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A colonização portuguesa na América estrangeiros.

Deveria ainda fazer cumprir o monopólio real do pau-


brasil e do comércio colonial. Apesar de seus amplos poderes
 Exploração do pau-brasil administrativos, o donatário era um mandatário do rei, e não um
senhor com autonomia total.
No primeiro contato com as terras americanas, os
portugueses não encontraram os metais preciosos que tanto A capitania que mais prosperou foi a de Pernambuco,
cobiçavam, como informou Pero Vaz de Caminha em carta ao rei seguida da de São Vicente. Quase todas as outras fracassaram.
de Portugal e nem tampouco especiarias com grande aceitação na Algumas porque não foram ocupadas pelos donatários e outras
Europa, como as africanas e orientais. devido à resistência indígena. Diante disso, em 1549 o governo
português estabeleceu um Governo-Geral para administrar a
Portugal mantinha seus recursos voltados para o
colônia, com sede em Salvador.
comércio oriental, deixando a colônia americana, por alguns anos,
numa posição secundária, pois ainda não havia encontrado aqui  Governo-Geral
metais preciosos nem produtos similares aos do rentável comércio
afro-asiático: ouro, marfim, especiarias, porcelanas, seda, algodão, O governador-geral tinha muitos poderes, mas também
escravos, entre outros. A única preocupação com o território muitas obrigações: deveria neutralizar a ameaça constante dos
recém-conquistado era garantir sua posse, enfrentando as contínuas indígenas, combatendo-os ou aliando-se a eles; reprimir os
investidas de outros países europeus. corsários; fundar povoações; construir navios e fortes; garantir o
monopólio real sobre o pau-brasil; incentivar o plantio de cana-de-
A única matéria-prima que, de imediato, interessou a açúcar; procurar metais preciosos; e defender os colonos. Seus
Portugal foi o pau-brasil, árvore que crescia por quase todo o auxiliares, encarregados das finanças, da defesa do local e da
litoral. Existente também na Ásia, o pau-brasil já era conhecido na justiça eram, respectivamente, o provedor-mor, o capitão-mor e o
Idade Média pelos europeus, que utilizavam seu corante para tingir ouvidor-mor.
tecidos.
Para o cargo de primeiro governador do Brasil, Dom João
A derrubada das árvores de pau-brasil era feita pelos III nomeou Tomé de Souza, que recebeu do rei poderes
nativos, que recebiam em troca objetos como espelhos, miçangas, pertencentes aos donatários. Ele chegou à Bahia em 1549,
pentes, pedaços de pano. Esse sistema de pagamento sem uso de acompanhado de cerca de mil pessoas: um arquiteto, vários
moedas consiste, na verdade, em uma troca conhecida como pedreiros, carpinteiros, degredados, funcionários, soldados e
escambo. jesuítas. Deu início à construção de São Salvador, primeira capital
do Brasil.
Outros países europeus estavam interessados no pau-brasil.
O principal deles era a França, que enviou diversas expedições Duarte da Costa (1553-1558), o segundo governador do
destinadas a explorar a madeira. Rejeitando o Tratado de Brasil, veio com a missão de solidificar o domínio português sobre
Tordesilhas, a partir de 1504 os franceses começaram a organizar a Nova Terra, combater os franceses e catequisar os indígenas e/ou
expedições para as terras da América que Portugal considerava esmagar sua resistência. Em 1555, um grupo de huguenotes, com o
suas. Uma vez que o litoral era muito grande e difícil de ser apoio do rei da França, fundaram uma colônia comercial com o
vigiado. nome de França Antártica, na Baía de Guanabara.
Apenas trinta anos depois da chegada de Cabral os Mem de Sá (1558-1572) empenhou-se também em apoiar
portugueses se dedicaram a colonizar o território da América. O os jesuítas nas tarefas de aldear e converter os indígenas e pediu à
comércio português com o Oriente entrou em crise, reduzindo os metrópole reforços para combater a colônia francesa instalada no
lucros de Portugal. Além disso, invasões de outros povos europeus Rio de Janeiro.
ameaçavam a posse da Colônia. A primeira expedição colonizadora
foi comandada por Martim Afonso de Souza, que chegou em  A economia açucareira
1531.
O produto escolhido para dar início à colonização foi o
Martim Afonso de Sousa partiu de Lisboa no dia 3 de açúcar de cana, especiaria de elevado valor na Europa. A partir daí
dezembro de 1530, no comando de uma frota composta por cinco construíram-se vários engenhos, especialmente no Nordeste, onde a
embarcações e mais de quatrocentas pessoas. Entre suas missões no cana encontrou solo e clima favoráveis ao seu cultivo.
Novo Mundo estavam: capturar embarcações estrangeiras
envolvidas no tráfico de pau-brasil; estabelecer feitorias e criar A produção de açúcar voltava-se especialmente para a
núcleos de povoamento. Em 22 de janeiro de 1532 fundou a vila de exportação. No entanto, a chamada cultura do açúcar movimentou
São Vicente, no litoral sul do atual estado de São Paulo. Martim um mercado interno e gerou hábitos alimentares, técnicas de
Afonso de Souza trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar da produção e consumo dos derivados do açúcar (como o melado, a
ilha da Madeira e instalou o primeiro engenho da colônia em São rapadura e a cachaça), e marcas permanentes na cultura material
Vicente, no ano de 1533. brasileira, como os utensílios, máquinas e locais destinados ao
beneficiamento da cana-de-açúcar.
 Capitanias hereditárias
O sistema adotado para a exploração do açúcar foi a
Navios franceses continuavam a assediar o litoral da plantation − grande propriedade monocultora voltada para
colônia portuguesa. Diante dessa situação, o rei português dom exportação, em que era usado o trabalho escravo. Os portugueses
João III percebeu que para colonizar as novas terras não bastava exportavam o açúcar produzido por meio de uma rede comercial
simplesmente fundar vilas. Seria necessário adotar outro regime de com os flamengos e os holandeses, que distribuíam o produto na
colonização. O modelo escolhido foi o das capitanias Europa.
hereditárias. As primeiras capitanias foram doadas em 1534, a
homens que tinham prestado serviços ao Império Português. O responsável pela produção açucareira – o senhor de
engenho – tinha enorme prestígio social. Era um tipo de “nobre da
Tratava-se da doação de largas faixas de terra aos capitães- terra”, um membro da “açucarocracia”.
donatários, regulamentada pelas Cartas de Doação e forais. O
donatário deveria colonizar a capitania, fundando vilas, e proteger Um grande engenho chegava a ter cerca de 5 mil
a terra e seus colonos contra os ataques dos nativos e de moradores. Era constituído de áreas florestais, fornecedoras de
madeira; plantações de cana; a casa-grande: residência do
proprietário, de sua família, dos agregados e sede da administração;
a capela; e a senzala, alojamento dos escravos. Uma área era
destinada à lavoura de subsistência, com mandioca, milho, etc. A
moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar formavam a fábrica
do açúcar, o engenho propriamente dito.

A relação econômica entre a metrópole e a colônia se


caracterizou pela exportação da produção (inicialmente o açúcar) e
importação de artigos de luxo, para sustentar a opulência dos
senhores de engenho do Nordeste. Os senhores mandavam vir
roupas, alimentos e até objetos decorativos da Europa.

Durante o século XVI e início do século XVII, o Brasil


tornou-se o maior produtor de açúcar do mundo; ele foi o
responsável pela riqueza dos senhores de engenho, da Coroa e de
comerciantes portugueses. Mas foram sobretudo os holandeses que
mais se beneficiaram com a atividade açucareira. Responsáveis
pelas etapas de refinação e comercialização, eles ficavam com um
terço do valor do açúcar vendido. Uma vez refinado em Flandres, o
açúcar era comercializado na Europa por holandeses e portugueses.

 Escravidão

No início do período colonial, a escravidão indígena foi a


alternativa temporária do colonizador, que, em pouco tempo,
embarcou no lucrativo negócio do tráfico negreiro, tornando o
comércio de cativos em várias regiões da África parte essencial do
projeto colonial. Esse comércio garantia altos lucros para a
metrópole e o fornecimento de mão de obra abundante para as
lavouras na Colônia.

O trabalho escravo não era empregado apenas nas lavouras


de cana-de-açúcar. Na casa-grande, havia a presença marcante de
escravos domésticos; nas vilas e cidades, os escravos de ganho
vendiam produtos ou realizavam trabalhos temporários, revertendo
os lucros para o patrão.

A colonização portuguesa na América foi conduzida pela


Coroa e pela Igreja católica desde a chegada de Pedro Álvares
Cabral e seus homens às terras que os Tupi chamavam de
Pindorama. A presença católica nesse momento foi marcada pela
Primeira Missa no novo território, celebrada por frei Henrique de
Coimbra em 26 de abril de 1500.

Para melhor se comunicar com os nativos, os padres


aprenderam a língua e a cultura dos Tupi, incorporando-as à
liturgia católica. A partir de 1557, os jesuítas e outras ordens
religiosas organizaram aldeamentos conhecidos como missões ou
reduções, aldeias rigidamente controladas, nas quais, além de
catequizados, os indígenas eram submetidos aos hábitos europeus e
ao trabalho obrigatório e disciplinado. Como se dizia na época, era
necessário dar-lhes “lei e rei” para que chegassem à fé em Cristo e
à obediência ao Estado português.

Embora fossem contrários à escravização dos nativos, os


jesuítas também contribuíram para a desestruturação de suas
sociedades, pois os indígenas catequizados abandonavam suas
aldeias para viver nas missões, onde não lhes era permitido realizar
seus rituais.

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