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Manuel J.

Gandra

A BIBLIOTECA
DO
PALÁCIO NACIONAL DE
MAFRA

colecção de bolso

1
4
COSMOLOGIA e ARTE DA MEMÓRIA
Considerações acerca do programa
emblemático e mnemotécnico
da Casa da Livraria
do Palácio Nacional de Mafra

5
6
E a cidade é fundada em quadro, e tão comprida como
larga: e mediu ele a Cidade com a cana de ouro [...]. E o seu
comprimento e a sua altura e a sua largura são iguais.
APOCALIPSE, XXI, 16

Só o justo permanece, Aristóteles o chamou quadrado, pelo


afirmar estável. A Cidade de Deus é quadrada porque é
eterna.
FREI JACINTO DE DEUS

É unanimemente partilhada a opinião segundo


a qual a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
(doravante BPNMafra) constitui um caso excepcio-
nal, singular mesmo, no contexto biblioteconómico
lusitano.
Diversos são os argumentos probatórios aduzi-
dos.
À cabeça, surge o mais consensual de quantos
são citados: a BPNMafra é uma biblioteca histórica,
efectivamente a única que sobreviveu incólume às
vicissitudes que, em maior ou menor grau, estive-
ram na origem do desbarato das restantes livrarias
conventuais portuguesas1, inclusivé das contem-
porâneas dela.
Depois de apontada tal circunstância, que
aconselharia redobradas medidas cautelares no que
respeita à sua conservação e gestão, são sublinhadas
a amplitude2 e a excelência do acervo, frequente-
mente inusitado até em congéneres estrangeiras.
Por fim, invariavelmente num misto de estupe-
facção e incredulidade, evoca-se a ambiência mági-
ca do lugar, geradora de uma irreprimível necessi-
dade de recolhimento interior, face à qual o indizível
que paira no ar assume os contornos de uma quase
hierofania.
De facto, ali é possível ouvir o som do próprio
silêncio!...

7
Creio que, efectivamente, uma aura mistérica
emana deste autêntico Templo do Saber. Estou
mesmo convicto que, apesar do cartesiano desdém
da generalidade dos chamados especialistas,
existem motivos ponderosos na origem de tão
persistente impressão causada pela BPNMafra
sobre o visitante intuitivo.
A tarefa que me cometi consiste, como já se
tornou óbvio, em carrear para o convívio dos
leitores elementos que os capacitem a reconstituir o
quadro de referências indispensável à recuperação
de uma semântica aparentemente perdida. Digo
aparentemente perdida, porquanto ela foi simples-
mente suplantada pelos modelos epistemológicos
modernos, os quais a baniram e arredaram para
áreas periféricas, marginais e herméticas do saber,
acessíveis apenas àqueles que, fazendo profissão de
fé da sua douta ignorância, buscam na maiêutica
socrática a libertação relativamente aos constrangi-
mentos impostos pela caverna e pelas inibições
específicas dos cavernícolas.

*
* *

Há alguns anos atrás, José Carlos Calazans,


buscando uma explicação para o carácter impar da
BPNMafra, levantou uma ponta do véu, não con-
duzindo, porém, até às últimas consequências a
sua abordagem hermenêutica3.
Constatou, no entanto, que a BPNMafra reper-
cute um modelo cosmológico cristão, tendo chama-
do a atenção para o facto de o seu organizador, frei
João de Santana, o ter adoptado intencionalmente,
servindo-se para o efeito daquilo que designou de
regra das quatro ordens4, a saber:
1ª cosmosófica (dois hemisférios: Norte reserva-
do ao trivium e Sul ao quadrivium);

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A Casa da Livraria do Palácio Nacional de Mafra
O salão mede 88,88 m (404 palmos) no sentido Norte-Sul, 24,20
(110 palmos) no sentido nascente-poente e 9,46 m (43 palmos)
de largura.
A abóbada eleva-se à altura de 10,78 m (49 palmos), excepto no
cruzeiro, onde atinge 13,20 m (60 palmos).
Quatro portas envidraçadas fronteiras, duas a nascente e duas a
poente, dão acesso a escadas que conduzem à galeria. As
escadas do lado nascente, em caracol, são em pau preto, ocu-
pando o espaço de um vão de janela, enquanto as outras duas
são de cantaria, possuindo 27 degraus, distribuídos por 4
lanços: o terceiro dá acesso à galeria e o quarto às casas situadas
sobre as do piso inferior.
De ambos os lados do cruzeiro, sobre a janela grande observa-se
uma coroa real com o monograma de Dona Maria I.

9
2ª determinada pela altura das prateleiras (mais
altas nas inferiores e mais baixas nas superiores);
3ª de matérias (directamente relacionada com a
ordem cosmosófica: hemisfério Norte e Sul);
4ª cronológica (das obras mais antigas para as
mais recentes, dentro de cada tema, por estante e
por autor nas mesmas estantes).
Não obstante ter posto, assim, a descoberto tão
espantoso filão, aquele investigador deixaria por
apurar diversos aspectos essenciais para a sua ca-
racterização, de entre os quais avulta o de saber se
a BPNMafra constitui um exemplo isolado e, em
caso negativo, qual a latitude e representatividade
atingida pelo modelo nela adoptado.
Justamente a propósito dele recordo um trecho
da descrição apresentada por Adso da biblioteca da
abadia em cujo cenário se desenrola a trama de O
Nome da Rosa de Umberto Eco, que é tudo menos
uma inocente e quimérica ficção:

"Em suma [...] convencemo-nos que a biblioteca era


na verdade constituída e distribuída segundo a
imagem do globo terráqueo. A setentrião encontrá-
mos ANGLIA e GERMANI, que ao longo da parede
ocidental se ligavam a GALLIA, para depois gerar no
extremo ocidente HIBERNIA e na direcção da
parede meridional ROMA (paraíso dos clássicos lati-
nos!) e YSPANIA. Vinham depois a meridião os
LEONES [África, direcção onde se encontravam
livros de autores infiéis, i. e., os livros da mentira],
o AEGYPTUS, para oriente se tornavam IUDAEA e
FONS ADAE [o Paraíso, i. e., o oriente, direcção
onde se guardavam as sagradas Escrituras, i. e., a
palavra de Deus, e seus comentários]. Entre oriente
e setentrião, ao longo da parede, ACAIA, uma boa
sinédoque [...] para indicar a Grécia [...]. O modo de
leitura era bizarro, por vezes procedia-se numa
única direcção, outras vezes andava-se ao con-

10
trário, outras vezes ainda em círculo, frequente-
mente, como disse, uma letra servia para compor
duas palavras diversas (e nestes casos a sala tinha
um armário dedicado a um assunto e um outro a
outro). Mas não havia evidentemente que procurar
uma regra áurea naquela disposição. Tratava-se de
mero artifício mnemónico para permitir ao bibliote-
cário encontrar uma obra. Dizer de um livro que se
encontrava em quarta Acaiae significava que estava
na Quarta sala a contar daquela em que aparecia o A
inicial, e quanto ao modo de a identificar supunha-se

11
que o bibliotecário sabia de cor o percurso, ou recto
ou circular, a fazer. Por exemplo, ACAIA estava dis-
tribuído por quatro salas dispostas em quadrado, o
que quer dizer que o primeiro A era também o últi-
mo [...]. [...] vindo de oriente, nenhuma das salas de
ACAIA introduzia nas salas seguintes: o labirinto
terminava naquele ponto, e para chegar ao torreão
setentrional era necessário passar pelos outros três.
Mas, naturalmente, os bibliotecários, entrando pelo
FONS, sabiam bem que para ir, supunhamos, a
ANGLIA, deviam atravessar AEGYPTUS, YSPANIA,
GALLIA e GERMANI".

Enfim, se a mestria dos cânones tradicionais da


cosmologia e da Arte da Memória, se revelou ade-
quada ao intento dos personagens de Eco, por que
não há-de igualmente ser competente para nos
guiar na travessia do também labiríntico jardim de
eloquência sacro-profana que é o locus mnemo-
técnico da BPNMafra?

*
* *

Em anteriores ocasiões, analisei detalhada-


mente as razões aduzidas pela historiografia (para-
doxalmente, ou talvez não, frequente cúmplice da
lenda) no tocante aos primórdios e à semântica do
Monumento de Mafra, concluindo que, salvo rarís-
simas excepções (regra geral desdenhadas), tem
optado por omitir intencionalmente ou votar ao
esquecimento circunstâncias vitais para a com-
preensão das autênticas motivações de Dom João
V, indiscutível mentor da Obra5.
O monarca terá contado, certamente, com a
assessoria de alguns poucos cortesãos sábios (uma
escassa meia dúzia, se tanto) partilhando consigo o
mesmo ideal e as chaves crípticas susceptíveis de

12
codificar a mensagem que desejava legar aos vin-
douros.
Isto porque não me sobram dúvidas de que o
intenso e depurado emblematismo do Monumento
de Mafra cristaliza aquilo que é lícito entender como
uma didáctica identitária. Com efeito, a Real Obra
do Magnânimo poderá ter constituído o derradeiro
ubículo edificado, expressamente vocacionado para
albergar os princípios metafísicos fundantes do
desígnio nacional e preservá-los de toda a cor-
rupção durante as inevitáveis e mais ou menos lon-
gas travessias do deserto que Portugal, à semelhança
de todas as nações, ciclicamente empreende6.
Os postulados essenciais desse transcendental
legado enunciei-os em escritos transactos, cuja con-
sulta sugiro, uma vez que dou por adquirida a ge-
neralidade dos respectivos conteúdos.
Sintetizando: o Monumento de Mafra encarna o
Pólo Celeste da capital umbigo (omphalos) do
Quinto Império, cujos requisitos mundanos Lisboa
é suposto deter7.
Nessa perspectiva, a Real Obra de Mafra é,
segundo Anselmo Caetano Munhós de Abreu
Gusmão e Castelo Branco, "[...] a Santa e Nova
Cidade e Jerusalém que do Céu viu descer o
Evangelista S. João, preparada primeiro por Deus e
adornada como a Esposa para o seu Esposo"8.
Não obstante, e apesar de a nenhum dos expo-
sitores e exegetas da Sagrada Escritura ter Deus
facultado o conhecimento do dito Templo, o mesmo
autor, médico coimbrão, desvela-o ao Mundo:
"[...] unido ou identificado [e] sobre a Santa
Cidade [...], porque ficando o templo superior à
mesma Cidade, fica por este modo como separado e
por cima da Cidade o Templo ou Santuário que pos-
sui um só Príncipe [...]. Este Santuário, ou Novo
Templo de Ezequiel, viu este Profeta separado sete
léguas da Cidade Marítima, chamada Oriental e

13
Ocidental [...]. Este Principado Secular e junta-
mente Eclesiástico da Igreja não está em Itália, mas
existe separado e fora de Roma estabelecido em uns
Mosteiros e Varões Religiosos, consagrados de todo
a Deus [...]. Muitos Conventos há hoje fora de
Roma, em que está edificada a Igreja de Cristo, que
é a Nova e Santa Cidade de Jerusalém descida do
Céu à Terra [...] mas nenhum Mosteiro de Religiosos
se acha na Cristandade que esteja edificado sete
léguas fora ou por cima da Cidade marítima,
chamada Oriental e Ocidental, fundada sobre tan-
tas águas subterrâneas e tão adornado como a
Esposa para o seu Esposo, senão esta nova e única
Maravilha do Mundo [...] estabelecida em Portugal,
edificada em Cristo, sobreedificada em Mafra e
sobre o fundamento que lhe pôs São Paulo, pelo real
e invicto braço do Sábio e Augusto Apolo Lusitano e
pelas mãos dos Portugueses para Corte do Quinto
Império de Cristo [...]"9.
O filósofo hermético não é, porém, o único autor
contemporâneo do Magnânimo a conferir um
caráter escatológico ao Monumento de Mafra. Com
efeito, diversos outros enunciam considerações de
idêntico teor10, de que se destacam o seu paralelis-
mo ora com o Templo de Salomão, ora com o
Escorial, ora com o Vaticano.
Uma vez que o Escorial foi, consabidamente,
gizado à imagem do Templo de Salomão, conforme
a conceptualização do arquitecto real Juan de
Herrera, tornar-se-á evidente o motivo da compara-
ção. Acresce ainda uma circunstância relevante: a
dedicação da Basílica de Mafra a Santo António,
popularmente designado pelo epíteto de Arca do
Testamento, i. e., Arca da Aliança11.
Apesar de tudo, conhecida a fortuna ideológica
e iconográfica do Templo de Salomão após a publi-
cação dos três volumes das In Ezechielem
Explanationes et Apparatus Urbis, ac Templi

14
Hierosolymitani Commentariis et Imaginibus
Illustratus (Roma, 1596-1604) de João Baptista
Villalpando12, jesuíta e discípulo de Herrera, não
pode deixar de causar estranheza a total omissão de
referências ao Antigo Testamento no Monumento de
Mafra.
A não ser que tal decorra simplesmente do facto
de, no que concerne à obra do Magnânimo, o
Templo de Salomão remeter, como modelo
arquetípico, para a Jerusalém Celestial do
Apocalipse, morada dos santos em glória.
Nesse caso, estará achado o motivo para a pre-
sença no nartex, ou galilé, dos 12 Apóstolos do
Cordeiro (Apocalipse, XXI, 14), autênticos funda-
mentos da Cidade Santa, instituidores cada um
deles, tal como Dom João V, de uma Nova Ordem
espiritual (os grémios religiosos que fundaram) no
seio do próprio cristianismo. Exceptuam-se, claro
está, não só pela sua condição de mártires como
também pela estatura avantajada que os distingue
dos restantes, São Vicente e São Sebastião, corpori-
ficando, respectivamente, as colunas Jakin (Ele
estabelece) e Boaz (Por Ele é poderoso), colocadas no
Ulam (vestíbulo), ladeando o pórtico pelo qual se
acede ao Hekal (santuário) e, deste, ao Debir (Santo
dos Santos)13.
Explorando estas e outras vertentes do tema,
cujo carácter visionário e misterioso favoreceu um
sem número de comentários e glosas, bem como o
florescimento de uma tradição iconográfica multi-
facetada14, as opções dos exegetas face à ordem
prescrita no texto sagrado tornar-se-á manifesta e o
Monumento de Mafra revelará os seus arcanos.
A complexidade do problema não me impedirá,
entretanto, de referir sumariamente duas das mais
célebres facetas enunciadas pelo Evangelista no
Apocalipse, a saber: o Número 666 e a Estrutura
simbólica da Jerusalém Celeste.

15
Número 666
Trata-se do famoso número triangular sagrado
de 36 e valor secreto de 62. Ocorre na Bíblia em três
circunstâncias distintas, correspondendo: ao
número de talentos que Salomão recebia anual-
mente (1 Reis, X, 14); ao número dos filhos de
Adonikam que regressaram do exílio babilónico
(Esdras, II, 13); finalmente ao número da Besta que
"subiu da terra" (Apocalipse, XIII, 11-18).
O facto de o texto bíblico referir que o número
da Besta "é o número de um homem", originou a
atribuição dele a personalidades de índole muito
diversa, com predomínio para os chefes militares e
os estadistas, mas a que nem a instituição pontifícia
foi poupada15.
Muitos hermeneutas sublinham a necessidade
da revisão da carga pejorativa do número 666,
porquanto na Kabbalah hebraica simplesmente
manifesta Sorath, o Espírito do Sol. De resto, aos
números triplos (como 111, número da Inteligência
do Sol, ou 888, número de Jesus) sempre a
numerologia mística atribuiu significado solar. Além
de que 666 e 888 são duas das ratio subjacentes à
formação da escala musical e ao princípio da har-
monia, um dos aspectos do Logos (Criador).
Nessa perspectiva o Monumento de Mafra é
uma réplica de Heliopolis, a Cidade do Sol. Com
efeito, a planta do Monumento de Mafra configura,
com base no respectivo módulo regulador ou
cânone, o quadrado mágico do Sol. O referido
quadrado comporta os primeiros 36 números dis-
postos segundo uma grelha de 6 x 6, de molde que
o valor linear, na horizontal, na vertical ou na dia-
gonal, seja 111 e o valor global 666, também cor-
respondente ao número total de compartimentos ou
divisões do Real Edifício!

16
Quadrado mágico do Sol (6 x 6)
Os quadrados mágicos são instrumentos capazes de captar e vir-
tualmente mobilizar um poder, circunscrevendo-o na represen-
tação do número daquele que é o detentor de tal poder. São
guarnecidos de números inteiros positivos, diferentes, de modo
que a soma dos números que figuram sobre uma mesma recta
(horizontal, vertical ou diagonal) seja sempre a mesma.

O carácter solar do edifício é ainda alvo de ou-


tras explícitas referências. Um elemento, porém,
patente a todos quantos rumam à Basílica, etimo-
logicamente a Casa do Rei, serve à dissipação das
hesitações que possam persistir. Qual esfinge, o
Carrocel desenhado no empedrado do patim da
esplanada do adro que dá acesso ao templo, expres-
sando a iniludível vontade de geometrizar tão ca-
racterística da época, faculta o seu enigma aos pas-
santes a cujo discernimento e argúcia exige a
decifração. De autêntico cosmograma se trata, su-
btilmente transposto para a Vila de Mafra e, mutatis
mutandis, para Portugal inteiro. Dois corpos tan-
gentes, um quadrangular, outro semi-circular, na
razão, respectivamente, do espaço e seus quatro
horizontes, e do tempo, ritmado pelo movimento cir-
cular dos astros (implícito nas esferas ou órbitas dos
planetas, nos sete degraus que implicam a semana

17
O Sol físico e da monarquia, como módulo regulador do
Monumento de Mafra
O Sol, ocupando o centro virtual do Carrocel, configura, em
1730, o modelo heliocêntrico condenado pela Igreja Romana, a
qual só noventa anos mais tarde (em 1820) acabaria por o ado-
ptar justamente em substituição do sistema geocêntrico. As qua-
tro faces do quadrângulo "olham em linha recta para os quatro
ventos principais e os quatro ângulos dele olham para os quatro
intermédios" (frei João de Santana). O grupo de sete degraus
implica a semana da Criação (seis degraus + um patamar = Sabat
de descanso). A rampa semicircular contém as esferas ou órbitas
(coroas circulares brancas) dos seis astros então considerados
(sete, contando com o Sol), separadas por coroas circulares pre-
tas, indicadoras do vazio existente entre aquelas. Na coroa cir-
cular branca periférica erguem-se vinte e quatro penitentes,
simetricamente divididos por um caminho sem sombra, a estra-
da meridiana do Sol (físico e da monarquia), em dois grupos de
doze, na razão das vinte e quatro horas de um dia. O quadrado,
cujo lado corresponde à distância entre o ponto central do Astro
Rei e a linha externa da coroa circular periférica, é o módulo re-
gulador de todo o Monumento de Mafra.

18
e nos penitentes, que são 24, tantos quantos as
horas de um dia), fundem-se para se homogeneizar.
No centro, o Astro Rei (módulo da Visão de
Ezequiel) despede os seus raios em todas as
direcções, evocando a imagem de uma roda e dese-
nhando imensa máquina de que o monarca é, con-
comitantemente, o motor e o eixo, centro imóvel,
regulando a acção. Em torno de si evoluem mais ou
menos rapidamente, conforme a proximidade ou
afastamento, os grandes e os pequenos, numa espé-
cie de fototropismo face ao Corpo glorioso do Sol
monárquico, o qual, à semelhança de um relógio,
ordenada e ceremonialmente os rege, enquanto
membros do seu corpo simbólico.
No dia mesmo da aclamação de Dom João V,
Manuel Lopes de Oliveira punha a questão nos
seguintes termos: "Dia também dos em que o Sol lá
dessas altas esferas começa a voltar para este nosso
hemisfério seu rosto e seus benéficos raios. E assim
El-Rei nosso Senhor, esplendíssimo Sol Oriente da
nossa Lusitânia voltando para estes seus vassalos
os raios da sua beneficência, queira aceitar os nos-
sos obsequiosos rendimentos"16.

Estrutura simbólica da Jerusalém Celeste


Topos, como o anterior, muito debatido, cuja
formulação tem sido explorada ora com recurso ao
di arithmon (provado mediante números) ora ao dia
ton grammon (provado com o auxílio de linhas ou
construções geométricas) da tratadística greco-lati-
na. A ambas aludirei sucintamente, submetendo-
-as, em paralelo, ao cânone do Monumento de
Mafra.
A importância doutrinal da divisão duodecimal
no cristianismo, sublinhada por Lucas (VI, 13-17) e
Mateus (X, 2), havia de ser retomada pelo Doutor
Seráfico, São Tomás de Aquino, o qual faria cor-
responder os 12 Apóstolos às 12 contemplações da

19
Fé ou artigos do Símbolo, às 12 Tribos, às 12 pedras
do peitoral do Sumo-Sacerdote, aos 12 Anjos, aos
12 Patriarcas e às 12 Portas da Jerusalém Celeste.
Porém, a repercussão da numerologia sagrada no
Monumento de Mafra não se esgota, tão só, neste
valor (presente nos seus doze pórticos, ou nas 12 x
12 [144 = Santa Jerusalém] moedas lançadas pelo
esmoler do Magnânimo sobre a pedra fundamental).
Outro número recorrente, tradicionalmente
associado ao eschaton nacional17, merece também
uma referência. Trata-se do número 17, sob esta
forma, da de algum dos seus múltiplos (34, 51,
etc.), ou ainda sob a do seu valor secreto, 153, que
exprime a soma dos valores dos nomes dos
Apóstolos, fundamentos da Cidade Santa (i. e.,
1530), segundo Mateus (9 x 170 [= Nova Jerusalém])
e Lucas (10 x 153 [= Os Espirituais]).
Convirá então recordar, meramente a título de
exemplo:
1. que o lançamento da primeira pedra do
Monumento de Mafra teve lugar no dia 17 de
Novembro de 171718.
2. que a Basílica (Casa ou tabernáculo do Rei,
que encarna a divindade creditada ao Sol!) conta
com 3 + 7 + 7 = 17 lampadários, ou Luzes diante do
Trono, nas suas três capelas principais, cir-
cunstância naturalmente evocadora da Presença do
Todo Poderoso (Shaddai), bem como da teofania de
Metraton, Príncipe do Mundo e princípio activo da
Shekinah (a presença feminina existente em Deus
[= Virgem, também orago da Basílica], que paira
sobre a décima séfira, Malkhuth [= Reino], de todos
os cabalistas, cristãos incluídos!).
3. que cada uma das pilastras do corpo da
Basílica, sustenta uma cornucópia com três velas e
uma vez que as pilastras são 34 (17 do lado Norte +
17 do lado Sul) outrora, quando se rezavam matinas
solenes, eram acesas 102 velas (i. e., 34 x 3 velas,

20
ou 17 x 6, ou ainda 17 x 3 x 2), conforme infor-
mação constante do Real Edifício visto por fora e por
dentro (fl. 270) de frei João de Santa Ana.
4. que o Monumento de Mafra possui 17 pára-raios.
5. que cada carrilhão (um na torre do Norte, outro
na torre do Sul) tinha primitivamente 51 sinos (3 x 17).
Um exame atento ao contexto geomorfológico de
Mafra e seus arredores pode ainda revelar-se de
enorme pertinência para a corroboração dos con-
tornos semânticos do exposto.
Assim: a povoação denominada Paz, outro dos
nomes de Salém ou Jerusalém, é contemporânea da
fundação da Real Obra; o antigo padroeiro de Mafra,
Santo André (do grego: an, andrós, homem, i. e.,
Adão), situa-se entre João Baptista e a Jerusalém
Celeste, encarnando a passagem da Aliança do
Sinai à de Cristo, encerrando, por conseguinte, o
ciclo da profecia na posteridade de Jacob. O seu
papel inscreve-se entre dois mundos (este e o vin-
douro), duas cidades santas (a terrestre e a celeste),
duas portas (da Fé e do Conhecimento Perfeito ou
Caridade), dois santos (o Baptista e o Evangelista).
Juntamente com Pedro, Tiago e João, foi um dos
que colocaram a Jesus a questão primordial quan-
to à destruição do Templo e ao Fim do Mundo:
"Quando hão-de suceder estas coisas? E que sinal
haverá de quando todas elas se começarem a
cumprir?" (Marcos, XIII, 3-5).
Na Jerusalém Celeste toda a Natureza Humana
dispersa se reunirá no Adão Primordial, reparador e
divino, símbolo da Vida Eterna, expresso na cruz
aspada (X) que identifica Santo André com o Sol de
Justiça e a Cidade Solar que desce do Alto (X = 10
= Tétractys = número perfeito por excelência)19.

*
* *

21
Pedra do Mistério da ermida de S. Julião e Sta. Basilissa
(Carvoeira)
Uma vez os números dos quadrados mágicos substituídos pelas
letras correspondentes, obtêm-se pentáculos mágicos. A legenda
Ecce Crucem Domini pode querer aludir à Cruz (ou trabalhos) a
que o candidato a decifrador se condena para lograr a decifração.
Na Biblioteca do Palácio de Mafra encontram-se inúmeras obras
pertinentes para a investigação deste género de recreações
matemáticas.

22
Reservei para o final uma tradição que achei
registada pela primeira vez em Paulo Freire20.
Refiro-me à Avenida ou Estrada do Sol que se
admite haver sido planeada por Dom João V para
unir em linha recta o seu Monumento ao Atlântico.
O Dr. Carlos Galrão aventa a hipótese de se tratar
de uma lenda, talvez desfigurada com o tempo21,
inspirada num folheto de Tomás de Pinto Brandão:

"[...] E é que há-de vir, da Ericeira


direito a Mafra um canal,
por onde os barcos caminhem,
e seja estrada naval [...]"22.

Proponho agora uma explicação diversa. É que


traçando uma recta no eixo da Basílica e prolon-
gando-a através da Rua Serpa Pinto, para poente,
até atingir o litoral, essa linha une a Real Obra à
ermida de São Julião e Santa Basilissa (Carvoeira).
Nesse templo, verdadeira antecâmara do de Mafra,
porquanto os seus patronos corporizam, conforme
as iniciais dos seus nomes atestam, as colunas
Jakin e Boaz, acha-se a demonstração definitiva da
cubatura do Monumento de Mafra. Com efeito, sob
a galilé de São Julião abriga-se a Pedra do Mistério,
na realidade a planificação da Pedra Cúbica, cujos
quadrados mágicos já transformados em pentácu-
los, são o corolário da mestria guemátrica de

Monograma de [Manuel] TEIXEIRA, no


cruzeiro de São Julião.

23
Manuel Teixeira23, ilustre cabalista, quiçá frequen-
tador da Biblioteca do Palácio Nacional, onde os
investigadores têm à sua disposição tudo quanto
necessitam para refazer o percurso filosófico que
proponho.

*
* *
Orientar-se é uma atitude primordial que impli-
ca uma relação com o mundo (logo cosmológica),
condicionada tanto pela forma específica como cada
um se adapta ao espaço como pela cumplicidade
que cria com as suas direcções cardeais. Sem tais
condicionantes qualquer orientação quer geográfi-
ca, quer antropológica, seria inviável. Contudo, e
desde uma época anterior à alcançável pela
memória humana, todo esse sistema de interacções
depende de um único referencial: o Norte celeste ou
zénite do universo, a dimensão vertical e transcen-
dente sem cuja vivência interior as dimensões hori-
zontais jamais lograriam adquirir a posição que
ocupam.
É, todavia, este conceito permutável com o
outro mais vulgarizado de Oriente místico, origem e
objecto da Demanda Eterna, tão comum na literatu-
ra cavaleiresca ocidental (tal como em Os Lusíadas),
mas já presente nas instruções facultadas aos
mystes do orfismo, ou no poema de Parménides, no
qual, guiado pelas filhas do Sol, o poeta empreende
uma viagem que tem por destino esse particular
Oriente24.
Convirá, entretanto, sublinhar que a BPNMafra
fica situada no extremo oriente do edifício em que se
acha inserida e, à semelhança deste, foi concebida
como um autêntico cosmograma, conforme se infere
da observação dos respectivos traçados regu-
ladores.

24
Alguns dos traçados reguladores do Monumento de Mafra, obti-
dos a partir do comprimento do eixo Norte-Sul da Biblioteca.

25
Por outras palavras, a sua estrutura e configu-
ração resumem analogicamente as leis e cânones
anhistóricos do cosmos25, tal qual estes têm sido
tradicionalmente assumidos e legitimados pela
prática construtiva, sob uma tripla formulação, sis-
tematizada no Ocidente pelos collegia fabrorum lati-
nos com a denominação de quatro Horizontes, duas
Vias e três Recintos26.
Clemente de Alexandria proporá a seguinte
leitura para a citada fórmula: "De Deus, Coração do
Universo, partem as extensões indefinidas que se
dirigem, uma para cima, outra para baixo, uma
para a frente e outra para trás. Voltando o seu olhar

Sistema mnemotécnico proposto para um mosteiro por


Johannes Romberch (Congestorium Artificiose Memorie, Veneza,
1533).
Os loci ou lugares mnemotécnicos podem ser representados por
arquitecturas complexas, sujeitas a todo o tipo de divisões e
estruturas, e assumindo a forma de cidades, templos, palácios,
jardins, diagramas geométricos, etc. As cinco partes da Retórica
(inventio, dispositio, elocutio, memoria e pronuntiatio) são susce-
ptíveis de se subordinar às sete zonas do corpo humano ou aos
sete pontos espaciais: fundamento, zénite, nadir, oriente, oci-
dente, meio-dia e setentrião.

26
para cada uma dessas seis direcções cria o mundo.
Em Deus se contêm as seis fases do tempo e é dele
que elas recebem a sua extensão indefinida. Nisso
reside o segredo do número sete".
Como cada um de tais enunciados cosmogóni-
cos emerge de um âmbito semântico específico, con-
vém elucidar o respectivo alcance, aplicando-o ao
objecto em análise:

Quatro Horizontes
A sua figura canónica é a cruz, a qual representa,
entre outras coisas, os pontos cardeais ou quatro
domicílios do Sol no decurso dos seus ciclos quoti-
diano (dialéctica Dia-Noite ou Luz-Trevas) e anual
(quatro Estações e por extensão os doze signos zo-
diacais). Exprime-se simbolicamente por intermédio
da dinâmica circular que insere o factor Tempo
(Cardo maximus, braço Norte-Sul ou dos Solstícios:
Inverno = Capricórnio e Verão = Caranguejo) no
factor Espaço (Decumanus maximus, braço
nascente-poente ou dos equinócios: Primavera =
Carneiro e Outono = Balança).

Duas Vias
O Cardo maximus resume-as: segundo Porfírio "O
Câncer [Sul] é favorável à descida e o Capricórnio
[Norte] à subida"27. Conduzem às portas solsticiais,
sendo representadas por Janus, porteiro celeste, o
deus bifronte ou Senhor das duas Vias (Y pitagórico
= dois Caminhos da Didaché), detentor (como São
Pedro) das chaves dourada e prateada dos Grandes
e dos Pequenos Mistérios, da Porta dos Deuses ou
Empíreo (Janua Coeli = Capricórnio / domicílio de
Saturno / Inverno) e da Porta dos Homens ou Hades
(Janua Inferni = Caranguejo / domícilio da Lua /
Verão)28. São apenas dois os acessos à Biblioteca e
acham-se exactamente nas extremidades do eixo
Norte-Sul da cruz.

27
O sol no zénite, no centro virtual da BPNMafra (Oriente).

O sol no nádir, desenhado no empedrado do adro da Basílica


de Mafra (Ocidente).

28
Três Recintos
A mundividência suposta nesta tripartição assenta,
segundo Georges Dumezil, em três energias ou
ordens que garantem o curso do mundo, a saber: a
soberania, regida pelo céu e representada pelo tem-
plo (oratores ou curatores, o clero, no braço Norte da
cruz); a fecundidade que radica no mundo subter-
râneo e se materializa no celeiro (laboratores ou
povo, no braço nascente-poente); a força que age no
mundo terrestre e tem sede no paço (bellatores ou
nobreza, no braço Sul da cruz). Nesta trifuncionali-
dade a que Platão se reporta quando descreve a
Alma do Mundo (mistura de três substâncias, uma
indivisível outra divisível, ligadas por um misto), se
baseia a organização social convencional no antigo
Regime, conforme a tese de Georges Duby sobre o
imaginário do feudalismo.

Sob esta óptica torna-se evidente o significado


do Sol colocado no centro virtual do cruzeiro da
Biblioteca, em oposição nítida ao desenhado no
empedrado que dá acesso à Basílica. Enquanto este
se apresenta no nádir, i. e., no extremo ocidente,
direcção do mundo inferior ou sensível, aquele
ocupa o pólo, omphalos, zénite ou cume no extremo-
-oriente, simbolizando, portanto, o mundo espiri-
tual ou inteligível, a Luz do Norte, o Sol da meia-
-noite, o Dia que desponta em plena Noite e que
converte em dia essa noite (et nox illuminatio mea in
deliciis meis)29.
Por extensão, ambos simbolizam, concomitan-
temente, o Soberano Absoluto (Dom João V), como
encarnação entronizada do Astro-Rei, com a missão
de tornar lúcida a terra e reconduzir os elementos
caóticos à harmonia cósmica: no empedrado de
acesso à Basílica sob a forma de Pai da Pátria e
Sacra Majestade (Invicta, Pia e Justa), em torno de
quem se mostra o mundo todo a seus pés; no

29
cruzeiro da Biblioteca como Sempre Augusto, reca-
pitulando a História à Luz da Eternidade.
Pertinente é também a circunstância de, cerca
de meados de setecentos, nos acharmos em
Portugal perante representações heliocêntricas do
universo, não consentâneas com a doutrina oficial
da igreja, a qual só em 1820 as adoptaria em alter-
nativa ao até então ortodoxo geocentrismo30.
E é uma vez chegados a este ponto, que a
mnemotecnia revela o papel superlativo que desem-
penha como retórica geometrizante do espaço da
BPNMafra.
Não é, decerto, esta a ocasião para expor deta-
lhadamente as diferentes acepções assumidas pelo
exercício da mnemotecnia desde os seus alvores.
Não posso, no entanto, deixar de anotar algumas
das facetas fundamentais desta Arte apadrinhada
por Mnemosis, mãe das nove Musas, também co-
nhecida por Memória de ferro, Arte da Memória e
Memória artificial (por oposição à memória congéni-
ta ou natural, cujo adestramento visava).
Foi Simónides de Ceos (556-468 a. C.) o
primeiro a formulá-la sob a forma de um sistema de
tópicos. Todavia, tal sistema só se tornaria rele-
vante graças a um trágico acidente ocorrido durante
um banquete para o qual fora convidado por
Escopas, rei da Tessália. Simónides participava na
festa quando um mensageiro chegou com um reca-
do para si, o que o fez sair da sala para o receber.
Pouco depois o tecto desta caía sobre o anfitrião e os
convivas, ficando os cadáveres de tal modo desfigu-
rados que se tornou impossível reconhecê-los.
Solicitado a colaborar no processo de identificação,
Simónides reconstituiu o cenário até ao momento
do acidente, assinalando o lugar preciso ocupado à
mesa por cada conviva e demonstrando a excelência
do seu método, que advogava ser mais fácil recordar

30
objectos, situações e eventos quando é possível
reportá-los a lugares conhecidos.
O método proposto por Simónides grangeou
uma legião de adeptos e continuadores, alguns dos
quais lhe introduziram alterações e aperfeiçoamen-
tos. O sofista Hipias parece encabeçar a lista, que
regista o nome de Metrodoro da Ásia, amigo de
Epicuro, como introdutor de 360 lugares inspirados
nos 12 signos do zodíaco, em substituição das ima-
gens dos edifícios e compartimentos de Simónides.
Em Roma, onde a retórica (constituída por
cinco partes: inventio, dispositio, elocutio, memoria e
pronuntiatio) gozou de enorme prestígio, Cícero (De
oratore [BPNMafra: 2-19-2-2]), o anónimo autor da
principal fonte tradicional da mnemotecnia, intitu-
lada Ad C. Herennium [BPNMafra: 2-20-7-8 e 2-20-
7-10], e Quintiliano (Institutio oratoria [BPNMafra:
1-13-7-6; 2-20-8-1 e 2, etc.]) deram-lhe enorme
impulso, sendo ulteriormente considerados os
decanos da Arte da Memória.
Na prática, a técnica mnemónica que propuse-
ram associa dois métodos, o dos lugares e o das
imagens ou pinturas (Constat igitur artificiosa
memoria ex locis et imaginibus). O primeiro consiste
em instituir uma topologia concreta, destinada a
armazenar argumentos, sentenças, hieróglifos,
emblemas, etc., ao passo que o segundo propõe a
eleição de um elenco de imagens (res picta) a cada
uma das quais possa ser associado um conceito ou
uma palavra31.
Até ao séc. XIII, salvo uma breve referência de
Martianus Capella (410-439), no De nuptis
Philologiae et Mercurii, nada consta sobre a utiliza-
ção de regras mnemónicas. Nessa centúria, Rogério
Bacon (1214-1294) redige a Arte memorativa e
Raimundo Lúlio (1235-1346) a sua Ars Generalis
[BPNMafra: 2-19-4-5 e 6]. Cerca dos finais de qua-

31
trocentos, Pedro de Ravena causa sensação em
Itália com as suas proezas mnemónicas tidas por
nigromânticas por alguns. A Phoenix Artis Memoriae
(Veneza, 1491) deste mnemotécnico teve diversas
edições num período de poucos anos, merecendo
ainda destaque a Oratoriae artis epitome (Veneza,
1482) de J. Publicius, a Epitoma in Utramque
Ciceronis Rhetoricam cum Arte Memorativa Nova
(1492) de Conrado Celtes ou o Congestorium
Artificiose Memorie (1520) de Johannes Romberch,
não esquecendo, todavia, Pedro Ciruelo (De Arte
Memorandi), frei Bartolomeo de S. Concórdio
(Trattato della Memoria artificiale), Guillermo

A retórica clássica concebe o orador como construtor de um


espaço mental próprio, no qual armazena, por ordem e consoante
uma determinada disposição, uma série de figuras que contêm
as palavras, os conceitos, bem como a estrutura do discurso.

32
Grataroli Bergomatis (De Memoria Libellus),
Lodovico Dolci (Dialogo di Memoria), Cosme Ronello
(Thesaurus Artificiosae Memoriae), etc.
Com efeito, seria simplesmente fastidioso
prosseguir na enumeração dos propagandistas da
Arte da Memória até à actualidade, ainda que ape-
nas reportando-me aos mais notáveis32.
Reservo, portanto, o destaque para os por-
tugueses, de entre os quais saliento, meramente a
título exemplificativo: um tal Adrião, Mestre da "Arte
de Reymonde"33, frei Isidoro de Ourém34, Álvaro
Francisco de Vera35, frei Francisco de Santo
Agostinho Macedo36, padre Cristóvão Bruno37, frei
Manuel do Cenáculo Vilas Boas38, António Pereira
Ferrea Aragão39, J. F. e A. M. de Castilho40, António
Feliciano de Castilho41 e Martins Oliveira42.
Mas adivinho no meu leitor a impaciência
própria de quem espera uma explanação cabal, tal
como a adiantada para caracterizar a vertente cos-
mológica, acerca do modo como a mnemotecnia
influiu na disposição e organização da BPNMafra.
Um princípio de resposta pode ser entrevisto na
exposição atribuída ao próprio Simónides sobre o
método de aplicação da sua combinatória:

"[...] deveis figurar na vossa mente a imagem de um


edifício de três corpos divididos cada um deles em
aposentos, e cada compartimento há-de estar desi-
gnado por uma letra, uma palavra ou o nome de um
animal que sirva de ponto de referência para pensar
no respectivo compartimento. Em cada compartimen-
to imaginemos cinquenta lugares numerados, dis-
tribuídos como segue: Nove números ocuparão cada
uma das quatro paredes e o pavimento, ou seja um
total de 45. O número 50 colocar-se-á no centro do
tecto. Na parede fronteira à porta de entrada estarão
os números de 1 a 9; na parede direita, os de 11 a 19;
na da esquerda, de 21 a 29; na outra, de 31 a 39; e

33
no pavimento de 41 a 49. Os números 10, 20, 30 e 40
colocar-se-ão no tecto, precisamente em cima das
respectivas paredes dos números dez, vinte, trinta e
quarenta. Se for preciso aumenta-se o número de
compartimentos mobilando-os imaginativamente a tal
ponto que, como têm feito alguns dos meus discípu-
los, podeis figurar mentalmente bairros inteiros de
edifícios imaginários com os seus diversos aposentos.
Uma vez que tenhais construído este arquivo
mnemotécnico podereis utilizá-lo para visionar mi-
lhares de objectos, vocábulos ou ideias que queirais
recordar, para o que bastará imaginá-los situados em
um dos números do aposento, como o lugar que
ocupa um comensal a uma mesa ou um colegial no
dormitório. Quando chegardes a estar senhores deste
sistema sereis capazes de recordar milhares de nomes
de coisas sem relação entre si, pois esta incongruên-
cia é suprida pela associação do objecto com o lugar
que ocupa no compartimento imaginário".

Partindo do pressuposto indiscutível que o


organizador da BPNMafra, frei João de Santa Ana,
dominava as regras da Arte da Memória, mesmo
assim não creio ser possível saber com rigor se o
sistema de Simónides lhe era familiar, nem tão
pouco quais os mnemotécnicos que o terão inspira-
do. As fontes disponíveis na BPNMafra constituem
uma substancial colecção dos melhores autores
sobre a matéria em apreço43, mas não está, igual-
mente, posta de parte a possibilidade de ter sido
compulsada bibliografia inexistente no acervo
mafrense ou, quiçá, havido colaboração de
mnemotécnicos religiosos ou leigos activos em
Portugal na época. Ocorre-me como possível inspi-
rador do bibliotecário arrábido o nome do bispo de
Évora, frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas, cuja
actividade como organizador da biblioteca do
Convento de Jesus, segundo cânones idênticos, lhe

34
A escada da Subida e da Descida, segundo o Liber de ascenso et
descensu intellectus (Valência, 1512) de Raimundo Lúlio.

não era decerto estranha44, tal como as suas preocu-


pações relativamente ao sistema da ciência (como
diria Fichte) concebido por Raimundo Lúlio45.
Que a Arte luliana tinha cultores também em
Mafra é um dado adquirido, rastreável nas
Conclusões de Filosofia dos Reais Estudos aí insta-
lados46. Resta extrair as ilações adequadas dessa
circunstância.
Antes, porém, é conveniente sublinhar que a
Arte luliana é algo mais que um mero artifício
dialéctico, ultrapassando em muito qualquer estrita
metodologia do pensamento. Trata-se, na verdade,
de um conjunto de estruturas sistémicas e escalo-
nadas dirigido para o conhecimento, encurtando o
percurso e facilitando o exercício intelectual.
Suposta uma recta intenção, a Arte luliana exige
aprendizagem e treino simultâneos, com o intuito

35
de atribuir a cada conceito o lugar e a figura que lhe
convêm. Para alcançar esse desiderato o praticante
dispõe de uma tábua de 84 combinações ternárias,
cada uma delas cabeça de 20 câmaras, num total de
1680 câmaras (84 x 20), curiosamente, apenas mais

1. Tábua das 84 combinações ternárias da gramática mnemo-


técnica de Raimundo Lúlio. Cada uma delas é a cabeça de 20
câmaras, perfazendo um total de 1680 câmaras (84 x 20).
2. As 20 câmaras da primeira coluna da Tábua.

quatro que o número total de casas (536 + 1140 =


1676) da BPNMafra!
No que concerne à arrumação das matérias,
confrontem-se as duas plantas anexas (Estantes

36
inferiores e Estantes superiores) e suas respectivas
legendas para se constatar o jogo das polaridades e
a harmonia dos contrários no seio da organicidade
geral.
Eis-nos, pois, face à BPNMafra, na presença de
um espectacular exemplo do tão propalado visualis-
mo barroco, dirigido à formação da memória e à
persuasão por meio do pathos.

A associação dos lugares às imagens ou pinturas, preconizada


pela generalidade dos mnemotécnicos, esteve prevista na
BPNMafra: as molduras como aquela aqui observável, eram des-
tinadas aos retratos dos mais ínsignes tutelares de cada uma das
disciplinas do trivium e do quadrivium.

37
Os mármores do piso na zona do cruzeiro da BPNMafra formam
um mosaico comparável a uma rosa de marear.

38
ESTANTES INFERIORES
Na Ordem inferior a BPNMafra possui LIV estantes,
com I a XII prateleiras cada, perfazendo um total de 536
casas. As quatro ordens das LIV estantes contam-se de
baixo para cima e da direita para a esquerda.

1 - Textos e Versões da Escritura Sagrada


2 - Filologia Sagrada
3 - Intérpretes da Escritura Sagrada
4 - Idem
5 - Teologia Parenética ou Sermões
6 - Concílios, Constituições e Cânones Apostólicos
7 - Direito Canónico Universal
8 - Idem
9 - Direito Canónico Universal e Particular
10 - Direito Eclesiástico Regular. Constituições das Ordens
Religiosas e dos Bispados de Portugal, etc.
11 - Dicionários vários
12 - Autores Clássicos e Oradores Gregos e Latinos
13 - Idem
14 - Poetas Gregos, Latinos e Italianos
15 - História Literária e Bibliográfica
16 - História Tipográfica, Académica, Memórias da Academia
Francesa
17 - Poligrafia e Simbologia
18 - Medicina, Cirurgia e Farmácia
19 - Filosofia
20 - Matemáticas e História Natural
21 - Direito Natural, Público e Romano
22 - Jurisprudência Civil em geral
23 - Idem
24 - Jurisprudência Universal. Consultas e Decisões de Direito
25 - Conselhos de Direito Civil
26 - Vários tratados de Jurisprudência
27 - Vários tratados de Direito Civil
28 - Direito Civil Alemão, Francês, Inglês e Espanhol
29 - Direito Civil Lusitano
30 - Direito Civil dos Reinos de Itália
31 - Teologia Moral
32 - Geografia e Viagens
33 - História de Portugal em geral e particular
34 - História Genealógica
35 - História de Espanha em geral e particular
36 - História da Inglaterra e de outros Reinos
37 - História da França em geral e particular

39
40
38 - História Germânica, Romana, Numismática e Lapidária
39 - Antiguidades Romanas e História de Itália
40 - História Grega e Antiguidades da Itália
41 - História Universal e Cronológica
42 - História Monástica e Religiosa
43 - História Religiosa
44 - História Santa ou Vidas de Santos
45 - História Eclesiástica de diversos reinos
46 - História Eclesiástica Universal
47 - Teologia Litúrgica em geral e particular
48 - Teologia Dogmática
49 - Teologia Polémica
50 - Escritores Eclesiásticos
51 - Santos Padres da Igreja Romana
52 - Monumentos e Escritores da Igreja Grega e Latina
53 - Santos Padres e Escritores da Igreja Grega
54 - Prolegómenos da Escritura Santa, Física e Poligrafia Sagrada

41
ESTANTES SUPERIORES
A galeria ou Ordem superior da BPNMafra possui
LXXXII estantes, com I a XVIII prateleiras cada, perfazen-
do um total de 1140 casas. As seis ordens das LXXXII
estantes contam-se de cima para baixo e da esquerda
para a direita.
A varanda, situada a 3,30 m do solo, tem parapeito
de balaustres, assente em mísulas de talha, avançando
sobre o salão cerca de 1,15 m.
As pilastras que dividem as estantes superiores são
encimadas por fogaréus, não tendo nunca sido con-
cretizado o projecto dos Cónegos Regrantes de fazer pin-
tar com destino às molduras situadas sobre os títulos das
disciplinas, os bustos dos autores mais ilustres dos
ramos do saber representados em cada estante.
1 - Bíblias, Filologia Sagrada e História da Vida de Jesus
Cristo
2 - Expositores do Antigo e Novo Testamento
3 - Expositores do Antigo e Novo Testamento. Instruções
sobre as Epístolas e Evangelhos do Ano
4 - Expositores do Novo Testamento, Homílias e Meditações
sobre as Epístolas e Evangelhos de todo o Ano
5 - Homílias sobre os Evangelhos das Domínicas e Festas do
Ano
6 - Teologia Parenética. Homílias e Sermões Latinos e
Italianos
7 - Homílias e Sermões Franceses
8 - Sermões Espanhóis
9 - Idem
10 - Sermões Portugueses
11 - Idem
12 - Teologia Catequética
13 - Teologia Mística em geral
14 - Meditações Místicas e Tratados diversos
15 - Vária Miscelânea Mística, Novenários, etc.
16 - Direito Canónico em geral e particular
17 - Direito Canónico Regular e Estatutos das Ordens Religiosas
18 - Gramática Hebraica, Grega e Latina
19 - Gramáticas e Dicionários das Línguas da Europa
20 - Retórica e Eloquência
21 - Eloquência Oratória e Poética
22 - Poetas Gregos e Latinos
23 - Poetas Italianos, Franceses, Ingleses e Alemães

42
43
24 - Poetas Espanhóis e Portugueses
25 - Poesia
26 - História Bibliográfica
27 - História Literária em geral e particular
28 - História, Actas e Memórias Académicas
29 - Poligrafia, Cartas e Miscelânea Erudita
30 - Medicina em geral e particular
31 - Idem
32 - Cirurgia, Anatomia, Química, Farmácia e Botânica
33 - História Filosófica e Filosofia Antiga e Moderna
34 - Filosofia Moderna em geral
35 - Lógica, Metafísica e Ética
36 - Economia Política e Diplomática
37 - Física e História Natural em geral
38 - História Natural em particular, Agricultura, Botânica
39 - Matemática em geral e particular
40 - Astronomia e outros Tratados de Matemática
41 - Artes Liberais e Mecânicas
42 - Jurisprudência Civil em geral
43 - Diversos Tratados de Direito Civil
44 - Miscelânea
45 - Direito Civil Germânico, Francês e Espanhol
46 - Vários Tratados de Direito Civil
47 - Legislação Portuguesa
48 - Direito Civil Lusitano
49 - Vária Miscelânea Proibida
50 - Idem
51 - Idem
52 - Geografia e Viagens
53 - Idem
54 - História e Literatura Portuguesa
55 - História Portuguesa em geral e particular
56 - História da Espanha em geral e particular
57 - História da Inglaterra, Rússia e outros Reinos do Norte
58 - História da França em geral e particular
59 - História Germânica, Romana e dos Ducados de Itália
60 - Antiguidades Romanas. História Grega e Peregrina
61 - História Universal e Jornais, Gazetas e Mercúrios
62 - História do Mundo e de todos os Tempos
63 - História Universal e Princípios Cronológicos para o seu
estudo
64 - História das Pessoas Ilustres e das religiões militares
65 - História das Religiões Monacais e Mendicantes
66 - História Santa ou Vidas de Santos
67 - História Eclesiástica Francesa, Espanhola e Portuguesa
68 - História dos Hereges, Concílios e Disciplina da Igreja

44
69 - História Eclesiástica em geral e particular dos Pontífices,
Cardeais, Arcebispos e Bispos
70 - História Eclesiástica em geral e do Povo de Deus em parti-
cular
71 - Liturgia em geral e particular
72 - Vários Tratados dos Sacramentos. Exame de Bispos
73 - Teologia Moral em geral e particular
74 - Sumas, Compêndios e Resoluções de Moral
75 - Teologia Moral
76 - Teologia Polémica
77 - Teologia
78 - Teologia Dogmática em geral. Tratados de Deus Uno, Trino,
da Encarnação e da Graça
79 - Teologia Dogmática em geral
80 - Idem
81 - Teologia Dogmática em geral e particular
82 - Santos Padres e Escritores Eclesiásticos e Intérpretes da
Sagrada Escritura

45
NOTAS
1
Por ocasião da publicação do Decreto-Lei, n. 28107, de 23 de
Outubro de 1937, que mandou abrir a BPNMafra à leitura pública,
Júlio Dantas afirmaria que "constitui uma importante biblioteca de
conservação, de tipo erudito e de sistematização setecentista",
importando "restituí-la à plenitude da sua função, como instrumen-
to de cultura; abri-la à leitura dos estudiosos; e realizar, em harmo-
nia com as aquisições da moderna ciência biblioteconómica, mas
sem prejuízo do carácter especial e do interesse histórico desta anti-
ga biblioteca portuguesa, todas as operações de conservação, de
organização e de utilização destinadas a assegurar o exercício da
função que lhe é própria". Cf. Anais das Bibliotecas e Arquivos, v. 12,
n. 49-50 (Jul.-Dez. 1937), p. 161.
2
Os cerca de 34800 livros que a compõem, se dispostos linearmente
em fila ininterrupta, alcançariam 1350 metros, i. e., dariam volta e
meia ao Monumento.
3
Cf. A Casa da Livraria do Palácio Convento de Mafra, in Boletim
Cultural ’92, Mafra, 1993, p. 17-21.
4
Ver Catálogo da Real Livraria de Mafra, prefácio, in v. 1.
5
Em nome de uma sã e recíproca amizade de muitos anos, não posso
deixar de lamentar o recuo que significa, face à investigação desen-
volvida e publicitada (apesar de não sufragada corporativamente!)
durante a última decada, o teor das considerações dedicadas ao
Monumento de Mafra por Vítor Serrão, in História da Arte em
Portugal: o Barroco, Lisboa, 2003, parte 2, cap. VI, p. 181-186.
6
Outro exemplo de tais preocupações, numa perspectiva castelhana,
é o mosteiro do Escorial. Cf. René Taylor, Architecture and Magic: con-
siderations on the Idea of the Escorial, in Essays, Nova Iorque, 1967
e Hermetism and Mystical Architecture in the Society of Jesus, in
Baroque Art: the Jesuit contribuition (ed. Irma B. Jaffe), Nova Iorque,
1972, p. 63-97.
7
Cf. Manuel J. Gandra, Da Face Oculta do Rosto da Europa, Lisboa,
1998, especialmente o capítulo terceiro, p. 67-102.
8
Oraculo Prophetico, prolegomeno da Teratologia, ou Historia
Prodigiosa, em que se dá completa notícia de todos os Monstros, com-
posto para confusão de pessoas ignorantes, satisfação de homens
sábios, exterminio de profecias falsas e explicação de verdadeiras pro-
fecias. Parte Primeira, em que se exterminão as profecias falsas.
Consagrada a Marte como quinto entre os Planetas, Lisboa
Ocidental, 1733, p. 91.
9
Idem, p. 92-95.
10
Manuel J. Gandra, Bibliografia Mafrense III. Impressos até 1800,
Mafra, 1994. Quadro 10 de Da Face Oculta do Rosto da Europa, p.
119.

46
11
Cf. António Vieira, Sermão de Santo António pregado na festa que
se fez ao Santo na Igreja das Chagas de Lisboa aos 14 de Setembro
1642, in Sermões, v. 7, p. 145.
12
[BPNMafra: 1-54-1-2 / 4]. Do autor existem no mesmo acervo as
Explanationes in 22 posteria capita Ezechielis [BPNMafra: 1-54-4-15].
Sobre o assunto ver os minuciosos estudos de René Taylor, citados
na nota 6.
13
1 Reis, V a VII.
14
A fortuna ininterrupta do Templo de Salomão entrou intacta,
senão ainda mais prolífica, no séc. XVIII. No período compreendido
entre o primeiro quartel de seiscentos e 1725 é possível contabilizar
cerca de duas dezenas de títulos dedicados ao topos, dos quais se
destacam: Filipe de Aquino, Discours du tabernacle et du Camp des
Israelites recueily de plusieurs ancien Docteurs Hébreux, Paris, 1623
[BPNMafra: 2-1-14-16]; Jacob Jehudah Abravanel de Leon, Retrato
del Templo de Selomoh, Middelbourg, 1642; Nikolaus Goldmann,
Sciographia Templi Hierosolymitani, Lipsia, 1694; Roland Fréart de
Chambray, Paralèle de l'architecture antique avec la moderne, Paris,
1650; John Lightfoot, The Temple, especially as it Stood in the Dayes
of Our Saviour, Londres, 1650; Louis Cappel, Trisagion, sive Templi
Hierosolimitani triplex delineatio, in Brian Walton, Biblia Sacra
Polyglota [...] cum Apparatu, Appendicibus, Tabulis, v. 1, 1657;
Claude Perrault, ilustrações da versão latina da Mishneh Torah de
Maimónides, 1678; Juan Caramuel Lobkowitz, Architectura civil
recta y obliqua [...] promovida a suma perfeccion en el Templo y
Palacio de S. Lorenço cerca del Escorial [...], Vigevano, 1678; L.
Christoph Sturm, Die Unentbarliche Regel der Symetrie oder des
Ebenmasses, 1718-1720; Bernard Lamy, De Tabernaculo Foederis,
de Sancta Civitate Jerusalem et de Templo eius Libri septem, Paris,
1720; J. B. Fischer von Erlach, Entwurff einer historischen
Architektur, Viena, 1721; Isaac Newton, Prolegomena ad Lexici
prophetici partem secundam (1725?). Acerca da produção intelectual
e artística com relação ao tema, ver Ugolino Blasio, Thesaurus
Antiquitatum Sacrarum complectens selectissima clarissimorum
Virorum Opuscula in quibus veterum Hebraeorum mores, leges, insti-
tuta, ritus sacri et civiles illustrantur, Veneza, 1744-1769, 34 vols.
Quanto ao engenho luso, preparo estudo. Ver, entretanto, Rafael
Moreira, Novos dados sobre Francisco de Holanda, in Sintria, I-II
(1982-1983), p. 619-692.
15
Papa = VICARIVS FILII DEI = V (5) + I (1) + C (100) + I (1) + V (5)
+ I (1) + L (50) + I (1) + I (1) + D (500) + I (1) = 666.
16
Cf. Número Vocal, exemplar católico, Lisboa, 1702, p. 407.
17
Manuel J. Gandra, A Cristofania de Ourique: mito e profecia,
Lisboa, 2002.
18
Até o Guia Baedeker (Lípsia, 1898) anota a referência ao cúmulo

47
do número 17 (a sua tripla ocorrência) na data do lançamento da
primeira pedra do Monumento de Mafra.
19
Manuel J. Gandra, Apocalipse de Esdras: ecos nas letras e na arte
portuguesas, Mafra, 1994.
20
Mafra, in Guia de Portugal, v. 1, Lisboa, 1924, p. 567.
21
O Concelho de Mafra (27 Mar. 1937).
22
Descrição de Mafra: Romance, Lisboa, 1725.
23
O seu apelido cifrado encontra-se gravado em baixo-relevo no
cruzeiro das Almas, situado junto à ermida. Surge citado no testa-
mento de João Fernandes da Conceição, ermitão de S. Julião (2 de
Dezembro de 1764 [AHM]), falecido no ano de 1766.
24
Na língua portuguesa as palavras nortear e orientar fazem jus à
importância transcendente do Norte e do Oriente, não existindo
palavras correlatas para o Sul e o ocidente. A ideia é igualmente con-
sagrada nas rosas de marear patentes na cartografia nacional. Cf.
informação complementar em Lima de Freitas, Orientações: notas
para uma hermenêutica das direcções do Espaço, in A Simbólica do
Espaço: cidades, ilhas, jardins, Lisboa, 1991, p. 249-265.
25
Ver do subscritor, A Ideia do Monumento de Mafra: Arquitectura e
Hermetismo, in Bol. Cultural ’94, Mafra, 1995, p. 11-78.
26
Para a aplicação dos mesmos preceitos à Baixa pombalina, ver
Manuel J. Gandra, A Praça do Real Arco demonstrada, in
Monumentos, n. 1 (Set. 1994), p. 35-40. Para o caso de Tomar con-
sulte-se o Projecto de Salvaguarda do Centro Histórico daquela
Cidade, sucintamente exposto no ensaio Anotações para a devolução
do compasso aos Olhos, in Da Vida, da Morte e do Além: aspectos do
Sagrado na região de Mafra, Mafra, 1996, p. 30-31 e in Portugal
Misterioso, Lisboa, 1998, p. 337-343.
27
Segundo um axioma consagrado por Homero, no episódio da gruta
de Ítaca incluso na Odisseia, as almas "descem" pela porta Sul ou
dos Homens (Caranguejo) e "sobem" pela porta Norte ou dos Deuses
(Capricórnio) do Zodíaco. No cristianismo, o simbolismo da escada
de Jacob encerra a mesma ideia, tendo inspirado patriarcas e
doutores. Cf. São Jerónimo, In Ecclesiastem, in Patrologia Latina, v.
23, col. 1049. O tema ocorre igualmente na Regra de São Bento,
quiçá inspirado na representação dos dez graus de humildade
descritos por Cassiano (De Coenobiorum Institutio, IV, 34), e no De
Gradibus Humilitatis et Superbiae de São Bernardo.
28
Janus é também conhecido por Mestre do triplo tempo, sendo por
vezes representado com três rostos, na ordem do passado, do eterno
presente e do futuro. Outro dos seus atributos é a barca, também
atributo de São Pedro.
29
Trata-se de uma distinção fundamental na gnose valentiniana.
Dirigir-se para Oriente é, no sistema deste gnóstico, sinónimo de
subida para o pólo. A expressão cognitio matutina (ou oriental), que
ocorre em Santo Agostinho e foi igualmente adoptada pelo

48
hermetismo do Renascimento, opõe-se, pela mesma ordem de
razões, à cognitio vespertina (ou ocidental), típica do homem exterior
e sensível.
30
A adopção da elipse pela arquitectura é ainda consequência das
teses copernicianas. Ver Casa do Capítulo, vulgo Sala Elíptica, do
Convento de Mafra.
31
Esquemas mnemotécnicos têm sido detectados e estudados em
igrejas e conventos, em palácios, na arte efémera (festas, entradas
régias, exéquias, canonizações, etc.), na literatura emblemática (pe-
gmas, empresas, alegorias, enigmas, cânones musicais e diagramas
místicos), no teatro (teatros da Memória), na oratória e até na activi-
dade evangelizadora e missionária, designadamente na dos jesuítas,
etc. Cf. Fernando R. de la Flor, La imagen leída: retórica, Arte de la
Memoria y sistema de representacion, in Lecturas de Historia del Arte,
v. 2, Vitoria-Gastriz, 1990, p. 102-115.
32
Para uma mais extensiva informação, apesar da omissão de quais-
quer referências à mnemotecnia na Península Ibérica, ver Frances A.
Yates, The Art of Memory, Londres, 1978.
33
Testemunha de um emprazamento, datado de 1431 [ANTT: Col.
Especial, caixa 142], feito pelo agostinho frei Afonso de Lisboa, no
convento lisboeta da sua Ordem, de umas casas sitas na freguesia
de Santo Estêvão que pertenciam a Álvaro Vasques e sua mulher,
Maria Esteves. Cf. Sousa Viterbo, Dicionário de Arquitectos, v. 3,
Lisboa, 1922, n. 1035, p. 156-157.
34
Cf. Ars demonstrativa et inventiva Raymundi Lulli, citada por
Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana, v. 2, p. 843-844. De outro
religioso bernardo anónimo, cf. Compendium Artis demonstrativae
[BN: cod. alc. 203].
35
Cf. Memória artificial ou modo para adquirir memoria por arte, in
Orthografia ou modo para escrever certo na língua Portuguesa, Lisboa,
1631, fl. 57-76.
36
Padre Ilídio de Sousa Ribeiro, Fr. Francisco de Santo Agostinho de
Macedo: um filósofo escotista português e um paladino da
Restauração, Coimbra, 1952.
37
Jesuíta, professor da Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão
(1627-1630). As suas lições incluíam a Arte de Navegar, a Nova
Astronomia e uma breve exposição sobre a Arte da Memória [BGUC:
ms. 44; BPÉv: ms. CXVI / 1-17].
38
Francisco da Gama Caeiro, Frei Manuel do Cenáculo: aspectos da
sua actuação filosófica, Lisboa, 1959, p. 25-28, 32-24, 129-133, 221-
227, 229-231, etc. Ver do próprio Cenáculo: Advertencias criticas e
apologéticas sobre o juizo que nas materias do B. Raymundo Lullo for-
mou o dr. Apollonio Philo-muso, e communicou ao publico em a respos-
ta ao Retrato de "morte-côr", que contra o auctor do "Verdadeiro
Methodo d’estudar" escreveu o reverendo D. Alethophilo Candido de
Lacerda, Valença, 1752 e Coimbra, António Simões, 1752 (anónima).

49
Em cartas de 1754 e 1755, o cisterciense espanhol frei António
Raimundo Pascoal, professor na Universidade luliana de Maiorca,
refere o propósito de Cenáculo de introduzir a Filosofia de Lúlio em
Portugal e a repugnância dos dominicanos em aceitar a doutrina do
Doctor Illuminatus acerca da Imaculada Conceição. Cf. BPÉv: ms.
CXXVII /1-3, p. 15-16 e padre Manuel Gonçalves da Costa, Inéditos
de Filosofia da Biblioteca de Évora, in A Cidade de Évora, n. 23-24
(Jan.-Jun. 1951), p. 34-37.
39
Nascido em 1801, faleceu no ano de 1857. Foi Doutor em
Matemática pela Universidade de Paris, professor de Humanidades e
escrivão do Tribunal da Relação de Lisboa. Autor de extensa pro-
dução literária, de que se destaca o drama original A Rainha Santa
Isabel e D. Diniz (Lisboa, 1854) e, designadamente, o Diccionario
Mnemothecnico, e hum breve resumo das regras mais importantes da
arte de ajudar a memória (Lisboa, 1850) e a Arte Latina
Mnemothecnica para aprender a declinar e conjugar rapidamente, e a
traduzir com facilidade (Lisboa, 1852), obras nas quais, segundo
Inocêncio, alargou os limites da mnemotécnica, "introduzindo e
desenvolvendo fórmulas de sua composição e combinações fecundas
e vantajosas".
40
Cf. M. de Castilho, Recueil de Souvenirs du Cours de
Mnémotechnie, Saint-Malo, 1831; J. F. de Castilho, Traité de
Mnémotechnie ou Exposition des principes de cet Art et de ses princi-
pales applications, Paris, 1832 ; A. M. de Castilho / J. F. de Castilho,
Dictionnaire Mnémonique, Lyon, 1834 (5ª ed.).
41
Tratado de Mnemónica ou Methodo facilimo para decorar muito em
pouco tempo, Lisboa, 1851 e 1909-1910 (3 vols.).
42
Cf. Magia Teatral, Porto, 1948 (2 vols.).
43
A Filosofia Hermética em Portugal e no acervo da Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural ’93, Mafra, 1994, p. 58-59.
44
Planeada em 1768 por frei Manuel do Cenáculo, em colaboração
com o arquitecto Joaquim de Oliveira. Iniciada a 12 de Fevereiro de
1771 e concluída em 1800. Também a Biblioteca dos Paulistas, em
Lisboa, se presume posterior a 1763, porquanto Baptista de Castro
(Mapa de Portugal) referindo-se nesse ano às obras em curso no con-
vento, não a menciona. Cf. Carlos Azevedo, Some portuguese
Libraries, in The Connoisseur Year Book (1956), p. 31-39.
45
Frei Manuel do Cenáculo é, consabidamente, tido pelo reintrodu-
tor do lulismo em Portugal. Ver nota 38. Para o arrolamento da obra
luliana sobre a Arte da Memória no acervo da BPNMafra, ver Manuel
J. Gandra, O Monumento de Mafra de A a Z, v. 1, Mafra, 2002, p. 219.
46
Os Reais Estudos de Mafra foram criados por Dom João V, tendo
sido inaugurados com toda a solenidade, a 14 de Fevereiro de 1737,
na presença do fundador. Para uma primeira abordagem da questão
em apreço, ver do subscritor: Bibliografia Mafrense: impressos até
1800, in Boletim Cultural ’98, Mafra, 1999, p. 800-807.

50
A BIBLIOTECA DO
PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA
resenha
histórico-cronológica e bibliográfica

51
52
1735
Na Biblioteca Sousana (Colecção dos Documentos,
Estudos e Memórias da Academia Real da História
Portuguesa, 1735) dá o 4º Conde da Ericeira notícia
do modo como foi feita a catalogação da Livraria
Real, repartida pelas bibliotecas das Necessidades e
de Mafra: a D. Francisco Xavier de Meneses coube a
catalogação do acervo relativo às matemáticas e às
artes; a D. Manuel Caetano de Sousa, a parte rela-
tiva à Bíblia e aos seus expositores; a João da Mota
e Silva, os livros de Teologia; a Francisco Xavier
Leitão, as obras de filosofia e medicina; ao Marquês
de Alegrete, a parte referente à filosofia; ao Marquês
de Abrantes, as obras de história (ver Silvestre
Ribeiro, História dos Estabelecimentos Científicos,
Literários e Artísticos em Portugal, v. 1, p. 177-179).

1736
Frei Matias da Conceição inicia a elaboração da
Biblioteca Volante, colecção de folhetos (47 dos
quais cópias manuscritas) encadernados em 164
volumes. Servindo de exórdio ao primeiro volume da
sua colecção, afirma: "Damos a este género de
escritos a denominação de Biblioteca Volante, pela
celeridade com que depois de impressos desapare-
cem; pois antes de um ano de existência não é fácil
achá-los, senão em as mãos de alguns curiosos, que
por preço algum os querem largar. Para se
alcançarem os que neste e em outros tomos ofereço
aos leitores se multiplicaram as diligências e se fi-
zeram as indagações mais esquisitas. Deste traba-
lho não espero nem vitupério, nem louvor; louvor,
não, porque não o mereço nem o procuro; vitupério,
também não, porque o estilo e assuntos desta obra
nada é meu. Porém, se a implacável austeridade dos
leitores começar a roer, perguntando para que é
esta papelada na Livraria? Responderei que a
minha tenção não é obrigar aos Zoilos e Aristarcos

53
54
a que gastem o seu tempo em os ler. Se não
gostarem da lição, fechem o livro, restituam ao seu
lugar, que não faltarão outros de ânimo mais sin-
cero, que gostem do que eles se enfadam e colham
fruto do que se julga por inútil, escusado".

1744
Ignora-se o destino que Dom João V tencionava dar
à sala onde foi posterior e definitivamente instalada
a Biblioteca. Corre por tradição que se destinaria à
recepção de embaixadores. Contudo, Guilherme de
Carvalho Bandeira na sua Relação do Convento de
Santo António de Mafra, encetada em 1730, afirma
que a livraria com carácter provisório se acha insta-
lada em duas grandes casas do 3º pavimento, "por
não estar acabada a principal com o último adorno,
que fica no 5º e último plano, no lance onde se com-
pletam os quatro dormitórios e ainda se acha muito
imperfeita". Acrescenta que o tecto se encontra
revestido de "mármore branco de distintos lavores".

1751
Frei João de São José do Prado descreve a "famosa
Casa da Livraria" já na actual localização
(Monumento Sacro, p. 133-134), desconhecendo-se
quer a forma como se achava organizada, quer qual
a disposição da estanteria.

A Biblioteca segundo o Monumento Sacro

Fica a famosa casa da livraria no quarto dormitório da


parte do nascente, tem de comprimento trezentos e
oitenta e um palmo e de largo quarenta e três; faz no
meio uma figura de cruz, na qual para a parte da cerca
tem três janelas grandes de vinte palmos de alto sendo
a do meio de volta no fecho com cimalha redonda de vis-
tosos filetes; dos lados nesta parte tem duas janelas

55
iguais a estas para a mesma cerca; na parte fronteira
tem as mesmas três grandes janelas com a fachada
para o jardim, e as duas dos lados são duas portas, que
entram cada uma em sua casa de cada parte, as quais
têm cada uma três janelas para o jardim; e são para
livraria de manuscritos; tem da parte da cerca dezoito
janelas grandes iguais da galeria, ficando as três
grandes no meio. É esta casa pelo tecto toda apainela-
da de vários debuxos sacados fora, e obrados na mesma
abóbada, fazendo uma vistosa perspectiva; no fecho da
abóbada no meio tem uma grande pedra branca redon-
da, e nela esculpida a figura do Sol. Tem nas cabeceiras
das casas dois maravilhosos portais de, pedra branca
de vinte palmos de alto e dez de largo com cimalhas de
vistosa obra, corno é o pavimento de xadrez de pedra
azul, branca, e vermelha. Tem comunicação para os
dormitórios por duas escadas, e outras duas entradas
para o dormitório, sendo todas da parte do jardim.

1754
Março 2 - A Bula Ad perpetuam Rei Memoriam do
Papa Bento XIV, lança a excomunhão sobre todos
quantos tirem, emprestem ou subtraiam livros à
Livraria de Mafra.

Bula Ad Perpetuam Rei Memoriam do Papa Bento XIV

Para perpétua Memória do facto. Tanto os Romanos


Pontífices, nossos Predecessores, como os ilustres Reis
e Supremos Poderes e outros beneméritos e preclaros
varões da República das Letras, trabalharam com mui
louvado ardor e incrível solicitude, não só por igualar,
mas até superar, o cuidado de reunir livros e fundar bi-
bliotecas — cuidado mui honroso para os próprios reis
e príncipes e observado, também, pelos varões do
paganismo durante todos os tempos, ainda antes da luz
do Evangelho ter brilhado nas trevas — com as quais
[bibliotecas] salvariam da destruição os feitos dos

56
primeiros tempos e os monumentos ilustres antigos, e
deles transmitiriam à mais remota posteridade memória
e conhecimento, para prover à celebridade dos factos e
ao louvor dos homens e esplendor dos exemplos e, tam-
bém, à utilidade dos povos vindouros; e trabalharam,
sobretudo, em fazer vir de toda a parte aqueles livros e
códices que servissem para brilho, defesa e engrandeci-
mento da Religião Católica e de seus Reinos e Domínios.
Donde resultou que no nosso tempo em que florescem
e são cultivadas ao máximo as belas artes, as ciências
e todas as disciplinas, congratulemo-nos no Senhor por
se encontrar em toda a parte tão grande número de
livros e códices de óptima qualidade, que nada mais é
para desejar do que um dedicado zelo, empenho e
cuidado em os conservar e aumentar.
Por isso, a Nós, constituído pela abundância da bon-
dade divina neste sublime lugar de vigilância do
sacrossanto Apostolado, nada Nos pode ser mais grato
e agradável do que concedermos solícito, quando Nos é
pedido, o patrocínio da nossa Apostólica Autoridade
para a perpétua conservação, em boas condições, duma
Biblioteca.
Porém — como em nome do nosso caríssimo Filho em
Cristo, José, Rei Fidelíssimo de Portugal e dos Algarves,
nos foi — a biblioteca encontra-se no Real Convento da
Ordem dos chamados Frades Menores da Observância
de S. Francisco, situado junto de Mafra, da Diocese de
Lisboa, sob a invocação de Nossa Senhora e Santo
António; foi erigida por reis de Portugal e dos Algarves
seus antecessores, de saudosa memória; dotada com
enorme quantidade de livros e códices, e ainda com o
Régio Direito de Padroado; e nela se encontram os me-
lhores autores, principalmente católicos e, também,
alguns heréticos, nos quais - visto que entre si conten-
dem e disputam - se encerram muitíssimas coisas para
consolidar e aclarar mais e mais a Religião Católica com
as opiniões dos adversários.
Por este motivo, foi-Nos suplicado da parte do mesmo
José, Rei Fidelíssimo, que nos dignássemos atender
e conceder, como abaixo vai, a Nossa Apostólica
benignidade e autoridade.

57
E assim, Nós, louvando o mesmo José por seus mereci-
dos títulos de glória, inclinado às suas súplicas e dese-
joso de olhar, quanto no Senhor podemos, pela conser-
vação e manutenção de todos os livros, quer manus-
critos, quer impressos, da já várias vezes nomeada
Biblioteca e, além disso, para cuidar da segurança e
tranquilidade de consciência tanto dos presentes como
dos futuros bibliotecários da citada Biblioteca:
Primeiro - Interditamos e proibimos com a Autoridade
Apostólica a todas e a cada uma das pessoas que
exercem ou hão-de exercer qualquer autoridade de
qualquer estado, posição, condição, preeminência ou
dignidade, existentes ou no futuro, que em nenhum
tempo e de modo nenhum, ousem ou presumam, sob
qualquer pretexto, causa, razão ou expediente, extrair,
emprestar, tirar da Biblioteca, ou permitir ou tolerar
que dela sejam extraídos, emprestados ou tirados, sem
licença do actual ou futuro Rei Fidelíssimo, livros,
cadernos, folhas, quer impressas, quer manuscritas,
por qualquer que sejam dados e confiados à dita
Biblioteca, ou que no futuro venham a ser.
E isto sob pena de excomunhão, latae sententiae, da qual
ninguém pode obter o benefício da absolvição, excepto
em perigo de morte, senão de Nós ou do Pontífice ao
tempo — só pelo facto de irem contra o que estipulamos
— sem necessidade de nenhuma outra declaração.
Segundo - De motu proprio, conhecimento certo e pleni-
tude do poder Apostólico, concedemos e permitimos por
força das presentes [letras] com a Apostólica autoridade
aos três bibliotecários da citada Biblioteca ao tempo
existentes e que devem ser designados pela forma que
possam ter, ler e conservar, bem como transmitir àque-
les que lhes venham a suceder no cargo, livre, lícita e
impunemente, sem escrúpulo algum de consciência e
sem incorrerem em quaisquer sentença, censuras ou
outras penas eclesiásticas, mesmo em irregularidade,
infâmia ou inabilidade, livros, manuscritos e quaisquer
obras de hereges, heresiarcas ou outros autores
reprovados de qualquer seita ou doutrina, mesmo da
principal, que por qualquer causa, até mesmo por sus-
peita de falso dogma, tenha, de qualquer modo, sido

58
pelos Pontífices Romanos nossos predecessores, em
Concílios Gerais e até por Nós e pela Sé Apostólica,
proibidos e condenados, ou porventura o venham a ser
no futuro por Nós próprio, pelos Pontífices Romanos
nossos sucessores e pela referida Santa Sé, quer esses
livros, manuscritos e obras tenham sido já publicados,
quer o venham a ser no futuro, tratem, embora ex pro-
fesso, de Religião e Fé Católica, ou contra as mesmas,
desde que estejam já, ou hajam de estar, duas tardes na
referida Biblioteca.
Queremos que todos e cada um deles não possam com
estas coisas, ou por causa e ocasião delas, ser molesta-
dos, perturbados ou inquietados, e, assim, determi-
namos que deva ser julgado e decidido pelos Juízes
Ordinários e Delegados, mesmo pelos Auditores das
causas do Palácio Apostólico e pelos Eminentíssimos
Cardeais da Santa Igreja Romana, mesmo Legados de
latere, e por quaisquer outros que gozem ou venham a
gozar de qualquer autoridade, ficando-lhes suprimida a
qualquer deles a faculdade e autoridade de julgar e
interpretar de modo diferente; e se acontecer que alguém,
com qualquer autoridade, ciente ou ignorantemente,
atente contra isto julgando de maneira diferente, em
cumprimento do que fica dito o faça írrita e vãmente.
Nada obstam quaisquer anteriores Constituições e
ordenações Apostólicas gerais ou particulares já publi-
cadas ou que venham a sê-lo nos Concílios Ecuménicos
ou Provinciais, e também as proibições superiores feitas
já ou no futuro.
Embora se devesse fazer delas e do contexto de cada
uma delas uma enumeração especial, específica,
expressa e individual ou então alguma outra expressão,
não em resumo, mas palavra por palavra, ou se devesse
conservar alguma forma escolhida, tendo todas e cada
uma dessas coisas como expressas e insertas com a
presente carta, pomos como nulas só para o efeito que
dissemos acima aquelas e quaisquer outras em con-
trário, que aliás conservam todo o seu poder nos outros
casos.

59
Queremos porém: que os livros, escritos e obras men-
cionadas, que da Religião ou da Fé ou contra a Religião
e Fé ortodoxa tratem ou venham a tratar, sejam con-
servados em segredo e sem escândalo dos outros; e que
as presentes [letras] sejam votadas somente a favor dos
bibliotecários da mesma biblioteca ao tempo designa-
dos e que a ninguém seja dado o poder concedido —
senão a quem tiver sido dado pela Santa Sé Apostólica
—, ou se dê licença de ler ou de escrever os códices ou
quaisquer livros proibidos; e que um exemplar desta
presente proibição e faculdade permaneça sempre afi-
xado em algum lugar visível da dita Biblioteca onde por
todos possa ser visto e lido. Dado em Roma, junto de
Santa Maria Maior sob o anel do Pescador. Dia 2 de
Março de 1754, ano décimo quarto do nosso
Pontificado.

a) Caetano Amado

1755
Frei António de Cristo dá início à organização do
catálogo das duas livrarias então existentes, regidas
cada uma por seu bibliotecário: a de frei António de
Cristo, situada nas duas casas posteriormente
chamadas Secretaria, para as quais se entra por um
grande pórtico existente na escada da Fonte das
Almas, e a de frei Matias da Conceição, nas
dependências do 3º pavimento por cima da despen-
sa e Porta do Carro.

1758
Frei António de Cristo conclui a elaboração do catá-
logo de ambas as livrarias.

1760
Frei Matias da Conceição dá por concluída a sua
Biblioteca Volante.
Setembro 15 - José Marco António Baretti visita
Mafra, afirmando: "Tem o convento duas livrarias.
60
Uma já está cheia de livros e a outra vai-se enchen-
do. Nesta todas as estantes de um lado contêm
obras portuguesas em um número talvez de duas
mil [...]. Na outra biblioteca, que já está de todo
cheia de livros, observei, de corrida, que os há bons
em grande quantidade [...]".

1766
O general francês Charles François Dumouriez,
autor do État Présent du Royaume de Portugal
(Lausana, 1775), regista a existência em Mafra de
"uma biblioteca bem escolhida" (livro IV, cap. VIII).

1771
Maio 3 - Os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho
da Congregação de Santa Cruz de Coimbra tomam
posse do Convento de Mafra. Transferem os livros
das duas livrarias para duas salas contíguas à da
actual biblioteca, uma a Sul e outra a Norte,
enquanto aguardam a conclusão das estantes
encomendadas ao arquitecto Manuel Caetano de
Sousa. Da Relação do que se acha na Casa do
Livreiro (i. e., a oficina de encadernador) constam,
para uso de 3 encadernadores (mestre livreiro,
obreiro e aprendiz): 2 prensas de aparar com seus
engenhos e ferros, 7 ditas de apertar, 2 maços de
ferro de bater, 2 xífaras [chifras] de raspar, 2 ferros
com o feitio de SS, 3 tesouras, uma que serve de
cortar latão, 2 martelos, 1 bigorna, 4 facas, 2 ser-
rotes para os livros, 1 compasso ordinário, 2 cepi-
lhos de ferro, 2 viradores de ferro de dar lustro, 6
viradores de fios, 4 rodas de latão, 78 ferros de
dourar, 2 abecedários, 2 alicates, 2 bancas armadas
para coser livros, 2 tachos de arame, 2 fogareiros de
cobre, 2 dobradeiras de latão fundidas, mais duas
ditas, 4 afiladores, 4 mesas, 2 caixas dos
abecedários, estante, 100 réguas de apertar, 42

61
tabuleiros entre grandes e pequenos, 3 tábuas de
pinho para afinar os livros, 4 réguas de bronze para
afinar os livros, 5 ditas de pau para o mesmo, 2
pedras de raspar os couros, 1 dita de bater livros
com sua tampa, 1 serra pequena, 1 goiva pequena,
1 enxó, 3 bancos, 2 quebradores de claras, 4 pincéis
para várias tintas, 6 cabos de ferro para os ditos
pincéis (Arquivo Histórico do Ministério das
Finanças, fl. 52-54). O piso em tijoleira é, entretan-
to, substituído por mármores.
Cerca deste ano, frei José Pereira refere que a "[...]
famosa Casa da Livraria está situada na frontaria
do Palácio da parte do Nascente e ela ocupa quase
toda a frontaria e esta está no mesmo olivel [i.e.,
nível] do Palácio Real de tal sorte que suas
Majestades podem ir a ela sem descomodo algum
[...]". Informa ainda que, segundo os arquitectos, a
Biblioteca poderia albergar 100.000 volumes
(Principio e fundação do Real Convento de Mafra, e
sua grandeza, e sua sustentação e luxo [BPNMafra:
ms., fl. 102-103]).

1777
Maio 14 - Chega a Lisboa o redactor de um manus-
crito encontrado na biblioteca do Duque de Chatelet
e cuja autoria continua sendo muito controvertida.
De Mafra só a livraria conventual merece simples
referência (Voyage du ci-devant duc de Chatelet en
Portugal, Paris, 1801).

1782
Dezembro 1 - Don Francisco Perez Bayer, arcedíago
da Catedral de Valência e Bibliotecário-Mor da Real
Biblioteca de Madrid, visita Mafra, percorrendo
demoradamente a livraria que, segundo lhe terão
dito, possui cinquenta e três mil volumes divididos
por duas casas devido às obras que prosseguem na

62
destinada para esse fim, ainda sem estantes.
Acompanhado pelo bibliotecário e por diversos
professores do Real Colégio de Mafra, esquadrinha
diversas preciosidades bibliográficas, mostrando-se
muito agradado (O Arqueólogo Português, v. 24,
1919-1920, p. 166-168 e O Concelho de Mafra, 5
Julho 1942).

1787
Agosto 27 - William Beckford desloca-se a Mafra,
afirmando que "a colecção de obras que se compõe
de mais de 60 mil volumes está agora encerrada
numa série de casas que comunicam com a
Livraria" (Carta n. 22, in Italy with sketches of Spain
and Portugal, Londres, 1834).

1792
Maio 12 - Por deliberação de D. Maria I os Arrábidos
substituem os Cónegos Regrantes na posse do con-
vento. Desde o ano de 1777, estes haviam gasto réis
24.084$325 com a biblioteca, não incluindo os
ordenados do arquitecto Manuel Caetano de Sousa,
orçados em réis 1800$000. No inventário realizado
já se não acham na Casa do Livreiro: 2 prensas de
aparar com seus engenhos e ferros, 1 fogareiro, 28
ferros de dourar. Inclui, no entanto, 1 candeeiro, 2
raspadeiras de aço, 2 pedras de moer tintas, que
não constam da Relação de 1771.

1794
É solicitada autorização ao rei para colocar os livros
nas novas estantes, apesar de inacabadas (na
douradura e nos retratos dos painéis). O Padre
Mestre frei João de São José, que detém o cargo de
bibliotecário, transfere os livros para as ditas
estantes, sem, contudo, lhes dar qualquer orde-
nação sistemática.

63
1797
Início da elaboração de novo catálogo pelo bi-
bliotecário e guardião do convento, Padre Mestre
frei Joaquim da Conceição (vulgo Vila Viçosa),
responsável pela primeira classificação dos livros
por temas.

1798
Agosto 18 - Morre frei Joaquim da Conceição sem
haver terminado a catalogação que encetara.

1800
A livraria de Mafra desperta a curiosidade do
arqueólogo espanhol Don José Andres Cornide y
Saavedra, encarregado por Godoy, mas alegada-
mente pela Academia Espanhola, de estudar as
antiguidades do nosso país. Refere que ao tempo
dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho chegara
a possuir quarenta e cinco mil volumes, muitos dos
quais haviam sido transferidos para S. Vicente de
Fora quando os Arrábidos regressaram ao Convento
de Santo António (Estado de Portugal en el año de
1800, cap. III, artigo 2º).

1801
Setembro 21 - O sacerdote sueco Carl Israel Ruders
visita Mafra, considerando os catálogos da livraria
conventual "mais explícitos que os da Biblioteca
Real de Lisboa" (Portugisisk Resa, Beskrifven: Breftill
Vanner, Estocolmo, 1805).
Novembro 4 - Grande festa em acção de graças pela
paz geral durante três dias, havendo serenata todas
as noites na casa imediata à livraria, onde cantam
Crescentini, Angeleli, Persegil e outros músicos ita-
lianos. Na terceira noite participa a famosa
Catalani, de São Carlos. Eusébio Gomes regista nas
Memórias de Mafra (1800 a 1833): "Na Livraria
armou-se um tablado, onde depois desta função fez

64
o Pinetti muitas habilidades em uma só noite. O
aperto era tanto que não podia passar a mais, e os
frades tinham tido permissão para poderem ir gozar
destes divertimentos, porém os que lá foram so-
freram insultos muito atrevidos dos seculares; ali
cada um parecia que estava em sua casa".

1803
Verão - O Conde de Lavradio narra nas suas
Memórias que, em criança, assistira "sentado num
grande livro, tirado para este efeito de uma das
estantes [da biblioteca do Paço de Mafra], a uma
serenata [...] dada ao Príncipe Regente e mais
família real pelo Infante de Espanha, D. Pedro
Carlos". A sala da Livraria achava-se muito bem ilu-
minada tendo cantado as célebres Catalani e
Gaforini e, entre outros, os cantores Valdi,
Crescentini, Fioravanti, encontrando-se também
presente João Cordeiro, o velho mestre da Capela
de el-Rei e professor de música das irmãs do memo-
rialista (Ângelo Pereira, Os Filhos d' El-Rei D. João
VI, Lisboa, 1946, p. 17, nota).

Uma Serenata no Palácio de Mafra, recordada por uma


octogenária da família do Conselheiro Francisco da Silva

Uma das minhas tias era dama da Senhora Rainha D.


Maria I, antes da partida da corte para o Rio de Janeiro.
A Família Real prolongou a sua estada em Mafra por
espaço de muitos meses, naquele tão venerável monu-
mento, habitação predilecta do Príncipe Regente. Eu
conservo uma bem agradável recordação de uns dias
que aí passei na pousada de minha tia; aquelas galerias
infindas, o aspecto majestoso da sumptuosa igreja, os
ofícios divinos dum esplendor incrível, onde uma vez vi
o Príncipe Regente cantando no côro dos frades, as cor-
rerias com os meninos da minha idade naqueles vastís-
simos terraços, os passeios ao cair da tarde com a

65
Angelica Catalani

66
minha tia que, seguida do seu escudeiro (chamavam-
-lhe guarda-damas) se dirigia, nos dias em que não
estava de serviço, à Tapada ou à Alameda. Ai! que
saudades que eu tenho desse tempo! À noite, nos quar-
tos da camareira-mor, entretinhamo-nos ao serão com
alguns dos provinciais que mais primavam de eruditos,
e que conjuntamente discutiam teologia e receitas de
doces com minha tia; jogava-se, às vezes, não me recor-
do que jogo de cartas. Havia também um como que
grande tabuleiro parecido com os bilhares de hoje, onde
os homens jogavam um jogo a que, se bem me recordo,
chamava-se caché. Tudo, tenho tudo na memória! Que
alegria eu não sentia quando, às vezes, encontrava nos
corredores as Princesas, caminhando gravemente,
apoiadas ao braço do seu veador, para a portaria, a fim
de darem o passeio de todas as tardes ou dirigindo-se
para a igreja, porque nos dias ordinários todos eles
ouviam missa nos seus oratórios particulares. Era eu
então uma esbelta rapariga de donaire e anquinhas,
fazendo aquelas profundas mesuras (que se aprendiam
com os mestres de dança) quando passavam Suas
Altezas! Minha tia, escrupulosa em artigos de etiqueta,
dizia-me muitas vezes:
- A menina é realmente perfeita em mesuras!
- E só nisso, minha senhora? - volvia eu.
- A vaidade, retorquia, é um feíssimo pecado, minha
filha.
E que respeitosa veneração, que culto quase religioso se
prestava então à realeza! Neste ponto acusem-me em-
bora de quanto quiserem, mas exaspera-me, revolta-me
esta sem-cerimónia de hoje. Quantas vezes minha tia,
quando passávamos pela Casa do Dossel, me obrigava a
fazer uma mesura! "Menina, Deus no céu e o Rei na
terra", tal era o seu credo. Mas vamos à maravilhosa
voz; uma tarde, depois do jantar, minha tia disse-me: "-
É necessário que a menina se paramente o melhor que
possa; esta noite há serenata na Livraria e a Sr.ª Infanta
teve a gentileza de me dizer que levasse minha sobrinha.
Chegou ontem uma italiana chamada Catalani, vinda
expressamente de Lisboa para cantar na presença da
Família Real; empresto-lhe o meu fio de pérolas e o afogador

67
Isabel Gafforini

68
de topázios. Lembre-se da honra que vai receber e não
se esqueça que às cinco horas a virei buscar para fa-
zermos com o frei João da Soledade a via-sacra na pou-
sada dos Padres". Fiquei louca! Ver de perto a Família
Real, as damas e os camaristas, toda a corte enfim
reunida, ouvir cantar uma italiana, que deveria ser um
portento, com certeza, pois só assim se explicava caso
tão extraordinário que vinha quebrar as praxes da
monótona vida do Paço. Ouvir cantar a Catalani! Eu
que, afora as vozes dos italianos nas festividades reli-
giosas, só de tempos a tempos ouvia em Chelas, na
quinta do meu tio cónego, alguns motetos profanos,
cantados por ele, acompanhando-se numa velha
espineta! Conhecem a biblioteca de Mafra, esse monu-
mento que a grandeza de alma (porque não direi antes
a necessidade da época?) levou D. João V a legar à pos-
teridade, essa obra de arte que assombra o próprio
Escorial? Pois bem, imaginem a balaustrada da varan-
da que circunda completamente aquela vastíssima sala,
guarnecida de pequenos castiçais de que creio há mi-
lhares nas arrecadações do Convento, ardendo em cada
um deles uma vela de cera; eram centos e centos de
luzes e ainda assim a sala estava quase às escuras! Ao
centro, sobre um tapete, as cadeiras para as pessoas
reais, em frente um cravo com seis castiçais de prata,
onde um frade acompanhava o canto da italiana. Fazia
um frio imenso. A Catalani trajava um vestido de velu-
do vermelho franjado de branco; nos cabelos um
pequeno penacho (aigrette lhe chamariam hoje) que
brilhava muitíssimo. Pareceu-me feia. Entrou conduzi-
da por um dos camaristas e, tendo feito três profundas
mesuras diante das pessoas reais, começou o canto.
Que voz! Que gorjeios! Que trilos aqueles, que ecoaram
sob aquelas abóbadas! Eu, perto de minha tia, na fila
das damas, de pé, por detrás das cadeiras reais, sentia
uma comoção que ainda hoje não posso bem explicar.
Minha tia atribuiu (santa criatura!) a poderes de
Satanás o encanto daquela voz portentosa. Eu julgava
ouvir uma toada de anjos e semelhante a tais harmo-
nias só algum rouxinol por noites de Primavera nas bal-
sas perfumadas da nossa quinta de Chelas. O Príncipe

69
Regente dormiu todo o tempo da serenata. A Rainha,
ainda que um pouco mais aliviada dos seus terríveis
padecimentos, que mais tarde a levaram ao túmulo,
mostrava uma certa impaciência e tanto diligenciava
bater com o leque o compasso da Música nos braços da
sua cadeira dourada que acabou por o despedaçar! Um
leque magnífico, de madrepérola e ouro, que uma açafa-
ta me disse ter sido um presente da Rainha de Espanha.
A sala, como já disse, estava quase às escuras e quase
deserta. Que era um grupo de 20 ou 30 pessoas para
uma área tão espaçosa?! A etiqueta não consentia que
pessoa alguma que não tivesse a honra de fazer parada
se reunisse nesta ocasião à corte, sendo eu, talvez, a
única excepção duma regra. Onde, porém, o espectácu-
lo se apresentou animadíssimo, onde a multidão se
aglomerava compacta por detrás das filas dos castiçais,
era nas varandas da sala. O mordomo mor tinha facul-
tado a entrada a todos os familiares do Paço e suas
famílias, a quase todas as pessoas da vila, a muitos
frades e leigos. Não se imagina quantas centenas de
cabeças se enfileiravam, entremeadas com as luzes! Era
curiosa esta exposição de caras! Quanto me recordo
hoje de tudo isto! Não sei porquê, faz-me lembrar os ofí-
cios das trevas! O que naquela altura se me afigurava
uma festa dum esplendor inexcedível, seria hoje tomado
por visita de pêsames, onde se desse o capricho de fazer
música. Tal era então o aspecto que a severa etiqueta
impunha às suas diversões, mesmo as mais particu-
lares da corte. E, contudo, foi um caso digno de menção.
Naquele tempo, vir uma cantora ao Paço dar uma sere-
nata na presença das pessoas reais, era caso tão
extraordinário que até a Gazeta, naquele seu mais que
parco noticiário, narrou o caso - e até mesmo os diplo-
matas tomaram notas que enviaram aos seus governos.
(Ângelo Pereira, Os Filhos d'el-Rei D. João VI,
Lisboa,1946, p. 14-17).

1807
Entre 1792 e 1807 os arrábidos terminam pequenos
detalhes da Biblioteca, obras que custariam
2642$415 mil réis ao Erário.

70
A fl. 140 do v. 1 do catálogo de frei João de Santa
Ana lê-se a seguinte nota, acrescentada à descrição
da Biblia sacra cum universis de Francisco Vatabli
(Paris, 1729, 4 vols.): "Falta o 1º tomo que estava no
Quarto do Príncipe Real o Senhor Dom Pedro de
Alcântara, e como este com a Família Real precipi-
tadamente se ausentaram para o Brasil em 1807,
por causa da invasão dos franceses, foi o dito livro
no seu fato e quando se procurou já o fato tinha ido
para bordo".

1809
Frei João de Santa Ana é nomeado bibliotecário da
Livraria do Convento de Mafra. A ele se fica a dever
a colocação nas estantes dos pergaminhos assina-
lando os temas nelas contidos, a organização sis-
temática ainda vigente, bem como o catálogo
onomástico, constituído por 8 volumes manuscritos
(315 x 210 mm). Tem como colaboradores frei
Manuel da Sacra Família e frei Manuel de Santa
Escolástica. O Reverendo James Wilmot Ormsby
publica em Londres An account of the operations of
the British Army, and of the state and sentiments of
the people of Portugal and Spain, during the cam-
paigns of the years 1808 and 1809, fazendo-se eco
de uma notícia segundo a qual os invasores france-
ses haviam roubado da biblioteca "as obras mais
valiosas e os mais antigos e preciosos manuscritos"
(v. 1, carta III, p. 47). É exagerada a afirmação, no
entanto, devido à retirada após a batalha do
Vimeiro, alguns livros não terão sido restituídos,
conservando-se, ainda em 1880, os respectivos reci-
bos de empréstimo (Júlio Ivo, Os Franceses em
Mafra, in O Concelho de Mafra, 27 Junho 1908).
Janeiro / Março - Caixotes com livros de Mafra, que
não haviam sido embarcados quando Dom João VI
partiu para o Brasil, terão seguido viagem durante

71
este período [AHMF: Casa do Infantado, liv. 2979],
crê-se que secretamente.

1816
Agosto 7 - Por carta, Louis François de Tollenare
narra a excursão que realizara a Mafra. O Palácio
encontra-o desguarnecido de móveis e ornamentos.
Quanto ao Convento, a sua atenção dirige-se por
inteiro para a biblioteca que estima corresponder a
cerca de metade da de Santa Genoveva de Paris,
tendo constatado a existência de muitas obras em
língua francesa, de que destaca a Encyclopédie par
ordre de Matiéres, a qual o padre bibliotecário, por
sua vontade, destinaria à fogueira (Notes domini-
cales prises pendant un Voyage en Portugal et au
Brésil en 1816, 1817 et 1818, Paris, 1971-1973).

1818
George Landmann, oficial de Engenharia no exérci-
to inglês, publica em Londres as Historical, Military
and Picturesque Observations in Portugal, obra na
qual relata a sua visita a Mafra em cuja livraria
observa uma excelente colecção das melhores pu-
blicações inglesas. Sublinha que antes da invasão
francesa de 1807 o número de livros era superior
aos 25 mil então contabilizados.

1819
Frei João de Santa Ana empreende a cópia do catá-
logo.
Agosto 11 - Por determinação de Dom João VI, João
António Salter de Mendonça remete carta a João
Lourenço de Andrade, na qual, além da nomeação
de frei Manuel de Santa Escolástica, comunica
diversas outras deliberações régias relacionadas
com a Biblioteca (Anais das Bibliotecas e Arquivos
de Portugal, s. 1, v. 1, 1915, p. 44).

72
Carta de João Salter de Mendonça
para João Lourenço de Andrade

Querendo el-Rei Nosso Senhor que a Real Biblioteca


de Mafra se conserve em bom estado e não sofra
dano por falta, ou de pessoas que zelozamente cui-
dem da sua guarda e asseio, ou de meios para se
repararem os danos causados pelo tempo: há por
bem ordenar o seguinte: 1º Que achando-se vago o
emprego do Segundo Bibliotecário por morte de frei
Manuel da Sacra Família entre no exercício do
mesmo emprego, o. Passante frei Manuel de Santa
Escolástica [...] 2º Que o Primeiro e Segundo
Bibliotecário serão responsáveis pela livraria e seus
pertences [...] 3º Que se continue a antiga
Consignação de duzentos mil réis por ano, não só
para aumento da mesma biblioteca como também
para os indispensáveis concertos dos livros, e mais
utensílios dela [...] 4º Finalmente, o Primeiro bi-
bliotecário [ou ?] o Guardião do Convento escolha
uma pessoa, ou dos doze religiosos leigos, ou dos
donatos que actualmente existem, ou também dos
serventes das obras, para ser diariamente ocupado
no asseio dos livros e da casa [...] O que participo a
Vossa mercê. para que assim o cumpra pela parte
que lhe toca; ficando na inteligência de que ficam
expedidas as Ordens competentes ao Real Erário
para a continuação do pagamento da dita
Consignação - Deus Guarde a Vossa mercê. Palácio
do Governo em 11 de Agosto de 1819.

1820
Frei Cláudio da Conceição publica o volume oita-
vo do Gabinete Histórico, obra onde se acha
descrita a livraria (cap. XXXVII, p. 317-323),
adiantando que "[...] tinha Sua Majestade [D. João
VI] chaves, para poder entrar nela a todo o tempo,
sem dependência do convento, nem perturbação
da comunidade".

73
1821
Frei João de Santa Ana dá por concluída a reorga-
nização da livraria conventual, tarefa em que foi
secundado pelos bibliotecários frei Manuel da Sacra
Família e frei Manuel de Santa Escolástica.

Regras de catalogação adoptadas


por frei João de Santa Ana

1) Como muitos autores são mais conhecidos pelos


sobrenomes do que pelos nomes próprios, para achar-
-se qualquer obra deles, deve procurar-se o sobrenome
dos ditos autores [...]
2) Quando os autores tiverem dois ou mais
sobrenomes, buscar-se-ão as suas obras onde se fizer
menção do primeiro sobrenome, e quando nos seus
competentes lugares se escreverem os outros, aí se dirá
só: veja-se o sobrenome tal, que aí se acharão as suas
obras. Mas quando eles forem mais conhecidos por um
sobrenome que pelos outros, naquele se escreverão as
suas obras, e em competentes lugares dos outros reme-
terei o leitor para aquele onde eles se acham escritos, e
até para lhe evitar o trabalho direi em que letra e em
que página os há-de achar, se for autor já mencionado.
3) Quando o autor tiver por sobrenome algum santo ou
mistério buscar-se-á o nome do autor no idioma, em que
ele tiver escrito as suas obras. Advirta-se porém que
quando as obras forem latinas, sempre os nomes ou
sobrenomes dos autores se escrevem em genitivo. E como
pode haver muitos autores do mesmo sobrenome, para se
evitar toda a confusão direi a religião, província ou con-
gregação a que eles pertencem. E como também algumas
vezes acontece que o mesmo autor tenha obras latinas,
portuguesas e francesas, achar-se-ão todas em uma só
parte, isto é, ou debaixo do nome latino, ou do nome
francês ou do nome português, e por este motivo se o
nome do autor for v. g. João, todas as suas obras se hão-
-de achar ou em Joannes, ou João, ou Juan, ou Jean.
4) Quando o autor não tiver sobrenome e em lugar
deste usar de algum título, dignidade ou ofício, buscar-
-se-á também o nome v. g. Pauli Diaconi.

74
5) Quando a obra não tiver o nome do autor, buscar-se-
-á o título da obra. E como são muitas conhecidas mais
pelos seus títulos do que pelos nomes dos autores,
achar-se-ão ordinariamente nos nomes dos autores,
mas também nos títulos em referência para aqueles.
6) Quando for colecção de várias obras feita por alguns
escritores, buscar-se-á pelo nome do colector. Quando
for uma tradução, achar-se-á no nome do autor, e no
lugar competente se fará menção do tradutor.
7) Os autores que tomarem nome fingido irão men-
cionados com o dito nome; e sabendo-se o seu nome
verdadeiro, se fará neste uma referência para aquele.
8) O que se achar escrito entre parênteses, a não ser o
nome do autor, não pertence ao título da obra, mas só
se escreve para explicar alguma coisa parecida.
9) Juntamente com as obras se declara o nome da terra,
e oficina onde foram impressas e também o ano da
edição, e quando se achar escrita esta palavra Ibi - quer
dizer que foi impresso na mesma cidade, e Ibidem no
mesmo l. e tip. ultimamente designados.
10) No fim de cada obra se acharão três números - o 1.º
com letra romana, o qual mostra o número da estante e
esta é debaixo da varanda se o dito número tiver um só
risco por cima, v. g. XII, e as que estão por cima VIII (dois
riscos), o 2.º número indica a estante, e o 3.º o lugar do
livro na estante a contar da esquerda para a direita.
11) Um risco à margem direita das obras ligando-as
quere dizer que todas estão na mesma estante e lugar.
12) Ibi - quer dizer que está na mesma obra antecedente
e Ibidem na mesma obra, tomo e vol.
13) Sempre se indica o número de vol. e tomos. Não
havendo referência especial quer dizer que a obra só
tem 1 vol. ou tomo.
14) Quando se fizer referência duma obra para o tomo 3.º,
4.º etc. doutra obra, quer dizer que esta é uma colecção.
15) Quando se disser "Está no tomo - Concilium
Tridentinum Lovanii, 1567 - deve buscar-se Concilium
Tridentinum impresso em Lovaina em 1567.
16) Nas estantes superiores nº 49-50 e 51 estão livros
proibidos, e como alguns pelo seu tamanho não cabem
nas casas estão nelas deitados, e por isso quando deles
se fizer menção só se porá o número da estante e o da
casa e no lugar do 3.º número se porá este sinal +.

75
17) Quando se encontrarem estas palavras anda
volante, com os livros de encher se designa que aquela
obra não tem lugar certo, por haver vários ex., e serve
para preencher os espaços das que faltam.
18) Deixo espaços em claro para fazer no futuro menção
das obras que se comprarem, e bem assim cada letra
tem o seu suplemento.
19) Nos artigos Noticia - Novena - Relação - não se
acharão as obras por ordem alfabética exacta, por
serem opúsculos de pouca ponderação e que se acham
juntos na Biblioteca Volante, e escrevi, para evitar tra-
balho, pela ordem em que se encontram a dentro dos
vários tomos.

1825
Dezembro 5 - Alvará de Dom João VI institui o
depósito legal em Mafra, tornando extensivas à sua
livraria as disposições constantes no de 30
Dezembro do ano anterior, que determinava fosse
remetida à Biblioteca Pública de Lisboa um exem-
plar de todas as obras impressas no Reino (cf.
Colecção de todas as leis..., 1826, 1º semestre, fl.
VI, p. 20).

Alvará de Dom João VI

Eu o Imperador e Rei: Faço saber que merecendo a


Minha particular Consideração a Real Livraria de
Mafra, e Querendo concorrer para o seu aumento, em
benefício da Pública Instrução, Hei por bem que as dis-
posições do Alvará de trinta de Dezembro do ano pas-
sado para ser remetido à Biblioteca Pública de Lisboa
um Exemplar de toda, e qualquer Obra, que se impri-
mir nas Oficinas Tipográficas do Reino, sejam extensi-
vas à sobredita Real livraria para o mesmo fim, e

76
debaixo das mesmas cláusulas, e penas; devendo
porém a entrega dos Exemplares ser feita no Convento
de S. Pedro de Alcântara desta Cidade à pessoa, que
para os receber for designada pelo Guardião do Real
Convento de Mafra [à data o Padre Mestre frei Manuel
da Epifânia]".

1827
O 2º Tenente da Marinha, Ajudante Arquitecto da
Casa do risco das Obras Públicas e Director das do
Régio Palácio e Convento de Mafra, Amâncio José
Henriques, oferece à Biblioteca as plantas do
Monumento de Mafra, por si levantadas, explicadas
no Real Edifício visto por fora e por dentro de frei
João de Santa Ana.

1828
Frei João de Santa Ana compõe o Real Edifício
Mafrense visto por fora e por dentro, apresentando
minuciosa descrição da Biblioteca (fl. 420-425).

A Biblioteca segundo o
Real Edificio Mafrense visto por fora e por dentro

[...] Esta magnífica e majestosa casa que faz a admi-


ração de todos os que nela entram e é geralmente
reconhecida pela melhor da Europa [...]. Estende-se de
Norte a Sul. Entra-se do Palácio para ela pelos dois
grandes portais que estão em cada topo [...]. Toda a
livraria é cercada de estantes até à altura da cimalha e
de uma soberba e majestosa varanda que passa pelo
meio delas. O parapeito que acompanha a varanda é de
balaustres e colunatas, o feitio de cada um dos quais
custou 800 réis.
A varanda é elevada sobre o pavimento 15 palmos,
sacada fora 5, e o passeio tem três e meio de largo. As

77
estantes que são de pau e também a varanda são for-
madas de pilastras que divide umas das outras. Os
capiteis das pilastras das estantes inferiores servem
como de bases às grandes mísulas, sobre que descansa
a varanda. As estantes da parte do nascente estão no
espaço que há entre umas e outras janelas e tem 14
palmos de largo, e o mesmo têm as do poente, e as que
neste lado estão defronte das janelas, têm 12 palmos de
largo. Por cima da varanda tudo está ocupado de
estantes, porque aí não há janelas, senão a grande no
fundo do cruzeiro e correspondem todas às estantes
inferiores. Estas são 54 e as superiores são 82. É tal e
tão delicada a obra de talha que há em todas elas e na
varanda, e principalmente nos do cruzeiro e dos fundos
da Casa, que é impossível explicar-se. Sobre cada uma
das estantes está uma riquíssima tarja, dentro de que
está o título da matéria e ciência, de que tratam os
livros de que ela está cheia. Sobre cada uma das supe-
riores está um corpo grande de figura oval, digo, um
painel que se eleva até ao tecto, destinados para neles
se pintarem os heróis mais famosos nas ciências e artes
de que tratam os livros de cada estante, mas não se
chegaram a pintar. No fundo do cruzeiro, além de outro
muito ornato, de cada parte sobre a janela grande, está
uma Coroa Real como suspensa, coroando o nome da
Rainha Senhora D. Maria I, que está em cifra entalha-
do no painel, que fica por baixo da coroa. O pavimento
da casa é obra do Senhor Rei D. José I, as estantes
foram mandadas fazer pelos Cónegos Regrantes de S.
Agostinho. Cada estante tem um degrau, que se puxa
fora para se chegar a todos os livros dela. Cada vão de
janela, excepto os do cruzeiro, tem uma mesa coberta
com pano verde, uma estante para livro e tinteiro, etc.
Tem muitas obras raras e ricas edições. Tem actual-
mente 27 para 28 mil volumes e pode conter 60 até 70
mil. Vai-se aumentando com a consignação de 200$000
réis anuais e com todas as obras que saem à luz em
Portugal, de cujas obras deve ser remetido das oficinas
tipográficas um exemplar de cada uma para a mesma
livraria, como mandou o Senhor Rei D. João VI por
alvará de 5 de Dezembro de 1825.

78
Para as duas Casas indicadas pelo n. 130 se entra pelos
portais próximos às janelas, que estão no fundo do
cruzeiro, da parte do poente. Tem cada uma de compri-
do 71 palmos e meio, de largo 22 e 1/4 e de alto 24.
Tem três janelas que deitam para o Jardim da Quadra,
e são do mesmo tamanho, que as da livraria e as das
frontarias de todo este andar. A do Sul está circundada
de estantes para os livros proibidos; a do Norte está
ornada com as plantas do edifício, com mapas gerais e
particulares e tudo o que é preciso para o estudo da
geografia, como é a esfera armilar, os globos terrestre e
celeste. As plantas estão ornadas com molduras de pau
santo; e do mesmo são também as que ornam os
retratos de Sua Majestade o Senhor D. Miguel I, o de
seu Augusto Pai e o do Imperador do Brasil, o Senhor
D. Pedro I, que estão no topo da casa. No meio de cada
uma delas está uma mesa de pau bordo, que tem 14
palmos de comprido, sete de largo, seis grandes gave-
tas, três de cada lado, em que se guardam vários
papéis, folhetos, etc. Sobre estas duas casas há outras
duas iguais, para as quais se sobe pelas duas escadas
indicadas pelo n. 128 [...].

1830
A livraria deixa de receber um exemplar de todas as
obras impressas no Reino, conforme estipulava o
Alvará de 5 de Dezembro de 1825.

1834
Março 7 - Procede-se ao inventário da BPNMafra a
fim de verificar a sua integridade, tendo sido
inquiridas para o efeito 5 testemunhas idóneas:
Gaspar Carlos da Silva (durante mais de 41 anos
habitante do mosteiro, onde foi guardião), frei
Joaquim de Nossa Senhora das Dores, frei António
da Purificação e frei Brás do Sacramento (religiosos
conversos) e Lourenço Justiniano Torcato (durante
42 anos aparelhador de carpinteiro no mosteiro). No
Inventário número 246 dos Conventos Suprimidos

79
constam na Casa do Livreiro apenas 2 prensas e 1
ferro de aparar.
Setembro 17 - Nesta data o regente mandou expedir
ordens ao Prefeito da Província da Estremadura,
"para dar as providências que julgar oportunas
sobre o objecto de que tratava a sua Representação
de quatro do corrente mês, relativamente à posse
que tomou o Provedor do Concelho da Vila de Mafra
das Cercas, Livraria, Baterias de cozinha e outros
objectos que existiam no extinto Convento [...]"
(Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, s. 1, v.
1, 1915, p. 45).

1836
O Conde de Canarvon, Henry John George Herbert,
publica, em Londres, Portugal and Gallicia, obra
que se reporta à biblioteca de Mafra.

1837
Novembro 7 – Ao presumir que a Biblioteca de Mafra
não passara de uma livraria conventual de insti-
tuição régia (e não "de propriedade real"), a
Comissão Administrativa do Depósito das Livrarias
dos Extintos Conventos (Registo das actas das
sessões, p. 68-69 [BN: AC/INC/DLEC/12/Caixa
02-02]) coloca em risco a sua sobrevivência. Tal
intuito é evidenciado pela Acta 7 da CADLEC: "[...]
na impossibilidade de recorrer a documentos por
não existirem (ao menos a seu alcance) consultara
pessoas respeitáveis e com profundo conhecimento
da História antiga e moderna do País; as quais afir-
maram que a Biblioteca da Mafra fazia uma parte
integrante do convento, e que tendo este sido feito
em cumprimento de um voto do Senhor Rei Dom
João V fora por ele doado aos frades que o
habitaram, os quais desde então estiveram sempre
na livre posse e gozo da mesma livraria como pro-
priedade sua" (ver 1840 e 2001).

80
1839
C. W. Vane, Marquesa de Londonderry, considera a
"magnífica biblioteca [...] com 29 mil volumes na
melhor ordem" um dos mais valiosos pertences do
Palácio de Mafra (A steam voyage to Constantinople,
by the Rhine and the Danube, in 1840-41 and to
Portugal, Spain, etc., in 1839, Londres, 1842, v. 2, p.
143).

1840
Novembro 13 – Portaria do Ministro do Reino,
Rodrigo da Fonseca Magalhães, declara a Biblioteca
de propriedade régia e, consequentemente, fora da
alçada da Comissão Administrativa do Depósito de
Livros dos Extintos Conventos (CADLEC), abonan-
do-se, para o efeito, no argumento de "que pelos
esclarecimentos até agora chegados a este
Ministério, tudo induz a fazer acreditar que tanto a
biblioteca da extinta Casa das Necessidades de
Lisboa, como a do Convento de Mafra, são de
propriedade real" [cf. Portarias relativas às activi-
dades da Comissão Administrativa do Depósito
das Livrarias dos Extintos Conventos [BN:
AC/INC/DLEC/01/ cx. 01-01] e Copiador de por-
tarias e ofícios relativos à actividade da CADLEC, p.
130 [BN: AC/INC/DLEC/04/cx. 01-02]).

1841
O escritor polaco Karl Dembrowski faz estampar em
Paris a obra Deux ans en Espagne et en Portugal
(1838-1840), onde considera magnífica a livraria de
Mafra.

1842
O Príncipe Felix Lichnowsky visita Mafra, afirman-
do que a biblioteca "é mantida com uma ordem
exemplar por dois velhos eclesiásticos, um dos
quais está concluindo um excelente catálogo"

81
(Portugal Erinnerungen aus dem Jahre 1842,
Mogúncia, 1843).
Maio 25 - O padre Inácio da Purificação é nomea-
do bibliotecário, com o ordenado de réis 360$000
anuais.

1843
George Borrow afirma que em Mafra "existe a mais
bela biblioteca de Portugal, possuindo livros sobre
todas as ciências e em todas as línguas, adequada
à dimensão e grandiosidade do edifício que a con-
tém" (The Bible in Spain, Londres, p. 5).

1852
William Edward Baxter publica, em Londres, The
Tagus and the Tiber, onde descreve a sua chegada
proveniente de Torres Vedras e afirma: "o principal
motivo de atracção em Mafra é a biblioteca, con-
tendo um número extraordinário de livros em todas
as línguas, designadamente sobre assuntos reli-
giosos, mas também históricos, jurídicos, filosófi-
cos, poéticos e relacionados com diversos outros
géneros literários. Os volumes estão elegantemente
encadernados e notavelmente bem arrumados" (v.
1, cap. III, p. 53).

1854
Lady Emmeline Stuart Wortley dá à estampa, em
Londres, A Visit to Portugal and Madeira, subli-
nhando a magnificência da biblioteca e o seu
esplêndido acervo, o qual calcula corresponder a
cerca de 30 mil volumes, metade do número
avançado por Beckford que o terá, não intencional-
mente, exagerado (p. 122-123).

1855
Maio 2 - Por morte do anterior bibliotecário do Paço
Real de Mafra, o padre António da Purificação

82
Morais Cardoso e nomeado responsável pela livraria
(Diário do Governo).

1866
Agosto 26 - A Gazeta do Campo inclui missiva subscri-
ta por Um estudante, intitulada Frei Tomé das Chagas e
o bibliotecário d' esta villa, da qual sai manifestamente
prejudicada a imagem do padre António da Purificação
Morais Cardoso, acusado de não facultar aos investi-
gadores "nem a vista do catálogo, nem a proximidade
da galeria", alegando até a inexistência no acervo de
certos autores, supostamente para impedir a sua con-
sulta.

1873
Lady Jackson contabiliza cerca de 25 mil livros e
alguns raros manuscritos na biblioteca (Fair
Lusitania, cap. XVI).

1875
O Almanach Burocratico de Aristides Abranches
apresenta António da Purificação Morais Cardoso
como bibliotecário da Biblioteca do Paço Real de
Mafra.

1878
Joaquim da Conceição Gomes publica A Bibliotheca
Real de Mafra (in Bol. da Real Assoc. dos Architectos
Civis e Archeologos Portuguezes, t. 2, n. 7, p. 102 e
n. 8, p. 118-119).

1882
Novembro - Por morte do padre António da
Purificação Morais Cardoso a administração da
biblioteca passa para a responsabilidade do
Almoxarifado do Paço.

1883

83
Jane Leck visita Mafra que descreve nos Iberian
Sketches (Glasgow, 1884). A propósito da biblioteca,
de que trata sumariamente, sublinha que "[...] faria
o coração de um bibliófilo sangrar ver o estrago rea-
lizado nas esplêndidas encadernações de pergami-
nho e carneira pelos implacáveis e não molestados
insectos".

1887
Possidónio Narciso da Silva destina à Biblioteca ele-
vado número de publicações artísticas e científicas
contemporâneas.
Agosto 14 e 21 - O Jornal de Mafra insere artigo de
Joaquim da Conceição Gomes, intitulado Monu-
mento de Mafra: Bibliotheca.
Setembro 4 - Fica concluída a publicação do artigo
supracitado de Joaquim da Conceição Gomes.

1888
Os irmãos Francisco e Hermenegildo Giner de los
Rios não se decidem quanto ao número de volumes
existente na biblioteca, se 25 ou 30 mil (Portugal:
impresiones para servir de guia al viagero).

1889
Julho 17 - Dom Luís recebe do arquitecto Joaquim
Possidónio Narciso da Silva a doação de uma
colecção de obras artísticas e científicas (cerca de
1330 livros) com destino à biblioteca de Mafra (O
Monumento de Mafra, in O Mafrense, 12 Jan. 1890).

1894
O arquitecto Possidónio Narciso da Silva manifesta
a Joaquim da Conceição Gomes o seu agradecimen-
to pela ordenação do acervo que doara à biblioteca
do Paço e pela elaboração do respectivo catálogo (o
qual não corresponde à ordem actual das publi-
cações).

84
1895
Na Sala de Sua Majestade El-Rei da Exposição de
Arte Sacra Ornamental, promovida pela Comissão
do Centenário de Santo António, figuram peças de
Música Sacra da Biblioteca do Paço Real de Mafra
(Catálogo, p. 86-90).

1898
O Catálogo de frei João de Santa Ana é revisto pelo
capitão de infantaria João Correia dos Santos.

1900
Novembro 6 - Aires Augusto Braga de Sá Nogueira e
Vasconcelos é nomeado bibliotecário por Portaria da
Administração da Fazenda da Casa Real, suceden-
do ao Almoxarife do Palácio que desempenhara o
cargo desde 1882.

1901
Julho 7 - O Correio de Mafra (artigo intitulado Real
Bibliotheca de Mafra) elogia o desempenho de Aires
de Sá como bibliotecário, anotando que a biblioteca
tem "recebido dia a dia grande quantidade de obras
dignas de menção". Encontra-se aberta ao público
diariamente, no período compreendido entre as 11 e
as 16 horas.

1902
Agosto - O Diário de Notícias relata uma demorada
visita de Dom Carlos à biblioteca, durante a qual
teve oportunidade de observar muitas das suas pre-
ciosidades.

85
Aires de Sá

86
Dom Carlos e a sua época

O rei, no convívio entre amigos, era muito jovial. Uma


vez, estava ele sentado no meu gabinete da biblioteca do
paço de Mafra, a uma mesa, em frente de uma janela;
conversámos de livros; ele estava folheando um Elzevir,
nisto, uma nuvem de pombos correios, da Escola
Prática de Infantaria, levanta voo do jardim e, o rei,
interrompendo a leitura e a conversa, exclama: - Olha!
tanto pombo. E ficou a segui-los com a vista.
Erudito: uma vez, também no meu gabinete, para onde,
às vezes, ia, depois do almoço, com o ajudante de campo
e o oficial às ordens, e quando coincidia a ida do rei a
Mafra com a estada dele lá, ou quando o acompanhava
de Lisboa, com o meu velho amigo Tomás de Mello
Breyner, mostrei-lhe, em consulta, um livro do século
XVI, onde se via um brasão, que fora posto no fron-
tispício, com tinta já apagada e destruidora do papel.
Era a primeira vez que eu o abria, e sem detido exame:
- Quer el-rei ver isto? O que será o que se veria ao alto
deste escudo? Já não se percebe, ou mal se percebe.
O rei, lembro-me muito bem, vestido do seu pequeno
uniforme de generalíssimo, com que costumava quase
sempre andar, pegou no livrinho, esteve a examinar o
ponto para que eu chamara a sua atenção e, passado
algum tempo: - Isto são armas de qualquer infante ou
infanta. O que mal se vê aqui, em cima, é o banco de
pinchar, com as armas maternas, por diferença.
Outras vezes, em dúvidas, que eu tinha, ele ficava de
mas resolver, logo que regressasse a Lisboa; e, daí a
dias, eu recebia um grande subscrito, timbrado a oiro,
com cópias de livros raros sobre bibliografia, explicati-
vas da minha dúvida. Ainda tenho essas cópias, que
eram acompanhadas de cartas de Arnoso.
Um valet de pied, que estava, então, ao serviço da bi-
blioteca, era muito zeloso na limpeza dos mármores de
Pêro Pinheiro que a pavimentavam. Lembrou-se, um
dia, de encerar a meia laranja central da biblioteca, um
primor de combinação de mármores, rosa, azul e
amarelo; pediu-me licença para o fazer, dei-lha. Se o
leitor quiser ver o efeito desse enceramento, abra o

87
volume da Enciclopédia Espasa, na palavra Mafra, e lá
verá a fotogravura, representando a biblioteca, onde
brilha, pelo enceramento, a meia laranja central.
A primeira vez que, depois deste enceramento que dei-
xava livres as passagens laterais, o rei foi a Mafra, não
deixou de ir, conforme o seu costume, à biblioteca.
Ficou encantado. A meia laranja está sob a luz de seis
grandes janelas que iluminam, a meio, a biblioteca.
Nada mais escorregadio que o mármore assim polido e
encerado a valer, para dar o brilho rutilante que se obteve.
Achou magnífica a ideia e, enquanto fazia os comen-
tários que o caso lhe sugeriu, começou a efectuar a
travessia, muito sossegada e imponentemente, com o
charuto na boca e as mãos nas algibeira do dolman.
Hermenegildo Capelo, que conversava comigo, vendo o
rei em terreno tão perigoso, disse-lhe: - El-rei acautele-
-se!... El-rei acautele-se!...
Mas, o rei não se importou nada com o alarme do herói,
e continuou, majestoso, o seu caminho. E eu disse ao
almirante Capelo: - Também el-rei quer ter a glória de
fazer uma travessia.
(Aires de Sá, Príncipe Real D. Luís Filipe, 1930, cap. II)

1904
Março 6 - O francês Gaston Spira Thaun furta da bi-
blioteca 3 obras quinhentistas, a saber: o Cancioneiro
Geral Espanhol (edições de 1527 e 1573) e a Chronica
del Famozo Cavalleiro Cid Roy Diez Campeador (1593).
O Diário de Notícias (12, 13, 17 e 25 Março) e O Correio
de Mafra (17 Março, 3, 10 e 17 Abril, 1 Maio) acom-
panham o episódio, narrando a detenção do ladrão no
Porto, sua entrega à justiça e julgamento, numa série
de artigos intitulados O larápio das Bibliothecas
(assinados A. P.) e O Roubo dos Livros da Biblioteca do
Real Convento, respectivamente. A correspondência e
demais documentos relativos ao processo, recebidos
pelo Administrador do Concelho de Mafra, arquivam-
-se actualmente no Arquivo Histórico de Mafra.

88
Gaston Spira Thaun:
caricatura e retratopublicados
na imprensa diária.

Agosto - O japonês Katisako Aragwisa visita Mafra


na companhia do humorista Mardel. Termina o
périplo do edifício pela biblioteca onde é apresenta-
do a Aires de Sá. Impressionado pela sua grandiosi-
dade e magnificência, recorda que ouviu dizer
tratar-se da mais bela biblioteca de todo o mundo
(Alfredo Gallis, Cartas de um Japonez, Lisboa, 1907,
p. 223-224). Aires de Sá apresenta na revista A Caça
(a. 6, n. 1, p. 2-4) o folheto da Biblioteca Volante
[BPNMafra: 2-55-7-22] intitulado Relação em que se
dá conta da jornada que fizeram suas magestades e
altezas e a maior parte da nobreza da corte a ganhar
o santo jubileu á Real Basilica de Mafra, e copia do
breve por onde elle foi concedido, para cujo fim con-
correu grande concurso de pessoas de todos os sexos
d' este Reino. Dá-se noticia do numero das pessoas

89
que se confessaram e comungaram, e das que
crismou o excellentissimo bispo de Macau e da caça-
da real que suas magestades fizeram, e do numero
de rezes que mataram (Lisboa, 1752).
Setembro - Aires de Sá transcreve longo excerto do
folheto supra (El-Rei D. José em Mafra, in A Caça, a.
6, n. 2, p. 22-23).

1905
Agosto / Setembro - Aires de Sá edita excertos de
um opúsculo anónimo da Biblioteca Volante
[BPNMafra: 2-24-8-9], intitulado Relação da plau-
sivel jornada que Suas Magestades Fidelissimas
com toda a familia Real fizeram ao seu magnifico
Convento da Villa de Mafra pela festividade do
grande patriarcha S. Francisco n' este anno de 1750
[...] (El-Rei D. José em Mafra, in A Caça, a. 7, n. 1,
p. 7-9 e n. 2, p. 19-21).

1908
Walter Crum Watson considera a biblioteca uma
das melhores dependências do Monumento de
Mafra (Portuguese Architecture).

1910
G. Le Roy Liberge publica Trois Mois en Portugal
(Paris) onde, a propósito da biblioteca, escreve: "todos
os volumes estão encadernados a branco" (p. 100).
Outubro 5 - Aires de Sá demite-se do cargo de
bibliotecário no próprio dia da implantação da
República. A biblioteca fica a cargo do Administrador
do Palácio, todavia, na prática, a tarefa será desem-
penhada pelos fiéis do edifício, situação que se
manterá até 1937.

1912
Junho 4 – Júlio Dantas visita a Biblioteca conventual
na companhia do Ministro do Interior. Entrevistado,

90
coloca como hipótese a sua integração no quadro
das bibliotecas e arquivos dependentes da instrução
pública e consequente extinção, destinando as
obras mais vulgares à criação de um fundo de
livraria a colocar em Beja ou Faro, uma vez que a
BPNMafra se acha "num lugar isolado e de difícil
acesso, está reduzida à condição de um simples
museu, em que há entregues à guarda insuficiente
de um velho criado do paço trinta mil volumes que
ninguém utiliza, em cento e cinquenta estantes,
onde ninguém toca" (O Século).
Junho 11 – O Dr. Carlos Galrão publica artigo em O
Século, criticando os argumentos avançados por
Júlio Dantas para proceder à "vandálica extinção da
Biblioteca de Mafra".

1913
Junho - José António Tavares entra ao serviço da
biblioteca.

1914
Abril - A Enciclopédia das Famílias (a. 28, n. 328, p.
258) inclui artigo intitulado Monumentos Históricos:
Bibliotheca de Mafra.

1915
É publicado A Biblioteca de Mafra: cópia de docu-
mentos do Arquivo da Administração da extinta Casa
Real (Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, s.
1, v. 1, p. 44-45).

1916
Novembro 30 - João Paulo Freire assina com o
pseudónimo Mário artigo intitulado Desleixo
Criminoso ! - A bibliotheca de Mafra ao abandono ! -
Para o sr. Júlio Dantas ler, meditar... e proceder (A
Ordem).

91
1918
Fevereiro - Por falecimento de José Tavares António,
no mês anterior, a guarda e conservação da bi-
blioteca ficam a cargo de Eduardo de Sousa Gomes.

1920
Janeiro 12 - Na sequência do suicídio de Eduardo de
Sousa Gomes (numa das dependências da bibliote-
ca), o, à data, administrador (posteriormente con-
servador) do Palácio, José da Costa Jorge, assume a
tarefa de zelar por ela. Organiza uma lista dos
incunábulos que compõem o seu acervo.
Abril / Junho - É publicada uma lista composta por
21 incunábulos da Biblioteca de Mafra (Anais das
Bibliotecas e Arquivos de Portugal, s. 2, v. 1, n. 2, p.
137-138).

1921
Março 27 - O Liberal (artigo intitulado Biblioteca de
Mafra) insere notícia relatando a visita de Raúl
Proença, com o fim de fazer uma relação das obras
portuguesas impressas no século XVI existentes na
Biblioteca do Palácio, então sob a administração de
José da Costa Jorge.
Abril / Junho - Raúl Proença publica o artigo Regras
de Catalogação dum bibliothecario dos principios do
século XIX (Anais das Bibliotecas e Arquivos de
Portugal, v. 2, n. 6, p. 154-155), no qual estuda e
transcreve os critérios adoptados por frei João de
Santa Ana para a classificação do acervo da livraria
de Mafra.

1926
António Joaquim Anselmo publica Bibliografia das
Obras impressas em Portugal no século XVI, com
inúmeras referências ao acervo da BPNMafra (ver
1967).

92
Abril 15 - Armando Boaventura publica o artigo
Alviçaras dão-se... - Onde pára um valioso manus-
crito referente á vida de El-Rei D. Sebastião, e que
pertencia á Biblioteca do Convento de Mafra ? - Uma
visita ao grandioso mosteiro de D. João V - Portugal
paiz de ... Turismo... - De Lisboa a Mafra ... - O Museu
instalado no antigo Palácio Real - A Biblioteca -
Depois da Republica ... - Á procura de uma chave ...
- Uma entrevista com o director das bibliotecas
municipaes de Coimbra - E o mais que se lerá ... (A
Época). O manuscrito em causa fora consultado por
Raúl Brandão quando cumpria o serviço militar em
Mafra e, constava que tinha desaparecido da bi-
blioteca.

1927
Janeiro / Dezembro - Pedro de Azevedo publica
Alguns ex-libris manuscritos (Anais das Bibliotecas e
Arquivos, s. 2, v. 8, n. 29-32, p. 155-157), artigo no
qual reproduz, a partir de informação fornecida por
Aires de Sá, exemplo subscrito por Joaquim José
Freire, extraído do ante-rosto do Combate Espiritual
(Lisboa, 1761) do padre D. Lourenço Scupoli: "Se
este livro for achado, / Caso venha a ser perdido /
Para ser mais conhecido / Leva o meu assignado. /
Se, a caso, for emprestado, / Para algum conheci-
mento, / Se lhe dê bom tratamento, / Quem houver
de nelle ler, / Para que não venha a ser / O livro do
esquecimento" (n. 17, p. 156).

1928
J. M. Cordeiro de Sousa publica O que levaram os
caixões que foram para o Brasil (Notícias do
Passado, p. 59-60).

1930
A revista valenciana Armas de Colegio (a. 14, n. 150,
p. 276) publica artigo sobre Mafra, no qual sublinha

93
que "uma das peças mais dignas de ser visitada é a
dilatada biblioteca com formosa abóbada e ricas
estantes". O 4º Conde de Mafra, Tomás de Mello
Breyner, narra nas suas Memórias (1869-1880)
episódios ocorridos consigo, quando criança, na
biblioteca, local ideal para a patinagem, de onde os
príncipes e jovens cortesãos partiam para "dar a
volta toda ao palácio sempre patinando" (p. 298).
Recorda ainda os livros com estampas, algumas
interditas aos visitantes da sua idade, que consul-
tara demorada e repetidamente (p. 299-300). Aires
de Sá publica Príncipe Real D. Luís Filipe (Lisboa),
com interessante anotação sobre uma visita de Dom
Carlos à biblioteca do Paço (ver 1902).

Memórias de Tomás de Mello Breyner

Também me divertia durante horas vendo estampas. E


que estampas, que riqueza de gravuras! O que eu gosta-
va de ver um livro enorme ricamente encadernado,
tendo cantos e fechos de metal. Dentro estavam repre-
sentadas todas as cerimónias na Corte dos Reis de
França a começar pela sagração.
As viagens de Cook numa edição grande e largamente
ilustrada faziam as minhas delícias, bem como a repre-
sentação da vida dos Padres Ermitões num tomo de
grande formato e ainda as estampas com as batalhas
navais contra os turcos.
O livro de Andrade com todo o ensino da Arte marialva
explicada em desenhos, mostrando alguns deles o
Príncipe D. José dando a volta com o freio só, sem
auxílio da chibata.
Havia um outro livro de equitação ou arte de cavalgar
com estampas ainda mais belas do que o português.
Este era em francês e logo ao princípio tinha um cava-
lo trazido à mão por um palefreneiro de botas altas com
esporas de cinco bicos e uma chibata na mão direita. O
nome desse corcel de pata levantada é Le Bonite. Está
escrito no alto da estampa por baixo das armas reais.

94
Ainda não pensara em ser médico, mas já me interes-
savam as estampas muito curiosas e bem desenhadas
dum grande livro arrumado na estante das obras de
medicina. Gostava de ver os esqueletos, os homens
esfolados, os nervos bem patentes, as mioleiras à
mostra.
Este alfarrábio, para mim tão curioso passados anos,
vinha a ser nem mais nem menos do que o famoso
tratado de anatomia humana intitulado De humani cor-
poris fabrica e composto por André Vesálio, anatómico
flamengo do XVI século.
Numa estante, quase encostada à janela grande deitan-
do para o jardim dos buxos, estavam uns livros cujo
exame me era vedado, mas que eu ia folheando com o
consentimento tácito do Francisquinho da livraria, aliás
encarregado de mos não deixar ver.
As gravuras reproduziam candeeiros etruscos e frescos
de Pompeia, alguns deles tão frescos que eu não resis-
tia à tentação de para eles chamar a atenção de quan-
tos rapazotes da minha idade eu apanhava o jeito, a
começar por Suas Altezas. E note-se que eu era pelas
mães de família considerado como companheiro de con-
fiança para os respectivos filhos adolescentes...
(Memórias de Tomás de Mello Breyner, p. 298-300)

1932
Paul de Laget publica En Portugal (Paris), obra na
qual dedica capítulo a Mafra, onde se lê: "[Dom João
V] fundou numerosas bibliotecas cujo fausto jamais
foi igualado, tal como a da Universidade de
Coimbra. A de Mafra merece uma visita" (p. 178).

1933
Junho 4 - Ernesto Soares publica O Terramoto de
1755 em Mafra, reproduzindo parcialmente o fo-
lheto manuscrito da Biblioteca Volante, intitulado
Catalysis ou Assolação da cidade de Lisboa pelo
terramoto do 1º Novembro de 1755 com a perser-
vação [sic] do Real Convento junto à villa de Mafra,

95
composta pelo Padre Alberto da Fonseca Rebelo
Lisbonense, graduado na Faculdade dos Sagrados
Canones pela Universidade de Coimbra (O Concelho
de Mafra).
Setembro 24 - Carlos Galrão publica In Illo
Tempore..., artigo no qual revela um documento de
Dom José (27 Fevereiro 1761) arquivado nos reser-
vados da Biblioteca de Mafra (O Concelho de Mafra).

1937
Outubro 23 - Graças ao empenho do Director Geral
da Fazenda Pública, António Luís Gomes, e do
Inspector Superior das Bibliotecas, Júlio Dantas, é
publicado o Decreto-Lei n. 28107, que determina a
abertura da BPNMafra à leitura pública, definindo
também o quadro do seu pessoal: 1 segundo bi-
bliotecário director, 1 aspirante, 1 contínuo de
primeira classe e 1 contínuo de segunda classe
(Crónica: Abre-se ao público a Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra, in Anais das Bibliotecas e
Arquivos, v. 12, n. 49-50, p. 161-162). Doravante
ficará administrativamente dependente da
Direcção-Geral da Fazenda Pública e, tecnicamente,
da Inspecção Superior das Bibliotecas e Arquivos.
Transferido da biblioteca da Universidade de
Coimbra, a cujo quadro pertencia, José Dias dos
Santos Coelho é nomeado Bibliotecário-Director.
Novembro – De acordo com ofício do Director, José
dos Santos Coelho, é autorizada superiormente a
construção "nesta biblioteca de um tanque em
cimento armado, para aproveitamento da água das
chuvas, destinada a prover este estabelecimento
com a água necessária para a sua limpeza [...]".

96
José dos Santos Coelho

1938
Janeiro 2 - A BPNMafra é aberta à leitura pública.
Aproveitando a visita do Curso de Férias da
Universidade de Lisboa é inaugurada uma
exposição da camoneana do acervo.

97
Março - É inaugurada uma exposição de Livros de
Medicina, por ocasião da visita do Auto Club Médico
Português.
Abril 23 - O Regionalista (artigo intitulado Biblioteca
de Mafra) publica carta de José Dias dos Santos
Coelho (datada de 18) sobre o movimento da bi-
blioteca, realçando as doações dos ilustres mafren-
ses, Júlio Ivo e Carlos Galrão. A Comissão Cultural
do Sport Algés e Dafundo é recebida em Mafra, onde
se desloca para visitar uma exposição bibliográfica
organizada pelo director da Biblioteca.
Abril 26 – O Diário de Notícias informa que a Polícia
de Investigação Criminal prossegue as averiguações
sobre um importante furto de livros raros na
BPNMafra, tendo detido como suspeito o almoxarife
do Palácio, José da Costa Jorge, o qual recolheu aos
calabouços do Torel.
Abril 27 – José da Costa Jorge, antigo conservador
da Biblioteca, é remetido ao tribunal da comarca de
Mafra, implicado num furto de livros raros (Diário
de Notícias, 28 Abr.).
Maio 1 - O Bibliotecário-Director concede entrevista
a O Regionalista (O Roubo de preciosos volumes na
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra), na qual
revela a ocorrência de um vultoso furto, alegada-
mente praticado por José da Costa Jorge, na
BPNMafra.
Julho 22 - José Dias dos Santos Coelho remete à
Direcção da Fazenda Pública ofício com o inventário
dos cerca de 70 títulos furtados da BPNMafra, jun-
tamente com número considerável de gravuras. A
lista inclui seis incunábulos, jamais recuperados,
que se julga poderem achar-se (actualmente) em
Inglaterra: Comentários, de Júlio César (1469), Vitae
philosophorum, de Diógenes Laércio (1475),
Satyrarum opus, de Francisco Filelfo (1476), Livre
de Baudouin conte de flandres et de Ferrãt filz au roy
de Portingal (1478), Regimiento de los principes

98
(1474), Leyes hechas por los muy altos e poderosos
principes e señores dõ Fernãndo y la reina Dõna
Isabel (1495).
Julho 27 - Encontra-se concluído o inventário dos
jornais da BPNMafra, incluindo os doados por Júlio
da Conceição Ivo (inédito).
Agosto - É inaugurada uma mostra de crónicas por-
tuguesas, obras respeitantes a Ordens religiosas e
encadernações notáveis.
Outubro - São devolvidos à biblioteca diversos ma-
nuscritos que lhe pertenciam, bem assim como as
Obras do Doctor Francisco Saa de Miranda (1614) e
as Obras de Luis de Camões (1669), volumes estes
na posse de um particular que os detectara entre
livros herdados.

1939
Janeiro 1 - Carlos da Silva Lopes publica A
Biblioteca de Mafra (O Concelho de Mafra).
Janeiro - Exposição de livros raros e preciosos.
Março - São integrados no acervo da biblioteca os
Forais manuelinos de Vila do Prado (1510) e de
Terras de Bouro (1514), remetidos pela Repartição
do Património da Direcção-Geral da Fazenda
Pública.
Abril - Exposição de obras relativas à história da
imprensa desde o século XV (cf. Uma admirável
exposição bibliográfica, in O Concelho de Mafra, 7
Mai. 1939). José da Costa Jorge é condenado a dois
anos de prisão pelo furto de livros da BPNMafra,
alguns dos quais jamais seriam recuperados.
Agosto - São incorporadas 26 obras de cariz reli-
gioso que se achavam numa arrecadação do
Convento das Trinas.
Outubro 7 - O director da BPNMafra conclui a ela-
boração do catálogo das Obras quinhentistas de
autores nacionais impressas no estrangeiro (inédito).
A arrumação é muito alterada no que diz respeito às

99
obras guardadas nas estantes inferiores, mantendo-
-se apenas nas da Galeria. Naquelas, "para se obter
um efeito estético mais agradável à vista, os volumes
foram dispostos por ordem crescente de alturas"!

1940
Agosto - É reincorporado na biblioteca o Real
Edificio Mafrense visto por fora e por dentro (1828),
obra manuscrita de frei João de Santa Ana.
Agosto 21 - Até esta data apenas dezanove dos vo-
lumes furtados por José da Costa Jorge foram recu-
perados.
Outubro 14 - Exposição de obras de temática militar,
cuja Relação (inédita) é elaborada por José Dias dos
Santos Coelho. A. P. publica Leituras Militares na
Biblioteca Nacional de Mafra (Infantaria, a. 7, n. 83,
p. 554-560), incluindo o elenco das obras patentes.

1941
Janeiro 3 – Guilherme Assunção publica o artigo A
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é, no género,
uma das maiores do mundo (O Primeiro de Janeiro),
onde faz o que chama "uma sucinta e modesta
descrição da sua grandiosidade".
Maio 17 - Correia da Costa publica Política do
Espírito: A Biblioteca do Mosteiro de Mafra (Diário de
Lisboa).
Dezembro - Guilherme Assunção publica a intro-
dução do catálogo Os Clássicos latinos da Biblioteca
do Palácio Nacional de Mafra (Ocidente, v. 15, n. 27,
p. 417-421).

1942
António Ibot publica, em Madrid, Fuentes Historicas
Españolas en la Biblioteca del Palacio Nacional de
Mafra (Portugal). José dos Santos Coelho publica
Uma Edição póstuma, antedatada, da obra
"Concordia Liberi Arbitrii" (Anais das Bibliotecas e

100
Arquivos, v. 15, n. 57-60, p. 43-46), reportando-se
ao exemplar desta controvertida obra do jesuíta
Luís de Molina existente no acervo, no qual detectou
algumas discrepâncias que deixa anotadas.
Dezembro 6 - J. M. Cordeiro de Sousa publica
Notícia de algumas Livrarias (O Concelho de Mafra),
onde transcreve duas cartas de Dom Luís da Cunha
comunicando a Dom João V as suas impressões
sobre livrarias europeias que visitou, com vista à
organização, presume o editor, da de Mafra.

1943
António de Andrade Rebelo substitui José Dias dos
Santos Coelho.
Abril 4 - J. M. Cordeiro de Sousa publica Outra
Carta de D. Luiz da Cunha (O Concelho de Mafra),
sobre o assunto supra.

1944
Guilherme José Ferreira de Assunção publica Uma
Bula do Papa Bento XIV para a Biblioteca de Mafra
(Ocidente, v. 23, p. 164-173).

1945
Setembro - Exposição de obras sobre o Brasil.
Dezembro – Temporais danificam caixilharias da
Biblioteca e salas anexas, "partindo-se mesmo
alguns pinásios, sendo de 142 o número de vidros
quebrados".

1946
Maio / Agosto - Carlos Galrão publica Um problema de
cerâmica (Bol. da Junta de Província da Estremadura,
s. 2, n. 12), artigo no qual, reportando-se à herança
do padre Alexandre António Duarte (sobrinho do
cónego regrante Mariano António Duarte), informa
que "muitos volumes eram da Livraria do Convento,
de que tinham a marca" (p. 211).

101
Julho – Durante uma visita de inspecção à
BPNMafra, o Inspector da Inspecção Geral das
Bibliotecas e Arquivos, António Ferrão, emite o
parecer de "que para melhor segurança das espé-
cies, deviam dotar-se as estantes [inferiores] de por-
tas, fechadas à chave, com rede de arame [...]"!
Agosto 16 – O parecer de António Ferrão é oficial-
mente comunicado a A. Luís Gomes, Director Geral
dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

1947
Abril - António de Andrade Rebelo compõe um elen-
co das Obras relativas à Cidade de Lisboa (inédito).
Abril 11 – É apresentada ao Director-Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais uma proposta no
sentido de ser estudada a instalação de alojamentos
destinados ao Director da Biblioteca, uma vez que,
por despacho de 17 de Janeiro, o Ministro das
Finanças se dignara concordar com a ideia.
Setembro 3 – A obra de vedação das estantes da
Biblioteca continua pendente.
Setembro / Dezembro - Guilherme Assunção publi-
ca Os Incunábulos da Biblioteca do Palácio Nacional
de Mafra (Bol. da Junta de Província da Estremadura,
s. 2, n. 16, p. 393-407), descrevendo 17 cimélios.

1948
Fevereiro 3 – O Director de Serviços dos
Monumentos Nacionais oficia ao engenheiro
Director Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, informando-o "de que já se encontra
colocada numa das estantes da BPNMafra, como
amostra uma grade em madeira e rede, segundo,
desenho junto [...]".
Março – A Biblioteca Municipal de Mafra envia à
Biblioteca do Palácio a Bula do Papa Bento XIV que
estipula a excomunhão para todos quantos dela
retirem livros sem autorização.

102
103
104
105
Março 12 – Ofício do Director de Serviços dos
Monumentos Nacionais remetido ao engenheiro
Director Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais informa "que para a execução de 536
grades para as estantes da BPNMafra se torna
necessária uma verba de Esc.: 118.000$00".
Junho 6 - A propósito da publicação de Os
Incunábulos da Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra, o periódico O Concelho de Mafra noticia que
o mesmo autor tem prontos para publicação os três
volumes da Biblioteca Volante de frei Matias da
Conceição.
Julho – O Professor Robert Smith é impedido de vi-
sitar a Biblioteca pelo contínuo Fernando da Cunha
Oliveira, mandatado pelo Director da mesma.

1949
Fevereiro 2 – Ofício recebido pelo engenheiro
Director Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais informa-o que a residência do Director da
BPNMafra, poderia ser instalada na que estava des-
tinada ao Conservador do Palácio.
Maio / Agosto - Guilherme Assunção dá à estampa
A Biblioteca Volante de Frei Matias da Conceição:
prefácio da obra com o mesmo título (Bol. da Junta
de Província da Estremadura, s. 2, n. 21, p. 237-
242) e tem prontos para publicação As Bíblias da
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e Os Atlas
da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (inéditos).
Junho 4 – Ofício estima em Esc. 97.950$00 a
importância necessária para as obras da residência
destinada ao Director da Biblioteca.
O bibliotecário apresenta o Esboço da participação
da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e
Biblioteca Municipal nas cerimónias a realizar por
ocasião do duplo centenário da morte de D. João V.
À BPNMafra competiria organizar um Sarau de Arte
(de que constaria a representação do Auto da

106
Fundação do Convento de Mafra, a declamação de
poesias e panegíricos alusivos a Dom João V e um
concerto de música de Câmara profana e sacra),
uma Exposição de espécies bibliográficas e um ciclo
de Conferências.

1950
Abril - Guilherme Assunção procede à catalogação dos
Livros de Horas, elaborando, igualmente, a descrição
dos 4 Globos da Biblioteca do PNMafra (inédita).
Maio - Guilherme Assunção elenca as Obras relati-
vas a São João de Deus (inédito).

Aspecto da exposição bibliográfica comemorativa do Bicentenário


do falecimento de Dom João V.

Julho 30 - A Biblioteca e o Palácio Nacional, conjun-


tamente com a Biblioteca Municipal, inauguram
diversas exposições bibliográficas e de arte,
comemorativas do Bicentenário do falecimento de

107
D. João V. No seu âmbito é editada uma brochura
intitulada D. João V sua vida e obra: catálogo da
exposição bibliográfica comemorativa [BN: B 3511 P].

1951
Setembro 15 – O projecto para a residência do
Director da BPNMafra é abandonado, sendo-lhe
atribuída a habitação do encarregado do pessoal
menor, "acrescida de alguns melhoramentos".
Outubro 1 - Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes é
nomeado director da biblioteca.
O padre Ilídio de Sousa Ribeiro publica Frei
Francisco de Santo Agostinho Macedo: um filósofo
português e um paladino da Restauração (Coimbra,
1951), estudo no qual arrola as obras do biografado
constantes do acervo da BPNMafra.

1952
Março 26 – Novo estudo para a habitação do bi-
bliotecário é presente ao Arquitecto Chefe da
Repartição Técnica da Direcção Geral dos Edifícios
e Monumentos Nacionais.
Exposição de livros militares e relativos à História
de Inglaterra. Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes
conclui o catálogo das Obras de Medicina e
Farmácia (inédito).
Julho 5 - Maria Brak-Lamy Barjona de Freitas pu-
blica a Arte do Livro no Convento de Mafra (A Voz),
artigo no qual revela documentos setecentistas
inéditos do Arquivo Histórico do Ministério das
Finanças (inventários de 1771, fl. 52-54 e de 1792),
descrevendo os objectos pertencentes à oficina de
encadernador (Casa do Livreiro) do Convento de
Mafra, bem como as encadernações-tipo que ali se
realizavam: Carneira "atamarada" (sombreado cas-
tanho-claro, macio, geralmente obtido com soda
cáustica muito diluída), cantos de metal presos por
balmazios, 6 nervos, tendo na 2ª casa a seco letras
(título) e na 5ª a palavra MAFRA.

108
Agosto 9 – Novo artigo de Maria Brak-Lamy Barjona
de Freitas intitulado a Arte do Livro no Convento de
Mafra. II – Estampilhagem (A Voz), no qual narra a
sua visita ao Palácio-Convento de Mafra (no dia 29
de Maio) com o intuito de observar as estampilhas
metálicas utilizadas pelos religiosos do cenóbio para
ornar livros existentes na Biblioteca.
Outubro – Uma infiltração no tecto da BPNMafra
provoca a queda do estuque em diversos locais da
abóbada apainelada, designadamente no lado
nascente do cruzeiro. A resolução do problema
arrastou-se até 1968, ano em que foram realizados
alguns arranjos, porém não impeditivos de novas
infiltrações, que haviam de repetir-se ciclicamente
até às obras empreendidas na década de 1980.

A Arte do livro no convento de Mafra


II. Estampilhagem

[...]. No alto de umas intérminas escadarias surge a figu-


ra desempenada do director [Ayres de Carvalho] que
amavelmente se propunha acompanhar-nos na visita [...].
Dissemos ao que íamos:
- Haverá alguns ferros de dourar?...
Não se nos tirava do pensamento aqueles 78 ferros, 4
rodas e dois abecedários que em 1771 enriqueciam a
"casa do Livreiro" e se tinham... volatilizado...
Insistimos em persistência, teimosa. O pintor começava
a irritar-se...
- O que há são umas peças de latão...
Luziu-nos uma esperança:
- Sim os "ferros" embora assim se designem, na verdade
são de bronze...
- Mas não é nada disso, posso mostrar...
[...]. Aires de Carvalho que agora segurava um pequeno
embrulho esclarecia:
- Quando vim para o Museu, isto andava a monte.
Encontrei uma série de peças soltas, esparsas, que reuni
e coleccionei. Não sei se têm relação com os livros – e ia

109
desatando o embrulho que nós espreitávamos curiosa.
Tratava-se do Inventário 6736, constituído por um lote
de 1201 peças de latão: letras maiúsculas, minúsculas,
sinais, ornatos.
Então surgiu uma colecção de estampilhas recortadas
na folha de latão conhecido por ouro mouro, a recordar-
-nos o tempo em que, muito nova, dirigiamos o Jornal
da Mulher e então a esse género de trabalho era ele-
gante chamar, à francesa, pochoir.
A quantidade de estampilhas, o seu desenho cuidado, o
recorte apuradíssimo, constituía outra manifestação do
amor que os frades consagravam ao livro, era outra
modalidade conventual – e bem interessante – da arte do
livro e que, francamente, não esperávamos ir aí encontrar.
Examinávamos as diferentes peças, muito deterioradas,
amachucadas, pedaços de ornato partidos, mas notan-
do em todas uma aresta de recorte primorosíssimo o
que é difícil obter, dada a natureza desse metal.
Procurávamos imaginar o efeito da sua reprodução.
A este tempo o espírito de artista já estava a vibrar em
Aires de Carvalho, a despertar-lhe o interesse, a querer
ver o que aquilo seria. Em poucos momentos aparece
munido da tinta litográfica usada nos seus trabalhos de
gravura, a que se tem dedicado com primorosos resul-
tados. Trazia um pincel e papel... de máquina.
Estávamos a compreendermo-nos sem falar e então a
cena que obedecia a um pensamento artístico, tomou
um aspecto de infantilidade: não tínhamos nada
próprio para o trabalho mas tínhamos mais do que isso
– tínhamos a boa vontade.
Eu mantinha as peças seguras; Aires de Carvalho
empunhava orgulhosamente o pincel e ia lambuzando os
recortes. Mas as peças, muito encarquilhadas, contorci-
das, perdido o hábito do trabalho, tendo sofrido maus
tratos dos homens e do tempo, partidas aqui, amolgadas
além, esquecidas da planificação arrebitavam os contornos;
o pincel espirrava riscos por baixo do recorte. Mas ape-
sar de todos esses contras, conseguíamos uma ideia do
labor dos frades, uma ideia dos seus modelos, alguns
de notável elegância.
Entusiasmados, admirávamos o nosso trabalho e íamos

110
conhecendo as placas mais apresentáveis e as folhas de
papel cobriam-se com os modelos ornamentais – o que
mais nos interessava – pondo de parte letras e sinais.
[...]. E ante os pobres restos de um esplendor passado,
aos nossos olhos como que perpassava a visão dessas
figuras anónimas que o burel cingia, acobertando
nomes ilustres, almas de artista, faculdades notáveis,
que se apagavam na renuncia, no anonimato, fundin-
do-se num todo, sombras deslizando nos longos corre-
dores a alcançarem a oficina onde no arroubo da fé e no
enlevo da arte criavam a beleza. E parecia-me vê-los
curvados sobre sobre essa longa mesa negra que ali
estava silenciosos e atentos acarinhando os livros da
sua valiosa biblioteca, dando-lhes forma e graça, ilus-
trando-os com as suas estampilhas, que talvez algum
donato fosse chamado a segurar como eu agora as
estivera segurando. [...].

111
1953
Março - As Obras de Joaquim Machado de Castro
são inventariadas pelo director (inédito).
Julho - Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes tem
concluído o catálogo das Obras contendo gravuras
das cidades fundadas e conquistadas pelos por-
tugueses fora da Europa (inédito).
Setembro - O director elabora o inventário das
Obras relativas à Casa de Bragança (inédito).

1954
Março - Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes con-
clui o catálogo das Obras de Santo Agostinho da
BPNMafra (ver 1955).
Maio 13 - São incorporadas 90 obras de farmácia,
na sua maioria edições dos séculos XVIII e XIX,
doação de Jorge Pereira da Gama.
Junho 27 - Ayres de Carvalho publica Uma estátua
equestre do Rei D. João V (Diário de Notícias), artigo
no qual se ocupa de um opúsculo de João António
Beline de Pádua, integrado na Biblioteca Volante
[BPNMafra: 2-29-3-6].

1955
Abril / Junho - A Revista Portuguesa de Filosofia (t.
9, v. 1, n. 2, Abril - Junho, p. 193-196) publica o
Catálogo das obras de Santo Agostinho existentes na
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, organizado
por Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes.
Georges Bonnant publica La Librairie Genevoise au
Portugal du XVIe au XVIIIe siècle (in Genava, nova
série, t. 3, p. 183-200).
Exposição sobre a História da Imprensa. A. Ferrand
de Almeida Fernandes publica A Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra (Arquivo de Bibliografia
Portuguesa, a. 1, n. 3, Jul. - Set., p. 225-229; n. 4,
Out. - Dez.).

112
1956
Carlos Azevedo publica, em Londres, Some
Portuguese Libraries (The Connoisseur Year Book, p.
31-39).
Janeiro / Março - A. Ferrand de Almeida Fernandes
conclui a publicação de A Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (Arquivo de Bibliografia
Portuguesa, a. 2, n. 5, p. 39-49).
Fevereiro 18 - Manuel dos Santos Estevens profere
na sala da biblioteca conferência subordinada ao
título Evolução das Bibliotecas eruditas em Portugal.
Exposição de obras ostentando marcas de posse.
Abril - Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes esta-
belece o indículo das obras do acervo sobre o Beato
Nuno Álvares Pereira (inédito).
Junho 23 - Alberto Iria profere conferência (a 3ª do
ciclo) sobre O Congresso de Biblioteconomia do
Recife [1954]: alguns aspectos, problemas, soluções
e sugestões, sendo apresentado por A. Ferrand de
Almeida Fernandes (Anais das Bibliotecas e
Arquivos de Portugal, s. 3, v. 1, p. 261-303).
Dezembro 20 - O Arquivo Histórico Ultramarino
oferece 149 espécies bibliográficas e 52 cartas ma-
nuscritas.

1957
Janeiro / Junho - O director publica Notícia sobre o
exemplar da Copilaçam de todalas obras de Gil
Vicente, da impressão de 1562, existente na
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (Arquivo de
Bibliografia Portuguesa, a. 3, n. 9-10, p. 10-15),
descrevendo esta raridade bibliográfica e anotando
as censuras e advertências manuscritas do censor
inquisitorial a quem fora confiado o seu expurgo.
Maio 20 - A. Ferrand de Almeida Fernandes sus-
pende transitoriamente o desempenho das suas
funções de director, sendo substituído interina-
mente por Francisco Xavier Martins.

113
Página censurada da Compilaçam de todalas obras de Gil Vicente
(Lisboa, 1562)

114
Junho 12 - É inaugurada uma exposição de obras
de temática bíblica, cuja Relação (inédita) tem data
de 21 de Maio.

1958
Guilherme Assunção publica Um grande bi-
bliotecário dos começos do século XIX (in À Sombra
do Convento, p. 77-84). O carmelita frei Elias Maria
Cardoso dá à estampa A Bibliografia Condesta-
briana (Roma), onde regista os exemplares do acer-
vo da Biblioteca que interessam ao tema.
Março 14 - São enviados para o Paço Ducal de Vila
Viçosa cerca de um milhar de volumes, na sua maio-
ria romances de literatura francesa, que haviam
pertencido a Dom Carlos e à Rainha Dona Maria Pia.

Traça do papel

E. J. F. Sampaio publica os artigos Contribuição


para o estudo da entomofauna do livro em Portugal
e Situação sanitária das bibliotecas e Arquivos
(Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, s. 3,
p. 376-382 e 383-394, respectivamente). No
primeiro destes artigos descreve os bibliófagos-
xilófagos detectados na Biblioteca de Mafra:
Nicobium Castaneum Ol. e Anobium Punctatum Deg.
(papel e lâminas de madeira das encadernações);

115
Térmitas masculina e feminina

Barata

Bicho da prata

116
Anthrenus Verbasci L. e Attagenus Sp. (cabedais);
Stegobium Paniceum L. (zonas de colagem).

1959
Julho 29 - Por ocasião da visita do Imperador da
Etiópia, Heilé Seilassié, é inaugurada uma
exposição de obras relativas àquele país, cujo
Elenco (inédito) é elaborado por Guilherme
Assunção.
Novembro - Francisco Xavier Martins compõe os
inventários das Obras do Padre Manuel Álvares e de
Frei Gregório Baptista (inéditos).

1960
A. Fontoura da Costa publica A Marinharia dos
Descobrimentos, com referências a obras da
Biblioteca.
Dezembro 31 - Álvaro Ferrand de Almeida
Fernandes abandona definitivamente o cargo de
director, deixando inéditos, entre outros trabalhos,
os catálogos: Obras sobre História de Portugal,
Obras de Manuel Almeida e Sousa, Obras de
Anatomia, etc.

1961
Georges Bonnant publica La Librairie Genevoise
dans la Peninsule Ibérique au XVIIIe siècle (in
Genava, t. 9, p. 103-124).
Março 3 - Com a saída de Francisco Xavier Martins,
o aspirante Guilherme Assunção torna-se respon-
sável pela biblioteca.
Março 7 - Guilherme Assunção tem concluído o
Catálogo das Bíblias em Português (inédito).
Agosto 23 - É inaugurada uma exposição de obras
de temática militar.

117
Guilherme Assunção

118
1964
Abril / Junho - Guilherme Assunção publica Obras
de tipografia belga na Biblioteca de Mafra, século
XVI (Bol. Internacional de Bibliografia Luso-
-Brasileira, v. 5, n. 2, p. 260-270).
Junho - Para assinalar a visita de Oficiais e Cadetes
das Academias Militares de Espanha e de Portugal
é inaugurada uma exposição de livros militares. É
elaborado um resumo da história e situação da bi-
blioteca, destinado ao Roteiro das Bibliotecas
Portuguesas.
Julho / Setembro – Guilherme Assunção publica
Obras de tipografia francesa na Biblioteca de Mafra,
séculos XV e XVI (idem, n. 3, p. 453-481).
Outubro 22 - Carlos Taveira oferece 14 livros re-
ligiosos e históricos do século XVIII.
Outubro / Dezembro - Guilherme Assunção publica
Obras de tipografia austríaca, holandesa e portugue-
sa na Biblioteca de Mafra, século XVI (idem, n. 4, p.
635-639).

1965
Janeiro / Março - Guilherme Assunção publica Obras
de tipografia espanhola na Biblioteca de Mafra, sécu-
lo XVI (Bol. Internacional de Bibliografia Luso-
-Brasileira, v. 6, n. 1, p. 135-148).
Abril - Guilherme Assunção elabora o elenco das
Obras de Manuel Fernandes Vila Real (inédito).
Outubro - As Obras de Gil Vicente são alvo de inven-
tário (inédito) elaborado por Guilherme Assunção.

1966
Janeiro - Por ocasião da visita do Ministro da
Guerra do Brasil é organizada uma mostra de livros
sobre aquele país e sobre assuntos militares.
Guilherme Assunção tem elaborado o indículo das
Obras do Cardeal César Barónio (inédito).
Janeiro / Março - Guilherme Assunção publica

119
Obras de tipografia alemã na Biblioteca de Mafra,
séculos XV e XVI (Bol. Internacional de Bibliografia
Luso-Brasileira, v. 7, n. 1 p. 71-89)
Abril / Junho - Guilherme Assunção inicia a publi-
cação de O Brasil nas obras da Biblioteca de Mafra
(idem, n. 2, p. 310-362).
Julho / Setembro - Fica concluída a publicação de O
Brasil nas obras da Biblioteca de Mafra (idem, n. 3,
p. 474-511).
Outubro / Dezembro - Luís de Matos referencia as
obras de António de Gouveia (Comédias de
Terêncio, Paris, 1552 e Opera Iuris Civilis, Lyon,
1562) pertencentes ao acervo (Sobre António de
Gouveia e a sua obra, in idem, n. 4, p. 557-583).

1967
Para assinalar uma visita cultural dos Amigos de
Lisboa são expostas obras sobre esta cidade. É
ainda organizada uma mostra de livros militares,
subordinada aos temas: Infantaria, Artilharia,
Engenharia, Ética e Disciplina Militar e Cavalaria.
Janeiro / Março - Guilherme Assunção publica
Obras de tipografia italiana e suiça na Biblioteca de
Mafra, séculos XV e XVI (Bol. Internacional de
Bibliografia Luso-Brasileira, v. 8, n. 1, p. 70-103).
Abril / Junho - Guilherme Assunção dá início à
edição de Os Folhetos da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (idem, n. 2, p. 136-181).
Julho / Setembro - Prossegue a publicação de Os
Folhetos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
(idem, n. 3, p. 319-334). No mesmo Boletim,
Guilherme Assunção inclui uma nota sem título,
destinada a indicar algumas obras erradamente
dadas como existentes na Biblioteca de Mafra por
J. A. Anselmo (ver 1926) e a corrigir descrições de
outras (p. 104), reproduzindo facsimilado o folheto
da Biblioteca Volante [BPNMafra: 2-55-8-7 (49º)]
Relação curiosa de uma célebre disputa que teve um

120
saloio com uma sécia da corte sobre os excessos da
francesia (p. 334-342).
Outubro / Dezembro - Continua a publicação de Os
Folhetos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
(idem, n. 4, p. 615-626).

1968
De visita a Mafra, os participantes no V Colóquio
Luso-Espanhol Académico Militar são brindados
com uma exposição de livros militares.
Janeiro / Março - Guilherme Assunção prossegue a
publicação de Os Folhetos da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (Bol. Internacional de Bibliografia
Luso-Brasileira, v. 9, n. 1, p. 56-75)
Maio 19 - Por carta, Guilherme de Assunção comu-
nica à Fundação Calouste Gulbenkian ter pronto
para publicação As Belas Artes da Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra (três pastas, com cerca de
seis centenas de folhas dactilografadas, inéditas).
Tem concluído igualmente o elenco das Gramáticas
impressas na Europa (inédito).
Julho / Setembro - Guilherme Assunção prossegue
a publicação de Os Folhetos da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (idem, n. 3, p. 473-486).
Outubro - Organiza uma lista das Obras de Beda
(inédita).
Outubro / Dezembro - Continua a edição de Os
Folhetos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
(idem, n. 4, p. 589-615).

1969
Fevereiro 28 - O tremor de terra que se faz sentir
provoca alguns estragos na biblioteca, designa-
mente na abóbada apainelada: "apareceram algu-
mas fendas e caíu estuque de um tecto".
Novembro - A sala de leitura é instalada no piso
térreo, junto do cruzeiro, local onde se mantém.

121
1970
Abril / Junho - Guilherme Assunção prossegue a
publicação de Os Folhetos da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (Bol. Internacional de Bibliografia
Luso-Brasileira, v. 11, n. 2, p. 263-325).
Agosto - As Obras do Conde de Lippe são inventa-
riadas (inédito) por Guilherme Assunção.
Outubro - Dezembro - Continua a publicação de Os
Folhetos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
(idem, n. 4, p. 625-637).

1971
Março - Guilherme Assunção elabora o catálogo das
Obras do Padre António Vieira (inédito).
Anthony Hobson (Grandes bibliothèques, p. 239)
refere com clareza que a Biblioteca de Mafra : "Não
obstante a sua formação tardia, trata-se de uma
biblioteca muito monástica que lembra Saint-Gall
ou Admont", considerando-a, conjuntamente com a
da Universidade de Coimbra, uma das 32 grandes
bibliotecas da Europa e da América do Norte.
Setembro - Guilherme Assunção abandona a bi-
blioteca, deixando inéditos, além dos enumerados,
outros catálogos, como: Obras de Séneca, o Retórico,
impressas antes de 1700; Música manuscrita e
estampilhada; etc.

1972
Julho / Setembro - Guilherme Assunção prossegue
a publicação de Os Folhetos da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (Bol. Internacional de Bibliografia
Luso-Brasileira, v. 13, n. 3, p. 499-534), a qual será
interrompida, permanecendo inéditas seis pastas,
num total de mais de um milhar de folhas dactilo-
grafadas.
Novembro 30 – As infiltrações persistem, danifican-
do "a talha das estantes da Biblioteca", segundo ofí-
cio de António Cândido Monteiro Guerreiro.

122
1978
Outubro – As infiltrações continuam.

1979
Janeiro 29 - M. V. H. publica Da Biblioteca Nacional
à do Convento de Mafra: o roteiro de uma incapaci-
dade para renovar (Diário de Notícias).

1981
Setembro 16 - A Autarquia oficia ao Presidente do
então Instituto Português do Património Cultural,
recordando os inconvenientes resultantes da ine-
xistência quer de Conservador, quer de Bibliotecário
no Palácio.

1982
Francisco Leite de Faria publica Difusão extraor-
dinária do Livro de Frei Tomé de Jesus (Anais da
Academia Portuguesa de História, s. 2, v. 28, p. 165-
234), estudo no qual inventaria os exemplares dos
Trabalhos de Jesus existentes no espólio.

1983
Maio 17 - Luís Filipe Marques da Gama é nomeado
director do Palácio Nacional assumindo, por inerên-
cia, a responsabilidade pelas actividades empreen-
didas pela biblioteca, local onde lhe será dada posse
no dia 1 de Junho.

1984
O Técnico de BAD Carlos Francisco Abreu e Silva
entra ao serviço da biblioteca que, após um inter-
regno de 12 anos, volta a abrir ao público.
É efectuada uma desinfestação total da BPNMafra.
Marie Thérèse Mandroux-França publica L' Image
Ornamentale et la Litterature Artistique importées du
XVIe au XVIIIe siècle: un patrimoine meconnu des

123
Bibliothèques et Musées Portugais (Bol. Cultural da
Câmara Municipal do Porto, s. 2, v. 1, p. 143-174)
com referências a obras da Biblioteca.

1985
A Fundação Calouste Gulbenkian edita o Catálogo
dos Fundos Musicais da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra, de João Azevedo.
Janeiro 29 - Luís Elias Casanovas dá início aos re-
gistos das condições ambiente (temperatura) na
Biblioteca.
Janeiro / Junho - Justino Mendes de Almeida publica
Copilacam de todalas obras de Gil Vicente (Lisboa, em
casa de João Álvarez, 1562): O Exemplar da Livraria
de Mafra (in Bibliotecas, Arquivos e Museus, v. 1, n. 1,
p. 23-30), onde estuda a censura de que o cimélio foi
alvo, de acordo com as normas expressas no Index
auctorum damnatae memoriae, de 1624, ou cons-
tantes de notas marginais, reproduzindo os fólios em
que ocorrem.
Julho / Dezembro - No âmbito das comemorações do
Ano Internacional da Música é organizada uma
exposição bibliográfica subordinada ao título A
Música no Palácio e Convento de Mafra nos séculos
XVIII e XIX.
Dezembro 4 - São dados por concluídos os registos
das condições ambientais na Biblioteca.

1986
Julho / Dezembro - Exposição intitulada A Europa
na Gravura do século XVIII, da qual é editado catá-
logo.

1987
Luís Elias Casanovas publica Análise da evolução
anual das condições ambiente na Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra: algumas interrogações,

124
comunicação que apresentara na Semana dos
Arquivos (Cascais, 1986).

1989
Junho 5 - Luís Filipe Marques da Gama deixa de
exercer as funções de director do Palácio Nacional,
as quais passam a ser interinamente desempe-
nhadas por Maria Fernanda Monteiro dos Santos.

1990
O director da Biblioteca da Ajuda, Francisco da
Cunha Leão, solicita a elaboração de novo catálogo
dos incunábulos da BPNMafra (inédito).
Julho 29 - Justino Mendes de Almeida profere em
Mafra conferência subordinada ao título D. João V e
a Biblioteca de Mafra.
O historiador espanhol da História do Livro e das
Bibliotecas, Hipolito Escolar Sobrino, integra a
Biblioteca de Mafra na classe das bibliotecas con-
ventuais, o que aliás também faz com a do Escorial
(Historia de las Bibliotecas, Salamanca-Madrid).

1991
Fevereiro - A bibliotecária Isabel Abecasis publica a
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra: Guia,
encontrando-se a elaborar o Inventário da docu-
mentação dos Reservados, constituída por três
caixas [R. 18.1.28 / 29 / 30].
Fevereiro 25 - Nesta data fica regulamentado o
acesso à BPNMafra.
Setembro 1 - Margarida Montenegro é nomeada
directora do Palácio Nacional de Mafra.
Outubro 7 - O Diário de Notícias publica artigo subs-
crito por H. B. M. e intitulado Mitos e Mentiras na
Biblioteca de Mafra.

125
Regulamento da Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra

Horário de Funcionamento: A Biblioteca está aberta à


consulta todos os dias úteis (excepto terças-feiras) e
tem o seguinte horário de serviço diário: Abertura às 10
horas; Encerramento às 17 horas
Por conveniência de serviço, a sala de leitura encerra 30
minutos antes do fecho da Biblioteca.
Condições de acesso: Têm acesso à sala de Leitura, os
utilizadores nacionais e estrangeiros que apresentem
prévia autorização escrita do Director do Palácio
Nacional de Mafra. É igualmente necessária a apresen-
tação de Bilhete de Identidade para os leitores de
nacionalidade portuguesa, brasileira e demais países de
língua oficial portuguesa. Aos restantes utilizadores é
necessária a apresentação do passaporte e credencial
do consulado, embaixada ou instituição do país de
origem, confirmando a respectiva identidade, funções e
âmbito da investigação a realizar.
Consulta: A consulta de acervo documental da
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra não está sujei-
ta a qualquer restrição, exceptuando-se a documen-
tação dos Reservados, classificada segundo critérios de
raridade ou de conservação, à qual poderá estar veda-
da a sua utilização para consulta. É permitida a con-
sulta simultânea de um máximo de 3 documentos, re-
quisitados mediante impressos apropriados. Na sala de
aleitura, com a capacidade máxima de 6 leitores, devem
observar-se condições de silêncio e segurança dos
espécimes em consulta, nomeadamente:
a. Manuseamento cuidadoso dos espécimes de
modo a evitar rasgões ou qualquer outro tipo de dete-
rioração, como dobragem de folhas, sobreposição de livros,
arrastamento, etc. Recomenda-se o mínimo de contacto
com os documentos.

126
b. Utilização de lápis ou lapiseira, com inter-
dição de qualquer tipo de caneta.
c. Não é permitido escrever sobre os documen-
tos ou proceder a qualquer tipo de decalques, riscos ou
anotações. Do mesmo modo não é autorizada a colo-
cação de marcas.
d. Não é permitida a entrada na sala de leitura
de utilizadores acompanhados de pastas, malas, sacos
ou quaisquer outros volumes. Estes devem ser deixa-
dos na recepção, à entrada do palácio.
Reprografia e microfilmagem: A Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra poderá condicionar a reprodução em
fotocópia ou microfilme segundo critérios de conser-
vação. No entanto, é vedada a fotocópia de manuscritos
e livro antigo. Os documentos impressos, posteriores a
1801, poderão ser reproduzidos em fotocópia, condi-
cionados igualmente ao seu estado de conservação,
raridade ou valor. Os impressos pertencentes ao cir-
cuito da edição comercial, cuja difusão e comercializa-
ção se encontre activa, poderão ser fotocopiados, ape-
nas se os termos do seu copyright o permitirem, ou a
extensão dos textos a fotocopiar não abranja parte si-
gnificativa da edição.

1992
Abril – Joaquim Oliveira Caetano publica A
Biblioteca do Real Convento de Mafra (in Voga-
Decoração, n. 4, p. 51-60).
Maio 25 – José Carlos Calazans tem concluída A
"Casa da Livraria" do Convento de Mafra, mono-
grafia destinada à cadeira de Metodologia da
História da Faculdade de Letras de Lisboa, onde,
além de se ocupar da metodologia de organização da
BPNMafra, estabelece o índice das obras do acervo
respeitantes ao Oriente.

127
Julho – António Estácio dos Reis publica Um
astrolábio diferente de todos os outros (Oceanos, n.
11, p. 35-42), onde alude ao volume do Tesouro de
Prudentes (Lisboa, 1712) pertencente ao acervo da
Biblioteca.
Outubro 14 – A directora do PNMafra concede entre-
vista, em que revela projectos destinados à valoriza-
ção a curto prazo da Biblioteca, os quais, no entan-
to, ainda não chegaram a ser concretizados
(Biblioteca de Mafra vai sacudir a naftalina, in
Correio da Manhã).

1993
Isabel Abecasis publica A Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (Cadernos BAD, n. 2, p. 93-100).
José Carlos Calazans publica A "Casa da Livraria"
do Palácio Convento de Mafra (Bol. Cultural '92 da
Câmara Municipal de Mafra, p. 9-26), ocupando-se
da metodologia de organização da BPNMafra, e O
Núcleo da Ásia do Palácio-Convento de Mafra (Para
além da Taprobana: de Lisboa a Nagasaqui, p. 9-18).

1994
A técnica BAD Teresa Amaral assume o cargo de
bibliotecária.
A Secretaria de Estado da Cultura e o Instituto da
Biblioteca Nacional e do Livro publicam o volume 1
do Inventário dos Códices Iluminados até 1500 do
Distrito de Lisboa, no qual são descritos 10 dos
Livros de Horas pertencentes ao acervo da
BPNMafra (n. 488-497, p. 330-334).
Fevereiro – Manuel J. Gandra publica A Filosofia
Hermética em Portugal e no acervo da Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra e Atanásio Kircher (1602-
1680), Doutor das Cem Artes: Ecos portugueses e
presença na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
(Bol. Cultural ' 93 da Câmara Municipal de Mafra, p.

128
Fólio de um dos Livros de Horas (séc. XV)
do acervo BPNMafra [cofre nº 25].

129
11-74 e 333-340, respectivamente). José Carlos
Calazans publica Erros e incorrecções em Registos
Bibliográficos da Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra (idem, p. 363-366).
Maio – Manuel J. Gandra colabora no catálogo As
Tentações de Bosch e o Eterno Retorno, com artigo
onde cita algumas obras de alquimia existentes na
BPNMafra.
Dezembro – Manuel J. Gandra publica Organaria
Mafrense: resenha histórico-cronológica e bibliográfi-
ca, comunicação que apresentou ao 1º Encontro
Internacional de Órgão (Mafra), na qual divulga
dados inéditos sobre os órgãos da Basílica de Mafra,
bem como fornece catálogo das partituras para
órgão que se conservam na BPNMafra.

1995
Fevereiro – O Bol. Cultural ' 94 da Câmara Municipal
de Mafra inclui artigos de: Manuel J. Gandra, que
inventaria algumas obras de Kabbalah do acervo (A
ideia do Monumento de Mafra: arquitectura e her-
metismo, p. 69, nota 146); Paulo J. S. Barata, ocu-
pando-se de um conjunto de cerca de 100 das 1000
inquirições jurídicas De Genere, Vita et Moribus
(pastas 1-5: 1739-1833) dos frades Menores da
Província de Santa Maria da Arrábida integradas no
acervo da BPNMafra (Admissão dos Noviços
Arrábidos, p. 79-85); Isabel Abecassis (A Biblioteca
do Palácio Nacional de Mafra: condições de conser-
vação, p. 87-94); José Carlos Calazans (Dos Livros
desaparecidos da Real Biblioteca do Palácio-
Convento de Mafra, p. 393-399).
Março – Margarida Montenegro publica A Real
Biblioteca de Mafra (Casa - Decoração, n. 113, p. 84-
90)
Outubro 22 – João Manuel Resina Rodrigues profere
palestra promovida pela Liga dos Amigos de Mafra,

130
subordinada ao título: A propósito de alguns livros
científicos portugueses da Biblioteca do PNMafra.

1996
Decorrem filmagens de cenas das Viagens de
Gulliver.
Março – Isabel Abecasis publica A Imagem Científica
no Livro do século XVIII: alguns exemplos presentes
na Livraria do Convento de Mafra (Boletim Cultural
’95, p. 53-70). Manuel Gandra publica Icones
Symbolicae: contributo para o conhecimento da
recepção e difusão da Cultura Simbólica em Portugal
e sua presença na Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra e Parenética Mafrense impressa (idem, p. 9-52
e 402-409, respectivamente).
Abril 18 / 19 – O programa Acontece (RTP 2), de
Carlos Pinto Coelho, é transmitido em directo da
BPNMafra.
Junho – Manuel J. Gandra publica O aperto de mão
e a tourada têm uma origem comum (Tauromaquia e
Tauródromos no Concelho de Mafra), incluindo refe-
rência aos folhetos da Biblioteca Volante descreven-
do combates, festividades e outros eventos ocorri-
dos com touros em Lisboa (Terreiro do Paço, Rossio,
Campo Pequeno, etc.), Sacavém, Coina, etc.
Julho 28 - Manuela Preto publica Onde o Saber
ocupa lugar: a Biblioteca do Palácio de Mafra (Correio
da Manhã).
Outubro 19 – No âmbito das comemorações do 266º
aniversário da Sagração da Basílica de Mafra, e na
presença de Sua Exa. o Presidente da República,
Dr. Jorge Sampaio, o New London Consort realiza
um Concerto de Gala na Biblioteca. Na mesma
ocasião o Chefe do Estado inaugura uma exposição
de Partituras Históricas. O concerto seria repetido
no dia imediato.
Novembro 16 - Manuel J. Gandra publica o glossário

131
Mafra Mítica, Hermética e Simbólica (Da Vida, da
Morte e do Além, p. 153-223), no qual referencia
bibliografia do acervo subordinada às vozes Anjo,
Anjo Custódio, Anticristo, Apocalipse, Ar, Bruxa,
Cometa, Espírito Santo, Hermas, Kabbalah, Livre
arbítrio, Magia, Mahdi, Profecia, Sabatai Sevi e
Sibila.

1997
Abril 19 - Manuel J. Gandra publica A Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra: cosmologia e mnemote-
cnia (Bol. Cultural ’96 da Câmara Municipal de
Mafra, p. 9-70).
Outubro 23 - Manuel J. Gandra dedica à BPNMafra
um capítulo do seu livro Da Face oculta do Rosto da
Europa.
Outubro 25 - A Sinfonietta de Lisboa dá recital na
Biblioteca, no âmbito do I Festival Internacional de
Música de Mafra.
Novembro – No âmbito do mestrado de História e
Cultura do Brasil, Isabel Maria Figueiredo Iglésias
de Oliveira apresenta a tese de mestrado
Testemunhos do Brasil na Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (séculos XVI e XVII) [BN: HG
45556 V].

1998
Set. / Dez. – A exposição Os Mares: novos Mundos
descobertos, para assinalar o Quinto Centenário da
viagem de Vasco da Gama, conta com catálogo
homónimo, organizado por Maria Teresa Amaral.
Outubro 4 – No âmbito do II Festival Internacional de
Música de Mafra, o Grupo Vocal Olisipo, sob a
direcção artística de Richard Gwilt e Jill Feldman,
interpreta a versão de concerto de Venus and Adonis
de John Blow.
Outubro 24 – A Capela Real, dirigida por Stephen

132
Bull, interpreta obras de Avondano, Seixas e
Vivaldi, incluindo Danças do Barroco, ainda no
âmbito do mesmo Festival.

1999
Outubro 9 – Recital subordinado ao título A Arte da
Fuga, por Ton Koopman e Tini Mathot que interpre-
tam peças de Bach, no âmbito do III Festival
Internacional de Música de Mafra.
Outubro 30 – Ainda no mesmo Festival, Nancy
Argenta (soprano) e Eugene Asti (pianista) interpre-
tam Canções de Strauss.
Outubro 31 – Recital pela Orquestra Sinfónica
Juvenil, integrado no mesmo Ciclo.
Manuel J. Gandra publica: Um folheto de cordel
catalão (Nueva, y verdadera relación del Assombro-
so, y peregrino monstruo de naturaleza, que se há
descubierto en las Costas de Mafra, en el Reyno de
Portugal, el proximo passado mes de Junio de 1760)
seguido de um subsídio para o inventário da literatu-
ra teratológica existente na Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (in Boletim Cultural ’98 da
Câmara Municipal de Mafra, p. 301-314) e
Parenética dos autos de fé na Biblioteca Volante de
Frei Matias da Conceição (idem, p. 847-852).

2000
Exposição bibliográfica sobre Santo Agostinho,
coordenada pelo Centro de Literatura e Cultura
Portuguesa e Brasileira, no âmbito do Congresso
Internacional As Confissões de Santo Agostinho -
1600 anos depois presença e actualidade (13-16
Nov. 2000).
Outubro 29 – No âmbito do IV Festival Internacional
de Música de Mafra, a violoncelista Jian Wang
interpreta as Suites 1, 2 e 4 para violoncelo solo, de
Bach.

133
Novembro 5 – Sob a direcção de César Viana, é
interpretada música orquestral portuguesa de João
de Sousa Carvalho, João Domingos Bomtempo,
Francisco Santos Pinto e César Viana, ainda no
âmbito do mesmo Festival.

2001
Paulo J. S. Barata apresenta tese de Mestrado
Interdisciplinar em Estudos Portugueses, na
Universidade Aberta, subordinada ao título Os
livros e a Revolução Liberal: o Depósito das Livrarias
dos Extintos Conventos e a gestão do património bi-
bliográfico dos conventos como reflexo de uma políti-
ca cultural do Liberalismo. Nela ocupa-se da acção
da Comissão Administrativa do Depósito das
Livrarias dos Extintos Conventos (CADLEC), a qual
no seu afã de demonstrar que a Biblioteca de Mafra
era uma biblioteca conventual de instituição régia (e
não uma biblioteca real), chegou a colocar em risco
a sua sobrevivência (ver 1837 e 1840).
Outubro 13 – Actuação das Charamelas de El-Rei, no
V Festival Internacional de Música de Mafra, inter-
pretando obras para trompete, com estreia absolu-
ta de uma de António Pinho Vargas.
Manuel J. Gandra publica: Cosmologia e
Mnemotecnia: o exemplo da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (in Idade da Imagem, a. 1, n. 2,
Mai.-Ago., p. 52-61); Alquimia em Portugal (in
Discursos e Práticas Alquímicas. I, Lisboa,, p. 175-
229), onde apresenta o arrolamento provisório da
tratadística alquímica de autores estrangeiros em
circulação em Portugal, incluindo a do acervo da
BPNMafra.

2002
Maio 2 – Perante professores e diversas dezenas de
alunos das escolas do Ensino Básico de Mafra,

134
Ericeira, Malveira e Venda do Pinheiro, a BPNMafra
serve de cenário ao lançamento de Uma Aventura
Secreta de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.
Julho – O primeiro volume de O Monumento de
Mafra de A a Z, de Manuel J. Gandra, inclui
diversos verbetes com referência à BPNMafra e ao
seu acervo. Na antologia, intitulada Poética Barroca
do Monumento de Mafra, publicada na mesma
colecção Mafra de bolso, acham-se transcritas algu-
mas peças literárias com alusões à BPNMafra ou
nela existentes, caso do poema Catalysis, cuja
única cópia conhecida integra a Biblioteca Volante
(ver 1933).
Outubro 11 – The Hilliard Ensemble interpreta
Morimur de Bach, no âmbito do VI Festival
Internacional de Música de Mafra.
Outubro 25 – O Boletim Cultural 2001 da Câmara
Municipal de Mafra insere dois estudos sobre a
BPNMafra: A Sobrevivência da Biblioteca de Mafra
após a extinção das Ordens Religiosas: biblioteca
conventual, embora de instituição régia, ou biblioteca
real? (p. 9-29) de Paulo J. S. Barata e A Genealogia
relativa a Portugal no acervo da Biblioteca do Palácio
Nacional de Mafra (p. 485-503) de Rui Sérgio.
Outubro 27 – Integrado no VI Festival Internacional
de Música de Mafra, a Casa da Música / Estúdio de
Ópera do Porto, apresenta O Teatro e a Vida: duas
Óperas de Câmara.
Novembro 3 – Ainda no âmbito do mesmo Festival,
Pier Adams (Flauta), Richard Durrant (guitarras) e
Howard Beach (cravo), interpretam Dançar as
Músicas dos Tempos.

2003
Janeiro 7 – O Presidente da República, Jorge
Sampaio, apresenta cumprimentos de Ano Novo ao
Corpo Diplomático na BPNMafra.

135
Maio 6 – O Presidente da República Federal da
Alemanha visita Mafra, tendo assistido a um con-
certo pela Orquestra Juvenil de Câmara do Land da
Renânia do Norte – Vestefália, na BPNMafra, no
qual são tocadas peças de Bach, Beethoven e
Mozart. Acham-se presentes os Presidentes da
República e da Assembleia da República de
Portugal, diversos Ministros e muitos outros convi-
dados.

Dois dos carimbos de posse utilizados na BPNMafra.

136
137
138
CATÁLOGOS DA BIBLIOTECA DO
PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

Alquimia
1994; 2001
Atlas
1949
Anjos e Anjo Custódio
1996; 2002
Auto-de-fé
1999
Belas Artes
1968
Bíblias
1949; 1961
Biblioteca Volante
1736; 1760; 1948; 1967; 1968; 1970; 1972; 1996; 1999
Brasil
1966; 1997
Catálogo da Livraria (frei Joaquim da Conceição)
(perdido) 1797
Catálogo da Livraria (frei João de Santa Ana)
(manuscrito) 1809; 1821
Catálogo das duas Livrarias conventuais (frei
António de Cristo)
(perdido) 1755; 1758
Catálogo de Jornais
1938
Clássicos Latinos
1941

139
Códices iluminados
1950; 1994
Cometas
1996
Europa na gravura do século XVIII
1986
Filosofia Hermética
1994; 1996
Fontes Históricas Espanholas
1942
Genealogia
2002
Globos
1950
História de Portugal
1960
Incunábulos
1947; 1990
Kabbalah
1995
Literatura emblemática
1996
Livros científicos
1996
Livros de Horas
1950; 1994
Marinharia dos Descobrimentos
1960
Medicina e Farmácia
1952
Música manuscrita e estampilhada
1971; 1985; 1994
Obras contendo gravuras de cidades fundadas e
conquistadas pelos portugueses fora da Europa
1953
Obras de Anatomia
1960
Obras de António de Gouveia
1966

140
Obras de Atanásio Kircher
1994
Obras de Beda
1968
Obras de frei Francisco de Santo Agostinho Macedo
1951
Obras de frei Gregório Baptista
1959
Obras de Gil Vicente
1965
Obras de Machado de Castro
1953
Obras de Manuel Almeida e Sousa
1960
Obras de Manuel Fernandes Vila Real
1965
Obras de Santo Agostinho
1954; 1955; 2000
Obras de Séneca, o Retórico
1971
Obras de temática bíblica
1957
Obras de temática militar
1940
Obras do cardeal César Barónio
1966
Obras do conde de Lippe
1970
Obras do padre António Vieira
1971
Obras do padre Manuel Álvares
1959
Obras impressas antes de 1700
1971
Obras quinhentistas de autores nacionais impressas
no estrangeiro
1939
Obras relativas à Casa de Bragança
1953

141
Obras relativas à cidade de Lisboa
1947
Obras relativas à Etiópia
1959
Obras relativas a São João de Deus
1950
Obras sobre o beato Nuno Álvares Pereira
1956; 1958
Parenética mafrense impressa
1996
Profetismo
1996
Tauromaquia
1996
Teratologia
1999
Tipografia alemã (séculos XV e XVI)
1966
Tipografia austríaca (século XVI)
1964
Tipografia belga (século XVI)
1964
Tipografia espanhola (século XVI)
1965
Tipografia francesa (séculos XV e XVI)
1964
Tipografia holandesa (século XVI)
1964
Tipografia italiana (séculos XV e XVI)
1967
Tipografia portuguesa (século XVI)
1927; 1964; 1967
Tipografia suiça (séculos XV e XVI)
1967
Trabalhos de Jesus de frei Tomé de Jesus
1982

142
SUBSÍDIO PARA O CATÁLOGO DA
TRATADÍSTICA ALQUÍMICA ANTIGA
(até 1800),
PRESENTE NO ACERVO DA
BIBLIOTECA DO
PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

ABANO, Pietro d' (1250-1316)


Médico e filósofo, adepto de Averróis. Cursou medicina e
filosofia em Paris, tendo-se estabelecido em Pádua, onde
ganhou reputação como médico, astrólogo e alquimista.
Duas vezes incriminado pelo Santo Ofício, foi absolvido da
primeira acusação, tendo falecido antes de julgado da
segunda. Mesmo assim, a Inquisição ordenou que fosse
exumado e queimado, o que um amigo frustrou,
trasladando secretamente o seu cadáver. Em consequên-
cia, foi sentenciado em efígie. Autor do Conciliator contro-
versiarum quae inter Philosophos et Medicos versantur
(Veneza, 1565 [1-18-8-3]), citado por Lúcio Cipião no
interrogatório a que foi submetido pelo Santo Ofício por-
tuguês.

AEYRENAEO PHILALETHA
Pseudónimo de autor seiscentista, também denominado
Cosmopolita. Declara ter obtido a Pedra Filosofal em
1645, com 23 anos, e feito amizade com Robert Boyle. Ver
Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p. 236-

143
326 (Entrada aberta no Palácio encerrado do Rei) [2-32-3-
26]; Manget, v. 2, p. 661 (idem, Tractatus de Mettalorum
Metamorphosi e Brevis Manuductio ad Rubium Caelestem).

AGRICOLA, George (1494-1555)


Georg Bauer. Pai da metalurgia ocidental. Estudou
Filosofia e Teologia, em Lípsia, Medicina (com Berengario
da Carpi), em Bolonha e Pádua. Médico (1543), Diplomata
ao serviço do duque da Saxónia (1546) e Burgomestre
(1546, 1548, 1551 e 1553), em Chemnitz. Existe o De
natura eorum qui effluent ex terra, libri 3, in Balneis omnia
[1-18-12-17], cuja doutrina, segundo a qual os terramo-
tos podem ser causados por demónios subterrâneos que
habitam no seio da terra, o autor da Relação anónima da
Destruição de Lisboa e famosa desgraça que padeceo no
dia primeiro de Novembro de 1755 (Lisboa, 1756) refuta
liminarmente.

ALBINEI, Nathanis
Ver Manget, v. 2, p. 387: Carmen Aureum e Aenygma.

ALDRETE Y SOTO, Luis de (c. 1600-1689 ?)


Aguazil-Mor da Inquisição, Regedor perpétuo da cidade de
Málaga e seu Procurador-Mor na Corte de Madrid. Autor
de La Verdad Acrisolada. Ilustrado con Letras Divinas y
Humanas, Padres, y Doctores de la Iglesia. Respondiendo
al auto del proto-medicato, en que prohibe la Medicina
Universal. Y al Papel del Dr. Juan Guerrero, que intitula: Sol
de la Medicina (Valência, 1682 [2-30-12-21]). Contraditado
por Justo Delgado de Vera (Defensa, y respuesta, justa y
verdadera, de la medicina racional, y philosophica, pro-
fanada de las imposturas de la chimia, introductora de el
remedio universal, y agua de la vida de Alderete, Madrid,
1687) e Pedro de Godoy (Segundo discurso serio-jocoso
sobre la nueva inventiva de la agua de la vida, s. l., 1682
[1-18-6-9]). No Castelo Forte (1723) de João Lopes Correia
é citado o unguento de Alderete e na Farmacopeia
Tubalense (1751) a água de vida de Alderete.

ALONSO BARBA, Alvaro


Religioso no México e célebre artista das minas de Potozi.
Autor de Arte de los metales, en que se ensena el verdadero

144
beneficio de los de oro y plata por azougue [...] nuevamente
anadido con el tratado de las antiguas minas de Espana
que escrivió D. Alonso Carrillo y Laso (Madrid, [1729])
[2-41-4-29] A edição príncipe remonta a 1640. Tradução
francesa: Traité de l' Art métalique (Paris, 1730) com uma
memória sobre as minas de França da responsabilidade
do editor da obra e alegado alquimista, Charles Hautin de
Villars.

[ANÓNIMO]
Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p.
13-48: Turba dos Filósofos ou Assembleia dos Discípulos
de Pitágoras, chamado o Código de Verdade) [2-32-3-26].

ARISTÓTELES (Pseudo)
Muitos apócrifos lhe são atribuídos, designadamente o
Secreta Secretorum, um dos mais importantes textos
mediévicos, onde, dialoga com Alexandre Magno, expondo
algumas considerações sobre os elixires para prolongar a
vida. Ver Manget, v. 1, p. 638: De perpetuo Magisterio.

ARNALDO DE VILANUEVA (1235-1311)


Um dos maiores cientistas medievais e professor de me-
dicina emérito, reputado por alquimista, apesar de os
textos que lhe andam atribuídos serem na maior parte
apócrifos, salvo o Tratado da preservação da juventude e
o Rosarius Philosophorum ou Thesaurus. Muito antes de
Paracelso são-lhe creditados remédios alquímicos. Uma
obra de Kabbalah, intitulada Tetragrammaton (1292)
valer-lhe-ia a prisão em Paris. No De Adventu antichristi
et fine mundi anunciou o advento do Anticristo para o ano
de 1345.
*Semita Semitae (ver Helvetius, fl. 69 e Manget, v. 1);
*Rosarius Philosophorum (ver Manget, v. 1);
*Testamentum (idem); Perfectum Magisterium et Gaudium
(idem);
*Epistola super Alchimia (idem);
*Speculum Alchimia (idem);
*Schola Salermitana sive de Conservanda Valetudine prae-
cepta metrica [2-30-2-2];

145
ARTEPHIUS
Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 144-
188: Livro da Arte Secreta ou da Pedra Filosofal [2-32-3-26]
e Manget, v. 1, p. 505: Clavis Majoris Sapientiae.

AUGURELLO, Jean Aurelle (1441-1524)


Alquimista e poeta italiano. Professor de grego e latim em
Veneza e cónego em Treviso. Autor de Chrisopoiae libri
tres (Veneza, 1515; trad. francesa: Art de Faire de l'Or,
Lyon, 1548), obra dedicada ao Papa Leão X, o qual lhe
ofereceu uma bolsa vazia dizendo-lhe que quem sabia
fabricar ouro não necessitava senão do recipiente para
guardá-lo. Citado por Manuel Bocarro Francês
(Anacephaleoses da Monarquia Lusitana). Ver Manget, v.
2, p. 373: Chrysopoeia e Vellus Aureum.

AVERRÓIS
Ver Balneis omni quae extent e Manget, v. 2, p. 192:
Thesaurus Philosophiae.

AVICENA
Aceita a teoria da geração dos metais a partir do mercúrio-
-enxofre, arguindo que a prata sólida pode ser produzida
pela virtude do enxofre branco, com adição do mercúrio, e
que um enxofre muito puro e subtil combinado com o mer-
cúrio pode solidificar em ouro. Foi esta a base da doutrina
da transmutação dos metais durante a Idade Média.
Citado in Ennoea. Ver Balneis omni quae extent, Helvetius
e Manget, v. 1, p. 638: De Conglutinatione Lapidum.

BACON, Rogério (1214-1294)


Franciscano, discípulo de Robert Grosseteste. No Opus
Majus [Veneza, 1650: 2-40-4-14] expõe uma síntese coe-
rente da filosofia natural, atribuindo uma especial enfâse
à matemática, chave das ciências, embora mantendo a
Teologia como Regina Scientiarum. Considerou a alquimia
um dos pilares da medicina, por possibilitar a separação
dos ingredientes benéficos dos prejudiciais, no que foi pre-
cursor de Paracelso. No Opus tertium demonstra conhecer
a distinção entre alquimia especulativa e prática. Citado
in Ennoea. Ver Manget, v. 1, p. 613: Speculum Alchimiae e
De Secretis operibus Artis et Naturae et de nulitate Magiae.

146
BALDUÍNO, Cristiano Adolfo
Ver Manget, v. 2, p. 856: Aurum Superius et Inferius Aurae
Superioris et Inferiores Hermeticum.

BECHER, Johann Joachim (1635-1682)


Químico alemão. Caído em desgraça na corte do seu
mecenas, o conde de Zinzendorf, fugiria para Viena, daí
passando à Holanda e, posteriormente, à Inglaterra, onde
terminaria os seus dias. Os estudos que empreendeu
sobre a combustão conduziram-no à aceitação da existên-
cia de um espírito do fogo, que, embora escapando para o
ar, podia ser novamente aprisionado numa substância à
qual transmitiria a propriedade da combustibilidade. A
teoria flogística exposta pelo discípulo G. E. Stahl, havia
de consagrar as suas ideias a este respeito.
*Physica Subterranea, Lipsiae, 1738 [2-37-8-4] obra (cuja
edição príncipe saíu em 1669) que sintetiza as teorias de
Becher acerca dos minerais e outras substâncias;
*OEdipus chymicus, Frankfurt, 1716 (ver Manget, v. 1, p.
306).

BERNARD Trevisan (c. 1380)


Carteou-se com Tomás de Bolonha, astrólogo e médico de
Carlos V de França. Numa das cartas (1385) expõe a sua
teoria dos metais (mercúrio-enxofre), afirmando que o
mercúrio é o único constitutivo do ouro. Demonstra
grande animosidade contra Rhazes e Geber. Citado por
Manuel Bocarro Francês (Anacephaleoses da Monarquia
Lusitana). Fiama Brandão afirma conhecer uma obra sua
em Portugal, sem contudo, indicar qual e onde se arqui-
va. Ver Manget (v. 2, p. 388) e Bibliothèque des
Philosophes [Chymiques], v. 1, p. 99-150: Livro da
Filosofia Natural dos Metais [2-32-3-26].

BERNAUDI, Nicolas
Ver Manget, v. 2, p. 713: Aenygmaticum quodam
Epitaphium Bononiae ante multa Secula Marmoreo Lapidi
insculptum Commentariolus.

BLAVENSTEIN, Salomão
Ver Manget, v. 1, p. 113-118: Contra Antichymisticum
Mundum Subterraneum de A. Kircher.

147
Ilustração da Pretiosa Margarita de Petrus Bonus

148
BOERHAAVE, Hermann
Iatroquímico, representante máximo da escola humoral,
denominado Communis Europae Praeceptor. Declinou con-
vite de D. João V para vir ensinar em Portugal, onde o seu
sistema, baseado na articulação de determinados funda-
mentos galénicos, a iatromecânica e certos príncipios da
iatroquímica (aquele que mais influenciou a medicina
durante o século XVIII), derrotou o animismo de Stahl,
representado por José Rodrigues de Abreu. Ribeiro
Sanches conta-se entre os seus discípulos.
*Elementa Chemiae, Leide, 1732, 2 vols. [2-30-12-12 /
13];
*Elemens de Chymie, Paris, 1754, 6 vols. [2-32-3-7 / 12];
*Traité de la matière médicale pour servir a la composition
des remedes indiqués dans les Aphorismes, Paris, 1739;
[2-31-2-6]

BONUS, Petrus (1300?-?)


Filósofo hermético e alquimista, natural de Ferrara (?).
Autor de Pretiosa Margarita Novella de Thesauro, ac
Pretiosissimo Philosophorum Lapide (Veneza, 1546),
redigido em Pola, na Ístria, em 1330. Num catálogo do
livreiro João Santos é descrito um exemplar (n. 2095). Ver
Manget, v. 2, p. 1-80.

BORRICHIO, Oswald
Ver Manget, v. 1, p. 1-37: De ortu et progressu Chemiae.

BRACESCO, João
Alquimista. Residiu em Brescia e, além dos comentários
de Geber, publicou uma dissertação sobre o uso da pedra
filosofal na medicina (Roma, 1542).
*Dialogus Verum et germinem (ver Manget, v. 1, p. 565);
*Lignum Vitae (idem, p. 911-938)

CASTELO BRANCO, Anselmo Caetano Munhós de Abreu


Gusmão
Natural de Soure, filho do Dr. António Munhós de Abreu,
formado na Faculdade dos Cânones, e de Simoa Godinha
da Rosa. Doutor em Medicina pela Universidade de
Coimbra, Barbosa Machado (Biblioteca Lusitana, v. 1, p.
178) di-lo "ornado de feliz memória, notícia das línguas

149
mais polidas da Europa e não menos versado na lição dos
Santos Padres, Sagrada Bíblia, disciplinas Matemáticas e
mistérios ocultos da Química [...]". Foi o maior químico
hermético português de todos os tempos (discípulo de um
mestre coimbrão, citado na Parte III, p. 73) e autor de
Ennaea [sic], ou applicação do entendimento sobre a Pedra
philosophal provada, e defendida com os mesmos argu-
mentos com que os Reverendíssimos Padres Athanasio
Kircher no seu Mundo Subterraneo, e Fr. Bento Hieronymo
Feyjoo no seu Theatro Crítico, concedendo a possibilidade,
negão, e impugnão a existencia deste raro e grande mys-
terio da Arte Magna, Lisboa, Maurício Vicente de Almeida,
1732-1733 (dois volumes encadernados conjuntamente,
decerto para salvaguardar a inexistência, no segundo, de
qualquer licença eclesiástica ou do Paço) [2-33-9-19]. O
clérigo teatino, Rafael Bluteau, crismado por Anselmo
Caetano de "Hermes católico", é responsável pelo
panegírico que serve de Aprovação do Paço, enquanto
Dom António Caetano de Sousa subscreve as Licenças do
Santo Ofício. No Prólogo Galeato, o alquimista analisa os
fundamentos filosóficos da química hermética, criticando
a opinião advogada por Kircher e por Bento Feijó de não
ser viável a crisopeia ou transmutação laboratorial dos
metais, apresentando o Monumento de Mafra mandado
erigir pelo Magnânimo como a pedra de toque, autêntica
Pedra Cúbica ou Filosofal, do Quinto Império. A compo-
nente especificamente alquímica deste tratado concentra-
-se nos três diálogos cujos interlocutores são Enódio,
Enodato, um Filósofo e um Peregrino.

CLAUDERO, Gabriel
Ver Manget, v. 1, p. 119-168: Tractatus de Tinctura
Universali contra A. Kircher.

CNOFFELLI, André
Ver Manget, v. 2, p. 880: Responsum ad Positiones de
Spiritu Mundi.

CORTALANEI
Ver Manget, v. 2, p. 619: Mysterium occultae Naturae e De
duobus Floribus Astralibus Agricola minoris.

150
DAUSTENI, João
Ver Manget, v. 2, p. 309: Rosarium Arcanorum
Philosophorum.

DOM ESPAGNET ou Jean d’ Espagnet


Presidente do Tribunal de Bordéus e alquimista que se
ocultou sob os anagramas Spes mea est in Agno e Penes
nos unda tagi. Associou-se a Pierre de Lancre na batalha
contra os feiticeiros do Sudoeste da França.
Ver Manget, v. 2, p. 626: Enchiridion Physicae restitutae.

DORN, Gerard
Dom Vicente Nogueira possuía obras deste autor
[BNParis: ms. Port. 51, 5.51897, fl. 24 e 47], discípulo de
Adam von Bodenstein. Com Miguel Toxites publicou
Paracelso pela primeira vez. Responsável pelo glossário de
termos paracélsicos e relato das posições de Tritémio
sobre a Espagíria. Ver Manget, v. 1, p. 380: Tabula
Smaragdina.

FABRI, Pedro João


Alquimista francês seiscentista de Castelnaudary.
*Alchymista Christianus in quo Deus rerum author omnium
et quamplurima Fidei Christianorum que orthodoxa
doctrina, vita et probitas non oscitanter ex chymica arte
demonstrantur, Toulouse, 1632 [2-32-3-1] Obra dedicada
ao Papa Urbano VIII, na qual pretende demonstrar que os
símbolos e os ritos da religião católica correspondem às
diversas operações da Grande Obra: o baptismo à calci-
nação, a confirmação à fixação, a penitência à putrefação,
a Eucaristia à própria Pedra;
*Res Alchymiorum obscuras extraordinaria perspicuitate
esplanans (Ver Manget, v. 1, p. 291)

FANIANO, João Crisipo


Ver Manget, v. 1, p. 210: De Jure Artis Alchemiae.

FERNELIUS, Johannes
Galeno moderno. Médico do rei Henrique II.
*Universa Medicina, s. l., 1577 [1-18-4-6]

151
FEYJÓO Y MONTENEGRO, Padre Benito Jeronimo (1676-
1764)
Beneditino. A filosofia natural ensinada pelos padres do
Oratório, apoiada pelas apologias de António Pereira de
Figueiredo, abriu-lhe vastos auditórios em Portugal. No
entanto, foi alvo de pertinentes contestações e refutações,
como, por exemplo, as do dominicano Frei Bernardino de
Santa Rosa ou do médico e hermetista coimbrão Anselmo
Caetano de Abreu Gusmão Castelo Branco. Autor de
Theatro Critico Universal (1726-1729), obra em oito tomos
mais um suplemento (1741). Inclui ainda as Cartas
Eruditas (1744-1760, em cinco tomos, a Justa Repulsa
[...] e a Ilustração Apologética. Dedica grande número de
estudos às tradições e ao que considera superstições po-
pulares (astrologia, artes divinatórias, magia, salu-
dadores, duendes, espíritos familiares e outros seres
sobrenaturais, pedra filosofal [tomo III, discurso VIII e
tomo IV, discurso XVII], animais fantásticos, etc.). Foram
extraordinárias em Portugal as repercussões da doutrina
gassendista expendida nos tomos III (discurso VIII) e V
(discurso XVII), no contexto da disputa entre antigos
(peripatéticos ou aristotélicos, i. e., os Jesuítas) e moder-
nos (iatromecânicos ou atomistas, i. e., os oratorianos) [2-
25-6-2/14 e 19/20 = 15 tomos].

FICINO, Marsilio
Ver Manget, v. 2, p. 172-183: De Arte Chimica.

FLAMEL, Nicolas (c. 1330-1418)


De acordo com um documento supostamente seu, com-
prou, em 1357, por dois florins, um livro atribuído a
Abraão, o Judeu, o qual ensinava a transmutação dos
metais por intermédio de figuras simbólicas. Trabalharia
durante mais de duas décadas, até lograr a decifração do
sentido oculto do texto, o que terá acontecido em 1382,
ano em que transmutou mercúrio em ouro e prata. Ver
Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p. 49-98:
Livro das Figuras Hieroglíficas [2-32-3-26]; Manget, v. 2,
p. 350: Commentarium e Tractatus brevis seu summarium
Philosophum.

152
FLUDD, Robert (1574-1637)
Manteve animadas controvérsias com Pierre Gassendi, o
padre Mersenne e Kepler. Dom Vicente Nogueira refere-
-lhe-se em duas cartas enviadas a Dom Vasco da Gama,
embaixador de D. João IV: "[...] as obras de roberto aflud
que aqui se vendem a vinte e trinta escudos pude eu
haver por dez, e inda menos: é de meu parecer deve V. S.
lançar de sy como os de Scoto e o mesmo lhe dissera dos
de S. Thomas [...]" (Carta XXXIX, 22 de Novembro 1649) e
"Perdoe Deus quem aconselhou a V. S. que comprasse o
Roberto de flud, autor meyo feiticeiro e mal acreditado,
despesa tão desnecessaria como os concilios do Louvre, e
obras de Scotto que são obras para uma Livraria Regia
como a do Escurial [...]" (Carta XLIX, 29 de Junho a 19 de
Setembro 1650).
*Utriusque Cosmi Maioris scilicet et Minoris Metaphysica,
Physica atque Technica Historia, in duo volumina secun-
dum Cosmi differentiam divisa: Tomus primus De
Macrocosmi Historia, Oppenheim, 1617 [1-51-13-6 =
Proibido por decreto de 4 de Fevereiro de 1627];
*Tractatus Secundus De Naturae Simia Seu Technica
macrocosmi historia in partes undecim divisa,
Oppenheim, 1618 [1-51-13-7] A História Metafísica,
Física, Técnica dos mundos maior e menor, dividida em
2 tomos, atendendo à diferença entre ambos: I.
História, Metafísica e Física; II. Do Símio da Natureza é
uma tentativa de ressuscitar a magia operativa e
cabalística tal como Ficino e Pico a haviam teorizado,
fundada sobre as relações entre macro e microcosmos
e sobre a figura do homem mago delineada pelo
Corpus Hermeticum; ignora deliberadamente os estu-
dos críticos de Isaac Casaubon acerca da datação pós-
-cristã dos tratados, a qual constitui a definitiva
demolição da teoria da prisca filosofia proposta por
Ficino; publicada por John Bulwer, precursor da uti-
lização da linguagem gestual para comunicar com sur-
dos-mudos: os termos quiromânticos são ilustrados
com diagramas de espantosa modernidade, tal como o
texto, de resto, reimpresso por João Praetorius no
Ludicrum chiromanticum [2-51-4-16];
*Tomus secundus De Supernaturali, Naturali,

153
154
155
Praeternaturali et Contranaturali Microcosmi Historia,
Oppenheim, 1619 [1-49-13-5] i. e., Da História
Sobrenatural, Natural, Prenatural e Antinatural do
Microcosmos;
*Tomi secundi Tractatus Secundus De Praeternaturali
Utriusque Mundi Historia, Frankfurt, 1621 [1-49-13-5]
Este Da História Prenatural de ambos os Mundos inclui o
Discurso Teosófico, Cabalístico e Fisiológico de ambos os
Mundos;
*Clavis Philosophiae et Alchymiae Fluddanae, sive Roberti
Fluddi Armigeri, et Medicinae Doctoris, ad Epistolicam Petri
Gassendi Theologi Exercitationem Responsum, Frankfurt,
1633 [2-49-13-3 e 4 = 2 exemplares] Inclui: Responsum
ad Hoplocrisma-Spongum M. Fosteri Presbiteri, ab ipso, ad
unguenti armarii validitatem delendam ordinantum, i. e.,
Resposta ao Hoplocrisma-spongus, do presbítero William
Foster, composto por ele para destruir a validade do
unguento armarium (Londres, 1631);
*Philosophia Moysaica. In qua Sapientia et Scientia crea-
tionis et creaturarum sacra vereque Christiana (ut pote
cuius basis sive Fundamentum est unicus ille Lapis
Angularis Iesus Christus) ad amussim et enucleate
explicatur, Gouda, 1638 [2-49-13-3] Derradeira obra pu-
blicada por Fludd e a única traduzida para inglês no seu
tempo (Mosaicall Philosophy: Griunded upon the Essential
Truth, or Eternal Sapience, Londres, 1659). Trata-se de
uma das mais importantes para a compreensão da
metafísica fludiana.

FROBÉNIO, Melchior
Ver Manget, v. 2, p. 875: Brevis enumeratio hactemus a se
in chemia actorum.

GEBER (c. 721- c. 815)


Pai das alquimias árabe e europeia. Muito influenciado
pelo misticismo shi'ita. Considerado a mais importante
fonte da alquimia medieval. Ocupa-se do problema clássi-
co da geração dos metais a partir do mercúrio e do en-
xofre. A numerologia talismânica é fundamental à sua
doutrina da Pedra Filosofal. O auge da difusão de Geber
foi atingido quando um tradutor exercendo o seu mister
em Espanha, durante o século XIII, encetou a adaptação

156
latina de todos os textos alquímicos que lograva alcançar,
colocando-os sob a tutela de Geber Rex Arabum. Geber
ora é identificado com Yabir ben Hayan, ora com Yabir
Ben Aflah. As notícias mais antigas a seu respeito são-nos
facultadas por Ibn Umayl e Ibn Wahsiyya. Citado por
Manuel Bocarro Francês.
*Summa Perfectionis. Magisterii in sua natura; Ex
Bibliothecae Vaticanae Exemplari undecunq; emendatissi-
mo edita, cum vera genuinaq; delineatione Vasorum &
Fornacum. Deniq; libri Investigationis Magisterii &
Testamenti ejusdem Gebri, ac Aurei Trium Verborum
Libelli, & Avicennae. Summi Medici & acutissimi Philosophi
Mineralium additione Castigatissima, Veneza, 1542
Edição feita com base num manuscrito da Biblioteca
Vaticana com o objectivo de corrigir as interpretações vul-
gares da Alquimia. À clareza e sistematização das formu-
lações teóricas acrescenta uma particular precisão na
descrição das operações de laboratório, sempre ilustradas
com reproduções dos principais instrumentos técnicos.
Além da Suma da Perfeição, inclui: Liber Trium Verborum
Kallid acutissimi (p. 235), De Congelatione et
Conglutinatione Lapidum, de Avicena (p. 245), Avicenae
Mineralia, cujusdam Epistolae quae Alexandri
Macedonum Regis nomine circumfertur, Interpretatio
abditam Philosophici lapidis, compositionem sapientis-
simus acutissime declarans (p. 254), Authoris ignoti,
Philosophici Lapidis Secreta, metaphorice describentis
Opusculum (p. 261), Merlini Allegoria, profundissimum
philosophici Lapidis Arcanum perfecte continens (p.
265), Rachaidibi, Veradiani, Rhodiani et Kanidis
Philosophorum Regis Persarum, de Materia Philosophici
Lapidis acutissime colloquentium fragmentum (p. 270),
Faustus Sabeus ad Lectorem (p. 278). Reedição:
Dantzig, 1682 [2-37-2-33]. Ver Bibliothèque des
Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 189-487 [2-32-3-26] e
Manget, v. 1, p. 519.

GERHARDI, João
Ver Manget, v. 1: Analysis Partis Praticae.

GERMAIN, Cláudio
Ver Manget, v. 2, p. 845: Icon Philosophiae Occultae.

157
GERNANDI, João
Ver Manget, v. 1, p. 568: Exercitationes perbraves in Gebri.

GRASSEI, João
Ver Manget, v. 2, p. 585: Arcani artificiossimi.

HARTMANN, João
Autor de Opera Omnia Medico-Chymica (Frankfurt, 1684
[1-18-5-11]).

HELVETIUS (pseud. Johann Frederich Schweitzer) (1625-


1709)
Em 1649 praticava medicina na Holanda, sendo médico
do príncipe de Orange. Autor de Vitulus Aureus (ver
Manget, v. 1, p. 196-210), onde reporta o diálogo com
Elias Artista, em 1666, quando este realizou transmu-
tações na sua presença. Impresso em Haia (1667) e repro-
duzido no Museum Hermeticum (Frankfurt, 1678) e no
The Hermetic Museum Restored and Enlarged (Londres,
1893). Editor de Opuscula De Alchimia: Complura Veterum
Philosophorum, s.l., s.d. [Frankfurt, 1650] [2-32-6-3].
Inclui: Semita Semitae, de Arnaldo de Vilanova (fl. 69),
Tractatus de Tinctura Metallorum, de Avicena (fl. 75),
Compendium animae Transmutationis, tractatus chymicus
(fl. 92) e Vade mecum artis compendiosae, sive de tincturis
compendium (fl. 153), ambos atribuídos a Raimundo
Lúlio.

HELVETIUS, Jean Adrien (1661-1727)


Autor de:
*Tratado das mais frequentes enfermidades, e dos remé-
dios mais próprios para as curas: obra de grandíssima uti-
lidade, não só para médicos, cirurgiões e boticários, mas
para todos os pais de família, e pessoas curiosas, que
ainda sem dependência dos professores de medicina, guia-
dos só pela claresa do seu método se poderão socorrer a si
mesmo na maior parte das suas enfermidades [...].
Acrescentado com um numerosíssimo catálogo de plantas
medicinais com os seus nomes próprios em português,
latim e francês (trad. por António Francisco da Costa),
Lisboa: Oficina de Miguel Rodrigues, 1747 [2-30-9-13].

158
Nesta obra indica as propriedades do pó de Ipecacuanha
por si introduzido na farmacopeia francesa, o que lhe
havia de valer uma gratificação de 1000 luíses de ouro;
*Principia Physico- Medica in Pirorum Medicinae,
Frankfurt, 1754, 2 vols. [2-30-9-14/15].

HERMES TRISMEGISTO
O primeiro indício do conhecimento do Corpus
Hermeticum na Europa, mais concretamente na
Península Ibérica, remonta ao séc. X. A Tabula
Smaragdina, supostamente descoberta no túmulo de
Hermes, foi então, e pela primeira vez, usada como colofon
de um livro de alquimia, o Sirr Al-Jaliqa ou Kitab Al-´Ilal,
o qual fez a sua aparição no Al-Andalus durante o califa-
do do omíada Al-Hakam II (f. 976). Traduzida para latim
pelo bispo hispânico Hugo de Santalla, seria difundida
por Alberto Magno, ao incorporá-la no De Rebus Metalicis
et Mineralibus. D. Afonso V possuía na sua biblioteca um
Hermes, aliás a única fonte citada nos dois tratados sobre
a pedra filosofal que se lhe atribuem. Ver Bibliothèque des
Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 1-81: Sete Capítulos [2-
32-3-26], Hortulanus e Manget, v. 1, p. 380 e 400.

HERTODT, João Fernando


Ver Manget, v. 2, p. 697: Epistola contra Philalethem.

HOFFMANN, Frederico
A este médico se deve um misto em partes iguais de éter
e álcool concentrado conhecido sob a designação de licor
anódino mineral de Hoffmann, ainda hoje utilizado pela
farmacopeia.
*Opera omnia Physico-Medica, Génova, 1740 [1-18-2-1 / 4];
*Operum omnium Physico Medicorum Supplementum,
Génova, 1749 [1-18-2-5];
*Supplementum secundum, Génova, 1753; [1-18-2-6 / 7];
*La Médicine Raisonnée, Paris, 1743-1751, 9 vols. [2-30-
6-12 / 20];
*Les vertus medicinales de l´eau commun [...], Paris [2-31-
2-18 / 19]

159
HOGHLANDE, Teobaldo de
Ver Manget, v. 1, p. 336: De Alchimiae Difficultatis Liber.

HORTULANUS
Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p. 1-
12: comentário à Tábua de Esmeralda [2-32-3-26].

JOHNSON, William
Ver Manget, v. 1, p. 217: Lexicon Chymicum (edição
príncipe: Londres, 1660, 2 tomos).

JUAN DE RUPESCISSA, de Ribatallada ou de Rocacelsa


Frade menor, mestre, doutor e catedrático de Teologia em
Barcelona e missionário em Moscovo (Historia de los
Heterodoxos, v. 1). É considerado um dos expoentes má-
ximos do pensamento hermético. Escritos proféticos e
críticos da Igreja estiveram na origem da sua prisão, em
1357, por ordem do Papa Inocêncio VI. Muito citado nas
miscelâneas sebastianistas sob as designações de João de
Rocacelsa, Frade Bento e "ínclito profeta de S. Bento"
(Inácio de Guevara). Num códice manuscrito dos inícios
do século XV, proveniente de Portugal e ofertado a
Marcelino Menendez Pelayo, acham-se obras químicas
que lhe são atribuídas (ver Ramón de Luanco).
Liber Lucis, in Theatrum Chemicum (v. 3, p. 284-294) e
Manget (v. 2, p. 83-87) Situa-se entre a profética joaquimi-
ta e a alquimia. Afirma na introdução que são de esperar
grandes perseguições patrocinadas pelo Anticristo, que os
eleitos de Deus cairão em grande pobreza e que a Pedra
Filosofal será revelada. Influenciou os Tratados de Afonso,
Rei de Portugal. Citado in Ennoea;
De Confectione veri Lapidis philosophorum, in Verae
alchemiae artisque metallicae citra aenigmata (ed. G
Gratarolus), Basileia, 1561 (v. 2, p. 226-230) e Manget (v.
2, p. 80-83) Declara que a matéria da pedra filosofal é uma
água viscosa que se encontra em toda a parte, mas que se,
porventura, fosse nomeada revolucionaria todo o mundo.

KALID
Ver Manget, v. 2, p. 183 e 189: Liber Secretorum e Liber
Trium Verborum.

160
KIRCHER, Atanásio
O Colégio Romano tornar-se-á a sua residência definitiva,
leccionando aí, a partir de 1638, a Matemática e as lín-
guas orientais, entre outras disciplinas. No período com-
preendido entre 1647 e 1678 (ano a partir do qual e até
ao fim da vida a sua preocupação maior serão os exercí-
cios espirituais), definitivamente liberto de obrigações
pedagógicas e tendo encontrado, por fim, a estabilidade e
os meios para prosseguir as suas investigações, o Doctor
Centium Artium, epíteto que alude muito justamente ao
número surpreendente de disciplinas e temas que exa-
minou, dedicou-se quase exclusivamente à redacção da
maior parte da cerca de meia centena de volumes e opús-
culos a cuja passagem a letra de forma assistiu ainda.
Mundus Subterraneus, (Amesterdão, 1665, 2 vols. [1-20-
12-1 / 2]), não oferece dúvida foi a sua obra mais larga e
extensivamente divulgada e estudada em Portugal, muito
propalada e glosada, mormente por quantos se dedicaram
à especulação sobre as verdadeiras causas dos terramo-
tos. Na doutrina dos pirofilácios (ou do fogo subterrâneo
latente), aí consignada, encontraram inúmeros autores,
não obstante o impacto da Filosofia Natural dos
Modernos, o fundamento físico plausível para o terramo-
to de 1755. É o caso, entre númerosíssimos outros, de
Bento Morganti (Carta de hum amigo para outro em que dá
succinta noticia dos effeitos do terramoto succedido em o
primeiro de Novembro de 1755 com alguns principios
Fisicos para se conhecer a origem, e a causa natural de
similhantes Phenomenos terrestres, Lisboa, 1756), do
autor anónimo da Relação do Grande Terramoto que
houve na Praça de Mazagam (1756) e de Veríssimo
Moreira de Mendonça (Dissertação Philosophica sobre o
terramoto de Portugal do primeiro de Novembro de 1755,
Lisboa, 1756). Convém, no entanto, não esquecer que a
mesma obra foi alvo de refutações pertinentes, como a
exposta por Joaquim Moreira de Mendonça na História
Universal dos Terramotos que tem havido no Mundo [...]
com huma Narração Individual do Terramoto do primeiro
de Novembro de 1755 [...] e huma Dissertação Physica
sobre as causas geraes dos Terramotos, seus effeitos, dif-
ferenças e Prognosticos, e as particulares do ultimo
(Lisboa, 1758). A mais significativa e detalhada delas,

161
Rosto do Mundus Subterraneus de Atanásio Kircher.

162
Ilustração do Mundus Subterraneus de Atanásio Kircher,
demonstrando a teoria dos Pirofilácios exposta pelo jesuíta.

porém, foi apresentada por Anselmo Caetano de Abreu


Gusmão Castelo Branco, em Ennoea ou Aplicação do
Entendimento sobre a Pedra Filosofal (Lisboa, 1732-33), e
dirigida contra a opinião advogada por Kircher de não ser
viável a crisopeia ou transmutação laboratorial dos
metais, conquanto aceitasse a possibilidade da mesma
transmutação na natureza.

163
LANGELOTTUM, Joel
Ver Manget, v. 1, p. 168-192: De Metallorum
Transmutatione.

LANIS, Francisco Tertii


Autor de Magisterium Naturae et Artis (Brixiae, 1684-86 e
Parma, 1692, 3 vols. [1-20-1-3 / 5]).

LAVINIUS A MORAVIA, Venceslau


Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p.
232-235: Tratado do Céu Terrestre [2-32-3-26].

LÉMERY, Nicolas
Médico e químico, discípulo de Glazer. Autor do Cours de
Chymie, contenant la manière de faire les opérations qui
sont en usage dans la Médecine, par une méthode facile
(Paris, 1690), obra que contou mais de três dezenas de
edições. Trad. castelhana: Curso Chimico, Madrid, 1721
(D. Félix Palácios Baya) [1-18-10-14]. Citado in Ennoea. A
Pharmacopea Ulyssiponense, galenica e chymica, que con-
tem os principios, deffiniçõens e termos gerais de uma e
outra Pharmacia (Lisboa: Pascoal da Silva, 1716. [BN: SA
9619 P]) de João Vigier (1662-1723), comerciante de dro-
gas francês radicado em Lisboa desde os finais de seis-
centos, foi a primeira obra de química farmacêutica
impressa em Portugal, apesar de não passar de uma
tradução quase integral do Cours de Chimie de Nicolas
Lémery. Inclui, além dele, um Tratado da eleição,
descrição, doses e virtudes dos purgantes vegetais e das
drogas modernas de ambas as Índias e Brasil e um
vocabulário latino e português de todas as drogas ani-
mais, vegetais e minerais. Contém estampas representan-
do equipamentos de laboratório de química.

LIBAVIUS, Andreas (1560-1616)


Doutor pela Universidade de Wittenberg, com o título de
Poeta Laureado (1581), e logo professor em Iemerau. Em
1586 StadtRector em Coburg e, no ano de 1588, estu-
dante de Medicina em Basileia, onde se graduou. Foi o
primeiro a referir-se à transfusão sanguínea. Professor de
História e Poesia na Universidade de Iena. Apesar de, por
vezes, atacar os paracelsianos, a sua obra é uma fonte

164
preciosa para o conhecimento da medicina hermética.
Manuel Bocarro Francês cita uma obra cujo título grafa
Syrraxi (Anacephaleoses da Monarquia Lusitana). Na
D.O.M.A. Alchymia Triumphans de injusta in se Collegii
Galenici Spurii in Academia Parisiensi Censura (Frankfurt,
1607), obra suscitada pelas censuras da Academia de
Medicina de Paris, publica modelo de um laboratório de
Química com suas diferentes dependências e aparelhos.
*Praxis alchymiae [...], Frankfurt, 1604 [BUCoimbra]
Descreve processos, produtos e a "casa química" (labo-
ratório). Ver Manget, v. 2, p. 700;
*D.O.M.A. Syntagmatis selectorum undiquaque et per-
spicue traditorum Alchymiae Arcanorum tomi duo,
Frankfurt, 1613 e Petrikopfi, 1615, 1 vol. em 2 tomos [1-
18-8-8];
*Appendix necessari syntagmatis arcanorum Chymicorum
[...], Frankfurt, 1615 [2-51-13-10 = Proibido decreto 18
Maio 1618];
*Examen Philosophiae Novae, Petrikopfi, 1615 [2-51-13-
11 = Proibido por decreto de 18 Maio 1618] Referências a
Paracelso, Rosa Cruzes, etc.;

LUDOVICE DE COMITIBUS
Ver Manget, v. 2, p. 759: Turba Semiraminis Hermetica
Sigillata; De liquore Alchaest et Lapide Philosophorum; De
Maceratensis Philosophiae ac Medicinae Doctoris.

MANGET, Johann Jacob (1652-1742)


Médico suiço, compilador de grande número de obras de
medicina, farmácia, química e alquimia. Na BPNMafra
existem, além da descrita, diversas outras antologias
organizadas pelo mesmo autor, salientando-se a
Bibliotheca Pharmaceutica-Medica [1-18-9-7/8], a
Bibliotheca Chymica, sive rerum ad artem Machaonicam
[1-18-9-1/4], a Bibliotheca scriptorum Medicorum veterum
et recentiorum [1-18-9-9/10 e 1-15-6-10/12 = 2 exem-
plares] e a Bibliotheca Medico-Practica [1-18-8-9/12].
*Bibliotheca Chemica Curiosa, seu Rerum ad Alchemiam
pertinentium Thesaurus Instructissimus: quo non tantum
Artis Auriferae, ac Scriptorum in ea Nobiliorum Historia tra-
ditur; Lapidis Veritas Argumentis & Experimentis innu-
meris, immò & Juris Consultorum Judiciis evincitur;

165
Termini obscuriores explicantur; Cautiones contra
Impostores, & Difficultates in Tinctura Universali conficien-
da occurrentes, declarantur: Verum etiam Tractatus omnes
Virorum Celebriorum, qui in Magno sudarunt Elixyre,
quique ab ipso Hermete, ut dicitur, Trismegisto, ad nostra
usque Tempora de Chrysopoea scripserunt, cum praecipuis
suis Commentariis, concinno Ordine dispositi exhibentur.
Ad quorum omnium Illustrationem additae sunt quampluri-
mae Figurae aenae, Colónia e Genebra, 1702, 2 vols. [1-
18-5-1/2]. No Catálogo de Livros antigos dos Extintos
Conventos [...] da Estremadura (1864) constava um exem-
plar, com o nº 1482 (p. 57). O v. 1 inclui 71 tratados: De
Ortu et progressu Chemiae (p. 1) e Conspectus scriptorum
Chemicorum (p. 38) de Olaus Borrichio; De Lapide
Philosophorum Dissertatio (Mundus Subterraneus, p. 54) e
De Alchymia Sophistica (p. 82) de Atanásio Kircher;
Interpellatio brevis ad Philosophos pro Lapide
Philosophorum Contra Antichymisticum Mundum
Subterraneum Athanasii Kircheri Jesuitae, de Salomão
Blavenstein (p. 113); Tractatus de Tinctura Universali con-
tra R. P. Athanasium Kircherum pro existentia Lapidis
Philosophici disputatur de Gabriel Claudero (p. 119); De
Metallorum Transmutatione de Joel Langelottum (p. 168);
Aurum Chymicum de D. Filipe Jacob Sachs (p. 192);
Vitulus Aureus de J. F. Helvetius (p. 196); De Jure Artis
Alchemiae de João Crisipo Faniano (p. 210); Lexicon
Chymicum e Lexicon Chymicum, liber secundus (p. 275) de
Guilherme Johnsonio (p. 217); Res Alchymicorum
obscuras extraordinaria perspicuitate explanans (p. 291) e
Epistolae aliquot (p. 304) de Pedro João Fabri; Oedipus
Chymicus de J. J. Becher (p. 306); De Alchimiae
Difficultatibus Liber de Teobaldo de Hoghlande (p. 336);
Tractatus quo verae ac genuinae Philosophiae Hermeticae
et fucatae ac sophisticae Pseudo-Chemiae et utriusque
Magistrorum Characterismi accurate delineantur de Cato
Chemicus (p. 368); Comentário ilustrado da Tabula
Smaragdina de W. C. Kriegsmanni e Gerard Dornei (p.
380); Testamentum de Arnaldo Vilanueva (p. 389);
Comentário de Hermes Trismegisto (p. 389) de Gerard
Dornei; Hermetis Trismegisti cap. 7 (p. 400); Turba
Philosophorum ex antiquo Manuscripto Codice excerpta (p.
445); In Turbam Philosophorum Sermo unus Anonymi (p.

166
465); Allegoriae Sapientum supra Librum Turbae
Philosophorum XXIX Distinctiones (p. 467); Turbae
Philosophorum aliud exemplar (p. 480); Allegoriae super
librum Turbae (p. 494); Aenygma ex visione Arislei
Philosophi et Allegoris Sapientum (p. 495); Exercitationes
in turbam Philosophorum (p. 497); Liber Clavis Majoris
Sapientiae de Artephius (p. 503), Liber de Compositione
Alchemiae de Morienus e Calid; Summa Perfectionis (p.
519) e Liber Investigationis Magisterii (p. 558) e
Testamentum de Geber (p. 562); De Alchemia Dialogus
Veram et genuinam librorum Gebri sententiam explicens (p.
565) de João Bracheschi; Exercitationes perbreves in Gebri
Arabis summi Philosophi libro duos Summae Perfectionis
(p. 598) de João Gerardo; Speculum Alchemiae (p. 613) e
De Secretis operibus Artis et Naturae et de nulitate Magiae
(p. 616) de Rogério Bacon; Tractatulus de Alchemia (p.
626) e De Congelatione et Conglutinatione Lapidum (p.
636) de Avicena; De perfecto Magisterio Tractatus (p. 638)
e Tractatulus de practica lapidis philosophi (p. 659) de
Aristóteles; Thesaurus Thesaurorum et Rosarium
Philosophorum (p. 662), Novum Lumen (p. 672), Perfectum
Magisterium et Gaudium transmissum ad inclytum Regem
Aragonum, quod quidem est Flos Florum, Thesaurus
omnium incomparabilis et Margarita (p. 679), Epistola
super Alchemia ad Regem Neapolitanum (p. 683),
Speculum Alchemiae (p. 687), Carmen (p. 698),
Quaestiones tam Essenciales quam accidentales ad
Bonifacium Octavium cum suis Responsionibus (p. 698),
Semita Semitae (p. 702) e Testamentum (p. 704) de
Arnaldo de Vilanova; Testamentum et primum de Theorica
(p. 707) e Testamentum, pars practica super Philosophico
Lapide (p. 763) de Raimundo Lúlio; Analysis Partis
Praticae Raymundi Lullii in Testamento (p. 778) de João
Gerhardo; Compendium animae Transmutationis Artis
Metallorum Ruperto Anglorum Regi transmissum (p. 780),
Testamentum Novissimum Carolo Regi dicatum (p. 790),
Testamenti Novissimi pars altera (p. 806), Elucidatio
Testamenti (p. 823), Liber dictus Lux Mercuriorum,
Experimenta, Artis compendiosa, Compendii Animae
Transmutationis Artis Metallorum in quo explicatur quod in
aliis Libris occultatum est (p. 824), Experimenta in quibus
verae Philosophicae Chemicae Operationes clarissime

167
traduntur (p. 826), Liber artis Compendiosae quem
Vademecum nuncupavit (p. 849), Compendii Animae
Transmutationis Artis Metallorum aliud exemplar (p. 853),
Epistola de Accurtatione Lapidis Benedicti missa Anno
1412 (p. 863), Liber Potestas Divitiarum dictus, in quo opti-
ma expositio Testamenti Hermetis continetur (p. 866),
Clavicula quae et Apertorium dicitur (p. 872), Compendium
Artis Alchemiae et Naturalis Philosophiae (p. 875),
Tractatus de Lapide et Oleo Philosophorum (p. 878) e
Codicillus seu Vademecum et Cantilena in quo fontes
Alchemicae Artis ac Philosophiae reconditioris uberrime
traduntur (p. 880) de Raimundo Lúlio; Lignum Vitae (p.
911) de João Bracesco; Liber Mutus Alchemiae Mysteria fi-
liis Artis nudis figuris [em falta no ex. da BPNMafra] (p.
938). O v. 2 inclui 72 tratados: Margarita Pretiosa novella
de Pedro Bono (p. 1); Liber Magisterii de Confectione Veri
Lapidis Philosophorum (p. 80) e Liber Lucis (p. 84) de João
de Rupescissa; Rosarium Philosophorum (p. 87); Rosarium
Philosophorum aliud Exemplar […] per Toletanum
Philosophum maximum (p. 119); Scala Philosophorum (p.
134) de Guido de Montanor; Clangor Buccinae (p. 147);
Correctio Fatuorum (p. 165); Liber de Arte Chimica (p. 172)
de Marsílio Ficino; Liber Secretorum Artis (p. 183) de Calid
Filius Jaici; Liber Trium Verborum (p. 189) de Calid Rex;
Allegoria (p. 191) de Merlim; Thesaurus Philosophiae (p.
192) de Averróis; Aurelia Occulta (p. 198) de Zadith;
Consilium Conjugii (p. 235); Libellus utilissimus peri
Chemia V, cui titulum fecit Correctorium (p. 266); Liber
duodecim Portarum (p. 275) de George Ripley; Tractatus
Crede mihi, seu Ordinale dictus (p. 285) de Thomas
Northoni; Rosarium Arcanorum Philosophorum (p. 309) de
João Dausten; Dialogus inter Naturam et Filium
Philosophiae (p. 326); Opusculum Chemicum (p. 336) de
Dinis Zacarias; Commentarius in Dionysii Zacharii
Opusculum Chemicum (p. 350) de Nicolau Flamel;
Collectanea ex Democrito (p. 361); Tractatus brevis seu
summarium Philosophicum (p. 368) de Nicolau Flamel;
Chrysopoeia et Vellus Aureum (p. 371) de J. Aurélio
Augurelo; Carmen Aureum (p. 387) e AEnygma (p. 388) de
Nathanis Albinei; Liber de Secretissimo Philosophorum
opere Chemico (p. 388) e Responsio ad Thomam de
Bononiae (p. 399) de Bernardo Trevisano; Liber de Magno

168
Lapide Antiquorum Sapientum (p. 409), Liber duodecim
Clavium (p. 413), De prima Materia Lapidis Philosophici (p.
421) e Brevis Appendix et perspicua repetitio aut iteratio in
librum suum de Magno Lapide Antiquissimorum (p. 422) de
Basílio Valentino; Congries Paracelsicae Chemiae de
Transmutationibus Metallorum (p. 423) de Gerard Dorn;
Novum Lumen Chemicum (p. 463), Parabola, seu Aenigma
Philosophicum (p. 474), Dialogus Mercurii, Alchemistae et
Naturae (p. 475), Tractatus de Sulphure (p. 479) e
Apographus Epistolarum hactenus ineditarum super
Chemia (p. 493) de Miguel Sendivogius; Commentarius in
Novum Lumen Chemicum Michaelis Sendivogii XII figuris in
Germania repertis illustratum (p. 516), de Orthélio; De
lapide (p. 530) de Guilielmus Trognianus; Aquarium
Sapientum (p. 537) de Hydrolithus Sophicus; Opus
Aureum de Auro (p. 558) de Pico della Mirandola; Arca
Arcani artificiossimi de Summis Naturae Mysteriis, cons-
tructa ex Rustico ejus majore et minore et Physica naturali
rotunda, per visionem Cabalisticam descripta (p. 585) de
João Grassei; Mysterium occultae Naturae e De Duobus
Floribus Astralibus Agricolae minoris in ejus Arca Arcani
Artifiosissimi contentis (p. 619) por discípulo anónimo de
João Grassei; Enchiridion Physicae restitutae (p. 626) e
Arcanum Hermeticae Philosophiae opus in quo occulta
Naturae et Artis circa Lapidis Philosophorum materiam et
operandi modum, canonice et ordinate fiunt manifesta (p.
649) de Dom Espagnet; Introitus apertus ad occlusum
Regis palatium (p. 661), Tractatus de Metallorum
Metamorphosi (p. 676), Brevis Manuductio ad Rubinum
Caelestem (p. 686) e Fons Chemice Philosophie (p. 693) de
Philaleto; Epistola contra Philalethem (p. 697) de João
Fernando Hertodt; Resposta à precedente Epistola (p.
699) de Anónimo; Liber Praxeos Alchemicae cum
Additionibus de André Libávio; In AEnygmaticum quod-
dam Epitaphium Bononiae ante multa Saecula Marmoreo
Lapidi insculptum Commentariolus (p. 713) de Nicolau
Bernardo; Extractum e Tractatu super eodem Epitaphio con-
scripto (p. 717) de Carolo Cesar Malvasius; Bitolium
Metallicum seu Medicina duplex pro Metallis et Hominibus
infirmis (p. 718), Tumulus Hermetis apertus (p. 728),
Examen Alchemisticum (p. 736) e Disceptatio de Lapide
Physico, in qua Tumbam Semiramidis ab Anonymo

169
Phantastice non Hermetice sigillatam; jam vero reclusam, si
sapiens inspexerit ipsam, promissis Regum Thesauris vac-
uam inveniet (p. 744) de Pantaleon; Tumba Semiramidis
Hermetice Sigillata (p. 759); Tractatus de liquore Alchaest et
Lapide Philosophorum […] item de Sale volatili tartari, etc.
(p.764), Metallorum ac Metallicorum naturae operum ex
Orthophysicis fundamentis recens Elucidatio (p. 781) e
Appendix Symbole Crucis aliqualem explicationem exhibens
(p. 840) de Ludovicus de Comitibus; Icon Philosophiae
Occultae (p. 845) de Claudius Germain; Aurum Superius, et
Inferius Aure Superioris et Inferiores Hermeticum (p. 856) de
Cristiano Adolfo Balduino; Brevis enumeratio hactenus a se
in chemia actorum (p. 875) de Melchior Frobénio; De Spiritu
Mundi Positiones aliquot (p. 876) de I. B.; Responsum ad
Positiones de Spiritu Mundi (p. 880) de André Cnoffelius;
Trames facilis et planus ad Aureum Hermetis Arcem
(p.887); Hortulus Hermeticus e Flosculis Philosophorum
Cupro Incisis Conformatus et brevissimia versiculis explica-
tus (p. 895) de Daniel Stolius von Stolzenberg, composto por
136 medalhões emblemáticos, alusivos a outros tantos
autores representativos da história da alquimia.

MARIA, a Profetisa
Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 82-
91: Diálogo entre Maria e Aros sobre o Magistério de Hermes
ou a Prática de Maria, a Profetisa, sobre a Arte Química [2-
32-3-26].

MERLIM
Ver Manget, v. 2, p. 191: Allegoria.

MONTANOR, Guido
Ver Manget, v. 2, p. 134-147: Scala Philosophorum.

MORIENUS
Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 92-
143: Diálogo entre Calid e o Filósofo Morieno sobre o
Magistério de Hermes [2-32-3-26] e Manget, v. 1, p. 509:
Liber de Compositione Alchemiae.

170
NORTON, Thomas
Ver Manget, v. 2, p. 285 e Tripus Aureus: Crede mihi seu
Ordinale.

ORTHELLI
Ver Manget, v. 2, p. 516: Comm. in Novem Lumen Chemicum
de Sendivogius.

PANTALEONIS
Ver Manget, v. 2, p. 718: Bifolium Mettalicum; Tumulus aper-
tus; Examen Alchemisticum; Disceptatio de Lapide Physica.

PARACELSO (c. 1493-1541)


Auréolo Filipe Teofrasto Bombasto von Hohenheim. Grande
reformador da medicina. Propôs a substituição da prática
galénica pela observação da natureza e pela medicina her-
mética. Iniciado na Alquimia e na Magia Natural por
Tritémio, estudou em Viena (1509-1511) e Ferrara (1513-
1516), após o que vagueou pela Europa durante sete anos,
tendo aportado a Lisboa. Atingiu o zénite da reputação em
Estrasbrugo, no ano de 1526. Considera a natureza não um
sistema de leis, mas como um fluxo criativo, autónomo e
dinâmico, mais mágico do que racional. A fonte de tudo o
que existe não é o intelecto divino de um Deus paternal mas
o Mysterium Magnum. A medicina medieval defendia que as
estrelas governavam o corpo, Paracelso, por seu turno, ensi-
na que dentro do homem existem planetas ou constelações,
os astra, um céu interior que governa a saúde e a doença.
Consta do Index de 1597.
*Opera Omnia medica-chymica-chirurgica, Genebra, 1658, 2
vols. [1-18-7-14/15] O v. 1 reúne toda a obra médica:
patologia e terapeutica ocultas, assim como os mistérios
magnéticos; o v. 2 comprende as obras mágicas, astronómi-
cas e alquímicas (inclui: o Opus Paramirum, onde se refere
às cinco entidades - veneni, naturale, astrale, spirituale,
deale - que geram doenças no corpo, e o Volumen
Paramirum, onde expõe os aspectos mais conhecidos da
sua doutrina médica, designadamente a dos Tria Prima -
mercúrio, enxofre e sal -, que considera os princípios pri-
mordiais e activos da criação); o v. 3 (em falta na
BPNMafra) abarca as matérias anatómicas e cirúrgicas

171
propriamente ditas;
*Transmutationibus Mettalorum (ver Manget, v. 2, p. 423).

PICO DELLA MIRANDOLA (1463-1494)


Filósofo e humanista. Durante sete anos percorreu diver-
sas escolas da Itália e da França em busca dos saberes
que os estudos tradicionais não lhe haviam transmitido.
Além do grego e do latim, dominava o hebraico, o caldeu
e o árabe. A Cabala exerceu enorme fascínio sobre Pico,
tal como o hermetismo, designadamente a astrologia. Em
1486, em Roma, desafiou os sábios a discutirem consigo
900 proposições abrangendo a ciência, a filosofia e a
teologia. É tido na conta de um dos grandes mestres da
Academia florentina, tendo adoptado um neoplatonismo
de tendência mística e cabalística, destinado a estabele-
cer uma concórdia entre as religiões e as filosofias, basea-
do no reconhecimento de um Deus único e supremo,
princípio de todas as coisas. Citado por Manuel Bocarro
Francês (Anacephaleoses da Monarquia Lusitana), com o
título Livro de aureo faciendo (De Auro, Veneza, 1586 [Ver
Manget, v. 2, p. 558]).

PORTA, Giambattista della (1535-1615)


Discípulo de Agrippa. Fundador da Academia Secretorum
Naturae (também conhecida por Academia dei Oziosi), em
Roma. Designado membro da Academia dei Lincei no ano
de 1610.
*Magia Naturalis, sive de miraculis rerum naturalium,
Nápoles, 1558 [2-37-2-1] Os quatro livros que compõem
esta edição deram lugar, na redacção definitiva (1589), a
vinte: I. De mirabilium rerum causis; II. De variis anima-
libus gignendie; III. De novis plantis producendis; IV. De
augenda supellectili; V. De metallorum transmutatione; VI.
De gemmarum adulteriis; VII. De miraculis magnetis; VIII.
De portentosis medelis; IX. De mulierum cosmetice; X. De
extrahendis rerum essentiis; XI. De myropoeia; XII. De
incendiariis ignibus; XIII. De raris ferri temperaturis; XIV.
De miro conviviorum apparatu; XV. De capiendis manufer-
ris; XVI. De invisilibus literarum notis; XVII. De catoptricie
imaginibus; XVIII. De staticis experimentis; XIX. De pneu-
maticis; XX. Chaos. Os processos descritos na 1ª
impressão assemelham-se ainda aos Segredos da tradição

172
medieval, caracterizando-se pela busca do maravilhoso.
Define magia como a "parte prática da ciência natural" (os
fenómenos mágicos derivam dos naturais), aproximando-
-se de Pico e Ficino na identificação do mago com o
sapiente. A fortuna da 1ª redacção (seis impressões)
acompanhará a 2ª (vinte e sete edições em latim e línguas
vulgares), fazendo dela uma das obras mais populares de
seiscentos, apesar do frio acolhimento contemporâneo
(excepção feita a Kepler);
*De Humana Physiognomonia, libri IV, qui ab extimis, quae
in hominum corporibus conspiciuntur signis, ita eorum
natura, mores et consilia [...], Rothomagi, 1650 [2-37-6-
28] Ilustrada com numerosas gravuras duplas, represen-
tando lado a lado uma cabeça humana e uma animal,
com a finalidade de realçar os traços comuns;
*De Coelestis Physiognomoniae libri VI, unde quis facile ex
humani vultus extima inspectione, poterit ex coiectura futu-
ra praesagire. In quibus etiam Astrologia refellitur, et ina-
nis, et imaginaria demonstratur, Nápoles, 1603 [ed. 1650,
2-37-6-28] Primeira edição da última obra do autor sobre
o tema. Enuncia método de previsão astrológica baseado
no exame dos elementos, dos humores e outras peculiari-
dades do corpo humano. Os efeitos que os astrólogos pre-
tendiam produzidos pelos planetas seriam antes sim-
bolizados por eles. Reconhece, no entanto, a influência de
certos astros sobre os temperamentos humanos.

RIPLEY
Ver Manget, v. 2, p. 275: Liber duodecim Portarum.

RUEL, João (f. 1537)


Autor do De natura Stirpium libri tres (Paris, 1536 [1-20-
9-13), obra citada por Manuel Bocarro Francês
(Anacephaleoses da Monarquia Lusitana), o qual lhe
chama Ruélio.

SACHS, Philip Jacob


Ver Manget, v. 1, p. 192-195: Aurum Chymicum.

SCHOTT, Gaspar
Jesuíta, discípulo de Atanásio Kircher.

173
*Magia Universalis Naturae et Artis sive recondita
Naturalium et Artificialium rerum Scientia, Wurzburg e
Bamberg, 1657-59, 4 partes em 4 vols. [Bamberg, 1677,
2-37-8-8/11];
*Technica Curiosa, sive mirabilia artis, Nuremberga, 1664
Refere diversas maravilhas científicas, dedicando o último
livro à Kabbalah, 2 vols. [Herbipoli, 1687, 2-37-8-12/13];
*Physica Curiosa, sive mirabilia naturae et artis, Herbipoli,
1697, 2 vols. Tratado de teratologia e demonologia [2-37-
8-14/15].

SEGUSIO, Henrique
Autor de Summa Aurea [...] (Londres, 1576 [2-17-16-5]).

SENDIVOGIUS, Michael (1566-1646)


Natural da Morávia. Discípulo de Alexander Sethon,
alquimista escocês prisioneiro de Cristiano II, eleitor da
Saxónia. Tendo-o auxiliado na fuga da prisão de Dresden,
em 1603, terá ficado, segundo a tradição, depositário dos
seus segredos alquímicos, motivo por que se considera a
sua obra uma compilação de escritos de Sethon, "Scotus
apostata qui scripsit anno 1541", conforme o Index de
1597. Sendivogius é citado in Ennoea. Ver Manget, v. 2, p.
463: Novum Lumen Chemicum (doze tratados), Dialogus
Mercurii, Alchemistae et Naturae, Tractatus de Sulphuris e
Chemia; Musaeum Hermeticum Reformatum: Novum
lumen chemicum, Aenigma philosophicum, Dialogus
Mercurii et Alchymistae et Naturae e Novi luminis tractatus
alter de sulphure.

SENERTI, Daniel
Médico e alquimista. Publicou Opera Omnia Medica
(Londres, 1676, 6 vols. [1-18-6-1 / 6].

STOLCIUS, Daniel
Ver Manget, v. 2, p. 895: Hortulus Hermeticus Flosculis
Philosophorum Cupro Incisis Conformatus.

SWENDENBORG, Emanuel (1688-1772)


Estudou Ciências Naturais e Filosofia em Upsala.
Cientista, filósofo e místico. Em 1716, é nomeado asses-

174
sor da Comissão de Minas pelo rei da Suécia, Carlos XII.
Antecipou muitos factos científicos, sendo notáveis as
suas ideias sobre o átomo, o magnetismo, a luz, a
paleontologia e a cristalografia. Entre 1743 e 1744, uma
sucessão de visões e sonhos fê-lo ficar convicto de ser
dotado da capacidade de contactar com os espíritos e
anjos e haver sido eleito para uma missão sagrada. A par-
tir de 1747 renunciou a todos os cargos oficiais, passan-
do a dedicar-se exclusivamente à absorção mística e às
viagens pelos mundos invisíveis. Não aceita os dogmas da
Trindade e da Redenção, advogando a existência de uma
única ordem de coisas sob aspectos diferenciados: um só
mundo sob duas formas, a terra reproduzindo o céu e
vice-versa. A sua obra originou a criação da Igreja de Nova
Jerusalém, tendo exercido enorme influência sobre
escritores e pensadores de todas as tendências.
*Prodromus Principiorum Rerum Naturalium, 1734 [1-20-
11-12 = Proibido decreto 13 de Abril de 1730];
*Opera Philosophica et Mineralia, 1734, 3 vols. [1-20-12-8
/ 10] O primeiro vol., dedicado aos Principia, expõe os
seus pontos de vista sobre a formação nebulosa do uni-
verso, teoria precursora da de Kant-Laplace;
*Regnum Subterraneum, sive minerale de ferro, 1734 [1-
20-11-13];
*Regnum Subterraneum, sive minerale de cupro et orichal-
co, 1734 [1-20-11-14].

[THEOPHILO ?]
Triunfo de la Transmutacion metallica, en que se evidencia
la del Hierro en cobre fino, in D. Salvador Jose Mañer,
Crysol Critico, Madrid [2-25-9-1].

VALENTINUS, Basilius (1394-1413)


Uma lenda fá-lo monge beneditino, em S. Pedro de Erfurt,
vivendo no século XV. Atribui-se a Valentino a teoria dos
Tria Prima, ou dos três princípios, sal, enxofre e mercúrio,
depois usurpada por Paracelso, segundo os adversários
deste. Constava da biblioteca confiscada a Dom Vicente
Nogueira [BNParis: ms. Port. 51, 5.51897, fl. 78-79].
Ver Manget, v. 2, p. 409: Liber de Magno Lapide
Antiquorum Sapientur; Duodecim Clavium; Lapidis
Philosophi; Magnus Lapide Antiquissimorum; T ripus

175
Aureus: Practica una cum 12 clavibus et appendice.

VAN HELMONT, Jean Baptiste (1579-1644)


Desiludido com o aristotelismo obcessivo da
Universidade de Lovaina, voltou-se para os estudos
médicos e herbais, doutorando-se em Medicina, no ano
de 1599. Rejeitou a antiga doutrina dos quatro elemen-
tos, casando a tradição mediévica com a paracélsica da
alquimia espagírica ou pirotécnica. Realizou descobertas
inovadoras em química, sendo considerado o fundador
da química pneumática: foi a primeiro a distinguir os
gases da atmosfera. As teorias que expôs sobre o alkaest,
o qual, assegurava, era detentor de extraordinárias pro-
priedades dissolventes, ainda mais reputação lhe havia
de grangear. Considera como príncipios: 1. os elementos
(são primitivos o ar e a água; a terra é um produto da
água; não toma o fogo propriamente como um elemento,
mas como intermediário entre a substância e o acidente);
2. os arqueos (espírito ou agente seminal, verdadeira
causa eficiente, existindo tantos quantas as classes dos
corpos); 3. os fermentos (existe um fermento universal,
como luz vital, sendo os restantes próprios de cada
classe de seres); 4. os impulsos (sopros que impulsionam
o movimento; há-os de duas espécies: os impulsos
astrais e os impulsos naturais e voluntários dos ho-
mens); 5. as almas (situa-as numa ordem superior,
classificando-as em sensitivas e intelectivas). Apesar de
só postumamente editada pelo filho (François-Mercure
Van Helmont), a sua obra provocou uma revolução de
atitudes na medicina. Frei António da Anunciação refuta
os químicos, servindo-se das experiências de Boyle e Van
Helmont.
*Ortus Medicinae, Leyden, 1667 [1-18-6-14] Obra póstu-
ma (1ª edição: Amesterdão, 1648). Crê na transmutação
dos metais. Considera o corpo humano um microcosmos
químico e inicia o estudo e manipulação dos gases nos
processos químicos.

VAN SWIETEN, Gerardo


Autor dos Commentaria in H. Boerhaave aphorisma [2-
30-11-3/4].

176
VÁRIOS AUTORES
Bibliotheque des Philosophes [Chymiques] ou Recueil des
Oeuvres des Auteurs les plus approuvés qui ont ecrit de la
Pierre Philosophale. Avec un Discours servant de Preface
sur la Verité de la Science et une liste des Termes de l´Art,
et des Mots anciens qui se trouvent dans ces Traitez, avec
leurs explications, Paris, 1672; Tome second qui contient
cinq Traitez énoncez dans l´autre page, et nouvellement
traduits. Avec des remarques et les diverses leçons. Une
lettre latine sur le Livre intitulé Icon Philosophiae Occultae.
Une Preface sur l´obscurité des Philosophes, et sur les
Traittez de ce Tome, et leurs Auteurs. Et une Table des
Matieres Par le Sieur S. Docteur en Medecine, Paris, 1678
[2-32-3-26 / 27] No v. I inclui: a Tábua de Esmeralda
comentada por Hortulano (p. 1-12); a Turba dos
Filósofos, ou Assembleia dos Discípulos de Pitágoras,
chamado o Código de Verdade (p. 13-48), compilação
elaborada directamente em língua árabe, relatando uma
suposta reunião de grandes filósofos da antiguidade, pre-
sidida por Pitágoras, considerado discípulo de Hermes; o
Livro contendo a explicação das Figuras Hieroglíficas de
Nicolau Flamel (p. 49-98); o Livro da Filosofia Natural dos
Metais do Trevisano (p. 99-150); o Opúsculo de Dinis
Zacarias (p. 151-231); o Tratado do Céu Terrestre de
Venceslau Lavínio de Morávia (p. 232-235); A Entrada
aberta no Palácio encerrado do Rei eo Philaleto (p. 236-
326). No v. II: Os Sete Capítulos de Hermes Trismegisto
(p. 1-81); o Diálogo entre Maria e Aros sobre o Magistério
de Hermes ou a Prática de Maria, a Profetisa, sobre a Arte
Química (p. 82-91); o Diálogo entre Calid e o Filósofo
Morieno sobre o Magistério de Hermes (p. 92-143), obra
supostamente fundada sobre um antigo escrito grego
reencontrado em Alexandria e traduzido por Roberto de
Chester (c. 1144); o Livro da Arte Secreta ou da Pedra
Filosofal de Artephius (p. 144-188); a Suma da Perfeição,
ou Sumário do Magistério Perfeito de Geber (p. 189-487).

VÁRIOS AUTORES
Opus Aureum ornatum omni Lapidem Pretioso singulare,
Lyon, 1532 [2-4-2-14].

177
VÁRIOS AUTORES
Balneis omni quae extent [1-18-12-17] Inclui: Excerpta,
quae ad Aquas et Balnea pertinent, de Avicena e seus
comentadores, Excerpta de Balneis, de Averróis.

VON ROSENROTH, Knorr


Nobre alemão (barão) e um dos mais insignes expositores
da Kabbalah em seiscentos. Organizador de Kabbala
denudata, seu Doctrina Hebraeorum transcendentalis et
metaphysica atque theologica (Salzbach, 1677-1678, 4
partes e Frankfurt, 1684, 4 partes, em 8 vols.) [2-49-4-8
/ 11 = Proibido]. Inclui: Clavis ad Kabalam antiquam,
Liber Schaare Orah seu Porta Lucis, Liber de Porta
Coelorum (Porta dos Céus), de Abraão Cohen Ferreira ou
Irira (tomo 1, parte 3), Adumbratio Kabbalae Christianae
(tomo 2), Apparatus in librum Sohar, Compendium libri
cabalistico-chymici Aesch Metzareph, dicti de Lapide
Philosophorum, etc. Na biblioteca de Fernando Pessoa
existe a tradução inglesa de S. L. MacGregor Mathers
(Kabbalah Unveiled), o qual erroneamente considerou a
obra como parte integrante do Zohar.

WEIDENFELD, Johannes Segerus


Autor do De Secretis Adeptorum, sive de usu spiritus vini
Lulliani libri 4, Londres, 1684 [2-31-6-20]. Reedições:
Hamburgo, 1685 e Lipsia, 1768. Tradução inglesa: Four
books concerning the secret of the adepts or of the use of
Lully’s spirit of wine (Londres, 1685). Ocupa-se dos
Menstruos vegetais ao longo de 24 secções, cada uma das
quais descrevendo um tipo particular de menstruum e
incluindo um total de 150 receitas coligidas em vários
tratados alquímicos. Esta obra teve sequência no
Prodromus Libri secundi de Medicinis, vel potius dispositio
Libri quinti de materia et praeparatione spiritus vini philo-
sophici (Londres, 1687).

ZACARIAS, Denis
Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p.
151-231: Opúsculo [2-32-3-26].

ZADITH
Ver Manget, v. 2, p. 198: Aurelia Occulta.

178
ÍNDICE

Nota do Presidente da Câmara Municipal de


Mafra..................................................................... 3

Cosmologia e Arte da Memória: considerações acer-


ca do programa emblemático e mnemotécnico da
Casa da Livraria do Palácio Nacional de
Mafra..................................................................... 5

A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra: resenha


histórico-cronológica e bibliográfica........................ 51

Vária Miscelânea

Catálogos da Biblioteca do Palácio Nacional de


Mafra................................................................ 139

Subsídio para o Catálogo da Tratadística


alquímica antiga (até 1800), presente no acervo
da Biblioteca do Palácio Nacional de
Mafra................................................................ 143

179
180

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