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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

ÍNDICE

5 Editorial

7 A problemática em torno das estruturas em negativo descobertas no sítio


da Matrema IV (Aldeia da Ponte)
Paulo Pernadas

31 A Vila e o castelo templário de Touro. A propósito dos 800 anos da


atribuição do foral
Marcos Osório

59 Estelas medievais da freguesia da Ramela (Guarda)


António Sá Rodrigues

71 Os Expostos no Concelho do Sabugal


Sara Margarida Vitória Pereira

83 Alminhas do concelho do Sabugal (novos dados)


Jorge Torres

87 As tradições da Quaresma no concelho do Sabugal


Armando Matos

113 A toponímia como Paisagem Linguística e Património Linguístico.


Ruivós, no cruzamento de rotas para a Madeira?
Helena Rebelo

133 Colónia Agrícola de Martim Rei - a primeira experiência da Junta de


Colonização Interna
Filipa de Castro Guerreiro

157 A Geografia Física aplicada ao território do Concelho do Sabugal:


principais estudos e referências (ao longo de mais de um século)
Vítor Clamote

175 Publicações recebidas por oferta ou permuta com a Sabucale


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A Vila e o castelo templário de Touro.


A propósito dos 800 anos da atribuição do foral
M a r c o s O só r i o ( * )

1. Introdução
Das 5 primitivas vilas medievais do atual Município do Sabugal, Vila
do Touro é a menos conhecida dos munícipes e dos visitantes do nosso
concelho, fundamentalmente porque o seu castelo não é um monumento
tão imponente como os outros, pois encontra-se arruinado, e nunca
alcançou um destacado estatuto militar e territorial no vale do Côa.
Contudo, a fortaleza de Vila do Touro, erguida no Alto da Pena,
constitui um local surpreendente, não só do ponto de vista natural e
paisagístico, mas também no que se refere ao seu passado histórico e
valor arqueológico. O monumento já merecia um estudo aprofundado que
incidisse nas problemáticas relativas às suas características arquitetónicas
e à sua fundação e evolução cronológica.
Este texto surge no momento certo, agora que se comemoraram
os 800 anos da atribuição de Foral à povoação, uma efeméride cumprida
no primeiro dia de dezembro de 2020, que convinha assinalar na revista
Sabucale, publicando aquilo que, neste momento, é o conhecimento
histórico que temos sobre a Vila e o seu castelo.
Muitas informações foram obtidas em resultado da investigação
desenvolvida na última década na Vila do Touro. Algumas descobertas
arqueológicas e diversos apontamentos históricos na documentação antiga
revista, foram agora reunidos nesta reflexão, trazendo algumas novidades
para o conhecimento do passado desta Vila.
As considerações aqui apresentadas merecerão revisões e acertos, à
medida que forem aparecendo outras evidências históricas e arqueológicas
no local, que descrevam esses tempos gloriosos de prosperidade do
aglomerado medieval de Vila do Touro.

2. Antes da Vila
Quando o castelo foi fundado no Alto da Pena, os seus edificadores
desconheciam que esse local elevado tinha já sido habitado dois milénios
antes. Diversos achados arqueológicos apontavam para a existência de um

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povoado proto-histórico, mas somente com as escavações arqueológicas


aqui conduzidas, entre 2014-2018, com a Professora Raquel Vilaça e alunos
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi possível obter
evidências concretas sobre esta ocupação recuada aos inícios do I milénio a.C.
Entretanto, essas comunidades ancestrais abandonaram o povoado
e até ao surgimento da aldeia medieval de Vila do Touro, parece que o local
ficou ermo e ninguém estabeleceu aqui residência.
Alguns autores defendem a presença romana na Vila (Almeida, 1945:
323; Luís e Lajes, 1979: 74), mas não se conhecem suficientes indícios no Alto
da Pena, e dentro do atual perímetro urbano, que atestem uma ocupação
nesse período, para além de dois achados avulsos e descontextualizados.
O primeiro testemunho é a
inscrição funerária de Tangino, filho de
Talávio (Fig. 1), datada do séc. I d.C.,
reutilizada no resguardo do balcão de
uma casa (Osório, 1999). A pedra foi
trazida de algum lugar onde existia uma
necrópole romana e talvez provenha da
importante estação arqueológica dos
Vilares (Baraçal), a 3 km para sudeste
daqui (Osório, 2006: 71).
Nos trabalhos arqueológicos
realizados no Alto da Pena, foram
igualmente identificados alguns
fragmentos de telha romana (tegulae) em
níveis posteriores ao abandono do castelo,
que levantam questões sobre a presença
romana no lugar. Porém, sabendo que
estes achados são residuais e não foram
recolhidos quaisquer outros materiais
desta cronologia nas escavações, não
servem de argumento para defender
a hipótese, e o mais certo é que foram
trazidos de fora.
Contudo, é plausível que na
época romana o sítio fosse já designado
pelo atual nome (que surge escrito por
Fig. 1 – Inscrição funerária romana de primeira vez só no séc. XIII). Sabemos
Vila do Touro.
isto por outra epígrafe funerária
encontrada a 2 Km para norte de Vila do
Touro, nas proximidades da povoação da Abitureira (Curado, 1988: nota
6)1. O texto, igualmente datado do séc. I d.C., menciona um individuo com
o apelido Taurocus, cujo sufixo «aecus» tem carácter tópico, revelando
que seria natural de Taurus: um topónimo que é aplicado frequentemente
a sítios proeminentes em todo o mundo indo-europeu, com o significado
de ‘saliência forte’2, sendo também a designação comum de um animal de
robusta cabeça3 (Idem: nota 6; Curado, 2001: 113). O apelativo é apropriado

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para este local, pois a importância topográfica do maciço rochoso de Vila


do Touro é bem atestada à distância (Fig. 2).
Embora o antropónimo da epígrafe romana da Abitureira sugira que
a toponímia local recua a essa época, a inscrição funerária e as tegulae do
castelo são insuficientes para defender a existência de um núcleo romano
em Vila do Touro. Se essa ocupação não estiver praticamente apagada, sob
o atual núcleo urbano, sendo detetável somente no decurso de sondagens
arqueológicas, o mais certo é que os romanos deram preferência a outras
paragens nos férteis vales da ribeira do Boi e do Bezerrinho.

Fig. 2 – O Alto da Pena visível na paisagem, desde noroeste.

3. A fundação da Vila
São poucas as informações que dispomos sobre as origens medievais de
Vila do Touro, por insuficientes intervenções arqueológicas realizadas no
núcleo urbano e, principalmente, por falta de documentação antiga, que
se perdeu. Alguns dos episódios históricos relativos à sua fundação são
narrados em documentos copiados dos originais extraviados, que suscitam
algumas dúvidas quanto à sua veracidade.
A aldeia do Touro pertencia ao termo da Guarda desde os finais do
séc. XII, altura em que a cidade foi fundada e recebeu foral de D. Sancho
I (1199), tendo a sua extrema oriental chegado à bacia do Côa, abarcando
estas terras (PMH, 510-512; Osório, 2016: 96).
Nesta região poderá ter habitado uma pequena comunidade desde a
Alta Idade Média até ao séc. XIII, de forma continuada ou não, atingindo
suficiente expressão local para a povoação ser doada pelo concelho da
Guarda aos Templários, em 1220.
Prova disso é a alusão no Foral Novo de D. Manuel I, concedido à
Vila do Touro em 15104, ao privilégio que os seus habitantes receberam de
estarem isentos do pagamento de portagens em todo o território nacional,
já antes «da era de myl et duzentos et cinquoenta et dous anos» (Fig. 3)

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(que, na contagem da “Era de César”, corresponde sensivelmente ao ano


de 1214 do nosso calendário5). Esta citação na documentação do séc. XVI
revela-nos que o núcleo habitado teria já alguma importância nos alvores
do séc. XIII (Curado, 2001: 110), tendo sido beneficiado pela política régia
de fomento do povoamento nas terras de fronteira – uma região pouco
encorajadora para a população.

Fig. 3 – Excerto do foral de Vila do Touro, promulgado por D Manuel I (1510),


citando o antigo privilégio de isenção de portagens.

A referência documental mais antiga à doação de Touro é justamente


de novembro de 1220, no reinado de D. Afonso II, quando o concelho da
Guarda concede à Ordem do Templo o padroado e os dízimos de certas
igrejas que tinha nas herdades para além do «rio Ariorde» (Fernandes,
2009: 99; Costa, 2018: 652)6.
Logo aqui deparamos com problemas de interpretação da fonte escrita.
O nome do rio foi mal transcrito do original medieval e em lugar de ‘Ariorde’
deverá ler-se «rio Orde» que, por lapso do copista do séc. XVI, se terá
igualmente esquecido de desdobrar o sinal de abreviatura da última sílaba7.
Na análise do atual cadastro toponímico da região do Alto Côa, verificamos
que existe um ribeiro de Ordonho, que corre de sudoeste para nordeste, desde
as proximidades de Santana de Azinha até perto de Vila Garcia (aldeias do
município da Guarda), onde desemboca no rio Noeme (afluente da margem
esquerda do Côa). Este pequeno curso de água estabelece um limite natural
equidistante entre a Guarda (a 8 km) e Vila do Touro (a 11 km).
Depreende-se deste documento que o concelho da Guarda teria
dado não só o cabeço de Touro, mas também os rendimentos das igrejas
que existiam entre o ribeiro de Ordonho e esse relevo. Aí incluir-se-iam
especialmente os lugares do Adão, de Pêga e do Marmeleiro. Pela mesma
altura, esta mesma herdade do Marmeleiro, contígua a Touro, foi também
doada aos Templários8.
Um documento posterior, de maio de 1221, reitera a doação do
cabeço de Touro pelo concelho da Guarda à Ordem9, selando desta vez o

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compromisso de que os montes, as fontes e os rios ficariam na propriedade


comum de ambos territórios e de que as bandeiras dos dois concelhos
iriam juntas no exército do rei (Costa, 1771: 258-259, doc. 44; Fernandes,
2009: 99). Segundo este mesmo texto, por essa altura, o castelo da Guarda
estava ainda a ser edificado10 (Castro, 1902: 34).
Os freires foram mais longe na pretensão do concelho da Guarda,
adquirindo terras e incentivando a vinda de gente com o objetivo de fundar
aqui uma Vila (Dórdio, 1998: 68) e, no mês de dezembro de 1220, o mestre
da Ordem do Templo, D. Pedro Alvites, estando na cidade da Guarda,
atribuiu-lhe carta de povoamento (Viterbo, 1798: 248; Fernandes, 2009:
99), seguindo o modelo do foral de Numão (Pereira, 2014: 150).
Geralmente, a outorga destes documentos era uma prerrogativa
régia. Não obstante, durante a Idade Média foram também concedidos
direitos municipais por bispos e ordens religiosas/militares (Idem: 146).
Mesmo tratando-se de uma iniciativa privada da Ordem do Templo,
ela insere-se dentro da estratégia nacional de criação de núcleos
populacionais fortificados que controlassem o vale do Côa (Dórdio, 1998:
68). O próprio rei D. Sancho II deu aval a esta medida, vindo à Vila do
Touro, em 1229, e foi nesta Vila que redigiu e assinou o foral de Sortelha11
(PMH: 608; Osório, 2012: 48).

4. O Termo da Vila do Touro


Nas Inquirições de D. Dinis à região da Beira e Além-Douro (1314) é referido
que o território inicialmente atribuído à Vila do Touro não era muito vasto:
«Dizem as testemunhas que ouviram dizer que o concelho da Guarda
dera ao Mestre Dom Pedro Alvites, ali hu ora é Touro, herdamento em
que lavrassem seis jugadas de bois, e que fizessem hi granja12 (Castro,
1902: 34, nota 1; Gomes, 1996: 16). O documento parece determinar que a
extensão de terra doada se cingia apenas à que podia ser lavrada num dia,
por seis juntas de bois. Ora, se uma jugada é equivalente à leira ou geira
- que são 2500 m² - apesar das variantes de região para região e de época
para época, então 6 jugadas seriam aproximadamente 1,5 hectares (Merêa,
1932: 207; Sérgio, 1941: 17), o que corresponde a uma área ínfima. Por
isso, ou o padrão de referência da área cultivada está errado ou a extensão
doada era apenas simbólica e propositadamente diminuta para não dar azo
a grandes domínios territoriais.
Todavia, a carta de povoamento de D. Pedro Alvites (1220) deixa
expresso um mandato de conquistar terras para sul: «quanto mais podermos
hi ganhaar» (PMH: 588), mostrando que os novos senhores de Touro
almejavam estender-se territorialmente. E a intenção foi cumprida com
sucesso, conforme atestam as mesmas inquirições de 1314, de D. Dinis: «Os
freirres foram acrescentando, de guisa que moram ora hi bem quinhentos
homens, antre a vila e uma aldeia que chama Rapoula, que pobraram»
(Castro, 1902: 34, nota 1; Gomes, 1996: 16). Esta citação mostra que os
Templários foram dilatando os seus domínios para as terras adjacentes
e, em consequência disso, promoveram o povoamento de dois núcleos
populacionais, ascendendo ambos a cerca de 500 famílias (Dórdio, 1998: 68).

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A localização de Vila do Touro na extrema nacional portuguesa,


sempre permeável e bastante indefinida (Martín Viso, 2008: 105), deixava
alguma margem para se expandir. Mas, ao longo da primeira metade do
séc. XIII, o rio Côa foi-se constituindo o limite entre os municípios das
duas nações vizinhas, à medida que os termos da Guarda (1199), de Vila do
Touro (1220) e de Castelo Mendo (1229) definiam as suas balizas orientais
neste curso de água.
A concessão de Touro aos Templários revela a estratégia do Município
da Guarda em conseguir firmar a sua fronteira concelhia oriental neste rio
(Curado, 2001: 110), para frear a presúria de terras pelos leoneses que, desde
os primeiros anos do séc. XIII, erguiam o castelo de Caria Talaia (Ruvina,
Sabugal), a 6 km de distância, na margem contrária do Côa, controlando
um importante vau fluvial (Osório, 2010: 64; Osório, 2016: 97).
É expectável considerar que o alfoz desta aldeia leonesa, sobranceira ao
curso de água, deveria estender-se até às cumeadas das principais linhas de
altura da margem oposta, colidindo com o herdamento templário de Touro
(Fig. 4), podendo abarcar uma área de 82 km2 (Osório, 2016, 97). Vila do
Touro passava a constituir um bloqueio ao domínio territorial da fortificação
leonesa e um posto de vigilância estratégica do vale (Luís e Lajes, 1979: 52).
O termo descrito no foral de Vila do Touro não é muito pormenorizado,
indicando: «In primeyramente pela agua de boy e dezende pela garganta
de Saguarzales, e dezende pela comeeyra como uay a cornudela, e
dezende como uay ao termo da Cidade da guarda contra Elgiam, e
doutra parte pelo rio de Cola» (PMH, p. 589)13 (Fig. 5).
O limite oriental descrito no documento é fácil de localizar. Coincide
com o «rio de Cola» (PMH, 589), que passa a constituir a fronteira
nacional. Esta denominação do rio Côa com a consoante intervocálica, de
influência astur-leonesa, aparece apenas quatro vezes nos documentos do
séc. XIII (Osório e Marcos, 2018: 38-40).

Fig. 4 – Localização dos principais núcleos populacionais do Alto Côa, nos inícios do séc. XIII,
e do eventual termo de Caria Talaia.

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De seguida, a estrema setentrional corre pela Agua de Boy, que se refere


naturalmente à atual ribeira do Boi, afluente da margem esquerda do Côa.
O contorno ocidental é assinalado de forma muito sucinta por algumas
referências toponímicas coincidentes com o limite do termo da Covilhã, de
1186 (Osório, 2016, 97): «dezende pela garganta de Saguarzales e dezende
pela comeeyra como uay a cornudela» (PMH: 589).

Fig. 5 – O termo inicial de Vila do Touro e os seus principais pontos de referência.

A expressão ‘garganta’ aplica-se a qualquer vale apertado e Sargaçais


era o primitivo nome da atual ribeira da Paiã ou da região por onde este
corre, tal como vem referido nas memórias paroquiais de 1758 das Quintas
de São Bartolomeu (Sabugal), onde indica que a ribeira que desagua no
Côa, nessa freguesia, é «a que chamam dos Sorguaçais» (Jorge, 1990: 29),
que corre desde o monte de São Cornélio para oriente (Osório, 2012: 70).
Esta referência toponímica constituiu também o limite oriental de
Centum Cellas (1194) e de Belmonte (1199), sendo chamada respetivamente
por «Sarguarzal» (PMH: 488) e «Saguarzaes» (PMH: 507). As linhas de
altura desta bacia hidrográfica constituíam assim o limite de Vila do Touro
com Belmonte (1220) e, mais tarde, com Sortelha (1229).
O topónimo Cornudela refere-se a um pico orográfico com destacada
proeminência que seria naturalmente o cabeço de São Cornélio, sendo
curioso verificar que, nesta altura, o primitivo orónimo ainda não se tinha
modificado para o orago mais recente (Osório, 2012: 24).

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Por fim, o limite meridional é muito vago e distante, indo «ao termo
da cidade da Guarda no Erges» (rio que nasce na Cordilheira Central e
corre para sul, em direção ao rio Tejo), coincidindo com a demarcação
meridional do foral dessa cidade (1199) (PMH: 510-511). Essas terras
a sul da serra da Malcata encontravam-se em posse indefinida, sendo
consignadas no alfoz do concelho do Sabugal definido por D. Afonso IX de
Leão (1196-1197) (Nogueira, 1982: 18; Nogueira, 1983: 19, nota 63; Osório,
2016: 94-95) e estando igualmente afetas ao castelo de Monsanto (1165)
(Curado, 2004: 88, nota 53). Por isso, esta extrema do foral guardense é
mais uma meta de expansão territorial do que um verdadeiro domínio.
No Livro das Escrituras da Ordem de Cristo, do séc. XVI, encontra-
se outra descrição do termo de Vila do Touro, copiada de algum original
perdido: «per capud de Cornudela, deinde ad pinal, et per cacumina
montis aqua vertente ad Sagaizales, deinde ad portam de Sagaizalibus,
et per riparium donec intrat in bovem, et per aquam bovis donec cadit in
Colam et deinde ad sursum»14 (Fig. 5).
Neste caso, a descrição geográfica desenrola-se de oeste para leste,
ao contrário do sentido sinistrorso do texto do foral e, além disso, inclui
duas novas referências geográficas: Pinal que corresponde à atual povoação
do Espinhal (Águas Belas), a nordeste de São Cornélio, e a Portela de
Sargaçainhos, que poderá coincidir com o caminho velho que fica ao cimo
de Vale Mourisco, onde existia, há muitos anos, a Quinta da Portela. Neste
texto ignora-se o limite meridional do termo municipal da Vila.
Durante o período de formação da fronteira portuguesa, os limites
concelhios descritos nos documentos medievais eram ambíguos, pouco
consensuais e demasiado extensos. Foi o que aconteceu em Vila do Touro,
que nunca conseguiu exercer um verdadeiro domínio nas terras abarcadas
a sul, no diploma de D. Pedro Alvites. O limite máximo terá ficado pelo
vale do Arrebentão (Meimão), apenas durante 10 anos (Fig. 5), fixando-se
posteriormente na ribeira da Paiã (os Sargaçais), quando Sortelha passou
a ter o domínio sobre esses lugares (1229), travando o desejo expansionista
dos Templários, para sul (Vargas, 2001: 34; Batista, 2002: 111 e 116; Osório,
2012: 46). A meados do séc. XIII, o território de Vila do Touro já estava
reduzido apenas a 52 km2, menos de metade do que inicialmente estava
previsto no documento do Mestre da Ordem.
Compreensivelmente, nos séculos
seguintes, verificaram-se diversas
contendas na definição das estremas
com Sortelha e, em 1508, houve
necessidade de fazer uma delimitação
mais rigorosa do seu limite meridional,
com marcos e cruzes nos penedos,
conforme a descrição registada em
documento do Tombo da Vila: «o termo
da sobredita vila do Touro começa-se
na ribeira de Côa na foz da ribeira de Fig. 6 – Marca cruciforme do termo de
Vila do Touro gravada num penedo.
sargaçais; e vai-se por ela acima até

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à foz do ribeiro de Couço – onde entra na dita ribeira de Sargaçais; e


vai-se pelo dito ribeiro de Couço acima até um marco grosso e agudo,
que tem uma cruz no cocorito e está junto do dito ribeiro, aos Prados do
Couço… abaixo um pouco da Portela do dito Espinhal». Ainda perduram
2 ou 3 exemplares destas cruzes latinas de grande tamanho, gravadas com
profundidade nos penedos graníticos (Fig. 6), na linha de festo que separa
hoje as freguesias de Águas Belas, Quintas de São Bartolomeu e Baraçal.

5. O castelo
Para defender a população e promover o estatuto estratégico-militar da
Vila, foi planificada e financiada a construção de um castelo no Alto da
Pena ou Pena Alta. O cume desse relevo, com o vértice geodésico de 830
m de altitude, é marcado por uma crista granítica de grão fino, cuja dureza
resistiu à erosão, sendo um espaço exíguo e pouco aplanado (Fig. 7), mas
do qual se obtém um controlo excecional da paisagem envolvente.
A construção militar é hoje uma pálida imagem do projeto inicial e
encontra-se reduzida a dois panos de muralhas, de paramentos aprumados e
encavalitados entre as penedias, sobranceiros ao casario. Um troço delimita
a vertente nordeste do relevo e o outro fecha o lado meridional e ocidental do
morro (Fig. 8). Apresenta traçado curvilíneo, serpenteando as encostas do
cume rochoso e adaptando-se aos acidentes do terreno (Osório, 2016: 97).
O acesso principal ao castelo fazia-se pelo lado sul, onde se encontra
a única porta do reduto, com arco ogival, de 2,75 m de abertura, com
impostas salientes molduradas, aos 2,20 m de altura, e a ombreira direita
parcialmente esculpida na rocha (Fig. 9).
As escavações realizadas na entrada do castelo não revelaram
qualquer pavimento, talvez retirado posteriormente, embora se tenha
identificado lateralmente, a cota de soleira rasgada na rocha granítica,
totalizando 4 m de altura ao centro do arco. Na rampa íngreme da entrada
do castelo arranca uma calçada de acesso ao interior, de percurso sinuoso.

Fig. 7 – Uma perspetiva do Alto da Pena com os restos da muralha do castelo de


Vila do Touro.

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Fig. 8 – Planta da cintura de muralhas do castelo de Vila do Touro.

Tinha primitivamente um portado de madeira, de folha dupla, com


os respetivos encaixes laterais dos eixos, na rocha de base e em pedras
furadas na parte superior da abóbada, apresentando igualmente as marcas
do encastramento da tranca da porta: uma solução de fecho bastante
comum nas fortificações medievais da Beira Interior (Gutiérrez González
et al., 1994: 394; Monteiro, 1999: 83).
Até perto dos anos 80 do século passado, o arco ogival estava
entaipado e as pessoas acediam ao castelo por uma quelha, pela encosta
oriental, onde não se conhecem quaisquer paramentos defensivos ou
soluções arquitetónicas para uma porta. Somente a partir de 1994-1995 foi
reaberto o primitivo acesso pelo arco ogival.
A muralha do castelo tem uma espessura irregular, variando entre os
2 e os 3 metros, engrossando especialmente no flanco onde se abre a porta
(Fig. 8). O aparelho é constituído por silhares de granito de dimensões
regulares, sem marcas de canteiro.
Alguns troços de muralha apresentam hoje cerca de 4 m de altura
máxima, mas nas encostas encontram-se muitos blocos pétreos derrubados

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(Luís e Lajes, 1979: 74) e outros foram reutilizados nas casas e nos muros
de propriedade das imediações, indiciando que a construção seria mais
imponente.
Estes muros velhos, enegrecidos pelo tempo, revelam a sua antiga
robustez militar. E embora se encontrem desguarnecidos de ameias,
perduram ainda duas escadarias embutidas na própria muralha, para acesso
ao primitivo adarve: uma junto à entrada e outra na vertente norte (Fig. 10).
A sudoeste do recinto, descortina-se ainda uma seteira retangular na face
externa da muralha (Fig. 8), já completamente entulhada do lado interior.

Fig. 9 – Três imagens da porta de arco ogival do castelo de Vila do Touro, em momentos
diferentes da preservação do monumento.

Questiona-se, no estudo do castelo de Vila do Touro, se estava


projetado o erguimento de uma torre de menagem, como já foi sugerido
(Correia, 1946: 284). Crê-se que estaria prevista a sua edificação na
vertente norte, onde estabeleceria contacto visual com o castelo da Guarda
e exerceria controlo sobre as fortificações leonesas a leste do rio Côa. A
hipótese mais imediata é que ela seria edificada no topo do maciço rochoso
onde se encontra o marco geodésico (Fig. 8), tal como a torre roqueira
do castelo de Sortelha (Osório, 2012: 83) e da Guarda (Fernandes, 2000:
243), mas ficaria fora do recinto muralhado, num ponto de difícil acesso.
Pelo contrário, a proposta mais credível seria no espaço rebaixado da crista
rochosa (Fig. 7), onde foram identificadas as construções habitacionais
nas escavações arqueológicas do sector VI e VIII. Nessa zona encontram-
se diversos rochedos afeiçoados, com marcas em negativo do assento de
muros fortes que, pela sua dimensão, indiciam a hipótese de ter sido aí
começada a construção de uma estrutura robusta, nunca concluída.
A fortificação de Vila do Touro formava parte da barreira defensiva
da margem ocidental do vale do Côa, a meados do séc. XIII, juntamente
com Castelo Mendo (1229) e Sortelha (1229), mantendo a integridade do
território português (Rêpas, 2008: 130). Constituía a resposta nacional aos
castelos leoneses do Sabugal (1196-1197), Caria Talaia (1209), Castelo Bom
(1225-26), Alfaiates (1226) e Vilar Maior (1227) (Barroca, 2008-2009:
231) (Fig. 4).

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Fig. 10 – Troço de muralha do castelo com escadaria de acesso ao primitivo adarve


e restos de uma construção adossada à face interna.

As mudanças políticas decorrentes da tomada de terras leonesas por


D. Dinis, a oriente do rio Côa, que conduziram à redação do Tratado de
Alcanizes (1297), alteraram irreversivelmente a disposição estratégica das
forças de ambos os lados da fronteira (Moreno, 1998: 646). Com o avanço
da fronteira, estes núcleos acastelados perderam as suas antigas funções
militares e mantiveram-se apenas como centros de hierarquia populacional
em seus domínios (Osório, 2016: 99). Por essa altura, o monarca português
promulga a confirmação dos anteriores forais da Guarda, Sortelha, Castelo
Mendo e Sabugal, e ignora o primitivo documento templário de Vila do
Touro (Marques, 1998: 535).
Embora não haja nada explícito na doação de Touro (1220), que a
cidade da Guarda se opunha à construção de um castelo nesta Vila para
proteger os seus habitantes e defender a fronteira (Fernandes, 2009: 99),
referências posteriores revelam um profundo desagrado com a edificação
desta fortaleza, pois traria inevitável autonomia e projeção territorial à Vila.
Segundo as Inquirições de D. Dinis de 131415, quando os da Guarda souberam
que a fortificação estava a ser construída, marcharam até à Vila e tomaram
medidas drásticas para impedir a sua conclusão (Herculano, 1853: 183):
«E dizem que sabem e viram quando os freires hi quiseram fazer castelo,
e que foi ala o concelho da Guarda derriba-lo» (Pereira, 1988: 60; Gomes,
1996: 16). O dano deve ter sido devastador e a obra foi interrompida. Hoje
sobram apenas as ruínas de um projeto inacabado (Fig. 11)16.
Em resultado desta conduta hostil do concelho da Guarda, os
habitantes de Touro, perante a inexistência de quaisquer estruturas
defensivas na povoação, passaram a procurar abrigo no castelo do
Sabugal, sempre que sofriam alguma ameaça militar, criando laços com

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

esta Vila que perduraram até hoje. Esta situação gerou o desagrado do
concelho da Guarda, porque os habitantes de Vila do Touro deixaram
de ir à cidade cumprir os deveres de colaboração na vigilância e
manutenção do respetivo castelo e no pagamento de impostos de
rendimento municipal (Rêpas, 2008: 141), daí a queixa que chegou às
Cortes em 1395: «Qaumdo vem guerra vão-se todos ao Sabugall. E
toda esta guerra esteverom alla e nom querem aquy vir velar nem
roldar nem querem pagar em finta nem em talha ho que he comtra
direito estarem em nosso termo e nom usarem comnosco como usam
os lugares do termo desta cidade no que recebemos com agravo»17
(Coelho e Rêpas, 2006: 102-103). Apesar de ter pertencido sempre à
Guarda, a Vila isentou-se de todos os serviços e tributos concelhios,
alegando pertencer à Ordem de Cristo, e por isso, nas Inquirições são
apresentadas de novo as mesmas queixas: «N’este logar pagavam e
faziam em todollas outras cousas como faziam [os] de Germello, mas
desde então nada d’isso fazem»18 (Castro, 1902: 34, nota 1).

Fig. 11 – Troço de muralha setentrional do castelo.

No início do séc. XVI, quase todas as fortificações desta região


dependentes das extintas comendas ou granjas da Ordem do Templo já se
encontravam em ruína, como a Bemposta (Penamacor), o Rosmaninhal
(Idanha-a-Nova) ou a Torre do Arrizado (Torre dos Namorados, Fundão)
(Gomes, 1996: 69). O tombo dos bens herdados dos Templários pela Ordem
de Cristo (1508) descreve pormenorizadamente o estado de abandono do
castelo de Vila do Touro: «sobre a dicta villa contra o norte tem a hordem
huu castello em huu çerro de penedia alto. O qual estaa de todo derroído e
as casas delle todas em pardieiros honde se mostra aver em outro tempo
oito casas, e tem huua çerca arredor que da banda do norte tem ajnda
huu lanço de muro forte e boom de cantaria e asi ao sul tem outro e nelle
huu portal forte e bem obrado» (Gonçalves, 2010: 156).

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

Passados séculos, nas Memórias Paroquiais de 1758, encontramos


outra referência sobre a condição devoluta do castelo, pela mão de Frei
António Duarte, vigário de Vila do Touro: «Nesta terra junto a esta villa
há humas paredes, ou reductos entre huns rochedos já muyto antigos
que dizem serem feitos pelos mouros» (Jorge, 1990: 18). Nesta passagem
verificamos que, passados 400 anos, já se tinha perdido a memória ancestral
do sítio, sendo a construção militar curiosamente atribuída aos Mouros.
Aos poucos, os terrenos foram sendo aproveitados para o cultivo,
construindo-se terraços e socalcos que desconfiguraram o lugar. Imagens
obtidas na década de 40 do século passado mostram os terrenos do
interior do castelo completamente lavrados, sem qualquer vegetação. Só
mais recentemente, a floresta tomou conta do castelo, ganhando uma
fisionomia de parque natural aprazível, especialmente fresco no verão,
onde o Município do Sabugal instalou escadarias de madeira, para acesso
facilitado dos visitantes, com bancos para descansar e admirar a paisagem.

5.1. Outros testemunhos ocupacionais no interior do castelo


O Alto da Pena esteve inabitado cerca de 1500 anos, desde o seu abandono
pela comunidade do I milénio a.C. até ao regresso ocupacional na época
medieval, agora com propósitos completamente distintos.
Por essa altura, dá-se início à edificação das muralhas e de outras
construções anexas, com o aproveitamento sistemático dos rochedos
graníticos existentes, que modificaram a fisionomia da crista granítica
do cume, através do rebaixamento da sua cota. São frequentes em
diversos pontos do outeiro, marcas de cunhas rasgadas nos penedos,
que comprovam a fratura e o entalhe das rochas. Nesse patamar central
do recinto fortificado, preservam-se hoje alguns materiais antigos e os
alicerces das estruturas de cronologia medieval.
Antes do arranque da campanha arqueológica conheciam-se os
restos de uma construção encostada ao pano setentrional da muralha, com
cerca de 18X5 m de dimensão (Fig. 10). Na sondagem de diagnóstico aí
realizada não se obteve qualquer informação sobre a sua natureza, mas
cremos que seria um espaço não habitacional, ligado a qualquer atividade
funcional, pela grande área edificada.
Nos inícios do séc. XVI, estas edificações estavam já convertidas em
«pardieiros», sendo possível perceber-se, então, «aver em outro tempo
oito casas» (Gonçalves, 2010: 156). Na intervenção arqueológica apenas
foram identificados os restos de mais três edifícios (Fig. 12), bem como
diversas marcas em negativo na rocha, na parte alta central, pertencentes
às restantes construções. Contudo, não temos mais evidências de outras
edificações no restante espaço muralhado.
Os edifícios no interior do castelo teriam funções de apoio à obra,
para o arrumo de material e ferramentas, para além de possíveis habitações
domésticas. A população residente no Alto da Pena, por esta altura, seria
composta obviamente pelos homens contratados para a construção
do castelo – mestres, pedreiros e servos, que poderiam aí residir com a
família. A escassez de espólio arqueológico de valor e a falta de qualidade

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Fig. 12 – Vista aérea da planta do edifício exumado no sector VIII (imagem drone
de David Ferro).

destas edificações parece confirmar esta hipótese. Seria impensável


a presença neste local de indivíduos ligados à própria ordem militar,
estando radicados, pelo contrário, na aldeia, onde se localizariam as suas
residências e dependências administrativas. Aí viviam os seus mordomos,
comendadores e meirinhos para zelar pela ordem judicial e pelos interesses
templários no município (Pereira, 2014: 153).
Ao contrário de Vilar Maior e de Caria Talaia, onde foram descobertas
nas escavações arqueológicas algumas pontas de lança, de seta e virotes de
besta (Osório, 2010: 69; Pina, 2018: 59-60), a inexistência de artefactos de
caráter bélico em Vila do Touro, prova igualmente a ausência de guarnições
militares no local.

5.2. O ócio dentro do castelo


Dos hábitos e costumes da população que aqui residiu, no séc. XIII,
não temos muita informação, para além de uma conta de colar de pasta
vítrea azul, usada por algum dos indivíduos. Contudo, ficámos a saber
que as pessoas residentes no castelo, e que aqui trabalhavam, tinham os
seus momentos de ócio. Prova disso são os diversos tabuleiros de jogo
identificados no Alto da Pena.
Era já conhecido o tabuleiro do jogo do Alquerque dos 9 (ou jogo do
moinho, como também é chamado), gravado numa laje nas proximidades
da capela da Senhora do Mercado, a 65 m da entrada do castelo (Fig. 13)
(Rêpas, 2008: 130; Osório 2012: 88; Fernandes e Osório, 2013: 106-107).
Mas, em 2014, na limpeza de alguns afloramentos graníticos no
interior da fortificação foram descobertos outros três tabuleiros. O primeiro
foi identificado num penedo aplanado, de granito fino esbranquiçado, junto às

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

construções habitacionais da cumeada


central. É um pequeno tabuleiro
quadrado (36x36 cm), bastante gasto
(Fig. 14), empregue no mesmo jogo. A
erosão da superfície rochosa poderá
ser responsável pelo desgaste dos
traços, sendo a sua reconstituição, não
obstante, perfeitamente possível. O
afloramento foi totalmente afeiçoado
e encontra-se marcado por outras
Fig. 13 – Tabuleiro de jogo do alquerque dos cavidades circulares e quadrangulares
9 na Senhora do Mercado. que revelam a primitiva existência de
estruturas de madeira no local.
Mais tarde, foram identificados dois outros tabuleiros na encosta
sul, a 20 m de distância deste, num penedo granítico de grão grosseiro.
Estas gravuras são de maior dimensão (50x48 e 45x48 cm), estão bem
conservadas e correspondem aos dois jogos mais usados em época
medieval: o alquerque dos 9 e o alquerque dos 12 (Fig. 15). A sua disposição
na superfície rochosa permite que um par de indivíduos jogue em cada
tabuleiro, simultaneamente.

Fig. 14 – Tabuleiro de jogo do alquerque dos 9 no Alto da Pena.

Existem dois cruciformes associados aos tabuleiros, de difícil


compreensão, com algum significado votivo ou apenas ligados ao jogo,
bem como umas cavidades naturais que podem ter sido aproveitadas no
decurso da própria atividade lúdica.
Nas escavações arqueológicas realizadas neste castelo foram também
recolhidas algumas peças de jogo, feitas a partir de cerâmica doméstica e
telha, que podem ter sido utilizadas nestes tabuleiros.
Estes jogos gravados na pedra são os que aparecem com maior
frequência em território nacional, tal como os exemplares conhecidos nos
castelos de Vilar Maior (Fernandes e Osório, 2013: 106-107), Sortelha

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

(Osório, 2012: 87) e Linhares da Beira (Fernandes, 2013: 98-99), o seu


achado repete-se no interior de edificações militares, sugerindo a existência
de uma tradição lúdica praticada nos castelos, entre os séculos XIII a XIV,
pelas sentinelas de vigia (Fernandes, 2013: 263) ou, neste caso, pelos
pedreiros construtores.

Fig. 15 – Levantamento fotogramétrico dos tabuleiros de jogo do alquerque dos 9 e


dos 12, na encosta sul (com o programa 3DF Zephyr).

6. Os espaços de culto
Na povoação de Vila do Touro existem hoje quatro igrejas e uma capela,
mas apenas duas recuam seguramente ao período medieval. Pela mesma
altura da doação de Touro aos Templários, o bispo da Guarda e o seu cabido
concederam uma igreja no lugar de Cabeça do Touro à dita Ordem, em 30
de novembro de 1220 (GAV: 504, n.º 1208)19.
Mais tarde, na divisão das rendas do Bispado da Guarda, de 1260,
vem mencionada uma igreja em Taurus e, depois, em 1321, a igreja de
Tauro é indicada como sendo já da Ordem de Cristo, pois com a extinção da
Ordem do Templo, em 1319, passou para a sua tutela. Seguramente que esta
constante menção a uma igreja se aplica à atual igreja matriz de orago de
N.ª Sr.ª da Assunção, que primitivamente teria outra devoção desconhecida.
A Igreja da Senhora do Mercado, situada a poucos metros da entrada
do castelo, é outra possibilidade. O templo é bastante antigo e tem sido

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

datado do séc. XIV, fazendo referência à tradição da atividade mercantil que


se realizava no seu adro, à entrada da vila, pelo caminho que vem da cidade
da Guarda. O imóvel mantém o seu traçado bem conservado, especialmente
a porta de arco ogival, de ombreiras biseladas, semelhante à do castelo.
Nos afloramentos defronte dessa
capela, para além do tabuleiro de jogo, já
mencionado, identificam-se ainda diversas
cavidades circulares, buracos de poste
e covas semelhantes às “Malguinhas da
Fidalga” de Sortelha e Monsanto (Osório,
2012: 16). Juntamente com essas marcas,
observam-se alguns degraus talhados na
rocha que evidenciam a primitiva presença
de estruturas construtivas, talvez de madeira,
relacionadas com a forte atividade mercantil
que decorria nesta zona, à entrada da Vila.
Na Idade Média, os enterramentos
eram feitos no adro das igrejas ou em
Fig. 16 – Estela discoide de pequenos espaços contíguos. Os defuntos
cabeceira de sepultura medieval.
eram colocados em túmulos no interior da
nave ou no adro, cobertos por grandes tampas retangulares de pedra ou
apenas assinalados por estelas discoides à cabeceira da sepultura. Dessa
primitiva necrópole medieval conservou-se apenas uma cabeceira de
sepultura, que foi por nós vista numa moradia, há anos, e que, entretanto,
desconhecemos o seu paradeiro. Trata-se de uma estela, já sem o pé para
fincar no solo, reduzida apenas ao disco decorado com uma cruz pátea, em
relevo (Fig. 16), motivo bastante comum na iconografia funerária medieval,
mas que foi especialmente usado pelos Templários.
Quando o solo era essencialmente rochoso, abriam-se cavidades
tumulares no granito, tal como era habitual naquele tempo, que ainda se
preservam hoje nas igrejas de Sortelha (Osório, 2012: 124-128). Segundo
Joaquim Manuel Correia, no início do séc. XX ainda eram visíveis duas
sepulturas escavadas na rocha no adro da igreja matriz (1946: 284).
Infelizmente, estes túmulos terão sido soterrados ou destruídos no arranjo
do largo, durante a 1ª metade do séc. XX. Temos uma foto contemporânea
desse momento referido pelo autor, mas não é possível identificar no local
as referidas sepulturas (Fig. 17).

7. Outros testemunhos ocupacionais


Embora a grande maioria dos primitivos testemunhos ocupacionais de
Vila do Touro tenham já sido apagados com o tempo, preservam-se ainda
outros vestígios recuados à Idade Média.
Paulo Dórdio refere uma segunda cerca defensiva, que envolvia a
parte baixa da povoação, desde a Senhora do Mercado até à igreja matriz, de
traçado retangular (1998: 68), com base nas referências de Joaquim Manuel
Correia à existência de um reduto (Correia, 1946: 285). Contudo, não se
conhecem quaisquer testemunhos documentais ou arqueológicos de tal

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

Fig. 17 – Adro da igreja matriz de Vila do Touro, no início do séc. XX.

construção. O largo do pelourinho foi de facto chamado de Largo do Reduto,


onde se conservaram, até tarde, restos de um velho muro (Luís e Lajes,
1979: 75). Mas esta estrutura correspondia apenas a uma tosca parede de
proteção comunitária das investidas castelhanas e francesas durante os
séculos XVIII e XIX, idêntica a muitas outras que existiram pelas aldeias do
distrito da Guarda, por essa altura.
Tem também sido atribuída uma função funerária a duas cavidades
retangulares que se encontram numa laje granítica, fora da povoação,
junto ao Chafariz do Carvalho. Mas, como bem lembrou Joaquim Manuel

Fig. 18 – Tanques de curtumes do Chafariz do Carvalho.

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Correia, no início do séc. XX, elas eram conhecidas então como pias de
curtumes (1946: 284). Verificando-se que se apresentam, ainda hoje,
rebocadas a cal por dentro e que possuem dois inusitados buracos de
poste no espaço intermédio (Fig. 18), temos de concordar que não são
sepulturas escavadas na rocha, como as que se encontram com frequência
pelas Beiras (Tente e Lourenço, 1998; Martin Viso, 2007), mas uns meros
tanques de provável utilização artesanal no tratamento de peles e couros,
dos quais temos um interessante paralelo em Sortelha, também fora de
portas (Osório, 2012: 122-123).
No passado existiam igualmente, em redor da Vila, inúmeras
lagariças abertas na rocha, empregues fundamentalmente na produção
de vinho, ficando nas proximidades dos terrenos cultivados. Temos uma
lagariça rupestre no Vale das Vinhas (Fig. 19) (Correia, 1946: 284), duas
outras no lugar da Mansaperra e ainda outra nas proximidades da aldeia
da Abitureira. Estas estruturas rupestres são geralmente recuadas ao
período medieval, e provam a antiga tradição de produção vitivinícola que
perdurou alguns séculos, entrando depois em decadência e abandono,
sobretudo com o surgimento da praga da vinha.

Fig. 19 – Lagar rupestre do Vale das Vinhas.

Originalmente, eram compostas por um intrincado sistema de


prensagem feito com armações de madeira, pesos e contrapesos de
granito, que se perderam (Tente, 2007: 347). A lagariça do Vale das Vinhas
apresenta ainda um tanque escavado na rocha (calcatorium), amplo e
elevado, onde é feita a prensagem propriamente dita, além da bica esculpida
na rocha que verte o líquido para um espaço inferior, onde se colocava
um grande recipiente de cerâmica (Fig. 19). Além disso, são ainda visíveis
duas pequenas cavidades simétricas, com formato retangular (stipites),
que testemunham o assentamento da viga que sustentava os pesos para
esmagar o fruto (Almeida, Antunes e Faria, 1999: 100).

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

Na base da encosta noroeste do Alto da Pena localiza-se uma das fontes


de captação de água mais antigas da Vila, que foi designada como Fonte de
Paio Gomes (Correia, 1946: 287; Luís e Lajes, 1979: 93), destacando-se pelo
seu raro arco de estilo gótico (Fig. 20), semelhante ao da porta de entrada
do castelo e da igreja da Senhora do Mercado. Esta fonte de mergulho é
uma das obras de carácter municipal promovidas pelo concelho de Vila
do Touro, após o foral de 1220, com vista ao abastecimento público de
água à povoação. Não sabemos quem é o personagem imortalizado nesta
denominação popular, mas talvez seja o nome de um antigo senhor ou
representante concelhio local.

Fig. 20 – Fonte de mergulho de Paio Gomes.

O pelourinho de Vila do Touro é de feitura quinhentista, ao tempo


em que o rei D. Manuel I renovou o foral da Vila (1510). O monumento
está classificado como Imóvel de Interesse Público pelo decreto n.º 23122
de 11 de outubro de 1933. Este pelourinho é bastante simples, possuindo
uma coluna monolítica de granito com 1,4 m (Fig. 21), tal como a de
Alfaiates (Correia, 1946: 284); uma base de 3 degraus circulares de
grande diâmetro, onde assenta o fuste cilíndrico liso, encimado por
capitel cruciforme compósito, com remate cónico de superfície estriada
(Malafaia, 1997: 422).
A antiga Casa da Câmara e o Tribunal estavam situados junto ao
castelo e já se encontravam arruinados no princípio do séc. XX (Correia,
1946: 284). É provável que o antigo pelourinho medieval se localizasse
igualmente nessa zona, próximo da fortificação. Posteriormente, a casa da
câmara foi transferida, segundo a tradição local, para a rua principal do
aglomerado, a poucos 35 m do atual pelourinho.

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

A sudeste do alto do Castelo encontra-


se ainda o Barroco da Forca (Luís e Lajes,
1979: 92), sendo a denominação toponímica
de um elevado outeiro, fora da povoação,
onde eram executados os condenados
à pena capital, como era costume no
medievo, e que vem registado no Tombo da
Ordem de Cristo de Vila do Touro, em 1508,
como sendo os «penedos onde sohia estar
a forca» (Gonçalves, 2010: 157), provando
que, por essa altura, já não perdurava esta
prática penal, também atestada em Vilar
Maior, na gravura de Duarte d’Armas de
Fig. 21 – Pelourinho de Vila do Touro 1509 (Castelo-Branco, 1997).
numa imagem dos inícios do séc. XX.

8. A rede viária
A criação de uma nova sede municipal, como cabeça de um território, obrigou
à abertura de uma ampla rede viária com a região envolvente. Vila do Touro
passou a ser ponto de irradiação de novos percursos de comunicação com as
aldeias do seu termo e com os castelos vizinhos. Para maior eficácia defensiva
conjunta, existiam vias de contacto rápido e direto com a Guarda, Castelo
Mendo, Jarmelo, Sortelha e, depois do Tratado de Alcanizes (1297), também
com o Sabugal, Alfaiates e Vilar Maior.
A conexão viária do castelo templário de Vila do Touro à Vila de
Sortelha, a sudoeste, estaria já definida a meados do séc. XIII. Ambas as
fortificações faziam parte da linha defensiva fronteiriça concebida pela
coroa portuguesa para o controlo da faixa poente do rio Côa, travando
o domínio leonês das fortificações do Sabugal e de Caria Talaia (Osório,
2010: 73-74).
O percurso é fácil de traçar pelos sítios da Malhada e da Mansaperra,
depois pela Portela de Vale Mourisco (onde perdura até uma alminha junto
ao caminho), seguindo pelo Espinhal até à aldeia do Dirão da Rua (que
já existia em 1527: Collaço, 1923: 103). O seu topónimo atesta a origem
essencialmente viária desse aglomerado de casas, precisamente no ponto
de passagem do caminho (Osório, 2012: 76), onde até poderia ter existido
uma estalagem.
O traçado continua para oeste, até Sortelha, contornando a vertente
meridional do monte de São Cornélio. Aí perduram vários troços de
calçada que assinalam a passagem desse itinerário medieval (ver Vargas,
2001: 31 e Marques, 2001: 64). A calçada encontra-se mal conservada e
em perigo, reduzida atualmente a poucas centenas de metros de extensão
(Osório, 2012: 75).
A norte de Vila do Touro, a poucos 300 m da vertente do castelo,
perduram igualmente os restos de uma calçada em direção a norte,
estabelecendo ligação com os concelhos de Castelo Mendo e de Pinhel. É
um testemunho arqueológico recuado à Idade Média, embora com naturais

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

reconstruções nos períodos subsequentes. No local são ainda visíveis


os grossos blocos de granito desgastado, já mal conservados, reduzidos
atualmente a alguns troços que perfazem cerca de 700 m de extensão que,
infelizmente, têm vindo a ser cobertos ou retirados pela necessidade de
melhorar o caminho. Apresenta os rodados bem marcados, com 1,30 m de
distância de eixo.
No percurso de conexão com a cidade da Guarda, a ocidente,
são igualmente referidas as calçadas e a ponte velha sobre a ribeira da
Lourença ou ribeira do Boi, denominada a ponte do Boi, no caminho para
Pega (Almeida, 1945: 325; Luís e Lajes, 1979: 74). A ponte tem arco de
volta perfeita e situa-se num traçado muito importante desde os alvores
da Vila, quando estava dependente do município da Guarda. A ponte já
foi datada como romana, mas deve recuar apenas ao período medieval
(Correia, 1946: 284; Jorge, 1990: 17) (Fig. 22).

Fig. 22 – Ponte de pedra sobre a ribeira do Boi.

9. Epílogo
Vila do Touro foi um município medieval que ganhou algum vigor durante
o século XIII, mas com o tempo foi perdendo dinamismo e destaque no
panorama regional, recebendo novamente atenção régia no séc. XVI, altura
em que já pertencia à Ordem de Cristo, quando o seu foral foi renovado e
os seus privilégios confirmados por D. Manuel I, em 1510, cinco anos antes
do Sabugal e de Alfaiates, mas sem atingir o fulgor dos tempos em que os
Templários eram os seus senhores.
Desse novo alento económico e social da Vila perduram ainda
alguns testemunhos artísticos, para além do pelourinho, entre os quais se
destaca, naturalmente, o grande número de edifícios com portas e janelas
com molduras de estilo manuelino existentes na Rua Direita e em alguns
arruamentos colaterais, um sinal de bem-estar e de abastança generalizado
(Soromenho, 2008: 163).
Por essa altura, o núcleo urbano já se tinha gradualmente deslocado
das portas do castelo para o adro da igreja matriz, ao longo do eixo viário

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 12 (2021)

que unia os dois principais monumentos locais. Esse arruamento tornou-se


o centro da vida da comunidade, para onde se deslocou a derradeira casa da
câmara conhecida na Vila, muito próxima do pelourinho.
Mas a história desses tempos pós-medievais ficará para outra
oportunidade.

Notas

(1) A epígrafe encontra-se guardada no Museu Nacional de Arqueologia de


Lisboa, com o n.º de inventário E5230, tendo dado entrada em 1913, por doação de
José de Almeida Carvalhais.
(2) No concelho de Vila Nova de Paiva (Viseu) existe uma outra localidade de nome
Touro, cujo topónimo poderá advir da serra de Leomil, que fica a norte da povoação.
(3) Foi já sugerido, erradamente, que a palavra Taurom que se encontra gravada
na inscrição rupestre lusitana do Cabeço da Fráguas (freguesia de Pousafoles do
Bispo), alude a este lugar (Almeida, 1945: 85). Contudo, ela refere-se apenas ao
animal que foi aí sacrificado no decurso de cultos indo-europeus perpetuados nesse
monte.
(4) Documento guardado no arquivo do Museu do Sabugal (Osório, 2008: 165).
(5) Sobre estas questões de conversão de datas da Era de César ao calendário atual, ver
Barroca, 2000a: 211.
(6) I.A.N./T.T. Livro das escrituras da Ordem de Cristo, Ordem de Cristo/Convento
de Tomar, Cód. 234, 2ª parte, fl. 117.
(7) Sugestão gentilmente cedida por Fernando Patrício Curado.
(8) Ver nota 6; Fernandes, 2009: 99.
(9) I.A.N./T.T. Livro das escrituras da Ordem de Cristo, Ordem de Cristo/Convento
de Tomar, Cód. 234, 2ª parte, fls. 113v-114.
(10) A citação original é «Stabant faciendo castellium Civitatis Guardiae per mandatum
Domini Regis».
(11) Datação sugerida por Alexandre Herculano, com base na análise dos nomes dos
confirmantes: GEPB, 1936: 702.
(12) I.A.N./T.T. Livro das Inquirições que se tirou sobre as honrras e devassos da
Beira e d’Alem Douro, Leitura Nova, Liv.3, fl. 3v.
(13) Que traduzido seria: «Primeiramente pela água de boi, e de lá pela garganta de
Saguarzales e daí pela cumeeira que vai à Cornudela, e de lá como se vai ao limite
da cidade da guarda coincidente com o Erges, e da outra parte pelo rio Côa».
(14) Documento citado na nota 9, que traduzido diz: «Pela cabeça da Cornudela, e
depois ao Espinhal, e pelos topos dos montes das águas vertentes aos Sargaçais
vai depois à Portela dos Sargaçais, e pelo ribeiro que entra no [ribeiro do] Boi, e
pela água de Boi até cair no [rio] Côa e depois por aí acima»
(15) Ver nota 12.
(16) Tal como aconteceu com a fortificação leonesa de Caria Talaia (Osório, 2010: 74).
(17) Capítulos especiais da Guarda às Cortes de Coimbra de 1394 /IAN/TT, Leitura
Nova, Beira, Lº 1, fls. 108-109, datado de 2 de janeiro de 1395.
(18) Ver nota 12.
(19) I.A.N./T.T. Gav. VII, m. 14, n.º 6; I.A.N./T.T. Leitura Nova, Livro dos Mestrados,
fls. 33-33v.

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com um índice remissivo. Vol. 2. Lisboa, p. 365-366, 371.

____
(*) Arqueólogo. Gabinete de Arqueologia e Museologia do Município do
Sabugal e Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património
da Universidade de Coimbra.

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