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A AGRO-MANUFATURAAÇUCAREIRA

(OU ENGENHO OU BANGUE OU BAGACEIRA)

CASA POM A R
GRANDE
CURRAL CAPELA

SENZALA
PASTAGENS
OO GADO
DE QUINTAL

MOENDA
(CASA DO ENGENHO) COLONIA DOS TRA-
BALHADORESLIVRES

4. A Companhia dos holandeses


No início do século XVII, pouco restava da Zona da Mata nordestina,e bra-
sileiro não era mais um simples comerciante de pau-brasil.Grandes plantações de
cana-de-açúcaresverdeavamde maneira uniforme o litoral da Paraíba até Sergipe,
além do Recôncavo Baiano. Já existiam mais de 200 engenhos! Adaptandose
muito bem ao solo massapê e ao clima tropical, o açúcar, bastante valorizado na
Europa, garantia lucros para seus produtores e mercadores. Na Bahia, a produção
do tabaco ligava-seao tráfico negreiro, sem o qual não se produziria nada. Mesmo no
Rio de Janeiro — Campos dos Goitacazes, Angra dos Reis e Parati —os canaviais
surgiram.Por todo canto, os engenhos: movidos pela água, os reais, ou pela tração
animal.
Conhecido na Europa desde as Cruzadas, com valor de especiaria, o açúcar
era usado na feitura de remédiose como moeda, herança e dote de casamento, .
No século XV os portugueses desenvolveramsua produção nas ilhas do Atlântico,
ganhando experiência.
Montar uma fazenda de açúcar requeria muito capital: a -maquinaria dQS_
engenhos era importada Quem financiava
a compra dessesinstrumentos e dos escravos,uma vez que a burguesialusa estava
em decadência? A burguesia flamenga. E eram as urcas dos batavos que transporta-
vam as caixas do produto para o mercado europeu. Os "carreteiros do mar
mo eram chamados os comerciantes holandeses e distribuíam o
mascavo pelo Velho Mundo. É por isso que se diz que a empresa açucareira é muito
mais holandesa do que
Que era a Holanda? Os Países Baixos atuais Holanda, Bélgica e parte do nor-
te da França dominados pela Espanha feudal, iniciam em 1572 a luta pela auto-
nomia. Sete provínciasdo Norte (compondo a União de Utrecht), entre as quais a
Holanda; onde predominavaa burguesia comercial, resistem à repressão de Feli-
pe II e proclamam em 1581 a República das Províncias Unidas, cujo principal centro
era Amsterdam, importante núcleo mercantil do mundo moderno desde a
destruição de Antuérpia por forças espanholas.
A Espanha feudal e católica vai procurar, por todas as formas; impedir a con-
solidação da autonomia da antiga União de Utrecht.
Para tanto, a União das MonarquiasIbérica 158 640 será um instru-
mento importante. "Portugal, Io heredé, Io compré y Io conquisté!" disse Feli-

PARTE 1:A COLONIA


pe II. Neto de Dom Manuel I, ele se dizia com direitos ao trono luso. Essa União tem
o apoio da classe feudal e da burguesiamercantil portuguesas:interessesnos me-
tais preciosos, que lhes chegavamatravés do derecho de asiento, isto é, o direito
de vender —com exclusividade —escravos africanos nas colónias espanEAs tro-
pas do Duque de Alba invadem,Portugal, tirando o trono das mãos do Cardeal
Dom Henrique. O mais importante: para a Espanha, essa aliança significavao
bloqueio económico dos Países Baixos rebelados, que estariam impedidos, a partir
daí, de comerciar nos portos portugueses de todo mundo.lQ-lm.péIi0espanhol cres-
ceu, parecendo asfixiar a República
da burguesia holandesa foi imediata e continuada: financiando cor-
sários para atacar comboios e destruir o bloqueio No Oriente, as_
violências cometidas pelos portugueses favoreceram a aliança dos poderosos locais
com os batavos: assim, em 1595, frotas da República das ProvínciasUnidas atin-
giam as Molucas. Preocupados em garantir seu comércio, os holandesespreferem
atuar de forma mais organizada,e criam, em 1602, a Companhiadas Indias Orien-
tau, responsável pela tomada de colónias espanholasno Oriente, como a Malásia.
Companhias privilegiadas, com poderes quase soberanos, interessadas no comércio
ocidental, reúnem-se em 1621, na Companhia das Ihdias Ocidentais, após a Trégua
dos Doze Anos pedida pelos espanhóis. Essa companhia, dirigida pelo Conselho
dos XIX, será responsávelpor ações bélicas e mercantis no litoral oriental da Amé-

rica do Norte --- onde, em 1631, é fundada Nova Amsterdam, atual Nova Iorque
pela ocupação das Antilhas, do litoral ocidental da África e do litoral nordeste do
Brasil
se estenderá até meados do século XVII quando a Holanda aparece
como a maior potência comercial e colonial da Europa O Tratado de Vestfália,de
1648, reconhece a independência da República das Províncias Unidas, franqueando
os portos espanhóis aos holandea
Os objetivos da Companhia das Ilidias Ocidentais em relação à terra do açú-
car —iZulkerland — foram definidos numa publicação de 1624, de autoria de
Jan Andries Moerbeeck:Motivos por que a companhia deve tentar tirar ao rei de
Espanha a Terra do Brasil Lista de tudo que o Brasil pode produzir anualmen-
te. [Preocupados principalmente em romper o monopólio ibérico, os holandeses
definiam seu interesse principal: recuperar o comércio que tinham desenvolvido
até o estabelecimento da União Ibérica. ao haveria interferência na produção. As
propriedades e, conseqüentemente, a classe dominante colonial, permaneceriam in-
transferir a renda da circulação das mercadorias para a Holanda,
retirando-a da Espanha. Importava transferir a renda dos impostos sobre a exporta-
ção para a companhia, retirando-a da Coroa e da I!E)
A primeira tentativa de ocupação deu-se na capital da colônia.fMg_eÓgggkJ
dissera que "apoderar-se desse país consiste, somente, em tomar duas cidades"
Julgava-seque o controle do centro administrativofacilitaria o domínio sobre todo
fun-
o território: 26 navios e 500 canhões dominam rapidamente a cidade
Men-
dada por Tomé de Sey_ôNesse mesmo ano de 1624, o governador, Diogo de
donça Furtado, foi enviado para Amsterdame seu substituto, Johan Van Dorth,
lançou um manifesto garantindo a vida e a propriedade dos habitantes.
onde
LNada surtiu efeito. Estimulados por uma propaganda anti-holandesa,
resistem Orga-
o dado religioso conclama à luta contra os calvinistas,os colonos
sob a 1 erança
nizam-se as Mill'cias dos Descalços (ou Companhias de Emboscada),
Teixeira. Este, vestindo hábito de
de senhores de engenho e do bispo Dom Marcos
homens para o combate contra o "invasor
penitente, arregimenta mais de 2 000
índios em processo de aculturação e bran-
infiel". A ideologia empurrava escravos,
UNIDADE II: O INFERNO DOS
cos pobres a lutar ao lado de seus senhorescontra aquele que se tornara o "inimi-
go comum".
Até Van Dorth foi morto numa emboscada. Com poderio bélico menor, mas
usando o fator surpresa e o conhecimento da região, os luso-brasileirosisolam os
holandeses em Salvador.
da esquadra conhecida como Jornada dos Vassalos,comandada
pelo Marquês de Villanueva de Valdueza, Dom Toledo Osório, provoca a rendição
dos holandeses, a 1.0 de maio de 1625. Durara menos de um ano a primeira tentati-
vá da Companhia das Índias Ocidentais.

32 —PARTE 1:A COLONIA


Em 1630 os holandeses empreendem
novo esforço de conquista no Nordes-
te. Uma esquadra com 70 navios
chegou ao Recife, após uma longa prepara-
ção, para a qual muito contribuíramos
recursosobtidos dois anos antes por Piet
Heyn, no ataque ao comboio anual dos
espanhóis (a Esquadra de Prata) na bafa
de Matanzas, em Cuba, e no saque a engenhos
do Recôncavo Baiano. Os planos
da companhia eram os mesmos:"nesta batalha do
açúcar,não somos nós, holan-
deses, que queremos queimar a cana. E quando tal
acontece, como vem acontecen-
do, quem mais sofre é o plantador —que é sempre um
português —,porque até a
baixa na nossa bolsa o afeta diretamente no preço de compra do que sobra."
(B UARQUEDE HOLANDA, F. e GUERRA, R., 1973, p. 6)
ais uma vez, a resistência.Centralizadano arraial do Bom Jesus, sob a di,
reção atias de Albuquerque e utilizando a tática de guerrilhas. Já mais expe-
rientes, os holandeses não se deixam bater, conseguindo,entre os habitantes locais,
aliados importantes. Homens que acabaramentrando na história como traidores,
como DorningosFernandes Calabar.Sua traição foi ter escolhido o domínio ho-
landês em vez do
A companhia leva vantagens: conquista o Rio Grande e a Paraíba. Muitos
escravos percebem que defender os seus senhores é defender sua perene escraviza-
ção e aproveitam a guerra para fugir, atendendo ao grito de Palmares: foi durante
essa fase inicial da ocupação holandesa de Pernambuco que o quilombo mais cres-
ceu. Em 1634, a companhia lança novo manifesto, prometendo liberdade de re-
equiparação perante a lei, garantias de vida e propriedade, isenção do servi-
ço militar. Promessasde efetivaçãodas instruções trazidas: "no caso em que os
habitantes se submetessemà rendiçãopronta e rápida, suas vidas e seus bens seri-
am salvos, e a liberdade de consciêncialhes seria garantida, contanto que prestas-
sem juramento de fidelidade às autoridades neerlandesas.A companhia comprome-
tia-se a protegê-los, a exercer boa política e a aplicar ajustiça. Da sua parte, os por-
tugueses deviam comprometer-se a conservar seus engenhos de açúcar e suas plan-
taçóes de cana'}áGARClA, R., 1956, p. 166)
A rendição não foi pronta e rápida, mas acabou ocorrendo. Pouco a pouco os
proprietários aceitaram a presença holandesa.Afinal, também a eles o que mais
interessava era vender sua produção. O inimigo invasor foi virando amigo de negó-
cio E as condições de permanência na luta eram péssimas para os luso-brasi-
leiros: a companhia já dominava a extensa faixa litorânea, de Alagoas ao Rio Gran-
de do Norte, e emperravaas exportaçõesde açúcar e o desembarquede reforços,
além da compra de produtos europeus e escravos africanos. E exigia a paz.

"E se a lição foi aprendida


a vitória não será vã.
Neste Brasil holandês,
tem lugar para o português
e para o Banco de Amsterdam."

(BUARQUEDEHOLANDA,F. e GUERRA, R., 1973, p. 7)

É a fase de acomodação da administração do Conde João Maurício de Nassau,


entre 1637 e 1644. Os grandes proprietários recebem créditos da Companhia das Ín-
dias Ocidentais e podem assim reaparelhar seus engenhos, recuperar suas plantações
e comprar mais escravos.Estes, por sinal, ganham um dia de descanso por sema-
na . . . Os engenhos não reocupados foram confiscados e vendidos em leilão: surge
um setor de classe dominante bastante vinculado aos holandeses. Nassau, habilmen-

UNIDADE II: O INFERNO DOS NEGROS —


política, permi-
te, procura também estabelecerum clima de tolerância religiosae
proprietários nas
tindo cultos católicos e judeus e favorecendoa participação dos
à maneira holandesa.
Câmaras dos Escabinos, representação municipal estruturada
"Nós, flamengos, dobramos a espinha do poderio marítimo lu-
ti-
so-castelhano e rompemos o monopólio de especiarias das Ilidias que
através
nha sido entregue por encíclica papal. Isso só nos foi possível
menta-
dos nossos Estados Gerais, da Companhia das Ilidias e da nova
lidade religiosa que nos trouxe a Reforma Protestante, libertando-nos
da autoridade da Igreja Católica. Mas mesmo assim não vim trazer
uma política de repressãoReduzirei os impostos. Abrirei crédito para os
lavradores. Garantirei a portugueses e brasileiros igualdade de direitos
com os súditos das Províncias Unidas. E os moradores que, por desgra-
ça de guerra, tiverem perdido suas casas e plantações, têm a minha
autorização para reocupá-las." (BUARQUEDE HOLANDA,F. e GUER-
RA, R, 1973, p. 52)
O holandês, um comerciante, fica no porto: Recife cresce, remodela-se,
recebe astrónomos, estudiosos da flora e da fauna, artistas. Em 1640, com o
fim da União Ibérica, Dom João IV, da casa de Bragança, faz a paz com a
República das Províncias Unidas. Ferindo o estabelecido na trégua —
ampliação de domínios — a Companhia das Ilidias Ocidentais conquista Sergipe
d'El Rei e Maranhão,ocupando, na África, São Paulo de Loanda e a ilha de São
Tomé, na Guiné.
Envolvidaem disputas internacionais, a Holanda procura explorar ao máximo
sua colónia no Nordeste. Aumento dos impostos sobre o açúcar, altos preços dos
fretes e exigência de pagamentos dos empréstimos: eis a nova orientação da com-
panhia. Nassau reage, conforme revela seu Testamento Político, defendendo os
senhoresde terras e de escravos: "em relação aos lavradores e aos senhores de
engenho, convém proceder com mais brandura, examinando-lhesos frutos nos
comcçosdas safras e concordando com eles sobre a parte que hão de entregar, no
que se usará de moderação, de modo que eles não fiquem inteiramente privados dos
meiosnecessáriospara porem a moer os engenhosno ano seguinte". Divergindo
da companhia, retoma à Holanda.
A nova olítica vai rovocar a revolt dos ro rietários ferid em seu
valor mais precioso: a propriedade. O início do confisco de terras, por parte
da companhia,corresponde à rearticulação da resistência. Uma população pobre,
exaltada pela classe dominante para combater o inimigo e que prosseguiu lutando
ingloriamente,mesmo durante o período de acomodação, vê de novo, ao seu lado,
os seus senhores. Conforme diz o samba de Martinho da Vila:

"Aprendeu-se a liberdade
Combatendo em Guararapes
Entre flechas e tacapes, facas, fuzis e canhões
Rrasileirosirmanados, sem senhor e sem senzala".

-1
Se a liberdade foi aprendida e a fraternidade entre os brasileiros perdu-
rou, é discutível, mas os holandeses acabaram sendo expulsos. Lideradas por João
Fernandes Vieira, antigo amigo dos flamengos, tropas formadas por escravos, índios
e brancos forçam os holandeses a assinar a Rendição da Campina da Taborda, em
1654. I surreição Pernambucana stava vitoriosa.
Este fato so tem conseqüênciasdiplomáticasem 1641, com a assinatura da
Paz de Haia: através dela, a República das Províncias Unidas aceita o domínio por-
tuguês sobre o Nordeste e sobre Angola, mantendo em seu poder as colónias orien-
tais e recebendo uma indenização de 4 milhões de cruzados.
Agindo como mediadora, a Inglaterra obteve grandes vantagens em relação a
Portugal, a quem passava a dominar. A aliança entre os Stuart e os Bragança,
celebrada no Tratado de Paz e Casamento, determinava que Portugal entregaria
Tânger e Bombaim à Inglaterra, além de permitir que quatro mercadores britâ-
nicos residissemem praças portuguesas da Índia. A princesa Catarina, casando
com o rei Carlos II, levava um dote de 2 milhões de cruzados, e a Inglaterra se
comprometia a agir de acordo com as conveniências de Portugal e seus domínios.
Após a saída dos holandeses,o Brasil é confirmado como a mais importante
colônia portuguesa. Isso vai implicar o arrocho do sistema colonial. Dom João
IV, o rei da Restauração,já tinha dito que éramos a "vaca de leite" da monar-
guia
Para melhor estruturar as práticas do pacto colonial, fora criado, em 1642
Conselho Ultramann . Dom João justificava a medida "pelo estado em que se
acham as coisas da dia, do Brasil, de Angola e demais conquistas do reino, e
pelo muito que importa conservar e dilatar o que neles possuo e recuperar o que se
perdeu, antes que os danos que ali tem padecido esta Coroa passem adiante" ugL
o conselho proíbe embarcações não-portuguesas de comerciarem nas colónias e
as naus saídas daqui de pararem em portos de outros países
Na segunda metade do século XVII, a produção açucareira vai sofrer o seu
primeiro grande abalo: os holandeses, valendo-se da experiência adquirida aqui,
montam áreas concorrentes na Guiana e nas Antilhas francesas e inglesas, onde

UNIDADE II: O INFERNO DOS NEGROS —35


técnica e realizam comércio, produzindo um genero de melhor
fornecem ajuda
qualidade e a preços mais baixos.
crise é agravada pela queda geral dos preços de açúcar na Europa, relacio-
Essa
mineradora na América Espanhola.
nada com a diminuiçãoda produção
os primeiros atritos entre a classe do-
Tudo começavaa mudar, e já surgiam
representadas no Estado português
minante colonial e as classesdominantes
PERÍODO COLONIAL
A ECONOMIAAÇUCAREIRA NO

Situação Área Fatores


Época
aumento dos preços
Nordeste: de aumento do consumo vertical
Domínio da Pernambuco ao (das elites européias)
A partir do final
produção Recôncavo -- limitação da produção das ilhas do
,do século XVI
mundial Baiano Atlântico
declínio da produção nas Antilhas
Espanholas

declínio da mineração na América


Espanhola: processo deflacionário
De meados do c queda dos preços
século XVII até concorrência holandes,a (Antilhas c
Declínio Nordeste Guiana)
primeira metade
do século XVIII diminuição das importaçôcs na
Europa: expansão das práticas
"colbertistas"
descobrimentodo ouro em Mina«

novo Diet'cado-consumidor nas


áreas mineradoras da colónia:
"renascimento" agrícola
política de Pombal: instalação de
Segunda metade Nordeste refinarias em Portugal e fundação
do século XVIII Recuperação das Companhias de Comércno do
Rio de Janeiro Grão-Pará & Maranhão e Pernam•
buco & Parama
queda da produção nas colÓnias
francesas da América, em função
de levantes de escravos

5. Salvando esta gente


"Ora pru nobis santa dei genitriz
Oremos gracia tu quésu
Era oração, era reza. Há uns quarenta anos que eu digo essas palavra.
Que já via meu pai dizê-las.Antes eu dizia e ficava satisfeito. Agora,
quando peguei a entendê que a gente deve sabê o que é o que diz,
separei-me de dizê. Peguei a achá mais que o home só devia dizê as
coisa quando soubesse o que dizia. Coisa que sinta mesmo, coisa que
é da vida."
Este é o depoimento de um camponês do Agreste pernambucano, contem-
poràneo nosso, tirado do filme Õ Xente, PoisNão. O que ele diz é muito interessan-
te para a gente percebera formação religiosatradicional do Brasil e a tomada de
consciência do vazio dessa educação.

36 —PARTE 1:A COLONIA


O que talvez o camponês não saiba é que as raízes desseprocessoexistem
não apenas há 40 anos, mas há mais de quatro séculos!Precisamente,desde que
os primeiros portugueses aqui chegaram. Terminando sua longa carta, Caminha
sugeria ao rei que "o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será sal-
var esta gente e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve
lançar"
O Estado absolutista português atuava em estreita ligação com a Igreja Cató-
lica. É impossível imaginar a expansão marítima sem a conciliação de interesses en-
tre a burguesia mercantil, a nobreza feudal, o Estado e a Igreja.Camões,no seu
Os Lusíadas, cuja primeira edição data de 1572, preocupa-se em exaltar as memó-
rias
"Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando".

O império crescia junto com os canaviais, os engenhos e o tráfico negreiro.


E para dilatar a fé aqui chegaram,com Tomé de Sousa, em 1549, os primeiros
realizar uma
jesuítas. Chefiados por Manuel da Nóbrega, eles se dispunham a
com a cisão na
tarefa definida pela Contra-Reforma:recuperar os fiéis perdidos
vasto campo para
Igreja Católica. O Brasil, com sua grande população nativa, abre
católicos. O Deus que con-
esse esforço. A ca equese se incumbirá de formar novos
por eles, colonizado-
ta é o dos europeus; o caminho da santidade só é conhecido
res desse mundo "bárbaro".
os seus aspectos.
Esse catolicismo marcou a sociedade brasileira em todos
escreveu ao rei pedindo
Preocupado com os amancebamentos ilícitos, Nóbrega
aumentar a população no ser-
mulheres, "até meretrizes, para evitar pecados e se
viço de segun-
na tarefa de educação, os jesuítas fundam colégiosjá na
de Salvador, dos Meninos de Je-
da metade do século I da colonização: é o caso do
vila de Piratininga.
sus, e do de São Paulo, que dará nome composto à
jesuítica: aulas de ler,
Nessas precárias escolas desenvolvia-se a pedagogia
curumins mais avançados.
escrever e contar para os filhos dos colonos e para os
de que .com sangue a letra en-
Castigos corporais, dentro do princípio medieval
pelo lavrador pernambucano.
tra". Orações em latim, como a recitada há 40 anos
tudo isso nos parecer irracional,
Provas no final da semana, as sabatinas. Apesar de
intelectual na colônia. Es-
a Com anhia de Jesus era o único veículo de trabalho
novos "soldados de batina"
sas práticas visavam difundir a fé católica e conquistar
pesada, dispensava a reflexão.
O dia-a-dia, a produção económica, trabalhosa e
Estudo e vida eram coisas bem distintas.
O escravo afri-4--—
O zelo dos missionários dirigiu-se sobretudo para os
Segundo a ideologia
cano não sofria nenhum processo especial de evangelização.
divina.
dominante, ele cumpria nos seus trabalhos compulsórios a vontade
predo-
Essa explicação ajustava-secomo uma luva aos interesses económicos
tráfico inter-
minantes na época: afinal, escravizar o nativo local não permitiria o
da
continental e os lucros que esse comércio gerava. Sendo um negócio interno
Além do
colónia, a escravidão indígena não favoreceria a acumulação de capital.
de la-
mais, ao contrário dos africanos, os índios do.Brasil não tinham experiência
conve-
voura sedentária nem conheciam a metalurgia ... Assim sendo, eram menos
nientes como escravose, por isso, não era tão difícil defendê-los, exceto em áreas
onde o negro era pouco utilizado ou em situações de crise no tráfico africano.
Igreja e Estado continuavam a ser bons amigos ...
UNIDADE 11:O INFERNO DOS NEGROS —37
Com o espírito da Contra-Reforma, os padres da Companhia de Jesus e tam-
bém franciscanos, carmelitas e mercedários rompem o sertão e se estabelecem em
pontos longíquos do território. organização das missões é bem original: procura-
sé respeitar a organização tribal e vão-se introduzindo, pouco a pouco, os princí-
pios religiosos e os interesses econômicos.
O excedente de produção, que crescia com o estímulo dos sacerdotes e
em função de seus interesses, era apropriado pelas ordens religiosas, que muitas
vezes realizavamcom o "mundo civilizado" um lucrativo comércio. "O padre que
acompanhava os homens, por vezes, nas expedições de colheita, fazia alternar o
trabalho, o descanso,os jogos, a caça e os exercíciosreligiosos.(. . .) A comuni-
dade atuava também como elemento de alegria no trabalho. De manhã, os grupos
desfilavam nas ruas e dirigiam-separa o campo ao som da flauta e do tambor, trans-
portando com gande pompa a imagem de Santo Isidoro, patrono dos agriculto-
res. . i" (LUGON,C., 1968, p. 126 e 193)
Um índio que praticava á agricultura e assumiavalores da religiãocatólica
interessava muito aos colonos das áreas sem recursos para adquirir negros. As lu-
tas entre paulistas e jesuítas, não por acaso, serão freqüentes, bem como as que
envolvem tropas de resgate dos maranhenses e missionários da floresta amazônica.
O poder das ordens religiosas cresceu tanto que o Marquês de Pombal tomou
a iniciativa de expulsar os jesuítas de Portugal e suas colónias. Isso se deu em 1759,
e a alegação era de que a Companhia se transformara um verdadeiro "Estado den-
tro do Estado"
Essa medida abalou a estrutura missioneira,pois os Diretórios dos Índios,
leigos, não funcionaram a contento. A educação,já tão deficiente, não melhorou
com os professores mantidos pelo subsídio literário, contribuição paga pelos co-
Ionos.
a_ideologia religiosa, contudo, estava incorporada à formação social brasi-
leira. A colonização era uma empresa sagrada, comparável às Cruzadas, e a guerra
contra o "gentio" que reagia à conversão era santa. Os engenhos tinham sempre sua
capela; nas igrejas das sedes dos municípios as sacristias, após a missa dominical,
eram locais de acertos de negócios e casamentos.
O espírito religioso está presente tamb m nas reaçóes das populações domi-
nadas i eológicae economicamente:"os efeitos do espírito guerreiro católico não
demoraram a se manifestar; índios e africanos responderam logo ao desafio da vio-
lência sagrada, transformando seus espíritos e orixás em deuses vingativos e violen-
tos. Olho por olho, dente por (HOORNAERT, E., 1974, p. 52.)
Pelejas do bem contra o mal, encenadasem plena selva para uma atenta pla-
téia de índios, são um quadro vivo da realidade cultural que se formava. José de
Anchieta faz uma gramática da língua tupi, frei Vicente do Salvador escreve a
História do Brasil e os Sermões do Padre Vieira são peças literárias de valor. Ins-
pirando-as,a idéia de que o povo eleito por Deus para estabelecer seu reino no
Novo Mundo é o português: além de católico, ele deve ser apostólico.

6. A cultura literária colonizada


Nos dois primeiros séculos de sua história, o Brasil não possuiu nada que se
pudesse chamar de tuna cultura nacional. Isto era mais do que natural, porque
evidentemente nós não éramos ainda uma nação. O que existia em nossa terra
antes da chegada dos europeus era um tipo de cultura que se transmitia de forma
oral, de geração para geração, através dos mitos e ritos religiosos que os pajés e
os
38 —PARTE 1:A COLONIA
homens mais velhos de cada tribo conservavam.E, além do mais, o território da
Pindorama era ocupado —e de forma rarefeita —por uma quantidade de tribos e
grupos que de forma alguma podiam constituir uma unidade nacional.
Contudo, foi a partir do período colonial que se formou nossa nacionalidade,
em termos culturais. Os responsáveis pelo controle e pela difusão do conhecimento
moderno e letrado nessa época estavam, em sua totalidade, a serviço dos interesses
dos colonizadores. Foi só a partir do século atual que os pesquisadoreseruditos (co-
mo Câmara Cascudo, por exemplo) começaram a sistematizar o estudo das manifes-
tações culturais da população iletrada; e foi só então que se passou a reconhecer
verdadeiramente a riqueza da contribuição dada pelos povos índios e pelos negros
escravizados,desde a nossa formação histórica, à cultura brasileira.O folclore,por
tudo isso, é uma coisa muito séria: é ele que mostra como as camadaspopulares,
que não têm acesso aos meios letrados, preservame transmitem (ou renovam) as
tradições.
Já falamos antes dos costumes dos índios. Se é verdade que os povos in-
dígenas do Brasil foram quase totalmente dizimados,isto não quer dizer que tudo
o que os índios criaram de.bom se acabou.Muita coisa ainda continua nas lendas e
superstições populares, nas danças e cantos, nas maneiras de fazer comidas. E, quan-
to aos negros, se não bastasse tudo isso ainda teríamos o samba
A cultura popular viceja sempre. Foi no período anterior à chegada dos
europeus que os índios forjaram a tradição de lendas e costumes que ainda hoje
estão por aí espalhados,modificados como a história do saci-pererêou temperados
pela mão africana como as canjicas e os munguzás. E os africanos nos trouxeram,
de suas distantes pátrias, o ritmo e a força que sobrevivemnas danças e nas reli-
giões populares. Os caboclos e mulatos brasileiros, herdeiros dessa cultura, com as
influências da tradição lusitana, mesclaram tudo isso nas festas de São João, nos rei-
sados, nos maracatus, nas capoeiras, nos sambas, na macumba, na poesia popular
de cordel.

Vejamos como a cultura brasileira —no sentido erudito do termo deu seus
primeiros passos. Acontece que, como tudo o mais que aconteceu na "terra bra-
sflica" nos séculos XVI e XVII da era cristã, o interesse predominante neste setor
era o da metrópole. Interessava à Coroa portuguesa que tudo o que aqui se fizesse
resultasse apenas em benefício dela mesma e de seus prepostos. Os espanhois (que,
como já vimos, tomaram conta de Portugal e de todas as suas posses durante 60

UNIDADE II: O INFERNO DOS NEGROS— 39


anos) não fugiram a essa regra. Portanto, a produção cultural, assimcomo a agríco-
exportação/importação.
Ia e a da mineração, nada mais era do que um veículo de
riquezas ma-
Exportávamos matérias-primas. Importávamos jesuítas. Produzíamos
brasileiradeu seus primei-
teriais. Recebíamos a religião do europeu. A inteligência
ros passos com pés (e mãos) portugueses. intelectual nesse
O que existe de documentado em matéria de produção
outros ramos
período pertence, quase exclusivamente,à área da literatura. Nos eram obras
evidentemente
artísticos, excetuando-se a construção de igrejas (que
mesmo o cultivo das
mais religiosasdo que estéticas), pouquíssima coisa se fez. E
limitações.
letras, nesses dois primeiros séculos de colonização, tinha muitas
muitas vezes
No começo, predominou a chamada literatura de viagem, que
Staden ou o
nem sequer era escrita em português: viajantes, como o alemão Hans
nas cortes
francês Jean de Léry, relatando em livros que faziam muito sucesso
Depois,já a par-
européias a—suas atribulações nestas terras "bárbaras e selvagens".
pedagógicados
tir da instalação do primeiro Governo Geral, a literatura religiosa e
da Nóbrega, a
jesuítas passou a predominar. Os padres José de Anchieta e Manuel
império se esta-
pretexto de converter os aborígines, iam impondo a fé, enquanto o
belecia.
criação cultural
A função que os jesuítas desempenharamem nossa pobre
entre os quais cabe Iem-
do período da colônia já foi ressaltada por vários autores,
Brasileira. Os jesuítas
brar Nelson Werneck Sodré em sua História da Literatura
não podíamos
detinham o monopólio da educação.E nós (por sermoscolónia) em ma-
parecer autônomo
ter universidades, nem imprensa, nem nada que pudesse
glória de Portugal. Daí
téria de produção intelectual. Tudo tinha de ser feito para a
mais do que sewir "religio-
a pobreza do Brasil colonizado. E os padres não faziam
convertidos para aprender a
samente" a esses interesses. Os índios tinham que ser
de Portugal. Os negros,
rezar ao Deus cristão e, de quebra, para obedecer ao rei
degredados, eram man-
idem. Os colonos brancos, muitos deles vindos para cá como
dos nobres portugueses
tidos no mais completo analfabetismo. E, quanto aos filhos
e contar" —,só po-
que freqüentavam as escolasjesuítas — onde se aprendia "a ler
Portugal, onde havia
diam aspirar a um nível mais alto de instrução se fossem para
escolassuperiores em lisboa e Coimbra.
nascidos aqui. As
Os primeiros literatos que apareceram no Brasil não eram
dos assuntos
obras publicadas por eles (impressas na metrópole, é claro) tratavam
Diálogos das
brasileirossempre sob a ótica européia-.É o caso, por exemplo, dos
Brandão.
Grandezas do Brasü, atribuídos ao cristão-novo Ambrósio Fernandes
coloni-
Nesse livro, compostó de seis diálogos entre o personagem Brandônio (um
zador bem informado) e seu amigo Alviano (recém-chegadode Portugal), apare-
cem muitas informaçõesúteis para os colonizadores da terra.
Mas foi um desses literatos da colónia quem, apesar de ter sido educado
pelos jesuítas, primeiro conseguiu escrever de maneira crítica sobre a realidade
brasileira que os olhos portugueses viam. Chamou-se ele Gregório de Matos Guerra
e teve por apelido "Boca do Inferno". Foi um poeta violento e virulento. Em
estilo cáustico, muitas vezes pornográfico, criticou os costumes da Bahia e do Brasil
da segunda metade do século WII (veja texto na pág. 66 ). Por outro lado, Gregó-
rio foi um hábil versejador, capaz de criar sonetos dentro dos moldes da melhor es-
cola barroca (que estava então em voga na Europa e principalmentena Península
Ibérica), uma escola literária que se caracterizavapelos rebuscamentos da lingua-
gem, um estilo que tarnbém foi cultivado por músicos, arquitetos e artistas plásti-
cos.
Outra figura importante na literatura colonial foi a do padre António Vieira
(jesuíta, como não podia deixar de ser), que viveu na mesma época do "Boca do

O PARTE 1:A COLONIA


Inferno" mas que nada tinha a ver com este além do estilo barroco. Vieira escre-
veu uma série de sermões, em prosa rebuscada e vigorosa, que sob a capa da reliõão
sustentavam ideologicamente a dominação colonial: seus sermões contra os invasores
holandeses, por exemplo, defendiam ... o rei de Portugal.
Seria somente a artir da segundametade do séculoXVIII ue iria come ar
a se es oçar -—juntamente com as primeirasmani estações de desejo e autono-
mia política -—uma criação cultural autónoma da elite intelectual brasileira.

História e vida
BRINCADEIRA DE ANGOLA
(Sérgio Ricardo)

Pro mundo a fora, ê ê No tempo em que o negro era escravo


Pro mundo a fora, camará E o branco era senhor
Dar volta ao mundo, ê ê Nem tudo sempre se escondia
Volta ao mundo, camará E vem Dom Pedro Amaral com seu feitor
De rabo de tatu, dizendo para o negro:
No tempo em que o negro era escravo —Eu te mato, moleque!
E o branco era senhor E o negro: —Moleque é tu!
Tanta coisa se escondia:
Assim como angu quente no tacho Cala a boca, moleque!
Tem sempre carne por debaixo Moleque é tul
O negro dava duro e tudo se escondia É tu que é moleque!
É um valor noutro valor Moleque é tu!

A Demo chamaram Exu São dois pra bater no negro


Nossa Senhora, lemanjá De pau, chicote e facão
São Roque foi Omulu Pra se safar tem o negro
Senhor do Bonfim, Oxalá Só dois pés e duas mãos
É a mão pelo pé
Nesse tempo se passou É o pé pela mão
A história que eu vou contar Bate na cara
De um senhor que se sorria Derruba no chão
Ao ver os negros brincar
(É Angola, Angola ê ê Angola) Me acuda aqui seu feitor
Que este negro me esfola
Senhor Dom Pedro Amaral Está quase a me matar
Chamou-a senhora mulher: Na brincadeira de Angola
—Vem ver os negros brincando
De dançar lá no quintal Te mato, negro vagabundo!

(É, ê, Aruandê camará


Galo cantô, camará
Có có ri có camará ê ê)

Meu feitor, que aqui tem ordem,


Gritou Dom Pedro Amaral
Bota o negro a bater milho
No meio do milharal! o negro se some no mundo ...

Quebra milho como gente, macaco Vamos s'embora ê ê


Macaco quebra dendê, macaco I Vamos s'embora camará
Pro mundo a fora ê ê
Senhor Dom Pedro Amaral Pro mundo a fora camará
Chamou a senhora mulher: Dar volta ao mundo ê ê
-- Vem ver este negro safado Volta no mundo camará
Me olhando do jeito que quer (Angola ê ê, Angola ê ê Angola!)

UNIDADE 11:O INFERNO DOS NEGROS 41


"Essa sociedade, inspirada em seu etnocentrismo europeu, em seu orgulho de casta,
em seus privilégios de poder, quando muito divertia-se e se enojava com as características
dos 'negros boçais' e dos crioulosjá ambientadosao meio e até aceitos na intimidade dos
seus lares, porém não se apercebia das mudanças que ela mesma experimentava ao contato
da massa numerosa e forçosamente presente da escravaria e se recusava a admitir que os seus
costumes, as suas crenças, os seus modos de ser e de expressar-se, os seus falares PUdessem ser
afetados pelas maneiras, pelos jeitos, pelos mitos, pelos valores daquela imensa patuléia de
'brutos', Admitir que aqueles hábitos, que aquelas mentalidades, que aquelas 'barbaridades'
pudessem significar algo para a civilizaçãoda casa grande, dos sobrados e das igrejas matrizes
seria, como explica Florestan Fernandes, uma diminuição para a sociedade dominante."
(AZEVEDO,T. de, 1976, p. 31)

Trabalhador FUGITIVOS
é descoberto A denúncia chegou à a pagar por tudo —refei-
escravizado DRT porque seis menores, ções, agasalhos e esteiras de
com idades entre 15 e 17 palha para dormir -- e im-
anos, conseguiram fugir pedidos de deixar a área
Curitiba No Municí- uma noite da área de re- por jagunços armados.
pio de Bocaiúva do Sul, florestamento e procura-
a 101 km desta capital, ram a Polícia Rodoviária. As farnflias retiradas da
numa área de refloresta- Os trabalhadores, segundo árca foram distribuídas por
mento da Rebrasa S.A., a dois albergues nesta Capi-
seus depoimentos, foram
Delegacia Regional do Tra- tal. Os 16 menores em
balho descobriu trabalha- recrutados no norte do Pa-
raná e na própria região alguns foram comprovados
dores (16 menores, entre sinais de tortura
de Curitiba, sob a promes- serão
eles) mantidos em semi-es- reencaminhados às famf-
cravidão. A polícia pren-
sa de receberem Cr$30,00
por dia, livres dc qualquer lias,
deu em flagrante três dos
despesa.
responsáveis: Albari Ferrei-
ra, Ananias Esidio e Sebas- No local do trabalho,
tião Russo. entretanto, eram obrigados (Jornal do Brasil, 26/5/79)

Sugestões para trabalhos


1, Identificar o sentido geral da colonização,isto
é, seus objetivos e a que grupos e classes
ela favorecia.
2. Relacionar mercantilismo e antigo
sistema colonial.
3. Articular a base econômica da
colonização com as formas jurídicas, políticas e administra-
tivas aqui implantadas. O sistema é
capitalista? Feudal? Escravista? Qual a diferença entre
o escravismo da Antiguidade Clássica
e o escravismo colonial?
4. Mostrar o papel do negro africano e
dos indígenas dentro do processo de ocupação eco-
nômica da terra e suas reações à
dominação européia.
5. Identificar, na sociedade brasileira
atual, a herança dos quase quatro séculos de
dão; questionar a noção de escravi-
"democracia racial".
6. Analisar a estrutura global do
Brasil colônia no contexto do antigo
7. Relacionar familia patriarcal, sistema colonial.
grande propriedade e escravidão.
8. Analisar a ação da Igreja, em
particular dos jesuítas, dentro do
cia! e econômico) do Brasil colônia. quadro geral (político, so-
9. Fazer um levantamento das
influências
negras na vida brasileira.
10. Partindo da Brincadeira de
Angola, de História e vida,
especificar o cotidiano da grande
11. Discutir se no Brasil há preconceito
12. Discutir se a notícia de jornal de cor.
de História e vida é
suficiente para afirmar que a escravidão

2 —PARTE COLONIA

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