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É importante se destacar que apesar da literatura brasileira ter se originado no período colonial, é difícil se
fixar com precisão em qual o momento esta se configurou com uma produção cultural independente dos vínculos
lusitanos. Tal fato se deve principalmente porque durante o período colonial ainda não existiam condições propícias
para o desenvolvimento de uma literatura, como por exemplo: ainda não existia a existência de um público leitor ativo
e influente, grupos de escritores atuantes, vida cultural intensa e rica, sentimento de nacionalidade, liberdade de
expressão, imprensa e gráficas.
Por esses motivos, muitos estudiosos da literatura preferem denominar a literatura que era produzida aqui no
Brasil até os séculos XVII de “manifestações literárias” ou “ecos da literatura no Brasil”. A nossa literatura somente
começou a se desenvolver na segunda metade do século XVIII, quando se criaram algumas das condições necessárias
para o seu desenvolvimento tais como: a fundação de cidades, o estabelecimento de centros comercias que estavam
ligados à extração do ouro, em Minas Gerais, o surgimento de escritores comprometidos com as causas políticas da
independência etc. Entretanto, o estabelecimento do sentimento de nacionalidade, assim como o surgimento de uma
literatura voltada para o espaço, para o homem e para a língua nacionais somente ocorreram de maneira efetiva no
século XIX, após a independência política de 1822.
Os primeiros textos escritos aqui no Brasil não tinham uma função literária propriamente dita, pois atendiam a série de
finalidades específicas, tanto dos religiosos, que a utilizavam como instrumento de catequização dos índios, quanto
dos navegantes que estavam interessados em descrever e explorar a terra recém-descoberta. José de Anchieta (1534 –
1537) merece destaque entre os religiosos que aqui estiveram. Anchieta escreveu vários tipos de textos com
finalidades pedagógicas, como poemas, hinos, canções e altos (gênero teatral originado na Idade média), além de
diversas cartas que informavam sobre o processo de catequese no Brasil e de uma gramática da língua tupi. Anchieta
não seguia as novidades de conteúdo e forma trazidas pelo renascimento e sim, inspirava-se em modelos medievais,
fazendo uso da medida velha (redondilha), como exemplificam o poema.
Cordeirinha linda
o diabo espanta.
como folga o povo
porque vossa vinda Por isso vos canta
lhe dá lume novo. com prazer o povo
Cordeirinha santa, porque vossa vinda
de Jesus querida, lhe dá lume novo
vossa santa vida (A Santa Inês – José de Anchieta)
Exercícios:
01. As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura Brasileira referem-se a:
a) Literatura informativa sobre o Brasil (crônica) e literatura didática, catequética (obra dos jesuítas).
b) Romances e contos dos primeiros colonizadores. c) Poemas românticos indianistas.
d) Poesia épica e prosa de ficção. e) Obras de estilo clássico, renascentista.
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o
missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta A literatura de informação ou de expansão, compostas por
cartas de viagem, tratados descritivos e diários de navegação, tinha por objetivo narrar e descrever os primeiros
contatos com as terras brasileiras e seus nativos, informando a respeito de tudo que pudesse interessar ao governo
português. É o que faz, por exemplo, Pero Vaz de Caminha, que em 1500 registrou o primeiro contato dos portugueses
com os índios. Leia abaixo um fragmento da carta de Pero Vaz de Caminha:
Senhor:
Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do
achamento desta vossa terra nova, que ora Literatura de informação Literatura de informação, Literatura dos
viajantes,Literatura sobre Brasil, nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa
Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer.
Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para aformosear
nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. Da marinhagem
e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não
saberei fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto, Senhor, do que hei de
falar começo e digo:
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que
foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns
sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como
outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuxos.
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e
doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o
Monte Pascoal e à terra - a Terra da Vera Cruz.
Embora esses escritos não tenham muito valor literário hoje, sua importância está principalmente no
significado que guardam como documentação histórica, esta representa tanto o testemunho do espírito aventureiro da
expansão marítima e comercial dos séculos XV e XVI, quanto o registro do choque cultural entre colonizadores e
colonizados. É importante destacar que não há por parte dos escritores que produziram a literatura de informação
nenhum sentimento de apego à terra conquistada, que é vista de uma espécie de extensão da metrópole.
Apesar disso, a literatura quinhentista nos deixou como herança um conjunto inesgotável de sugestões
temáticas, como os índios, as belezas naturais da terra, nossas origens históricas, que foram mais tarde desenvolvidas
por nossos escritores. Algumas das principais produções da literatura informativa no Brasil-Colônia do séc. XVI:
* A Carta, de Pero Vaz de Caminha;
02. A importância das obras realizadas pelos cronistas portugueses do século XVI e XVII é:
03. Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que:
4. No texto III, Caminha diz ao rei: “Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente”.
Comparando o texto de Caminha ao cartum de Marcos Müller, é possível perceber pontos de vista diferentes sobre a
conquista e a colonização do Brasil.
a) De acordo com o ponto de vista do conquistador europeu, o objetivo de “salvar” os índios foi alcançado no
transcorrer do tempo? Por quê?
a) Do ponto de vista do cartunista, o que resultou da relação do conquistador com os índios? Por quê?
Aula 4
Nascido em 1534 na ilha de Tenerife, Canárias, o padre da Companhia de Jesus veio para o Brasil em 1553 e
fundou, no ano seguinte, um colégio na região da então cidade de São Paulo. Faleceu na atual cidade de Anchieta,
litoral do Espírito Santo, em 1597. Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé branco"), Anchieta (1534 -
1597) deixou como legado a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos
nativos (Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil). Destacou-se também por suas poesias e autos, nos
quais misturava a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta.
Nela, o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer
queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta intentou conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos
habitantes da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem
que isso significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A
liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a
cor, o som.
A obra do padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade
catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais
conhecidos de José de Anchieta são: “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. A Carta de Caminha inaugura o
que se convencionou chamar de Literatura Informativa sobre o Brasil. Este tipo de literatura, também conhecido como
literatura dos viajantes ou literatura dos cronistas, como consequência das Grandes Navegações, empenha-se em fazer
um levantamento da “terra nova”, de sua floresta e fauna, de seus habitantes e costumes, que se apresentaram muito
diferentes dos europeus. Daí ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, se grande valor literário. A
principal característica da carta é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu diante do exotismo e da
exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de
adjetivos.
Você vai ler a seguir três fragmentos da Carta de Pero Vaz de Caminha e dois trabalhos de artistas da
atualidade que dialogam com a Carta: uma tira de Nilson e um cartum de Marcos Müller:
TEXTO I
Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram,
porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a esta
nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o capitão mandou no batel, à terra, Nicolau Coelho para ver rio; e quando
começou a ir para lá acudiram, à praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio estavam
ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas.
Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que
deixassem os arcos e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar
quebrava na costa.
Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do
achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta.
(...)
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira d’ oitavas de Páscoa, que foram 21 dias
d’Abril, que topamos alguns sinais de terra (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam
fura-buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte,
mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto
o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. (...)
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por
chegaram primeiro. (...) A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem
feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão
acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...)
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas
espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos
não tínhamos nenhuma vergonha. (...)
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão
redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições,
fizera vergonha, por não terem a sua como ela. (...)
TEXTO II
Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem
vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço […] Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma
menção de cortesia nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Mas um deles viu o colar do Capitão e começou a acenar
com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal de
prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal como que havia, também, prata. Mostraram-lhe um
papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia ali;
mostraram-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe
queriam pôr a mão; e depois a pegaram como que espantados.
TEXTO III
De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande,
porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora,
não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra
em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora,
assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la
dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar
esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
(In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura Comentada.)
1. Segundo Pero Vaz de Caminha, Nicolau Coelho não conseguiu comunicar-se oralmente com os índios.
a) O que alegou como causa?
b) Qual foi o verdadeiro motivo pelo qual a comunicação oral não se realizou?
c) Qual foi a atitude dos índios diante do Capitão e o que ela revela?
3. Quais eram as informações acerca da nova terra que mais interessavam aos portugueses?
4. Os portugueses não encontraram na terra recém- descoberta aquilo que mais lhes interessava. Identifique o que
Caminha humildemente sugere ao rei nos trechos:
b) “De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem”.
b) “Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente”.
5. Aponte semelhanças entre os textos lidos e os versos de Camões a seguir, quanto ao ponto de vista do colonizador
português sobre os motivos da colonização.
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando
6. Compare o texto IV ao texto III. Que semelhança há entre eles?