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Crónica de D.

João I
Biografia de Fernão Lopes
Fernão Lopes nasceu no final do século XIV, provavelmente entre 1380 e 1390, não sabendo ao
certo a data do seu óbito.

Estima-se que Fernão Lopes tenha nascido nunca cidade ao pé do mar e que, possivelmente, os
seus pais estavam ligados ao comércio marítimo, visto que nas suas crónicas são retratadas
batalhas navais e os seus impactos.

Sabemos que teve um filho, que nasceu por volta de 1407, tento tirado um curso de Medicina e
servido de médico pessoas do Infante D. Fernando.

Por volta do ano de 1417, já era guarda mor da Torre do Tombo, no Castelo de São Jorge e já
escrevia para o rei.

Fernão Lopes forma-se num contexto próximo a acontecimentos que se faziam recentes na
memória dos portugueses, como a Crise de 1383-1385 e a Batalha de Aljubarrota (1385), o que lhe
permitiu entrar em contacto com testemunhos dos acontecimentos, sendo estes eventos relatados
na sua obra de 1443, Crónica de D.João I.

O estilo de Fernão Lopes


Vivacidade
-Capítulos organizados em sequências narrativas que evoluem de forma gradual até ao clímax do
episódio.

-Caracterização das personagens a partir das suas atitudes.

-Utilização de narração, descrição e diálogo de forma alternada.

-Utilização de verbos de ação e do gerúndio.

Linguagem
Utilização do registo corrente/popular;

Convocação frequente do narratário;

Recurso a apóstrofes, interrogações retóricas, exclamações e interjeições.

Apelo visual
Utilização de campos lexicais relacionados com os sentidos (visão, audição).

Recurso a enumerações, comparações, personificações e dupla adjetivação.

Crónica de D. João I
A Crónica d’El Rei D. João I, escrita em 1443 pelo cronista Fernão Lopes, foi feita a pedido do Rei D.
Duarte.
É do género crónica medieval pois contém textos em que se registam acontecimentos históricos
por ordem cronológica.

A crónica é composta por 2 partes, contendo um prólogo antecedendo cada uma.

A primeira parte tem 193 capítulos é relatada a crise de sucessão de 1383-1385 que teve lugar no
fim da primeira dinastia. Descreve o que se passou entre a morte de D. Fernando e a subida ao
trono de D. João I, Mestre de Avis, alguns dos temas mais marcantes foram:

-Relação e casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles;

-Conflitos com Castela;

-Assinatura do Tratado de Salvaterra de Magos, que determina o casamento de D. Beatriz, filha de


D. Fernando e herdeira da coroa portuguesa, com o rei de Castela);

-Morte de D. Fernando;

-Envolvimento de D. Leonor Teles com o Conde Andeiro.

A segunda parte tem 203 capítulos e descreve os acontecimentos ocorridos durante o reinado de
D. João I até 1411, altura em que foi assinada a paz com Castela, alguns dos temas são:

-Descontentamento popular e reações à aclamação de

-D. Beatriz e de D. João de Castela como monarcas portugueses;

-Assassínio do Conde Andeiro pelo Mestre de Avis.

Capitulo 11- “Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Mestre, e como alo foi Álvaro
Pais e muitas gentes com ele.”

Resumo do capitulo
Neste capítulo, Fernão Lopes narra a forma como a população de Lisboa, ao ouvir os boatos
lançados pelo Pajem e por Álvaro Pais, acudiram ao Mestre de Avis, pois o estavam a matar nos
Paços da Rainha.

A população pegou nas suas armas e saiu em multidão pelas ruas da cidade, dirigindo-se em grande
alvoroço para o Paço.

Os gritos que se ouvem vão aumentando a revolta ao longo do capítulo e os populares juntam-se,
jurando incendiar as portas.

Tempo depois alguém grita de dentro do paço a avisar que quem morreu foi o conde Andeiro, a
população não acredita e apenas se acalmaram quando o Mestre apareceu a uma janela. Assim a
população começou a insultar o conde Andeiro e a rainha.

Posteriormente, questionam-no sobre o que iria fazer. Ele responde que já não precisa de ajuda e,
no momento em que se vai sentar à mesa para comer com o conde de Barcelos, chega a notícia de
que o povo quer matar o bispo.
Divisão do capitulo
Este capitulo pode ser dividido em quatro partes:

1ª parte (Apelo)-mobilização da população de cidade pelos apoiantes do Mestre de Avis.

2ª parte (Movimento)- a multidão rodeia o Paço e ameaça invadi-lo.

3ª parte (Confluência)- Mestre surge à janela e dirige-se à multidão para a pacificar.

4ª parte (Separação)- o Mestre é informado acerca do perigo em que se encontra o Bispo de


Lisboa.

Narrador
É um narrador omnisciente que mostra as emoções das personagens, as intenção delas mesmas e
narra o plano da morte do Conde.

Personagens
Personagens ausente

- O conde Andeiro, que se sabe ter sido morto;

- A rainha, retratada muito negativamente;

- O bispo de Lisboa, acusado de traição e que será morto.

Personagens coletivas
O povo é um dos protagonistas do capítulo, uma personagem coletiva que garante a defesa do
Mestre. Determinadas ações são individuais e anónimas, como gritar, ir buscar lenha ou pegar em
armas, mas a personagem funciona sempre em conjunto.

É uma personagem coletiva visto que partilha um conjunto de características comuns (lisboetas e
patriotas) e um objetivo comum (apoiar o Mestre), agindo como um todo, coletivamente.

Personagens individuais
-Pajem- informa o incita o povo, gritando e lançando o boato que alguém quer matar o Mestre,
como previamente combinado.

- Álvaro Pais é quem conduz o povo, com ajuda do Pajem, para preparar psicologicamente o povo a
aceitar e mesmo aplaudir o assassínio do conde de Andeiro.

-Mestre de Avis que é descrito como populista pois aparece à janela com a finalidade de obter o
apoio da população, gentil quando se dirige à multidão em termos afáveis, carismático ao
conseguir liderar a revolta contra os castelhanos e por fim desejado, dado que a população de
Lisboa acorre para o salvar. A população associa-o ao seu pai D. Pedro e à ideia de independência.
Recursos expressivos

Apóstrofes

- “Ó Senhor, como vos quiserom matar…”: demonstra o respeito do povo para com o Mestre e o
alívio pela proteção de Deus o ter livrado da traição do conde Andeiro.

- “Amigos…”: a amizade entre o Mestre e o povo.

Comparação

-"assi como viúva que rei nom tinha, e como se lhe este ficara em logo de marido”: indica o estado
de espirito da cidade, tal como uma viúva a cidade estava desamparada.

Metáfora

- “Todos feitos de um coraçom”: sublinha a união do povo e a comunhão de sentimentos. 

Capitulo 115- «Per que guisa estava a cidade corregida per se defender, quando el-rei de Castela
pôs cerco sobre ela»

Resumo do capitulo

O mestre de Avis assim que soube da possível chegada do Rei de Castela, ordenou a recolha de
mantimentos e preparou a defesa da cidade, ele também atribui tarefas de defesa a pessoas em
quem ele confia.

Preparativos para a defesa da cidade

Mantimentos

Chegavam bateis com carnes salgadas, guardavam pães e quaisquer outras coisas que pudessem
abastecer a cidade durante vários dias.

Defesa

O Mestre mandou colocar materiais bélicos e catapultas nas torres, atribuiu áreas de defesas a
alguns fidalgos ou cidadãos apoiados por grupos de soldados. Combinou um alarme que seria tocar
o sino. Apenas oito portas da cidade estariam abertas e guardadas por homens aramados, durante
a noite as torres teriam vigias.

O Mestre de Avis

Apesar de liderar os preparativos para a defesa da cidade, ele não permanece apenas dando
ordens, ele é o real retrato de um líder, envolvendo-se pessoalmente nas tarefas.
Ele atribui as tarefas de defesa aos responsáveis, confirma se todas a portas e as muralhas estão
seguras, entrega chaves a homens da sua confiança e manda construir estacas para defender a
zona da Ribeira.

A população

Houve um enorme envolvimentos, coragem e audácia por parte dos fidalgos, dos membros do
clero e das raparigas.

Recursos expressivos

Polissíndeto

-“… d´escudos e lanças e dardos e beestas de torno, e doutras maneiras: serve para demonstrar e
intensificar a ideia da abundância.

Pleonasmo

“… subindo per cima da altura dos paos…” : reforça a ideia da alturas dos paus.

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