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Gonzaga
1- edição: 2004
1- reimpressão: 2006
2- edição: 2007
3- edição: 2009
4- edição: 2010
5- edição: 2012
CDU 869.0(81)
ISBN 978-85-8688-070-4
o A LITERATURA DOS
CONQUISTADORES
O fim das guerras dentro dos territórios Foi uma façanha épica sem precedentes.
ibéricos (Portugal e Espanha), a centraliza Um país como Portugal, que tinha apenas um
ção política com a criação de um Estado forte, milhão de habitantes, estendeu seu domínio por
as inovações da tecnologia marítima, o papel vastos territórios. Nada parecia deter suas frá
economicamente empreendedor de uma bur geis caravelas e seus marinheiros, que enfren
guesia de origem judaica e a audácia de milha tavam calmarias, fome, sede, monstros mari
res de homens garantiram a portugueses e es nhos, gigantes, sereias e súbitos abismos, lo
panhóis a primazia na grande expansão calizados nos confins do oceano para tragar as
europeia, iniciada no século XV e consolidada embarcações. Animava tais homens o espírito
no século XVI. mercantilista - desejo de ouro, especiarias e
Em nenhuma outra época houve movimen quaisquer outros produtos que gerassem lucro.
to expansionista tão abrangente e avassalador Por ele, todos os medos seriam superados e
A conquista comercial dos países asiáticos e todas as aventuras se tornariam possíveis.
africanos somou-se a conquista direta do con Em Mar português, Fernando Pessoa tradu
tinente americano. Iniciava-se um processo ziu essa admirável vocação de seu povo para
civilizatório que duraria mais de quinhentos as grandes navegações:
anos, sob domínio ocidental, e que modifica O mar salgado, quanto do teu sal
ria radicalmente a face do mundo. São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador*
Tem que passar além da dor. (...)
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Regra geral, todos receberam os brancos valores culturais e, com isso, sua identidade his
com hospitalidade e oferendas, sem se dar con tórica, deixando de ser índios sem alcançar, no
ta da destruição que os aguardava - uma des entanto, a condição de homens brancos.
truição que não foi programada, mas que ocor A ocidentalização da América, portanto,
reu tanto pela superioridade bélica dos europeus foi realizada a ferro e fogo, em um processo
e pelas doenças que traziam quanto pela ino doloroso para os primitivos donos do territó
cência dos indígenas. Destes, os que consegui rio. Do ponto de vista histórico, esse processo
ram escapar das doenças, da escravidão e dos era dramaticamente inevitável, dada a ânsia im
arcabuzes foram submetidos a um poderoso pro perialista dos países europeus e a incapacida
cesso de deculturação, ou seja, perderam os seus de indígena de autodefesa.
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Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, E uma daquelas moças era toda tingida, de bai
confeitos, bolos, mel e figos passados. Não quise xo a cima, daquela tintura; e certamente era tão bem
ram comer quase nada de tudo aquilo. E, se prova feita e tão redonda, e sua vergonha - que ela não
vam alguma coisa, logo a cuspiam com nojo. Trou tinha - tão graciosa que, a muitas mulheres de nossa
xeram-lhes vinho numa taça, mas, apenas haviam terra, vendo-lhes tais feições, provocaria vergonha
provado o sabor, imediatamente demonstraram não por não terem as suas como a dela. (...)
gostar e não mais quiseram. Entre todos estes que hoje vieram não veio
mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à
A nudez das índias missa e a quem deram um pano para que se cobris
A imagem mais desconcertante para os se; e o puseram em volta dela. Todavia, ao sentar-
marinheiros lusos é a da nudez das índias. Vin se, não se lembrava de o estender muito para se
cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal
dos de um mundo em que o corpo era censura
que a de Adão não seria maior, com respeito ao
do e reprimido, de acordo com as convicções pudor.
medievais, eles não escondem o assombro di
ante do que veem. Caminha traduz esse senti O ideal salvacionista
mento, mas, com seu particular espírito
A profunda religiosidade portuguesa -
renascentista, procura ver os corpos femininos
que era um dos móveis da conquista - mos
desnudos dentro do quadro cultural da socie
tra-se na possibilidade de conversão dos pri
dade nativa:
mitivos habitantes, admitida por Caminha e
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, sugerida ao destinatário da Carta, o rei D.
muito novas e muito gentis, com cabelos muito pre
Manuel.
tos e compridos, caídos pelas espáduas, e suas ver
gonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das E, segundo o que a mim e a todos pareceu, esta
cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tí gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã
nhamos nenhuma vergonha. (...) do que nos entenderem (...) E bem creio que, se Vos
sa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar
ande, que todos serão tomados e convertidos ao de
sejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não
deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque en
tão terão mais conhecimento de nossa fé, pelos dois
degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje
também comungaram.
A visão do paraíso
Como diz Silvio Castro:
O europeu, através da Carta, toma conheci
mento da existência de um novo mundo. Concre
to. Imediato. Rico de cores, calor, árvores, frutos,
pássaros, cantos, frescura. A terra é ampla, imen
sa na linha do horizonte. O céu é limpo, os portos
seguros.
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Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito Minho, porque neste tempo de agora os achávamos
grande, porque, a estender os olhos, não podíamos como de lá.
ver senão terra e arvoredos - terra que nos parecia As águas são muitas; infinitas. Em tal maneira
muito extensa. é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela
Até agora não podemos saber se há ouro ou tudo; por causa das águas que tem!
prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem o Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar
vimos. Contudo, a terra em si é de muito bons ares, parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a
frescos e temperados como os de Entre Douro e principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
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vivas descrições dos costumes indígenas: onde
e como moram, como acendem o fogo, a ma
neira como cozinham e o que comem, seus
utensílios, sua destreza no manejo do arco-e-
flecha e de outros instrumentos, como prepa
ram a bebida e com ela se embriagam, no que
acreditam, suas formas de guerrear, etc.
Além disso, mostra aos leitores europeus
os animais da terra, as árvores, a vegetação, pin
tando um quadro intenso e colorido da realida
de brasileira de então, transformando seu livro
em um notável êxito editorial do século XVI.
No fragmento abaixo, ele descreve a exe
cução e a devoração de um inimigo pelos Outra ilustração original da obra de Jean de Léry.
tupinambás:
Quando trazem para casa um inimigo, batem- são dadas às mulheres. Fervem-nas e com o caldo
lhe as mulheres e as crianças primeiro. A seguir co fazem uma papa rala que se chama mingau, que elas
lam-lhe ao corpo penas cinzentas, raspam-lhe as so e as crianças sorvem. Comem também a carne da
brancelhas, dançam em seu redor e amarram-no bem. cabeça. As crianças comem os miolos, a língua e tudo
Dão-lhe então uma mulher para servi-lo. Se tem dele o que podem aproveitar.
um filho, criam-no até grande e o matam e o comem Quando tudo foi partilhado, voltam para casa,
quando lhes vem à cabeça. levando cada um o seu quinhão.
Dão de comer bem ao prisioneiro. Conservam-
no por algum tempo e então se preparam. (...)
Assim que está tudo preparado, determinam o tem
VIAGEM À TERRA DO BRASIL
po em que ele deve morrer e convidam os selva Igualmente centrada no cotidiano da vida
gens de outras aldeias para que venham assistir. indígena, a obra Viagem à terra do Brasil, do
Enchem de bebidas todas as vasilhas. Logo que calvinista francês Jean de Léry, revela uma
estão reunidos todos os que vieram de fora, o chefe percepção histórica mais apurada acerca dos
da choça diz: “Vinde agora e ajudai a comer o vos
costumes nativos, pelo fato do autor ser um
so inimigo”. (...)
Quando principiam a beber, levam consigo o homem culto, de formação humanista e, por
prisioneiro, que bebe com eles. Acabada a bebida, tanto, aberto às diferenças entre as civilizações.
descansam no outro dia e fazem para o inimigo uma Léry permanece no país durante um ano
pequena cabana no local em que deve morrer. (1557), como enviado do líder religioso
Aí passa a noite, sendo bem vigiado. (...)
Calvino, para servir a Villegaignon, fundador
O guerreiro que vai matar o prisioneiro diz para
o mesmo: “Sim, aqui estou eu, quero te matar, pois de uma colônia francesa na futura cidade do
tua gente também matou e comeu muitos dos meus Rio de Janeiro. Ali, tem a oportunidade de con
amigos”. Responde-lhe o prisioneiro: “Quando esti viver (em liberdade) com os tupinambás, rea
ver morto, terei ainda muitos amigos que saberão lizando uma série de anotações interessantís
me vingar”. Depois, ele é golpeado na nuca, de modo
simas a respeito de seu modo de vida.
que lhe saltem os miolos, e de imediato as mulheres
arrastam o morto para o fogo, raspam-lhe toda a pele,
Movido por um espírito universalista, ele
tomando-o totalmente branco e tapando-lhe o ânus encara com simpatia os índios, relativizando
com uma madeira, a fim de que nada dele se escape. moralmente certos hábitos que na Europa pas
Depois de esfolado, um homem o pega e lhe savam por bárbaros. Essa compreensão revela-
corta as pernas acima dos joelhos e os braços junto se, por exemplo, na análise da nudez feminina:
ao corpo. Vêm então quatro mulheres que apanham
quatro pedaços, correndo com eles em tomo das ca Quero responder aos que dizem que a convi
banas, fazendo grande alarido, em sinal de alegria. vência com esses selvagens nus, principalmente en
Separam depois as costas, junto com as nádegas, da tre as mulheres, incita à lascívia e à luxúria. Direi
parte dianteira. Repartem isso entre eles. As vísceras que (...) a nudez grosseira das mulheres é muito
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menos atraente do que comumente imaginam. Os ná-los mais ferozes, esses selvagens pegam os filhos,
atavios, cabelos encrespados, golas de rendas, uns após outros, e lhes esfregam o corpo, os braços
anquinhas, sobressaias e outras bagatelas com que e as pernas com o sangue inimigo, a fim de tomá-los
as mulheres de cá [europeias] se enfeitam e de que mais valentes.
jamais se fartam são causas de males incomparavel Em seguida, todas as partes do corpo, inclusi
mente maiores do que a nudez habitual das índias. ve as tripas depois de bem lavadas, são colocadas no
moquém, em tomo do qual as mulheres, principal
Além de detalhar um significativo conjun mente as velhas gulosas, se reúnem para recolher a
to de costumes religiosos, medicinais, sociais gordura que escorre pelas varas dessas grandes e al
(casamentos, funerais, educação dos filhos, tas grelhas de madeira. Em seguida exortam os ho
etc.) e de mostrar certas práticas desconheci mens a procederem de modo que elas tenham sem
pre tais petiscos e lambem os dedos e dizem iguatu,
das na época, entre as quais a preparação e o o que quer dizer “está muito bom!”.
uso do cauim e do fumo, o viajante francês des
creve com minúcias o ímpeto guerreiro dos Tais exemplos de crueldade dos índios para
homens tropicais, vendo as batalhas entre as com seus inimigos são, contudo, abrandados
tribos de forma quase poética. pelo relativismo moral que Léry estabelece:
É útil, entretanto, que ao ler sobre semelhantes
O canibalismo dos tupinambás barbaridades os leitores não se esqueçam do que se
Obviamente, também a antropofagia é um pratica entre nós. Em boa e sã consciência acho que
dos temas predominantes da obra, sendo mostra excedem em crueldade aos selvagens os nossos usu
rários [agiotas], que, sugando o sangue e o tutano,
da com uma riqueza de detalhes em muito supe comem vivos órfãos, viúvas e outras criaturas mise
rior à da obra de Hans Staden. Observe-se esta ráveis, que prefeririam sem dúvida morrer de uma
cena, ocorrida logo após a morte do prisioneiro: vez a definhar assim, lentamente.
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O resultado desse sombrio processo de trabalho de catequese dos jesuítas acabou se
opressão não foi apenas o retrocesso científi realizando e que eles mantiveram incansável
co, mas a desgraça econômica que se abateu luta contra a escravidão dos índios, a ponto de
sobre a Península Ibérica, em função do ex despertar o ódio visceral dos colonos que os
purgo das forças modernizadoras, representa tinham como inimigos mortais.
das pela burguesia judaica. Sem uma classe em O que se pode afirmar hoje é que, apesar de
presarial audaciosa e empreendedora, Portugal todos os erros, a ação jesuítica acabou produzin
e Espanha afundaram, já no fim do século XVI, do uma ideologia protetora das comunidades in
em uma decadência secular. Enquanto isso, os dígenas que impediu sua destruição completa.
judeus expulsos transferiram-se majoritaria-
mente para os Países Baixos. Lá passaram a José de Anchieta
exercer papel decisivo na transformação da Boa parte da literatura escrita pelos padres
Holanda em grande potência mundial. possui uma dimensão meramente informativa,
pois contém notícias da obra catequética e dos
A Contrarreforma problemas da ordem. Simultaneamente, surgiam
A Contrarreforma - desencadeada pelo os primeiros religiosos dispostos a elaborar uma
papa Paulo III no célebre Concílio de Trento. tosca literatura, destinada à conversão dos indí
de 1545 — intensificou o combate contra os pro genas. Avulta então o nome de José de Anchieta.
testantes, ao mesmo tempo em que ampliava a Dotado de sólida formação religiosa e com sen
missão evangelizadora dos padres em terras so artístico acima do comum, ele escreveu:
americanas.
• Obras refinadas:poemas e monólogos, em
A mais importante entre as ordens religio
latim, que parecem destinados a satisfazer a
sas dedicadas à conversão dos gentios foi a
suas necessidades espirituais mais profundas.
jesuítica. Fundada alguns anos antes da
• Obras didáticas: hinos, canções e espe
Contrarreforma por Ignácio de Loyola, a
Companhia de Jesus sempre primou pelo alto cialmente autos, que visavam a infundir o pen
nível intelectual, pelo ardor místico, pela dis samento cristão nos índios.
ciplina e pela fé inquebrantável de seus com
ponentes. Coube a ela o papel de ponta-de-lan-
ça dajrradiação do catolicismo. Desde a déca-
da de 1540, os Soldados de Cristo (jesuítas),
como apóstolos sem medo e sem mácula, se
lançaram a mundos desconhecidos, no intuito
de apontar aos povos de outros continentes as
excelências do catolicismo.
Os primeiros jesuítas desembarcaram no
Brasil em 1549, juntamente com o governador
Tomé de Sousa. Além do trabalho catequético,
criaram os primeiros colégios no país: São Pau
lo (1554), Bahia (1559), Rio de Janeiro (1568)
e Olinda (1576). Iniciaram, dessa forma, um
domínio absoluto sobre o sistema educacional Gravura da
- interrompido por sua expulsão de Portugal e época mos
demais colônias em 1759 -, de sorte que todas tra jesuítas
valendo-se
as manifestações culturais da sociedade brasi
da música
leira, nos três primeiros séculos, nasceram sob
como forma
o controle dos jesuítas. de atrair os
Seu trabalho com os índios até hoje gera índios para a
discussões. Contudo, o fato histórico é que o catequese.
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Os autos Os autos anchietanos contribuem para
Hoje se considera importante, sobretudo, deculturar os índios, que assim perdem a sua iden
a obra teatral de Anchieta. Nela, o autor tenta tidade. Desajustados diante da nova ordem soci
conciliar os valores católicos com os símbolos al e psicológica, ver-se-ão, como disse José Gui
primitivos dos habitantes da terra e com os as lherme Merquior, “dolorosamente arrancados
pectos da nova realidade americana. à cultura materna e dolorosamente desarmados
Os elementos sagrados do catolicismo eu ante a bruta realidade da experiência colonial”.
ropeu ligam-se aos mitos indígenas, sem que
isso signifique uma contradição maior, pois as O papel de Anchieta na Literatura
ideias que triunfam nos espetáculos são evi Brasileira
dentemente as do padre. As crendices e supers O crítico Afrânio Coutinho sustenta que
tições dos nativos acabam vinculadas ao peca a literatura teria nascido, no Brasil, pelas mãos
do e a seu poderoso agente, Satanás. dos jesuítas. Assim, José de Anchieta seria o
Nesse confronto perpétuo entre o bem e o nosso primeiro escritor. Tal argumentação é
mal, o primeiro é defendido por santos e an refutada pela maioria dos estudiosos, pois o
jos, os quais expressam o cristianismo e sub padre possuía uma visão de mundo tipicamen
jugam o segundo, constituído por deuses e pa te europeia. Em decorrência disso, os elemen
jés dos nativos, misturados com os demônios tos culturais indígenas presentes em seu teatro
são destruídos - dentro da ação dramática -
da tradição católica. Dessa forma, os índios (em
com pleno apoio do autor, que se serve deles
especial os curumins) percebem que seus va
apenas para reafirmar um sistema de ideias
lores são falsos e corruptos e aceitam de me
alheio ao universo dos próprios índios.
lhor grado os princípios cristãos.
Além disso, sua obra teatral não teve se
Do ponto de vista da encenação dos
guidores. Não iniciou qualquer tradição no gê
autos* - conforme depoimentos de época a
nero dramático brasileiro. Não deixou nenhum
liberdade formal salta aos olhos: o teatro
rastro. Por essa razão, a originalidade de
anchietano pressupõe o lúdico, o jogo coreo- Anchieta consiste apenas na criação de obje
gráfico, a cor, o som. É algo arrebatador, de
tos culturais com fins religiosos, para um pú
enorme fascínio visual. Dirige-se mais aos sen blico que jamais teria acesso à produção esté
tidos do que à razão, apelando para a consci tica dos ho
ência mítica dos nativos. Santos e demônios mens brancos.
duelam; desencadeiam-se milagres e Fora esse as
apocalipses; alternam-se elementos históricos pecto, sua im
e fictícios, religiosos e profanos; pequenos ser portância no
mões musicados irrompem no meio das cenas. panorama da
Perante essa festa para as emoções e o cora literatura na
ção, o indígena vacila em suas crenças. cional é insig
Alegrem-se os nossos filhos nificante.
Por Deus os ter libertado
Guaixará vá para o inferno
Guaixará, Aimbiré, Saravaia
Vão para o inferno.
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