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FERNÃO LOPES, CRÓNICA DE D.

JOÃO I

• A palavra crónica tinha um significado diferente daquele que lhe atribuímos atual-
Crónica mente, pois era uma narrativa historiográfica, baseada em documentos escritos e
testemunhos orais, que respeitava a ordenação cronológica dos factos.

• Fernão Lopes nasceu entre 1380 e 1390, existindo escassos registos da sua biogra-
fia. Sabe-se, no entanto, que aprendeu a arte de escrever e algumas línguas, dedicou-
se à profissão de tabelião (escrivão público) e foi guarda-mor da Torre do Tombo, lugar
onde se encontravam os documentos oficiais do Reino.
Contextualização
• Em 1434, D. Duarte confiou-lhe a importante missão de escrever a história dos reis
histórico-literária
de Portugal, criando, deste modo, o cargo de cronista-mor do Reino.
• A obra de Fernão Lopes situa-se, pois, na Época Medieval, período dos cronistas, e
constitui-se como um precioso documento literário e histórico, uma vez que o cronista
faz um relato de factos históricos, numa prosa verdadeiramente inovadora e artística.

• Em abril de 1383, D. Fernando assinou com D. João I de Castela o Tratado de Sal-


vaterra de Magos, que impunha que apenas um filho de D. Beatriz pudesse subir ao
trono português.
• Em outubro desse ano, D. Fernando morreu sem mais herdeiros. Após a morte do
monarca, procedeu-se, em várias terras do reino, à aclamação de D. Beatriz e do
marido. D. Leonor Teles tornou-se regente do reino em nome da filha. No entanto,
a aclamação de um rei castelhano acabou por dividir o reino, tendo desencadeado
grande descontentamento no povo e em parte da nobreza. D. Leonor tinha como
conselheiro um conde galego, o conde João Fernandes de Andeiro, receando-se a
forte influência deste na gestão do reino.
• A 6 de dezembro de 1383, o Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro e de D. Teresa
Lourenço, apoiado por alguns nobres, dirigiu-se ao Paço e matou o conde de Andeiro.
O que foi a crise • Após a morte do Conde de Andeiro, D. Leonor Teles viu-se obrigada a sair de Lisboa,
de 1383-85? fugindo para Santarém, com o intuito de posteriormente pedir ajuda aos reis de
Castela. Receando uma invasão do exército castelhano, o povo de Lisboa reconhe-
ceu o Mestre de Avis, D. João, como «Regedor e Defensor do Reino», e a burguesia
apoiou-o financeiramente, de modo a custear as despesas da guerra.
• No início de 1384, o rei castelhano invadiu Portugal para reclamar o trono, tendo por
base o que havia sido estabelecido pelo Tratado de Salvaterra de Magos, e ocupou
Santarém. Em abril desse ano travou-se a batalha dos Atoleiros, da qual o rei invasor
saiu derrotado. Pouco tempo depois, em maio, o rei castelhano regressou e cercou
a cidade de Lisboa. No entanto, o povo não se rendeu e o cerco foi levantado quatro
meses depois, devido à peste.
• A 6 de abril de 1385, nas Cortes de Coimbra, o Mestre de Avis é aclamado rei
D. João I de Portugal, iniciando-se a Dinastia de Avis e afirmando-se a independência
de Portugal.

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EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 10.O ANO

• A morte do Conde de Andeiro e o apelo do pajem do Mestre e de Álvaro Pais em defesa


do Mestre de Avis, fazendo supor que este corria perigo de vida, levam à adesão popular
e a que povo e burguesia acorram ao Paço da Rainha, agindo solidariamente e com uma
consciência coletiva.
• O povo age solidariamente, revelando união e coesão em defesa da causa do Mestre de
Avis. No entanto, apesar da multidão se constituir como o grande herói coletivo e de
as personagens serem anónimas, o cronista parece lançar um olhar como se estivesse
Afirmação da próximo dos acontecimentos, levando o leitor a visualizar e a ouvir gestos, movimentos,
consciência rostos e sons.
coletiva
• O cronista não se limita a fazer a apologia da resistência popular aos castelhanos, mas
evidencia, sobretudo, a força da consciência popular que defende a independência nacio-
nal, de armas nas mãos, opondo-se a camadas populares, designadamente a alguns
nobres que assumiam a defesa do rei castelhano.
• O povo é sujeito da História, sente-se senhor da terra onde vive e que foi conquistada
pelos seus antepassados, ganhando, por isso, uma consciência coletiva na sua defesa,
porque sente que a pátria é um direito inaliável.

Protagonista da ação, acorrendo rapidamente em defesa do Mestre, quando


ouve os brados do pajem a solicitar apoio. A arraia-miúda, coesa e solidá-
Ator coletivo Povo
ria, age como um todo e acorre aos Paços da Rainha para acudir ao Mestre,
embora o cronista nos dê a conhecer ações individuais anónimas.
Líder carismático e determinado, que se preocupa com a defesa do reino e
o bem coletivo. Mata o Conde de Andeiro, nos Paços da Rainha, fazendo
D. João,
supor que era ele a vítima de um ataque traidor.
Mestre
Fernão Lopes atribui-lhe o mérito de se oferecer para ocupar o lugar de
de Avis
regedor e defensor do reino, o que parece ser mais um risco do que um
privilégio.
Defensor da causa do Mestre, informa e incita o povo, gritando pelas ruas
Pajem de Lisboa que alguém quer matar o Mestre.
do Mestre É um «homem bom», que sabia manejar o povo de Lisboa e gozava de bom
Atores ascendente sobre a burguesia e o povo.
individuais
Agitador do povo, clamando que alguém quer matar o Mestre nos Paços da
Álvaro Pais
Rainha, revelando-se determinado.
D. Leonor Rainha ambiciosa e determinada, designada como aleivosa pela relação que
Teles mantinha com o Conde de Andeiro.
Conde
Nobre interesseiro e traidor, amante da rainha.
de Andeiro
D. João I
Poderoso e nobre, luta pelos interesses de Castela, revelando-se ambicioso.
de Castela

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