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 Introdução: estância 24;

 Desenvolvimento: estância 25 a 28;


 Conclusão: estância 29.

A saudação inicial aos ouvintes é:

 “ Eternos moradores do luzente,/ Estelífero Pólo e


claro Assento”.

O tema do discurso são:

 Os portugueses.

A profecia associada aos portugueses é:

 O povo dominar a rota marítima para a Índia e


VIAGEM PARA A ÍNDIA E CONSÍLIO DOS
que sejam lembrados em detrimento de outros
DEUSES
povos (tais como “Assírios, Persas, Gregos e
A estância 19 corresponde ao início da Narração de Os Romanos”).
Lusíadas.
Júpiter considera que os portugueses possuem um “grande
Nesta ação as personagens são os portugueses no Oceano valor”, pois demonstram ser fortes e destemidos na luta
Índico. contra os mouros, os castelhanos e os romanos, contra
quem obtiveram “os troféus pendentes da vitória”, bem
A Narração inicia quando os portugueses já se encontram a como são corajosos e preservantes ao empreender uma
meio da viagem, ou seja, “in medias res”1 viagem tão arrojada, “Por vias nunca usadas”.
As condições atmosféricas são favoráveis à viagem, pois o Uma vez que os portugueses já tiveram de enfrentar
vento e o mar estão tranquilos. muitos perigos durante a sua longa viagem no mar e que
lhes está predestinado dominarem o oceano Índico, Júpiter
Este excerto pertence ao plano da viagem e ao plano do
delibera que os navegadores sejam bem recebidos na costa
Maravilhoso em simultâneo.
africana e que, depois de restabelecidos, prossigam a
Neste episódio, Tonante convoca todos os Deuses para um viagem até à Índia.
consílio no dia 21 de março de 1498, pelas 9 horas, no
Baco é contra o destino dos portugueses no Oriente pois
Olimpo. Neste consílio iriam discutir e deliberar sobre o
teme ser esquecido na índia, onde é louvado, caso os
futuro dos portugueses no Oriente.
portugueses o alcancem. Vénus é a favor, pois, por um
A chegada ou não, dos portugueses à Índia depende do lado, admira os portugueses por os considerar parecidos
“Alto poder” dos Deuses. nas capacidades guerreiras e na língua com os romanos.
Por outro lado, sabe que será louvada onde quer que os
Júpiter é o pai supremo de todos os Deuses, evidenciando- portugueses cheguem. Marte também é a favor. Ou por
se destes pelo seu porte “sublime de dino”, pelo “gesto alto amar Vénus, ou por reconhecer a valentia dos portugueses,
severo e soberano”, pelo seu “ar divino” e por ostentar defende que estes cheguem à Índia.
uma “coroa” e um “cetro” que denunciam o seu estatuto
elevado (note-se a comparação- “De outra pedra mais clara Como não há consenso entre os deuses, estes alvoroçam-se
que diamante”- que salienta a magnificência de Júpiter). de tal maneira que parece haver um temporal no Consílio,
como o demonstra a comparação; por seu turno, a
Os Deuses estão dispostos no Consílio segundo a sua hipérbole, bem como a predominância de sons nasais,
importância: primeiro os mais velhos, “mais honrados”, e, reforçam a impetuosidade dos ânimos.
depois, os “menores” em termos de estatuto.
Na intervenção de Marte, este revela ser seguro e
poderoso, apresentando-se “medonho e irado” perante o
1
Expressão Latina que significa “no meio das coisas”. Consílio, o que intimidou os presentes.
Técnica narrativa literária que consiste em relatar os
acontecimentos da história, não pelo seu início, mas pelo
momento crucial e pelo meio da ação, como forma de
cativar a atenção do leitor.
Na verdade, o facto dos próprios deuses, entidades compadeceram das crianças, ter “de humano o gesto e o
sobrenaturais, se interessarem pelo destino dos peito”, pelo que deveria ser mais “humano” do que o
portugueses, a quem reconhecem prodigiosas qualidades, demonstra ser ao matar uma frágil “donzela” apenas por
comprovam e engradece o valor deste povo. esta se ter apaixonado pelo seu filho.

INÊS DE CASTRO Através dos versos “a culpa que não tinha” e “A quem
pera perdê-la não fez erro”, Inês afirma ser inocente e
Trata-se do episódio de Inês de Castro- “caso triste, e dino refere-se aos filhos que ficarão órfãos de mãe.
de memória”- que aconteceu em Portugal, após D. Afonso
IV ter regressado da Batalha do Salado. Como alternativa à sua condenação à morte Inês sugere o
exílio, “Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente”.
Este episódio na estrutura interna d’Os Lusíadas está
situado na Narração e no Plano da História de Portugal. Tal como uma relíquia é algo valioso, também os filhos o
são para os pais, pelo que Inês salienta o facto de D. Pedro
O poeta dirige-se ao “Amor”, porque este foi o causador ser o pai daquelas crianças, procurando desta forma
da morte de Inês de Castro; pelo que, embora seja “puro”, demover o rei da sua decisão.
também é cruel (“força crua”), “fero”, “áspero” e “tirano”.
D. Afonso IV sensibilizou-se e comoveu-se de tal forma
O verso “O nome que no peito escrito tinhas”- evidencia o com o discurso de Inês, que queria perdoá-la, todavia, o
amor entre D. Pedro e D. Inês de Castro. povo e o destino não o permitiram.

Inês de Castro vive “em sossego” nos “saudosos campos A apóstrofe “ó peitos carniceiros” evidencia a indignação
do Mondego”, partilhando com os “montes” e as do poeta perante a selvajaria dos algozes, assim como a
“ervinhas” o amor por D. Pedro e recordando os momentos interrogação “Feros vos amostrais e cavaleiros?” procura
que ali passou com o seu príncipe. salientar a repulsa por tal ato.

Expressões que prenunciam a tragédia iminente: Inês de Castro é comparada a Policena, que foi de igual
modo executada cruelmente.
 “Naquele engano da alma, ledo e cego,/ Que a
fortuna não deixa durar muito” (estância 120); As apóstrofes à Natureza- “ó Sol”, “ó côncavos vales”- e a
 “De noite, em doces sonhos que mentiam,/ De dia sua personificação- “que pudestes/ A voz extrema ouvir da
em pensamentos que voavam” (estância 121); boca fria”- conferem maior emotividade ao episódio
 “Eram tudo memórias de alegria” (estância 121). relatado.

No verso “Tirar Inês ao mundo determina” (estância 123) DESPEDIDAS EM BELÉM


está presente um eufemismo2 . Este eufemismo diz respeito
à decisão de D. Afonso IV de matar Inês de Castro. A partida das naus situa-se no plano da Viagem, cuja
narração começou “In medias res” (no Canto I), sendo
Uma vez que D. Pedro recusa casar-se com outras “belas desta forma respeitados os preceitos das epopeias
senhoras e princesas” e o povo comenta esta atitude do clássicas.
príncipe, D. Afonso IV manda matar Inês para a separar
definitivamente do filho. O narrador é Vasco da Gama e é participante, pois utiliza a
1ª pessoa). Vasco da Gama é acompanhado dos guerreiros
No final da estância 123 o poeta mete de propósito uma e dos marinheiros.
interrogação, porque dado que a espada que foi usada
contra os destemidos mouros é a mesma que serviu para Na estância 85, o verso que nos dá conta do objectivo da
matar uma donzela fraca e delicada, a interrogação viagem que então começa é: “Pera buscar do mundo novas
evidencia a crueldade e a brutidade da morte de Inês de partes”.
Castro.
A personificação e a comparação nos versos “Elas
Nas estâncias 124 e 125, Inês assume uma postura humilde prometem, vendo os mares largos,/ De ser no Olimpo
perante D. Afonso IV , mostrando-se amargurada e estrelas, como a de Argos” significam que aqueles que
comovida, pelo seu afastamento de D. Pedro, mas nelas viajam se pretendem tornar imortais.
sobretudo, porque deixa os filhos órfãos.
No verso “Aparelhámos a alma pera a morte” o sujeito é
Na estância 127, Inês, ao interpelar o rei, pretende salientar “nós” (eu, Vasco da Gama e os navegadores). A ideia de
o facto de este, ao contrário das “brutas feras” que se “aparelhar as naus” é associada à de “aparelhar a arma”,
que, neste caso, significa ouvir missa, comungar e
2
Atenuação de uma ideia chocante e/ou desagradável por
confessar.
meio de termos mais brancos e suaves.
Ex.: “Tirar Inês ao mundo determina” (=matá-la)
No último verso da estância 87, o narrador (Vasco da também audazes- “cometeram grandes cousas”; “os
Gama) sente-se emocionado, comovido por ir empreender vedados términos quebrantas”, “navegar meus longos
uma longa e perigosa viagem que o afastará, durante muito mares ousas”- e preservantes, persistentes- “por trabalhos
tempo, da pátria e da família, que poderá não voltar a ver. vão nunca repousas”.

Há pessoas que vão despedir-se dos amigos e/ou familiares Ao longo do discurso de Adamastor (estância 43-48)
e outras que se encontram no porto apenas por curiosidade. recorre a formas verbais no futuro do indicativo e
conjuntivo:
Eles sentem-se “saudosos na vista e descontentes”, pois
têm a noção de que os seus entes queridos podem não  Futuro do indicativo: terão, farei, acabará, etc…
regressar da viagem, daí “A desesperação e frio medo” de  Futuro do conjuntivo: fizerem, fizer, abrandarem
os perder.
Adamastor prenuncia acontecimentos futuros, neste caso,
As apóstrofes, nas estâncias 90 e 91, “ó filho” e “ó doce e naufrágios e predições de toda a sorte que irão acontecer
amado esposo” correspondem, respetivamente, à mãe e à por sua causa.
esposa, estas simbolizam todas as outras aí presentes.
Manuel de Sousa Sepúlveda e a família sobrevirão a um
As interrogações que dirigem aos seus interlocutores naufrágio naquele local, indo dar a uma praia; todavia, os
evidenciam o sofrimento e a angústia da situação vivida, filhos morrerão à fome e a esposa será despedida pelos
procurando as “mães” e as “esposas” demover os seus nativos; posteriormente, o casal acabará por sucumbir
interlocutores de partirem. (morrer) na floresta.

A personificação dos montes- “Os montes de mais perto Vasco da Gama interpela Adamastor sobre a sua
respondiam,/ Quási movidos de alta piedade;”- e a identidade, cuja lembrança parece causar sofrimento ao
hipérbole das lágrimas- “A branca areia as lágrimas gigante.
banhavam,/ Que em multidão com elas se igualavam.”-
atestam a comoção da Natureza face ao sofrimento No início, Adamastor apresenta-se aterrador; enquanto que
presenciado. na estância 60 se afasta “cum medonho coro”, causado
pelo relato da sua triste história de amor não
Para evitar maior tormento ou, até que alguém desistisse correspondido.
da viagem, Vasco da Gama decide embarcar sem as
despedidas habituais. Quando o Adamastor desaparece Vasco da Gama ergue as
mãos ao céu, rogando a Deus que os desastres marítimos
ADAMASTOR profetizados pelo gigante não se concretizem.

A ação situa-se no mar, durante a noite, cinco dias após a


partida da ilha de Santa Helena, e a tripulação está
vigilante, mas descontraída.

O aparecimento da “nuvem”, tão “temerosa” e


“carregada”, amedrontou os navegadores.

Sendo crente, Vasco da Gama interpela Deus- “ó


Potestade”, pois desconhece o que se passa e pressente que
se trata de algo pior do que uma tempestade.

Apresentada no início como uma “nuvem”, a figura de


Adamastor torna-se gradualmente mais distinta assumindo
os contornos de um ser “disforme e (de) grandíssima
estatura”, de aparência “robusta e válida”, “Medronha e
má e a cor terrena e pálida”, o “rosto carregado, a barba
esquálida”, os “olhos encovados”, a “boca negra, os dentes
amarelos”, “cheios de terra e crespos os cabelos”.

O recurso expressivo que, na estância 40, salienta a


grandiosidade da estatura do Adamastor é a metáfora que
associa Adamastor à estátua do Colosso de Rodes.

A apóstrofe “Ó gente ousada” refere-se aos (navegadores)


portugueses que Adamastor considera, além de atrevidos,

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