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O
grupo que discute um
Pernambuco independente do
resto do Brasil nas redes
sociais surgiu de um morador da cidade de
Newark, nos Estados Unidos, a seis mil
quilômetros de distância do Recife. O
professor de artes marciais Jonas Correia
começou a pensar em separatismo ao perceber
uma diferença cultural entre os pernambucanos e os brasileiros de outros
estados.
“Há muitos imigrantes aqui e nós não nos parecemos com eles. A
culinária, os hábitos, o modo de encarar o dia a dia, a forma de falar e
até a personalidade é diferente. Fui me afastando da definição de
‘povo brasileiro’ principalmente porque não gostava que pensassem
que eu fazia de um povo com o qual não me identifico”.
Jonas criou o grupo Pernambuco Independente, que conta com a adesão de 1,3
mil pessoas e passou a avaliar o cenário de uma eventual autonomia do estado. Com
encontros virtuais, os membros concluíram que os fatores geográficos e políticos são
os grandes propiciadores da corrupção. “Os poderes estão distante de nós, com
pessoas que não representam nossos interesses e legislam em função de algo que
também está longe. Com o poder central próximo, podemos cobrar e fiscalizar com
mais facilidade”, opina Correia. “As leis seriam criadas por pessoas que conhecem
Pernambuco e suas necessidades.”
Para o Pernambuco Independente, a transição de um governo para outro seria
um processo longo, mas não há uma fórmula a seguir. Ações concretas não foram
debatidas, como também pela maioria dos movimentos que buscam a autonomia de
seus estados.
Uma ação concreta, de acordo com o professor de Direito Constitucional da
Aeso Barros Melo João Paulo Allain, seria juridicamente inviável. “A constituição
apresenta o direito fundamental à liberdade de expressão e não há ilegalidade em
discutir o assunto. Mas essa mesma constituição contém uma cláusula pétrea que diz
que a União é indissolúvel”, lembra o professor. “O governo federal pode inclusive
intervir contra um estado que esteja adiantado na busca por autonomia e diminuir os
poderes dele até que seja retomado o pacto entre federativo.”
Uma nação nordestina
P
ernambuco está inserido ainda em
outra proposta de autonomia em
relação ao Brasil. Em 1991, alunos do
mestrado de economia da UFPE, liderados por
Jacques Ribemboim, deram início a discussões sobre
os prós e os contras de um país Nordeste autônomo
com o Grupo de Estudos Sobre um Nordeste
Independente (Gesni). Ao contrário do movimento
Pernambuco Independente, os acadêmicos passaram
a pensar no assunto a partir de uma motivação econômica. Eles entendiam que a
região é historicamente explorada por outras, em especial, o Sudeste.
Ribemboim faz questão de deixar claro que não acredita que o Sudeste é
responsável pelas mazelas do Nordeste. “Os problemas existem por causa de uma
elite incapaz de se engajar nas mudanças sociais.” Além da motivação político-
econômica, o grupo estudou também outros motivos para a autonomia da região.
A cultura nordestina, por exemplo, é vista como própria e facilmente identificável.
“O nordestino se sente um estrangeiro quando viaja para outras regiões. E o pior é
que nos sentimos inferiores pelo preconceito que sofremos e pela maneira de
como nos tratam.”
O economista não tem intenção de desenhar mapas e bandeiras ou pensar em
hinos para um novo país, mas acredita que os estados da Bahia e do Maranhão não
deveriam fazer parte do país Nordeste, caso ele viesse a existir. “Há poderes muito
fortes nesses locais, que poderiam reproduzir com força a ideia do neocolonialismo
no novo país. Essa estrutura talvez seja impossível de acabar, mas sem poderes
concentrados – como os que há nesses dois estados -, as consequências, sem
dúvidas, seriam menores.”
Na prática, um Nordeste Independente está
muito distante de existir, mesmo para os seus
simpatizantes. Ainda também não aparecem em
grande quantidade. No Facebook, comunidades
que desejam a separação do Nordeste (com Bahia
e Maranhão) têm 2,5 mil e 2,8 mil participantes.
De acordo com o presidente do Gesni, é preciso
amadurecer a ideia e analisar com cautela a forma
de levá-la adiante, para não ferir a constituição. Em 2002, ele publicou o livro
Nordeste Independente pela editora Bagaço, que vendeu, de acordo com o próprio
autor, mais no Sul e Sudeste do país que no Nordeste.
O Sul é o meu país
Nas redes, o desejo também é refletido. Há várias páginas com o título, por
segurança – caso uma ou outra seja tirada do ar -, e a maior tem mais de 100 mil
pessoas. Filiados “formalmente” ao movimento são 30 mil. Ao contrário dos
movimentos do Nordeste, o Sul é o meu País tem um planejamento detalhado de
como será a nova nação. “Prevemos três grandes choques com a mudança do nosso
sistema para um modelo municipalista baseado no que acontece na Suíça”, explica
um dos líderes, o jornalista Celso Deucher.
ideia dos membros é
Um santo país