Você está na página 1de 1

JP | EFEMÉRIDE 2017.06.

23 |3
A VISITA RÉGIA À ILHA TERCEIRA
HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

H
á exatos roísmo, a zona de São João de Deus A Família Real chegou ao Barreiro situação de crise, em que a Monar-
116 anos, engalanou-se para a tourada, as ruas ao inal da tarde, onde tomou o va- quia era vista como um problema e
nos iní- encheram-se de gentes, vestidas a por “D. Luís”, em homenagem ao pai não uma solução. Enquanto na res-
cios de julho de rigor, com os seus trajes dominguei- de D. Carlos, com destino ao Terrei- tante Europa, o choque da morte de
1901, os reis D. ros, procurando mostrar a populari- ro do Paço, em Lisboa. Desembar- D. Carlos foi forte, em Portugal, os
Carlos e D. Amé- dade das touradas à corda na Ilha. caram, então, na Estação Fluvial Sul Republicanos aproveitaram-se da si-
lia visitaram os e Sueste, por volta das 17 horas. D. tuação, para se implantar. Era o virar
arquipélagos da Anos depois, D. Carlos I seria assas- Carlos e a família decidiram percor- de uma nova página, que culminaria
Madeira e dos sinado em Lisboa, o chamado Re- rer a cidade de carruagem aberta. com a Implantação da República,
Açores, numa visita envolta em pom- gícídio. D. Carlos, os seus ilhos e a Foi um erro fatal. apenas 2 anos depois.
pa e circunstância. Os insulares pre- Rainha, D. Amélia d’Orléans tinham
pararam-se para receber os chefes Quanto à visita régia, as fotograias
de estado. No passeio aos Açores, existentes desta visita à Ilha mos-
os reis passaram pela Terceira, onde tram a necessidade que houve de se
deixaram marca. preservar na memória local a honra
terceirense em receber os seus reis,
A visita régia aos Açores naquele naquela que foi a 1ª visita de Estado
ano de 1900 aconteceu num em que à Terceira no século XX. Há um orgu-
a Europa se encontrava em uma paz lho terceirense em receber os líderes
armada, em que as tensões cresciam governamentais nacionais. A visita
pela airmação colonial, e a localiza- recente do Presidente da República
ção dos Açores e da Madeira eram Marcelo Rebelo de Sousa aos Aço-
essenciais no controlo do Atlântico. res, mostra que o povo da Terceira
D. Carlos chegava a airmar o carác- gosta de receber, de mostrar a sua
ter internacional da visita régia, so- cultura e, sobretudo, de se fazer ou-
bretudo pela presença de navios bri- vir, com a alegria e hospitalidade ca-
tânicos nos mares dos Açores. racterísticas das gentes da Ilha.

A visita real de D. Carlos e D. Amélia Foto: historiadosacores.tumblr.com •


começou pelo arquipélago da Ma-
deira, depois passou aos Açores, co- ERRATA
meçando pela Horta. Já em Angra do
Heroísmo, D. Carlos relembrou que a passado uns dias em Vila Viçosa, no O Terreiro do Paço encontrava-se Na última edição (498), devido a um lap-
cidade fora capital da Regência no Alentejo, mas D. Manuel, o ilho mais quase vazio. No silêncio daquela so não detetado na revisão do jornal,
tempo dos seus Avós, agradecendo novo, regressou a Lisboa mais cedo, tarde, ouviu-se um tiro, que desen- esta crónica de efeméride saiu com o tí-
o papel que a Ilha teve na defesa do por motivos de estudo. Dias depois, cadeou um tiroteio. A população tulo da edição anterior (497). Lamentan-
Liberalismo e ressaltando a forma a restante família regressou à capi- começou a fugir. Manuel Buíça dis- do o facto, apresentamos ao autor e aos
caloroso com que fora recebido em tal, tomando o comboio. Contudo, parou e deixou o rei tombado. Sur- nossos estimados leitores as nossas des-
terras terceirenses. o ambiente em Lisboa não era o me- giu, então, Alfredo Costa que, pondo culpas. •
lhor. Naquela manhã de 1 de Feve- o pé sobre o estribo da carruagem,
PUB
As senhoras de Angra do Heroísmo, reiro, o Príncipe Real vinha armado, ergueu-se até à altura dos passagei-
entusiasmadas pela visita daquela pois os tempos eram outros e vários ros e disparou friamente sobre D.
que seria a última rainha de Portu- Reis foram assassinados naquele im Carlos, matando-o imediatamente.
gal, prepararam-lhe uma surpresa, do séc. XIX e inícios do séc. XX. O pânico estava instaurado.
criaram uma receita nova de quei-
jadas, as Donas Amélias, hoje uma O contexto político da Europa era Os regicidas voltaram-se depois
das iguarias mais apreciadas na Ilha, crítico e Portugal não fugia da mes- para o príncipe D. Luís Filipe que, no
e que ligou para sempre a Rainha a ma situação. A situação adensava-se momento que ia levantar-se e tirar
esta terra. Também naqueles primei- com a ideia de Guerra, a paz armada a arma que tinha trazido, era atingi-
ros dias de julho, realizou-se uma era crescente e evidente. D. Carlos do no peito. Por sorte não morreu,
feira agropecuária no Paúl, na Praia teve um importante papel diplomá- conseguindo, ainda, disparar 4 ti-
da Vitória, onde os Reis estiveram tico no apaziguamento e resfriamen- ros rápidos sobre Alfredo Costa. D.
presentes, juntamente com 30 000 to dos desejos imperialistas das po- Amélia gritava por ajuda. Buíça foi,
pessoas, ou seja, a população acor- tências europeias, pode-se até dizer então, travado pelo soldado Henri-
reu a mostrar aos reis o seu apreço que conseguiu evitar a Guerra por que da Silva Valente. O Príncipe Real
pela visita real. uns anos, mas não foi esta a imagem sucumbiu também. Buíça e Costa
que passou para os Portugueses. A acabaram, também, assassinados.
O momento auge da visita régia à Monarquia era duramente criticada Já era tarde! O Rei e o Príncipe Real
Ilha Terceira foi a participação dos por vários acontecimentos, como estavam mortos. O Regicídio consu-
Reis em uma tourada à corda, dada o Ultimatum inglês de 1890 ou, até, mara-se.
obviamente em sua homenagem. Os pela Ditadura de João Franco. D.
reis de Portugal eram pessoas liga- Carlos era visto, graças a uma boa D. Amélia saiu ilesa do atentado e
das às tradições taurinas, por exem- propaganda republicana, como um D. Manuel sofreu pequenos ferimen-
plo, a praça de toiros do Campo Pe- incompetente, que não zelava pelos tos. No meio deste turbilhão, D. Ma-
queno foi inaugurada a 18 de agosto interesses nacionais. nuel tornava-se Rei de Portugal, o
de 1892, pelos Reis. Em Angra do He- último. O país encontrava-se numa
PUB

Agentes Transitários - Carga Aérea e Marítima - Recolhas - Entregas - Grupagens e Completos | Telefone 295 543 501

Você também pode gostar