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OCUPAGAG HUMANA E POLARIZAGAO DEUMESPACO RURAL DO GARB-AL-ANDALUS 0 Médio Tejo & luz da toponimia arabica por Manuel Sflvio Alves Conde” Na periferia dos grandes centros civilizacionais islamicos, 0 Garb- al-Andalus permaneceu, durante muito tempo, 2 margem dos estudos consagrados & Hispania muculmana. A situaclo melhorou apreciaveimente na sitima década, mas, apesar do que até aqui se produziu, 0 conhecimento da rea ocidental do Andalus permanece muito lacunar Nesses estudos, 0s espacos rurais do Garb foram, em regra, secundarizados 2, ¢ 0 MEdio Tejo ? mugulmane tem sido sistematica- * Departamento de Historia, F.C. S, Universidade dos Agores " Vejam-seas recentes sinteses de CléudioTorres,"O Garb-Al-Andaluz”, in Historia de Portugal, dit. por José Mattoso, Yo. 1, Lisboa, 1992, pp. 363-415, € A. H, de Oliveira Marques, "O "Portugal islimico”, in Nova historia de Portugal , dit. por Joel Seerio eA. H {de Oliveira Marques, vol. 1- Portugal das invasdex germdnicas & Reconquista’, coord, por A.H. de Oliveira Margues, Lisboa, 1993, pp. 117-249, erespectivos elencos bibliograficos. “Assinalem.se também as revistas Arqueologia medieval, do Campo Arqueol6gico de Mérola [1992-],eXelb, Revista de Arqueologia, Arte, Einologia e Hisiéria, do Museu Municipal de Arqueologia de Silves {1988-], que regularmente se dedicam a questdes do Garb, 2 Também na vizinha Espanha, a preferéncia em ido para as tematias urbanas, como foi vivamentesublinhaco por Mique! Barcel6, ‘Quina anqueologia per al-Andalus””.Arqueologia ‘medieval, n°. 2(1993),P8, Em trabalho em curso, procedermos 3 delimitaeo minuciosa deste espago, em contexto rmedievo e sua ustificagao, Nele consideramos os aciuais concelhios de Abrantes,lcanena (parte), Constincia, Entroncamenta, Ferreira do Z8zere, Mago, Sardoal, Tomar, Torres No- ARQUIPELAGO + HISTORIA, 2° série, 1 (1997) 353.385 353 mente silenciado, tido por “terra de ninguém” *, Tal atitude é, até certo onto, compreensivel, em face dos limites das fontes, decorrentes da sua natureza 5, As fontes e os seus limites As fontes drabes relativas a este espaco, quer a literatura geografica, quer a cronfstica, foram redigidas por autores provenientes de metos urbanos, exteriores ao mesmo §. Em regra, os seus autores nao foram além da apreciagao genética de cada kura (distrito), omitindo a comunidade rural e os nicleos de povoamento rural, qurun (plural de garya, aldeia) ?. Nao referiram sequer as uunidades territoriais de base, dependessem elas de huswe (plural de hisn, fortaleza) ou mesmo de mudun (plural de madina, cidade) Apenas Ihes interessaram os centros urbanos mais significativos, as ‘vase Vila Nova da Barquinha, mais territdrio da Cardiga, todos no distrito de Santarém, @ ceoncetho de Ponte de Sor a feguesia de Belver, no distrito de Poralegre, eo concelhode Vila deRei, no distito de Castels Branco. 4 Ainda rocentement,referindo-se a Toma, afrmou a arque6loga Selete da Ponte, “Tomar historia e geografia humanas no tempo € no espaco", Argueologia na repido de Tomar Suplemesto ao Boletim cultural e informativo ds Cémara Municipal de Tomar, r®. | (1985), p.2!: "Tomar torna-se entio durante 4 culos —de 716 1137— numa tera de ninguér, ‘© Mondego e oTejo constiufam, por assim dizer as fronteiras naurais dos Cristios, aNotte, edos Arabes a Sul 1” 5 Como sublinhou veementemente, para defender a tse do ermamento da regio, Eduardo (Campos, Notas histéricas sobre a fundago de Abrartes, 2 ed, revista eaumentada, Abrantes, 1988, p. 27: "Busquem-se nas crdnicas coevas (Arabes ou crisis) provas dessa existéncia [de [Abrantes drab]. Quem se acupar com tl trabalho, o que dele concluiré€ muito mais do que ‘a inexistencia de Abrantes;é @auséncia ds mais tnue referéncia a qualquer povoagio num ‘extens teritrio que abrange pare ds actus provincias da Beira Baixa, ibatejo, Estremadura eAltoAlenicjo" © Aspecto jé considerado,relativamente & Marca Superior do Andalus, por Philipp ‘Sénac,“Peuplement et habitats ruraux dans la Marche Supérieure d’ Al-Andalus: Aragon” in Villages evllageois au Moyen Age, XXIe Congres dela Société des Historiens MEdiGvistes dde1’Enseignement Supérieur Public (Caen, 1990), Paris, 1992, pp.27-28, que consideraque ais fontes, lém de raras,"sont également imprécises et déformants” Exceptue-sea mengdo, numa delas, das "1000 aldeias” dakura de Sancarém, na qual se inseria a maior parte do Médio Tejo, Cf. Una Descripcisn Andnima de Al-Andalus, ed. Luis Molina, vol. Il Madrid, 1983, p. 58. 354 fortificagées de maior relevancia estratégica, os itinerérios (masalik) principais, Assinalaram algumas vezes a fertilidade dos solos e a riqueza das culturas —por regra, em forma estereotipada ¢ excessiva—, os produtos principais ¢ 0 montante dos impostos, reportando-se sempre & capital da kura * A imagem que nos dio do espago rural &, assim, bastante vaga e desfocada Por sua vez, as fontes cristds —cronisticas ou documentais— relativas a0 perfodo da reconguista ¢ & primitiva colonizagao deste espago escasseiam, sendo inteiramente omissas em relacdo a0 perfodo crucial que decorre entre 1147, momento da captura do territério, € 1159, ano em que ocortem as primeiras iniciativas da coroa, documentadas, visando o seu repovoamento. Tais testemuphos, so, por outro lado, marcados pelas estratégias de organizagao social do espago praticadas por quem os produziu: a coroa ¢ institutos senhoriais. Sabido que era principio geral 0 da pertenga ao rei, nas areas tomadas aos mugulmanos, de toda a propriedade territorial abandonada, ou considerada sem titular efectivo, por direito de conquista %, bem como o do respeito dos direitos de propriedade dos mogérabes, se estes nfo houvessem cometido acto que implicasse a sua perda, € fécil entender os moti- vos pelos quais as fontes crists apresentam o espaco rural médio- tagano como um ermo. Ainda mais desfocada e imprecisa & por isso, a imagem que nos do desse espago, no contexto 2 que nos reportamos. Perante 0 insuficiente e deformante testemunho de geografias, crénicas e documentos, arabes ou cristaos, 0 tema da ocupacdo humana do Médio Tejo sob dominio istimico hé-de ser esclarecido, sobretudo, pela arqueologia. Nao so de desprezar, contudo, outras 8h as descrigbes, relativas a huts de Santarin,fita no século X por AL-Razi, integrada na Crénica Geral de Espanha de 1344, ed. rt. por Luis Filipe Lindley Cintra ol. l,2.ed, Lisboa, 1984, p66, asesertas 0s séculs XI-XII por Al-Bakr, reproduzida no sBculo XII por Ibn Ab ‘Al-Munim Al-Himiar}) Allis ¢ Al-Makari, in Portugal na Espana drabe, ed. por Anténio Borges Coelho, vot | - Geografa e cultura, 2. ed. Lisboa, 1989, pp. 61-62, 70 76 ° Luis Daminguez Guilarte, "Notas sobre Ia adquisicidn de tierras y de futos en nuestro Derecho medieval. La presura 0 escalio", Anuario de Historia del Derecho Espatiol,t. X (1933), pp. 288-289; Ignacio de la Concha y Martinez, La “Presura”. La ocupacion de tierras en los primerossiglos de la Reconquista, Madrid, 1946, p. 78 passim; Virginia Ra, ‘Sesmmarias medievais portuguesas, ed, Lisboa, 1982, pp. 28-29, 355 fontes, da etnografia a toponimia. & o testemunho desta tiltima que queremos, neste trabalho, relevar. A identificacao, estudo ¢ levantamento cartografico da toponimia arabica do Médio Tejo pesmite © preenchimento de uma parte, porventura muito pequena, da matéria lacunar relativa a este periodo, o aprofundamento de certas temiticas, nomeadamente a do ordenamento rural da drea, € @ construgao de algumas novas hipéteses que estudos posteriores se encarregarao de confirmar, ou desmentir. A toponimia arabica Encontramos, na sub-regido, mais de 80 nomes locativos derivados do érabe, que se apresentam em apéndice. Note-se que 0 surgimento de alguns desses topénimos poderd ter sido posterior a0 dominio mugulmano, n&o abonando, portanto, o povoamento nesse periodo, E 0 caso, sobretudo, de vocabulos que permaneceram no portugués corrente, cujo uso neste contexta deve ser objecto do maior cuidado. Ainda assim, tais locativos denunciam, parece-nos, uma presenga e interess¢s muculmanos no tertitério médio-tagano bem mais relevantes do que, até agora, se tem considerado, A toponimia arébica sub-regional espraia-se pela terminologia relativa & paisagem, ao povoamento ¢ as actividades econémicas, primérias © secundérias. Inclui nomes relativos a flora espontanea € subespontinea, com étimos como az-zanbuja (zambujeiro), al-iklil (alecrim), ar-rihana (murta), ar-ruta (arruda), arzia (cedral), ow al- fezeran (canavial), zootopénimos, como al-garauan (perdiz), ou zez (cigarra), € locativos respeitantes a detalhes topograficos, derivados de al-geiran (cova ou gruta), ar-rif (flanco da montanha), ou ar-ras (cabego). Tudo 0 que respeita & 4gua parece ter particular relevo, desde a vertente paisagistica, com al-kharrarat (cascatas), al-mugadir (charco), ou al-birka (lago, poga), & das técnicas de irrigagdo e de producio de energia, representadas por al-biran (dual de ber, poco), Man-nau’ra (nora), as-sudd (agude), ov as-saniya (azenha). Outros aspectos da paisagem rural ¢ das actividades agro- pecudrias so também contemplados, através de al-gamh (trigo), ar-ruz (atroz), naranja (laranja), rumman (roma), gaff (sebe), al- gaua (terra inculta), al-marj (prado, paul), al-jazira (ilha, lez 356 ou rab ad-dan (dono de carneiros). Formas de povoamento e tipos de exploragao rural integram, do mesmo modo, a toponimia médio- -tagana de raiz arabe, através de al-madina, ar-rabad (plural de ar- rabd, subsrbio), kisn, qarya, al-day'a (propriedade fundidria), ar- rahal (granja), ou al-munia (horta). © mesmo se diga dos transportes © comunicacées, presentes através do radical -massa (caminho) ox de étimos como ar-racif (estrada pavimentada), az-zinaiga (rua es- treita), al-megia’a (vau de um rio), ou al-maras (plural de al-marsa, ancoradouro). E também do comércio, itinerante, através do az- zammal (almocreve), ou urbano, com o suk (mercado) € 0 seu al- muhtasib (juiz do mercado), € das actividades extractivas, dominadas pela exploragio do tufo de caleério (al-giddan). O poder ¢ 0 elemento onomédstico-étnico estdo igualmente presentes na toponimia arabica da zona, Aquele & representado pelos jé mencionados hisn e al-muhtasib, mas também por outros nomes ligados & administracao ou actividade guerreira, como al-musrif (almoxarife), al-qa'id (alcaide), ar-rias (punho de espada), ar-rabita (convento fortificado), at-tali’a (atalaia), al-burj (torre), ¢ pelo radical cat- (contracgao de qal’at, castelo). Este aparece-nos em étimos como Qayn, Kinana, Zuhra e Luwata, que correspondem as denominagées de tribos arabes e berberes, € ainda em Banu al Fagih, Banu’Amir © outros derivados de Banu-, que identificam clas berberes, O Médio Tejo sob 0 dominio mugulmano Para uma melhor percepgao das estratégias de polarizagao/ ordenamento territorial postas em pratica no Médio Tejo, entre os séculos VIII e XII, delinearemos, em tragos muito gerais, o conspecto politico e sécio-econémico da area. E pouce 0 que, de concreto, se sabe da vida das populagdes locais. Dentro do Garb, 0 territ6rio a norte do Tejo teria uma feigo particular, dada a sua muito forte componente crista !°. A ductilidade dos mugulmanos para com os vencidos, seguidores das religides do Livro, a quem se permitia a manutengdo dos costumes e instituigées civis e religiosas, no respeito pela autoridade muguimana e desde "0 Santiago Macfss, "Resenha dos facts politicos”, in Clio Tomes, ob ct, p. 419, 357 ‘que se pagassem os tributos estipulados, deve ter possibilitado a existéncia de um clima de aceitacdo técita entre cristaos mugulmanos. Circunstancias particulares favoreceriam este clima. A conivéncia das gentes da zona com os invasores mugulmanos, aos quais se submeteram sem lua, permitindo-Ihes uma ocupagao facil, valeu-lhes um estatwto autonémico € a manutengdo dos seus bens ¢ direitos de propriedade 1, situago a que, escrevendo no século XI, alude Muhammad ibn Muzayn: “Os territérios que se submetcram por capitulagao sao os do Norte, onde os cristaos conservaram a propriedade das terras & arvoredo, mas rio a dos outros bens. Alguns sabios antigos dizem, falando de Espanha, que a maior parte dela se submeteu por capitulagdo, excepto alguns lugares bem conhecidos, porque, depois da derrota de Rodrigo, capitularam todas as cidades, Daqui que os cristdos que as habitavam continuaram possuindo as suas terras e demais propriedades com direito a vendé-las” 12 Até h4 pouco tempo, considerava-se a islamizagdo da Hispania resultado da rapida ocupacao dos seus territérios pelos poderosos exércitos drabes e berberes, que teriam forgado os cristaos vencidos a apostasia ou ao exilio. Essa tese ven sendo ultimamente rejeitada, considetando-se antes a islamizagdo como um fenémeno “de esséncia cultural, mais do que militar” !3, para ¢ qual contribufram sobretudo as comunidades de mercadores que controlavam as rotas do Oriente 4, “lento e gradual” '5, mas irreversivel, “mesmo sem as tropas de Térique” '6. A essa luz, ganha uma nova dimensao 0 fenémeno 114 Leite de Vasconcelos (e M. Viegas Guerero, Enosrafia pormguesa. Tentame de sistemas do, v1, 2-04 Lisboa, 1982, pp 257-262; Claud Tres ob cit, p19 12 poral na Espanha drabe, vol. 1, pp. 57-38. "3 Claudio Tres, ob cit, 9.406. 1 Cidudio Forces. 0 cit. pp. 371-372 15 Cigudio Toes. ob. cit, p. 407: 0 mesmo autor. baseando-se em Molias Figura, sustenta que s6 em finais do sculo X,os mugulmanoseriam ultapassado meade da popu eat- Adal '6 Cidudio Torres, ob ct, p. 406 358 mogérabe '?, pela sua importancia ¢ extensio no Andalus. © impacto do mesmo no Médio Tejo, durante o perfodo muculmano, é-nos revelado por alguns, pouco numerosos, mas significativos, indfcios. S40 um pouco mais abundantes na area tomarense. Af existiam, na margem esquerda do Nabi, perto do local do Forum de Sellium, diversos mosteiros e templos cristdos que a tradigZo oral, em 1317, apontava como fundados muito antes da edificagdo do castelo de Tomar: os mosteiros de Santa Iria, de monjas, de Santa Maria de Selho, de monges negrados, e a igreja de S. Pero Fins '*, Em ligagao a0 primeiro daqueles mosteiros surgiu a lenda do martirio de Santa Iria € 0 culto da mesma propagar-se-ia no vale do Tejo na época mogérabe, segundo a hipétese de José Mattoso , Mais a norte, na zona de Dornes, existiu © pouco conhecido mosteiro da Murta, de que surge uma primeira mengdo em meados do século X11 29 e comunidades mogérabes 27 ote fendmeno mocérabe, veja-s:Alexane Herculano, Histria de Portugal ed de José Mattos, Il, Lisboa, 1980, pp. 235-274; J. Leite de Vasconcelos (@ M. Viegas Guerreito), ob ci, vol. IV, pp. 254298; José Matoso, “Os mogéeabes",Fragmentos de wna comporigao medieval, Lisboa, 1987, pp 19-34; ClaudioTores obit, pp 405-409 passin [AH de Otiveia Marques, ob ci, pp. 200-204, 208-211, 229-230. '8 Arquivo Nacional da Tore doTombo (A. N.T.T), Gaveta 15, mago3,n°. 15: Leitura Nova, Mesias, 98v.Transctito por Vieira Guimaries, Thora Stara, Lshoa. 1927 pp. 104-107, Sobre aorigem dos mosteiros de Tomar v-bibiografiaaduzida no nosso Tomar Medieval. O espapo ¢ 08 homens, Cascais, 1996, p.22¢ 21 19 Sobve a lendae culto de Santa Ira, martrizade em 653, cf Fr, sidoro de Barter, Historia da vida, e martrio da gloriasa Vrgem Santa Eri, Portugueza nossa... Lisbo8, 1618 reed. Lisboa, 1939 Vieira Gursaraes, ob cit, pp, 200-218 e passim, Maio Martins, Estudos de literatura mediera, Braga, 1956, pp. 486-490; Migue de Olivera, “Santa Iriae Santarém”, Lenda e Histéria. Esudos hagiogrficos, Lisboa, 1864, pp. 7-55; Avelino de Jesus da Costa, "Santa lia e Santarém”, Revista Portuguesa de Histéria.w. 14 0972) pp. 9-65, 521-530: José Mattoso, ob. ct, p27. 20 Referido na demateagio do eto de Ceras, em 1159:“quomodo dvi per Numen Ozezar ubj vocatur portus de Kaj et inde per mediam stratam usque a monasterium de -Murta tine per aguam de Mura qvomodo descenditin Fraxinetaet inde uenit a portum de “Thomar questi sata de Colimbria que ud Sanctaren et inde per media statam per portum de Ourens et inde permediam svatzm quomedo wait pr sumitatem de Beselgactinde per lumbum de contra Sancta quo vertt aquam ad Beselza et omodo descent ad “Thomar et inde descend in Ozezar et inde a portum de Kaijs".A.N. TT, Gaveta 7, mago 3, n°. 8 Docunentos medievais portuguese Documentos regis, e6. por Rui de Azevedo, ol.1— Documentos dos condes poruzalenes ede D. Afonso Henriques, A, D. 1095-1185, { 1. Lisbos, 1958, n°, 271; Monumenta Henricina, vl. 1, Coimbra, 1960, 0°. 4 359 praticaram o culto de Santa Susana e S. Pautio (0 patrono da serra do mesmo nome) 2! A estabilidade politico-social subsequente a conquista muculmana, a fertitidade dos solos da kura de Santarin —em especial nas terras baixas valorizadas pelas cheias do Tejo, como a afamada Balata, mas também noutras reas, entre as quais se inclufam os “Bair- ros” médio-taganos, entre Alcanena e Tomar, e as pequenas planicies aluviais dos cursos inferiores do Almonda, do Nabio ¢ das ribeiras da Beselga e da Lous—, as inovagdes culturais e tecnolégicas introduzidas pelos mugulmanos 22, a progressiva mercantilizagdo da economia de todo 0 Vale do Tejo, polarizada por Santarin e, crescentemente, por al- Usbuna, justificariam um notével sucesso na valorizagéo econémica daquela kuru, glosado por gedgrafos € cronistas. Por exemplo, Al-Razi, no século X, diria: “Enno termo de Santarem ha muytas e boas bondades e he muy saborosa terra, E quanto he no chago, né sayram hy alqueevar nem na lavrarom duas vezes se nd quiseren, tanto he de boa terra naturalmente. E, quando enche o Tejo, saae pella terra chal e ccobrea todace, pois que 0 ryo dece, faz suas sementeiras muy boas sorodeas. E tanto fica a terra em boa maneira desposta que chega © pam a segar com os primeiros. Em termo de Sanctar® ha terra tam fructifera que do dia que semed o pi ataa sete domaas 0 segam” 23 Como vimos atrés, a toponimia arabica revela o peso decisivo que teriam a agricultura —sobretudo a de regadio—, 0 pastoreio ¢ extracgdo entre as actividades produtivas do Médio Tejo. Permite ainda vislumbrar a presenga dos mecanismos de mercado na estruturagdo da vida econémica. 21 Referindo-se as comunidades mogérabes da rea, afirmou Anténio Baido, “A villae concelho de Ferreira do Zezere. V » Ferreira e 0 seu termo nos seculas XVI e XVII". 0 Archeologo Portugués, XVI (1911), p. 63: "Anteriormente & fundago da monarcia jé a ‘eligi cathotia tinhe a sua propaganda por esta imeviagSes: Santa Susana, 8, Paulo € 0 ‘mosteiro da Murta so disso claro inicio, pis das duasprimeiras 56a tradicgo nos chezae Parece-nos, contudo, de excluir a hipétese do total ermamento da zona que alguns autores tém avangado ®, perante dados cronfsticos que situam nesta area, a norte do Tejo, 0 iglim (distrito) Mistasa, © Recorde-se que termo drabe hiss, castelo,esteve na origem dos topénimos Asno, Isnae similares. CfA. H. de Oliveira Marques, ob. cit, p. 194, O monte"Asno” fcauns 2 Km paraleste de Aleaena, ‘A toponimia dé-nos rasta junto do si de Totes Novas, de ums arrabida. Eram as arribidas um mistodemostiaefonaleza |. conventosfrtficados para defesada roca” ‘AH. de Oliveira Marques, ob cit, p. 199. Fodava, a hipétse de tal destgnago resulta da proximidade de most ranciscano,dependente do convento da Sera da Ariba, recomenda lguma prudéncia face ao tops & Jorge de Alarcao, "O reordenamento territorial”, in Portugal, das origens a somanizagdo, coor. pot Jorge de Alarcfo, vol 1 da Nova histra de Portugal, diz. por Joel Sertdo eA. H, de Oliveira Marques, Lisboa, 1990, p. 359, loclizou 0 antigo oppidum na Herdade do Carvalhal, no actual cocetho de Constneia feguesia de Santa Margarida} ‘4 Situava-s eta no Casal da Vareea,concelho de Abrantes (eguesia Je Alvega), de corde com Jorge de Alacio, ob. it, pp. 364-368, Desde que, no séeulo XVI, Andeé de Resende propos aidetifiacdo de Abranies com Tubucc, muitos tém sido os defensores da ancestralidade e contnuidade urbana daguele aglomerado populacional. Veja-s, entre ours, Mane! Anténio Morato, Memdria histrica ddanotével vila de Abrantespara servi de comeyo aos Anais do Municipio, 2 ed o"8. por Eduardo Campos, Abrantes, 1990, np. 57-66. 6 Eduardo Campos, ob cit, p 37 «passim. Paece-nos mais usta a opnidodefendida por Herminia Vasconcelos Vilar, Abrantes medieval, Séculas XIV-XY. Lisboa, 1988, p11, no Sentido da existeacia de "comunidades eurais na zona [J ainda que nio formalizadas, provavelmente,em aces humanos de grande dimensio 370 povoado por berberes no século IX §7. As duas dezenas de topénimos 4rabes que registamos atestam também a ocupagao humana e 0 aproveitamento econémico do territério da velha civitas de Aritium. Este territério teria possufdo diversas fortificagdes: um hisn a norte, em elevagao fronteira a ribeira da Isna ®, outro em Alvega, junto da sede da civitas romana ©, uma gala‘a (praga-forte), a norte do lugar onde existira Tubucci”?, ¢ diversas atalaias 7!, Talvez se the pudessem acrescentar duas outras estruturas: o castro de S. Miguel (Améndoa) 72 e 0 “castelo velho” da ribeira de Arcés, a leste de Abrantes 79 Acrescente-se que, do ponto de vista étnico e cultural, a populagao do Médio Tejo no periodo mugulmano se apresentava diversificada. Se a grande massa humana era constitufda por autéctones, cristios mogérabes ou muladis, cuja estruturagdo, no essencial, havia petdurado, através de compromissos com os vencedores, existem também indicios 67 Eduardo Manzano Moreso, ob. cit, pp. 194-195 e mapa app. 420-421, situa o iglim “Mistasa, habitado pela tribo berbere do mesmo nome, do grupo dos Baranis, algures entre Constantia e VilaVelha de Réd0, Mais adiante apontamos para aocalizagao desseiglimno actual concetho de Abrantes [f-infra,n. 79} £680 hisn sitaa-se-ia no actual concelho de Vila de Rei no outero de Nova Isna, ov 80 Canego do Case, ambos aminandoovaleda sna CF. otapénimo Pesqueira doAsno, Estehisnrelaciona-se porveatura com "a Torre que cchama daluega” de que é feta mengo em dacurvento de 1271 (em raslado de 1336), Arquivo Hist6rico do Concelho de Abrantes, S. Vicente, m°, 11, 9° 2; ret, por Eduardo Campos & Toaguim Candeias Silva, Diciondrio toponimico e etimoldgico do cancelho de Abrantes, ‘Abrames, 1987, p20. 70 Tal fortiicagdo situar-se-ia no local de Cataloa, fronteiro 40 Tejo. Inferimo-io da cexisténcia, no topsnimo, doradical eat, qual resulta da conteaceo de gal'at A proximidade de Tubucci, ea localizacio, entre 0 Teja estrada que seguia da Foz do Zézere paraleste,em direnpao aA ledntara, concedem maior consistéra, pensamos, aestahipdtese. 71 Cr. 9s topénimos Ponte de Avalaia, no concelho & Vila de Rei, ¢ Atala Cimeira ¢ Atalaia Fundeira(feguesia do Souto), eAtalaia (fteguesia do Tramagal), no de Abrantes estes sityam-se em elevagoes proximas de antigas vias de comunicagao, como & sublinhado por 10 Foaguim Candeias Silva, ob. cit, pp. 24-25. 72 Maria Amélia Hora Pereira, Monumentos histéricosdo eoncello de Mago, Mago, 1970, p. 261, admite que este castro da Idade do Ferro, habitado até ao século J, fosse reutilizado naAlta [dade Média. 73 Em 1471, ainda existiam as suas nufnas, sendo o castelo “velho derribado que sse ‘chama dargees" doado pelo rei a Gil Gongalves. A.N.T.T,, Chancelaria de D. Afonse VL? 16.1. 36s. Localizava'se, provavelmente, no Cabeco do Alconde. 371 da presenca dos conquistadores € colonizadores arabes e berberes. A toponimia, que, no perfodo cristo, foi decerto muito depurada dos vestigios do dominio mugulmano, revela-nos o estabelecimento na zona de varios grupos étnicos ¢ clanicos. Havia drabes iemenitas, da tribo Qayn, na margem direita do Zézere, drabes do norte, das tribos Kinana e Zukra, em Alcanena e na foz do Nabio, respectivamente. O peso demogréfico destes seria, porventura, infimo 74, O mesmo nao pode dizer-se, contudo, do elemento magrebino 75, Detecta-se um signi-ficativo nticleo berbere junto ao rio Nabao e a ribeira de Ceras, no qual predomina o cla Banu al- Fagih, ocorrendo outros grupos clanicos cuja identificagdo no nos 6, de momento, possivel. Além daquele micleo, detectam-se outros estabelecimentos: do cla Banu’Amir, em Torres Novas, dos Mistasa, pertencentes & tribo dos Baranis, a norte do Tejo, junio de Abrantes, da tribo Luwata, a sul do mesmo rio, no Pego, e a leste do Zézere, perto do Sardoal; por iltimo, um cla, cuja identidade ndo logramos apurar, aparece indiciado na margem esquerda do Tejo (Bemposta) A andlise da distribuigdo espacial dos topénimos arabicos — admi-tindo a su2 conexo com lugares habitados no perfodo mugulmano— pode sugerir uma estrutura significante relativamente a vectores essenciais do povoamento. Referimo-nos em especial & possibilidade de apreender os padres de fixa¢do considerados pelas comunidades af radicadas. Este género de anilise assenta no pressuposto de que, no seu comportamento, as comunidades tendem a adoptar solugdes que imizem custos ¢ maximizem vantagens. As comunidades, a0 escolherem um sitio para habitarem, t8m de considerar miltiplos aspectos, designadamente os modos de garantirem aprovisionamen- 1 Pierre Guichard, Structures sociales “ovientales” et ‘musutinane, Paris-Haia, 1977, pp. 241-242. 75 Pierre Guichard, ob. cit, pp. 274-276: "l...]dans le Gharb, ...]les Berbéres semiblent avoir été nombreux, mais ce sont des conteées sur lesquelles note documentation est particulitrement indigente [...] ans qu'il soit possible de propaser des chites bien asurés, ‘on peut avancer que d'importants groupes tribaux venus du Maghreb prirent possession de vastes régions comme [...] les zones qui stendent entre la vallée du Guadalguivir et le systéme montagneux qui sépare le bassin dy Tage de celui du Duero”, ccidentales" dans l'Espegne 372 tos e seguranga, Atendemos, por isso, no modelo de andlise empregue, A necessidade de determinar dois tipos de territério “te6rico”. O territério de aprovisionamento tem em vista a actividade econémica principal, a agricultura, Admitiu-se que os recursos usados por uma comunidade de agricultores deverao encontrar-se, de preferéncia, a uma distancia de 5 Km, pelo que se definiu aquele espago por um circulo de raio equivalente a distancia, presumivel, de I hora de marcha. Quanto ao territ6rio de seguranga, demarcamo- lo por um circulo cujo raio corresponde a um trajecto de 2 horas, a pé 7, Este modelo, ao valorizar as situagdes maioritdrias, exclui outras, também importantes, mas cujo registo cartografico seria demasiado complexo. Pensamos, por exemplo, no andamento feito Por outros meios que no a marcha humana e noutros modos de garantir a subsisténcia, como é 0 caso da pecudria. A observagao dos territérios teéricos de aprovisionamento mostra uma distribuigdo equilibrada dos lugares fortificados pelo espago considerado, potencializando, assim, a obtengao de aprecidveis recursos. De facto, os circulos de 5 Km, frequentemente tangenciais, ndo se sobrepdem, com excepcdo do espaco a sul, en- tre Alcanena e Toxe. Regista-se aqui uma maior densidade de fortificagdes —trés, quase alinhadas em escassos 13 Km— consentidas pelos recursos aquicolas ¢ pela elevada produtividade dos solos de bairro ¢ aluvido que engloba. A maior densidade de topénimos regista-se dentro dos cfrculos de aprovisionamento dos lugares fortificados. Na drea serrana e na margem esquerda do Zé- zere, a montante de Martinchel, so mais esparsos. A reduzida populagio dessa drea e a orografia —dificultando a penetragao do inimigo ¢ oferecendo, com generosidade, recursos defensivos naturais— explicam a menor cobertura de fortificagbes deste sec- tor. Pelo contrario, no espaco nuclear do Médio Tejo, os territérios de seguranca dos diversos lugares acastelados sobrepunham-se razoavelmente, cobrindo-o em absoluto. Além da sua fungao de defesa das populacdes rurais limitrofes 76 Yer, sobre esta metadalogia de andlise, Manuela Martins, O povoament proto-histrico 2 romanizagdo da bacia do curso médio do Cavado, disseragao de doutoramento apresentada Universidade do Minho, Braga, 1987, p. 211, ebibliograf 373 de cada unidade, a relativa densidade do dispositivo militar visava a proteccdo de Sanrarin de eventuais assédios orientais e, sobretudo, nortenhos. Mais Jatamente, a sua estruturagao teria em vista 0 controlo do Tejo —a grande via fluvial do Garb Al-Andalus— e das vias terrestres que sulcavam a area. Fagamos uma breve referéncia a estas, As mais importantes estradas do Médio Tejo aa época mugulmana eram: a correspondente a mais ocidental das “quatro grandes passagens--porto, que permitiam transpor a grande fronteira natural entre as tertas do Sul e do Norte” 77 —unindo a Galécia ao estudrio do Tejo e as planuras transtaganas, através do corredor Qulumriyya-Selio— , a que ligava Santarin a Aledntara, seguindo na direcgdo de Antaniya 78, e a que partia da antiga Aritium rumo a0 Rego da Murta, contomando as ribeira de Eiras e de Isna 7, todas de importncia transregional, Mas muitas outras existiam, estas de relevo regional, como a que, partindo de um ponto a sul de Ceras seguia até Vila de Rei *, ow a que, das proximidades de Tiducci, ligava a Ponte TT ctudioTores, ob cit, p. 364, Sobce aimportncia deste conedor natural, qu separa ‘© macigo antigo dos cabegs calcio da ora sediment, vejase. Suzanne Daveau, A Euremidade Ocidenal da Cordleira Cenral eo Macig Caledro Earemenho. Excursfo C ‘doll Cotaquio Boric de Geogafa, dae, Lshoa. 1980, estrada Coimbra oragado pela serra de Anciio" in Estudos e ensaias em homenagem a Vitorino Magalhdes Gadivho Lisboa, 1988, pp. 451-461 7 Sopreas vias de comunicas So doGarbAlAndaluz vejase A. H. de Oliveira Marque, ‘ob. cit, pp. 168-17 e mapa 169.A0invés deste autor, cremos, port, que oragado desta via, ‘no actual concelho de Abrants, coreria, nao pela marzem dicta, mas pela margemesquerda do Teo onde € mais abundant a toponimia ardbica desde a fondo Zzere aAlvega, al como avia romana que a antecedera ea que ars ealud, segundo Jorge de Ala 79 Corcespondente Awan mouriscam direce adVzezar" aque alude adoapaoréxia do tert de Belver, fea em 1194. Cr. José Anasécio de Figueiredo, Nova Historada Miltar Ordem de Mata e dos Senhores Grdas-Prives della em Portugal, v0: , Lisboa, 180, p. 137: Documentos de D. Sancho (1174-121), ed. de Rui de Azevedo, Avelino de Jesus da Costae Marcelino Rodrigues Pereira ol. 1, Coimbra, 1979, n°, 73, pp.112-113.Provaeimente, foi poresta antiga via romana que, em 876, Abd al-Rahman bo Marwan, fgindo de Badajor, axing Mant Sal. A ser assim, olin Mistasa, aque ars aludimos, sitar-seia no actual concelho de Abrantes, na cea de Oniga/Mouriscs 80 Seguia por Assamass, Casal da Estrada e ale de ana, transpondo 0 Zkzere entre Porto de Cains ea foz do Codes. V. Vasco Gil Mantas, *Viasromanas da regio de Toma: os nilirios”,in O expago rural na Lastdnia. Tomar eo seu territrio (Actas) p38, que & relaciona com a Reconquista, atendendo a raicaléabe-massa, como sigifcadode caminho, presente no opénimo Assamassa 374 de Sor e Alter 81 Em jeito de conclusdo, apontemos em tragos largos 0 que podemos apreender da geografia do povoamento rural do Médio Tejo, no periodo de dominago mugulmana: a) O niimero de povoades parece ser aprecidvel, mas a sua distribuigao nao € homogénea; b) A distribuicdo do povoamento rural depende de varios ‘elementos, em primeiro lugar, das condigdes naturais, avultando, neste plano, a riqueza dos solos ¢, sobretudo, a abundancia de recursos hidricos; c) Os cursos de égua —rios ou ribeiras— sao particularmente Propicios a0 povoamento rural € & dispersio do mesmo; 4) Os aglomerados urbanos tém um papel na organizagio do povoamento, gerando a sua volta varios tipos de exploracao agricola, deles directamente dependentes —al day’a, al-munva, ar-rahal, mas também searas, olivais e vinhedos; e) Redutos defensivos ¢ formas de povoamento concentrado, buscam, sobretudo, nao as grandes altitudes, mas colinas de altitude moderada, junto de planuras. ‘A queda definitiva de Coimbra nas mios dos cristdos, em 1064, teria introduzido alteragdes importantes na vida local. A posigio de fronteira tomar-se-ia estruturante do povoamento, exigindo que as qura (plural de garya) se articulassem estreitamente com os husun € 0s gila’ (plural de qala’a). As estruturas defensivas aparecem apoiadas na orografia e funcionando como uma rede articulada; para barrar os movimentos de norte para sul havia uma primeira linha de castelos — isna, Monsalude, Ceras, Tomar, Carrapatoso e, mais a oeste, Catraia (Porto de Més)—, acompanhada, a sul, por uma segunda linha —Asno 51 O topsnimo Arrace, presente na delimitagio do teritrio de Abrantes,em 1173, entre arbeira de Alcolobra e Ponte de Sor, permite precisa o tragado da via ea sua rigem romana. Cf Documentos medievais portugueses. Documentos régies, vl. I,t,1,doc*, 317, p. 417.Tal topénimo, que deriva de arracif,calgada, caminho pavimmertado, “alude comprovadamente via romana construida em ager”, segundo Vasco Gil Soares Mantas, “A rede vidria do Convento Escalabitano”, Actas del Sinposio sobre la Rede Viaria en la Espaita Romana Saragoga, 1990, p.223. CC, também, Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Elucidério das palavras termose frases, que em Portugal antigamente se usaran.. ed et. pox Misi Fiza, vol. I, Porto, 1965s. v. "race, p. 573, 375 de Alvega, Arcés, Cataloa, Catapereiro, Almourol, Alvorge de Toxe, Arrdbida de Torres Novas, Asno de Alcanena e, depois, Alcanede— acompanhando, em parte, 0 curso do Tejo; ¢ espaco intermédio seria preenchido por cépia de ataiaias —decerto muitas mais do que as que apontamos a partir da toponimia—e um ou outro bur. No conjunto, o dispositive militar desempenharia um papel aprecidvel no contexto do Garb al-Andalus, supervisionando um segmento importante dz sua 4rea setentrional, que inclufa o corredor natura! Coimbra/Tomar, a partir do qual se tinha acesso a Santarém ¢ Lisboa, a partir do leste, ou vadeando o Tejo, se podiant afcangar as planuras alentejanas. Independentemente da importincia militar que entio detivesse, avulta a centralidade de Sellium/Thamara, cruzamento de quatro estradas, com as quais contactava boa parte dos lugares fortificados da érea. Note-se, por iltimo, que a cartografia destes micleos fortificados reflecte de algum modo as mudangas verificadas desde 0 meio do século XI, apontando para uma ordenagio territorial cada vez mais polarizada e hierarquizada e para a provavel sobreposigao dos designios estatistas e castrenses aos interesses e autonomias das comunidades rurais. 376 Apéndice: ‘A toponimia ardbica do Médio Tejo Agougues *2 De assuk 83 Agude, varios De as-sudd * “Adema, Torres Novas * Dead -demna, campo, terra lavradia®?™ ‘Albarddo, Domes, Feira do Zezere ® | ‘De al-barda’a 8 ‘Aleaide % De al-ga'id 91 ‘Aleamim, virog 92 De al-gamh, igo % Alcanena | Be Kinana, ribo de éabes do nore ‘Alcaravela,Sardoal De al-garauan, perdiz 5 Aleircova % Fosso ou vala 97 Alcolura (Alcolobra) 98 Deat-galula,esgatho de cacho 82 Rua de Tomar. 83.4. H. de Oliveira Marques, ob cit, p. 173 54 Aude (Bugalhos), Alcanena: Agude (Paio Mendes), Agude do Casalinho (Beco), Ferreira do 2ézere: Azena do Agude (Cassis) Aude de Paialvo, Tomar: Agude deAnt30Vaz, Abrantes,¢ otros 85.4) H de Olveie Marques, ob cit, p. 164. 86 Ficava na estrada entre a Golegd ¢ Torres Novas 87 Fr Joaquim de Santa Rosade Viterbo, Elucidaro... vol. 1,p-212:José Pedro Machado, Dicionério etimoldgico da lingua portuguesa com a mais antiga documentagdo escrita e conhecida de muitos dos vocdbulos estudados, vol. 1,4". ed, Lisboa, 1987, pp. 99-100. 88 Também Casal ds Albardées, Tomar, ¢ Vale dos Albardses, Bemposta, Abrantes 59 AH. de Oliveira Marques, ob, cit, p. 171 90 ira de Aleaide, Ferreira do Zezere 91.4. H, de Oliveira Maraues, ob ci, p. 192. 92 Lugares em: Vila de Rev, Aivepa, Abrants, Rieiraem Concavada, Abrantes, 93 A. H. de Oliveira Margues, ob. cit, p. 356. % Pierre Guichard, ob. cit, pp. 223-224, 226, 230, 233, 388; A. H. de Oliveira Marques, ob. cit, p. 139. José Pedro Machado, Vocabulario portugués de ovigem arabe, p. 47. 96 igreja de Santa Maria de Aledrcova, Torres Novas 97 Fe Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Elucidério... vo. 1p. 327; vo. I, Porto, 1966, . 69. 58 Ribeirae antigo lugar, Tramagal, Abrantes 59 Jose Pedro Machado, Diciondrio onomésicoetimaldsico da lingua portuguesa, vo. I, Lisboa, 1984, p. 104 377 Alconchel 100 Significapd desconhecida 01 Alcorochel, Torres Novas. ‘Significagdo desconhecida !92 Aldeia, varios '03 De al-day"a, propriedade fundiiria !0* | Alecrim 105 De abit 108 Deal fezeran, cana, canavial, com dicongapo do -2 em -an 199; ou de Alfanaira 107 ¢ Alfani Alferrarede !!! De al-kharrarat, as cascatas !12 Algar ¢ Algueirio, varios !13 Deal-gar (pluralal-geiran), cova, grata 4] ear Deal gab nv so Gab oes 3 Algaz, varios 116 De al-gaz, fruta, que se colhe das palmeiras 117 400 Lygar, pote ribeia, Alferarede, Abrantes 101 José Pedro Mackado, b. cit, p. $0. 102 José Pedro Machado, ob cit. p. SL 103 Nao consideramos este topsnimo, por entendermos, seguindo A. H. de Oliveira Marques, ob, ci, p. 189, que “a generalizao do termo na lingua portuguese como 0 mais ppequeno centrourbano fez transpor as aldias para ahistéia do Portugal cristo". Do mesmo procedemos em relago a outros trmos igualmente adoptados pelos cists eque se tomaram deuso corenteente ees. 10 Pierce Guichard, *Paysans d'al-Andalus. Xle-XIVe side”, cit, p. M41. De acordo comeste autor, a foes rabes transmitem uma oposigdo constante entre os termosday'a e gana, este signiticandaaldeia 105 Casal de \lerim, Tomar 106 4H. de Olvera Marques, ob it, p. 240 107 Matas do termo de Abrantes, cremos que situadas na margem sul do Tej, 108 lfanzrdo Fundeiro © Alfanzirio Cimeito, Belver, Gavido. 109 David Lopes. “Toponimia érabe de Portugal". Revista Lusitana, vo. 24(1921- 1922), p. 289 110 José Pedro Machado, ob. cit, p. $3 1 Sedede feauesia, lugar de Aferrarede Velho e ribeirs de Alferrarede, Abrantes 112 José Pedro Machado, ob, cit, p. 56 113 Bm Peso, Vila de Ret; Pias e Ferreira do Zéere; também Algares: Algveirio, Sabacheira, Tomar "I David Lopes, “Toponimia drabe de Portugai, cit p. 260. US José Pedro Machado, ob, cit, p. $8; Orlando Ribeiro, “Portugal e 0 Algarve: singularidade de um nome de provincia formacao de Portugal, Lisboa, 1987, p. 108. U6 Algaz da Moura, Tomar, ¢ Alga, Casais, Tomar. 17 José Pedro Machado, Diciondrio eimolégico..., vol. lp. 19. 378 Agua 5 ‘Talvez de al-gadir alverea 119 ‘Almares,nelimite de Bugalbos Alcane- | De al-maras, plural de al-marsa, 1a) com Vagueiros Santarém) ancoradouro 120 | Atmargio,Serdol De amar, pastagem, prado, paul 21 ‘Almécer, Feira do Zizere | atver de almagit "22 ‘Almedina 123 De almadina 2 “Almegue, Consticia,¢ Almegiom, De almegia'a, vau de um rio a sul doTejo, Abrantes _ [Almeirio,Parceiros,Alcanena | Deal-miun, planta, espéie de chicéria 5] ‘Almixaris 127 De alimanvar secadouro 178 ‘Almofala,ViladeRei De almahalla, campo "Almogadel, Chios, FerreiradoZézere | De al-mugadir 0 charco 30 ‘Almotacé 31 De alsmuhiasib 32 ‘Almourol 33, Praia do Ribatej, Hiro érabe romance | Vila Nova da Barguinha _| —_| ‘Almoxarife 134 De alimusrf 5 ‘Almuinha, viios 196 De alsmurnia 37 "18 Cabeza de Aigudl, termo de Abrantes, a sul éo‘Tejo. 19 David Lopes, ob cits pp. 259-260 120 José Pedro Machado, Vocabulario portugués de origem drabe, p. 64 121 4. H, de Otiveita Marques, ob cit, p. 161; David Lopes, ob cit, p. 261 122 José Pedro Machado, 0b. cit. p. 63. 123 Porta de Almedina, Tomar 24 AH, de Oliveira Marques, 0b. cit, p. 183. 5 David Lopes, 0: cit, p. 261 jose Pedro Machado, Vocabuldrio portugues de origem drabe.p. 6S "27 Ribeiro de Alinixais, no termo de Abrantes 128 José Pedro Machado. ob cit, p. 205, sv. “Almanxar’ 129 Jose Pedro Machado, Diciondrio etimolégico... cit, vol, P28. 1304, de Oliveira Marques, ob. cit p. 163 131 Quinta do Almotacé,Paialvo, Toms 132 A, H, de Oliveira Marques, ob. cit, p. 190. 133 Cf, José Pedro Machado, Vocabuldrioportugués de ovigem drabe, p. 68 154 Rua do Almoxarife, Tomar. 135 4. H. de Oliveira Mangues, ob cit, p. 190. 136 Alumuinhas, Tomar, Almuinhas ¢ Aimuinha de S. Francisco, Abrantes: Almuinha \elha e ribeiro da Almuinha, Martinehel, Abrantes; lugar eribeia da Almuinha Velha, CConstincia: AlmuinhasVethas, Tomar: e out 137 1H. de Oliveira Marques, ob ci, p. 164 379 Alpallio, Envendos, Macao Hibrido érabe-romance 138 ‘Alqueidao, varios 39 Deal-giddan,tfo de calcio; va-gaxtun| tend, “habitéuloinicial pobre” 40 Alqueve,Sunceita, Tomar Talvez de al-gaua, terra deseria #1 Alverca #2 De al-birka, lg, poga 1 ‘Alvord 14, Assenti2, Tores Novas | De al-biran, dual de ber pogo ‘Alvorge de Toxe, Riachos, Torres Novas | Deal-bu7, tore ‘Arcés !46, Mouriscas, Abrantes; Sardoal_| Talvez de ar-ras, cabego 4” ‘Aria, boje Arges, Ola, Totes Novas | De arvia cedral 8 Arrabalde, Tomar, Toes Novas Dear rabad pra dear rab subirtio"| ‘Arrdbida 150 De ar-ralita, convento fonificado 51 Arragérios 152 Dear-ras, cabega, cabego 153 “Arracefe, Abranes,asul doTejo Dear rai alata casino ps Cr. José Pedro Machado, ob. cit, p69. 159 Ein: Maninchel,Abrantes; Pio Mendes e Pias, Ferrera do Zézere; Pedrégto, Torres Novas; Olalhas, Tomar; também Alqueidio de Santo Amaro, Fonte e Ponte do Alqueidi Beco, Feira do Zézere:Alqueidsozinho, Sera, Tom 140 Pedro Cunha Serva, Alguns aspectos da toponimia lamecense, Lishos, 1986, p. 19, defensor do segundo étimo, 2 contririo de. H. de Oliveira Marques, ob, cit, p. 165 € José Pedro Machado, ob cit, p. 70. Também David Lopes, ob cit, pp. 263-264, que regists ambos, mostra preferéncia pelo primeito "Hl Jose Pedro Machado, ob. cit, p. 70. 42 Alverca de Femando, entre a Cardiga eTancos, no actual concelh de Vila Nova da Barguinha. "43 4. H, de Otiveica Marques, ob cit p. 163. 44 Lugare ribeiradolvordo, ponte do Alvorso de Cima, parte do Alvordo de Baio. 45 David Lopes, ob cit. pp. 265, 267-268. 46 Castelo velho", lugar, beirae ponte do mesmo:nome. Também se apresentam 35, formas Araces, Araces, Areces ¢ Arrecesse. 1 José Pedro Machado, ob. ci, p. 77 148 Fr. Jodo de Sousa, ob cit, p. 6 49 A, H. de Oliveira Marques, ob cit, p. 188; José Pedro Machado, 0b cit. p. 76; Orlando Ribeiro, ob. cit, p. 176. 'S0 Quinta da Arrdbida, Tores Novas 'SL A. H. de Oliveira Marques, ob: cit, p. 197; Francisco Mars6, ob cit, pp. 627-628. 452 também Cruz dos Arracérios, Bevo, Ferrera do Zézer. 153 Jose Pedro Machado, ob cit, p. 77 154 Vasco Gil Soares Mantas, “A rede vidria do Convento Escalabitano”, cit, p. 223; Fr Joaquim de Santa Rose de Viterbo, lucidria., vol. 1. p. 573. 380 Arriacha 155, Belver, Gavido De ar-rias,punho de espada 156 ‘Arrifana, S. Miguel do Rio Toro, Abrantes| De ar-rihana, muna '57 “Arrife, visios 158 Dear-rif flanco da montantia ‘Arrox 160 De arn 16 ‘Arruda 162 De arcrua 1 Asno 5 De his, castelo 1 ‘Assamassa, Beselga ¢ Casais, Tomar O radical érabe massa, como significado de caminho 166 ‘Atataia, varios 167 De arral’a 168 ‘Azambujeiro, Azambujal e afins '67 | Do berbereaz-zanbuja,oliveira brava, através do abe 170 [ Azemel, Torres Novas De az-zanmal, almocreve 171 ‘Azenha, varios 72 De as-saniva 179 155 arriacha Cimeica e Arriacha Fundeira, 156 ose Pedro Machado, Dicidrio etimoldgio. cit, wl. Lp. 319. '57 A. H. de Oliveira Marques, ob. cit,, p. 240; José Pedro Machado, Vocabuldrio poruguésdeorigen arabe, p.7. 198 Arrife, Ferreira do Zézere; Arrife do Alqueidio, das Paredinhas, de Picoto e do Aimonda, Totes Novas. 159 José Pedro Machada, 0b. cit, p. 77. 169 Casal de Arroz, S. Pedro, Tomas, Monte da Cova do Arroz, $. Facundo, Tomar. 161 4. H. de Oliveira Marques, ob. cit, p. 156. 162 Casal de S. Domingos de Armuda, Fontes, Abrantes. 163 José Pedro Machado, 0b. cit, p. 77. 164 A smo, Aicanena; Pesqueira do Asno, Alvega, Abrantes. 165 A. H. de Oliveira Marques, 0b cit., p. 188 ¢ 194, 166 Vasco Gil Mantas, “Vias romanas da tegiio de Tomar: os milidrios”, cit, p. 35: Pedro Cunha Serra, Alun opdninospeninsularesdeorigem arabica, Lisboa, 1976, pp. 11-12. 167 Atalaia, Vila Nova da Barguinha; Casal dasAtalaias, Tomar, Ataluia Cimeira eAtalaia Fundeira, Suto, brates; Cabega da ali, Tramagal,Abrants; Pont da tai, Wh de Relicoutras 168 Francisco Mars, ob cit, p.619: A. H. de Oliveira Marques, ob cit, p. 196. 169 Vale dos Azambujeiros, Tomar; e outros... infra, Zambujeiro 170 José Pedro Machado, ab. cit., p. 79. 171 José Pedro Machado, ab. cit. , 80. 172 Ege top6nimo nao foi considerado pot né 3 a. H, de Oliveira Marques, ob. cit, p, 163. 5, dada a sua generalizago na lingua port 381 ‘Azinhaga, varios De az-zinaiga, ua esteta #75, ou de Sinhaya, tbo bexbere 17% Babegardo, Tomar _ Significa pore larga "77 Bairrada/Barrada !78, Bairro/Bérrio '7| De harat, bairro (urbano ou rural); de ccafns vésios bay’ (oairo) 80 Bem Amor 1 De Banu ‘Amir, cl berbere 122 Bem Ford Tones Nowe Dervad de Ban. elabeare Bemposta '84, Abrantes: S. Pedro, Tomar | Idem Benapres 185 Idem | Bencasta, hoje Ave Casta "85, Arcia, | Derivado talvez de Banu Qasim, Ferreira do Zézere cli berbere 187 Benfica, Alviobeira, Tomar; Aguas Derivado de Banu al-Fagih, eta Belas, Ferreira do Zézere berbere 188 174 gzinhaga e Azinhaga de Vicente Oleiro, Abrantes, 8 Sul do Tejo: Azinhaga da Lameiza, Pio Mendes, Ferreirado Zzere: otras. 18 Jose Pedro Machado, ob. cit, p. 80 176 A. H.de Oliveia Marques, ob cit, p. 138. 177 Fe, Joao de Sousa, Vestigios da lingua arabica em Portugal, Lisboa, 1299 9,72. 178 Bacrada:S. Pedro, Tomar; Fontes e Souto, Abrantes; Feira do Zézere. Vale da Bairrada, Sout, Abrantes. Bairradina, em Ollhas, Tomar, Fertera do Zezere. Barada S. Facundo, Abrantes: Dornes,Ferteira do Zézere. 179 Bairtoe Rieia do Bair (S. Pedro), Barro Alto (Olalhas). Tomar; Bair Falco ou Barto, Tomar; Barcode Marimos, Abranes; Baio Cimeito, Bair Fundeiroe Bairco

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