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A regra geral ensina que todo topônimo denotando a ligação entre a função prática dos canais que foram
originário de um acidente geográfico é construídos no Recife com seu caráter simbólico ao fazer lembrar
antecedido pelo artigo definido. Adverte a metrópole flamenga deixada pelos invasores em sua terra natal.
Gonsalves de Mello, antes citado:
A grande dificuldade da nova urbe era, porém, inegável: não
Porque se originou de um acidente geográfico havia ali água doce de boa qualidade para beber. Era necessário
— o recife ou o arrecife —, a designação do Recife
trazê-la de fora, basicamente de Olinda. A água vinha pelo istmo
não prescinde do artigo definido masculino: “o
Recife”, nunca “Recife”, e não “em Recife”,
*
NOTA DOS AUTORES: Este Maurício de Nassau que veio governar Pernambuco teve um
“de Recife”, “para Recife”. homônimo com o qual às vezes o confundem. O outro Maurício de Nassau era filho de
Guilherme, o Taciturno, e irmão de Frederico Henrique. Os dois irmãos foram capitães-
generais do exército dos Estados Gerais na luta pela Independência da Holanda contra a
Espanha. Esse outro Nassau morreu em 1625.
PARTE I | DOIS PROJETOS AMBICIOSOS | A NOVA HOLANDA |37
Ces collines que j’avais déjà saluée tão comuns por séculos a fio(!):
à Pernambuco comme une No século XVI, não se entrava facilmente à noite em Augsburgo.
apparition de la terre promise, je Montaigne, que visita a cidade em 1580, maravilha-se diante da “porta
falsa” que, graças a dois guardas, controla os viajantes que chegam
les retrouvai à Bahia e plus tard à depois do pôr-do-sol. Estes vão de encontro, em primeiro lugar, a uma
Rio de Janeiro, toujours inondées poterna de ferro que o primeiro guarda, cujo quarto está situado a
mais de cem passos dali, abre de seu alojamento graças a uma corrente
de lumières et des parfums. de ferro que, “por um caminho muito longo e cheio de curva”, puxa
uma peça também de ferro. Passado este obstáculo, a porta volta a
fechar-se bruscamente. O visitante transpõe em seguida uma ponte
Essas colinas que eu já havia coberta (...) e chega a uma pequena praça onde declina sua identidade
saudado em Pernambuco como e o endereço onde ficará alojado (...). O guarda, com um toque de
sineta, adverte então um companheiro, que aciona uma mola situada
uma aparição da terra prometida, numa galeria próxima ao seu quarto. (...) Para além da ponte levadiça
eu as encontrei na Bahia e mais abre-se uma grande porta (...). Através dela o estrangeiro tem acesso
a uma sala onde se vê encerrado, só e sem luz. Mas uma outra porta
tarde no Rio de Janeiro, sempre (...) permite-lhe entrar numa segunda sala onde “há luz” e lá descobre
inundadas de luzes e de perfumes. um vaso de bronze que pende de uma corrente. Ele aí deposita o dinheiro
de sua passagem. O (segundo) porteiro puxa a corrente, recolhe o vaso,
verifica a soma depositada pelo visitante. Se não está de acordo com a
Adolphe d’Assier, viajante francês, 1867. tarifa fixada, ele o deixará “de molho até o dia seguinte”. (...) Detalhe
ExposiçãoLe Brésil Contemporain, Paris,
importante (...): sob as salas e as portas, existe “um grande porão
2005.
para alojar” quinhentos homens de armas com seus cavalos, no caso
de qualquer eventualidade. Se for o caso, são enviados para a guerra
“sem a chancela do povo da cidade”.
Delumeau, 1997, ps. 11 e 12.
Sobrados magros,
no Bairro do
Recife.
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Quem perde cinco xelins não perde só essa quantia, mas tudo o que
com ela poderia ganhar aplicando-a em negócios — o que, ao atingir
o jovem uma certa idade, daria uma soma bem considerável.
Weber, 2004, pp. 43 e 44.