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Manuel J.

Gandra

O MONUMENTO DE MAFRA
de A a Z

1.º volume

colecção de bolso
INTRODUÇÃO

Monumento de Mafra é a designação adoptada


pelo subscritor para aludir ao complexo formado pelo
Palácio-Convento de Mafra, Jardim do Cerco e
Tapada. De resto, à imagem do que sucedeu até à
implantação da República, de cuja acção e negligência
resultou o actual estado de coisas: o desmembramento
de um todo coerente, delineado e concretizado sob a
direcção do Magnânimo, Fidelíssimo e Luso Rei Sol,
Dom João V.
Julgo ser este o momento oportuno para expor
informações, ideias, reflexões e sugestões que o meu
conhecimento documentado das diversas facetas do
seu quotidiano desde as origens parece autorizar. E,
deste modo, dar o meu contributo para uma célere can-
didatura do Monumento de Mafra à classificação como
Património Mundial.
O acervo actualmente patente no Palácio
Nacional de Mafra foi organizado pela iniciativa, pro-
ficiência e depurado sentido estético do seu primeiro
Director, Ayres de Carvalho, há mais de cinquenta
anos. As opções museológicas então adoptadas, e são
anacrónicas todas as discussões hodiernas acerca da
sua legitimidade ou adequação, deveram-se a um con-
junto de circunstâncias conjunturais em que avultaram:
1. a imperiosa necessidade de rapidamente tor-
nar condigno um monumento, autêntico ex-libris do

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barroco português, praticamente abandonado à sua
sorte desde a implantação da República, em 1910;
2. a circunstância de não existir no edifício
mobiliário e adereços em quantidade e qualidade para
povoar de forma adequada o tão avultado número de
salas e divisões por onde os visitantes eram encami-
nhados para a Biblioteca, a única pérola verdadeira-
mente genuína do diadema.
Confrontado com a contingência de não lograr
cumprir a incumbência para que havia sido nomeado,
Ayres de Carvalho viu-se, assim, compelido a angariar
todos os “trastes que jaziam em depósitos e armazéns
estatais”, valorizando-os tanto quanto possível, e dis-
pondo-os mais consoante as suas próprias característi-
cas do que tendo em consideração o quotidiano
palaciano de Mafra, de resto, até então, só muito inci-
pientemente investigado.
Inúmeras salas vazias passaram a dispor de
acervos alheios e, com a chegada e arrumação destes,
adquiriram designações e funções que nunca tinham
tido, tornando-se, quiçá, agradáveis aos sentidos, mas,
igualmente, palco para cenografias e reconstituições de
fantasia.
Talvez o exemplo que melhor retrata a situação
descrita tenha sido a mudança dos aposentos da
Rainha, primitivamente no torreão Sul, para o torreão
Norte, onde se haviam situado os aposentos do Rei, e
vice-versa, prejudicando doravante a adequada leitura
e compreensão da mensagem panegírica dos frescos
parietais de Cirilo Volkmar Machado…
Não será difícil invocar mais casos, existindo
salas onde todos os objectos expostos são oriundos de

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outros edifícios, nomeadamente dos Palácios da Ajuda,
das Necessidades e de Sintra, ou ainda algumas onde
só uns quantos ali se acham originários de Mafra, caso
da Sala da Audiência, à qual apenas o trono pertence.
Em suma, quem após visitar o Palácio Nacional
de Mafra se julgue, e não serão poucos os visitantes
equivocados, ciente da forma como aí se desenrolava
a vida cortesã, mais não fez do que passear-se por
ambientes recriados segundo critérios estéticos e
museológicos, senão já obsoletos, pelo menos destituí-
dos da autenticidade histórica exigida pela maioria dos
actuais utentes, para já não referir a sua mais completa
incompatibilidade com a vertente didáctica que um
monumento da envergadura física e ideológica deste,
obrigatoriamente, tem de assumir, sob pena de um
divórcio completo com a comunidade.
Nesta conformidade, o Palácio Nacional de
Mafra terá, a breve trecho e inexoravelmente, de refor-
mular-se museograficamente, integrando quer a
imensa panóplia de dados históricos, culturais e cientí-
ficos já disponíveis, quer as especificidades locais e
regionais, inclusivé ao nível da sua gestão, porquanto
este particular Palácio é, em primeira instância, patri-
mónio mafrense…
Ao disponibilizar o primeiro volume (letra A)
do presente Catálogo-guia, sob a forma de uma enciclo-
pédia organizada alfabeticamente, proponho um péri-
plo compreensivo que, creio, abrange todo o espectro
das vivências e actividades representativas no
Monumento de Mafra, a saber: a Intimidade; a Corte e a
Governação; a Religiosidade; a Cultura e a Instrução;
as Artes; o Lazer e as Diversões.

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Normas seguidas na elaboração do
Monumento de Mafra de A a Z

1. O Monumento de Mafra de A a Z organiza-se por ordem


alfabética;
2. Os nomes de personagens históricas e autores devem ser
procurados sempre pelo seu primeiro nome;
3. Os eventos, sucessos históricos, bem como locais (chafari-
zes, fontes, minas, poços, etc.) e dependências monásticas,
quando expressos por um substantivo e um determinativo
ou qualificativo, devem ser procurados nestes últimos:
Abrantes, Marquês de; Actos Escolares, Sala dos; etc.;
4. O asterisco (*) indica a remissão da palavra assinalada
para outra entrada ou para artigo específico do Catálogo-
-guia;
5. Com o objectivo de facilitar a leitura e tornar acessíveis os
documentos e fontes incluídas, procedeu-se à actualização
da sua grafia e pontuação. Quando não for esse o caso e se
tratar de inéditos, serão referenciadas as cotas e os respecti-
vos Arquivos ou Bibliotecas.

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A

AARÃO DE LACERDA (1890-1947)


Formou-se com distinção em Direito e, depois, em Ciências
Históricas e Geográficas, na Universidade de Coimbra.
Discípulo de Joaquim de Vasconcelos, suceder-lhe-ia na
regência da cátedra de História de Arte na Academia de
Belas-Artes do Porto, tendo, posteriormente, aceite o convite
para leccionar a cadeira de Estética e História de Arte na
Faculdade de Letras do Porto. Foi ainda: professor de
História da Música no Conservatório do Porto e director da
Escola de Belas Artes da mesma cidade, tendo sido provido
como catedrático da cadeira de Estética e História de Arte
na Faculdade de Letras de Coimbra, vaga, por morte do pro-
fessor Virgílio Correia; vogal da Academia Nacional de Belas
Artes, membro da Academia Portuguesa de História e
comendador da Ordem de Santiago de Espada. Autor de
vasta e erudita obra, a sua consagração definitiva chegaria
com a edição de O Fenómeno Religioso e a Simbólica (1924).
Para enfatizar a importância cultural do reinado de Dom
João V, abona-se no programa escultórico de Mafra, refe-
rindo-se às estátuas encomendadas pelo Magnânimo em
Itália em termos encomiásticos: “O italianismo barroco
movimenta-se em Mafra na estatuária solene, declamatória,
exultante, profusa em efeitos de claro-escuro, dramática nas
expressões ou decorativa nos panejamentos, esculpidos
pelos artistas educados naquela linguagem de alma plas-
mada por Bernini numa teoria estupenda de figuras, bem
grifadas pelo seu génio que soube, como raros, dominar a

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pedra, volatilizá-la, podíamos quase dizer, tão maleável e
dúctil se tornou nas suas mãos demiúrgicas”. Sublinharia
também o carácter excepcional da obra de *Alexandre
Giusti, bem como o seu ascendente compositivo sobre os dis-
cípulos, caso, designadamente, de *Machado de Castro (cf.
Arte: escultura, pintura e artes decorativas, in História de
Portugal, Barcelos, 1934, p. 608-609).

ABADE, Chafariz e Fonte do


Designação partilhada por um chafariz e por uma fonte (n.
30) da *Segunda Tapada ou *Tapada do Meio, também
denominados do *Casal do Abade. A fonte fica situada um
pouco abaixo das ruínas do dito casal e mesmo à beira do
caminho que conduz à *ponte da Cuba e ao *vale da Guarda.
A nascente é pouco abundante, porém a água é de excelente
qualidade. *Dom Pedro V era grande apreciador do chá feito
com a água desta fonte. O chafariz do Abade acha-se à beira
da Rua da Boa Vista, um pouco adiante da *ponte da
Enxóvia, na encosta onde se implantava o antigo casal; dis-

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põe de tanque e possui manancial abundante de boa água
que serve para dessedentar o gado bovino e a caça grossa.

ABADE, Dom
Do aramaico, abba, latinizado em abbas, abbatis, com o signi-
ficado de pai espiritual. As três ocorrências no Novo
Testamento (Marcos, XIV, 36; Romanos, VIII, 15; Gálatas, IV, 6)
reportam-se a Deus, mas na Igreja a designação aplica-se a
varões “fazendo as vezes de Cristo”, cujo magistério,
carisma, virtude e ancianidade, atraindo as almas, tenha ori-
ginado comunidades sob a sua direcção. A denominação,
primitivamente apanágio dos Padres do Deserto, foi aclima-
tada ao Ocidente por São Bento e adoptada por Santo Isidoro
e São Frutuoso cujas Regras, conjugadas com a Regula
Communis, moldaram o monaquismo visigótico hispânico
até à invasão muçulmana. A instituição ressurgiria com
Cluny durante a reconquista. Até meados de quinhentos,
exceptuando o primeiro, geralmente nomeado pelo funda-
dor do mosteiro, os Abades seriam escolhidos vitaliciamente
pelos monges pertencentes a cada comunidade. O Concílio
de Trento obrigaria os mosteiros a reunirem-se em congrega-
ções presididas por um Abade Geral ou *Dom Prior, eleito
trienalmente em *Capítulo. Uma vez extintos os abades
Regulares, no ano de 1834, subsistiram apenas os Abades
seculares (párocos), em resultado da transformação dos mos-
teiros em igrejas paroquiais. O *báculo foi desde sempre o
símbolo da sua autoridade pastoral.

ABADE BENEDITINO
Abade do mosteiro beneditino de Tibães, alegado autor de
uma carta dirigida a outro, a propósito do convite endere-
çado por este para que assistisse à sagração da Basílica de
Mafra, em 22 de Outubro de 1730. Nessa carta, transcrita em
primeira mão por Camilo Castelo Branco e da qual se

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guarda uma versão com algumas variantes na BPÉvora
[CIX/1-5], escusa-se a assistir ao evento em virtude da sua
oposição ao que considerava ser uma pelunca latrorum (covil
de ladrões) e obra digna de infiéis.
Bibliografia: CASTELO BRANCO, Camilo, Mosaico e Silva de
Curiosidades Históricas, Literárias e Biográficas, Porto, s. d. [1868], p.
68-74 e também in Gazeta Litteraria do Porto, n. 6 (1868), p. 51-53;
PIMENTEL, António Filipe, Arquitectura e Poder: o Real Edifício de
Mafra, Coimbra, 1992, p. 338-341 [transcreve versão da BPÉvora].

Meu amigo e senhor, Vossa Reverência me convida para


esta galhofa de Mafra, e eu tenho por galhofa rogar-me
vossemecê para esta função; por que, podendo caber nas
cláusulas da razão o apetite de ver novidades, não se
compadece com a profissão de católicos poder achar
gosto no que tem sido assunto de tantos pesares, nem ter
olhos para ver o que tem sido cegueira de todo este
reino, nem menos que haja riso onde se vê tanto chorar.
Se Vossa Reverência está de ânimo para ver misérias, lás-
timas e estragos, pode fazer a sua jornada, que eu,
segundo a lei que professo, me não posso capacitar que
seja lícito o ver nem aplaudir as obras de Mafra; e, por
que a proposição não pareça a vossemecê absoluta,
recorra aos meios que se tomaram para a edificação
deste edifício, e os achará totalmente contrários à dispo-
sição da lei natural e divina; de cuja consideração sai
legítima a minha consequência.
Em primeiro lugar, foi errado o meio de constranger os
homens nesta apetitosa obra, por ser voluntária e não
útil e necessária ao reino, por que o príncipe, ainda que
soberano, não tem domínio na liberdade dos seus vassa-
los aos constranger involuntários nas coisas que privati-
vamente pertencem ao gosto do mesmo príncipe, e
quando obra absoluta, fica transgressora do direito natu-

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ral como qualquer outro particular. Testemunhas da
coacção e da violência não sómente somos nós que com
nossos olhos vimos a tantos homens arrastados pelas
estradas e ruas com cordas e cadeias, conduzidos por
beleguins como delinquentes justificados, como também
são as mesmas pedras a quem feriam os gemidos famin-
tos em que desafogavam aqueles corações aflitos, ou já
por que se consideravam reduzidos a estado de escravi-
dão imerecida, ou por que na tirania dos condutores
experimentavam inumanidades.
Foi errado também o meio de se fabricar o magnífico
edifício à custa das fazendas alheias, porque o príncipe
não é senhor das fazendas dos seus vassalos para as con-
verter e distribuir a seu alvedrio; e é absolutamente con-
tra a lei divina tomar o alheio contra a vontade do seu
dono. E note bem, meu amigo, se é que pode caber na
compreensão o que pode ser abismo, as perdas e danos
em que se tem arruinado este reino com as obras de
Mafra, passe a discorrer particularmente por elas, e
achará que nem uma só pessoa deste reino poderá dizer
com verdade que se acha eximida delas; e, como pelos
efeitos chegamos ao conhecimento das causas, recorra
vossemecê às lágrimas que se têm chorado e se vão cho-
rando para delas inferir as perdas e danos que são as
lágrimas com que se explicam os vassalos oprimidos.
Choram os homens as perdas dos seus bens convertidos
contra vontade sua em vaidades; choram a perda da
saúde em um contínuo giro de trabalho; choram a misé-
ria da fome sem pagamento; choram a perda das vidas e
das almas na falta dos sacramentos em artigo de morte,
com evidente perigo de salvação. Grande miséria!
Choram as mulheres a falta de seus maridos, por lhes
faltar o socorro dos jornais com que as amparavam.
Choram os filhos porque não têm pais que lhe adminis-

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trem um bocadinho de pão. Choram os eclesiásticos as
imunidades da igreja, por que lhes faltam ao respeito,
tomando-lhes as bestas, bois e carros. Choram as comu-
nidades dos religiosos, porque fora de horas se lhes rom-
pem as suas clausuras, e nelas entram os beleguins,
esbirros e lacaios que com el-rei na barriga os não excep-
tuam das vulgares insolências que costumam praticar.
Choram os grandes da corte o seu abatimento; que lhes
não guardam aqueles fóros que grangearam à custa das
proezas que seus antepassados obraram expondo as
vidas e fazendas para em todas as quatro partes do
mundo estabelecerem domínio aos reis desta monarquia,
e por lhe sustentarem na cabeça a coroa que logra;
achando-se reduzidos ao foro de plebeus, sem aquela
distinção com que foram condecorados ainda pelas mes-
mas leis. Chora a corte o seu universal estrago porque se
arruinam os seus edifícios sem remédio por falta de artí-
fices e materiais para se acudir aos seus reparos. Na
mesma corte choram os templos porque se acham as
santas imagens sem veneração e sem limpeza. Choram
as aldeias e os campos a falta de cultura por que não há
agricultores que os fabriquem. Choram os montes por-
que lhes falta a sociedade dos pastores e dos gados.
Choram os animais sobpostos a excessivo trabalho sem
alimento. Tudo quanto há no reino chora, porque tudo é
escravidão sem esperança de resgate, pois se fazem irre-
paráveis as perdas e danos que se experimentaram e vão
experimentando.
No excesso da sua dor dizia David que lhe serviam de
pão as lágrimas de dia e de noite; e com diferente motivo
estamos vendo que servem de pão as lágrimas, noite e
dia, aos moradores de Portugal. Do céu ainda se ouvem
e eternamente ouvirão os brados do sangue de Abel
injustamente derramado às mãos da tirania de seu irmão

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Caim. E porque não se ouvirão no céu os brados de san-
gue de tantos Abéis derramado à instância de maior tira-
nia e nunca vista crueldade?
Se são estes os meios, meu amigo, diga-me Vossa
Reverência falando como homem e como católico, como
pode ser o seu fim do agrado de Deus? Por mais que se
me diga que esta obra se encaminha ao serviço de Deus e
seu louvor, por força de fé estou obrigado a crer que não
pode ser do agrado de Deus. As obras de que Deus se
agrada são as de misericórdia e justiça exercitadas como
virtude. Obras feitas contra a virtude da justiça e miseri-
córdia são obras do diabo, que não de Deus. Furtar para
dar esmolas é proposição condenada. Fazer templos
dedicados a Deus com prejuízo de terceiro à custa da
sangue dos pobres, não se ajusta com a lei que professa-
mos. E, se não pode ser do agrado de Deus, que quer o
meu amigo que vamos ver a Mafra? Que podemos ver
que não seja incentivo para mágoa? Que faz que sejam
mármores delicadamente lavrados, se a consideração e
piedade de católico me convida a discorrer que todo este
reino tem sido cordeiro de cujas veias correu o sangue
para amolecer as durezas do mármore? Que importa a
inexplicável perfeição daquele edifício se a razão me
obriga a pensar que os seus materiais foram amassados
com lágrimas e suor do rosto dos pobres? Que monta a
magnificência do templo, se não há pedra em cuja frente
não estejam gravadas com letras de sangue as efígies da
maior violência e tirania? Meu amigo, que somos nós,
católicos, ou bárbaros? Se católicos, não devemos com a
nossa curiosidade aprovar efeitos da soberba e desuma-
nidade.
De que serve a composição dos signos para a solfa dos
minuetes, se a letra que entoam são os gemidos e lamen-
tos com que desafoga o coração de um reino aflito? No

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templo de Deus, a melhor solfa para entoar seus louvo-
res é aquela que se compõe do tempo perfeito que é o da
graça, e a que tem por propriedade as boas consciências,
por vozes as orações, por figuras as virtudes, por pau-
sas a observância dos preceitos, por pontos os da perfei-
ção nos costumes, e por mestre da capela o amor de
Deus. Nas mesquitas dos herejes é que sómente podem
fazer boa consonância os minuetes, bons incentivos para
vícios. Trocamos os templos em mesquitas; pois vemos
que para Mafra, que havia de ser templo de Deus, se
compuseram os minuetes das mesquitas de Inglaterra.
Seja Deus sempre louvado, pois permite que aos capu-
chinhos da Arrábida passassem do estado de humildes
ao da grandeza, da estreiteza dos cubículos à amplitude
dum palácio, da pobreza das esmolas pedidas, à ração
palaciana com tanta fartura administrativa, da modéstia
de frades a bailarinos de minuetes, que vale o mesmo
que de virtuosos franciscanos a uns relaxadores Luteros.
E outras tantas mil vezes seja Deus louvado pois permi-
tiu que ressurgisse a soberba de Babel, e que esta torre se
continue sem nos confundir as línguas para falarmos na
nossa confusão!
Finalmente, meu amigo, para ver Mafra não é necessário
ir a Mafra; porque ela por nossos pecados está em toda a
parte do reino; pois não haverá nele pessoa que não
tenha tomado entre dentes a Mafra, e a não traga atra-
vessada na garganta e coração… No nome de Mafra
temos descoberto o enigma. Vamos tirando a máscara.
Repare bem que se compõe Mafra de cinco letras que
todas denotam a nossa perdição. Denota o M que sere-
mos mortos ; o A – assados, o F – fundidos ; o R – roubados ;
e o último A – arrastados. E, se assolados, roubados, fun-
didos, arrastados e mortos são os termos a que nos acha-
mos reduzidos, por prática e experiência de justiça,

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estamos obrigados a dizer mal de Mafra e desterrá-la;
pois desde o dilúvio universal estava reservada no cal-
canhar do mundo para ser o dilúvio universal deste
reino.
[Em outro tempo foram misteriosos os cincos para nosso
bem e neste tempo são misteriosos os cincos para nosso
mal. Cinco foram as chagas de que a piedade de nosso
Redentor nos mandou fabricar as armas debaixo de cujas
bandeiras se seguiram aos portugueses gloriosos triun-
fos e sempre debaixo da protecção das cinco chagas teve
a nação portuguesa o seu amparo. Trocaram-se os tem-
pos e a Portugal as fortunas na fé viva de el Rei Dom
Afonso Henriques se estabeleceu a nossa dita e em que a
fé das cinco chagas se continuou nos sucessos da coroa
deste reino. Não nos faltaram as felicidades. Cinco foram
as chagas que mereceu a pobreza do Seráfico São
Francisco e agora vemos que seus filhos renunciam a
pobreza e se aproveitam dos regalos da mesa real. Cinco
foram as pedras que escolheu el Rei David para derribar
ao gigante e vemos agora que outro Rei escolheu para
destruir um reino que foi o gigante da fé. Das mesas e
das honras do mundo serão foros os metais de que se
compôs a estátua de Nabuco e porque a soberba desafia
a paciência de Deus, do deserto fez descer a pedra que a
consumiu e agora vemos que uma estátua animada com-
posta de cinco dotes a desbarata. Uma pedra de escân-
dalo de cinco sentidos ornou a Divina sabedoria aos
homens. A malícia e crueldade das cinco letras de Mafra
fabricou cinco lanços para tirar os sentidos aos homens
de Portugal (BPÉvora: CIX/1-5)].
Não posso, meu amigo, alcançar o ódio que tem o rei aos
seus vassalos, nem que degenerassem para ser deserda-
dos daquele agasalho que mereceram aos reis seus pre-
decessores; porque na constância do sofrimento e

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lealdade dos afectos não há mais dedicados. O certo é
que este abatimento é disposição para nos fazer aposta-
tar da lei, para o que é já princípio esta afectada quebra
com a séde apostólica e serão os fins a mesquita de
Mafra, onde por pecados nossos veremos as cerimónias
da lei escrita. Deus nos dê da sua graça e tenha de sua
mão para que não desesperemos da salvação e a Vossa
Reverência dê luz para se retirar de ver Mafra à qual eu
não chamarei templo de Deus, mas sim espelunca de
ladrões. E por não aprovar o que não pode ser do agrado
de Deus, não quero ir a Mafra, etc.

ABADE DE TIBÃES
*Abade beneditino.

ABALO TELÚRICO
*Padre Alberto da Fonseca Rebelo, *terramoto, *tremor de
terra.

ABEGOARIAS, poço da nora das


Sito na *Primeira Tapada, próximo às arribanas de gado. O
manancial deste poço (n. 4) é extremamente abundante,
sendo conduzido por meio de uma nora a um tanque que
lhe está contiguo.

ABELHEIRA
Sítio da *Terceira Tapada onde existiram 23 terras cultivadas.

ABÍLIO FERREIRA DE BRITO (f. 4.3.1885)


Natural de Aveiro. Trabalhou como jardineiro chefe, sob as
ordens do francês *Bonard, que *Dom Fernando de Sax con-
tratara para traçar os Parques das Necessidades, da Pena e
de Mafra (jardim da *Cerca e um outro junto às lagoas da

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*Tapada). *Tomás de Melo Breyner confidenciou ter ouvido
dizer ao Conde de Ficalho e a Jules Daveau “que sem o prá-
tico de Mafra se não podiam ter feito colheitas capazes para
os herbários, porque tinha ele o instinto do classificador”
(Memórias, v. 1, Lisboa, 1930, p. 181-182).

ABLUÇÃO
Purificação de qualquer substância ou pessoa, antecedendo
atitude ou cerimónia religiosa. As pias de *água benta exis-
tentes à entrada dos templos católicos respondem a tal
necessidade, existindo similares em quase todas as formas
cultuais. A água benta obtém-se benzendo a fonte ou canali-
zação por onde corre, no Sábado de *Aleluia. *Lavatório de
Sacristia, *Pia de água benta.

ABRANTES, Marquês de
Ao primeiro marquês de Abrantes, Dom Rodrigo Anes de Sá
Almeida e Meneses (1676-1733), coube a catalogação do
acervo da *Biblioteca de Mafra relativo à história (ver
Silvestre Ribeiro, História dos Estabelecimentos Científicos,
Literários e Artísticos em Portugal, v. 1, p. 177-179).

ABRUNHEIRA
Antiga porta da *Terceira Tapada ou *Tapada de Dentro, sita
nas proximidades da localidade homónima.

ÁBSIDE
Cabeceira do templo cristão onde se situam o altar e o pres-
bitério. Na *Basílica de Mafra, a *capela mor e o *coro.
Simboliza a cabeça e a coroa de espinhos ou diadema que
ensanguentou a cabeça do Salvador. As plantas absidais
começaram por ser quadradas, depois redondas e, poste-
riormente, poligonais. Regra geral, voltada a oriente,
quando, em igrejas anteriores ao Vaticano II, se observem

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orientações diferentes da ábside, é conveniente ponderar a
possibilidade de existirem motivos simbólicos subjacentes à
aparente anomalia. Em igrejas românicas (mas não exclusi-
vamente) de planta cruciforme é comum observar-se que o
eixo da nave faz um ângulo com o eixo da ábside que se
inclina para o lado do Evangelho (esquerda), traduzindo as
palavras do discípulo amado: “et inclinato capite, tradidit
spiritum”. Em suma, a planta do templo é a expressão de
uma linguagem mística que supõe o corpo de Cristo ligado à
cruz, os braços estendidos no transepto e a cabeça apoiada
no altar.

ABSOLUTISMO
Em quatrocentos e quinhentos o tema teve expressão por
intermédio da obra Governo da República pelo Rei (1496) de
Diogo Lopes Rebelo. O providencialismo das correntes
sebastianistas (e, nomeadamente, o do *padre António
Vieira) não deixaria de favorecer a ideia de que no rei e nas
dinastias depôs Deus uma função escatológica, revelável
pelo estudo de sinais encobertos. Durante o século XVII, a
influência do pensamento absolutista francês em Portugal
parece ter sido diminuta, reduzindo-se praticamente a
Manuel Fernandes Vila Real (El Político cristiano, Pamplona,
1641 e Paris, 1642) e António Fleneques Gomes (Política
Angelica, Ruão, 1647), a quem Dom Francisco Manuel de
Melo crisma, significativamente, de “portugueses enxerta-
dos em galos”. Assim, o primeiro – num passo que a lnqui-
sição condenaria – considera os desacatos à pessoa do rei
mais necessitados de castigo do que os desacatos à religião.
No século seguinte, um providencialismo de tipo escatoló-
gico continuava a vicejar. Logo no início de setecentos,
Sebastião Pacheco Varela aproveita alguns conceitos musi-
cais e aritméticos para propor ao príncipe (*Dom João V)
ensinamentos de política (Número vocal, exemplar, católico, e

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político no maior entre os santos o glorioso S. João Baptista,
Lisboa, 1702). O providencialismo que repassa toda a obra e
que informa uma teoria esotérica dos números, descobrindo
nas datas, por manipulações aritméticas, significações ocul-
tas, reforça a dignidade do rei, escolhido por Deus.
Posteriormente, a literatura providencialista do absolutismo
francês ganharia um número crescente de adeptos.
Seguiriam como cartilha a Bossuet, o qual escreve que “Deus
governa todos os povos, dando-lhes a todos os seus reis. Os
Príncipes são ministros de Deus para o bem: são sagrados
pelo seu ofício como representantes da Majestade divina,
deputados pela sua providência para a execução dos seus
desígnios” (Politique tirée de I’Écriture Sainte, 1709). Ganha
deste modo corpo a ideia da origem divina imediata do
Poder, desvalorizando quer a mediação popular (mediante
consilio aut electione humana, consoante o cardeal Belarmino),
quer a mediação papal. O atentado contra *Dom José I (1758)
havia de propiciar o exacerbamento do *Regalismo, consi-
derando sacrílegos quaisquer críticas ou atentados que lhe
fossem dirigidos. As obras que adoptam o providencialismo
fundado na ideia da razão natural, mais abrangente e menos
sujeito a contestação haviam de aparecer durante o consu-
lado pombalino. *Rei-Máquina, *Rei-Sol.

ABSOLVIÇÃO
Acto pelo qual um pecador fica reconciliado com Deus e
ilibado das respectivas culpas. A faculdade de absolver é
transmitida pela Igreja Católica aos seus sacerdotes cano-
nicamente ordenados, por intermédio do sacramento da
Ordem sacerdotal. *Indulgência.

ABSTINÊNCIA
A ingestão de alimentação simples e pobre é penitência obri-
gatória imposta pela Igreja Católica a todos os fiéis saudá-

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veis e maiores de 14 anos durante a *Quaresma (nomeada-
mente na quarta-feira de Cinzas e em todas as sextas-feiras),
a *Semana Santa (especialmente na sexta-feira Santa), bem
como no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não
coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades
costumadas em cada bispado. Os *Arrábidos do Convento
de *Santo António junto à Vila de Mafra só não se achavam
obrigados a abstinência nos dias ordinários, isto é, naqueles
em que não havia qualquer solenidade ou *jejum específico.
*Ementas fradescas.

ACADEMIA
Termo derivado do grego, Ekademos ou Akademos, nome do
personagem mítico que revelou aos Dióscuros, perseguido-
res de Helena e Teseu, o esconderijo deles, um jardim dos
arredores de Atenas, o qual o mesmo Akademos havia de
legar ao povo e que, murado e consagrado a Atena, se trans-
formaria na Academia platónica. Designação de largo espec-
tro semântico: reunião esporádica, celebrando algum evento
histórico ou relativo à família real; cursilho de intenção
didáctica; associação literária, científica ou cultural; socie-
dade de livre discussão. Até à centúria de quinhentos o
termo manteve o significado de leccionação, deambulação
didáctica, fraternidade iniciática e discipulado. O huma-
nismo, suposta reabilitação do academismo clássico, denun-
ciaria tal sentido, adoptando o conceito para designar
qualquer associação selecta de indivíduos devotados ao
estudo, à scientia e à sapientia. Este o espírito que presidiria
ao nascimento das Academias renascentistas de Itália.
Posteriormente, no decurso do séc. XVII, assistir-se-ia à espe-
cialização temática de tais associações, concomitantemente
com a sua institucionalização estatutária. Em Portugal
aponta-se o início do academismo cerca de 1628, com a cria-
ção da Academia dos Singulares, e o seu apogeu no segundo

22
quartel de setecentos, para declinar já no séc. XIX, cedendo o
lugar aos salões e tertúlias, cafés e clubes, associações secre-
tas e organizações políticas e cívicas. Porém, já durante o séc.
XVI terão existido autênticas Academias, tais como os círcu-
los de Sá de Miranda (Quinta da Taipa), de Francisco
Rodrigues Lobo (Corte na Aldeia), ou da Infanta Dona Maria
(Paço de Enxobregas), podendo ainda ser incluída no rol a
denominada Cavalaria do Amor. *Aulas literárias de Mafra.
Bibliografia: CASTELO BRANCO, Fernando, O Significado Cultural
das Academias de Lisboa no século XVIII, in Bracara Augusta, v. 28, n.
65-66 (77-78) (1974), p. 45-68; PALMA-FERREIRA, João, Academias
literárias dos séculos XVII e XVIII, Lisboa, 1982

ACADEMIA DOS OCULTOS


A Colleçam das obras que na Academia dos Occultos se recitárão
na morte do Fidelissimo, e Augustissimo Rey D. João V Na confe-
rencia do primeiro de Setembro de MDCCL (Lisboa, Manoel
Soares Vivas, 1750 [BN: HG 4747 P]) inclui obras de
*Joaquim Simpliciano do Canto, com referência ao
Monumento de Mafra (p. 10-11): “Para maior argumento da
sua magnificência, ainda que não para termo da sua gene-
rosidade, querendo Sua Majestade cumprir e juntamente
desempenhar um voto que fizera pela sua desejada suces-
são, traçou e construiu a preciosa, dilatada, perfeita e custo-
síssima obra da Igreja e Convento de Mafra de Religiosos
Franciscanos reformados da Província da Arrábida, dedi-
cando-a com grande solenidade a Nossa Senhora e a Santo
António. Que excessos não veríamos nesta obra se fora lícito
compará-la com as profanas? Que vantagens não faz ela às
Pirâmides do Egipto, aos muros de Babilónia, ao Colosso de
Rodes, à estátua de Júpiter Olímpico, ao Capitólio de Roma e
ao Templo de Diana? Nem eu posso descobrir outro que lhe
seja igual se não for o de Jerusalém edificado por Salomão,
Príncipe mui semelhante ao nosso, mas com esta desigual-

23
dade, que Salomão manchou a pureza dos seus sacrifícios
com os fumos da sua idolatria e Sua Majestade purificou a
culpa de seus defeitos com a continuação dos seus sacrifí-
cios. À soberba obra de Mafra bem se pode seguir a erecção
da Santa Igreja Patriarcal, primeiro de Capela Real a
Colegiada, depois a Metrópole Patriarcal […]”. A p. 16
reporta-se à *Biblioteca.

ACADEMIA DE SÃO LUCAS


Academia romana à qual pertenceram muitos dos artistas a
quem foram feitas encomendas para Mafra, designadamente
os pintores *Agostinho Masucci e *Trevisani, bem como os
escultores *Pietro Bracci, *Filippo della Valle, *Girolamo
Ticciati, para só citar os mais influentes. Entre os portugue-
ses filiados, contou-se *Francisco Vieira Lusitano, académico
emérito, reiteradamente apontado por Camillo Preciado
como um dos maiores pintores de Roma. *Arcádia Romana.
Bibliografia: QUIETO, Pier Paolo, Dom João V de Portugal, Mafra,
1989

AÇAFATA
Dignidade feminina do paço a quem competia, de acordo
com cerimonial preciso e segundo a respectiva hierarquia,
apresentar as roupas e todos os objectos de uso pessoal à rai-
nha, bem como ajudar as aias a vesti-la e a despi-la. Cerca
de 1828, foi destinado às açafatas um dormitório no *Quarto
Andar do convento, do lado Sul, simétrico ao *Dormitório
das Damas (n. 54), situado a Norte, conforme o Real Edifício
Mafrense visto por fora e por dentro (fl. 411) de *frei João de
Santa Ana.

A. C. INCHBOLD
Em 1907, publicou Lisbon and Cintra with some account of other
cities and historical sites in Portugal (Londres, Chatto &

24
Windus), opinando que “vale a pena visitar Mafra, quanto
mais não seja para ver apenas a sua magnífica igreja”. Alude
ao “curioso eco” da *sala Elíptica, ao *Refeitório, ao
*Claustro do buxo, à *Biblioteca, “a sala mais nobre do edifí-
cio”, à *Tapada e aos *Carrilhões (p. 180-181).

ACÓLITO
O acolitado constitui a maior das quatro ordens menores da
hierarquia eclesiástica católica (sendo as restantes três: exor-
cista, leitor e ostiário), tendo surgido pela primeira vez em
Roma, no ano de 251. Compete-lhe coadjuvar o celebrante
durante a missa, bem assim como na prática dos sacramen-
tos.

ACONTECE
Programa cultural da RTP 2 da autoria de Carlos Pinto
Coelho. Foi teledifundido em directo da *Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra, nos dias 18 e 19 de Abril de 1996.

25
AÇOUGUE
*Sala dos Actos Escolares, *Sebastião Conca.

ACTOS ESCOLARES
Também denominados Actos Literários, quiçá as *Aulas
Literárias de Mafra referenciadas por *Machado de Castro.
Discursos de abertura dos anos escolares e *Actos finais ou
*Conclusões das aulas de Teologia, Moral, Lógica, Física,
Metafísica e Gramática dos *Reais Estudos de Mafra.
Decorriam na *sala dos Actos Literários, também designada
*sala dos Actos Escolares.

ACTOS ESCOLARES, Sala dos


Serviu de *açougue durante a primeira invasão francesa.
*Sala dos Actos Literários, *Sebastião Conca.

ACTOS FINAIS
*Conclusões.

ACTOS LITERÁRIOS
*Actos Escolares.

ACTOS LITERÁRIOS, Sala dos


Dependência conventual, situada no extremo Sul do
*Corredor das Aulas, destinada à apresentação e defesa dos
*Actos finais ou *Conclusões das aulas de Teologia, Moral,
Lógica, Física, Metafísica e Gramática dos *Reais Estudos de
Mafra. Descrita no Real Edifício visto por fora e por dentro (fl.
121-123) por *frei João de Santa Ana: “Esta famosa casa,
designada na planta pelo n. 119 tem a sua entrada pelo cor-
redor das Aulas, dada por um portal, que com todo o seu
ornato tem de alto 25 palmos [5,50 m] e de largo 13 [1,86 m]
e fica defronte do corredor, que do claustro vem ter ao cor-
redor das Aulas. A casa, que se entende de Norte a Sul, tem

26
de comprido 117 palmos de largo 43 e de alto 60. Defronte
do portal da entrada está outro fingido, que lhe corresponde
e ao lado de cada um destes estão cinco degraus designados

pelos n. 120 por onde se sobe para os Doutorais, que estão


elevados nos dois lados da casa. Cada um deles tem de com-

27
prido com os degraus 80 palmos, e forma uma varanda de
seis palmos de largo, acompanhada toda com parapeitos for-
mados de pedras brancas e encarnadas e gradeamento de
maravilhoso lavor e artifício. Junto à parede são acompa-
nhados de assentos, que descansam sobre cachorros de
pedra e de famosos espaldares de pau preto e amarelo que
formam almofadas de pau preto, cercadas de molduras, e de
outro ornato de pau amarelo. Nestes Doutorais se assentam,
quando na casa se fazem actos públicos de conclusões, os
Padres mestres arguentes, que customam vir de Lisboa
sendo por todos 24 de doze diversos Conventos e religiões.
Estes assentam-se no Doutoral que está no lado do Norte. E
no mesmo se assenta o Provincial e Mesa da Definição, nos
lugares mais próximos à cadeira do Presidente; no do lado
do Sul assenta-se junto à mesma cadeira o Regente dos
Estudos; depois os Doutores Seculares; depois os Lentes, os
Substitutos da Província e em último lugar os Passantes. No
topo da casa, entre os Doutorais, há um patim para o qual
se sobe por três degraus, e nos lados dele há de cada parte
dois degraus, e por aí se entra também para os Doutorais; e
entre os assentos destes junto à parede está a Cadeira
Magistral, designada na planta pelo n. 121 em que se assenta
o Presidente do Acto. Esta é mais elevada que os espaldares
dos Doutorais, mas das mesmas qualidades de pau, e nas
costas tem um espaldar mais elevado, sendo tudo lavrado e
apainelado com o melhor gosto. Por baixo da cadeira há um
assento corrediço, que se puxa fora quando é só um o
Defendente, quando porém são mais os Defendentes, põe-
-se aí um banco para eles se assentarem. Por cima do espal-
dar da dita cadeira está na parede uma grande e preciosa
pedra branca cercada e guarnecida de muito lavor em pedra
branca, amarela, encarnada, azul, e outra mesclada de
branco e amarelo. Na dita grande pedra se vê insculpida
com letras maiúsculas a inscrição seguinte: Joannes V.

28
Mafrensem Academiam erigens Domum hanc Sapientiae dica-
vit. Sapientia grata hanc sibi Sedem eligens, ex ea Academiam
rexit. Josephus I. utranque nimium diligens sapientiae legibus

Academiam firmavit. Academia grata pespetuum monumentum


seligens hunc eis lapidem in titulum erexit. Anno 1752. Sobre a

29
pedra em que está esta inscrição, se acha uma coroa de flores
amarelas com laços de fita da mesma cor, que as prendem, a
qual está entre os pés de duas palmas, que estão cruzados, se
estendem para os lados. As palmas são de pedra branca, a
fita e a Coroa de pedra amarela. Aos lados de todo este
ornato há um friso de pedra branca, que principiando a ele-
var-se vai acabar em pontiagudo por cima da Coroa e onde
ele acaba, há um ornato de pedra amarela, que se estende
algum tanto para os lados sobre o friso e no meio está um
vaso de pedra azul, do qual sai um grande florão de pedra
amarela. Por cima de tudo isto passa a cimalha real da casa e
sobre ela está uma grande e formosa janela ornada, e cercada
de muito ornato, da qual não se pôde medir o tamanho por
ficar em grande altura. Aos lados do espaldar da cadeira há
de cada parte uma janela, que tem de alto 19 palmos, e de
largo 10. Do mesmo tamanho há outras duas aos lados, e por
detrás dos espaldares dos Doutorais. Há mais oito janelas
em toda a casa, que lhe comunicam luz das quais umas dei-
tam para o corredor das Aulas, outras para o terraço do
mesmo corredor; e além destas tem quinze janelas fingidas, e
quatro portais fingidos, contando o que está fronteiro ao por-
tal da entrada. Todo o pavimento da casa é de pedras bran-
cas e encarnadas, que formam um admirável xadrez. No
espaço que há entre os Doutorais se põe a bancada em que se
assentam todas as pessoas que assistem aos Actos, além dos
já mencionados. No meio da casa por cima dos Doutorais,
há de cada lado uma tribuna elevada do pavimento 21 pal-
mos, e saída fora da parede, a qual está firmada sobre quatro
grandes cachorros de pedra branca de primoroso artifício, e
igualmente a pedra da Tribuna que sai fora da parede. Tem
de largo o peitoril 18 palmos e meio. Estas duas Tribunas são
os lugares onde Sua Majestade e mais Pessoas Reais assis-
tem aos Actos Literários. Para a Tribuna do lado do poente
se entra por uma escada, que desce de uma das casas do

30
Tesouro da Sacristia […]. Para a do nascente se entra por um
portal, que está no ladrilho do Sul do dormitório grande do
2.º andar […]. Na parede do topo do Norte, fronteiro à pedra
da inscrição está um famoso painel, que representa Nossa
Senhora da Conceição pisando a serpente, com o Menino
Jesus nos braços, cercada de Anjos, e sobre eles o Eterno Pai,
e o Espírito Santo. Deste quadro, que todos admiram, é autor
[Sebastião] Conca, pintor italiano. É cercado de moldura de
pedra preta cristalina, e acaba formando um arco. Tem de
alto 28 palmos, e de longo 15 com a moldura. Ao lado
esquerdo do portal da entrada está um grande painel, que
representa a Sagrada Família, e de fronte deste está outro
que representa a Coroação de Maria Santíssima, ambos com
grandes molduras de pau fingindo pedra. Este é muito lou-
vado pelos Mestres da pintura mas ignoro quem fosse o
autor. Masucci é o autor do da Sacra Família, e o outro dizem
ser Vieira“. As colunas de madeira encimadas por candeei-
ros, sobre a balaustrada, foram ali colocadas quando a
dependência passou a ser tutelada pelo Ministério da Justiça
(Tribunal da Comarca). *Açougue.

AÇÚCAR
Não existe localidade outrora detentora de convento ou
mosteiro que não possua tradição doceira. Mafra não foge à
regra. Com efeito, a dieta conventual dos *Arrábidos e,
depois, dos cónegos regrantes incluia invariavelmente doces,
possuindo os frades uma dependência especificamente des-
tinada à sua confecção, denominada *Pastelaria. Porém, a
gulodice fradesca não é por si só explicação para a sobrevi-
vência dos verdadeiros tesouros gastronómicos saídos das
claustras conventuais. Os excedentes de açúcar, cujo comér-
cio constituía monopólio da coroa, deixavam de estar sujei-
tos a qualquer restrição se transformados, o que terá
contribuído para a difusão de tal prática.

31
ADAM NEALE
Em 1809, deu à estampa as Letters from Portugal and Spain,
comprising an account of the operations of the armies under their
excellencies Sir Arthur Wellesley and Sir John Moore, from the
landing troops in Mondego Bay to the battle at Corunna
(Londres). Além de um mapa com o itinerário das tropas
(junto ao rosto), a obra inclui doze gravuras abertas em folha
de metal, segundo desenhos feitos à vista, uma das quais
intitulada Distant view of Mafra.

ADAMASTOR
Um dos gigantes ou Titãs, filhos da terra, que se rebelaram
contra Zeus. Referido por Homero, na Odisseia (XXII, 212), e
por Virgílio, na Eneida (III, 614), chamando-lhe Damastor
aquele e este Adamasto. Também por Claudiano, na
Gigantomachia, e Ravísio Textor, na Oficina (1522). Em
Camões é a personificação do Cabo da Boa Esperança, antes

32
chamado das Tormentas. Dá aos portugueses o conheci-
mento “dos segredos escondidos / da natureza e do húmido
elemento”. José Benoliel crê na possibilidade de a palavra
Adamah (hebraico, terra) ter sugerido ao épico a denomina-
ção deste titã, “a quem está confiada a guarda dos mares
austrais”, à semelhança de Boreas que a detém no que res-
peita aos mares do Norte. Costa Ramalho desdenha do alvi-
tre, preferindo exclusivamente antecedentes etimológicos
greco-latinos, sem contudo precisar quais. Voltaire cita com
admiração esta criação camoneana, no Essai sur la Poésie Épi-
que. Acha-se figurado na abóbada da *sala das Descobertas,
junto de *Bartolomeu Dias.

Bibliografia: BENOLIEL, José, Episódio do Gigante Adamastor


(Lusíadas, canto V, est. 37-70): Estudo crítico, Lisboa, 1898; CASTRO,
Aníbal Pinto de, O episódio do Adamastor: seu lugar e significado na
estrutura de Os Lusíadas, in XLVIII Curso de Férias da Fac. de Letras da
Univ. de Coimbra (Ciclo de Lições comemorativas do IV centenário
da publicação de Os Lusíadas), Lisboa, 1972, p. 61-78; FARIA,
António Portugal de, O Episódio do Adamastor nos Lusíadas de Luís
de Camões, Livorno, 1897; FRANCISCO DE S. LUÍS, Frei, Apologia de

33
Camões contra as reflexões criticas do P. J. Agostinho de Macedo sobre o
Episodio de Adamastor no Canto V. dos Luziadas, Lisboa, 1840; GAN-
DRA, Manuel J., Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de
uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 144, n.
18; LETZRING, Monica, The Adamastor Episode and the eighteenth
century Aesthetic Theory of the Sublime in England, in Actas da I
Reunião Internacional de Camonistas (Lisboa, 15 a 18 de Nov. de 1972),
Lisboa, 1973; MACEDO, José Agostinho de, Reflexões criticas sobre o
Episódio de Adamastor nas Lusíadas, Canto V, oit. 39: em forma de carta,
Lisboa, 1811; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento a As Honras
da Pintura, Escultura e Arquitectura de João Pedro Bellori, Lisboa,
1815, p. 119; idem, Descrição das Pinturas do Real Palácio de Mafra
(edição de J. M. Cordeiro de Sousa), in Revista de Arqueologia, t. 3
(1936-38), p. 110; OLIVEIRA, Joaquim de, A primeira sugestão do mito
de Adamastor (Gil Vicente e Luís de Camões: breve estudo comparativo),
in Revista Ocidente, v. 62 (1962), p. 6-26; OSÓRIO, Balthasar, Origens
do episodio dos Lusíadas “O Gigante Adamastor”, in Bol. da 2.ª Classe da
Acad. das Sciências de Lisboa, v. IV (1911); RAMALHO, Américo da
Costa, Sobre o nome de “Adamastor”, in Garcia de Orta (n. especial
comemorativo do IV Centenário da publicação de Os Lusíadas),
(1972), p. 433-437; SANTOS, Custódio Lopes dos, A denominação
Adamastor em Os Lusíadas, in Actas da IV Reunião Internacional de
Camonistas, Ponta Delgada, 1984, p. 623-642.

ADEGA, poço da
Sito na *Primeira Tapada, dista apenas 5 m do poço da nora
das *Abegoarias com o qual parece não ter comunicação.
Aproveitado para abastecimento da adega e do lagar de
azeite do Centro Militar.

ADMINISTRAÇÃO DA FAZENDA DA CASA REAL


*Alberto Monteiro, *árvore.

ADMINISTRADOR DOS REAIS ÓRGÃOS DE MAFRA


Em Agosto de 1792 iniciaram-se os trabalhos de reconstru-
ção dos órgãos da Basílica, tendo sido encarregado da tarefa

34
o organeiro *António Xavier Machado, irmão de *Joaquim
Machado de Castro e administrador dos Reais Órgãos de
Mafra.

AD QUADRATUM
Proporção 1:2, utilizada na arquitectura desde a antiguidade
clássica. Vitrúvio expõe a regra da sua adopção na arquitec-
tura sagrada, esclarecendo que “a largura de um templo
deve igualar metade do seu comprimento” (De Architectura,
V, I, 4). Parece terem sido os beneditinos os primeiros pro-
motores da aplicação de tal módulo construtivo à arquitec-
tura medieval, achando-se vestígios dele um pouco por toda
a Europa, mesmo após o declínio da influência daquela
ordem religiosa. A planta de uma igreja edificada pelo
método do ad quadratum é definida por um rectângulo cons-
tituído por dois quadrados de igual dimensão, sucedendo
rigorosamente o mesmo com os alçados, quer transversais,
quer longitudinais. A diagonal de semelhante rectângulo
gera um ângulo de 63º 26’ ou, mais exactamente, de 63º
25.982’, o qual intervém na construção da secção áurea e do

35
pentágono. Os exemplos portugueses prolongam-se até ao
século XVIII, constituindo o Monumento de Mafra talvez o
mais significativo compêndio do método nessa centúria.

36
Bibliografia: LUND, Frederick Macody, Ad Quadratum: a study of the
geometrical bases of classic and medieval religious architecture, Londres,
1921; GANDRA, Manuel J., A Basílica de Mafra: compêndio de
Salomonismo e pólo da Nova Jerusalém, in Boletim Cultural ’97, Mafra,
1998, p. 9-78

ADORAÇÃO
Reverência ante ser ou coisa a quem se reconhece um esta-
tuto transcendente. Assume diferentes expressões. A igreja
católica admite três formas distintas: latria (religião ou culto
devido e prestado a Deus), dulia (reverência e honra devidas

37
às criaturas notáveis, anjos, santos e sacerdotes) e hiperdulia
(reverência à humanidade de Cristo ou à Virgem Maria). De
entre as *alfaias litúrgicas, as cruzes, os relicários e os porta-
paz são os compreendidos no grupo dos objectos de adora-
ção.

ADRIANO AUGUSTO DE FIGUEIREDO DORES


Tenente de Metralhadoras da *Escola Prática Infantaria e
vereador nas Comissões Municipais Administrativas da
Câmara Municipal de Mafra, empossadas em 16 de Agosto
(1928) e 3 de Novembro de 1928 (pediria a exoneração desta
última em 1930). Presidiu à *Comissão de Iniciativa de
Turismo de Mafra que promoveu as comemorações do
*Bicentenário da Inauguração do Monumento Nacional de Mafra
e Sagração da Real Basílica (22 de Outubro de 1930).

ADRIANO GAVILA, Don


Ajudante de infantaria e engenheiro espanhol, filho de *Don
Filipe Antonio Gavila. Promovido no posto de capitão enge-
nheiro por decreto de de *Dom João V, de 11 de Agosto de
1732, mercê que lhe seria concedida em virtude de ter pro-
cedido ao “descobrimento das águas da real obra de Mafra e
condução delas, assim para o convento, frontaria e demais
partes, com o maior zelo e cuidado” (cf. Sousa Viterbo,
Dicionário dos Arquitectos, v. 1, p. 415, n. 310).

ADRO
Lugar a partir do qual se avista o céu aberto, ou pórtico do
templo, por onde se acede ao corpus mysticum. A proximi-
dade dele originou que o adro se tivesse transformado em
cemitério. Os trovadores galaico-portugueses chamavam
sagrado a este local que lhes serviu de cenário para darem
louvores a Deus, de resto, como preconizava o Salmo CL, 3:
“[…] louvai-O com a harpa e a cítara, louvai-O com tambo-

38
res e com danças”. *Frei João de Santa Ana descreve o adro
do Monumento de Mafra nos seguintes termos: “No meio
da grande praça, que fica ao poente do edifício, e para onde
olha o principal frontispício dele, principia a formar-se o
Adro por uma rampa cercada de 24 pilares de mármore
branco formando um semicírculo, cuja principal entrada se
acha designada na planta pelo n. 1. O xadrez de toda a
rampa é formando de seixos brancos, e pretos com várias
cintas de pedra entre eles também em semicírculos. Desde a
entrada principal até ao primeiro patim tem de cada lado
uma ordem de pedra mais larga cortada com cavidades para
que não escorregue quem passar por elas, porque se vão ele-
vando à proporção que a rampa se eleva. Tem esta de com-
primento no meio até à entrada do patim, que se lhe segue
85 palmos e de largo de Norte a Sul junto ao patim 125. O n.
2 na planta designa o primeiro patim do Adro o qual está
cercado até aos pilares da rampa com dois lanços de
degraus, de sete cada lanço e um patamar entre os dois lan-
ços, os quais também cercam o segundo patim, como logo
se dirá. Tem o primeiro patim de Norte a Sul 125 palmos; e
contando também o espaço ocupado pelos degraus, que
estão de um e outro lado, tem 180 palmos. Todo o seu pavi-
mento é um xadrez de seixos brancos e pretos. Tem de largo
de nascente a poente 70 palmos. Deste se sobem sete degraus
para o segundo patim designado na planta pelo n. 3 no qual
estão as colunas entre os cinco pórticos do Átrio. Tem este
patim de comprimento de Norte a Sul 25 palmos e de largo
desde os degraus até à parede dos pórticos 39. O seu pavi-
mento é de mármores brancos, azuis e encarnados e como
fica mais alto que o primeiro patim, por isso é cercado de 21
degraus em três lanços de sete cada um. Por baixo dele há
uma casa do mesmo tamanho, que recebe luz por várias fres-
tas, que há nos degraus, que o cercam. Entra-se para a dita
casa pela casa que fica por baixo do Átrio e para esta se entra

39
pelos dois portais que ficam entre os cancelos de ferro, que
estão por baixo das duas torres. Nestas duas casas é que se
enterravam antigamente os corpos dos religiosos falecidos.

Presentemente, enterram-se junto à capela do Campo Santo,


como se dirá no lugar competente. Segue-se do que fica dito,
que todo o adro tem de comprimento desde o princípio da
rampa até à parede dos pórticos, que dão entrada para o
átrio, 200 palmos e de largo 180 contando os degraus, que o
cercam de um e outro lado” (fl. 49-50). O sol que ocupa o
centro virtual do adro configurou (em 1730!) o modelo helio-
cêntrico condenado pela Igreja Romana, a qual só noventa
anos mais tarde (1820) acabaria por adoptá-lo justamente em
substituição do sistema geocêntrico. As quatro faces do qua-
drângulo “olham em linha recta para os quatro ventos prini-

40
cipais e os quatro ângulos dele olham para os quatro inter-
médios” (*frei João de Santa Ana). O grupo de sete degraus
implica a semana. A rampa semicircular contém as esferas
ou órbitas (coroas circulares brancas) dos seis restantes
astros então considerados (sete, contando com o sol), sepa-
radas por coroas circulares pretas, indicadoras do vazio exis-
tente entre aquelas. Os vinte e quatro penitentes que se
erguem na coroa circular branca periférica, simetricamente
divididos por um caminho sem sombra, a estrada meridiana
do sol (físico e da monarquia), em dois grupos de doze, na
razão das vinte e quatro horas do dia. O quadrado, cujo lado
corresponde à distância entre o ponto central do Astro Rei e
a linha externa da coroa circular periférica, é o módulo regu-
lador de todo o Monumento de Mafra. Quanto à Avenida ou
*Estrada do Sol que se tem admitido haver sido planeada
por *Dom João V para unir em linha recta o seu Monumento
ao Atlântico, não passa de uma presunção de *Paulo Freire,
por ele divulgada em 1924 (Guia de Portugal, v. 1, p. 567). Em
1888 deu-se início ao restauro da calçada da rampa do adro e
da parte superior do próprio adro da *Basílica de Mafra,
“que era feita em xadrez e em lajedo branco e preto”, por-
quanto “tinha as pedras desta última cor meio desfeitas pela
acção do tempo” (cf. O Mafrense, 30 Dez. 1888). A substitui-
ção do empedrado degradado pelo novo, preparado numa
serração de Lisboa, foi dada por concluída em Fevereiro de
1889 (cf. O Mafrense, 10 Fev.). *Ad quadratum, *Árvore dos
Sephirot, *Carneiro dos frades.

ADVENTO
Na liturgia cristã corresponde ao período de preparação para
a natividade de Cristo. Abrange os quatro domingos ante-
riores ao Natal, caracterizando-se pela penitência. O pri-
meiro domingo do Advento assinala o início do ano
litúrgico. Paramentos roxos e rosa.

41
AFONSO, Dom
Conde de Barcelos e 1.º duque de Bragança. Acha-se retra-
tado na abóbada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do
Dossel, à direita de *Afonso Henriques, conversando com
*Dom Nuno Álvares Pereira, seu sogro. A pintura foi reali-
zada por *Cirilo Volkmar Machado, entre finais de 1798 e
Agosto de 1800.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado
no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural
’95, Mafra, 1996, p. 320-323; MACHADO, Cirilo Volkmar,
Aditamento a As Honras da Pintura, Esculptura, e Architectura de João
Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 118; idem, Descrição das Pinturas do
Real Palácio de Mafra, in Rev. de Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 105-112;
SOARES, Ernesto, Dicionário de Iconografia Portuguesa, Suplemento
1, Lisboa, 1954, n. XXXVI, p. 22-25.

AFONSO HENRIQUES, Dom (1111? -1185)


Fundador da monarquia portuguesa, aclamado no Campo
de Ourique, antes de travada a batalha. A cristofânia de
Ourique trouxe-lhe, concomitantemente, a legitimação da

42
realeza de direito divino. Como se sabe, Afonso Henriques
exprimiu constantemente, e desde o início da sua governa-
ção, a referência a Portugal como determinativo do grau hie-
rárquico que encarnava. O título de príncipe ou de infante
de Portugal ou dos portugueses só excepcionalmente se
encontra ausente dos diplomas afonsinos anteriores a 1139.
Paulo Merea encontrou e publicou um diploma a favor do
mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (carta testamenti et firmi-
tudinis), feito em Março de 1139 (mense martio era MCLXXVII,
i. e., quatro meses antes de Ourique), no qual Afonso
Henriques por duas vezes se intitula rei dos portugueses:
“Ego Alfonsus portugalensium rex comitis Henrici et regine
Tharasie filius magniquoque regis Alfonsi nepos” (Ver
Quando começou D. Afonso Henriques a intitular-se Rei?, in
Revista de Estudos Históricos, v. 3, 1926, p. 62-67. Cf. Felipe
Mateu y Llopis, Rex Portugaliae: notas sobre la intitulación
diplomática de los reyes de Portugal, in Arqueologia e História, s.
8, v. 8, 1958, p. 51-66). A partir de 10 de Abril de 1140 a chan-
celaria (cf. Liber Fidei) passaria a chamar-lhe Rei em defini-
tivo: “Ego egregius rex Alfonsus gloriosissimi Yspanie
imperatoris nepos et consuli domini Henrici et Tarasie regine
filius”. Rui de Azevedo inclui o referido diploma crúzio no
grupo dos vários falsos forjados no scriptorium de Santa
Cruz, cerca de 1155, por mestre Pedro Alfarde. A ser assim,
os primeiros diplomas em que Afonso Henriques se designa
a si próprio como rei tornar-se-iam duas Cartas de Couto
(Fevereiro de 1140-1141): dos mosteiros de Muías e de Santa
Marinha de Vilarinho (DMP, DR I, n. 176. Ver Rui de
Azevedo, in DMP, DR I, t. 2, p. 663-665 e Erdmann, 1940, p.
61-63). Contudo, a realeza de Afonso Henriques fora reco-
nhecida pelos seus súbditos antes de o próprio ter adoptado
o título de rei, conforme se comprova por duas inscrições
lapidares, ambas de 1138: uma de Soure, desaparecida,
comemorativa da edificação da igreja de Nossa Senhora a

43
Finisterra, erguida junto ao castelo da localidade (“regnante
comitis Henrici filio Adefonso, X anno sui regni”); outra de
Santa Luzia de Campos, em Vila Nova de Cerveira (“reg-
nante Rex Alfonsus”) (Mário Jorge Barroca, Epigrafia
Medieval Portuguesa (862-1422), Lisboa, 2000, n. 73 e 74, res-
pectivamente). Pelos anos de 1150-60 o nome do primeiro
Afonso separar-se-ia do do reino, desaparecendo este, o que
segundo José Mattoso se ficou a dever à circunstância de a
personalidade do monarca se ter tornado cada vez mais
absorvente e carismática (Identificação de um país, v. 2, p. 199.
Em 1142 surge a expressão “rex Portugal[ensis]”, mas ainda
sem o nome de Afonso. Apenas um diploma de 1132 ostenta
um sinal com “infans Alfonsus”. Alfredo Pimenta (O nome
de D. Afonso Henriques nos documentos medievais, in Bazar, a 3,
n. 48, 17 de Março 1939) sublinha que só nos finais do Século
XIII se começou a chamar a Afonso I, Afonso Henriques
(filho de Henrique). Dozy (Recherches sur l´histoire et la litéra-
ture de l’ Espagne pendant le moyen âge, v. l, p. 107, nota 4)
recorda que “Os Árabes davam este nome [ibn Errik] a todos
os reis de Portugal, porque eles descendiam de Henrique de
Borgonha”. O carisma de Afonso Henriques, tão cabalmente
expresso nos selos rodados de 1183, não esmoreceu após o
seu passamento. Pelo contrário, ver-se-ia fortalecido sem
detrimento, ao ponto de a sua beatificação haver sido reite-
radamente solicitada à Santa Sé, com especial enfâse durante
o reinado de *Dom João V. António José Saraiva vem corro-
borar o afirmado, ao revelar ter identificado nas 3.ª e 4.ª
Crónicas Breves de Santa Cruz de Coimbra “rasto de uma poesia
épica de jongleur sobre Afonso Henriques”, na qual se canta
a liberdade dos portugueses e que, presume o investigador,
terá sido elaborada o mais tardar durante o reinado de *Dom
Sancho I (História da Cultura em Portugal, Lisboa, 1950, p. 153-
165. A 4.ª Crónica Breve de Santa Cuz de Coimbra faculta a ver-
são mais antiga do texto em língua portuguesa [PMH, v. l,

44
p. 29-32], ao passo que a 3.ª inclui outras tradições lendárias).
O autor de uma tal gesta, acrescentou em estudo publicado
posteriormente o mesmo António José Saraiva, ter-se-ia iden-
tificado com o sentimento popular ou, quando muito, não o
teria engeitado, o que, necessariamente, força a concluir
como, aliás, concluiu Saraiva, em face do ponto de vista niti-
damente português do jogral, que esse poema épico tradicio-
nal foi forjado dentro dos limites do reino de Portugal (Sur le
texte de la tradition épique d’Afonso Henriques, in Bull. des Études
Portugaises de l’ Institut Français au Portugal, nova série, v. 30,
1969, p. 11-37). Por seu turno, a relação de Afonso Henriques
com os crúzios foi igualmente sempre muito próxima, tendo
sido recebido na Ordem Terceira dos cónegos regrantes de
Santa Cruz, a 14 de Setembro de 1136. A cerimónia teve lugar
na casa do Capítulo, perante 72 cónegos, tendo pregado Dom
João Peculiar, o qual comparou o novo irmão ao Imperador
Heráclio que, revestido com hábitos sacerdotais, transporta
o Santo Lenho até Jerusalém em procissão.
Bibliografia: AGUIAR, António de, As mais antigas espécies icónicas
Afonsinas, in Ocidente, v. 52 (1957), p. 23-31; ANÓNIMO, A
Canonização de D. Afonso Henriques, in Diário de Notícias Ilustrado
(Natal, 1922); ANTUNES, José, Um Livro sempre aberto sobre Afonso I,
Rei de Portugal, in Revista de História das Ideias, v. 20 (1999), p. 7-29;
BASTO, Artur de Magalhães, Crónica de Cinco Reis de Portugal (ed.
crítica), Porto, 1945, p. 222-226; idem, Estudos: Cronistas e Crónicas
Antigas. Fernão Lopes e a Crónica de 1419, Coimbra, 1960, p. 283-284 e
289-292; BRITO, da Rocha, D. Afonso Henriques e S. Teotónio na lenda
e na arte de Santa Cruz de Coimbra, in Biblos, v. 27 (1951), p. 305-320;
idem, idem, Imagens de Portugal: Afonso Henriques em Santa Cruz de
Coimbra, in Museu, v. 5, n. 13-14 (Jul.-Dez. 1949), p. 223-232; BRO-
CHADO, Costa, A beatificação de D. Afonso Henriques no tempo de
Pombal, in Brotéria, v. 41, n. 4 (1945), p. 289-293; idem, Tentativas de
canonização de El-Rei D. Afonso Henriques, in Anais da Academia
Portuguesa de História, s. 2, v. 8 (1958), p. 305-337; CASTELLO-
BRANCO, Fernando, O Lendário de Afonso Henriques, Lisboa, 1965;
CASTRO, Augusto Mendes Simões de, Os Túmulos de D. Afonso

45
Henriques e de D. Sancho I, Coimbra, 1885; CEREJEIRA, Manuel
Gonçalves Cerejeira, D. Afonso Henriques poderá ser beatificado?, in
Revista dos Centenários, a. 1, n. 8 (31 Ago. 1939); ERDMANN, Carl,
De como D. Afonso Henriques assumiu o título de Rei, Coimbra, 1940;
GANDRA, Manuel J., A Cristofania de Ourique: mito e profecia,
Lisboa, 2002; GONÇALVES, A. Nogueira, O narthex românico da
igreja de Santa Cruz de Coimbra, in Petrus Nonius, v. 4, n. 1-2 (1942);
idem, O Mestre dos Túmulos dos Reis, in Estudos de História da Arte da
Renascença, Coimbra, 1979, p. 27-53; JOÃO DE SANTA MARIA DE
JESUS, Dom, Fama Posthuma do Gloriosissimo Senhor Rey D. Affonso
Henriques, primeiro Monarcha do Imperio Lusitano, com a noticia do
estado da sua canonização, Quesitos sobre as acções do Senhor Rey D.
Affonso Henriques em ordem á sua canonização e Interrogatorios, e
Artigos para a causa da Canonização do Veneravel Rey D. Affonso
Henriques (manuscritos de 1752); MAGALHÃES, Dom Francisco do
Santíssimo Coração de Maria Cardoso e Castro de, Sermão pregado
nas solemnes exequias do senhor Rei D. Affonso Henriques, as quais man-
dou celebrar, e a que assistiu com as serenissimas senhoras Infantas o
muito alto e muito poderoso senhor D. Miguel I, na real basilica do mos-
teiro de Santa Cruz de Coimbra em 25 de Outubro de 1832, na occasião
em que fez abrir o regio tumulo d’aquele valoroso monarcha, Coimbra,
Imprensa da Universidade, 1832; PEREIRA, José Pinto, Apparatus
historicus decem continens argumenta, sive non obscura Sanctitatis indi-
cia, religiosissimi Principis D. Alfonsi Henrici, primi Portugalliae Regis:
quem velut Phaenicis cineres, duplici Sole fovendum Sanctissimo Domino
Nostro Benedicto Papae XIII et Majestati Joannis V Portugalliae, Indiae,
Angolae, et Brasiliae Regis, Roma, 1728; SOARES, D. João, Inquirições
tiradas pelo Bispo de Coimbra […] no reinado de D. João III sobre a santi-
dade de D. Afonso Henriques, in Antiquário Conimbricense, n. 6 (Dez.
1841), p. 47, nota 2; TIMÓTEO DOS MÁRTIRES, Dom frei, Crónica
de Santa Cruz, v. 1, Coimbra, 1955, p. 82-87
Do acervo do Palácio Nacional de Mafra constam dois retra-
tos de Afonso Henriques:
1. Afonso Henriques e o Conde D. Henrique consultam o Livro do
Destino (pormenor da abóbada da *sala dos Destinos ou *sala
segunda do Dossel), pintura a fresco de *Cirilo Volkmar
Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), reali-

46
zada entre finais de 1798 e Agosto de 1800. Segundo o pró-
prio Cirilo, esta dependência “contém a genealogia da casa
Real”: o *Conde Dom Henrique mostra-se à sinistra de
Afonso Henriques, envergando armadura e apoiando-se em
escudo com uma cruz lavrada. À dextra do rei fundador, o
*Destino (trajando de azul claro) segura o seu Livro com a
mão esquerda, apontando, com a direita, para a
*Providência, perante a atitude de reverência aos Céus de
*Hugo Capeto. À esquerda do Conde Dom Henrique, sobre
uma balaustrada, os retratos de *Dom Sancho I, *Dom
Afonso II e *Dom Sancho II; à direita da personificação do
Destino, os retratos dos restantes monarcas da primeira
dinastia. Próximo de Afonso Henriques observa-se *Dom
João I. A cena denuncia reminiscências do Milagre de
Ourique. Os esbocetos preparatórios de Cirilo para este
fresco guardam-se no *Museu Nacional de Arte Antiga.

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado


no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural

47
’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália
Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96,
Mafra, 1997, p. 139, n. 1; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento,
in As Honras da Pintura, Esculptura, e Architectura de João Pedro
Bellori, Lisboa, 1815, p. 118; idem, Descrição das Pinturas do Real
Palácio de Mafra, in Rev. de Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 108-111;
SOARES, Ernesto Soares, Dicionário de Iconografia Portuguesa, Supl.
1, Lisboa, 1954, n. XXXVI, p. 22-25.

2. Lenda do Baptismo de Afonso Henriques [inv. 1763], estudo


ou esboceto (c. 1803-1806) a óleo (sobre madeira de carva-
lho; 0,194 x 0,297 m) de Domingos Sequeira para a Lenda do
Baptismo de D. Afonso Henriques, série temática destinada a
uma das salas da Ajuda, cujas telas seguiram, em 1807, para
o Brasil com a família real, desconhecendo-se o seu actual
paradeiro. Iconografa um episódio supostamente ocorrido
durante o baptizado do futuro monarca fundador da nacio-
nalidade: um nobre cavaleiro excomungado e, por conse-
guinte, interditado de entrar em solo consagrado, tendo
violado a proibição, é acometido de convulsões que o pros-

48
traram, sendo assistido pelo bispo São Geraldo, que pro-
nuncia o exorcismo conveniente. Proveniente da Galeria de
Pintura do *Palácio Nacional da Ajuda. No *Museu Nacional
de Arte Antiga existe, além de outro estudo para a mesma
composição [inv. 1648 P], um desenho a traço e aguarela nan-
kim sobre papel [inv. 2406 Des], apresentando algumas
variantes relativamente a ambos, designadamente em ter-
mos de acabamento, o que pode indiciar a circunstância de
ter sido realizado a partir da pintura definitiva.
Bibliografia: BEAUMONT, Maria Alice, Domingos António de
Sequeira: Desenhos, Lisboa, 1972-1975; CARVALHO, Ayres de,
Discurso de Abertura das Comemorações do 150.º aniversário da
Fundação da Antiga Academia Real de Belas-Artes (1836-1986) proferido
pelo Presidente da ANBA, Prof. Pintor […] em 26 de Novembro de 1986,
Lisboa, 1991, p. 16; Sequeira, um Português na mudança dos tempos
(1768-1837), Lisboa, 1997, n. 163, p. 218-219, n. 169, p. 222 e n. 170, p.
223; GANDRA, Manuel J., Iconografia mafrense: Regália Portuguesa
(Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997,
p. 139-140, n. 2; VITORINO, Pedro, Notas artísticas e arqueológicas:
as máquias do pintor Sequeira, in Lusa, v. 3, n. 48 (1919-1920).

AFONSO HENRIQUES, Infante Dom (31.7.1865-21.2.1920)


Irmão do rei *Dom Carlos. Duque do Porto e vice-Rei da
Índia. Visitou Mafra na companhia do monarca, em 1891. Cf.
anedota a seu respeito no Boletim Cultural ‘94 (p. 376).

49
AFONSO II, Dom (1186-1223)
Rei de Portugal (1211-1223), cognominado o Gordo. As leis
que fez promulgar nas Cortes de Coimbra (1211) inaugura-
ram uma tradição de autonomia do poder civil que podem
justificar os reiterados conflitos com a autoridade eclesiástica,
que se prolongariam até ao reinado de Dom Dinis. A dita
legislação revela substancial novidade no que concerne à
definição e distinção entre os poderes espiritual e temporal,
suscitando em José Mattoso (cf. As concepções de Afonso II, in
Identificação de um país: ensaio sobre as origens de Portugal –
1096-1325, v. 2, Lisboa, 1985, p. 87-92) a tentação de comparar
a actuação política deste monarca à de Frederico II, porém
vinte anos antes dele. Com efeito, Afonso II, sublinha o
mesmo autor, “transpôs para o domínio político não poucas
ideias de Inocêncio II, reivindicando em seu favor o princí-
pio da autonomia do príncipe. Foi ele que proclamou aquilo
que os glosadores do Liber Augustalis ou Constituições de
Amalfi (1231) chamam o novo direito. Aí, de facto, apresenta-se
a si próprio como uma fonte de onde brota a Justiça, como o
defensor dos fracos injustamente oprimidos, o novo César
que só presta contas ao julgamento da razão, que é a mãe do
direito”. Presume-se que tenha bebido a concepção de poder
(supremo, independente e universal) que adoptou, e que
daria uma coerência nova à sua governação, nos legistas da
corte de seu pai e, designadamente, em mestre Julião, a quem
recompensaria generosamente logo após o início do seu rei-
nado, bem como em mestre Vicente. Este afirmava, na esteira
de Hoguccio, que o Imperador recebe directamente de Deus
o poder sobre as coisas temporais, dependendo da Igreja ape-
nas naquilo que depende do espiritual, sublinhando ainda
que, na Hispânia, o rei se assemelhava a um Imperador, por-
quanto não recebia o gládio do Papa. Tal doutrina de *mestre
Vicente é exposta no prólogo das leis de 1211, no passo onde
é estabelecido um paralelismo entre as leis régias e os decretos

50
de Roma, declarando nulas quaisquer futuras leis e acções
que adversarem umas ou outras. Torna-se óbvio por que
razão Afonso II, reage contra os decretos laicales de frei Soeiro
Gomes, segundo os quais a pena de confiscação dos bens dos
hereges caía sob a alçada da lei eclesiástica, uma vez que na
perspectiva dos legistas régios tal pena não passaria de uma
questão temporal. No seu testamento (27 de Junho de 1214)
ordenou que a terça dos seus bens fosse partida “igualmente
em cinco partes”, uma das quais destinada a Alcobaça, onde
mandava deitar o seu corpo, a outra ao mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra, a terceira aos templários, a quarta aos hos-
pitalários e a quinta ao bispo de Braga e ao arcebispo de
Santiago de Compostela [ANTT: Mitra de Braga, caixa 1, n.
48]. Acha-se retratado, à esquerda de *Dom Sancho I, na abó-
bada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel, numa
pintura a fresco realizada por *Cirilo Volkmar Machado (com
*Bernardo António de Oliveira Góis), entre finais de 1798 e
Agosto de 1800.
Bibliografia: CINTRA, Luís Filipe Lindley, A Prosa Medieval
Portuguesa, Lisboa, 1996, p. 43-48; GANDRA, Manuel J., A obra de
Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo
próprio, in Bol Cultural ’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia
mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in
Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 140, n. 4

AFONSO III, Dom (1210-1279)


Rei de Portugal (1248-1279), cognominado o Bolonhês.
Retratado, à direita da personificação do Destino, na abó-
bada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel,
numa pintura a fresco realizada por *Cirilo Volkmar
Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), entre
finais de 1798 e Agosto de 1800. No escudo ostenta, con-
soante a descrição de Cirilo, “as quinas de Portugal sobre os
Castelos do Algarve”.

51
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado
no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural
’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália
Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96,
Mafra, 1997, p. 141, n. 6

AFONSO IV, Dom (1291-1357)


Rei de Portugal (1325-1357), cognominado o Bravo.
Correspondendo ao apelo do genro, participou na Batalha

52
do Salado (30 de Outubro de 1340), frustrando a derradeira
tentativa muçulmana de recuperação do domínio sobre a
Península Ibérica e originando um poema épico (Poema da
Batalha do Salado de Afonso Geraldes de Montemor) onde
encarna o papel do monarca predestinado para a prepara-
ção da Parúsia, sob o título de Leão dormente, prefiguração
do *Encoberto. Por ter decidido eliminar fisicamente Dona
Inês de Castro originou graves confrontos com seu filho, o
futuro *Dom Pedro I (1355-1356). António Ribeiro dos Santos
(cf. Memórias históricas sobre alguns Mathematicos Portuguezes,
e Estrangeiros Domiciliários em Portugal, ou suas conquistas, in
Memórias da Litteratura Portugueza da Academia Real das
Sciencias de Lisboa, v. 8, p. 151) afirma que durante o reinado
de Dom Afonso IV “é que o estudo das Matemáticas come-
çou de se introduzir neste Reino [Portugal]: consta que […]
era muito dado às especulações desta Ciência [*Astrologia]
e, particularmente, às de Astronomia; e que por esta causa
não só alguns nacionais, mas também estrangeiros, assim
mouros, como judeus, que viviam em Portugal, cuidavam
desveladamente desta Ciência, como coisas de que tão
grande Príncipe levava contentamento. Contudo, parece que
a maior parte dos cuidados dos estudiosos se encaminhava à
Astrologia judiciária […], em que se fazia aplicação dos
conhecimentos das Esferas, para se formarem conjecturas e
prognósticos sobre os tempos e as pessoas pela observação
do aspecto dos planetas e conjunção dos astros predominan-
tes e influência das estrelas”. O seu retrato incluído nos
Elogios dos Reis de Portugal (Lisboa, 1603) de frei Bernardo de
Brito, foi tirado a partir de uma representação deste sobe-
rano personificando um dos reis Magos de um retábulo do
mosteiro de Odivelas. Em Mafra acha-se figurado, à
esquerda de *Dom Dinis, na abóbada da *sala dos Destinos
ou *sala segunda do Dossel do Palácio Nacional de Mafra,
numa pintura a fresco realizada por *Cirilo Volkmar

53
Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), entre
finais de 1798 e Agosto de 1800.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado
no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural
’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália
Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96,
Mafra, 1997, p. 143, n. 14

AFONSO VI, Dom (1643-1683)


Rei de Portugal (1656-1668), cognominado o Vitorioso.
Hemiplégico e débil mental, herdou o trono aos dez anos
por morte do irmão, Dom Teodósio, tendo sido aclamado
aos treze anos incompletos. O controlo efectivo do poder
coube a Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, 3.º conde de
Castelo Melhor, que foi provido no cargo de escrivão da
puridade. *António Vieira comunica por carta a Dom
Rodrigo de Meneses (Carta, 3 de Março de 1664) que o
jesuíta Francisco Guedes, tomando “por problema dos futu-
ros contingentes se havia de vir ou não el-rei Dom
Sebastião”, afirmara ser este monarca “o verdadeiro
Encoberto profetizado”. Noutra ocasião o próprio António
Vieira o apresentaria como *Encoberto (Defesa do Livro intitu-
lado Quinto Império), tal como *Cosme Ferreira de Brum
(Catálogo dos Reis de Portugal, obra apenas conhecida por
intermédio da Biblioteca Histórica de José Pinto de Sousa, que
afirma: “Na Dedicatória ao Senhor Afonso VI enuncia ser
este Monarca o Príncipe de Portugal, encoberto na confor-
midade de uns inculcados vaticínios”). Em 1669 os sebastia-
nistas sustentavam que o monarca deposto “não descansa,
de dia e noite, de clamar por el Rei Dom Sebastião, seu tio,
que acabe de chegar a dar-lhe a sua liberdade e seu Reino”
(cf. Monstruosidades do Tempo e da Fortuna, v. 2, Barcelos, 1939,
p. 61). O freire professo da Ordem de Cristo, doutor João
Correia Peixoto, aplica a este monarca duas estâncias do

54
Primeiro Corpo das Trovas de *Bandarra e, designadamente a
estância 100: “O Rei novo é elegido, / E escolhido, / Já ale-
vanta a bandeira / Contra a Grifa parideira / Que tais pastos
tem comido; Porque haveis de notar, / E assentar /
Aprazendo ao Rei dos Céus / Trará por ambas as Leis, / E
nestes seis / Vereis coisas de espantar” (cf. Oração fúnebre nas
Exéquias reais […] del Rei Dom João IV na insigne colegiada de
Ourém em Dezembro de 1656, Coimbra, 1657, p. 12). Também o
teólogo, filósofo e astrólogo António Pais Ferraz prognostica
o *Quinto Império para Afonso VI no seu Discurso Astrológico
das influências da Maior conjunção de Júpiter e Marte, que suce-
derá neste ano de 1660, a 8 de Agosto, observada e calculada para o
Meridiano desta Corte, cabeça de Portugal, nele se trata da exalta-
ção de Portugal, dos princípios de seu Império e de suas felicidades
(Lisboa, Domingos Carneiro, 1661 [BA: 55-IV-27 (4.º)]). Por
seu turno, Suassuna, em A Pedra do Reino, atribui-lhe um
papel escatológico no advento do *Império Universal. Dom
Afonso VI acha-se retratado num medalhão da parede
poente da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel do
Palácio Nacional de Mafra, entre as estátuas da *Tristeza e
da *Infelicidade. O Busto foi pintado a fresco, durante a
década de 1950, por *Ayres de Carvalho, conforme projecto
de *Cirilo Volkmar Machado.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia mafrense: Regália
Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96,
Mafra, 1997, p. 144, n. 18; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento
a As Honras da Pintura, Escultura e Arquitectura de João Pedro
Bellori, Lisboa, 1815, p. 119; idem, Descrição das Pinturas do Real
Palácio de Mafra (edição de J. M. Cordeiro de Sousa), in Revista de
Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 110

AFONSO DA CONCEIÇÃO, Frei (f. 1741)


Religioso da Província da Arrábida, seu Pro-Ministro no
Capítulo Geral de Roma. Autor do Sermão Panegyrico, e

55
Gratulatorio, Prégado no dia oitavo do Solemnissimo Oitavario da
Dedicação do Real Templo de Mafra na Presença Del Rey D. Joam
V. seo Fundador, e dos Serenissimos Senhores Infantes D.
Francisco, e D. Antonio (Lisboa, Francisco Luís Ameno, 1751
[PNMafra: BVolante 2-11-7-17 (1.º) e 2-11-6-3 (10.º)]), ofere-
cido a *Matias Aires Ramos e impresso postumamente.
*Dom António.

AFONSO TEXEDOR, Don


Colegial do Colégio maior de Santo Ildefonso da
Universidade de Alcalá, Opositor consultado nas Cadeiras
dela, Cónego Magistral da Catedral de Placência,
Examinador Sinodal do mesmo Bispado e Cónego Magistral
da Igreja Patriarcal de Sevilha. No dia 10 de Novembro de
1750 pregou o Discurso Sagrado, Politico Moral, nas sumptuosas
Exequias que a muito nobre, e muy leal cidade de Sevilha consa-
grou ao Fidelisssimo Senhor D. João V Rey de Portugal, e dos
Algarves, no magnifico Templo da Santa Metropolitana, e
Patriarcal Igreja da mesma Cidade, na presença dos Illustrissimos
Cabidos Ecclesiastico, e Secular, e dos gravissimos Tribunaes do
Real Senado, e da Santa Inquisição, acompanhados de todos os
Seus Dependentes, e Ministros, com a ostentação que se costuma
na dita Santa Igreja (traduzido da lingua castelhana e dedi-
cado ao Colégio dos Excellentíssimos e Reverendíssimos
Senhores Príncipes da Santa Igreja de Lisboa; Lisboa,
Francisco Luís Ameno, 1751 [BN: L 1308 A]). Dedica algu-
mas reflexões ao Monumento de Mafra (a p. 19, n. 24): “[…]
que direi se aplico a atenção ao Convento de Nossa Senhora
e Santo António, junto à Vila de Mafra? Este Santuário não
só no material é um riquíssimo agregado de portentos: as
estátuas parecem animadas; os jaspes transparentes espe-
lhos; as pinturas (que mágoa!) ainda que maltratadas dos
ventos salitrosos do Oceano, são primoroso desempenho de
seus célebres Autores; a copiosa multidão de sinos, o relógio

56
de uma música perene, os seis órgãos do Templo e outros
realces do poder, em que quase exauriu a arte a sua valentia
e os seus primores, tudo servia de estímulo à minha tibieza,
de tudo podia muito bem aproveitar-se o espírito. Até a
finíssima calçada de sete léguas de distância, que vai de
Lisboa a este sítio, foi um rasgo da sua propensão piedosa,
para fazer mais comunicável a seus vassalos aquela porten-
tosa maravilha. O culto, que ali se dá à Majestade suprema é
um perpétuo milagre: trezentos e sessenta Religiosos
Franciscanos da Reforma de S. Pedro de Alcântara (que vi
juntos no Coro e Refeitório) são os cuidadosos e vigilantes
obreiros desta mística herdade. E como os seus alimentos
saem do Tesouro Real, alternam sem distinção os louvores
Divinos, com os desvelos do estudo: nas suas Aulas e nos
seus claustros vivem, como em sua própria morada, aque-
las Artes e Ciências que fomentam a erudição mais sólida e
mais firme […]”.

A. FONTOURA DA COSTA
Em A Marinharia dos Descobrimentos (1960) referencia obras
da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.

A. FULLARTON
Subscritor de uma gravura em aço (0,13 x 0,15 m), estam-
pada em Londres (1832?), iconografando a Real Obra de
Mafra.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra
(desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra,
1998, n. 37, p. 243

A. GERMOND DE LAVIGNE
Em 1866, este francês, membro da Academia Espanhola, ree-
ditou o Itinéraire descriptif, historique et artistique de l’ Espagne
et du Portugal (Paris). Opina que Mafra, além de ter arrui-

57
nado Portugal, é uma “confusão de construções sem pensa-
mento e sem estilo” (p. 661-662).

AGNUS DEI
Amuleto cristão, talvez originado nos discos de cera que os
Romanos ofereciam durante as Saturnálias. Pequeno meda-
lhão feito da cera de um círio pascal (cujo resto era desfeito
na festa da *Ascensão, para ser distribuído aos fiéis em
pequenos pedaços), em que se gravava um cordeiro.
Queimava-se em casa, nos campos ou nas vinhas, sendo con-
siderado poderoso preservativo contra o demónio, as tro-
voadas e as tempestades. Em Roma, o arcedíago tomava
outra cera (que não a de um círio pascal), benzia-a, ungindo-
-a com bálsamo e santos óleos, fazendo dela pequenas figu-
ras de cordeiros que distribuia pelos fiéis. Posteriormente,
passaria a ser benzido na capela Sistina pelo Papa no pri-
meiro ano do seu pontificado e, depois, de sete em sete anos,
durante o tempo pascal: o próprio pontífice distribui o
Agnus-Dei solenemente, no Sábado in albis, aos cardeais, bis-
pos e outros assistentes admitidos às cerimónias. Usado ao
pescoço protege contra feitiços. Os juízes de processos de fei-
tiçaria eram aconselhados a usá-lo pelos autores do Malleus
Malleficarum. Jerónimo Cortez assevera que “quem o levar
consigo, será livre de temporais, tormentos, de saraiva, coris-
cos e raios” (Fisiognomia e vários segredos da natureza,
Coimbra, 1706, p. 162), acrescentando que “será também [o
portador] preservado de peste, de gota coral, e de morte
súbita, como o Sumo Pontífice pede a Deus em uma das ora-
ções que recita quando os sagra”. Os navegadores portu-
gueses a ele recorriam em momentos de aflição, como se
constata pela passagem seguinte da História Trágico-marítima
(Relação do naufragio da nao Santiago, no ano de 1585, tomo 2,
1736): “[…] Mas quis Nosso Senhor, que amainou logo o
vento pela virtude dos Agnus Dei, e relíquias que deitaram

58
ao mar”. Em algumas regiões do país usa-se como amuleto
contra as sezões, porém é no domínio da obstetrícia que
obtém maior aplicação: “Também tem virtude muito grande
para livrar as mulheres, que estão de parto, de todo o perigo
dando-lhes esforço, e ânimo naquele aperto” (Lunário e prog-
nóstico perpétuo geral, Lisboa, 1757, p. 262) ou como sugere
Jerónimo Cortez: “Notai uma grande excelência, e virtude
do Agnus Dei e é que a mulher, que andar de parto, e estiver
em perigo de não poder parir, lhe dareis três pedacinhos
pequeninos a beber em uma pouca de água, e tendo fé parirá
sem lesão nem perigo, como muitas vezes eu vi: E tendo
devoção de dizer “Agnus Dei, miserere mei, qui passus es
pro nobis, miserere nobis”. Em 17 de Novembro de 1717,
foram depositados no *alicerce da capela mor da *Basílica de
Mafra, da parte do Evangelho, dentro de duas caixas de ouro
redondas, outros tantos Agnus Dei: um de Inocêncio XI e
outro do Pontífice reinante.

AGOSTINHO, Frei
Sentença régia, datada de 1 de Outubro de 1791 e dada no
mosteiro de Mafra, mandou despir o hábito e expulsar este
*corista da Ordem dos *Cónegos Regrantes de Santo
Agostinho, “por seus enormes crimes”, partilhados por outros
dois, *frei Eusébio e *frei Francisco, igualmente expulsos.

AGOSTINHO, Santo (354-430)


Aurélio Agostinho. Maniqueísta, convertido pela cataquese
de *Santo Ambrósio, baptizado em 387, e, posteriormente
(ano 395), sagrado Bispo de Hipona. Após a sua fase mile-
narista, observou uma atitude reservada face a todas as
questões respeitantes ao futuro. Adopta a divisão da história
em seis idades (aetates) em correspondência com os seis dias
da criação, de Hipólito de Roma (séc. III), mas, ao invés dele,
opta pela contagem das gerações em vez de atribuir mil anos

59
a cada idade: 1. Infantia = de Adão ao dilúvio (10 gerações);
2. Pueritia = do dilúvio a Abraão (10 gerações); 3. Adolescentia
= de Abraão a David (14 gerações); 4. Iuventus = de David
ao cativeiro babilónico (14 gerações); 5. Gravitas = do cati-
veiro à Encarnação (14 gerações); 6. Senectus = da
Encarnação ao fim do Mundo (em oposição aos quiliastas,
deixa indeterminada a duração desta idade entre as duas
vindas de Cristo); 7. Quies = um Sábado sem fim, fora do
tempo (cf. De Civitate Dei, XXII, 30, 5). Fernão Lopes adopta
este esquema da história nas suas Crónicas, nomeadamente
na de Dom João I, a cuja missão escatológica confere legiti-
midade. Santo Agostinho foi o fundador do conceito cristão
de Estado, o qual é uma inclinação natural outorgada por
Deus, uma criação mediata deste, que deve contribuir para
que o homem logre preparar-se para a vida futura (a Cidade
de Deus). Santo Agostinho protagoniza no Auto da Alma de
Gil Vicente uma extraordinária dissertação teológica: a Igreja
põe a mesa para reconfortar a alma que o diabo tentara e
Santo Agostinho é o primeiro dos doutores chamados a
apresentar ao pecador os manjares da salvação. Referências
negativas à astrologia nas Confissões e na Cidade de Deus, por-
quanto a submissão de todos os actos da vida humana às
revoluções dos astros, tem por consequência a negação do
livre arbítrio humano: “O bom cristão deve guardar-se dos
matemáticos e de todos os que se entregam às adivinhações
ímpias, sobretudo quando as suas predições são verdadei-
ras, de modo que essas pessoas, de acordo com os demónios
não enganem o seu espírito e não enlacem a sua pessoa nas
redes de um pacto de sociedade diabólica”. A sua obra, quer
a autêntica, quer a apócrifa teve enorme difusão nas biblio-
tecas medievais portuguesas. É um dos Doutores da Igreja,
padroeiro dos teólogos e dos impressores. A iconografia
figura-o ora revestido das vestes próprias da sua dignidade
episcopal, com um livro (atributo dos doutores), ora osten-

60
tando um coração inflamado na mão direita, alusão ao amor
ao próximo que o abrasou (cf. Confissões, IX, 2, 3). Na *capela
de Jesus Cristo Crucificado (altar 10) da *Basílica de Mafra
observa-se uma escultura de vulto (mármore; h=2,45 m) de
Santo Agostinho de autor italiano, não identificado.

Obra na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra


Confessionum libri tredecim (Antuérpia, João Gymnicus,
1546 [2-82-1-4]); Las Confessiones de S. Augustin (Colónia,
Herdeiros de Arnaldo Birckman, 1556 [2-82-1-5]);
Operum, Tomus decimus (Veneza, Juntas, 1584 [2-82-5-
13]); Principia rhetorices (Paris, Adriano Périer, 1599 [2-
20-8-9]); De Grammatica Liber (Hanau, Cláudio Marnius
e herdeiros de João Aubriug., 1605 [2-19-5-15]); De
Rhetorica Ecclesiastica, Liber, qui est IV de Doctrina
Christiana (Veneza, Nella Salicata, 1643, 7 vols. [2-20-7-
7/13]); Principia Rhetorices (Veneza, Nella Salicata, 1643,
7 vols. [2-20-7-7/13]); Confessionum (Lião, Simão Rigaud,
1647 [2-82-1-3]); De Doctrina Christiana libri quatuor
(Paris, Frederico Léonard, 1661-1664, 5 vols. [2-82-6-
7/11]); La Ciudad de Dios (Antuérpia, Jerónimo
Verdussen, 1676 [1-51-11-7]); Meditationes, Soliloquia et
Manuale (Colónia, Cornélio d’Egmond e sócios, 1702 [2-
82-1-2]); Operum, tomus primus (Veneza, Giovanni
Battista Albrizzi, 1729-1735, 8 vols. [1-51-2-16/23]); Las
Confessiones (Antuérpia, João Baptista Verdussen, 1747
[2-82-1-6]); Meditaciones, soliloquios, y manual [...], tradu-
cidas por el Padre Pedro de Ribadeneyra [...] (Lião, Jaime
Certa, 1747 [2-82-1-25])

Bibliografia: CALADO, Adelino de Almeida, Uma versão quatrocen-


tista de sermões pseudo-augustinianos, in Arquivo de Bibliografia

61
Portuguesa, a. 2 (1956), p. 81-97; COURCELLE, P. e J., Iconographie de
Saint Augustin: les Cycles du XIV siècle, in Études Augustiniennes
(1965); idem, Iconographie de Saint Augustin: les Cycles du XV siècle, in
Études Augustiniennes (1969); FERNANDES, Álvaro Ferrand de
Almeida, Catálogo das obras de Santo Agostinho existentes na Biblioteca
do Palácio Nacional de Mafra, in Revista Portuguesa de Filosofia, t. 11,, v.
1, n. 2 (Abr.-Jun. 1955), p. 193-196 [catálogo concluído em Março de
1954]; MARTINS, Mário, Os Solilóquios e Meditações do Pseudo-
Agostinho, em medievo-português, in Brotéria, v. 55 (1952), p. 168-177 e
in Estudos de Literatura Medieval, Braga, 1956. p. 191-200; idem, Santo
Agostinho nas Bibliotecas Portuguesas da Idade Média, in Rev. Portuguesa
de Filosofia, t. 11, v. 1, n. 2 (Abr.-Jun. 1955), p. 166-176; MARTINS,
Noémia Mendes, Santo Agostinho – As Confissões: exposição bibliográ-
fica e iconográfica, Lisboa, 2000; PEREIRA, Isaías da Rosa, No XVI
Centenário do Baptismo de Santo Agostinho: as obras de Santo Agostinho
nas bibliotecas medievais portuguesas, in Anais da Academia Portuguesa de
História, s. 2, v. 34 (1993), p. 109-115

AGOSTINHO CORSINI (1688-1772)


Bolonhês, autor das estátuas de *Santo Inácio de Loiola
(1733) e de *São João de Deus, colocadas na *galilé ou *átrio
da *Basílica de Mafra.

AGOSTINHO MASUCCI (1692-1758)


Discípulo de Carlo Maratta e académico da *Academia de
São Lucas (Roma). Pintou uma *Sagrada Família (1729) para
a *Basílica de Mafra e uma *Coroação de Nossa Senhora pela
Santíssima Trindade (1732) para a *capela do Santíssimo
Sacramento (também denominada da *Assunção de Nossa
Senhora), considerada por Paolo Quieto (p. 100) inspirada
no esquema compositivo de A Glória de São Carlos e Santo
Ambrósio (igreja de S. Carlo al Corso) de Maratta. Numa
carta, remetida para Roma, em 10 de Janeiro de 1731, *José
Correia de Abreu confessava que “Sua Majestade se não
satisfaz cada vez mais, de ver o painel da Sagra [sic] Família

62
que fez o Agostinho Massucci, e assim me ordenou dissesse
a Vossa Reverendíssima que lhe desse mil louvores e que o
não manda regalar logo (como faz tenção) por esperar ver o
quadro da Santíssima Trindade coroando Nossa Senhora que
ele está fazendo da mesma grandeza; que permita Deus
tenha igual aplauso […].” (Ayres de Carvalho, Dom João V e a
Arte do seu tempo, v. 2, Lisboa, 1962, p. 413). *Anunciação.
Bibliografia: QUIETO, Pier Paolo, Agostino Masucci (1692-1758), in
Joanni V Magnifico, Lisboa, 1994, p. 349-353

AGOSTINHO DA NATIVIDADE, Frei


Substituto de Metafísica (1743), Lógica (1744) e Leitor de
Física (1746). Presidiu à Certamina Theologica De Visione
Beatifica […] (Lisboa, 1752), defendida por *frei João de São
Boaventura.

AGOSTINHO PEREIRA
Presbítero secular e ministro da igreja de São Nicolau, de
Lisboa. Autor da Oração funeral, historica, e panegyrica, que para
as reaes exequias, e solemnissimas honras celebradas pela
Congregaçaõ da Senhora da Caridade, na Prioral Igreja de S.
Nicoláo desta Corte em o dia 29 de Agosto de 1750, dedicada a
*Dom João V “e por certo motivo, que houve, a não recitou”
(Lisboa, Francisco da Silva, 1750 [BN: R 8839 P]). Acerca do
Monumento de Mafra escreve (p. 10): “Aquele Rei que, como
outro Jacob, não só para completa satisfação de um voto, que
fizera a Maria Santíssima, e ao Taumaturgo Português Santo
António, lhes edificou na Real Vila de Mafra um Templo com
tal arquitectura, e primor, que sem hipérbole se lhe pode cha-
mar o mais célebre do mundo todo”.

ÁGUA BENTA
A igreja sacraliza a água pela benção litúrgica, por cuja inter-
venção é obtida a água benta, a qual encarna uma virtude

63
transmitida. A água benta purifica e clarifica todas as coisas,
afugenta os demónios, protege das doenças, garantindo a
salubridade e a paz de Deus. Usa-se nos exorcismos (para
afugentar os espíritos malignos), no *baptismo, etc. Na missa
simboliza o suor que se misturou ao sangue de Cristo no
horto, bem como àquele que saíu do seu flanco ferido pela
lança do centurião Longinus. O sal, alimento primeiro e
remédio fundamental, vem completar o simbolismo da água
benta e contrariar as influências maléficas que poderiam
impedir esta de expressar todas as suas virtualidades. Da
água benta misturada com sal a Igreja espera a “saúde da
alma” e também a do corpo, na medida em que a acção cor-
ruptora do pecado é contrariada por este profilático. No
exorcismo do sal, que abre a benção da água, a liturgia
recorda um episódio pouco conhecido da vida da Igreja (2
Reis, II, 19-22). A primeira menção à água benta lê-se nas
Actas de Pedro, escrito gnóstico composto por volta do ano
200: como Simão Mago habitara em casa do Senador
Marcellus antes de haver sido convertido por S. Pedro,
Marcellus tomou água e invocando o Santo Nome de Jesus
Cristo aspergiu toda a sua casa dizendo uma oração. Na
Igreja oriental são conhecidas fórmulas de benção da água
remontando ao séc. III, destinadas a aliviar os doentes e pro-
teger do demónio. No Ocidente a água benta somente no iní-
cio do séc. VI aparece, indubitavelmente. O Liber Pontificalis,
redigido nessa época, menciona a benção da água misturada
com sal para aspergir as casas. Segundo o compilador dessa
obra a iniciativa da introdução da prática ter-se-ia ficado a
dever ao Papa Alexandre I (107-116?), apesar de não constar
que tivesse sido conhecida quer por *Santo Agostinho quer
por Cesário de Arles. As fórmulas actualmente prescritas
para a benção da água datam do séc. VII, inspirando-se num
ritual romano-galicano e constando do Sacramentário gela-
siano. *Pia de água benta.

64
ÁGUA FÉRREA, Chafariz da
Chafariz n. 26 da *Segunda Tapada ou *Tapada do Meio: as
suas águas servem para o gado se dessentar, numa pia que
está junto ao tanque.

ÁGUA FÉRREA E PURGATIVA, Fonte da


Fonte n. 25 da *Segunda Tapada ou *Tapada do Meio. Fica
perto e ao poente do chafariz denominado da *Água Férrea
(n. 26), a pequena distância do *Barracão e a 50 metros do
muro que divide a Primeira da Segunda Tapada. As suas
águas correm em duas bicas, numa casa abobadada e em
plano inferior ao terreno natural, para a qual se desce por
uma escada de 8 degraus. A análise realizada pelo cirurgião
F. d’ A. Baleizão, em 1845, concluiu que tinha à data “muito
gás carbónico livre e combinado com bases de cal e outras,
etc.”, porém nada adiantava quanto às virtudes terapêuticas
(contra complicações gastro-intestinais), apontadas por

65
alguns (Analyse chimica da agua chamada ferrea da Real Tapada
de Mafra, in Gazeta Médica do Porto, t. 2, 1844, p. 156). Em
1921, a água purgativa foi considerada única no género, “por
não haver no país nenhuma que se lhe assemelhe em com-
posição química”. A análise realizada na Escola Industrial
Marquês de Pombal, no ano de 1898, revelou a existência
nela de sais de magnésia, potássio, sódio, cálcio e ferro (O
Liberal, 13 Fev. 1921). A sua água acha-se hoje misturada com
outras no mesmo aqueduto.

ÁGUA NO CONVENTO
Por ter descoberto e conduzido para a *Real Obra, “com o
maior zelo e cuidado”, diversos mananciais de água, foi
*Don Adriano Gavila promovido no posto de capitão enge-
nheiro por *Dom João V. *Valério Martins de Oliveira
(Advertências aos modernos, que que aprendem os Ofícios de
Pedreiro e Carpinteiro, Lisboa, 1748, p. 153-157) escreve:
“Neste sumptuoso Convento há várias, e magníficas fontes
de preclaríssimas águas nascediças, de várias, e muitas qua-
lidades, todas doces, mas com diferentes nascimentos, umas
mais temperadas no calor, que outras; porque na fundação
do Convento à superfície da terra nascia água em abundân-
cia; de sorte, que para poderem fundar a grandeza deste edi-
fício sangraram a terra com admiráveis canos por baixo da
superfície em vários lados de todo deste edifício, para for-
marem este majestoso, e nunca visto Convento; porque toda
esta singular maravilha tem um zimbório, que fecha o cru-
zeiro da igreja violentável na sua perspectiva, revestido de
muitas, e variadas cores de pedras, que lhe faz uma gala,
como a Primavera no Verão, com ricas, e admiráveis serven-
tias no grosso de suas paredes, que dá luz ao cruzeiro, como
o Sol ao meio dia. Todo o mais Convento é gravemente
fechado de muitas, e singulares abóbadas de várias direc-
ções, e circunstâncias nunca imaginadas, porque toda a gran-

66
deza deste Convento não se pode explicar. Não há em parte
nenhuma madeiras, tudo abóbadas magníficas, e reverentes;
só as portas, que fecham esta Clausura, é madeira, tudo o
mais é majestoso. Suposto as suas águas, como todas geral-
mente saem do mar, por virtude da comunicação da terra se
faz doce, segundo a parte da terra, porque passa, e tem dife-
rente qualidade; porque a água, que todo o ano nasce em
fonte, que ferve ao pé deste Convento, boa, muito salutífera
a sua qualidade; a sua origem do nascimento é meia, e
quarta, e oitava manilha de água mui bastante, que enche
dois tanques, um ao longo do outro vistosos; e a razão desta
água ser deste modo, segundo a experiência, é, porque a sua
passagem, e veias, por onde corre para os canos, não deixa
de ter coisa de enxofre: há um maravilhoso lago de água nas-
cediça dentro da cerca gravemente grande, murado com os
seus assentos em redondo, para recreação do Convento, com
suas majestosas Arcas de água com chaves de bronze, donde
desfecham quando querem, que correm sem violência
alguma para o necessário deste edifício. Nascia outra quali-
dade de água atrás do Convento quando se fundava, a quem
chamavam a Fonte das Almas: era frigidíssima de Verão, e
de Inverno. Esta água nasce sempre fria, por razão de seus
canos passarem pela segunda região, e princípio da terceira,
a qual por ser sumamente fria, […], faz que a água por ela
venha tão fria que, metendo a mão nela e por sua muita
friura, se não pode sofrer. Esta qualidade de água é prejudi-
cial a beber-se. Esta fonte logo se perdeu com a feitura do
Convento, e beber-se em todo o tempo, porque decepa entra-
nhas, causa ar, recolhimento de membros, como a experiên-
cia o mostra”.

ÁGUA NO JARDIM DO CERCO


No Real Edificio Mafrense visto por fora e por dentro (fl. 195-
197 e 205-210), *frei João de Santa Ana descreve minuciosa-

67
mente a localização das canalizações, bem como a origem e
o destino das águas que circulam na antiga *Cerca conven-
tual.

Ruas por onde passam os canos


No fundo do pátio que está junto à portaria do Norte,
está um portão designado na planta pelo n. 181 e é aqui
a principal entrada para a Cerca e o princípio de uma
rua muito comprida designada na planta pelo n. 184, a
qual vai em linha recta de Poente a Nascente e no fim
tem um portão por onde se entra para a Tapada, cujo
portão fica defronte do da entrada principal para a Cerca
[…]. Ao lado esquerdo dela e junto ao portão da entrada
indicado pelo n. 181 começa outra rua que vai de Sul
para Norte e encostada ao muro que olha para o Poente
até chegar à parede das Reais Barracas, onde volta para o
Nascente e indo encostada ao muro do Norte, passa
junto à mãe de água onde vem ter o cano da Tapada
[proveniente do Sonível], como já se disse. O princípio
desta rua está designado na planta pelo n. 183 e ainda
que ela circula toda a Cerca, contudo os outros lados
nenhuma relação têm com os canos da água. Entre a rua
n. 184 e a rua n. 183, no lado do Norte, há outra, que
principiando no meio da rua n. 183, no lado Poente,
caminha em linha recta para o Nascente e está bem no
meio das duas colaterais. Entre esta rua média e a rua n.
184 está uma grande nora um pouco mais ao Nascente
do sitio indicado na planta pelo n. 185 que designa a
parte do bosque. Ao Norte da dita nora está o grande
tanque no meio da rua intermédia e à roda dele há um
largo cercado de assentos e de bosque, ao qual vem ter
outra rua que atravessa da rua n. 184 e passando pela
nora e pelo largo do tanque, vai acabar junto às Barracas

68
Reais, isto é, na parte da rua n. 183 que fica voltada para
o Norte. Do largo do tanque continua a mesma rua inter-
média em linha recta e vai acabar no fundo da Cerca ao
lado do Nascente e entre ela e a rua n. 184 está um jar-
dim que tem o seu princípio junto à nora e vai acabar
onde as ditas ruas são cortadas por outra, que se estende
de Norte a Sul e passa ao Nascente do sitio indicado na
planta pela letra K. Próximo ao muro do Norte onde
começa a dita rua tem princípio outra que indo de
Noroeste para Sueste passa junto ao fundo do jogo da
bola dos leigos, cuja posição é entre esta rua e a rua 184 e
a que atravessa esta junto ao dito jardim, isto é, a que
vem de Norte para o Sul. Junto à rua do tanque grande e
a que passa encostada ao muro do Norte perto da casa
da água está uma casa subterrada, na qual se entra des-
cendo-se alguns degraus. Esta casa está cheia de água
que não tem serventia alguma e dizem ser o depósito da
água de que se serviam para a construção do edifício.
Junto a esta casa está um fosso que recebe a água que
vem da dita casa e a encaminha para uma regueira que a
espalha pela Cerca e algumas vezes por uma calha de
pau o encaminham para o chamado Jardim Botânico que
está ao Sul da rua 184. […].

Direcção dos canos até entrarem no Convento


Voltando outra vez à casa da água que está junta à rua
que passa encostada ao muro e divide a Cerca da Tapada
e que olha para o Norte achamos nela dois canos que daí
se encaminham para diversas partes: um que desce
encostado à mesma rua na direcção do Poente; e outro
que por entre o bosque se dirige para o Sudoeste. É este
último o que leva a água ao Convento e cuja direcção
vou já explicar. Em pouca distância da casa da água
onde o cano principia a encaminhar-se para o interior da

69
Cerca está o depósito da água na casa subterrada de que
há pouco se fez menção, a qual fica junto à rua direita
que vai do tanque grande para o Nascente. Junto e ao
lado do Poente desta casa subterrada passa o cano [pro-
veniente da Tapada], atravessa a rua direita do tanque e
no lado dela da parte do Sul tem uma pia, sobre a qual
está um marco de pedra tosca, aí colocado por diligência
minha. Desta pia para diante começa ele a encaminhar-
se verdadeiramente para o Sudoeste e atravessando um
pequeno espaço do bosque que há entre a rua do tanque
e a que vai de Noroeste a Sueste, isto é, a que passa
encostada ao fundo do jogo da bola dos leigos atravessa
também esta rua, desce ao dito jogo, vem pelo meio dele
desde o fim até ao princípio e aí, no meio de umas árvo-
res que estão entre o jogo, a rua do portão indicado pelo
n. 184 e a que passa de Norte a Sul, se acha à superfície
da terra uma pia quadrada coberta com uma pedra onde
vem ter o cano, o qual atravessando logo a rua que se
dirige de Norte a Sul, vem entrar na rua do portão indi-
cada pelo n. 184 no sítio designado na Planta pela letra
K, isto é, junto ao princípio do jogo da bola dos leigos.
Daqui para diante desce o cano em linha recta pela rua
abaixo, não pelo meio dela, mas algum tanto mais para o
lado do Norte, até que chega ao portão indicado pelo n.
181 que é o que dá entrada principal para a Cerca. Na
parede do portão e junto à ombreira dele do lado do
Norte se acha perto do chão uma pedra quadrada em
que está insculpida a letra C, sinal de que por baixo
passa o cano e na mesma pedra se vê também a inscrição
seguinte: Água limpa, que vem da Tapada. Aqui o cano
atravessa o muro e vem ter à pia designada na Planta
pela letra L, a qual está no pátio e junta ao portão. Deste
lugar volta o cano para o Sul e passando por diante do
portão e próximo do muro da Cerca e em pouca distân-

70
cia do portão, se acha um marco de pedra (aí colocado
por diligência minha) no qual se acha a seguinte inscri-
ção: Água limpa da Tapada. Daqui continua em linha recta
na mesma direcção do Sul e sempre na mesma distância
do muro e passando por diante do portão indicado pelo
n. 182, chega à parede do edifício e atravessando-a por
baixo da janela conventual do dormitório grande que
está ao Nascente da Quadra, entra no ladrilho do Norte
do mesmo dormitório e vai ter a uma pia, que está no
mesmo ladrilho e se acha designada na planta pela letra
M. Aqui, tomando a direcção do Poente passa por baixo
de outro cano (que entrando também a par dele por
baixo da janela conventual e acompanhando-o até aqui,
segue a direcção do Sul e conduz água para os repuxos
do jardim da Quadra) […].

Direcção e distribuição da água pela Cerca –


Pomar do limão
Voltando outra vez à mãe de água que está na Cerca
encostada à rua que passa encostada ao muro que olha
para o Norte, vemos que dela se encaminha outro cano
para o Poente, o qual desce pelo bosque, sempre encos-
tado à rua e algum tanto elevado da superfície da terra,
ora mais, ora menos, e chegando ao sítio onde tem prin-
cípio a rua que vai de Norte a Sul, que depois passa
encostada ao jardim, por entre este e o jogo da bola dos
leigos, aí mesmo no ângulo do bosque onde começa a
dita rua e do lado Nascente está uma pia coberta com
uma laje, na qual se divide a água para três partes, que
vêm a ser, para o Norte, para o Poente e para o Sudoeste.
O cano que se dirige para o Norte atravessa a rua do
Norte que passa encostada ao muro e se vai encostar à
parede das Barracas Reais, que aí principia e serve de
muro à Cerca. Vindo sempre encostado à dita parede e

71
em direcção do Poente quando chega ao canto da Cerca
junto à Barraca, atravessa o muro e entra em um pomar
de limão que fica por detrás das casas que estão ao Norte
do pátio, designadas na planta pelos n. 180 e está contí-
guo ao muro da Cerca e à frente da Barraca que olha
para o Sudoeste. Junto a esta frente está um tanque em
que o dito cano lança água, com o qual se rega o men-
cionado pomar.

Água que vai para o Jardim da Cerca


O cano que da sobredita pia se dirige para o Sudoeste
entra logo na rua próxima que começa junto à pia e con-
tinuando a ir por ela até ao sítio onde ela se encontra
com a rua que vem do tanque grande atravessa esta, e
declinando algum tanto mais para o Sudoeste, entra no
Jardim por debaixo do canto do muro que o cerca e que
está próximo à mesma rua do tanque e leva água ao
repuxo do tanque mais próximo à rua que passa ao
Nascente do mesmo Jardim. A água que sobeja deste tan-
que do tabuleiro mais elevado vai correr na cascata que
está ao lado Norte na parede que divide o tabuleiro infe-
rior do superior e onde estão as escadas para subir ou
descer de um para o outro. A água desta cascata
sumindo-se no buraco que está no fundo da bacia que a
recebe vai correr pelo repuxo do tanque que está no
meio do tabuleiro inferior do mesmo Jardim e igual-
mente aí vai correr a que se some na bacia da cascata do
Sul. Porém, a água que corre nesta cascata vem da nora,
como depois se dirá.

Água que vai para o Jardim pequeno e


para o tanque grande
O cano que da sobredita pia se dirige para Oeste ou
Ocidente continua em linha recta na mesma direcção e,

72
atravessando a rua que começa junto à pia, vem encos-
tado à do Norte até chegar a uma pia da qual se aparta
para o Sul um cano por onde vai uma pequena porção
de água para um pequeno jardim que está junto à rua do
tanque grande. Este jardim é vulgarmente chamado o
Jardim do padre Mestre Santa Ana, porque o mesmo
padre tratou dele em outro tempo. O cano principal con-
tinua para diante na mesma direcção e, chegando ao
ângulo da rua que vem da nora e do tanque grande,
volta para o Sul e vindo sobre um muro até chegar ao
largo do mesmo tanque aí acaba o muro tendo no cume
e fim dele uma pia com um ralo no fundo, por onde a
água desce e atravessando o largo por debaixo da terra
se eleva quando chega à grande bacia do tanque e vai
correr dentro dele pela boca de um leão de pedra que
está na borda do tanque.

Água que vai da nora para o jardim próximo


A Sul do tanque grande, entre o jardim, o pomar das
limas e a rua indicada na planta pelo n. 184, está um[a]
grande nora coberta com tecto de cantaria firmado sobre
grandes pegões de pedra e junto a ela um magnífico poço
feito todo de cantaria e igualmente o parapeito de que é
circundado o bocal dele. Próximo e ao Nascente da nora
está o dito jardim composto de dois grandes tabuleiros,
dos quais o mais chegado à nora fica inferior ao mais
remoto. Todo o jardim é cercado de muro com quatro
portais, por onde se entra nele: um no meio do topo do
Nascente, no fundo do tabuleiro superior; um no meio
do tabuleiro inferior no lado do Norte; outro fronteiro a
este no lado do Sul; e outro no meio do fundo do tabu-
leiro inferior no lado do Poente, o qual fica próximo ao
poço da nora. Tirando-se, pois, a água do dito poço, os
alcatruzes a lançam em uma pia que está sobre um dos

73
pegões da nora e daí, por cano de pau, é conduzida para
o cume do muro do jardim próximo, por cima do qual
vai um cano que vindo até ao canto do jardim junto à rua
184 aí volta para o Nascente e indo sempre sobre o muro
vai lançar a água em um tanque que no tabuleiro supe-
rior está encostado ao mesmo muro que passa junto à rua
n. 184. Este tanque tem no fundo uma grande torneira de
bronze por onde a água dele corre em uma pia e desta
por cano subtérreo vai correr em outra pia que está
encostada à parede por detrás da cascata do Sul. Esta pia
tem também outra torneira de bronze, aberta a qual e a
do tanque, corre água na dita cascata e a que se some na
bacia dela vai ter ao repuxo do tanque que está no meio
do tabuleiro inferior. Toda a água que corre neste tanque
depois dele estar cheio aí mesmo se some e por cano sub-
térreo vem em linha recta por meio da rua do Poente,
passa por baixo do portal do jardim, encostado ao poço
da nora e por baixo do portal do pomar das limas que
está próximo e ao Poente da nora, e vem correr no tan-
que que está no meio do mesmo pomar.

Água que vai da nora para o grande tanque


que lhe fica ao Norte
Está o engenho da nora firmado sobre seis grandes
pegões de pedra e a cada lado do poço está outro
grande pegão de cantaria sobre que está formado um
grande arco de pedra que passa sobre o poço e nele des-
cansa a roda dos alcatruzes. Destes dois pegões, o que
está ao lado do Nascente e mais próximo ao jardim tem
no cume uma pia com um ralo no fundo, na qual os
alcatruzes lançam a água e esta sumindo-se desce pelo
interior do pegão e por um cano subtérreo se encami-
nha para o tanque e atravessando o largo da nora e o
do tanque vai por debaixo deste até ao meio e aí ele-

74
vando-se a água pelo interior do pilar de pedra que está
no meio do tanque a lança nele saindo pelo buraco que
está no cume do mesmo pilar. Quando este tanque está
cheio, toda a água que para ele corre some-se por um
ralo que está na borda do mesmo tanque e por cano
subtérreo se encaminha para o Sul. Passa por baixo dos
degraus que há entre o tanque e o poço, corre junto à
nora e atravesando a rua n. 184 e o muro do Sul entra
no chamado Jardim Botânico, passa subterrado pelo
meio dele e, por fim, por um grande buraco vem sair
no largo que fica ao Nascente do edifício e correndo
depois por uma regueira vai entrar no cano real perto
do ângulo que está ao Nordeste na frente do edifício.
Além disto há mais alguns poços de que não faço men-
ção porque dão água para os pomares ou quintas em
que se acham.

Direcção da água que vem do grande tanque da Cerca para os


repuxos dos cinco tanques que estão
no jardim no meio da Quadra do Convento
O grande tanque da Cerca que está ao Norte e perto da
nora é o depósito da água que vem para os repuxos do
grande jardim que está no meio da Quadra do Convento
[*Claustro do buxo]. para que ela pois venha correr nos
ditos repuxos há dois registos e cada um deles tem uma
grande torneira [de] bronze. O primeiro está no pomar
das limas dentro de uma pequena casa que aí há no
canto próximo ao dito tanque. O outro há no primeiro
quarto do dormitório do Norte, o qual tem janela para o
jardim no canto do Nordeste e se acha indicado na
planta pelo n. 176. Por tanto para que a água venha aos
repuxos do jardim é preciso abrir primeiro ambos os
ditos registos ou torneiras, sem o que não pode vir água
alguma a eles. Tem o dito tanque no fundo para o lado

75
do Sudoeste um grande ralo de bronze por onde a água
sai e, conduzida por cano subtérreo, atravessa o largo do
tanque e vai ter à casinha do registo que está no pomar
das limas ao canto mais perto do tanque. Daí continua a
descer em linha recta na direcção do Oeste, atravessa
todo o comprimento do pomar e a rua contígua desig-
nada na planta pelo n. 183 e na mesma direcção passa
para o pomar que está próximo e ao Ocidente da mesma
rua e vai ter ao lugar designado na planta pela letra O
[…]. Entra, pois, o cano no pomar e depois de chegar a
ele na mesma direcção que trazia e ao lugar que fica no
pomar em linha recta e ao Norte do que na planta se
acha indicado pela letra O, aí volta para o Sul, vem pas-
sar pelo lugar indicado pela dita letra e por defronte do
portão indicado pelo n. 181 e continuando daí para
diante em linha recta para o Sul e ao lado do Poente do
outro cano que passa mais próximo ao muro da Cerca e
leva água às Oficinas do Convento, vai entrar junta-
mente com ele por baixo da janela conventual no ladri-
lho do dormitório grande que está ao Nascente da
Quadra […].

ÁGUA NA TAPADA
Sob esta designação compreendem-se as bicas, chafarizes, fon-
tes, minas, nascentes e poços, apenas elencadas no presente
verbete, de acordo com o Relatório acerca das nascentes, acque-
ductos, poços, chafarizes, etc., pertencentes ao almoxarifado das
Reaes Propriedades de Mafra (Livro de registo da correspondência
expedida, fl. 82r-85v), remetido à Fazenda da Casa Real, em 30
de Novembro de 1885, por *José António Jorge da Costa,
almoxarife das Reais Propriedades de Mafra. A localização e
caracterização dos aquíferos achar-se-á neste dicionário pela
ordem alfabética da denominação particular de cada um.

76
Primeira Tapada
*Chafariz dos coelhos; *Fonte da Horta; Fonte das Aulas
(também denominada *Fonte das Almas); *Fonte da
Gondrinha; *Fonte da Murgeira; *Mina da Horta Nova;
*Mina da Cerca; *Minas do Almarjão; *Mina da
Vermelha; *Mina da Murteira; *Nascente das Terras da
Vela; *Nascente da Terra da Casa; *Nascente da Vinha da
Velha; *Nascentes da Valada ou do Juncal; *Poço da Nora
da Cerca; *Poço Pequeno do Jardim; *Poço do Portão da
Tapada; *Poço da Nora das Abegoarias; *Poço da Adega;
*Poço da Vela; *Poço da Vermelha; *Poço do Telheiro da
Cal; *Tanque Grande; *Tanque da Murteira.

Segunda Tapada ou Tapada do Meio


*Bica do Guardião; *Chafariz da água férrea; *Chafariz
da Murgeira ou do Muro Seco; *Chafariz da Mijaseca;
*Chafariz do Abade; *Chafariz da Macieira; *Chafariz do
Celebredo; *Fonte da Água Férrea e Purgativa; *Fonte do
Abade; *Minas do Sonível.

Terceira Tapada ou Tapada de Dentro


*Biquinha, *Chafariz das Taipas; *Chafariz dos Álamos;
*Chafariz da Chanquinha; *Chafariz do Telhadouro;
*Fonte de João Martins; *Fonte da Tojeira; *Fonte da
Fórnea; *Fonte das Grades; *Nascente dos Currais da
Chanquinha; *Nascente da Mijadavelha; *Nascente do
Alto dos Barros; *Nascente do Alto dos Palheiros;
*Nascente do Charco; *Nascente do Vale da Barrela;
*Poço do Vale da Guarda.

AGUARELA
Do acervo do Palácio Nacional de Mafra constam as seguin-
tes aguarelas (expostas): Dama, anónima (finais de oitocen-

77
tos); Dona Maria II por *Beaulieu (Lisboa, 1841); Dom Carlos I
por *Roque Gameiro (1902), com moldura em casquinha
dourada; uma embarcação, um barco de guerra (1888) [inv. n.
1595] e um iate (1887) [inv. n. 1596) por *Dom Carlos; um
barco por *Dom Fernando II; Sé do Funchal por *Hans
Nowvack (1892); Hortênsias por *H. de Calmels (oitocentos).
Retocadas com gouache: militar (oitocentos); corneteiro; soldado
tocando tambor; dama por *Dupennuant (oitocentos); Dona
Amélia de Orléans (?) por *E. Casanova (1885); espanhola com
leque vermelho por E. Casanova (oitocentos).

ÁGUAS DESTILADAS
Um Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra, do séc. XVIII,
arrola as águas destiladas existentes na *Botica conventual:
“De hortelã quatro libras. Safírica quatro libras. De hortelã
pimenta duas libras. De canela três libras. De poejos duas
libras. De meliça quatro libras. De flor de laranja quatro
libras. De flor de rosa duas libras. De cerejas pretas quatro
libras” (in O Carrilhão, 15 Mar. 1984).

AIRES DE SÁ
Historiador e genealogista. Aires Augusto Braga de Sá
Nogueira e Vasconcelos foi nomeado bibliotecário do Palácio
Nacional de Mafra por Portaria da Administração da
Fazenda da Casa Real, de 6 de Novembro de 1900, suce-
dendo ao Almoxarife do Palácio que ocupara o cargo desde
1882. O seu desempenho seria louvado por O Correio de
Mafra (artigo intitulado Real Bibliotheca de Mafra, 7 Jul. 1901),
anotando que a biblioteca tem “recebido dia a dia grande
quantidade de obras dignas de menção”. Aires de Sá demi-
tir-se-ia do cargo de bibliotecário no próprio dia da implan-
tação da República (5 de Outubro de 1910), permanecendo a
biblioteca a cargo do Administrador do Palácio, todavia, na
prática, a tarefa seria desempenhada pelos fiéis do edifício,

78
situação que se manteria até 1937. Anotou uma série de epi-
sódios ocorridos durante uma visita de *Dom Carlos à
biblioteca do Paço, em 1902: “O rei, no convívio entre ami-
gos, era muito jovial. Uma vez, estava ele sentado no meu
gabinete da biblioteca do paço de Mafra, a uma mesa, em
frente de uma janela; conversámos de livros; ele estava
folheando um Elzevir. Nisto, uma nuvem de pombos cor-
reios, da Escola Prática de Infantaria, levanta voo do jardim
e, o rei, interrompendo a leitura e a conversa, exclama: –
Olha! tanto pombo. E ficou a segui-los com a vista. Erudito:
uma vez, também no meu gabinete, para onde, às vezes, ia,
depois do almoço, com o ajudante de campo e o oficial às
ordens, e quando coincidia a ida do rei a Mafra com a estada
dele lá, ou quando o acompanhava de Lisboa, com o meu
velho amigo Tomás de Mello Breyner, mostrei-lhe, em con-
sulta, um livro do século XVI, onde se via um brazão, que
fora posto no frontispício, com tinta já apagada e destruídora
do papel. Era a primeira vez que eu o abria, e sem detido
exame: – Quer el rei ver isto? O que será o que se veria ao
alto deste escudo? Já não se percebe, ou mal se percebe. O
rei, lembro-me muito bem, vestido do seu pequeno uniforme
de generalíssimo, com que costumava quase sempre andar,
pegou no livrinho, esteve a examinar o ponto para que eu
chamara a sua atenção e, passado algum tempo: – Isto são
armas de qualquer infante ou infanta. O que mal se vê aqui,
em cima, é o banco de pinchar, com as armas maternas, por
diferença. Outras vezes, em dúvidas, que eu tinha, ele ficava
de mas resolver, logo que regressasse a Lisboa; e, daí a dias,
eu recebia um grande subscrito, timbrado a oiro, com cópias
de livros raros sobre bibliografia, explicativas da minha
dúvida. Ainda tenho essas cópias, que eram acompanhadas
de cartas de Arnoso. Um valet de pied, que estava, então, ao
serviço da biblioteca, era muito zeloso na limpeza dos már-
mores de Pero Pinheiro que a pavimentavam. Lembrou-se,

79
um dia, de encerar a meia laranja central da biblioteca, um
primor de combinação de mármores, rosa, azul e amarelo;
pediu-me licença para o fazer, dei-lha. Se o leitor quiser ver o
efeito desse enceramento, abra o volume da Enciclopédia
Espasa, na palavra Mafra, e lá verá a fotogravura, represen-
tando a biblioteca, onde brilha, pelo enceramento, a meia
laranja central. A primeira vez que, depois deste encera-
mento que deixava livres as passagens laterais, o rei foi a
Mafra, não deixou de ir, conforme o seu costume, à biblio-
teca. Ficou encantado. A meia laranja está sob a luz de seis
grandes janelas que iluminam, a meio, a biblioteca. Nada
mais escorregadio que o mármore assim polido e encerado a
valer, para dar o brilho rutilante que se obteve. Achou mag-
nífica a ideia e, enquanto fazia os comentários que o caso lhe
sugeriu, começou a efectuar a travessia, muito sossegada e
imponentemente, com o charuto na boca e as mãos nas algi-
beira do dolman. Hermenegildo Capelo, que conversava
comigo, vendo o rei em terreno tão perigoso, disse-lhe: – El
rei acautele-se!… El-rei acautele-se!… Mas, o rei não se
importou nada com o alarme do herói, e continuou, majes-
toso, o seu caminho. E eu disse ao almirante Capelo: –
Também el rei quer ter a glória de fazer uma travessia”
(Principe Real D. Luís Filipe, 1930, cap. II: D. Carlos e a sua
época). Da vasta bibliografia que publicou, aquela que mais
directamente interessa a Mafra é o artigo homónimo inserto
no v. 4 de A Arte e a Natureza em Portugal (1904) e Rainha
Dona Amélia (1928), obra na qual, além da manifestação da
sua própria visão dos acontecimentos que precederam o
*Embarque da família Real na Ericeira e culminaram na pro-
clamação da *República, logrou reunir os depoimentos deci-
sivos para a elucidação do tema. Na revista A Caça (a. 6, n. 1,
Ago. 1904, p. 2-4; n. 2, Set. 1904, p. 22-23 e a. 7, n. 1, Ago-Set.
1905, p. 7-9 e n. 2, p. 19-21) deixou transcritos excertos de
dois opúsculos da *Biblioteca Volante acerca de uma visita

80
de *Dom José I a Mafra, respectivamente: Relação em que se dá
conta da jornada que fizeram suas magestades e altezas e a maior
parte da nobreza da corte a ganhar o santo jubileu á Real Basilica
de Mafra, e copia do breve por onde elle foi concedido, para cujo
fim concorreu grande concurso de pessoas de todos os sexos d’ este
Reino. Dá-se noticia do numero das pessoas que se confessaram e
comungaram, e das que crismou o excellentissimo bispo de Macau
e da caçada real que suas magestades fizeram, e do numero de rezes
que mataram (Lisboa, 1752 [2-55-7-22]); Relação da plausivel jor-
nada que Suas Magestades Fidelissimas com toda a familia Real
fizeram ao seu magnifico Convento da Villa de Mafra pela festivi-
dade do grande patriarcha S. Francisco n’ este anno de 1750 […]
(s. l., s. d. [2-24-8-9]).

AJARDINAMENTO DOS CLAUSTROS


O ajardinamento dos claustros Norte e Sul do Monumento
de Mafra foi encetado no ano de 1951, tendo-se prolongado
pelo de 1952, sob a direcção do engenheiro *Segismundo da
Câmara Saldanha, então director da *Tapada Nacional de
Mafra (cf. O Concelho de Mafra, 22 Dez. 1951).

AJUDANTE DE CARRILHANOR
*José Joaquim Machado.

ALA DOS ORGANISTAS


Aposentos reservados aos músicos que tocavam os órgãos
da *Basílica. Ficavam anexos à *capela do Santíssimo
Sacramento, no mesmo pavimento dos instrumentos.

ALAMEDA
Também denominada *Alameda do Real Edifício (ofício da
Câmara Municipal de Mafra de 5.3.1883), *Alameda Dom
Manuel II (O Clamor de Mafra, 10 Nov. 1908) e *Alameda
Miguel Bombarda (hipoteca do terreno de António Cândido

81
Duarte, solicitada pelo mesmo em 16.3.1920). Principia junto
ao torreão, acompanhando toda a frente Sul do Real Edifício.
O nome derivou de um frondoso renque de árvores (não as
actuais!) que se estendia ao longo de toda a citada fachada
do monumento de *Dom João V. Aqui teve lugar (25 de
Janeiro de 1808) o fuzilamento de *Jacinto Correia, camponês
assaltado por uns quantos soldados franceses nas imedia-
ções dos Gorcinhos, o qual actuando em legítima defesa os
matou com uma foice roçadoira. Preso e conduzido a Mafra

foi sujeito a julgamento em conselho de guerra e condenado


à pena capital por ter afirmado em tribunal, perante o gene-
ral Loison, que se todos os portugueses fossem como ele não
ficaria um único francês vivo. Em 1940, face a ofício da
Direcção Geral da Fazenda Pública, a Autarquia considera-se
proprietária dos terrenos da Alameda e dos que se lhe
seguem (conhecidos pelo nome de Bico do Pato), no que é

82
contestada pelo Segundo Conservador do Palácio de Mafra,
Carlos Manuel da Silva Lopes. Chamados a pronunciarem-
-se, *Júlio Ivo encetaria investigações no arquivo da Câmara
(interrompidas por doença), corroborando o *doutor Carlos
Galrão a pretensão da edilidade. Na sua alegação, composta
por seis folhas manuscritas (26.4.1940), afirma o celebrado
clínico: “[…] Vim para Mafra na idade de 15 anos, em 1872,
frequentar o Colégio Militar, como aluno externo. O Colégio
nunca tomou posse da Alameda. Lá passeavam os alunos,
faziam exercícios militares, mas a limpeza das árvores e dos
arruamentos era feita pela Câmara. Retirei de Mafra com o
Colégio Militar em 1873 e voltei para esta vila em 1888, como
médico municipal. Dois anos antes tinha a Câmara
Municipal arborizado o Largo em frente do Convento.
Quando começaram os trabalhos de arborização veio opôr-
se a eles o Almoxarife do Palácio Nacional, Joaquim Manuel
de Carvalho, alegando ser o largo propriedade da Casa Real.
Levou a Câmara por diante o seu intento e completou a
arborização vindo a conseguir por intermédio do Governo
Civil, a indicação governamental de que os ‘largos adjacen-
tes são pertença da Câmara Municipal’. Em 1896 o capitão
de Infantaria Francisco Rodrigues da Silva […] estando em
Serviço na Escola Prática de Infantaria, solicitou da Câmara
a permissão de ajardinar a Alameda. Houve relutância em
satisfazer o pedido mas por fim a Câmara cedeu, por com-
preender que o ajardinamento da Alameda redundava em
benefício público. Impôs porém várias condições: posse tem-
porária, a não destruição do arvoredo, permissão de entrada
às pessoas da classe civil, etc. Esta concessão, puramente ver-
bal, foi legalizada em 1927 por um auto, assinado pelo
Comandante da Escola e pelo Presidente da Câmara,
impondo a Câmara as condições já estipuladas na concessão
verbal […]”. Este processo ficaria considerado concluído, a
4.6.1941, com a cedência pela Fazenda Pública, a título pre-

83
cário, à Câmara Municipal, do Jardim da Alameda “para
logradouro público”. Houve um coreto no jardim, cons-
truído pela *Escola Prática de Infantaria (EPI) e depois
demolido por se ter arruinado. Outrora corria numa gruta
que, embora entulhada, ainda hoje existe, um fio de água
férrea proveniente da Vela, à qual recorriam anémicos e clo-
róticos nos finais do século transacto. Já estava inutilizada
em 1921 (O Liberal, 13 Fev.) em consequência da construção
da cascata que ainda hoje é observável. *Fonte das Almas.
Mestre Soares Branco é o autor das estátuas que comemo-
ram o Primeiro centenário da EPI e o Soldado Infante aqui colo-
cadas. No dia 10 de Junho de 1993 foi descerrada, defronte
da Porta de Armas da EPI, uma lápide memorando a execu-
ção de Jacinto Correia.

ALAMEDA DO REAL EDIFÍCIO


Denominação da *Alameda em ofício da Câmara Municipal
de Mafra, de 5.3.1883.

ALAMEDA DOM MANUEL II


Denominação da *Alameda que ocorre em O Clamor de Mafra
(10 Nov. 1908).

ALAMEDA MIGUEL BOMBARDA


Denominação da *Alameda numa hipoteca do terreno de
António Cândido Duarte, solicitada pelo mesmo em
16.3.1920.

ÁLAMOS, Chafariz dos


Chafariz n. 37 da *Terceira Tapada ou *Tapada de Dentro.
Fica à esquerda do caminho que vai da *Cuba para a *porta
do Vale da Guarda. Possui as nascentes mais volumosas
que se conhecem na Tapada, apesar da sua água ser pouco
fina.

84
ALBERTO DA FONSECA REBELO, Padre
Sacerdote natural de Lisboa e graduado na Faculdade dos
Sagrados Cânones pela Universidade de Coimbra. Autor do
poema Catalysis ou assolação da cidade de Lisboa pelo terramoto
do primeiro de Novembro de 1755 com a preservação do Real
Convento junto à Villa de Mafra. Esta obra, da qual apenas é
conhecida a cópia manuscrita integrada na *Biblioteca Volante
do arrábido *frei Matias da Conceição [2-9-6-13 (17.º)] é com-
posta por cinco cantos divididos em estrofes de oitava rima e
versos decassílabos. Ao Monumento de Mafra apenas inte-
ressam os cantos IV e V.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J. (org.), Poética barroca do
Monumento de Mafra, Mafra, 2002; SOARES, Ernesto, O Terramoto
de 1755 em Mafra, in O Concelho de Mafra (4 Jun. 1933).

ALBERTO MONTEIRO
Engenheiro que apresentou, a 20 de Dezembro de 1897, ao
Ministério das Obras Públicas, um projecto destinado ao
máximo aproveitamento das *minas do Sonível, do qual
existiu cópia no arquivo da Administração da Fazenda da
Casa Real.

ALBERTO PIMENTEL (14.4.1849-19.7.1925)


Alberto Augusto de Almeida. Expoente de intensa actividade
literária, foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa, bem
como de outras instituições culturais de Portugal e do Brasil.
Em As amantes de Dom João V (1892) faz-se eco de uma razão
bem mais plausível, que a obtenção de descendência, para
legitimar o *voto de *Dom João V na origem da edificação do
convento de Santo António junto à vila de Mafra. Deriva ela
do consenso expresso por numerosos memorialistas da
época: o estado de saúde do rei, afectado pelo menos desde
1708 e seriamente agravado precisamente no ano de 1711. A
dar-se crédito ao botânico *Merveilleux (1726), o móbil do

85
voto fora “uma [essa] grande aflição” (Memoires Instrutifs,
Amesterdão, 1738), à qual Francisco Xavier da Silva chamará
“flatos hipocondríacos” (Elogio Fúnebre e Histórico), e hoje
podemos identificar com a sífilis. De resto, sabe-se pelas
Memórias do capitão John Creichton (editadas por Jonathan
Swift) que este teve um primo médico, expressamente
enviado a Lisboa para tratar o monarca português dessa
doença venérea. O facultativo de nacionalidade escocesa e
predilecto da rainha Ana, apesar de haver permanecido na
capital portuguesa durante seis semanas, nunca chegou a
ocupar-se da saúde do Magnânimo. Antes de partir foi rece-
bido por Dom João V que lhe deu “grandes provas de consi-
deração” e o brindou com uma jóia. (Alberto Pimentel, Ob.
cit., Porto, 1946, p. 57, nota 1). Passou um mês em Mafra
durante o “estio de 1899”, período certamente aproveitado
para coligir dados para a redacção da primeira parte do VII
capítulo de A Extremadura Portugueza (Lisboa, 1908, p. 91-99)
dedicado à vila e ao seu Real Edifício.

ALBERTO TELES
Uma ilustração publicada por Alberto Teles em O Occidente
(Os Paços Monásticos de Mafra, 1893) inspirar-se-ia num dese-
nho de *A. Rouargue publicado no Magasin Pittoresque (v. 29,
1861, p. 133) com a legenda Le Palais de Mafra prés de Cintra,
en Portugal (150 x 108 mm).

ALÇADO
Plano vertical de uma edificação. Segundo Fernandes
Pereira (Arquitectura e Escultura de Mafra: retórica da Perfeição,
Lisboa, 1994, p. 167-170), o programa dos alçados da obra
mafrense adequou-se à tradição nacional, promovendo a
reunião de certo pendor militar com a simbólica católica,
concluindo o mesmo professor: “globalmente, os alçados de
Mafra sintetizam duas ideias complementares: a omnipre-

86
sença dos muros concebidos como panos sobre os quais, em
pontos nodais, se aplicam prestigiados módulos retirados da
tratadística italiana [Pietro Cataneo, I Quattro Primi Libri di
Architettura, livro 3]”. Não dispomos dos desenhos de arqui-
tectura originais (plantas, alçados, detalhes de capitéis e
colunas, balaustres, etc., de cerca de 1730). Em 1868 (Ofício
do Director Geral das obras Públicas, de 16 de Abril), foi
incorporada no Museu dos Arqueólogos Portugueses “uma
colecção de esbocetos de ornatos e de outros objectos do edi-
fício de Mafra”. Porém, inúmeros outros desenhos arquitec-
tónicos permaneceram em Mafra, porquanto o 4.º conde de
Mafra, *Tomás de Mello Breyner garantiu tê-los visto nuns
gavetões de uma arrecadação do Palácio Real, instalada na
outrora *casa da Convalescença dos frades: “Até ornatos lá
estavam. Haviam uns serafins feitos a lápis que eram um
primor. Mostrei aquele achado a el Rei Dom Carlos, que pas-
sou umas duas horas vendo tudo com atenção e resolveu
que se expusesse numa das galerias. Poucas meses depois
veio o regicídio. Em Setembro de 1910 levei el Rei D. Manuel
à arrecadação para ver os desenhos e Sua Majestade lembrou
que fossem cedidos à Academia das Belas-Artes ou então à
Associação dos Arquitectos, que nesse tempo estava reunida
à dos Arqueólogos” (Memórias…, 1880-1833, Lisboa, 1934, p.
126-127). O local foi posteriormente adaptado a caserna e
dos desenhos ninguém mais soube dar notícia.

ALCATIFAS DE MAFRA
*Pedro Tavares de Brito, *Tapetes de Mafra e *Teotónio Pedro
Heitor.

ALEGRETE, Marquês de
Ao terceiro marquês de Alegrete, Manuel Teles da Silva
(1682-1739), coube a catalogação do acervo da *Biblioteca de
Mafra relativo à *Filosofia (ver Silvestre Ribeiro, História dos

87
Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos em Portugal,
v. 1, p. 177-179).

ALEIXO RIBEIRO
Autor de um par sonetos intitulado Dois monumentos, publi-
cado numa folha volante, e alusivo ao Monumento de Mafra
e ao Hospital da mesma vila: “Avulta n’esta vila a mole
imensa / do maior monumento nacional; / e quem o visi-
tou, decerto pensa / que maravilha assim… não tem rival. /
Da fé, – que se radica e se condensa / no peito d’um rei de
Portugal, – / brotou, a comprovar a sua crença, / esta jóia
de fama universal. / Se é certo que do solo português / uma
pedra sómente, muita vez / constitui um famoso monumento;
/ e, se os povos das várias regiões / apontam com vaidade
esses padrões… / – é orgulho de Mafra o seu convento. – /
Quem teve, por ser nobre e ser valente, / entre os povos
d’então… lugar marcado, / não poderá viver unicamente /
à sombra das grandezas do passado. / Embora as contin-
gências do presente / a nossa vida tenham alterado, / mos-
tremos que também a nova gente / não foge a praticar um
feito ousado. / Erijamos um novo monumento / que seja,
no tamanho, outro convento, / de beleza, porém, toda
moral. / Sejamos, como outr’ora, bons e nobres! /
Fundemos um abrigo para os pobres / ajudando a manter
um hospital”.

ALELUIA
O ofício de sábado de Aleluia (anterior ao domingo de
Páscoa) serve de transição do luto para a alegria da
Ressurreição. Antes da missa cantam-se as ladainhas de
todos os santos, retiram-se os véus que cobriam as cruzes e
as imagens desde o quinto domingo da *Quaresma (de
Lázaro ou da Paixão). Podem propor-se à veneração dos fiéis
uma imagem de Cristo crucificado, depositado no sepulcro,

88
89
ou descendo ao limbo, ou ainda uma imagem de *Nossa
Senhora das Dores. O jejum da *Quaresma acaba ao meio-
-dia, porém a ementa dos *Arrábidos de Mafra consistia no
mesmo que nos dias de jejum, mais meio arrátel de peixe
frito, e jejum à noite. *Água benta, *ementas fradescas.

ALEMANHA
A *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra possui perto de
centena e meia de obras quinhentistas, além de três incuná-
bulos (Aeneas Sylvius, Joannes Beckenhaub e Hartmann
Schedel), de tipografia alemã. Além de outras germânicas,
de autoria perfeitamente esclarecida, existe uma estampa
anónima, intitulada Das Kloster zu Mafra, in Portugal (1843?).
Bibliografia: ASSUNÇÃO, Guilherme de, Obras de Tipografia alemã
na Biblioteca de Mafra (séculos XV e XVI), in Boletim Internacional de
Bibliografia Luso-Brasileira, v. 7, n. 1 (Jan.-Mai. 1966), p. 71-89; GAN-

90
DRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura
e gravura, até 1900), in Bol. Cultural ’97, Mafra, 1998, p. 246, n. 43

ALEXANDRE ANTÓNIO DUARTE, Padre


No artigo Um problema de cerâmica (Bol. da Junta de Província da
Estremadura, s. 2, n. 12, Mai.-Ago. 1946), Carlos Galrão, repor-
tando-se à herança do Padre Alexandre António Duarte (sobri-
nho do cónego regrante Mariano António Duarte) e, designa-
damente à sua biblioteca, informa que “muitos volumes eram
da Livraria do Convento, de que tinham a marca” (p. 211).

ALEXANDRE ANTÓNIO DE LIMA


Sócio da Academia dos Ocultos e dos Aplicados. Compôs
diversas óperas, representadas no séc. XVIII, e o poema satí-
rico Benteida. Também autor do Romance Heróico: A El Rei
Nosso Senhor mandando fabricar el templo magnifico de Mafra,
que se acha manuscrito na *Biblioteca Pública de Évora,
sendo citado no Catalogo razonado de los autores portuguezes
que escribieron en castillano (Madrid, 1890), sob o título
Romance de Mafra e editado in Semana de Mafra (6 Ago. 1905).
Bibliografia: GANDRA, Manuel J. (selecção, apresentação e notas),
Poética barroca do Monumento de Mafra, Mafra 2002

ALEXANDRE BOUTROUE
Em 1893, editou, no tomo segundo dos Nouvelles Archives des
missions scientifiques et littéraires, o Rapport à Monsieur le
Ministre de l’instruction publique et des Beaux-Arts sur une mis-
sion archéologique en Portugal et dans le Sud de l’Espagne (Paris),
no qual alude a Mafra.

ALEXANDRE FREIRE
Capitão general do Maranhão (Brasil) e autor de um soneto
cujo tema é a construção de uma estrada para Mafra no séc.
XVIII.

91
ALEXANDRE GIUSTI (1712-1799)
Cidadão romano, naturalizado português por decreto de
*Dom José I, de 27 de Agosto de 1760 (ANTT: Chancelaria de
Dom José, liv. 69, fl. 232). Até aos 16 ou 17 anos estudou dese-
nho e pintura com *Sebastião Conca e escultura com João
Baptista Maine. Em 1747, veio para Portugal, contratado por
*Dom João V para assentar a capela de São João Baptista
(igreja de São Roque, em Lisboa), dedicando-se também à
modelagem das estátuas do Magnânimo para a Livraria do
Palácio das Necessidades (actualmente na *sala da Benção,
em Mafra), bem como as de São Filipe Neri, São Pedro e São
Francisco de Sales para a capela do mesmo palácio. No ano
de 1753, encarregado por *Dom José I de substituir os óleos
das capelas da *Basílica por retábulos de mármore (pelo
ordenado de 60 mil réis mensais, mais uma gratificação pela

92
conclusão de cada retábulo), fixou-se em Mafra com a famí-
lia. Acompanhado por dois ajudantes desbastadores,
*Francisco Alves Canada e *Pedro António Luquez, assumi-
ria a direcção da Escola de Escultura de Mafra. O primeiro
retábulo terminado destinou-se à *capela dos Santos Bispos,
tendo sido inaugurado em 1755, pouco antes do terramoto
de 1 de Novembro. Seguir-se-iam, de dois em dois anos
outros retábulos: *Santo Cristo, *Nossa Senhora do Rosário,
*Santas Virgens, *Santos Mártires, *Confessores e *Sagrada
Família. Para o secundar em tarefa tão avultada foi admi-
tindo aprendizes. Assim, no período entre 1753 e 1756 pas-
sou a contar com a colaboração de *António Pecoraro (seu
cunhado), *José Joaquim Leitão, *Alexandre Gomes,
*Roberto Luís Silva, *Salvador Franco e *Lourenço Lopes. O
acréscimo de trabalho que representava o ensino dos seus
alunos, porquanto continuava a chamar a si a modelação e
os acabamentos, não obstante, a partir de 1756, *Machado de
Castro se tivesse tornado seu ajudante, obrigou Giusti a
admitir novos aprendizes: *João José Elveni, *Francisco Leal
Garcia e *Brás Toscano de Melo, em 1756; *Joaquim António
de Macedo, em 1765; *João da Silva Pevides, em 1766; *José
Patrício, em 1767; *Silvério Martins e *Gaspar Fróis
Machado, em 1767. Foi sindico da *Ordem Terceira de São
Francisco de Mafra nos anos de 1758 e 1759, subscrevendo
nessa qualidade o Livro de despesa do Irmão Sindico da Ordem
Terceira de São Francisco (fl. 26-27 e 28-31). Porém, seria
expulso, em 20 de Outubro de 1759, alegadamente “por se
conhecer não ser útil à Irmandade (Livro 1.º das Eleiçoens).
Em 21 de Dezembro de 1765 seria eleito tesoureiro da
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Livro de Despesa, fl.
32r), cargo que desempenhou novamente a partir de 6 de
Dezembro de 1766 (Livro de Receitas, fl. 52r), sendo reinves-
tido nos anos de 1767 (idem, fl. 60v), 1768 (idem, fl. 62v),
1769 (idem, fl. 65r) e 1772 (idem, fl. 66v). Cego desde 1773,

93
deixando incompleto o retábulo da *Coroação da Virgem,
conta-se que durante mais de 26 anos “[…] com os seus
dedos trémulos e a sua imaginação prodigiosa […]” mode-
lava em cera baixos-relevos, que os seus discípulos depois
transpunham para a pedra. *Cirilo Volkmar Machado atri-
bui-lhe as duas *Virtudes Teologais (*Fé e *Caridade) que
encimam o interior do pórtico da *Basílica de Mafra,
dizendo-as, contudo, plagiadas do escultor italiano *Caetano
Paggi. Por morte de Giusti suceder-lhe-ia *Barros Laborão
na direcção da Escola de Escultura. O supracitado Livro da
despesa do Irmão Sindico (fl. 125) regista a realização de uma
missa por sua alma em 1799.

Bibliografia: PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura e Escultura de


Mafra: retórica da Perfeição, Lisboa, 1984, p. 259-262 e 350, doc. 25

ALEXANDRE GOMES (f. 10.1781)


Natural da Picanceira (Santo Isidoro, Mafra). Admitido
como aprendiz de *Alexandre Giusti, entre 1753 e 1756, per-

94
maneceu na *Escola de Escultura de Mafra, até 1770, ano em
que seguiria para Lisboa com *Machado de Castro.
Colaborou na realização das esculturas em pedra da estátua
equestre de *Dom José, realizando alguns trabalhos para a
Basílica da Estrela e São Vicente de Fora.

ALEXANDRE HERCULANO (28.3.1810-13.9.1877)


Historiador, poeta e romancista. A posição que assumiu a res-
peito da Real Obra de Mafra é mais uma prova da inequívoca
parcialidade subjacente à sua concepção de história. São suas
as expressões que fizeram escola para definir o Monumento
de Mafra: “bagatela maravilhosa” e “sensaboria de már-
more”. A agricultura científica é, no seu entendimento, o
único garante da regeneração nacional que vislumbra encar-
nada na *Granja modelo de Mafra, consoante o excerto do
ensaio Duas épocas e dois Monumentos, originalmente publi-
cado in O Panorama (s. 2, v. 2, n. 27, 7 Jun. 1843, p. 189-192) e,
posteriormente, também nos Opúsculos (tomo 7).

Duas épocas e dois Monumentos, ou a


Granja Real de Mafra

Houve entre nós um rei nascido com uma índole gene-


rosa e magnífica: foi Dom João V. Favoreceu a fortuna a
grandiosidade do seu ânimo. Durante o reinado deste
príncipe as entranhas da América pareciam converter-se
em ouro, e a terra brotar diamantes para enriquecerem o
tesouro português, e o nosso primeiro rei do século XVIII
pôde emular Luís XIV em fasto e magnificência. Há,
porém, diferenças entre os dois monarcas: Luís XIV, mais
guerreador que guerreiro, malbaratou o sangue de seus
súbditos em conquistas estéreis; Dom João V, mais pací-
fico que tímido, comprou sempre, sem olhar ao preço, a

95
paz externa dos seus naturais. Luís XIV levou a altíssimo
grau de esplendor as letras a as ciências: Dom João V
tentou-o; mas ficou muito aquém do príncipe francês.
Devemos todavia lembrar-nos de que Luís XIV era
senhor de uma vasta monarquia, e Dom João V rei de
uma nação pequena. Uma literatura extensa e ao mesmo
tempo vigorosa só aparece onde há muitos homens. É
como a grande cultura, que só pode fazer-se em opulen-
tas propriedades e dilatados terrenos.
Dom João V teve como Luís XIV o seu Louvre; mas um
Louvre em harmonia com o carácter, não tanto religioso
como beato e hipócrita, do seu país naquela época.
Mafra ficou duvidosa no desenho, entre o mosteiro e o
palácio. As duas entidades arquitectónicas compene-
tram-se aí dum modo inextricável. A púrpura está lá
remendada de burel; o burel alindado com púrpura, e o
ceptro de rei enlaça-se com a corda de esparto, ao passo
que a alpargata franciscana ousa pisar os degraus do
trono. Os que sabem quão corrompidos foram os costu-
mes em Portugal no princípio do século passado, e quão
esplêndido e ostentoso foi o culto divino; quão brilhante
foi a corte portuguesa nesse tempo, e por quão frouxas
mãos andou o leme do estado, não precisam ver Mafra.
Mafra é a imagem de tudo isso.
Um grande edifício, fosse qual fosse o destino que seu
fundador lhe quisesse dar, é sempre e de muitos modos
um livro de história. Os que nele buscam só um tipo por
onde aferir o progresso ou decadência das artes na época
da sua edificação, lêem apenas um capítulo desse livro.
Os castelos, os templos, e os palácios, tríplice género de
monumentos que encerra em si toda a arquitectura da
Europa moderna, formam uma crónica imensa, em que
há mais história que nos escritos dos historiadores. Os
arquitectos não suspeitavam que viria tempo em que os

96
homens soubessem decifrar nas moles de pedras afei-
çoadas e acumuladas a vida da sociedade que as ajun-
tou, e deixavam-se ir ao som das suas inspirações, que
eram determinadas pelo viver e crer e sentir da geração
que passava. Eles não sabiam, como os historiadores,
que no seu livro de pedra, também como nos daqueles,
se podia mentir à posteridade. Por tal motivo foi a arqui-
tectura sincera.
Mafra é um monumento rico, mas sem poesia, e por isso
sem verdadeira grandeza: é um monumento de uma
nação que dormita após um banquete como os de
Lúculo: é o toucador de uma Lais ou Frine assentado
dentro do templo do Deus dos cristãos, e sob outro
aspecto, é a beataria duma velha tonta, afectando a lin-
guagem de fé ardente e profunda de Origines ou de
Tertuliano.
Sem contestação, Mafra é uma bagatela maravilhosa, o
dixe de um rei liberal, abastado e magnífico; é pouco
mais ou menos o que foi Portugal na primeira metade
do século XVIII.
Colocai pela imaginação Mafra ao pé da Batalha, e pode-
reis entender quanto é clara e precisa a linguagem destas
crónicas, lidas de poucos, em que as gerações escrevem
misteriosamente a história do seu viver. A Batalha é
grave como o vulto homérico de Dom João I, poética a
altiva como os cavaleiros da ala de Mem Rodrigues, reli-
giosa, tranquila, santa como Dona Filipa rodeada dos
seus cinco filhos. As mãos que edificaram S[anta] Maria
da Vitória, meneando as armas em Aljubarrota, deviam
ser vencedoras. A Batalha representa uma geração enér-
gica, moral, crente: Mafra uma geração afeminada, que
se finge forte e grande. A Batalha é um poema de pedra:
Mafra é uma sensaboria de mármore. Ambas, ecos pere-
nes que repercutem nos séculos que vão passando a

97
expressão complexa, e todavia clara e exacta, de duas
épocas históricas do mesmo povo, sua juventude viçosa
e robusta, e sua velhice caquética.
O carácter de um monumento do tempo presente não
pode ser por certo um edifício gigante, um templo, ou
um palácio. Onde as crenças religiosas vacilam como a
luz que se apaga, o templo seria uma página de história
fabulosa: onde a pobreza extrema substitui a riqueza,
um tanto estúpida e fastosa com mau gosto, o palácio
esplêndido seria um capítulo anacrónico. O monumento
deve resumir a sociedade, e em nenhum desses géneros
de memorandum se acharia representado o actual existir.
Que somos nós hoje? Uma nação que tende a regenerar-
se: diremos mais: que se regenera. Regenera-se, porque
se repreende a si própria; porque se revolve no lodaçal
onde dormia tranquila; porque se irrita da sua decadên-
cia, e já não sorri sem vergonha ao insultar de estranhos;
porque principia, enfim, a reconhecer que o trabalho não
desonra, e vai esquecendo as visagens senhoris de
fidalga. Deixai passar essas paixões pequenas e más que
combatem esses corações cancerosos que aí vedes; deixai
erguerem-se, tombar, despedaçarem-se essas vagas
encontradas e confusas das opiniões! Tudo isto acontece
quando se agita o oceano; e o mar do povo agita-se
debaixo da sua superfície. O sargaço imundo, a escuma
fétida e turva hão-de desaparecer. Um dia o oceano popu-
lar será grandioso, puro e sereno como saiu das mãos de
Deus. A tempestade é a precursora da bonança. O lago
asfaltite, o Mar Morto, esse é que não tem procelas.
O nosso estrebuchar, muitas vezes colérico, muitas mais
mentecapto e ridículo, prova que a Europa se enganava
quando cria que esta nobre terra do último ocidente era
o cemitério de uma nação cadáver. Vivemos: e ainda que
semelhante viver seja o delírio febril de moribundo, esta

98
situação violenta, aos olhos dos que sabem ver, é uma
crise de salvação, posto que dolorosa, e lenta. Confiemos
e esperemos: o nome português não foi riscado do livro
dos eternos destinos.
Um dos sinais evidentes da restauração social do país, e
ao mesmo tempo o carácter mais notável que distingue
esta época é o seu movimento industrial, industrial na
mais extensa significação da palavra. Primeira entre as
diferentes indústrias é a agricultura, e a agricultura tem
incontestavelmente sido o nosso principal progresso.
Qual será portanto o monumento que melhor resuma
este período de regeneração? Será o aspecto do solo, o
viço dos campos, a abundância substituída à escassez na
morada do homem laborioso. Arroteai algumas jeiras de
terra: em um marco esculpi a data dessa transformação:
cobri a superfície de Portugal destes marcos. Eis aí, não
um, porém mil monumentos que significarão o espírito
do presente.
Plantai o bosque na serrania escalvada: que ele braceje
virente para o céu, e enrede as suas raízes nas rachas da
penedia. Agitada pelo vento, a selva com o seu rugir irá
contando a cada século que nascer as tendências labo-
riosas do nosso, que já começam a aparecer. Os cimos
das montanhas são as verdadeiras aras de Deus: é lá que
oravam as nações virgens. Santificai a vossa religião de
patriotismo pelo culto universal e primitivo: o bosque
murmurando com o espirar da aragem é um hino ao
Ancião dos Dias: que este hino nos consagre a memória
ao amor e gratidão de nossos filhos!
Ao lado dos paços monásticos de Mafra, monumento de
uma era de vãs grandezas, vai-se hoje alevantando sem
ruído o monumento modesto, mas eloquente e santo, da
ideia progressiva da actualidade. Ao lado dessas pedras
amontoadas, desses torreões gigantes, maciços, e pesa-

99
damente estúpidos, serpeiam já os prados virentes por
veigas e vales, cobertos ainda há pouco de abrolhos e
urzes. Contrastando com os lanços de muralhas caiadas
da ocre, que amareleja bestialmente, como um cordão de
ouropel enfiado em diamantes, por entre a cor severa
dos mármores tisnados pelo tempo, vêem-se ao longe
verdejar os pinheirinhos, que coroam as alturas ao Norte
e oriente daquele edifício monstruoso, híbrido, e extra-
vagante como uma composição pseudo-poética da Fénix
Renascida. As folhas de terra cultivada dilatam-se pelas
chapadas e encostas, várias na cor segundo a altura das
searas, ou conforme a qualidade do solo, nos sítios onde
ainda as sementeiras não surgem no começo do germi-
nar. É como um xadrez enorme, cujas casas se houves-
sem repartido ao acaso num tabuleiro irregular e imenso.
A vontade real fez aparecer o edifício: outras Vontades
Reais fizeram nascer a granja-modelo. Para a primeira
requeria-se ouro e força; para a segunda inteligência e
amor do país. O ceptro foi robusto e potente quando
amontoou aquela penedia lavrada e esculpida: o ceptro é
o símbolo da paz e da beneficência quando em vez de
converter pão em pedras, converte gandra bravia e esté-
ril em um nobre exemplo que mostre ao povo onde está
a sua derradeira esperança, o progresso da indústria e o
amor do trabalho.
Para a maravilhosa inutilidade de Dom João V gastaram-
se por largos anos milhões que de contínuo nos entre-
gava a América: o lidar acumulado de cinquenta mil
homens consumiu-se em desbastar e pulir essas pedras
hoje esquecidas, que apenas servem para alimentar por
algumas horas a curiosidade dos que passam. É uma
verdade cem vezes repetida, que o preço de Mafra teria
coberto Portugal das melhores estradas da Europa; mas
nem por ser trivial essa verdade deixa de ser dolorosa. E

100
todavia tal preço era o menos! As maldições submissas
dos que foram arrastados de todos os ângulos da monar-
quia, para esta grande anúduva nacional, e as lágrimas
das suas famílias, não as pode sufocar a adulação cor-
tesã; transudaram até nós nas páginas da história, e
caindo sobre o ataúde dourado do príncipe que as fez
verter, deixaram a inscrição do seu nome manchada de
uma nódoa que o tempo não gastará.
A vasta e risonha granja que viceja ao lado do negro e
carrancudo edifício não custou uma só mealha dos
dinheiros públicos; não arrancou uma lágrima. Não são
maldições o seu fruto: são bênçãos dos que vivem: serão
no futuro bênçãos da posteridade.
O convento-palácio, nascido sob o manto de púrpura,
alegre na sua juventude e habituado a pompas de lon-
gos anos, aí está, ilustre mendigo, assentado hoje num
como ermo, onde a vida robusta de séculos que lhe
fadara o fundador, se vai convertendo em antecipada
decrepidez. Inutilmente com a sua grande voz de bronze
ele pede que o abriguem das injúrias das estações. As
águas do céu, filtrando-lhe por entre os membros, lá os
vão lentamente desconjuntando, o sol cresta-lha a fronte
e faz prosperar os musgos, que lhe arrugam a rija epi-
derme: o vento redemoinha através das suas janelas mal
seguras, e bramindo naquelas solidões do seu recinto,
atira ao rosto das estátuas, aos acantos dos capitéis, à
face polida das paredes de mármore, o pó que tomou
nas asas passando pelas serranias. No meio do estrepitar
do mundo ninguém escuta o gemer do gigante de pedra;
ninguém se lembra de tirar do pecúlio do estado a mais
pequena soma para ele. E porquê? Porque a sua miséria
não fala aos corações nem aos entendimentos. Memórias
gloriosas? Não as há lá. Utilidade? para que serve essa
pedreira imensa?

101
A granja, porém, de Mafra nem teme as águas do céu,
nem os raios criadores do sol: povoa os seus agros outei-
ros de pinhais, e cujo abrigo zombará em breve da fúria
dos ventos. Não vai pedir socorros à munificência
pública: útil já aos pequenos e humildes, sê-lo-á também
algum dia a quem a fez nascer, útil em proveitos mate-
riais, e, o que mais vale, em frutos de verdadeira glória.
Há quatro anos apenas, que os muros da cerca ou tapada
de Mafra, estirando-se como serpe monstruosa por três
léguas, através de vales e outeiros, encerravam um vasto
maninho coberto de sarças rasteiras, onde raro se via ale-
vantar uma árvore solitária, curva e pendida pelo açou-
tar contínuo das ventanias, ou algum pequeno e
enfezado pinhal perdido no meio daqueles matos inú-
teis. Era um símbolo de barbaria ao pé dum símbolo de
opulência. O edifício e o parque pareciam significar no
seu conjunto – o orgulho tendo por fundamento o nada.
Há três anos ordenaram Suas Majestades se começassem
a desbravar esses terrenos incultos. O actual intendente
das cavalariças reais, o senhor A. Severino Alves, foi
encarregado de administrar as coudelarias ali estabele-
cidas, e da direcção daquele arroteamento. Obra de uma
sexta parte da tapada mais próxima do edifício destinou-
se imediatamente para a cultura, e os trabalhos princi-
piaram. O estado em que estes se acham, comparado
com as despesas, proporcionalmente diminutas, que se
têm feito, provam que talvez houvesse quem fosse tão
digno de ser encarregado de realizar o pensamento
generoso, nobre, e civilizador dos nossos Príncipes, mas
que ninguém por certo o seria mais que o senhor A.
Severino Alves.
O que vamos dizer não é completo; não é a história par-
ticularizada de tudo o que examinámos com os próprios
olhos; porque não queremos ser prolixos. O nosso

102
intento é ver se contribuímos para o verdadeiro pro-
gresso da terra em que nascemos. Se os grandes ou
pequenos proprietários que abandonam os seus campos
e herdades, ou que desprezam os meios de os tornar
mais produtivos, se mostram surdos ao bradar da
imprensa e de todos os homens sisudos, revocando esta
mal-aventurada nação à actividade e ao trabalho, que se
envergonhem ao menos com o exemplo que lhes dá o
trono. Enquanto os governos e os parlamentares ponde-
ram a conveniência, a necessidade do estabelecimento
das quintas de estudo, em Mafra, sem ruído, sem verbo-
sos relatórios e discursos, se vai estabelecer e aperfei-
çoando uma granja modelo, que esperamos faça sentir
dentro de pouco à agricultura portuguesa o seu benéfico
influxo. Certos de que Suas Majestades se colocarão à
frente do movimento agrícola do país, porque o aumento
da agricultura deve trazer a prosperidade aos seus súb-
ditos, neste jornal, que se derrama por todos os ângulos
de Portugal, daremos notícia das experiências que se
forem fazendo, dos melhoramentos que se forem intro-
duzindo nas propriedades do apanágio da Coroa. A
nossa situação especial nos habilita para obter a este res-
peito exactas informações. A utilidade que daí possa
resultar aos agricultores, retribuem-na eles em gratidão
aos Príncipes que souberam ser dignos do amor dos por-
tugueses, e entenderem plenamente o grave e progres-
sivo pensamento deste século.
Escolhida a porção de terreno na tapada de Mafra, que
se devia destinar à cultura, dividiu-se aquela parte em
oito grandes tractos ou folhas, cujo arroteamento se tem
seguido sucessivamente e sem interrupção até hoje.
O sistema adoptado para este fim foi o melhor que era
possível imaginar. Além da cultura feita à custa da Casa
Real, vão-se distribuindo aos habitantes da vila de Mafra

103
os terrenos que eles querem desbravar. O inteiro usu-
fruto destes terrenos fica pertencendo por três anos a
quem os converte de maninhos que eram em terras ará-
veis, e ainda que o solo da tapada me pareça de inferior
qualidade, e se achasse muito deteriorado pelas plantas
ruins de que estava coberto, todavia essa cultura tem
dado excelentes resultados. A produção da batata, planta
tão conveniente para terrenos arroteados de novo, há
sido tal, que no ano passado, se alevantaram na tapada
1800 carradas deste útil solano, cuja introdução na
Europa tornou impossível as fomes espantosas, que de
anos a anos lhe desbastavam a povoação. Nessas encos-
tas e veigas onde, tão pouco tempo há, os olhos esmore-
ciam alongando-se pelos sarçais, vêem-se estendidas as
searas, os campos de milho e os batatais, e nos rostos dos
habitantes da vila e dos distritos povoados circumvizi-
nhos, e nos seus trajos e porte, vê-se que se o amor da
taberna tem diminuído, os hábitos do trabalho, e por isso
a abastança, tem aumentado.
Mais de vinte éguas, mães e filhas, e de quarenta pol-
dros, constituem já uma courela que vai adquirindo
rápido crescimento. Cinquenta vacas entre as de casta
vulgar, turinas e de uma excelente raça asiática, aí são
tratadas com esmero talvez não inferior ao que se
emprega na começada coudelaria. Os estábulos e currais,
ordenados pelos melhores métodos modernos, e com
atenção a importantes considerações higiénicas, seriam
um bom modelo para aqueles que pensam reduzir-se o
tratamento dos gados unicamente a dar-lhes muito de
comer, não importa se bom ou mau.
Ainda que na granja de Mafra os animais sejam alimen-
tados, por via de regra, à manjedoura, sistema hoje acon-
selhado nos países mais adiantados como preferível por
graves motivos, nem por isso deixa de haver neste esta-

104
belecimento agrícola muitos prados pastáveis, compos-
tos, além de azevém, de uma mistura de certo número
daquelas plantas de que separadamente se compõem os
artificiais. Estes, porém, merecem com razão os especiais
cuidados do senhor Severino Alves.
As plantas que constituem estes prados, tanto regados
como secos, são a luzerna, os trevos, branco e encarnado,
o onobrychis (sainfoin), a anafa, a cenoura, e a ervilhaca.
A cultura de algumas destas forragens ainda se limita a
diminutas experiências, mas a de outras já tem adqui-
rido bastante extensão. Admirámos sobretudo um luzer-
nal, onde o método da transplantação produziu
magníficos resultados. Cada pé de luzerna lançando em
roda ao seus muitos rebentões ou filhos, forma uma
espécie de mouta robusta, que produz em cada corte
muito maior porção de pasto do que produzia uma
superfície igual à que ocupa, semeada de luzerna que
não fosse transplantada.
O incremento que estes prados podem ter naqueles, dan-
tes tão pobres e tristes, hoje tão ricos e risonhos terrenos,
é de extrema importância. Duas enormes lagoas, uma
das quais é constantemente refrescada e suprida por
uma pequena veia de água perene, foram limpas e veda-
das construindo-se canos subterrâneos por onde se
hajam de sangrar convenientemente. Estas lagoas, colo-
cadas em certa altura, podem regar um vale extensís-
simo, óptimo para o aumento de prados.
A silvicultura, essa parte tão interessante e tão bela da
ciência de agriculturar, tem em Mafra um terrível ini-
migo – o noroeste. Este vento sopra aí com violência
extraordinária. Alguma árvore silvestre, que vivia soli-
tária no meio daqueles matos rasteiros, vergada para
sueste na altura das arrancas, estende raquítica os seus
ramos açoutados pelas ventanias quase paralelos com a

105
terra. Estabeleceu-se porém um sistema de abrigos, que
deve dentro de alguns anos tornar não só possível, mas
até fácil, a propagação de árvores de floresta e de fruto.
Os pinheirinhos bravos (pinus maritima) cobrem já os
cabeços escalvados que se alevantam por meio das cha-
padas, encostas, e vales, e os castanheiros, carvalhos, e
azinheiros bordam os caminhos: estes bosques, quando
crescidos, anularão em grande parte a violência dos ven-
tos, e então será possível o plantio de outras árvores sil-
vestres e frutíferas, principalmente das oliveiras, de que
já se vão preparando extensos e bem ordenados vivei-
ros.
Uma consideração que ocorre naturalmente ao imaginar
semelhante extensão de cultura, é a dos adubos, e a do
modo de os fazer progressivamente aumentar. Acerca
deste ponto capitalíssimo, daremos brevemente curiosas
e interessantes notícias, em um artigo especial. Então
teremos ocasião de falar dos diferentes métodos de ama-
nhar as terras, que progressivamente se vão introdu-
zindo na granja de Mafra.
Os instrumentos aratórios e mais máquinas do serviço
agrícola são construídos no mesmo estabelecimento em
oficina para isso principalmente deputada. Aí se encon-
tra a charrua inglesa, a araveça grande de uma aiveca, a
pequena de duas, o semeador, as grades triangulares e
de diversos feitios, o trilho de debulhar, o engenho de
traçar cevada, carros ingleses, etc., além dos instrumen-
tos próprios do país construídos com perfeição.
Tal é o rápido quadro da transformação que apresenta
uma parte desses maninhos inúteis da tapada de Mafra.
Importante em si, semelhante transformação muito mais
o tem sido pela influência que o exemplo produz naque-
les arredores: o agricultor, que por assim dizer palpa as
vantagens que resultam de um sistema ilustrado de agri-

106
cultar, vai abandonando as suas grosseiras usanças, que
todos os discursos dos livros não alcançariam estirpar.
Mafra está sendo um foco de luz, uma fonte de pro-
gresso agrícola. Entre os benefícios que tem produzido
este é porventura o maior. Aquela vasta granja, se pro-
porciona a muitos abastança, o alimento para o corpo,
oferece e muitos mais as revelações da ciência – o ali-
mento para o espírito.
O edifício aí está mendigo, abandonado, canceroso já, e
inútil, ao lado da granja cheia de viço, rica, generosa, e
abençoada de esperanças. São dois monumentos de dois
séculos diversos, ambos obras de Reis. Que a filosofia
julgue um e outro, e julgue também as vontades e as
inteligências que fizeram surgir um e outro.

ALEXANDRE JEAN NOËL (1753-1834)


Pintor francês que visitou Mafra, em 1780, e desenhou à
vista a Real Obra. No seu Álbum de Desenhos [MNAA: inv.
2544] acham-se quatro apontamentos sobre papel: Portail de

107
Mafra (fl. 18; sanguínea; 169 x 108 mm); Mafra (idem; lápis e
sanguínea; 220 x 169 mm); [Torre Sul da Basílica] (fl. 26; san-
guínea; 218 x 109 mm); [Zimbório e entrada da Basílica] (fl.
18; sanguínea com anotações de cor; 168 x 218 mm), todos
subscritos “Noël 1780”.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de
Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Bol. Cultural ’97,
Mafra, 1998, p. 231-232, n. 14 a 17; MENDONÇA, Maria José, Um
Album de desenhos de A. J. Noël na Colecção do Museu das Janelas
Verdes, in Boletim dos Museus Nacionais de Arte Antiga, v. 1, n. 3
(1940), p. 121, n. 44 a 47

ALEXANDRE MAGNO (356-323 a. C.)


Filho de Filipe da Macedónia, a quem sucedeu em 336 a. C.
Discípulo de Aristóteles. Conquistador de um vasto império
até à Índia (334-328 a. C.), governou-o como um déspota
oriental, tendo fundado numerosas cidades, de entre as
quais se destaca Alexandria (331 a. C.). Após a sua morte
(323 a. C.) o império, que adoptara grande número das insti-
tuições persas (fiscais, divisão em satrapias, etc.), foi parti-
lhado entre os seus generais (diádocos). As lendas baseadas
na biografia sobrehumana de Alexandre Magno, conhecidas
desde a antiguidade, haviam de adquirir, durante o século V,
contornos apocalípticos, inspirados na História de Alexandre
do Pseudo-Calístenes (perdida no original grego, mas pre-
servada em siríaco), designadamente mercê do episódio que
descreve a construção por Alexandre de uma muralha em
pleno Cáucaso para isolar do mundo civilizado as tribos bár-
baras que ali encontrara. A transposição pelos Hunos, em
395, daquela barreira propiciaria a divulgação desse inci-
dente mítico, contribuindo para a identificação de tais tribos
com os Gog e Magog de Ezequiel e do Apocalipse, consoante a
versão consignada numa homília métrica creditada a Jacob
de Serugh (c. 451-521), sendo retomada pelo Pseudo-

108
Metódio. A vida e a lenda de Alexandre constituíram um dos
temas recorrentes das artes desde a antiguidade até ao séc.
XVIII, período do apogeu dos repertórios iconográficos, ins-
pirados em Plutarco e em Quinto Cúrcio, e destinados a glo-
rificar por analogia os soberanos absolutos reinantes, os
quais procuravam na emulação de Alexandre a respectiva
legitimação. Em Portugal, foram os casos, entre outros, de
Dom Manuel, Dom Sebastião, Dom João IV, etc. Nessa óptica
se explica o significativo número de armações (tapeçarias)
da História de Alexandre conhecidas em Portugal. No Palácio
Nacional de Mafra existem dois tapetes setecentistas icono-
grafando passos da sua vida:
1. Triunfo de Alexandre (Aubusson; 2,60 x 3,92 m; lã e seda;
nove e oito fios de urdidura/cm) [inv. n. 2]: o debuxo de
Charles le Brun figura a entrada triunfal de Alexandre em
Babilónia, em pé, num carro de guerra puxado por dois ele-
fantes. O pano foi encontrado no convento sob uma esteira,
devendo o seu arranjo actual a *Dom Carlos.
2. Alexandre recebe Thalestris, Rainha das Amazonas: (Bruxelas:
Brabante Jan Leyniers; 4,12 x 4,84 m, lã e seda; dez e nove
fios de urdidura/cm) [inv. n. 1]: Alexandre, coroado e sen-
tado no trono, cercado pela sua corte, recebe a rainha das
Amazonas, Talestrie, ajoelhada a seus pés e acompanhada
por quatro damas, duas das quais trazem presentes. Numa
cartela, ao centro da cabeceira superior, lê-se a legenda: ALE-
XANDER / THALESTRIM.AMA/SONVN.REGI/NAM.RECEPIT”
e na orla inferior a marca B (escudo) B. I. LEYNIERS. Em 31
de Agosto de 1882, este pano seguiu para o Palácio da Ajuda
para figurar na Exposição Retospectiva de Arte Ornamental (sala
P, n. 77), tendo regressado a Mafra em Maio de 1911.
Bibliografia: Alexander the Great: History and Legend in Art (cat.
Exposição), Atenas, 1980; Catálogo da Exposição de Arte ornamental,
Lisboa, 1882, p. 336-337; CHAVES, Luís, in O Arqueólogo Português
(1916), p. 323; Guia de Portugal, v. 1, Lisboa, 1924, p. 565; MEN-
DONÇA, Maria José de, Relação dos panos de raz existentes nas colec-

109
ções do Estado, in Bol. da Academia Nacional de Belas Artes, v. 7 (1940),
p. 36, n. 25 e p. 40, n. 51; idem, Tapeçarias existentes em Museus e
Palácios Nacionais, Lisboa, 1983, p. 176, n. 1 e 178, n. 2; S. B., Os Panos
de Arraz da Relação de Lisboa, in Illustração Portuguesa (17 Set. 1906);
TABORDA, João, Ócios de um Bacharel, in Diário de Notícias (23 Mar.
1910)

ALFAIAS RELIGIOSAS
Para o convento de Mafra, *Dom João V caprichou nas enco-
mendas de alfaias religiosas, que existem em profusão notá-
vel, expostas no núcleo de Arte Sacra do Palácio Nacional
de Mafra e, principalmente, depositadas na *casa da
Fazenda, sete compartimentos repletos de armários e gave-
tões que guardam *paramentos e utensílios de culto.
*Adoração, *cálice, *campainha, *naveta, *porta-paz, *píxide,
*relicário, *sacra.

ALFRED CHARLES SMITH


Em 1870, este sacerdote anglicano publicou Narrative of a
spring tour in Portugal (Londres). Avistou o Monumento de
Mafra desde Sintra, considerando-o “de dimensão colossal”
mesmo à distância a que se achava (cap. 53, p. 53). A p. 93,
nova referência ao convento, ora aproximado dos seus
“irmãos” de Belém e Alcobaça.

ALFRED LYALL
Em 1927, publicou anonimamente, em Londres, Rambles in
Madeira and in Portugal in the early part of 1826. O *voto de
*Dom João V, na origem da Real Obra de Mafra, é apresen-
tado como uma lenda (2.ª parte, p. 214).

ALFRED VON BERGH


Em 1841 (?) publicou as Letzte Reisebriefe von […] über
Portugal und Spanien (Berlim), com referências a Mafra.

110
ALFREDO PINHÃO ALEGRIA
Conservador dos carrilhões e relógios do Real Edifício, no
período compreendido entre 1908 e Abril de 1914.

ALICERCE
Documentos remontando à época da edificação, dos quais
Camilo Castelo Branco se fez eco, afirmam que os alicerces
da Real Obra de Mafra se cavaram no sítio da *Vela, a “tiros
de pólvora”, a “20 palmos de profundidade”, isto é, a cerca
de 4,40 m (visto que cada palmo equivalia a 22 cm), valor que
quase coincide com o avançado pelo arquitecto Lino de
Carvalho, que aceita que essa cota “pouco excede a cinco
metros”. No dia 17 de Novembro de 1717 foram lançadas nos
alicerces da Basílica doze medalhas (4 de ouro, 4 de prata e 4
de cobre) expressamente cunhadas para comemorar a colo-
cação da *Primeira pedra do edifício. Depois de bentas, foram
introduzidas em duas caixas de ouro redondas acompanha-
das por duas lâminas do mesmo metal, uma com o *Agnus
Dei de Inocêncio XI e outra com o Agnus Dei do Pontífice rei-
nante. Essas duas caixas foram, por sua vez, depositadas nos
alicerces da capela mor, da parte do Evangelho, juntamente
com uma arca de ouro contendo a escritura real e dois vidri-
nhos de óleo santo. A derradeira alteração do projecto, em
1728, obrigou à abertura de novos alicerces com a conse-
quente destruição de parte dos jardins já plantados da *Cerca.
*António Soares de Faria, *Medalha de fundação.

ALMARJÃO, Minas do
Mina n. 16 da *Primeira Tapada. Assim denominadas por se
situarem nas terras da Tapada, homónimas; são cinco as nas-
centes destas minas, distribuídas da seguinte forma: uma,
no pinhal da Vela, próximo do forno da telha; outra um
pouco mais abaixo próximo da carreira do tiro; e três a
pequena distância umas das outras, nas terras do Almarjão;

111
as suas águas são conduzidas por um encanamento de mani-
lhas desde a boca da mina até ao aqueduto principal, que
vem do Sonível, dando entrada na casa da água da Rua dos
Arcos.

ALMAS, Fonte das


Também denominada *Fonte das Aulas. No dizer de *Valério
Martins de Oliveira (1748), a sua água “era frigidíssima de
Verão e de Inverno […] que, metendo a mão nela, e por sua
muita friura, se não pode sofrer. Esta qualidade de água é
prejudicial a beber-se em todo o tempo, porque decepa
entranhas, causa ar, recolhimento de membros, como a expe-
riência mostra”. A nascente desta fonte situa-se sob uma
rocha da *Alameda, ao Sul do Real Edifício, e distante deste
cerca de 60 m, abastecendo a fonte homónima para a qual é

112
canalizada por um encanamento de ferro; o seu débito (par-
tilhado pela *cozinha Real do *torreão Sul) era suficiente
para os gastos usuais do palácio “e mesmo para os extraor-
dinários das jornadas de Suas Majestades a Mafra”. *Frei
João de Santa Ana (fl. 182-183) descreve-a como a observou,
em 1828: “Junto […] ao dito rochedo, e bem defronte do
canto que o Edifício forma ao lado da casa dos Actos, se acha
um bocado de muro e entre este e a rocha há uma grande
pedra, que posta sobre o muro, e inclinada para o rochedo
vai unir-se a ele e serve de tecto às duas nascentes de água
que aí se acham. Este tecto está rebocado por cima com cal e
areia e unido à rocha com betume. Tirado ele, acha-se um
vão em que por duas partes está correndo água da rocha,
cujas duas nascentes se vêm juntar no meio em uma pia for-
mada na mesma rocha, sobre a qual está um marco de pedra
unido ao muro e na frente dele se acha insculpida a letra P
que quer dizer Pia. O mesmo rochedo se estende para o lado
do poente e de todo ele está nascendo água até ao lugar,
onde próximo à rocha, e perto de uma pequena fonte, está
um marco de pedra e nele insculpidas estas letras NTE, que
quer dizer Nascente. Toda a água que corre do rochedo desde
a principal nascente onde está a dita pia até ao marco em que
se acham as letras NTE é recebida em um cano feito na
mesma rocha, sobre o qual, para designá-lo, estão postas
algumas pedras mais altas que outras, que ali se encontram
soltas, e pelo mesmo cano é conduzida à pia que está junta
ao muro da principal nascente e é indicada pela letra P. Entre
os ditos dois marcos e em mais alguma distância da rocha
estão outros dois marcos mais pequenos e em cada um deles
insculpidas as letras NTE que designam haver uma nascente
por baixo de um e outro marco. A água destas duas nascen-
tes conduzida por um cano que recebe mais água de outras
pequenas nascentes, que forma um semi-círculo, e sobre o
qual estão colocados algumas pedras, vai ajuntar-se na

113
mesma pia do muro junto à rocha em que está o marco com
a letra P. Todos os sobreditos marcos e pedras foram ali colo-
cados por diligências minhas no ano de 1826 em que por fal-
tar inteiramente a água se concertaram os canos, cuja
direcção até esse tempo se ignorava e apenas se sabia que
dali vinha a água para a fonte das Almas, mas ignorava ao
mesmo tempo as diversas nascentes e direcção dos canos e
os lugares das pias onde ela se junta”. Num ofício, datado
de 5 de Março de 1883 [AHMafra], o almoxarife do Real
Palácio de Mafra, Joaquim Manuel de Carvalho, mostrava-se
apreensivo quanto às consequências nefastas que poderia
acarretar para a nascente a exploração de pedra e extracção
de terras da *Alameda, solicitando à Câmara que ordenasse
a imediata suspensão dos trabalhos. *Água no convento.

ALMOFADA DE MISSAL
Almofadas de Missal (Milão) existem na *casa da Fazenda,
pertencentes ao acervo da paramentaria conventual. Um
Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra, do séc. XVIII, arrola-
-as: “seis almofadas de gorgorão branco bordadas a seda cor
de ouro. Doze de cetim dito meias bordadas a seda dito.
Doze de damasco dito com galões de seda. Uma de veludo
encarnado com galões de ouro. Doze de gorgorão dito meias
bordadas a seda cor de ouro. Duas de cetim dito meias bor-
dadas a seda dito. Doze de damasco dito liso com galões de
ouro. Oito almofadas de damasco encarnado liso com galões
de seda. Duas ditas de veludo roxo com galões de seda.
Duas de cetim dito meias bordadas a seda cor de ouro. Vinte
[e] duas ditas de damasco roxo com galões de seda. Duas de
cetim verde meias bordadas a seda cor de ouro. Vinte [e] três
de damasco dito liso com galões de seda. Duas de seda preta
tecida a ouro com galões de ouro. Duas de cetim dito liso
meias bordadas a seda cor de ouro. Vinte [e] duas de
damasco, dito com galões de seda” (O Carrilhão, 5 Set. 1983).

114
ALMOXARIFADO DAS REAIS PROPRIEDADES DE
MAFRA
O escritório do almoxarifado esteve instalado na sala de
entrada do andar térreo do Real Edifício, no espaço actual-
mente ocupado pelo *Museu de Escultura Comparada.
Oriundo do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças,
guarda-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo diversa
documentação produzida por esta secretaria, designada-
mente: os Tombos 1 e 2 do Almoxarifado de Mafra [Casa Real:
livros 2413, fl. 3-72 e 2414, fl. 3-69]; um Livro de Registo dos
Tombos das Reais Propriedades de Mafra [Casa Real: livro 2408];
Recibos e despesas do Almoxarifado da Tapada de Mafra de 1835 a
1840 [Casa Real: livro 1820]; uma Caixa relativa ao
Almoxarifado de Mafra [caixa 6469]. *Água na Tapada, *José
António Jorge da Costa.

ALQUIMIA
Também denominada Crisopeia ou Química Hermética.
Definida por um adepto português inspirado no Lexicon
Alchimiae de Martinus Rolandus como “[…] a arte de resol-
ver os corpos naturais compostos, ou os concretos naqueles
princípios de que se compõem, para com a resolução fica-
rem mais puros e com maiores e mais eficazes virtudes […]”.
A Alquimia foi de todas as disciplinas “ingénuas”, i.e., her-
méticas, a única que em circunstância alguma deixou, desde
os seus primórdios, de reivindicar para si a qualificação de
divina e revelada, remetendo invariavelmente para o Corpus
Hermeticum. Como é sabido a sua penetração na Europa teve
lugar por intermédio das traduções latinas de originais ára-
bes, realizadas por eruditos peninsulares, de que sobressaem
Domingos Gundissalvo e Gerardo de Cremona (séc XII).
Personalidades de nomeada (Daniel de Morley, Rogério
Bacon e Alberto Magno) revelam por ela um respeito consi-
derável. De facto, gozou de enorme reputação, ao ponto de o

115
Doutor Angélico, Tomás de Aquino, a considerar lícita desde
que se abstivesse de penetrar no campo da magia, con-
cluindo na Suma Teológica poder ser considerado autêntico
o ouro fabricado pelos alquimistas. É, de resto, essa a atitude
que, de uma forma geral, a Igreja reproduz, desconhecendo-
se qualquer medida eclesiástica, anterior à segunda metade
do séc. XIII, dirigida expressamente contra a Alquimia. Só
então começaria a ser alvo de ataques virulentos, sendo acu-
sada de servir à manipulação da moeda e declarada falsa
pela Bula Spondent quas non exhibent de João XXII (1317).
Entre nós, o Leal Conselheiro de Dom Duarte seria o precursor
da galeria de opiniões depreciativas até agora documenta-
das acerca da Crisopeia. Aquele monarca (em cuja biblioteca
existia o De Quinta Essentia, apócrifo atribuído a Raimundo
Lúlio) trata-a de burla e aos alquimistas de burlões e embus-
teiros. Tal opinião será revalidada nas centúrias seguintes
por Dom Duarte da Gama e Dom João Manuel (colaborado-
res do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende), Francisco Sá
de Miranda, João de Barros, Jorge Ferreira de Vasconcelos,
Eloi de Sá Sotto Maior, etc., introdutores de neologismos
como Alquime (= ouro falsificado) ou Alquimiar (= fingir,
adulterar). Assopradores ou alquimiadores, i. e., falsos alqui-
mistas é inegável que sempre existiram. São conhecidos os
nomes de uns quantos nacionais (frei Roque de Almeida,
Diogo Mendes, conde de Castelo Melhor) e estrangeiros em
trânsito (Giraldo Paris, Torres Villarroel, Cagliostro), mere-
cedores desse epíteto que, todavia, não é lícito generalizar
indiscriminadamente. Cultores sérios e abnegados houve da
Crisopeia: Afonso V (?), António de Gouveia, *Anselmo
Caetano de Abreu Gusmão Castelo Branco, Matias Aires, etc.
Ainda uns quantos dos apologistas da Alquimia sob a óptica
hermetista, como Manuel Bocarro Francês, Rafael Bluteau,
visconde de Figanière, Fernando Pessoa, etc., merecem ser
mencionados, para que conste. Aliás, só a notoriedade e o

116
prestígio assinaláveis atingidos pela Crisopeia podem justi-
ficar a representação de um artífice dessa Obra Real no
túmulo do Rei Dom Fernando (Museu do Carmo e *Museu
de Escultura Comparada, de Mafra), para já não referir os
inúmeros exemplos conhecidos em Portugal de telas seis-
centistas e setecentistas iconografando laboratórios e
Filósofos do Fogo em plena actividade. Uma tal notoriedade
e prestígio podem igualmente ser deduzidos da tratadística
em circulação, constante das livrarias conventuais, de que a
de Mafra é, justamente, o caso paradigmático.

Alguns alquimistas de quem existem obras na


Biblioteca de Mafra (por ordem alfabética)
Aeyrenaeo Philaletha, Álvaro Alonso Barba, André
Cnoffelli, André Libávio, Anselmo Caetano Munhós de
Abreu Gusmão e Castelo Branco, Arnaldo de Vilanova,
Arthephius, Averróis, Avicena, Basílio Valentino, Becher,
Bernardo Trevisano, Boerhaave, Bracesco, Cláudio
Germain, Cortalanei, Cristiano Adolfo Balduíno, Daniel
Senerti, Daniel Stolcius, Dinis Zacarias, Dom Espagnet,

117
Emanuel Swendenborg (proibido), Filipe Jacob Sachs,
Francisco Tertii Lanis, Frederico Hoffmann, Geber,
Gerardo van Swieten, Glauber, Guido Montanor,
Helvetius (pseudónimo de Johann Frederich
Schweitzer), Henrique Segusio, Hermes Trismegisto,
Hortulanus, João Adriano Helvetius, João Aurélio
Augurelo, João Baptista della Porta, João Baptista van
Helmont, João Crisipo Faniano, João Dausteni, João
Fernando Hertodt, João Fernélio, João Gerhardi, João
Gernandi, João Grassei, João Hartmann, João Ruélio,
João de Rupescissa, João Segerus Weidenfeld, Joel
Langelottum, Jorge Agricola, Kalid, Knorr von
Rosenroth, Luís de Aldrete y Soto, Luís de Comitibus,
Maria a Profetisa, Marsilio Ficino, Melchior Frobénio,
Merlim, Miguel Sendivogius, Morienus, Nathanis
Albinei, Nicolau Bernaudi, Nicolau Flamel, Nicolau
Lémery, Orthelli, Osvaldo Borrichio, Pantaleonis,
Paracelso, Pedro de Abano, Pedro Bonus, Pedro João
Fabri, Pico della Mirandula, Pseudo-Aristóteles,
Raimundo Lúlio, Ripley, Robert Fludd, Rogério Bacon,
Salomão Blavenstein, Teobaldo de Hoghland, Teófilo,
Tomás Norton, Venceslau Lavinius de Morávia, William
Johnson, Zadith.
Antologias: Balneis omni quae extent (s. l., s. d.); Bibliotheca
Chemica Curiosa (1702, 2 vols.) de João Jacob Manget;
Bibliotèque des Philosophes [Chymiques] (Paris, 1672-1678,
2 vols.); Opus Aureum ornatum omni Lapidem Pretioso sin-
gulare (Lião, 1532).

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Filosofia Hermética em Portugal e


no acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Boletim Cultural
’93, Mafra, 1994, p. 11-74; idem, Subsídios para a bibliografia crítica
das fontes e estudos respeitando ao Hermetismo em Portugal. I. Alquimia,

118
Mafra, 1994; idem, Alquimia em Portugal, in Discursos e Práticas
Alquímicas 1., Lisboa, 2001, p. 175-229

ALTAR
Termo derivado do latim altus, correlato do hebraico miz-
be’ah, e do grego thusiathérion. Os romanos designavam por
altar uma edícula sobre a qual ofereciam aos deuses sacrifí-
cios, os quais consubstanciavam o reconhecimento e a sub-
missão ao seu poder. Na Aliança Antiga era o altar que
santificava a vítima pelo facto de ser depositada sobre ele e,
por essa via, cair sob a esfera do sagrado (Genesis, VIII, 20;
XII, 7; XIII, 4; XXII, 9; XXVI, 25; XXXIII, 20; XXXV, 1 e 3;
Exodo, XVII, 15; XXX, 28; XXXIX, 39; Ezequiel, VI, 3; 2 Reis,
XXIII, 12; XVI, 4; XXIII, 8; etc.). Já na Nova Aliança o valor
residiria na própria oferenda depositada sobre o altar, por-
quanto ela figurava o corpo verdadeiro e o sangue autêntico
do Salvador. Inicialmente (do século II ao século IV), a cele-
bração eucarística realizava-se sobre o túmulo de um már-
tir, o qual continha uma cavidade selada com tampo de
pedra (pedra de ara), denominada sepulcrum, na qual eram
encerradas as respectivas relíquias. Com *São Paulo tornar-
se-ia altare et mensa, i. e., a mesa do Senhor (mensa Domini),
destinada ao consumo da refeição sacrificial ou Eucaristia.
Com efeito, foi o autor da Epístola aos Hebreus o primeiro a
assimilar a cruz de Cristo ao altar da Lei Antiga (Hebreus,
XIII, 10), identificação que seria consagrada ao ponto de
numerosos altares antigos apresentarem uma cruz gravada
ou incrustrada na face posterior da base. Padres da Igreja,
como São João Crisóstomo (Homília sobre a 1.ª Epístola aos
Corínteos, XXXVI, 5) veriam no altar o Trono de Cristo.
Posteriormente, de Trono de Cristo o altar transformar-se-ia
em imagem do próprio Cristo (cf. Pontifical Romano), sinal
da Sua presença permanente. Nessa conformidade, a ceri-
mónia de consagração de um altar foi decalcada dos eventos

119
chave da vida de Cristo: baptiza-se o altar, unge-se, marca-se
com cinco cruzes de consagração que são as cinco chagas do
crucificado, e, enfim, orna-se solenemente com paramentos
que constituem o prolongamento e a extensão do Corpo de
Cristo. Ao amplificar o tema de Yavé como rochedo de Israel,
de molde a integrar a ideia de Cristo como pedra angular,
rejeitada pelos construtores e tornada fundamento da Igreja
espiritual (Isaías, XXVIII, 26; Actos, IV, 11; 1 Pedro, II, 4 e 6-7;
Efésios, II, 20), o cristianismo passaria a adoptar, a partir do
século IV, altares de pedra em substituição dos de madeira.
Diz Santo António que o altar para o Senhor possui cinco
côvados de comprimento, outros tantos de largura e três de
altura: “O comprimento designa a perseverança, a largura o
amor do próximo, a altura a contemplação de Deus […]”
(Obras Completas, v. 2, p. 115-116). Numa igreja o local onde
se situa o altar é central, dominante e único, o edifício inteiro
converge para o altar, tal como a liturgia converge para o
mistério pascal. No entanto, não é conveniente a proximi-
dade do altar e dos fiéis, uma vez que aquilo que melhor
define o altar é o seu carácter de lugar santo, arredado do
domínio profano, donde a delimitação do seu espaço pró-
prio com grades e cancelos. Na liturgia católica são indis-
pensáveis os seguintes pertences de altar para a missa poder
ser dita: três toalhas de linho (das quais a superior tem de
pender até ao chão de ambos os lados); o *crucifixo bem visí-
vel ao meio da banqueta; pelos menos dois castiçais com
velas de cera; as sacras (sendo a do meio a mais necessária);
*estante ou *almofada de Missal. *Pedra de ara.

ALTAR MOR DA BASÍLICA


*Capela mor.

ALTARES DA BASÍLICA
*Capelas colaterais, *capelas laterais, *capela mor.

120
ALTO DO ASSOBIO
Terreno da *Terceira Tapada (24.580 m2).

ALTO DOS BARROS, Nascente do


Situa-se próximo do caminho que vai do *vale da Guarda
para a porta do *Telhadouro, adiante do antigo casal dos
Barros e quase na origem do *vale das Éguas.

ALTO DAS CALÇAS


Sítio da *Tapada.

ALTO DOS PALHEIROS, Nascente do


Sita na *Terceira Tapada (n. 46), na encosta sobranceira ao
*Celebredo, dentro de um olival, em magnífica posição para
abastecer o chalet e um bebedoiro para o gado. Em 14 de
Novembro de 1900 averiguou-se que a sua produção era
superior a 100 litros por dia.

ALTO DA TOJEIRA
Terra da *Tapada (3.830 m2).

ALTO DO URZAL
Sítio da Tapada com dez terras.

ALTO DA VELA
No *pinhal da *Vela, próximo do forno da telha e tijolo, em
cuja fabricação a sua água era aproveitada, existe o poço
homónimo.

ALVA
Do latim, alba. Veste litúrgica, de linho branco, em forma de
túnica, com mangas estreitas, que desce até aos pés, sendo
arregaçada por um *cíngulo. Nos Ordines romanos era deno-
minada linea (por ser de linho), só no século XII passando a

121
ser designada por alba. Trata-se de uma das mais antigas ves-
tes litúrgicas, originada na túnica quotidiana envergada por
gregos e romanos. Inicialmente, era usada por todos os clé-
rigos sem distinção, tendo sido substituída cerca do início
do séc. XIII pelo *sobrepeliz (alva curta) e reservada aos clé-
rigos de ordens maiores e sacerdotes a partir de finais de
quatrocentos. As aplicações de peças sobrecosidas, quadra-
das ou rectangulares, de seda ou de estofos de ouro e prata,
comuns até ao século XVI, deram, posteriormente, lugar a
rendas mais ou menos largas, em toda a volta da barra e das
mangas. A alva figura a “vida miraculosa e puríssima con-
versação de Cristo Senhor Nosso enquanto andou entre os
homens sem a mínima imperfeição ou mácula”, significando
a pureza de coração com que o sacerdote há-de celebrar os
ofícios divinos (Mateus, XXXVIII, 3; Apocalipse, VII, 14 e XIX,
8). Ao envergá-la, o sacerdote pronuncia as palavras:
“Dealba me, Domine, et munda cor meum; ut in sanguine
Agni dealbatus, gaudiis perfruar sempiternis”. Na *casa da
Fazenda existiam para serviço da *Basílica, de acordo com
um rol setecentista (Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra),
vinte e cinco alvas em linho encrespado com renda, cin-
quenta alvas de “esguião finas para encrespar” e vinte nove
alvas lisas (cf. O Carrilhão, 15 Set. 1983). Segundo Viterbo: “El
Rei Dom João V mandou usar destes regaços e maniquetes em
alvas de Mafra e da Patriarcal”.

ALVARÁ
Diferentes alvarás firmados por *Dom João V, *Dom José I,
*Dona Maria I e *Dom João VI, contêm matéria aplicável ao
Monumento de Mafra ou a instituições nele sedeadas.
Arrolam-se alguns dos mais relevantes:
1. Alvará de fundação do convento de Santo António junto à vila
de Mafra (21 de Novembro de 1711): “Eu El Rei faço saber,
que por justos motivos, e por especial devoção que tenho ao

122
glorioso Santo António, e por honra Sua. Hei por bem con-
ceder licença por esmola que no distrito da Vila de Mafra se
funde um convento dedicado ao mesmo Santo. Lotado para
assistirem nele treze Religiosos sómente; com declaração que
o dito convento há-de ficar pertencendo à província de
Religiosos Capuchos Arrábidos; e este Alvará se cumprirá
como nele se contém, que valerá posto que seu efeito haja
de durar mais de um ano sem embargo da ordenação do
Livro 2, fólio 40 em contrário […].” [ANTT: Chancelaria de
Dom João V, livro 35, fl. 355v].
2. Alvará de nomeação de António Soares de Faria como tesoureiro
do dinheiro aplicado a um Convento que Sua Majestade manda
fazer e com assistência de seu escrivão Máximo de Carvalho (26
de Outubro de 1714): o convento será na “Comarca de
Mafra, dedicado ao Glorioso Santo António para nele assis-
tirem treze Religiosos da Provìncia da Arrábida […]”
[ANTT: Chancelaria de Dom João V, livro 42, fl. 157].
3. Alvará de nomeação de um juiz destinado à cobrança das rendas
dos mosteiros extintos dos cónegos regrantes de Santo Agostinho
(27 de Maio de 1772): pelo qual Dom José I determinou que
um Ministro da Relação e Casa do Porto fosse Juiz Executor
e privativo para a cobrança das rendas dos mosteiros extin-
tos dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho que se acha-
vam unidos ao Mosteiro de Mafra.
4. Alvará de fundação do Real Colégio de Mafra (Palácio da
Ajuda, 18 de Agosto de 1772): pelo qual Dom José I “há por
bem roborar em forma específica o Colégio fundado no Real
Mosteiro de Mafra; para nele se educar a Mocidade da
Nobreza Civil, e das Famílias honestas, que vivem com
decência; e os Estatutos estabelecidos para o bom governo
dele”.
5. Alvará de aprovação dos estatutos do Real Colégio de Mafra
(Palácio da Ajuda, 30 de Setembro de 1780): pelo qual, Dona
Maria I, tomando o Colégio de Estudos do Real Mosteiro de

123
Mafra debaixo da sua Real Protecção, há por bem aprovar,
confirmar, e declarar em forma específica os Estatutos do
mesmo Colégio, com as declarações, modificações, e altera-
ções, que se acharam ser necessárias para o governo dele.
6. Alvará de depósito legal (5 de Dezembro 1825): ao publicar
este alvará, Dom João VI, tornou extensivas à livraria de
Mafra as disposições constantes no de 30 Dezembro do ano
anterior, que determinava fosse remetida à Biblioteca Pública
de Lisboa um exemplar de todas as obras impressas no Reino:
“Eu o Imperador e Rei: Faço saber que merecendo a Minha
particular Consideração a Real Livraria de Mafra, e Querendo
concorrer para o seu aumento, em benefício da Pública
Instrução, Hei por bem que as disposições do Alvará de trinta
de Dezembro do ano passado para ser remetido à Biblioteca
Pública de Lisboa um Exemplar de toda, e qualquer Obra,
que se imprimir nas Oficinas Tipográficas do Reino, sejam
extensivas à sobredita Real livraria para o mesmo fim, e
debaixo das mesmas clausulas, e penas; devendo porém a
entrega dos Exemplares ser feita no Convento de São Pedro
de Alcântara desta Cidade à pessoa, que para os receber for
designada pelo Guardião do Real Convento de Mafra [à data
o *padre Mestre frei Manuel da Epifânia]”.

ÁLVARO FERRAND DE ALMEIDA FERNANDES


Director da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra,
nomeado a 1 de Outubro de 1951. Abandonaria definitiva-
mente o cargo em 31 de Dezembro de 1960 (com um breve
interregno, iniciado a 20 de Maio de 1957, porém interrom-
pido no mesmo ano, durante o qual seria substituído interi-
namente por *Francisco Xavier Martins). Organizou diversas
exposições bibliográficas, de que se salientam: Livros militares
e relativos à História de Inglaterra (1952); História da Imprensa
(1955) e Obras ostentando marcas de posse (1956). Publicou
variados estudos e catálogos bibliográficos, a saber: Obras de

124
Santo Agostinho existentes na Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra (concluído em Março de 1954 e impresso in Revista
Portuguesa de Filosofia, t. 9, v. 1, n. 2, Abr. – Jun. 1955, p. 193-
196); A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (in Arquivo de
Bibliografia Portuguesa, a. 1, n. 3, Jul.– Set. 1955, p. 225-229; n.
4, Out.– Dez. 1955; a. 2, n. 5, Jan.- Mar. 1956, p. 39-49 e, par-
cialmente, in ICALP, n. 16-17, 1989, p. 170-175); Notícia sobre
o exemplar da Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente, da
impressão de 1562, existente na Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra (in Arquivo de Bibliografia Portuguesa, a. 3, n. 9-10, Jan.-
Jun. 1957, p. 10-15), descreve esta raridade bibliográfica e
anota as censuras e advertências manuscritas do censor
inquisitorial a quem fora confiado o seu expurgo. Dos inédi-
tos merecem destaque os seguintes inventários bibliográfi-
cos: Obras de Medicina e Farmácia (1952); Obras de Joaquim
Machado de Castro (Março de 1953); Obras contendo gravuras
das cidades fundadas e conquistadas pelos portugueses fora da
Europa (Julho de 1953); Obras relativas à Casa de Bragança
(Setembro de 1953); Obras sobre o Beato Nuno Álvares Pereira
(Abril de 1956); Obras sobre História de Portugal; Obras de
Manuel Almeida e Sousa; Obras de Anatomia, etc.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra: cosmologia e mnemotecnia, in Bol. Cultural ’96, Mafra, 1997, p.
9-70

ÁLVARO GUERRA (1936-4.2002)


Diplomata e escritor, autor de Razões do Coração, (1991)
romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos
franceses, no ano de 1808, da autoria de Álvaro Guerra.
Dedica diversos parágrafos às tarefas conventuais atinentes
à gastronomia: “[…] Mas em tudo há uma ordem natural, as
tarefas distribuídas por especialidades, sem atropelos. Frei
Inácio de Belém tem a seu cargo a preparação dos presun-
tos. Frei Francisco do Rosário, o boticário, dedica-se com

125
rigores alquímicos, usando mesmo a balança da sua farmá-
cia, ao tempêro dos enchidos, manipulando doses de louro,
de segurelha, de beldroegas, de colorau, de pimenta verde e
preta, em três alguidares distintos, um para o chouriço ver-
melho, outro para o sangue, um terceiro para a farinheira,
enquanto frei Policarpo das Chagas lava as tripas a enchu-
maçar com aqueles sábios recheios, tendo a seu lado seringas
para as encher. Frei Paulo de Santa Maria colecciona o mate-
rial para o cozido – o prezunto, a beiça, a orelheira, o touci-
nho entremeado, o entrecosto, comentando para Raimundo:
Bicho santo, tudo se lhe aproveita! Três outros monges, sen-
tados em banquinhos, diante de alguidares de cobre, des-
cascam as batatas, lavam as coves, raspam os nabos, que
hão-de compor a obra de Frei Paulo.” (p. 97). “A sineta anun-
cia a hora da ceia e os frades passam pela casa do lavatório,
antes de formarem em coluna de dois a procissão que pára
na casa de profundis, onde rezam aos finados, passando
depois pelo refeitório. Ali abancam a duas mesas de pau-bra-
sil cobertas por toalhas brancas de linho, sob as vistas de
Cristo e dos Apóstolos na última ceia, única decoração
daquelas imensas paredes que dantes albergavam à larga os
seus trezentos convivas, espaço agora demasiado vasto para
os dezoito frades e dois convidados. Cada um tem diante de
si um jarro de vinho e outro de água, os talheres de cabos de
chifre, os pratos e as canecas de barro. Logo desembocam da
porta da cozinha Frei José dos Mártires e Frei Lúcio do
Menino Jesus com duas travessas de cozido fumegante.
Seguem-se o entrecosto, as febras, as papas de sarrabulho, a
sopa do cozido e o remate angelical do arroz doce acompa-
nhado de copinhos de aguardente de pêra” (p. 98).

AMÂNCIO JOSÉ HENRIQUES


Segundo Tenente da Marinha, Ajudante Arquitecto da Casa
do Risco das Obras Públicas e Director das do Régio Palácio

126
e Convento de Mafra. Em 1827 ofereceu à *Biblioteca as
plantas do Monumento de Mafra, por si levantadas, expli-
cadas no Real Edifício visto por fora e por dentro de *frei João de
Santa Ana.

AMBRÓSIO, Santo (340-397)


Filho de um Prefeito das Gálias, estudou em Roma, sendo
nomeado governador de Milão e Génova. Quando tentava
mediar um conflito entre católicos e arianos a propósito da
nomeação do bispo de Milão seria ele próprio eleito para
desempenhar o cargo. Produziu vasta obra literária, tendo
sido responsável pela introdução do canto alternativo de
hinos e salmos. Terá contribuído para a conversão de *Santo
Agostinho, sendo-lhe atribuídos diversos milagres. Na ima-
gem de vulto (mármore; h= 2,45 m) da *capela de Jesus
Cristo Crucificado (altar 10 e *baptistério) da *Basílica de
Mafra, atribuída ao escultor florentino *Giuseppe Broccetti
(1732), é figurado com o livro, a mitra e o báculo, atributos
alusivos à sua obra literária e à sua dignidade episcopal.

AMBRÓSIO DA CONCEIÇÃO, Frei


Presidiu a diversas *Conclusões de Teologia (impressas entre
1755 e 1761, em Lisboa).

AMÉLIA, Dona (28.9.1865-25.10.1951)


Maria Amélia Luísa Helena de Orléans. Filha de Luís Filipe
Alberto, conde de Paris e duque de Orléans e de sua esposa,
Maria Isabel Francisca de Assis, Infanta de Espanha. Casou,
a 22 de Maio de 1886, com *Dom Carlos I. Partiu para o exí-
lio, da Ericeira, dia 5 de Outubro de 1910. Do acervo do
*Palácio Nacional de Mafra consta um retrato a *aguarela
(1885), retocada com gouache, subscrita por *E. Casanova.
Dona Amélia foi ainda retratada em Mafra nas duas foto-
grafias seguintes:

127
1. Dona Amélia regressa de passeio equestre pela Tapada (6 ou 7
de Fevereiro de 1910 ?): é possível que o acompanhante da
Rainha seja o Conde de Galveias.

2. Dona Amélia visita Mafra (20 de Janeiro de 1945): a monarca


deslocou-se a Mafra acompanhada pelo visconde de Asseca.
Distinguem-se, além do então Presidente da Câmara, capitão
João Lopes, outros notáveis locais, como, por exemplo, o
doutor Carlos Galrão.

128
Bibliografia: BREYNER, Tomás de Mello, Diário de um Monárquico
(1908-1910), Lisboa, 1992, p. 240; O Concelho de Mafra, n. 559 (26
Nov. 1951)

AMÉLIA LEUCHTENBERG, Dona (31.7.1812-26.1.1873)


Amélia Augusta Eugénia Napoleão de Beauharnais. Terceira
filha do Príncipe Eugénio de Beauharnais, duque de
Leuchtenberg e de Augusta Amélia da Baviera. Segunda
esposa do Imperador do Brasil, Dom Pedro I (*Dom Pedro
IV de Portugal), com quem casou em 2.8.1829, tornando-se
Imperatriz Douairière do Brasil. Do acervo do *Palácio
Nacional de Mafra constam os seguintes retratos seus:
1. Retrato, acompanhada pela filha: óleo s/ tela (1335 x 1090
mm) [inv. 2031], s. a. [*T. Durck]: a Imperatriz sentada, traja
vestido de veludo escuro de que se veem no forro da manga
esquerda arminhos. Tem junto a si *Dona Maria Amélia de
Bragança, ainda menina, de pé, com um leve vestido branco
e uma echarpe lilás. A pintura foi restaurada em 1985 pela
Arterestauro e a moldura (em casquinha dourada) tratada.
2. S. M. I. D. Amélie Imperatrice Douariere du Brésil […]: lito-
grafia (437 x 348 mm) de *J. Fertig., cópia do óleo de Durck.
Bibliografia: SOARES, Ernesto / LIMA, Henrique de Campos
Ferreira, Dicionário de Iconografia Portuguesa, v. 2, Lisboa, 1948, n.
1839 H, p. 351 e v. 5, Lisboa, 1960, n. 5133, p. 402

AMIGOS DE LISBOA
Para assinalar uma visita cultural dos Amigos de Lisboa à
*Biblioteca de Mafra, no ano de 1967, foram expostas obras
sobre esta cidade.

ANA, Santa
Pode ser identificada com a Ana ou Anat aramaica que os
fenícios tinham por parceira do Deus Baal de Tiro. A exalta-
ção de Santa Ana foi uma das formas usadas para explicar o

129
privilégio da Imaculada. No Ocidente remonta ao século VII,
tendo-se desenvolvido a partir do XIV (26 de Julho), por oca-
sião das discussões a propósito da definição do dogma da
Conceição de Maria. O desconhecimento absoluto sobre
quem foram os pais da Virgem inspirou a adopção dos
caracteres de Hanna, mãe de Samuel (Reis), difundidos pelos
apócrifos (Protoevangelho de Tiago, etc.). Na *capela de Nossa
Senhora da Conceição (altar 3) da *Basílica de Mafra
observa-se uma imagem de vulto figurando a mãe da
Virgem, em mármore (h= 2,45 m), de escultor italiano não
identificado.

ANA DE JESUS MARIA, Dona


Nono filho de *Dom João VI, então Príncipe-Regente, e de
*Dona Carlota Joaquina. Nasceu nos *aposentos régios
situados no *torreão Norte do Palácio de Mafra, aos 23 dias
do mês de Dezembro de 1806, razão por que a apelidaram
de *Infanta Saloia. Segundo as crónicas coevas, as preces
começaram na Basílica do Monumento em 3 de Dezembro,
tendo o parto sido anunciado, com foguetes, em 23, às sete e
meia da manhã, tangeram os sinos maiores das torres e ouvi-
ram-se os carrilhões. Na *Basílica celebrou-se missa Pon-
tifical com Te Deum e bênção. Em 28 houve o costumado
beija-mão no Paço, onde a corte se encontrava desde os prin-
cípios de 1806. O *baptismo da Infanta teve lugar na *capela
das Santíssimas Virgens e Viúvas da Ordem Seráfica (altar
11), da Basílica, em 18 de Janeiro de 1807, sendo cantado o Te
Deum para cinco órgãos de Marcos de Portugal, com a dura-
ção de 48 minutos (*Eusébio Gomes). A cerimónia seria rela-
tada por um religioso anónimo do convento de Mafra. A
festa em acção de graças realizar-se-ia na mesma Basílica em
25 de Janeiro de 1807, sendo cantada a Missa Breve
[PNMafra: R. Mms. 1.4] para quatro vozes e seis órgãos de
*Baldi (Eusébio Gomes), orando o padre-mestre Santa Ana

130
do cenóbio mafrense e concluindo a cerimónia com a procis-
são do Sacramento.

Relato anónimo do baptizado


da Infanta Dona Ana de Jesus Maria
No dia 18 de Janeiro de 1807 baptisou-se a Senhora
Infanta Dona Ana de Jesus Maria, 9.ª filha do Príncipe
Regente Nosso Senhor no Real Convento de Mafra.
Prelado baptizante foi o Principal Deão da Santa Igreja
Patriarcal, Padrinhos o Senhor Infante Dom Pedro
Carlos e a Senhora Princesa Dona Maria Benedita,
Assistentes ao Prelado Monsenhores Rebelo e Valadares,
4 mestres de cerimónias da Patriarcal, 8 Acólitos da
mesma, 2 Altareiros e 2 Tesoureiros, etc.

131
Ornato da Igreja, do dia referido: o Altar-mor tinha todo
relicário e banquetas ricas, frontal, e cortinado da pri-
meira ordem nas tribunas, cortinas e docel branco, alca-
tifa encarnada, e todas as mais tribunas da Igreja ornadas.
À porta da Igreja, do lado da Epístola, no Altar das
Virgens, estava a Pia do Baptistério. Sua factura é seme-
lhante a uma maquineta de madeira; é coberta nas ilhar-
gas e costas; estava toda forrada de damasco encarnado e
branco dourado de lama, na frente formava um portal
com arco em cima e as cortinas do mesmo portal apa-
nhadas. Na frente em cima ao fechar tinha as armas do
Reino. No meio ficava a pia que era de pau, todo bornido
e pintado, sobre o estrado da mesma factura da maqui-
neta. Tinha dentro, na tal pia, uma toalha finíssima, toda
ornada de renda branca, e por cima a tampa que cobria
tinha um pano de damasco branco bordado de oiro que
cobria a mesma pia. Aos lados estavam duas credências,
cobertas de seda encarnada, uma tinha o vaso de
Lavanda e pratos de Gremial e limão; e a outra servia
para se pôr coberta da pia quando se tirava da parte
direita da mesma capela, estavam também cadeiras para
os Senhores se sentarem e almofadas de veludo roxo, etc.
No altar do crucifixo, fronteiro ao da pia do Baptistério,
estava o leito para a Menina, todo coberto por cima, e
em roda, ornado de damasco de oiro, de seda encarnada,
figurando leito imperial; na capela de S. Pedro de
Alcântara da parte de dentro do cancelo, estava também
outro semelhante para o mesmo destino.
Na manhã do mesmo referido dia 18 às 6 horas tocou-se
a Prima, e como também Tercia, Missa conventual, e
Sexta, e Noa; e pelas 10 e meia tocaram solenemente os
sinos, e cantou Missa votiva solene o Guardião, que foi a
do SS. Nome de Jesus, uma só oração, Glória, Credo e
Prefácio da Natividade.

132
Antes de se dar o princípio à referida Missa votiva 2
moços de Câmara, acompanhados de 2 Archeiros,
tinham ido buscar água em duas quartas de prata, à
fonte mais próxima desta vila, e apenas chegaram, foi
lançada na dita pia por um dos Mestres das cerimónias
que estava junto ao Baptistério.
Concluída a referida Missa a que assistiu S.A.R. e alguns
fidalgos: os Ministros e o Celebrante vieram todos 3 ao
lado da Epístola, e aí tiraram os seus manípulos, o do
Celebrante, estola e casula: e vestiram-lhe a estola roxa e
pluvial; o Estandarte tinha a este tempo entrado pela
porta do Evangelho conduzido por um Acólito; os
Ministros Diácono e Sub diácono retiraram-se à Sacristia,
o Celebrante sentou-se; entretanto os Acólitos ceroferá-
rios, pegando nos castiçais, juntaram-se à Cruz, e princi-
piaram a caminhar até ao Altar das Virgens e seguindo a
nossa Comunidade. A Cruz ficou junto ao cancelo de
fora do Altar, e a Comunidade situou-se em 2 alas até
defronte do altar do Crucifixo. O Príncipe Regente e a
sua Família Pequena todos entraram para dentro da
Capela do Baptistério, e assistiram a todo o Acto. O
Celebrante Guardião ficou de fora fechando a
Comunidade; tendo aos lados 2 Mestres de Cerimónias,
e atrás o Acólito do Livro. Deu-se princípio às Ladainhas
pelos 2 cantores de sobrepelizes e prosseguiu a cantar a
nossa Comunidade. (Ora já antes disso se tinha desco-
berto a pia por um dos Mestres de Cerimónias). Antes
do verso – ui nos exaudire digneris – o Celebrante
Guardião levantando-se em pé, disse por 2 vezes can-
tando o verso- ut Tentum istum = como está no ritual =
formando as Cruzes às palavras benedicere+et conse-
crare+digneris = tornando a ajoelhar até ao último Kirie
elison = disse depois o Pater noster, e Credo em voz alta,
em tom ferial e os versículos seguintes como tem o

133
ritual. A primeira oração disse-a em pé; daí caminhou
para o Baptistério, ao Exorcismo da água virando-se
para o Altar, dizendo ao mesmo tempo as palavras –
Exerciso te criatura aquae = e tudo mais como está no
ritual romano – cap. 7 da Benção da Fonte Baptismal,
que se costuma fazer fora dos dias Sábado Santo e do
Pentecostes.
Concluído todo o acto da Bênção que o Celebrante-
Guardião cantou em voz alta, e deitados os óleos pelas
galhetas de Catecúmenos e Crisma, misturou-se outra
parte de água na pia do Baptistério que estava em dois
frascos de cristal, que tinha vindo do Jordão. O
Celebrante-Guardião depois de lançada a referida água,
metendo a mão direita dentro, girou em roda toda a pia,
revolvendo uma com a outra água. Cobriu-se a pia e reti-
raram todos ao corredor da sacristia, lavando antes o
celebrante as mãos em limão e jarro de água que tudo
estava numa credencia ao lado do Evangelho do mesmo
altar da Capela das Virgens. A todo este acto assistiram o
Príncipe Regente N. Senhor, seus filhos, Camareira-mor
e dois camaristas, Conde de Caparica, Marquês de
Dagos, Conde de Valadares e Guarda-roupas Lobatos.

[Preparação para o acto do baptismo na capela-mor e Igreja]


Na capela-mor estava o paramento branco para princi-
pal, como é costume no meio do altar; mitra preciosa; fal-
distório vestido de branco e alcatifa; ao lado da epístola
três credências, duas ao lado da Epístola e uma, a do
Evangelho que estava deste lado chama-se credência das
ofertas, em que tinha os Santos Óleos cobertos de véu
branco bordado, e dois castiçais aos lados com luzes. As
duas credeências da Epístola uma era da Lavanda, outra
da pia do Baptismo. A da lavanda tinha vasos de prata e
bacias, e a outra da pia tinha também dois grandes jarros

134
de prata dourados, um prato pequeno também de dou-
rado com a concha dentro, e a pia baptismal em que se
lançou e trouxe água do Baptistério. Ambas estas cre-
dências estavam cobertas de seus véus de volante e com
franja prateada em roda. Esta credência também tinha
aos lados dois castiçais com luzes.
No corpo da Igreja, defronte do Altar dos Mártires,
estava o faldistório coberto de roxo com a face virada
para o mesmo altar e alcatifa por baixo. Junto à grade do
mesmo altar da parte de fora entre os confessionários
estava também uma credência coberta com um pano de
seda roxo, e em cima, tinha um prato com um vaso den-
tro do sal para a Menina.
À entrada da Igreja, junto do altar do crucifixo, na frente
do leito imperial, estava também uma credência ornada
de damasco encarnado, destinada para os fidalgos repo-
rem e descansarem as insígnias.

[Ornato das salas do Palácio]


A sala da antecâmara estava ornada de damasco e leito
imperial. A sala dos veadores estava também ornada de
cortinas de damasco encarnado. Tinha a um lado o docel
e uma mesa por baixo coberta de veludo encarnado
onde estavam as insígnias, veste cândida, vela com qua-
tro ducatões cada um de 20 mil réis. Estava também o
sendal para o mordomo mor e que serviu o Visconde de
Barbacena, por impedimento do Conde de cavaleiros.
Enfim, a um lado da mesma sala dos veadores estava
também o pálio branco, todo bordado em ouro que ser-
viu para conduzir a menina.
Da ordem e disposição dos indivíduos que pertenciam
a este acto, como guardas reais, archeiros e trombeteiros
que vieram assistir para a alas do corpo da Igreja, e para
a instrumental:

135
Archeiros estavam em duas alas perto do corpo da
Igreja, e os instrumentistas trombeteiros estavam uns no
altar da pia do baptistério e outros, pela galilé até à
escada onde havia de sair os personagens pertencentes
ao baptismo. Na Igreja também não entravam homens
de capote, meramente pessoas de casaca e asseadas.
Dispostas assim as coisas, o principal deão, preparado
no seu quarto de capa magna com peles, encaminhou-se
à Sacristia, acompanhado dos Mestres de Cerimónias
Patriarcais e do seu Caudatário. Aí achou já preparados
no altar o paramento roxo, amicto, alva, cíngulo, cruz,
estola e pluvial e mitra aurifrígia. Estavam também já
prontos de sobrepelizes sobre o roquete os monsenhores
Rebelo e Valadares assistindo ao referido prelado e tam-
bém outros mais acólitos patriarcas. Os referidos assis-
tentes encaminhando-se ao prelado, já sentado no
faldistório, tirando-lhe o solidéu encarnado e a capa
magna. Prepararam-no de roxo conduzindo do altar os
paramentos os acólitos. Já a este tempo estava também
disposta em duas alas a nossa comunidade no corredor
da sacristia, esperando que o dito prelado se paramen-
tasse. O que tudo feito caminhou a Cruz processional
Patriarcal, que a nossa comunidade seguiu a dois e dois.
Atrás, os acólitos do pontifical e mestres de cerimónia
patriarcais e ultimamente sua Exa. com os dois assisten-
tes aos lados pegando nas fímbrias do pluvial. A Cruz
ficou logo junta aos cancelos de Santa Bárbara com os
acólitos aos lados e a Comunidade ficando logo aí junto
da Cruz os mais novos, os mais velhos foram-se espa-
lhando em duas alas até quase junto à capela onde
estava a pia do baptistério à entrada da Igreja.
O prelado sentando-se no faldistório que estava na Igreja
defronte da capela dos Mártires aí esperou que chegasse
perante si toda a comparsa do Paço.

136
[Entrada na Igreja para o baptismo da menina]
Disposta em comparsa toda a fidalguia do Paço, todos
saíam da antecâmara da Menina para a sala dos
Veadores, onde estavam as insígnias e o pálio na sala do
docel. Vinham adiante da comparsa seis porteiros da
câmara com seis maças de prata, e outros tantos sem
elas, vestidos todos de suas vestes pretas, com mante-
lões e cabelos caídos. Atrás destes os arnaltos ou reis de
armas vestidos de sendais bordados a ouro. Seguia-se a
estes o Juiz do Povo e seu escrivão ambos de vara e ves-
tidos de mantelões e cabelos caídos. Atrás deste a Corte
toda e fidalguia. Em último lugar todos os fidalgos de
título. Em seguida a estes as insígnias. Em primeiro
lugar o Marquês de Pombal que levava o prato dos mas-
sapães. Depois deste o Marquês de Penalva que levava
uma salva de prata a Veste Cândida. Imediatamente logo
a seguir a este o Duque de Cadaval com a vela com os
ducatões numa salva. Aos lados de cada um dos fidal-
gos que levavam as insígnias iam dois moços fidalgos
acompanhando-os.
Depois de todos os fidalgos das insígnias seguiu-se o
Príncipe Regente Nosso Senhor e os seus Meninos Filhos.
Atrás destes, chegado ao pálio adiante iam os Padrinhos
Infante de Espanha e a Princesa Viúva. Nas hastes do
pálio pegavam os Marqueses mais antigos, indo adiante
os mais antigos pelas nobreza e títulos de suas casas e
família. Debaixo do pálio pegava na Menina o mordomo
mor Visconde de Barbacena, levando ao seu lado de uma
e outra parte dois moços fidalgos para o ajudarem a pegar
na Menina. Atrás do pálio iam todas as Snras. Pessoas
Reais, excepto a Mãe. Iam também todas as Damas do
Paço com seus donatários e Camareira-mor com sua irmã.
Toda esta comparsa veio pela galilé, a entrar pela porta
principal da Igreja, onde a nossa comunidade a espe-

137
rava, e juntamente o Prelado Deão junto ao seu faldistó-
rio, com os dois monsenhores e os mais senhores patriar-
cais.
Apenas todos entraram tomando e seguindo os seus res-
pectivos lugares, a Menina conduzida pelo mordomo
mor foi, entretanto tomar posse do seu leito que estava
no altar do crucifixo. Concluída esta pequena demora
trataram todos se encaminharem pela Igreja acima e o
mordomo mor, levando perante do Prelado Deão a
Menina, ele a esperou em pé. Chegou e sentou-se logo,
dando princípio às perguntas e exorcismos, tendo aos
lados os Monsenhores e mestres de cerimónias Acólitos
do Livro, e Candela e os padrinhos da Menina.
Prosseguiu todo o acto de exorcismos, ora sentando-se e
levantando-se no tempo que tirava a Mitra e cantava as
orações. Como expressa claramente o Pontifical para o
baptismo dos meninos.

[Conclusão do acto de exorcismos e comparsa para a Capela


mor]
Completo todo o acto de exorcismos encaminharam-se
à Capela mor. Os nossos maceiros principiaram a cami-
nhar, atrás destes a Cruz Patriarcal e nossa comunidade.
Atrás seis porteiros da Câmara com as maças de prata,
outros tantos sem elas. Logo os arnaltos, passavantes,
reis de armas, juiz do povo e seu escrivão, moços de
câmara, depois Corregedor do Crime, Corte e Casa.
Todos estes ficaram em alas à porta dos cancelos da
Capela mor da parte de fora. Logo imediato a estes, os
fidalgos de título estes todos entraram para a Capela
mor. Atrás logo os fidalgos que traziam as insígnias, que
foram tomando os seus lugares no presbitério, e deposi-
tando-as na credência as suas insígnias. Os mais fidal-
gos da comparsa, esses foram tomando os seus lugares

138
no coro onde é costume dentro das cadeiras. Seguiu-se a
estes o principal, com os seus assistentes que se encami-
nharam ao faldistório no lado da Epístola. Em conclu-
são, o Príncipe Regente Nosso Senhor, a Menina nos
braços do mordomo-mor, o padrinho e madrinhas aos
lados, e atrás do pálio a Camareira-mor e as Damas com
os seus donários.

139
O Príncipe Regente e seu filho, depois de estar já no
presbitério, tomou o lugar do costume e seu filho na
cadeira do coro. Os fidalgos que pegaram nas hastes do
pálio, depois que todos entraram para a Capela mor,
tomaram o lugar das cadeiras unidos aos outros.
Tendo todos tomado os seus respectivos lugares, o
Principal sentou-se no faldistório e despindo o para-
mento roxo ajudado dos assistentes e acólitos, tomou o
branco e mitra preciosa. E conduzindo o faldistório para
o supedâneo no meio do altar, aí se sentou virado para o
povo, com os assistentes aos lados. Entretanto, o mor-
domo-mor conduziu a menina para o leito da capela de
S. Pedro de Alcântara e as damas todas e padrinhos da
mesma menina acompanharam. Feita a breve demora e
cerimónia, caminharam outra vez para a Capela mor
pela porta do lado do Evangelho o mordomo mor e todo
o acompanhamento que dantes tinha ido. As damas
todas fizeram alas no plano do presbitério de um a outro
lado à frente do altar e o mordomo mor e padrinhos da
Menina, ficaram no ínfimo degrau. O prelado deão pros-
seguiu o acto das perguntas segunda vez, como expressa
o Pontifical. E para a acção de baptizado fez mesmo sen-
tado com a mitra na cabeça. Pegando o padrinho na
criança e administrando da credência os dois acólitos
que traziam a pia e a concha para água. Para a unção dos
óleos um acólito trouxe da credência a âmbula, igual-
mente também a veste cândida e a vela, a que ajudaram
os padrinhos como é costume nos baptismos e expressa
o pontifical.
Também serviu de submilher de cortina, para limpar
com algodão os óleos à Menina, o Principal Furtado, que
também era convidado para este fim antes pelo mestre
de cerimónias. O seu lugar no coro, era na primeira
cadeira, junto ao arcebispo de Braga e ao bispo de São

140
Tomé, ao lado da Epístola.
Completa toda a acção do baptismo, retiraram-se para o
leito imperial a Menina nos braços do mordomo mor e
todas as mais damas que acompanharam este acto.
O principal deão, tirando-se-lhe a mitra e o faldistório
de baixo, virou-se para o altar com os assistentes e levan-
tou o Te Deum a que o coro prosseguiu de música. No
fim concluíu com os v. v. e orações progratiarum actione e
recebendo depois a mitra deitou a bênção como é cos-
tume nos pontificais.
No fim de tudo veio sentar-se e caminharam a Cruz e a
comunidade e todo o mais acompanhamento de fidal-
gos até à porta da Igreja a recolherem-se no Paço e daí
para o corredor da sacristia em que se deu fim a todo
este acto.

Em diversa da correspondência que Dona Ana de Jesus


Maria endereçou ao pai existem alusões a Mafra (cf. Ângelo
Pereira, As Senhoras Infantas filhas de El-Rei D. João VI, carta
VIII, IX, X, XI, XV, p. 171, 172 e 174 e Bol. Cultural ’98, Mafra,
1999, p. 658-659).
Bibliografia: IVO, Júlio, A Infanta D. Ana de Jesus Maria, in Revista de
Arqueologia, t. 3 (1936-38); PEREIRA, Ângelo, As Senhoras Infantas
filhas d’el-rei D. João VI, Lisboa, 1938, p. 151-175; idem, As filhas d’el-
rei D. João VI, Lisboa, 1946, p. 569-580

ANACLETO VENTURA DE CASTRO


Superintendente da *Obra de Mafra durante o reinado de
*Dom José I. Os papéis, “pertencentes ao ajuntamento das
contas dos Mestres Empreiteiros da Real Obra de Mafra”
foram os únicos de todo o cartório da dita superintência que
escaparam ao incêndio “que precedeu o terramoto de pri-
meiro de Novembro de 1755”, por então se acharem em seu

141
poder [ANTT: Núcleos extraídos do Erário Real Régio, Casa das
Obras Reais: Obras de Mafra, livro 81].

ANAGRAMA
Do grego, anagramma. Palavra ou frase elaborada a partir da
transposição ou da reordenação das letras de uma outra

142
palavra ou frase com sentido distinto. Exemplos: Amor =
Roma; Quid est veritas? = Est vir qui adest; Natércia =
Catarina (Camões); Bimnarder = Bernardim; Aónia = Joana;
Elmano = Manuel (pseudónimo de Bocage), etc. Este artifí-
cio, sumamente enfatizado no período barroco, foi codifi-
cado por Alonso de Alcalá y Herrera e Bento Rodrigo Pereira
(Compêndio Rhetorico ou Arte Completa da Rhetorica, Lisboa,
1794, p. 256-257) e violentamente atacado por Vernei, que o
considera prova do mau engenho dos “poetas tolos dos
séculos XVI e XVII” (Verdadeiro Método de Estudar, Lisboa,
1950, v. 2, p. 223-225). O Monumento de Mafra suscitou
diversas composições anagramáticas, sendo de assinalar
sobretudo as seis produzidas pelo engenho de *frei José de
Nossa Senhora (Lisboa, 1731), bem como uma outra, anó-
nima, constante do códice 425 da Biblioteca Nacional de
Lisboa.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Ideia do Monumento de Mafra:
arquitectura e hermetismo, in Bol. Cultural ’94, Mafra, 1995, p. 33;
idem, Poética barroca do Monumento de Mafra, Mafra, 2002

ANASTÁCIO DOS SANTOS, Frei


Substituto de Teologia (1743), de Escritura (1744 e 1745) e
Leitor de Teologia (1747). Qualificador do Santo Officio, e
Penitenciário Geral da Ordem Seráfica (Convento Real de
Nossa Senhora, e Santo António junto a Mafra em 31 de
Janeiro de 1749). Presidiu a umas Conclusiones Theologicas de
Actibus Humanis (Lisboa, 1752), defendidas por *frei Nicolau
de Santa Ana. Em 27 de Fevereiro de 1761, na sua qualidade
de Ministro provincial dos franciscanos, transmitiria ao
Guardião do convento de Mafra, uma ordem de *Dom José I,
pela qual o monarca determina se não introduza nas lamen-
tações da *Semana Santa “solfa alguma de novo e que só se
cante com órgão flautado o Miserere que compôs Manuel
Soares”, vulgarmente conhecido pela alcunha do *Carne de

143
Vaca (cf. O Concelho de Mafra, 24 Set. 1933). Subscreve a
Approvação dos Sermoens varios, Panegyricos, e Moraes (tomo 6,
Lisboa, 1750), de *frei António de Santa Ana.

ANATOMIA
Ao abandonar definitivamente o cargo de director, em 31 de
Dezembro de 1960, *Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes
deixou inédito, entre outros trabalhos, um catálogo das
Obras de Anatomia do acervo da *Biblioteca de Mafra.

ANDAR NOBRE
*Palácio.

ANDAR SUPERIOR
*Mezaninos.

ANDAR TÉRREO
Frei João de Santa Ana adverte os seus leitores (fl. 103-104)
para as características gerais deste piso: “1.ª Todas as casas
deste andar, excepto aquelas que se fizer especial menção
têm de alto 29 palmos [29 x 0,22 = 4, 28m]; 2.ª Todas as jane-
las das frentes, dos claustros, pátios, excepto os de que se
fizer especial menção têm grades de ferro de 14 palmos de
alto e 7 de largo e tal é o tamanho das janelas nas frentes
exteriores, nas por dentro com o vão têm cada uma de alto
19 palmos. Todas têm ombreiras de pedra tanto na face exte-
rior, como na interior, excepto as das Celas dos Religiosos e
poucas mais, que as têm só na face exterior; 3.ª Todos os por-
tões, excepto os de que se fizer especial menção, têm de alto
14 palmos e de largo 7; 4.ª Entendo por janelas interiores
aquelas, que estão nas paredes interiores e que recebendo
luz das janelas das frentes e outras que deitam para os claus-
tros, pátios e […] a comunicam para as casas, corredores e
escadas interiores; 5.ª Todos os portões e janelas de todo o

144
edifício são ornados de cantaria não só na face exterior das
janelas, mas também na interior, à excepção das que perten-
cem a algumas pequenas casas, como celas, que têm cantaria

só na face exterior; 6.ª Em todas as escadas do Edifício ou


elas sejam grandes ou pequenas, largas ou estreitas, não há
um só degrau delas que não seja de uma só pedra”. Mais
nota o arrábido que, no que concerne à planta deste piso, há
uma discrepância que convém assinalar (fl. 49): “Ainda que
a igreja verdadeiramente não deve ser desenhada na planta

145
térrea, por estar o seu pavimento 19 palmos [4,28 m] mais
elevado que o da praça e casas térreas de todo o Edifício,
contudo, como o Autor das Plantas, quando fez a térrea, não
tencionava fazer mais alguma, julgou necessário designá-la
na planta térrea, para que nesta se fizesse menção de um
templo tão magnífico e majestoso e que além disto é a parte
principal do edifício. Porém como o autor depois de feita a
planta térrea, se resolveu a fazer a do segundo andar, dese-
nhou nela novamente a igreja com a sacristia e mais casas
que ficam no mesmo andar. Eu pois havendo de fazer a
explicação de ambas as plantas e a descrição de tudo o que
nelas se contém para proceder com clareza e seguir a ordem
da numeração, que se acha em ambas as plantas na explica-
ção térrea só descreverei o átrio, porque pertence mais à
planta térrea do que a outra. Do átrio e da igreja, que estão
no pavimento do 2.º andar, só darei uma breve notícia do
que designam os números, que se acham na planta térrea,
guardando fazer uma exacta descrição deste majestoso tem-
plo e de tudo o que lhe diz respeito quando fizer a explica-
ção da segunda planta”.

ANDRÉ, Santo
O apóstolo Santo André (do grego: an, andrós, homem, i. e.,
Adão), situa-se entre João Baptista e a *Jerusalém Celeste,
encarnando a passagem da Aliança do Sinai à de Cristo,
encerrando, por conseguinte, o ciclo da profecia na posteri-
dade de Jacob. O seu papel inscreve-se entre dois mundos
(este e o vindouro), duas cidades santas (a terrestre e a
celeste), duas portas (da Fé e do Conhecimento Perfeito ou
Caridade) dois santos (o Baptista e o Evangelista).
Juntamente com Pedro, Tiago e João, foi um dos que coloca-
ram a Jesus a questão primordial quanto à destruição do
Templo e ao Fim do Mundo: “Quando hão-de suceder estas
coisas? E que sinal haverá de quando todas elas se começa-

146
rem a cumprir?” (Marcos, XIII, 3-5). Na Jerusalém Celeste
toda a Natureza humana dispersa se reúne no Adão
Primordial, reparador e divino, símbolo da Vida Eterna,
expresso na cruz aspada (X) que identifica Santo André com
o Sol de Justiça e a *Cidade Solar que desce do Alto (X = 10 =
Tétractys = número perfeito por excelência). Na *capela de
Nossa Senhora do Rosário, São Francisco e São Domingos
(altar 6) da *Basílica de Mafra observa-se uma imagem de
vulto deste protoapóstolo (mármore; h= 2,45 m), subscrita
por *Jerónimo Ticciati.

ANDRÉ GONÇALVES (f. 15.6.1762)


Pintor, discípulo do genovês Júlio César de Fernine e muito
influenciado por *Sebastião Conca, *Agostinho Masucci e
Carlo Maratta. Além dos óleos que pintou para a *capela dos
Sete Altares e para a sacristia da capela de Nossa Senhora
do Livramento (*Assunção de Nossa Senhora), andam-lhe
atribuídas mais duas telas constantes do acervo do *Palácio
Nacional de Mafra: uma figurando uma alegoria à
*Santíssima Trindade e outra um *São Pedro de Alcântara
em Adoração à Virgem (cf. Pier Paolo Quieto, p. 119-122).

ANDRÉ DE JESUS MARIA, Frei


Leitor de Lógica e Física, no ano de 1737 e Metafísica no de
1738, findo o qual se retirou para a sua Província. Presidiu a
diversas *Conclusões de Filosofia, salientando-se, entre
outras: Aurorae Philosophicae Diluenda Logicalia Subtilissimus
Scotisticae mentis roribus Aristotelicum viridarium foecundantia,
Philosophiaeque naturam, Terminos, et Logices Proaemialis illus-
trantia (Lisboa, 1737) [BN: TRUNC 628 A]; Conclusiones Phi-
losophicas-Logicam, Physicam, Generationem, et Corruptionem,
Animasticam, ac Metaphysicam amplectentes (Lisboa, 1739) [BN:
L 113 A]; Theoremata Metaphysica de natura entis ut sic principiis,
et passionibus ejus […] (Lisboa, 1739) [BN: TRUNC 614 A].

147
ANDRÉ LEHR
Por carta dactilografada em inglês, datada de Asten
(Holanda), em 3 de Fevereiro de 1981 [AHMafra], comuni-
cava à Comissão Municipal de Turismo de Mafra que,
estando de posse da credencial, por si solicitada na
Embaixada de Portugal em Haia, que o autorizava a exami-
nar os carrilhões durante três dias, tencionava cumprir a sua
missão de 4.ª feira, 18 de Março, a 6.ª feira, 20 do mesmo
mês. Avisava ainda que necessitaria de dispor de corrente
eléctrica e pedia para ser informado sobre a existência de
tomada e respectiva voltagem. Realizada a peritagem, ela-
borou um projecto com vista ao restauro do carrilhão da
*Torre Sul da *Basílica de Mafra, apresentado e aprovado em
1984. Em suma, era o seguinte o teor da sua proposta: “1.
Reparação do vigamento de sustentação dos sinos em

148
madeira: em primeiro lugar para dar a um certo número de
sinos uma posição mais favorável relativamente ao teclado e,
em segundo lugar, para que as ligações quebradas entre os
martelos dos sinos e os cilindros ponteados pudessem ser
reparados de forma ideal, […], num futuro próximo; 2.
Substituição dos quatros sinos de Van Aerschodt, extrema-
mente desafinados, inteiramente no estilo de Witlockwx […];
3. Ampliação do carrilhão por meio de seis pequenas sine-
tas, designadas por sinetas de discanto, para que o carrilhão
não continue a acabar no tom transposto fá-quebrado, mas
sim no, evidentemente mais musical, tom dó […]; 4.
Reparação dos bordos e das cabeças danificadas de um certo
número de sinos Witlockwx, bem como a afinação, se real-
mente inevitável, dos sinos de origem; 5. Instalação de uma
engrenagem totalmente nova em conformidade com o cha-
mado sistema de Malines, o que implica a remodelação de
todas as ligações mecânicas entre os badalos e o teclado; 6.
Um teclado manual totalmente novo, segundo os padrões-
estandardizados europeus actuais”. À excepção das repara-
ções no vigamento de sustentação dos sinos, todos os
trabalhos foram realizados pela Fundição Real de Sinos de
Eijsbouts, de Asten, iniciando-se, em 11 de Novembro de
1986, a montagem final do maquinismo.
Bibliografia: LEHR, André, De Twee KloKKenspelen op het Nationaal
Paleis te Mafra, Asten, Athanasius Kircher-Stichting, 1984 [minu-
cioso relatório técnico sobre os carrilhões de Mafra, parcialmente
reeditado in Os Carrilhões de Mafra, Mafra, 1989, p. 42-62)

ANDREW HALLIDAY
Em 1812, o médico e inspector dos hospitais das forças
anglo-lusas, Andrew Halliday, publica em Edimburgo, The
present state of Portugal and of the Portuguese Army: with an epi-
tome of the ancient history of that kingdom, a sketch of the com-
paigns of the Marquis of Wellington for the last four years: and

149
observations on the manners and costums of the people, agricul-
ture, commerce, arts, sciences, and litterature. Contém alusões
a Mafra (p. 246 e 439).

ÂNFORA
No Palácio Nacional existem dois pares de ânforas. Um em
porcelana italiana, decorado com motivos mitológicos (Juízo
de Páris e Sileno embriagado) em ambas as faces e com asas em
forma de bode (*Toucador da Rainha). Outro par, do período
Império, em metal dourado e cinzelado, apresentando duas
figuras femininas segurando grinaldas de flores, com as res-
pectivas tampas.

ANGELELI
*Eusébio Gomes (Memórias) reporta a realização em Mafra,
nos inícios de Novembro do ano de 1801, de uma Festa em
Acção de Graças pela *Paz Geral. Nas noites dos três dias
que durou a função “houve serenata na casa imediata à
livraria”, tendo actuado diversos artistas e músicos italianos,
entre os quais *Crescentini, *Percegil, *Catalani e Angeleli.

ANIVERSÁRIO
*Bicentenário, *Segundo centenário.

ANJO
Designação para a nona hierarquia de seres espirituais incor-
póreos, associados à esfera da *Lua e encarregados de guiar
a humanidade de uma incarnação a outra. *São Gregório
associa os anjos à esmeralda e à cor verde. A hierarquia
celeste organiza-se em nove Coros de Anjos, de acordo com
a seguinte ordem crescente da sua importância: 3.ª hierarquia:
Anjos = Anjos da nona ordem (esfera da Lua); Arcanjos,
Principados; 2.ª hierarquia: Potestades; Virtudes; Dominações;
1.ª hierarquia: Tronos; Querubins; Serafins.

150
Bibliografia: CASTRO, Joaquim Machado de, Analyse Grafic’
Orthodoxa, e Demonstrativa, de que sem escrupulo do menor erro
Theologico, a Escultura, e Pintura podem, ao representar o sagrado
Mysterio da Encarnação, figurar varios Anjos, Lisboa, 1805; OLI-
VEIRA, Custódio José de, Jerarchia celestial, Lisboa, 1812

ANJO CUSTÓDIO DE PORTUGAL


Alguns autores estribados numa tradição segundo a qual
*Afonso Henriques, após ter desbaratado Albaraque nos
campos de Santarém, teria designado como tutelar do Reino
a *São Miguel, creem poder identificar este *arcanjo com o
Anjo Custódio de Portugal. As aparições de Fátima têm,
igualmente, servido para fundamentar a assunção, por-

151
quanto, alegam os proponentes dela, o Anjo da Paz é, na
liturgia eclesial, o próprio São Miguel (Angelus pacis Michael).
Trata-se de opinião de difícil, quiçá mesmo impossível, com-
provação, porquanto não é essa a lição de Fátima (convém
distinguir as três entidades angélicas que se manifestaram
em Fátima: 1.º o Anjo da Paz; 2.º o Anjo de Portugal; 3.º o
Anjo da Eucaristia), nem dos Breviários, nem dispomos dos
documentos indispensáveis para tal desiderato, designada-
mente o pedido manuelino e a resposta ou Breve da conces-
são pontifícia. A devoção pode muito bem ser anterior a
quinhentos, contudo sómente no séc. XVI ela foi oficialmente
reconhecida pelo Papa Leão X, mediante solicitação de Dom
Manuel, tornando-se na mais sumptuosa e liturgicamente
solene de Portugal, logo depois da do Corpo de Deus. Não é
mais esclarecedor aquele que se presume constituir o pri-
meiro documento conhecido sobre a questão, a carta do
Venturoso ao Senado de Coimbra (6 de Junho de 1504),
muito embora o monarca denote conhecer perfeitamente a
doutrina dos génios, a qual expõe num preâmbulo à reco-
mendação sobre quando e como se há-de celebrar tão faus-
toso evento: “[…] Fazemos-vos saber que havendo nós
respeito em como nosso Senhor Deus por salvação de nossas
almas e conservação e prolongamento de nossas vidas quiz
ordenar em cada Reino, cidade e lugar e assim a cada um de
nós outros, anjos que nos guardassem de todo o mal e nos
provocassem a fazer bem […] ordenamos […] que em cada
um ano em o terceiro domingo de Julho se faça solene
memória deste anjo nosso guardador […] mandando fazer
uma bandeira grande em que irá pintado o anjo de maneira
que está em cada um dos ofícios que são imprimidos para
se rezar em este dia e ao pé da pintura será escrito em letras
grandes e bem vistosas CUSTOS REGNY ET CIVYTATES
CULIBRIESES. E toda esta bandeira irá em a procissão detrás
de todas as cruzes e a levará o alferes da cidade […]”. Nas

152
Visitações da Ericeira, a 14 de Junho de 1735, é referida a rea-
lização da procissão do Anjo Custódio, onde “costumam
irem danças e sanfoninas o que está proibido por determi-
nação de sua Ilustríssima e Reverendíssima pelo que mando
com pena de excomunhão que nas ditas Procissões não vão
mais danças nem sanfoninas”. Na *capela das Santíssimas
Virgens e Viúvas da Ordem Seráfica (altar 11 da *Basílica)
observa-se uma imagem de vulto (mármore; h = 2,459 m),
cuja autoria foi atribuída por Marques da Gama e Pier Paolo
Quieto ao escultor *Filippo della Valle e, hipoteticamente, ao
belga Laurent Delvaux por José Fernandes Pereira
(Arquitectura e Escultura de Mafra, Lisboa, 1994, p. 88).

Algumas obras existentes na BPNMafra relacionadas


com o Anjo Custódio do Reino
ANDRADE E MORAIS, José de, Sermaõ de Acçam de
Graças, que pela continuaçam das Melhoras da Saude D’ El-
Rey D. João V Nosso Senhor e pela exaltação da Villa do
Carmo das Minas em Cidade Mariana pregou […] na Festa
do Anjo Custodio do Reyno com O Santissimo exposto a
dezoito de Julho de 1745 a qual celebrou o Senado da mesma
Cidade, Lisboa, 1746 [BVol. 2-11-7-1(11.º)]; ANÓNIMO,
Novena do Santo Anjo Custodio do Reyno, que póde fazer-se
nos nove dias antecedentes ao que se dedica á sua Festa que se
celebra na Terceira Dominga de Julho, Lisboa, 1756 [BVol.
2-15-12-21(1.º) e 2-15-12-21]; JOSÉ DO ESPÍRITO
SANTO, Frei, Sermão do Anjo Custódio, Lisboa, 1673 [2-
11-5-16]

Bibliografia: BRÁSIO, António, Será S. Miguel o Anjo Tutelar de


Portugal?, in Novidades (Suplemento Letras e Artes) (18 Nov. 1951);
COIMBRA, José da Costa, Novena do Anjo Custódio, Lisboa, 1756;

153
Enciclopédia Verbo, v. 2, p. 455; GANDRA, Manuel J., Anjo Custódio
de Portugal, in Da Vida, da Morte e do Além, Mafra, 1996, p. 167-168;
LANDEIRO, José Manuel, As corporações através dos tempos XXIV.
As Corporações em Portugal – Festas – As Festas do Anjo Custódio, in
Mensário das Casas do Povo, a. 8, n. 91 (Jan. 1954), p. 18 e n. 92 (Fev.
1954), p. 18; LOURO, Henrique da Silva, O Culto do Anjo da Guarda
de Portugal, na arquidiocese de Évora, Évora, 1974; Ordenações
Manuelinas (1513), liv. I, tit. 78; Ordenações Filipinas, liv. I, tit. 66, §
48; REIS, Oliveiros de Jesus, Quem é o Anjo Custódio de Portugal?,
Covilhã, 1969; REIS, Sebastião Martins dos, O Anjo de Fátima e o
Anjo de Portugal : diverso ou idêntico ao arcanjo S. Miguel?, in Na
Órbita de Fátima: Rectificações e achegas, Lisboa, 1958, p. 119-157;
VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de, in Anuário da
Universidade de Coimbra (1907-1908), p. CXXV; VITERBO, Sousa,
Fastos Religiosos (Festas e Procissões), Porto, 1898.

ANSELMO CAETANO MUNHÓS DE ABREU GUSMÃO


E CASTELLO BRANCO
O mais notável químico hermético (i. e., alquimista) portu-
guês de todos os tempos. Natural de Soure, filho do doutor
António Munhós de Abreu, formado na Faculdade dos
Cânones, e de Simoa Godinha da Rosa. Doutor em Medicina
pela Universidade de Coimbra, Familiar do Santo Ofício,
Médico do duque de Aveiro, etc. Barbosa Machado
(Biblioteca Lusitana, v. 1, p. 178) di-lo “ornado de feliz memó-
ria, notícia das línguas mais polidas da Europa e não menos
versado na lição dos Santos Padres, Sagrada Bíblia, discipli-
nas Matemáticas e mistérios ocultos da Química […]”. Em
três das suas obras (Ennoea, Oráculo Profético e Systema
Medico) apresenta a Real Obra de Mafra como a concretiza-
ção do pólo espiritual do *Quinto Império. A título de exem-
plo, cita-se uma passagem do Oráculo Profético: “[…] Este
principado secular, e juntamente eclesiástico da igreja não
está na Itália, mas existe separado, e fora de Roma estabele-
cido em uns mosteiros, e varões religiosos, consagrados de

154
todo a Deus como declara o mesmo Alapide […]. Muitos
conventos há hoje fora de Roma, em que está edificada a
igreja de Cristo, que é a Nova, e Santa Cidade de Jerusalém,

descida do céu à terra, segundo entendeu o Padre Alapide,


explicando com as palavras de S. João o referido texto de S.
Paulo […]; mas nenhum mosteiro de religiosos se acha na
cristandade, que esteja edificado sete léguas fora, ou por
cima da cidade marítima, chamada oriental, e ocidental, fun-
dado sobre aguas subterrâneas, e tão adornado como esposa
para seu esposo […], senão esta nova, e única maravilha do
mundo, que ao mundo mostraremos estabelecida em

155
Portugal, edificada em Cristo, sobreedificada em Mafra, e
sobre o fundamento, que lhe pôs São Paulo, pelo Real, e
invicto braço do sábio, e Augusto Apolo Lusitano, e pelas
mãos dos portugueses, para Corte do Quinto Império de
Cristo, conforme a inteligência, que às palavras do Apóstolo
deu o seu melhor expositor Cornelio Alapide […]”.

Obra com referência ao Real Edifício de Mafra


Ennaea [sic], ou applicaçaõ do entendimento sobre a Pedra
Philosophal, provada e defendida Com os mesmos argumentos
com que os Reverendissimos Padres Athanasio Kircker no seu
Mundo Subterraneo, e Fr. Bento Hieronymo Feyjoo no seu
Theatro Critico, concedendo a possibilidade, negaõ, e impug-
naõ a existencia deste raro, e grande mysterio da Arte Magna.
Parte primeira. Offerecida ao Illustrissimo Senhor D.
Francisco de Menezes, Conego da Santa Igreja Patriarchal, e
do Conselho de Sua Magestade, etc., Lisboa Ocidental,
Maurício Vicente de Almeida morador ao Arco das
Pedras Negras, 1732-1733 [PNMafra: 2-33-9-19; BN: SA
5060 P e SA 1595 A (em mau estado)]; Refere-se ao seu
mestre coimbrão na Parte III, p. 73. Reedições anastáti-
cas: Lisboa, F. C. Gulbenkian, 1987 (nota de apresenta-
ção de Y. K. Centeno) e Mafra, 1987 (nota preambular de
Manuel J. Gandra), incluindo outras obras do autor;
Oraculo Prophetico, Prolegomeno da Teratologia, ou Historia
Prodigiosa, em que se dà completa noticia de todos os
Monstros, composto, para confuzao de pessoas ignorantes,
satisfaçaõ de homens sabios, exterminio de prophecias falsas, e
explicaçaõ de verdadeiras prophecias. Parte primeira. Em que
se exterminaõ as prophecias falsas. Consagrada a Marte, como
quinto entre os planetas, Lisboa Ocidental, Maurício
Vicente de Almeida, morador nos Sete Cotovelos junto
a São Mamede, 1733 [BN: SA 3112 P]; Systema Medico

156
galeno-chymico do Morbo Hungárico, ou do summo grao das
Febres agudas, cholericas, ardentes, atrabiliarias, intermitten-
tes, perniciosas, continuas, malignas, e pestillentas, complica-
das com todos os sympthomas funestos, e mortaes,
especialmente com vomitos pretos, e dejeccoens atrabiliarias,
como forão as que na quadra do outono do Anno de 1723 infes-
tarão esta corte de Lisboa oriental, e occidental; chamadas vul-
garmente: vomitos pretos. Segunda parte. Consagrada ao
misterioso, e Real numero quinario do Augustissimo,
Potentissimo, e Invictissimo Senhor Dom João V Rey de
Portugal, Lisboa, 1729 [BN: cod. 10553] Obra manuscrita,
incompleta, não mencionada por Barbosa ou Inocêncio;
na dedicatória, Dom João V é apresentado como o inau-
gurador do Quinto Império (fl. 1v-7r). A fl. 7v e 277r
declara-se que “por moléstia do seu autor” não se
incluem nem o Prólogo nem os dois derradeiros capítu-
los do original “que está aprovado” e se destinava a ser
impresso.

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Nota preambular […], Mafra, 1987;


PEREIRA, Moutinho, Ennoea encerra polémica – Portugal foi terra de
Alquimia, in Diário de Notícias (10 Mar. 1988).

ANTECÂMARA DO TORREÃO NORTE


Também denominada *Vestíbulo do torreão Norte.

ANTECÂMARA DO TORREÃO SUL


Também denominada *Vestíbulo do torreão Sul.

ANTERO DE QUENTAL (1842-1891)


Em 1871, as teses decadentistas de *Alexandre Herculano
seriam retomadas por outro paladino delas, Antero de
Quental, na conferência Causas da decadência dos Povos

157
Peninsulares (Obras, Lisboa, 1943). Nela exporia a avaliação
mais severa do Monumento de Mafra de quantas foram pro-
feridas, não deixando de associá-lo ao Escorial. Ambos os
monumentos seriam classificados como “lúgubres moles de
pedra […] massas compactas e friamente correctas na sua
falta de expressão […]. Que triste contraste entre essas mon-
tanhas de mármore, com que se julgou atingir o grande, sim-
plesmente porque se fez o monstruoso e a construção
delicada, aérea, proporcional, por assim dizer, espiritual dos
Jerónimos, da Batalha, da Catedral de Burgos”.

ANTICRISTO
Um dos temas que maior fortuna iconográfica gozou na arte
ocidental foi o da Besta, designadamente na imaginária
mediévica (possuída pelo terror produzido pela invasão
mongol) e na franco-alemã do renascimento (o que se com-
prova pelas gravuras de Dürer, datadas de 1495 a 1500
(Apocalipsus cum figuris, Nuremberga, 1511). Comparável
teratologicamente ao dragão e à hidra (por sua natureza
ferozes, selvagens, bestiais e desprovidos de alma ou anima
e, portanto, alheios ao reino animal), a sua perfeita caracteri-
zação é difícil face às ambiguidades do texto do discípulo
amado. As três citações que lhe são dedicadas (Apocalipse,
XIII, 1, 11 e 18 e XVII, 3) parecem indiciar a existência de
duas Bestas e não apenas de uma: a terrestre (da 1.ª e 3.ª
visões) e a marinha (da 2.ª visão), da qual se não conhece a
aparência mas se diz que possuía dois cornos e rugia como
um dragão, encontrando-se ao serviço da outra. Os mais
conhecidos textos, evocando o combate anticrístico, encon-
tram-se em Mateus e S. Paulo (II Epístola aos Tessalonicenses,
II, 4). O comentário do Beatus de Liebana, monje do mosteiro
de Valcavado no tempo do rei asturiano Fruela (756-768),
trata dos nomes do Anticristo (livro VI, cap. XIII), incluindo
em quinto lugar o de Genserico (fl. 477), rei dos Vândalos.

158
O Cavaleiro de Oliveira afirmava no séc. XVIII que “não há
país cristão onde se fale mais do Anticristo do que em
Portugal”, acrescentando que às crianças se dizia “que o
Anticristo será nado de freira, fecundada por frade”. Narra
ainda um episódio, demonstrativo do crédito da doutrina:
“A 15 de Janeiro de 1735, o Padre Diogo, capuchinho,
Guardião do Convento de São Pedro de Alcântara, fugiu de
Lisboa com Dona Floriana, religiosa do mosteiro de Santa
Ana, da Ordem de São Francisco. Estava eu presente quando
recebeu o conde de Tarouca, em Viena de Áustria, a notícia
do rapto. – Consumaram-se os tempos!, exclamou ele. Sem
dúvida que do concubinato do frade e da freira vai nascer o
Anticristo” (O Galante século XVIII, p. 215-218). Em Portugal
é raríssima a iconografia do Anticristo. *Quinto Império.

Algumas obras do acervo da BPNMafra com referência


ao Anticristo
BENTO FEIJÓ, Jerónimo, Venida de el Ante-Christo y fin
del Mundo, in Theatro Critico Universal, disc. 5, VII,
Madrid, 1781, p. 146-185 [2-25-6-8]; LOPES, José Pedro,
Os precursores do Anti-Christo, história prophetica dos mais
famosos Impios que tem havido desde o estabelecimento da
Igreja até aos nossos dias, ou a Revolução Franceza
Profetizada. Traduzida da sexta edição do original francez,
Lisboa, 1825 [2-68-2-1]; MENDONÇA, Furtado, Bruno
de (1599-1662), Verdades sobre a Vinda Do Anti-Christo.
Relaçam em a qual se dà noticia em breves, e compendiosos
Capitulos, de donde ha de nascer, e vir o Anti-Christo, que
Pays ha de ter, que vida fará, que victorias ha de haver, que
fim terá, e ultimamente, que sinaes lhe hão de preceder, e
devem acompanhar (Lisboa, 1748 e 1756) [BVolante, 2-55-7-
21 (1.º) e 2-66-4-6 (30.º)]; TOMÁS DE MALVENDA, De
Antichristo, Lyon, 1647 (2 vols.) [1-54-3-4 / 5]; WENDEL-

159
WURTZ, Abade Jean, Os precursores do Anti-Christo.
História prophetica dos mais famosos Impios que tem havido
desde o estabelecimento da Igreja até aos nossos dias, ou a
Revolução Franceza Profetizada por S. João Evangelista; com
huma dissertação sobre a vinda e futuro reinado do Anti-
Christo, Lisboa, 1825, 2.ª edição [2-68-2-1]

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Anticristo, in Da Vida, da Morte e


do Além, Mafra, 1996, p. 168-169

ANTIGUIDADES ROMANAS
Partilham com a *História de Itália a estante inferior n. 39 e
com a *História Grega e Peregrina a estante superior n. 60
da *Biblioteca de Mafra.

ANTOINE SIBERTIN-BLANC
Organista e professor de música. Realizou diversos concer-
tos na *Basílica de Mafra, o primeiro dos quais em 27 de
Julho de 1997, no âmbito do 5.º Ciclo de Órgão.

ANTÓNIO, Dom (1.10.1704-14.8.1800)


Filho natural de *Dom João V. Assistiu em Mafra, junta-
mente com seu pai e seu irmão, o *Infante Dom Francisco,
ao Sermão Panegyrico, e Gratulatorio, Prégado no dia oitavo do
Solemnissimo Oitavario da Dedicação do Real Templo de Mafra
(Lisboa, Francisco Luís Ameno, 1751 [PNMafra: BVolante 2-
11-7-17 (1.º) e 2-11-6-3 (10.º)]), pregado por *frei Afonso da
Conceição.

ANTÓNIO, Santo (c. 1190-13.6.1231)


Apóstolo, teólogo, escritor, pregador, taumaturgo, santo
(canonizado por Gregório IX, a 30 de Maio de 1232) e doutor
da Igreja (proclamado em 16 de Janeiro de 1946, por Pio XII

160
no breve Exulta Lusitania felix). Frequentou até aos 15 anos
os estudos de Artes Liberais na escola catedralícia anexa à
Sé de Lisboa. Cerca dos 20 anos juntou-se aos *Cónegos
Regrantes, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Dois anos depois, transferir-se-ia para o mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra, onde aprofundou a sua formação, usu-
fruindo da excepcional livraria monástica. Pelos anos de
1218 ou 1219, foi ordenado sacerdote, pelos Cónegos
Regrantes, junto dos quais permaneceria até à sua adesão ao
ideário dos frades menores, entre Abril e Agosto de 1220. No
Outono desse ano dirige-se para Marrocos em missão apos-
tólica. Daí passa à Sicília (1221) e, depois, à Itália, sendo, em
breve, convocado por *São Francisco com a finalidade de
ensinar Teologia aos frades da Ordem. No essencial, Santo
António, “o mais importante autor da Pré-Escolástica fran-
ciscana” expressará tanto as directrizes do saber universitá-
rio, como as posições da mística especulativa coevas. A
devoção a Santo António assumiu na vila de Mafra, onde era
festejado com fogueiras, enorme expressão. No altar de
Nossa Senhora do Rosário da antiga paroquial de *Santo
André havia uma imagem, com confraria do seu nome, tam-
bém tendo sido padroeiro de um dos oratórios da Quinta da
Cerca. O convento de Santo António, outrora situado “junto
à vila de Mafra” é o maior ex-voto existente em todo o
mundo, sabendo-se que *Dona Maria I pretendeu emular

161
*Dom João V, projectando construir outro cenóbio no sítio da
Roussada, para cujo efeito chegou a lançar a pedra funda-
mental. É virtualmente impossível não reparar nas efígies de
Santo António, por antonomásia denominado *Arca do
Testamento, dispersas por pontos estratégicos da Real Obra
de Mafra, para ostensivamente propalar a sua tutela:
1. Santo António em adoração à Virgem com o Menino
Medalhão ovado em alto-relevo (mármore; 3,16 x 2,24 m),
no centro do frontão da Basílica, é obra atribuída a
*Giuseppe Lironi. Antes da sua chegada, uma réplica em
madeira ocupou o lugar dele.

2. Santo António em adoração à Virgem com o Menino


Medalhão em meio relevo, sobre o pórtico principal pelo
qual se acede do *átrio ou *galilé à Basílica (mármore; 1,7 x
1,35 m), subscrito por Carlo Monaldi, Romano. Por carta de 11
de Agosto de 1729, remetida por *José Correia de Abreu a
*José Maria da Fonseca de Évora, o conselheiro artístico de
*Dom João V solicita o envio de um baixo-relevo iconogra-
fando Santo António em adoração à Virgem com o Menino
“para se colocar sobre a porta” da Basílica. Para o efeito,

162
envia o molde e as instruções escritas com vista à sua reali-
zação, salientando que a “obra deve ser feita pelo mais
insigne mestre, com toda a perfeição, com a brevidade pos-
sível […]”. A 27 de Setembro de 1730 comunica para Roma
que o baixo relevo chegou no dia 3 de Janeiro de 1731 e que
“teve boa aprovação”. Porém, cerca de uma semana depois,
desgostoso, escreve que o bom efeito que a escultura fazia
em baixo se desvaneceu quando foi observada no seu lugar,
“reconhecendo-se notavelmente os veios azuis que tinha a
pedra, quando se tinha recomendado que nenhum dos ditos
baixos relevos, nem as estátuas tivessem veio algum” (Carta
de 10 de Janeiro). Posteriormente, sublinhará “o dissabor”
sentido pelo Magnânimo quando viu o baixo relevo posto
sobre a porta (Cartas de 14 e 28 de Fevereiro).

3. Santo António em adoração à Virgem com o Menino


Medalhão em meio relevo, sobre o pórtico da *Portaria con-
ventual (mármore; 1,7 x 1,35 m), talvez do mesmo escultor
romano, Carlo Monaldi.

163
4. Santo António em adoração à Virgem com o Menino
Óleo s/ tela de Trevisani, na *capela mor da Basílica.
Restaurado em 1826 pelo pintor italiano Viale (2 Fev.). Foi
nessa ocasião medido com o objectivo de ser substituído pelo
retábulo em mármore que *Dom João VI ordenou se fizesse
em Lisboa, o qual nunca chegaria a ser realizado. Já *Don José
Cornide falara de futura substituição da tela por um retábulo
em mármore (Estado de Portugal, 1800, t. 27, p. 117). A propó-
sito de pintura, Abreu escreve: “[…] ainda que a mim me
não desagrade, cá se esperava coisa melhor (Carta de 10 de
Janeiro de 1731). *Frei João de Santa Ana confidencia que
“um pintor inteligente” lhe dissera que este painel valeria
“de 50 a 60 mil cruzados”.

164
5. Santo António em adoração à Virgem com o Menino
Óleo s/tela (c. 1730) de *Inácio de Oliveira Bernardes, na
*Portaria do convento de Mafra. Inspirada, “senão mesmo
copiada”, segundo Nuno Saldanha, da tela atribuída a
Carlo Maratta da igreja de Santo André do Quirinal
(Roma).

Santo António na Música Sacra composta para a Real


Basílica de Mafra na BPNMafra
MARCOS DE PORTUGAL (1762-1830), Mattutini S.
Antonio A Tenori e Bassi con cinque organi obligati Da ese-
quirsi in occasione del Felice Ristabilimento di S. M. F. (1807)
[R. Mms. 10.11]; JOÃO DA SOLEDADE, frei (?-1832),
Hymnos da Festa de Santo António para a Real Basilica de
Mafra. Original de…, Mestre Capela da mesma Real Basilica
(1822) [R. Mms. 15.3]

Parenética mafrense impressa de Santo António


MADRE DE DEUS, Francisco da, Sermaõ de Santo
Antonio, Glorioso Titular da Sagrada Basilica de Mafra, ocor-
rendo no presente anno de 1751 o dia da sua festividade em a
dominga infra-octava do Corpo de Deos, que tambem se cele-
brava na mesma Real Basilica. Prégado, e offerecido ao
muito alto, Poderoso, Fidelissimo Rey e Senhor Nosso
D. Joseph I. pelo R. P. Fr. […], Filho da Santa Provincia
da Arrabida, substituto da Cadeira de Sagrada Escritura
nos Reais Estudos de Mafra, e Penitenciario Geral da
Ordem Seraphica. Lisboa, 1751 [2-11-7-17(3.º)]; SANTA
ANA, António de, Sermoens Varios, Panegyricos, e Moraes,
que no Real Convento de N. Senhora, e S. Antonio junto a
Mafra, e em varios Pulpitos da Corte de Lisboa, e fóra della
prégou o P. M. Fr. […], Religioso da Provincia da
Arrábida, Ex-Leitor de Prima de Theologia, e Sagrada

165
Escritura, Lente actual de Artes no mesmo Real
Convento, e Consultor do Santo Officio. ; Tomo segundo:
Offerecidos á Gloriosissima Senhora S. Anna Mãy da
Mãy de Deos, e Avó de Jesu Christo, no Altar da Sagrada
Familia do Real Convento de Nossa Senhora, e Santo
Antonio junto á Villa de Mafra. Dados à impresa por
hum devoto da Provincia da Arrabida. Lisboa
Occidental, 1738 [BN: Trunc 739 P] [Inclui: Sermaõ do
Glorioso Santo António prégado na Santa Casa da
Misericordia da Villa da Ericeira em a terceira Dominga post
Epiphaniam, ano 1727, p. 198-219).

Santo António na Biblioteca Volante de


frei Matias da Conceição
RIBEIRO, Lourenço, Sermam de S. Antonio, Lisboa, 1693
[2-11-7-14(13.º)]; A. J. C. A., Verdadeira Relaçam do
Admiravel Prodigio que obrou na Villa de Merthola, o
Glorioso S. Antonio, na Igreja dos Religiosos Franciscanos da
Provincia dos Algarves, sita na dita Villa, Lisboa, 1753 [2-
66-4-4(14.º)]; ANÓNIMO, Publicaçam de Hum Novo
Prodigio do Milagroso Santo o Grande S.to Antonio de
Lisboa. Traduzida de varias Relaçoens Impressas, vindas
de Hespanha. Lisboa, 1729 [2-55-7-13(36.º)]; ANÓ-
NIMO, Relaçam das Missas que se mandaram dizer, e se dis-
serão na Real Casa do Glorioso Santo Antonio nesta Corte, e
Cidade de Lisboa Oriental, e despezas que nella se fizerão o
anno que começou em 13 de Junho de 1726 e acabou neste de
1727. Lisboa, 1727 [2-29-4-11(58.º)]; ANÓNIMO, Humilde
Rogativa ao Glorioso S.to Antonio de Padua, com o
Responsorio que aproveita muito rezallo, e levallo consigo
para qualquer parte. Traduzida do idioma Castelhano
para o Portuguez; e tambem reimpresso pela devoção
de Alberto Pereira Rey, Presbytero do Habito de S.
Pedro, Confessor geral neste Patriarcado. Lisboa, 1753

166
[2-15-12-20(3.º)]; AZEVEDO, José Pegado da Silva e,
Sermam de S. Antonio na festa, que os Estudantes
Conclusionistas da Universidade da Universidade de Coimbra
lhe costumão fazer na Ermida de Nossa Senhora da Esperança
da mesma Cidade. Prégado em 8 de Maio de 1750 […],
Lisboa, 1752 [2-11-7-17(4.º) e 2-11-8-7(11.º)]; GODINHO,
Manuel, Sermam do Glorioso S. Antonio de Lisboa. Que
Pregov na Igreja de Santa Marinha […] Anno de 1688.
Coimbra, 1692 [2-11-5-22(15.º)]; MADRE DE DEUS, Fr.
Francisco da, Sermaõ de S.to Antonio, Glorioso Titular da
sagrada Basilica de Mafra, occorrendo no presente anno de
1751 o dia da sua festividade em a dominga infra-octava do
Corpo de Deos, que também se celebrava na mesma Real
Basilica, Lisboa, 1751 [2-11-7-17(3.º)]; JABOATÃO,
Antonio de Santa Maria, Sermam de S.to Antonio.
Prégado no seu Convento da Villa do Reciffe de
Pernambuco em dia do Corpo de Deos no anno 1743,
Lisboa, 1751 [2-11-6-5(9.º)]; PEREIRA, Manuel, Sermam
de S. Antonio. Que prégou O P. […], na Festa que se lhe
fes na Igreja de S. Paulo desta Cidade de Lisboa, aos 13
de Iunho de 1668. Lisboa, 1669 [2-11-5-13(35.º)]; PIE-
DADE, Fr. André da, Sermam do Mimo de Lisboa, delicia de
Portugal, lustre de Padua, credito de Italia, e admiraçaõ do
Mundo, o Senhor S. Antonio que na Festival, Plausivel, e
sempre memoravel mudança, e trasladaçaõ da sua prodigiosa
Imagem da Igreja antigua para a de seu novo Convento, de
que he titular, lhe fizeraõ seus reformadissimos alumnos os
Seraficos filhos da Veneravel, e observãtissima Custodia do
Graõ Pará em a Cidade de Bellem no dia 13 de Junho de 1743,
pela manhã, exposto o SSmo. […]. Dado a Estampa, e ofe-
recido à Mãy de Deos, que com o Titulo, e Invocaçam
da Piedade se venera em a rica, e magestosa Capella da
Caza de Capitulo do Convento do Carmo da Cidade de
S. Luiz do Maranhaõ, Por seu mais Cordeal devoto, e

167
Venerador Manoel Antonio Pereira, Lisbonense. Lisboa,
1748 [2-11-7-14(5.º)]

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Achegas para o recenseamento da


tradição e património antonianos no Concelho de Mafra, in Santo António
na Ericeira, Ericeira, 1997, p. 89-97

ANTÓNIO DE ANDRADE REBELO


Em 1943, substituiu *José Dias dos Santos Coelho como res-
ponsável pela *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. Em
Abril de 1947 compôs um elenco das Obras relativas à Cidade
de Lisboa (inédito).

ANTÓNIO ABREU DA SILVA


Desembargador. A 18 de Janeiro de 1771, chegou ao Real
Convento de Mafra, acompanhado pelo escrivão José
Ferreira Batalha, para fazerem o inventário de “tudo quanto
o convento tinha, em o qual gastaram oito dias”. Meses vol-
vidos, os *Arrábidos seriam enviados para diferentes con-
ventos da sua Província, para permitirem aos padres
Vicentes instalarem-se, o que ocorreria a partir de 30 de Abril
de 1771. *Frei António das Chagas.

ANTÓNIO DA ARRÁBIDA, Frei (1771-1850)


Religioso franciscano da Província da Arrábida, teólogo e
pregador. Lente de Teologia nos *Reais Estudos de Mafra.
Em 1808, seguiu para o Brasil com a família Real, na quali-
dade de preceptor dos príncipes *Dom Pedro e *Dom
Miguel. Foi director da *Biblioteca Pública do Rio de Janeiro,
primeiro Reitor do Colégio Dom Pedro II e bispo titular de
Anemúria. Pregou a Oração funebre […] nas exequias do
Ilustrissimo e Excelentissimo Dom Diogo de Noronha, conde de
Vila Verde, Grão Cruz da Ordem de Santiago […], mandadas
fazer por sua Alteza Real, o Príncipe RegenteNosso Senhor, em a

168
Real Basilica de Mafra, no dia 25 de Novembro e presente o mesmo
Senhor (Lisboa, 1807).

ANTÓNIO DA ASSUNÇÃO, Frei


Autor do Sermaõ das Solemnissimas Exequias do Serenissimo
Senhor Rey D. João V. Que celebrou na sua Cathedral o
Excellentissimo e Reverendissimo Senhor D. João de N. S. da Porta,
Bispo da Cidade de Leyria, do Conselho de Sua Magestade, etc.
Prégou-o o P. Fr. […], Da Sagrada Ordem dos Prégadores,
Prégador Geral, e Vigario das Religiosas do Mosteiro de Santa
Anna da mesma Cidade, Aos 11 de Agosto de 1750 (Lisboa,
Ignacio Rodrigues, 1751 [BN: L 941 V]). A p. 16-17 e a res-
peito da obra mafrense do Magnânimo afirma: “[…] o Real
Convento de Mafra, cujas pedras sem dúvida tinham a vir-
tude do magnete, por atraírem de distantes Reinos aos mais
peritos artífices, os quais, vendo e admirando o polido e o
magnífico daquele sumptuoso Templo, aumentavam, por
extáticos, o número de suas estátuas. Pois parecia que a arte
tinha já levantado o interdito que a natureza pusera no insen-
sível, porque aos primores do buril se viam as pedras elo-
quentes e as estátuas, como as de Dédalo, deixavam em
dúvida aos que as viam, se eram, ou não, animadas. Nos
finos jaspes pois deste famoso Templo e nos seus perdurá-
veis mármores, que fazem emulação à eternidade, se gravou
o Soberano Nome do nosso Augusto Monarcha para a poste-
ridade […] Não há pedra neste sumptuoso Templo onde não
se esteja lendo, pelo magnífico, o Soberano Nome de nosso
Sereníssimo Monarca, o qual, apesar do mesmo tempo, há-de
durar para sempre na posteridade. Esta e outras obras mag-
níficas fez o nosso Soberano, que são os Padrões da sua gran-
deza, desempenhando o seu Régio e Católico ânimo e inata
inclinação que teve sempre para conservar e aumentar o
culto da Casa do Senhor, como declara a letra da Estátua da
Religião que adorna aquele majestoso Templo, toda inclinada

169
a um Templo, representando a inclinação que o nosso
Soberano tivera à Casa de Deus […] imitando ao Santo Rei
Ezequias, de quem foi fidelíssimo retrato, o qual não só fez
obras magníficas na Cidade de Jerusalém, para seu ornato e
grandeza, introduzindo por aquedutos Régios cristalinas
águas, ampliando banhos para remédio dos enfermos, mas
também fez admiráveis obras no Templo do Senhor”.

ANTÓNIO BAPTISTA GARVO


Estudou na *Casa do Risco de Mafra e no Colégio de Santo
Antão. Sucederia a seu pai, *Carlos Baptista Garvo (f. 1724),
como mestre de pedraria nas obras de Mafra, revelando-se
igualmente muito hábil canteiro no período compreendido
entre 1718 e 1750. Em 20 de Dezembro de 1731, *Dom João V
ordenou ao seu Secretário de Estado, *Diogo de Mendonça
Corte Real, que ajustasse a obra por concluir em Mafra com
este Mestre pedreiro e também com *Manuel Antunes Feio, a
qual deviam fazer “por medição e pela consignação e forma
que se tem concordado […]” (ANTT: Cartórios Notariais, livro
505, fl. 65-68). Pertenceu à *Ordem Terceira de São Francisco
de Mafra, cujo Livro da despesa do Irmão Síndico subscreveu: fl.
8 (1750), fl. 9 (1751), fl. 37 (1761) e fl. 41 (1762).

ANTÓNIO BERNARDO DA SILVA


O Mafrense (23 Jun. 1889) dá notícia da conclusão do restauro
do *Órgão de Santa Bárbara por António Bernardo da Silva e
afinação por *Estevão António Jorge Júnior dos de Santa
Bárbara, Conceição e Sacramento. O restauro do 5.º órgão
(do Sacramento) encontrava-se, então, em vias de conclusão.
O da Conceição, que deixara de tocar desde a extinção das
Ordens (tal como o dos Santos Mártires), era à data o melhor
conservado e afinado de todos. No ano seguinte ainda pros-
seguia a tarefa de renovação de toda a madeira e metal dos
seis órgãos (O Mafrense, 1 Dez. 1890).

170
ANTÓNIO CANEVARI
Natural de Roma. Fez alguns desenhos para a Mafra que a
historiografia sustenta, talvez sem razão, jamais terem sido
usados, supostamente por ter sido suplantado por Ludovici.
Morreu em Nápoles.

ANTÓNIO DA CERA, Frei


Religioso arrábido transferido, em 26 de Maio de 1825, do
mosteiro de Mafra para o convento de Santa Catarina por-
que, conforme relata *Eusébio Gomes (Memórias), “costu-
mava cavalgar os tonéis e chupar-lhe o sangue por um
canudo, e não sei se por mais alguma coisa”.

ANTÓNIO DA CHARNECA, Frei


Autor do Sermão nas Exequias do muito Alto e Poderoso Senhor
D. Joaõ V, que em a Igreja de Santiago da Villa de Pena-Macor
fizeraõ os seus Senadores (Dado à luz por Joseph António das
Neves. Lisboa, Manuel da Silva, 1751 [BN: L 941 V]). Ocupa-
-se de Mafra a p. 14.

ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO, Frei


Presidiu a diversas *Conclusões de Teologia do *Real
Colégio de Mafra (impressas entre 1760 e 1769, em
Lisboa).

ANTÓNIO DAS CHAGAS, Frei


Chegou ao Real Convento de Mafra, em Abril de 1771, com
ordens expressas de *Dom José I para remeter os frades
*Arrábidos ali residentes (durante 40 anos, 6 meses e 11
dias) para os diferentes conventos da sua Província, o que
aconteceria de imediato. Os religiosos egressos nada leva-
ram consigo, excepto “duas carradas de alguns [livros] de
que havia maior cópia”. Quando, a 30 do mesmo mês e ano,
chegaram os Vicentes, só ali acharam dez religiosos, a saber:

171
frei António das Chagas, o padre Provincial, o Guardião, o
Presidente e seis padres Mestres. No dia primeiro de Maio,
estes dez religiosos dirigiram-se à porta da *Basílica com o
pálio a receber o *cardeal Cunha o qual foi conduzido para
a *casa do Capítulo onde lhe leram o “Breve de Sua
Santidade onde era servido extinguir sete conventos dos
[…] padres Vicentes, da Província do Minho, e aplicar as
suas rendas para sustentar os mesmos, em o Real Convento
de Mafra”.

ANTÓNIO DE CRISTO, Frei


Em 1755, dava início à organização do catálogo das duas
livrarias então existentes no Real Edifício de Mafra, regidas
cada uma por seu bibliotecário: a de *frei António de Cristo,
situada nas duas casas posteriormente chamadas *Secretaria,
para as quais se entra por um grande pórtico existente na
escada da *Fonte das Almas, e a de *frei Matias da
Conceição, nas dependências do terceiro pavimento por
cima da *Despensa e *Porta do Carro. Três anos volvidos, no
de 1758, daria por concluída a tarefa.

ANTÓNIO DUARTE
Músico. Participou em diversos concertos patrocinados pelo
Palácio Nacional de Mafra, designadamente: em 7 de
Dezembro de 1985, com Nelson Rocha (trompete), no âmbito
do Ano Europeu da Música; em 4 de Junho de 1988; em 26 de
Novembro 1995; e em 10 de Agosto de 1997.

ANTÓNIO DA ENCARNAÇÃO, Frei


Defendeu em parceria com *frei Manuel do Rosário e *frei
José de Nossa Senhora do Monte Carmelo umas *Conclusões
de Filosofia intituladas Controversias Ex Universa Philosophia
selectas […] (Lisboa, 1752), presididas por *frei António do
Rosário.

172
ANTÓNIO DO ESPÍRITO SANTO, Frei
Em 4 de Maio de 1802, segundo *Eusébio Gomes
(Memórias), foi este substituto “dizer a culpa” no *Refeitório
e foi por ordem de “Sua Alteza mudado do convento de
Mafra, e riscado do nome e honras de Mestre sem jamais ter
acesso às cadeiras, por ter atacado o guardião no Sermão que
pregou quarta-feira de Cinzas”.

ANTÓNIO ESTÁCIO DOS REIS


Publicou Um astrolábio diferente de todos os outros (in Oceanos,
n. 11, Jul. 1992, p. 35-42), onde alude ao volume do Tesouro de
Prudentes (Lisboa, 1712) pertencente ao acervo da *Biblioteca
de Mafra.

ANTÓNIO FRANCISCO RAPOSO


Médico adjunto do Real Convento de Mafra, em 1765, com o
vencimento de 50$000 réis por ano e 2$500 réis anuais pelo
cargo de cirurgião adjunto. Residia na Ericeira (cf. A
Medicina no Convento de Mafra, in O Concelho de Mafra, 18 Jan.
1951).

ANTÓNIO FRANCISCO DA SILVA


Pintou de azul seis jarras de “barro branco” vidrado feitas
por José Correia, conforme consta do Livro da despesa da
*Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (fl. 8v [5 de Maio
de 1743] fl. 18v [4 de Maio de 1749]).

ANTÓNIO GOUVEIA
Luís de Matos referenciou as obras de António de Gouveia
(Comédias de Terêncio, Paris, 1552 e Opera Iuris Civilis, Lyon,
1562) pertencentes ao acervo da *Biblioteca do Palácio
Nacional (cf. Sobre António de Gouveia e a sua obra, in Bol.
Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, n. 4, Out.- Dez.
1966, p. 557-583).

173
ANTÓNIO DA GRAÇA, Frei
Autor da Oraçaõ funebre, que nas exequias do muito alto, pode-
roso e fidelissimo Rey de Portugal D. João V celebradas pela vene-
rável Ordem Terceira da Penitencia, na Igreja do Real Convento de
Saõ Francisco da Cidade de Lisboa em 2 de Setembro do anno de
1750. […] (Lisboa, Herdeiros de António Pedrozo Galram,
1750 [BN: R6627 P]). Alude a Mafra a p. 32-33.

ANTÓNIO IBOT
Em 1942, publicou, em Madrid, Fuentes Historicas Españolas
en la Biblioteca del Palacio Nacional de Mafra (Portugal).

ANTÓNIO DA ÍNDIA, Frei


*Frei António de São José.

ANTÓNIO ISIDORO DA NOBREGA


Médico, cavaleiro professo na Ordem de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Familiar do Santo Ofício e Secretário perpétuo da
Sociedade Médico-Lusitana. Autor do Elogio Funebre na sen-
tida morte do Fidelissimo, e Augustisimo [sic] Rey o Senhor D. Joaõ
V (Lisboa, Domingos Gonsalves, 1750 [BN: HG 4747 P]), onde,
a respeito do Monumento de Mafra, escreve (p. 6): “Diga-o o
Famoso Templo da Vila de Mafra, que fez esquecer o Escorial
de Espanha, e os mais notáveis Templos da Europa”.

ANTÓNIO JOAQUIM ANSELMO


Em 1926, publicou Bibliografia das Obras impressas em Portugal
no século XVI, com inúmeras referências a obras alegada-
mente pertencentes à *Biblioteca de Mafra. O equívoco seria
desfeito por *Guilherme de Assunção no Boletim Internacional
de Bibliografia Luso-Brasileira (v. 8, n. 1, 1967), onde, numa
nota sem título, indica algumas das obras erradamente
dadas como existentes no acervo daquela livraria, corrigindo
também as descrições de outras (p. 104).

174
ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA
Médico que começou, em 1820, a praticar a vacinação anti-
variólica, conforme atestam os Anais da Academia das Ciências.
Gozava da simpatia dos frades de Mafra que costumavam
convidá-lo para jantares no *Vale da Guarda. De um, ocor-
rido em 5 de Maio de 1825, dá notícia *Eusébio Gomes:
“Neste dia pôs o Guardião o hábito de Cristo no Amâncio e
houve jantar no Vale da Guarda, debaixo das faias que lá
havia, onde se armou uma barraca com mesa alta e bancos,
onde se juntaram os convidados que eram: o Deslandes, o
médico Almeida, o Amâncio e os frades da panelinha, ao
todo 24”. No ano seguinte houve outro destes banquetes,
assistindo nele o médico (cf. A Medicina no Convento, in O
Concelho de Mafra, 16 Jul. 1944).

ANTÓNIO JOSÉ NOGUEIRA


Mestre cerieiro estabelecido em Mafra e fornecedor da cera
ao real Convento da localidade. A 18 de Julho de 1764,
alguns anos após a sua morte, o genro, *José da Silva Costa,
solicitaria o privilégio para si. A petição havia de ser despa-
chada favoravelmente por *Dom José I, a 30 de Julho, con-
soante documentos divulgados por Dom Fernando Pais de
Almeida (cf. Um caso de administração do Convento de Mafra).
O Senado da Câmara tomou conhecimento oficial do despa-
cho quatro dias depois de emitido (3 de Agosto), vendo-se
compelido, contra a sua vontade, a cumpri-lo, uma vez que
o suplicante não fora examinado para o desempenho do ofí-
cio, conforme estipulavam os regimentos aprovados.

ANTÓNIO JOSÉ SOARES


Músico e compositor. Compôs expressamente para Mafra:
Hino: Te Deum Laudamus [PNMafra: R. Mms. 14. 5] para três
vozes, coro e seis órgãos (1807); Matinas de Natal [PNMafra:
R. Mms. 14.2] para voz, coro e quatro órgãos (1812); Matinas

175
de Defuntos [PNMafra: R. Mms. 14.1] para voz, coro e dois
órgãos (1813); Te Deum [PNMafra: R. Mms. 14.6] para quatro
vozes e dois órgãos (1814); Dixit Dominus [PNMafra: R.
Mms. 14.3] para quatro vozes, coro e cinco órgãos (1825).

ANTÓNIO LEAL MOREIRA


Músico e compositor. Compôs expressamente para Mafra, em
1807: Missa pequena [PNMafra: R. Mms. 9.1] para quatro
órgãos; Missa [PNMafra: R. Mms. 9.2] para quatro vozes, coro
e seis órgãos; Credo [PNMafra: R. Mms. 9.3] para quatro vozes
e seis órgãos; Vésperas alternadas de Nossa Senhora [PNMafra:
R. Mms. 9.5] para duas vozes, coro e quatro órgãos.

ANTÓNIO LUÍS GOMES


Mercê dos seus esforços, enquanto Director Geral da
Fazenda Pública, e dos do Inspector Superior das
Bibliotecas, Júlio Dantas, seria publicado, em 23 de Outubro
de 1937, o Decreto-Lei n. 28107, que determinava a abertura
da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra à leitura
pública, definindo também o quadro do seu pessoal: 1
segundo bibliotecário director, 1 aspirante, 1 contínuo de pri-
meira classe e 1 contínuo de segunda classe (Crónica: Abre-se
ao público a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Anais das
Bibliotecas e Arquivos, v. 12, n. 49-50, p. 161-162). Doravante e
até à década de 1970, a referida biblioteca ficaria administra-
tivamente dependente da Direcção-Geral da Fazenda
Pública e, tecnicamente, da Inspecção Superior das
Bibliotecas e Arquivos.

ANTÓNIO LUÍS DE OLIVEIRA


Fiel do Real Paço, ainda em Dezembro de 1798. Em sua subs-
tituição seria nomeado *Pedro Tavares de Brito, responsável
pela instalação em Mafra de uma oficina de tecelagem de
alcatifas. *Tapetes de Mafra.

176
ANTÓNIO MACHADO
Filho de Remígio, um dos que estudaram arquitectura na
*Casa do Risco de Mafra. Fez muitas obras, “tanto de escul-
tura, como de relevo” (cf. Cirilo, Memórias, p. 204).

ANTÓNIO DA MADRE DE DEUS, Frei


Leitor de Física (1737). Renunciou devido a doença, tendo
sido substituído por *frei Pedro de São Bernardino (29 de
Março de 1737). Presidiu a umas *Conclusões Ex Universa
Philosophia selectas (Lisboa, 1766 [BN: R 5878 V]). Coube-lhe
ser o expositor da Conclusão intitulada Hominem Symbolicum
sub variis expressionibus Theologicis, Exegeticis, Polemicis,
Moralibus, Asceticis, Criticis, ac Historicis Theologicè adumbra-
tum, atque scoticè inspectum, de *frei António de Santa Maria
dos Anjos Melgaço (Lisboa, 1752 [BN: R 5878 (11.º) A]).

ANTÓNIO DA MADRE DE DEUS GALRÃO, Frei


Bispo de São Paulo (Brasil) nomeado, em 24 de Novembro
de 1749, por *Dom João V. Tomou posse do cargo por procu-
ração dada ao arcedíago doutor Mateus Lourenço de
Carvalho, tendo entrado solenemente na sua diocese a 28 de
Junho de 1751. Pregou o Sermaõ da Dedicaçaõ da Igreja de
Mafra, prégado no Anno de 1740 […] (Lisboa, Francisco Borges
de Sousa, 1758 [BN: R 8527 P; PNMafra: BVolante 2-11-8-7
(10.º) e 2-11-6-2 (1.º)]).

ANTÓNIO MANUEL FONSECA (27.9.1796-4.10.1890)


Pintor, filho do também pintor João Tomás da Fonseca. Foi
professor de pintura histórica, nomeado em 29 de Agosto de
1837, e, posteriormente, director da Escola e do Museu da
Real Academia de Belas Artes de Lisboa. Sócio do De Virtuosi
al Pantheon (2 de Janeiro de 1840), do Instituto Imperial de
França (20 de Dezembro de 1862) e da Real Academia de las
Tres Nobles Artes de São Fernando, de Madrid (3 de Janeiro

177
de 1872). Do acervo do Palácio Nacional de Mafra [inv. 1772]
consta o incensado óleo (3,04 x 2,14 m) Eneias salvando o pai,
Anquises, do incêndio de Tróia (1843), exibido nas Exposições
Universal de Paris (1855) e Internacional de Madrid (1871).

Este quadro suscitou viva polémica que originou diversos


artigos de opinião (Almeida Garrett) e opúsculos (Henrique
Ernesto de Almeida Coutinho, Joaquim António Marques),
um dos quais da autoria do próprio pintor, em defesa das

178
suas opções estéticas (O quadro Eneas: carta dirigida aos redac-
tores da Imprensa Portugueza, Lisboa, 1855). Não obstante, na
opinião de diversos críticos, de entre os quais sobressai o
nome de Sousa Viterbo, os frescos do palácio Quintela cons-
tituem o seu “trabalho mais valioso e de mais amplas dimen-
sões”. O Eneias seria adquirido por *Dom Fernando de Saxe
para o Palácio da Ajuda, de onde foi transferido para Mafra.
Bibliografia: AGAPITO, Carta do cidadão Agapito da Baixa ao Barbeiro,
in O Braz Tisana, n. 60 (20 Mar. 1855); CARVALHO, Ayres de, A tela
Eneias salvando seu pai Anquises do incêndio de Tróia do pintor
António Manuel da Fonseca, in Obra Mafrense, Mafra, 1992, p. 187-
189; CHICÓ, Mário Tavares / SANTOS, Armando Vieira; /
FRANÇA, José Augusto, António Manuel da Fonseca, in Dicionário da
Pintura Portuguesa, Lisboa, Editores Estúdios Cor, 1973, v. 3, p. 141-
142; COUTINHO, Henrique Ernesto de Almeida, Algumas reflexões
sobre o Eneas salvando a Anchises: quadro histórico do senhor A. M. da
Fonseca, Porto, 1845; FRANÇA, José Augusto, As Artes em 1843: O
Eneias de A. M. da Fonseca, in A Arte em Portugal no Século XIX,
Lisboa, Bertrand Editora, 1990, v. 1, p. 246 – 259; idem, António
Manuel da Fonseca, in Soleil et Ombres: l’art Portugais du XIX eme siè-
cle, Paris, 1987, p. 125, n. 80; GARRETT, Almeida, Obras do Professor
de pintura histórica senhor António Amnuel Fonseca: Eneas salvando a
Anchises, in Jornal de Belas-Artes, v. 1 (1843-44), p. 58-62; MACEDO,
Diogo de, Académicos e Românticos, in Museum, s. 1, n. 7 (1950), p.
12-14; MARQUES, Joaquim António, Algumas reflexões sobre o quadro
histórico de Eneas salvando Anchises […], 1845; idem, O quadro Eneas:
analyse, Lisboa, s. d.; RACZYNSKI, Atanásio, Dictionaire Historico-
Artistique du Portugal, Paris, 1847, p. 99-100; idem, Les Arts en
Portugal: lettres adressées a la Société Artistique et Scientifique de Berlin
et Accompagnées de Documents, Paris, 1847, p. 94, 104 e 114; A
Revolução de Setembro, n. 838 (21 Nov. 1843), p. 2-3; SERRA,
Francisco Pereira, Comunicado: Exposição em Lisboa, in O Portuguez.
n. 666 (27 Abr. 1855); idem, Comunicado: Ainda a Exposição., in O
Portuguez. (6 Jun. 1855) p. 2-3; SOARES, Elisa / CARNEIRO, Paula
Dias; / SANTOS, Paula Mesquita dos, As Belas Artes do Romantismo
em Portugal, Lisboa, 1999, p. 29-50; TABORDA, J. Cunha, Regras da
Arte da Pintura, Lisboa, Imprensa Régia, 1815, p. 1-28; Variedades, in

179
O Progresso (25 Mar. 1855), p. 5; VITERBO, Sousa, Notícia de alguns
pintores e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em
Portugal (série I), Lisboa, 1903, p. 68-77; idem, Notícia de alguns pin-
tores e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal
(série III), Lisboa, 1911, p. 77-81

ANTÓNIO MARIA MARAGLIANO (1664-1741)


*Ayres de Carvalho presume que tenha sido o escultor da
imagem de Cristo, em madeira (com sete palmos de com-
prido), trazido de Génova por *Domingos Massa, quando
em 19 de Março de 1739 se achava ao serviço de *Dom João
V como carpinteiro da acomodação dos sinos das torres da
*Basílica de Mafra. Massa doá-la-ia à *Ordem Terceira de São
Francisco no dia da sua recepção, tendo sido adoptada por
*João Pedro Ludovice como modelo das imagens dos dez
andores da *Procissão da Penitência. No ano de 1761, *Vieira
Lusitano, *Alexandre Giusti e *Machado de Castro mostra-
vam-se preocupados com o seu estado de conservação, pro-
pondo medidas concretas: “[…] tinha observado […] que a
nossa Imagem do Santo Cristo que vai no andor do Monte
Alverne [São Francisco] na nossa procissão da Penitência,
estava falta de algum ornato na toalha que lhe cinge a cin-
tura do mesmo Senhor e que para isto se mandasse acres-
centar e compor com madeira seguindo-se a mesma forma
da que tem sem descrepar em coisa alguma; que sendo
assim ficaria a Sacro Santa Imagem com mais decência, e
veneração […]” (cf. Livro 1.º das Eleiçoens, capítulos, fl. 140).
Ayres de Carvalho atribuíria o restauro a Machado de Castro
(cf. Mensário das Casas do Povo).

ANTÓNIO MONTANTE
Escultor e arquitecto de origem florentina. A *Basílica de
Mafra possui duas obras deste artista: as estátuas de *São
Pedro e de *São Paulo (1732).

180
ANTÓNIO MOURÃO TOSCANO
Autor de Lenitivo a Portugal, na morte do Augustissimo, e
Fidelissimo Senhor Rey Dom Joaõ V. [Lisboa], (s. l., [1750 ?]
[BN: HG 4747 P]), onde se lê: “[…] ó Portugal […] aquele é o
Real Mosteiro de Mafra, onde viverá sempre o teu Monarca
[i. e., Dom João V]”.

ANTÓNIO DO NASCIMENTO MOCAMBO, Frei


Barbosa Machado chama-lhe *António da Natividade
Mocambo. Professou a 15 de Dezembro de 1697 no convento
de Alferrara (Setúbal), nele se tornando lente de Prima de
Teologia. Ex-Leitor de Teologia e Definidor da Província da
Arrábida no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo
António de Mafra em 30 de Outubro de 1732. Pregador de
renome. Subscreve a Aprovação dos Sermoens Varios,
Panegyricos, e Moraes, tomo I. (Lisboa, 1735 [BN: Trunc 738
P]) de *frei António de Santa Ana.

ANTÓNIO DA NATIVIDADE MOCAMBO, Frei


O mesmo que *frei António do Nascimento Mocambo.

ANTÓNIO DE OLIVEIRA, Padre


Sacerdote do hábito de São Pedro, Mestre em Artes, e
Teólogo dos Estudos Gerais da Companhia de Jesus da
Cidade da Baía, e neles muitas vezes Examinador de
Filosofia, Missionário Apostólico por Sua Santidade,
Visitador Geral do Sertão de baixo e da cidade de Sergipe de
el Rei, com poder de crismar por indulto do Papa Benedito
XIV. Autor de Estatua de Ouro, que o muito Alto, e muito
Poderoso Rey, e Senhor Nosso D. João V o Fidelissimo, de eterna, e
saudosa memoria, erigio nas immortaes, e gloriosas acçoens da sua
heroica vida, e para indelevel monumento de tão Augusto, e incom-
prehensivel Monarca expoem neste Sermaõ […] Prégado nas
sumptuosas, e Reaes Exequias, que em 15 de Dezembro de

181
1750 celebràrão as Religiosas de Santa Clara do Desterro, no
seu Mosteiro da mesma Cidade da Bahia (in Relação
Panegyrica das honras funeraes, que às memorias do muito Alto, e
muito Poderoso Senhor Rey Fidelissimo D. João V. Consagrou a
Cidade da Bahia Corte da America Portugueza: escrita, e dedicada
ao Excellentisssimo, e Reverendissimo Senhor D. Joseph Botelho
de Mattos, Arcebispo da Bahia, Primaz dos Estados do Brasil, do
Conselho de Sua Magestade, Lisboa, Régia Oficina Silviana e
da Academia Real, 1753, p. 213-247 [BN: L 1136 A]). A p. 222,
escreve: “Publique-o também a sumptuosa Basílica de Mafra
[…] a cuja vista, na matéria e obra, desaparece da vista, e
estimação o Templo de Diana em Éfeso”.

ANTÓNIO OLIVEIRA FREIRE


Autor da Descripçam Corografica do Reyno de Portugal, que con-
tem huma exacta relaçam de suas Provincias, Comarcas, Cidades,
Villas, Freguezias, montes, rios, portos com a sua situaçaõ, exten-
saõ e limites, a qualidade de cada paiz, as fortalezas, o numero, cos-
tumes, e commercio dos seus habitantes, as principaes dignidades
Ecclesiasticas, os titulos honorificos de sua Nobreza, a serie, e
acçoens mais famosas de seus Reys, e tudo o mais memoravel desta
antiga, e illustre Monarchia. Dedicada ao Illustrissimo e
Excellentissimo Senhor Dom Manoel de Lancastro, Duque de
Banhos etc. (Lisboa Ocidental, Miguel Rodrigues, Impressor
do Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca, 1739). Afirma
acerca do Convento de Santo António: “[…] é a maior oferta
que se podia dedicar a Deus na Terra” (p. 113-114).

ANTÓNIO DAS ONZE MIL VIRGENS, Frei


Autor da Oraçaõ funebre, histórica e panegyrica, que nas solem-
nes Exequias do Rey Fidelissimo o Senhor D. Joaõ V de Portugal,
celebradas no Convento dos Religiosos da Terceira Ordem de N.
Serafico Patriarca S. Francisco da Villa de Viana do Alentejo no
dia 30 de Agosto de 1750, pela illustre, e nobre Camera da mesma

182
Villa […] (Lisboa, Oficina Patriarcal de Francisco Luiz
Ameno, 1754 [BN: R 21716 P]). A Real Obra de Mafra é refe-
rida a p. 20.

ANTÓNIO DE PÁDUA PUZZI


Músico e compositor. Compôs expressamente para Mafra:
Responsórios para a festa de S. Pedro de Alcântara [PNMafra: R.
Mms. 11.3] para solo, coro e seis órgãos (1805) e Missa de
Canto Figurado [PNMafra: R. Mms. 11.2] para dois coros e
quatro órgãos (1818).

ANTÓNIO PEREIRA DE FIGUEIREDO


Faz referência ao *Real Colégio de Mafra a p. 24 do opúsculo
intitulado Paralelo de Augusto Cesar e de Dom José o
Magnanimo Rey de Portugal (Lisboa, Régia Officina
Tipográfica, 1775). Também interessam a Mafra os Elogios dos
Reis de Portugal, em latim, e em portuguez, illustrados de notas
historicas, e criticas (Lisboa, 1785).

ANTÓNIO PECORARO
Cunhado de *Alexandre Giusti, admitido como aprendiz da
*Escola de Escultura de Mafra, entre 1753 e 1756.
Permaneceu a seu lado cerca de nove anos, tendo seguido,
posteriormente, para Nápoles estudar música.

ANTÓNIO PIO, Dom (21.3.1795-11.6.1801)


Príncipe da Beira, segundo filho de *Dom João VI e *Dona
Carlota Joaquina. Iconografado num fresco alegórico pin-
tado por *Cirilo Volkmar Machado (1799?) na abóbada do
*Oratório Norte ou de São José. O Infante, “nos braços do
seu Anjo da Guarda, beija o estandarte da santa Religião,
pendente da cruz Pontifícia”. A composição é alusiva à esco-
lha do Papa Pio VI para padrinho do Infante.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado

183
no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol. Cultural
‘95, Mafra, 1996, p. 314-315; MACHADO, Cirilo Volkmar,
Aditamento a As Honras da Pintura, Escultura e Arquitectura de João
Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 116

ANTÓNIO DOS PRAZERES, Frei


Nas suas Memórias, *Eusébio Gomes regista que, no dia 18
de Abril de 1804, foi este religioso arrábido “repreendido no
Refeitório sem dizer a culpa” e “nele todos os hebdomadá-
rios por não lavarem a loiça”.

ANTÓNIO DA PURIFICAÇÃO, Frei


Uma das cinco testemunhas idóneas, inquiridas, em 7 de
Março de 1834, quando se procedeu ao inventário da
*Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, a fim de confirmar
a sua integridade. As restantes foram: *Gaspar Carlos da
Silva (durante mais de 41 anos habitante do mosteiro, onde
foi Guardião), *frei Joaquim de Nossa Senhora das Dores e
*frei Brás do Sacramento (religioso converso) e *Lourenço
Justiniano Torcato (durante 42 anos aparelhador de carpin-
teiro no mosteiro).

ANTÓNIO DA PURIFICAÇÃO MORAIS CARDOSO,


Padre (f. 11.1882)
Por morte do anterior bibliotecário do Paço Real de Mafra,
foi nomeado responsável pela livraria (Diário do Governo), em
2 de Maio de 1855, cargo que exerceria até Novembro de
1882, data do seu próprio óbito. A Gazeta do Campo, de 26 de
Agosto de 1866, incluiu missiva subscrita por Um estudante,
intitulada Frei Tomé das Chagas e o bibliotecário d’ esta villa, da
qual saía manifestamente prejudicada a imagem do padre
António da Purificação Morais Cardoso, acusado de não
facultar aos investigadores “nem a vista do catálogo, nem a
proximidade da galeria”, alegando até a inexistência no

184
acervo de certos autores, supostamente para impedir a sua
consulta. Por ofício, datado de 7 de Novembro de 1876, a
Administração da Fazenda da Casa Real mandava entregar
ao padre António da Purificação Morais Cardoso, então
Provedor do Hospital de Nossa Senhora das Dores da vila
de Mafra, quatro quadros a óleo, originários de capelas
secundárias do Real Convento, figurando: São Pedro
Regalado, Santa Luísa Albertoni, Santos Mártires de Marrocos,
um santo não identificado, vestido de frade, tendo na mão
direita um coração inflamado (Santo António?). *Ayres de
Carvalho observou os quadros cedidos com a anuência do
rei *Dom Luís, na capela da dita instituição, achando-os
“bastante estragados pela humidade e com alguns rasgões”
[AHM: ofício de 13 de Novembro de 1948 (fotocópia)]. No
mês de Março do ano seguinte comunicava à Repartição do
Património da Direcção Geral da Fazenda Pública a restitui-
ção das telas emprestadas, desde 21 de Novembro de 1876,
ao seu legítimo proprietário.

ANTÓNIO RAINHA SANTA, Frei


Substituto de Moral (1740 a 1741), Leitor de Moral (1743 a
1745). Retirar-se-ia para a sua Província em 1745. Presidiu às
Conclusiones Canonico-Morales de jejunio Ecclesiastico (Lisboa,
1746 [BN: TRUNC 631 A]).

ANTÓNIO REBELO DA FONSECA (f. 5.3.1728)


Colaborador e conselheiro artístico do Magnânimo, e pri-
meiro responsável pelas encomendas de obras de arte
importadas para o Real Convento de Mafra. Por sua morte, o
cargo passaria a ser desempenhado por *José Correia de
Abreu e pelo *padre Carbone. Em 28 de Janeiro de 1718,
*António Soares de Faria, tesoureiro da Real Obra de Mafra,
recebe ordens subscritas pelo próprio *Dom João V para
“que mande logo abrir os alicerces da Cerca e plantar árvo-

185
res silvestres e fazer o tombo das terras compradas”. Na
sequência dessas instruções, António Rebelo da Fonseca
daria início à construção dos jardins da *Cerca conventual.

ANTÓNIO DO ROSÁRIO, Frei


Presidente de, entre outras, as seguintes *Conclusões de
Filosofia: Controversias Metaphysicas juxta Mentem Subtilis
Doctoris Joannis Duns Scoti (Lisboa, 1752), defendida por *frei
José de Jesus Maria, *frei Fabiano de Santa Rita, *frei
Joaquim de Santa Ana e *frei José de Santa Ana e
Controversias Ex Universa Philosophia selectas […] (Lisboa,
1752), defendida por *frei António da Encarnação, *frei
Manuel do Rosário e *frei José de Nossa Senhora do Monte
Carmelo.

ANTÓNIO DE SANTA ANA, Frei


Religioso da Provincia da Arrábida e Consultor do Santo
Ofício. Leitor de Artes (1735), Escritura (1737-1738) e de
Teologia na cadeira de Prima nos *Reais Estudos de Mafra
no período compreendido entre 1737-1739. Presidente, entre
outras das seguintes *Conclusões de Teologia e Filosofia:
Conclusiones Theologicas de Virtute Poenitentiae […] (Lisboa,
1737) [BN: TRUNC 614 A]; Conclusiones Theologicas de
Poenitentia Sacramento […] (Lisboa, 1738) [BN: idem];
Conclusiones Theologicas de Restauratione justitiae commutati-
vae Laesae, seu de Restitutione […] (Lisboa, 1739) [BN: idem];
Logicales conclusiones [BN: R 5878 A]; Conclusiones theologice de
Angelis [BN: R 5871 A]; Conclusiones biblico-historicas [BN:
idem]. Pregador de nomeada, imprimiu significativo
número de Orações e Sermões, cujo inventário provisório se
apresenta: Oraçaõ funebre, nas Reaes Exequias, que celebraraõ os
Religiosos da Santa Provincia da Arrabida do Real Convento de
Nossa Senhora, e Santo António junto à Villa de Mafra, á saudosa
memoria do Serenissimo, e Fidelissimo Senhor Rey D. Joaõ V fun-

186
dador do mesmo Real Convento. […]. Em 8 e Agosto de 1750
(Lisboa, Régia Oficina Silviana, e da Academia Real, 1750
[BN: L 941 V]: a p. 22 lê-se: “[…] o Sereníssimo Senhor Rei
Dom João o V, assistindo a estes pobres clausurados no seu
Real Palácio, enquanto vivo e expressando repetidas vezes
a vontade de o seu Real corpo os acompanhar depois de
morto. Os homens tiveram a ventura de lograr uma e outra
assistência: estes pobres Menores não conseguiram o total
complemento daquele Real desejo, porque ocorreram justís-
simas causas, que obviaram a sua execução […]”); Sermoens
Varios, Panegyricos, e Moraes, que no Real Convento de N.
Senhora, e S. Antonio junto a Mafra, e em varios Pulpitos da Corte
de Lisboa, e fóra della […]. Tomo primeiro: Offerecidos à
Soberana Imperatriz da Gloria Maria Santissima no Mysterio de
sua Immaculada Conceição na sua Real Capella do mesmo
Convento junto a Mafra. Dados ao Prèlo por hum Escravo da
mesma Senhora (Lisboa Ocidental, Nova Officina de Maurício
Vicente de Almeida, 1735 [BN: Trunc 738 P: inclui Sermão na
Eleiçam do Primeiro Capitulo Provincial, que se celebrou no Real
Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto a Mafra, ano
1731, em 7 de Abril (p. 29-47); Sermão do Corpo de Deos, prégado
na Dominga infra Octavam Corporis Christi no Real Convento
de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto a Mafra, dia de S. João
Sahagun, ano 1732 (p. 178-197); Sermão no segundo dia do
Triduo de Quarenta Horas, prégado no Real Convento de Nossa
Senhora, e Santo Antonio, junto a Mafra, ano 1731 (p. 198-224).
Teve 2.ª impressão em 1748]); Tomo segundo: Offerecidos á
Gloriosissima Senhora S. Anna Mãy da Mãy de Deos, e Avó de
Jesu Christo, no Altar da Sagrada Familia do Real Convento de
Nossa Senhora, e Santo Antonio junto á Villa de Mafra. Dados à
impresa por hum devoto da Provincia da Arrabida (Lisboa
Ocidental Oficina de Miguel Rodrigues, Impressor do
Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca, 1738 [BN: Trunc
739 P: inclui Sermaõ da Dedicação Anniversaria do Real Templo

187
de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto a Mafra, aos 22 de
Outubro ano 1732 (p. 20-45); Sermaõ da Incarnação do Divino
Verbo no Thalamo do Purissimo Ventre de Maria Santissima, pré-
gado no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto a
Mafra, aos 25 do mês de Março ano 1735 (p. 46-69); Sermaõ em
Acção de Graças pelo Capitulo Provincial, que se celebrou no no
[sic] Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto a
Mafra, aos 12 de Junho de 1734, prégado no Convento de Nossa
Senhora da Serra da Arrábida da mesma Provincia aos 15 de Julho
do mesmo ano (p. 70-89); Sermaõ de Nossa Senhora, que com o
mesmo titulo se applaude como titular, e patrona do real Convento
junto á Villa de Mafra, prégado no mesmo Real Convento aos 8 de
Setembro ano 1735 (p. 112-139)]). Tomo sexto: Offerecidos aos
Gloriosos S. João Bautista, e S. João Evangelista, no Altar da
Sagrada Familia do Real Convento de N. Senhora, e Santo Antonio
junto à villa de Mafra. Dados ao Prélo por João da Costa Araujo
(Lisboa, Régia Oficina Silviana e da Academia Real, 1750
[BN: R 5024 P: inclui Sermão do Corpo de deos, prègado com o
Santissimo exposto na Dominga infra octavam Corporis
Christi, no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo Antonio
junto à villa de Mafra, em 12 de Junho de 1746 (p. 1-32) = com-
para a Basílica de Mafra ao monte Horeb; Sermão II da
Gloriosa Virgem, Martyr, e Doutora S. Catherina, prègado no Real
Convento de N. Senhora, e Santo Antonio, junto à villa de Mafra,
ano 1732 (p. 463-488)]).
Bibliografia: GANDRA, Manuel J. Bibliografia Mafrense: impressos até
1800, in Bol. Cultural ’98, Mafra, 1999, p. 840-842; MACHADO,
Barbosa, Biblioteca Lusitana, v. 1, p. 206 e v. 4, p. 23.

ANTÓNIO DE SANTA CLARA, Frei


Substituto de Teologia de Prima (1743 e 1744). Presidiu a
umas Conclusionis Theologico-speculativas et Morales de Justitia
distributiva (Lisboa, 1752), defendidas por *frei Caetano de
Jesus Maria.

188
ANTÓNIO DE SANTA HELENA, Frei
Substituto de Moral e, posteriormente, de Metafísica (1737),
de Lógica (1738) e de Física (1739), Leitor de Lógica (1740),
de Física (1741), de Metafísica (1741) e de Escritura (1743 a
1745). Presidiu, entre outras, às Conclusiones Biblico-
Chronologicas de Statu, Progressu, variaque Fortunae gentis
Hebraicae, comprehendentes sacros libros Josue, Judicum, ac Ruth
ab ingressu terrae promissae usque ad navitatem Obed avi Davidis
[…] (Lisboa, 1745 [BN: R 5138 A]).

ANTÓNIO DE SANTA MARIA DOS ANJOS, Frei


O mesmo que *frei António de Santa Maria dos Anjos
Melgaço.

189
ANTÓNIO DE SANTA MARIA DOS ANJOS MEL-
GAÇO, Frei (17.6.1708-14.8.1780)
Também chamado simplesmente *frei António de Santa
Maria dos Anjos. Aluno do colégio jesuítico de São Paulo
(Braga), cursou Teologia no colégio dos Eremitas da mesma
cidade. Ingressou no convento de São Francisco de Lisboa, a
20 de Janeiro de 1730, tendo professado em 22 de Janeiro de
1731. Foi um dos primeiros padres Mestres a ser chamado
por *Dom João V para os *Reais Estudos de Mafra (“Real
Universidade de Mafra”), onde se manteve, desde 1737,
durante 16 anos consecutivos. Substituíu Filosofia (Lógica e
Física) durante dois anos, tendo lido a mesma faculdade
(Lógica, Física e Metafísica) durante três anos e Teologia
onze anos: dois na cadeira de Véspera e nove na de Prima.
Custódio da sua Província desde 1749, tornou-se Provincial
dela em 5 de Junho de 1751, tendo-se retirado no final desse
ano lectivo, depois de haver jubilado na cadeira de Prima, e
ter presidido à Conclusão de Filosofia Hominem Symbolicum
sub variis expressionibus Theologicis, Exegeticis, Polemicis,
Moralibus, Asceticis, Criticis, ac Historicis Theologicè adumbra-
tum, atque scoticè inspectum (exposta por *frei António da
Madre de Deus), onde são citados autores como Pico della
Mirandola, Robert Fludd, Paulo Ricci, etc. (Lisboa, 1752 [BN:
R 5878 (11.º) A]). A sua docência em Mafra pode ser seguida
a partir dos Cursos filosóficos (1739-1742) e teológicos (1742-
1746, 1746-1750 e 1750-1754) impressos. Deles se conclui que
não elegeu o método “rígido escolástico”, nem o “rígido
eclético”, mas sim o intermédio, que sobrepunha a verdade a
qualquer Mestre. Era conhecedor da Filosofia e da Física
modernas, razão por que estava convicto que o filósofo cris-
tão devia adoptar o sistema peripatético, de preferência ao
estóico, platónico, epicureu, cartesiano, gassendista ou new-
toniano. Algumas outras *Conclusões a que presidiu:
Organum Scoto-Aristotelicum juxta mirabilem Doctoris Subtilis

190
aciem fideliter, ac methodicè […] (Lisboa, 1739 [BN: TRUNC
614 A; TRUNC 629 A]); Palestra Philosophica Ad Mentem
Doctoris Subtilis, venerabilisque Magistri Joannis Duns Scoti […
(Lisboa, 1739 [BN: TRUNC 614 A; L 113 A]); Systemata
Philosophica universitas difficultates per diffusum Scibilium pela-
gus dispersas ad Mentem Doct. Subt. Joannis Duns Scoti (Lisboa,
1741 [BN: R 5139 A]); Conclusiones Theologico-Dogmaticas De
Perfectionis acquirendae statu, juxta veridicam Sacrae Scripturae,
Conciliorum, Juris Pontifici, Sanctorum Patrum, Doctorisque
Subtilis intelligentiam contextas (Lisboa, 1745 [BN: R 5138 A]);
Conclusiones Theologico-Dogmaticas, Canoniscasque de
Ecclesiastica Hierarchia […] (Lisboa, 1746 [BN: R 5138 A]);
Conclusiones Theologico-Dogmaticas De Ecclesiae Militante juxta
veridicam, inconcussamque Sacrae Scripturae, Conciliorum,
Sanctorum Patrum, Catholicorumque Doctorum, praecipuè
Joannis Duns Scoti […] (Lisboa, 1747 [BN: R 5138 A]);
Conclusiones AEnigmaticae, Canonicae […] super quem Scotus
ibidem (Lisboa, 1747 [BN: R 5139 A]); Scotus Aristotelicus seu
Philosophia peripatetica ad commodiorem Regalis Academiae
Mafrensis usum, juxta mentem […] Duns Scoti (Lisboa, 1747-
1759, 2 vols.); Oratio encomiastica in Laudem eminentissimi
Domini Cardinalis Ordi, Lusitani Imperii Nuntii Apostolici,
extémporé hábita in Regáli Mafrénsi Didascálio, ipso
Eminentissimo Príncipe assisténte, Académiamque illustránte
[PNMafra: BVolante]); Oratio Consolatoria pro sublevanda
ingenti Regalis Mafrensis Academiae afflictione, ibidem recitata:
Cum illius studia die 22 Octobris de more aperiebantur
[BMMafra: 37RC-MF-ORA]). Foi autor, entre outras, das
seguintes Orações: Oratio in laudem Exmi. Domini D. Josephi
Maria Fonseca ab Ebora, habita in Regali Mafrense Atheneo
(Lisboa, 1742); Oratio encomiastica in Laudem eminentissimi
Domini Cardinalis Ordi, Lusitani Imperii Nuntii Apostolici,
extémporé hábita in Regáli Mafrénsi Didascálio, ipso
Eminentissimo Príncipe assisténte, Académiamque illustránte, in

191
Sacra Theologia Conimbricensis Doctor, ac in eadem facultate
Primarius Cathedraticus Mafrensis [PNMafra: BVolante]; Oratio
Consolatoria pro sublevanda ingenti Regalis Mafrensis Academiae
afflictione, ibidem recitata: Cum illius studia die 22 Octobris de
more aperiebantur [no ano de 1750] (in Sacra Theologia
Conimbricenci Doctore, ejusdem facultatis Primario Moderatore,
ac Provinciae Portugaliae actuali Custode [BMMafra: 37RC-MF-
ORA]).
Bibliografia: ANDRADE, A. A., A orientação do estudo da Filosofia dos
Franciscanos, in Brotéria, v. 43 (1946), p. 43-45; Memória da forma com
que Dom João o Quinto mandou para Mafra religiosos para Lentes de
Faculdade [Arquivo Casa Cadaval (Muge): ms. 801, fl. 682 e ss.]

ANTÓNIO DE SANTA MARTA LOBO


Refere-se ao Monumento de Mafra, a p. 35-36 da Oraçaõ
funebre, historica, e panegyrica recitada nas solemnissimas exe-
quias, que na morte do Fidelissimo Rey e Senhor D. Joaõ V de
Portugal, de Saudoza, e Eterna Recordaçam, celebrou o
Excellentissimo, e Reverendissimo Senhor D. Fr. Joseph Maria
da Fonseca e Evora, do Conselho de S. Magestade, Ex-Geral dos
Menores, Assistente do Sólio de S. Santidade, Bispo do Porto,
etc. etc. Na Santa Igreja Cathedral em 5 de Setembro de 1750.
(in Relação das Solemnissimas Exequias, e Funeraes honras do
rey Fidelissimo D, João V o Magnanimo que se fizerão na Cidade
do Porto, e que na Igreja Cathedral da mesma cidade celebrou o
Excellentissimo e Reverendissimo Senhor D. Fr. Joseph Maria da
Fonseca e Evora […] Composta e Ordenada por Rafael de Sá
Bayesca, e Montarroyo. Porto, Oficina Episcopal do
Capitão Manuel Pedroso Coimbra, 1751, p. 19-39 [BN: R
19121 (7.º) P]).

ANTÓNIO DE SANTA TERESA DE JESUS, Frei


Professor de Artes nos *Reais Estudos de Mafra, onde presi-
diu a umas *Conclusões de Filosofia que versaram a Lógica

192
do Doutor Subtil, Duns Escoto (Lisboa, 1742). Conserva-se
manuscrito na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
o seu Cursus Philosophicus Scoto-Aristotelicus [ms. 2332] (cf.
Catálogo dos manuscritos da BGUC: cod. 2310-2376, Coimbra,
1963, p. 78-81).

ANTÓNIO DE SÃO JOÃO, Frei


Presidente, entre outras, das *Conclusões de Teologia e
Moral defendidas por *frei José de Nossa Senhora da Luz
(Lisboa, 1758), *frei Miguel de Santa Rita (idem), *frei José
de Nossa Senhora da Luz (Lisboa, 1759) e de *frei Caetano
de Nossa Senhora do Pópulo (Lisboa, 1760 [BN: R 5871 A]).

ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ, Frei (1648-1710?)


Natural do Carvalhal de Cheleiros e baptizado António
Gaspar (cf. Frei Cláudio da Conceição, Gabinete Histórico, v. 8,
Lisboa, 1820, p. 68-72 e Francisco Duarte Resina, Cartas da
Aldeia. LVII, in O Concelho de Mafra, 15 Ago. 1943). Também
conhecido como *frei António da Índia por ter seguido para
Malaca com o respectivo bispo e haver permanecido em Goa
enquanto durou o governo do conde de Vila Verde. Ficou a
dever-se a um cronista arrábido, *frei José de Jesus Maria, na
sua Crónica da Província de Santa Maria da Arrábida da regular
e mais estreita observancia da Ordem do Seráfico Patriarca S.
Francisco (Lisboa, 1736) a divulgação da lenda que credita a
este arrábido, “muito piegas”, a paternidade do alvitre que
teria originado o *voto de *Dom João V de construir um
cenóbio junto à Vila de Mafra, no intuito de ver garantida a
sucessão dinástica.

ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ LINHARES, Frei


Presidente das Conclusiones Theologico-Morales de incruento
missae sacrificio ex Sanctorum Patrum Auctoritatibus […]
(Lisboa, 1745 [BN: R 5138 A]).

193
ANTÓNIO SIMÕES
Organeiro. Em 1985, com o patrocínio da Fundação Calouste
Gulbenkian, deu início ao restauro do *Órgão da Epístola da
*Basílica, dado por concluído em Outubro de 1990. Colocou
manípulos junto ao teclado, os quais possibilitam comandar
todos os registos a partir da consola. O restauro dos restantes
órgãos da *Basílica de Mafra, prossegue ainda, confiado pelo
IPPAR ao organeiro *Dinarte Machado.

ANTÓNIO SOARES DE FARIA


Nomeado tesoureiro do dinheiro aplicado à Real Obra de
Mafra por *alvará de *Dom João V, de 26 de Outubro de 1714
[ANTT: Chancelaria de Dom João V, livro 42, fl. 157]. Em 28 de
Janeiro 1718, recebia ordens subscritas pelo próprio monarca
para que mandasse “logo abrir os alicerces da Cerca e plan-
tar árvores silvestres e fazer o tombo das terras compradas”.
Na sequência dessas instruções, *António Rebelo da Fonseca
daria início à construção dos jardins da *Cerca conventual.

ANTÓNIO TEIXEIRA
Em Fevereiro de 1730, António Teixeira, compositor e exa-
minador de *cantochão de todo o Patriarcado deslocou-se a
Mafra, talvez com o objectivo de preparar a componente
musical da cerimónia de sagração da *Basílica, em 22 de
Outubro [BPÉvora: cod. CIV / I].

ANTÓNIO TRIGO
Cirurgião aposentado do Real Convento de Mafra, com o
vencimento de 5$000 réis anuais (cf. A Medicina no Convento
de Mafra, in O Concelho de Mafra, 18 Jan. 1951).

ANTÓNIO XAVIER MACHADO


Irmão de *Joaquim Machado de Castro. Organeiro e admi-
nistrador dos Reais Órgãos de Mafra, a quem foram cometi-

194
dos, em Agosto de 1792, os trabalhos de reconstrução dos
órgãos da *Basílica. O primeiro órgão a ser dado por con-
cluído foi o do Evangelho, da *capela do Santíssimo
Sacramento, o melhor de todos os do cruzeiro, o qual ostenta
numa cartela metálica a inscrição: Sacramento / António Xavier
Machado o fez / em 4 d’ Outubro de 1806. Em Junho do ano
seguinte, terminou o órgão do Evangelho da *capela da
Sagrada Família que ostenta a inscrição numa cartela metá-
lica de formato elíptico: Conceição / António Xavier Machado o
fez / em 13 de Junho de 1807, bem como o da Epístola da
mesma capela que ostenta numa cartela metálica: S. Barbara
/ Joaquim António Peres Fontana / o fez em 13 de Junho d’ 1807.
Os dois órgãos da capela-mor, reconstruídos segundo o sis-
tema Lichtenthal modificado (de 4 oitavas e meia com 16
registos), só em Outubro haviam de ficar prontos: o da
Epístola ostenta a inscrição: Epistola / Joaquim António Peres
Fontanes / o fes em 4 d’ Outubro d’ 1807 e um medalhão em
metal cinzelado, atribuído a *Carlo Amatucci, representando
*Dom João VI olhando para a Virgem do retábulo do altar
mor; o órgão do Evangelho, que termina superiormente num
painel de bronze com vários emblemas de Santo António,
apresenta numa lâmina metálica: Evangelho / António Xavier
Machado o fez / em 4 de Outubro de 1807.

195
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Organaria mafrense, in Bol.
Cultural ‘96, Mafra, 1997, p. Mafra, 1998, p. 399-417

ANTUÉRPIA
Os carrilhões das torres do Real Edifício de Mafra, foram
construídos, em Antuérpia e *Liège, por *Guilherme
Withlockx e *Nicolau Levache, respectivamente. Um ofício
do consul de França em Portugal afirma que custaram 50 mil
moedas de ouro (28 de Fevereiro de 1730). Antes de condu-
zidos para Mafra os sinos dos carrilhões foram sagrados
pelo *Patriarca de Lisboa, junto à igreja de Santo Antão do
Tojal (Loures). O seu transporte desde esse local foi realizado
sob a direcção de *Máximo de Carvalho, superintendente
das Obras: os primeiros 10 sinos chegaram a 21 de Setembro,
28 outros a 18 de Outubro e mais 2 no dia seguinte, em car-
ros puxados por muitas juntas de bois, conduzidos por abe-
gãos e escoltados por dois destacamentos de Infantaria da
Corte com 400 soldados. Finalizada a Missa de Pontifical da
*Sagração da *Basílica (22 de Outubro de 1730) e retirado o
Patriarca para a casa dos Paramentos (*casa da Fazenda),
tocaram os órgãos e o *carrilhão da *Torre Norte, ainda só
parcialmente instalado.

ANUNCIAÇÃO
Episódio narrado no evangelho de *São Lucas (I, 26-38). *São
Gabriel visita Maria, ajoelhando diante dela. Traz na mão
um lírio branco, alusão à pureza da Virgem, dirigindo-se-lhe
com a saudação Ave Maria […] e informando-a que havia
sido escolhida para conceber e dar à luz o Messias.
Respondendo aos temores da Virgem, o *arcanjo diz-lhe que
o *Espírito Santo, para o qual aponta, descerá sobre ela.
Maria responde-lhe, Ecce Ancilla Domini. A iconografia do
episódio, comemorado no dia 25 de Março (alegadamente o
mesmo da criação do Mundo), figura a Virgem lendo prova-

196
velmente o profeta Isaías. Proveniente do Museu Nacional
de Arte Antiga e integrado no acervo do Palácio Nacional de
Mafra, existe um óleo sobre tela (2610 x 1800 mm) de
*Agostinho Masucci [inv. n. 139] que se crê tenha sido reali-
zado, em 1742, como modelo a submeter a *Dom João V, no

âmbito da encomenda régia destinada à capela do Espírito


Santo da igreja de São Roque. Uma primeira versão desta
pintura acha-se em Monte Leone di Spoleto. Na *capela de
Nossa Senhora da Conceição (colateral do lado direito, ou
da Epístola da *Basílica) observa-se um retábulo em már-
more (3,3 x 2,25 m), figurando o mesmo tema iconográfico,
concluído entre 1771 e 1791 pela *Escola de Escultura de
Mafra. O Archivo Pittoresco (v. 4, 1861, p. 153) reproduziu o
desenho de Bordalo, cuja gravura (de Coelho) foi, posterior-
mente (na década de 1930), editada em formato de bilhete
postal pela *Comissão de Turismo de Mafra.

197
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra
(desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra,
1998, n. 53, p. 250

APAGADOR
Na *casa da Fazenda acham-se depositados diversos apaga-
dores de latão lavrado em relevo. A sua avantajada dimen-
são provocou em Castilho que, em consequência da sua
cegueira, não podia vê-los e só os apalpou, a exclamação:
“Oh! São estes certamente os apagadores do sol!” (D. C.
Sanches de Frias, Notas a lápis, Lisboa, 1886, p. 455).

APARADOR
No *Corredor do Limpa Facas, existem dois aparadores, em
casquinha, folheados a mogno polido e com tampo em már-
more rosa (finais de oitocentos).

198
APOCALIPSE
A literatura apocalíptica hebraica conta com mais de uma
dúzia de exemplos, apesar de só o Livro de Daniel ter che-
gado a ser considerado canónico pela igreja. O único texto
do género aceite no Novo Testamento foi o Apocalipse ou
Livro da Revelação, atribuído sob reserva ao evangelista João
durante o seu exílio em Patmos, no tempo de Domiciano (81-
96 d. C.). Aí são relatados de forma enigmática os aconteci-
mentos concernentes ao fim do mundo e ao advento do
outro (*Jerusalém Celeste), sob um novo céu ou ordem cós-
mica diversa. O seu carácter visionário e misterioso favore-
ceu o florescimento de uma tradição iconográfica
multifacetada, cuja origem é possível rastrear já na arte
paleocristã. A liturgia moçárabe prescrevia a leitura do
Apocalipse no período entre a Páscoa e o Pentecostes
(Concílio de Toledo de 633: cânone XVII). Certamente é essa
a razão porque existe grande número de comentários e glo-
sas, de que a famosa série do Beatus, na qual se integra o não
menos famoso Apocalipse de Lorvão, merece um realce muito
especial. A iconografia do também chamado Livro místico dos
Anjos irá reflectir na península, como de resto fora dela, as
opções dos exegetas face à ordem prescrita nos textos sagra-
dos, não obstante a Bula Supernae majestatis de Leão X, a qual
proibia os pregadores de anunciarem o advento do
*Anticristo ou do Juízo Final. Um dos temas mais difundidos
foi o da Maiestas Domini, o Cristo em majestade ou
Pantocrator dominando os Juízos Finais, acompanhado ou
não (fresco da sala de audiência do tribunal de Monsaraz,
túmulo de Dom Rodrigo Sanches, no Mosteiro de Grijó, etc.)
pelo tetramorfo. Só a partir do séc. IV surge a representação
dos animais místicos, posteriormente identificados com os
evangelistas e considerados como figuração dos momentos
cruciais da missão de Cristo. Relativamente à sua ordenação
espacial, os quatro animais da esfinge, questão debatida por

199
diversos Padres e Doutores da Igreja, caso de *São Jerónimo
(que relaciona o Anjo com a Encarnação, o Boi com a Paixão,
o Leão com a Ressurreição e a Águia com a Ascensão), nem
sempre será seguida a visão de Ezequiel (I, 10), segundo a
qual a Águia e o Anjo devem sobrepôr-se ao Boi e ao Leão, à
direita e à esquerda de Cristo, respectivamente (tal como no
portal principal do Mosteiro da Batalha, mas não como no
túmulo do Bispo de Évora, Dom Pedro III, no Livro das Aves,
e num Breviário que pertenceu ao Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra, copiado por Pedro Ramires, hoje na Biblioteca
Municipal do Porto).

Algumas obras de hermeneutica do Apocalipse no acervo da


Biblioteca do PNMafra
LUIS DE ALCAZAR (1554 ?-1613), Vestigatio arcani sensu
in Apocalypsi, Lyon, 1618 [2-3-5-21]; VIEGAS, Brás,
Commentarii Exegetici in Apocalypsim, Évora, 1601 [2-5-6-
17] (Desde a sua 1.ª edição em 1601 até 1617 contou 11
reedições. A p. 196-197 acode em defesa do Abade
Joaquim e é da opinião que a sua profecia relativa ao
Anjo de Filadélfia do Apocalipse, pode muito bem ajus-
tar-se à Companhia de Jesus).

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Apocalipse, in Da Vida, da Morte e


do Além, Mafra, 1996, p. 171

APOSENTOS RÉGIOS
Em Mafra, os aposentos régios situavam-se no *andar nobre
dos dois torreões. Primitivamente, no do Norte acomodava-
-se o Rei e no do Sul a Rainha. Após o falecimento (1835) de
*Dona Maria II, *Dom Pedro V e *Dona Estefânia passaram a
residir no *torreão Sul, sendo o outro reservado para o

200
Príncipe Real *Dom Fernando II. Doravante e até 1910,
quando se deslocava a Mafra, a família real ficava alojada
apenas no torreão Sul. Em 1866, receberam beneficiações
tendo “ficado muito mais cómodos e agradáveis” (Gazeta do
Campo, n. 18, de 29 Abr. 1866). O *Infante Dom Afonso deslo-
car-se-ia expressamente a Mafra com *Dona Maria Pia, em 5
de Julho de 1888, com o objectivo de observar “com os seus
próprios olhos, o estado dos aposentos reais, a fim de conhe-
cer se estariam em condições de el Rei [Dom Luís] vir aqui
passar algum tempo, sem prejuízo da sua saúde e das suas
progressivas melhoras” (O Mafrense, 8 Jul. 1888). Com efeito,
não seriam completamente aceitáveis as condições, por-
quanto, a 24 de Julho, estavam a ser pintados (Jornal de Mafra,
24 Jul. 1888). No que concerne ao recheio, muito pouco restou
do mobiliário e adornos originais. Aponta-se, geralmente, o
Rio de Janeiro como o destino de parte dele, em 1808.

APÓSTOLO
Do grego, enviado. É o nome atribuído aos discípulos eleitos
por Cristo para que o acompanhassem, enquanto pregava, e
corressem mundo divulgando a boa-nova após a sua morte
(*São Marcos): *Santo André, *São Bartolomeu, *São Tiago
Maior, *São Judas Tadeu, *São Filipe, *São Tiago Menor, *São

201
Tomé, *São Pedro, *São Simão e *São Matias. São doze, con-
tando com os apóstolos da gentilidade: *São Barnabé e *São
Paulo.

APRENDIZ DE VIDRACEIRO
Cerca de 15 de Julho de 1888, um rapazinho, aprendiz de
vidraceiro, caíu de uma das janelas do Palácio Nacional,
tendo-se salvo dos ferimentos quase milagrosamente (cf. O
Mafrense, 29 Jul. 1888).

APRESENTAÇÃO DE MARIA NO TEMPLO


Em cumprimento da promessa feita por sua mãe, *Santa Ana
(cf. Proto-Evangelho de Santiago, IV), quando Maria comple-
tou três anos foi levada para o Templo onde viveria alimen-
tada por um *anjo até aos doze, idade em que foi entregue a
José (cf. Pseudo-Mateus, VI, 2). A dedicação de Maria a Deus
desde tenra idade é sublinhada pela circunstância de, ao che-
gar à escadaria do Templo, ter subido rapidamente os quinze
degraus que a compunham sem olhar para trás, para os pro-
genitores. Na *capela colateral de Nossa Senhora da
Conceição (altar 3) da *Basílica observa-se este episódio da
vida de Maria, iconografado numa luneta em mármore (3,10
x 1,54 m).

202
AQUECEDOR DE CAMA
No acervo do Palácio Nacional existe um aquecedor de cama
em prata, com tampa lavrada e as armas reais portuguesas
gravadas.

AR
Emanação impura e, portanto, causadora de mal (peste e
doenças diversas), atribuída à respiração de pessoa perversa,
excomungado, defunto, alma penada, cemitério, certos fenó-
menos atmosféricos, etc. Aos ares nocivos chamavam os lati-
nos sideratio (sideratus = tolhido do ar, paralisado). A figa é
amuleto contra o mau ar. Uma criança pode apanhá-lo de
diversos modos: se a mãe grávida vir um defunto; de uma
vassoura verde com que se varre a casa; ao esvoaçar de uma
galinha choca; de um excomungado. Após apanhar ar a
criança fica magra, amarela e com a pele arrepiada. São duas
as fórmulas mais comuns para cortar o ar: 1. Dá-se a beber à
criança nove dias seguidos um punhado de terra da sepul-
tura do defunto que provocou o mal depois de fervida; 2.
Leva-se a criança a um local onde exista relva verde, esten-
dendo-se sobre ela com os braços abertos, marcando-se o seu
contorno no chão. Corta-se a relva e coloca-se em água de um
poço, dizendo: “Assim como reverdeia a cana verde na mão
de Nosso Senhor, assim reverdie o mal desta criança nesta
relva deste chão. Em louvor da Sagrada Morte e Paixão”.
Repete-se o processo nove vezes, rezando-se de cada uma
nove padre-nossos, nove ave-marias, nove glórias, nove
salve-rainhas, nove credos. Se se preferir fazer uma única
vez, deverá ser na primeira Sexta-feira do mês, antes de nas-
cer o sol ou depois de ele se pôr. Diz-se que para talhar o ar é
de bom emprego fermento cru e palhas alhas (folhas de
alhos). Também podem ser prescritos: pachos de água quente
ou de água quente com sal e escalda-pés de água com sal.
Ainda outra receita para cortar o ar: coloca-se uma púcara

203
nova de barro, de boca para baixo, dentro de um alguidar de
barro com água quente; põe-se o pé ou a mão sobre a púcara
e, depois, benze-se a água e o pé ou a mão (3 vezes) – Eu te
benzo Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Algumas obras do acervo da


Biblioteca Volante sobre o Ar
ANÓNIMO, Explicação do que significão os Caracteres das
Cruzes, e Letras de S. Zacharias, vertidas no nosso idioma
Portuguez, as quaes andão escritas nas Medidas, de que agora
novamente usa a devoção dos Fieis contra o grande Mal da
Péste, Lisboa, 1756 [2-25-8-24 (11.º)]; ANÓNIMO,
Preservativo Espiritual, Remedio util, e conveniente para pes-
soas vexadas; singular, e experimentado para se conhecerem
feitiços, vexações, e maleficios de qualquer sorte feitos a gran-
des, e pequenos. Contra o Mal de Peste, Rayos, Torvões,
Tempestades, e Fogo, Lisboa, 1746 [2-15-3-33]; ANÓNIMO,
Verba Sanctissima adversus aêris tempestates, Lisboa, s.d.
[1-29-4-11 (29.º)]

Bibliografia: ANÓNIMO, Escudo Impenetravel aos Trovoens, Rayos,


Peste, e Ar corrupto. Administrado por S. Barbora Virgem, e martir.
Accrescentado com a Cruz de S. Be[n]to, Estação do Ss. Sacramento,
Breve, e Oração de S. Roberto cõtra maleficios, e Cabeça de S. Anastasio,
Coimbra, 1730; CÂNDIDO Lusitano, Santos patronos contra tempes-
tades de raios em devotos hinos, 1767; GANDRA, Manuel J., Ar, in Da
Vida, da Morte e do Além, Mafra, 1996, p. 171-172; SANTÍSSIMA
TRINDADE, Frei Tomás da, Escudo carmelitano ou o Sagrado
Escapulário do Carmo […], Porto, 1747

ARCA
Também denominada *burra. Existem várias arcas em ferro,
chapeadas, nas escadarias de acesso ao piso nobre do Palácio
Nacional.

204
ARCA PARA CERA
Em carvalho, setecentistas, existem diversas arcas para cera
no *salão grande dos frades.

ARCA DO TESTAMENTO
O mesmo que *Arca da Aliança. Também Arca da Casa de
Abinadab (I Samuel, VII, 1). No Exodo (XXV, 10) Yavé explica a
Moisés a forma de proceder com vista à sua construção.
Segundo o Deuteronómio tratava-se de um cofre de madeira
de acácia, exteriormente forrado de ouro, destinado a guar-
dar as tábuas da Lei recebidas no monte Sinai. A última men-
ção à Arca da Aliança ocorre em II Crónicas (XXXV, 3). De
acordo com os judeus ortodoxos, está há 25 séculos escon-
dida numa câmara sob o Monte do Templo, em Jerusalém,
porém, segundo algumas investigações recentes, terá sido
transferida para a Etiópia, onde se achará. Por extensão, o
armário onde, na sinagoga, se guarda a Torah e o sacrário
dos templos cristãos. A igreja católica interpreta-a ora como
símbolo de Cristo, ora da Trindade, uma vez que contém o
Maná (Verbo eterno), a Vara (poder) e as Tábuas da Lei
(Espírito divino). Epíteto atribuído por antonomásia a *Santo
António pelo Papa Gregório IX.

ARCÁDIA ROMANA
Academia fundada em Roma no ano de 1690. Foi, à seme-
lhança da sua congénere, a *Academia de São Lucas, muito
influente no panorama artístico nacional, mormente no que
à Real Obra de Mafra concerne, consoante a documentação
revelada por Aurora Scotti e Pier Paolo Quieto.
Bibliografia: SCOTTI, Aurora, L’Accademia degli Arcadi in Roma e i
suoi Rapporti con la cultura Portoghese nel primo ventennio del 1700, in
Actas do Congresso André Soares – A Arte em Portugal no séc. XVIII –
tomo 1 (in Bracara Augusta, v. 27, n. 63 (75) (1973), p. 115-130)

205
ARCANGELO FOSCHINI
Natural de Lisboa. No ano de 1788 foi para Roma, tornando-
se discípulo de Labruzzi. Regressado à pátria, pintaria o óleo
Vasco da Gama desembarcando em Calecute, tela levada para o
Brasil pela família Real em 1808 e nunca mais devolvida à
parede Nascente da *sala das Descobertas para onde tinha
sido encomendada por *Cirilo Volkmar Machado.

ARCANJO
Do latim, archangelus, acima de anjo. Anjos da oitava ordem
(esfera de Mercúrio), aos quais se atribui a condução do des-
tino de grupos e nações. Sobre o Anjo da Guarda de Israel, ver
Êxodo, XIV, 19 e XXIII, 20. Representados com armadura. Dos
sete arcanjos que “estão diante da face de Deus” (Apocalipse,
VIII, 2), os três principais são *São Miguel [= “grande prín-
cipe” (Daniel, XII, 1)], *São Gabriel [= “Anjo intérprete” (Lucas,
I)] e *São Rafael [anjo curador (Tobias, XII)]. Os restantes deno-
minam-se Uriel, Sealtiel, Iehudiel e Barachiel.
Bibliografia: ANÓNIMO, Devoção dos Sete Arcanjos que cercam o trono
de Deos, com a explicação dos seus nomes, Lisboa, 1823

ARCANJO ANTÓNIO DOS REIS


Servente contratado pela igreja de Mafra, em 1839, para
“constantemente” ajudar às missas e cuidar da limpeza da
*Basílica (varrer e “aspanar”), consoante documentos do
AHMafra.

ARCAZ
No Palácio Nacional de Mafra existem alguns arcazes sete-
centistas, em vinhático e carvalho.

ARCHEIROS, Casa dos


Dependência do Palácio destinada ao corpo da Guarda Real,
sita no corpo Norte da Real Obra de Mafra (frei João de

206
Santa Ana, Real Edifício Mafrense […], fl. 100). Designação
também aplicada à *sala de Faetonte (ver descrição da pin-
tura parietal por Cirilo Volkmar Machado).

ARCIPRESTE DA SANTA BASÍLICA PATRIARCAL


Autor do Discurso breve sobre o Real Mosteiro de Mafra, e prin-
cipais pontos da regra da reforma da Província de Santa Maria da
Arrábida, para quem se diz que sua Majestade o destina (19 de
Setembro de 1730) [BN: Res cod. pomb. 99].
Bibliografia: PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura e Escultura de
Mafra: retórica da perfeição, Lisboa, 1994, doc. 4, p. 336-338

AREAÇÃO, Casa da
Dependência conventual contígua à *capela das Graças
(anexa à *casa do Lavatório da Sacristia). Nela há a registar
uma “arrojada escadaria” que finda junto à abóbada, dando
acesso a diversas arrecadações (cf. D. C. Sanches de Frias,
Notas a lápis, Lisboa, 1886, p. 454).

AREAÇÃO DE BRONZES
Em 1839, a Câmara Municipal de Mafra gastou na areação
dos bronzes da*Basílica a quantia de 24 mil réis (incluindo-se
nela também a limpeza das madeiras). No ano seguinte dis-
penderia 50 mil réis. Muito onerosa para o erário autárquico,
só em 1892 se repetiu a iniciativa, conforme noticia a
imprensa local: “Já há anos não eram limpos e areados [os
bronzes da Basílica], estão-no sendo agora” (O Mafrense, 15
Mai. 1892).

ARMANDO BOAVENTURA
Autor do artigo Alviçaras dão-se… – Onde pára um valioso
manuscrito referente á vida de El-Rei D. Sebastião, e que pertencia
á Biblioteca do Convento de Mafra ? – Uma visita ao grandioso
mosteiro de D. João V – Portugal paiz de… Turismo… – De

207
Lisboa a Mafra… – O Museu instalado no antigo Palácio Real – A
Biblioteca – Depois da Republica… – Á procura de uma chave… –
Uma entrevista com o director das bibliotecas municipaes de
Coimbra – E o mais que se lerá… (A Época, 15 Abr. 1926). O
manuscrito em causa fora consultado por *Raúl Brandão,
quando cumpria o serviço militar em Mafra e, constava ter
desaparecido da *Biblioteca do Palácio.

ARMANDO DE LUCENA (1886-25.4.1975)


Professor, artista e ensaísta. O seu tio, o pintor Simões de
Almeida, matriculou-o com treze anos (1899) na Escola de
Belas Artes de Lisboa, da qual se tornaria professor, em 1952.
Conquistou diversos galardões em concursos e exposições
de arte, nacionais e internacionais. Foi Presidente da
Sociedade Nacional de Belas-Artes e colaborador da Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. A sua ligação à Malveira,
desde 1923, proporcionou-lhe uma maior proximidade com
o Monumento de Mafra, ao qual dedicou muito do seu saber
e sensibilidade. Integram a colecção de Arte Municipal um
desenho a grafite e um óleo, ambos intitulados Trecho do
Jardim do Cerco, de 21 de Fevereiro e 16 de Outubro de 1953,
respectivamente [inv. n. 5746 e 5754]. Inúmeros outros tra-
balhos plásticos existem dispersos por museus e colecções
privadas. Da sua obra impressa merecem realce os seguin-
tes estudos e artigos relativos ao tema em apreço: Mafra e a
sua Arte, in Estudos Artísticos: apontamentos para o Ensino
Técnico Profissional (Lisboa, 1939, p. 95-97); Os Sinos do
Monumento Sacro, in O Concelho de Mafra (6 Set. 1942); A poe-
sia dos Sinos, in Arte Popular: usos e costumes portugueses, v. 1,
Lisboa, 1942, p. 43-48; Uma reparação artística devida à Basílica
de Mafra, in Diário de Notícias, 10 Ago. 1943); Existiu em Mafra
uma Academia literária?, in Diário de Notícias (20 Ago. 1945);
Abriu ontem em Mafra uma notável Galeria de Arte Sacra, in
Diário de Notícias (30 Jun. 1946); O Convento de Mafra, in Arte

208
Sacra em Portugal, v. 2, Lisboa, 1946, p. 147-178; Na Tapada de
Mafra: um Jardim que renasce, in Diário de Notícias (13 Out.
1948); O valor turístico de Mafra e Arredores, in Diário de
Notícias (27 Fev. 1954); Monografia de Mafra (195?); Vieira
Lusitano: o insigne pintor e leal esposo, in Colóquio: Revista de
Artes e Letras, n. 25 (Out. 1963), p. 9-13; etc.

Bibliografia: QUINTO, Amândio, Vida e obra de Mestre Armando de


Lucena, in Bol. Cultural 2000, Mafra, 2001, p. 349-359

ARMÁRIO CONVENTUAL
Em carvalho encerado, setecentistas, restam muito poucos
armários conventuais, quase todos no *salão grande dos fra-
des.

ARMÁRIO HOLANDÊS
Existe um armário holandês na *sala de Diana.

209
ARMAS DE COLEGIO
Revista valenciana, cujo n. 150 (a. 14, 1930, p. 276) inclui
artigo sobre Mafra, no qual sublinha que “um das peças
mais dignas de ser visitada é a dilatada biblioteca com for-
mosa abóbada e ricas estantes”.

ARMAZÉM DO AZEITE
Dependência conventual do Monumento de Mafra. Frei João
de Santa Ana afirma que “[…] a sua principal entrada é pelo
portal que está no corredor da portaria do Norte. No meio
pois deste corredor […] na parede do nascente está um
grande portal que tem dez palmos de largo e sobre ele uma
janela que chega ao tecto do corredor. Por este portal aos
lados do qual estão pilastras quase juntas às ombreiras dele,
se entra para o grande armazém do azeite, que tem de com-
prido 94 palmos e de largo 32. Na parede fronteira à do por-
tal da entrada estão três janelas com grades de ferro que
deitam para o pátio n. 150. Entre a 1.ª e 2.ª janela está uma
famosa chaminé e outra perfeitamente semelhante se acha
entre a 3.ª janela e o portal por onde se entra para a casa n.
157. Este portal tem outro que lhe corresponde e dentro dele
estão armários. Entre os ditos portais e os cantos do lado do
Norte e encostados à parede do mesmo lado estão dez tan-
ques de pedra divididos interiormente entre si, mas vistos
por fora parecem só dois grandes tanques de cantaria divi-
didos pelo portal da entrada. Têm os tanques de alto seis
palmos, mas com a cantaria em que descansam têm nove.
Os quatro que desde o portal da entrada até ao canto de cada
um dos lados têm 40 palmos de comprido e os dois que
estão nos cantos entre estes eos portais próximos têm cada
um de comprido 40 palmos e meio. Na face exterior têm
todos torneiras de bronze umas próximas aos fundos e
outras mais acima para se tirar deles o azeite. São todos
cobertos com grossas tampas de pau do Brasil que têm

210
fechaduras. Cada uma das ditas chaminés que são sacadas
fora da parede […] têm de largo dezanove palmos e meio e
de fundo sete e meio e isto o que tem fora da parede. Nos
lados têm colunas redondas cercadas de várias pilastras e
tanto estas como as colunas têm suas competentes bases e de
muito lavor. A verga que passa de uma para outra coluna é
do mesmo gosto e todo o corpo de cada uma delas é de pedra
ricamente lavrada e guarnecida de grandes e delicadas mol-
duras e muito ornato até ao tecto da casa. Estas duas chami-
nés elevam-se até aos terraços. Na casa que no 2.º andar fica
sobre esta estão outras duas chaminés, mas juntas à parede
oposta; e na casa que no 3.º andar fica sobre ambas, estão
outras duas chaminés perfeitamente semelhantes e na mesma
posição que as do armazém do azeite neste andar térreo, e de

211
tal modo estão formadas estas quatro chaminés que as deste
andar comunicam interiormente com as do 3.º andar e só
duas chaminés aparecem nos terraços e aí deitam fora o fumo
de todas as quatro (Real Edifício Mafrense, fl. 156-157).

212
ARMAZÉM DO BACALHAU
Dependência conventual, descrita no Real Edifício Mafrense:
“Ao Sul do armazém do azeite está uma casa designada pelo
n. 154 para a qual se entra pelo portal que está na casa desig-
nada com duas estrelinhas ou dos semicirculos no fim do
corredor da portaria designado pelo n. 160. Tem esta casa de
comprido 41 palmos e de largo 24. Junto aos cantos do lado
direito tem dois portais fingidos. Defronte destes no outro
lado tem um portal fingido e uma janela que deita para o
pátio n. 150. Esta casa é chamada o armazém do bacalhau,
porque antigamente servia para nele se recolher o que se
gastava quando a comunidade era grande. Presentemente
[1828] serve não só para guardar o bacalhau, mas também
legumes, arroz, etc. e nela está também uma grande pia para
o azeite e uma grande balança para se pesar o que for pre-
ciso pesar-se. Em todos os andares superiores há casas que
correspondem a esta e lhe são perfeitamente semelhantes.”
(Frei João de Santa Ana, fl. 157).

ARMAZÉNS JUNTO À SACRISTIA


Segundo o Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra (século
XVIII) os dois armazéns contíguos à *Sacristia da *Basílica
achavam-se “cheios de madeiras pertencentes à armação da
igreja”. Além delas, também são aí arrolados: “Um lampião
de bronze, um candeeiro de parede dito. Sete retábulos ou
similar de retábulos cobertos de folha de arame. Uma lâm-
pada muito grande de bronze. Cinco ditas desmanchadas
mais pequenas. Uma dita inteira pequena. Duas varas de
latão maciço de nove palmos cada uma. Uma caixa grande
cheia de cadeias de prisões para as lâmpadas de metal com
ferro pelo meio. Quatro colunas de ferro em forma quadrada,
ocas no meio, guarnecidas de metal amarelo, que terão vinte
palmos de altura. Quatro cancelos de serviço da igreja de

213
trinta palmos de altura e sete de largo. Um[a] Chaleira de
cobre. Seis ferros de encrespar os linhos da igreja. Dois foles.
Uma pá das brasas. Uma trempe de pôr os ferros. Onze casti-
çais grandes de folha de latão” (cf. O Carrilhão, 15 Nov. 1983).

ARMEIRO
Destinado a espingardas, mas podendo servir como benga-
leiro. Na *sala de Caça do Palácio Nacional existe um
armeiro em casquinha, forrado com pano verde e ornamen-
tado com hastes de veado.

A. ROUARGUE
Desenho de A. Rouargue publicado no Magasin Pittoresque
(v. 29, 1861, p. 133) com a legenda Le Palais de Mafra prés de
Cintra, en Portugal (150 x 108 mm). Uma ilustração publicada
por *Alberto Teles em O Occidente (Os Paços Monásticos de
Mafra, v. 16, n. 506, 11 Jan. 1893, p. 12) inspirar-se-ia nesta. A
Comissão de Turismo de Mafra reproduziu-a em formato de

214
bilhete postal, na década de trinta, constituindo o n. 47 da
Colecção de gravuras Portuguesas.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra
(desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra,
1998, n. 54 e 63, p. 250-251 e 264

ARQUITECTURA
Na *Biblioteca do Palácio Nacional acham-se as obras mais
relevantes dos mais conceituados tratadistas desta disci-
plina, a saber: Léon Bautista Alberti; Carolo de Aquino;
Charles Augustin d’Aviler; Martino Bassi; Georgius Andreas
Bocklerus; Colen Campbell; Alessandro Capra; Jacques
Androuet du Cerceau; Frémin; Guarino Guarini; J. Charles
Krafft; Pierre Le Muet; Antoine Le Pautre; Neralco; Charles
Normand; Andrea Palladio; Claude Perrault; Andrea Pozzo;
Quatremere de Quincy; Domenico de Rossi; frei Lorenzo de
San Nicolas; padre Inácio da Piedade e Vasconcelos; Blaise
de Vigenere; Vignola; Juan Arphe de Villafañe; Juan Bautista
Villalpando; Vitrúvio; Giuseppe Viola Zanini, etc.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Icones Symbolicae: contributo para o
conhecimento da recepção e difusão da Cultura Simbólica em Portugal e
sua presença na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural
’95, Mafra, 1996, p. 9-52

ARQUIVO HISTÓRICO DE MAFRA


Um Livro de Registos do Senado da Câmara de Mafra (1700-
1728), consigna quatro documentos sobre os primórdios do
Monumento de Mafra (fl. 69v-70r; 70r-70v; 70v-71r e 71r-71v)
(cf. Manuel J. Gandra, A Ideia do Monumento de Mafra, in Bol.
Cultural ’94, Mafra, 1995, p. 77-78). Muita outra documenta-
ção relevante subsiste no AHMafra, nomeadamente relacio-
nada com obras de manutenção do edifício, com os órgãos e
os carrilhões e com a história e o quotidiano, conventual e
palaciano.

215
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO
Em 20 de Dezembro de 1956, ofereceu 149 espécies biblio-
gráficas e 52 cartas manuscritas à *Biblioteca de Mafra.

ARRÁBIDOS
O primeiro convento de religiosos desta Província francis-
cana foi fundado em 1538 ou 1539 na serra da Arrábida,
donde derivou a designação pela qual haviam de tornar-se
conhecidos. Não consta qual a data exacta da sua chegada a
Mafra, no entanto sabe-se que desde o século XVII, pelo
menos, a sua presença se tornou regular todos os anos pela
*Quaresma, ficando instalados no hospício anexo à capela
do Espírito Santo, outrora situada junto à Quinta da Raposa
(vila velha). De forma inesperada, porquanto haviam visto
recusada pelo mesmo monarca solicitação para a fundação
de uma casa religiosa em Mafra, lograram obter de *Dom
João V, no ano de 1711, a doação do convento de Santo
António junto à vila. *Dona Maria I intentou mandar edificar
outro cenóbio para esta Ordem na Quinta da Roussada,
tendo, para o efeito, lançado a pedra fundamental, mas a
transferência da corte para o Brasil, em consequência da pri-
meira invasão napoleónica (1808), hipotecou definitivamente
a concretização do projecto. Os *Arrábidos egrediram do
convento de Mafra em Abril de 1771, após residirem ali
durante 40 anos, 6 meses e 11 dias. Regressariam, em 12 de
Maio de 1792, rendendo os *Cónegos Regrantes que os
haviam substituído duas décadas antes.
Bibliografia: PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura e Escultura de
Mafra: retórica da Perfeição, Lisboa, 1994, doc. 29, p. 351-353 [BN: cod.
1496]; PIMENTEL, António Filipe, Arquitectura e Poder: o Real
Edifício de Mafra, Coimbra, 1992, doc. XV, p. 405-410 [Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro, caixa 627, Negócios de Portugal, pacote 3,
doc. 14: “Notícia das razões que motivaram a saída dos religiosos
*Arrábidos do convento de Mafra, sua substituição pelos cónegos
regrantes de Santo Agostinho e seu posterior reingresso”]

216
ARROZ DOCE
Sempre que a comunidade conventual de Mafra comia arroz
doce consumia os seguintes géneros: 2 alqueires e meio de
arroz; 48 canadas de leite; 42 arráteis de açúcar; canada e
meia de água de flor; meio arrátel de canela. Se fosse adicio-
nada amêndoa, gastava-se 1 arroba dela.

ARTE DA MEMÓRIA
Arte apadrinhada por Mnemosis, mãe das nove Musas, tam-
bém conhecida por Memória de ferro, Arte da Memória e
Memória artificial (por oposição à memória congénita ou
natural, cujo adestramento visava). Foi Simónides de Ceos
(556-468 a. C.) o primeiro a formulá-la sob a forma de um
sistema de tópicos. Todavia, o seu sistema só se tornou rele-
vante graças a um acidente trágico ocorrido durante um
banquete para o qual fora convidado por Escopas, rei da
Tessália. Simónides participava na festa quando um mensa-
geiro chegou com um recado para si, o que o fez sair da sala
para o receber. Pouco depois o tecto desta caía sobre o anfi-
trião e os convivas, ficando os cadáveres de tal modo desfi-
gurados que se tornou impossível identificá-los. Solicitado
a colaborar no processo de identificação, Simónides recons-
tituiu o cenário até ao momento do acidente, assinalando o
lugar preciso ocupado à mesa por cada convidado e
demonstrando a excelência do seu método, que advogava
ser mais fácil recordar objectos, situações e eventos quando é
possível reportá-los a lugares conhecidos. O método pro-
posto por Simónides grangeou legião de adeptos e conti-
nuadores, alguns dos quais lhe introduziram alterações e
aperfeiçoamentos. O sofista Hipias parece encabeçar a lista,
que regista o nome de Metrodoro da Ásia, amigo de Epicuro,
como introdutor de 360 lugares inspirados nos 12 signos do
zodíaco, em substituição das imagens dos edifícios e com-
partimentos de Simónides. Em Roma, onde a retórica (cons-

217
tituída por cinco partes: inventio, dispositio, elocutio, memoria e
pronuntiatio) gozou de enorme prestígio, Cícero (De oratore),
o anónimo autor da principal fonte tradicional da mnemo-
tecnia, intitulada Ad C. Herennium, e Quintiliano (Institutio
oratoria) deram-lhe enorme impulso, sendo ulteriormente
considerados os decanos da Arte da Memória. Na prática, a
técnica mnemónica que propuseram associa dois métodos,
o dos lugares e o das imagens ou pinturas (Constat igitur arti-
ficiosa memoria ex locis et imaginibus). O primeiro consiste em
instituir uma topologia concreta, destinada a armazenar
argumentos, sentenças, hieróglifos, emblemas, etc., ao passo
que o segundo propõe a eleição de um elenco de imagens a
cada uma das quais possa ser associada uma ideia ou pala-
vra. Até ao séc. XIII, salvo uma breve referência de
Martianus Capella (410-439), no De nuptis Philologiae et
Mercurii, nada consta sobre a utilização de regras mnemóni-
cas. Nessa centúria Rogério Bacon (1214-1294) redige a Arte
memorativa e Raimundo Lúlio (1235-1346) a sua Ars Generalis.
Cerca dos finais de quatrocentos, Pedro de Ravena causa
sensação em Itália com as suas proezas mnemónicas tidas
por nigromânticas por alguns. A Phoenix Artis Memoriae
(Veneza, 1491) deste mnemotécnico teve diversas edições
num período de poucos anos, merecendo ainda referência a
Oratoriae artis epitome (1482) de J. Publicius. De entre os mne-
motécnicos portugueses saliento, meramente a título de
exemplo, os nomes do padre António Vieira, frei Francisco
de Santo Agostinho Macedo (Padre Ilídio de Sousa Ribeiro,
Fr. Francisco de Santo Agostinho de Macedo: um filósofo escotista
português e um paladino da Restauração, Coimbra, 1952), frei
Manuel do Cenáculo Vilas Boas (Francisco da Gama Caeiro,
Frei Manuel do Cenáculo: aspectos da sua actuação filosófica,
Lisboa, 1959, p. 25-28, 32-24, 129-133, 221-227, 229-231, etc.),
António Feliciano de Castilho (Tratado de Mnemónica ou
Methodo facilimo para decorar muito em pouco tempo, Lisboa,

218
1909-1910, 3 vols.) e Martins Oliveira (Magia Teatral, Porto,
1948, 2 vols.). A mnemotecnia desempenha um papel super-
lativo como retórica geometrizante do espaço da *Biblioteca
do Palácio Nacional de Mafra, certamente sob os influxos do
neo-lulismo setecentista.

Algumas obras de Lúlio, atinentes à Arte da Memória,


pertencentes à Biblioteca do PNMafra
Opera Omnia, quae ad inventam ab ipso artem universalem,
Argentorati (Estrasburgo), 1598, 2 partes em um tomo
[2-29-4-5 e 6 (= 2 exemplares) A edição mais completa
das obras do maiorquino sobre a Arte combinatória.
Inclui: Ars brevis; De auditu kabbalistico seu Kabbala;
Duodecim principia Philosophiae Lullianae; Dialectica seu
Logica; Rhetorica; Ars Magna. E ainda: Commentaria in
Artem brevem Lullianam, de Cornélio Agrippa, De
Specierum scrutinio, De lampade combinatoria Lulliana e De
progressu et lampade venatoria Logicorum, de Giordano
Bruno e o comentário Articuli Fidei, de V. de Valeriis];
Arbol de la Sciencia, Bruxelas, 1664 [2-13-13-1]

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Filosofia Hermética em Portugal e


no acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural
’93, Mafra, 1994, p. 58-59; A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra:
cosmologia e mnemotecnia, in Bol. Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 9-70

ARTES LIBERAIS E MECÂNICAS


As obras relativas a esta matéria acham-se reunidas na
estante superior n. 41 da *Biblioteca de Mafra.

ARTHUR WILLIAM COSTIGAN


Pseudónimo de James Ferrier, engenheiro e um dos princi-
pais acessores do Conde de Lippe na tarefa de reorganiza-
ção do exército português. Autor de Sketches of Society and

219
Manners in Portugal. In a series of letters from […], Esq. late a
Captain of the Irish Brigade in the service of Spain, to his brother
in London (Londres: Vernor, [1787], 2 vols.). Segundo afirma,
“o único emprego que [Dom João V] dava às suas tropas era
de as fazer tirar e levar pedras para a construção de uma
igreja e convento magnífico em Mafra, para trezentos pre-
guiçosos […]” (Carta 12, de Castelo de Branco, 1778). O aze-
dume que revela relativamente a Portugal deriva decerto da
circunstância de, por motivos religiosos, ter sido compelido
a largar o comando do regimento de artilharia do Porto,
sediado em Valença, e a abandonar o país. O monumento de
Mafra teria sido construído “em imitação e competição com
o Escorial”. Ver Cartas de Portugal, 1778-1779 (Lisboa, 1946).

ARTUR ALCÂNTARA
Um quadro da Revista em dois actos Tristezas… leve-as o
vento (original de Francisco Alves Gato e Joaquim Resina),
representada nos dias 7 e 8 de Julho de 1934, incluía uma
canção da autoria de Artur Alcântara, intitulada Horta dos
Frades.

ARTUR JOSÉ
Operário falecido em consequência de um acidente enquanto
trabalhava nas obras do Palácio Nacional de Mafra (cf. O
Jornal Mafrense, 3 Mai. 1896). A imprensa local deu grande
destaque às cerimónias fúnebres, muito participadas pelos
companheiros profissionais da vítima (idem, 10 Mai. 1896).

ÁRVORE
Por ofício, de 16 de Fevereiro de 1833, a Administração da
Fazenda da Casa Real comunicava à Câmara Municipal, na
pessoa do seu Vice Presidente, Joaquim Pedro Moreira, a
concessão de 100 árvores oriundas da *Tapada, destinadas à
arborização dos largos e ruas da vila de Mafra.

220
ÁRVORE DOS SEPHIROT
A Árvore dos Sephirot exemplifica esquematicamente o pro-
cesso pelo qual a existência se tornou manifesta, conforme a
Kabbalah. Segundo ela, e em traços largos, é através da Árvore
dos Sephirot, qual Tronco de Jessé, que a natureza divina
enviada ao mundo adquire a sua vertebração. O frontispício

221
da *Basílica de Mafra pode ser lido com base nesse registo.
Os três mundos (A. espiritual ou da Acção; B. anímico ou da
contemplação; C. físico ou da devoção) organizam-se em
cascata, revelando as gradações do influxo divino e gerando
uma autêntica Escada de Jacob, composta pelos dez (mais
um, Daat) níveis ou atributos da manifestação: 1. Esfera de
Deus invisível e indizível (Kether = Coroa) = *lanternim do
zimbório; 2. [Sephira invisível = Esfera do Conhecimento
(Daat) = *zimbório]; 3. Esfera da Sabedoria (Hokmah) = *Torre
Sul; 4. Esfera da Compreensão (Binah) = *Torre Norte; 5.
Esfera da Compaixão (Hesed) = *São Francisco; 6. Esfera da
Justiça ou da Força (Gevurah) = *São Domingos; 7. Esfera da
Beleza (Tiferet) = *frontão; 8. Esfera da Eternidade ou Vitória
(Nezah) = *Santa Elisabete; 9. Esfera da Glória (Hod) = *Santa
Clara; 10. Esfera da Fundação (Yesod) = pórtico do *átrio ou
galilé; 11. Esfera do Reino (Malkhut) = *adro. Repare-se no
papel central do Sol sobre o adro, fundante da dimensão das
esferas dos três mundos (cujo raio é igual à distância entre o
centro do Sol e o limite ocidental do adro) e dos onze Sephirot
(o raio da sua circunferência é igual ao do próprio Sol).
Realce-se que o adro, apesar de fazer parte da planta do edi-
fício, surge nos desenhos mais antigos sempre compaginado
com o alçado dele. Decerto intencionalmente…

ASCENSÃO
Na festa da Ascensão, os *Arrábidos de Mafra comiam o
mesmo que nos dias ordinários de carne, mais um arrátel de
vitela assada, pastel de carne, laranjas e queijos. À noite o
mesmo que nos dias ordinários.

A. SEVERIANO ALVES
Responsável pelas experiências agrícolas empreendidas na
*granja de Mafra, sob o patrocínio de *Dom Fernando II.
*Alexandre Herculano.

222
ÁSIA
José Carlos Calazans arrolou as obras existentes na
*Biblioteca sobre o continente asiático no estudo O Núcleo
da Ásia do Palácio-Convento de Mafra (in Para além da
Taprobana: de Lisboa a Nagasaqui, 1993, p. 9-18).

ASILO DE MAFRA
Também denominado Asilo dos Filhos dos Soldados.
Herdeiro do Asilo Rural Militar, tinha por objecto formar bons
oficiais inferiores e hábeis coranheiros, espingardeiros e músi-
cos. Os asilados, assim que atingissem a idade adequada, fica-
vam obrigados a servir no exército por espaço de doze anos,
abrindo-se, contudo, excepções para aqueles que no momento
de abandonar a instituição efectuassem o pagamento integral
dos montantes gastos na sua instrução e alimentação.
Inicialmente instalado no convento do Varatojo (Torres
Vedras), viria, por iniciativa de *Dom Pedro V, a ser transfe-
rido para o convento de Mafra, para as dependências antes
ocupadas pelo *Colégio Militar, na ala Sul do edifício. Em con-
sequência da morte prematura do monarca, coube a seu
irmão, *Dom Luís, a honra de presidir às cerimónias de inau-
guração, ocorridas a 24 de Agosto de 1863, sendo comandante
o capitão António José da Cunha Salgado. O colégio abriu
com 57 alunos, “uma súcia de gaiatos e garotos”, a quem o
marquês de Fronteira e Alorna, no dia antecedente à abertura,
acusava de “toda a qualidade de pouca vergonha” (Memórias,
parte 2, p. 215). A instituição teve vida curta, porquanto seria
extinta em 1873. *Tomás de Mello Breyner narra nas suas
Memórias (v. 1, Lisboa, 1930, p. 10) que aos rapazinhos do
Asilo, bem armados e equipados, se ficou a dever a defesa do
quartel de Mafra e a contenção da insurreição do batalhão
chamado da Zambézia, ali verificada no ano de 1869.
Bibliografia: ANSÚR, Alfredo, O Asilo de Mafra: carta ao Illustrissimo
Exmo. Senhor Ministro da Guerra, Lisboa, 1869

223
ASILO DOS FILHOS DOS SOLDADOS
*Asilo de Mafra.

ASSIS CHATEAUBRIAND
Jornalista brasileiro. Tendo visitado o Monumento de Mafra
na década de 1950, e constatado o deplorável estado de con-
servação dos *Carrilhões, convenceu alguns dos seus patrí-
cios a oferecerem a quantia de cinquenta contos para o
restauro do maquinismo. A verba doada andou em bolan-
das por diferentes organismos estatais, até que, finalmente,
foi aplicada e, como gostava de frisar *Ayres de Carvalho,
“os sinos começaram a tocar espalhando música e alegria
pelas povoações circunvizinhas” (Algumas recordações de um
artista, Lisboa, 1995, p. 46).

ASSISTÊNCIA PÚBLICA DE MAFRA


Em 14 e 28 de Junho 1929 realizaram-se festas de caridade
promovidas pela Assistência Pública de Mafra no *Jardim do
Cerco.

224
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
Episódio referido pelos apócrifos assuncionistas. Primeiro
festejada na igreja oriental, seria introduzida em Roma
pelo Papa Sérgio I (687-701). No século VI, celebrava-se em
Janeiro, no entanto, nessa mesma centúria foi transferida
para 15 de Agosto, pelo Imperador Maurício (582-602).

Também conhecida por festa da Dormição, Trânsito e


Natividade (Dormitio, Pausatio, Natalis). Comemora a morte
de Nossa Senhora e a sua entrada em corpo e alma no Céu.
A Assunção de Nossa Senhora acha-se figurada num óleo
s/tela (3,28 x 2,25 m) pertencente ao acervo do Palácio
Nacional de Mafra (sacristia da *capela de Nossa Senhora do

225
Livramento [inv. n. 202]). Pintado (c. 1730) e assinado no
reverso por *André Gonçalves. Adquirida a circunstância de
o pintor usar obras alheias (sobretudo gravuras) para a com-
posição das suas telas, Nuno Saldanha advoga que se inspi-
rou, particularmente no que respeita às figuras de *São João
e de *São Pedro, “nos modelos clássicos da pintura bolo-
nhesa seiscentista, baseando-se de perto na obra de Guido
Reni”. Já para a parte superior da composição aponta uma
Assunção de Nossa Senhora da igreja de Holkham Hall
(Norfolk), datada de 1616 (cf. Joanni V Magnifico, Lisboa,
1994, p. 150).

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA, Capela da


*Capela do Santíssimo Sacramento.

ASTROLOGIA
Não se encontram ainda seguramente averiguadas as cren-
ças astrais da antiguidade hispânica. Diversas concitaram o
anátema de sucessivos Concílios, não sendo dispiciendas as
expostas pelos priscilianistas, nem mero exercício de retórica
o cânone 72 de S. Martinho de Dume: “Não seja lícito a cris-
tãos conservar práticas do gentilismo e regular-se ou gover-
nar-se pelos elementos ou pelo curso da Lua ou estrelas, ou
fútil significação dos signos nas horas domésticas”. No final
da Idade Média a astrologia grangeara uma aceitação quase
generalizada, sendo legião os seus adeptos. Reis, príncipes, e
áulicos mantinham astrólogos nas suas cortes, eles próprios
aderindo frequentemente à arte. Portugal não foi excepção.
A dinastia de Avis e o seu círculo áulico foram muito per-
meáveis à astrologia, porquanto se Dom João I, os Infantes
Dom Pedro e Dom Henrique, Dom Manuel I lhe eram muito
afeiçoados, a Afonso V se atribui um tratado, hoje perdido,
sobre a Constelação do Cão Maior, alegadamente regente da
nação lusíada por intermédio da estrela Sirius. As Ordenações

226
do Reino (título III, livro 5), que prescreviam penalidades con-
tra aqueles que se dedicassem a adivinhar futuros, ressalva-
vam delas os astrólogos: “Porém isto não haverá lugar nas
pessoas que, vendo primeiro as nascenças das pessoas, dis-
serem alguma coisa segundo seu juízo e regra da dita
Ciência”. Francisco de Holanda colocaria a astrologia entre
as ciências que convêm ao pintor no Da Pintura Antiga. Por
outro lado, as sucessivas edições do Repertório dos Tempos e
do Tesouro de Prudentes, bem como o sem número (manus-
crito ou impresso) de efemérides, tábuas, prognósticos, luná-
rios, almanaques, sarrabais, juízos sobre eclipses e tratados
acerca de cometas, ou até o Memorial de Pedro Roiz Soares,
constituem um acervo não negligenciável para aquilatar da
extraordinária receptividade de tal, nas palavras de Pedro
Nunes, “crendice vã […], que emite juízos sobre a vida e a
fortuna […]”. Os comentários negativos e as censuras
podem, do mesmo modo, constituir um valioso auxiliar
nessa tarefa. A 9.ª Regra do Índice Expurgatório de 1564 é
disso o atestado: “E os bispos tenham muita conta que nin-
guém tenha, nem leia livro ou catálogo ou tratado de astro-
logia judiciária que tratem do que está por vir e do que há-de
acontecer, ou de casos de fortuna ou de todas as obras que
dependem da vontade dos homens, ou que afirmam com
certeza alguma destas coisas. Poder-se-ão permitir juízos e
especulações naturais que para base da navegação ou da
agricultura ou da medicina estão escritas”. Estêvão da
Guarda, em duas cantigas de escárnio, e Álvaro Pais, no
Colírio da Fé contra as Heresias, denunciaria entre nós os pri-
meiros sintomas desta reacção a determinados aspectos da
prática astrológica, que a Teologia desde São Basílio e *Santo
Agostinho vinha reprovando, quando, a propósito do aver-
roísmo que o seu contemporâneo Tomás Escoto ensinava na
Universidade de Lisboa, escreve: “Outro erro sustenta como
dizem os maus astrólogos e também chamados falsos profe-

227
tas, que as coisas surgem e sucedem necessariamente neste
mundo pelas constelações”. No Leal Conselheiro, D. Duarte,
cuja biblioteca possuía obras de astrologia, alinharia com a
ortodoxia: “por que principalmente fica tudo em poder de
nosso livre alvedrio, não nos constrangendo à predestinação
nem por ciência de Nosso Senhor Deus”. Aliás, correspon-
dia tal assunção à exposta pelo canonista da corte, Diogo
Afonso Mangancha, o qual, numa carta divulgada por
Moreira de Sá, concedera que “não têm pecado” os julga-
mentos astrológicos sobre coisas naturais, designadamente
chuvas, secas, saúde e enfermidades, incorrendo, porém, em
grave ilícito quem ousasse emitir juízos sobre as obras dos
homens, dotados de livre arbítrio e, por conseguinte, não
sujeitos a qualquer determinismo. As reservas da Igreja diri-
giam-se, conforme os ditames do Breve Coeli et Terrae de
Sixto V (5 Janeiro 1586) e da Constituição de Urbano VIII, con-
tra a astrologia judiciária, que se aplicava à adivinhação de
futuros contingentes, mas igualmente visavam alguns exa-
geros da astrologia mundial, como aqueles de que frei
António de Beja se faz eco no Contra o Juízo dos Astrólogos
(Lisboa, 1523), em grande parte inspirado nas Disputationes
adversus astrologiam (1496) de Pico della Mirandola. No
mesmo sentido vão as críticas de Gil Vicente na Carta a D.
João III sobre o tremor de terra ocorrido a 26 de Janeiro de
1531: “Se dizem que por estrolomia, que é ciência o sabem,
não digo eu os de agora que a não sabem soletrar, mas é em
si tão profundíssima que nem os de Grécia, nem Moisés,
nem João de Monterégio alcançaram da verdadeira judica-
tura peso de um oução. E se dizem que por mágica, esta
carece de toda a realidade e toda a substância sua consiste
em aparências de coisas presentes e do porvir não sabe
nenhuma coisa […]”. Idêntica intenção exprimira já na
Exortação da Guerra (1513), no Auto dos Físicos (1524) e no
Auto da Feira (1527). Por sua vez, Álvaro Gomes, aderindo à

228
doutrina de Tomás de Aquino de acordo com a qual os
astros influem mas não determinam, escrevia no seu Tratado
da Perfeição da Alma (1550), contestando Alexandre de
Afrodísio: “[…] que os corpos celestes com seu movimento,
com o seu lume e influência, imprimiam nas coisas criadas,
cá [em] baixo, suas virtudes, não actualmente como em eles
está, mas um poder ou disposição mui propínqua para a
ter”. Com a Contra-Reforma, e não obstante os interditos (na
origem de amputações impostas a almanaques e repertórios
e relativas a prognósticos sobre guerras, morte de monarcas,
destruições, sedições, etc.), tanto a astrologia judiciária
quanto a mundial continuaram a ser praticadas, contando-se
entre os seus mais ferverosos adeptos o príncipe Dom
Teodósio, bem assim como muitos religiosos. Estes chega-
vam, por vezes, como aconteceu com os oratorianos de
Lisboa no ano de 1769, a competir com leigos pelo privilé-
gio de imprimir obras sobre a matéria. O ensino da disci-
plina fora institucionalizado, em 1513, com a criação da
cadeira de Astrologia nos curricula da Universidade de
Lisboa, onde leccionaram Mestres Filipe e Tomás de Torres,
este professor do futuro Dom João III a quem ensinou os
rudimentos da arte, conforme o cronista Francisco de
Andrade, e estrologo nomeado por carta régia (24 de Março
de 1524) para integrar (com Simão Fernandes e Francisco de
Melo) a junta de cosmógrafos-matemáticos incumbidos de
analisar a questão da posse das Molucas. Os jesuítas ensina-
vam astrologia no Colégio de Santo Antão, cujo corpo
docente produziu algumas obras de mérito que chegariam
a correr impressas, caso do Planetário Lusitano do padre
Eusébio da Veiga (Lisboa, 1756 [PNMafra: 2-40-2-16] e 1758
[PNMafra: 2-40-2-17]), as primeiras Efemérides regulares e
metódicas editadas em Portugal. Um trinitário, frei António
Teixeira, foi autor de outra notável obra, intitulada Epitome
das Notícias Astrológicas necessárias para a Medicina (Lisboa,

229
1670 [BAjuda: 38-IV-18]), na qual assegurava a total ineficá-
cia da medicina sem a astrologia, tese clássica (bastará recor-
dar a frequência com que se confundiam as profissões de
médico e astrólogo), igualmente perfilhada por António
Xavier de Paula, no Tratado da Influência da Lua nas Febres
(Lisboa, 1790). Merecem ainda menção a Chronographia o
Repertorio de los Tiempos de Valentim Fernandes, de Jerónimo
de Chaves (Lisboa, 1576 [PNMafra: 2-40-2-26] e Sevilha, 1580
[PNMafra: 2-63-5-5]) e de André de Avelar (Lisboa, 1594
[PNMafra: 2-40-2-27] e 1602 [PNMafra: 2-40-2-28]), O Non
Plus Ultra do Lunario de Jerónimo Cortez, e o Teatro universal
de novidades […] tiradas dos movimentos dos astros do globo esfé-
rico pela altura do pólo de ambas as Lisboas (Lisboa, 1736 a 1739
[PNMafra: 2-25-8-23 (7.º)]) de Carlos de Vico, cuja dedicató-
ria “às senhoras desta corte” deixa adivinhar o importante
papel da mulher na difusão do ideário astrológico, nomea-
damente da sua vertente horoscópica. Não obstante, em
Lisboa, no ano de 1741, seria preso pela segunda vez, por se
aplicar à adivinhação de futuros contingentes recorrendo à
astrologia, um homem já reconciliado no auto de 1709 por
culpas da mesma heresia. Na *Biblioteca do Palácio Nacional
acham-se, entre outras obras de astrólogos consagrados, as
de: Ptolomeu [2-51-13-4], Pedro Ciruelo [2-51-7-8], João
Eschuid [2-51-13-2], Pedro Apiano [2-52-5-21], Luca Gauricus
[2-40-4-23]; Valentim Nabob [2-40-2-12], Henrique
Rantzovius [2-39-5-1], Diego Torres Vilarroel [2-56-7-6; 2-25-
10-3/4; 2-25-1-6], etc.
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Filosofia Hermética em Portugal e
no acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural
’93, Mafra, 1994, p. 58-59

ASTRONOMIA
Partilha com outros *Tratados de Matemática a estante supe-
rior n. 40 da *Biblioteca de Mafra.

230
ATANÁSIO KIRCHER (1602-1680)
Nasceu em Geise (perto de Fulda), na Alemanha no ano de
1602. Nono filho de Johann Kircher, notável polígrafo e mes-
tre dos beneditinos de Heiligenstadt, revela-se precocemente
um espírito inquieto, tendo ingressado ainda criança no
Colégio Jesuíta de Fulda e recebido lições de hebraico minis-
tradas por um rabino. Em 1620 completa o noviciado que
iniciara dois anos antes no colégio da Companhia em
Paderborn, que se vê constrangido a abandonar, interrom-
pendo os estudos escolásticos a que se entregava ali, devido
a um episódio da guerra dos Trinta Anos: o ataque do
Duque Christian de Brunswick (1622). Até aos 23 anos a sua

231
vida reparte-se sucessivamente pelos Colégios jesuítas de
Neuss, Colónia, Koblenz e Heiligenstadt. Neste último, a
recepção que prepara quando da visita do Arcebispo-Eleitor
de Mainz faz atrair sobre si a atenção dos superiores. O
Eleitor passa então a contar com a sua presença na corte de
Aschaffenburg, onde leva a cabo pesquisas sobre o magne-
tismo, as quais haviam de resultar na publicação, em 1631,
do seu primeiro livro. Após a morte do Eleitor, viaja para
Mainz e depois para Speier e Wurzburg de onde regressa
precipitadamente a Mainz, escapando a uma súbita invasão
sueca (o que acarreta na perda de todos os seus manuscri-
tos), na companhia de Gaspar Schott, discípulo e futuro edi-
tor de número considerável dos seus inéditos.
Presumivelmente, ainda no mesmo ano de 1631, vê ser-lhe
concedida autorização para passar a França, tendo-se insta-
lado em Avinhão, onde ensina matemática, filosofia e lín-
guas orientais, dedicando-se também ao estudo dos
hieróglifos, os quais crê ter decifrado. O renome que a exce-
lência do seu magistério lhe grangeia vale-lhe ser nomeado,
em 1633, Matemático da Corte de Habsburg, em substitui-
ção de Kepler (f. 1631). Todavia, uma tempestade impedi-lo-
-á de atingir o seu destino, Viena de Áustria. Arribado a
Itália, é chamado ao Colégio Romano, tendo entrado na
Cidade Eterna em 1635. A Casa central da Companhia tor-
nar-se-á, assim, a sua residência definitiva, leccionando aí, a
partir de 1638, a matemática e as línguas orientais, entre
outras disciplinas. No período compreendido entre 1647 e
1678 (ano a partir do qual e até ao fim da vida a sua preocu-
pação maior serão os exercícios espirituais), definitivamente
liberto de obrigações docentes e tendo encontrado, por fim, a
estabilidade e os meios para prosseguir as suas investiga-
ções, o Doctor Centium Artium, epíteto que alude muito jus-
tamente ao número surpreendente de disciplinas e temas
que examinou, dedica-se quase exclusivamente à redacção

232
da maior parte da cerca de meia centena de volumes e opús-
culos a cuja passagem a letra de forma assiste ainda. A rup-
tura entre a filosofia natural, as artes e a religião que a
especialização, consequência das assunções científicas da
época, gerava, não afectou minimamente Kircher, porquanto
as suas pesquisas foram, sem excepção, conduzidas sub spe-
cies aeternitatis, orientadas pela máxima “Nada é mais belo
do que o Todo” e inspiradas pela profunda convicção de
numa prisca theologia, que incessantemente buscou, se acha-
rem as chaves para o desvendamento dos Arcanos Divinos.

Talvez, por esse motivo, nenhuma das invenções que lhe são
creditadas — o aritmómetro, o pantómetro, o órgão mate-
mático e a lanterna mágica (a mais célebre de todas) — viria
a ter a repercussão das realizadas por Kepler, Boyle ou
Newton. Seja como for, só uma reputação sólida, como
aquela de que gozou, poderia suscitar não apenas a copiosa
epistolografia de que foi o destinatário (no Arquivo da
Universidade Gregoriana guardam-se 114 volumes de car-
tas), como permitir-lhe reunir, provenientes das mais desen-
contradas origens, a notável colecção de artefactos,

233
curiosidades da história natural e aparelhos científicos
expostos no Museu Kircheriano, instalado no Colégio
Romano, em 1651, por sua iniciativa. Está ainda por averi-
guar o âmbito exacto da projecção inegável, que teve em
Portugal, bem como o grau da influência sobre si exercida
pela cultura portuguesa. Sabe-se, por exemplo, que Dom
Francisco Manuel de Melo era por ele “sumamente vene-
rado” (Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana). Não oferece
dúvida que a sua obra foi aqui larga e extensivamente divul-
gada e estudada, como atesta o elevado número de exem-
plares dela disponíveis ainda hoje em Arquivos e Bibliotecas,
a maioria originária de conventos extintos. Porém, aquela
que maior atenção concitou foi, indubitavelmente, o Mundus
Subterraneus, muito propalado e glosado, mormente por
quantos se dedicaram à especulação sobre as verdadeiras
causas dos terramotos. Na doutrina dos pirofilácios (ou do
fogo subterrâneo latente), aí consignada, encontraram inú-
meros autores, não obstante o impacto da Filosofia Natural
dos Modernos, o fundamento físico plausível para o terra-
moto de 1755. É o caso, entre númerosíssimos outros, de
Bento Morganti (Carta de hum amigo para outro em que dá suc-
cinta noticia dos effeitos do terramoto succedido em o primeiro de
Novembro de 1755 com alguns principios Fisicos para se conhecer
a origem, e a causa natural de similhantes Phenomenos terrestres,
Lisboa, 1756), do autor anónimo da Relação do Grande
Terramoto que houve na Praça de Mazagam (1756) e de
Veríssimo Moreira de Mendonça (Dissertação Philosophica
sobre o terramoto de Portugal do primeiro de Novembro de 1755,
Lisboa, 1756). Convém, no entanto, não esquecer que a
mesma obra foi alvo de refutações pertinentes, como a
exposta por Joaquim Moreira de Mendonça na História
Universal dos Terramotos que tem havido no Mundo […] com
huma Narração Individual do Terramoto do primeiro de Novembro
de 1755 […] e huma Dissertação Physica sobre as causas geraes

234
dos Terramotos, seus effeitos, differenças e Prognosticos, e as par-
ticulares do ultimo (Lisboa, 1758). A mais significativa e deta-
lhada delas, porém, foi apresentada por *Anselmo Caetano
de Abreu Gusmão Castelo Branco, em Ennoea ou Aplicação do
Entendimento sobre a Pedra Filosofal (Lisboa, 1732-33), e diri-
gida contra a opinião advogada por Kircher de não ser viá-
vel a crisopeia ou transmutação laboratorial dos metais,
conquanto aceitasse a possibilidade da mesma transmuta-
ção na natureza.

Obras de Kircher constantes do acervo da Biblioteca de Mafra


(pela ordem cronológica de edição)
Ars Magnesia, Wurzburg, 1631 (Sobre o magnetismo, a
primeira obra que imprimiu [2-37-5-21]); Magnes, sive de
Arte Magnetica, Colónia, 1643 e Roma, 1654, 2 vols. (O
mais extenso dos seus estudos editados sobre o magne-
tismo [Colónia, 1643, 2-37-5-20; Roma, 1654, 2 ex., 1-20-5-
4 e 5]); Rituale Ecclesiae AEgypticae sive Cophtitarum, s.l.,
1647 (Tradução da liturgia copta [1-40-5-8]); Musurgia
Universalis, Roma, 1650, 2 vols. [22-41-10-1 / 2]; Obeliscus
Pamphilius, Roma, 1650 (A propósito do obelisco da
Piazza Navona, em Roma [1-38-12-8]); OEdipus
AEgyptiacus, Roma, 1652-54, 3 vols. [1-38-8-9 / 11];
Scrutinium Pestis Physico-Medicum, Roma, 1658 (Sobre as
causas da peste, a qual, baseado nas suas observações
com microscópio, atribui aos micróbios [2-31-7-13]);
Magneticum Naturae Regnum, Roma, 1667 (Curto ensaio
sobre experiências relacionadas com o magnetismo [2-
38-1-31]); Iter Exstaticum coelesti, Roma, 1656 [2-37-8-2] e
Wurzburg, 1671 [2-37-8-6]; Polygraphia Nova, Roma, 1663
(Propõe uma língua universal com base no latim, ita-
liano, espanhol, francês e alemão [1-11-7-2]); Mundus
Subterraneus, Amesterdão, 1665, 2 vols. (É possível

235
encontrar referências a um número surpreendente de
factos fabulosos relativos ao mundo subterrâneo, além
de capítulos sobre a alquimia, a pedra filosofal e a trans-
mutação dos metais, a pirotecnia, os Rosa-Cruzes ou a
palingenésia [1-20-12-1 / 2]; Historia Eustachio-Mariana,
Roma, 1665 (Sobre um santuário por si descoberto em
Mentorella [1-44-10-4]); Obeliscus AEgyptiacus, Roma,
1666 [1-38-8-18]; China Monumentis, Amesterdão, 1667 [1-
36-8-8; La Chine Illustré, Amesterdão, 1670, 1-32-4-10]; Ars
Magna Sciendi, Amesterdão, 1669 (Desenvolve um sis-
tema lógico baseado na Arte da Memória de Raimundo
Lúlio [1-20-1-10]); Ars Magna Lucis et Umbrae,
Amesterdão, 1671 (Trata questões astronómicas e de
óptica [1-20-2-14]); Latium, Amesterdão, 1671 [1-32-4-11];
Splendor et Gloria Domus Joanniae, Amesterdão, 1669; inti-
tulada Principis Christiani Archetypon Politicum, sive sapien-
tia regnatrix, Amesterdão, 1672 (Panegírico da família
Imperial alemã [2-56-11-4]); Phonurgia Nova, Kempten,
1673 (Sobre acústica [1-20-7-9]); Arca Noe, Amesterdão,
1675 [1-54-1-13]; Sphinx Mystagoga, Amesterdão, 1676
(Sobre múmias descobertas em Memphis [1-38-8-19]);
Turris Babel, Amesterdão, 1679 [1-54-1-14].

Obras editadas por discípulos de Kircher


Gaspar Schott
Magia Universalis Naturae et Artis, Bamberg, 1677, 4 vols.
[2-37-8-8 / 11]; Organum Mathematicum, Herbipoli, 1668
(Sobre uma espécie de computador primitivo [2-39-3-
24]);
Pantometrum Kircherianum, Herbipoli, 1660 (Sobre um
“calculador geométrico” [2-40-2-6]); Technica Curiosa, sive
mirabilia artis, Herbipoli, 1687, 2 vols. (Refere diversas
maravilhas científicas [2-37-8-12 / 13]); Physica Curiosa,
sive mirabilia naturae et artis, Herbipoli, 1697, 2 vols. [2-

236
37-8-14 / 15]; Schola Steganographica, s.l., 1665 [2-37-8-24].
Philippo Bonanni
Rerum Naturalium Historia […], in Museo Kircherum,
Roma, 1769 (Catálogo do Museu Kircher [1-38-5-12],
revisto por J. A. Baturra, em 1773).
Johann Stephan Kestler
Physiologia Kircheriana Experimentalis, Amesterdão, 1680
(Resumo das experiências realizadas por Kircher [1-20-2-
9]).
Johann Jacob Manget
Bibliotheca Chemica Curiosa, Genebra, 1702 (Inclui escri-
tos de Kircher sobre a Alquimia: De Lapide Philosophorum,
v. 1, p. 54-112; os comentários críticos de Salomão
Blavenstein: Contra Antichymisticum Mundum
Subterraneum, idem, p. 113-118, i. e., Contra Kircherum,
Viena, 1667; e Gabriele Claudero: Tractatus de Tinctura
Universali, idem, p. 119-168 [1-18-5-1 / 2].
Georgibus de Sepibus
Romani Collegii Societatis Jesu Musaeum Celleberrimum,
cujus magnum antiquario rei, Statuarum imaginum pictura-
rumque partem ex legato Alphonsi Domini […] relictum. P.
Kircheri novis et variis inventis locupletatam, compluriunque
Principum curiosis donarici magnum, Amesterdão, 1678 [1-
38-5-17].

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Atanásio Kircher (1602-1680),


Doutor das Cem Artes: Ecos portugueses e presença na Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural ‘ 93 da Câmara Municipal de
Mafra, Mafra, 1994, p. 333-340; GARRUCCI, R., Origini e vicende del
Museo Kircheriano dal 1651 al 1773, in Civ. Cattolica, s. 10, v. 12, n. 4
(1879), p. 727-739 e s. 11, v. 1, n. 1 (1880), p. 453-462; GODWIN,
Joscelyn, Athanasius Kircher – A Renaissance Man and the Quest for
lost knowledge, Londres, 1979; REILLY, Conor (S. J.), Athanasius
Kircher, S. J., Master of a Hundred Arts, Roma-Wiesbaden, 1974

237
ATANÁSIO RACZYNSKI (1788-1874)
Diplomata polaco, crítico de arte e ministro de Frederico
Guilherme II da Prússia em Lisboa (de 13 de Maio de 1842
até 3 de Abril de 1848). Visitou Mafra a 13 de Setembro na
companhia do Cavalheiro Bertone, do Conde Crivelli e do
Príncipe Löwenstein. Os resultados do minucioso estudo
que levou a cabo sobre a arte em Portugal, a convite da
Sociedade Artística e Científica de Berlim, encontram-se
coligidos em cartas redigidos na língua francesa, compen-
diadas em Les Arts en Portugal (Paris, 1846). Aquela que se
reporta à excursão a Mafra tem o n. XIV e está datada de 14
de Setembro de 1844. Confessa que se revoltou contra os
cicerones do edifício logo à chegada. A Igreja é, “como a da
Estrela, uma imitação em miniatura” da de S. Pedro de
Roma, “um trecho de arquitectura irrepreensível e produ-
zido de um jacto. Não há ali anacronismo ou confusão de
ideias e se o progresso não lhe tocar conservar-se-á bela até
cair”. Quanto ao Palácio “é imenso, mas deserto e silen-
cioso” além de ter “um aspecto bolorento”. Elegeu, como o
mais belo, o quadro representando S. Domingos e S.
Francisco em adoração diante de Cristo e da Virgem,
outrora, exposto na Portaria do Convento. Referências adi-

238
cionais nas Cartas I (6 Dezembro 1842), XXIX (1 Agosto
1845), no Apêndice B da VI e no Dictionnaire Historico-
Artistique du Portugal (Paris, 1847).

ÁTRIO DA BASÍLICA
Também denominado *galilé ou galileia.

AUDIÊNCIA, casa da
Também denominada *sala do Trono (ver descrição das pin-
turas parietais por Cirilo Volkmar Machado). *Frei João de
Santa Ana (fl. 398-399): “A mesma escada principal do tor-
reão, que dá entrada para a casa da portaria das Damas, por
outro portal fronteiro a este a dá também para a Casa de
Audiência, indicado na planta pelo n. 38 a qual se estende do
poente para nascente, tem 81 palmos de comprido 33 de
largo três grandes janelas na parede do Sul, que deitam para
a varanda do claustro B as quais se segue um portal fingido e
depois deste um aberto junto ao topo poente por onde da

239
casa do docel se entra para esta. Defronte deste portal e do
fingido estão na parede do Norte dois fingidos e defronte das
três janelas estão três abertos, que são o da escada e dois por
onde da casa da frente Norte se entra também para esta. No
topo do nascente está no meio o Trono e o Docel e no lado
Norte um portal fingido e no Sul um aberto para a sala, que
lhe fica ao nascente. Defronte destes portais no topo poente
estão outros dois fingidos. Esta casa esta ricamente pintada
com pinturas análogas ao fim para que foi destinada. Em
ambos os topos no principio do tecto está pintado o lusitano
sobre o trono, e por cima riquíssimo docel. Por baixo do trono
estão pintados dois grandes gigantes sobre que o trono des-
cansa. Entre as janelas e os portões estão pintados as grandes
figuras da ciência, Docilidade, Tranquilidade e Perfeição na
parede Norte e na do Sul a Generosidade a Concórdia a
Constância e a Diligência. Por baixo de cada uma das ditas
grandes figuras representativas das virtudes reais está um
quadro e em todos eles se representa as vitórias conseguidas
na Índia pelos portugueses. Estes quadros são tão admirá-
veis, que sendo tudo pintura de cor parda parecem releva-
dos e ou se vejam ao longe ou de perto representam-se as
figuras tão […] fora, que mesmo quem esta junto a elas não se
persuade que tudo é plano sem apalpar. Do mesmo são os
dois gigantes, que estão em cada topo e dois génios, que
seguram a coroa. Toda a casa esta ricamente ornada de
damasco e veludo encarnado e o pavimento coberto de ricas
alcatifas. Todo o tecto é de riquíssimas pinturas e no meio
tem buracos para suspender lustres”.

AUGUSTO, Infante Dom (4.11.1847-26.9.1889)


Oitavo filho de *Dona Maria II e *Dom Fernando II.
Dispunha de aposentos privativos na ala Sul do *andar
nobre do Palácio de Mafra, os quais conservaram, até há
alguns anos, a designação de “quarto de Dom Augusto”.

240
AUGUSTO DOS SANTOS
Encarregado dos trabalhos de reparação nas portas e janelas
do Palácio Nacional de Mafra, os quais ainda prosseguiam
em 1899 (O Mafrense, 1 Dez. 1899).

AULA DE FÍSICA
A Aula da Física, designada na planta pelo n. 111, tinha, à
semelhança da *Aula de Lógica, o portal para o *corredor
das Aulas. Segundo *frei João de Santa Ana, estava cercada
“de assentos com espaldares e estrados (e do mesmo modo
todas as outras). Além dos muitos vidros, que tem nas sobre-
portas há em cada uma delas por cima da cimalha uma
grande janela, que deitam [sic] sobre o terraço do corredor.
Em ambas elas a cadeira magistral está no meio junto à
parede do lado do Norte e defronte na do Sul está um
famoso painel. Cada uma das aulas tem outro, mas presen-

241
temente todos estão no Tesouro da Sacristia [*casa da
Fazenda] para onde se recolheram pela invasão francesa.
Entre estas duas aulas há uma casa estreita com portal para o
mesmo corredor e outro no fundo, que deita para o dormi-
tório n. 122. É chamada a casa da tinta, porque no tempo em
que os estudantes postilavam, nela estava a tinta de escre-
ver de que eles se proviam quando lhe era precisa. Recebe
luz pelos portais e pela bandeira ou sobreporta do que deita
para o dormitório”. A Gazeta De Lisboa de Setembro de 1790
reporta a visita a Mafra de *Dona Maria I, a qual terá assis-
tido a uma aula de Física e a experiências com máquinas
pneumática e electroestática dos *Reais Estudos. *Dom Joa-
quim da Assunção Velho.

AULA DE GRAMÁTICA LATINA


*Aula de Teologia.

AULA DE PRIMEIRAS LETRAS


Destinada aos estudantes seculares do *Real Colégio de
Mafra. Tinha a cadeira magistral colocada a meio da parede
Norte.

AULA DE LÓGICA
*Frei João de Santa Ana (fl. 117): “A casa designada na planta
pelo n. 109 é a Aula da Lógica a qual tem o portal para o cor-
redor das Aulas”, tal como acontece com a *Aula de Física,
designada pelo n. 111, e em tudo idêntica a esta.

AULA DE METAFÍSICA
Este curso durava três anos. A cadeira magistral ficava a
meio da parede poente. Uma vez perdida a sua função ori-
ginal, serviu, primeiro, de sala de *Esgrima do *Real Colégio
Militar, tornando-se, depois de entregue ao Ministério da
Justiça, sala de jurados e de testemunhas do *Tribunal.

242
Enquanto sala de Esgrima, tinha nas paredes quatro dísticos
com as seguintes máximas francesas: Le sentiment du fer est
le secret de l’art (Norte); Gardez-vous de confondre le nom
sacré de l’honneur avec ce préjugé féroce qui met toutes les
vertus à la Pointe d’une épée – J. J. Rousseau (Sul);
N’employer la force que pur accèlerer la vitesse – A. Grisier
(Leste); Faites des faux temps pour poser et riposter – A.
Grisier (Oeste).

AULA DE MORAL
Os coristas que não tinham capacidade para o *púlpito estu-
davam Moral para servirem como confessores. *Frei João de
Santa Ana (fl. 120): “Esta aula, designada na planta pelo
n. 118, é semelhante à de Lógica e à de Física tem 39 palmos
de alto do mesmo modo que as outras. Tem uma janela, que
deita para o corredor dos autos e outro que deita para o ter-
raço do mesmo corredor tem mais sobre o portal da entrada,
que no mesmo corredor uma sobreporta com 18 vidros. Os
mesmos têm também os portões das outras. Tem a cadeira
magistral junto à parede do lado do Norte. É cercada de
assentos com espaldares. Esta e todas as mais aulas têm o
pavimento de tijolos, mas são cercadas de estrados de pau
por baixo dos assentos”.

AULA DE TEOLOGIA
O curso de Teologia durava quatro anos. *Frei João de Santa
Ana (fl. 120): “Tanto a Teologia Dogmática como a Canónica,
Exegética, Histórica, etc., se ensinam na Aula de Teologia
designada na Planta pelo n. 69 cujas matérias os Lentes
diversos ensinam em diversas horas. E por isso quando sai
um de ler a sua hora, entra outro. Isto que fazem uns de
manhã, fazem outros à tarde”. A mesa do leitor ficava a meio
da parede nascente. Esta sala era também usada como Aula
de Gramática Latina.

243
AULAS
As aulas dos *Reais Estudos de Mafra eram mobiladas com:
um quadro com moldura de madeira pintada de preto com
friso amarelo; uma cadeira de leitor (defronte do quadro),
bancos com espaldar encostados à parede, em torno da casa;
mesas estreitas diante dos bancos dos estudantes; dois can-
deeiros de bronze nas cabeceiras da sala; uma tribuna de
madeira, portátil, junto da porta, onde se podia assistir
oculto às lições. *Sino das aulas.

AULAS, Corredor das


O grande corredor das Aulas estende-se de Norte a Sul,
desde uma até à outra fachada do Edifício, “tem as suas
principais entradas pelos dois portais que estão no fim dele
em ambas as frentes, os quais estão designados pelos n. 77 e
cada um deles tem diante quatro degraus por onde da rua se
sobe para o corredor. Cada portal destes com uma janela
redonda, que tem em cima, tem de alto 28 palmos e meio e
de largo 13. Este corredor […], tem de comprido 837 palmos
[184,14 m e 22 palmos = 4,84 m de largura] e com a grossura
das paredes até à superfície externa delas tem 848 […]. Tem
na parede do lado do poente 22 janelas com grades de ferro e
fingidas tem 7. Estão levantadas 9 palmos [1,98 m] acima do
chão e todas têm de alto 20 palmos [4,40 m] e de largo 10
[2,20 m]. Do mesmo tamanho são todas as mais janelas dele

244
e de todos os outros corredores que comunicam com este
[nele desembocam quatro outros *corredores que se iniciam
nos *claustros]. Todas as ditas janelas deitam para o pátio da
igreja umas e para os dois saguões designados na planta
pelos n. 73 e 85. Tem mais no mesmo lado três janelas sobre
as portas e quatro portais […]. No lado nascente tem 15 jane-
las do tamanho já dito e das mesmas tem 8 fingidas. No
mesmo lado tem 8 janelas mais pequenas sobre várias portas
e outras 8 fingidas. De todas as sobreditas janelas umas
comunicam luz para o Refeitório, Casa De Profundis, dos
Lavatórios e mais casas que estão na mesma linha até à dos
Actos inclusive; e outras a comunicam para a escada desig-
nada na planta pelos n. 104, 105 e 106. No mesmo lado tem
onze grandes portais por onde se entra nas ditas casas. Tem
mais um pequeno e além destes tem três grandes fingidos.
Há, portanto, em todo o corredor 50 janelas com vidros e fin-
gidas 23. Todo o pavimento dele e dos corredores que têm o
seu princípio junto aos portões dos claustros, e igualmente o
do Capítulo, e o das Sepulturas é de pedras brancas e azuis.
Nos lados têm soco de pedra branca e muitas pilastras da
mesma, sobre as quais se firmam muitos arcos de pedra for-
mados na abóbada” (frei João de Santa Ana, fl. 91-92). Deste
corredor saem duas escadarias para o corredor da *Sacristia,
igualmente descritas no Real Edifício Mafrense (fl. 94-95): “No
mesmo corpo quadrado formado entre os quatro corredores
principia no corredor das Aulas a famosa escada designada
na planta pelo n. 75, a qual está formada entre o pátio n. 73 e
o corredor próximo ao pátio da Igreja. Tem esta escada 14
palmos de largo e onde ela principia forma sobre o primeiro
degrau um famoso arco de pedra branca ricamente lavrada e
com muito ornato de flores, etc. e está levantado do degrau
23 palmos. Faz o arco duas faces com o mesmo ornato de
uma e outra parte. Uma face olha para a escada, cuja abó-
bada é muito elevada e outra olha para o corredor das Aulas.

245
Na parede deste, defronte do dito arco, está formado outro
que lhe corresponde perfeitamente, mas como aí não há por-
tal aberto, só tem a face que olha para o corredor. Sobre o
arco da escada há uma famosa tribuna ou varanda com pei-
toril, colunatas e outro muito lavor de pedra branca, a qual
tribuna olha para a escada, tem a mesma largura e está ele-
vada sobre ela 26 palmos e meio. Tem a escada 26 degraus e
entre estes e o famoso corrimão, que de um e outro lado é
acompanhada, é tudo de pedra encarnada com moldura de
pedra branca. Sobre ela deitam duas grandes janelas que
olham para o pátio da Igreja, e defronte destas estão outras
duas fingidas. Todas estas janelas, as paredes colaterais da
escada e do grande patamar, que está no fim dela, são de
pedras de diversas cores e têm muito ornato de talha. O tecto
dela é de abóbada apainelada. […]”. Tudo quanto se disse
acerca desta escadaria aplica-se à outra, simétrica, designada
na planta pelo n. 75, formada entre os quatro corredores
junto ao claustro Norte, a qual sobe do corredor das Aulas
para a tribuna da capela do *Campo Santo, passando-se dela
para o corredor de São Pedro de Alcântara e deste para a

246
Igreja. A todo o comprimento do corredor das Aulas corres-
ponde um *terraço ou varanda. Os braços transversais do
corredor das Aulas eram utilizados pela comunidade nas
procissões públicas (*Candeias, *Ramos e *Corpo de Deus),
que percorriam o exterior da *Basílica.

AULAS, Fonte das


Também denominada *Fonte das Almas.

AULAS LITERÁRIAS DE MAFRA


Referenciadas num manuscrito de *Machado de Castro, inti-
tulado O Zenit da ingratidão. Ainda não se conseguiu apurar
se efectivamente se tratava de uma *Academia literária ou
simplesmente dos *Reais Estudos de Mafra.
Bibliografia: LUCENA; Armando de, Existiu em Mafra uma Academia
Literária?, in Diário de Notícias (20 Ago. 1945)

ÁUSTRIA
No acervo da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
existe uma obra de tipografia austríaca quinhentista: Typi
Chrographici Provinciarum Austriae cum Explicatione Earundem
pro Commentariis Rerum Austriacarum Concinnati […] (Viena,
Michael Zimmermann, 1561 [1-38-11-14]) de Wolfgangus
Lazius.
Bibliografia: ASSUNÇÃO, Guilherme de, Obras de Tipografia aus-
tríaca, holandesa e portuguesa na Biblioteca de Mafra (século XVI), in
Boletim Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, v. 5, n. 4 (Out.-
Dez. 1964), p. 635

AUTO DA FÉ
Tinha lugar ao Domingo. O primeiro auto da fé de que há
notícia em Portugal ocorreu em Lisboa, a 20 de Setembro de
1540, e os derradeiros em Lisboa, Coimbra e Évora no ano
de 1781. Consistia de uma proclamação solene e pública das

247
sentenças condenatórias proferidas pelo Santo Ofício. Após
um Sermão, saíam os penitentes para ouvirem ajoelhados as
respectivas sentenças. Os penitentes admitidos à reconcilia-
ção abjuravam, enquanto os condenados à morte eram entre-
gues à justiça secular.

Parenética dos Autos da Fé na


Biblioteca Volante de frei Matias da Conceição
ALMEIDA, Padre Aires de, Sermam Do Acto Da Fee Que
Se Celebro Em Coimbra, No Terreiro de S. Miguel em 17 de
Outubro de 1694, Coimbra, José Ferreira, 1697 [2-11-8-12
(15.º)]; ALMEIDA, Frei Cristóvão de, Sermam Do Acto de
Fee, Que Se Celebrou no Terreiro do Paço desta Cidade de
Lisboa, a 17 de Agosto do anno de 1664, Lisboa, Henrique
Valente de Oliveira, 1664 [2-11-8-12 (9.º)]; ÁLVARES,
Padre Luís, Sermam, Que Pregou O Padre Lvis Alvares Da
Companhia De Jesv, Sendo Reytor do Colegio, & Universidade
de Evora. Em o acto de Fé, que em a Cidade de Evora se fez a
tres de Abril do Anno de 1672. Lisboa, António Craesbeeck
de Melo, [1672] [2-11-8-12 (10.º)]; ANJOS, José dos,
Sermão No Auto Publico Da Fe, Que se celebrou na Praça de
S. Miguel da Cidade de Coimbra em 25 de Maio de 1727,
Coimbra, Real Colégio das Artes da Companhia de
Jesus, 1727 [2-11-5-12 (11.º)]; BARATA, Frei Domingos,
Sermão Do Acto Da Fe Pregado Na Cidade de Coimbra em 14
de Junho de 1696 […], Évora, Oficina da Universidade,
1717 [2-11-8-6 (4.º); 2-11-6-2 (4.º) e 2-11-8-12 (1.º)];
BULHÕES, Frei Miguel de, Sermão Do auto Da Fé
Celebrado Na Igreja De S. Domingos Desta Corte, Que recitou
em 16 de Outubro de 1746, Lisboa, Pedro Ferreira, 1750 [2-
11-8-6 (3.º) e 2-11-6-2 (3.º)]; GOMES, Padre André, Sermão
Que Fez O Padre Andre Gomez Da Companhia de Iesus. No
Auto da Fê, que se celebrou no Recio da Cidade de Lisboa, em

248
28 de Novembro, primeiro Domingo do Aduento de 1621,
Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1621 [2-11-8-12 (18.º)]; JUSTI-
NIANO, Diogo da Anunciação, Sermam Do Auto Da Fe,
que se celebrou no taboleyro da Parochial Igreja de Santo
Antam de Evora, em Domingo 20 de Julho de 1710, Lisboa,
António Pedroso Galrão, 1710 [2-11-8-12 (11.º)]; NASCI-
MENTO, José do, Sermaõ Do Acto Público Da Fee, Que Se
Celebrou No Terreyro De Saõ Miguel da Cidade de Coimbra,
em trinta de Junho de 1726, Coimbra, José Antunes da
Silva, [1726] [2-11-5-12 (10.º)]; OLIVEIRA, Frei José de,
Sermam Prégado No Auto Da Fé, Que se Celebrou Na Cidade
De Coimbra Em O Atrio De S. Miguel Na primeyra Dominga
de Julho de 1691, Coimbra, José Ferreira, 1691 [2-11-8-12
(14.º)]; OLIVEIRA, Frei José de, Sermam Que Prégou No
Auto Da Fe, Que Se Celebrou No Rocio da Cidade de Lisboa
em Domingo 6 de Novembro do anno de 1707, Coimbra. José
Ferreira, 1707 [2-11-8-12 (16.º)]; PEDROSO, Francisco,
Exhortação Dogmatica Contra A Perfidia Judayca Feyta aos
Reos Penitenciados no Auto publico da Fé, que se celebrou na
praça do Rocio junto aos paços da Inquisição desta Cidade de
Lisboa em 9 de Julho de 1713, Lisboa, Miguel Manescal,
1713 [2-11-8-12 (6.º)]; SANTA MARIA, Padre Francisco
de, Sermam do Auto da Fé, que se celebrou na Praça do Rocio
desta Cidade de Lisboa, junto dos Paços da Inquisiçaõ. Anno
de 1706, Lisboa, Na Officina de Manoel & Joseph Lopes
Ferreyra, 1706 [2-11-8-12 (2.º)]; SÃO JOSÉ, Frei Caetano
de, Sermam no Auto Publico da Fé que se celebrou na Praça
do Rocio desta Corte em Domingo 14. de Outubro de 1714,
Lisboa, Na Officina de Joseph Lopes Ferreyra, 1715 [2-
11-8-12 (7.º)]; SEQUEIRA, Padre Bento de, Sermam, que
pregou o Padre Mestre Bento de Siqueira da Companhia de
Iesv no Auto da Fé, que se celebrou no Terreiro do Paço desta
Cidade de Lisboa em 6. de Abril do anno de 1642, Lisboa, Na
Officina de Domingos Lopes Rosa, 1642 [2-11-8-12 (12.º)];

249
SILVA, Luís da, Sermam do Auto da fee que se celebrou no
terreiro do Paço desta cidade de Lisboa a 10 de Dezembro do
anno de 1673, Lisboa, A. Craesbeeck de Mello, 1674 [2-11-
8-12 (5.º)]; TELES, Frei Bernardo, Sermam do Auto da Fé
que se celebrou no Rocio de Lisboa, em Domingo 30. De Junho,
no anno de 1709, Lisboa, Na Officina de Manoel, e Joseph
Lopes Ferreyra, 1709 [2-11-8-12 (3.º)]; VIEIRA, Frei
Francisco, Sermaõ do Acto da Fé, que se celebrou no pateo de
S. Miguel da Cidade de Coimbra em 19 de Junho do prezente
anno de 1718, Coimbra, No Real Collegio das Artes da
Companhia de Jesus, 1718 [2-11-8-12 (4.º)]

Bibliografia: BETHENCOURT, Cardozo de, L’ auto da Fé de Lisbonne,


15 Décembre 1647, in Révue des Études Juives, n. 98 (out.-Dez. 1904), p.
262-269; GANDRA, Manuel J., Parenética dos autos de fé na Biblioteca
Volante de Frei Matias da Conceição, in Boletim Cultural ’98, Mafra,
1999, p. 847-851; GLASER, Edward, Invitation to Intolerance: a study
of the Portuguese sermons preached at Autos de fé, in Hebrew Union
Collection Annual, v. 27 (1956), p. 327-385; REMÉDIOS, Joaquim
Mendes dos, Sermões em Autos-da-fé, in Biblos, n. 3 (Jan. 1927), p. 6-
17; VERO, Carlos, The Inquisition and Judaism: a sermon adressed to
jewish martyrs on the ocasion of an auto da Fé at Lisbon, 1705, by the
Archbishop of Cranganor, Philadelphia, 1860

AUTORES CLÁSSICOS
Partilham com os *Oradores Gregos e Latinos as *estantes
inferiores n. 12 e 13 da *Biblioteca de Mafra.

AVELAR BROTERO
*Félix de Avelar Brotero.

AYRES DE CARVALHO (25.6.1911-199?)


Concluiu o Curso de Pintura na ESBAL, em 1935. Participou
em muitas exposições promovidas pela ANBA e pelo SNI,

250
com desenhos, pinturas a óleo, monotipias, águas-fortes e
pontas-secas, realizando também inúmeras mostras a título
individual e recebendo diversos galardões, de que se salienta
o Grande Prémio da ANBA, em Julho de 1985, atribuído por
unanimidade, “tendo em apreço a obra realizada e o seu
contributo para a consolidação do modernismo português”.
Em 1947, é nomeado Conservador interino dos Palácios
Nacionais, tornando-se Segundo Conservador, em 1948 e
Primeiro Conservador dos Palácios e Monumentos
Nacionais, em 1976. A 1 de Março de 1947 tomou posse do
cargo de Conservador do Palácio Nacional de Mafra, ence-

251
tando, imediatamente, o inventário do respectivo acervo,
procurando dar às salas certa uniformidade nos estilos e na
disposição dos objectos, muitos dos quais são expostos pela
primeira vez. Introduz melhorias na *Galeria de Arte Sacra,
organiza uma reconstituição da *Botica conventual, no vestí-
bulo da *Enfermaria. No ano seguinte, ocupa-se da reinte-
gração e complemento das pinturas murais das salas de
*Diana, dos *Destinos e de *Faetonte. Em 1959, providencia o
restauro de todas as imagens dos 18 andores das Procissões
da Penitência dos Terceiros Franciscanos e das Dores de
Nossa Senhora. No ano de 1961, inicia a organização do
*Museu de Escultura Comparada, criado por diploma de 11
de Dezembro de 1963. Em suma, a ele se ficaria a dever a
reabilitação do Palácio Nacional de Mafra e da sua imagem
geralmente tão denegrida. Concomitantemente, investiga
questões de história de arte, mormente atinentes ao período
*Barroco, revelando (muitas vezes em entrevistas) grande
número de documentos, até então inéditos, reinterpretando
outros já publicitados e desbravando muitos territórios
nunca antes explorados. Em 1964, ano em que se tornou
Académico efectivo da ANBA, seria transferido para o
Palácio da Ajuda mantendo, porém, o cargo de Conservador
do Palácio Nacional de Mafra. Autor de invejável obra
ensaística, estudos de história de Arte, inventários artísticos
e catálogos de exposições. A Câmara Municipal de Mafra e a
Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva homenagearam-
no em 1992 e 1994, respectivamente. Condecorações:
Comenda de São Gregório (1967), Comenda de Cavaleiro da
Ordem de Mérito da República Italiana (1968), Oficial da
Ordem Militar de Santiago de Espada (1969), Comenda da
Ordem Brasileira do Rio Grande (1973), Comenda da Ordem
de Mérito da República do Senegal (1975), Medalha de
Honra Municipal da Câmara Municipal de Mafra (1992).
*Segundo Centenário.

252
Obra Mafrense de Ayres de Carvalho
A antiga Botica do Convento de Mafra (comunicação apre-
sentada ao I Congresso Luso-Espanhol de Farmácia, reali-
zado em Madrid), 1948; A propósito de dois inéditos de
Vieira Lusitano, in Ocidente, v. 35, n. 128 (Dez. 1948) e in O
Concelho de Mafra (2 Jan. 1949); O Natal, os Presépios e
Machado de Castro, in O Concelho de Mafra (19 Dez. 1948);
A Escultura de Mafra, Lisboa, 1950 e 1956; Dois Frescos de
Vieira Lusitano, in Ocidente, v. 45, n. 188 (Dez. 1953); Uma
estátua equestre do Rei D. João V, in Diário de Notícias (27
Jun. 1954); Identificação duma Miniatura de setecentos, in
Bol. do Museu Nacional de Arte Antiga, v. 3, n. 1 (1955);
Arte e Tradição – O Museu da Casa do Povo – Quatro
Registos gravados inéditos, in Mensário das Casas do Povo,
v. 9, n. 108 (Jun. 1955); Notas inéditas sobre alguns Artistas
da Escola de Escultura de Mafra, in Belas Artes, s. 2, v. 3
(1955); Arte e Tradição – II. Irmandades de Mafra, in
Mensário das Casas do Povo, v. 10, n. 117 (Mar. 1956); Para a
História do Hospital da Misericórdia de Mafra, in O Concelho

253
de Mafra (Abr. 1959); Dom João V e a Arte do seu tempo,
[Mafra], 1960- 1962, 2 vols.; A Escola de Escultura de Mafra
[…], in Belas Artes, s. 2, v. 19 (1963); Catálogo do Museu de
Escultura Comparada – Gipsoteca, Lisboa, 1964; Novas
Revelações para a História do Barroco em Portugal, in Belas
Artes, s. 2, v. 20 (1964); Obra Mafrense, Mafra, 1992

Bibliografia: COELHO, Maria Eduarda Leal, Ayres de Carvalho: uma


antologia, Lisboa, 1994; GANDRA, Manuel J., Ayres de Carvalho: nota
bio-bibliográfica e artística, in Bol. Cultural ’92, Mafra, 1993, p. 209-221

A. WINCKLER
Gravador, em 1836 (?) de estampa (155 x 155 mm), intitulada
Mafra, em tudo idêntica a outra gravada por William Finden
e editada em Londres no ano de 1833 (Finden’s Illustrations of
the life and works of Lord Byron, v. 1).
Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra
(desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra,
1998, n. 38 e 39, p. 243

AZEITE
Em 1884, o azeite de oliveira fino (170 réis o litro) destinado
à iluminação da *Basílica, era arrematado em leilão.
*Armazém do azeite.

AZULEJO
Do acervo do Palácio Nacional fazem parte alguns azulejos
representando caçadas, pintados por *Dom Fernando II.

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ÍNDICE

Artes, artistas e ofícios mecânicos Armeiro Arquitectura


Aarão de Lacerda Artur José
Adriano Gavila, Don Atanásio Raczynski
Ad Quadratum Augusto dos Santos
Agostinho Corsini Ayres de Carvalho
Agostinho Masucci Azulejo
Aguarela
Alberto Monteiro Biblioteca, bibliografia,
Alçado fontes e literatura
Alcatifas de Mafra A . Fontoura da Costa
Alexandre Giusti Aires de Sá
Alexandre Gomes Aleixo Ribeiro
Alfaias Religiosas (ver Teologia, Alemanha
liturgia e alfaias litúrgicas) Alexandre António de Lima
Amâncio José Henriques Alexandre Freire
Anacleto Ventura de Castro Alvará
André Gonçalves Álvaro Ferrand de Almeida
Ânfora Fernandes
António Baptista Garvo Álvaro Guerra
António Canevari Anatomia
António Duarte Anticristo
António Francisco da Silva Antiguidades Romanas
António Machado António de Andrade Rebelo
António Manuel da Fonseca António Estácio dos Reis
António Maria Maragliano António Ibot
António Montante António Isidoro da Nobrega
António Pecorado António Joaquim Anselmo
António Rebelo da Fonseca António Luís Gomes
António Soares de Faria António Mourão Toscano
Aparador António Pereira de Figueiredo
Aprendiz de vidraceiro António Oliveira Freire
Aquecedor de cama António de Santa Marta Lobo
Arca Apocalipse
Arca para cera Arcipreste da Santa Basílica
Arcangelo Foschini Patriarcal
Arcaz Armando Boaventura
Areação dos Bronzes Armas de Colegio
Armando de Lucena Artes Liberais e Mecânicas
Armário Conventual Ásia
Armário Holandês Astronomia

255
Áustria Cultura e Instrução
Autores Clássicos Absolutismo
Academia
Calendário e festividades Acontece
Ver Teologia , liturgia e alfaias Actos Escolares
litúrgicas Actos Escolares, Sala dos
Actos Finais
Carrilhões Actos Literários
Ver Música, músicos Actos Literários, Sala dos
e instrumentos musicais Aula de Gramática Latina
Aula de Lógica
Ciência, cientistas e fenómenos Aula de Metafísica
naturais Aula de Moral
Abalo Telúrico Aula de Primeiras Letras
Águas destiladas Aula de Teologia
António Francisco Raposo Aulas
António Trigo Aulas, Corredor das
A . Severiano Alves Aulas, Fonte das
Aulas Literárias de Mafra
Aula de Física
Avelar Brotero
Dependências áulicas
Ajardinamento dos Claustros
Corte e cortesãos
Andar Nobre
Abrantes, Marquês de
Andar Superior
Açafata
Andar Térreo
Afonso, Dom
Antecâmara do Torreão Norte
Afonso Henriques, Dom
Antecâmara do Torreão Sul
Afonso Henriques, Infante Dom Aposentos Régios
Afonso II, Dom Archeiros, Casa dos
Afonso III, Dom Areação, casa da
Afonso IV, Dom Audiência, casa da
Afonso VI, Dom
Alegrete, marquês do Dependências monásticas
Amélia, Dona Ábside
Amélia Leuchtenberg, Dona Açougue
Ana de Jesus Maria, Dona Adro
António, Dom Água do Convento
António Abreu da Silva Alameda
António Luís de Oliveira Alameda do Real Edifício
António Pio, Dom Alameda Dom Manuel II
Augusto, Infante Dom Alameda Miguel Bombarda

256
Alicerces Alquimia
Almas, Fonte das Anselmo Caetano Munhós de
Armazém de Azeite Abreu Gusmão e Castelo Branco
Armazém do Bacalhau Ar
Armazéns Junto à Sacristia Arte da Memória
Assunção de Nossa Senhora, Árvore dos Sephirot
Capela da Astrologia
Átrio da Basílica
Iconografia, imaginária religiosa
Eruditos, historiadores, Alberto Teles
filósofos e críticos Alexandre Magno
Alberto Pimentel Anjo
Alexandre Herculano Anjo Custódio de Portugal
Antero de Quental Anunciação
António Gouveia Apresentação de Maria no Templo
António José de Almeida Arcanjo
António Pereira de Figueiredo A. Rouargue
Atanásio Kircher Assunção de Nossa Senhora

Eventos Públicos Instituições


Adriano Augusto de Figueiredo Academia dos Ocultos
Dores Academia de São Lucas
Aniversário Administração da Fazenda da
Casa Real
Auto da fé
Almoxarifado da Reais
Propriedades de Mafra
Gastronomia Amigos de Lisboa
Açúcar Arcádia Romana
Arroz Doce Arquivo Histórico de Mafra
Arquivo Histórico Ultramarino
Hagiografia e santos Asilo de Mafra
Ana, Santa Asilo dos Filhos dos Soldados
Agostinho, Santo Assistência Pública de Mafra
Ambrósio, Santo
André, Santo Jardim do Cerco
António, Santo Abílio Ferreira de Brito
Apóstolo Água no Jardim do Cerco

Hermetismo Mitologia
Anagrama Adamastor

257
Música, músicos e instrumentos António das Chagas, Frei
musicais António da Charneca, Frei
Administrador dos Reais Órgãos António da Conceição, Frei
de Mafra António de Cristo, Frei
Ajudante de carrilhanor António da Encarnação, Frei
Ala dos Organistas António do Espírito Santo, Frei
Alfredo Pinhão Alegria António da Graça, Frei
André Lehr António da Índia, Frei
Angeleli António da Madre de Deus, Frei
Antoine Sibertin-Blanc António da Madre de Deus Galrão,
António Bernardo da Silva Frei
António Duarte António do Nascimento Mocambo,
António José Soares Frei
António Leal Moreira António da Natividade Mocambo,
António Simões Frei
António Teixeira António de Oliveira, Padre
António Xavier Machado António das Onze Mil Virgens,
Antuérpia Frei
Artur Alcântara António dos Prazeres, Frei
Assis Chateaubriand António da Purificação, Frei
António da Purificação Morais
Organaria Cardoso, Padre
Ver Música, músicos António Rainha Santa, Frei
e instrumentos musicais António do Rosário, Frei
António de Santa Ana, Frei
Religiosos António de Santa Clara, Frei
Abade, Dom António de Santa Helena, Frei
Abade beneditino António da Santa Maria dos Anjos,
Abade de Tibães Frei
Afonso da Conceição, Frei António de Santa Maria dos Anjos
Agostinho, Frei Melgaço, Frei
Agostinho da Natividade, Frei António de Santa Teresa de Jesus,
Agostinho Pereira Frei
Alberto da Fonseca Rebelo, Padre António de São João, Frei
Alexandre António Duarte, Padre António de São José, Frei
Ambrósio da Conceição, Frei António de São José Linhares, Frei
Anastásio dos Santos, Frei Arrábidos
André de Jesus Maria, Frei
António da Arrábida, Frei Tapada
António da Assunção, Frei Abade, Chafariz e Fonte do
António da Cera, Frei Abegoarias, poço da nora das

258
Abelheira Aleluia
Abrunheira Alfaias religiosas
Adega, poço da Almofada de Missal
Água Férrea, Chafariz da Altar
Água Férrea e Purgativa, Fonte da Altar Mor da Basílica
Água da Tapada Altares da Basílica
Álamos, Chafariz dos Alva
Almarjão, Minas do António José Nogueira
Alto do Assobio Apagador
Alto dos Barros, Nascente do Arca do Testamento
Alto das Calças Arcanjo António dos Reis
Alto dos Palheiros, Nascente do Ascensão
Alto da Tojeira Azeite
Alto do Urzal
Alto da Vela
Visitantes estrangeiros e turistas
Árvore A . C. Inchbold
Adam Neale
Teologia, liturgia, Afonso Texedor, Don
alfaias litúrgicas A . Fullarton
Ablução A . Germond de Lavigne
Absolvição Alexandre Boutroque
Abstinência Alexandre Jean Nöel
Acólito Alfred Charles Smith
Advento Alfred Lyall
Adoração Alfredo von Bergh
Agnus Dei Andrew Halliday
Água Benta Arthur William Costigan

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