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JOAO I
Contexto Histórico
Em 1434, D. Duarte encarregou Fernão Lopes de escrever esta
crónica, sendo uma legitimação da dinastia de Avis, iniciada após uma crise
dinástica que vai de 1383 a 1385.
Atores Individuais:
Ator Coletivo:
Povo: protagonista da ação, acorrendo rapidamente em defesa do
Mestre, quando ouve os gritos do pajem a solicitar apoio. É a arraia-
miúda, coesa e solidária, que age como um todo. Apesar de ignorante
e supersticioso, revela-se a força motora da revolução e,
consequentemente, quem mais padece, resiste e se afirma.
Narrador:
Quanto ao narrador, detetamos a sua subjetividade (“era estranha
cousa de veer”, “era maravilha de veer”), a sua simpatia pelo povo e a sua
defesa do Mestre (legitimação da nova dinastia).
Linguagem e estilo:
Visualismo e dinamismo: a movimentação e o sentir das massas são-
nos apresentados de uma forma muito forte e real, através de recursos
expressivos, como a comparação (“e assim como viúva que rei nom tinha”),
quer através do apelo ás sensações ou do uso de verbos de movimento (“A
gemte começou de sse jumtar a elle, e era tanta que era estranha cousa de
vees. No cabima pelas ruas primçipaaes, e atravessavom logares…”)
Tópicos de Análise
Mas, á medida que o cronista vai descrevendo o que foi feito para
proteger a cidade, vai também mostrando os grupos sociais – os
atores coletivos – que participaram nestes preparativos. Assim,
vemos como os lavradores se recolheram à cidade, como a defesa das
muralhas foi entregue aos “fidalgos e çidadaãos homrados”. Até as
mulheres tiveram um papel a desempenhar, apanhando pedras e
cantando. A atitude das gentes de Lisboa é assim, várias vezes
elogiada pelo narrador. É assim, evidente a afirmação da consciência
coletiva, uma consciência pela defesa da cidade contra o inimigo
Mas não são só as gentes da cidade que têm um comportamento digno
de louvor. Também o Mestre de Avis – ator individual – merece uma
caracterização favorável, destacando -se a sua diligência e
determinação, bem como todo o apoio que deu à população.
Linguagem e Estilo
Registo coloquial: evidente nos apelos ao leitor/ouvinte e no uso da 2ª
pessoa do plural; a transcrição da cantiga, ao reproduzir uma linguagem
popular e carregada de insinuações, contribui também para o tom coloquial.
Tópicos de Análise:
Mais uma vez, o capitulo inicia-se com uma interpelação ao leitor
“Estamdo a çidade assi cercada na maneira que já ouvistes”, através
da qual se estabelece uma ponte com o capítulo anterior e se
transmite uma ideia de continuidade e de ligação a um dos
acontecimentos centrais da narrativa – o cerco de Lisboa.
Mais uma vez também, o protagonismo é das gentes de Lisboa (ator
coletivo), que vivem momentos atrozes por causa da fome que assola a
cidade, devido ao grande número de pessoas que nela se acolheram.
Num estilo vivo e emotivo, o cronista narra e descreve,
pormenorizadamente, o sofrimento da população: a procura arriscada
de trigo, à noite e em barcos; a falta de meios (esmolas) para
socorrer os pobres; a expulsão de todos aqueles que não podiam
combater, bem como dos judeus e das prostitutas; a recusa dos
castelhanos em receber no seu acampamento os que foram expulsos;
a procura desesperada de algo que comer e beber.
A imagem deste sofrimento torna-se ainda mais viva quando o
cronista apresenta pormenores, como por exemplo, o preço
exorbitante de alguns alimentos.
Perante este cenário, o narrador mostra-se solidário e pretende
mesmo comover/sensibilizar os leitores. Por isso, dirige-lhes, por
mais do que uma vez, perguntas retóricas carregadas de intensidade.
O Mestre de Avis (ator individual) aparece-nos neste capitulo como o
chefe que tem de tomar decisões, algumas difíceis, a bem da
comunidade, como a expulsão dos inaptos. Por outro lado, mostra-se
solidário com as suas gentes.
Linguagem e estilo:
Rigor do pormenor – por exemplo, na descrição detalhada dos que saiam à
noite de barco e iam buscar trigo; na informação precisa sobre o preço de
alguns alimentos, como o trigo, o milho, o vinho e a carne (enumeração)
Coloquialismo – muito evidente nas interrogações retóricas e no uso do
imperativo, combinado com a comparação “Hora esguardaae, como se
fossees presente”.