do Guadiana e Guadalquivir
(MARTÍN BRAVO & GALÁN, 1998, pp. 305-306).
Os seus limites são assinalados por acidentes geográficos significativos e es-
truturais a nível ibérico, como são o caso do Sistema Central, a norte, e do rio
Tejo, a sul. Longitudinalmente, são as Talhadas-Muradal, a Gardunha e a Serra da
Estrela, a ocidente, e a fronteira com a província de Toledo, através de um pro-
longamento da Serra de Gredos para sul, a oriente, que fecham a área de estudo.
Mais do que limites artificiais – como são todos os que definem uma área de
estudo – são obstáculos que condicionam a mobilidade e/ou a visibilidade e que
1
De notar que além do contrabando, prática quase mitificada na raia e que detém um contexto histórico
muito específico durante o séc. XX, existiam festividades no verão que reuniam populações dos dois lados
da fronteira, por exemplo, em Monte Fidalgo e Cedilho (informação gentilmente cedida por Pedro Fonseca).
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
51
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
fazem com que o movimento seja canalizado através de portelas e vaus especí-
ficos que os permitam superar.
Fig. 1. Vista da área de estudo a partir do Miradouro da Serra das Talhadas (Proença-a-Nova)
e em direção a leste (Fotografia de Mário Monteiro).
2
Utilizaremos doravante os termos de I Idade do Ferro / Ferro Inicial por os considerarmos mais apropriados
para a designação deste período cronológico, já que se encontram desprovidos de uma conotação exógena
logo à partida.
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
55
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
Posto isto, a transição para o Ferro Inicial continua a ser uma das grandes
questões em aberto, sendo muito reduzido o número de sítios conhecido que se
possam atribuir a esta cronologia. Com base nos dados dos territórios em redor,
as tipologias de assentamento diversificam-se e há uma aproximação a espaços
mais discretos na paisagem, próximos de cursos de água e com acesso a terras
com maior potencial agropecuário.
É certo que a partir do século VII, são claras as alterações de fundo que
estão em marcha e que conduzem ao abandono de sítios no final da Idade do
Bronze – por vezes definitivo como é o caso do Castelejo (Sabugal), Monte
do Frade (Penamacor), Alegrios e Moreirinha (Idanha-a-Nova) (VILAÇA, 1995, p.
423); por vezes com reocupações durante a II Idade do Ferro, como é o caso do
Cabeço da Argemela (Fundão / Covilhã) e, com base em recolhas de superfície,
da Quinta da Samaria (Fundão / Covilhã), Tapada das Argolas e Covilhã Velha
(Fundão) (VILAÇA et al., 2000, p. 193). Igualmente testemunho de um processo
de mudança em marcha é a ocupação do Cabeço das Fráguas (Guarda / Sabu-
gal) apenas a partir da fase derradeira do Bronze Final (séc. VIII a.C.) (SANTOS
& SCHATTNER, 2010).
São assim poucos os sítios que apresentam uma continuidade na ocupação
entre o Bronze Final e o Ferro Inicial. Excluindo desta discussão os sítios locali-
zados no extremo ocidental da Meseta, do lado português, apenas a Cachouça
(Idanha-a-Nova), El Perñuelo (Ceclavín) e La Muralla (Valdehúncar) é que se en-
quadram neste cenário.
Entre estes, apenas a Cachouça foi alvo de escavações arqueológicas, reve-
lando uma estratigrafia muito afetada e com mau estado de conservação, não
permitindo uma definição clara dos seus níveis de utilização (VILAÇA, 2007a, p.
67). Ainda assim, identificou-se cerâmica a torno cinzenta e cerâmicas penteadas
de âmbito mesetenho (VILAÇA, 2007a, p. 68), testemunhando uma vez mais o
carácter de confluência deste território entre a Meseta e o Sudoeste. E, com as
devidas reservas a que o registo estratigráfico nos obriga, não podemos deixar
de assinalar que estes materiais convivem com outros de fabrico manual em
tudo semelhantes aos que marcam os contextos do Bronze Final.
Do lado espanhol, os sítios de El Periñuelo e de La Muralla foram apenas alvo
de prospeções. Tratam-se de ocupações ainda em lugares destacados na pai-
sagem, cuja ocupação mais antiga é testemunhada ora por cerâmicas manuais
com perfis típicos do Bronze Final (PAVÓN SOLDEVILA, 1998, p. 284), ora por taças
carenadas e brunidas (MARTÍN BRAVO, 1995, pp. 156-157), respetivamente. Já do
Ferro Inicial, aponta-se cerâmica penteada e a torno e, no caso de Periñuelo,
alguns vestígios de adobes.
Com efeito, as ocupações atribuíveis ao Ferro Inicial na Alta Extremadura, a
norte do Tejo, remetem-nos, na sua maioria, para lugares ainda destacados na
paisagem, cujo amuralhamento não fez mais do que colmatar as lacunas entre
56 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
3.2. METALURGIA
3
Tipo I de CELESTINO PÉREZ e SALGADO CARMONA, 2011.
58 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
4
Recentemente, os monumentos de São Martinho foram alvo de uma abordagem mais exaustiva que procura
relacionar alguns dos seus elementos com a tradição megalítica e várias influências do III ao II milénio a.C.
(cf. BUENO RAMÍREZ et al., 2019-2020).
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
59
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
passado – e aqui coloca-se uma questão fundamental: este passado era seu,
enquanto comunidades ou seu, do território que agora habitavam?
Isto porque desconhecemos em absoluto de que forma foi praticada esta rea-
propriação dos lugares e monumentos – terá sido mantida, de forma continuada,
de geração em geração ao longo de séculos, ou com hiatos temporais significa-
tivos que apagassem a sua memória e significados originais?
De resto, a questão não fica mais clara quando olhamos para os suportes
reaproveitados. Primeiro, porque também nestes casos se podem ter mantido
no seu lugar de origem. Segundo, porque, nas estátuas-menir de São Martinho,
os motivos mais antigos estão integrados de tal forma na composição que nos
levam a questionar se foram feitos “de raiz” no Bronze Final, assimilando e re-
concebendo arcaísmos de carácter local, ou se se tratam efetivamente de reutili-
zações (VILAÇA et al., 2004, p. 160). E terceiro porque casos como os do Telhado,
com uma preparação tão intensiva da superfície a gravar, podem testemunhar a
destruição de uma primeira fase de gravação; algo em sintonia com os contextos
onde se integram as gravações atribuídas ao Bronze Final no complexo de arte
rupestre do Tejo que recorrem sempre a painéis já gravados (GOMES, 2010, pp.
497-499; BAPTISTA, 2019, pp. 32-33 e 103)
Além deste carácter evocativo temporal, as estelas de guerreiro deste ter-
ritório perfilam igualmente afinidades a nível do seu contexto espacial, recor-
rentemente associado a corredores de circulação e portelas. Por um lado, a sua
distribuição espacial revela que estamos perante comunidades cujas vivências
não se cingem aos seus povoados; elas conhecem, vivem e reivindicam estes
territórios, explorando-os e circulando por eles, em contacto com outras regiões
e comunidades (BAPTISTA, 2019, pp. 37-41). Por outro, atrevemo-nos a dizer que
no quadro da mobilidade humana, ao assinalar onde as travessias são possíveis
e constituindo autênticos marcadores espaciais, parecem assinalar simultanea-
mente zonas de fronteira e de encontro entre diferentes unidades territoriais
(VILAÇA & BAPTISTA, 2020, pp. 29-30).
Mas cada história é uma história e daqui se depreende igualmente que coe-
xistiram durante os mesmos períodos e num mesmo território alargado diferen-
tes estratégias de ocupação, expressas na história singular e individual de cada
um destes sítios; história essa que só pode ser devidamente caracterizada com
recurso a escavações arqueológicas ou abordagens mais focadas que valorizem,
dentro da unidade, a diversidade.
À luz do estado atual dos conhecimentos, são várias as problemáticas em
aberto e questões que se levantam.
Na sequência do que foi explanado no ponto anterior, a disparidade no esta-
do de investigação entre a Beira Interior e a Alta Extremadura será das proble-
máticas mais significativas. Em termos quantitativos, do levantamento preliminar
que possuímos para o nosso projeto, contamos com 88 ocorrências do Bronze
Final no lado português e apenas 30 no lado espanhol, das quais apenas uma
ínfima minoria foi alvo de escavações arqueológicas.
Para a I Idade do Ferro, a discrepância é menos acentuada, mas reflete um
estado de investigação ainda mais incipiente. São apenas 5 e 7, respetivamente,
embora do lado português todos eles tenham sido identificados com base em
escavações.
No que toca ao Bronze Final, não há motivos para crer que esta discrepância
se deva a um povoamento menos intensivo do lado espanhol ou uma forma de
ocupação do espaço diferenciada, desde logo se tivermos como representativos
os dados das prospeções intensivas realizadas em Campo Aruañelo (GONZÁLEZ
CORDERO, 2015).
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
61
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
5
Neste sentido, no âmbito do nosso projeto de Doutoramento , desenvolvi-
6
do em articulação com um projeto de investigação internacional dedicado às
estelas de guerreiro, propusemo-nos a desenvolver um ensaio de Arqueologia
da Paisagem regional sistemático e multiescalar, cuja linha orientadora se pauta
pela análise das relações estabelecidas entre comunidades indígenas e exóge-
nas e de que forma estas se manifestaram na reconfiguração do território, desde
o Bronze Final até ao Ferro Inicial.
Mas a compreensão das dinâmicas de reconfiguração identitária e territorial
por parte das comunidades indígenas só pode resultar de necessária postura
aberta, alicerçada numa perspetiva diacrónica e multiescalar, que em termos la-
tos, na nossa abordagem, radica da análise de três aspetos:
a) o quadro de povoamento e exploração do território, testemunhado pelo
registo arqueológico e a sua distribuição espacial;
b) os contactos vigentes, intra e interterritoriais, testemunhados pela cultura
material e pela circulação de matérias-primas, tecnologias e ideias;
c) a rede de corredores de circulação que atravessa a área de estudo e a re-
laciona com as regiões em redor, através de pontos específicos de travessia
dos rios e cordilheiras montanhosas, extrapolada através do registo arqueo-
lógico e das características do território com recurso a análises espaciais.
5
“Mundos em movimento, paisagens em transformação: dinâmicas de (re)configuração territorial na Beira
Interior e na Alta Extremadura entre o Bronze Final e o Ferro Inicial”, orientado pela Prof. Doutora Raquel
Vilaça (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra).
6
“As estelas ibéricas da Idade do Bronze Final: iconografia, tecnologia e a transferência de conhecimento entre
o Atlântico e o Mediterrâneo”, coordenado pelo Doutor Ralph Araque Gonzalez (Universidade de Freiburg),
financiado pela Deutsche Forschungsgemeinschaft DFG (AR 1305/2-1).
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
63
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
Por sua vez, a determinação da proveniência das estelas será feita com base
em análises petrográficas, cujos resultados serão comparados com afloramentos
rochosos no território envolvente.
Com base numa análise da distribuição espacial das estelas de guerreiro e
da disponibilidade geológica da sua matéria-prima, tem-se defendido que os
lugares de procura e exploração dos blocos pétreos se encontram nas imedia-
ções dos seus lugares de implantação (VILAÇA E OSÓRIO, 2017). Neste sentido,
64 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
5. NOTAS FINAIS
O nosso conhecimento acerca da Proto-história das regiões da Beira Interior
portuguesa e da Alta Extremadura espanhola conta com uma significativa base
empírica, fruto dos trabalhos e estudos desenvolvidos ao longo das últimas dé-
cadas.
Ainda assim, existem várias linhas de investigação possíveis, com focos, ob-
jetivos e metodologias próprias que permitem o seu aprofundamento. A que es-
colhemos seguir assume um carácter transfronteiriço, diacrónico, interdisciplinar
e necessariamente holístico.
Começámos este texto com uma alusão à arqueologia enquanto “ciência que
estuda o passado ancorada no presente” e rematamo-lo retomando essa mesma
ideia.
De facto, à semelhança dos dias de hoje, as comunidades que no início do I
milénio a.C. habitaram o interior da Península Ibérica experienciaram um período
de acelerada mudança, onde diferentes mundos “colidem”, marcados por novas
gentes, novos materiais e tecnologias, e novas ideias e cosmologias. O resultado
das suas escolhas marcou o seu devir histórico e lançou as bases para o que se-
ria o quadro socio-identitário que os romanos aqui viriam a encontrar, rompendo
em definitivo com o passado pré-histórico e iniciando o que seria de facto uma
nova era.
AGRADECIMENTOS
Ao Mário Monteiro, pela cedência da Figura 1, e ao Pedro Fonseca, pela par-
tilha de informações relativas aos costumes e festividades das comunidades de
Monte Fidalgo e Cedilho.
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
65
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
À Professora Raquel Vilaça, pelo convite para participar neste dossier temáti-
co e pelas revisões e sugestões que muito enriqueceram este texto.
À Deutsche Forschungsgemeinschaft DFG, no âmbito do financiamento do
projeto AR 1305/2-1.
REFERÊNCIAS
ALMAGRO BASCH, Martín (1972). Los ídolos y la estela decorada de Hernán Pérez (Cá-
ceres) y el ídolo y la estela de Tabuyo del Monte (León); Trabajos de Prehistoria,
29, pp. 83-124.
ALMAGRO GORBEA, Martín (1977). El bronce final y el período orientalizante en Extre-
madura; Biblioteca Praehistórica Hispana, XIV; Madrid: CSIC.
AMANTE, Maria de Fátima (2010). Local discursive strategies for the cultural cons-
truction of the border: the case of the Portuguese-Spanish border; Journal of
Borderland Studies, 25 (1), pp. 99-114.
AMANTE, Maria de Fátima (2014). Das fronteiras como espaço de construção e con-
testação identitária às questões de segurança; Etnográfica, 18 (2), pp. 415-424.
BAPTISTA, Pedro (2016). Metalurgia Pré e Proto-histórica nos distritos da Guarda e
Castelo Branco: Novos contributos e perspetivas; SABUCALE, 8, pp. 87-110.
BAPTISTA, Pedro (2019). Mobilidade Humana nos Territórios da Beira Interior Durante
o Bronze Final; Estudos Pré-históricos, 19; Viseu: CEPBA.
BARRIENTOS ALFAGEME, Gonzalo (1990). Geografia de Extremadura, Badajoz: Univer-
sitas, D.L.
BUENO RAMÍREZ, Primitiva; BARROSO BERMEJO, Rosa; BALBÍN BEHRMANN, Rodrigo
(2011). Identidades y estelas en el calcolítico peninsular. Memorias funerárias en
la cuenca del Tajo; In VILAÇA, Raquel (coord.); Estelas e estátuas-menires: da Pré
à Proto-história: actas das IV Jornadas Raianas (Sabugal, 2009); Sabugal: Câma-
ra Municipal do Sabugal / Sabugal + / CEAUCP / Instituto de Arqueologia do DHAA
da FLUC, pp. 37-62.
BUENO RAMÍREZ, Primitiva; BALBÍN BEHRMANN, Rodrigo; BARROSO BERMEJO, Rosa; SAL-
VADO, Pedro (2019-2020). Estelas e tempos na Pré-história Recente a norte do
Tejo: os monumentos do Monte de São Martinho (Castelo Branco); Ebvrobriga,
10, pp. 29-42.
CARDOSO, João Luís (2011). A estela antropomórfica de Monte dos Zebros (Idanha-a-
-Nova): seu enquadramento nas estelas peninsulares com diademas e "colares".
In VILAÇA, Raquel (coord.); Estelas e estátuas-menires: da Pré à Proto-história:
actas das IV Jornadas Raianas (Sabugal, 2009); Sabugal: Câmara Municipal do
Sabugal / Sabugal + / CEAUCP / Instituto de Arqueologia do DHAA da FLUC, pp.
89-116.
CARVALHO; Carlos Neto de; HAMILTON, Tom (2020); Património geomineiro a oeste
da Serra das Talhadas (Vila Velha de Ródão): minerais excepcionais das antigas
minas dos Ingadanais e Sítio do Cobre; Açafa On-line, 13, pp. 1-19.
66 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
CELESTINO PÉREZ, Sebastián; SALGADO CARMONA, José Ángel (2011). Nuevas metodo-
logias para la distribución espacial de las estelas del oeste peninsular. In VILAÇA,
Raquel. (coord.); Estelas e estátuas-menires: da Pré à Proto-história: actas das
IV Jornadas Raianas (Sabugal, 2009); Sabugal: Câmara Municipal do Sabugal /
Sabugal + / CEAUCP / Instituto de Arqueologia do DHAA da FLUC, pp. 417-448.
CORREIRA, Joaquim Manuel (1988). Memórias sobre o concelho do Sabugal; 2.ª edi-
ção (Publicação original em 1946); Sabugal: Câmara Municipal.
GOMES, Mário Varela (2010). Arte Rupestre do Vale do Tejo: Um Ciclo Artístico-Cultural
Pré e Proto-Histórico. Lisboa: FCSH da Universidade Nova de Lisboa / Policopiado.
GONZÁLEZ CORDERO, Antonio (2015). La Edad del Bronce en el Campo Arañuelo. XXI
Coloquios Históricos-Culturales del Campo Arañuelo, pp. 109-158.
HENRIQUES, Francisco; CANINAS, João; CHAMBINO, Mário; HENRIQUES, Fernando; AN-
TÓNIO, Telmo; SANTOS, Cézer; CANHA, Alexandre (2013). Grafismos rupestres em
afluentes do rio Tejo no distrito de Castelo Branco; Açafa On-line; 6, pp. 67-112.
MARTÍN BRAVO, Ana María (1995). Las sociedades de la edad del hierro en la Alta
Extremadura; Madrid: Universidade Complutense de Madrid / Policopiado.
MARTÍN BRAVO, Ana María (2016). El discurrir de la Edad del Hierro en el territorio
hispano-luso entre Gredos y el Tajo. In VILAÇA, Raquel (coord.); II Congresso In-
ternacional de Arqueologia da região de Castelo Branco; Castelo Branco: RVJ
Editores / SAMFTPJ, pp. 79-92.
MARTÍN BRAVO, Ana María; GALÁN, Eduardo (1998). Poblamiento y Circulación Metá-
lica en la Beira Interior y Extremadura Durante el Bronce Final y la Transición a
la Edad del Hierro. Actas do Colóquio “A Pré-história na Beira Interior”; Viseu:
CEPBA, pp. 305-323.
MELO, Ana; ALVES, Helena; ARAÚJO, Maria de Fátima (2002). The Bronze Palstave
from the Quarta Feira Copper Mine, Central Portugal. In OTTAWAY, Barbara; WA-
GER, Emma (eds.); Metals and Society, pp. 109-115.
PAVÓN SOLDEVILA, Ignacio (1998). El tránsito del II al I milénio a.c. en las cuencas
medias de los ríos Tajo y Guadiana: La Edad del Bronce; Cáceres: Universidad
de Extremadura.
PERNICKA, Ernst (2014). Provenance Determination of Archaeological Metal Objec-
ts. In ROBERTS, Benjamin; THORNTON, Christopher. (coord.); Archaeometallurgy in
Global Perspective. Methods and Syntheses; New York: Springer.
RIBEIRO, Orlando (1998). Portugal: O Mediterrâneo e o Atlântico – Esboço de rela-
ções geográficas. 7.ª edição (Publicação original em 1945); Lisboa: Augusto Sá
da Costa Editora.
RIBEIRO, Orlando; LAUTENSACH, Hermann (1988). Geografia de Portugal. Organiza-
ção, comentários e actualização de Suzanne Daveau; 1.º edição; 4 volumes; Lis-
boa: Edições João Sá da Costa.
RUIZ-GÁLVEZ PRIEGO, Marisa (1998). La Europa Atlántica en la Edad del Bronce – Un
viaje a las raíces de la Europa occidental; Barcelona: Crítica.
ROVISCO, Eduarda (2010). “Não queirais ser castelhana”. Fronteira e contrabando na
raia do concelho de Idanha-a-Nova; Lisboa: ISCTE-IUL / Policopiado.
TRANSPONDO O ERGES. O DELINEAR DE UMA ABORDAGEM TRANSFRONTEIRIÇA
67
À PAISAGEM PROTO-HISTÓRICA ENTRE O TEJO E O SISTEMA CENTRAL _ Pedro Baptista
SANTOS, André; VILAÇA, Raquel; MARQUES, João (2011). As estelas do Baraçal, Sabugal
(Beira Interior, Portugal). In VILAÇA, Raquel (coord.); Estelas e estátuas-menires:
da Pré à Proto-história: actas das IV Jornadas Raianas (Sabugal, 2009); Sabugal:
Câmara Municipal do Sabugal / Sabugal + / CEAUCP / Instituto de Arqueologia do
DHAA da FLUC, pp. 319-342.
SANTOS, Maria João; SCHATTNER, Thomas (2010). O Santuário do Cabeço das Fráguas
através da arqueologia; Revista de Estudos Ibéricos – Iberografias, 6, pp. 89-108.
STOS-GALE, Zofia; GALE, Noël (2009). Metal provenancing using isotopes and the Ox-
ford archaeological lead isotope database (OXALID); Archaeol Anthropol Sci, 1
(3), pp. 195-213.
VILAÇA, Raquel (1995). Aspectos do povoamento da Beira Interior (centro e sul) nos
finais da Idade do Bronze; Trabalhos de Arqueologia, 9; Lisboa: IPPAR/Departa-
mento de Arqueologia.
VILAÇA, Raquel (1997). Metalurgia do Bronze Final da Beira Interior. Revisão dos da-
dos à luz de novos resultados; Estudos Pré-históricos, 5, pp. 123-144.
VILAÇA, Raquel (2006). Depósitos de Bronze do Território Português – Um debate em
aberto; Separata de O Arqueólogo Português, Série IV, 24, pp. 9-150.
VILAÇA, Raquel (2007a). A Cachouça (Idanha-a-Nova, Castelo Branco). Construção
e organização de um caso singular de inícios do I milénio AC; A concepção das
paisagens e dos espaços na Arqueologia da Península Ibérica – Actas do IV
Congresso de Arqueologia Peninsular (2004); Algarve: Universidade do Algarve;
pp. 67-75.
VILAÇA, Raquel (2007b). Todos os caminhos vão dar ao Ocidente: trocas e contactos
no Bronze Final; Estudos Arqueológicos de Oeiras, 15, pp. 135-154.
VILAÇA, Raquel (2013a). A presença mediterrânea no mundo interior beirão, Centro
de Portugal (sécs. XI/X-VII-VI a.C.); In ARRUDA, Ana Margarida (ed.): Fenícios e
Púnicos, por Terra e Mar. Vol. 1 [Actas do VI Congresso Internacional de Estudos
Fenícios e Púnicos]; Lisboa: Uniarq-Estudos e Memórias, pp. 396-411.
VILAÇA, Raquel (2013b). O Povoamento da Beira Interior durante o Bronze Final: evi-
dências, interacção e simbolismos. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 20, pp. 191-
220.
VILAÇA, Raquel; SANTOS, André; PORFÍRIO, Eduardo; MARQUES, João; CORREIA, Miguel;
CANAS, Nuno (2000). O povoamento do I milénio a.C. na área do concelho do
Fundão: Pistas de aproximação ao seu conhecimento; Estudos Pré-históricos, 8,
pp. 187-219.
VILAÇA, Raquel; SANTOS, André; MARQUES, João (2004). O monte de S. Martinho na
Idade do Bronze: Estátua-menir 76, Estátua-menir 77 e Menir 78; In Arqueologia:
Colecções de Francisco Tavares Proença Júnior; Lisboa: Instituto Português de
Museus, pp. 159-165.
VILAÇA, Raquel; ROSA, João (2015). Depósito metálico na Ribeira da Gardunha, Caste-
lejo, Fundão. Eburobriga, 8, pp. 61-72.
VILAÇA, Raquel (2016); ROSA, João; BIZARRO, Joana; PIRES, Hugo; BAPTISTA, Pedro
(2016). New stele. New story. A Late Bronze Age reference in Cova da Beira
68 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Resumo:
Dos dois lados da fronteira que atualmente separa Portugal de Espanha desenha-se um ter-
ritório partilhado entre a Beira Interior e a Alta Extremadura. Apesar das afinidades culturais
durante, pelo menos, o Bronze Final serem já reconhecidas desde a década de ’90, estas
regiões nunca foram alvo de uma abordagem arqueológica comum.
Neste sentido, apresenta-se de forma preliminar um projeto de investigação transfronteiriço
em curso sobre as dinâmicas de reconfiguração territorial durante a Proto-história Peninsular
nestes territórios, valorizando a sua posição de charneira entre várias regiões da Península
Ibérica, as suas singulares características naturais, e a riqueza e diversidade do seu registo
arqueológico.
Abstract:
From both sides of the border between Portugal and Spain, a territory shared by the Beira
Interior and the Alta Extremadura takes shape. It's somewhat surprising that these two regions
were never the focus of a joint, cross-border, archaeological approach; especially when we
consider that since the '90s their cultural affinities during (at least) the Late Bronze Age have
been recognized.
In this sense, we present a preliminary overview of an ongoing cross-border research project
regarding the territorial reconfiguration dynamics during the Peninsular Protohistory in these
territories. Through this, we intend to highlight its central position between several regions
of the Iberian Peninsula, its singular natural features, and the diversity of its archaeological
record.
*
Município do Sabugal e CEAACP. arkmarcos@hotmail.com. ID ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4340-461
1
Temática sobre a qual versa a nossa Tese de Doutoramento, orientada pela Doutora Raquel Vilaça e Doutora
Helena Catarino da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
70 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
(FARNELL 1993: 361-362). Não há espaço sem experiência vivencial, o que implica
ação, e esta envolve sempre movimento (VILAÇA E BAPTISTA 2020: 15).
A mobilidade é indissociável da natureza do ser humano, estando presente
em todas as esferas da realidade humana, ao longo do tempo, mas não é um
processo tangível, afigurando-se como um fenómeno de difícil definição. Ela é
universal, pois todos se movem, mas é variável porque o fazem a escalas dife-
rentes e com múltiplas formas de expressão, que coexistem e se articulam entre
si e os pontos fixos (VAN DOMMELEN 2014: 480; BAPTISTA 2019: 7).
Mas é sempre um movimento com propósito, constituído pelas deslocações
realizadas pelos indivíduos no seu território ou com as comunidades das áreas
vizinhas, com objetivos próprios, articulados de forma complexa entre a esfera
social, económica e cultural (ADEY 2010: 34-35).
O ser humano sempre exerceu domínio sobre os terrenos que acede e ex-
plora. Ao percorrer a extensão máxima do seu território, o homem, tal como os
animais, constrói formas de posse e pertença com significados sociais próprios
(FERNÁNDEZ MARTÍNEZ E RUIZ ZAPATERO 1984: 59). Ainda que não nos possamos
esquecer que o Homem utiliza o território e os seus recursos, maximizando-os de
acordo com o mínimo esforço possível, não devem ser descartadas as situações
de índole ritual em que é manifesto não ter sido este preceito privilegiado e jus-
tamente o seu contrário (BINFORD 1988: 216; VILAÇA 1995: 66).
Por fim, dando ênfase ao papel das outras faculdades sensoriais desvalo-
rizadas pelo pensamento científico ocidental, achámos que seria fundamental
integrar nesta abordagem o alcance auditivo que é possível obter a partir de um
núcleo habitado.
A boa ou má visibilidade dos sítios arqueológicos tem sido demasiadamente
priorizada, esquecendo o contributo que os restantes sentidos deram para as
estratégias de povoamento (LUND 1998; HAMILAKIS et al. 2002; KELMAN 2010;
MILLS 2014; KOLLTVEIT 2014: 74). Contudo, embora o ser humano adote a visão
como instrumento privilegiado, esta capacidade sensorial está dependente de
um conjunto de condicionantes, especialmente de luz (GIBSON 1950: 1). Por isso,
a força da visão desvanece ao anoitecer, quando os outros sentidos ganham pre-
ponderância e resta-nos apenas a capacidade auditiva (tal como a olfativa), que
é a última a fechar-se, ao adormecer, e é também a primeira a despontar, quando
acordamos (SCHAFER 1977: 11; SKEATES 2010: 8).
A faculdade da audição tem sido uma dimensão perdida do enfoque tradicio-
nal às sociedades antigas, mesmo sabendo que o som aporta informação social
e cultural sobre os seus emissores. Elas praticavam inúmeras atividades notur-
nas de caça e de vigilância, onde a audição era imprescindível (SCHAFER 1977: 11).
Raramente os lugares habitados pelo homem estão isentos de som, pois ele
está presente em todos os aspetos da vida comunitária, desde o discurso falado
às tarefas diárias, onde se produziam informações acústicas fundamentais para
as relações sociais (WATSON E KEATING 1999: 325; MILLS 2010: 181 e 184).
74 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
um local habitado, e são, por agora, suficientes para retirar algumas ilações no
confronto entre os modelos reproduzidos informaticamente e a realidade huma-
namente experimentada no terreno. Os outros assentamentos, por insuficiência
de tempo e por diversos condicionalismos geográficos, não foram sujeitos a es-
tes ensaios.
Não iremos detalhar aqui a metodologia, os resultados e as contrariedades
sentidas em cada exercício, pois isso ficará para o estudo mais aprofundado que
iremos apresentar posteriormente, mas apenas pretendemos descrever suma-
riamente os procedimentos básicos realizados.
Para calcular a área mais facilmente acessível em torno dos primitivos nú-
cleos de ocupação humana, existiam alguns métodos tradicionais que foram
sendo melhorados com o recurso à tecnologia SIG.
Para a delimitação do território acessível encontra-se o conceito agregado de
distância e intervalo de tempo, cuja premissa é que uma área acedida em pouco
tempo será, naturalmente, mais facilmente controlada, explorada e defendida
(VITA-FINZI E HIGGS 1970: 7).
FRONTEIRAS AUDITIVAS, VISUAIS E LOCOMOTORAS NA DEFINIÇÃO DOS TERRITÓRIOS DAS SOCIEDADES DO I MILÉNIO A.C.
77
Marcos Osório
forma aleatória, tendo apenas em consideração as zonas que seriam mais propí-
cias à experimentação, pela menor presença de estruturas antrópicas recentes.
Posteriormente, em ambiente SIG, fez-se a ligação de todos os pontos de
marcha obtidos dentro da escala definida, assinalando a área perimetral de iso-
cronas alcançada no mesmo espaço de tempo (Fig. 5).
Desta forma pudemos, em primeiro lugar, validar os resultados informáticos,
se eles se aproximam da realidade prática, obtendo igualmente uma ótima per-
ceção da paisagem, dos marcos naturais e das estruturas humanas atuais, das
dificuldades de circulação, dos declives, do potencial hídrico, da vegetação, da
presença de animais selvagens, que nos permitiram ter um conhecimento pro-
fundo da realidade envolvente ao povoado, que geralmente nunca se chega a
realizar, no decurso da escavação arqueológica dos sítios.
efetivo era o som como meio de comunicação e qual o seu impacto no ambiente
circundante.
Da mesma forma que se criam bacias de visão digitais (viewsheds), admiti-
mos que também se pudessem produzir bacias de propagação sonora (sound-
sheds: DÍAZ-ANDREU et al. 2017: 196) que delimitam a extensão máxima onde a
voz humana ou qualquer dispositivo sonoro pode ser escutado, numa determi-
nada paisagem.
Conhecem-se alguns algoritmos computacionais que intentam definir a área
de impacto auditivo de uma determinada fonte sonora, inclusivamente em con-
textos antigos (MLEKUZ 2004; MILESON 2018: 714). A mancha obtida é uma fer-
ramenta útil para determinar o papel do som no entorno dos núcleos antigos
estudados, mas este cálculo requer alguns procedimentos complexos, que de-
pendem de variáveis difíceis de estimar, em que a distância é apenas uma deles,
juntamente com o tom e a potência da fonte de ruído (MLEKUZ 2004).
Ora, era muito difícil simular informaticamente a experiência passada, dado
que na zona onde desenvolvemos os nossos exercícios práticos não possuímos
registos paleoambientais que permitam reconstruir esse contexto físico original.
Como solução alternativa ao procedimento informático, optámos pelo exercício
de experimentação prática e de perceção sensorial no terreno, permitindo obter
uma «consciência da experiência viva» (JIMÉNEZ PASALODOS 2012: 444).
Foi com base neste princípio que partimos para a marcação no terreno das
isófonas esquemáticas dos núcleos populacionais estudados, assinalando o limi-
te máximo auditivo de contato entre o interior e a periferia do povoado, através
de testes que validassem essas trocas de sons no entorno do cabeço habitado,
com recurso a instrumentos similares aos usados no passado.
Para testar a audição tivemos que estabelecer uma fonte sonora humana,
posicionada no topo do povoado que, para além da voz e do assobio (meios de
comunicação comuns entre as comunidades ancestrais, a curta e a média distân-
cia) (LUND 2010: 237), recorreu a um dispositivo sonoro semelhante aos antigos
aerofones, feito a partir de um corno de bovino.
No exercício de campo, as emissões sonoras desenrolaram-se pela constante
sequência de voz, assobio e aerofone, pelo mesmo indivíduo, para dar maior
uniformidade dos resultados, projetando o som desde o interior do recinto, com
vários recetores no exterior. Os testes tiveram de realizar-se, naturalmente, em
períodos de bom tempo, evitando dias nublados ou ventosos.
As equipas recetoras fizeram trajetos radiais em torno do assentamento, dis-
tanciando-se ou aproximando-se da fonte emissora, para tentar obter a posição
exata em que o som era audível, registando a audição dos sons provenientes do
povoado e dando a respetiva resposta vocal. Os limites de propagação sonora
foram assinalados por GPS na cartografia digital, definindo assim a área máxima
audível na envolvência dos sítios estudados. No final, conectaram-se os pontos
FRONTEIRAS AUDITIVAS, VISUAIS E LOCOMOTORAS NA DEFINIÇÃO DOS TERRITÓRIOS DAS SOCIEDADES DO I MILÉNIO A.C.
81
Marcos Osório
Fig. 3. Mapa dos pontos georreferenciados dos testes de audição realizados no entorno
do povoado de São Cornélio (Sortelha, Sabugal)
Fig. 4. Mapa dos pontos georreferenciados dos testes de deteção e identificação visual
de indivíduos nas proximidades do povoado de São Cornélio (Sortelha, Sabugal)
84 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
voz humana. Não esperávamos que a figura humana isolada fosse visualmente
pouco distinguível, enquanto o som vocal ainda se mantinha reconhecível, ape-
sar das barreiras topográficas. O limite sonoro de audição e compreensão de
palavras não fica pois aquém do espaço onde é possível o reconhecimento dos
indivíduos, antes quase se sobrepõe.
Se tivermos em consideração a distinção entre a visibilidade defensiva (de
ameaças humanas e animais) e o controlo visual das atividades dos elementos
da comunidade, verificamos que estes factos testados parecem ser prejudiciais
para quem vigia o povoado, pois o invasor tenderia a manter-se silencioso, antes
de ser detetado visualmente, ao passo que já seria fundamental para efeitos de
segurança dos elementos da comunidade, em atividades no exterior do espaço
habitacional, mesmo quando a perda de contacto visual era substituída pelo con-
tacto sonoro.
Para além desta visibilidade curta, temos aquela que permite atingir uma ex-
tensão de área mais distante do que o território que se escuta. Em alguns casos
ela pode chegar aos territórios das comunidades vizinhas, como acontece no
São Cornélio, onde a visibilidade máxima vai para além do aro de proximidade
e acessibilidade de uma comunidade, imiscuindo-se em terras das restantes co-
munidades. Esta visibilidade intrusiva é de pouca resolução, mas existia e permi-
tia obter algumas informações sobre as comunidades vizinhas, instalando-se em
locais elevados como este.
Fig. 6. Fotografia da vertente sudeste do cabeço de São Cornélio, assinalando os limites de 15,
30 e 60 minutos de marcha, em linha reta
4. TERRITÓRIOS MULTISSENSORIAIS
Tendo em consideração o que foi exposto, ficou patente a necessidade de
conjugar sistematicamente estes três âmbitos de perceção na demarcação de
qualquer área de ação em torno dos núcleos de povoamento pré e proto-histó-
rico – definindo aquilo que denominámos como um sensorious catchment ― de
88 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
menor controlo por parte da comunidade. Cremos que este círculo compreende
a extensão territorial distante do povoado entre 3 e 4 km.
Estas áreas, assim definidas, podem constituir, agora, um novo paradigma
na compreensão das diferenças de apropriação e controlo dos territórios, com
base em fatores de audição, visualização e acessibilidade da paisagem destes
povoados.
REFERÊNCIAS
ADEY, Peter (2010). Mobility. Routledge.
BAPTISTA, Pedro (2019). Mobilidade humana nos territórios da Beira Interior durante
o Bronze Final [Estudos Pré-históricos; 19]. Viseu: CEPBA.
BETTINGER, Robert L. e BAUMHOFF, Martin A. (1982). The Numic Spread: Great Basin
Cultures in Competition. American Antiquity. 47, pp. 485-503.
BINFORD, Lewis Robert (1978). Nunamiut Ethnoarchaeology. Academic Press. New York.
BINFORD, Lewis Robert (1982). The archaeology of place. Journal of Anthropological
Archaeology. 1, pp. 5-31.
BINFORD, Lewis Robert (1988). En busca del pasado. Barcelona: Editorial Crítica.
BINTLIFF, John L. (1977). Natural environment and human settlement in prehistoric
Greece: based on original fieldwork. BAR Supplementary series. Oxford. 28.
CONOLLY, James; LAKE, Mark (2006). Geographical Information Systems in Archaeo-
logy. Cambridge: University Press.
COX, Kevin R. (2002). Political Geography Territory, State, and Society. Oxford: Bla-
ckwell Publishers.
CRIADO-BOADO, Felipe (2015). Archaeologies of Space: an inquiry into modes of exis-
tence of Xscapes. In K. KRISTIANSEN, L. SMEJDA, J. TUREK (ed.). Paradigm found.
Archaeological theory present, past and future. Oxford: Oxbow Books, pp. 61-83.
DAVIDSON, Iain; BAILEY, Geoffrey N. (1984). Los yacimientos, sus territorios de explo-
tación y la topografía. Boletín del Museo Arqueológico Nacional. Madrid. 2, pp.
25-46.
DÍAZ-ANDREU, Margarita; GARCÍA ATIÉNZAR, Gabriel; GARCÍA BENITO, Carlos; MATTIO-
LI, Tommaso (2017). Do you hear what I see? Analyzing visibility and audibility
through alternative methods in the rock art landscape of the Alicante mountains.
Journal of Anthropological Research, 73: 2, pp. 181-213.
DI MEO, Guy (1991). La genèse du territoire local: complexité dialectique et espace-
-temps. Annales de Géographie. 559, pp. 273-294.
ENCARNAÇÃO, José d’ (1997). Epigrafia e território. Espacio, Tiempo y Forma. Sala-
manca. Serie II (Historia Antigua, 10), pp. 79-89.
FÁBREGA-ÁLVAREZ, Pastor, PARCERO-OUBIÑA, César (2019). Now you see me. An as-
sessment of the visual recognition and control of individuals in archaeological
landscapes. Journal of Archaeological Science. 104. Elsevier, pp. 56-74.
FRONTEIRAS AUDITIVAS, VISUAIS E LOCOMOTORAS NA DEFINIÇÃO DOS TERRITÓRIOS DAS SOCIEDADES DO I MILÉNIO A.C.
91
Marcos Osório
FARNELL, Brenda (1999). Moving Bodies, Acting Selves. Annual Review of Anthropo-
logy. 28, pp. 341-373.
FELD, Steven (1996). Waterfalls of song: an acoustemology of place resounding in
Bosavi, Papua New Guinea. In S. Feld and K.H. Basso (eds) Senses of place. Santa
Fe, New Mexico: School of American Research Press, pp. 91-135.
FELD, Steven (2003). A Rainforest Acoustemology. In Michael Bull e Les Back (eds.).
The Auditory Culture Reader. Oxford: Berg, pp. 223-239.
FERNÁNDEZ MARTÍNEZ, Víctor; RUIZ ZAPATERO, Gonzalo (1984). El análisis de territorios
arqueológicos: una introducción crítica. Arqueología Espacial. 1. Teruel, pp. 55-
71.
FISHER, Peter; FARRELLY, Chris; MADDOCKS, Adrian; RUGGLES, Clive (1997). Spatial
Analysis of visible areas from the Bronze Age cairns of Mull. Journal of Archaeo-
logical Science, 24, pp. 581-592.
FRIEMAN, Catherine e GILLINGS, Mark (2007). Seeing is perceiving? World Archaeolo-
gy. 39, pp. 4-16.
GARCÍA SANJUÁN, Leonardo; WHEATLEY, David W.; MURRIETA FLORES, Patricia; MÁRQUEZ
PÉREZ; Joaquín (2009). Los SIG y el análisis espacial en Arqueología. Aplicaciones
en la Prehistoria reciente del sur de España. In NIETO PRIETO, F. X.; CAU ONTIVE-
ROS, M. A. (eds.). Arqueología Nàutica Mediterrànea. [Monografies del CASC; 8].
Girona: Centre d’Arqueologia Subaquàtica de Catalunya, pp. 163-180.
GASPAR, Jorge (2001). O retorno da paisagem à Geografia. Finisterra. Lisboa. 36: 72,
pp. 83-99.
GIBSON, James Jerome (1950). The Perception of the Visual World. Boston: Hough-
ton-Mifflin.
GODELIER, Maurice (1986). The mental and the material. Thought Economy and So-
ciety. Norfolk: Verso.
GOULETQUER Pierre (1990). De l'espace vécu aux territoires préhistoriques; sciences
et patience de l'archéologue. Archéologie et espaces (Xe Rencontres Interna-
tionales d'Archéologie et d'Histoire, Antibes, octobre 1989). Juan-Les-Pins: Ed.
APDCA, pp. 473-501.
GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely (1996). Cartografias do desejo. 4ª ed. Petrópolis.
HAESBAERT, Rogério (2004). O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à
multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
HALL, Edward T. (1966). The hidden dimension. New York: Anchor books edition.
HAMILAKIS, Yannis; PLUCIENNIK, Mark; TARLOW, Sarah (2002). Introduction: thinking
through the body. In Yannis Hamilakis, Mark PLUCIENNIK e Sarah TARLOW (eds.).
Thinking through the body: archaeologies of corporeality. New York: Kluwer, pp.
1-21.
HERNER, María Teresa (2009). Territorio, desterritorialización y reterritorialización: un
abordaje teórico desde la perspectiva de Deleuze y Guattari. Huellas. 13, pp. 158-
171.
HIGGS, Eric S. (1975). Appendix A – Site Catchment Analysis. Eric S. Higgs (ed.). Pa-
laeoeconomy. Londres: Cambridge University Press, pp. 223-224.
92 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
HIGGS, Eric S.; VITA-FINZI, Claudio (1972). Prehistoric Economies: A territorial approach.
Papers in Economic Prehistory. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 27-224.
HIGUCHI, Tadahiko (1983). The visual and spatial structure of landscape. Massachu-
setts: Institute of Technology.
HODDER, Ian (1992). Theory and Practice in Archaeology. Londres, Nova Iorque: Rout-
ledge.
INGOLD, Tim (1986). The Appropriation of Nature: Essays on Human Ecology and So-
cial Relations. Iowa: University Press.
JIMÉNEZ PASALODOS, Raquel (2012). A “phenomenology of soundscape”: archaeoa-
coustics, landscapes and environment in Music Archaeology. In J. CASCALHEIRA e
C. GONÇALVES (eds.). Actas das IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueo-
lógica – JIA 2011 Vol. I. Faro: Universidade do Algarve (Promontoria Monográfica
16), pp. 443-446.
KELMAN, Ari Y. (2010). Rethinking the Soundscape. A critical genealogy of a key term
in sound studies. The Senses and Society, 5: 2, pp. 212-234.
KOLLTVEIT, Gjerdmund (2014). Classification of Sound, Sound Tools, and Soundscapes.
In Janne Ikäheimo, Anna-Kaisa Salmi & Tiina Äikäs (eds.). Sounds Like Theory. XII
Nordic Theoretical Archaeology Group Meeting in Oulu 25-28.4.2012 [Monogra-
phs of the Archaeological Society of Finland; 2], pp. 73-84.
LAWRENCE, Denise L.; LOW, Setha M. (1990). The Built Environment and Spatial Form.
Annual Review of Anthropology. 19, pp. 453-505.
LLOBERA, Marcos (2007). Reconstructing Visual Landscapes. World Archaeology,
39:1, pp. 51-69.
LOCK, Gary (2009). Archaeological computing then and now: theory and practice,
intentions and tensions. Archeologia e calcolatori. Florença. 20, pp. 75-84.
LUND, Cajsa S. (1998). What is wrong with music archaeology? A critical essay from
a Scandinavian perspective, including a report about a new find of a bullroarer.
In Ann Buckley (ed.). Hearing the Past. Essays in Historical Ethnomusicology and
the Archaeology of Sound. Etudes et Recherches Archéologiques de l´Université
de Liège, p. 17-28.
MILESON, Stephen (2018). Sound and Landscape. In Christopher Gerrard and Alejan-
dra Gutiérrez (eds.). The Oxford Handbook of Later Medieval Archaeology in Bri-
tain. Oxford, pp. 713-727.
MILLS, Steve (2010). The contribution of sound to Archaeology. Buletinul Muzeului
Judeţean Teleorman. Seria Arheologie 2. Bucareste, pp. 179-195.
MILLS, Steve (2014). Auditory Archaeology. Understanding sound and hearing in the
past. Londres/Nova Iorque: Routledge.
MLEKUZ, Dimitrij (2004). Listening to Landscapes: Modelling Past Soundscapes in
GIS. Internet Archaeology. 16.
MURRIETA FLORES, Patricia (2011). Travelling through past landscapes - Analysing the
dynamics of movement during Late Prehistory in Southern Iberia with spatial te-
chnologies. Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade de Sou-
thampton.
FRONTEIRAS AUDITIVAS, VISUAIS E LOCOMOTORAS NA DEFINIÇÃO DOS TERRITÓRIOS DAS SOCIEDADES DO I MILÉNIO A.C.
93
Marcos Osório
OGBURN, Dennis (2006). Assessing the level of visibility of cultural objects in past
landscapes. Journal of Archaeological Science. 33, pp. 405-413.
OREJAS, Almudena; RUÍZ DEL MORO, Maria; LÓPEZ JIMÉNEZ, Óscar (2002). Los registros
del paisaje en la investigación arqueológica. Archivo Español de Arqueología.
Madrid. 75, pp. 287-311.
OSÓRIO, Marcos; SALGADO, Telmo (2017). A abordagem SIG ao Vale do Tua: uma ex-
periência inovadora. In Carvalho, Pedro C.; Coutinho, Luis Filipe; Marques, João
Nuno (Coord.). Estudo Histórico e Etnológico do Vale do Tua. Aproveitamento
hidroelétrico de Foz Tua. Concelhos de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela,
Murça e Vila Flor. Vol. 3. Porto: EDP, pp. 4-59.
SANCHES, Maria de Jesus (2000). As gerações, a memória e a territorialização em
Trás-os-Montes (Vº-IIº mil. AC). Uma primeira aproximação ao problema. Actas do
IIIº Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto/Vila Real. 3, pp. 123-145.
SCHAFER, Raymond Murray (1977). The soundscape: our sonic environment and the
tuning of the world. Rochester: Destiny Books.
SKEATES, Robin (2010). An Archaeology of the Senses: Prehistoric Malta. Oxford.
THOMAS, Julian (2008). On the ocularcentrism of Archaeology. In Julian Thomas e
Vítor Oliveira Jorge (eds.). Archaeology and the politics of vision in a post-modern
context. Cambridge Scholars Publishing, pp. 1-12.
TILLEY, Christopher (1994). A Phenomenology of Landscape. Berg Publishers: Oxford.
TSCHAN, André P., WLODZIMIERZ Raczkowski and Malgorzata LATALOWA (2000). Percep-
tion and viewsheds: are they mutually inclusive? In: Gary Lock (ed.) Beyond the
Map. Archaeology and Spatial Technologies. Proceedings of the NATO Advanced
Research Workshop, Ravello, Italy, 1-2 october, 1999. Amsterdam: IOS Press, 28-48.
VAN DOMMELEN, Peter (2014). Moving on: archaeological perspectives on mobility
and migration. Peter Van Dommelen (Ed.). World Archaeology. Mobility & Migra-
tion. 46:4, pp. 477-483.
VILAÇA, Raquel (1995). Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos
finais da Idade do Bronze. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectó-
nico e Arqueológico (Trabalhos de Arqueologia; 9).
VILAÇA, Raquel; BAPTISTA, Pedro (2020). Reflexões sobre a mobilidade humana entre
sociedades agrafas. Natureza, escalas, sinais e campos de ação. In Raquel VILA-
ÇA e Rodrigo AGUIAR (coord.) (I)Mobilidades na Pré-história. Pessoas, recursos,
objetos, sítios e territórios. Coimbra: Imprensa da Universidade, pp. 15-49.
VITA-FINZI, Claudio; HIGGS, Eric (1970). Prehistoric economy in the Mount Carmel area
of Palestine: site catchment analysis. Proceedings of the Prehistoric Society. 36,
pp. 1-37.
WATSON, Aaron; KEATING, David (1999). Architecture and Sound: an acoustic analysis
of megalithic monuments in Prehistoric Britain. Antiquity 73, pp. 325-336.
WHEATLEY, David (2014). Connecting landscapes with built environments: visibility
analysis, scale and the senses In, Paliou, E., Lieberwirth, U. and Polla, S. (eds.)
Spatial Analysis and Social Spaces: Interdisciplinary Approaches to the Interpre-
tation of Historic and Prehistoric Built Environments. Berlin: De Gruyter, p. 115-134.
94 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
WHEATLEY, David; GILLINGS, Mark (2000). Vision, Perception and GIS: some notes on
the development of enriched approaches to the study of archaeological visibility.
In Gary Lock (ed.) Beyond the map. Archaeology and spatial technologies. NATO
Science Series. [Series A. Life Sciences; 321], p. 28-48.
WHEATLEY, David; GILLINGS, Mark (2002). Spatial technology and archaeology: the
archaeological applications of GIS. London/New York: Taylor & Francis.
Resumo:
Neste artigo realizou-se uma abordagem à problemática da definição dos limites das áreas de
influência ou territórios das sociedades do II e I milénio a.C., das quais não possuímos qual-
quer outra informação, a não ser o atual meio ambiental onde o sítio se encontra. Desta forma,
o autor defende a necessidade de realizar exercícios práticos com vista a definir esses limites,
pela repetição dos mesmos gestos e apropriação do território envolvente, por meio de três
âmbitos de reflexão e prática: a deslocação pelo terreno, a visibilidade obtida desde o local
habitado e o espaço auditivo obtido desde esse ponto. A conjugação destas três ferramentas
físicas e sensoriais permite propor categorias de proximidade que intentam delimitar o espaço
vivido, explorado e apropriado por essas comunidades proto-históricas.
Abstract:
This paper presents an approach made to the problem of defining the limits of the areas of in-
fluence or territories of societies from the 2nd and 1st millennium BC, of which we do not have
any other information, except the current environment where the site is located. In this way, the
author defends the need to carry out practical exercises to define these limits, by repeating the
same gestures and appropriating the surrounding territory, through three areas of reflection
and practice: the displacement through the terrain, the visibility obtained from the inhabited
place and the auditory space obtained from that point. The combination of these three physical
and sensory tools allows us to propose categories of proximity that intend to delimit the space
experienced, explored and appropriated by these protohistorical communities.
*
Arqueólogo. Fundação Côa Parque. luisluis@arte-coa.pt
1
Embora o início da descoberta esteja datado de finais de 1992 (REBANDA 1995), existe nos arquivos da Fundação
Côa Parque uma fotografia de campo da rocha 1 da Canada do Inferno com a data de 20 de novembro de
1991.
96 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
2
Esteves (REBANDA 1995: 8). É por esta altura que se divulga a descoberta da
arte do Côa e se inicia o debate e a luta pela sua preservação. Na sua sequência,
na primeira publicação relativa à arte do Côa, o ciclo artístico do Ferro já surgia
referido, embora não ocupasse mais do que dois parágrafos (REBANDA 1995: 14).
Enquanto as equipas de investigação se concentravam no estudo dos pai-
néis paleolíticos nas imediações da barragem, alguns fozcoenses iniciavam por
sua conta a prospeção de áreas mais distantes. Para montante, Adriano Ferreira
descobriria em janeiro de 1995 as gravuras paleolíticas da Quinta da Barca e
Fig. 1. Arte rupestre do Vale do Côa na Idade do Ferro e respetivo contexto arqueológico.
2
Nesta publicação estes achados são dados como os primeiros, o que é contradito pelo que se expôs
anteriormente.
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
97
Luís Luís
Penascosa. Para jusante, nos vales tributários do Douro mais próximos de Vila
Nova de Foz Côa, José Constâncio descobriria logo a seguir as gravuras da Idade
do Ferro de Vale de Cabrões (REBANDA 1995: 8).
O facto da esmagadora maioria das rochas atribuídas ao Ferro se situarem
fora da área submergida pela barragem, associado à particular importância da
descoberta da primeira arte humana em contexto de ar livre, fez com que esta
arte não tenha entrado na polémica da preservação da arte do Côa, marcando
igualmente a história da sua investigação até aos dias de hoje.
3
Estes valores correspondem à base de dados da Fundação Côa Parque à data de 5/5/2021, fruto dos trabalhos
de prospeção arqueológica, da responsabilidade de Mário Reis.
de Cima), mas sobretudo nos íngremes e encaixados vales que descem desde o
planalto do limite ocidental da Meseta ibérica (~400 m) até ao fundo dos vales
(~120 m) (Vale de José Esteves, Vale de Cabrões, Vale do Forno), pois é aí que as
superfícies de diáclase têm condições naturais para a sua exposição ao longo do
processo de encaixe fluvial.
Este facto não explica porque é que toda a arte rupestre do Côa se situa es-
magadoramente em vertentes voltadas a sudeste (mais de 50% no caso da arte
do Ferro), este e sul (22% e 11%, respetivamente). Se a orientação da estrutura
tectónica determina a orientação dos painéis, eles serão expostos tanto para SE,
como para NW. No entanto, a presença da arte sidérica nas vertentes voltadas
a NW é residual (-10%), o que se relaciona com a preservação da superfície dos
painéis pós-exposição, por ação da água e colonização vegetal em áreas um-
brias de baixa exposição solar (AUBRY, LUÍS & DIMUCCIO 2017). Ainda assim, a arte
4
proto-histórica é mais frequente nestas zonas umbrias do que que a azilense ,
que só se preserva nestas áreas em condições microtopográficas excecionais.
Este dado explica-se pelo facto da arte azilense ter um tempo de exposição aos
elementos 20 vezes superior ao da arte do I milénio a.C., encontrando-se mui-
to mais degradada. Esta diferença fundamental explica também porque é que
a arte do Ferro se encontra geralmente em áreas mais altas e vertentes mais
íngremes do que as fases mais antigas da arte paleolítica. Este dado é aparente-
mente contraditório com o facto de que o encaixe fluvial determina a exposição
das superfícies a gravar, pelo que as superfícies expostas mais recentemente se
encontrarão no fundo do vale. Sendo verdadeira, esta realidade contrasta com
a natureza da erosão das vertentes, que, fruto da ação da gravidade (toppling),
é mais acentuada no topo da vertente e em áreas mais declivosas, diminuindo a
sua preservação a longo termo.
Apesar dos contínuos avanços na prospeção (REIS 2012, 2013, 2014), esta
arte mantém-se em grande medida desconhecida. A título de exemplo, refira-
-se que o relatório que fundamentou a decisão da preservação da arte do Côa
publica apenas um painel gravado com arte sidérica (Penascosa 14) e um detalhe
de um outro (Vermelhosa 1), com a representação da sobreposição de um cava-
leiro da Idade do Ferro a uma cabra azilense (ZILHÃO 1997: 33 e 406). Este exem-
plo explica a secundarização do estudo desta arte em face da arte paleolítica.
Os únicos trabalhos arqueológicos especificamente dedicados ao seu re-
gisto e estudo não foram além da notícia preliminar (ABREU et al. 2000). Tem-
-se vindo a realizar, desde os tempos do Centro Nacional de Arte Rupestre
(1997-2007), um relevante trabalho de decalque dos painéis gravados, embora
secundarizado pelo estudo da arte paleolítica. Maioritariamente inéditos, en-
contram-se desenhados integralmente cerca de cinco dezenas de painéis com
4
Fase final da arte paleolítica do Vale do Côa, datada de entre os 12 000 e os 10 0000 antes do presente.
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
99
Luís Luís
5
Esta característica serviu aliás para contrariar a cronologia paleolítica então recentemente acabada de atribuir
ao cavalo de Mazouco (Jorge et al., 1981), que viria mais tarde a ser confirmada com a descoberta do Côa.
102 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
em perspetiva zenital (SANTOS et al. 2012: fig. 21), típica da iconografia sidérica
peninsular (BLANCO GARCÍA 1997), ainda desconhecida no Vale do Côa. Para além
dos motivos, também o estilo com que foram executados corresponde generica-
mente às representações do Côa.
A deposição das placas no fosso norte do sítio foi datada dos séculos II a I
a.C. (SANTOS et al. 2012). No entanto, a natureza secundária dos contextos onde
foi identificada e a fase preliminar do estudo em que se encontram dificulta a sua
datação precisa, para além de uma localização genérica entre o Bronze Final e
os primeiros séculos da nossa Era (NEVES & FIGUEIREDO 2015: 1602).
Se a iconografia que discutimos se encontra multiplicada por diferentes su-
portes e materiais por toda a Península Ibérica, pouco conhecemos do contexto
primário da utilização desta arte móvel. A exceção serão as lajes do Castro de
Formigueiros (Samos, Lugo). Neste povoado fortificado, datado de entre o séc. III
a.C. e o I d.C., foram identificadas seis lajes de xisto gravadas com dois cavalos,
três peixes e um conjunto de motivos geométricos, nomeadamente círculos (sim-
ples, radiados e com decoração labiríntica). Todos estes motivos, que apresen-
tam evidentes semelhanças na arte do Côa (nomeadamente no tratamento inter-
no dos peixes da Vermelhosa 3), encontravam-se gravados em lajes de xisto que
definiam um pavimento de um pátio entre duas casas e num banco adossado a
uma das construções em torno desse pátio. Estas manifestações foram datadas
de uma fase tardia da ocupação do povoado (CAMESELLE, VILASECO VÁZQUEZ &
BLASZCZYK 2009).
Ainda antes dos trabalhos do Sabor, conheciam-se já na região alguns acha-
dos de uma arte proto-histórica móvel em contextos domésticos, embora des-
contextualizados.
As gravuras do povoado de Yecla de Yeltes (Salamanca) foram identificadas,
tanto em suportes fixos de granito, como em blocos desta mesma rocha que
fazem parte das muralhas (MARTÍN VALLS 1983). Entre as representações figura-
tivas, dominam os zoomorfos, interpretados como cavalos, sobretudo pelo facto
de dois deles surgirem montados, um dos quais no que se afigura um contexto
de caça (inscultura 12). Não se identificam cervídeos machos. Entre os motivos
geométricos destacam-se os círculos labirintiformes e espiralados. A semelhança
estilística entre estas representações e alguns dos petróglifos galegos poderá
suscitar alguma dificuldade na atribuição cronológica. Contudo, o facto de a ocu-
pação conhecida do povoado datar de entre a II Idade do Ferro e a Romanização
parece ser um forte argumento para a sua restrição cronológica. Por outro lado,
chamamos a atenção para que, apesar da natureza mais grosseira do traço e de
um menor detalhe figurativo, as representações apresentam fortes semelhanças
com algumas das representações do Côa, e até com os círculos labirínticos do
castro de Formigueiros. Atribuímos as diferenças estilísticas (traço grosso e me-
nor detalhe) à diferente natureza do suporte, pois, enquanto as representações
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
105
Luís Luís
que temos vindo a tratar se inscrevem em rochas de grão fino (xisto), o suporte
de Yecla de Yeltes é granítico, cujo grão grosso impossibilita qualquer detalhe.
Mais próximo do Côa e já em ambiente xistoso, foi identificada no Olival dos
Telhões (Vila Nova de Foz Côa), em contexto de escavação, uma placa com a re-
presentação de dois zoomorfos numa pequena placa, interpretados como cavalos
(COSME 2008). Se o estilo aproxima estas representações da arte de que vimos
tratando, já o contexto arqueológico as afasta, pois, a placa foi identificada num
muro datado do séc. III/IV d.C. Tratar-se-á assim de um contexto secundário, pre-
sunção reforçada pela existência de ocupações romanas anteriores no sítio e pela
sua proximidade do Monte do Castelo, onde se supõe uma ocupação pré-romana.
Mais fortuito foi o achado das duas placas do Paço (Vila Nova de Foz Côa).
Apesar de fragmentada, a mais decorada apresenta dois cavaleiros com lanças,
um deles com caetra, dois peões com lanças e punhal e dois zoomorfos de cau-
da curta, profundamente gravados (LUÍS 2016). O contexto do achado dificulta
uma datação, mas o sítio, localizado na vertente norte do castelo de Foz Côa, é
conhecido desde há longa data pela presença de vestígios de ocupação romana
(Leal 1886).
Finalmente, refira-se o achado de um seixo de quartzito no Alto das Malhadas
(Vila Nova de Foz Côa), no Monte Meão, já em contexto granítico, com vestígios
de ocupação pré-romana, que apresenta um conjunto de traços geométricos
gravados (REIS 2014: 26-27).
6
Refira-se o excecional caso da rocha do Vale de Junco (V.N. de Foz Côa) gravada na xistosidade e que foi
atribuída à Idade do Ferro, apesar dos seus motivos não encontrarem paralelos próximos na arte do Côa
(PINA & REIS 2014).
7
Note-se que os quatro painéis de arte rupestre em Crestelos se encontram nas paredes do fosso 1 (SILVA,
XAVIER & FIGUEIREDO 2016: 70), o que nos leva a supor que tenham sido expostos no momento da sua
escavação. Desta forma, sendo natural, o seu suporte foi disponibilizado naquele local pela ação humana,
aproximando-se assim da arte móvel.
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
107
Luís Luís
Para além dos sempre discutidos limites étnicos, o rio Côa parece marcar, a
sul do Douro durante o I Milénio a.C., o limite ocidental de um conjunto de mate-
riais arqueológicos passíveis de serem interpretados como marcadores étnicos,
como as cerâmicas “a peine” e Cogotas I (VILAÇA 2005) e os berrões (ÁLVAREZ-
-SANCHÍS 2004).
vasos à cabeça (Vermelhosa 3), uma prática etnograficamente feminina, mas que
aqui surge em figuras masculinas (LUÍS 2008: 420 contra REIS 2021).
Estes homens são guerreiros que surgem a praticar as atividades típicas des-
ta classe: combater e caçar. A caça é ao veado e faz-se a cavalo, com o auxílio
de cães, correspondendo à atividade do aristocrata quando não combate, a sua
atividade principal. Esse combate faz-se a pé, em duelos de lança e escudo, bem
exemplificado na literatura clássica, como a forma por excelência de resolução
de conflitos sem combate generalizado (Ilíada 3, 86-94; Apiano, História Romana
6, 53), ou como forma de homenagem aos grandes chefes mortos (Apiano, His-
tória Romana 6, 75; Tito Lívio, Ab Urbe Condita 28, 21). Em plena Meseta Norte, o
cerco de Intercatia, relatado por Apiano (6, 53) esclarece-nos quanto à natureza
das figuras armadas a cavalo. De facto, não existe qualquer exemplo de combate
a cavalo, apesar dos cavaleiros surgirem retratados brandindo lanças e escudos,
de braços abertos, e até aparentemente de pé sobre o dorso do cavalo, “numa
posição ousada” (NEVES & FIGUEIREDO 2015: 1601). Estas representações são me-
ras exibições de poder, à maneira dos índios das planícies norte-americanas,
onde o guerreiro exibe a sua força e destreza, ofendendo e desafiando o adver-
sário para o verdadeiro combate, a pé (LUÍS 2008: 421).
Uma percentagem importante das representações humanas do Côa, mas
também do Sabor, apresentam o que chamámos de cabeças em forma de bico
de pássaro. Estas representações ornitocefálicas remetem-nos para uma mitolo-
gia de raiz céltica. O diadema de Mones (Piloña, Espanha) e a sua interpretação
(MARCO SIMÓN 1994) afiguram-se-nos como a chave para a compreensão des-
tas representações e de grande parte da iconologia desta arte, cujo exemplo
maior no Côa é a rocha 3 da Vermelhosa. Exatamente na zona de confluência das
águas das canadas, que descem do planalto do limite ocidental da Meseta, com
o rio Côa e o Douro, assistimos à representação do trânsito aquático dos guer-
reiros heroicizados pela morte em combate, a caminho da Imortalidade. O limiar
entre os mortos e vivos é o último limiar da arte do Côa e do Sabor, no limite
ocidental da Meseta. Estamos perante a catábase, o caminho do guerreiro e seus
companheiros psicopompos para o Outro Mundo (cavalo, cão, aves necrófagas
e peixes anádromos) (LUÍS 2009a: 233-234). Desses companheiros, a arte móvel
do Castelinho apresentou-nos a primeira figura em perspetiva zenital, como se
a víssemos cá de cima. No limiar entre este mundo e o outro, a arte espelha as
duas realidades (OLMOS 1996), e por isso nos surgem também figuras espelha-
das, de forma evidente no Vale de José Esteves 18 (Fig. 3).
Estas figuras alertam-nos para que, se a fronteira é um limite (limes), ela é
também ponto de ligação, um território defronte (frontaria) (COELHO 2004). A
ligar o território dos vivos e dos mortos, o nosso e o dos outros, encontramos
cenas como a monomaquia da Vermelhosa 3. Ela remete para uma iconografia
comum na Península: La Osera (ÁLVAREZ-SANCHÍS 2004: 310), Tona (Sanmartí i
110 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Fig. 3. Figura espelhada do Vale de José Esteves 18 (foto e desenho de André Santos).
Grego, 2007, fig. 10), Numância (SOPEÑA 2005: 375) e particularmente Las Rue-
das (Valhadolid) (SANZ MÍNGUEZ 1997: 86-88). A maçã naviforme do punhal do
túmulo 32 de um guerreiro nesta necrópole vaceia foi decorada com duas cenas
espelhadas de duelo, idênticas à monomaquia da Vermelhosa (aí associadas a
javalis, aves e animais em perspetiva zenital). Ora, como um espelho, ligando o
centro e o limite da Meseta Norte, os mortos e os vivos, no maior detalhe e com-
plexidade da representação do Côa, vamos encontrar, na cintura do guerreiro
de maiores dimensões, a representação de um punhal com maçã igualmente
naviforme, como o de Las Ruedas (Fig. 4). A 250 quilómetros de distância, a cena
contida no punhal contém o mesmo tipo de punhal.
Esta ideologia guerreira atinge assim o auge da autorreferência. No entanto,
por baixo desta superestrutura ideológica, começamos a descobrir outras rea-
lidades arqueológicas. Até aos dados arqueológicos do Baixo Sabor, tínhamos
“apenas uma sociedade de guerreiros, que não comeram, não viveram, nem
morreram, mas apenas gravaram nas paredes” (LUÍS 2008: 438). As escavações
arqueológicas mostraram-nos que, para além dos guerreiros, houve homens e
mulheres que trabalharam a terra, cultivaram, comeram e guardaram cereais,
que também gravaram em pequenas placas, abandonadas nos locais onde vive-
ram. Desenha-se assim um panorama mais complexo, mais próximo da realidade
histórica, que ao mesmo tempo se subordina a uma mesma ideologia expressa
graficamente, mas que, por outro lado, a desmonta, ao mostrar-nos uma realida-
de muito mais diversificada. A continuação dos estudos e trabalhos arqueológi-
cos ajudar-nos-á a franquear o limiar último do seu conhecimento.
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
111
Luís Luís
REFERÊNCIAS
ABREU, M. S. de, ARCÀ, A., JAFFE, L. & FOSSATI, A. (2000). As gravuras rupestres de
idade do ferro no vale de Vermelhosa (Douro, Parque Arqueológico do Vale do
Côa): Notícia preliminar. In V. O. JORGE (Ed.). Proto-história da Península Ibérica
(Actas do 3.o Congresso de Arqueologia Peninsular. Vol. V). Porto: ADECAP, pp.
403-406.
ÁLVAREZ-SANCHÍS, J. R. (2004). Etnias y fronteras: Bases arqueológica para el estudio
de los pueblos prerromanos en el occidente de Iberia. In M. da C. LOPES & R. VILA-
ÇA (Eds.), O Passado em cena: Narrativas e fragmentos. Coimbra; Porto: CAUCP,
pp. 299-327.
112 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
AUBRY, T., LUÍS, L. & DIMUCCIO, L. A. (2017). Porque é que a arte do Coa se concentra
na margem esquerda? Condicionantes geológicas e ambientais para a formação
e conservação dos suportes artísticos do Vale do Coa. O Arqueólogo Português,
4/5 (S.V) (2014-2015), pp. 133-174.
AUBRY, T., LUÍS, L., MANGADO, J. & MATIAS, H. (2012). We will be known by the tra-
cks we leave behind: Exotic lithic raw materials, mobility and social networking
among the Côa Valley foragers (Portugal). Journal of Anthropological Archaeolo-
gy, 31(4), pp. 528-550.
AUBRY, T., & SAMPAIO, J. D. (2012). Novos dados para a abordagem técnica da arte
rupestre e móvel do Vale do Côa. In M. D. J. Sanches (Ed.), Atas da 1.a Mesa-Re-
donda: Artes Rupestres da Pré-História e da Proto-História: Paradigmas e Meto-
dologias De Registo. Lisboa: DGPC (Trabalhos de Arqueologia; 54), pp. 185-206.
BAPTISTA, A. M. (1983). O complexo de gravuras rupestres do Vale da Casa (Vila Nova
de Foz Côa). Arqueologia, 8, pp. 57-69.
BLANCO GARCÍA, J. F. (1997). Zoomorfos celtibéricos en perspectiva cenital. Complu-
tum, 8, pp. 183-203.
CABRAL, A. A. D. (1963). História da cidade de Calábria em Almendra (Subsídios).
Porto: Casa da Beira Alta.
CAMESELLE, G. M., VILASECO VÁZQUEZ, X. I. & BLASZCZYK, J. (2009). Lousas decoradas
con círculos, cabalos e peixes do Castro de Formigueiros (Samos, Lugo). Gallae-
cia, 28, pp. 113-130.
COELHO, M. H. da C. (2004). As fronteiras da história, a história das fronteiras. In
R. Jacinto & V. Bento (Eds.), Fronteira, emigração memória. Guarda: Centro de
Estudos Ibéricos, pp. 8-13.
COSME, S. R. (2000). Projecto de investigação arqueológica do território do Monte do
Castelo. Douro: Estudos & Documentos, 10, pp. 219-221.
COSME, S. R. (2008). Proto-história e Romanização entre o Côa e o Águeda. In L. Luís
(Ed.), Proto-história e Romanização: Guerreiros e colonizadores. (III Congresso
de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior: Actas das ses-
sões; Vol. 3). Porto: ACDR de Freixo de Numão, pp. 72-80.
CRUZ, D. J. da (1998). Expressões funerárias e cultuais no Norte da Beira Alta. In Actas
do Colóquio “A Pré-história na Beira Interior” (Tondela, Nov. 1997). Viseu: Centro
de Estudos Pré-históricos da Beira (Estudos Pré-históricos; 8), pp. 149-166.
CURADO, F. P. (1994). A propósito de Conimbriga e de Coniumbriga. Gaya, 6 (Actas do
1.o Congresso Internacional sobre o Rio Douro), pp. 213-234.
FERREIRA, A. de B. (1978). Planaltos e montanhas do norte da Beira: Estudo de geo-
morfologia. Lisboa: Centro de Estudos Geográficos.
GOMES, M. V. (2013). O abecedário rupestre, proto-histórico, do Vale da Casa (Vila
Nova de Foz Côa. Revista Da Faculdade de Letras - Ciências e Técnicas Do Pa-
trimónio, 12, pp. 69-85.
GUERRA, A.M.R. (1998). Nomes pré-romanos de povos e lugares do Ocidente penin-
sular. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. [tese de disserta-
ção de doutoramento].
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
113
Luís Luís
de Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior: Actas das sessões; Vol. 3). Porto:
ACDR de Freixo de Numão, pp. 85-95.
NALDINHO, S. M. E. (2004). O castro de S. Jurge (Ranhados, Meda). Côavisão, 6, pp.
167-175.
NEVES, D., & FIGUEIREDO, S. S. de (2015). Quinhentas placas gravadas da Idade do
Ferro do sítio fortificado do Castelinho (Nordeste Portugal): temas figurados e
padrões de distribuição. In H. COLLADO GIRALDO & J. J. GARCÍA ARRANZ (Eds.), XIX
International Rock Art Conference IFRAO 2015: Symbols in the Landscape: Rock
Art and Its Context [DVD-Rom]. Tomar: Instituto Terra e Memória (Arkeos; 37), pp.
1589-1605.
OLMOS, R. (1996). Caminos escondidos. Imaginarios del espacio en la muerte. Com-
plutum Extra, 6 (2), pp. 167-176.
PERESTRELO, M. S. (2005). O Castelo dos Mouros de Cidadelhe e a Idade do Ferro no
Médio Côa. In M. S. PERESTRELO, M. do C. FERREIRA, P. C. CARVALHO, V. PEREIRA, A.
ISIDRO & V. BENTO (Eds.), Lusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia (Actas
das 2.as Jornadas de Património da Beira Interior). Guarda: Centro de Estudos
Ibéricos, pp. 67-92.
PINA, F. A. & REIS, M. (2014). Vale de Junco (Sebadelhe, Vila Nova de Foz Côa): Uma
nova rocha com gravuras da Idade do Ferro no Douro Superior. Al-Madan Online,
18 (2), pp. 89-99.
REBANDA, N. (1994). Plano Arqueológico do Côa: Relatório de 1993. Pocinho: Direc-
ção Regional do Porto, IPPAAR. [relatório].
REBANDA, N. (1995). Os trabalhos arqueológicos e o complexo de arte rupestre do
Côa. Lisboa: IPPAAR.
REIS, M. (2012). “Mil rochas e tal...!”: Inventário dos sítios de arte rupestre do Vale do
Côa. Portugália, 33, pp. 5-72.
REIS, M. (2013). “Mil rochas e tal...!”: Inventário dos sítios de arte rupestre do Vale do
Côa (2.a parte). Portugália, 34, pp. 5-68.
REIS, M. (2014). Mil rochas e tal...!’: Inventário dos sítios da Arte Rupestre do Vale do
Côa (conclusão). Portugália, 35, pp. 17-59.
Reis, M. (2021). Mulheres em Armas! Uma diferente hipótese interpretativa sobre
uma conhecida figura da rocha 3 da Vermelhosa. In Sandra S. M. E. NALDINHO &
T. SILVINO (Eds.), Estudos em Homenagem ao Doutor António do Nascimento Sá
Coixão. Vila Nova de Foz Côa: Museu da Casa Grande de Freixo de Numão, pp.
225-244.
SANMARTÍ I GREGO, J. (2007). El arte de la Iberia septentrional. In L. ABAD CASAL & J.
A. SOLER DÍAZ (Eds.), Arte Ibérico en la España Mediterránea. Actas del Congreso
(Alicante, 24-27 de octubre de 2005) (pp. 239-264). Alicante: Instituto Alicantino
de Cultura «Juan Gil.Albert»; Diputación Provincial.
SANTOS, A. T., AUBRY, T., GARCÍA DÍEZ, M. & SAMPAIO, J. D. (2018). O final do ciclo gráfi-
co paleolítico do Vale do Côa: a arte móvel do Fariseu (Muxagata, Vila Nova Foz
Côa). Portugália, 39, pp. 5-96.
NO LIMIAR. DIFERENTES ESCALAS DE ANÁLISE DA ARTE DA IDADE DO FERRO NO LIMITE OCIDENTAL DA MESETA
115
Luís Luís
SANTOS, F., SASTRE, J., FIGUEIREDO, S. S. de, ROCHA, F., PINHEIRO, E. & DIAS, R. (2012).
El sitio fortificado del Castelinho (Felgar, Torre de Moncorvo, Portugal). Estudio
preliminar de su diacronía y las plaquetas de piedra con grabados de la Edad del
Hierro. Complutum, 23 (1), pp. 165-179.
SANZ MÍNGUEZ, C. (1997). Los vacceos: Cultura y ritos funerarios de un pueblo prerro-
mano del valle medio del Duero. La necrópolis de Las Ruedas, Padilla del Duero
(Valladolid). Valladolid: Junta de Castilla y Leon (Arqueología en Castilla y Leon;
6).
SASTRE, J. (2014). Da Idade do Ferro à Romanização da área de Crestelos. In A. P.
DINIS (Ed.), I Encontro de Arqueologia de Mogadouro: Actas (Mogadouro, Abril de
2013). Mogadouro: Município de Mogadouro, pp. 79-94.
SEABRA, L., SANTOS, F., VAZ, F. C., LEITE, J. & TERESO, J. P. (2020). Crops behind closed
walls: Fortified storage at Castelinho in the Late Iron Age of NW Iberia. Journal of
Archaeological Science: Reports, 30, 102200.
SILVA, A., XAVIER, P. & FIGUEIREDO, S. S. de (2016). As gravuras rupestres de Crestelos
(Trás-os-Montes, Portugal) e a sua longa diacronia desde a Idade do Ferro ao
período contemporâneo. In R. CORDEIRO MACENLLE & A. VÁZQUEZ MARTÍNEZ (Eds.),
Estudo de Arqueoloxía, Prehistoria e Historia Antiga: achegas dos novos investi-
gadores. Santiago de Compostela: Andavira Editora, pp. 63-81.
SOPEÑA, G. (2005). Celtiberian Ideologies and Religion. E-Keltoi: Journal of Interdis-
ciplinary Celtic Studies, 6, pp. 347-410.
VILAÇA, R. (2005). Entre o Douro e o Tejo, por terras do interior: O I milénio a. C. In M.
S. PERESTRELO, M. do C. FERREIRA, P. C. CARVALHO, V. PEREIRA, A. ISIDRO & V. BENTO
(Eds.), Lusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia (Actas das 2.as Jornadas
de Património da Beira Interior). Guarda: Centro de Estudos Ibéricos, pp. 13-32.
VILAÇA, R. (2012). Armamento Proto-histórico. In J. de ALARCÃO & M. BARROCA (Eds.),
Dicionário de Arqueologia Portuguesa. Porto: Livraria Figueirinhas, p. 37.
ZILHÃO, J. (Ed.). (1997). Arte rupestre e Pré-história do Vale do Côa: Trabalhos de
1995-1996. Lisboa: Ministério da Cultura.
Resumo:
Analisa-se a relação entre a arte rupestre do Côa e o território envolvente a diferentes escalas,
a partir de uma perspetiva de fronteira. Partimos da sua relação com os territórios de explora-
ção, integrando a arte móvel recentemente identificada no Baixo Sabor. Esta arte móvel vem
trazer para a esfera do povoado a iconografia da arte rupestre, que, devido a condicionantes
geológicas, se afasta deles.
Seguimos para uma interpretação da localização desta arte da Idade do Ferro no extremo
ocidental da Meseta Norte, que coincide com o limite de outros materiais arqueológicos, suge-
rindo limites culturais mais alargados.
Finalmente, atingimos a paisagem mental do domínio da ideologia, que parece perceber-se a
partir de uma iconografia relacionada com a heroicização dos guerreiros e o mundo da morte.
Palavras-chave: Vale do Côa; Baixo Sabor; Arte rupestre; Arte móvel; Paisagem.
116 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Abstract:
This text analyses the relation between the Côa Valley rock art and the surrounding landscape
at different scales, from a border perspective. We begin by its relationship with exploitation
territories, integrating the recently discovered Lower Sabor’s portable art, which transports
to the settlement the rock art iconography that, due to geological constraints, is located far
from them.
We move to the analysis of the placement of this Iron Age rock art at the edge of the Iberian
Northern Plateau, coinciding with other archaeological materials, suggesting broader cultural
limits.
Finally, we achieve the mental landscape expressed by ideology, gathered from its iconogra-
phy expressing warrior heroization and the otherworld.
Key words: Côa Valley; Lower Sabor; Rock art; Portable art; Landscape.
LOS TEMAS FIGURATIVOS DEL ARTE
RUPESTRE PALEOLÍTICO EN LA PENÍNSULA
IBÉRICA: ESTUDIO ESTADÍSTICO Y
MODELOS DE DISTRIBUCIÓN
MIGUEL GARCÍA-BUSTOS*
1. INTRODUCCIÓN
La actividad gráfica desarrollada durante el Paleolítico es una de las mani-
festaciones culturales más importantes del Homo Sapiens. La falta de restos
arqueológicos, en comparación a otras etapas de la humanidad, hace del arte
paleolítico un medio idóneo a partir del cual aproximarse a la incipiente capaci-
dad cognitiva del ser humano, al desarrollo cultural y social de los pueblos caza-
dores-recolectores, las redes de intercambio y la difusión territorial de diferentes
innovaciones técnicas o formalismos.
Precisamente este último punto ha experimentado en los últimos años un
gran crecimiento, convirtiéndose en uno de los temas más populares y prolíficos
de la actualidad. Sin embargo, no fue hasta los años 90’ cuando se considera
el potencial del arte paleolítico para el estudio del territorio desde el punto de
vista arqueológico. Esta irrupción vino pareja a la introducción de estudios in-
terdisciplinares y aplicaciones de nuevas técnicas con las que abordar aspectos
marginales, aunque complejos, como la mentalidad simbólica o las relaciones
sociales (ORDOÑO 2008).
Esa década supone el pistoletazo de salida para un cada vez mayor número
de estudios que ponen el foco en la relación entre la actividad gráfica paleolítica
y el territorio. Dicha relación se ha abordado de diversas maneras: mediante el
estudio de la técnica (GARATE 2006; RIVERO 2010), a través de las convenciones
y formalismos (BOURDIER 2010, 2012, 2013; BOURRILLON et al. 2012; FRITZ et al.
2007; GARATE et al. 2020; HERNANDO 2011a, 2011b; PETROGNANI Y ROBERT 2019;
RIVERO 2009; SAUVET 2019a, SAUVET et al. 2013) o desde el punto de vista de la
difusión del arte mueble (CATTELAIN 2005; FUENTES et al. 2019; RIVERO Y ÁLVARE-
Z-FERNÁNDEZ 2009; VILLAVERDE 2005).
*
Universidad de Salamanca. Becario por el Programa VIII Centenario de Retención de Jóvenes Talentos. Este
trabajo se ha realizado bajo la financiación de la Universidad de Salamanca y la Fundación Salamanca Ciudad
de Cultura y Saberes. miguelgarbus@usal.es.
118 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
El estudio del territorio también se ha abordado desde uno de los más im-
portantes criterios de análisis de este fenómeno artístico: la temática represen-
tada. Si algo caracteriza al arte paleolítico es la restricción iconográfica, que se
traduce en una “escasa variabilidad y una gran uniformidad a nivel europeo”
(Rivero 2020: 229). Entre los motivos figurativos se pueden distinguir animales,
la mayoría mamíferos, y antropomorfos. Como tendencia general, el artista esco-
gía los mismos temas para llevar a cabo su actividad, aunque no los representa
en igual porcentaje (PAILLET 2017; RIVERO 2020; SAUVET 2019b). Este hecho, que
se extiende regularmente durante todo el Paleolítico superior, hace pensar que
se trata de una norma establecida por los grupos cazadores-recolectores, tal y
como defienden corrientes interpretativas como el estructuralismo (e.g. LAMING-
-EMPERAIRE 1962; LEROI-GOURHAN 1958, 1965).
En palabras de M. Lorblanchet: “les choix des animaux figurés est influencé
par les données chronologiques, les impératifs culturels particuliers à chaque
groupe, la spécialisation des sites et le mode d’expression artistique, mobilière
ou pariétale” (LORBLANCHET 1995: 49). Si se sigue la interpretación de este últi-
mo autor, entonces es posible hablar de “varias zonas de repartición” temática
(PAILLET 2017: 72) y la posibilidad de que representen una “marca identitaria”
(SAUVET 2019a: 194) de un tipo de territorio o demarcación geográfica cultural.
A. Leroi-Gourhan (1965, 1984), A. Roussot (1984) o G. Sauvet (SAUVET 1988;
SAUVET Y SAUVET 1979; SAUVET Y WLODARCZYK 1995, 2000-2001) son los ejemplos
más notables de autores que llevaron a cabo un estudio de las distribuciones
geográficas de los temas paleolíticos representados. El trabajo de este último
autor es posiblemente de los más importantes ya que ha podido demostrar me-
diante un gran corpus y un análisis estadístico que se trata de un sistema jerar-
quizado cuyos valores temáticos fluctúan en función de la cronología y la zona
geográfica (SAUVET 1988, 2018; SAUVET Y SAUVET 1979; SAUVET Y WLODARCZYK
2000-2001).
Para el caso particular de la península ibérica apenas existen publicaciones
que recojan sistemáticamente sus representaciones figurativas. En los trabajos
de A. Leroi-Gourhan y G. Sauvet, dicha península forma parte de una base de
datos geográficamente extensa donde se incluyen otros territorios como, por
ejemplo, los Pirineos franceses o la Dordoña. Sin embargo, este marco geográ-
fico no aparece como tal sino bajo una diferenciación entre el Cantábrico y el
1
interior-sur como regiones con una identidad independiente (Fig. 1).
Por otra parte, se encuentra el corpus recopilado por J. Altuna (2002), el úni-
co hasta el momento centrado únicamente en este vasto territorio. En su trabajo
sigue la misma tendencia de los prehistoriadores franceses anteriores, dividien-
do su corpus entre un estudio global, diferenciando también el Cantábrico del
1
Los términos “interior-sur” y “resto peninsular” se utilizan como sinónimo en este trabajo y hacen referencia
a aquellos yacimientos situados en la parte meridional de la península a partir de la región cantábrica.
LOS TEMAS FIGURATIVOS DEL ARTE RUPESTRE PALEOLÍTICO EN LA PENÍNSULA IBÉRICA
119
Miguel García-Bustos
Fig. 1. Mapa de la distribución de los yacimientos peninsulares con arte paleolítico en función
de los territorios considerados por las bases de datos consultadas.
Finalmente, hay que citar otros trabajos que estudian territorios específicos
como J. A. Moure (1988) para el caso del Cantábrico, J. Alcolea y R. de Balbín
(2003) para el interior de la península, A. T. Santos (2017) para el arte al aire
libre del sector occidental, N. Iranzo (2014) para el arco mediterráneo, J. L. San-
chidrián (1990) para los yacimientos localizados en la zona más meridional de la
península o D. Garate (2015) para el caso del País Vasco continental.
2. MATERIALES Y MÉTODOS
Para realizar este trabajo ha sido necesario consultar los corpus disponibles
que recojan la temática paleolítica (42-13 ka cal BP) representada en la península
ibérica. A partir de estas publicaciones se ha llevado a cabo el estudio de la dis-
tribución temática en este amplio territorio, analizando tanto las posibles diver-
gencias como similitudes que estos corpus presentan. Asimismo, se ha realizado
120 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
software de libre acceso “R” (R Core Team, 2018), uno de los programas más uti-
lizados en investigación científica y referencia en el uso de estadística mediante
lenguaje de programación. El test aplicado es el conocido como Chi-cuadrado
(χ²), una prueba muy utilizada en el estudio de variables cualitativas recogidas en
tablas de contingencia. Con él sabremos si existen diferencias objetivas entre las
bases de datos ya publicadas. Se ha tenido en cuenta como nivel de significación
un 0.05; es decir, un nivel de confianza del 95%. Todos estos análisis se han com-
plementado mediante la inclusión de tablas de datos y estadística descriptiva en
forma de gráficas.
3. RESULTADOS
3.1. LA TEMÁTICA EN LA PENÍNSULA IBÉRICA
Fig. 2. Histograma que recoge el porcentaje de aparición de los temas figurativos en la península
ibérica por cada corpus consultado.
Fig. 3. Mosaic plot que refleja las diferencias en la distribución de los temas animales
en función de los corpus analizados.
importante que explica las disimilitudes, aunque en mucha menor medida que
el anterior bovino, ya que solo existe un déficit en el caso de este primer autor
citado. El resto de los temas recogidos por los investigadores fluctúan en unos
valores muy parecidos.
Sabiendo que existe una gran similitud en la mayoría de los temas estudiados
por los corpus a pesar del caso del bisonte y la cabra, se ha llevado a cabo un
nuevo test Chi-cuadrado comparando estos bestiarios por parejas. Los resulta-
dos muestran que solo en el caso de los autores franceses (G. SAUVET y A. LEROI-
-GOURHAN) no existe una diferencia significativa en la representatividad de cada
animal del corpus, χ² (6, N = 1167) = 12.186, p = .05795. Este hecho objetivable
coincide con el análisis porcentual que se ha realizado previamente, donde estos
corpus siguen una distribución muy parecida. Por tanto, el análisis estadístico
establece que las diferencias pueden reducirse entre los corpus de los investiga-
dores franceses frente al del español.
Tab. 2. Número de unidades gráficas por tema y su porcentaje en los corpus utilizados para el Cantábrico
LOS TEMAS FIGURATIVOS DEL ARTE RUPESTRE PALEOLÍTICO EN LA PENÍNSULA IBÉRICA
125
Miguel García-Bustos
este vasto territorio ha sido objeto de una menor producción científica frente a
sus homólogos del Cantábrico salvo contadas excepciones de algunos importan-
tes enclaves como Foz Côa (e.g. BAPTISTA 2009; AUBRY et al. 2020) o Nerja (e.g.
MEDINA-ALCAIDE et al. 2015; SANCHIDRIÁN y MEDINA-ALCAIDE 2018).
Tab. 3. P-valor de los test Chi-cuadrado realizado sobre cada pareja de corpus.
Tab. 4. Número de unidades gráficas por tema y su porcentaje en los corpus utilizados para
el interior-sur peninsular.
el uro. Sin embargo, tal vez más que las presencias habría que destacar las au-
sencias de ciertos temas. El bisonte es un animal muy escaso entre los yacimien-
tos situados al sur de Cantábrico. Tanto es así que solo J. Altuna recoge algunas
unidades gráficas que atribuye a representaciones de este animal, mientras que
para los autores franceses está completamente ausente. Algo parecido sucede
con el reno cuya presencia es meramente testimonial, quedándose en un solo
par de ejemplares.
Por primera vez en este estudio, el test Chi-cuadrado revela que no existen
diferencias significativas entre los tres corpus, χ² (6, N = 1022) = 6.9389, p =
.3265, como tampoco en una comparación entre parejas. Esto se traduce en un
modelo idéntico que explica la distribución temática en el interior-sur peninsular.
Tab. 5. Número de unidades gráficas por tema y su porcentaje en los corpus utilizados
para el País Vasco.
4. DISCUSIÓN
El análisis estadístico y las comparaciones de los diferentes corpus muestran
una distribución temática heterogénea en la península ibérica. Si bien hay que
tener en cuenta que son corpus ya un tanto obsoletos (el más reciente tiene más
de una década) es actualmente el único modo con el que se puede teorizar y
objetivar la realidad temática de este marco geográfico.
Comenzando por la distribución en el conjunto de la península ibérica, esta
puede sintetizarse en dos modelos (Fig. 6). En el primero, en base a los corpus
de los autores franceses, la iconografía está dominada por el caballo y la cierva,
secundado por el bisonte muy por debajo. Le sigue la cabra y, con todavía menor
frecuencia, el ciervo y el uro. Estos tres últimos animales pueden considerarse
como secundarios, con una representatividad menos importante frente al princi-
pal trío peninsular. En el último puesto se encuentra el reno, un tema totalmente
marginal. Por otro lado, el modelo creado en el trabajo de J. Altuna muestra una
primacía clara del caballo, situándose en un segundo plano la cierva. La cabra
forma junto a estos dos últimos el principal trío temático en la península ibérica
LOS TEMAS FIGURATIVOS DEL ARTE RUPESTRE PALEOLÍTICO EN LA PENÍNSULA IBÉRICA
129
Miguel García-Bustos
para este autor. El bisonte aparece igualado a otros dos animales como el uro y el
ciervo. De nuevo el reno se sitúa por debajo de todos estos motivos figurativos.
Las diferencias entre ambos modelos son claras. La posición del caballo por
encima o en igual término que la cierva y la frecuencia de la cabra y el bisonte
son los factores importantes que explican las principales disimilitudes en estas
distribuciones. Por tanto, todo depende de la posición jerárquica más alta y del
motivo figurativo que actúa como nivel intermedio entre aquellos más frecuentes
y los menos comunes.
Respecto al Cantábrico, todos los corpus publicados hasta el momento refle-
jan una realidad temática parecida, con el protagonismo del caballo y la cierva,
secundado por el bisonte y la menor importancia de la cabra, el uro, el ciervo y el
reno. Sin embargo, la elección de uno u otro trabajo es determinante en cuanto a
la posición que ocupa la cierva y, en menor medida, la cabra, dando como resul-
tado hasta tres posibles modelos de jerarquía en el Cantábrico (Fig. 7).
Mientras en las bases de datos pioneras, con un menor número de yacimientos
estudiados, la frecuencia de la cierva es prácticamente la misma que la del équido,
en las recientes es más dispar, ocupando el primer o segundo puesto. Algo pareci-
do ocurre con la cabra. Los primeros corpus tienden a situar este motivo en equi-
librio respecto a otros animales como el uro o el ciervo. Por el contrario, aquellos
más actualizados recogen a la cabra como una figura intermedia entre el principal
trío cantábrico y las figuras menos recurrentes del repertorio iconográfico.
Hay que señalar que el modelo presentado por A. Leroi-Gourhan es idéntico
tanto para el Cantábrico como para el conjunto de la península ibérica. Esto lleva
a pensar en el excesivo peso que posee el primer territorio en su base de datos
en detrimento de otros yacimientos localizados más al sur.
130 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Fig. 7. Modelos de frecuencia en el Cantábrico. A) Distribución a partir de los corpus más antiguos
(A. Leroi-Gourhan y J. A. Moure). B) Distribución a partir de los corpus más recientes (niveles más
altos a la izquierda a partir de G. Sauvet; niveles más altos a la derecha a partir de J. Altuna).
Por suerte, este esquema se puede analizar más en detalle a partir de los
corpus de J. Alcolea y R. de Balbín (2003) y A. T. Santos (2017) para el interior, N.
Iranzo (2014) en el arco mediterráneo y J. L. Sanchidrián (1990) para el sur (Tab. 6).
Por otro lado, el estudio de la zona vasca continental puede evidenciar que
los nuevos descubrimientos poseen una igual distribución temática a la que pre-
sentan los yacimientos que estudian los trabajos clásicos que aquí se han utili-
zado. Si bien no debería extrapolarse al resto de territorios, sí es un indicativo
de la posible buena representatividad que poseen estos corpus publicados entre
1965 y 2002.
5. CONCLUSIÓN
Los corpus que tratan de estudiar la realidad temática en la península ibérica
son muy escasos. Sin embargo, son una fuente de información muy importante
ya que mediante un análisis detallado pueden sacar a flote territorios con una
cultura simbólica diferente en función de la selección iconográfica. Como en el
resto del repertorio en el oeste europeo, la temática peninsular es restringida y
la frecuencia entre los diferentes motivos es diferente, dejando entrever unas
preferencias en representar unas figuras en detrimento de otras, posiblemente
promovidas por cuestiones culturales.
La comparación estadística entre estos corpus ha permitido establecer unos
modelos de frecuencia tanto para la península ibérica en global como para el
Cantábrico y el interior-sur en particular. En todos ellos existe un punto en co-
mún: la superior posición del caballo, la cierva y la cabra, la práctica exclusividad
del bisonte en el Cantábrico y la situación en los niveles más bajos del uro, el
ciervo y el reno.
En el caso del conjunto de la península ibérica, el resultado obtenido median-
te el test Chi-cuadrado indica que tanto el bisonte como la cabra son los motivos
principales que distinguen los corpus publicados. En base a la posición de estos
últimos y al que ocupan el caballo y la cierva es posible distinguir dos modelos
de distribución temática. En el primero, la frecuencia del caballo y la cierva es
similar. Justo por debajo se sitúa el bisonte seguido de la cabra. Por el contrario,
en el segundo modelo el caballo se eleva por encima del resto de motivos y la
posición preminente del bisonte se ve reemplazada por la cabra.
En el Cantábrico, la cierva y de nuevo la cabra son los animales que explican
las diferencias entre los tres modelos. El primero es exactamente el mismo que
ya se ha detallado más arriba donde caballo y cierva comparten cúspide jerár-
quica y donde el bisonte se posiciona en un nivel superior a la cabra. Los dos
modelos restantes establecen una jerarquía igual en sus puestos más bajos pero
contraria en la cima. La cabra se sitúa en un nivel intermedio entre los animales
menos comunes (uro, ciervo y reno) y el principal trío cantábrico (caballo, cierva
y bisonte). Asimismo, dependiendo del corpus consultado, el caballo o la cierva
es la figura más importante del Cantábrico.
LOS TEMAS FIGURATIVOS DEL ARTE RUPESTRE PALEOLÍTICO EN LA PENÍNSULA IBÉRICA
133
Miguel García-Bustos
Por lo que respecta al resto peninsular, los corpus muestran en todos los casos
un mismo modelo sin diferencias significativas. Bajo una menor variabilidad temá-
tica con la práctica ausencia de bisontes y renos, este territorio está dominado por
el caballo seguido del ciervo, del que no se puede detallar el sexo concreto ante
las limitaciones que presentan los corpus. Sin embargo, al ser un marco geográ-
fico tan extenso, si se consultan trabajos específicos de lugares como la meseta
castellana, el arco mediterráneo o el sur se sigue el modelo general bajo ciertas
particularidades. Dichas particularidades responden especialmente a la gran im-
portancia de uros en el interior y a las ciervas en la zona meridional.
En resumen, aunque el estudio de los corpus publicados puede ser de utili-
dad a la hora de poder conocer el modo en el que los temas se distribuyen por
la geografía peninsular, actualmente solo reflejan una idea aproximada. Es más
que necesaria la creación de un nuevo corpus actualizado con el que comprobar
si variables como los nuevos descubrimientos o las nuevas investigaciones de
yacimientos ya conocidos alteran estos modelos de distribución.
REFERENCIAS
ALCOLEA, Javier y BALBÍN, Rodrigo de (2003). El Arte Rupestre Paleolítico del inte-
rior peninsular. Elementos para el estudio de su variabilidad regional. En BALBÍN,
Rodrigo de y BUENO, Primitiva (eds.). Primer Symposium Internacional de Arte
Prehistórico de Ribadesella. Ribadesella: Asociación Cultural Amigos de Ribade-
sella, pp. 223-253.
ALTUNA, Jesús (2002). Los animales representados en el arte rupestre de la Penínsu-
la Ibérica. Frecuencias de los mismos, Munibe, 54, pp. 21-33.
AUBRY, Thierry; SANTOS, André Tomás; LUÍS, Luís; BARBOSA, António Fernando y SIL-
VESTRE, Marcelo (2020). Fluvial dynamics and palaeolithic settlement: new data
from the Côa Valley (Portugal), Comptes Rendus Palevol, 19(7), pp. 117-135.
BAPTISTA, António Martinho (2009). O Paradigma Perdido: O Vale do Côa e a Arte Pa-
leolitica de Ar Livre em Portugal. Villa Nova de Foz Côa: Afrontamento e Parque
Arqueólogico do Vale do Côa.
BOURDIER, Camille (2010). Paléogéographie symbolique du Magdalénien moyen.
Apport de l’étude des productions graphiques pariétales des abris occupés et
sculptés de l’Ouest français (Roc-aux-Sorciers, Chaire-à-Calvin, Reverdit, Cap-
-Blanc). Tesis doctoral. Bordeaux: Université Bordeaux 1.
BOURDIER, Camille (2012). Rock sculpture and symbolic geography in the Middle
Magdalenian. En CLOTTES, Jean (Ed.). L'art Pléistocène dans le monde/Pleistoce-
ne art of the world/Arte pleistoceneo en el mundo. Actes du Congrès IFRAO 2010.
Préhistoire, Art et Sociétés, Bulletin de la Société Préhistorique Ariège Pyrénées,
Tarrascon-sur-Ariège, pp. 397-414
BOURDIER, Camille (2013). Rock art and social geography in the Upper Paleolithic.
Contribution to the socio-cultural function of the Roc-aux-Sorciers rock-shelter
134 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Resumen:
Los corpus que estudian la distribución temática figurativa en la península ibérica actualmente
son escasos y están desactualizados. Sin embargo, son la única herramienta posible a partir
de la cual poder establecer modelos de preferencia temática, tanto en el conjunto de la pe-
nínsula como en las zonas culturales en las que canónicamente se ha dividido (Cantábrico e
interior-sur peninsular). Mediante la comparación estadística de estos corpus se ha consegui-
do sintetizar distintos modelos de distribución por cada territorio estudiado. Sin embargo, a
nivel general, en todos ellos se refleja la importancia del caballo y la cierva, la exclusividad
cantábrica del bisonte, el papel secundario de la cabra y la presencia más marginal del uro, el
ciervo y el reno.
Abstract:
The corpora that study thematic distribution in the Iberian Peninsula are currently scarce and
outdated. However, they are the only possible tool from which to establish models of thematic
preference, both in the peninsula as a whole and in the cultural areas into which it has been
canonically divided (Cantabrian and inland-southern Iberian Peninsula). By means of statistical
comparison of these corpus, it has been possible to synthesize different distribution patterns
for each territory studied. However, at a general level, all of them reflect the importance of the
horse and the hind, the Cantabrian exclusivity of the bison, the secondary role of the goat and
the more marginal presence of the aurochs, the deer and the reindeer.
*
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra _ limadenisearch21@gmail.com
140 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
partilhada (cenas de caça, motivos animalistas e animistas, etc.), para uma pos-
terior conceptualização mais abstrata e esquemática.
É uma conceptualização visível desde a passagem do Paleolítico para Meso-
1
lítico . Os próprios megálitos, menires e dolmens, têm motivos gravados e pinta-
dos, conhecendo-se o esteio pintado do Dólmen de Chã de Parada 1 na Serra da
Aboboreira (Baião), estudado e publicado por E. Shee Twohig, em que a mesma
problematiza o desenho “da Coisa” (um motivo abstrato sem interpretação apa-
rente (TWOHIG 1981: 147)); e o esteio pintado do Dólmen de Chã de Parada 3,
também ele com motivos esquemáticos circulares (Fig. 2).
Fig. 2. Motivos esquemáticos do Dólmen de Chã de Parada 1 com “a Coisa”, e Dólmen de Chã de
Parada 3, respetivamente (TWOHIG 1981: índice de figuras, fig. 30; SOUSA 1988: 120).
1
Ou seja, apesar de não haver aqui o objetivo de comparar as formas de arte ao longo da Pré-história e Pré-
história Recente, é interessante notar as graduais mudanças que, nesta vertente das expressões artísticas,
aconteceram desde o Paleolítico Superior, ao Mesolítico, e ao Neolítico.
146 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Será através deste mesmo ponto – da memória social – que se abordará tam-
bém a questão da complexificação de expressões artísticas dentro do fenómeno
do megalitismo, atendendo às seguintes questões: a ciência cognitiva por detrás
do pensamento simbólico, novas necessidades-novas respostas à perceção do
espaço físico e ontológico, a esquematização do pensamento, e o lugar e papel
do corpo vivo e morto na sociedade e no espaço.
2
Para melhor contextualização, sugere-se a leitura do texto de Philippe Chambon e Aline Thomas (2010). Os
monumentos tipo “Passy” constituem necrópoles numerosas tipo recintos evolucionados gigantes, poden-
do ter como elementos estruturantes tumuli, paliçadas ou sistemas mistos. Podiam exceder os 150m de
comprimento e 12m de altura, e acomodavam um número extremamente pequeno de câmaras e sepulturas
propriamente ditas. De entre os mais conhecidos estão os quatro tumuli em Tusson – Petit Dognon, Gros
Dognon, Tumulus de la Justice e Vieux Breuil –, o tumulus de Saint-Michel a Este de Carnac, e o Tumulus de
Sablonnière em Yonne.
3
E que no caso da Serra da Aboboreira correspondem a taças e pontas de lança tipo Palmela, punhais de
lingueta, (Cruz, 1992: 33-37) e uma espiral em prata (Jorge, 1980c: 18). De uma maneira muito sumária, o
espólio corresponde essencialmente a micrólitos geométricos, lâminas em sílex, machados e ferramentas
de trabalho (goivas), fragmentos cerâmicos decorados e não decorados, e materiais que se associam à
primeira metade do IV milénio.
148 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Joussaume (1985: 11) sumaria de uma forma bastante pragmática aquilo que
é um dólmen, caracterizando-o como a imagem mais clássica de um monumento
megalítico (Fig. 3), e referindo-se a eles como túmulos com esse propósito úni-
co – inumações. Considerando a quantidade de restos ósseos encontrados em
vários em toda a Eurásia, o autor determina que, fechados ou abertos, coletivos
ou individuais, teria de haver um certo índice de manipulação do corpo/esque-
leto(s). Desta manipulação resultariam as diferentes disposições das câmaras
funerárias – alongadas, poligonais, circulares, elípticas, quadrangulares –, como
MEGALITISMO(S) – A SERRA DA ABOBOREIRA COMO EXEMPLO DE COMPORTAMENTO PARTILHADO À LARGA ESCALA TERRITORIAL
149
Denise Maria Lima e Silva
Fig. 3. “As diferentes partes de um dólmen sob seu tumulus” (JOUSSAUME 1985: 19)
4
existiriam cerca de 80 monumentos desde sensivelmente o último quartel do 5º
milénio aC/primeira metade do 4º milénio aC, 3º milénio aC e Idade do Bronze.
Várias vezes é acentuado o polimorfismo dos monumentos que, apesar de se
poderem integrar na definição inicial de ambos J. Arnal e R. Jossaume – ou seja,
dolmens cobertos por mamoas para inumações –, apresentam uma heteroge-
neidade construtiva tal que apenas serve para dificultar a determinação de mo-
mentos específicos no tempo para a possível construção de cada um dos tumuli.
Só o Núcleo de Outeiro de Gregos (JORGE 1979, 1980a, 1980b, 1980c, 1980d,
1982), com 5 monumentos tumulares, uma estrutura periférica, uma fossa aber-
ta no saibro, e a estrutura retangular em Gregos 1 (CRUZ & SANCHES 1985: 29),
parece querer apresentar um único ponto no espaço utilizado sucessivas vezes
ao longo de várias gerações, com propósitos semelhantes, mas soluções parti-
culares.
É neste polimorfismo que reside uma das definições para o conceito associa-
do ao fenómeno do megalitismo, e que podemos, inclusive, debater a própria
noção do conceito de tradição.
T. Darvill (2011) atenta para uma importante questão que diz respeito a todo
um espectro mais alargado dos grupos humanos, na medida em que se tem vin-
do a focar principalmente nas coisas que permaneceram, raramente consideran-
do as mais efémeras ou aquelas mais humildes na paisagem e menos evidentes.
Os monumentos de pequenas envergaduras continuam a fazer parte da matriz
social e com a igual quantidade de importância. “But across Europe these mo-
numents lie at the extreme end of a spectrum of structures that are typically
more modest in their overall scale while the size of the components used in their
construction is correspondingly smaller (idem: 36). Ou seja, a pergunta “porque
deixaram de construir monumentos grandes” talvez não seja a mais acertada a
5
fazer, uma vez que estes deveriam ser a exceção , por isso, no meio da individua-
lidade que os sepulcros mais pequenos apresentam, o que vieram acrescentar
com a construção dos monumentos maiores? E não tanto no sentido de o que é
que representam, tendo o cuidado de não os individualizar dos mais pequenos,
mas antes responder à questão “que necessidade estariam as pessoas a satisfa-
zer” tendo em conta os seguintes fatores:
– haveria locais de culto naturais, locais de destaque na paisagem com pouca
ou nenhuma intervenção humana (o caso da gruta da Coriscadas e do Penedo
4
Atente-se que devido ao elevado índice de destruição que a paisagem sofreu ao longo dos séculos (aber-
tura de estradões, desmatação da flora nativa, desmonte por parte da população local para fins agrícolas
e construção de muros, violações e remeximentos), bem como considerando que alguns dos monumentos,
pelas suas peculiaridades construtivas, não chegaram até nós (o caso da Estrutura Periférica de Outeiro de
Gregos (op. Cit. Jorge, 1980d)) – mais pequenos, menos visíveis –, A Serra da Aboboreira poderia ter tido
muitos mais dos que atualmente se conhecem.
5
Partindo do princípio de que estes requerem um conjunto maior de pessoas e de tempo de planeamento
prévio superior, e atentando ao facto de que estes existem em muito menor quantidade que aqueles com
uma envergadura inferior.
152 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
(op. Cit. PAULSSON 2017: 23-26). Ao que se acresce o facto de serem visíveis
fases de construção para estas câmaras em vários momentos, inferindo que, de
origem, estes monumentos teriam sido muito mais pequenos. Atentando a mo-
numentalidade de Le Richebourg dentro dos túmulos tipo Passy, de que forma
se interpreta a hierarquia desta sociedade que depositava aqueles que morriam
precocemente devido a insuficiências imunitárias?
Estas questões que concernem à identidade da uma comunidade têm sem-
pre respostas com limites. O caso da Aboboreira assume particular dificuldade
devido à invisibilidade artefactual e de restos ósseos, e aos sucessivos remexi-
mentos e violações que alteraram a estrutura. Poucas estruturas são aquelas que
nesta serra são passíveis de fazer inferências sobre estas questões – um deles é
a Mamoa de Chã de Carvalhal 1 onde foram recuperados os punhais e pontas de
lança acima mencionados (op. Cit. CRUZ 1992). Estes artefactos não vieram da câ-
mara, mas das terras da mamoa sob o revestimento pétreo e em posição vertical.
Também na Mamoa de Outeiro de Gregos 1 registou-se um momento particular:
vestígios de fragmentos de um mesmo recipiente cerâmico de bordo largo com
asas e mamilos partido in situ associado à estrutura retangular (op. Cit. JORGE
1980c: 16). Será através de estes e outros pequenos elementos que se trará de
fazer inferências sobre o comportamento destas sociedades com a conceção do
espaço envolvente e das estruturas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É impossível ao ser-humano a desmaterialização, de tal forma que criamos
um espaço físico para conceitos abstratos quando dizemos, por exemplo, “o pas-
sado está atrás das costas” ou “o futuro à nossa frente”.
De entre os testemunhos que perduram, o megalitismo ou os monumentos
megalíticos da Serra da Aboboreira foram escolhidos – para conduzir um projeto
que prezasse o comportamento humano na longa diacronia – como aqueles que
mantêm um certo grau de imutabilidade ao longo dos milénios, pese embora o
facto de a grande maioria (senão mesmo todos) ter sofrido significativas alte-
rações a nível estrutural, ora evidentemente destruídos, ora apenas remexidos
sucessivamente ao longo dos séculos. Não obstante, a existência de núcleos
ou conjuntos de monumentos desta índole numa paisagem revela precisamente
o efeito que se procura explorar relativamente à relação ou relações mantidas
entre vários grupos humanos num espaço alargado de tempo, usando os monu-
mentos como prova de que também os objetos físicos, sozinhos, interagem com
o espaço. Acresce o facto que tais monumentos conseguem ir além das próprias
barreiras cronológicas formalmente estabelecidas, funcionando, uma vez mais,
como âncora material para vários passados, mas, acima de tudo, com uma certa
154 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
REFERÊNCIAS
ANDERSEN, N. (2011). Causewayed enclosures and megalithic monuments as media
for shaping Neolithic identities. In M. FURHOLT, F. LÜTH, & J. MÜLLER (Eds.),
Megaliths and Identities: Early Monuments and Neolithic Societies (pp. 143-154).
Dr. Rudoplh Habelt GmbH, Bonn.
BOAVENTURA, R. (2009). As antas e o megalitismo da região de Lisboa. Lisboa: Fa-
culdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dissertação de Doutoramento não
publicada.
156 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
(Eds.), Megaliths and Identities - Early Monuments and Neolithic Societies from
the Atlantic to the Baltic (pp. 15-34). Dr. Rudolf Habelt GmbH.
GARCÍA-AMORENA, I., GÓMEZ MANZANEQUE, F., RUBIALES, J., GRANJA, H., SOARES DE
CARVALHO, G., & MORLA, C. (2007). The Late Quaternary coastal forests of western
Iberia: A study of their macroremains. Elsevier - Palaeogeography, Palaeoclimato-
logy, Palaeoecology(254), 448-461.
HODDER, I. (1990). The Domestication of Europe. Oxford: Basil Blackwell, Inc.
JORGE, S. (2012). Pensar a arqueologia do ritual: breve apontamento. In M. SANCHES
(Ed.), 1ª Meda Redonda - Artes rupestres da Pré-História e da Proto-História: pa-
radigmas e metodologias de registo (Vol. 54, pp. 25-32). Trabalhos de Arqueo-
logia.
JORGE, V. O. (2014). Do Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira à experiência
de Vila Nova de Foz Côa: breve balanço de 35 anos da arqueologia... que Abril
abriu (1978-2013). Revista da Faculdade de Letras CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PA-
TRIMÓNIO, XIII, 129-141.
JORGE, V. O. (1979). Escavação das mamoas 2 e 3 de Outeiro de Gregos (Serra da
Aboboreira, Baião) - Notícia Preliminar. Revista de Guimarães(89), 251-264.
JORGE, V. O. (1980a). A Mamoa 2 de Outeiro de Gregos - Serra da Aboboreira, Baião.
Revista de Guimarães(90), 191-209.
JORGE, V. O. (1980b). Escavação das Mamoas 2 e 3 de Outeiro de Gregos (Serra da
Aboboreira - Baião) - Notícia Preliminar. IV Congresso Nacional de Arqueologia
(pp. 251-267). Faro, Lisboa: Centro de Hist. das Universidades de Lisboa, [D.L.
1979].
JORGE, V. O. (1980c). Escavação da Mamoa 1 de Outeiro de Gregos. Serra da Abobo-
reira, Baião. Portugália, nova série(I), 9-28.
JORGE, V. O. (1980d). Sobre uma estrutura situada na periferia da Mamoa 2 de Outei-
ro de Gregos (Serra da Aboboreira, Baião). Arqueologia(2), 19-24.
JORGE, V. O. (1980e). Nótula sobre a fossa aberta no saibro de Outeiro de Gregos
(Serra da Aboboreira, Baião). Arqueologia(1), 19-24.
JORGE, V. O. (1981). Importância do Núcleo Megalítico de Outeiro de Gregos. Serra da
Aboboreira, Baião. Arqueologia(3), 29-35.
JORGE, V. O. (1982). A Mamoa 5 de Outeiro de Gregos, um tumulus não Megalítico da
Serra da Aboboreira. Arqueologia(6), 32-39.
JORGE, V. O. (1989). Les tumulus de Chã de Santinhos : (ensemble mégalíthique de
Serra da Aboboreira, Nord du Portugal). In P. I. Científica (Ed.), Livro de homena-
gem a Jean Roche, pp. 381-413.
JORGE, V. O., & Moreira, A. M. (1987). Escavação da Mamoa 4 de Chã de Parada
(Baião, 1987). Arqueologia(16), 40-50.
JOUSSAUME, R. (1985). Des dolmen pour les morts: Les mégalithismes à travers le
monde. Paris: Hachette.
KANDEL, E. R., SCHWARTZ, J. H., JESSEL, T. M., SIEGELBAUM, S. A., & HUDSPETH, A. J.
(Eds.). (2000). The Principles of Neuroscience (2013 ed.). The McGraw-Hill Com-
panies.
158 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
MALAFOURIS, L. (2013). How things shape the Mind. A theory of Material Engagement.
Cambridge, Massachusetts: MIT Press.
MIDLGEY, M. S. (2011). Who was who in the Neolithic? In M. Furholt, F. Lüth, & J. Müller
(Eds.), Megaliths and Identities - Early Monuments and Neolithic Societies from
the Atlantic to the Baltic (pp. 121-128). Dr. Rudolf Habelt GmbH.
ORENGO, H., & PETRIE, C. (2018). Multi-scale relief model (MSRM): a new algorithm for
the visualization of subtle topographic change of variable size in digital elevation
models. Earth Surf Process Landforms, 43(6), 1361-1369. doi:10.1002/esp.4317
PAULSSON, B. (2019). Radiocarbon dates and Bayesian modeling support maritime
diffusion model for megaliths in Europe. PNAS, 116(9), 3460-3465.
PAULSSON, B. S. (2017). Time and Stone: The Emergence and Development of Megali-
ths and Megalithic Societies in Europe. Archaeopress Publishing LTD.
RAMIL-REGO, P., GÓMEZ-ORELLANA, L., MUÑOZ-SOBRINO, C., GARCÍA-GIL, S., IGLESIAS,
J., PÉREZ MARTÍNEZ, M., ... de NÓVOA FERNÁNDEZ, B. (2009). Cambio climático y
dinámica del paisaje en Galicia. Recursos Rurais(5), 21-47.
RAMIL-REGO, P., IRIARTE, M., MUÑOZ-SOBRINO, C., & GÓMEZ-ORELLANA, L. (2005). Cam-
bio climático y dinámica temporal del paisaje y de los hábitats en las ecorre-
giones del NW de la Península Ibérica durante el Pleistoceno superior. MUNIBE
(Antropologia-Arkeologia)(57), 537-551.
REDMON, J. & FARHADI, A. (2018). YOLOv3: An Incremental Improvement. ArXiv,
abs/1804.02767.
SÁNCHEZ-QUINTO, F., MALMSTRÖM, H., FRASER, M., GIRDLAND-FLINK, L., SVENSSON, E.,
Simões, L., ... JAKOBSSON, M. (2019). Megalithic tombs in western and northern
Neolithic Europe were linked to a kindred society. PNAS, 116(9), 9469-9474.
SCARRE, C. (2018). Megalithic people, Megalithic missionaries: the history of an idea.
24, 157-170.
SILVA, F., CUNHA, E., & GONÇALVES, V. (2008). Sinais de fogo: análise antropológica de
restos ósseos cremados do Neolítico final/Calcolítico do tholos OP2b Antropolo-
gia Portuguesa 24/25, 2007/2008: 109 139Sinais de fogo: análise antropológica
de restos ósseos cremados do Neolítico final/Calcolítico d. Antropologia Portu-
guesa(24/25), 109-139. doi:10.14195/2182-7982_25_7
SOCIEDADE MARTINS SARMENTO - SMS (n.d.). Retrieved 2021, from Penedo de Cuba e
Gruta das Cosriscadas: https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/sms/page/pene-
do-de-cuba-e-gruta-das-coriscadas
SOUSA, O. (1988). As pinturas rupestres da mamoa 3 de Chã de Parada - Baião: notícia
preliminar. Arqueologia, 17, 119-120.
TWOHIG, E. (1981). The Megalithic Art of Western Europe. Oxford: Clarendon Press.
VASCONCELOS, J. (1901). Cartas de Martins Sarmento. O Archeologo Português, 30-48.
VIEIRA, A. (2015). Contributos para o Estudo dos Vestígios Arqueológicos - do VI ao
I milénio a. C.. Paisagens e Memórias na Bacia Hidrográfica do Douro. Porto:
Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
WATSON, S., & WATERTON, E. (2017). Reconnections. In H. SILVERMAN, E. WATERTON, &
S. WATSON (Eds.), Heritage in Action - Making the Past in the Present. Springer.
MEGALITISMO(S) – A SERRA DA ABOBOREIRA COMO EXEMPLO DE COMPORTAMENTO PARTILHADO À LARGA ESCALA TERRITORIAL
159
Denise Maria Lima e Silva
Title
Abstract:
The megalithic landscape of Serra da Aboboreira raises some peculiar questions within the
framework of the phenomenon of Megalithism on a Eurasian scale. It's clear and commonly
accepted that the human communities (from the time space characterized as the Neolithic) saw
the landscape and territory in a new light, rationalizing the landscape, not yet totally noticeable
if such changes constitute a reaction-based attitude in face of external elements, or if they are
the result of an action to factors that aren't completely understood. From G. Childe's diffusio-
nism to regionalisms, we now look at monuments not as closed structures in themselves, but
as inter-generational active agents that originate ideas and behaviors that were shared on a
scale that makes us question the concept of physical frontier.
1. INTRODUCCIÓN
La “frontera” resulta un constructo social, una línea abstracta que divide de la
“Otredad” a un territorio, un grupo y unas costumbres. No obstante, hoy día, este
elemento convencional de nuestra estructura mental constituye a veces una bar-
rera que rebasa lo intangible, limitando la percepción. Desde dicha óptica parte
este trabajo, con la pretensión de remplazar el concepto convencional que alber-
gamos de “frontera”, por aquel nacido de la Antropología social, con la “frontera”
como “zona de contacto” (PRATT 1991), como espacio de interacción, imbricación
y conflicto entre dos o más grupos cultural y étnicamente distintos.
La línea limítrofe que divide la Península Ibérica se encuentra tan asentada en
el subconsciente colectivo que ha permeado también la percepción de muchos
investigadores a un lado y otro de la frontera político-administrativa que torna Es-
paña y Portugal en dos realidades diversas, encarnando tal fenómeno en un área
de coto para sus trabajos. Así se percibe en muchos estudios acerca del periodo
de comercio y asentamiento de gentes del Mediterráneo Oriental en el Suroeste
peninsular, que no incluyen en sus discursos los vestigios a ambos lados de la
linde actual. Sin embargo, durante la Primera Edad del Hierro tal percepción no
existía y la influencia de esos grupos empapó sin distinciones toda el área del
Poniente peninsular, eso sí, creando a su vez nuevas fronteras en su condición
de zonas de contacto (PRATT 1991).
No se pretende en este trabajo aportar información inédita, sino exponer una
visión de conjunto, una panorámica de lo que significó la llegada de gentes feni-
cias a las costas ibéricas y hasta qué punto ello quedó reflejado en un ámbito tan
arraigado a la costumbre y la identidad de un grupo como es el funerario, afec-
tando a la forma y filosofía de dar sepelio a los muertos. Dado que en los últimos
años se han producido nuevos hallazgos de necrópolis pertenecientes al Hierro
*
Universidad de Salamanca; Facultad de Geografía e Historia; guiomarpg@usal.es.
162 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Sin embargo, no siempre se repite tal modelo, como muestra en el litoral ga-
ditano Mesas de Asta (Jerez de la Frontera, Cádiz) (finales del IX a.n.e.- VIII a.n.e.)
sin cubiertas tumulares (RUIZ MATA Y PÉREZ 1995). Aunque no ha de descartarse
que el profundo laboreo de las tierras afectara al registro estratigráfico e hiciera
desaparecer la estructura tumular, como se sospecha en la cercana y reciente-
mente excavada necrópolis de la Angorrilla (Alcalá del Río, Sevilla) (finales del VIII
a.n.e.-VI a.n.e.) (FERNÁNDEZ FLORES et al., 2014); mientras que para Rabadanes
(Cabezas de San Juan, Sevilla) (VIII a.n.e.-VII a.n.e.) no existen datos topográficos
relativos a la posible existencia de una estructura de señalización de ese tipo
(PELLICER Y ESCACENA, 2007).
En dicho panorama funerario se observan ya variaciones dentro de la tenden-
cia mayoritaria marcada por agrupaciones tumulares de carácter circular con un
tamaño variable en las que el rito crematorio es predominante. Así, en Rabada-
nes se documenta exclusivamente la cremación secundaria con hoyos excavados
en el suelo donde se alojaban las urnas cinerarias (PELLICER Y ESCACENA 2007);
mientras que Mesas de Asta muestra pautas que luego se repiten en las demás
necrópolis con urnas cinerarias depositadas en oquedades naturales del terreno
o en fosas excavadas en la roca, así como fosas de cremación primaria in situ
(RUIZ MATA Y PÉREZ 1995). Por el contrario, el túmulo 1 de las Cumbres, (el único
excavado de la necrópolis, pues los demás habían sufrido distintas violaciones)
(Torres, 1999), cubría el ustrinum central y un conjunto de cremaciones secunda-
rias en hoyos excavados en la roca, en oquedades naturales o en el propio sustra-
to de relleno que cubría a éstas, todas rodeadas o cubiertas por acumulaciones
de piedras (RUIZ MATA Y PÉREZ 1995). Lo mismo se observa en los túmulos A y B
de Setefilla (Fig. 2), aunque en el primero se prescinde de las coberturas pétreas
para las sepulturas (AUBET 1982). Muy similar serían las estructuras tumulares del
Acebuchal cubriendo fosas de cremación primaria y fosas de cremación junto con
la urna cineraria (SÁNCHEZ 1994). En cuanto a Cruz del Negro, se ha constatado la
presencia de varios túmulos y círculos funerarios delimitados por un zócalo peri-
métrico exterior, construido con cantos rodados, o bien por una zanja perimétrica
que podría haber albergado un anillo de grandes lajas de piedra hincadas (AMO-
RES Y FERNÁNDEZ 2000). No obstante, todas estas necrópolis cuentan con tumbas
dispuestas en los espacios de alrededor o entre dichas estructuras funerarias.
Por otro lado, ha de tratarse el caso de la Angorrilla al ser la única necrópolis
en la que la inhumación se muestra como el rito más antiguo y predominante,
siendo las cremaciones primaria y secundaria, como mínimo, coetáneas si no
posteriores (FERNÁNDEZ FLORES et al. 2014). Este hecho refuta la afirmación de M.
Torres (2017) de que la inhumación sustituyó a la cremación como rito preferente
desde finales del VII a.n.e. La convivencia de ambos ritos se documenta también
desde el siglo VII a.n.e. en Cruz del Negro (AMORES Y FERNÁNDEZ 2000), el Ace-
buchal (SÁNCHEZ 1994) y Setefilla (AUBET 1982).
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
167
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Posteriormente, el valle del Guadalquivir experimentó a lo largo del siglo VII a.n.e.
un crecimiento demográfico exponencial, ya comenzado en la centuria anterior,
que queda constatado en el gran número de asentamientos y necrópolis docu-
mentados en esta cronología (ESCACENA 2011; ESCACENA 2019). Este fenómeno
no puede desvincularse del establecimiento de grupos de origen semita, que
habrían evolucionado con el paso de las generaciones en las tierras de Iberia,
junto con el sustrato indígena, dando como resultado de tal interacción variantes
en el rito y configuración del espacio funerario. Así, en la zona de los Alcores,
entre Sevilla y Carmona, se halla un cinturón de lugares de enterramiento, cuyo
periodo de uso se desarrollaría entre principios del siglo VII a.n.e. y todo el siglo
VI a.n.e., que se sumaron a Cruz del Negro y el Acebuchal (TORRES 1999). Por
orden en dirección Suroeste-Noreste se encuentran: las tres agrupaciones de
túmulos de Bencarrón (finales del VII a.n.e.-siglo VI a.n.e), Santa Lucía (VII a.n.e.),
Raso del Chirolí (datado únicamente mediante un ánfora fenicia entre los siglos
VIII-VI a.n.e. ante la ausencia de ajuar) (TORRES 1999), El Judío (finales del siglo VII
hasta la primera mitad del VI a.C.), Huerta del Cabello (finales del VII- principios
del VI a.n.e.), Campo de las Canteras (mediados del siglo VII a.C. ― primera mitad
del VI), Alcantarilla (siglo VII a.C.), Cañada de las Cabras (finales del siglo VII a.C.
― dos primeros tercios del VI a.n.e.) y Cañada de Ruiz Sánchez (VII a.n.e.) (MAIER
1996; TORRES 1999) (Fig. 3.). En dicho conjunto predominan las cremaciones pri-
marias en fosa simple cubiertas luego por estructuras tumulares de tamaño va-
riable: desde grandes dimensiones a túmulos de menor entidad. El segundo rito
predominante es la inhumación, por lo que conviven ambas formas de enterra-
miento. Cabe destacar que en ocasiones estas inhumaciones han sido señaladas
por un amontonamiento de piedras o cantos rodados tras su colmatación como
se observa en el conjunto de Bencarrón y en Santa Lucía (MAIER 1996).
168 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Fig. 3. Sección de fosas de cremación bajo túmulo en las necrópolis de Cañada de Ruiz Sánchez
(arriba) y Alcantarilla (abajo) (SÁNCHEZ 1994).
Junto con ello, el dilatado periodo de uso de Setefilla permite ver variantes
posteriores como en el túmulo I (ca. VII a.n.e.) que alberga fosas de inhumación
y de cremación, así como urnas de cremación secundaria (AUBET 1982; TORRES
1999). Cercano a la paleodesembocadura del Guadalquivir, en El Carambolo (Ca-
mas, Sevilla) (entre mediados del siglo VII y mediados del VI a.n.e.) se encuentra
una sepultura con cámara en cuyo interior se depositaron tres inhumaciones y
un corredor de acceso con una cubierta tumular de 29 m de diámetro muy arra-
sada y delimitada por un anillo de lajas de pizarra superpuestas en varias hileras
(ARTEAGA Y CRUZ-AUÑÓN 2001). Esta demarcación del espacio funerario se obser-
vaba ya en fases anteriores de necrópolis como Cruz del Negro y se manifiesta
con otras variantes en la zona del valle fluvial, encontrándose el túmulo B del
Acebuchal y dos túmulos de Campo de las Canteras rodeados por una zanja o
fosa excavada en la roca (AMORES 1982).
En el siglo VI a.n.e. se continúa con lo visto en la centuria anterior como la
construcción de tumbas de corredor y cámara de mampostería que se traducen
en una mayor inversión económica, de tiempo y trabajo para el sepelio de un
menor número de individuos. Así ocurre en el túmulo H de Setefilla que cubría
un muro de cierre de planta cuadrangular, un corredor de acceso y una cámara
funeraria central de mampostería en la que se presume que se encontraría el
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
169
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Fig. 4. Ubicación de las necrópolis del golfo de Cádiz y la paleodesembocadura del Tinto y el
Odiel mencionadas en el texto (elaboración propia).
de las tumbas de carácter tumular como las del valle del Guadalquivir. La re-
cientemente excavada necrópolis de Hoya de los Rastros (VIII-VII a.n.e.) muestra
también la preeminencia de las cremaciones secundarias en urna, a excepción
de una sepultura de inhumación, ubicadas en hoyos o en tumbas de pozo con
nicho lateral excavados en la roca (GARCÍA TEYSSANDER et al. 2017). Aunque la
escasa muestra de cinco tumbas excavadas no permite realizar observaciones
más profundas.
En el siglo VII a.n.e. en La Joya convivieron cremación e inhumación, priman-
do el rito crematorio, practicado en catorce de las diecinueve tumbas excavadas
en el Sector A (TORRES 1999). Por otro lado, en la segunda mitad de dicha centuria
se erigió el túmulo de El Palmarón (BELÉN Y ESCACENA 1990) que constituye una
posible reutilización de una estructura megalítica previa. Dicha tumba cuenta
con un corredor de acceso y una cámara de mampostería de planta circular que
acogería al difunto, no conservado, el cual se sospecha que habría sido cremado
in situ. El uso de cámaras de mampostería es paralelo al documentado en el Bajo
Guadalquivir, por ejemplo, en los túmulos de Setefilla y el túmulo G del Acebu-
chal.
Durante el siglo VI a.n.e. en el sector B y la tumba 13 del Sector A de La
Joya todas las sepulturas son de individuos inhumados en posiciones forzadas
como ocurría en Acebuchal, Cruz del Negro y algunas tumbas de la Angorrilla
(GARRIDO Y ORTA 1989; FERNÁNDEZ FLORES et al. 2014). De todos modos, la hi-
pótesis de una muerte violenta para estos individuos habría de ser descartada,
ya que los análisis antropológicos no han hallado en los restos óseos pruebas
de haber sufrido agresiones previas o posteriores a la defunción (FERNÁNDEZ
FLORES et al. 2014). Sumado a la propia particularidad de recibir sepelio deno-
taría su condición especial para la comunidad y no un carácter despreciativo
en el enterramiento.
En el siglo VI a.n.e. se data también la agrupación tumular de la necrópolis de
Huelva. No obstante, la información sobre ella es escasa al no haberse accedido
a las cámaras funerarias de ninguno de los túmulos (TORRES 1999). Aun así, se
han encontrado indicios de tres cremaciones. Por último, ha de sumarse la ne-
crópolis tumular de Santa Marta o parque Moret, destacando el túmulo 1 formado
por una estructura radial de adobes que tenía por centro una cámara funeraria
excavada en el suelo que desgraciadamente no ha sido investigada (VIDAL et al.
2006) de clara afiliación oriental con paralelos por todo el Mediterráneo (TORRES
2017). En cuanto al túmulo 2, de mayores dimensiones, se ha documentado una
fosa de planta rectangular y perfil escalonado excavada en el suelo que se ha
interpretado como una cámara funeraria o un pozo de ofrendas (GARRIDO Y ORTA
2005).
172 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
elementos y tradiciones de raíz oriental, no son muy numerosas, pero sus simili-
tudes con espacios funerarios de la Andalucía Occidental son obvias y significa-
tivas. Entre ellas se encuentran el Olival do Senhor dos Mártires (GOMES 2020),
Tavira (ARRUDA et al. 2008) y posiblemente Mértola (BARROS 2010).
En primer lugar, para continuar siguiendo la línea de la costa atlántica peninsu-
lar, se encuentra la necrópolis del Convento da Graça en Tavira, a unos veinticinco
kilómetros de distancia de la necrópolis de Ayamonte. Sólo se hallaron cuatro se-
pulturas de incineración en urna de las que no fue posible realizar un análisis an-
tropológico ni radiocarbónico (ARRUDA et al. 2008) por lo que la muestra es muy
pequeña y la información escasa. A pesar de ello, la práctica de enterramiento de
cremación secundaria en una urna Cruz del Negro dentro de un hoyo excavado
en la roca o el sustrato es muy común en el ámbito tartésico, como ya se ha visto.
Así, esta necrópolis guarda grandes similitudes con el Acebuchal (MAIER 1996),
Bencarrón (MAIER 1996; SÁNCHEZ Y LADRÓN DE GUEVARA 2000) y Cruz del Negro
(AMORES Y FERNÁNDEZ 2000). Por otro lado, en Tavira se halló también, lo que
ha sido interpretado como un posible espacio funerario constituido por diversos
pozos de entre dos y cinco metros de profundidad que dan a nichos o cámaras,
cuya datación se remonta a la primera mitad del siglo VII a.n.e. (ARRUDA et al.
2008). Estas estructuras y los materiales hallados en dichos pozos corresponden
a ajuares de componentes exógenos similares a aquellos encontrados en el litoral
andaluz (ARRUDA et al. 2008) como la cercana Ayamonte. Además, de este con-
junto se ha de destacar su ubicación dentro del entramado de lo que era el pro-
pio asentamiento sobre una colina con vistas a la desembocadura del río Gilão, lo
cual resulta algo excepcional ya que la pauta general de las necrópolis fenicias y
tartésica es la separación del mundo de los vivos del de los muertos mediante un
hito geográfico o un curso fluvial (TORRES 1999; ARRUDA et al. 2008).
Por su parte, la necrópolis del Olival do Senhor dos Mártires, situada en la
desembocadura del Sado y vinculada con el poblado de Alcácer do Sal, consti-
tuye un yacimiento excepcional en el territorio portugués al ser, hasta la primera
década del siglo XXI, la única muestra indiscutible de las prácticas funerarias de
gentes de origen oriental. Aunque las excavaciones y estudios sobre esta necró-
polis fueron publicados desde principios del siglo pasado de manera fragmen-
taria, recientemente ha sido objeto de una revisión de su interpretación y mate-
riales (GOMES 2019; GOMES 2020) que ha facilitado la comprensión del sitio y los
procesos allí acaecidos. Así, la nueva cronología propuesta para esta necrópolis
con diferentes fases de uso, pues se dilata hasta finales de la Segunda Edad del
Hierro, ubica su creación de la mano de individuos semitas hacia mediados del
VII a.n.e. Partiendo de la base de la tipología elaborada por el primer excavador
del Olival do Senhor dos Mártires se observan cuatro tipos de tumbas (CORREIA
1928) (Fig. 6) dentro del conjunto de esta necrópolis en la que se halla exclusi-
vamente el rito crematorio: por un lado, los enterramientos en urna con el tipo 1
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
175
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
En el periodo entre mediados del VII a.n.e. y mediados del VI a.n.e. en esta
necrópolis sin precedentes en la zona predominaron los enterramientos tipo 2 y
4 (GOMES 2020). No obstante, la presencia de las de urna de tipo Cruz del Negro
resulta totalmente episódica en Olival do Senhor dos Mártires, como sucede en
la coetánea Angorrilla (Sevilla), mientras que las tumbas de cremación excavadas
en la roca se cuentan por decenas en esta cronología (GOMES 2020). Las caracte-
rísticas de las tipo 4 tienen paralelos directos en las ya mencionadas Bencarrón,
Cruz del Negro, el Judío y en la necrópolis arcaica de Cádiz. Además, las cre-
maciones in situ tipo 3, es decir, en fosa simple, estarían presentes ya desde el
último cuarto del VII a.n.e., aunque se convertirán en el único rito utilizado desde
mediados del siglo VI a.n.e. hasta mediados del V a.n.e., desvaneciéndose a su
176 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
vez las tipo 2 y 4 (GOMES 2020). Es más, ya en este periodo más tardío parecen
desaparecer elementos de ostentación como parte del ajuar, lo que da lugar a
un panorama más homogéneo dentro del conjunto de los difuntos en el espacio
funerario (GOMES 2020).
Por último, se encontraría la necrópolis de Mértola, situada sobre un cerro
que la separaría del asentamiento protohistórico, el cual estaría ocupado des-
de Bronce Final hasta el siglo III a.n.e. (BARROS 2010). Los materiales cerámicos
hallados como contenedores de engobe rojo y tipo Cruz del Negro han permitido
su datación entre finales del siglo VII a.n.e. y la primera mitad del VI a.n.e. (Bar-
ros, 2010). Se sabe que se trataría de sepulturas de incineración, aunque no se
cuenta con información adicional debido a los parcos informes acerca de su ex-
cavación a finales del XIX. A pesar de la falta de una mejor contextualización de
los hallazgos en Mértola, resulta razonable su inclusión dentro de los procesos
que estaban acaeciendo en el litoral atlántico en Olival do Senhor dos Mártires y
Tavira. La ubicación de este asentamiento y su necrópolis en la margen derecha
del Guadiana en una zona ya más interior entre el Algarve y el Alentejo portugués
denotaría esa penetración del comercio mediterráneo y el influjo de gentes de
origen fenicio a través de los cursos fluviales.
Por otro lado, en ese mismo escenario del Poniente peninsular del Hierro I,
al alejarse del litoral e internarse en las tierras del Algarve, donde la influencia
oriental no se sentiría con tanta fuerza, se documentan de forma prolija las ne-
crópolis de cistas de clara filiación regional, con enterramientos exclusivamente
de inhumación como en Fonte Velha de Bensafrim (Lagos) (ARRUDA 1999-2000,
p. 57), Cômoros da Portela (Silves), Père Jacques (Aljezur) e Alagoas (Loulé) (AR-
RUDA 1999 -2000, pp. 57-58), así como Cabeço da Vaca (Alcoutim) (Cardoso y
Gradim, 2006) (Fig. 7) más al interior y en la zona ya alentejana la famosa necró-
polis de Gaio (Sines) (ARRUDA 1999-2000, p. 96-97) y el particular caso de Corte
Margarida (Aljustrel) (FIGUEIREDO Y MATALOTO 2017), ubicada dentro de la concen-
tración de espacios funerarios de la región de Beja. Para este último sitio algunos
autores han aportado una nueva interpretación que vincula Corte Margarida con
las dinámicas del núcleo de Beja explicando sus variaciones en base a una cues-
tión geológica (MONGE et al. 2017, p. 293). Así, este espacio funerario, aunque
aparentemente se trataría de una necrópolis de cistas construidas con esquistos
y excavadas en el sustrato rocoso, su condición se debería a la dificultad en la
zona de Corte Margarida, por ser rica en esquistos, de abrir los característicos re-
cintos en negativo de Beja (MONGE et al. 2017: 293). El modelo de este yacimien-
to sería, por tanto, una solución adaptativa, a pesar de que la práctica del sepelio
sería la misma: fosas de inhumación (aunque en Corte Margarida no se habrían
encontrado restos óseos por la acidez del suelo) excavadas en la roca, revestidas
y cubiertas por losas de esquisto como en el resto de necrópolis de Beja, pero sin
recintos delimitadores del espacio (MONGE et al. 2017).
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
177
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Fig. 7. Tumba en cista de la necrópolis de Cabeço da Vaca (Alcoutim) (CARDOSO Y GRADIM 2006)
del mundo funerario en territorio luso se ha visto impulsado de una forma sin
precedentes.
Todos los datos extraídos gracias a este plan de regadío han resultado en la
muestra de un mundo rural intensamente ocupado, el cual sería escenario de ese
lento proceso de interacción que tendría lugar en los parajes del interior entre
la cuenca del Guadiana y los afluentes del Sado (MONGE et al. 2017). Por tanto,
se trataría de una espacialidad muy concreta enmarcada entre dos grandes ríos,
los cuales representaban arterias principales de comunicación con el litoral y las
influencias que de él manaban. Este proceso, engendrado en las zonas de con-
tacto del Suroeste peninsular, se desarrollaría entre los siglos VII y VI a.n.e. de
forma más lenta en el interior que en las zonas costeras (MONGE et al. 2017). Esto
mismo se observa en las prácticas funerarias, en las que se perciben nuevas in-
fluencias de origen mediterráneo. Sin embargo, parte de las costumbres locales
de esos contextos de fragmentación rural se mantendrían en la estructura mental
de las comunidades.
En primer lugar, cabe destacar en esta zona del Baixo Alentejo la escasez de
necrópolis datadas en el Bronce Final, aunque en los últimos años sí se han iden-
tificado inhumaciones en fosa asociadas a ocupaciones de dicha época (FIGUEI-
REDO Y MATALOTO 2017). Ello demuestra claramente el uso predominante del rito
de inhumación durante finales de la Edad del Bronce, aunque conviviría con la
cremación, ya documentada en la desembocadura del Tajo en momentos previos
a la presencia fenicia (VILAÇA 2017). No obstante, esta fase previa a la llegada de
influjos mediterráneos continúa hoy siendo poco conocida; mientras que la eta-
pa siguiente parece esclarecerse de manera paulatina (FIGUEIREDO Y MATALOTO
2017). No obstante, se ha de destacar que para la mayoría de las necrópolis pre-
sentadas en este apartado se desconocen los asentamientos a los que se encon-
trarían vinculadas, a diferencia de lo que ocurre en la vecina región de Ourique.
Lejos de la homogeneización propuesta para las zonas de costa, en estos
territorios del interior meridional desde el siglo VI a.n.e. convivirían regionalis-
mos y prácticas oriundas con nuevas incorporaciones de influencia oriental que
llegarían por las vías de comunicación fluviales, difiriendo en gran medida de
las dinámicas que se estarían desarrollando en el litoral (FIGUEIREDO Y MATALOTO
2017). Así, durante la Primera Edad del Hierro por toda la región de Beja en la que
se concentrarían las necrópolis a tratar a continuación se observa una preferen-
cia por el rito inhumatorio, deposición en decúbito lateral, en fosas rectangulares
de extremos redondeados y excavadas en el sustrato geológico, en muchas oca-
siones con sus paredes revestidas o cubiertas con losas de esquisto (FIGUEIREDO
Y MATALOTO 2017). Estas fosas se dispondrían a su vez dentro o en torno a zanjas
que conformarían recintos excavados también en el sustrato geológico, de plan-
ta poligonal excavados en la roca, que pueden aparecer cerrados, en forma de L
o en forma de U.
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
179
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Fig. 8. Ubicación de las necrópolis que forman el conjunto de Beja en el Baixo Alentejo portugués
enmarcadas entre el cauce del río Guadiana y del Sado (elaboración propia)
dentro de esta pauta que parece marcar el patrón regional de las necrópolis de
Beja se dibujan ciertas variantes que oscilan de un yacimiento a otro. En primer
lugar, el número de tumbas, que fluctúa desde conjuntos funerarios de menos
de una decena de enterramientos como en Poço Novo 1 (FIGUEIREDO Y MATALOTO
2017), Fareleira 2 y 3 (FIGUEIREDO Y MATALOTO 2017), Poço da Gotinha (FIGUEIRE-
DO Y MATALOTO 2017), Palhais (SANTOS et al. 2017), Carlota (SANTOS et al. 2017) y
Quinta do Estácio 6 (PEREIRO et al. 2017) (Fig. 9), hasta necrópolis con entre diez y
cerca de cincuenta tumbas como Vinha das Caliças (ARRUDA et al. 2017) y Monte
do Bolor 1-2 (MONGE et al. 2017). Sin embargo, la significación de dichas canti-
dades, así como del oscilante tamaño de las ya enumeradas necrópolis, resulta
difícil de discernir ante la excavación parcial de muchas de ellas. Además, no se
ha observado ninguna relación directa entre número de individuos enterrados y
tiempo de uso, pues todas ellas parecen dibujarse como necrópolis de pequeños
grupos de base familiar, albergando cerca de unas tres generaciones (ARRUDA et
al. 2017) dentro de un periodo de funcionamiento del espacio funerario que en
todas se desarrolla entre finales del VII a.n.e. y durante el VI a.n.e.
Fig. 9. Planta de las necrópolis de Poço da Gotinha (Ferreira do Alentejo) (izquierda) y Quinta
do Estácio 6 (Beja) (derecha) en la que se observan las estructuras negativas de los recintos y
las tumbas posteriores que las cortan o se ubican dentro de ellas (FIGUEIREDO Y MATALOTO 2017;
PEREIRO et al. 2017)
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
181
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Fig. 11. Planta de la necrópolis de Nora Velha 2 donde se observa el encachado de planta circular
albergando dos tumbas y otros encachados rectangulares (MONGE Y MARTINS 2013).
Fig. 12. Planta de las “necrópolis con témenos”: Fonte Santa (izquierda) y Chada (derecha)
(BEIRÃO 1986)
186 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
dentro de los espacios funerarios. Por último, los materiales hallados a modo de
ajuar denotan esos contactos e influencias orientales en mayor o menor grado
según el territorio.
Aunque estas cuestiones indican la adaptación a los modos procedentes del
Mediterráneo Oriental, mostrando rasgos unificadores en la estructura mental de
las comunidades del Suroeste, no es este trabajo lugar para desarrollarlas. Pero
han de ser tenidas en cuenta al confrontar las diversas soluciones territoriales, a
partir de esas innovaciones, en el ámbito de la representación en la muerte. Esto
llevó a la monumentalización de los enterramientos a modo de ostentación o de
muestra de poder, lo cual implicaba una gran inversión de tiempo y trabajo hu-
mano. Así como la excepcionalidad del sepelio, en el sentido de que sólo una pe-
queña parte de la población sería enterrada, dado que el número de individuos
hallados es muy inferior al que correspondería con las tasas de mortalidad de las
sociedades preindustriales. Todo ello queda demostrado a partir de la muestra
del registro arqueológico que permite vislumbrar espacios fragmentados, pero
que de forma coetánea experimentaron cambios hacia una mayor complejidad
tanto en sus modos de vida como en sus estructuras mentales. En otras palabras,
dentro de un panorama de adaptaciones y respuestas diversas que se reflejan
en las estructuras de las necrópolis, al mismo tiempo en ese espacio funerario se
vislumbra un nexo de unión entre todas las comunidades de la zona de contacto
del Suroeste.
De este modo, se parte de una base de rasgos comunes que cumplen en
su gran mayoría todas las necrópolis aquí tratadas. Desde tales cimientos cada
comunidad construyó sus modelos de representación y experimentó una evo-
lución única. Por tanto, la diversidad regional en las prácticas funerarias sería
el reflejo de esa fragmentación sociocultural, muy marcada entre los poblado-
res del Suroeste peninsular que vivieron esa transición del Bronce Final a la
Primera Edad del Hierro (GOMES 2019). Cada territorio contó con unas circuns-
tancias distintas y, por tanto, con una reacción diversa, a la llegada de esos
comerciantes y colonos de origen oriental. Por ello, resultaría interesante en
futuros trabajos seguir analizando estos contextos desde la óptica de la zona
de contacto que elude conceptos como “etnia” o “cultura”, los cuales cons-
triñen las realidades que se generan al chocar e interrelacionarse un sustrato
autóctono y otro exógeno.
Así, el conocimiento acerca del mundo funerario en la Primera Edad del Hier-
ro y su complejidad aún dista mucho de ser completo, pero sigue profundizándo-
se de manera paulatina y permite, a partir de las dinámicas locales detectadas,
vislumbrar el funcionamiento de regiones enteras que se encuentran interrela-
cionadas entre sí. Esto ha de ayudarnos a derrumbar conceptos como las “fron-
teras” que a veces opacan o limitan, sin darnos cuenta, nuestra percepción de
las realidades complejas del pasado.
188 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
REFERENCIAS
AMORES CARREDANO, Fernando Y FERNÁNDEZ SANTOS, Antonio (2000). La necrópolis
de la Cruz del Negro. En BAZÁN, Pedro (coord). Argantonio: Rey de Tartessos.
Sevilla: Fundación El Monte, pp. 156-163.
ARRUDA, Ana Margarida (1999-2000). Los fenicios en Portugal. Fenicios e indígenas
en el centro y sur de Portugal (siglos VIII-VI a. C.). Cuadernos de Arqueología
Mediterránea, 5-6. Barcelona: Universidad Pompeu Fabra de Barcelona.
ARRUDA, Ana Margarida (2011). Indígenas, fenicios y tartésicos en el occidente pe-
ninsular: mucha gente, poca tierra. En ÁLVAREZ MARTÍ-AGUILAR, Manuel (coord.):
Fenicios en Tartesos: nuevas perspectivas. Oxford: Archaeopress, pp. 151-160.
ARRUDA, Ana Margarida; COVANEIRO, Jaquelina; CAVACO, Jaquelina (2008). A necró-
pole da Idade do Ferro do Convento da Graça, Tavira. XELB: revista de arqueo-
logia, arte, etnologia e história, 8 (1). Silves: Museu Municipal de Arqueologia de
Silves, pp. 117-136.
ARTEAGA MATUTE, oswaldo y CRUZ-AUÑÓN BRIONES, Rosario (2001). Las nuevas sepul-
turas prehistóricas (tholoi) y los enterramientos bajo túmulos (tartesios) de Cas-
tilleja de Guzmán. Sevilla. Excavación de urgencia de 1996. Anuario arqueológico
de Andalucía 1996. Sevilla: Junta de Andalucía, pp. 640-651.
AUBET SEMMLER, María Eugenia (1982). Los enterramientos bajo Túmulo de Setefilla
(Sevilla). Huelva Arqueológica, 6. Huelva: Diputación de Huelva, pp. 49-70.
AUBET SEMMLER, María Eugenia (1984). La aristocracia tartésica durante el periodo
orientalizante. Opvs, 3, pp. 445-468.
BARROS, Pedro (2010). Mértola entre os séculos VI e III a.C. Mainake, 23 (1). Málaga:
Centro de Ediciones de la Diputación de Málaga, pp. 417-436.
BEIRÃO, Caetano de Mello (1986). Une civilisation protohistorique du sud du Portugal
(1.er Âge du Fer). Paris: De Boccard.
BEIRAO, Caetano de Mello y CORREIA, Virgílio Hipólito (1993). Novos dados arqueo-
lógicos sobre a área de Fernao Vaz. En MANGAS MANJARRÉS, Julio; ALVAR, Jaime
(eds.). Homenaje a José María Blázquez (1). Madrid: Ediciones Clásicas, pp. 285-
302.
BELÉN DEAMOS, María y ESCACENA CARRASCO, José Luis (1990). Niebla (Huelva). Exca-
vaciones junto a la puerta de Sevilla (1978-1982), la cata 8. Huelva Arqueológica,
12. Huelva: Diputación de Huelva, pp. 167-306.
BELÉN DEAMOS, María y ESCACENA CARRASCO, José Luis (1995). Acerca del horizonte
de la Ría de Huelva. Consideraciones sobre el final de la Edad del Bronce en el
Suroeste Ibérico. En RUIZ-GÁLVEZ, María Luisa (coord.). Ritos de paso y puntos de
paso: la Ría de Huelva en el mundo del Bronce Final europeo. Madrid: Universi-
dad Complutense, pp. 85-114.
BRANDHERM, Dirk y KRUEGER, Michal (2017). Primeras determinaciones radiocarbóni-
cas de la necrópolis de Setefilla (Lora del Río) y el inicio del periodo orientalizante
en Andalucía occidental. Trabajos de Prehistoria, 74 (2). Madrid: Editorial CSIC,
pp. 296-318. (doi: 10.3989/tp.2017.12196)
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
189
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido
GARRIDO ROIZ, Juan Pedro y ORTA GARCÍA, Elena María (2005). Nuevas investigaciones
en la necrópolis orientalizante de Huelva. En GONZÁLEZ PRATS, Alfredo (coord.).
El mundo funerario: actas del III Seminario Internacional sobre Temas Fenicios,
Guadamar del Segura, 3 a 5 de mayo de 2002: homenaje al profesor D. Manuel
Pellicer Catalán. Alicante: Diputación Provincial de Alicante e Instituto Alicantino
de Cultura Juan Gil-Albert, pp. 409-424
GOMES, Francisco B. (2014-2015). O mundo funerário da I Idade do Ferro no Sul do
actual território português: notas para uma síntese. Arqueologia e História, 66-
67. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp. 47-62.
GOMES, Francisco B. (2019). Beyond the indigenous/Phoenician binomial: spheres of
interaction and scales of integration in the Early Iron Age of southern Portugal
(8th-5th centuries BCE). Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 33. São
Paulo: Universidade de São Paulo, pp. 15-27
GOMES, Francisco B. (2020). New perspectives on the Early Iron Age necropolis of
Olival do Senhor dos Mártires (Alcácer do Sal, Portugal). En CELESTINO PÉREZ,
Sebastián y RODRÍGUEZ GONZÁLEZ, Esther (eds.). Un viaje entre el Oriente y el
Occidente del Mediterráneo. Actas del IX Congreso Internacional de Estudios
Fenicios y Púnicos. Mérida: CSIC-Junta de Extremadura, pp. 1111-1122.
GONZÁLEZ-ZAMBRANO, Pablo (2021). Decolonizando Tarteso en el estudio de la Pro-
tohistoria mediterránea. Anduli, 20. Sevilla: Universidad de Sevilla, pp. 159-171.
(doi: http://10.12795/anduli.2021.i20.09)
MAIER ALLENDE, Jorge (1996). La necrópolis tartésica de Bencarrón (Mairena del Al-
cor/Alcalá de Guadaira, Sevilla) y algunas reflexiones sobre las necrópolis tarté-
sicas de Los Alcores. Zephyrus, 49. Salamanca: Universidad de Salamanca, pp.
147-168.
MATALOTO, Rui (2013). Os Senhores da Terra: necrópoles e comunidades rurais do
território alto alentejano nos séculos VI -V a.C. Arqueologia e História, 60-61.
Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p.77 -100.
MONGE SOARES, Rui Y MARTINS, Artur (2013). A necrópole da Nora Velha 2 (Ourique).
Novos dados e interpretações 20 anos após a sua escavação. En ARNAUD, José
Morais; MARTINS, Andrea; NEVES, César (eds.). Arqueologia em Portugal 150 anos.
Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp. 661-669.
MONGE SOARES, Rui; BAPTISTA, Lídia; PINHEIRO, Rui; OLIVEIRA, Zélia; VALE, Nelson
(2017). A necrópole da I Idade do Ferro do Monte do Bolor 1-2 (S. Brissos, Beja).
En JIMÉNEZ ÁVILA, Javier (coord.). Sidereum Ana III. El río Guadiana y Tartessos.
Mérida: Consorcio Ciudad Monumental Histórico-Artística y Arqueológica de Mé-
rida, pp. 264-301.
PELLICER CATALÁN, Manuel (2000). El proceso Orientalizante en el Occidente ibérico.
Huelva Arqueológica, 16. Huelva: Diputación de Huelva, pp. 89-134.
PELLICER CATALÁN, Manuel y ESCACENA CARRASCO, José Luis (2007). Rabadanes: una
nueva necrópolis de época tartésica en el bajo Guadalquivir. Lucentum, 26. Ali-
cante: Universidad de Alicante, pp. 7-22.
PERDIGONES MORENO, Lorenzo (1991). La necrópolis fenicio-púnica de Cádiz. Treballs
del Museu Arqueologic d'Eivissa e Formentera = Trabajos del Museo Arqueologico
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
191
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Palabras Clave: Primera Edad del Hierro, espacio funerario, Suroeste peninsular, influencia
oriental, zona de contacto.
MORIR EN PONIENTE. EL CONOCIMIENTO ACTUAL ACERCA DEL PAISAJE FUNERARIO DE LA PRIMERA EDAD DEL HIERRO EN EL
193
SUROESTE PENINSULAR _ Guiomar Pulido González
Abstract:
The funerary space was one of the areas in which was reflected the interaction between the lo-
cal communities and the Eastern people who settled in the Southwest of the Iberian Peninsula.
As a result of this contact, which led to the beginning of the Early Iron Age, different responses
were generated in the structuring of the necropolis according to the unique circumstances of
each region. In order to provide an overview of this process, showing the territorial specifici-
ties generated in this period, it is of interest to present the variants of the funerary landscape
currently known in each area of the Southwest. To this end, this summary is based on the
anthropological concept of the "contact zone", which replaces the meaning of the "frontier" as
a limit with that of a territory of interaction, confrontation and mixture.
Key words: Early Iron Age, funerary space, Southwest of the Iberian Peninsula, eastern influen-
ce, contact zone.
inovação
e Territorio
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA
AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS
DE TALENTO E INOVAÇÃO
*
MADALENA FONSECA
ENQUADRAMENTO
Qual o potencial de inovação e dinamização socioeconómica dos fluxos de
estudantes que anualmente concorrem, obtêm uma vaga e se matriculam nas
instituições de ensino superior público das regiões periféricas em Portugal,
oriundos de outras regiões? Como podem as regiões periféricas enquadrá-los
nas suas políticas de desenvolvimento local?
A maior parte dos jovens residentes nos distritos da periferia do país, quando
completam o ensino secundário e pretendem ingressar no ensino superior, têm
tendência a querer “fugir” das suas regiões e candidatam-se às grandes e mais
prestigiadas universidades de Lisboa e Porto. Se, nalguns casos isso se deve à
não existência dos cursos da sua preferência nas regiões de origem, na maior
parte dos casos, o primeiro objetivo, e por diversas razões, é o de ir para as gran-
des cidades. Aqueles que têm classificações elevadas e meios financeiros para o
fazer, normalmente, conseguem-no.
Paralelamente, porém, regista-se um contra fluxo de estudantes oriundos de
todo o país, incluindo das grandes áreas metropolitanas, para as universidades
e outras instituições do interior do país, regra geral, por não terem classificações
suficientemente elevadas para obter uma vaga nas suas regiões de origem.
Estes fluxos de estudantes podem constituir, pelas suas características, um
importante fator de inovação e dinamização socioeconómica das regiões peri-
féricas que não pode ser ignorado pelas políticas de desenvolvimento regional,
mas acarinhado e fixado com estratégias eficientes de enquadramento no con-
texto institucional.
São fluxos de jovens com qualificações, potencial talento, abertura, tolerân-
cia e podem reforçar o capital humano e social das regiões periféricas.
*
Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto & CEGOT – Centro de Estu-
dos de Geografia e Ordenamento do Território. Email: madalena@letras.up.pt.
200 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
METODOLOGIA
O argumento deste estudo é, como já foi referido, o de que os fluxos de jo-
vens que anualmente se dirigem das várias regiões do país, incluindo das duas
grandes cidades de Lisboa e Porto, para as pequenas cidades das regiões mais
periféricas, são um importante fluxo de talento, capaz de se converter num motor
de inovação e crescimento económico, nas regiões periféricas. Para procurar
testar este argumento, vamos considerar o concurso nacional de acesso e ca-
racterizar os estudantes que se deslocam de fora, para as regiões periféricas
procurando compreender as razões que os terão levado a migrar e que poderão
ser utilizadas para os fixar e prender localmente.
A metodologia do estudo consistiu, fundamentalmente, no tratamento da
base de dados do concurso nacional de acesso ao ensino superior e no cálculo
de indicadores de caracterização dos estudantes, no sentido de avaliar o seu
potencial de inovação, para responder às questões, quantos são, como são, de
onde veem, para onde vão, que cursos procuram e em que cursos se matricu-
lam?
A entrada no sistema, isto é, o acesso ao primeiro ano de um primeiro ciclo
de estudos oferece o momento mais adequado à atração de estudantes, pelas
instituições mais pequenas e localizadas fora dos grandes centros, uma vez que
nem todas têm um potencial de atração idêntico, para os mestrados ou doutora-
mentos, níveis para os quais não existe qualquer regulação central.
Confrontando as características destes estudantes que se deslocam para o
interior, com as dos que “fogem” das áreas periféricas e os locais que nelas se
mantêm, é possível traçar um perfil deste estudante aparentemente atípico.
Considerou-se o concurso nacional de acesso para o ano de 2017/18 por se
tratar da base de dados consolidada mais recente, antes de terem sido introdu-
zidas alterações no estabelecimento de vagas nalguns cursos e nalgumas insti-
tuições, cujo impacto ainda não foi avaliado e se pode confundir com o impacto
da pandemia da Covid 19.
Consideraram-se quatro universidades públicas das regiões periféricas do
Continente para as quais se verifica a seguinte situação, para além da sua con-
dição de localização em cidades médias do interior: em todas elas o número de
vagas é muito superior ao número de candidatos mas, no final das três fases do
concurso, atingem taxas de ocupação de 100% ou próximo. As quatro univer-
sidades estão localizadas em distritos onde se verifica que a maior parte dos
candidatos ao ensino superior concorrem a instituições fora do distrito – são os
que “fogem” – com valores oscilando entre o máximo 62,49% para Vila Real e o
mínimo de 51,73% para Castelo Branco. Em três delas a percentagem de candi-
datos e estudantes matriculados, originários de outros distritos que não o da sua
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS DE TALENTO E INOVAÇÃO
207
Madalena Fonseca
Açores, que não recebem candidatos de todo o país. Os fluxos para Lisboa e Por-
to são os de maior magnitude, ainda que Coimbra tenha alguma relevância para
os jovens de Vila Real e Faro. Os estudantes do distrito de Castelo Branco privi-
legiam de forma mas concentrada, Lisboa, como destino (Figura 2); os de Évora
concorrem também de forma mais significativa a Lisboa e Setúbal (sobretudo
devido às instituições da Área Metropolitana de Lisboa, no concelho de Almada)
(Figura 3); os candidatos de Vila Real e Faro apresentam um padrão um pouco
distinto, dispersando as suas candidaturas pela totalidade do país (Figuras 1 e 4)
ainda que com fluxos de maior magnitude para Porto, Lisboa e Coimbra, dos dois
distritos e também Setúbal e Évora a partir de Faro.
O padrão das potenciais saídas (os mapas a vermelho) revelam que há um
compromisso entre a procura de uma instituição de maior prestígio, o reconhe-
cimento do potencial das grandes cidades numa perspetiva de carreira e a pro-
ximidade ao distrito de origem, embora esta última não seja determinante, com
base nos dados.
Quanto às entradas, a que correspondem os mapas com fluxos a azul, o pa-
drão é completamente distinto. As quatro instituições recrutam os seus estudan-
tes pelo país todo, à exceção da UTAD que não apresentou estudantes matricula-
dos, nesse ano, provenientes dos distritos de Beja, Évora e Portalegre. As quatro
universidades recebem fluxos maiores das áreas metropolitanas e da faixa litoral
mais populosa. É também aí que a concorrência é maior, há mais população,
menos envelhecida e, consequentemente maior procura de ensino superior. É
possível identificar alguma relevância na proximidade, mas, o padrão é muito
semelhante nas quatro universidades.
Estas universidades da periferia do país, recrutam os seus estudantes por todo
o país e criam, assim, no seu interior um corpo estudantil diversificado e multicul-
tural, dentro dos limites da diversidade cultural do nosso país, naturalmente.
Um corpo estudantil móvel, que se desloca e está disponível para se mover.
Para além das classificações médias dos estudantes que, globalmente, re-
velam que os estudantes que concorrem para fora têm médias mais elevadas e
os que ficam têm médias mais baixas, nem sempre é claro que os que entram
de fora do distrito tenham classificações intermédias (Quadro 4). Só a análise
curso a curso permite tirar conclusões robustas. No caso de Vila Real e da UTAD,
o estudo anterior, permitiu concluir que de facto assim é, os estudantes de fora
têm médias mais elevadas do que os locais que ficaram, mas mais baixas do que
os que saíram.
Em termos de oferta, as áreas científicas que oferecem mais vagas em todo o
sistema de ensino superior em Portugal, são, por ordem decrescente, Engenharia
Informática, de computadores e afins, Gestão, Enfermagem, Medicina, Engenharia
Mecânica, Direito, Economia, Educação Básica, Biologia e Ciências Farmacêuticas
(Quadro 5). Do lado da procura, porém, as áreas mais procuradas são, por ordem
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS DE TALENTO E INOVAÇÃO
211
Madalena Fonseca
Figura 1. Acesso ao ensino superior 2017/2018 – estudantes candidatos do Distrito de Vila Real
e estudantes matriculados na UTAD
Mapa A Mapa B
Mapa A Mapa B
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS DE TALENTO E INOVAÇÃO
215
Madalena Fonseca
Mapa A Mapa B
Mapa A Mapa B
216 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Quadro 3. Acesso ao ensino superior público em Portugal 2017/2018 – distritos de origem e destino
218 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Quadro 5. Cursos com maior oferta e cursos mais procurados no acesso ao Ensino Superior
Público em Portugal 2017/2018
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS DE TALENTO E INOVAÇÃO
219
Madalena Fonseca
REFERÊNCIAS
ADNETT, N. (2010). The growth of international students and economic development:
Friends or foes? Journal of Education Policy, 25(5), 625-637.
BAAS, M. (2019). The Education-Migration Industry: International Students, Migration
Policy and the Question of Skills. International Migration, 57(3), 222-234.
BATHELT, H., COE, N. M., KERR, W. R., & ROBERT-NICOUD, F. (2017). Editorial: Economic
geography IMPULSES. Journal of Economic Geography, 17(5), 927-933.
BATHELT, H., & GLÜCKLER, J. (2014). Institutional change in economic geography.
Progress in Human Geography, 38(3), 340-363.
BEECH, S. E. (2018). Adapting to change in the higher education system: international
student mobility as a migration industry. Journal of Ethnic and Migration Studies,
44(4), 610-625.
BLIT, J., SKUTERUD, M., & ZHANG, J. (2019). Can skilled immigration raise innovation?
Evidence from Canadian Cities. Journal of Economic Geography, 0, 1-23.
CIRIACI, D. (2014). Does University Quality Influence the Interregional Mobility of Stu-
dents and Graduates? The Case of Italy. Regional Studies, 48(10), 1592-1608.
CONIGLIO, N. D., & PROTA, F. (2008). Human capital accumulation and migration in a
peripheral EU region: The case of Basilicata. Papers in Regional Science, 87(1),
77-95.
CORCORAN, J., & FAGGIAN, A. (2017). Graduate migration and regional development:
An international perspective. In Graduate Migration and Regional Development:
An International Perspective (pp. 1-10). Edward Elgar Publishing Limited.
CRESCENZI, R., FRATESI, U., & MONASTIRIOTIS, V. (2020). Back to the member states?
Cohesion Policy and the national challenges to the European Union. Regional
Studies, 54(1), 5-9. h
DIJKSTRA, L., POELMAN, H., & RODRÍGUEZ-POSE, A. (2019). The geography of EU discon-
tent. Regional Studies.
DOTTI, N. F., FRATESI, U., & LENZI, C. (2013). Local Labour Markets and the Interregional
Mobility of Italian University Students, Spatial Economic Analysis, 8:4, 443-468,
EDER, J. (2019). Innovation in the Periphery: A Critical Survey and Research Agenda.
International Regional Science Review, 42(2), 119-146.
EUROPEAN COMMISSION. (2017). Competitiveness in low-income and low-growth re-
gions. The lagging regions report. 56.
FAGGIAN, A., & MCCANN, P. (2006). Human capital flows and regional knowledge asse-
ts: A simultaneous equation approach. Oxford Economic Papers, 58(3), 475-500.
FAROLE, T., RODRÍGUEZ-POSE, A., & STORPER, M. (2011). Human geography and the ins-
titutions that underlie economic growth. Progress in Human Geography, 35(1),
FEARON, C., NACHMIAS, S., MCLAUGHLIN, H., & JACKSON, S. (2018). Personal values,
social capital, and higher education student career decidedness: a new ‘protean’-
informed model. Studies in Higher Education, 43(2), 269-291.
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS DE TALENTO E INOVAÇÃO
221
Madalena Fonseca
FELLINI, I., GUETTO, R., & REYNERI, E. (2018). Poor Returns to Origin-Country Education
for Non-Western Immigrants in Italy: An Analysis of Occupational Status on Arrival
and Mobility. 6(3), 34-47. h
FINDLAY, A. M., MCCOLLUM, D., & PACKWOOD, H. (2017). Marketization, marketing and
the production of international student migration. International Migration, 55(3),
139-155.
FLORIDA, R. (2002). The economic geography of talent. Annals of the Association of
American Geographers, 92(4), 743-755.
FLORIDA, R. (2014). The Creative Class and Economic Development. Economic Deve-
lopment Quarterly, 28(3), 196-205.
FLORIDA, R., ADLER, P., & MELLANDER, C. (2016). The city as innovation machine. Ht-
tps://Doi.Org/10.1080/00343404.2016.1255324, 51(1), 86-96. https://doi.org/10.10
80/00343404.2016.1255324
FLORIDA, R., ADLER, P., & MELLANDER, C. (2017). The city as innovation machine. Regio-
nal Studies, 51(1), 86-96.
FLORIDA, R., MELLANDER, C., & STOLARICK, K. (2008). Inside the black box of regional
development - Human capital, the creative class and tolerance. Journal of Econo-
mic Geography, 8(5), 615-649.
FONSECA, M. (2012). The student estate. In Higher education in Portugal 1974-2009:
A nation, a generation (Vol. 9789400721).
FONSECA, M. (2017). Southern Europe at a glance: Regional disparities and human
capital. In Advances in Spatial Science (Issue 9783319498171, pp. 19-54). Springer
International Publishing.
FONSECA, M., DIAS, D., SÁ, C., & AMARAL, A. (2014). Waves of (dis)satisfaction: Effects
of the numerus clausus system in Portugal. European Journal of Education, 49(1).
FONSECA, M., & ENCARNAÇÃO, S. (2012). O Sistema de Ensino Superior em Portugal em
Mapas e Números. A3ES Readings n. 4, 142.
FONSECA, M., ENCARNAÇÃO, S., & JUSTINO, E. (2014). Shrinking higher education sys-
tems: Portugal, figures, and policies. In Higher Education in Societies: A Multi
Scale Perspective.
FONSECA, M., & FRATESI, U. (2017). Regional Upgrading in Southern Europe: Spatial
Disparities and Human Capital. http://libproxy.wustl.edu/login?url=http://sear-
ch.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=eoh&AN=1694628&site=ehos-
t-live&scope=site
FONSECA, M., JUSTINO, E., & AMARAL, A. (2018). Students’ migration in a Portuguese
hinterland public university. Studies in Higher Education.
FRANKLIN, R. S., & FAGGIAN, A. (2017). College Student Migration in New England: Who
Comes, Who Goes, and Why We Might Care i. January 2014, 45-61.
FRATESI, U. (2014). Editorial: The Mobility of High-Skilled Workers – Causes and Con-
sequences. Regional Studies, 48(10), 1587-1591.
FRATESI, U., & PERCOCO, M. (2014). Selective Migration, Regional Growth and Conver-
gence: Evidence from Italy. Regional Studies, 48(10), 1650-1668.
222 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
FRATESI, U., & RIGGI, M. R. (2007). Does migration reduce regional disparities? The
role of skill-selective flows. Review of Urban and Regional Development Studies,
19(1), 78-102.
FRATESI, U., & RODRIGUEZ-POSE, A. (2016). The Crisis and Regional Employment in
Europe. Working Paper, 33-57.
GIACALONE, M., RAFFAELE, D. M., & PANARELLO. (2019). Education and Migration: the
Mobility Dynamics of Italian Graduates. Statistica Applicata – Italian Journal of
Applied Statistics, 31(1), 143-156.
GLÜCKLER, J. (2014). How controversial innovation succeeds in the periphery? A ne-
twork perspective of BASF Argentina. Journal of Economic Geography, 14(5),
903-927.
GLÜCKLER, J., & LENZ, R. (2016). How institutions moderate the effectiveness of re-
gional policy: A framework and research agenda. Investigaciones Regionales,
2016(36Specialissue), 255-277.
HAUSSEN, T., & UEBELMESSER, S. (2016). Student and graduate migration and its effect
on the financing of higher education. Education Economics, 24(6), 573-591.
HUGGINS, R., PROKOP, D., & THOMPSON, P. (2019). Universities and open innovation:
the determinants of network centrality. Journal of Technology Transfer, 45(3),
718-757.
IAMMARINO, S., RODRIGUEZ-POSE, A., & STORPER, M. (2019). Regional inequality in Eu-
rope: Evidence, theory and policy implications. Journal of Economic Geography,
19(2).
KERR, Sari Pekkala, & WILLIAM R. Kerr. (2020) Immigrant Entrepreneurship in America:
Evidence from the Survey of Business Owners 2007 & 2012. Research Policy 49,
no. 3
LEICK, B., & LANG, T. (2018). Re-thinking non-core regions: planning strategies and
practices beyond growth. European Planning Studies, 26(2), 213-228.
MARQUES, P., MORGAN, K., HEALY, A., & VALLANCE, P. (2019). Spaces of novelty: Can
universities play a catalytic role in less developed regions? Science and Public
Policy, 46(5), 763-771.
NOLASCO, C. (2016). Migrações Internacionais: Conceitos, Tipologia e Teorias.
RAVENSTEIN, E. G. (1889). The Laws of Migration. Journal of the Royal Statistical So-
ciety, 52(2), 241.
RÉRAT, P. (2014). The selective migration of young graduates: Which of them return to
their rural home region and which do not? Journal of Rural Studies, 35, 123-132.
RODRÍGUEZ-POSE, A. (2018). The revenge of the places that don’t matter (and what to
do about it). Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, 11(1), 189-209.
RODRÍGUEZ-POSE, A. (2020). Institutions and the fortunes of territories. Regional
Science Policy & Practice, March, 1-16.
RODRÍGUEZ-POSE, A., & KETTERER, T. (2019). Institutional change and the development
of lagging regions in Europe. Regional Studies, February.
MIGRAÇÕES DE ESTUDANTES PARA AS REGIÕES PERIFÉRICAS COMO FLUXOS DE TALENTO E INOVAÇÃO
223
Madalena Fonseca
RODRÍGUEZ-POSE, A., & VILALTA-BUFÍ, M. (2005). Education, migration, and job satis-
faction: the regional returns of human capital in the EU. Journal of Economic Geo-
graphy, 5(5), 545-566.
RUTTEN, R. (2019). Openness values and regional innovation: A set-analysis. Journal
of Economic Geography, 19(6), 1211-1232.
SOYER, K., OZGIT, H., & RJOUB, H. (2020). Applying an Evolutionary Growth Theory
for Sustainable Economic Development: The Effect of International Students as
Tourists. Sustainability, 12(1), 418.
STORPER, M. (2018). Separate Worlds? Explaining the current wave of regional econo-
mic polarization. Journal of Economic Geography, 18(2), 247-270.
TEIXEIRA, P.; FONSECA, M.; TAVARES, D.; SÁ, C.; AMARAL, A. (2009). A Regional Misma-
tch? Analysing institutional behaviour and student’s applications in Portuguese
Public Higher Education System. In MOHRMAN, Kathryn; FEINBLATT, Sharon; CHOW,
King (Ed) Public Universities and Regional Development. Chengdu: Sichuan Uni-
versity Press, pp.59-80.
TÖDTLING, F., ASHEIM, B., & BOSCHMA, R. (2013). Knowledge sourcing, innovation and
constructing advantage in regions of Europe. European Urban and Regional Stu-
dies, 20(2), 161-169.
TOSI, F., IMPICCIATORE, R., & RETTAROLI, R. (2018). Individual skills and student mobility
in Italy: a regional perspective. Regional Studies.
VENHORST, V., VAN DIJK, J., & VAN WISSEN, L. (2010). Do the best graduates leave
the peripheral areas of the Netherlands? Tijdschrift Voor Economische En Sociale
Geografie, 101(5), 521-537.
YOUTIE, J., & SHAPIRA, P. (2008). Building an innovation hub: A case study of the trans-
formation of university roles in regional technological and economic develop-
ment. Research Policy.
PERCEÇÃO SOBRE O POTENCIAL DA RAIA:
UMA LEITURA AOS OLHOS DA POPULAÇÃO
*
DORA FERREIRA
**
JOSÉ MANUEL SÁNCHEZ MARTÍN
1. ENQUADRAMENTO
A perceção social sobre as características do território de residência, por-
tanto, o seu conhecimento, é a chave para o desenvolvimento de instrumentos
de ordenamento e gestão territorial. No caso dos territórios com vocação tu-
rística é interessante conhecer a perceção dos residentes sobre as vantagens
e desvantagens que aquele território oferece e a identificação dos elementos
caracterizadores que possam ser atrativos de investimentos e atividades de de-
senvolvimento local. Apesar da perceção poder ser diferente entre quem visita
um determinado destino e quem nele reside, o seu conhecimento pode ser a
chave para evitar conflitos e gerar convergências de interesses entre população
residente e o visitante (FERNANDÉZ 2011, em MERCADO ALONSO 2015), promover
a hospitalidade e prevenir situações de degradação da qualidade ambiental
(TERKENLI et al. 2021).
Vários estudos indicam que as atividades de turismo são muito influencia-
das pela qualidade ambiental e paisagística, determinando a escolha da procura
(GAO et al. 2014; MACAGNO et al. 2011). As áreas rurais e periféricas assumem par-
ticular interesse devido aos seus valores históricos, culturais e valores naturais
que lhes conferem uma identidade muito peculiar. Estando o turismo em espaço
rural muito dependente dos recursos paisagísticos, os residentes no território,
agentes económicos e decisores políticos, assumem um papel determinante na
manutenção e preservação da singularidade e qualidade ambiental (ABLER 2004
em MACAGNO et al. 2011). Essa qualidade é um indicador importante que vai ter
influência nas dinâmicas económicas presentes no território e na capacidade de
criar ofertas turísticas de valor acrescentado. Por exemplo, os autores Fleischer
& Tchetchik (2005) perceberam que as paisagens, sobretudo ligadas à atividade
*
Universidade de Extremadura [drodrigucc@alumnos.unex.es]
**
Universidade de Extremadura [jmsanche@unex.es]
226 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
agrícola, tem um efeito positivo nos preços praticados nos alojamentos turísticos
e, consequentemente, com impacto nas dinâmicas socioeconómicas.
Efetivamente, para realizar estratégias territoriais sustentáveis é importante
conhecer a perceção dos residentes de um determinado lugar sobre os valores
identitários e emblemáticos do território. Alguns estudos consultados apontam
que a paisagem é frequentemente o elemento mais valorizado pela população
local, intimamente relacionada com os valores naturais, culturais e estilo de vida
de determinado território (DÍAZ et al. 2010). e, consequentemente, o recurso tu-
rístico a valorizar conforme conclui o estudo de Terkenli et al. (2021).
Penamacor
Valverde
del Fresno
Cilleros
Idanha-a-Nova Zarza
la Mayor
Castelo Branco
Alcántara
Vila V. de Rodão
Cedillo S. Alcántara
H. Alcántara Membrío
Nisa
C. Vide
Valencia
de Alcántara
Marvão
Portalegre
2. METODOLOGIA
Face ao objetivo central do presente trabalho, optou-se pela recolha de dados
e informação mediante questionário. De forma a abranger o máximo de popula-
ção residente no território, foi desenhado uma investigação quantitativa através
de questionário com 10 perguntas (fechadas, abertas e de escala). A recolha de
dados decorreu durante os meses de fevereiro de 2020 a agosto de 2020 e, de-
vido à pandemia COVID-19, foi aplicado através do google forms. O questionário
foi divulgado através de canais digitais e mailing a partir de sites e entidades
locais (autarquias, juntas de freguesia, associações), apresentados em português
e castelhano. Os conteúdos recolhidos podem resumir-se nos seguintes tópicos:
• Conteúdos sobre as principais vantagens de viver num território de frontei-
ra, podendo identificar aspetos que possam facilitar o quotidiano;
• Conteúdos sobre as principais desvantagens de viver num território de frontei-
ra, podendo identificar aspetos que interfiram de forma negativa no quotidiano;
• Conteúdos sobre a perceção dos valores que melhor caracterizam o território;
• Conteúdos sobre a identidade e carácter da paisagem que melhor caracte-
riza o destino e tipologia de paisagem recomendável para as atividades de
turismo e perceção sobre cenários futuros;
• Conteúdos sobre as características sociodemográficas.
3. ANÁLISE DE RESULTADOS
Podemos analisar, segundo a análise da Tabela 2, que a distribuição dos par-
ticipantes no estudo segundo o género, se encontra bastante equilibrada (50%
mulheres e 50% são homens), maioritariamente com formação superior, porém,
apenas 19,8% dos participantes tem idades compreendidas entre os 18 e os 34
anos. Verifica-se que a maior parte da população dos territórios raianos que par-
ticiparam no presente estudo, são residentes há mais de 20 anos, com forte
expressão os residentes em freguesias rurais (63,4%).
Género Nº
Feminino 50
Masculino 51
Grupo de idades Nº
18-25 anos 10
26-34 anos 10
35-44 anos 21
45-54 anos 26
55-64 anos 16
>65 anos 18
Nível de educação Nº
Superior 65
Secundário 29
Básico 7
Freguesia de residência Nº
Urbana 34
Rural 64
Nº anos residência na raia Nº
< 1 ano 5
2-5 anos 11
6-9 anos 11
10-19 anos 9
> 20 anos 67
Podemos ainda extrair outras leituras, como a riqueza dos produtos alimenta-
res que estão intrinsecamente relacionados com a paisagem, que apesar de não
serem reconhecidos como uma das marcas do território (quando apresentados
de forma isolada), é possível identificar produtos IGP ou DOP no território, desde
o azeite (olival tradicional), o queijo (montado pastoreado), o mel (espaços agro-
florestais) de elevada qualidade, apenas para deixar alguns exemplos, e cujo
potencial poderá ser estruturado na oferta de turismo gastronómico transfron-
teiriço.
PERCEÇÃO SOBRE O POTENCIAL DA RAIA: UMA LEITURA AOS OLHOS DA POPULAÇÃO
235
Dora Ferreira, José Manuel Sánchez Martín
Desta análise se conclui que a população local tanto reconhece o capital na-
tural como o capital humanizado como elementos emblemáticos do território e
o que poderá ser o elemento de referência na dinamização de atividades turís-
ticas. Esta tendência é também verificado no estudo de Terkenli et al., (2021).
Das várias opções sobre possíveis tipologias de paisagem adequadas para
a realização de atividades ao ar livre (Gráfico 6), a maior parte da população
raiana identifica a paisagem com planos de água (42%) e o bosque (20%) como
cenários para a realização de atividades de lazer. Poderão destacar-se, a título
de exemplo atividades, desde passeios de barco no rio Tejo, canoagem, remo,
stand-up padel, caminhadas ou BTT. Apesar de interessantes, o potencial de criar
produtos turísticos realmente diferenciadores, por exemplo, com a valorização
do olival e do montado para a realização de atividades agroturísticas, parece não
ter um potencial reconhecido pelos residentes locais. Porém, a sua valorização
permitiria tirar maior partido da paisagem / natureza e dos recursos de forma ho-
lística (GAO et al., 2014). Neste sentido, seria interessante dinamizar sessões de
sensibilização para a valorização dos recursos e produtos do montado e do olival
tradicional que, em algumas áreas do território, assume características dignas
de paisagem cultural.
Gráfico 7. Cenários previsíveis para o território raiano segundo a opinião da população residente
PERCEÇÃO SOBRE O POTENCIAL DA RAIA: UMA LEITURA AOS OLHOS DA POPULAÇÃO
237
Dora Ferreira, José Manuel Sánchez Martín
4. CONCLUSÕES
O presente estudo pretende avaliar o potencial turístico dos territórios da
raia luso-extremenha, tanto pelos seus atributos naturais como culturais, a par-
tir da perceção e valorização desses mesmos atributos e conhecendo quais as
valências que são, mais ou menos, valorizadas por quem habita diariamente no
território. Apesar do estudo apresentar algumas limitações dado o tamanho da
amostra ser pouco representativa, foi possível extrair as seguintes conclusões:
• Conhecer o território e os seus elementos atrativos por parte da população
local revela, desde logo, o sentimento de pertença ao lugar e o reconheci-
mento de fatores positivos em detrimento de eventuais limitações;
• O estudo realizado permitiu verificar que as valências e atributos quali-
ficadores do território raiano tiveram maior destaque. Ao invés, os fatores
relacionados com a interioridade foram desvalorizados e, até mesmo, consi-
derados como condição para o usufruto de determinadas características só
possíveis num território menos povoado, designadamente a “tranquilidade”,
o “silêncio” e a “paz” que este território pode oferecer;
• A paisagem e a natureza são percebidas como um dos principais atribu-
tos qualificadores do destino. Apesar do conceito de paisagem abarcar uma
grande diversidade de escalas de definição, de elementos construtivos e
significados, elementos estruturais ou conjunturais, os resultados permitiram
verificar que é o elemento mais valorizado pelos habitantes da raia. Isto pode
revelar o nível de satisfação com a qualidade ambiental e práticas culturais
locais que estão mais próximas do tradicional e os modelos de preservação
e sustentabilidade. Sem esquecer ainda, o predomínio da paisagem agroflo-
restal com predomínio do sistema montado / “dehesa”.
• A paisagem e natureza estão intrinsecamente associados a atividades como
a agricultura. Esta poderá ser um setor mais dinâmico e rejuvenescido atra-
vés da aposta na multifuncionalidade e diversificação de atividades em áreas
rurais como o turismo em espaço rural, o agroturismo e o ecoturismo, trazen-
do novas dinâmicas e oportunidades de investimento.
• A identidade cultural das populações locais parece estar intimamente re-
lacionada à forma como interagem com suas paisagens e os valores locais
reforçando o sentimento de pertença. Essa identidade poderá ser um recurso
turístico diferenciador, se baseado na cooperação entre países convergindo
para a co-criação de uma oferta de carácter transfronteiriço.
• A incorporação da perceção dos residentes na gestão territorial, com di-
mensões participativas e integradoras, requer um esforço da compreensão
dos conceitos abordados, e das suas múltiplas valências, de forma a que se
traduzam em oportunidades para o território. Isto, particularmente, sobre o
238 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
conceito de paisagem, dado que foi o elemento mais valorizado pela popu-
lação local;
• Por fim, importa assinalar que a concretização de produtos turísticos no
território deverá centrar-se na experiência turística e dessa forma permitir
alargar a oferta de atividades ao longo de todo o ano e procurar, sempre
que possível, a integração da população local no desenho e na dinamização
de atividades turísticas de forma a proporcionar ofertas diferenciadoras e de
valor acrescentado.
REFERÊNCIAS
CAMPESINO FERNÁNDEZ, A.-J., & ALMONTE, J. M. J. (Dirs.) (2014). Productos y poten-
ciales turístico-culturales en la raya de extremadura. In U. de H. Publicaciones
(Ed.), Turismo de Frontera (III). Productos turísticos de la Raya Ibérica (Francisco,
pp. 33-71).
CAMPESINO FERNÁNDEZ, A. (2007). Recursos turístico-patrimoniales en la raya extre-
meña-alentejana. In P. de Blas (Ed.), Turismo de Interior en Áreas Fronterizas.
Recursos e Ofertas (Universida, pp. 49-76).
DÍAZ, P., RUIZ-LABOURDETTE, D., DARIAS, A. R., SANTANA, A., SCHMITZ, M. F., & PINEDA,
F. D. (2010). Landscape perception of local population: The relationship between
ecological characteristics, local society and visitor preferences. WIT Transactions
on Ecology and the Environment, 139(June), 309-317. https://doi.org/10.2495/
ST100271
FLEISCHER, A., & TCHETCHIK, A. (2005). Does rural tourism benefit from agriculture? Tou-
rism Management, 26(4), 493-501. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2003.10.003
GAO, J., BARBIERI, C., & VALDIVIA, C. (2014). Agricultural Landscape Preferences: Impli-
cations for Agritourism Development. Journal of Travel Research, 53(3), 366-379.
https://doi.org/10.1177/0047287513496471
MACAGNO, G., LOUREIRO, M. L., NUNES, P. A. L. D., & TOL, R. S. J. (2011). Assessing the
Impact of Biodiversity on Tourism Flows: A Model for Tourist Behaviour and its Po-
licy Implications. SSRN Electronic Journal. https://doi.org/10.2139/ssrn.1424982
MERCADO ALONSO, I. (2015). Percepción y valoración social de los paisajes disfruta-
dos: aportaciones desde el visitante para una gestión sostenible de espacios tu-
rísticos rurales. El caso de la Sierra de Aracena (Huelva). Revista Investigaciones
Turísticas, 9, 160-183. https://doi.org/10.14198/inturi2015.9.07.
SÁNCHEZ-MARTÍN, J. M., & RENGIFO-GALLEGO, J. I. (2017). Atractivos naturales y cultu-
rales vs desarrollo turístico en la raya Luso-Extremeña. PASOS Revista de Turismo y
Patrimonio Cultural, 14(4), 907-928. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2016.14.059
REDE DE ALDEIAS DE MONTANHA: UM TERRITÓRIO E UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO RURAL INTEGRADO
239
Célia Gonçalves
Terkenli, T. S., Skowronek, E., & Georgoula, V. (2021). Landscape and tourism:
European expert views on an intricate relationship. Land, 10(3). https://doi.
org/10.3390/land10030327.
TORQUATI, B., TEMPESTA, T., VECCHIATO, D., VENANZI, S., & PAFFARINI, C. (2017). The
value of traditional rural landscape and nature protected areas in tourism de-
mand: A study on agritourists’ preferences. Landscape Online, 53 (November
2019), 1-18. https://doi.org/10.3097/LO.201753.
Sites consultados
www.ine.pt (agosto 2021)
www.ine.es (agosto 2021)
RESUMO
Tendo em conta que a atividade turística provoca transformações nos destinos e a
procura por destinos periféricos e de menor densidade se tem assumido como uma
tendência crescente nas novas dinâmicas da procura, torna-se importante promover
o planeamento de fluxos e, sobretudo, de valorização da oferta de produtos turísticos
capazes de preservar a identidade dos lugares, a sua autenticidade, singularidade e
qualidade. Para tal, é fundamental conhecer a perceção que os habitantes têm do
seu território quotidiano de forma a potenciar a valorização de recursos, infraestrutu-
ras e promover uma cultura de acolhimento, sem esquecer que a sua integração nos
processos de planeamento deve ser estimulada e valorizada de forma a garantir polí-
ticas públicas inclusivas e de coesão. Esta preocupação assume particular relevância
em territórios com potencial turístico, principalmente assentes na valorização cultural
dos destinos de fronteira. Assim, o objetivo deste trabalho centra-se no estudo da
perceção dos habitantes no território raiano relativamente às suas características
naturais e/ou culturais mais emblemáticas, procurando identificar as vantagens e
desvantagens em residir naquele destino, caracterizado pelo envelhecimento demo-
gráfico e isolamento, com o objetivo de identificar quais as valências que podem ser
consideradas mais atrativas para os turistas e visitantes. Para isso, desenvolveu-se
uma metodologia baseada em métodos de investigação social e foram estabelecidas
conclusões a partir dos resultados alcançados, destacando-se, de forma global, sen-
timentos positivos manifestados pelos participantes do estudo quanto à sua perce-
ção sobre o território raiano que identifica os atributos da paisagem e natureza como
um dos principais atrativos do território.
EL ENVEJECIMIENTO COMO RETO ACTUAL:
ASPECTOS SOCIALES Y CULTURALES PARA
LA INVESTIGACIÓN CUALITATIVA
*
BORJA RIVERO JIMÉNEZ
*
LUIS LÓPEZ-LAGO ORTIZ
**
BEATRIZ MUÑOZ GONZÁLEZ
***
DAVID CONDE CABALLERO
***
LORENZO MARIANO JUÁREZ
*
Personal Científico Investigador en el Departamento Ingeniería de Sistemas Informáticos y Telemáticos.
Escuela Politécnica. Universidad de Extremadura.
**
Profesora en el Departamento Dirección de Empresas y Sociología. Facultad de Formación del Profesorado.
Universidad de Extremadura.
***
Profesor en el Departamento de Enfermería. Facultad de Enfermería y Terapia Ocupacional. Universidad de
Extremadura.
242 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
et al. 2006; VIEJO FERNÁNDEZ et al. 2017), la obesidad (ZAMBONI et al. 2005) o la
calidad de las dietas (HERNÁNDEZ & GOÑI 2015; MARTÍNEZ et al. 2020). Sin embar-
go las perspectivas que ahonden en los hábitos sociales y las representaciones
culturales de los adultos mayores no institucionalizados son muchos más esca-
sos (RIVERO JIMÉNEZ et al. 2019). Ante esta carencia de investigaciones con un
enfoque cultural, para entender las dimensiones de los problemas alimentarios
de las personas mayores, desde el 4IE se ha apostado por el enfoque etnográ-
fico, acercándose a las creencias, representaciones e ideología en torno a los
alimentos, bajo la premisa de que un mejor conocimiento de las preferencias ali-
mentarias ayuda a mejorar la calidad de vida de las personas de edad avanzada
(RIVERO et al. 2020a; RIVERO 2020b).
Los resultados del trabajo de campo desarrollado en torno a las ideologías
alimentarias han mostrado la preferencia de las personas mayores por los ali-
mentos y los métodos culinarios “tradicionales”, lo que en ocasiones entra en
conflicto con las recomendaciones sanitarias. También se han observado dife-
rencias en cuanto al género. Desde el 4IE se destaca la necesidad de contemplar
las dimensiones sociales y culturales de la alimentación de las personas mayores
y que éstas se incorporen a la planificación de las intervenciones en materia de
salud pública (RIVERO et al. 2020a)
función de una puntuación final (de JONG-GIERVELD & KAMPHUIS 1985; de JONG-
-GIERVELD & VAN TILBURG 2010).
Siguiendo algunas de las críticas realizadas al reduccionismo de estas esca-
las cuantitativas (COMELLES et al. 2007; FLORES MARTOS & MARIANO JUÁREZ 2016;
LIZET VELIZ et al. 2012), el uso de herramientas cualitativas vendrá a cubrir el dé-
ficit señalado y a aportar marcos interpretativos detallados en sus dimensiones
social y cultural. Para ello se proponen las actuaciones básicas del planteamiento
de trabajo de campo etnográfico. En primer lugar, la observación participante,
a través de la cual poder registrar las prácticas asociadas a la interacción de
las personas mayores y la ausencia de ésta. En segundo lugar, las entrevistas
en profundidad que permiten acercarnos a las narrativas sobre soledad de los
sujetos de estudio a través de entrevistas semiestructuradas. Y, en tercer lugar,
las conversaciones informales que proporcionan un material empírico adicional.
Todo ello registrado en los diarios de campo (HAMMERSLEY & ATKINSON 1994; VE-
LASCO & DÍAZ DE RADA 2006).
Por último, las herramientas tecnológicas suponen un aporte innovador del
proyecto 4IE al estudio de la soledad. Los dispositivos que se propone utilizar
son las smartbands que se utilizan para dar seguimiento a los movimientos y
las interacciones con otras personas dentro del municipio (RECIO-RODRÍGUEZ et
al. 2019), y las aplicaciones para smartphones utilizadas para el seguimiento y
análisis de la calidad de la participación social de cada individuo. La base para
el funcionamiento de éstas serán los sensores Bluetooth que permitirán además
cartografiar la soledad en el municipio, detectando las zonas donde hay menos
interacción de las personas mayores pudiendo así determinar patrones espa-
ciales de interacción, identificar rutas o lugares populares entre las personas
mayores, etc. (RIVERO JIMÉNEZ et al. 2021).
6. CONCLUSIONES
Durante los últimos años el Instituto Internacional de Investigación e Innova-
ción del Envejecimiento (4IE) se ha consolidado como un espacio interdisciplinar
de colaboración entre instituciones de Alentejo y Extremadura. La apuesta deci-
dida por una investigación cercana a las necesidades de la población mayor de
los entornos rurales ha propiciado que las soluciones tecnológicas, sanitarias o
en materia de políticas públicas, surjan de un profundo estudio de las relaciones
sociales, económicas y culturales. Por ello el trabajo de campo etnográfico ha
nutrido las investigaciones sobre alimentación, soledad, políticas públicas y dis-
positivos tecnológicos especializados en las personas de edad avanzada.
Hasta el momento los resultados obtenidos bajo la perspectiva de la investi-
gación cualitativa están siendo muy satisfactorios en tanto en cuanto han permi-
tido realizar diseños, ya sea de dispositivos o de políticas, muy apegados a las
necesidades reales de la población. Además, algunos de los investigadores del
4IE han visto reconocida su labor con premios como los concedidos por el Cen-
tro de Estudios Ibéricos, la Asociación Portuguesa de Antropología o el Colegio
de Enfermería de Cáceres. Asimismo, dispositivos como A.C.H.O han suscitado
un amplio interés social y la atención de los medios de comunicación. Por todo
ello desde el 4IE se afronta el futuro con optimismo en cuanto a la continuidad
de su labor científica con una clara orientación hacia la intervención social para
mejorar la calidad de vida de las personas mayores en Extremadura y Alentejo.
FINANCIACIÓN
Esta investigación ha sido financiada por el Programa Interreg V-A España-
-Portugal (POCTEP) 2014-2020, Proyecto 4IE+ [0499 4IE PLUS 4 E].
EL ENVEJECIMIENTO COMO RETO ACTUAL: ASPECTOS SOCIALES Y CULTURALES PARA LA INVESTIGACIÓN CUALITATIVA
249
Borja Rivero Jiménez, Luis López-Lago Ortiz, Beatriz Muñoz González, David Conde Caballero Lorenzo Mariano Juárez
REFERENCIAS
BERRIO VALENCIA, M. I. (2012). Aging population: a challenge for public health. Revista
Colombiana de Anestesiologia, 40(3), 192-194.
BLOOM, D. E., CANNING, D., & LUBET, A. (2015). Global Population Aging: Facts, Challen-
ges, Solutions & Perspectives. Daedalus, 144(2), 80-92. https://doi.org/10.1162/
DAED_a_00332
BOULOS, C., SALAMEH, P., & BARBERGER-GATEAU, P. (2016). Malnutrition and frailty in
community dwelling older adults living in a rural setting. Clinical Nutrition, 35(1),
138–143.
COHEN, L. (1994). Old Age: Cultural and Critical Perspectives. Annual Review of An-
thropology, 2(1), 137-158.
COMELLES, J. M., PERDIGUERO, E., & MARTÍNEZ HERNÁEZ, A. (2007). Topographies,
folklore and medical Anthropology in Spain. In F. SAILLANT & S. GENEST (Eds.),
Medical Anthropology. Regional Perspective and Shared Concerns (pp. 103-122).
Malden Oxford & Victoria: Blackwell Publishing.
CONDE-CABALLERO, D., RIVERO JIMÉNEZ, B., CIPRIANO-CRESPO, C., JESUS-AZABAL, M.,
GARCIA-ALONSO, J., & MARIANO JUÁREZ, L. (2021). Treatment Adherence in Chronic
Conditions during Ageing: Uses , Functionalities, and Cultural Adaptation of the
Assistant on Care and Health Offline (ACHO) in Rural Areas. Journal of Persona-
lized Medicine, 11(173), 1-19. https://doi.org/https://doi.org/10.3390/jpm11030173
COUCKE, A., SAADE, A., BALL, A., BLUCHE, T., CAULIER, A., LEROY, D., DOUMOURO, C., GIS-
SELBRECHT, T., CALTAGIRONE, F., LAVRIL, T., PRIMET, M., & DUREAU, J. (2018). Snips
Voice Platform: an embedded Spoken Language Understanding system for priva-
te-by-design voice interfaces. http://arxiv.org/abs/1805.10190
DE JONG-GIERVELD, J., & KAMPHUIS, F. (1985). The Development of a Rasch-Type Lo-
neliness Scale. Applied Psychological Measurement, 9(3), 289-299. https://doi.
org/10.1177/014662168500900307
DE JONG-GIERVELD, J., & VAN TILBURG, T. (2010). The De Jong Gierveld short scales for
emotional and social loneliness: Tested on data from 7 countries in the UN gene-
rations and gender surveys. European Journal of Ageing, 7(2), 121-130. https://
doi.org/10.1007/s10433-010-0144-6
DÍAZ DE RADA, Á. (2006). Etnografía y Ténicas de investigación antropológica. Ma-
drid: UNED
FLORES MARTOS, J. A., & MARIANO JUÁREZ, L. (2016). Nuevas definiciones de evidencia
en la medicina contemporánea: aportes desde la Antropología. Saude e Socie-
dade, 25(1), 43-56.
GUBER, R. (2011). La etnografía: método, campo y reflexividad. Siglo XXI.
HAMMERSLEY, M., & ATKINSON, P. (1994). Etnografia: métodos de investigación. Bar-
celona: haPaidós.
HERNÁNDEZ GALIOT, A., & GOÑI CAMBRODÓN, I. (2015). Calidad de la dieta de la po-
blación española mayor de 80 años no institucionalizada. Nutrición Hospitalaria,
31(6), 2571-2577.
250 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
MORENO-COLOM, S., RECIO CÀCERES, C., TORNS MARTÍN, T., & BORRÀS CATALÀ, V. (2017).
Long-term care in Spain: Difficulties in professionalizing services. Journal of Wo-
men and Aging, 29(3), 200-215. https://doi.org/10.1080/08952841.2015.1125699
MORILLAS, J., GARCÍA-TALAVERA, N., MARTÍN-POZUELO, G., REINA, A. B., & ZAFRILLA, P.
(2006). Detección del riesgo de desnutrición en ancianos no institucionalizados.
Nutrición Hospitalaria, 21(6), 650-656. http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=s-
ci_abstract&pid=S0212-16112006000900003&lng=es&nrm=iso&tlng=es
OMS (2015). Informe mundial sobre el envejecimiento y la salud. World Health Or-
ganization.
PESANTE-PINTO, J. L. (2017). Clinical pharmacology and the risks of polypharmacy in
the geriatric patient. Physical Medicine and Rehabilitation Clinics, 28(4), 739-746.
PORDATA (2020). Indicadores de Envelhecimiento. https://www.pordata.pt/Portugal/
Indicadores+de+envelhecimento-526 (July 30, 2020).
RECIO-RODRÍGUEZ, J. I., LUGONES-SANCHEZ, C., AGUDO-CONDE, C., GONZÁLEZ-SÁNCHEZ,
J., TAMAYO-MORALES, O., GONZALEZ-SANCHEZ, S., FERNANDEZ-ALONSO, C., MADE-
RUELO-FERNANDEZ, J. A., MORA-SIMON, S., GÓMEZ-MARCOS, M. A., RODRIGUEZ-SAN-
CHEZ, E., & GARCIA-ORTIZ, L. (2019). Combined use of smartphone and smartband
technology in the improvement of lifestyles in the adult population over 65eyears:
study protocol for a randomized clinical trial (EVIDENT-Age study). BMC Geriatri-
cs, 19(1), 19. https://doi.org/10.1186/s12877-019-1037-y.
RIVERO-JIMÉNEZ, B., CONDE-CABALLERO, D., & MARIANO-JUÁREZ, L. (2020a). Health and
Nutritional Beliefs and Practices among Rural Elderly Population: An Ethnogra-
phic Study in Western Spain. International Journal of Environmental Research
and Public Health, 17(16), 5923. https://doi.org/10.3390/ijerph17165923
Rivero Jiménez, B., Conde Caballero, D. & Mariano Juárez, L. (2020b). Educación
para la salud y la alimentación en personas mayores. Tradición, cultura y auto-
ridad en elas Hurdes (Extremadura-España). Agathos, Atención Sociosanitaria y
Bienestar, 3, 18-25.
RIVERO JIMÉNEZ, B., CONDE-CABALLERO, D., & MARIANO JUÁREZ, L. (2021). Loneliness
Among the Elderly in Rural Contexts : A Mixed-Method Study Protocol. International
Journal of Qualitative Methods, 20, 1-9. https://doi.org/10.1177/1609406921996861
RIVERO JIMÉNEZ, B., CONDE CABALLERO, D., MUÑOZ GONZÁLEZ, B., GARCÍA-ALONSO, J.,
FONSECA, C., & MARIANO JUÁREZ, L. (2019). Los enfoques culturales en la alimen-
tación de personas mayores rurales. Una necesidad multidimensional para la
agenda del cuidado. INDEX de Enfermería, 28(3), 125-129.
RODRÍGUEZ CABRERO, G. (2019). Longevidad y dependencia. La nueva contingencia
del siglo XXI. EKONOMIAZ. Revista Vasca de Economía, 96(2), 140-169.
RONCORONI, J., TUCKER, C. M., WALL, W., WIPPOLD, G., & RATCHFORD, J. (2019). Asso-
ciations of Health Self-efficacy With Engagement in Health-Promoting Behaviors
and Treatment Adherence in Rural Patients. Family & Community Health, 42(2),
109-116.
ROSTED, E., SCHULTZ, M., & SANDERS, S. (2016). Frailty and polypharmacy in elderly
patients are associated with a high readmission risk. Dan Med J, 63(9), A5274.
252 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
SCHARF, T., WALSH, K. & O’SHEA, E. (2016). Ageing in Rural Places. In D. Shucksmith,
Mark; Brown (Ed.), Routledge International Handbook of Rural Studies. Routled-
ge. https://doi.org/https://doi.org/10.4324/9781315753041
SPIJKER, J., & ZUERAS, P. (2020). Old-Age Care Provision in Spain in the Context of a
New System of Long-Term Care and a Lingering Economic Crisis. Journal of Popu-
lation Ageing, 13(1), 41-62. https://doi.org/10.1007/s12062-018-9232-8
TASHAKKORI, A., & CRESWELL, J. W. (2007). The New Era of Mixed Methods. Journal
of Mixed Methods Research, 1(1), 3-7. https://doi.org/10.1177/2345678906293042
THE LANCET PUBLIC HEALTH EDITORIAL (2017). Ageing: a 21st century public health
challenge? The Lancet. Public Health, 2(7), e297. https://doi.org/10.1016/S2468-
2667(17)30125-1
TUESCA-MOLINA, R., GUALLAR-CASTILLÓN, P., BANEGAS-BANEGAS, J. R., & REGADERA, A.
G.-P. (2006). Determinantes del cumplimiento terapéutico en personas mayores
de 60 años en España. Gaceta Sanitaria, 20(3), 220-227.
VELASCO, H., & DÍAZ DE RADA, Á. (2006). La lógica de la investigación etnográfica.
Trotta.
VIEJO FERNÁNDEZ, D., MERINO RUBIO, P., DE LA HOZ OLALLA, J., OYARZABAL AMIGO, B.,
EZQUERRO EZQUERRO, P., & LÓPEZ LORES, P. (2017). Prevalencia de desnutrición en
mayores de 75 años en el medio rural. Metas Enferm, 20(8), 50-54.
ZAMBONI, M., MAZZALI, G., ZOICO, E., HARRIS, T. B., MEIGS, J. B., DI FRANCESCO, V., FAN-
TIN, F., BISSOLI, L., & BOSELLO, O. (2005). Health consequences of obesity in the
elderly: a review of four unresolved questions. International Journal of Obesity,
29(9), 1011-1029.
RESUMEN
El envejecimiento paulatino de la población de los países desarrollados plantea enor-
mes retos en cuanto a la sostenibilidad de los sistemas de salud y cuidados, que se
ven cada vez más fuertemente tensionados. Este fenómeno se hace particularmente
notable en terri-torios como Extremadura (España) y Alentejo (Portugal), donde ade-
más del envejecimien-to de la población, la emigración o la dispersión poblacional
plantean severos problemas a los sistemas que proporcionan bienestar a las perso-
nas de edad avanzada. Frente a estos desafíos el Instituto Internacional de Investiga-
ción e Innovación del Envejecimiento (4IE) propone soluciones tecnológicas basadas
en un conocimiento profundo de las relaciones socioeconómicas y culturales de sus
potenciales beneficiarios, y donde la investigación cualitativa tiene un protagonismo
central. Así mediante el trabajo de campo etnográfico se han abordado investigacio-
nes sobre la alimentación y la soledad en las personas mayores, las políticas públicas
en materia de dependencia, la formación de los cuidadores informa-les y los disposi-
tivos tecnológicos para la adherencia terapéutica. Con unos resultados satisfactorios,
el 4IE afronta los retos del envejecimiento rural con optimismo y con la convicción de
que el trabajo interdisciplinar es particularmente enriquecedor a la hora de buscar
soluciones para mejorar la calidad de vida de las personas de edad avanzada.
EL ENVEJECIMIENTO COMO RETO ACTUAL: ASPECTOS SOCIALES Y CULTURALES PARA LA INVESTIGACIÓN CUALITATIVA
253
Borja Rivero Jiménez, Luis López-Lago Ortiz, Beatriz Muñoz González, David Conde Caballero Lorenzo Mariano Juárez
PALABRAS CLAVE
Envejecimiento; Investigación cualitativa; Gerontecnología; Soledad; Alimentación;
Políticas públicas.
ABSTRACT
The gradual ageing of the population in Western societies poses enormous challen-
ges to sustainability of health and care systems, which are increasingly under strain.
This phenomenon is particularly remarkable in areas such as Extremadura (Spain)
and Alentejo (Portugal), where, in addition to population ageing, emigration and po-
pulation dispersion pose severe problems for the systems that provide welfare for
the elderly. Faced with these challenges, the International Institute for Research and
Innovation in Ageing (4IE) proposes technological solutions based on an in-depth
knowledge of the socio-economic and cultural relations of the potential beneficiaries,
and where qualitative research plays a central role. Thus, through ethnographic fiel-
dwork, research has been carried out on nutrition and loneliness in the elderly, public
policies on dependency, the training of informal carers and technological devices for
therapeutic adherence. With satisfactory results, the 4IE faces the challenges of rural
ageing with optimism and with the conviction that interdisciplinary work is particular-
ly enriching when seeking solutions to improve the quality of life of the elderly.
KEY WORDS
Ageing; Qualitative research; Gerontechnology; Loneliness; Food; Public policies.
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO
PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE
REINVENÇÃO DOS RECURSOS
*
INÊS ALVES
**
LARA PLÁCIDO
I.
Impact é um sistema construtivo que surge em Cabo Verde derivado de pro-
blemáticas que a sensibilidade inerente à prática da arquitectura colocam em
evidência: a questão da habitação e da dignidade de vida; o hiato económico/
social/humano existente; a demanda construtiva em alguns dos sectores; a ade-
quação e sustentabilidade das próprias tecnologias construtivas, etc. Tudo isto, a
par da ausência de sistemas de tratamento dos resíduos sólidos urbanos no país.
Para além desta sensibilidade ― que se descreve como basilar na formação
em arquitectura ― concorre igualmente um olhar estrangeiro, composto por dois
pares de olhos que dão corpo a duas bagagens distintas de uma dupla de por-
tuguesas que apesar de oriundas da mesma cidade ― o Porto ― é na ilha de São
Vicente, em 2015, que se conhecem e onde chegam para leccionar no ensino
1
superior.
Ao longo dos anos, são debatidas questões fundamentais muito próprias
de quem reside numa cidade portuária como a do Mindelo ― São Vicente ― e
que assiste a uma transformação que diríamos ser profunda; uma reconversão
que se dirige, inevitavelmente, para o turismo de massas e para uma expressiva
gentrificação do território dividindo-se drasticamente entre uma zona que apa-
rentemente se quer tornar nobre, voltada para a baía do Porto Grande ― ainda
que isso implique o rompimento de uma relação profunda das suas gentes com
o mar, acarretando assim, uma descaracterização material e imaterial da sua
história ― que se contrapõe com a extensa periferia em torno da cidade. De ano
para ano, assistimos à construção de hotéis no lugar de edifícios centenários e
*
inesteixeiraalves@gmail.com
**
laraplacido@hotmail.com | projetoimpact.org
1
Nos cursos de Arquitectura, Design e Construção Civil Sustentável da M_EIA Instituto Superior em Arte,
Tecnologia e Cultura, dirigida por Leão Lopes, fundador da ONG Atelier Mar.
256 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
de praças no centro da cidade. Para lá dos limites desta, víamos o território ex-
pandir-se: casinhas de lata a propagarem-se pelas encostas; outras casinhas de
lata a reconverterem-se em grandes volumetrias em bloco de cimento.
Enquanto arquitectas, o hiato económico/social/humano estava estampado
naquelas encostas não infraestruturadas, batidas pelos ventos severos e cons-
tantes, na histórica falta de chuva a que este território esteve desde sempre
sujeito ― e que se reconverte em enxurradas, aluimentos e perdas materiais e
humanas sempre que chove ― bem como à necessária sujeição da camada pre-
dominante da população a trabalhos altamente precários e sem qualquer tipo de
protecção social.
Foi neste contexto que assistimos ao desabamento de terras na zona do La-
2
zareto, em 2018, num território conhecido pela extração massiva de inertes para
a construção. Do acidente ― que originou dois mortos ― resultou a concessão
por parte Câmara Municipal de São Vicente à sua exploração e que, apesar da
ilegalidade da prática em território nacional, passa a poder controlar a extração
de forma proveitosa; em troca, promete uma maior segurança na actividade. Pa-
ralelamente, no interior de São Vicente, zona de Iraque, na lixeira municipal são
queimados diariamente os resíduos sólidos urbanos recolhidos por toda a ilha.
2020 e a pandemia mundial por COVID-19 agravava a situação económica
das ilhas, onde cerca de 20% do seu Produto Interno Bruto assenta no sector
do turismo e onde são altamente expressivas as actividades ligadas à econo-
mia informal. O isolamento social e a necessidade de “ficar em casa” levantava
3
questões que nos pareciam fundamentais. Que casa era essa, se tivéssemos
4
em atenção a maioria expressiva da população do país, e que economia familiar
era essa também, para quem ficar em casa implicava prescindir de ganhar o pão
5
do dia.
6
Pela ocasião da URDI2020, concorríamos com uma peça de design de nome
“impact” para a exposição Lossguia Salão Created in Cabo Verde, e que consistia
num elemento construtivo. O seu nome derivava da forma como dizemos impac-
to em crioulo e, foneticamente, também nos remete para um domínio ambiental.
2
Areia e cascalho.
3
“A revolução industrial acelerou o desenvolvimento das tecnologias e das culturas de conforto no último
século (...) não puderam, até agora, e, por si só, resolver o problema da habitação no planeta. Antes pelo
contrário, o seu impacto mede-se hoje pelo peso das grandes concentrações urbanas e pelos graves
desequilíbrios sociais e ambientais gerados pelos sistemas urbanos adoptados.”, in LOPES, Leão (2001)
Manual Básico de Construção (Guia Ilustrado para a Construção de Habitação). Ministério das Infraestruturas
e Habitação. República de Cabo Verde; p.13.
4
O primeiro caso de COVID19 em Cabo Verde aconteceu na ilha da Boa Vista, tendo desencadeado um cerco
sanitário em torno do bairro da Boa Esperança. É neste bairro de lata que uma grande parte dos funcionários
dos resorts da ilha residem.
5
O ordenado mínimo encontra-se afixado no país em 13 mil ECV, cerca de 117€. A economia informal permite
complementar o rendimento familiar e, muitas das vezes, é daí exclusivo.
6
Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde, evento anual que acontece na ilha de São Vicente.
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
257
Inês Alves, Lara Plácido
7
Em 2016, saiu um estudo em como, no ano de 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixes.
8
“A condição insular de Cabo Verde conduz a uma realidade de construção muito particular. O isolamento das
ilhas leva a custos de importação muito elevados. Por isso, a medida indispensável é a auto-suficiência. Os
altos custos de importação poderão ser a motivação para produzir e conduzir naturalmente a soluções mais
viáveis em termos ecológicos e de respeito ambiental.” in Arquitectura Sustentável em Cabo Verde (Manual
de Boas Práticas). CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Coord. Manuel Correia Guedes. p.13
258 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
II.
Fig. 1. As ilhas de Cabo Verde. (SCHLEY BELLIN 1758)
9
“Cabo Verde atravessa, uma vez mais, ao longo da sua história de 5 séculos, um período difícil, de prolongadas
secas e consequente crise da produção agrícola, com extensão sem precedentes conhecidos, agravada pelo
explosivo crescimento populacional, com um excedente demográfico superior a 100 mil habitantes. (...) A
população está confiante e tranquila porque sabe que o indispensável apoio não lhe faltará. Trabalha com
coragem, resignação e fé em dias melhores. Coragem, resignação e fé que aqui fixaram à terra os seus
antepassados, lutando e vencendo as dificuldades duma natureza plena de contrastes. Acrescentam-lhe
hoje uma certeza, o saberem que podem continuar a viver tranquilos e que não lhes faltará o essencial.”
in SANTOS, António Lopes. (1970). Problemas de Cabo Verde - Situação Controlada. Agência do Ultramar.
Lisboa. p.72
10
Sobre a Situação em Cabo Verde, Relatório do PAIGC (apresentado ao Comité de Descolonização da ONU, a
29 de Março de 1974 em Nova Iorque por Abílio Duarte) Editora Sá da Costa. Lisboa. (p.21)
11
CARREIRA, António (1984) Cabo Verde (Aspectos sociais, Secas e Fomes do século XX) Ulmeiro. Lisboa. (1977;
260 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
em como “não há futuro para Cabo Verde.” (FREYRE 1952: 238) Em 1967, o au-
tor português e com fortes ligações a Cabo Verde, Manuel Ferreira, elencava
uma sucessiva listagem de conhecidas críticas a Portugal com base no estado
de esquecimento desse território insular: “António Pusich em 1808. Chelmichi
em 1841. Emmanuel Friedlander em 1914. João de Almeida em 1925. Humberto
Duarte Fonseca em 1961. Cada um a seu modo operou a denúncia e apontou
caminhos para a solução da miséria em Cabo Verde. E quantos o não fizeram
antes? Antes e depois?” (FERREIRA 1967: 28)
A história de Cabo Verde recorda-nos a forma como Portugal se foi descui-
dando de intervir no momento em que o território passou a deixar de dar retorno
financeiro, factor impulsionado com a abolição da escravatura, altura a partir
da qual deixou de ser possível uma exploração do terreno através do algodão
12
que, por exemplo, era produzido e tecido com recurso a mão de obra escrava.
Mesmo nos longos períodos de estiagem que, devido à fragilidade socioeconó-
mica resultou em duras épocas de fome, a metrópole foi intervindo no sentido
da construção de estradas, empregando a população subnutrida com um custo
de mão de obra irrisório ou, então, promovendo a imigração para São Tomé para
onde massas populacionais partiam com contratos miseráveis e onde acabavam
por regredir na sua condição humana, devido ao tratamento escravocrata que
recebiam nas roças do Sul.
13
A fragilidade das estruturas socioeconómicas do país advêm desta irregu-
laridade que oscilou entre o modelo escravocrata e o abandono latente, isto, a
par de um microclima muito particular em que “as secas (...) umas prolongadas,
outras curtas, são causadas por fenómenos atmosféricos influenciados pelo
deserto Sahara, cuja superfície tem aumentado assustadoramente nas últimas
décadas (...) daí que se possa falar da saharização da própria área costeira do
continente africano (...) dentro de algumas gerações a zona costeira será atingi-
14
da pela desertificação.” (CARREIRA 1977: 129-130)
132)
12
“A cultura do algodão começou a fazer-se na ilha de Santiago logo a que esta chegaram os primeiros
colonos italianos com pretos da Guiné. No século XV já se exportava bastante e no século XVI os navios
iam recebê-lo também à ilha do Fogo, onde já se tratava da sua cultura a larga escala. Era com o algodão
cultivado ali durante aqueles séculos e posteriores que se fabricavam milhares de panos, com os quais
se adquiriam por compra negros da Guiné.”, in Barcelos, Cristiano José de Senna. (1912). Subsídios para a
História de Cabo Verde e Guiné. Tipografia da Academia Real das Ciências. Lisboa
13
“As infra-estruturas económicas foram desde sempre (...) extremamente débeis.” in CARREIRA, António. (1984)
Cabo Verde (Aspectos sociais, Secas e Fomes do século XX) Ulmeiro. Lisboa. p. 182
14
“Degradação do ambiente climático: notória irregularidade das chuvas; avançado processo de erosão das
terras provocadas pelas enxurradas (quando chove) e pela acção dos ventos, facilitada pela ausência de
cobertura vegetal do solo (desarborização progressiva). Do fenómeno tem resultado a perda das melhores
camadas de terras, arrastadas para o mar pelas enxurradas ou pelos desnudamentos das encostas e montes
devido às fortes ventanias em certos períodos do ano.” Ibidem, p.189
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
261
Inês Alves, Lara Plácido
15
Ibidem, p.122.
262 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
16
Ibidem, 156-157.
17
“As mulheres cabo-verdianas deixaram de ter o estatuto secundário nas migrações. (...) As mulheres têm
tido um papel fulcral na consolidação das dinâmicas migratórias transnacionais.” in As Mulheres em Cabo
Verde: Experiências e Perspectivas, Conferência Internacional, Relatório Síntese. Praia. 2010. p.21
18
“terra grande onde os cabo-verdianos viviam bem, quase como os franceses, com trabalho fácil, bastava ver
as encomendas que mandavam aos familiares” in Almeida, Germano. (2001). As Memórias de um Espírito.
Ilhéu Editora. Mindelo. p. 216
19
Uma revolta protagonizada pelas mulheres da localidade contra as relações laborais e as condições de
sobrevivência na época colonial, no ano de 1910.
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
263
Inês Alves, Lara Plácido
20
presença circunstancial. À mulher cabia a sobrevivência dos filhos.” Ou seja,
a forma como as relações em torno do género se desenvolveram, foram edifica-
das com base nas figuras do colonizador e do colonizado, bem como em torno
da imagem patriarcal, modelo no qual também a igreja acabou por concorrer, e
onde a mulher na sua condição de subjugada e inferior se viu inevitavelmente
afectada. Por consequência, podemos verificar que “a autoridade do homem
estende-se a todos os níveis da vida social, pública e privada.” (QUEIROZ 2010:
21
35) E esta é uma realidade que se estende até aos dias de hoje. No relatório da
Conferência Internacional “As Mulheres em Cabo Verde: Experiências e Perspec-
tivas” realizada na cidade da Praia em 2010 é referido que “o princípio da igual-
dade de direitos entre homens e mulheres não passa de uma mera formalidade.
Na prática, as mulheres continuam alvos de discriminação social (...) A mulher
continua tendo uma fraca participação política e social, não só pelo facto de ser
22
excluída do sistema político mas, sobretudo, por se auto excluir do mesmo.”
A falta de perpectiva de vida tem uma dimensão que lhe é transversal, e que
tal como víamos, se estende entre a baixa escolaridade, subjugação a relações
fugazes pelo entendimento da realização pessoal por meio exclusivo da materni-
dade, cumprimento da função de chefe de família sem que as condições mínimas
de trabalho, de habitabilidade, ou de vida em geral sejam cumpridas, etc. Com a
agravante de que toda esta condição se assume por herança geracional que se
23
perpetua entre mães e filhas, avós e netas.
A emigração confirma-se como um formato de ruptura a esse modelo que
tende a existir de forma generalizada ― não só nos principais núcleos urba-
24
nos, como também nos meios mais isolados. Nesse processo, ao apreender
20
No romance “A Matriarca” (DUARTE 2017) é desenvolvido um raciocínio por uma das personagens em torno
de um caso de infidelidade acabando por afirmar que: “A gente fala sempre do machismo cabo-verdiano
mas esquece-se de ver o outro lado da moeda. A nossa origem como sociedade escravocrata projecta-se
no comportamento dos homens mas também no das mulheres. Antigamente as escravas ou criadas eram
usadas e abusadas pelos patrões e mesmo pelos seus companheiros.” (p.93)
21
Trata-se de uma “sociedade de características acentuadamente patriarcais onde o masculino continua a ser
associado à virilidade, enquanto o feminino é visto como mais ligado à sociabilidade e ao humanismo restando
uma idealização matriarcal como sinônimo de independência feminina.” (ALVES & PEKALA 2018; p. 109)
22
“As Mulheres em Cabo Verde: Experiências e Perspectivas”, Conferência Internacional, Relatório Síntese.
Praia. 2010. p.20
23
“Essas mulheres de uma força extraordinária, com filhos, netos (e por vezes até bisnetos) a seu cargo, que
lideram um número notável de famílias, buscando alimento muitas das vezes na economia informal, que é
ainda hoje muito expressivo em Cabo Verde; elas atuam como vendedoras de frutas, de peixe, de queijo, de
pastel, donete ou sucrinha 5. São elas, algumas já de avançada idade, que ficam na porta das suas casas,
de alguma forma escondendo o seu canhoto 6 que fumam enquanto observavam o movimento do dia,
sozinhas e serenas. Mulheres fortes que, ora atravessam a cidade de uma ponta à outra atrás de freguês
para a sua venda. Quando mais velhas, parecem tudo ver, com seus olhares impenetráveis, enquanto fumam
o seu cachimbo. O papel central da mulher na sociedade cabo-verdiana, portanto, é o da matriarca no que
diz respeito ao referencial a ser respeitado e perpetuado quando nos referimos à parcela da população
feminina das ilhas.” (ALVES & PEKALA 2018: 108)
24
“A vida sexual em ambos o sexo, em especial nas áreas urbanas e suburbanas das concentrações mais
significativas, começa muito cedo. (...) E esse comportamento vai-se estendendo às áreas rurais pela grande
264 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
III.
Fig. 2. Boletim Geral das Colónias nº 45 (1929)
Tal como víamos, a chegada à ilha de Santiago por parte dos portugueses
originou a instalação do seu primeiro aglomerado em África, na Ribeira Grande,
actual Cidade Velha. “Os primeiros assentamentos litorais cederam lugar aos
núcleos urbanos mais significativos, primeiro a Ribeira Grande e depois a Praia.
A partir destes desenvolveram-se penetrações para os terrenos de cultivo do
interior onde se localizaram posteriormente outros aglomerados como a Vila da
Assomada. Contudo, foi a capacidade de utilização deste território como base
de apoio à navegação mercante que impulsionou o crescimento económico
e afirmou inicialmente o protagonismo da ilha no contexto regional.” (PADRÃO
2016: 17)
facilidade de movimentação de pessoas, permitida pela rede de viação (Santiago, por exemplo).” (CARREIRA
1977: 191)
25
“A vida não é maior que uma pupila dos teus olhos”, expressão repetida por um personagem do conto
“O Jamaica Zarpou” (MANUEL LOPES 1984), que conta a história de um jovem que foge do oil tanker que o
contratou por não ter vontade de abandonar a ilha de São Vicente.
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
265
Inês Alves, Lara Plácido
26
CARREIRA António (1984) Cabo Verde (Aspectos sociais, Secas e Fomes do século XX) Ulmeiro. Lisboa. p. 58
266 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Ainda hoje apelidada de “Porto” pelos seus residentes, está ainda presente
na memória dos mais velhos, a importância que este território teve antes da
independência do país, tendo sido apenas ultrapassado aquando das obras de
melhoria no porto da cidade da Praia.
À semelhança do resto do arquipélago, a fragilidade das estruturas de outro-
27
ra refletem-se no estado actual do território. Vem-nos à memória um possível
paralelismo com a decadência do Porto Grande, na ilha de São Vicente, entregue
aos ingleses para exploração como entreposto carvoeiro para fornecimento das
embarcações. Estes, que instalaram no Porto Grande os primeiros depósitos de
carvão em 1934 (TEIXEIRA DE SOUSA 1984), pagavam um imposto paralelamente
investido em edifícios públicos, mas que, no entanto, não impediu a vaga de fome
dos anos 40, intensificada pela queda do Porto Grande por falta de apetrecha-
28
mento quando comparado com os portos de Dakar e Canárias. A par disso, a era
do carvão, terminava. A globalização foi intensificando, como sabemos, o hiato
económico/social/humano existente no mundo. E Cabo Verde não foi excepção.
Apesar do movimento descendente protagonizado pelo Porto Grande, pesa o fac-
to de se situar na segunda principal cidade do país e que, portanto, está sob olha-
29
res atentos, interna e externamente. Sob uma outra perspectiva, encontra-se o
Porto da Ribeira da Barca que, ao perder importância para o porto da cidade da
Praia, leva as suas gentes em busca de outros meios de subsistência.
A vila piscatória foi crescendo a Este, para o interior da ribeira e paralela-
mente a si, acompanhando a via de acesso à cidade da Assomada numa cota
superior. Delimitada a Norte pela rocha que Sena Barcelos nomeava de Ponta
Pedroso, conseguiu ainda expandir-se para Sul, contornando e subindo a rocha,
penetrando por uma ribeira secundária ― que desagua no único ponto da praia
onde ainda existe areia ― e em direcção à zona do Charco. Historicamente, tra-
ta-se de um povo de forte ligação com o mar, que ainda se revela na actividade
masculina predominante: a pesca, ainda que as condições actuais para a sua
prática não se verifiquem como sendo as melhores.
O boom populacional e construtivo dos anos 60 um pouco por todo o país ― e
intensificado com o pós-independência de 1975 ― introduziu na Ribeira da Barca
uma oportunidade económica principalmente para as mulheres que antes se
limitariam às lides domésticas, educação dos filhos e venda do peixe.
27
“Tudo ali é precário e instável, tão precário e tão instável que de século para século vem empobrecendo,
assistindo-se à ruína de indústrias como as da panaria e dos couros, culturas como a do algodão e do vinho,
outrora verdadeiras fontes de riqueza, sem que talvez outras de igual importância as tivessem substituído
na economia do arquipélago.” (FERREIRA 1967: 49)
28
Também no Porto Grande se verificou o arrombamento dos armazéns da alfandega pela população que se
via comandada pelo Capitão Ambrósio, figura ainda hoje aclamada pela cidade, mas que acabou deportado
para as roças de Angola.
29
E onde, como víamos de início, se tem verificado investimento turístico, sem que isso implique propriamente
um abrandamento dos hiatos económico/social/humano existentes.
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
267
Inês Alves, Lara Plácido
30
Em que referíamos ser a indústria da construção responsável pelo consumo de cerca de 60% dos recursos
naturais no mundo.
31
“praias despidas de areia e acabrunhadas por calhaus rolados, áreas agrícolas ameaçadas pelo arrasamento da
base de sustentação e possibilidade de contaminação do lençol freático pela salinização.” (GOMES 2011: 20)
32
Na tese defendida por Samuel Gomes (2011) sobre a “Avaliação de Impacte de Apanha e Extracção de
268 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
“Não é mesmo um lugar bom para nós. Não é direito para nós, principalmente, por-
que aquele fumo de terra. É mau para todas aquelas mulheres que estão dentro da
ribeira. Para nós todas. Mas não... não temos mais nada para agarrar. Não temos um
trabalho para dizermos “vamos trabalhar que é para sair de lá”. (...) Quando comecei
a tirar... foi para nos ajudar a pôr os filhos na escola.”
excerto da entrevista à d. Joaninha
Inertes na Ribeira da Barca”, o autor refere entre um sem número de factores, para as faixas costeiras, a
“perturbação da fauna e da flora costeira, a destruição do habitat utilizado pela fauna marinha e costeira,
nomeadamente, espaço para a desova das tartarugas”; para o leito de ribeira, refere a “destruição da
terra viva, do solo e da matéria orgânica; aceleração de processos erosivos; a alteração dos sistemas de
drenagem superficial e subterrânea; poluição do solo e da água superficial e subterrânea; processo das
intrusões salinas” e a “instabilidade nas infra-estruturas de correcção torrencial, nomeadamente, diques
nas ribeiras”. (GOMES 2011; 15)
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
269
Inês Alves, Lara Plácido
“Trabalho não há. Espero que a minha vida mude. Já tenho 31 anos e continuo na
mesma situação. (...) Não tenho nenhum emprego, nem tenho ninguém que me ajude.
Mas aqui na ribeira um "galucho" é 3 contos. Trabalho pesado. Às vezes estás com
fome e trabalhas na mesma, mas... o condutor não dá valor ao teu trabalho. (...) Não
precisávamos ficar só a apanhar areia... Mas nós estamos lá porque não há outro
trabalho. Mas se houvesse outro trabalho, não apanhávamos areia no Charco.”
excerto da entrevista à Edna
33
Decreto-Lei nº 2/2002, de 21 de Janeiro
34
Nome dado aos veículos Toyota Dyna.
270 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
34
Com a chegada dos portugueses a Cabo Verde deu-se “A instalação do artesanato de “panos” e de “roupas”
nas ilhas transformou profundamente a economia local. (...) Com a espassez da moeda, os panos de Cabo
Verde passaram a exercer a função de moeda” (CARREIRA 1983, pp.29-30)
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
271
Inês Alves, Lara Plácido
Fig. 6. A lajeta de pavimento com forma estilizada do panú di téra e com diferentes
pigmentações. (Acervo impact, 2021)
Resta-nos incorporar uma resistência que não nos é intrínseca para que pos-
samos, à impossibilidade de consertar o passado, pelo menos contribuirmos
para um agora mais digno, ainda que pegando numa pontinha de terra como
aquela que é o Porto da Ribeira da Barca, e a partir das suas mulheres, as cuida-
doras da comunidade por excelência.
“No meio rural, todos os trabalhos que provocam a degradação da paisagem e to-
das as modificações nas estruturas económicas e sociais devem ser cuidadosamen-
te controladas, a fim de preservar a integridade das comunidades rurais históricas
no seu quadro natural.”
Conferência Geral da UNESCO, Nairobi 1976
REFERÊNCIAS
ALVES, Inês; PEKALA, Madalena de Fátima Zaccara (2018). Mulheres, arte & poder:
um olhar sobre Cabo Verde, In Anais do 27o Encontro da Associação Nacional
de Pesquisadores em Artes Plásticas, 27º, São Paulo. Anais do 27º Encontro da
Anpap. São Paulo: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Artes, pp.
104-117
BARCELOS, Cristiano José de Senna (1912). Subsídios para a História de Cabo Verde e
Guiné. Tipografia da Academia Real das Ciências. Lisboa
BARCELOS, Cristiano José de Senna (2020). Roteiro do Archipelago de Cabo Verde.
org. Wlodzimierz J. Szymaniak e José Silva Évora. Livraria Pedro Cardoso. Praia
(Lisboa, 1892)
CABRAL, Amílcar (1974). Análise de Alguns Tipos de Resistência. Colecção de leste a
oeste. Seara Nova. Lisboa.
CARREIRA, António (1984). Cabo Verde (Aspectos sociais, Secas e Fomes do século
XX). Ulmeiro. Lisboa.
CARREIRA, António (1983). Panaria Cabo-Verdeano-Guineense (Aspectos históricos e
sócio-económicos). Instituto Caboverdeano do Livro. Mem Martins.
O CONTEXTO CABO-VERDIANO COMO PONTO DE PARTIDA PARA UMA URGENTE REINVENÇÃO DOS RECURSOS
275
Inês Alves, Lara Plácido
DUARTE, Vera (2017). A Matriarca - Uma estória de mestiçagens. Livraria Pedro Car-
doso. Praia
FERNANDES, Sérgio Padrão (2016). Cidades Imaginadas nos Planos de Urbanização -
Cabo Verde 1934-1974. Argumentum. Lisboa
FERREIRA, Manuel (1967). A Aventura Crioula. Editora Odisseia. Lisboa
FILHO, João Lopes (1981). Cabo Verde: Subsídios para um Levantamento Cultural.
Plátano Editora. Lisboa.
FORTES, Celeste. (...). “As vendedeiras de Cabo Verde: circulação de produtos, infor-
malidade e mulheres no espaço público de Cabo Verde”.
FREYRE, Gilberto (1952). Aventura e Rotina. Edição Livros do Brasil. Lisboa.
GOMES, Samuel Fernandes (2011). Avaliação de Impacte de Apanha e Extracção de
Inertes na Ribeira da Barca – Ilha de Santiago – Cabo Verde. Instituto Superior
de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.
Gonçalves, António Aurélio (1957). Seroantropologia das Ilhas de Cabo Verde e a
Mesa Redonda sobre o Homem Cabo-verdiano. Almerindo Lessa e Jacques Ru-
ffié. Lisboa.
GUEDES, Manuel Correia (coord). Arquitectura Sustentável em Cabo Verde (Manual
de Boas Práticas). CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
LOPES, Manuel (1951). Meios Pequenos e a Cultura. Faial.
MONTEIRO, Eurídice Furtado (2016). Crioulidade, colonialidade e género: as repre-
sentações de Cabo Verde in Rev. Estud. Fem. vol.24 no.3 Florianópolis Sept./Dec.
QUEIROZ, Sonia Maria Alves (2010). Literatura e representação social das mulheres
em Cabo Verde: vencendo barreiras. Dissertação de Mestrado. Universidade de
São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literatura
de Lingua Portuguesa
SANTOS, António Lopes (1970). Problemas de Cabo Verde - Situação Controlada.
Agência do Ultramar. Lisboa.
“As Mulheres em Cabo Verde: Experiências e Perspectivas”, Conferência Internacio-
nal, Relatório Síntese. Praia. 2010
“Sobre a Situação em Cabo Verde, Relatório do PAIGC” (apresentado ao Comité de
Descolonização da ONU, a 29 de Março de 1974 em Nova Iorque por Abílio Duar-
te) Editora Sá da Costa. Lisboa.
REDE DE ALDEIAS DE MONTANHA: UM TERRITÓRIO E UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO RURAL INTEGRADO
277
Célia Gonçalves
eduardo
lourenço
2020
ÁNGEL MARCOS DE DIOS
Professor e Escritor
CARLOS ALBERTO CHAVES MONTEIRO
PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DA GUARDA
Cabe-me a honra e a alegria de, hoje e aqui, fazer o elogio do Doutor Dom
Ángel Marcos de Dios, Professor Catedrático da Universidade de Salamanca, a
quem a instituição que nos acolhe, o Centro de Estudos Ibéricos, sob os auspí-
cios do seu patrono – o muito admirado e saudoso Professor Eduardo Lourenço
–, concedeu, justa e merecidamente, o XVIº Prémio Eduardo Lourenço, edição
do ano de 2020.
São sobejamente conhecidos, e foram oportunamente reconhecidos, os mé-
ritos de Dom Ángel Marcos de Dios, cujos 50 anos de carreira académica pros-
seguida na Universidade de Salamanca se pautaram, ampla e decididamente,
por uma «relevante intervenção no âmbito da cultura, cidadania e cooperação
ibéricas». Como docente, com um longo magistério de língua e literatura portu-
guesas. Como investigador, tendo incidido sobre temas de eleição que vão da
história e arquivo dos estudantes portugueses na Universidade de Salamanca –
do século XVI ao século XVIII –, passando pelo estudo das relações interliterárias
peninsulares nos séculos áureos – com especial destaque para Camões –, até
aos profundos vínculos que uniram Miguel de Unamuno a Portugal – tanto como
intérprete da nação e cultura portuguesas, como leitor de, entre muitos outros,
Camilo Castelo Branco ou Antero de Quental. Enfim, uma «intervenção relevan-
te», a de Dom Ángel Marcos de Dios, como responsável e gestor académico da
Área de Filologia Galega e Portuguesa, em cujo âmbito criou uma pioneira Licen-
ciatura em Filologia Portuguesa, pioneirismo posteriormente reeditado – e que
define a actualidade da mencionada área de estudos – com a criação e vigência
de uma Graduação em Estudos Portugueses e Brasileiros.
Uma ‘vida’, pois, a de Dom Ángel Marcos de Dios, dedicada a Portugal e sig-
nificando as letras e culturas de língua portuguesa em Espanha – sem esquecer
uma actividade proeminente como tradutor de obras portuguesas de referência
292 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
e obrigada recordação, quero sublinhar, também mais uma vez, as suas qualida-
des humanas.
O Prémio que me foi atribuído nesta edição é também, em verdade, um re-
conhecimento à Universidade de Salamanca, a única instituição de ensino su-
perior no território espanhol com um Grau autónomo em Filologia Portuguesa,
conformado em 2010 em Grado de Estudos Portugueses e Brasileiros. A minha
condição de professor de língua, literatura e cultura portuguesas é a razão última
deste amor e conhecimento de Portugal, ainda que tenha nascido numa terra a
não mais de dez léguas da fronteira.
Tenho assim que referir-me às estreitas relações que vinculam a Universida-
de de Salamanca e Portugal, relações nas quais investi muitas horas de estudo,
e que podem ser substanciadas fundamentalmente em dois temas. Por um lado,
as relações históricas desta universidade com Portugal e, por outro, a figura de
Miguel de Unamuno na sua íntima e constante conversa com o povo irmão.
Y ya, como quería y practicaba Unamuno en Portugal, continúo en español,
porque españoles y portugueses nos entendemos en nuestras respectivas len-
guas. Sí, Unamuno, el español que más ha amado -y sentido- a Portugal, al pue-
blo llano, instando a la cooperación mutua, como moradores y depositarios de
una misma realidad que es la península.
Al tratar el primero de los aspectos aquí enunciados, tengo que referirme,
sucintamente, también a Salamanca como ciudad. Desde la Reconquista hasta
los tempos más recientes Salamanca ha sido un referente para Portugal y para
la tierra fronteriza en que nos encontramos. Con la repoblación del siglo XI, des-
pués de la expulsión de los árabes y por obra del conde don Raimundo, junto con
otros repobladores, se establecen en la ciudad del Tormes bragancianos y por-
togaleses, entre los que destacan muchos conimbricenses a las órdenes de don
Godinho, y que dan origen a las primeras parroquias de Salamanca: San Pablo,
Santo Tomás Cantuariense y San Esteban (donde se construiría el futuro conven-
to de los dominicos, en el que residirían a partir de la creación de la universidad
dominicos portugueses, por estar Portugal vinculado a la provincia eclesiástica
dominicana de Castilla).
Los reyes don Afonso Henriques, en 1163, y don Dinis, en 1295 (ya con el
Studium Salmanticense plenamente constituido y con escolares portugueses en
sus aulas), llegaron a apoderarse de Salamanca, poniendo fin a esta situación el
tratado de Alcañices.
En 1272 fue nombrado obispo de Salamanca don Ordonho Álvares, al parecer
hijo de Álvaro Dias y de doña Teresa Pires, portugueses. Y el que con seguridad
fue portugués y obispo de Salamanca es don Pedro de Castro, hijo de don Dinis
de Alemcastre y de doña Beatriz de Castro, condesa de Lemos, que permaneció
en esa sede episcopal durante una década, siendo más tarde transferido a la
diócesis de Cuenca donde murió en 1561.
PRÉMIO EDUARDO LOURENÇO
297
2021
1
Los consiliarios, elegidos entre estudiantes de prestigio de su región o demarcación geográfica, asistían
al Claustro General de la universidad con voz y voto, entre cuyas funciones, además de la defensa de sus
representados en asuntos académicos, participaban en la elección de los sustitutos de cátedras vacantes.
2
Utilizando esa documentación fragmentaria (libros de Claustros…) Joaquim Veríssimo Serrão reúne unos
novecientos lusitanos en estos tres siglos (Portugueses no Estudo de Salamanca (1250-1550), Lisboa, 1962).
También debemos dar noticia de los documentados estudios de Armando de Jesus Marques Portugal e a
Universidade de Salamanca (1503-1512), Salamanca, Universidad de Salamanca, 1980, y “Portugueses nos
Claustros Salmantinos do século XV”, Revista Portuguesa de Filosofia, XIX, 1963,137-168.
298 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
3
Es de obligada consulta en este aspecto la obra de Enrique Esperabé de Arteaga, Historia pragmática e
interna de la Universidad de Salamanca, 2 vols., Madrid, Gredos, 1914.
PRÉMIO EDUARDO LOURENÇO
299
2021
4
Es útil consultar en este sentido las siguientes obras de Augusto da Silva Carvalho, Dicionário dos médicos
e cirurgiões portugueses ou que estiveram em Portugal, 10 vols., manuscrito del que se conservan tres
ejemplares en la Academia das Ciências de Lisboa (Res. 49.1/10); y las publicadas: A medicina portuguesa no
século XVII, sep. de Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, 1907; Amato Lusitano. A sua vida e a sua
obra, Lisboa, 1907; Zacuto Lusitano. A sua vida e a sua obra, Porto, Eduardo Tavares Martins, 1909; Estudos
de história da medicina peninsular, Porto, 1916. Y también: Maximiano de Lemos, História da medicina em
Portugal, 2 vols., Lisboa, Manuel Gomes, 1899.
300 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
“Es una obra de amor y de cultura hacer que Portugal y España se conozcan mutua-
mente. Porque el conocerse es amarse. El conocimiento engendra amor y el amor
5
conocimiento. Son en el fondo una sola y misma cosa vista por fuera o por dentro” .
Y en un artículos sobre el mismo autor confiesa: ”En esta bendita tierra de Camoens
aprendí la intimidad ibérica; en trato íntimo con los grandes lusitanos de sobre el
6
tiempo, me acostumbré a poder pensar y sentir en portugués”
Un año antes morir, en el último viaje que realiza a Portugal, en artículo “Junto
al Cabo de la Roca” (1935): “Y aquí estoy en este pueblo [de Portugal], en que
7
aprendí a querer, a admirar y a compadecer” .
Con ocasión de la Primera Gran Guerra escribe dos artículos en defensa de
Portugal y contra los germanófilos españoles a los que califica de trogloditas, por
su no disimulado anhelo de anexionarse a la nación hermana: “La unión moral
ibérica sólo puede establecerse bajo un régimen de voluntad nacional, de sobe-
ranía popular. Y a este régimen se opone la germanofilia española disfrazada de
8
neutralidad incondicional y a todo trance y costa” .
Sus escogidas relaciones con la intelectualidad portuguesa (prueba, sus ar-
tículos y su epistolario con más de 70 correspondientes), no le desvían de su fin
5
Carta a Teixeira de Pascoaes, en Epistolario Ibérico. Cartas de Pascoaes e Unamuno, ed. da Câmara Municipal
de Nova Lisboa (Angola), 1957, p. 22.
6
Miguel de Unamuno, Obras Completas, Madrid, Escelicer, 9 vols., 1966-1971. La presente cita corresponde al
artículo “Cartas al amigo. XIII. A Teixeira de Pascoaes, portugués ibérico” (1934), de estas Obras Completas,
vol. VII, pp. 1043-1045. En adelante todas las citas de Unamuno aparecerán, bajo la signatura OC, especifi-
cando también el título del artículo o ensayo, revista o libro, año de publicación, etc., para que el lector, con
la lectura del texto completo, pueda contextualizar cada una de ellas.
7
OC, I, p. 720.
8
Los artículos en cuestión, casi repetitivos, son: “Portugal independiente”(1917), Álbum de la Guerra. Los
aliados en 1917, Barcelona, A. Artis, 1917; “Deber de España para con Portugal” (1917). España, núm. 124,
07/06/1917.
PRÉMIO EDUARDO LOURENÇO
301
2021
9
“Guarda”, 1908; OC, I, p. 239.
10
“La literatura portuguesa contemporánea”, 1907; OC. I, pp. 190-191.
11
O.C, VI, p. 1132. En carta a Azorín, del 13.11.1907, repite literalmente el mismo juicio: “Un día se me escandalizó
uno porque coloqué a Oliveira Martins entre Michelet, Carlyle, Macauley, etcétera. Y le añadí: ¡Sí, y Camilo
Castelo Branco ha sido uno de los más grandes novelistas europeos del siglo XIX! ¡Ya ve usted un portugués!
¡Ni siquiera un español…!” (El País, domingo 4 de enero de 1981, p. 8/Libros).
302 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Pelayo, el historiador más artista que dio en el pasado siglo la Península Ibérica,
sino el único historiador de ella que merece tal nombre. Es decir algo más grande
y más hondo que un artista. Este hombre es una de mis debilidades. ¡Cuánto he
aprendido en esa su obra triste, como él mismo la llama!
“Mucho os diría sobre el genio peninsular, y cómo él abarca y corona lo es-
pañol y lo portugués; pero cuanto pudiera yo deciros a tal respecto lo dijo egre-
giamente Oliveira Martins, de quien Menéndez y Pelayo decía que fue el histo-
riador más artista que ha tenido la Península en el pasado siglo, y yo creo que el
único historiador artista de ella. El más artista y el más penetrante. Su fantasía
llegó a profundidades a que la fatigosa y fatigada ciencia de otros no ha llegado.
Su História da civilização ibérica debería ser un breviario de todo español y de
todo portugués culto, y no debía haber tampoco americano, de los que a menudo
buscan en nuestra historia y casta los antecedentes de la suya, que no conociera
ese libro admirable. En vez de repetir una vez más los lugares comunes respecto
a lo que fue el alma española en los tiempos del descubrimiento y conquista de
América, bueno fuera ir a buscar en libros como el de Oliveira Martins riquísimas
sugestiones. En sus breves páginas se encuentra más doctrina, más sociología y
más psicología que en muchos tomos cargados de noticias. No conozco ninguno
de los famosos estudios de personaje de Taine, sus estudios sobre Robespierre,
Danton, Marat, Napoleón, en los Origines de la France contemporaine, sobre los
poetas ingleses, sobre Lafontaine, sobre Balzac, etc. que supere al estupendo
capítulo de la História da civilização ibérica, en que Oliveira Martins estudia a Íñi-
go de Loyola. Y leed también su Vida de Nuno Álvares, el condestable, y repasad
luego las estrofas de fuego que en boca de este guerrero asceta pone Guerra
12
Junqueiro en su Pátria”.
Autores tan poco valorados hoy, como Guerra Junqueiro, Teixeira de Pas-
coaes o Eugénio de Castro, con los que le unió una estrecha amistad (la amistad,
para Unamuno, no fue un valor ocasional: siempre la cultivó y la agradeció pú-
blicamente), también fueron ampliamente elogiados y sobre todos ellos escri-
bió artículos individualizados y altamente elogiosos. Del primero de ellos llegó a
emitir juicios que hoy nos sorprenden profundamente: Guerra Junqueiro es “el
primero de los poetas portugueses de hoy y uno de los mayores del mundo”; “el
más grande lírico portugués entre los vivos y uno de los mayores hoy del mun-
do”; de Teixeira de Pascoaes: “Hubiérase este libro [“Las sombras"] publicado
en francés por cualquier artífice literario -aunque uno de estos no podría haber-
lo hecho- del bulevar, con amigos en el cotarro del Mercure que se lo hubiese
jaleado, y a estas horas empezaría a tener imitadores por esas tierras. Pero se
trata de un oscuro poeta portugués que vive su vida y sus cantos a orillas del
humilde Tâmega, en el dulce retiro de Amarante”; de Eugénio de Castro: “Pero
12
“Desde Portugal”, 1908; OC, I, p. 207.
PRÉMIO EDUARDO LOURENÇO
303
2021
no supieron ver eso [lo vernacular] sus contemporáneos [de Eugénio de Castro],
que lo encontraban poco castizo, cómo por debajo de las galas de la literatura
13
que llamaré internacional, palpita el espíritu más arraigadamente portugués”
De alguna manera, las obras de estos autores (en el caso de Eugenio de Castro
solamente Constança) y de otros, como se verá más adelante, tienen mucho de
arquetipos, de representantes de la tierra y de la raza: los criterios unamunianos
estaban condicionados por los valores genuinos y autóctonos.
Son inolvidables a lo largo de toda su obra ensayística las evocaciones de
Antero: “Se suicidó Antero de Quental, el de aquellos terribles y lapidarios so-
netos en elogio de la muerte, de la muerte ‘hermana del amor y de la verdad’,
‘funérea Beatriz de mano helada, pero única Beatriz consoladora’; de la muerte,
‘hermana coeterna de mi alma’; de la muerte, en cuyo seno pensaba dormir ‘en
la comunión de la paz universal’. ‘Crimen grande será tal vez llamarte – decía
–; mas no soñar contigo y adorarte. No-ser que eres Ser único absoluto.’ ¡Este
hombre fundamentalmente bueno – decía de Antero su amigo Oliveira Martins
–, si hubieses vivido en el siglo VI o en el siglo XII, sería uno de los compañeros
de san Benito o de san Francisco de Assis; en el siglo XIX es un excéntrico más,
de ese corte de excentricidad que es indispensable, porque a todos los tiem-
pos les fueron indispensables los herejes’. Antero, con sus hermanos Obermann,
Thomson y Leopardi, Kierkegaard – no más intensos en la desesperación que él
– duerme para siempre. Su corazón, libertado ya, duerme su sueño en la mano
14
de Dios, eternamente”.
“Próximamente publicaré – y recibirá usted [Juan Zorrilla de San Mar-
tín] – mi Rosario, de sonetos líricos (más bien trágicos), entre los que usted
verá desahogos de mi pesimismo. Me dicen que algunos recuerdan los de Quen-
tal. Este Quental, y Leopardi, Thomson, Pascal, Obermann, Kleist. Kierkegaard,
15
René, Couper, Mathew, Arnold, etc. ¡son mi consuelo!”
Si Guerra Junqueiro y también Teixeira de Pascoaes y Eugénio de Castro,
entre otros muchos, le brindaron su sincera amistad (y hospitalidad en Portugal),
Laranjeira (al que conoció en unas vacaciones en Espinho) le encarnaba, en car-
ne y hueso presente, a Antero de Quental, quizás el portugués más admirado por
el autor de Del sentimiento trágico de la vida. “¡Pobre Laranjeira! Le conocí en el
verano de 1908 en Espinho, donde ejercía por caridad hacia sus prójimos, y casi
siempre desinteresadamente, la medicina. Anudamos una estrecha amistad que
ni la muerte, así lo espero, ha cortado. Reconocí en él a uno de los más típicos
productos de su país y de su tiempo, a un alma ansiosa de suprema libertad, de
13
Art. “Eugenio de Castro”, 1907; OC, I, p. 186.
14
Art. “Un pueblo suicida”, 1908; OC, I, p. 244.
15
Apud Manuel García Blanco, “El escritor uruguayo Juan Zorrilla de San Martín y Unamuno”, Cuadernos
Hispanoamericanos, Madrid, 1954, pp. 46-47. Para el Soneto LXXVI eligió el lema "Na mão de Deus, na sua
mão direita", título de uno de los sonetos del portugués.
304 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
eterna dicha, que sufría en la vida. Una especie de patriotismo cósmico y una de-
sesperanza de la finalidad humana del universo, todo ensombrecía su alma. Tra-
bamos correspondencia epistolar discutiendo en ella nuestro distinto modo de
protestar contra el destino. Y predije muchas veces cuál habría de ser su muerte.
He acertado, no sé si por desgracia o por fortuna. Lo que sé es que mientras unos
protestan con su muerte otros protestamos con la vida. Y seguimos esperando
16
en que un día se rompa el misterio”.
Es, por otra parte, Laranjeira el interlocutor a quien, en una carta, confió el
juicio definitivo sobre Antero: “Suelo decir que [esa su tierra] es una especie de
gran tumor que ha permitido el desarrollo de los más profundos e íntimos genios
de la desesperación más o menos resignada como Antero, Camilo, Soares dos
Reis y otros. El pesimismo de Schopenhauer me parece una posición de burgués
egoísta y satisfecho, el de Hartmann una pedantería de alemán. Acaso ni el de
17
Leopardi y el de Sénancour son tan sinceros y hondos como el de Antero”.
Disculpen esta amplia lectura de textos literales unamunianos. No es fácil
desasirse de la fuerza de este lenguaje, de su rotundidad y convencimiento.
Son los viajes a Portugal (al menos una docena) el motor de sus artículos y
de su sentimiento portugués. D. Miguel solamente viajó dos veces a Francia (un
viaje a Grenoble y la estancia de su destierro, con ocasión del cual se acercó a
la frontera para estar cerca de su “patria”), dos a Italia y una a Suiza. Los viajes
unamunianos se circunscriben, pues, casi exclusivamente a España y Portugal.
Así, lamenta el desconocimiento y desprecio entre ambos pueblos. “Aquí, en Es-
paña, no es la literatura portuguesa todo lo conocida y apreciada que debería
ser, aun siendo las dos lenguas tan afines que sin gran esfuerzo podemos leer
el portugués. Diferenciase del castellano mucho menos que el catalán y, sobre
todo, el portugués escrito. Mas, aun siendo los dos países vecinos aislados los
dos, en cierto modo, del resto de Europa, yo no sé qué absurdo nos ha mante-
nido separados en lo espiritual. En Madrid es más fácil encontrar un libro inglés,
alemán o italiano que no en portugués, y en Portugal hay Facultad de Medicina
en que sirven de texto de Histología obras de nuestro Ramón y Cajal, pero… en
francés” […]. Y siendo así, ¿a qué se debe este alejamiento espiritual y esta tan
escasa comunicación de cultura? Creo que puede responderse: a la petulante
soberbia española, de una parte, y a la quisquillosa suspicacia portuguesa, de
la otra parte. El español, el castellano, sobre todo, es desdeñoso y arrogante,
y el portugués, lo mismo que el gallego, es receloso y susceptible. Aquí se da
16
Art. “Manuel Laranjeira”, 1912; OC, IV, p. 1014.
17
Carta a M. Laranjeira del 08.10.1908 (Cartas de Manuel Laranjeira, Lisboa, Portugália Editora, 1943, p. 169).
En el “Prólogo a Cartas de Manuel Laranjeira” (1913; OC, VIII, p. 1012) escribe: “Fue Laranjeira quien me
enseñó a ver el alma trágica de Portugal, no diré de todo Portugal, pero sí del más hondo, del más grande.
Y me enseñó a ver no pocos rincones de los abismos tenebrosos del alma humana. Era un espíritu sediento
de luz, de verdad y de justicia, Le mató la vida. Y al matarse dio vida a la muerte”.
PRÉMIO EDUARDO LOURENÇO
305
2021
“¿Qué tendrá este Portugal ― pienso ― para así atraerme? ¿Qué tendrá esta tierra,
por fuera riente y blanda, por dentro atormentada y trágica? Yo no sé; pero cuanto
19
más vuelvo, más deseo volver” (Unamuno, “Guarda”)
18
Art. “La literatura portuguesa contemporánea”, 1907; OC, I, p. 189-190.
19
Art. “Guarda”, 1908: OC, I, pp. 238-242.
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO
1
Pretendemos assinalar neste dossiê a realização da Homenagem a Eduar-
do Lourenço, que deixou o nosso convívio recentemente (falecido no dia 01 de
dezembro de 2020), através de um extenso programa realizado em três cidades
(Guarda, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa), com patrocínio dos respetivos municípios,
entre os dias 03 e 05 de setembro último, com destaque especial para a partici-
pação de poetas, músicos, actores, escritores e investigadores de vários países.
O mesmo programa de Homenagem a Eduardo Lourenço, constituiu a 1ª edição
da Festa da Literatura e do Pensamento - Caravana Literária, nova iniciativa in-
ternacional que surgiu no âmbito dos trabalhos da candidatura da Guarda a Capital
Europeia da Cultura 2027, concebida por Jorge Maximino e pensada para interligar
culturalmente os 17 concelhos da Beira interior que apoiam o projecto da mesma
candidatura, à qual também se associou Eduardo Lourenço como primeiro subscri-
tor, entre um conjunto vasto de personalidades. Estiveram presentes na Homena-
gem os eus familiares mais próximos: a irmã Maria Alice de Faria, o irmão Adriano
de Faria, acompanhada da sua esposa Isabel Madeira.
1
Publicamos apenas textos dos convidados que participaram na sessão da tarde do primeiro dia, 03 de
setembro, na cidade da Guarda.
A IMORTALIDADE DE EDUARDO LOURENÇO
Durante sete décadas, não houve horizonte nosso onde, ao olhá-lo, não vísse-
mos a figura nítida e leve de Eduardo Lourenço. Nesse longo tempo em que nos
falou de nós, e de nós no mundo, e do mundo em nós, a sua vida foi caminhando
para uma eternidade que os quase cem anos que durou deslumbrantemente pa-
reciam confirmar. Foi então na luz serena e intemporal dessa eternidade que o
fitávamos, como se ele tivesse sido dispensado de morrer para que nos pudesse
continuar a dizer aquilo que queríamos continuar a ouvir.
Quando, há menos de um ano, Eduardo Lourenço morreu, a surpresa maior foi
essa morte ter atingido aquele que quase julgávamos imortal. Mas como o enge-
nho humano é apto para fazer acontecer o que não acontece, a nossa maneira de
não deixarmos que a sua morte nos desmentisse a certeza em que estávamos foi
dar a essa morte a imortalidade que ele parecia ter em vida.
É assim que agora o vemos e ouvimos, encontrando a sua voz nas milhares
de páginas que nos deixou e em que todos os temas e todos os motivos, todos
os autores e todas as obras que interessam estão presentes e vivos. De tudo
tratou com uma audácia, uma originalidade e uma inteligência crítica sem par
nem comparação.
Com um movimento que nunca parou, afrontou os nossos medos e recalca-
mentos, esclareceu as nossas ilusões e desilusões, desfez velhos mitos e criou
novos mitos. Leu de outra e fulgurante maneira o que parecia não ter outra maneira
possível de se ler. Fez provocações, naquele modo subtil que só ele sabia usar,
para nos tirar aquilo que parecia estar a dar-nos.
Depois do que sobre eles escreveu, Camões, Antero, Camilo, Eça, Pessoa, Sa-
ramago e tantos mais passaram a ser outros, passando a ser mais eles.
Tudo lhe interessou e por tudo se interessou: a literatura, a filosofia, a história, a
política, o jornalismo, a arte, a música, o cinema, a televisão, o desporto, a vida.
Com um estilo em que o fulgor verbal, a invenção de conceitos e a criação de
imagens eram inseparáveis de uma cultura que parecia infinita, Lourenço fez da
leitura e da escrita funções vitais da sua respiração quotidiana.
Basta percorrermos os títulos e os índices das obras que nos deixou para
ficarmos assombrados com a extensão e a profundidade dos seus interesses e
conhecimentos; para ficarmos espantados com a variedade e a vivacidade da
sua intervenção intelectual.
Eduardo Lourenço foi o leitor mais constante, certeiro e sagaz do nosso tempo
e da nossa cultura. E foi também o vedor que detectou os seus tesouros escondi-
dos.
Ele sabia, como Píndaro, que o homem é o sonho de uma sombra; mas sabia
também, como Terêncio, que nada do que é humano lhe era estranho.
Numa das últimas vezes que com ele conversei, disse-me: “Não sei se penso
muito na morte; sei é que a morte pensa todos os dias em mim”.
Mas muito antes havia dito: “Só os homens mortos nos parecem grandes. Ou
aqueles de quem é difícil aproximarmo-nos. Não porque a morte ou a distância os
tenham tornado maiores do que eles eram, mas só porque estão fora do nosso
alcance e nós nos tornámos pequenos em relação a eles e a nós”.
Lembramos Eduardo Lourenço nas terras das suas origens e neste aconteci-
mento, que saúdo, saudando o seu organizador Jorge Maximino e todos os que
nele participam.
Esta é agora uma magnífica forma de nos aproximarmos de Eduardo Lourenço,
sabendo que a sua grandeza nos faz maiores do que seríamos sem ela.
Setembro de 2021
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO
figurou desde o início como seu Director Honorífico. Também referi que em sua
homenagem foi criado o Prémio Eduardo Lourenço atribuído a personalidades de
distinção e relevo. Citei, entre outros, os nomes de Luís Sepúlveda (2016), prema-
turamente falecido em 16 de Abril de 2020, em Oviedo onde residia, e Fernando
Paulouro Neves (2017).
O prestígio e a dimensão cultural de Eduardo Lourenço foi sendo reconhecida a
vários níveis, não só em Portugal como noutros países, v.g. Brasil, França, Espanha.
O relevo e o mérito que o seu pensamento e a sua obra progressivamente iam
granjeando, proporcionaram-lhe inúmeros prémios que recebeu, com destaque
para o Prémio Camões e o Prémio Pessoa. As merecidas condecorações foram
muitas e muito honrosas.
Por nela ter participado, integrado numa delegação do CEI que, para o efeito,
se deslocou da Guarda a Lisboa, destaco a Comenda da Ordem do Mérito Civil, ou-
torgada pelo Rei Juan Carlos e entregue pelo embaixador de Espanha em Lisboa. A
cerimónia decorreu na Embaixada de Espanha e realizou-se no dia 4 de Dezembro
de 2009. Após os discursos oficiais, o ilustre condecorado manifestou o seu re-
conhecimento pela distinção e manifestou o seu agrado pela presença de muitos
conterrâneos daquela que considerava a sua cidade, a Guarda. Ao ser servido um
beberete no salão nobre da Embaixada, o Mestre abeirou-se de nós e, com a sim-
plicidade e a simpatia que eram seu timbre, disse-nos: “E se nós, os da Guarda,
fôssemos comer qualquer coisa e conversar num restaurante que conheço, aqui
perto?” Convite irrecusável como não podia deixar de ser, fomos para um agradá-
vel restaurante da zona de S. Sebastião da Pedreira, perto do hotel onde Eduardo
Lourenço estava hospedado e aí decorreu em amena cavaqueira um inesquecível
convívio que o nosso querido conterrâneo nos proporcionou.
Com a referência a este episódio, rematei a minha pequena intervenção, real-
çando a lhaneza e a simpatia com que Eduardo Lourenço se referia à Guarda e aos
amigos que muito o estimavam e hoje o recordam com imensa saudade.
É para mim um imenso prazer estar aqui convosco hoje, neste momen-
to de celebração, dedicado a Eduardo Lourenço, para honrarmos a sua me-
mória, na vossa companhia e também dos seus familiares, com o programa
1
de Homenagem , iniciado esta manhã na biblioteca desta cidade, da qual se
tornou patrono. Assim, o neste programa de três e em três cidades, a Festa
da Literatura e do Pensamento-Caravana Literária, em memória de Eduardo
Lourenço, centra-se na obra e no homem, no pensador e no amigo que há pou-
cos meses deixou o nosso convívio. Prestamos deste modo homenagem ao
original escritor e pensador que foi Eduardo Lourenço, e celebramos o imenso
e precioso legado que dele nos fica para sempre. Foi o nosso maior corredor
de fundo da cultura e do pensamento, um dos que mais elevou e dignificou a
cultura portuguesa no plano nacional e internacional. O autor de O Labirinto
da Saudade influenciou várias gerações com as suas profundas e minuciosas
análises, ideias fortes e inovadoras no mundo da crítica literária e da filosofia
da cultura, além da sua intervenção cívica sobre variadíssimos temas: cultu-
rais, políticos, sociais, entre outros.
O autor de São Pedro do Rio Seco pensou intensamente a nossa história e a
nossa cultura, tendo-se tornado no seu melhor intérprete, pela forma magistral
como a analisou e como pensou também o presente, o nosso, o da Europa e do
mundo de hoje. Foi um homem de paz, um escritor exímio que deixou na língua
portuguesa algumas das suas páginas mais brilhantes.
De par com seu interesse pela cultura, viveu e pensou intensamente a Europa
e o projecto político europeu e, como cidadão e militante activo da cultura e da
ciência, preocupou-se com as fragilidades desse mesmo projecto, assim como
do processo democrático. Realidade nossa que nos deve preocupar a todos,
*
IELT-Universidade Nova de Lisboa.
O autor do texto (Escritor, professor e investigador) não segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.
1
Foi o autor que concebeu o programa de Homenagem a Eduardo Lourenço, que constituiu a 1ª edição da
Festa da Literatura e do Pensamento - Caravana Literária, (03-5 setembro 2021), nova iniciativa pensada
para interligar culturalmente 17 concelhos da Beira interior, no âmbito da candidatura da Guarda a Capital
Europeia da Cultura 2027.
314 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
porque, como bem notou Alain Badiou no seu Abrégé de Métapolitique, a demo-
cracia, como qualquer dimensão da política, só vale a pena se for “pensada por
2
todos” . Também a esse título, gostaria de relevar aqui a generosidade do ami-
go Eduardo Lourenço, essa característica pregnante da sua personalidade, que
ele assumiu inteiramente como elemento implícito ao seu pensamento, no seu
entrelaçamento com a arte e com os sonhos dos escritores e dos poetas, como
elemento imaginário da alteridade, expressão de uma atitude cívica exemplar, de
alcance ontológico. Paul Celan exprimiu-o de outra forma numa pequena frase,
a todos os títulos magistral, quando disse: “Não vejo diferença entre um poema
e um aperto de mão.”
Eduardo Lourenço, que definiu o pensamento como “um diálogo connosco
próprios”, contribuiu também, de forma decisiva, para a legitimação da literatura
e do discurso poético em particular, no quadro das nossas sociedades, no perío-
do a seguir ao pós-guerra e depois em plena fase de massificação cultural, de
excesso produtivista e da “sociedade do espectáculo”, com todos os excessos
subsequentes. Nesse contexto, Eduardo Lourenço foi na nossa comunidade um
farol do pensamento crítico e da exigência de reflexão para várias gerações.
Arriscou corajosamente com os seus ensaios, as suas propostas de leitura sobre
temas fundamentais, sem concessões de qualquer ordem, coerente com a sua
singular posição num horizonte de heterodoxia de um pensador que se colocou
em risco, como exige a tarefa de ensaísta. E de certo modo podemos dizer que
o risco do ensaio iguala o risco da poesia. O sujeito poético arrisca um discur-
so para que o poema se transcenda a si mesmo, operando na linguagem essa
transformação. Do mesmo modo o ensaísmo exige um discurso com imagens
e argumentos seguros, próprios desse labor, procurando nas estruturas do co-
nhecimento o limiar de novos caminhos, que são a base de proposta de novas
leituras do mundo.
E cumpre-nos observar que na sua vasta obra ensaística, entre tantas outras
áreas em que fez incidir a sua reflexão, como a cultura portuguesa e as questões
da Europa, a relevância que atribuiu à literatura, e em particular à poesia, foi con-
siderável, tendo deixado uma marca forte no labor do investigador, do crítico e
do pensador Eduardo Lourenço. E se procurarmos, entre outras razões prováveis,
ressalta a constatação de que não existe arte sem linguagem poética, nem poesia
sem emoção e pensamento. O que terá instituído a necessidade imperiosa, tam-
bém para Eduardo Lourenço em juntar a uma visão e conhecimento especulativo
do mundo um conhecimento intuitivo do mundo, duas perspectivas complementa-
res, afinal.
A poesia constitui-se como território autónomo de pensamento e criação mas
também como saída para a angústia do nosso tempo. A poesia está para lá do
2
Alain Badiou, Abrégé de Métapolitique, Paris, Éditions du Seuil, 1998.
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO 315
3
Diário de Notícias, 21 de março de 1998.
4
Tradução nossa.
5
Entrevista, Diário de Notícias, 21 de março de 1998.
6
Eduardo Lourenço, Nós como Futuro, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, pp. 26 e 28.
316 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Num certo sentido a nossa viagem para o futuro é simples. Como cada povo da mar-
gem da Europa e seu centro ex-centrado, já estivemos no futuro, por estar navegando
então no coração de uma História que a nossa deriva inaugurava. Fomos futuro e por
tê-lo sido continuamos sendo-o. Mas é esse excesso de tempo simbolicamente tempo
imemorial, como Camões, Pascoaes e Pessoa, diversa e convergentemente o inscre-
veram nos seus poemas que, paradoxalmente, nos paralisa e como que nos rouba um
futuro como esse de outrora, precoce e incandescente.
[…]
Temos que saber e sentir que a viagem no nosso passado apenas começou. O verda-
deiro tempo dos homens é um eterno presente, quintessência de todos os presentes
onde a humanidade se transcendeu a si mesma e impôs ao futuro o seu peso e a sua
figura.
Obrigado!
Guarda, 03/09/2021
COMO O SOL, TODOS OS DIAS
2. Eduardo Lourenço foi uma espécie de sol que irradiou luz, uma luz fecunda,
iluminadora do nosso pensamento e da nossa vida coletiva. A sua obra é essa luz
solar que se abre em cada página, convocando-nos sempre à leitura do prazer da
descoberta, à inovadora análise da realidade, ao labirinto das ideias que fazem
o caminho da nossa relação com o mundo. Sábio que era, sem nunca se mos-
trar como tal, menos oráculo e mais homem comum, ele decifrava pacientemente,
à conversa ou à escrita, o labiríntico universo da cultura, mostrando que o chão
nosso do mundo é um processo de persistente aprendizagem, que todos os dias
recomeça nos desafios que a sociedade coloca no meio do caminho, como a pedra
do poema de Drummond.
Das melhores coisas que me aconteceram na vida, foi conhecer Eduardo Lou-
renço e poder partilhar a sua amizade. Pude viver momentos singulares à volta do
Mestre. Às vezes, era o nó de terra originário, S. Pedro de Rio Seco (o seu “Paris-
-Texas”, como escreveu um dia em páginas de um diário desaparecido), outras a
memória da Guarda “sideral” e “crepuscular” na metáfora de um “navio de pedra
ao alto de uma montanha”, ou a Beira do altar e do arado, “terras de funda memó-
ria” no seu sono arcaico e profundo. A mesa era sempre boa para o pensamento
e o Eduardo, de facto, ensinou-nos a perceber o sentimento de pertença como se
toda a Terra, toda, fosse Pátria, como alguém disse de Roland Barthes. “Quem vê
o seu povo, vê o mundo todo”, escreveu ele um dia, como síntese do seu olhar
universal. Porque a sua prática era sempre de comum humanidade. Não gosta-
va de torres de marfim, tão ao gosto de algumas academias, e, quando as havia,
descia delas para uma democrática cidadania do saber sobre a emergência do
quotidiano. Falava de tudo: dos fenómenos sociais, da sociedade do espetáculo,
do futebol e da política à escala nacional ou planetária. Encarou sempre a cultura
como questão primordial e não poucas vezes, como um dia confessou, falando do
mundo dos grandes autores, estava a falar de si, como se o memorialismo pessoal
e imediato lhe estivesse vedado.
Foi polémico e desmistificou questões de “vacas sagradas” da literatura portu-
guesa, desfazendo mitos com erudição amável, sempre com a elevação da força
dos argumentos em detrimento das ideias em estado de sítio e do ajuste de contas
pessoal. A sua formação filosófica e um pensamento aberto ao mundo faziam-lhe
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO 319
ter razão antes do tempo, como aconteceu logo com as primeiras obras, Heterodo-
xia I e II, e, mais tarde, pela forma como articulou a relação com a Europa (Nós e a
Europa) ou pensou a contingência histórica portuguesa, com as suas quimeras ou
os despedaçados sonhos imperiais, na configuração lusófona. A Europa foi ques-
tão que teve consigo mesmo e nunca deixou de a sonhar do Atlântico aos Urais,
com a pluralidade de culturas que isso representa.
O que aprendemos com Eduardo Lourenço! A sua introspeção a um Pessoa
Revisitado, a sua forma de medir o tempo dentro da poesia (Tempo e Poesia), o
seu pensamento crítico (Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista), a crítica dentro
da crítica, quando nos explica como a crítica literária morreu (O Canto do Signo),
o seu contributo para nos pensarmos a nós próprios como pátria, pondo a nu as
angústias da nossa complexa matriz identitária (O Labirinto da Saudade).
Bem perto de nós, em tempo de restrições, quando se ia além da Troika para
nos dizerem que vivíamos acima das nossas possibilidades, lembro-me de ter dito
aqui na Guarda, que Eduardo Lourenço nos ensinara a pensar acima das nossas
possibilidades.
Somos todos tributários de um mar de gratidão ao autor de O Labirinto da Sau-
dade e só lhe poderemos pagar com o empenho do coração, lendo-o, visitando-o
nos seus livros. Henry Miller, olhando, na estante, os livros dos seus queridos auto-
res, dizia: «eles estão vivos e falam comigo». E Gide no seu diário, a propósito de
Stendhal: «Há certos autores que eu leio o mais lentamente possível. Parece-me
que converso com eles, que eles me falam e teria tanta pena se não os soubesse
reter ainda mais tempo ao pé de mim.»
Eduardo Lourenço também continua a falar comigo de cada vez que folheio
lentamente, como se lavrasse a terra, as suas obras para poder pensar mais alto,
ele está ao pé de mim.
Estou a ver Eduardo Lourenço em S. Pedro de Rio Seco, com o seu sorriso aber-
to, com a sua solidária e afetuosa relação com toda a aldeia do planalto beirão.
Com o seu passo miudinho, evocava lugares e tempos dentro do tempo. Afabilida-
de do homem que era sábio. E que me dizia a sorrir: “Chamam-me filósofo, mas o
que sou é ensaísta. Ser discípulo de Montaigne, já não é nada mau!”
O sol volta hoje mais brilhante. Estamos à mesa das palavras de Eduardo Lou-
renço. Quer dizer, estamos no meio da luz.
RUI JACINTO
_ 1999. Origem: Oito séculos de altiva solidão. A Guarda como destino. A ideia
luminosa lançada no célebre discurso de 26 de novembro de 1999, que esteve
na origem do CEI, desencadeou uma aventura que fez de Eduardo Lourenço a
figura tutelar do Centro.
_ 2008. Peregrinação: Todos Nós Ibéricos. O Centro de Estudos Ibéricos como
ca(u)sa comum. A peregrinação que se iniciou no dealbar do milénio teve um
momento alto com a inauguração da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço
(27/11/2008). Este momento foi apenas o início de mais uma etapa duma pere-
grinação que ainda continua.
_ 2012. Regresso: Quem vê o seu povo vê o mundo todo. Regresso (sem fim).
A inaugurado dum memorial, em 2012, durante uma homenagem realizada em
324 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
“Ao conhecimento e à clara visão do que foi e continua sendo a versão peninsular da
Europa se deve votar o nosso Centro de Estudos Ibéricos tanto mais que dela faz parte
integrante a primeira, e até hoje nunca ultrapassada, vocação planetária da mesma
Europa. O que foi sonho do mundo merece ser repensado para saber melhor quem
fomos, quem realmente somos e quem podemos ser. Todos nós Ibéricos.”
repetidas: “Povos e indivíduos só têm o passado à sua disposição. É com ele que
imaginam o futuro”. O estado de alma que percorria o país, sentimento comum
a que era vivido a nível local, assentava na crença duma efetiva União Europeia,
num progresso ininterrupto, num crescimento suficiente para debelar as crónicas
assimetrias estruturais com matizes económicas, sociais e territoriais. A conver-
gência, a coesão e a Europa sem fronteiras pareciam imparáveis, sem paralelo com
o desânimo atualmente vigente. Ainda não se perfilava no horizonte o regresso das
fronteiras e a crença num futuro promissor era tão forte que não se ouviam vozes
avisadas, como a de Eduardo Lourenço, quando advertia que qualquer “muro nun-
ca cai só para um lado”.
As reflexões de Eduardo Lourenço iam ao encontro das genuínas aspira-
ções da Guarda que pareciam legitimadas por aquele discurso. A expetativa de
romper com a ancestral solidão, superar o isolamento, esbater a interioridade,
abrir a cidade à Espanha e a região à Europa estavam latentes na referida in-
tervenção. As melhorias que a integração na União Europeia estavam a propor-
cionar reforçavam a esperança de serem rompidas as debilidades estruturais
que condicionavam a renovação da cidade e a impediam de ganhar o futuro.
Colocar a cidade na Rota da Europa e recuperar o tempo perdido equivalia ao
sonho que animou os seus filhos a partirem para além dos Pirenéus em deman-
da de melhores dias.
As celebrações do Centenário, além de bálsamo para a depauperada autoesti-
ma dos guardenses, não se limitaram a evocações retóricas ou meras declarações
de intenções. Foram lançadas iniciativas de cariz mais simbólico que apelavam
ao imaginário coletivo e remetiam para as raízes que mergulham mais fundo no
território. A primeira ideia que retenho foi a preocupação de renovar a imagem da
cidade, reverter um ícone através dum desenho mais cosmopolita num logotipo
mais apelativo para romper com velhos estigmas. O painel de azulejos executado
por Manuel Cargaleiro, colocado na sala de visitas da cidade, onde foram inscritos
os nomes de todas as freguesias, hoje desatualizado, alinha com aquela preocupa-
ção de irmanar toda a comunidade num mesmo destino. A ideia de comunhão está
igualmente presente num evento, mas pleno de significado, que foi a conceção
dum inédito concerto de sinos que pôs a repicar numa onda crescente, das cape-
las e igrejas mais periféricas e distantes até culminar no ribombar mais forte dos
carrilhões da Catedral da Guarda.
As edições patrocinadas pela Camara Municipal, lançadas durante as Comemo-
rações, legado que ficou para memória futura, foi planeado seguindo duas coorde-
nadas cujos temas marcam os destinos da Guarda: o tempo, do primordial ao mais
próximo, representado pelos Foros e Forais da Guarda e A Guarda Formosa na
Primeira Metade do Século XX); as diásporas, ilustradas por diferentes modos de
emigrar, onde se incluem obras como Guarda. História e cultura Judaica, Um país
de longínquas fronteiras e Identidades Fugidias.
326 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Alinhados com o seu universo ensaístico, depois de Oito séculos de altiva so-
lidão (1999), Eduardo Lourenço colaboraria nestas duas últimas obras com textos
tão assertivos quão poéticos: Do Portugal emigrante ao Portugal europeu (2000),
incluído em Um país de longínquas fronteiras; Navegadores por ruas estrangeiras
(2001), integrado em Identidades Fugidias, título plagiado do artigo de Mia Couto
incluído nesta publicação.
Tempo e diásporas:
edições da Câmara Municipal da Guarda no âmbito das Comemorações do VIII Centenário
O Centro de Estudos Ibéricos foi, pois, a resposta ao desafio lançado por Eduar-
do Lourenço no célebre discurso Oito séculos de altiva solidão, ideia apadrinhada
328 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
(Nº 1, 2004) que ultrapassa quarenta títulos publicados (Nº 41, 2021). Além de
edições avulso, sobretudo catálogos resultantes de projetos ou de exposições
que o CEI promove regularmente, Iberografias. Revista de Estudos Ibéricos,
iniciada pelos motivos atrás evocados, onde encontramos vários textos sobre
Eduardo Lourenço, tem periodicidade anual (Nº 1, 2005; Nº 16, 2020).
_ Prémio Eduardo Lourenço (PEL). O Prémio Eduardo Lourenço, instituído em
2004 como reconhecimento do mentor, patrono e Diretor Honorifico do CEI,
tem vindo a distinguir personalidades com intervenção relevante no âmbito
da cultura, cidadania e cooperação ibéricas, onde se inclui a Professora Maria
Helena da Rocha Pereira, galardoada na primeira edição.
Edições lançadas no dia da inauguração da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço (CEI, 2008)
Obras lançadas no dia da celebração do 90º aniversário de Eduardo Lourenço (CEI, 2013)
Medalha comemorativa dos vinte anos do CEI (2020) (Autor: João Pedro Cochofel).
REFERÊNCIAS
JACINTO, Rui (2013). Pensar Nove Décadas de Amizade. In Tiago Pedroso de Lima, Ler
Eduardo Lourenço, Blogue do Projecto Edição Obras Completas de Eduardo Lou-
renço, Universidade de Évora.
JACINTO, Rui; DIEGUEZ, Valentin Cabero (2018). Andanças e reflexões transfronteiriças:
Roteiro Miguel de Unamuno – Eduardo Lourenço. Coleção Iberografias, Nº 34,
Guarda, Centro de Estudos Ibéricos-Âncora.
JACINTO, Rui (2020). Tributo a Eduardo Lourenço nos vinte anos do Centro de Estudos
Ibéricos. In Iberografias. Revista de Estudos Ibéricos, Nº 16, 2020. CEI, Guarda.
JACINTO, Rui (2020), Eduardo Lourenço e a sua heterodoxa (des)Geo(a)grafia. Cadernos
de Geografia nº 42 – 2020. Coimbra, FLUC, pp. 127-137.
EDIÇÕES DO CEI
Coleção Iberografias
Nº 1 – Iberismo e Cooperação: Passado e Futuro da Península Ibérica (2004) – Valentín
Cabero Dieguez
Nº 2 – Territórios e Culturas Ibéricas (2005) – Valentín Cabero Dieguez at al. (Coord.)
Nº 3 – O Outro Lado da Lua – Inéditos de Eduardo Lourenço (2005) – Maria Manuela
Baptista
336 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Nº 4 – Entre Margens e Fronteiras – Para uma Geografia das Ausências e das Identida-
des Raianas (2005) – Rui Jacinto
Nº 5 – Territórios e Culturas Ibéricas (2005) – Rui Jacinto e Virgílio Bento (Coord.).
Outras edições dedicadas a Eduardo Lourenço
Nº 12 – Existência e Filosofia O ensaísmo de Eduardo Lourenço (2008) – João Tiago
Pedroso de Lima
Nº 21 – Vida Partilhada – Eduardo Lourenço, o CEI e a Cooperação Cultural (2013) –
Eduardo Lourenço
Nº 22 – Falar Sempre de Outra Coisa – Ensaios sobre Eduardo Lourenço (2013) – João
Tiago Lima
Nº 23 – Metafísica da Revolução – Poética e Política no ensaísmo de Eduardo Lourenço
(2013) – Teresa Filipe
Nº 34 – Andanças e reflexões transfronteiriças: Roteiro Miguel de Unamuno – Eduardo
Lourenço (2018) – Rui Jacinto e Valentín Cabero
Esplendor dum caos organizado: Eduardo Lourenço na sua biblioteca (Vence, 2008)
340 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO 341
342 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
DIANTE DA MORTE DE UM CORPO ―
UMA TENTATIVA DE OBITUÁRIO PARA
EDUARDO LOURENÇO1
CAMILA DO VALLE*
1
A primeira versão deste texto saiu em janeiro de 2021 no site do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia,
a convite do coordenador do projeto, o antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida. Link para a primeira
versão: http://novacartografiasocial.com.br/diante-da-morte-de-um-corpo-uma-tentativa-de-obituario/
* Professora de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas da UFRRJ. Doutora em Literatura Portuguesa pela
PUC-Rio (2004), sob orientação da Professora Dra. Cleonice Berardinelli. Pós doutoramento em Literatura
Comparada (2019) pelo Instituto Margarida Losa, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sob
supervisão da Professora Dra. Isabel Pires de Lima, pesquisa para a qual recebeu uma bolsa da Fundação
Calouste Gulbenkian em 2018. Sua dissertação de mestrado foi o primeiro trabalho acadêmico sobre o
ensaísmo lourenciano. Em 1997, na PUC-Rio. É em relação a esta dissertação que Eduardo Lourenço responde,
em 2005, em A morte de Colombo ou o Fim do Ocidente como mito (Gradiva).
344 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Correia e, para minha surpresa, quando pedi que fizesse uma declaração sobre
alguma escritora portuguesa, escolheu Maria Judite de Carvalho – e atribuiu à
expressiva vaidade masculina das conversas dos salões de que fazia parte o
marido, também escritor, Urbano Tavares Rodrigues, a pouca atenção dada a
ela. E me recomendou, comovido, o estudo minucioso dos textos dessa escri-
tora, como se fosse o cuidado com uma dobradiça interna que fazia uma porta
se mover, ou o cuidado com a limpeza de uma janela, através da qual se vislum-
braria, claramente, dadas paisagens internas de um país. As metáforas são dele.
Ressentiu-se de não lhe ter dedicado, ainda, maiores estudos. Declaração dada
aos 95 anos, com alguma esperança no horizonte e uma reclamação de que lhe
chegavam muitos textos para prefaciar, mas a sorte não o havia encontrado de
que algum editor lhe enviasse um pedido para prefaciar um livro dela.
Um corpo foi recortado da paisagem. No entanto, para onde quer que se
olhasse nos jornais, na mídia portuguesa, neste último mês de dezembro deste
ano pandêmico, lá estava o nome desse corpo, seu semblante, traços de sua
trajetória e tentativas de resgatá-lo desse lugar de ausência, que, nos resta dizer,
parece que jamais será o seu na História de Portugal. Foi onipresente não só em
todos os veículos de comunicação. O Estado português declarou luto por seu
vivaz Conselheiro, cargo que ocupava na Presidência de Portugal e na Funda-
ção Calouste Gulbenkian – neste segundo posto, a convite de Emílio Rui Vilar, e
vários anos antes que o Estado português lhe fizesse este convite. Muitíssimos
escritores, os mais variados produtores intelectuais portugueses, lhe prestaram
homenagem. A vastidão da paisagem pela qual se interessou este corpo en-
quanto vivo vai da relação entre os militares e o poder, o tema do fascismo em
Portugal, do colonialismo à literatura, à pintura e à música. Sem jamais abdicar
da leitura da filosofia e da cotidianeidade política dos assuntos dos jornais. E
de sua observação ao tempo muito presente e suas vicissitudes. Tampouco ja-
mais abdicou do lugar de ensaísta que reivindicou para si. Foi através desse
gênero esquivo, o ensaio, gênero tão pouco usual quanto pouco classificável,
que se firmou na constelação dos mais importantes pensadores e escritores de
Portugal. Filiou-se, assim, a um gênero textual que segue uma tradição que tem
em Michel de Montaigne um de seus nada ortodoxos fundadores. Heterodoxia
é, justamente, o título do primeiro livro de Eduardo Lourenço. Firmou-se numa
constelação de pensadores, não só portugueses, a bem da verdade. Inúmeros,
entre seus textos, saíram publicados em francês, primeiramente, ou somente em
francês. Língua na qual deu a maior parte de suas aulas ao longo da vida, tendo
sido professor universitário por décadas na França, depois de uma passagem
por Hamburgo e Heidelberg, Alemanha, e pelo Brasil, na Universidade Federal
da Bahia – nesta, por apenas um ano: passagem esta que lhe rendeu amizades,
mas, também, uma inimizade honorífica, por assim dizer, e que ele sempre fez
questão de declarar, por toda a vida. Das amizades na Bahia, citava, com alegria,
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO 345
um rapaz que havia sido seu aluno e que, anos mais tarde, o convidou para pa-
drinho de seu casamento com Helena Ignez: Glauber Rocha. Foi este ex aluno
que lhe deu de presente o livro através do qual dizia ter encontrado o que ele
considerava ser a chave de sua leitura do Brasil, o Grande Sertão: Veredas. Dizia,
amiúde, de fato, em lugar de Brasil: “o país de Guimarães Rosa”. Não como quem
reduzia a imagem de um país, mas como quem alargava suas vistas sobre os
muitos sertões que aqui se avizinham, muito para além do litoral, embora sempre
fizesse questão de relativizar seu conhecimento sobre a realidade do lado de cá
do Atlântico. E relatava, emocionado, a iniciação do também amigo Jorge Amado
no candomblé. Esta visita a um terreiro na Bahia era recorrentemente lembrada
com o acompanhamento de uma sensação física que ele fazia questão de men-
cionar: tendo se sentido tonto durante a cerimônia no terreiro, precisou sair do
recinto para buscar ar, pois pensou que desmaiaria. Ainda no momento do relato,
feito a mim e a duas outras pesquisadoras, em 2015, décadas depois – as pro-
fessoras eram Cynthia Carvalho Martins (UEMA) e Verônica Prudente (UFRR) –,
seguia dizendo que perpassava seu corpo a sensação dessa tontura.
Pois foi esse corpo, muito vivo, que foi recortado da paisagem no último dia
01 de dezembro. Pela data, a primeira coisa que me veio à lembrança, forço-
samente, em se tratando de quem era, foi a data de falecimento de Fernando
Pessoa, tão lido e interpretado por ele, poeta ao qual dedicou tantos estudos,
como Fernando, rei da nossa Baviera ou Pessoa revisitado. Incontornáveis,
quando alguém se aventura a estudar Fernando Pessoa. Ainda que descubram
mais uma centena de heterônimos, os estudos lourencianos nesse capítulo se-
guirão reveladores, assim como aqueles de autoria daquela que ele chamava,
carinhosamente, de sua madrinha: Cleonice Berardinelli, de quem fui orientanda
de doutorado há vinte anos. Apesar disso, cheguei a Eduardo Lourenço vários
anos antes dessa orientação. Nos anos 90, pelas palavras do professor titular de
Literatura Portuguesa da Universidade Federal de Juiz de Fora, também poeta e
romancista, Edimilson de Almeida Pereira, em aulas onde a pedra fundamental
para compreender Portugal – e a poesia portuguesa como sua alma mater – era
o Labirinto da saudade, talvez o título de Eduardo Lourenço mais conhecido. Pois
Fernando Pessoa morreu em um 30 de novembro, em 1935. E pus-me a meditar
o que teriam sido as reflexões de Lourenço na véspera do que viria a ser seu
próprio falecimento, sendo aquela a data de falecimento do poeta a quem mais
textos dedicou em vida. Aquando da ocasião do falecimento do poeta da hete-
ronímia, Miguel Torga lhe dedicou essas linhas em seu diário: “Morreu Fernando
Pessoa. Mal acabei de ler a notícia, fechei a porta do consultório e meti-me por
montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nos-
so maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade
sem ao menos perguntar quem era” (TORGA, Miguel. Diário I, p. 19). À diferença
do poeta de Mensagem, diante da notícia da perda de Lourenço, foram muitos,
346 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
Na paisagem que, ainda bem, resiste a ver Eduardo Lourenço recortado para
fora dela, vai-se elaborando o luto ao qual ele destina o país ao deixá-lo. Este
país continuamente interpretado por ele, terá, agora, o trabalho duplo de se in-
terpretar interpretando a ausência de seu singular e imprevisível intérprete. Eis
o luto coletivo que nos aguarda, não só aos daquele país, mas a seus leitores de
tantas outras paragens. Trabalho de transformação do corpo vivo em memória
viva. O pensamento entrelaçado de muitos que a ele prestaram especial aten-
ção ao longo de sua vida e de seus textos vinculados neste trabalho coletivo do
luto. Por isso, destacamos essa edição especial do Jornal de Letras, editado por
José Carlos Vasconcelos. Ali estão de Gonçalo M. Tavares a António Guterres,
secretário geral da ONU. Estão as escritoras e amigas Hélia Correia, Lídia Jorge
e a professora Cleonice Berardinelli. Nélida Piñon e Valter Hugo Mãe. Professor
Onésimo Teotónio, da Brown University, Fernando Catroga e o poeta Nuno Jú-
dice. Pilar del Río, Guilherme d’Oliveira Martins e Viriato Soromenho-Marques.
Entre outros, e como não poderia deixar de ser, Boaventura de Sousa Santos.
E é a contribuição deste autor que buscarei glosar, minimamente, antes de fi-
nalizar este texto que procura desempenhar o papel de um obituário. Escreveu
em sua despedida no Jornal de Letras, o professor Boaventura: “Se o tema da
descolonização tivesse assumido entre nós a virulência que tem hoje na França
ou na Inglaterra, estou certo que ele, sempre ávido de intervenção, acabaria
por se envolver e as opiniões a seu respeito se dividiriam. Mas tal não aconte-
ceu, e foi por isso que pôde representar o máximo de consciência possível (...).
Eduardo Lourenço vai ser certamente mais polêmico nos próximos anos. Quem
o admira, como eu, pensa que isso é o melhor que lhe pode acontecer. Vamos
discuti-lo serena e afavelmente, como afinal ele sempre esperou de nós, e será
essa a melhor homenagem que lhe podemos prestar.” Sigo diretamente para a
já anunciada inimizade lourenciana: Gilberto Freyre. Essa inimizade não era algo
de caráter unicamente pessoal. Conduzia-o a este sentimento uma consciência
histórica, uma sensibilidade humana. E era dirigida, abertamente, como o fez em
mais de um texto, quando o adversário ainda atuava, tranquilamente, passeando
seus galardões pelo Brasil e mundo afora. Era uma denúncia, feita abertamente
por Eduardo Lourenço e ignorada por grande parte da intelectualidade, não só
de língua portuguesa, mas sobretudo. Gilberto Freyre prestou-se ao papel de
aceitar o convite do ditador Salazar - e o salazarismo era motivo precípuo do exí-
lio de Eduardo Lourenço - para viajar pelas colônias africanas assim mantidas por
Portugal para dar seu parecer. E foi o que fez, respaldando, aos olhos do mundo,
inclusive na ONU, a intenção salazarista de continuar o colonialismo português
em África. Um dos primeiros depoimentos lourencianos que li sobre o tema, mas
não o único, está na reunião de textos publicada sob o título Ocasionais I. Este
tema está referido, também, na primeira entrevista que fiz a ele, em 1999, para
minhas pesquisas de mestrado. A entrevista, na íntegra, foi publicada em 2018
HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO 349
“Eu conheci o senhor... O senhor era muito vaidoso. Não era vaidoso: era uma mon-
tanha de vaidade. Era tão vaidoso que nem era vaidoso. Mas... a verdade é que era
uma personalidade. Mas era uma realidade difícil, ele tinha uma obra original, era
um senhor... Não sei se era isso também, as pessoas também obrigam as pessoas
a ser vaidosas, projetam sobre os outros com alguma notoriedade. Uma pessoa
não tem o controle, fica tão louca com os idólatras. A verdade é o seguinte: talvez
isso não se saiba, mas tenho de explicar que aquilo é um artigo de raiva. Polêmico,
naturalmente. O Gilberto Freyre, dada justamente sua notoriedade, e porque ele
era o homem da Casa Grande e Senzala, porque era o teórico do luso-tropicalismo,
etcétera; tudo isso era uma ideologia sobre a qual se fundava a defesa do nos-
so colonialismo e da nossa guerra da África. E Salazar citava-o, era uma grande
caução. A grande caução da nossa luta em África era o Brasil em geral. O Brasil é
que era quem nos defendia na ONU, quando nos acusavam de colonialismo e de
racismo: ‘Não, nós temos o Brasil, o Brasil é um país multicultural, não é racista.’ E o
Embaixador do Brasil levantava-se. E o Gilberto Freyre era a caução intelectual. (...)
O Gilberto Freyre era um intelectual prestigiado. É por isso que Salazar citava-o no
discurso para levar a cabo aquela cruzada da guerra e do colonialismo em África.
(...) Também foi convidado a ir a Angola. Não foi lá passear para escrever um livro.”
https://pt.scribd.com/document/396421848/Revista-Iberografias-14
Donde se pode depreender que esta foi uma tentativa de Lourenço de co-
locar em debate as questões do racismo, do colonialismo e do anticolonialismo
(ele não gostava da expressão “pós colonial” e dizia preferir “anticolonial”), tan-
to em Portugal como no Brasil, há décadas atrás, há mais de 60 anos atrás, pois
deixou público desde logo em artigo publicado, logo que conheceu o senhor
Gilberto Freyre, sua discordância veemente em relação a suas teorias suposta-
mente científicas e seu modo de proceder. Sabemos que a sombra de Gilberto
Freyre paira, ainda hoje, em tantos círculos acadêmicos, como um intérprete do
Brasil, e podemos inferir o que isso significou para o jovem professor português
que tinha vindo se estabelecer na Bahia, e que ali não ficou mais de um ano por
não ter sido bem tratado institucionalmente, como está estabelecido em carta
dirigida ao reitor daquela universidade e finalmente publicada somente em de-
zembro de 2018 pela pesquisadora Maria de Lourdes Soares, também minha ex
professora de graduação na UFJF.
Sublinho, ainda, o “sempre ávido de intervenção” do depoimento de Boaven-
tura de Sousa Santos: em julho de 2018, estive presente com Eduardo Lourenço
350 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
“sim, o corpo foi recortado da paisagem. Mas apenas porque, primeiro, foi ele que
construiu essa paisagem, que nos deu a ler a linha de um horizonte que era bárbaro
para nós, pois nos faltava o espelho. Foi ele, esse corpo recortado, que inventou –
melhor: descobriu – esse estranho pano de fundo impensado, foi ele que o tornou
pensável, portanto visível e dizível. E quando esse corpo já não está, e nos faz tanta
falta, é preciso lembrarmos que ele está, sim, sempre, naquele instante em que com
ele pensamos.”
ENSINO E FORMAÇÃO
[http://www.cei.pt/cv/]
NOVAS FRONTEIRAS,
OUTROS DIÁLOGOS:
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
O Centro de Estudos Ibéricos (CEI), enquanto pla-
taforma de intercâmbio, debate e difusão de co-
nhecimentos sobre os territórios e as culturas ibéri-
cas, levou a efeito a XXI edição do Curso de Verão
subordinada ao título genérico “Novas fronteiras,
outros diálogos: cooperação e desenvolvimento”,
entre os dias 06 e 09 de julho.
O Curso, que decorreu em formato online, contou
com cerca de 350 participantes oriundos de vários
pontos do País e do estrangeiro, e com 80 comuni-
cações proferidas também por oradores de diversas nacionalidades.
À semelhança das edições anteriores, o Curso constou de Conferências, Comu-
nicações, Painéis de Debate e Trabalhos de Campo, que foram substituídos por
Documentários para adaptação ao formato online, e foi estruturado em torno dos
seguintes temas:
i. Patrimónios, paisagens e desenvolvimento local;
ii. Dinâmicas socioeconómicas em diferentes contextos territoriais;
iii. Políticas públicas, cooperação e desenvolvimento.
INOVAÇÃO E TERRITÓRIO
Realizou-se no dia 30 de março o Webinar
Inovação e Território, onde foram apresenta-
dos os projetos vencedores do Prémio CEI-IIT
(CEI-Investigação, Inovação e Território) 2020:
DINÂMICAS SOCIOECONÓMICAS EM
DIFERENTES CONTEXTOS TERRITORIAIS
Realizou-se, no dia 9 de abril, o Webinar
Dinâmicas socioeconómicas em diferentes
contextos territoriais em que foi apresenta-
do o livro do Curso de Verão 2020 (Coleção
Iberografias, nº 40, CEI/Âncora Editora). In-
tervieram na iniciativa: Rui Jacinto; Valentín
Cabero; Messias Modesto dos Passos; Dirce
Suertegaray; Rosangela Medeiros Hespa-
nhol; Antonio Nivaldo Hespanhol; Barto-
lomeu Israel de Souza; Ivaldo Lima; José
Borzacchiello; María Isabel Martín Jiménez;
e Lúcio Cunha.
Este Webinar foi transmitido online na página
de Facebook do CEI e do canal do CEI no You-
tube, onde está disponível para visualização:
https://www.youtube.com/watch?v=9pZWt-
jhUAiU
364 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
IMAGEM E TERRITÓRIO:
FOTOGRAFIA SEM FRONTEIRAS
O Centro de Estudos Ibéricos levou a efeito
a IV edição dos Encontros “Imagem e Terri-
tório: Fotografia sem Fronteiras”, de 29 de
abril e 1 de maio, em formato online e semi-
-presencial e que contaram, uma vez mais,
com a parceria da Fujifilm e do Fotoclube da
Guarda.
Integrados no projeto “Transversalidades”
estes Encontros resultam do envolvimento
ativo do CEI na cooperação territorial e no
seu comprometimento com os territórios de
baixa densidade, visando, através da Ima-
gem, dinamizar a cooperação e a inclusão
dos territórios, rompendo com a exclusão
e invisibilidade a que estão votadas vastas
regiões do país e do mundo.
Os Encontros conjugaram diversas ativida-
des em torno da temática da Fotografia e do
Território, nomeadamente, Exposições, De-
bates, Mostras e Publicações, estruturadas de acordo com os seguintes temas:
Apresentações:
* Rui Jacinto – Membro da Comissão Executiva do CEI
* Alfredo Cunha – Fotógrafo
TEMA 1. TERRITÓRIO
30 de abril
TEMA 3. SOCIEDADE
Moderação: Valentín Cabero Diéguez – Professor (Jubilado) da Universidade
de Salamanca;
Mário Branquinho – Diretor do CineEco Festival Cinema
Introdução: Alberto Prieto – Fotojornalista e Fotógrafo documental – “A foto-
grafia como documento de história”
Apresentações:
* Filipa Bessa – Investigadora na Universidade de Coimbra (MARE – Centro
de Ciência do Mar e do Ambiente) – “A fotografia como meio de comunicação
de ciência – A poluição por microplásticos”
* Mário Cruz (Fujifilm) – Fotojornalista – Fotografia como prova
TEMA 4. TEMPOS DE PANDEMIA
Moderação: María Isabel Martín Jiménez – Professora da Universidade de
Salamanca, Membro da Comissão Executiva do CEI
Introdução: Jorge Pena – Fotógrafo – “Fotografia em tempos de Pandemia”
Apresentações:
* Alberto Picco – Fotógrafo – “Mapas e percursos em tempos de pandemia”
* Paulo Sampaio – Fotógrafo e Responsável das Lojas Online e Marketing Di-
gital – Hall ca – “A pandemia dos fotógrafos– o despertar do fotojornalismo”
1 de maio
*Rumores do Mundo – pessoas, lugares, outros olhares – Inauguração da Ex-
posição (presencial e transmissão online), nos Claustros do Paço da Cultura,
na Guarda
*Transversalidades Fotografia sem fronteiras 2020 – Inauguração da Exposi-
ção; Lançamento do catálogo (Presencial e transmissão online), na Galeria de
Arte do Teatro Municipal da Guarda
TEMA 6. VIAGEM
Moderação: Susana Paiva
Introdução: Duarte Belo – Arquiteto/Fotógrafo – “O paraíso e o fogo – apon-
tamentos de viagens”
Apresentações:
*António Tedim – Empresário e fotógrafo amador – “Viajando pelas culturas
e tradições”
*Ana Abraão – Fotógrafa – “Outros Mundos: Um ano, um mês e uma semana
de fotografias pela Ásia. Pessoas e Costumes de outras culturas.”
TEMA 7. CIDADE
Moderação: António Pedro Pita – Docente da Faculdade de Letras da Univer-
sidade de Coimbra Introdução: Álvaro Domingues, Geógrafo, Professor
Apresentações:
* Luísa Ferreira – Fotógrafa – “Cidade sem título”
* John Gallo – Fotógrafo e videógrafo – “O que as cidades aprenderam a
esconder”
Os Encontros “Imagem e Território” foram transmitidos online na página de
Facebook do CEI e do canal do CEI no Youtube, onde estão disponíveis os vídeos
das intervenções:
https://www.youtube.com/channel/UC64NvY-WrpewDNyMwprYljg
368 Iberografias Revista de Estudos Ibericos
TRANSVERSALIDADES
FOTOGRAFIA SEM FRONTEIRAS.
[Ver: http://www.cei.pt/transversalidades/]
OFICINA
HISTÓRIA DA GUARDA
[GUARDA HISTORY WORKSHOP]
[http://www.cei.pt/ohg/]
INVESTIGAÇÃO
[http://www.cei.pt/iit/]
FRONTEIRAS DA ESPERANÇA:
MINHA TERRA, MEU FUTURO
O Centro de Estudos Ibéricos e a Comu-
nidade Intermunicipal das Beiras e Serra
da Estrela (CIMBSE), levaram a efeito a
2ª edição do Concurso “Fronteiras da
Esperança: Minha Terra, Meu Futuro”,
iniciativa que visa estimular a reflexão
dos jovens estudantes sobre os recursos
e as dinâmicas territoriais, levando-os
a refletir sobre as perspetivas que se
abrem para o futuro coletivo da região.
Ao explorar a relação dos jovens com o
território, o Concurso visa suscitar a in-
vestigação e a reinterpretação das po-
tencialidades e dos recursos do território
para estimular o debate donde possam
emergir novas propostas e perspetivas
de desenvolvimento em torno dos se-
guintes temas:
(i) Leituras e (re)interpretações do território: diagnósticos prospetivos;
(ii) Escrita, literatura e território: trabalhos de expressão literária;
(iii) Arte e território: trabalhos de expressão artística.
VENCEDOR GERAL
“Pontos de vista” – de Micael Marques (Escola Secundária de Pinhel - Agru-
pamento de Escolas de Pinhel)
MENÇÕES HONROSAS
Tema 1. "Leituras e (re)interpretações do território: diagnósticos prospetivos”
Escalão 1 (1º Ciclo): “A minha terra – Instituições” – de José António Antunes
Bernardino (Escola Básica EB 1.º Ciclo de São Jorge da Beira – Agrupamento
de Escolas Frei Heitor Pinto)
Escalão 3 (3º Ciclo): “Os seres vivos da minha vida” – de Guilherme José Men-
des Dias (Escola Básica Tortosendo - Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto)
Escalão 4 (Secundário): “ResisPlant” – de Catarina Marques, Duarte Rocha e
Maria João Moura (Escola Secundária do Fundão - Agrupamento de Escolas
do Fundão)
Prémio Escolas
1.º Escola Secundária de Pinhel
2.º Escola Secundária Frei Heitor Pinto
Exaequ
3.º Escola Básica Adães Bermudes
Escola Secundária do Fundão
https://www.youtube.com/watch?v=GpCvK6zz_1A
O vídeo do Memorial pode ser visualizado em https://www.youtube.com/wa-
tch?v=BhsY-ueRySc
Apresentação e Moderação:
Guilherme d´ Oliveira Martins ― Administrador da Fundação Calouste Gul-
benkian e Presidente do Centro Nacional de Cultura
Intervenções: Paulo Filipe Monteiro (Universidade Nova de Lisboa) Francisco
Noa (Moçambique); Nuno Grande (Universidade de Coimbra)
COIMBRA
Esteve patente ao público, de 6 de agosto a 5 de setembro, no Museu
Municipal Espaço Chiado, em Coimbra, a Exposição "Transversalidades 2020
― Fotografia sem Fronteiras".
A Câmara Municipal de Coimbra acolheu, mais uma vez, o projeto Trans-
versalidades, disponibilizando um dos seus espaços mais nobres para a expo-
sição da nona edição do Concurso Transversalidades, que reúne os portfólios
vencedores de uma seleção de fotografias submetidas por cerca de 1.000 con-
correntes, provenientes de 78 países, num total de 4.505 imagens.
VILA DO CONDE
Depois de Coimbra, a Exposição "Transversalidades 2020 ― Fotografia sem
Fronteiras" rumou a Vila do Conde, numa parceria com a Câmara Municipal de
Vila do Conde e com o Foto VC.
A inauguração teve lugar no dia 11 de setembro no Auditório Municipal de
Vila do Conde, onde esteve patente até 11 de outubro.
CEI ACTIVIDADES
385
2021
EDIÇÕES
IBEROGRAFIAS 17 (2021)
A presente edição da Iberografias. Revista de Estu-
dos Ibéricos reflete as iniciativas do Centro de Es-
tudos Ibéricos um ano após nos despedirmos do
Professor Eduardo Lourenço, seu mentor, patrono e
Diretor Honorífico. Honrar o seu legado é acreditar
que “a esperança, o sonho, a utopia, que são a sua
substância já incorporada no nosso presente, coa-
bitam connosco e guiam todos os nossos passos e
pensamentos”.
COLEÇÃO IBEROGRAFIAS
CATÁLOGOS
TRANSVERSALIDADES:
FOTOGRAFIA
SEM FRONTEIRAS 2020
O Catálogo Transversalidades,
apresentado no dia 1 de maio
na Galeria de Arte do Teatro
Municipal da Guarda, reúne um
conjunto significativo de foto-
grafias submetidas à edição de
2020 do Concurso Transversa-
lidades – Fotografia Sem Fronteiras, estruturado em quatro temas: “Património
natural, paisagens e biodiversidade”; “Espaços rurais, agricultura e povoamen-
to”; “Cidade e processos de urbanização” e “Cultura e sociedade: diversidade
cultural e inclusão social”. Destaque para um capítulo sobre “Pessoas, lugares,
outros olhares”, onde se privilegia um conjunto de imagens representativas do
amplo universo imagético em que se transformou o Transversalidades – Foto-
grafia sem Fronteiras.
O catálogo conta com textos de: Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Arlete Moyses
Rodrigues, Bartolomeu Israel de Souza, Claudio Zanotelli, Fernando Oliveira
Baptista, Maria Eugénia Soares De Albergaria Moreira, Paulo Nuno Nossa, Rui
Jacinto e Valentín Cabero Diéguez.
Consultar catálogo em: https://www.cei.pt/catalogos/