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Ensaio filosófico

A Necessidade de Fundamentação da Moral

Ao longo deste ensaio procurarei discutir o problema «O que faz de uma ação moralmente correta?».
O objetivo deste ensaio é expôr a minha resposta a este problema. Dois grandes filósofos refletiram
sobre este problema: Immanuel Kant e Stuart Mill. Na perspectiva de Kant, uma ação é moralmente
correta se a intenção do agente foi cumprir o dever. Já Mill defende que a moralidade da ação reside
nas suas consequências - uma ação é moralmente correta se proporcionar felicidade às pessoas
envolvidas na ação, exceptuando o agente.Considero que a discussão deste problema filosófico é
relevante, pois ajuda-nos a compreender como poderemos corretamente.

Na minha opinião, uma ação moralmente correta é aquela em que a intenção do agente foi a de agir
de acordo com certos princípios éticos, mas também a de promover a maior felicidade para todas as
pessoas envolvidas na ação. Assim, defendo a proposição que diz que «Uma ação é moralmente
correta se a sua intenção for a de agir de acordo com princípios éticos, sem no entanto deixar de
procurar promover o maior bem-estar de todos os envolvidos na ação moral.» Há duas razões para
acreditar que esta proposição é verdadeira.

1º Argumento - O papel principal da intenção


Assim como Kant, acredito que a moralidade duma ação reside na intenção. Tal como Kant defende,
ao sermos seres racionais e dotados de boa vontade, somos capazes de agir segundo princípios ou
leis morais. Apesar da relevância das consequências da ação, a intenção tem o papel principal no
que toca à avaliação criteriosa da moralidade duma ação. As consequências são somente elementos
constituintes da ação a ter em conta quando a realizamos, enquanto que a intenção é o que nos
permite saber se uma ação é ou não moralmente correta. Imaginemos uma situação em que um
médico prescreve um medicamento a um doente, que pensa ser o mais adequado, e que, depois,
provoca efeitos colaterais no paciente. Foi esta uma má ação? O médico, através do seu
conhecimento procurou fazer o melhor para o paciente. Nem sempre é possível calcular todas as
possíveis reações adversas que uma pessoa possa ter a um medicamento, da mesma forma que
nem sempre podemos calcular as consequências das nossas ações. A intenção do médico foi ajudar,
no entanto, condições exteriores a si levaram a que a consequência fosse negativa. Apesar do
médico ter procurado alcançar a maior felicidade (a do paciente, neste caso), a consequência acabou
por ser desastrosa. Mas o que realmente interessa é que a sua intenção era a de cumprir com o seu
dever ético, logo esta foi uma boa ação.

2º Argumento - A importância da consequência e a circunstancialidade dos princípios éticos

Ao contrário de Kant, acredito que a moralidade não é apenas seguir princípios éticos, mas também
procurar o bem-estar de todos. Assim, um equilíbrio entre estas duas dimensões, a de Kant e a de
Mill, é essencial para determinar se uma ação é moralmente correta ou não. A existência de
princípios éticos, como a justiça, a honestidade, a compaixão, ou a solidariedade, permite-nos
compreender o critério de classificação moral das ações. Sem eles era difícil encontrar princípios a
seguir para classificar as ações. Mas, ao contrário de Kant, que defendia princípios morais absolutos
e invioláveis, compreenda-se aqui “princípios éticos” como princípios não absolutos e dependentes
das circunstâncias e consequências da ação, que se procuram ter em conta aquando da realização
duma ação. Imaginemos uma situação em que um político desvia dinheiro para ajudar um grupo de
pessoas mais carenciadas. Podemos classificar esta como uma má ação, visto que não cumpriu com
o princípio da justiça? É verdade que o político não cumpriu com o princípio ético da justiça quando
desviou dinheiro, no entanto, a ação, ao resultar em uma maior felicidade geral, incluindo para os
mais necessitados, promove o princípio da justiça de forma mais ampla. Em resumo, os princípios
éticos são importantes para orientar a moralidade, mas devem ser aplicados procurando atingir a
maior felicidade geral.

Objeção:
Uma possível objeção a este argumento sustenta-se no perigo que poderá ser priorizar certas
consequências em vez dos princípios éticos. Ao secundarizar estes princípios, abre-se a porta para
ações que contradizem certos princípios em prol da felicidade geral. Este político, ao desviar dinheiro
duma entidade, prejudica-a e, independentemente do resultado, vai contra o princípio da justiça,
numa condição inicial. Prejudicar um grupo menor de pessoas para ajudar um grupo maior é, em si,
imoral. Logo, é importante estabelecer limites claros para a quebra de princípios éticos, de modo que
não haja justificações falaciosas para ações imorais.

Resposta:
A esta objeção, podemos responder, reforçando que estes princípios não são valores absolutos e
invioláveis. Estes princípios éticos são somente diretrizes de comportamento, a partir dos quais se
consegue obter ações mais corretas. Ao serem somente linhas condutoras para as nossas ações,
existem muitas circunstâncias em que os princípios éticos terão de ser considerados de forma
diferente e específica à circunstância. É também importante mencionar que o exemplo dado no
argumento é uma situação muito particular. Na maioria das situações em que um princípio ético é
violado, as consequências não são tão claramente benéficas como neste exemplo hipotético.
Portanto, é importante considerar que a violação do princípio ético em nome de outro deve ser
tomada com extrema cautela e deve ser considerada apenas quando se trata de uma situação
extraordinária em que a violação é justificada pelos benefícios esperados e não prejudicará
gravemente outras pessoas ou a sociedade como um todo.

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