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A história da gênese do Brasil bem poderia parafrasear o troncos que haviam povoado a Nova Lusitânia, isto é, o Pernambuco
ante bellum que vai da fundação por Duarte Coelho à ocupação
texto bíblico: “No início, era o extrativismo”. Os primeiros
holandesa (1535-1630), assunto prudentemente escamoteado pelos
portugueses o praticavam para abastecer suas caravelas com genealogistas coloniais e ignorado pelos atuais (...).
toras de pau-brasil. A madeira e a tinta traziam bons lucros. Cabral de Mello, 1989, p. 12.
Unidos, não havia uma questão político-religiosa impelindo feitoria de Cristóvão Jacques: um lugar roçado, com cabanas, que
colonos a abraçarem a dura vida no Novo Mundo como uma servia de entreposto para armazenar toras de pau-brasil,
opção definitiva. Nesta história, porém, pesa o perfil e a decisão aguardando as embarcações portuguesas. Nesse mesmo local, em
pessoal de um entre tantos donatários que receberam capitanias 1535, Duarte Coelho Pereira desembarcou. Tinha o firme propósito
no Brasil. A história não pode ser explicada apenas por de fundar aqui um novo Portugal — uma Nova Lusitânia.
características individuais, mas não transcorreria sem elas. Foi o único donatário a trazer consigo a esposa;
Sendo Portugal uma nação mercadora por tradição, não pôde acompanhou-se ainda de membros da pequena nobreza de
deixar de ver, nas terras do Novo Mundo, um depósito de matéria- Portugal e de seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque. De início,
prima esperando quem o comerciasse. Outros países também instalou-se em Igarassu, na parte mais alta. Sofrendo ataques
perceberam que o “depósito” não tinha portas nem grades e não dos índios, mudou-se para Olinda — local bem mais elevado —,
demoraram a retirar suas porções de madeira em ações de pirataria. que oferecia maior segurança geográfica. A escolha desses locais
obedecia à semelhança guardada com Lisboa, uma acrópole no
Calculando os prejuízos sofridos e os riscos para o futuro, os
alto da foz do Rio Tejo. As cidades brasileiras de Salvador, Penedo
portugueses decidiram povoar terras que estavam garantidas só
e do Rio de Janeiro — que começou para valer no Morro do
no papel, pelo Tratado de Tordesilhas. Ressalte-se que essas terras
Castelo — também são filhas dessa tradição.
não foram, como muitos pensam, o depósito do que de pior havia
no Reino: criminosos e delinqüentes. Muitos vinham para cá com
profissão e disciplina, no sonho de uma oportunidade melhor para
viver. Gilberto Freyre aponta muito apropriadamente a origem
O NORDESTE PRODUZ AÇÚCAR: COMEÇA A
moçárabe e moura de parte dos que colonizaram nosso país: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
(embora, afinal de contas, ninguém soubesse mesmo o que é colônia), altos riscos operacionais (sem apoio por parte da sede,
que havia até chegar à linha divisória). Contrariamente às ou seja, do reino de Portugal), e o resultado era incerto: o objetivo
recomendações mais fortes do rei de Portugal, o donatário de poderia não ser alcançado; nada certificava a existência de
Pernambuco defendia que se assenhorar das terras, cobri-las grandes jazidas minerais preciosas.
com uma lavoura lucrativa e de venda certa, tornar-se proprietário Duarte Coelho Pereira já tinha sido militar — denominado
de uma unidade produtiva cíclica e estável, difundindo e o soldado afortunado —, viajado por diversas partes do mundo e
perpetuando os valores e a cultura portuguesa, podendo deixá- conhecido a colonização da Ilha da Madeira, onde havia engenhos
la de herança: essa sim é que, por certo, seria a melhor estratégia de açúcar... Sua idéia era transplantar o mesmo modelo para o
de enriquecimento e coesão social. Nordeste brasileiro, onde as terras, afortunadamente, nem eram
Adentrar os sertões procurando depósitos de metais e pedras tão aclivadas. Seu desafio foi provar que a empresa açucareira
preciosas requeria muita mão-de-obra (que nunca sobrava na era viável, lucrativa e estável.
A VIDA DE EMPRESÁRIO DO AÇÚCAR NOS A atividade prosperou com dificuldades em torno da área
morar dentro da própria empresa, criando relações sociais entre Já o donatário tinha mais poder de manobra em termos
serventes e servidos que se tornaram o molde mais fortemente políticos e econômicos. Ele podia sempre subestabelecer o direito
gravado na sociedade nordestina. Segundo Gilberto Freyre, sobre a terra que lhe era entregue pelo rei. As capitanias
hereditárias eram estabelecimento de uso para o donatário,
O escravocrata terrível, que só faltou transportar da África para a concedido pelo rei na tradição medieval de lealdades e de
América, em navios imundos, que de longe se adivinhavam pela inhaca,
honrarias distintas. Lotes de terras eram concedidas pelo capitão
a população inteira de negros, foi, por outro lado, o colonizador
europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. a pequenos e grandes “proprietários” (os sesmeiros), que ficariam
O menos cruel nas relações com os escravos. É verdade que, em à sua mercê, dividindo os trabalhos e garantindo a posse da
grande parte, pela impossibilidade de constituir-se em aristocracia
capitania. Quem recebia ficava devendo lealdade. Ao longo do
européia nos trópicos: escasseava-lhe, para tanto, o capital, senão
em homens, em mulheres brancas. Mas, independente da falta ou tempo, as relações sociais entre apaniguados, agregados e
escassez de mulher branca, o português sempre pendeu para o contato protegidos vão reproduzindo os mesmos princípios de favores,
voluptuoso com mulher exótica.
lealdade e usufruto de propriedades “indiretas”.
Freyre, 1999, p. 189.
1| ENGENHO DA MADALENA
Construído no século XVI por Pedro Afonso Duro, casado
com Madalena Gonçalves.
O bairro da Madalena originou-se desse engenho,
conhecido como Engenho da Madalena ou Engenho
Mendonça, por pertencer a João Mendonça, em 1630. No
fim do século XVIII, teve como proprietário João Rodrigues
Colaço e família, até ser extinto como engenho de açúcar.
A casa-grande, conhecida como Sobrado Grande da
Madalena, pertenceu ao Conselheiro João Alfredo de
Oliveira, no século XIX. Hoje, abriga o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.
2| ENGENHO DA TORRE
Fundado no século XVI, era conhecido como Engenho
Marcos André. Passou a ser chamado de Engenho da Torre
em alusão à torre da capela, do engenho, dedicada a Nossa
Senhora do Rosário.
O bairro da Torre originou-se desse engenho. Em 1653, os
holandeses dominaram o engenho e construíram uma
fortaleza para atacar o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus.
Com a derrota holandesa, em 1654, o engenho foi destruído.
Restaurado por seu proprietário, Antonio Borges Uchoa,
posteriormente pertenceu à família Rodrigues Campelo, até
ser extinto como engenho de açúcar. Hoje, no local da casa-
grande, funciona o Grupo Escolar Martins Júnior.
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