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Fernão Lopes foi um prestigioso escritor, historiador e cronista português, responsável

também pelo início do movimento humanista em Portugal. Este é, até hoje, considerado uma
importante figura histórica devido às suas obras, reconhecidas por serem escritas de uma forma
única.
Nascido em finais do século XIV, em Lisboa, Fernão Lopes proveio de uma família humilde.
No entanto, levou uma vida estudiosa que o fez atingir altos cargos. Foi tabelião e, em 1418,
começou a prestar os seus serviços à coroa portuguesa como guarda-mor da Torre do Tombo - o
arquivo onde se encontram os mais importantes documentos do reino. Poucos anos depois, foi
designado cronista-mor do reino e encarregado, por D. Duarte, a escrever a história dos reis
portugueses, função que cumpriu durante 20 anos. Mesmo escrevendo diversas crónicas, apenas 3
chegaram até nós, sendo estas a Crónica de el-rei D. Pedro I, a Crónica de el-rei D. Fernando e
Crónica de el-rei D. João I, destacando-se a última.
A Crónica de D. João I conta-nos sobre a crise dinástica que ocorreu em Portugal após a
morte de D. Fernando, em 1383, e a subida ao trono de D. João I, Mestre de Avis. D. Fernando
faleceu sem deixar descendentes, com exceção da sua única filha legítima, D. Beatriz. Esta era
casada com D. João I, rei de Castela, deixando assim a independência de Portugal em causa, caso
fosse aclamada rainha. D. Leonor Teles assume a regência até que D. Beatriz assumisse o trono,
para desgosto do povo, que não a aprovava.
Perante esta situação, Álvaro Pais, um burguês, conspira com o Mestre de Avis um plano
para este ser elegido rei. Primeiramente, planejam o homicídio do Conde Andeiro, um fidalgo galego,
conselheiro e suposto amante da rainha, executado por D. João. Enquanto isso, os seguidores do
Mestre de Avis juntamente com Álvaro Pais manipulam a situação e dão a entender ao povo o oposto
da situação, ou seja, que D. João está a ser atacado. O povo, revoltado, vai socorrer o seu “Mestre” e
acaba por matar um bispo, que acreditavam estar envolvido neste ataque. D. Leonor Teles e o resto
da sua corte fogem para Castela e Mestre de Avis é dado como herói.
Um ano depois, Portugal é invadido por castelhanos, que cercam Lisboa. Prevendo este
ataque, os portugueses reforçaram as muralhas em torno da capital, incapacitando a entrada e a
saída da cidade. Apesar desta defesa os ter protegido de ataques inimigos, inúmeros portugueses
morreram devido à fome e à Peste Negra. Os castelhanos cercaram Lisboa por 4 meses, até se
retirarem devido ao surto epidémico que matara já imensos portugueses.
Em 1385, as Cortes reuniram-se em Coimbra para eleger o novo rei. Um jurista português,
João das Regras, teve um papel importantíssimo na escolha do Mestre de Avis, desmerecendo os
outros pretendentes ao trono - ele considerou D. Beatriz inapta ao trono, pois o seu marido, rei de
Castela, havia quebrado o contrato entre ambos os países e ainda pela incerteza da sua legitimidade
como filha de D. Fernando, devido às relações adúlteras de D. Leonor. D. João e D. Dinis - filhos de
D. Pedro e Inês de Castro - e D. João - filho de D. Pedro com uma galega - eram todos filhos
ilegítimos. Porém, Mestre de Avis demonstrava coragem e amor pelo seu país, além das
competências de liderança que já havia demonstrado durante o cerco de Lisboa. Após o jurista
declarar os seus pontos, D. João I é aclamado rei de Portugal.
No entanto, o rei castelhano voltou a invadir Portugal, insatisfeito com a escolha do povo.
Nuno Álvares Pereira, considerado, mais tarde, um dos homens mais poderosos de Portugal, elabora
um plano que leva os portugueses à vitória. Com a tática do quadrado, os portugueses vencem a
batalha de Aljubarrota, apesar de terem um número exorbitantemente inferior de soldados.
Em suma, os relatos de Fernão Lopes foram essenciais para conservar uma parte importante
da história do nosso país, além de serem inovadores na área literária devido a apresentarem
características nunca antes vistas em crónicas, como o coloquialismo, o empoderamento do povo
como herói da história, narração no centro da ação com recurso ao discurso direto, entre outras.

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