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Histórias de S.

Catarina

Náufragos &
Conquistadores

Tero
“De tudo muito abundante, a
terra é mais do que boa, quem
disser o contrário mente”.
(Francisco Dias Velho, 1682)
Histórias de S. Catarina

Náufragos
&
Conquistadores

Eleutério Nicolau da Conceição


Ficha Catalográfica

C744s Conceição, Eleutério Nicolau da


Histórias de Santa Catarina - Náufragos e Conquistadores / texto e
ilustrações Eleutério Nicolau da Conceição. – Florianópolis : Ed. do Autor,
2009.
62p. : il.

Apresentada sob a forma de histórias em quadrinhos

1.Histórias em quadrinhos
2.Santa catarina – História, 1516–1542.
3.Brasil – História
Apresentação

E sta obra reúne cinco histórias ocorridas entre 1516 e 1542 em Santa Catarina, na Ilha e
arredores, ou ligadas a essa região. Nessa época remota, S. Catarina era principalmente,
a Ilha e estreita faixa litorânea, de Laguna a São Francisco. Ponto de parada obrigatório para
navios que demandavam a região do Prata, para abastecimento de água e alimentos frescos, a
Ilha foi cenário de elevado número de naufrágios. As aventuras e desventuras dos náufragos
encontram-se registradas em livros de bordo dos navios que por aqui passaram. Alguns dos
visitantes também deixaram registros pessoais de sua passagem por essas terras, como Alvar
Nuñes Cabeça de Vaca, Governador do Paraguai que esteve na Ilha em 1541 e Hans Staden,
alemão, artilheiro de um navio da expedição de Diego Sanábria, em 1549. Esses livros, e outros
que constam da bibliografia apresentada na última página deste trabalho, foram fonte das
informações históricas nele contidas.

O desenvolvimento de um trabalho com a técnica da Arte Seqüencial (Histórias em


Quadrinhos) exige maior quantidade de informações especializadas do que as necessárias
para a preparação de um texto descritivo.

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U ma simples frase como : “ A
nau alçou velas e seguiu rumo
ao Prata”, para ser ilustrada, exige o
conhecimento particular da forma de uma
Nau, que não é, como pensam alguns,
apenas sinônimo de navio, mas um
tipo específico de embarcação. De modo
semelhante, trajes, armas e utensílios devem
ser cuidadosamente pesquisados para
retratarem de modo fidedigno a época na
qual os eventos transcorrem. Na bibliografia
listamos também as obras ilustradas
sobre história que nos deram subsídios
iconográficos. Alguns dos personagens
citados têm sua figura representada em
ilustrações antigas, como Cabeça de Vaca,
Sebastião Caboto, Martim Afonso e os reis
portugueses, servindo como boas referências
para o ilustrador. De outros, porém, nada
se sabe, como é o caso de Aleixo Garcia e
seus companheiro, capitães e tripulantes
de navios visitantes. Nesses casos, a
criatividade do desenhista deve resolver o
problema.

E m geral, as informações históricas desse


período não são detalhadas, como, por exemplo,
sobre Aleixo Garcia: “a caravela naufragou e
os sobreviventes viveram durante oito anos em
companhia dos índios”. Foi então necessário a
criatividade para desenvolver de modo fluído a
narrativa desses eventos: detalhes do naufrágio, o
primeiro contato com os nativos e a vida em sua
companhia. A liberdade criativa, contudo, preservou
os relatos factuais, sendo utilizada apenas para
preencher os espaços entre os dados conhecidos, com
a intenção de apresentar uma narrativa unificada,
eliminando-se assim a fragmentação da simples
citação de fatos isolados. De modo semelhante, a
representação visual dos Carijó, nativos da região,
adaptou descrições de suas características, existentes
na bibliografia, com aspectos de povos indígenas
atuais, pois as únicas ilustrações representando

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indivíduos desse grupo Guarani, estão
em livros publicados por visitantes
europeus, como Hans Staden. Nesses
livros os indígenas brasileiros,
assemelham-se mais a europeus nus,
com adereços de penas, do que com o
tipo físico dos ameríndios.

C om esta obra, estamos traduzindo temas do passado


histórico de nossa região em uma linguagem
predominantemente visual, Característica da Arte
Seqüencial. Os textos que acompanham as ilustrações,
ainda que curtos, foram cuidadosamente compostos para
transmitir dados confiáveis. Deste modo, esperamos
contribuir para aproximar eventos históricos do público
juvenil e de outros que aprenderam a apreciar a forma
especial de comunicação, expressão gráfica e técnica
narrativa veiculada pela Arte Seqüencial.

Eleutério Nicolau da Conceição

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Uma caravela espanhola A SAGA DE ALEIXO GARCIA
naufraga em meio à
tempestade ao procurar
abrigo em um ponto da Rápido!
costa Sul do Brasil. O navio não vai
agüentar muito
tempo!

Os marinheiros remam com desesperado


esforço tentando alcançar a praia.

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Em nome de Deus e da Entre 270 e 280 de latitude Sul
Santa Virgem! Aonde encontra-se a ilha chamada Juru -
nós viemos parar? Miry por seus primitivos habitantes,
os Kariyó (Carijó).

Não existe unanimidade entre os historiadores quanto à


localização da praia onde os náufragos encontraram refúgio,
se na ilha ou no continente a ela oposto.

Os primeiros visitantes confundiram a Baia Sul


da ilha com a foz de um grande rio, nomeado “Rio
dos Patos”, devido a grande quantidade de aves
Mas, sua identidade é conhecida: eram parte da expedição de aquáticas que lá havia. A Ilha e o porto foram
Juan Diaz de Solís ao Rio da Prata. também chamados “dos Patos”.
Cuidado!
Os selvagens
estão armados!

O desafortunado piloto espanhol encontrara a morte nas mãos dos


índios Charrua.

Na viagem de regresso a caravela,


desgarrada pela tempestade, veio naufragar
na barra sul da ilha, próximo à hoje chamada
“Ponta dos Naufragados”.
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Os náufragos apressam-se O número exato dos sobreviventes do naufrágio é
em retirar seus pertences do também controverso, existindo relatos de onze, quinze e
barco avariado pelos choques dezoito homens.
contra as rochas. Rápido, precisamos retirar
tudo do barco antes que a
tempestade recomece!

A história preservou
apenas os nomes
de nove deles: Aleixo
Garcia, Henrique
Montes (um jovem
de dezoito anos),
Francisco Pacheco
(mulato), e Gonçalo
Costa, estes,
portugueses a serviço
de Castela; e os
espanhóis: Melchior
Ramirez, Francisco
Fernandez, Francisco
Chavez, Duarte Perez e
Aleixo Ledesma.

Mas logo os ventos varriam as nuvens tempestuosas,


deixando entrever no céu os tons avermelhados do poente.

Um grito súbito atrai a atenção de todos.

Alerta
companheiros!
Selvagens
armados!

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Trazendo ainda na Atenção, não reajam! Eles
memória a terrível são muitos, e se quisessem,
cena da morte já teriam nos atingido com
de Solís e seus suas flechas!
companheiros,
assados e devorados
pelos Charrua,
Os marinheiros
alarmam-se com
a visão do grupo
selvagem armado,
com atitude
ameaçadora,
parecendo dispostos
para o ataque.
Muita calma agora, Logo alguns dos
eles baixaram nativos deixam o
as armas!
bando e aproximam-se,
falando e gesticulando
animadamente.
Vencidos os momentos
iniciais de alarme e
susto, os europeus
percebem na atitude
dos nativos curiosidade
e receio, mais do que
ameaça.

Os visitantes são envolvidos pelo numeroso bando,


falando língua estranha, tocando seus rostos e
trajes com expressão de surpresa.

Logo alcançam uma clareira, onde


está situada a aldeia. Todos
Por meio de sinais eles são convencidos a entrar correm para ver de perto os
na mata e seguir os nativos. estrangeiros.

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Os náufragos foram bem recebidos
pelos nativos, os Carijó. Componentes
do grupo Tupi-Guarani, à época
habitavam todo o litoral catarinense,
bem como a Ilha. Viviam em cabanas de
pau-a-pique, cobertas com palha ou
casca de árvores, cercadas por fileiras
de troncos, formando uma paliçada.

Cultivavam batatas, feijão, melancia, milho mandioca


e abóbora. Também criavam patos, gansos e marrecos.

As mulheres fiavam algodão, com o qual


teciam tangas e um tipo de vestido
inteiriço, sem mangas, alcançando até
a metade das pernas, usados nos dias
frios. No inverno acrescentavam peles de
animais aos trajes.

Produziam aguardente de
mandioca e licor de caju,
utilizados em festas, quando
se adornavam com coloridas
penas de aves, praticando
suas danças e rituais
religiosos.
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O algodão fiado servia também para o fabrico
de redes, essenciais em seu modo de vida. As mulheres
Fabricavam também instrumentos de pedras usavam colares
e madeira, vasilhames de cerâmica, cestos de ossos e
de palha e bambu, e todos os apetrechos conchas, com
necessários para caça e pesca. adereços
coloridos nos
cabelos.
Os homens
usavam os
cabelos soltos,
adornados às
vezes com
coroas de penas.

Sabiam retirar o
veneno da mandioca
brava, deixando-a
de molho por alguns
dias, prensando-a
depois através de
uma peneira,
sendo então
disposta
para secar.

Dentro em pouco, os europeus já estavam participando do estilo de vida Carijó,


contribuindo nas atividades da comunidade.
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Na época do naufrágio de Aleixo Garcia Apenas duas expedições exploratórias
oficiais tinham sido enviadas, uma em Em 1526 veio nova expedição,
e seus companheiros, Portugal não tinha comandada por Cristóvão Jacques.
1501 e outra em 1503.
ainda iniciado a colonização do Brasil.

O futuro de Portugal
está no comércio com
as Índias, não em uma
terra cheia de florestas e Limitavam-se a extrair das
selvagens nus. matas o pau-brasil, sem
estabelecer povoações fixas.
Era sua missão combater o contrabando de pau-brasil, praticado pelos franceses.

A primeira povoação
brasileira só foi fundada em Este é um momento
histórico, aqui tem
1532 por Martim Afonso de início a colonização
Souza: São Vicente. do Brasil!

Do descobrimento até essa data, apenas


pequenos fortes foram construídos ao longo
da costa. No litoral de São Paulo, Náufragos
portugueses e espanhóis formaram uma
pequena comunidade que sobrevivia da criação
de galinhas e porcos, deixados por navios que
vinham a terra em busca de água.
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Estamos em 1524. Os oito anos transcorridos Todos constituíram família, ficando cada vez mais distante,
desde o naufrágio promoveram a perfeita em remoto passado, a lembrança da vida em seus países
integração dos europeus ao estilo de vida carijó.
de origem.

Certo dia, um objeto vem


revolucionar sua tranquilidade. Isso é ouro! De onde
veio? Tem mais?

Olhe Caraíba, Gonçalo,


Sangue do Sol. olhe!
Lá para cima, do lado do sol poente, existe um
povo que usa roupas e mora em casas de
pedra. Eles são muito ricos!
Eles têm muitos
potes e cabaças
desse metal e
também de outro
mais claro, brilhante.
Têm também um
chefe branco e
barbado, muito
poderoso.

Será Os indígenas
possível?... sul-americanos
“El Dorado”? contavam a história
do “El Dorado”, rei
poderoso e rico, o
qual, numa cerimônia
anual, cobria seu
corpo com ouro em
pó e depois banhava-
se nas águas de um
lago sagrado.

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Aleixo Garcia reúne seus companheiros e expõe seus Mas como? Somos
planos: uma expedição em busca do “El Dorado”! Isso é poucos, não temos mais
loucura! munição para as pistolas e
arcabuzes, estás louco!

Essa é a nossa
oportunidade! Acharemos
ouro, prata e nos
tornaremos ricos senhores,
com a graça de El Rey!

Indo para Noroeste,


antes de alcançar
o país do ouro,
existem vários povos
aparentados com
nossos índios,
que falam a mesma
língua.

É verdade, eu já viajei
até lá. Nossos parentes já
lutaram com aquele povo e
conseguiram muita riqueza de
suas aldeias de pedra. Lá chegando,
podemos recrutar guerreiros
guarani e saquear o que for
possível! Vamos ficar ricos!

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Cinco dos seus companheiros concordam Vamos
em participar da aventura. todos virar
Eu concordo Fidalgos! Podem
Aleixo está com Garcia! contar comigo!
certo!

Companheiros, é
a nossa grande
oportunidade!

Começam então a preparar as poucas


armas existentes, e coletar provisões. Quando tudo está pronto,
partem acompanhados de
grande número dos Carijó.

Quando
tivermos sucesso
mandaremos
notícias.

Seu plano era seguir para o norte, até a altura


do rio Itapocú.

Boa
sorte!
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Da praia de Barra Velha, seguiram até O Peabiru era uma longa trilha ligando o
Corupá, tomando a antiga trilha do “Peabiru”. Atlântico aos Andes, cruzando o Brasil,
Paraguai, Bolívia e Peru. Tinha pouco menos
de dois metros de largura e era coberto por
gramíneas em longos trechos.

Não se sabia quem teria traçado esse caminho, utilizado pelas


populações indígenas. Mais tarde, foi também percorrido por
conquistadores europeus, que o chamavam “Caminho de São Tomé”.

Acreditavam A trilha melhora


que a trilha tinha em frente, Vamos!
sido aberta pelo
discípulo de Jesus
em visita à América
Pré-Colombiana. O
nome da trilha tem
diferentes grafias:
Peapyru, Peaviju,
Peabiyru, e diferentes
traduções: Caminho
Antigo; Caminho
Fofo; Caminho Ralo;
Caminho de ida e
volta, etc.
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Aleixo Garcia não
deixou registro
escrito de sua
aventura nem de sua
rota, As informações
existentes partem do
relato da expedição
de Alvar Nunes
cabeça de Vaca que
em 1541, seguiu
a mesma trilha
de Garcia, até o
Paraguai.

Seguindo o rio Itapocú


até a Serra de
Corupá, alcançaram
os campos de
Curitiba, onde viviam
outras famílias
guarani.

Atravessaram o rio Iguaçu até o Tibaji, seguindo para Noroeste.

Começam a ouvir um
contínuo ruído, que os
deixa apreensivos.

Vejam, é Com assombro, vêm


uma enorme as cataratas na foz
cachoeira! do Iguaçu. Elas serão
contornadas por terra
O que será esse até alcançarem o rio
barulho? Parece Paraná.
um trovão
sem fim!
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A expedição de Garcia alcança o Com o auxílio dos Carijó, Aleixo Conseguem adesões para formar
Paraguai na região onde hoje se entra em contato com as tribos um grupo guerreiro. Vão tomar de
encontra Assunção (Asunción), onde da região.
habitavam grandes grupos guarani. assalto o sonhado “Eldorado”.
: ... E cada um
voltará com as
riquezas que
puder Carregar.

Forma-se um exército com grande Vamos em frente!


número de guerreiros sob o comando “El Dorado” nos
de Garcia. espera!

O Grupo sobe o rio Paraguai até próximo da Em seu trajeto, o grupo foi crescendo com adeptos
atual Corumbá, dali rumando para oeste. das aldeias guaranis e seus aliados (Mbayaes,
Chanés, etc.)

Cruzaram a fronteira do Império Inca na região de


Charcas, atual Bolívia, entre Mioque e Tomina.

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OS INCAS Na época, a palavra “Inca” Em sua língua, o país era
No início do século XVI, no era o título dado ao chamado Tahuantisuyu
Imperador e aos nobres, País das quatro paredes, e
qual transcorre nossa história, os significando “chefe”. o Imperador governava da
povos habitantes da região ocupada capital, Cuzco.
pela cordilheira dos Andes viviam há
vários séculos sob dominação do
Império Inca, que se estendia desde o
Equador até a Argentina.

A economia do Império dependia da agricultura e da


criação de lhamas.

As terras eram divididas em três


partes: uma para o Sol (sacerdotes);
outra para o Inca (Imperador); e a
terceira distribuída entre o povo.

Os camponeses cultivavam suas


terras, as do Imperador e as dos
sacerdotes.
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O Império era governado por eficiente Construíam suas casas com blocos de pedras e
burocracia e ligado por vasta rede de vestiam-se com tecidos coloridos.
estradas, entremeadas de postos de
correio e fortalezas.

A aventura de Aleixo Garcia aconteceu no final do reinado de


Huyana Capac, que governou até 1525.

Em 1530 teve início a conquista


espanhola, liderada por Francisco
Pizarro. Quando da chegada dos
espanhóis, o país achava-se em plena
guerra civil.

Com suas armas superiores, As revoltas contra a dominação


os espanhóis massacraram espanhola só terminaram em 1571,
grandes populações indígenas. com execução do último líder Inca
Tupac Amaru.

Os dois filhos de Huyana Capac,


Huáscar e Athaualpa, disputavam
o poder. Pizarro valeu-se da divisão
provocada pela disputa para dominar
os Incas.

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Na Bolívia, os guerreiros Encontraram resistência em A notícia da invasão logo alcançou
de Garcia atacaram várias Presto e Tarabuco. o governo central, que do Norte
povoações Incas. enviou um contingente de soldados
armados, comandados pelo general
Yasca.

Confrontado por forças superiores, Aleixo comanda então a retirada de seus guerreiros.

Vamos recuar,
estamos em AAHH!
desvantagem! ë o fim
para
mim!

Partem carregados de despojos: objetos de ouro, prata, roupas e utensílios incas.

Garcia é um grande
chefe, lutou muito
bem!

Vão em paz,
amigos, vocês
são grandes
guerreiros!

Alcançando o Paraguai, o exército foi desmobilizado.


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Na margem esquerda do rio Paraguai, 50 léguas acima Os fatos seguintes não são bem conhecidos. Segundo
do local onde mais tarde surgirá a cidade de Asunción, alguns relatos, nativos inimigos (Payaguás?) atacam o
Aleixo acampa com reduzido grupo de guerreiros. acampamento.

No conflito, o português é morto, assim como muitos de seus comandados.

Outros, a custo, conseguem fugir. Era o final do ano de 1525.

Entre os sobreviventes do ataque estava O pequeno grupo Carijó consegue voltar ao litoral
Francisco Pacheco, e uns poucos Carijó. catarinense, trazendo objetos de ouro e prata.

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Existem relatos também da passagem de Francisco Chaves e um menino, filho de Garcia teriam
Aleixo Ledesma por território argentino, também sobrevivido à emboscada.
carregando despojos.

O menino ficou com seus parentes guarani Anos mais tarde, em São Vicente, contava
da região, enquanto Chaves alcançou o litoral histórias sobre ouro e prata existentes nos
paulista em 1526. Andes e conseguiu convencer Martim Afonso
a financiar uma expedição em busca de tais
riquezas.

Com 80 europeus armados e alguns índios sob


seu comando, Chaves partiu rumo Oeste.

Porém, o sonho de alcançar as riquezas do


“El Dorado”, teve mais uma vez desfecho
trágico: Foram todos massacrados por
nativos da região da foz do Iguaçu. Os outros
companheiros de naufrágio de Aleixo Garcia
continuaram vivendo nos arredores da Ilha,
participando dos eventos de sua história.
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Os marinheiros descem à Não entendo o que ele diz,
O GALEÃO SAN GABRIEL terra em busca de água mas parece um papel escrito
potável. o que ele tem na mão.
Abril de 1526. Um galeão espanhol, San Olhem,
Gabriel, ancora em uma baia ao sul da uma
“Ilha dos Patos”. canoa!

O nativo é levado à presença do capitão, D. Rodrigo


Alcuña.

Era componente da Armada de Jofre


Garcia de Loyasa, em busca das Ilhas
Molucas. Próximo da Patagônia, fortes
tempestades dispersaram os navios.

Ora vejam, existem


homens civilizados
nestas terras!

O capitão envia o contador do Três dias depois ele retorna, acompanhado de


navio com o nativo. dois europeus. Oh ! do navio!
Pedimos
permissão para ir
à bordo!

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Agradecemos Nós viemos na O navio deixa o local onde estava, chamado
por nos receber expedição de João “Porto de Don Rodrigo”, em homenagem ao
capitão. Eu sou Dias de Solís.
capitão e ruma para o “Porto de Patos”.
Melchior Ramirez
e meu amigo é Nossa caravela
Henrique Montes. naufragou na
viagem de volta.

Perto do local onde


O que fazem dois moramos existe um
porto melhor do que este,
europeus nessas com boa água e caça
paragens? abundante.

Diferentes autores localizam o Porto de Por intermédio dos náufragos, os Carijó concordam
Don Rodrigo em locais diversos: Pântano em abastecer o navio.
do Sul, Pinheira e Garopaba.

Os dois europeus vendem


alimentos a D. Rodrigo: 1800
kg de farinha, 240 kg de feijão,
pano para uma vela mezena e
vários refrescos.

30
Sabendo da existência de crianças, filhas Montes e Ramirez contam ao capitão a aventura de
dos náufragos com mulheres Carijó, D. Aleixo Garcia
Rodrigo envia à terra o capelão do navio
para batizá-los.

Apenas Francisco
Pacheco voltou, trazendo
objetos de ouro e prata.

Nesta região Os outros que não foram


só ficamos nós e outros com Garcia viajaram para
dois companheiros. o Norte, (Baia de Santos)
Os despojos Inca,
cerca de três
arrobas (45kg)
foram oferecidos
ao rei da Espanha,
e colocados em
um barco para
levar ao navio,
junto com outros
suprimentos.

O Barco
afundou!
Ajudem!
Socorro,
não sei
nadar!

Ao se aproximar do Perde-se a carga com os objetos Inca


navio, o barco começa a e quinze dos 23 tripulantes do barco.
fazer água e afunda. Ramirez, que ia ao navio fazer as
contas, estava entre os sobreviventes.
31
No dia seguinte os índios conseguem recuperar o barco afundado.

Durante quatro dias os marinheiros trabalham consertando o barco.

O Contramestre,
Sebastián
de Vilareal
decide ficar em
terra, com 8
companheiros,
preferindo viver
com os Carijó, ... e ninguém sabe por
a enfrentar as quais perigos esse navio
incertezas do mar. ainda vai passar!
No navio, o capitão manda rezar Alguns dos tripulantes queriam se amotinar.
uma missa com os tripulantes
restantes.

Vamos matar o
capitão e ficar em terra,
com o Contramestre!

D. Rodrigo manda chamar seu homem de confiança.

Todos devem
jurar lealdade ao Francisco, convença
rei e permanecer os descontentes,
a bordo. faça-os respeitarem
o juramento.
32
Procure fazê-los Francisco D’Avila. Dirige-se aos líderes Miguel Ginovéz, Morelo e
voltar à razão, afinal, Castrillo .
todos estão a
serviço do rei da
Espanha!

Motim é um crime
muito grave! Vocês serão
pendurados na verga do
primeiro navio que os
encontrar!

Com o acordo aparente, eles saem com 20 homens


em um barco para recolher as âncoras.

Está bem Francisco,


diga ao capitão que
vamos ficar no navio.

Ao se aproximarem da bóia, uma Montes e Ramirez tentam Decidido o impasse, O


surpresa. convencer os amotinados a galeão San Gabriel parte,
voltarem ao navio. deixando 14 desertores.
Esqueçam a Vocês serão
âncora, remem considerados
para a praia! traidores de El
Rey e da Espanha!

A maioria concorda, mas Com a redução da tripulação,


o capitão muda os planos de
cinco deles decidem ficar em viagem. Decide retornar à Espanha
terra a qualquer custo. contornando a costa brasileira.

33
A EXPEDIÇÃO DE Era comandada pelo veneziano Sebastião
SEBASTIÃO CABOTO Caboto, Piloto Mor da Espanha.
Vamos procurar um bom
porto, com boa água
e madeira para
construir um batel.

Em 19 de outubro de 1526 chega à Ilha uma


expedição espanhola com três naus.

As três naus param ao largo


da atual “Ilha do Reparo”,
ilhota na extremidade sul da
“Ilha dos Patos”.
Surge então uma canoa com nativos da região.

Parece que nossos


visitantes querem
dizer alguma
coisa!

Por meio de sinais, os nativos dão a entender que


existem cristãos na região.
34
No outro dia, outra canoa chega, trazendo Conta também dos náufragos da caravela de Solís,
um europeu. Ele fala da presença em terra Henrique Montes e Melchior Ramirez, que viviam a 12
dos desertores de D. Rodrigo. léguas dali.

3 dias depois chega Henrique Montes.

Montes conta a
aventura de Aleixo
Garcia, estimulando
a cobiça dos
... e eles se apoderaram espanhóis.
de muito ouro e prata!

Mais tarde chega Ramirez, que Fale-me das


confirma as histórias de Montes. riquezas do El
Dorado!

Estive há algum
Se entrarem pelo rio de Solís,
tempo no Rio de Solís, Lá existem
(O Prata) podem alcançar outro
como intérprete para uma
grande rio (Paraná), e por ele
Armada portuguesa.
riquezas fabulosas:
chegar a uma terra onde poderão uma serra toda
encher os navios de ouro e prata. Ele se refere à expedição de Cristóvão
Jacques de 1522. de prata.
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Orientado pelos náufragos, Caboto entra Ao dobrar uma ponta de terra para entrar na boca
pela barra Sul, até a boca do “rio dos Patos” do rio que formava o porto Ocorre o inesperado.
(Massiambú?). Era 28 de outubro.

Cuidado,
vai
bater!

a nau capitânia, Santa Maria de la Precisamos


Concepcion fica presa em um baixio e abandonar o navio!
inclinando-se começa a fazer água. Peçam socorro às
outras naus!

Caboto rapidamente abandona O capitão da outra nau, Mas o resgate da carga


a nau em um barco, alcançando Francisco de Rojas, manda prolonga-se por 4 dias.
uma das ilhas próximas. socorro para a Capitânia.

Agora não vai


demorar, os porões
já estão cheios de
água!

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As duas naus remanescentes entram em uma Existem indícios de que este ancoradouro era
enseada da Ilha, que foi chamado “Porto da Galera”. localizado na Tapera do Ribeirão.

Com auxílio dos Carijó foi erguido um arraial.

No porto formado pela foz de um rio, instalou-


se a expedição de Caboto.

Comandavam os trabalhos os Mestres


Carpinteiros: Richard (holandez), Juan (grego)
e Baptista (genovês). Juntos estavam também
os ferreiros Pedro Burgão e Pero Dias gallego.
Erigiram uma capela, ferraria, açougue, enfermaria
para os doentes, galinheiro, casas para moradia,
depósito de pólvora e armazém de mantimentos.

37
Em novembro daquele ano, na capela
de madeira foi rezada a primeira missa
em terras catarinenses. A capela não tinha espaço suficiente
para abrigar os tripulantes das três
naus e os curiosos Carijó.

Nas vizinhanças da praia foi montado um estaleiro para


construir uma galera e um batel.
Caboto batizou a ilha, quando, dias antes de
25 de novembro, ficou pronto o estaleiro.
... E de hoje em diante
será Ilha de Santa
Catarina!

Enquanto a expedição permaneceu na Ilha,o espanhol


Durango, desertor do San Gabriel, acompanhava os
índios nas caçadas em busca de alimentos.
Entre 10 de novembro de
1526 e 3 de fevereiro de 1527
Sebastião Caboto e seus
comandados consumiram
273 veados, 398 galinhas,
200 perdizes, 80 patos, 52
cabaças de mel, 40 cestos de
batata doce, 40 de inhame,
200mãos de milho, 30 cargas
de mandioca, 26 cargas de
ostras, 80 cargas de peixe
moído, 6 porcos do mato,
2 antas, palmitos, etc. O
pagamento dos carijós foi feito
com machados, facas, punções,
38 anzóis, espelhos etc.
Muitos dos tripulantes adoeceram com Caboto reuniu seus oficiais, planejando uma expedição
malária, dos quais quatro morreram. A exploratória ao rio de Solís.
enfermaria estava sempre lotada.
Beba todo o xarope, é
feito de mel e ervas e Se as informações
vai ajudá-lo a melhorar. forem exatas, o Rio
de Solís fará nossa
fortuna!

Francisco Rojas foi o único que se opôs à decisão do


capitão geral, ficando visado por ele.
O Comandante
parece esquecer
que nossa missão
é encontrar as
Ilhas Molucas,
e não, correr
atrás do
El Dorado!

Caboto manda prender Rojas por Henrique Montes e Melchior Não há referências a Francisco
insubordinação e segue com seus Ramirez entraram no navio Pacheco, provavelmente ausente
planos. Em 7 de fevereiro a galera com suas famílias, além de nessa ocasião.
e o batel estavam prontos. desertores do San Gabriel.

39
Caboto mandou um barco buscar três Eram eles Francisco de Rojas, o capitão que se insurgira
dos seus oficiais, presos por sua contra Caboto; o piloto Miguel de Rodas, responsável pelo
ordem no outro navio. naufrágio da Capitânia e o tenente Martin Mendéz.

O Sr. Comandante
requer vossas
presenças.
Para surpresa dos prisioneiros, o barco dirigiu-se para
a praia, desterrando-os junto aos Carijó com seus
pertences, barris de bolachas, vinho, armas e pólvora.

Isso é uma
afronta ! O sr.
Caboto há de
pagar caro!

Sebastião Caboto mandou chamar o cacique Topevara.

Eles vão
receber o que
Fique de olho
merecem! nesses rebeldes, Na
volta eu passo aqui
para levá-los.
No dia 15
de fevereiro
seguiu então
a expedição
para o Rio
de Solís:
duas naus,
uma galera
chamada
“Santa
Catalina”
alçaram velas
e rumaram
para o Sul.
40
Três anos depois a expedição de Tinham vivido muitas aventuras Muitos foram os confrontos
Caboto retorna à Ilha de Santa no “Rio de la Plata”. Percorreram com nativos da região,
Catarina. rios, construíram fortes em resultante na morte de vários
suas margens, sempre em busca europeus.
das minas de prata.

Segundo Caboto, 4000 índios


foram mortos.

Seu retorno ocorreu no início de 1530. No Porto de Patos encontraram Durango, o qual relata o
ocorrido com os degredados.

Os três não
estão mais
aqui!

Os três condenados logo mudaram-se para o


continente, onde viviam outros europeus.

Por algum tempo viveram no continente. Certo dia, Martim Mendéz e Miguel de Rodas
desentenderam-se com Francisco Rojas e decidiram cruzar a baia e voltar para a Ilha. 41
Juntaram seus pertences e uma noite decidiram cruzar a
baia na companhia de três índios.

Pretendiam depois continuar a viagem até São Vicente. Porém,


encontram fortes ventos, que provocam seu naufrágio.

No dia seguinte, o Nos restos do Mais tarde, Francisco


corpo de um dos naufrágio se de Rojas foi levado a
índios foi dar à praia. encontravam objetos São Vicente pelo
pertencentes aos bergantim de Diego
dois espanhóis: Todos Garci a que aportou
na Ilha.
tinham se afogado.

Então a expedição de Caboto


deixou definitivamente a Ilha de
S. Catarina, chegando a Sevilha
em 28 de julho de 1530.
42
Na altura de No combate, os
A ILHA E A COLONIZAÇÃO DO PRATA Pernambuco, a frota
encontra dois navios franceses são
corsários carregados derrotados e seus
de pau-brasil. navios incorporados
Em 3 de dezembro de 1530, parte Henrique Montes Eles têm à frota portuguesa.
de Lisboa Martim Afonso de Souza, era um dos bandeira
para estabelecer as primeiras componentes
da armada de francesa!
povoações portuguesas no Brasil.
Martim Afonso.

Malditos ladrões Mas enfrentam


franceses! um obstáculo: O
forte construído
por Cristóvão
Jacques tinha
Sua frota era composta por uma sido destruído e
nau capitânia, um galeão (São saqueado pelos
Vicente), e duas caravelas franceses.
(Rosa e Princesa).
D. João vai ficar Nessa época, os únicos Na Bahia, os portugueses
satisfeito com a europeus presentes no encontraram Diogo Álvares
nova nau! Brasil eram sobreviventes do Correia. Vítima de naufrágio,
naufrágio de embarcações vivia há 22 anos entre os índios
que se aventuravam a que o apelidaram “Caramuru”
explorar as novas terras. deus do trovão, devido ao
estrondo de seu arcabuz.

Martim envia as duas


caravelas em exploração
para o norte e uma das naus
aprisionadas de volta à Lisboa. 43
Descendo para o sul, param no Rio de Janeiro, onde tem início a
construção de paliçada, forte, oficina de ferraria e estaleiro para
reparo das embarcações (abril de 1531).

Em agosto seguem para Ao passar pela Ilha, deixam


Cananéia, e depois para no Porto de Patos uma nau
Rio da Prata. avariada para reparos.

A expedição enfrenta forte tempestade


nas proximidades do Chuí. Naufraga
a nau capitânia, morrendo 7 de seus
tripulantes.

Explorando a região do Prata, Martim afonso mede No regresso, passam pelo Porto de Patos, onde recolhem
latitudes e longitudes, concluindo, desapontado, alguns náufragos castelhanos. Em 20 de janeiro de 1532
estar fora dos domínios portugueses. instalam-se em São Vicente.

Estamos
além da
linha de
Tordesilhas.

Em 1534 D.João III de Portugal dividiu o Brasil em faixas Martim Afonso recebeu a capitania de São Vicente e
de terras chamadas capitanias. seu Irmão, Pero Lopes de Souza ficou com as terras
Precisamos correspondentes ao litoral catarinense .
assegurar
nosso domínio
sobre as terras
do Brasil.

44
Por essa época, a Espanha reuniu uma A esquadra parte de Sanlúcar de Barrameda em 24 de
poderosa frota de 15 naus e 1500 homens, agosto de 1535. Seu objetivo: iniciar a colonização
sob o comando de D. Pedro de das terras banhadas pelo Rio da Prata.
Mendoza.

Eram membros da frota: Melchior Ramirez, como escrivão da


armada, Diego Garcia de Morguer e Gonçalo Costa.

Desta vez El
Dorado não há de
nos escapar!

Depois de uma escala na Ilha de S. Catarina, para se abastecer de


água e alimentos frescos, a expedição acampou nas margens do
Prata e, em 3 de fevereiro de 1536 foi fundada a vila de Nuestra
Señora Santa Maria de Buen Ayere.

45
Mas os espanhóis não
foram bem recebidos.
Em contínuos
confrontos, os índios
acabaram cercando o
povoado por terra. Um
muro de terra batida
circundava casebres
cobertos de palha.
A vigilância era
constante para impedir
ataques indígenas.

Impedidos de
entrar na mata
em busca de
alimentos,
os espanhóis
enfrentam
fome e doença.

O capitão Gonçalo Mendoza foi Vinha com ele Gonçalo Costa, como intérprete, para
enviado então com a nau Santa auxiliar no contato com os Carijó.
Sorte nossa
Catalina ao Porto de Patos, em os Carijó serem
busca de provisões. amistosos. Se
fossem como
Os índios da Ilha os Charrua,
sempre nos trataram estaríamos
com amizade, suas perdidos!
roças de mandioca
e milho serão nossa
salvação Em poucos dias
estaremos de volta,
meu comandante! Os pacíficos Carijó aceitam comerciar com os espanhóis.

Trouxemos muitos
presentes: facas,
machados, anzóis e
outras coisas bonitas.
O Navio regressa carregado de mantimentos, levando
também alguns náufragos remanescentes da região.

46
O assédio dos índios ao povoado de Buenos Aires Doenças e fome causavam tantas mortes quanto as
tornou a situação de seus defensores cada vez setas dos indígenas.
mais crítica.

Após muitas lutas e mortes o povoado foi abandonado aos cuidados de pequeno grupo de
homens, enquanto Pedro de Mendoza subia o rio Paraná com seus comandados.

Um navio foi Os tripulantes assumem o comando e desviam a rota para a


enviado em busca Espanha.
O navio
de alimentos. é nosso!
Os marinheiros
deveriam caçar
lobos marinhos Vamos
fugir
em uma ilha desse
na entrada do inferno!
estuário do Prata.
Nas proximidades da Ilha de Outros navios subiram o Prata O primeiro ano e meio de
Santa Catarina são deixados oito a procura de mantimentos, colonização do Prata cobrou alto
tripulantes que não concordavam tributo: mais de 1000 europeus
fundando no trajeto várias perderam a vida, e não há registro
com a fuga.
povoações. do elevado número de mortos
entre os nativos.

47
Em agosto de 1537
Juan Salazar de
Espinoza funda
no rio Paraguai o
Puerto de Nuestra
Señora de la
Asunción, atual
Assunção, capital
do Paraguai.

Nesse povoado ficam os espanhóis trazidos da Ilha de Santa Catarina com suas famílias.

O Comandante Geral, Pedro de Mendoza morre na viajem, sendo seu corpo lançado ao mar.
Mendoza, doente, retorna à Espanha
com duas naus e 150 homens, com um
pedido de socorro. Gonçalo Costa o
acompanha.

Duas naus são enviadas da Na expedição vêm Gonçalo


Espanha em socorro dos Costa e também cinco frades
colonizadores do Prata, a franciscanos.
Marañona, comandada por
Alonso Cabrera e a Santa
Catalina, sob o comando de
Antônio Lopes de Aguiar.

Eu tenho
certeza que sua
missão entre os
nativos da Ilha terá
sucesso.
48
A nau Marañona
é arrastada por
tempestades e
procura abrigo no
porto da Ilha de
S. Catarina. Seus
200 tripulantes
desembarcam para
os necessários
reparos.

Os dois navios partem em direção ao Prata


Chega então o Galeão Anunciada, vindo carregados de mandioca e milho. O galeão terá
de Buenos Aires em busca de provisões. destino trágico: será despedaçado por uma
tempestade na entrada do estuário do grande rio.

Tem início a missão franciscana no Brasil. Os frades


renomeiam o lugar como Porto de São Francisco, e são
bem aceitos pelos Carijó.
Dois frades, Frei Bernardo de Armenta
e Frei Alonso Lebrón, permanecem junto
aos Carijó, nas aldeias do continente,
próximo ao estreito,

Muitos são batizados e Mais tarde, os frades deslocam


adotam costumes cristãos. a sede de sua missão para
M’biaza (Laguna). Para alcançar
maior número de nativos.
Um dia nós
voltaremos,
Deus vos
abençoe!

Era o final do ano de 1538.


49
Era comandada por Don Alvar Nunes Cabeça de Vaca,
O GOVERNADOR ESPANHOL nomeado Adelantado (governador) do Rio da Prata e
Paraguai, caso Juan Ayolas, substituto de D. Pedro
Mendoza, não estivesse vivo.
Em 29 de março de 1541 faz
escala na Ilha nova expedição
espanhola, com duas naus, duas
caravelas, 40 oficiais e fidalgos,
400 soldados e 26 cavalos.

Se eu não
assumir como
Adelantado, El Rey me
concederá o usufruto
desta ilha por 12 anos!

Alvar tinha vivido


incríveis aventuras.
Sobreviveu a tempes-
tades e naufrágios
na costa da Flórida
(EUA) em 1528. Os
exploradores
espanhois enfrenta-
ram imensas
dificuldades. Durante
10 anos percorreram
18 000 km a pé,
enfrentando fome,
feras e indígenas.

Depois de muitos
contratempos,
Alvar e quatro
companheiros
remanescentes
acabaram por
alcançar o México,
de onde ele
retorna à
Espanha em 1537.
50
O português Gonçalo Costa
vinha novamente, agora como
capitão de uma das naus, Piloto Em 18 de abril, ignorando o rei de Portugal, Cabeça de
Mor e intérprete do Adelantado. Vaca toma posse da Ilha, formalmente,

Em nome de
El Rey da
Espanha.

O escrivão Juan Araoz


registra o evento.

O local onde Cabeça de


Vaca Aportou situava-se
na Baia Norte, chamada
por ele de Baia de Ramos.

51
Surge então um antigo habitante da Ilha, Durango,
desertor do galeão San Gabriel. Ele conta a Alvar a aventura de Aleixo Garcia.
D. Alvar, um ... E ele foi por terra até o E daqueles que foram
morador desta povo do El Dorado e lá se com Garcia, existe
apossou de muito
terra solicita ouro e prata! ainda algum nesta
região, que possa
uma audiência.
ensinar o caminho?

Não há mais ninguém,


os que não morreram,
mudaram-se para
outro local.

Durango e Gonçalo Costa conseguem a


participação dos Carijó na construção
de casas para o governador e seus
comandados.

Eles também abastecem o acampamento com


caça, peixe, mandioca e milho.

52
Cerca de três meses depois, por razões desconhecidas, Não existe certeza quanto a localização desse
o comandante decide mudar-se para o continente porto, se na baia de São José, ou da Palhoça.
fronteiro à Ilha, em local batizado com o nome de
“Puerto de Vera”.
Quero todos
preparados,
mudaremos
amanhã.

Tudo estará
pronto, senhor.

No trajeto para o novo porto,


fortes ventos fazem as duas
caravelas naufragarem.

Os barcos, que enfrentaram com sucesso a Os outros dois navios recolhem os tripulantes das
travessia do Atlântico, afundam com toda sua caravelas afundadas. Todos são salvos.
carga na Baia Sul.

53
Gonçalo Costa reclama da mudança, O auxílio dos Carijó na construção do Gonçalo era também responsável
pois ficaram distantes das aldeias
novo acampamento era prestado de pelo abastecimento. Percorria as
Carijó que os abasteciam.
má vontade, pois eles não estavam aldeias indígenas para comprar
Sr. Governador, habituados a esse tipo de trabalho. mantimentos.
precisamos
presentear
os índios para
obter
sua ajuda.

Verifique o que
podemos dispor,
capitão. Essa será sua
responsabilidade.

Em maio, antes da mudança, chegara um batel com 9 fugitivos de A colônia é um O povo morre de
Buenos Aires. verdadeiro doença e fome, e os
inferno! selvagens cercaram
o povoado!

Então Alvar reúne seus oficiais. Vamo encontrar o


caminho seguido por
Aleixo Garcia!

Vamos mandar uma


expedição a Buenos
Aires por mar, e outra
a Asunción por terra!

54
15 soldados e 5 índios (três carregadores e dois guias) comandados por Pedro de Orantes,
seguiram para o Norte. Missão: encontrar o caminho seguido por Aleixo Garcia.

Durante três meses percorrem o litoral norte, entrando terra-a-dentro,

Alcançam os campos de Os batedores retornam


Curitiba, onde em contato com a missão cumprida.
com aldeias guarani.
Descobrem o Peabiru.

Encontrado o caminho, o governador prepara


sua expedição: 250 arcabuzeiros e besteiros,
dois frades franciscanos e 26 cavalos
seguirão por terra para Asunción.

55
Era 18 de outubro de 1541 quando uma das naus saiu do Porto Vera com destino à foz do
rio Itapocu levando a expedição. Os espanhóis deixaram vários presentes para os nativos em
agradecimento por sua ajuda.

A outra nau permaneceu no porto, A nau que levara o governador, retorna


abastecendo-se para a viagem à ao porto, onde também se abastece de
Buenos Aires. mantimentos.

Somente em 28 de dezembro as duas naus


seguem para o Prata. No comando estava
Pedro Stopiñan Cabeça de Vaca, primo de
Alvar.
De Buenos
Aires iremos
a Asunción e
mandaremos
uma expedição
ao encontro do
Adelantado.

56
O grupo levado por Alvar parte da praia de Barra
Velha em 2 de novembro, Gonçalo Costa entre eles.
Enfrentam calor, mosquitos, Os contratempos tornam a
serpentes venenosas e feras viagem difícil e lenta.
selvagens.

Descobrem, assombrados, a beleza


das cataratas do Iguaçu.

Se me contassem,
eu não acreditaria! Durou 130 dias a longa, cansativa e perigosa
viagem, deixando 3 mortos no caminho. Em 11 de
março de 1542 chegam finalmente a Asunción.

Don Alvar Nuñes cabeça de Vaca nunca retornou à Ilha. Em 1555,


na cidade de Valadolid, Espanha, foi publicado o relato de suas
aventuras, incluindo os fatos aqui narrados.

Tudo aconteceu
como está
descrito no livro!

57
As naus que seguiram para Buenos Aires, encontram-na deserta. Depois de vários
contratempos, chegam à Asunción em dezembro de 1542.

Na segunda metade do século XVI, muitos outros


navios espanhóis e de outras nacionalidades
estiveram na Ilha, além dos portugueses, sempre a
caça de escravos índios.

A fuga dos Carijó para o Os europeus não podiam Assim, existem histórias de terríveis
continente, tentando escapar mais contar com as roças de ocorrências de fome sofridas por
dos escravistas e seu receio de mandioca e milho dos nativos, expedições espanholas naufragadas
manter contato com os navios na região,
europeus que aportavam na nem com suas habilidades na
região criou problemas para os caça e pesca.
visitantes.
Onde estão
Um barco está esses amistosos
chegando! Fujam Carijó?
para a mata!

Somente em meados do
século XVII tem início a
ocupação da Ilha e arredores
por portugueses, em ações
que levarão à definitiva
colonização do litoral
catarinense. Mas, essas já
são outras histórias, e serão
contadas oportunamente, em
outras publicações.

58
BIBLIOGRAFIA

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SILVA, José G. dos Santos. Subsídios para a História da província de Santa Catarina - Vol.1.
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TONUCCI, Paulo M. - Os Povos Andinos. São Paulo, Edições Paulinas, 1992
Brasil 500Anos. Editora Abril, São Paulo, 1999.
Grandes Personagens de Nossa História, Volume 1- Editora Abril Cultural, São Paulo, 1969.
História em Revista - Viagens de Descobrimento -1400-1500. Rio de Janeiro, Abril Livros, 1991.
O Autor
Eleutério Nicolau da Conceição nasceu em Florianópolis em 1950. Desde a infância
interessou-se por desenho e pintura. A princípio copiava figuras de revistas e
livros, mais tarde começou a criar seus próprios desenhos. Aprendeu por ensaio e
erro e pela observação da obra de artistas conhecidos.

Porém, não seguiu carreira no campo das artes: graduou-se em Física e fez
mestrado em Físico-Química na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Lecionou em colégios da Capital e depois, por 26 anos, atuou no Departamento
de Física da UFSC. Aposentado, decidiu retomar seu antigo interesse, contando
histórias de Santa Catarina com a técnica da arte sequencial- “história em
quadrinhos”.
Além da presente obra, “Histórias de S. Catarina- Naufrágos e Conquistadores”,
publicou: “Jerônimo Coelho, Esboço Biográfico”, e dois volumes de “A Saga do
Contestado”. O terceiro e último volume dessa série aguarda publicação. Para o
futuro, tem definido um projeto de contar outras histórias de Santa Catarina,
abrangendo o período de meados do século XVI até início do século XX, utilizando
em todos a técnica do traço a nanquim (bico de pena) e cor em aquarela.

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