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A POSIÇÃO DE PORTUGAL NA EUROPA E NO MUNDO

1. COMO SE ORGANIZA O TERRITÓRIO PORTUGUÊS?

1.1. COMO SE LOCALIZA O TERRITÓRIO

1.1.1. ONDE SE LOCALIZA DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS


Portugal é constituído por uma parte continental, e por dois arquipélagos atlânticos, os Açores, e a Madeira, onde se
incluem, também, os arquipélagos desabitados das desertas e das selvagens.

O território continental localiza-se no extremo sudoeste do continente europeu e forma um retângulo alongado no
sentido norte-sul, na faixa ocidental da Península ibérica. Ao conjunto do território corresponde ainda uma vasta área de
oceano, designada por Zona Económica Exclusiva (ZEE).

1.1.2. A LOCALIZAÇÃO ABSOLUTA DE PORTUGAL CONTINENTAL E INSULAR


Portugal continental liga-se a Espanha e ocupa uma grande parte da fachada ocidental da Península ibérica,
apresentando uma extensa linha de costa. A sua localização absoluta é delimitada pelos paralelos de 36º 57’ e 42º 09’ a
norte do equador e pelos meridianos de 6º 11’ e 9º 29’ a oeste do meridiano de Greenwich [Fig. 2E].

O arquipélago dos Açores situa-se no oceano Atlântico, a oeste do território continental, a uma distância aproximada
de 1400 km. É constituído por nove ilhas, divididas por três grupos (ocidental, Central e oriental). A maior ilha é São
Miguel, e a mais pequena é o Corvo. A sua localização absoluta é delimitada pelos paralelos de 37º e 40º norte e pelos
meridianos de 25º e 31º oeste [Fig. 2C].

O grupo ocidental é constituído pelas ilhas do Corvo e das Flores; o grupo Central pelas ilhas do Faial, do Pico, de São
Jorge, da Graciosa e da terceira; o grupo oriental pelas ilhas de São Miguel e de Santa Maria.

O arquipélago da Madeira situa-se a uma distância aproximada de 900 km do extremo sudoeste de Portugal
continental, estando mais próximo do continente africano do que do europeu. É constituído por duas ilhas (Madeira e
Porto Santo) e ainda pelos pequenos arquipélagos das desertas e das selvagens. A sua localização absoluta é delimitada
pelos paralelos de 32º e 33º norte e pelos meridianos de 16º e 17º oeste [Fig. 2D].

1.2. A DIVISÃO ADMINISTRATIVA DE PORTUGAL


Portugal é um Estado independente desde o século XII, tendo adquirido a configuração atual nos finais do século XIII.
Sendo um dos países do continente europeu com as fronteiras mais antigas (mais de 850 anos), adquiriu, desde longa
data, uma forte identidade nacional.

A Constituição Portuguesa define o caráter unitário do Estado e enquadra a sua organização administrativa, que prevê
a existência de regiões autónomas e de distritos, e a divisão destes em concelhos e freguesias.

As regiões autónomas compreendem os arquipélagos da Madeira e dos Açores. O seu regime político-administrativo,
criado na sequência da democratização do País após 1974, caracteriza-se por uma ampla autonomia e apoia-se nos seus
aspetos geográficos, económicos, sociais e culturais. Em cada região autónoma, existe uma Assembleia regional, eleita de
quatro em quatro anos, e que dá lugar à formação de um Governo regional.

1.2.1. AS NUT
Após a adesão de Portugal à União Europeia (UE), em 1986, foi implementada uma divisão regional do País
denominada Nomenclatura das Unidades Territoriais (NUT). Trata-se de uma base territorial comum a todos os estados
-membros, em que a delimitação das regiões tem em conta as características físicas, históricas e funcionais do território. É
utilizada apenas para fins estatísticos, constituindo a base de recolha, tratamento e análise de dados da União Europeia
para a aplicação de fundos comunitários.

A divisão do País em NUT faz-se em três níveis, que correspondem à escala nacional (NUT I), à escala regional (NUT II)
e à escala sub-regional (NUT III) [Fig. 4].

2. QUAL É A POSIÇÃO GEOGRÁFICA DE PORTUGAL?

2.1. O CONCEITO DE POSIÇÃO GEOGRÁFICA


A posição geográfica não se limita à localização absoluta, dada pelos valores de latitude e de longitude. Neste conceito
está também implícita a localização relativa de um determinado território em relação a outros espa ços físicos,
económicos, políticos ou culturais.

2.2. A IMPORTÂNCIA DA POSIÇÃO GEOGRÁFICA NAS CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS DO TERRITÓRIO


PORTUGUÊS
A latitude e a longitude de Portugal continental posicionam o território no ponto mais ocidental do domínio do clima
mediterrânico, virado para o Atlântico.

Esta posição faz com que, nos meses mais frios do ano, predominem as massas de ar frias e húmidas vindas do
Atlântico e, nos meses mais quentes, se faça sentir a influência do anticiclone dos Açores, responsável por condições
climáticas associadas ao calor e à secura.

As estações do ano apresentam, assim, grandes contrastes: os verões são quentes e secos, e os invernos, frescos e
húmidos. Estas características gerais escondem uma outra faceta do clima de Portugal, com grande impacto na vida das
populações: a grande irregularidade da precipitação de ano para ano e, em consequência, um elevado risco de secas ou
de cheias.

A posição geográfica de Portugal continental permite um jogo de várias influências: a atlântica, de oeste; a
mediterrânica, de leste; a africana, de sul e sudeste; e a continental europeia, de nordeste e de leste. Desta forma, e com
base nos contrastes espaciais, pode dividir -se o território em três grandes regiões: o Norte Atlântico, o Norte Interior e o
Sul [Fig. 5 e Quadro 2]. Uma vez que o fator relevo implica algumas modificações nas suas características, estas regiões
não têm limites rígidos.

2.2.1. OS ARQUIPÉLAGOS ATLÂNTICOS


Os arquipélagos atlânticos dos Açores e da Madeira vêm acrescentar uma maior diversidade a todo este conjunto
de características físicas. 

Os Açores situam-se na mesma faixa de latitudes de Portugal continental, bem no meio do Atlântico Norte, o que lhe
confere, no geral, um clima temperado marítimo. Caracteriza-se por ser bastante chuvoso, apesar da influência
anticiclónica (Anticiclone dos Açores). A elevada humidade, associada à influência de um relevo muito movimentado,
típico de regiões vulcânicas, leva à formação de chuvas orográficas, mesmo nos meses mais quentes de verão. 

Quanto ao arquipélago da Madeira, a sua latitude mais meridional permite o aparecimento de um clima mediterrânico
na vertente sul da ilha. A existência de chuvas orográficas na vertente norte torna o clima mais húmido.

2.3. A INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO GEOGRÁFICA NAS ATIVIDADES HUMANAS

2.3.1 NO CONTEXTO HISTÓRICO


A posição geográfica de finisterra pode ser vista segundo duas perspetivas contrárias: por um lado, a sua localização
na periferia da Europa contribuiu para o seu isolamento; por outro lado, a sua fachada oceânica, projetada para o
Atlântico, deu-lhe algum protagonismo em determinados momentos da história mundial, nomeadamente na época dos
descobrimentos, em que Portugal foi pioneiro.

A posição de Portugal entre a Europa e a África, e entre o Atlântico e o mediterrâneo, colocou o País nas rotas de
diferentes povos e nos principais fluxos económicos e comerciais. também a localização dos arquipélagos atlânticos
portugueses, entre a Europa e a América, proporcionou o estabelecimento de escalas marítimas, acentuando a
importância de Portugal no contexto mundial.

2.3.2. NO QUADRO DA UNIÃO EUROPEIA


Mais recentemente, a adesão de Portugal à União Europeia veio redefinir a sua posição geográfica. no contexto da
União Europeia, Portugal insere-se em três espaços distintos:

• ocupa uma posição de região periférica, ou mesmo ultraperiférica, no caso dos arquipélagos atlânticos;

• integra o designado Arco Atlântico, menos desenvolvido do que o centro da União Europeia (região conhecida como
Dorsal);

• A parte mais meridional está ainda incluída na região designada como Sul, a menos desenvolvida da União Europeia
[Fig. 7].

os diferentes níveis de acessibilidade permitem distinguir o centro das periferias da União Europeia. A análise da
acessibilidade potencial por via rodoviária permite constatar que Portugal se encontra numa posição periférica, cenário
que se repete quando analisados outros indicadores [Fig. 8].

A adesão de países do leste europeu à União Europeia reforçou ainda mais este caráter periférico de Portugal face aos
novos contextos político e económico, uma vez que o alargamento se faz para oriente, no lado oposto de Portugal. Assim,
esta situação faz deslocar o centro da Europa mais para leste, afastando-o do território nacional.

3. EM QUE ESPAÇOS ECONÓMICOS SE INTEGRA PORTUGAL

3.1. OCDE
Portugal faz parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que reúne um vasto
conjunto de países a nível mundial, normalmente denominados «países desenvolvidos», e é também um estado -membro
da União Europeia desde 1986.

A necessidade de os países da Europa ocidental se organizarem para vencer as dificuldades e conseguir a recuperação
económica conduziu à ideia de que o crescimento e o desenvolvimento económicos só seriam possíveis através de um
espaço económico alargado, em que fosse possível a liberdade nas trocas comerciais internacionais

3.2. UNIÃO EUROPEIA


Neste contexto, surgiu a União Europeia, atualmente constituída por 27 países. Esta organização internacional, que
visa uma união política, económica e social, levou à abolição das barreiras alfandegárias e à criação de uma moeda única,
conservando, no entanto, as instituições e os regimes políticos de cada país.

3.3. OUTROS ESPAÇOS ECONÓMICOS


A uma escala global, existe ainda a Organização Mundial do Comércio (OMC), que agrega uma grande parte dos países
do mundo. Pretende promover o comércio internacional, sujeitando todos os estados-membros às mesmas regras [Fig.
10]

4. COM QUE ESPAÇOS CULTURAIS SE RELACIONA PORTUGAL?

4.1. O GRUPO DE PAÍSES LUSÓFONOS


O espaço da língua portuguesa — o espaço lusófono — é, em grande parte, uma herança do antigo império colonial.

Com o objetivo de valorizar o espaço da lusofonia, surgiu, em 1996, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP). A sua identidade assenta na ideia da língua portuguesa como um meio importante para a projeção internacional
dos valores culturais dos povos que falam português. A comunidade teve como fundadores Portugal, Angola, Brasil, Cabo
verde, Guiné -Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Em 2002, após a sua independência, Timor -Leste passou
também a fazer parte da CPLP [Fig. 12]. Em 2014, a Guiné-Equatorial tornou-se membro.

Os laços que unem Portugal aos restantes países de língua portuguesa fazem-se notar também na sua Ajuda Pública
ao Desenvolvimento (APD). A maior parte da ajuda de Portugal destina-se aos países africanos lusófonos (PALOP), a timor
-leste e à Guiné-Equatorial. O setor que mais tem beneficiado desta ajuda é o das infraestruturas e serviços sociais, em
particular, o setor da educação.

4.2. A DIÁSPORA PORTUGUESA


O relacionamento cultural de Portugal com o mundo passa também pelas redes e circuitos da mobilidade humana. O
resultado dos vários ciclos e movimentos migratórios justifica que exista uma população numerosa de emigrantes
portugueses e de luso descendentes dispersos pelo mundo, formando as comunidades portuguesas [Fig. 12].

A emigração é, desde o século XV, uma característica da sociedade portuguesa. Até meados do século XX, teve um
caráter transoceânico, destacando-se o Brasil como destino preferencial dos Portugueses. Neste país existe uma das
maiores comunidades de portugueses no estrangeiro.

A partir da década de 60, a emigração portuguesa sofreu uma inversão em termos de tendência e de destino. Entre
1966 e 1985, mais de metade dos emigrantes portugueses partiu para outros países europeus, principalmente para
França e para a Alemanha. No mesmo período, os EUA e o Canadá constituíram também destinos importantes para a
população que deixou o País.

No total, estima-se que vivam no estrangeiro perto de cinco milhões de pessoas de origem portuguesa [Fig. 11]. Estas
comunidades são, em grande parte, responsáveis pela difusão da cultura portuguesa pelo mundo através da língua, das
festividades religiosas, da gastronomia ou da música.

A POPULAÇÃO: EVOLUÇÃO E DIFERENÇAS REGIONAIS

1. QUE DINÂMICAS APRESENTA A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO?

1.1. A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA


Só o conhecimento de uma população torna possível inventariar as suas necessidades e, a partir destas, planear e
implementar projetos que facilitem a resolução dos problemas mediante uma utilização racional dos recursos.

No estudo da demografia de um país (isto é, da sua população) destacam-se os recenseamentos, também designados
por «censos», que se realizam regularmente, de dez em dez anos [Doc. 1]. Além da informação recolhida nos censos, o
INE disponibiliza outro tipo de dados estatísticos e de estudos sobre o comportamento das diversas variáveis
demográficas. Entre as variáveis que importa analisar, conta-se a forma como a população tem evoluído ao longo do
tempo, bem como as características que apresenta num dado momento. O conhecimento dos valores sobre a população
absoluta em Portugal em cada ano tem por base os valores de população residente que foram recolhidos ou para os quais
foi feita uma estimativa

1.1.1. PRINCIPAIS DADOS DOS CENSOS DE 2011


À data da realização do último recenseamento, em 21 de março de 2011, a população residente em Portugal era de 10
562 178 habitantes, dos quais 5 046 600 eram do sexo masculino e 5 515 578 eram do sexo feminino. A observação da
informação do Quadro 1 permite traçar um retrato da situação demográfica de Portugal em 2011:

• A maioria da população, cerca de 95 %, habita no território continental, enquanto os restantes 5 % se distribuem de


forma semelhante pelas duas regiões autónomas;

• As mulheres representam mais de metade da população;

• O número de idosos é significativamente superior ao número de jovens — em conjunto, estes dois grupos
representam mais de um terço do total da população;

• O número de nascimentos é reduzido, cerca de nove crianças por cada mil habitantes; • O número de óbitos é
superior ao de nascimentos;

• Os óbitos em crianças com menos de um ano de idade são em número reduzido;

• É significativa a percentagem de pessoas em idade ativa e idosas que não possuem escolaridade;

• A percentagem de indivíduos com curso superior é ainda reduzida;

• Tendo em conta o quantitativo de famílias existentes, o número médio de elementos por família é reduzido (2,6);

• É significativo o peso das famílias constituídas por um único elemento (21,5 %), em especial no grupo dos idosos;

• O peso das famílias numerosas, com cinco elementos ou mais, é substancialmente inferior (6,5 %) ao das
constituídas por um único elemento;

• De entre as famílias com filhos surgem, com alguma relevância, as famílias monoparentais.

1.2. A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO EM PORTUGAL


A evolução da população, ou seja, o seu crescimento efetivo, resulta da combinação do crescimento natural com o
saldo migratório.

A população portuguesa caracteriza-se por um crescimento bastante significativo desde o início do século XX [Fig. 2].
No entanto, o seu comportamento tem sido bastante irregular ao longo do tempo. Aos períodos de crescimento
francamente positivo das décadas de 30 e de 40 opõem-se o período de crescimento negativo da década de 60 e o
período de relativa estabilidade na década de 80.

A análise da sua evolução evidencia um ritmo de crescimento cada vez mais lento desde a década de 50:

• Em 1950, o número de habitantes rondava os 8,5 milhões;


• Entre 1950 e 1960, a população registou ainda um crescimento moderado. Os elevados valores de crescimento
natural de então foram atenuados pelos valores negativos do saldo migratório, provocados pelo início das correntes
emigratórias para a Europa Ocidental;

• Entre 1960 e 1970, deu-se uma inversão no crescimento da população, tendo-se verificado um decréscimo,
consequência da redução do crescimento natural e da intensificação da emigração;

• O período entre 1970 e 1981 é marcado por nova inversão, agora no sentido positivo, através de um forte aumento
demográfico, consequência do aumento do saldo migratório;

• Entre 1981 e 1991, a população portuguesa passou por uma fase de estagnação, crescendo apenas 34 mil
habitantes, um reflexo claro da redução da taxa de natalidade;

• Entre 1991 e 2001, registou-se um ligeiro aumento, ultrapassando-se, pela primeira vez, os 10 milhões de
habitantes. Os baixos valores de crescimento natural foram compensados pela imigração, que conduziu ao crescimento
dos valores do saldo migratório;

• Desde 2001, manteve-se a tendência anterior, isto é, um aumento muito ligeiro e uma clara desaceleração do
crescimento efetivo.

Em síntese, a evolução da população portuguesa caracteriza-se por diferentes fases, que se enquadram nas mudanças
que ocorreram na vida política e económica do País, na sociedade e nas famílias [Quadro 2]. Não obstante as suas
especificidades, tem acompanhado, com um ligeiro atraso, as tendências demográficas verificadas nos países
desenvolvidos, no que diz respeito ao modelo de transição demográfica, no qual é possível situar a evolução da
população de qualquer país [Fig. 3 e Quadro 3].

2. QUE VARIÁVEIS UTILIZAM NA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO?

2.1. O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO PORTUGUESA


Nos últimos vinte anos, a taxa de crescimento natural tem mantido uma tendência decrescente, apesar de, em alguns
anos, a mesma ter sido contrariada com aumentos ligeiros. Já a taxa de crescimento efetivo não seguiu esta tendência
[Fig. 4].

No período entre 1990 e 2002, em resultado de um crescimento significativo do saldo migratório (as taxas de
crescimento migratório aumentaram desde valores negativos, até ao valor de 0,7 %), a taxa de crescimento efetivo
registou valores crescentes de ano para ano.

Esta evolução deveu-se aos grandes fluxos de entrada no País, quer na forma de imigrantes com nacionalidade
estrangeira, quer na forma de regresso de portugueses. Neste período, a população residente em Portugal aumentou em
cerca de meio milhão de pessoas, o que correspondeu a uma taxa média anual de 0,5 %.

A primeira década do presente século mostra uma tendência inversa. O crescimento continuado da população
residente registou um ritmo fraco, com valores a tender para zero [Fig. 5]. Entre os anos de 2000 e 2010, a população
portuguesa aumentou em cerca de 411 mil pessoas, a que corresponde uma taxa de crescimento médio anual de 0,4 %. A
recente dinâmica do crescimento da população residente em Portugal é caracterizada, em simultâneo, pelo decréscimo
do saldo fisiológico, que atingiu valores negativos, e pelo ritmo de desaceleração do saldo migratório, mantendo-se,
contudo, em valores positivos [Quadro 5]. Neste período de tempo, o crescimento natural foi sempre inferior a nove mil
indivíduos e, nos últimos anos, registou um valor negativo que se tem agravado, consequência de o valor da natalidade
ser, cada vez mais, inferior ao valor da mortalidade, e do progressivo agravamento do envelhecimento demográfico,
tanto pela base da estrutura da população, resultante da diminuição da proporção da população jovem (com menos de
15 anos) como pelo aumento da proporção da população idosa (65 ou mais anos).
2.1.1. AS TENDÊNCIAS PORTUGUESAS NO CONTEXTO EUROPEU
A tendência de baixos valores de taxa de crescimento natural é seguida pela maioria dos países da União Europeia,
dos quais se excetuam a Irlanda, o Chipre, França e o Luxemburgo. Portugal situa-se a níveis inferiores aos da média dos
estados-membros, no grupo de países onde a taxa de mortalidade é maior do que a taxa de natalidade, isto é, com
valores negativos. Estes valores, além de se refletirem no envelhecimento da população, têm igualmente grandes
implicações na não substituição de gerações no futuro [Quadro 4].

2.2. A INFLUÊNCIA DAS MIGRAÇÕES NA EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA


Portugal é um país tradicionalmente de emigração. Ao longo da sua história, muitos foram os portugueses que
procuraram melhores condições de vida no estrangeiro. O saldo migratório foi sempre negativo, atingindo valores
máximos na década de 60 do século XX, em resultado do maior surto de emigração da nossa história.

Nesta década, os emigrantes portugueses, sobretudo de Portugal continental, dirigiram-se principalmente para os
países da Europa Ocidental, em especial França e Alemanha, que necessitavam de mão de obra não especializada para a
reconstrução após a Segunda Guerra Mundial [Fig. 7].

Da mesma forma, ao longo do tempo, os arquipélagos dos Açores e da Madeira também foram marcados por diversos
fluxos emigratórios importantes. Estes movimentos têm, tradicionalmente, como destinos preferenciais os países da
América do Norte, por parte dos Açorianos, e a Venezuela e a África do Sul, por parte dos Madeirenses.

O saldo migratório negativo da década de 60 contribuiu de forma decisiva para o crescimento efetivo negativo da
população portuguesa.

2.2.1. A INVERSÃO DO SALDO MIGRATÓRIO A PARTIR DOS ANOS 70


A década de 70 representou uma inversão do comportamento da taxa de crescimento migratório, devido à
interrupção da emigração e ao regresso a Portugal de muitos emigrantes e de portugueses que residiam nas ex-colónias,
em resultado do processo de descolonização (1974-1975).

Portugal passou, desde então, a ter taxas de crescimento migratório positivas e progressivamente mais elevadas, com
exceção do período entre 1985 e 1992, ou seja, deixou de ser essencialmente um país de emigração e passou também a
ser um país recetor de imigrantes [Fig. 8].

Este surto imigratório tem origem em países dos vários continentes, salientando-se os imigrantes provenientes de
países de língua oficial portuguesa (PALOP e Brasil) e de países da Europa de Leste [Fig. 9].

Não obstante esta inversão, ainda vivem e trabalham no estrangeiro cerca de cinco milhões de portugueses, o que
corresponde a quase metade da população residente em Portugal [Fig. 6].

2.2.2. A SITUAÇÃO ATUAL


As correntes imigratórias têm atualmente um papel importante no crescimento da população portuguesa por via de
dois processos distintos:

• pelo número de efetivos que entra no nosso território vindo de vários países, com predomínio dos que estão em
idade ativa [Fig. 10];

• pelo incremento de nascimentos que estas comunidades desencadeiam.


Em 2010, residiam em Portugal cerca de 450 mil imigrantes em situação legal. Contudo, não se sabe ao certo o
número total de estrangeiros que se encontram no País, uma vez que não estão contabilizados os imigrantes
indocumentados, tornando difícil conhecer melhor esta realidade e a sua influência nas dinâmicas demográficas.

Os últimos anos têm sido marcados por dificuldades económicas que se têm traduzido no aumento do desemprego;
como consequência, é notória a diminuição do fluxo imigratório e, até, um aumento da emigração.

2.3. A EVOLUÇÃO DA NATALIDADE EM PORTUGAL


A taxa de natalidade em Portugal, à semelhança da que caracteriza os países desenvolvidos, registou um forte
decréscimo nas últimas décadas. Desde meados do século XX que a diminuição se acentua, passando de 25 ‰ para 11 ‰
na viragem do século. Nos últimos anos, esta tendência mantém-se de forma contínua, embora a um ritmo lento [Fig. 11].

A vinda de população estrangeira para Portugal, sobretudo em idade adulta/jovem e com diferentes características
culturais e comportamentos em relação à natalidade, tem contribuído para atenuar o ritmo de decréscimo da taxa de
natalidade. A longo prazo, poderá contribuir para inverter a tendência decrescente deste indicador [Fig. 12].

A tendência da baixa natalidade atinge, de um modo geral, todo o País, mas é particularmente grave na região de Alto
Trás-os-Montes e em algumas áreas da região Centro, com valores inferiores a 5,8‰. A Grande Lisboa é a região onde se
regista o valor mais elevado, com 11,7 nascimentos por cada mil habitantes. Existem alguns contrastes a nível regional,
sendo o mais evidente o que opõe as regiões do interior norte e centro às do litoral e aos arquipélagos dos Açores e da
Madeira [Fig. 13].

2.3.1. FATORES QUE EXPLICAM A DIMINUIÇÃO DA NATALIDADE


Na sua origem, está toda uma mudança de mentalidades no contexto da sociedade. Os valores individualistas têm-se
afirmado cada vez mais, passou a existir um maior investimento na educação das crianças, quer ao nível económico quer
ao nível afetivo, e as mulheres desempenham um papel mais ativo na vida política, económica e social do País. Com o
aumento do nível de instrução e a sua participação crescente no mercado de trabalho, a mulher passou a dar uma
importância maior à sua afirmação social e profissional, tornando mais difícil a conciliação da vida familiar e profissional.
Consequentemente, a idade média do casamento aumentou, assim como a idade média em que se tem o primeiro filho:
numa década, os valores destes indicadores passaram dos 26 para os 29 anos, aproximadamente [Quadro 6].

Outros fatores, não menos importantes, contribuíram igualmente para a redução do número de nascimentos: o
alargamento do período da escolaridade obrigatória e a entrada mais tardia no mercado de trabalho; o crescimento do
modo de vida urbano; a perda de importância do casamento como instituição familiar; o aumento do número de
divórcios; a implementação de práticas de planeamento familiar; ou, ainda, a generalização do controlo de natalidade
[Doc. 3].

Atendendo a que a taxa de natalidade relaciona apenas os nascimentos com a população absoluta, resulta a inclusão,
neste indicador, de pessoas que não podem procriar, por serem jovens ou idosos. Assim, importa considerar também
outros indicadores que, no seu cálculo, tenham em conta exclusivamente as mulheres em idade de procriar: a taxa de
fecundidade e o índice sintético de fecundidade.

A taxa de fecundidade varia em função da idade da mulher, sendo notória, de ano para ano, a tendência para os
valores aumentarem nas idades mais avançadas em detrimento das classes mais jovens [Fig. 14]. Por sua vez, o índice
sintético de fecundidade tem registado uma tendência decrescente, com valores muito abaixo de 2,1 — valor que é
considerado mínimo para assegurar a renovação de gerações. Em síntese, a análise conjunta dos três indicadores permite
concluir que existe uma relação direta entre eles.
2.4. A EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE EM PORTUGAL
A taxa de mortalidade tem desde há muito tempo uma tendência descendente, seguindo o modelo de transição
demográfica, no que diz respeito aos países desenvolvidos. No início do século XX, apresentava valores na ordem dos 20
‰, os quais foram descendo progressivamente até atingirem metade daquele valor na década de 70. Desde então a
tendência tem sido para a estabilização, ou mesmo para uma subida ligeira, facto que se tem verificado nos primeiros
anos do presente século [Fig. 15]. No que respeita à taxa de mortalidade infantil, a descida foi ainda mais acentuada, uma
vez que, em meados do século, este indicador se situava nos 100 ‰.

A descida verificada na mortalidade ficou a dever-se, à melhoria generalizada das condições de vida dos Portugueses e
que se manifestaram:

• nos hábitos e nas dietas alimentares dos vários grupos da população;

• no acesso aos cuidados primários de saúde e à assistência médica;

• nos hábitos de higiene pessoal;

• nas condições das habitações e no saneamento básico;

• nas condições de trabalho, através da redução do número de horas de trabalho e da implementação de medidas de
segurança mais rigorosas;

• nas condições de assistência materno-infantil, que permitiram a redução bastante significativa da mortalidade
infantil (acompanhamento na gravidez, realização dos partos em hospitais, acompanhamento pós-natal e generalização
da vacinação infantil).

Na generalidade das regiões do País, a taxa de mortalidade infantil é baixa. Contudo, a região autónoma dos Açores e
Lisboa apresentam valores superiores ao observado no conjunto do País [Fig. 17].

2.4.1. AUMENTO DA ESPERANÇA DE VIDA E ENVELHECIMENTO


Este dinamismo verificado nas taxas de mortalidade teve consequências no aumento da esperança de vida. Em menos
de 100 anos, este índice mais do que duplicou o seu valor, o que coloca Portugal no grupo de países com maior esperança
de vida à nascença. Contudo, existem diferenças entre homens e mulheres, facto que se deve a razões biológicas, aos
diferentes modos de vida, e tipos e condições de trabalho entre os géneros [Quadro 7].

O aumento da esperança de vida reflete-se, por sua vez, no crescimento do número de idosos e do índice de
envelhecimento. Este facto concorre, na atualidade, para a estabilização da taxa de mortalidade nos 10 ‰, e para a
tendência de um ligeiro acréscimo [Quadro 8].

De entre as causas de mortalidade, destacam-se as doenças do aparelho circulatório, que, em conjunto com as do
aparelho respiratório e os tumores, representam 70 % das causas observadas em Portugal [Fig. 18].

A análise da distribuição espacial permite concluir que existe uma grande dispersão nos valores de taxa de
mortalidade entre as várias regiões do País, os quais variam entre o valor mais baixo verificado na NUT Cávado (7,2 ‰) e
o mais elevado (19,1 ‰) registado na NUT Pinhal Interior Sul. Existe um claro contraste entre as regiões do interior, desde
Trás-os-Montes ao Alentejo, com valores elevados, e as de Lisboa e as de entre Cávado e Baixo Vouga, com valores abaixo
da média do País, o que reflete, uma vez mais, os diferentes níveis de envelhecimento bem como a desigualdade nas
condições sociais e económicas existentes entre as regiões [Fig. 16].

3. QUE CONSEQUÊNCIAS RESULTAM DA EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO?

3.1. A REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA ETÁRIA DA UMA POPULAÇÃO


O conhecimento da estrutura etária de uma população é importante para a compreensão dos seus principais
problemas e desequilíbrios.

A população divide-se em três grupos etários: o dos jovens até aos 14 anos; o dos adultos, com idades entre os 15 e os
64 anos; e o dos idosos, com 65 anos ou mais. Para que a análise da população se torne mais pormenorizada, os grupos
etários são, por sua vez, desagregados em classes etárias, divididas de cinco em cinco anos e por género. A estrutura
etária é representada graficamente por pirâmides etárias ou de idades, cuja forma permite identificar as características da
demografia de um país [Fig. 19].

O estudo de caracterização da população reflete diversas variáveis demográficas como a natalidade, a fecundidade, a
mortalidade, a mortalidade infantil, ou os movimentos migratórios. Deste modo, consegue visualizar-se, por exemplo, o
grau de juventude ou de envelhecimento de uma população, bem como as tendências destas características no futuro
[Docs. 4 e 5].

Identificadas as tendências demográficas para um dado país, pode fazer-se a programação de equipamentos coletivos
nos setores da saúde, da educação e da segurança social, e tomar decisões estratégicas com implicações sociais, como a
criação de incentivos ao emprego ou a alteração da idade da reforma.

3.2. A ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO PORTUGUESA


A análise da evolução da estrutura etária portuguesa, nos últimos cinquenta anos, permite identificar uma clara
tendência para a diminuição dos jovens, em detrimento da população idosa, que aumenta significativamente a sua
proporção [Fig. 20]. Pode concluir-se que:

• em 1960, Portugal caracterizava-se por uma população mais jovem, com uma taxa de mortalidade infantil elevada e
uma esperança média de vida relativamente baixa. Contribuíam para este cenário as características rurais da sociedade, o
papel da mulher mais reservado às tarefas domésticas e a fraca divulgação dos métodos contracetivos, que contribuíam,
em conjunto, para valores elevados da taxa de natalidade, o que promovia o crescimento natural;

• em 1981, verificava-se já uma ligeira tendência para o envelhecimento da população, uma vez que existia um
estreitamento da base da pirâmide, ou seja, uma redução na proporção dos jovens; a classe dos 0-4 anos, com menos
indivíduos do que a seguinte (classe oca), mostrava a natalidade num processo de redução. O alargamento das classes dos
adultos e dos idosos evidenciava uma diminuição da mortalidade e, logo, um aumento da esperança de vida; • desde os
anos 80, acentua-se o envelhecimento da população, sendo visível o grande estreitamento da base e um claro
alargamento da parte média e superior da pirâmide;

• a projeção da evolução da população, para 2050, dá continuidade a esta tendência de duplo envelhecimento, pela
base (relacionado com a quebra da natalidade e consequente redução do número de jovens), e pelo topo (associado ao
aumento da esperança de vida).

3.3. TENDÊNCIAS DA DEMOGRAFIA PORTUGUESA NA ATUALIDADE: O ENVELHECIMENTO DA


POPULAÇÃO
A evolução da estrutura etária da população portuguesa revela, por um lado, uma redução significativa nas classes
etárias jovens em resultado da quebra da fecundidade e, por outro, um acréscimo importante nos efetivos em idade
idosa, por via do aumento da esperança de vida. Assim, a tendência é para um acentuar do envelhecimento, isto é, para o
aumento do número de idosos em relação ao número de jovens.

3.3.1. OS ÍNDICES DE ENVELHECIMENTO E DEPENDÊNCIA


O índice de envelhecimento, através do qual se relacionam os efetivos daqueles dois grupos, mostra a tendência
crescente que se tem verificado desde há vários anos, e, no início do século XXI, ultrapassou o valor de 100 %, ou seja, a
proporção de idosos passou a ser superior à dos jovens [Fig. 21]. No ano de 2011, por cada 100 jovens existiam 130
idosos. Entre a população idosa, é de salientar ainda o aumento do número de indivíduos com mais de 75 anos, facto que
é expresso na evolução do índice de longevidade [Fig. 22].

Ao assumir um peso cada vez maior na sociedade portuguesa, passa a existir uma maior dependência do grupo etário
idoso relativamente à população em idade ativa, com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos. O índice de
dependência de idosos acompanha, desta forma, o aumento verificado no índice de envelhecimento: nos últimos dez
anos, a relação entre idosos e adultos passou de 24 % para 29 % [Fig. 23].

Quanto ao índice de dependência de jovens, a tendência é contrária à anterior.

A relação dos efetivos dos grupos de jovens e idosos com o resto da população, ou seja, com a população em idade
ativa — índice de dependência total — tem vindo a aumentar gradualmente, não obstante a descida verificada no índice
de dependência de jovens. Atualmente situa-se num nível considerado alto: em 2011, foram registados cerca de 52
jovens e idosos por cada 100 adultos.

Este envelhecimento da população portuguesa origina uma grande dependência de uma parte da população (jovens e
idosos) em relação a outra (população adulta), a qual suporta cada vez mais os encargos sociais com os idosos, uma vez
que existem cada vez menos jovens a entrar no grupo de população em idade ativa.

3.3.2. A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO ENVELHECIMENTO


O processo de envelhecimento em Portugal não se tem refletido do mesmo modo em todas as regiões do País. Na
verdade, existem várias assimetrias espaciais que são o resultado dos comportamentos demográficos desiguais que se
verificam no território [Fig. 24]. Os principais contrastes no índice de envelhecimento verificam-se:

• entre o território continental e as regiões autónomas — os valores registados no território insular, 74 % nos Açores e
91 % na Madeira, contrastam claramente com os 131 % do continente, detendo assim uma proporção de jovens superior
à de idosos;

• no território continental, entre as regiões mais envelhecidas estão o Alentejo e o Centro, com 179 % e 164 %,
respetivamente, e as regiões de Lisboa (118 %) e Norte (114 %).

3.4. A POPULAÇÃO ATIVA EM PORTUGAL


A caracterização da estrutura etária da população de um país permite conhecer a proporção de indivíduos em idade
ativa e o quantitativo da população ativa. Este será tanto maior quanto maior for o número de adultos.

Em 2011, foram contabilizados em Portugal cerca de 5543 milhares de pessoas como sendo população ativa, sendo
que 47 % eram do sexo feminino. Esta aproximação ao valor registado para os homens vem confirmar o papel mais ativo
que a mulher tem vindo a desempenhar no mercado de trabalho nas últimas décadas [Fig. 26].

A desagregação da população ativa por grupos de idades mostra ainda que é nas faixas compreendidas entre 25-54
anos que se concentra a maioria dos seus efetivos, cerca de 75 % [Fig. 27].

Quando se relaciona o quantitativo de população ativa com o total da população do País com mais de 15 anos, torna-
se possível determinar a sua taxa de atividade, que, em Portugal, no ano de 2011, correspondia a 61,8 %.

A taxa de atividade é influenciada por um conjunto de aspetos, não só de ordem demográfica, mas também de ordem
social e económica:
• os movimentos migratórios, através das entradas e saídas de pessoas, com implicações diretas no quantitativo de
adultos, principalmente nos homens, o grupo que mais se movimenta entre os países;

• a proporção das mulheres no mercado de trabalho, facto que tem sido notório na evolução recente em Portugal,
uma vez que o aumento da taxa de atividade tem sido suportado pelos acréscimos registados no grupo feminino [Fig. 28];

• a idade limite para as reformas;

• com o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, a entrada dos jovens no mercado de trabalho é mais
tardia.

3.4.1. OS SETORES DE ATIVIDADE PREDOMINANTES


A análise da estrutura da população ativa, ou seja, a distribuição da população empregada pelos três setores de
atividade, mostra uma evolução e uma repartição muito desigual entre os mesmos. Destaca-se o setor terciário
relativamente aos demais setores, com dois terços da população empregada [Fig. 29]. A distribuição da população
empregada feminina mostra uma maior desigualdade entre os setores, com o terciário a empregar 75 % das mulheres
[Fig. 25].

Em Portugal, nas últimas décadas, ocorreram aparentemente as mudanças na estrutura da população ativa típicas da
transformação do terciário no setor preponderante da economia e do emprego (ver caixa ao lado).

A terciarização da sociedade em Portugal não se encontra, no entanto, relacionada com um desenvolvimento


equilibrado da economia. Os valores registados escondem uma realidade em que o abandono dos campos e da atividade
agrícola ocorreu sem que o tenha precedido uma modernização desta atividade. Grande parte da população que
abandonou as áreas rurais passou diretamente do setor primário para o setor terciário, sem que tenha ocorrido no País
uma verdadeira industrialização.

3.5. O NÍVEL DA POPULAÇÃO PORTUGUESA


O nível de instrução de uma população é um fator fundamental no crescimento da economia de um país,
constituindo-se, em simultâneo, como uma causa e uma consequência do seu desenvolvimento. Um país com um bom
nível de desenvolvimento possibilita a aquisição de um nível educacional superior aos seus habitantes. Por sua vez, esta
maior qualificação dos recursos humanos permite às atividades económicas alcançar maiores níveis de riqueza, com
reflexos diretos na melhoria do bem-estar e da qualidade de vida no País [Fig. 30].

Tradicionalmente, existe a tendência para medir o nível de instrução dos países através dos valores da taxa de
analfabetismo, ou seja, a incapacidade das pessoas para ler e escrever. Contudo, na atualidade, este indicador revela-se
insuficiente para fazer uma avaliação mais pormenorizada. Assim, utilizam-se outros indicadores que permitem conhecer,
por exemplo, o grau de escolarização da população, a sua distribuição pelos vários níveis de ensino, ou o abandono
precoce da educação e formação por parte dos jovens.

3.5.1. UM RETRATO DA SITUAÇÃO PORTUGUESA


A análise conjunta dos vários indicadores permite concluir o seguinte:

• A população adulta sem escolaridade tem registado uma descida acentuada [Fig. 31];

• A diminuição da população feminina sem escolaridade é a mais significativa, passando de 24 % para 13 % na última
década;
• Os indivíduos sem escolaridade, no grupo etário idoso, mantêm-se em número elevado (35 %), apesar da descida
verificada [Fig. 32];

• Em comparação com os idosos, o grupo dos adultos é constituído por um número bastante inferior de indivíduos
sem escolaridade;

• A taxa real de escolarização situava-se em níveis muito baixos até meados dos anos 90 do século XX, tendo
registado, a partir de então, um crescimento significativo [Fig. 33];

• O nível de escolaridade geral da população portuguesa registou incrementos significativos, salientando-se o


aumento na conclusão do ensino secundário e do ensino superior. Consequentemente, são cada vez em menor número
os indivíduos que apenas completaram o 1.º ou o 2.º ciclos do ensino básico [Fig. 34];

• Apesar do aumento do nível de escolaridade, 59 % da população portuguesa tem apenas a escolaridade básica, e
cerca de 11 % não tem mesmo qualquer escolaridade (embora só 5,2 % sejam analfabetos) [Fig. 35];

• Existe uma maior proporção de mulheres sem escolaridade relativamente aos homens;

• Entre a população feminina, é também maior a proporção no que respeita à conclusão do ensino superior (32 %);

• Entre a população masculina, é maior a proporção dos indivíduos apenas com a escolaridade básica (65 %), quando
em comparação com o grupo das mulheres;

• O crescimento da escolaridade ao nível do ensino secundário tem acompanhado o aumento da idade da


escolaridade obrigatória, mas também a redução registada na taxa de abandono precoce da educação e formação dos
jovens entre os 18 e os 24 anos [Fig. 36].

4. QUE PROBLEMAS CARACTERIZAM A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO PORTUGUESA?

4.1. IMPACTOS DO DECLÍNIO DA FECUNDIDADE…


Um dos problemas demográficos com que Portugal se debate é o declínio da fecundidade, que está diretamente
relacionado com a redução da natalidade, a qual tem sofrido uma quebra regular desde há aproximadamente meio
século.

Neste período de tempo, o índice sintético de fecundidade passou de 3,2 em 1950 para 1,37 em 2010. Uma vez que
está abaixo do limite mínimo de 2,1 filhos por mulher, Portugal não consegue renovar as gerações, o que constitui uma
situação problemática para o País.

4.1.1. … NA PRODUÇÃO ABSOLUTA E NA ESTRUTURA DA POPULAÇÃO


De acordo com projeções demográficas recentes, este facto irá contribuir para que, no ano de 2060, a população
absoluta estimada seja de 10 364,2 milhares de indivíduos. Os resultados obtidos pelo INE indiciam que a população
residente em Portugal poderá continuar a aumentar até 2034, atingindo 10 898,7 milhares de indivíduos, ano a partir do
qual os efetivos populacionais diminuirão, atingindo, em 2055, valores inferiores aos da atualidade [Fig. 37]. Esta situação
poderá ser ainda mais negativa caso os movimentos imigratórios sofram uma grande redução [Doc. 6].

As projeções da população residente, resultantes dos impactos das tendências de evolução do saldo fisiológico e do
saldo migratório, revelam alterações significativas na estrutura etária da população. Entre 2011 e 2060, a proporção de
jovens diminuirá (de 15,2 % para 11,9 %), bem como a percentagem da população em idade ativa (de 66,8 % para 55,7 %).
Em oposição, assistir-se-á ao aumento considerável do peso relativo da população com 65 ou mais anos de idade, que
quase duplicará (passando de 17,4 % para 32,3 %) [Fig. 38].
No que respeita aos grupos da população em idade ativa, as projeções indicam a redução da importância das classes
etárias entre os 15 e os 39 anos e um aumento do peso da classe dos 55 aos 64 anos. Esta evolução irá refletir-se na
redução da população em idade ativa e no seu envelhecimento, cenários que poderão ser ainda mais agravados no caso
de ocorrer a redução do saldo migratório.

4.1.2. … NO CONTEXTO EUROPEU


Esta tendência de evolução da população portuguesa no futuro vai no mesmo sentido das tendências que são sentidas
na generalidade dos países europeus e que se relacionam com as mudanças e a modernização das sociedades,
sobressaindo um papel mais ativo da população feminina, que adia ou exclui a maternidade dos seus projetos de vida
[Doc. 7]. O decréscimo da fecundidade é um problema que afeta de forma geral todos os países da União Europeia.
Portugal, a par da Hungria e da Letónia, regista o índice sintético de fecundidade mais baixo do espaço comunitário [Fig.
39].

De realçar que nenhum país da União Europeia assegura a renovação de gerações. Apenas Irlanda e França, com
valores de 2,07 e 2, respetivamente, se aproximam dessa possibilidade.

4.2. O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO


O problema do declínio da fecundidade em Portugal não pode ser estudado sem atender à sua relação com outro
problema demográfico: o envelhecimento da população, bem evidente na evolução do índice de envelhecimento e nas
pirâmides da estrutura etária.

As projeções da população para 2060 indicam uma população de cerca de 3350 milhares de idosos, ou seja, 32,3 % da
população absoluta, números que representam um aumento significativo relativamente aos valores de 2011, que
rondavam os 1915 milhares (18 % da população total) [Fig. 38].

Considerando o aumento da população idosa, em simultâneo com o decréscimo da população jovem, o índice de
envelhecimento da população irá aumentar significativamente. O cenário das projeções demográficas sugere que, em
2060, residirão em Portugal 271 idosos por cada 100 jovens, mais do dobro dos atuais 129.

Para este aumento esperado do envelhecimento, irá contribuir principalmente a tendência de crescimento da
população mais idosa [Fig. 40]. Em 2060, os efetivos com 80 e mais anos de idade poderão atingir valores próximos de 15
% da população total, ou seja, um valor muito superior aos 4,2 % verificados em 2008, evolução que resulta sobretudo do
aumento da esperança média de vida.

A representação através de pirâmides etárias evidencia de forma clara os efeitos do envelhecimento da população,
mostrando as tendências observáveis em todas as idades [Fig. 42].

A ocorrência de saldos migratórios positivos não será suficiente para contrariar o envelhecimento demográfico, nem
mesmo que se verifique em simultâneo um crescimento nos valores da fecundidade. O comportamento favorável destes
indicadores apenas permitirá atenuar o ritmo de envelhecimento populacional.

4.2.1. CONSEQUÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO


O envelhecimento da população pode ser abordado de diferentes perspetivas; no entanto, importa sintetizar as suas
consequências:

• Aumento do índice de dependência de idosos faz com que recaiam cada vez mais encargos sobre a população ativa;

• Agravamento dos problemas do sistema de Segurança Social com o aumento do número de reformados e
pensionistas e com a assistência médica aos idosos [Doc. 8];

• Diminuição da população ativa conduz a uma redução na produção de riqueza do País;


• Diminuição do espírito de dinamização e inovação, que, em geral, é característica da população mais jovem;

• Diminuição da produtividade por via da falta de rejuvenescimento da população ativa;

• Redução da natalidade, uma vez que estão a diminuir os escalões etários onde a fecundidade é mais elevada.

O envelhecimento da população também tem consequências positivas na sociedade, permitindo o desenvolvimento


de tarefas ligadas, por exemplo, ao voluntariado ou ao acompanhamento de crianças, as quais possibilitam, por sua vez, a
revalorização do papel dos idosos [Fig. 41].

4.3. CONSEQUÊNCIAS A NÍVEL EDUCACIONAL


A última década foi marcada por uma melhoria no nível educacional em Portugal. No entanto, no contexto europeu, o
País apresenta ainda níveis considerados baixos, o que constitui igualmente um problema e um desafio social e
económico para o futuro.

A escolarização dos Portugueses situa-se ainda em níveis inferiores aos da média da União Europeia. Em Portugal,
apenas 35 % da população entre os 25 e os 64 anos terminou o ensino secundário, o que, a par de Malta, coloca o País
entre os que registam as mais baixas taxas de escolarização. No extremo oposto, encontra-se a maioria dos países, com
valores superiores a 75 % [Fig. 43]. Por sua vez, no que respeita ao ensino superior, o panorama no contexto da União
Europeia não se revela melhor, uma vez que apenas 12 % dos Portugueses completou este nível de ensino, enquanto na
União Europeia esse valor é de 26 %.

4.3.1. O NÍVEL EDUCACIONAL POR REGIÕES


A distribuição da população de acordo com o nível de ensino completo, revela disparidades regionais significativas. A
maioria da população com ensino secundário completo reside nas regiões de Lisboa, Norte e Centro, representando, no
total, 84 % deste grupo de população. Uma distribuição semelhante ocorre com a população que completou o ensino
superior: em conjunto, as três regiões referidas concentram cerca de 77 % dos diplomados [Fig. 44].

A população da região de Lisboa apresenta, comparativamente com as restantes, níveis de ensino mais elevados.
Cerca de 17,4 % da população de Lisboa completou o ensino secundário, e 16,7 % possui um curso superior. A seguir a
Lisboa, o Algarve destaca-se como a região com mais proporção de população (16,8 %) que completou o ensino
secundário [Fig. 45]. No que concerne ao ensino superior, depois de Lisboa, as regiões Centro, Algarve e Norte, aparecem
praticamente em igualdade de circunstâncias. Nestas, cerca de 10 % da população possui um grau de ensino superior. A
Madeira aparece a seguir, com 9,9 %; o Alentejo, com 8,9 % e, por último, os Açores, com 8,4 %.

Em síntese, o reduzido nível educacional resultante das baixas taxas de escolarização tem como consequência níveis
baixos de qualificação e de formação profissional dos recursos humanos. O nível de qualificação e formação profissional é
fundamental para a produtividade e a competitividade da economia, o que torna a situação atual em Portugal um fator
inibidor da empregabilidade e do crescimento económico do País.

A estes problemas, junta-se a iliteracia, ou analfabetismo funcional, que afeta grande parte da população, isto é,
pessoas que, apesar de saberem ler e escrever, não são portadoras das capacidades necessárias para no seu quotidiano
usarem eficazmente a informação escrita [Doc. 9].

4.4. CARACTERÍSTICAS DO EMPREGO EM PORTUGAL


As características do emprego em cada país são o resultado da conjugação de um conjunto de aspetos políticos,
sociais e económicos que, em determinado momento, marcam a sua sociedade. Por um lado, as políticas governativas
podem facilitar ou condicionar o investimento e a criação de empregos, nomeadamente através de incentivos de vária
ordem. Por outro lado, as condições económicas podem influenciar o crescimento empresarial e o aparecimento de novas
unidades, gerando mais empregos. Por fim, as características demográficas que o país apresenta aos investidores podem
ser, ou não, potenciadoras do fomento do emprego. As condições geradas ao nível da criação de emprego, ou pelo
aumento do desemprego, são de grande importância no estudo da população.

Quanto ao emprego em Portugal, salientam-se as seguintes características:

• A taxa de emprego tem vindo a diminuir desde o início do século, especialmente depois de 2008, em resultado das
dificuldades que afetam a economia desde então [Fig. 46];

• A descida na taxa de emprego fez-se sentir em todos os estratos da população ativa, mas com maior incidência no
estrato mais jovem, com menos de 25 anos de idade [Quadro 9];

• A maioria da população trabalha por conta de outrem, facto que se tem acentuado nos últimos anos, ao invés dos
trabalhadores por conta própria (quer sejam, ou não, empregadores);

• A tendência para a alteração do tipo de trabalho e das condições em que é realizado: aumento do peso dos
contratos a prazo e do emprego a tempo parcial. Esta realidade conduz à ocorrência de situações de precariedade e de
grande instabilidade, frequentes na economia portuguesa, e que se refletem na vida das pessoas, principalmente quando
não são uma opção sua;

• Nos últimos dez anos, aumentou o nível de escolaridade da população empregada. Na atualidade, o ensino
secundário ou o ensino superior representam 20 % e 19 %, respetivamente [Fig. 47]. O peso destes grupos de população
faz-se sentir mais entre os trabalhadores por conta de outrem [Fig. 48].

4.4.1. O DESEMPREGO
No que respeita à taxa de desemprego, a primeira década do século XXI foi marcada por um crescimento gradual, que
se tornou mais acelerado nos últimos anos. É de salientar os seguintes aspetos:

• O desemprego atinge todos os estratos etários, sendo os mais jovens os que mais sentem o problema; desde 2001, a
população desempregada, com menos de 25 anos, passou de 8,6 % para 30,1 % [Fig. 49];

• O desemprego é mais elevado nas mulheres do que nos homens, até 2010;

• A população com menos escolaridade é, naturalmente, aquela onde se regista maior número de desempregados;

• Agravou-se a situação dos desempregados de longa duração e dos que procuram novo emprego; o contrário
acontece com os desempregados há menos de um ano e os que procuram emprego pela primeira vez.

Esta insegurança, associada aos salários baixos, tem consequências diretas na vida familiar, levando ao adiamento da
constituição de família, da compra de habitação, do nascimento de filhos, entre outras decisões.

5. COMO SOLUCIONAR OS PROBLEMAS DA EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO

5.1. MEDIDAS QUE PODEM CONTRIBUIR PARA O INCENTIVO DA NATALIDADE


A redução da natalidade, associada ao declínio da fecundidade, é um dos problemas demográficos de Portugal. Esta
situação desfavorável tem consequências a todos os níveis no nosso país, em especial na sociedade e na economia.

Compete às autoridades governamentais tomar medidas para tentar ultrapassar esta situação, medidas essas que se
inserem em políticas demográficas natalistas, isto é, orientadas para alcançar um aumento da taxa de natalidade.

Em Portugal, face ao envelhecimento e ao declínio da fecundidade, terá de ser adotada uma política de incentivos à
natalidade. As mudanças da sociedade portuguesa em termos de valores e de estilos de vida têm-se revelado pouco
favoráveis ao incremento da natalidade.
Para rejuvenescer a população portuguesa, tem sido implementado um conjunto de medidas concretas [Doc. 10]. No
entanto, será necessário que as mesmas sejam reforçadas e outras sejam implementadas. De forma concertada, todas
estas medidas poderão contribuir para inverter a tendência para uma natalidade cada vez menor.

De entre as medidas, salientam-se:

• a sensibilização da sociedade para a realidade e para a problemática da não renovação de gerações;

• a criação de legislação de trabalho que proteja mais a mulher durante a gravidez e o pós-parto;

• a diminuição do horário de trabalho da mãe e o aumento dos subsídios à família, nos primeiros anos de vida da
criança;

• a criação de benefícios fiscais para as famílias com vários filhos;

• a melhoria e a gratuitidade dos serviços de assistência materno-infantil;

• o aumento da duração da licença de maternidade;

• a criação da licença de paternidade;

• a criação de subsídios que aumentem de acordo com o número de filhos.

5.1.1. DIFICULDADES NO REJUVENESCIMENTO DA POPULAÇÃO


Rejuvenescer a população portuguesa não é uma tarefa fácil. Mesmo que todas as medidas apresentadas fossem
adotadas, tal não significa que a situação sofresse uma mudança. Na realidade, medidas semelhantes foram tomadas em
vários países europeus, como França ou Alemanha, mas com resultados práticos aquém do esperado.

Na base deste problema são preponderantes as questões relacionadas com a afirmação da mulher na sociedade, com
a difusão do planeamento familiar, com as dificuldades encontradas na educação numa sociedade cada vez mais
urbanizada, com as dificuldades económicas relacionadas com os baixos rendimentos dos agregados familiares, com as
situações de precariedade no emprego e com o desemprego [Docs. 11 e 12].

5.2. A QUALIFICAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS EM PORTUGAL


Os níveis de instrução e de qualificação da mão de obra portuguesa constituem um obstáculo ao desenvolvimento do
País, por serem dos mais baixos da União Europeia. Com os sucessivos alargamentos do espaço comunitário, e tendo em
conta que os novos estados-membros têm níveis de escolarização e de qualificação profissional mais elevados, a situação
de Portugal no contexto europeu tem vindo a agravar-se. A população portuguesa tem, assim, mais dificuldades na livre
circulação de trabalhadores no mercado de trabalho no espaço da União Europeia.

Considerando que o abandono escolar e a baixa escolarização constituem um fator bastante limitativo à criação de
emprego e à instalação de empresas no País, tem vindo a ser defendido que uma estratégia de desenvolvimento deve
passar pela valorização da mão de obra em várias vertentes, o que obrigaria a maiores investimentos no setor da
educação:

• Redução do abandono escolar, através do combate às razões sociais e económicas que estão na sua base;

• Aumento do nível de escolarização, através do prolongamento da escolaridade obrigatória para doze anos e do
maior número de indivíduos com educação de nível superior;

• Investimento no ensino técnico profissional;


• Aumento da formação profissional, nomeadamente na atualização de trabalhadores mais velhos e na requalificação
dos menos qualificados;

• Investimento na investigação científica e tecnológica [Doc. 13].

A valorização das pessoas pelas empresas incide principalmente na formação profissional e no desenvolvimento das
capacidades de utilização de novas tecnologias. Contudo, é vista também noutras vertentes como a importância
crescente que é dada à cultura e ao lazer. Ao fazê-lo, as empresas reforçam a sua produtividade através da melhoria das
dinâmicas de trabalho e do espírito de grupo e contribuem ainda para a prevenção da exclusão social [Doc. 14].

5.2.1. A INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO (I&D)


Fator fundamental para o País é o investimento feito nas atividades de investigação e desenvolvimento (I&D). Em
Portugal, a investigação está quase exclusivamente sob o domínio estatal e muito longe dos padrões europeus [Fig. 50]. A
maioria das empresas não está vocacionada ou não tem meios para partilhar os riscos e os investimentos inerentes à
investigação e ao desenvolvimento. Simultaneamente, falta ainda a grande parte das empresas portuguesas uma visão
mais alargada, virada para o mercado externo (mais estimulante) e menos orientada exclusivamente para o mercado
interno. Assim, são as universidades que investem nessas áreas; no entanto, a investigação nem sempre se articula com
as empresas. Perdem-se, assim, oportunidades para aumentar a inovação tecnológica, a qualificação profissional e a
produtividade [Fig. 51].

A falta de investimento e o prestígio de muitas instituições estrangeiras dificultam a criação de condições favoráveis à
fixação de investigadores no território nacional e levam muitos a emigrar. Ainda assim, Portugal tem na atualidade um
valor muito próximo da média da União Europeia em termos de pessoal nas atividades de I&D [Fig. 52], e é um dos
estados- -membros com mais investigadores por mil habitantes [Fig. 53].

A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

1. QUE PADRÕES APRESENTA A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO?

1.1. COMO SE DISTRIBUI A POPULAÇÃO NO MUNDO


No final de 2011, a Terra era habitada por mais de sete mil milhões de pessoas distribuídas de forma muito irregular
pela superfície terrestre. As grandes concentrações populacionais, a que se atribuiu o nome de focos demográficos,
localizam-se principalmente no Sul e Sudeste do continente asiático, na Europa e em algumas áreas da América do Norte.
A estes espaços opõem-se outros, de grande dimensão, desabitados ou onde a população é muito escassa, designados
por vazios humanos. Esses espaços correspondem a áreas com características naturais que impedem o povoamento: os
desertos, as áreas de clima frio, as áreas de floresta densa junto ao equador e as áreas de alta montanha, situadas a
latitudes elevadas.

A distribuição da população na superfície terrestre evidencia vários contrastes [Fig. 3]:

• Cerca de metade da população mundial vive concentrada em 10 % das terras emersas;

• Entre regiões do litoral e regiões no interior dos continentes: cerca de dois terços da população mundial habitam em
áreas que distam menos de 500 km do mar, o que traduz diferentes valores de densidade populacional;

• Entre hemisfério norte e hemisfério sul: cerca de 90 % da população mundial habita no norte, em especial entre as
latitudes 20º N e 60º N.

1.1.1. COMO SE DISTRIBUI A POPULAÇÃO NA EUROPA


A Europa, no seu todo, é um continente bastante povoado; no entanto, apresenta alguns contrastes significativos
quando se comparam as regiões.

A maior concentração humana na Europa ocorre nas regiões ocidental e central, onde se localizam o Reino Unido, a
França, a Bélgica, os Países Baixos e a Alemanha [Fig. 4]. Esta concentração populacional resulta da conjugação de fatores
bastante favoráveis para a fixação de pessoas:

• fatores naturais: climas temperados e húmidos, relevo geralmente plano e de baixa altitude e predomínio de solos
férteis;

• fatores humanos: agricultura próspera, grande industrialização e desenvolvimento do setor do comércio e dos
serviços contribuíram para a riqueza dos países, tornando-os atrativos a muitos outros povos.

A península da Escandinávia, no Norte da Europa, é a região com menor concentração humana. A menor atratividade
deste território para a fixação de população deve-se a fatores naturais: clima frio, solos cobertos de neve durante grande
parte do ano e existência de áreas de relevo acidentado.

Estes desequilíbrios podem ser observados comparando a densidade populacional dos vários países. Tomando como
referência apenas o espaço da União Europeia, os valores variam entre 1316 hab./km2 em Malta até 17 hab./km2 na
Finlândia [Fig. 2]. Portugal, com 115 hab./km2, situa-se na média da União Europeia (116 hab./km2).

1.2. COMO SE DISTRIBUI A POPULAÇÃO EM PORTUGAL


À semelhança do que se passa nas diferentes regiões do Mundo, a população residente em Portugal distribui-se
também de uma forma irregular pelo território.

1.2.1. PORTUGAL CONTINENTAL


Mais de metade dos habitantes reside nas regiões do Norte e do Centro de Portugal continental, e menos de 5 % nas
regiões autónomas. Por seu turno, na região de Lisboa, uma das regiões de menor dimensão, vive mais de um quarto da
população [Quadro 1].

Desagregando as grandes regiões (NUT II) em sub-regiões (NUT III), emergem outros padrões na distribuição da
população [Fig. 5]. A esta escala de análise salientam-se os seguintes aspetos:

• a maior concentração de população na faixa litoral ocidental, entre o Minho e a Península de Setúbal;

• o contraste entre o litoral (faixa ocidental e o Algarve), mais densamente povoado, e o interior, muito menos
povoado;

• a concentração de população configurada em torno do Grande Porto e da Grande Lisboa, as duas áreas com
densidade populacional mais elevada do país, respetivamente 1580 hab./km2 e 1484 hab./km2;

• a existência de algumas concentrações em torno do Grande Porto (Cávado, Ave, Tâmega, Entre Douro e Vouga,
Baixo Vouga), da Grande Lisboa e da Península de Setúbal.

A análise da densidade populacional por concelhos [Fig. 6] confirma o padrão de distribuição caracterizado pelo
contraste entre o litoral e o interior e, sobretudo, a existência de uma nítida litoralização da população no território
continental. Em simultâneo, mostra também a tendência para a densificação em dois polos de atração, Lisboa e Porto,
constituindo-se assim uma bipolarização da concentração da população. À volta destes dois polos existe um número
alargado de concelhos que, por razões de proximidade, se tornam também atrativos para a fixação de população que
procura as duas principais cidades do País. Trata-se de um processo de forte urbanização que se estende para além dos
limites daquelas cidades e abrange progressivamente os seus subúrbios. Assim, a grande concentração de população em
torno das duas metrópoles (Lisboa e Porto) levou à constituição das respetivas áreas metropolitanas.
1.2.2. AS REGIÕES INSULARES
Nos arquipélagos, os valores de densidade populacional situam-se em níveis idênticos aos da faixa litoral oeste do
território continental. As diferenças são significativas entre as duas regiões, destacando-se a Madeira, com um valor de
densidade populacional consideravelmente superior ao dos Açores

. Em cada um dos arquipélagos existem também alguns contrastes:

• Maior concentração da população nas faixas ribeirinhas das ilhas, em oposição às áreas mais interiores;

• Maior densidade populacional de alguns concelhos da ilha de São Miguel em oposição às restantes ilhas dos Açores;

• Maior densidade dos concelhos na parte sul/sueste da ilha da Madeira relativamente à parte norte e à extremidade
oeste.

2. QUE FATORES EXPLICAM A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO EM PORTUGAL?

Para explicar a forma como a população se distribui no território, é necessário mobilizar-se um conjunto de fatores
naturais e humanos.

2.1. A INFLUÊNCIA DOS FATORES NATURAIS NO TERRITÓRIO CONTINENTAL


De entre os fatores naturais, destacam-se:

• O relevo — as planícies são mais favoráveis à fixação humana; ao invés, nas áreas montanhosas, a densidade
populacional tende a diminuir;

• O clima — a maior ou menor disponibilidade de água e a ocorrência de muito calor ou de muito frio podem
condicionar a ocupação humana dos territórios;

• A fertilidade dos solos — fundamental na fixação da população, porque influencia o rendimento agrícola e a
produção de alimentos.

Apesar de existir uma relação entre o modo como a população se distribui no território e as características naturais
que as regiões apresentam, é preciso, no entanto, ter em conta que esta relação não é simples. Na realidade, existem
muitos outros fatores geográficos que justificam a escolha da população para se fixar mais em determinados lugares e
menos noutros. É da combinação da influência que esses fatores exercem ao longo do tempo que resulta o valor de
população absoluta de uma dada região, bem como o padrão da sua distribuição.

Uma simples observação do mapa hipsométrico de Portugal continental [Fig. 7] pode levar à ideia de que a desigual
ocupação humana do território se deve ao relevo — o Norte é muito acidentado e as planícies localizam-se nas faixas
litorais, nos vales de rios importantes (Douro, Mondego, Tejo, Sado e Guadiana) e ainda na região do Alentejo. Contudo, a
relação direta entre a localização das planícies e as maiores concentrações de população só se verifica na faixa litoral a
norte do Sado.

A localização das grandes concentrações humanas não pode ser explicada apenas através da fertilidade dos solos. Em
Portugal continental, os solos são, no geral, pobres, e os que têm maior aptidão agrícola localizam-se na região Norte;
contudo, a maioria não é utilizada para esse fim, pois coincidem com as áreas de maior ocupação humana.

Outras razões poderão ser encontradas nas diferenciações climáticas entre as regiões, por exemplo, a maior ou menor
amenidade das temperaturas e a maior ou menor humidade e secura entre o Norte Atlântico, o Norte Interior e o Sul.
Porém, há que conjugar estes fatores com os de origem humana.
2.2. A INFLUÊNCIA DOS FATORES NATURAIS NAS REGIÕES AUTÓNOMAS

2.2.1. A MADEIRA
A Região Autónoma da Madeira apresenta um valor elevado de densidade populacional, sobretudo os concelhos da
vertente sul da ilha, nomeadamente o Funchal (1470 hab./km2), Câmara de Lobos (684 hab./km2) e Santa Cruz (528
hab./km2). Nestes três concelhos vivem mais de dois terços da população deste arquipélago. Em oposição, Porto Moniz,
na vertente norte, é o concelho menos povoado, com uma densidade de 33 hab./km2 [Fig. 9].

Face a um relevo muito acidentado [Fig. 11], a população concentra-se, preferencialmente, junto ao litoral, nas áreas
de menor altitude da fachada sul da ilha. Aí beneficiam de uma maior amenidade do clima, de solos com menor declive e,
fundamentalmente, de um conjunto diversificado de atividades económicas: o turismo, o comércio, os serviços
administrativos, as atividades portuárias ligadas à pesca e aos transportes [Fig. 13]. A grande oferta de emprego da cidade
do Funchal faz desta o maior polo de atração para a fixação da população.

2.2.2. OS AÇORES
A Região Autónoma dos Açores tem um valor de densidade populacional próximo da média do País. No entanto, são
grandes os contrastes entre ilhas e entre concelhos. São Miguel é, de longe, a ilha mais povoada, onde vive mais de
metade da população do arquipélago. É aqui que se localizam os concelhos com maior densidade populacional: Lagoa
(316 hab./km2), Ponta Delgada (295 hab./km2) e Ribeira Grande (178 hab./km2). Em oposição, os concelhos do Corvo,
São Roque do Pico e Lajes das Flores, com valores inferiores a 25 hab./km2, são os de menor densidade populacional [Fig.
10].

A distribuição da população faz-se principalmente junto à costa, sendo, por isso, grandes os contrastes entre o litoral,
mais povoado, e o interior, onde a população é mais rara. Tal facto deve-se, uma vez mais, a todos os benefícios que o
litoral proporciona, mas também às condições climáticas. No caso açoriano, o clima possibilita um aproveitamento
económico das áreas mais altas no interior das ilhas [Fig. 12], constantemente envolvidas por nevoeiros e nuvens, donde
provém a sua grande humidade, que favorece os pastos e a criação de gado leiteiro [Fig. 14].

2.3. AS ASSIMETRIAS REGIONAIS NA DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

2.3.1. AS ASSIMETRIAS MAIS RELEVANTES


A evolução da população residente em Portugal tem sido caracterizada por uma alternância de períodos de
crescimento positivo, como o que ocorreu na década de 70 do século XX, e períodos de crescimento negativo, de que
constitui exemplo a década de 60 [Fig. 15].

Todavia, esta irregularidade na evolução da população não é comum a todo o território nacional. Pelo contrário,
esconde importantes assimetrias [Fig. 16], de que se destaca a oposição entre:

• o dinamismo das regiões do litoral e a estagnação das regiões do interior;

• os saldos positivos das áreas urbanas e o crescimento negativo generalizado do espaço rural.

Os concelhos com taxas de variação positivas são aqueles que apresentam ambos os saldos (fisiológico e migratório)
positivos. Localizam-se sobretudo em redor de Lisboa e do Porto, no Noroeste, no Algarve e em alguns concelhos das
regiões autónomas.

As taxas de variação negativas ocorrem principalmente nos concelhos do interior, que constituem perto de metade do
total de concelhos. Estas taxas resultam de um saldo fisiológico negativo (ocorreram mais mortes do que nascimentos),
que não foi compensado pelo saldo migratório, por ter sido também negativo (foram mais os emigrantes do que os
imigrantes).

São raros os concelhos onde a dinâmica de crescimento resultou de um saldo fisiológico positivo e onde o saldo
migratório foi negativo, como acontece, por exemplo, na Amadora, em Penafiel, em Machico, entre outros.

2.3.2. A LITORALIZAÇÃO DO POVOAMENTO


A tendência de concentração da população nas regiões do Noroeste e de Lisboa é antiga. Desde os censos da
população nos finais do século XIX que se registam valores elevados de densidade populacional nos distritos de Lisboa e
do Porto, secundados por Viana do Castelo, Braga e Aveiro.

Na segunda metade do século XX, o elevado crescimento demográfico que já se verificava naquelas áreas do litoral
alargou-se também a Coimbra, Leiria e Setúbal. Por sua vez, as áreas do interior, do Norte e Centro do País, sobretudo as
mais próximas da fronteira, e de um modo geral todo o Alentejo, foram-se esvaziando de população, acentuando assim as
grandes assimetrias regionais quanto ao padrão de distribuição da população residente em Portugal continental [Fig. 17].

A litoralização da população portuguesa resulta, essencialmente, de um duplo processo migratório que tem
caracterizado o País desde meados do século XX:

• A influência determinante do êxodo rural, isto é, do elevado contingente de população que abandonou as aldeias e
vilas do interior de economia agrícola, para se fixar nas cidades do litoral, sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e
do Porto;

• A intensificação do fenómeno da emigração, isto é, da saída da população de jovens e adultos das áreas rurais para
países da Europa Ocidental e Central, nomeadamente França e Alemanha.

2.4. OS MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO E O CONTRASTE LITORAL-INTERIOR

2.4.1. A IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS IMIGRATÓRIOS


Para se explicar o contraste do dinamismo demográfico entre o litoral e o interior, é importante ter também em conta
o fenómeno da imigração. Esta comporta um duplo processo, o que, em linhas gerais, beneficia sobretudo as áreas
urbanas do litoral e, em particular, a área metropolitana de Lisboa.

O primeiro surto imigratório de grande relevo ocorreu na segunda metade da década de 70 do século XX, com o
«regresso» de muitos portugueses que residiam nas ex-colónias africanas, na sequência do processo de descolonização,
bem como o regresso de alguma população que tinha emigrado anteriormente para a Europa.

Já o segundo surto desenvolveu-se, sobretudo, a partir da década de 80 e prolonga-se pela atualidade. Primeiro,
formado pelos contingentes de imigrantes dos PALOP e, posteriormente, pelos imigrantes do Brasil, de alguns países da
Europa de Leste e, mais recentemente, da Ásia [Fig. 18].

Em conjunto, as populações imigrantes, na busca da melhoria das suas condições de vida, respondem a uma oferta de
emprego que, pela sua natureza, se encontra mais facilmente nos concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa e do
Porto e no Algarve. Nos últimos anos, verificou-se a tendência para uma maior dispersão geográfica, abrangendo
inclusivamente alguns concelhos do interior, devido à escassez de mão de obra em consequência da falta de população
jovem e adulta.

2.4.2. A IMPORTÂNCIA CRESCENTE DAS ÁREAS URBANAS DO LITORAL


A mobilidade da população, através dos vários movimentos referidos [Fig. 19], tem consequências nos ganhos e nas
perdas populacionais de cada concelho, conduzindo a uma redistribuição geográfica da população. Nos últimos quarenta
anos, assistiu-se a uma grande quebra da população residente nas áreas rurais do interior e do Sul, em detrimento dos
concelhos predominantemente urbanos, que assim se densificam [Fig. 20].

Deste modo, pode dizer-se que o contraste litoral-interior, que caracteriza a distribuição geográfica da população, é
também um contraste entre os espaços urbanos e os espaços rurais.

2.5. A ATRAÇÃO DA POPULAÇÃO PELO LITORAL E PELOS CENTROS URBANOS


As áreas urbanas do litoral são, desde há muito tempo, bastante atrativas para toda uma população rural que vive dos
«magros» resultados de um trabalho desqualificado na agricultura, sem alternativas viáveis de emprego noutros setores
e, por isso, sem grandes expectativas de melhorar o nível de vida familiar nos lugares onde reside. A densificação dos
concelhos litorais deu-se em paralelo com o crescimento da população urbana.

Na segunda metade do século XX, a população urbana aumentou cerca de 62 %. Tratou-se de um crescimento em
número e em dimensão, e decorreu de forma explosiva nas áreas envolventes de Lisboa e do Porto [Fig. 21].

À medida que os dois grandes polos económicos do País se desenvolvem, atraem cada vez mais população, mais
investimento na indústria, no comércio, no turismo e nos serviços, e ainda todo o tipo de atividades no domínio social e
cultural.

O crescimento tem-se refletido também um pouco por todo o litoral. Mais recentemente, este chegou também às
cidades médias do interior, sobretudo às capitais de distrito, que beneficiaram da localização de universidades. Por sua
vez, a concentração de população faz atrair ainda mais empresas, dado que é aí que encontra grande quantidade de mão
de obra.

2.5.1. A RELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO


Existe uma clara relação entre a urbanização do território e o seu desenvolvimento. A concentração de população nas
áreas urbanas atrai investimento que se transforma em emprego e este, por sua vez, alimenta a captação de mais
população. As concentrações urbano-industriais da Grande Lisboa, da Península de Setúbal e do Grande Porto (com
prolongamentos até Braga e Aveiro) são disso um bom exemplo [Fig. 22]. Atualmente, a atração da população rural para
as cidades faz-se principalmente através das atividades relacionadas com o setor terciário: comércio e serviços. As
atividades ligadas ao turismo têm um papel importante na fixação da população nos lugares onde tais atividades
constituem um dos motores de dinamização económica. São os casos do Algarve, da Madeira (com grande especialização
nesta atividade e projeção no estrangeiro) e de Lisboa (por via do turismo cultural e do balnear). Em certas regiões do
interior e do Sul, esta atividade terciária tem contribuído para o fomento da economia e do emprego através de um
turismo mais diversificado: rural, cultural, gastronómico, ligado à Natureza ou à prática de desportos radicais [Fig. 23].

Em síntese, as disparidades regionais da distribuição geográfica da população resultam da convergência de um


conjunto de fatores:

• as dinâmicas demográficas, que refletem a evolução da natalidade, da fecundidade e da esperança de vida, e


também os movimentos migratórios: o êxodo rural, a emigração e a imigração;

• as dinâmicas económicas, relacionadas com o padrão de distribuição do investimento, público e privado, na


indústria e nos serviços na faixa litoral;

• o padrão de crescimento da urbanização das áreas metropolitanas e das cidades médias.

3. QUAIS SÃO OS PROBLEMAS DA DESIGUAL DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO?

3.1. AS ÁREAS REPULSIVAS NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS


A tendências observadas escondem diferentes dinâmicas territoriais, que se devem à existência de movimentos
migratórios entre as várias regiões, nomeadamente entre as mais rurais e as mais urbanizadas. Assim, enquanto algumas
regiões continuam a revelar uma forte capacidade de atração e crescimento populacional, outras, pelo contrário,
caracterizam-se por elevadas e contínuas perdas de população [Fig. 24].

As regiões continentais do interior e do Sul — onde as condições de vida são mais difíceis e existem menores
oportunidades de desenvolvimento — perderam grande parte da sua população jovem e adulta. Tal facto resultou em
taxas de crescimento natural muito negativas.

Sem saldos migratórios positivos, estas regiões acabam por cair num profundo envelhecimento.

Na Região Autónoma dos Açores, este fenómeno tem paralelo nas ilhas do Corvo, Graciosa e Flores. A escassez de
oportunidades nestas ilhas acentua mais os impactos da emigração, que tem como principal destino os países da América
do Norte. Esta situação de decréscimo populacional não se verifica nas ilhas de São Miguel, Terceira e Faial, onde se
localizam as principais cidades do arquipélago [Fig. 25].

Na Região Autónoma da Madeira, os valores negativos da taxa de crescimento natural abrangem principalmente os
concelhos do norte da ilha, como, por exemplo, São Vicente e Porto Moniz, os que têm perdido mais população [Fig. 26].

3.1.1. OS PROBLEMAS DAS ÁREAS REPULSIVAS


As regiões que têm perdido população de forma contínua debatem-se atualmente com muitos problemas, sendo
alguns de difícil resolução.

Muitos dos objetivos das estratégias de desenvolvimento levadas a cabo nas últimas décadas nestas regiões têm
procurado corrigir:

• o despovoamento, gerado pelo abandono de muitas aldeias, ficando a população rural envelhecida, dispersa e
isolada;

• o decréscimo da natalidade e do número de jovens;

• a insuficiência de população ativa e de mão de obra qualificada;

• a perda de importância da atividade agrícola, hoje praticada sobretudo por idosos, acentuando o seu caráter de
subsistência;

• a degradação ambiental, por abandono da agricultura e expansão de matos e baldios, mais suscetíveis à ocorrência
de incêndios;

• a fragilidade do tecido económico, com repercussões no aumento da população desempregada;

• a alteração da estrutura de procura de serviços coletivos sociais e culturais, devido às mudanças demográficas e
económicas, que se refletem diretamente na carência de serviços de apoio aos idosos;

• a insuficiência de infraestruturas e de equipamentos (água, eletricidade, saneamento e vias de comunicação).

3.2. AS CONSEQUÊNCIAS DO CRESCIMENTO POPULACIONAL DAS ÁREAS URBANAS


O aumento da população nas áreas do litoral e a concentração nas áreas envolventes das duas maiores cidades levou
a que se tenha ultrapassado a capacidade de carga humana, isto é, o número limite de pessoas que se podem fixar numa
região sem pôr em causa a sua sustentabilidade.

Nas áreas metropolitanas, que representam pouco mais de 5 % do território de Portugal continental, residem mais de
4,5 milhões de pessoas, o que significa que nestes espaços com uma superfície restrita se concentra 45 % da população
[Quadro 2] e, em consequência, os valores de densidade populacional são muito elevados na maioria destes dois polos de
concentração do povoamento [Fig. 30 e 31]. Por isso se fala de bipolarização do povoamento em Portugal.

A expansão urbana que atingiu os concelhos do litoral, e em particular as duas maiores cidades e respetivas áreas
limítrofes, foi rápida, não deixando, por isso, tempo para um ordenamento adequado do território, que, em poucos anos,
passou a ser habitado e utilizado por um número muito elevado de pessoas. O resultado é a existência de uma
quantidade enorme de problemas económicos, sociais, ambientais e de ordenamento do território.

Também os riscos, na maior parte das vezes, não foram tidos em conta, o que levou a que se tivesse construído, por
exemplo, em leitos de cheia, suscetíveis de sofrerem inundações, e em zonas costeiras vulneráveis à erosão marinha.

A qualidade da capacidade produtiva e o valor paisagístico e ecológico foi seriamente afetado. Este facto tem
dificultado e encarecido o desenvolvimento das infraestruturas e a prestação dos serviços necessários à população, os
quais começaram a ser implementados posteriormente à ocupação humana daqueles espaços.

3.2.1. OS PROBLEMAS DAS ÁREAS ATRATIVAS


O processo de urbanização teve grandes consequências a vários níveis, com reflexos na qualidade de vida de muitas
áreas residenciais, entre as quais:

• a expansão de espaços com excesso de construção de edifícios;

• a degradação de muitos bairros nas periferias e nos centros históricos das cidades;

• o aparecimento de estratos da população sem meios para obter uma habitação condigna, levando à construção de
bairros de barracas;

• a insuficiência de equipamentos escolares, de saúde e outros, de apoio à população;

• a incapacidade de algumas infraestruturas (de saneamento básico ou da acessibilidade, entre outras) responderem
às necessidades da população;

• a insuficiência de espaços verdes e de equipamentos de lazer;

• o aumento dos riscos de inundação provocados pela construção em leitos de cheia ou pela excessiva
impermeabilização dos solos com a construção de edifícios, ruas e estradas;

• a degradação ambiental decorrente da crescente produção de resíduos e do aumento dos vários tipos de poluição;

• o surgimento de grandes desigualdades sociais no interior das áreas urbanas que originam muitas vezes problemas
como a segregação espacial e a exclusão social.

4. COMO RESOLVER OS PROBLEMAS DA DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO?

4.1. O PAPEL DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO


O ordenamento do território diz respeito às ações que o Estado leva a cabo com o objetivo de melhorar a distribuição
da população e as atividades económicas e de âmbito social e cultural pelo território, possibilitando assim uma melhor
organização, uma melhor resposta às necessidades da população, uma correta gestão dos recursos naturais e a proteção
do ambiente. A sua grande finalidade é o desenvolvimento equilibrado e sustentado das regiões.

O ordenamento do território está organizado num sistema de gestão territorial [Fig. 33], o qual é suportado por um
conjunto de instrumentos de planeamento — os planos de ordenamento. Elaborados por equipas multidisciplinares,
compostas por economistas, geógrafos, políticos, arquitetos, engenheiros, sociólogos, entre outros, estes planos têm
como finalidade a obtenção de um desenvolvimento socioeconómico e ambiental sustentável.

Podem ter um caráter setorial, como os PSOT (Planos Setoriais de Ordenamento do Território), que procuram
desenvolver e concretizar, no respetivo domínio de intervenção, as diretrizes definidas no PNPOT (Programa Nacional da
Política de Ordenamento do Território) [Doc. 6]; ou um caráter especial, como os PEOT (Planos Especiais de Ordenamento
do Território), os quais incidem, por exemplo, em zonas de recursos hídricos: albufeiras de águas públicas, estuários, orla
costeira e áreas protegidas [Doc. 7].

O âmbito de atuação pode ser regional, como os PROT (Planos Regionais de Ordenamento do Território) [Doc. 8]; ou
ter um âmbito municipal, como os PMOT (Planos Municipais de Ordenamento do Território) [Doc. 9].

Estes e outros planos são a base de todas as operações de ordenamento, as quais requerem a aplicação de grandes
investimentos, para o que normalmente se tem recorrido à ajuda proporcionada pelos fundos comunitários da União
Europeia, como o FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e o FSE (Fundo Social Europeu).

4.2. PARA A RESOLUÇÃO DAS ASSIMETRIAS REGIONAIS


As assimetrias regionais constituem um obstáculo importante ao desenvolvimento harmonioso do País. Uma alteração
significativa da situação vivida no presente não é previsível num futuro próximo, pois trata-se de um problema cuja
resolução é muito morosa, além de que as tendências apontam para o seu agravamento.

Muitas são as medidas que têm sido implementadas para tentar resolver este problema ou, pelo menos, não deixar
que se agrave. Destacam-se as que incidem mais diretamente na economia e na educação e formação profissional das
regiões mais desfavorecidas:

• incentivo à localização de novas empresas no interior, através da disponibilidade de terrenos mais baratos, de
incentivos fiscais ou da atribuição de subsídios, criando assim emprego [Doc. 10];

• investimentos em infraestruturas de transporte que melhorem a acessibilidade nas regiões mais isoladas do interior
[Fig. 34];

• construção de infraestruturas de captação e distribuição de água, de produção e distribuição de energia [Fig. 35];

• instalação de polos universitários em cidades do interior para travar a saída de jovens para estudar nas grandes
cidades [Fig. 36];

• instalação de centros de formação profissional, procurando aumentar o grau de qualificação [Fig. 37];

• aproveitamento do potencial turístico, dando projeção ao património natural, cultural e paisagístico, e dinamizando
atividades ligadas ao comércio, à hotelaria e à restauração [Fig. 38];

• apoios técnicos e financeiros a jovens agricultores para o desenvolvimento de projetos agropecuários como a
produção em estufas ou a agricultura biológica [Fig. 39].

OS RECURSOS DO SUBSOLO

1. QUAIS SÃO OS RECURSOS DO SUBSOLO DISPONÍVEIS?

1.1. O QUE SE ENTENDE POR RECURSO


A Terra dispõe de um conjunto de riquezas que são exploradas para utilização em diversas atividades. Estes bens
utilizados pela Humanidade para satisfazer as suas necessidades de sobrevivência e de desenvolvimento designam -se por
recursos. Estes podem ser renováveis ou não renováveis [Doc. 1].

De um modo genérico, consideram -se recursos naturais todas as riquezas proporcionadas pela Natureza, que se
encontram no subsolo, no solo e à superfície terrestre. Atendendo às suas características, os recursos naturais podem ser
divididos em vários tipos: geológicos (ou do subsolo), hídricos e biológicos.

Das matérias-primas de menor valor, como a areia ou a brita, às de maior valor, como os minerais preciosos ou o
petróleo, todos os recursos naturais são fundamentais ao desenvolvimento das sociedades, em vários domínios da
atividade económica, nomeadamente na agricultura, na indústria e no comércio.

1.1.1. OS RECURSOS DO SUBSOLO


Nos recursos geológicos ou do subsolo integram-se os recursos minerais, compostos por diversos elementos químicos
(ferro, alumínio, magnésio ou cálcio, por exemplo) que existem na crusta terrestre em quantidades variáveis. Estes
formam-se no subsolo em condições termodinâmicas muito diversificadas, gerando acumulações ou concentrações locais
designadas depósitos minerais ou jazidas. Obtidos a partir da indústria extrativa, estes recursos são de grande
importância para todos os sectores da atividade industrial, e sem os quais não seria possível manter o nível de vida da
sociedade atual.

Os recursos do subsolo podem subdividir -se em dois grupos:

• Energéticos — utilizados para produzir eletricidade, calor ou para movimentar veículos de transporte ou máquinas.
Os mais utilizados são o carvão, o gás natural e o petróleo;

• Matérias-primas — minerais ou rochas que têm como destino a indústria, onde são utilizados no fabrico dos mais
variados produtos. De entre as matérias-primas destacam-se os minerais metálicos (ferro, estanho, cobre, volfrâmio), os
minerais não metálicos (feldspato, quartzo, talco), as rochas ornamentais e os agregados (rochas industriais).

1.1.2. OUTROS RECURSOS


Os recursos hídricos dizem respeito à disponibilidade de água à superfície, como os rios ou os lagos, bem como a água
existente em reservas no subsolo. A sua utilização incide tanto no abastecimento das populações, como nas atividades
económicas. Dos recursos hídricos disponíveis no subsolo destacam -se as águas de nascente e as águas minerais.

Os recursos biológicos são os disponibilizados pela vegetação existente à superfície (a madeira, as plantas medicinais e
a biomassa), pela fauna (a vida selvagem e marinha) e pelo solo (a turfa).

1.2. AS PRINCIPAIS PRODUÇÕES COM RECURSOS DO SUBSOLO EM PORTUGAL


A extração de recursos minerais é uma atividade com uma longa tradição em Portugal. Começou a ganhar relevância
no contexto da indústria portuguesa na primeira metade do século XIX, com as primeiras concessões de exploração; no
final do século, já existiam cerca de 300 concessões. As substâncias mais exploradas eram o volfrâmio (tungsténio), o
estanho e o ouro.

A primeira metade do século XX, e sobretudo o período da Segunda Guerra Mundial, trouxe uma grande procura de
volfrâmio e de estanho, o que levou a um aumento na exploração destas substâncias em território português e na sua
exportação. Na segunda metade do século XX, com a descoberta de novas reservas minerais, a produção mineira
alargou-se a outras substâncias como o urânio e o cobre. As importantes reservas de urânio no território português
contribuíram para que o País ocupasse, até à década de 90, uma posição de destaque na extração deste mineral.

Na última década do século XX, a indústria extrativa em Portugal conheceu um crescimento acentuado em termos de
valor da produção. Tal deveu -se à valorização da cotação internacional de alguns minerais metálicos e ao forte
incremento na produção de rochas, provocado pelo aumento do consumo por parte do setor da construção civil e obras
públicas.

1.2.1. OS MINERAIS DE CONSTRUÇÃO


Em 2010, a atividade produtiva desenvolvia-se em pouco mais de 1000 estabelecimentos que empregavam perto de
8200 pessoas. Apesar de o consumo de matérias -primas ter abrandado devido à situação menos favorável no setor da
construção, a produção de minerais para construção tem vindo a afirmar-se como o subsetor mais importante da
indústria extrativa, representando mais de 40 % do valor da indústria extrativa portuguesa [Fig. 3 e Quadro 1].

Entre os minerais de construção, os agregados (britas, areias e saibros), utilizados para a construção civil, representam
o maior valor. As rochas ornamentais, com destaque para os granitos e os mármores, têm também um papel importante
na economia do País, em particular das regiões onde são exploradas. A sua produção tem uma boa procura nos mercados
interno e externo e contribui para a entrada de receitas significativas [Fig. 4].

1.2.2. OUTROS RECURSOS MINERAIS


Não obstante o decréscimo na produção de alguns minérios e uma oscilação no valor de outros, a extração de
minerais metálicos — e sobretudo do cobre — continua a ser um subsetor que contribui significativamente para o valor
da indústria extrativa [Fig. 5].

A importância do grupo dos minerais industriais [Fig. 6] é muito inferior à dos outros grupos de produtos. De entre as
indústrias, destaca-se a da cerâmica, grande utilizadora de argilas especiais e de caulino.

O subsetor das águas engloba as águas de nascente e as águas minerais naturais, dividindo-se pelas atividades de
termalismo e de engarrafa- mento [Fig. 7]. Em resultado de oscilações na produção das águas minerais, este subsetor tem
perdido algum peso na atividade extrativa.

2. ONDE SE LOCALIZAM OS RECURSOS DO SUBSOLO?

2.1. A ESTRUTURA GEOLÓGICA DE PORTUGAL


A existência de um subsolo rico em minerais e, logo, de grandes depósitos depende, principalmente, das
características geológicas de cada território. Deste ponto de vista, Portugal apresenta uma grande diversidade e
complexidade geológicas, fator que constitui um ponto forte para o desenvolvi- mento da indústria extrativa. No entanto,
e devido à estrutura geológica do território português, os minérios existentes no subsolo são explorados de um modo
desigual.

Portugal continental é formado por três grandes unidades morfoestruturais [Fig. 8]:

• O maciço antigo, que se formou na Era Paleozoica, representa cerca de dois terços do território e corresponde a
toda a área Norte e grande parte do Centro e do Alentejo, sendo a sua litologia composta, essencialmente, por granitos e
xistos [Fig. 9];

• As orlas sedimentares mesocenozoicas, que correspondem à metade sul do Algarve e à faixa compreendida entre
Aveiro e Lisboa;

• As bacias sedimentares do Tejo e do Sado, datadas da Era Cenozoica.

Os arquipélagos da Madeira e dos Açores, cuja formação é mais recente (Era Cenozoica), constituem um domínio à
parte. A sua génese vulcânica está na origem do aparecimento de formas de relevo próprias e de uma constituição
litológica caracterizada pelas rochas basálticas.
2.2. A PRODUÇÃO DE MINERAIS METÁLICOS
A exploração de minérios em cada região depende de um conjunto de fatores económicos e naturais relacionados
com as características geológicas, responsáveis pela existência de determinados minerais. As áreas do maciço antigo são
as de maior riqueza geológica.

A maioria das ocorrências de recursos minerais encontra -se nas regiões do Norte, do Interior Centro e do Alentejo: 38
% nos distritos de Castelo Branco, Guarda e Viseu; 31 % distribuem -se pelos cinco distritos da região Norte; e 19 % pelos
distritos alentejanos [Fig. 11]. As regiões de Lisboa e do Algarve, situadas nas orlas mesocenozoicas, apresentam uma
menor riqueza geológica. Nelas predominam as rochas calcárias, argilíticas e areníticas, sendo o sal -gema o minério mais
explorado.

2.2.1. A LOCALIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES DE MINERAIS METÁLICOS


Embora o número de ocorrências de recursos minerais seja bastante significativo, a atividade produtiva incide num
grupo restrito de substâncias extraídas das minas e das pedreiras.

Os minerais metálicos são um dos subsetores com maior peso no valor da produção da indústria extrativa. A sua
exploração ocorre num pequeno número de minas e emprega uma quantidade apreciável da mão de obra do setor
[Quadro 3]. O centro de produção de cobre e estanho mais importante a nível nacional, a mina de Neves Corvo,
localiza-se no Alentejo, no distrito de Beja, o que faz com que esta região detenha um valor significativo da produção
global de minérios do País [Fig. 13]. A exploração das grandes jazidas de cobre, estanho e volfrâmio é a responsável pelo
crescimento do valor das extrações no território português [Fig. 12], contribuindo para que o País se tornasse num dos
maiores produtores da União Europeia.

O cobre e o estanho têm como destino principal a exportação, representando cerca de metade do valor dos produtos
da indústria extrativa exportados. A valorização económica que estes metais registaram no mercado internacional nos
últimos anos levou, no caso do cobre, a que esta atividade fosse vista como importante para a entrada de divisas no País
[Fig. 14].

A principal aplicação do volfrâmio (tungsténio), explorado na mina da Panasqueira, no distrito de Castelo Branco [Fig.
13], é o fabrico de filamentos de lâmpadas incandescentes, de resistências elétricas, de ligas de aço e de ferramentas.

2.3. A PRODUÇÃO DE MINERAIS INDUSTRIAIS


O grupo de minerais industriais explorados em Portugal, em pedreiras e minas, corresponde a uma parte reduzida do
setor extrativo — cerca de 15 % dos estabelecimentos de extração, que empregam 8 % da mão de obra no total do setor
[Quadro 4]. Estas pedreiras e minas estão dispersas por várias regiões, mas encontram-se em maior número no Centro,
Norte e Litoral Centro [Fig. 16].

Quando comparadas, as minas existem em menor número do que as pedreiras. No entanto, contribuem com uma
parte significativa para o valor de produção deste setor [Quadro 5]. Localizam-se principalmente nos distritos de Guarda e
Viseu, onde operam cerca de 40 % dos estabeleci- mentos dedicados à atividade extrativa em Portugal continental.

De entre todos os minerais industriais, ganham grande relevância os que se constituem como matérias -primas para a
indústria da cerâmica, cujo papel é relevante no domínio económico.

2.3.1. A LOCALIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES DE MINERAIS INDUSTRIAIS


O caulino é o mineral mais importante deste grupo [Fig. 17] e um dos que apresenta uma maior dispersão no
território, com focos de concentração nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e Leiria. É usado em vários
setores da indústria: cerâmica, papel, plásticos, produtos farmacêuticos, fertilizantes, pesticidas e rações.
Os restantes minerais destinam-se igualmente ao consumo das várias indústrias — para além da cerâmica (grande
utilizadora de feldspato, talco e quartzo) destacam-se também as indústrias química, agroalimentar e de rações, às quais
se destina principalmente o sal-gema. Este mineral é explorado em três concelhos dos distritos de Faro, Lisboa e Coimbra
(respetivamente, Loulé, Torres Vedras e Figueira da Foz).

O feldspato é um mineral que se desenvolve sobretudo em rochas graníticas. Deste modo, a maior concentração de
minas ocorre nos distritos de Viseu, Guarda, Braga e Vila Real, áreas de maior afloramento destas rochas. Além da
cerâmica, é utilizado na produção de vidro, tintas, plásticos e borrachas.

0 talco é o constituinte principal da «pedra de sabão». Extraído em minas no distrito de Bragança, é utilizado pelas
indústrias de papel, tintas, borrachas, plásticos e fertilizantes ou como isolamento térmico e elétrico.

O quartzo é o mineral mais abundante na Terra, fazendo parte da constituição de rochas de granito, arenito e das
areias em geral. As unidades dedicadas à sua extração localizam-se nas mesmas áreas do feldspato. O fabrico de
cerâmica, vidro, fibras óticas, produtos eletrónicos, instrumentos óticos, relógios e joias baratas é uma das muitas
aplicações deste mineral.

Por fim, salienta-se a existência de áreas de produção de outros minerais industriais como gesso, barite, areias
especiais, argilas comuns e argilas especiais. Embora com um valor de produção menos significativo, constituem fontes de
matérias -primas fundamentais para as indústrias de exportação.

A extração destes minerais ocorre principalmente nos distritos da região Centro: Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém e
Castelo Branco, no caso das argilas, e no distrito de Setúbal, no caso das areias especiais.

2.4. A PRODUÇÃO DE MINERAIS PARA A CONSTRUÇÃO


O subsetor dos minerais para a construção [Fig. 20], no essencial minerais não metálicos, é, em termos
socioeconómicos, o mais importante da indústria extrativa: detém 84,3 % dos estabelecimentos, cria 40,8 % do valor de
produção e tem ao seu serviço 73,5 % do pessoal do setor da atividade mineira em Portugal.

As matérias-primas, exploradas em pedreiras, constituem uma gama variada. Considerando o destino dado às rochas
extraídas, divide -se a produção deste subsetor em três grupos: a extração de rochas ornamentais (mármores, granitos,
ardósia e xistos), a extração de agregados (areias, saibros, pedras e britas) e a extração de minerais para cimento e cal a
partir de calcários e margas.

2.4.1. A LOCALIZAÇÃO DOS MINERAIS PARA CONSTRUÇÃO


Apesar de algumas variações nos últimos anos, os valores de produção têm- -se mantido elevados, resultado da
necessidade constante de matérias- -primas por parte do setor da construção civil e obras públicas [Fig. 18]. As areias, os
saibros e as britas, que se destinam fundamentalmente a este setor, representam a grande maioria da produção deste
tipo de rochas, o que se reflete no valor económico obtido.

A produção de rochas ornamentais tem conhecido algumas oscilações nos últimos anos. Em conjunto, os mármores e
os granitos são as rochas mais extraídas. No que diz respeito aos mármores, a grande procura nos mercados externos tem
feito aumentar os seus preços. Depois do cobre, as rochas ornamentais são o recurso com maior valor de exportação,
representando cerca de 30 % do valor total dos produtos da indústria extrativa para exportação. Assim, no grupo dos
minerais para a construção, as rochas ornamentais são as que mais contribuem para a criação de riqueza.

Em Portugal, no ano de 2010, estavam em atividade 876 pedreiras que se dedicavam à extração de substâncias de
importância económica muito variável, quer em termos de valor de produção quer em termos de mão de obra. O grupo
mais representado era o das rochas ornamentais, a que se dedicavam 59 % das unidades de extração e cerca de 43 % da
mão de obra deste subsetor [Quadro 6]. A distribuição das áreas de produção pelo território é irregular e a sua localização
faz-se de acordo com os diferentes afloramentos rochosos que ocorrem em cada região [Fig. 19].
2.5. A LOCALIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES DE ROCHAS ORNAMENTAIS
A maior jazida de mármores em Portugal localiza-se na faixa Estremoz- -Borba-Vila Viçosa, no distrito de Évora [Fig.
22]. Devido à grande pro- cura nos mercados nacional e internacional, os mármores suportam uma atividade importante
na economia desta região. Outros centros de produção de mármores encontram -se também no distrito de Beja [Fig. 23].

Os granitos para fins ornamentais destinam -se à produção de blocos e de calçada, constituindo o tipo de rocha
dominante na região Centro (Guarda e Viseu), na região Norte (Viana do Castelo, Braga e Vila Real) e em algumas áreas
dos distritos alentejanos.

O calcário ornamental e rústico e para calçada tem uma grande procura interna e externa, sendo explorado
principalmente no distrito de Leiria, no Maciço Calcário Estremenho (serras de Aire e Candeeiros), e ainda no distrito de
Lisboa. No Sul, no distrito de Faro (concelhos de Tavira e de São Brás de Alportel), são também exploradas «brechas
calcárias».

A exploração de ardósia acontece nos distritos do Porto e de Aveiro e é comercializada sob a forma de placas para
revestimento, mesas de bilhar e quadros escolares, entre outras utilizações [Fig. 21]. Quanto ao xisto ardosífero
ornamental, é extraído nos afloramentos de xisto em algumas áreas do interior alentejano e da região Centro, sendo
utilizado no fabrico de pavimentos e de revestimentos.

2.6. A LOCALIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES DE AGREGADOS


Os agregados são matérias-primas indispensáveis ao funcionamento de muitas indústrias. Tratando -se de produtos
de baixo valor unitário, e com custos de transporte elevados, que dificultam a sua comercialização para o exterior, o
consumo interno apresenta-se como o seu destino principal. A construção civil e as indústrias cimenteira, química,
cerâmica, do vidro e fundição constituem o mercado dos agregados.

A extração de calcários, granitos e areias, e a produção de britas e saibros são as atividades que dominam neste
grupo.

O calcário [Fig. 25] constitui-se como fundamental para os setores da construção civil e obras públicas, mas tem
aplicabilidade em áreas como a produção de cimento, cal, giz e vidro, e na atividade agrícola, devido à sua capacidade de
corrigir o pH dos solos. No território continental, concentra- -se no litoral, entre os distritos de Coimbra e Setúbal [Fig.
28].

O granito industrial [Fig. 26], utilizado em alvenaria e britas, é explorado numa vasta área do território, sobretudo nas
regiões Norte e Interior Centro.

A grande parte das areias é extraída nas áreas correspondentes às orlas mesocenozoicas e às bacias do Tejo e Sado,
embora os locais de exploração estejam distribuídos pelo litoral.

A importância da produção de agregados nos arquipélagos é muito reduzida. As poucas pedreiras existentes, quer nos
Açores quer na Madeira, dedicam-se principalmente à exploração da rocha dominante, o basalto [Fig. 27].

2.7. A DIVERSIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS DO SUBSOLO


No subsetor das águas consideram-se as águas de nascente e os recursos hidrominerais (águas que têm interesse
económico devido às suas características físico-químicas). Os recursos hidrominerais subdividem-se em dois grupos: águas
minerais naturais e águas mineroindustriais.

As águas de nascente têm uma circulação subterrânea e são consideradas bacteriologicamente próprias para beber,
apresentando uma composição química vulgar que não se distingue das águas comuns da respetiva região: são as
chamadas «águas de mesa».
As águas minerais naturais também circulam no subsolo, mas diferem das de nascente por apresentarem
características físico-químicas que podem resultar em propriedades terapêuticas ou efeitos benéficos para a saúde.

As águas mineroindustriais são as que permitem a extração económica de substâncias nelas contidas.

Portugal continental apresenta um subsolo com uma grande diversidade de águas de nascente e de águas minerais, da
qual resulta um valor de produção significativo, embora com oscilações nos últimos anos [Fig. 30]. Fruto das
características estruturais do maciço antigo e das outras unidades morfoestruturais, a distribuição das explorações pelo
território é irregular. A indústria de engarrafamento, quer de águas de nascente quer de águas minerais, tem maior
expressão em volume e valor de produção no Norte e Centro, mais especifica - mente nos distritos de Viseu, Vila Real,
Braga, Aveiro e Guarda [Fig. 31].

Pela sua composição química (quimismo), as águas minerais são também exploradas para o termalismo, fator
importante de desenvolvimento para as regiões, uma vez que as estâncias termais funcionam como polos de dinamismo
económico local. Em 2010, das 47 termas existentes em Portugal continental, 38 estavam em atividade. A sua maioria
(cerca de 65 %) concentra-se nos distritos atrás referidos, devido à existência de mais águas com propriedades
terapêuticas [Fig. 32].

A temperatura e o quimismo das águas são fatores decisivos na escolha das termas a frequentar [Quadros 7 e 8].
Predominam as de águas sulfúreas, que são também as mais quentes, como é o caso de São Pedro do Sul (distrito de
Viseu), onde a temperatura atinge os 69 ºC. Chaves, por exemplo, destaca -se pelas suas águas gasocarbónicas, atingindo
as mais quentes os 75 ºC. A temperatura superior a 40 ºC torna ainda algumas águas minerais em potenciais recursos
geotérmicos, o que poderá permitir a sua exploração a partir do aproveitamento de calor.

3. QUE PROBLEMAS DECORREM DA EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS DO SUBSOLO?

3.1. OS NÍVEIS DE PRODUÇÃO E O CONTEXTO INTERNACIONAL


Apesar da riqueza mineral de Portugal, a atividade extrativa tem registado, nas últimas duas décadas, aspetos bem
diferenciados no que respeita à riqueza produzida.

Até ao ano de 2005, o saldo entre as importações e as exportações foi sempre negativo, tendo, a partir de então,
apresentado uma evolução franca- mente positiva, só atenuada nos anos de 2008 e 2009 [Fig. 34]. Para este balanço
positivo nas trocas comerciais com o exterior contribuíram de forma decisiva, por um lado, o aumento substancial da
produção de minerais metálicos e de rochas ornamentais para o exterior e, por outro lado, a redução no consumo de
carvão importado [Quadro 10].

Não obstante o cenário atual, mais vantajoso para Portugal, a indústria extrativa debate-se com vários problemas que
conduziram no passado recente ao encerramento de muitas minas [Fig. 33]. Na base do encerra- mento está, quase
sempre, a reduzida viabilidade económica das minas portuguesas, num contexto de grande concorrência internacional
que se repercute na descida dos preços.

Este fator é acentuado pela crescente globalização dos mercados, pelos elevados capitais necessários ao investimento
na indústria mineira e pelos condicionalismos internos, que aumentam os riscos dos investidores nacionais e estrangeiros
e os levam a considerar esta atividade pouco atrativa.

3.1.1. CONDICIONALISMOS INTERNOS


Em Portugal, os custos de extração de minérios são elevados e nem sempre permitem a sua comercialização a preços
competitivos. Este facto fica a dever -se a vários fatores:

• Grande parte dos depósitos minerais são de pequena dimensão [Quadro 9]. No País, existem apenas 13 jazidas de
grande dimensão (estando sete delas localizadas no distrito de Beja), nas quais é explorado um número restrito de
minérios (cobre, estanho, volfrâmio, chumbo, zinco, pirite, prata e ouro). Contudo, como a rendibilidade económica é
fraca, existem atualmente apenas duas minas de grande dimensão em atividade (Panasqueira e Neves Corvo);

• Muitas jazidas minerais localizam -se a grande profundidade e em áreas de acesso difícil devido ao fraco
desenvolvimento de infraestruturas rodoviárias e ferroviárias que as servem, o que encarece a extração e o transporte
dos minérios;

• Os custos com a mão de obra e com os aspetos da segurança são mais elevados do que noutros países
potencialmente concorrentes de Portugal, que assim conseguem preços de mercado mais competitivos.

A atividade extrativa origina ainda vários problemas no domínio ambiental, que acabam por funcionar como
obstáculos ao seu desenvolvimento. As regiões onde se localizam as minas registam vários riscos ambientais relacionados
com a degradação da paisagem (transformações na morfologia do relevo e destruição das áreas agrícolas e de florestas) e
a contaminação química dos solos e das águas subterrâneas e superficiais, quer pelas minas quer pelas pedreiras a céu
aberto [Fig. 35].

3.2. CAUSAS DO DESEQUILÍBRIO ENTRE A PRODUÇÃO E O CONSUMO DE ENERGIA


A produção de energia em Portugal é bastante reduzida relativamente ao que é necessário para satisfazer o consumo,
representando apenas cerca de 24 % das necessidades [Quadro 11].

O desenvolvimento do País, traduzido no crescimento dos diversos setores de atividade económica e na melhoria da
qualidade de vida da população, obriga a gastos de energia cada vez maiores. O consumo final — relativo às habitações,
atividades de serviços, transportes, agricultura, pescas, construção e indústria transformadora — representa 75 % do
consumo de energia primária. Os consumos são naturalmente maiores nas áreas de maior concentração populacional e
de atividades económicas [Fig. 39].

Devido à ausência de exploração de recursos energéticos do subsolo, a produção de energia, em Portugal, faz -se
exclusivamente a partir da utilização de recursos renováveis disponíveis no território continental e insular. De entre esses
recursos salientam-se as lenhas e os resíduos vegetais (biomassa), a partir dos quais se produz cerca de 7,3 % da energia
em Portugal (e cerca de 15 % da de fontes renováveis) [Fig. 37].

3.2.1. CONSEQUÊNCIAS DO DESEQUILÍBRIO ENERGÉTICO


Dada a incapacidade de Portugal de produzir energia de forma a colmatar as suas necessidades, torna-se necessário
recorrer ao exterior para suprir as carências, em especial de petróleo, a fonte de energia mais utilizada, representando 46
% do consumo de energia primária [Fig. 36] e 54 % do consumo final [Fig. 38].

Em termos de valor, o petróleo representa mais de 80 % da energia importada. O seu preço tem grandes variações por
ser um produto muito sensível aos diversos acontecimentos de caráter económico, político ou bélico que ocorrem no
Mundo. Esta variabilidade das cotações internacionais do petróleo bruto afeta o equilíbrio da atividade económica do
País [Fig. 40].

A necessidade crescente de energia para o desenvolvimento do País e a subida dos preços do petróleo têm como
consequência o aumento das despesas na compra de energia, aumentando o peso dos produtos energéticos no total de
importações, podendo, então, falar-se em dependência energética em relação ao exterior.

4. COMO PODEM SER POTENCIALIZADOS OS RECURSOS ENERGÉTICOS EM PORTUGAL?

4.1. A VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS ENDÓGENOS


O potencial de exploração dos recursos geológicos em Portugal depende de um maior conhecimento geológico do
subsolo. Apesar de serem conheci- das algumas jazidas minerais, um enquadramento económico, tecnológico e ambiental
adequado, como a melhoria das infraestruturas, poderia levar a atrair investimentos de grandes empresas com o intuito
de abrir novas minas e reativar outras mais antigas [Doc. 3].

No território continental existem minerais com potencial de exploração, como o cobre, o chumbo e o zinco, em
algumas áreas dos distritos alentejanos, o volfrâmio e o estanho, em áreas dos distritos do norte e do interior centro; e o
ouro e a prata, na cintura da falha que separa o maciço antigo da orla mesocenozoica e da bacia cenozoica do Tejo -Sado
[Fig. 42].

Quanto ao setor energético, a reduzida extração de minérios e a reduzida produção causam grande dependência do
exterior no abastecimento em produtos energéticos. É necessário, então, aumentar a produção e desenvolver projetos de
modo a aproveitar os recursos disponíveis, diversificando as fontes. Neste âmbito, salientam-se os vários estudos de
prospeção de petróleo no subsolo em curso desde há alguns anos.

4.1.1. A UTILIZAÇÃO DE FONTES RENOVÁVEIS: A GEOTERMIA


A política energética da União Europeia estabeleceu, em 2001, o compro- misso dos estados-membros em atingir
objetivos nacionais até ao ano de 2010, no que diz respeito ao consumo de eletricidade produzida a partir de fontes
renováveis. Para Portugal, o objetivo fixado foi de 39 % (Diretiva 2001/77/CE). Atualmente, esse valor ultrapassou já os 50
% [Fig. 43], em resultado de um crescimento assinalável da utilização dos vários tipos de energias renováveis desde o
início do século [Fig. 44].

O desenvolvimento das várias formas de aproveitamento de fontes energéticas renováveis proporciona ao País uma
maior disponibilidade energética, reduz o impacto ambiental devido à redução da utilização de combustíveis fósseis,
contribui para o aparecimento de novas atividades e para a criação de emprego e possibilita a exportação de tecnologia e
de equipamentos concebidos para a exploração das novas fontes energéticas.

A geotermia, ou energia geotérmica, é uma das soluções para a produção de eletricidade nas regiões vulcânicas, como
acontece nos Açores. O aproveitamento geotérmico exige um elevado investimento inicial. No entanto, apresenta
grandes vantagens ambientais e económicas, pois os custos de produção são baixos e não depende de fatores externos.
No território continental, onde a temperatura da maioria das águas termais varia entre 20 ºC e 40 ºC, não excedendo os
80 ºC, o reaproveitamento deste calor [Fig. 41] para outras utilizações, como o aquecimento doméstico, industrial,
agrícola e de algumas infraestruturas, está muito condicionado a um número restrito de lugares onde existe um caudal
geotérmico suficiente, temperatura da água elevada e baixa salinidade. São exemplos de aplicações do calor geotérmico o
aquecimento de unidades hoteleiras que servem as termas, as piscinas municipais, os hospitais, as estufas e as
pisciculturas.

4.2. AS FONTES ENERGÉTICAS ALTERNATIVAS ÀS DO SUBSOLO


Os projetos de aproveitamento de energias renováveis no território português estão integrados na política energética
nacional e europeia, que tem em conta os acordos entre os países à escala mundial, como, por exemplo, o Protocolo de
Quioto, que começou a ser negociado em 1997.

Em Portugal, os projetos com grande viabilidade de aproveitamento energético relacionam -se com as fontes de
energia renovável [Fig. 45].

• Biomassa: Tendo em conta que 38 % da área do território nacional é coberta por floresta, a biomassa florestal
disponibiliza grande quantidade de materiais, assim como resíduos e desperdícios do setor de transformação da madeira
que não possam ser valorizados de outro modo.
• Biogás: O seu aproveitamento é vantajoso, por um lado porque reduz a energia consumida no tratamento dos
resíduos e, por outro lado, ao queimar o metano faz com que não ocorra o seu lançamento para a atmosfera, onde seria
responsável pelo aumento do efeito de estufa.

• Energia hídrica: Inclui a eletricidade produzida pelas grandes centrais hidroelétricas e a contribuição de pequenas
centrais (mini-hídricas) no aproveitamento dos recursos hídricos à superfície.

• Energia solar: O grande número de horas de sol por ano, em especial nas regiões mais a sul do território continental,
permite um bom aproveitamento da energia solar. Têm sido desenvolvidas várias iniciativas no âmbito da promoção da
energia solar, com destaque para a instalação de sistemas fotovoltaicos ligados à rede elétrica e de sistemas integrados
em edifícios públicos e de habitação. Estes sistemas, além das vantagens ambientais, apresentam outras vantagens
igualmente importantes, como a baixa manutenção que requerem e o impacto social que provocam através da
contribuição para a criação de emprego ao nível local.

• Energia eólica: Embora Portugal não seja dos países mais ventosos e apresente uma irregularidade e variação
sazonal deste elemento climático, tem condições favoráveis ao aproveitamento da energia do vento, nomeadamente em
áreas do litoral e de maior altitude. Trata-se, no entanto, de uma forma de exploração que se confronta com alguns
obstáculos, como a fraca acessibilidade dos locais de maior potencial eólico e o impacto visual, sonoro e na avifauna,
causado pela instalação dos aerogeradores.

• Energia das ondas: O seu aproveitamento depende de um conjunto de fatores, nas áreas costeiras, que permitam
resolver facilmente os problemas de transporte de energia para terra e de acesso para manutenção. A costa ocidental do
continente e as ilhas dos Açores têm condições naturais bastante favoráveis para a localização de unidades de conversão
junto à costa. Dado que as ondas são produzidas pela ação do vento, a conversão de energia a partir das ondas apresenta
semelhanças com a conversão eólica no que respeita à irregularidade e variação sazonal. A maior complexidade dos
sistemas de conversão, a maior agressividade do meio e a irregularidade e variação sazonal das ondas explicam o maior
atraso desta tecnologia de produção de energia a partir das ondas em relação às restantes.

• Energia das marés: É produzida a partir da força das águas provocada pelos movimentos das marés. O seu
aproveitamento é muito dispendioso e condicionado a lugares onde a amplitude de maré justifique os investimentos.

4.3. O PAPEL DO TERMALISMO NO DESENVOLVIMENTO DAS REGIÕES


O termalismo é desenvolvido em alguns dos locais de onde são extraídas as águas minerais [Fig. 46].
Tradicionalmente, é visto como uma atividade que tem como principal domínio de atuação a prevenção e o tratamento
de doenças. No entanto, atualmente, esta atividade é entendida como grande potencializadora dos recursos termais das
regiões onde ocorrem, o que é feito alargando a sua oferta ao setor do turismo em geral, contribuindo para alguma
animação das economias desses lugares [Doc. 5].

A estruturação das estâncias termais e a valorização dos produtos que são oferecidos vão no sentido de promover
também o lazer e o bem-estar como características próprias das termas. A estratégia de desenvolvimento das quatro
vertentes — tratamento, prevenção, bem-estar e lazer — pro- cura captar uma maior quantidade de frequentadores,
para além dos «ter- malistas clássicos». Para tal, tem vindo a ser desenvolvido o marketing termal como forma de:

• proporcionar um tipo de oferta turística diferente de outros produtos turísticos concorrentes, com o objetivo de
atrair determinados segmentos do mercado às estâncias termais;

• oferecer produtos e serviços diversificados, de acordo com as estruturas existentes nas estâncias termais e
adequados às características de cada público -alvo;

• implementar programas de divulgação e promoção das unidades ter- mais, enquanto destinos turísticos, nos
mercados nacional e internacional.
4.3.1. REPERCUSSÕES NO EMPREGO E NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Uma vez que o número de frequentadores tem evoluído negativamente desde o início deste século [Fig. 47],
registando-se consequentemente uma estagnação no valor produzido pela atividade [Fig. 48], torna-se funda- mental a
revitalização do setor com a aplicação de medidas semelhantes às referidas. Dessa forma, as termas poderiam voltar a
contribuir para o fomento do turismo e para o aumento de um conjunto de atividades que se relacionam, direta ou
indiretamente, com este setor, aumentando o volume de negócios. De entre estas atividades, destacam -se a hotelaria, a
animação turística e lazer, a restauração e o comércio local.

A formação profissional, com a valorização contínua dos recursos humanos, é fundamental para a competitividade
económica das unidades ter- mais e deste tipo de turismo.

Em síntese, o desenvolvimento do turismo teria consequências no aumento do consumo e na criação de emprego,


dinamizando as economias locais e regionais. Estas circunstâncias, a ocorrerem em áreas do interior caracterizadas pelo
despovoamento, poderiam ser determinantes para a fixação de população.

RECURSOS CLIMÁTICOS: A RADIAÇÃO SOLAR

1. QUAL O PAPEL DA ATMOSFERA NA RADIAÇÃO SOLAR?

1.1. A ATIVIDADE SOLAR


O Sol é a estrela que se constitui como centro do nosso sistema solar. Tem uma massa cerca de 333 mil vezes superior
à da Terra, enquanto o seu volume é cerca de 1 300 000 vezes superior [Fig. 2].

O Sol irradia para o espaço grandes quantidades de energia (radiação solar), mas só uma pequena parte chega à Terra.
A sua atividade não é constante e pode variar significativamente, alterando a radiação emitida e que chega até ao nosso
planeta. Este fenómeno, a que se dá o nome de ciclo solar, é originado pelo aparecimento periódico de manchas escuras
na superfície do Sol, manchas essas que são causadas por perturbações no seu campo magnético e que ocorrem em
períodos de 11 anos.

Estas manchas têm tamanhos consideráveis, sendo, frequentemente, maiores do que o planeta Terra. As manchas
solares são negras, pois a sua tempera- tura é bastante inferior à que normalmente se regista na superfície do Sol. Uma
mancha solar pode atingir cerca de 3700 ºC, enquanto nas zonas mais brilhantes em redor das manchas a temperatura é
de 5500 ºC [Fig. 3].

Um dos fenómenos mais comuns nas fases mais ativas do Sol — e, por isso, quando se observa um maior número de
manchas — é a ocorrência de erupções ou explosões solares. Apesar da distância a que o Sol se encontra da Terra, estes
fenómenos podem afetar as comunicações de rádio, danificar a eletrónica dos satélites, causar falhas elétricas e auroras
boreais.

1.1.1. A RADIAÇÃO SOLAR


A radiação solar é de natureza eletromagnética, sendo emitida por hidrogénio incandescente altamente aquecido
existente no Sol. Somente parte da radiação solar é visível ao olho humano. Essa parte é composta por vários
comprimentos de onda que definem a coloração do arco-íris (do vermelho ao violeta), também designada por «janela
ótica». A restante parte é invisível e é composta por radiações de longo comprimento de onda (calor), e por radiações de
baixo comprimento de onda [Fig. 4].

A energia irradiada pelo Sol, recebida na camada superior da atmosfera, equivale à produção de mais de 170 milhões
de centrais nucleares de tipo médio, a trabalhar em conjunto. Tal significa um valor de 1366 W/m2, também designado
por constante solar. Mas, ao atravessar a atmosfera, há perdas na radiação solar que chega à superfície, variando a sua
intensidade entre os 1000 e os 1200 W/m2.

Por sua vez, a Terra emite radiação de longo comprimento de onda (calor) na banda do infravermelho — é a chamada
radiação terrestre [Fig. 4].

1.1.2. ATMOSFERA: COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ESTRUTURA


A Terra está envolta numa camada gasosa (única no sistema solar) de espessura variável que se designa por
«atmosfera». A estrutura da atmosfera é complexa e é formada por várias camadas, que se distinguem umas das outras
pela forma como varia a temperatura e pela sua composição química. Essas camadas designam-se, como pode observar
na imagem, por troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera.

1.2. ATMOSFERA: BALANÇO TÉRMICO


Da radiação solar que chega à Terra, aproximadamente 30 % é refletida diretamente para o espaço, pelos diferentes
componentes da atmosfera e da superfície terrestre, e 70 % é absorvida e emitida sob a forma de calor (radiação de longo
comprimento de onda): balanço térmico [Fig. 6].

O balanço de radiação deve ser encarado como um mecanismo de compensação que regula a quantidade de radiação
solar que chega à Terra e a quantidade de calor que a Terra emite para o espaço. Se a Terra retivesse mais energia do que
a que irradia, então aqueceria indefinidamente.

A Terra possui, então, um sistema natural regulador da temperatura, ou seja, há um equilíbrio térmico resultante do
balanço energético.

À razão entre o total de radiação refletida e a radiação incidente dá -se o nome de albedo. Esta relação, representada
em percentagem, não é, contudo, homogénea em todas as regiões da Terra, variando de acordo com as características
das superfícies [Fig. 8].

As construções humanas são dotadas, de uma forma geral, de albedos baixos, o que faz aumentar a absorção da
radiação solar em superfícies que poderiam ter albedos maiores. A construção de estradas e a urbanização serão,
porventura, as atividades humanas que mais poderão contribuir para uma diminuição do albedo.

A Terra possui um efeito de estufa natural que permite que a tempera- tura seja mais elevada, pois parte do calor
emitido fica retido nas baixas camadas da atmosfera terrestre.

No entanto, fruto das atividades humanas, cada vez mais gases com efeito de estufa chegam à atmosfera. Pensa -se
que o reforço do efeito de estufa natural poderá estar a aumentar a temperatura da Terra, alterando desta forma o
equilíbrio térmico existente [Fig. 7]

1.3. VARIAÇÕES DA RADIAÇÃO SOLAR AO LONGO DO DIA E DO ANO

1.3.1. VARIAÇÃO AO LONGO DO DIA E COM A LATITUDE


O movimento de rotação é responsável pela sucessão dos dias e das noites. Ao longo do dia, a inclinação dos raios
solares altera-se: por exemplo, ao nascer e ao pôr do sol, a inclinação é máxima e os raios incidem de forma muito
oblíqua; ao meio-dia, pelo contrário, os raios solares incidem mais na vertical. A intensidade da radiação solar varia em
função desta obliquidade observada, ou seja, quanto maior a obliquidade, menor a intensidade da radiação solar, em
virtude da maior massa atmosférica que os raios solares têm de atravessar. Também a superfície recetora é tanto maior
quanto maior for a obliquidade dos raios solares [Fig. 10].

A diferença na duração dos dias e das noites também varia em função da latitude.
A intensidade da radiação solar varia, sendo tanto menor quanto maior for a latitude e, por isso, maior a obliquidade
dos raios solares. Ou seja, diminui em direção aos polos. É precisamente nos polos que a obliquidade da radiação solar é
mais elevada, explicando o facto de serem estas as regiões mais frias. A região equatorial é a região onde a radiação solar
incide mais na vertical, ao longo de todo o ano, fazendo com que seja uma zona quente da Terra e de fraca amplitude
térmica. Portugal está situado nas latitudes médias, onde se localizam todos os climas temperados, facto associado à
obliquidade intermédia da radiação solar [Fig. 11].

1.3.2. VARIAÇÃO AO LONGO DO ANO


As estações do ano são consequência de o movimento de rotação da Terra sobre o seu eixo não ser perpendicular ao
seu plano de órbita em volta do Sol [Fig. 13]. Assim, o hemisfério norte recebe mais radiação solar durante metade do
ano (entre 21 de março e 21 de setembro, com um máximo a 20 ou 21 de junho). Durante a outra metade do ano, é o
hemisfério sul que fica mais exposto à radiação solar (com o máximo atingido a 21 ou 22 de dezembro) [Figs. 13 e 14].
Estes dias são conhecidos como solstícios.

O solstício de verão, que marca o início desta estação, acontece a 20 ou 21 de junho, que é o maior dia do ano. Ao
invés, o dia com a menor duração ocorre no solstício de inverno, a 21 ou 22 de dezembro, marcando o início desta
estação no hemisfério norte. Pelas razões já referidas, no hemisfério sul dá -se a situação inversa [Figs. 13 e 14].

Durante os equinócios, a radiação solar incide na vertical sobre o equador, fazendo com que ambos os hemisférios
recebam a mesma quantidade de radiação solar e os dias tenham a mesma duração das noites, em todo o globo. O
equinócio de primavera ocorre a 20 ou 21 de março, enquanto o equinócio de outono acontece a 22 ou 23 de setembro.

1.3.3. OUTROS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A VARIAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR


A exposição geográfica — uma vertente com inclinação igual à dos raios solares, mas de orientação oposta, faz com
que estes possam incidir mais na verti- cal, nas latitudes médias, aumentando desta forma a sua intensidade [Fig. 12].

A nebulosidade e as características da atmosfera, como a sua espessura, o teor em vapor de água e poeiras em
suspensão — podem alterar os processos de absorção, reflexão e difusão da radiação solar incidente, influenciando a
quantidade de radiação solar recebida num local.

2. QUE CONSEQUÊNCIAS TEM A VARIABILIDADE DA RADIAÇÃO SOLAR EM PORTUGAL?

2.1. A VARIAÇÃO DA INSOLAÇÃO


A energia sob a forma de radiação solar atinge a Terra de forma desigual. Da mesma forma, os valores da insolação
(n.º de horas de sol) são reflexo daquele facto e variam consideravelmente de lugar para lugar consoante a época do ano.
A insolação varia, então, ao longo do ano e de acordo com a latitude. Junto ao equador registam -se, ao longo do ano,
dois máximos de insolação (equinócios) que traduzem a dupla passagem do Sol, no seu movimento anual aparente. São
visíveis, também, as noites polares nos dois hemisférios (acima dos dois círculos polares): enquanto se observa uma noite
polar, acima do Círculo Polar Ártico, observa -se, ao mesmo tempo, o dia polar, nas latitudes acima do Círculo Polar
Antártico. Nas latitudes de Portugal (entre os 37º N e 42º N), a insolação máxima regista-se nos meses de junho, julho e
agosto [Fig. 15].

Facilmente se pode verificar a igualdade entre os dias e as noites, durante os equinócios, quando o Sol nasce, a leste, e
se põe, a oeste. Nos solstícios, a desigualdade entre os dias e as noites é evidente. No solstício de verão (20 ou 21 de
junho), o Sol tem um trajeto no horizonte muito maior do que no solstício de inverno (21 ou 22 de dezembro). Neste
último, além de o Sol estar relativamente pouco tempo acima da linha do horizonte, a obliquidade dos raios solares é
maior [Fig. 16].

Na figura 17 está representada a variação da insolação ao longo do ano em alguns locais de Portugal continental e
insular. Foram escolhidos locais que se julgam representativos de algumas regiões de Portugal. O Norte Litoral e Interior
está representado pelas estações de Porto/Serra do Pilar e Bragança, respetivamente. De igual forma, o Sul Litoral por
Lisboa e Faro, enquanto o Interior Sul por Beja. Ponta Delgada e Funchal ilustram a situação nos arquipélagos atlânticos.

2.2. A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO MUNDO E NA PENÍNSULA


Os valores mais elevados de radiação solar registam-se nas regiões tropicais e vão diminuindo em direção aos polos.
Apesar de o equador ser a zona onde os raios solares incidem com menor obliquidade, o valor máximo regista -se entre as
latitudes de 20º Norte e Sul, ou seja, sobre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, onde se localizam os grandes desertos
quentes [Fig. 20].

Também à escala da Península Ibérica a distribuição espacial da radiação solar apresenta grandes contrastes [Fig. 19].
Em primeiro lugar, essa desigualdade traduz -se num claro contraste entre o Norte e o Sul, devido, fundamentalmente, ao
fator latitude. Em segundo lugar, o Norte da Península é muito mais chuvoso do que o Sul, o que, relacionado com uma
maior nebulosidade, faz diminuir, de forma substancial, a radiação solar. Desta forma, as regiões galegas e cantábricas
são as que registam menores valores de radiação, podendo ser inferiores a 1000 kWh/m2 no extremo mais setentrional
[Fig. 19].

2.2.1. A DISTRIBUIÇÃO EM PORTUGAL


Em Portugal, a distribuição espacial da radiação solar e da insolação também respeita a lógica latitudinal: o Norte com
menores valores e o Sul com maiores valores de radiação solar e insolação [Fig. 18 e Quadro 1]. Contudo, devido à
influência do relevo mais acidentado quer no Norte quer no Sul, os valores de radiação são menores.

Outros aspetos a ter em conta são a proximidade do mar e a disposição norte/sul das montanhas mais altas de
Portugal continental, que explica o contraste na diagonal (noroeste/sudeste) em Portugal. Estas são as razões pelas quais
podemos encontrar regiões em Trás-os-Montes com valores semelhantes aos do Alentejo e do Algarve, regiões de maior
insolação. Da mesma forma, a serra algarvia e Monchique registam valores relativamente baixos, por serem duas regiões
de maior nebulosidade e mais chuvosas do que a restante região algarvia. Mesmo tendo em conta que os valores de
radiação e insolação são elevados, há, contudo, fortes contrastes espaciais.

3. QUE CONSEQUÊNCIAS TEM A RADIAÇÃO SOLAR NA VARIABILIDADE DA TEMPERATURA?

3.1. O QUADRO GLOBAL DOS CONTRASTES ESPACIAIS


A distribuição espacial das temperaturas está intimamente ligada à radiação solar global recebida. Assim, os locais
com temperaturas mais elevadas são os que recebem mais radiação solar. Por esse motivo, há semelhanças entre os
mapas da distribuição das temperaturas e da distribuição espacial da radiação solar [Fig. 22].

No verão, as temperaturas mais elevadas deslocam-se para norte do equador, sobre o trópico de Câncer, nos grandes
desertos quentes. Nesta altura do ano, o hemisfério norte recebe mais radiação solar do que o hemisfério sul, onde as
temperaturas registadas são claramente inferiores.

No inverno, a situação inverte-se, ou seja, as temperaturas mais elevadas deslocam-se para sul do equador, sobre o
trópico de Capricórnio, nos desertos quentes do hemisfério sul. É a época do verão austral, em que o hemisfério sul
recebe maior quantidade de radiação solar.

3.1.1. OS CONTRASTES ESPACIAIS NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS


Considerando o território português, é possível identificar fortes contrastes espaciais. O primeiro contraste que se
observa, em Portugal continental, é entre um Norte mais montanhoso e frio e um Sul mais plano e quente. No entanto,
este não é um padrão linear. Os pontos mais elevados das principais montanhas correspondem aos pontos mais frios e,
mesmo no Norte, podemos encontrar temperaturas elevadas, em particular nos vales encaixados da região do Douro [Fig.
21].
Nos Açores e na Madeira, há um contraste nítido entre o litoral mais quente e ameno e o interior de elevadas
altitudes, bastante mais frio. A origem vulcânica destas ilhas origina este relevo típico em vários cones vulcânicos (alguns
dos quais já desmantelados), cujos pontos mais elevados se encontram no interior.

3.1.2. OS CONTRASTES ENTRE AS ESTAÇÕES DO ANO EM PORTUGAL


Entre as estações do ano, há também diferenças na distribuição da temperatura. Em Portugal continental, durante o
inverno, desenha-se um contraste nordeste/sudoeste, sendo Trás-os-Montes e a Beira Interior as regiões mais frias. Por
outro lado, o Algarve, em particular o barlavento, regista as temperaturas mínimas mais elevadas. No verão, há um claro
contraste oeste/este, entre o litoral «fresco» e o interior muito quente, em particular o interior transmontano e,
sobretudo, o alentejano.

Nas ilhas, mantém-se sempre um contraste interior/litoral, uma vez que a altitude baixa as temperaturas mínimas, no
inverno, e as máximas, no verão. No entanto, a maior exposição à radiação solar das vertentes sul das ilhas torna estas
vertentes mais quentes. Este facto é particularmente evidente na ilha da Madeira, na zona da cidade do Funchal, além da
influência do vigoroso encaixe dos vales madeirenses nas temperaturas. No inverno, o ar marítimo penetra no interior,
amenizando as temperaturas até locais relativamente afastados do mar e, no verão, os vales continuam a ser mais
quentes do que as regiões envolventes de maior altitude.

3.1.3. OS CONTRASTES ENTRE LITORAL E INTERIOR EM PORTUGAL


Em Portugal continental, o contraste entre o litoral e o interior é também visível no mapa da amplitude térmica anual
[Fig. 23]. A proximidade do mar parece ser o fator preponderante, relegando para segundo plano a relação com a latitude
e o papel do relevo.

As amplitudes mais baixas registam-se nas regiões que mais avançam sobre o mar, de que são exemplo o litoral entre
Peniche e Sintra e o cabo de São Vicente, no extremo oeste do barlavento algarvio. Por outro lado, as maiores amplitudes
térmicas registam-se nas regiões de Trás-os-Montes, Beira Interior e Alentejo Interior.

Este desenho das isotérmicas [Fig. 24] reforça o papel da continentalidade no interior, responsável por invernos
longos e frios e verões muito quentes. Pelo contrário, no litoral, os invernos são amenos e os verões são relativamente
frescos.

A figura 25 dá uma informação complementar à das figuras 23 e 24. No inverno, é bem visível o contraste
nordeste/sudoeste, com as temperaturas a aumentar para sudoeste, sendo a região mais fria o Nordeste transmontano.

No verão, o contraste oeste/este, ou seja, litoral/interior, é facilmente identificado pelo forte gradiente das
temperaturas. Esse gradiente continua elevado no interior, mas vai diminuindo ligeiramente para leste, à medida que a
influência do ar marítimo diminui.

Com efeito, apesar da reduzida extensão em longitude, Portugal continental regista fortes contrastes em termos das
amplitudes térmicas e, em especial, nas temperaturas médias de verão. As diferenças nas temperaturas médias entre o
litoral e o interior podem atingir os 10 ºC, o que se traduz num valor médio muito elevado, tendo em conta a distância em
causa.

3.2. OS FATORES GEOGRÁFICOS QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO ESPACIOTEMPORAL DA


TEMPERATURA
A temperatura varia ao longo do dia e ao longo do ano. Durante o dia, a temperatura começa a subir a partir do
momento em que o Sol se ergue acima da linha do horizonte, sendo, precisamente, no momento imediata- mente
anterior a este que se regista a temperatura mínima. A radiação solar atinge o seu máximo por volta do meio -dia, altura
em que os raios solares incidem com menor obliquidade. No entanto, não é a esta hora que se regista a temperatura
máxima, que apenas ocorre 2 a 4 horas depois do máximo de radiação solar. Este facto está relacionado com a radiação
terrestre: a Terra demora algum tempo a aquecer e o máximo de emissão de calor por parte da Terra só ocorre algumas
horas depois do máximo de radiação solar [Fig. 26].

Assim, a temperatura atinge o seu valor mais elevado quando se conjuga uma radiação solar ainda elevada (mas já a
diminuir) com o máximo de emissão de calor por parte da Terra [Fig. 26].

Em Portugal, as temperaturas mínimas ocorrem nos meses de janeiro ou fevereiro e as máximas nos meses de julho
ou agosto. Nos meses das estações de transição, a temperatura vai subindo até ao verão, durante a prima - vera, e
descendo regularmente durante o outono, até ao inverno [Fig. 27].

3.2.1. UM CASO: A EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA AO LONGO DO DIA


A figura 28 mostra a progressão de uma vaga de ar frio entre as 12h00 do dia 2 e as 6h00 do dia 3 de fevereiro de
2012. As cores verdes representam valores negativos. De notar que, às 6h00 (hora aproximada da temperatura mínima),
todo o território de Portugal continental estará com temperaturas negativas. Somente uma estreita faixa litoral,
sobretudo no Sudoeste, estará, eventualmente, com temperaturas um pouco acima dos 0 ºC. Por seu turno, às 12h00
(que ainda não é a hora da máxima), no território nacional, embora sempre com temperaturas muito baixas, não se
registam temperaturas negativas, ou próximas de zero, como acontece nas montanhas mais elevadas do Norte ou nas
principais montanhas ibéricas.

O frio progride durante a noite, a partir das 18h00, e vem de nordeste para sudoeste. Pelo menos no Sul e Sudoeste
de Portugal, a vaga de frio terminará bastante mais cedo do que no resto do País. Temperaturas baixas continuarão a
registar-se no interior norte e, ainda, no interior de Espanha. Esta figura mostra bem o quanto o Sul de Portugal, e em
particular o Sudoeste, está ao abrigo das temperaturas mais baixas que afetam outras regiões do País.

Os fatores que importa conhecer, devido à sua influência na variabilidade espacial e temporal da radiação solar e da
temperatura, são: a latitude, o relevo (altitude, disposição e exposição das vertentes), as correntes marítimas e a
continentalidade (ou seja, o afastamento em relação ao mar).

Às 12h00, só nos locais mais elevados do Norte e nas principais montanhas ibéricas se registam temperaturas
negativas. No entanto, em todo o território nacional as temperaturas registadas são muito baixas, tendo em conta a hora
do dia (altura em que a radiação solar tem menor obliquidade). Às 6h00 (hora aproximada da mínima), as temperaturas
negativas contornam o desenho dos continentes, sobretudo mais visível na Europa. Devido à ação moderadora do
oceano, praticamente não se registam valores negativos sobre o mar ou junto ao litoral

3.3. COMO OS FATORES GEOGRÁFICOS INFLUENCIAM A TEMPERATURA

3.3.1. A LATITUDE E A ALTITUDE


Portugal continental está disposto em latitude, o que explica grande parte dos contrastes entre as regiões Norte e Sul.
A distribuição das temperaturas é disto exemplo, sendo no Norte que se registam as temperaturas mais baixas, não
apenas devido à maior inclinação dos raios solares, mas também devido à maior nebulosidade e precipitação. Por
exemplo, apesar da semelhança dos seus ciclos anuais, Porto e Faro apresentam uma diferença significativa entre os
valores médios de temperatura. Faro, em virtude da sua latitude mais meridional, tem sempre valores médios mais
elevados do que o Porto. Essa diferença aumenta nos meses de verão, quando, no Porto, a temperatura média não atinge
os 20 ºC [Fig. 29].

A altitude também explica, em grande medida, a distribuição das temperaturas. De facto, a temperatura diminui com
a altitude, com um gradiente médio de 0,6 ºC por cada 100 metros. Isto significa que, em serras baixas, como as de Sintra
ou da Arrábida, que rondam os 500 metros de altitude, as temperaturas são, em média, cerca de 3 ºC mais baixas do que
nas zonas envolventes ao nível do mar. O fator altitude tem mais influência na temperatura no inverno, quando se
registam diferenças que ultrapassam os 5 ºC de temperatura média. No verão, pelo contrário, as diferenças diminuem
sensivelmente [Fig. 29].
3.3.2. O RELEVO E A SUA DISPOSIÇÃO
A posição topográfica e a disposição do relevo são igualmente fatores a ter em conta quando se analisa a distribuição
da temperatura. A uma escala mais local e, mesmo, regional, podemos encontrar grandes diferenças de temperatura
entre vertentes expostas a sul e vertentes vizinhas expostas a norte. As primeiras, denominadas vertentes soalheiras, por
receberem maiores quantidades de radiação, são mais quentes do que as segundas, as vertentes umbrias, que podem ter
longos períodos do ano sem radiação solar direta. Acresce ainda que, nas vertentes soalheiras das latitudes médias, a
inclinação favorece uma incidência mais próxima da vertical dos raios solares, aquecendo mais do que uma superfície
plana.

3.3.3. AS CORRENTES MARÍTIMAS E A CONTINENTALIDADE


Em Portugal, o efeito das correntes marítimas não se faz sentir com grande intensidade, contudo, são um fator
geográfico que justifica algumas diferenças encontradas nos regimes térmicos de algumas regiões. As correntes quentes,
como a do Golfo, tendem a amenizar os invernos nas regiões mais frias (como por exemplo as do Norte da Europa) ou
provocam temperaturas médias mais elevadas ao longo de todo o ano. No caso de Portugal, a corrente fria das Canárias
arrefece as massas de ar pela base, ajudando à sua estabilização no verão (conferindo -lhe o caráter seco) e à formação
dos nevoeiros de advecção [Fig. 30].

A continentalidade é um fator determinante na distribuição da temperatura em Portugal, sobretudo no verão. O ar


marítimo que afeta o litoral tem a capacidade de amenizar a temperatura, tornando os invernos mais suaves e os verões
mais frescos. O oceano tem uma maior inércia térmica e, por isso, arrefece mais devagar até ao inverno e aquece
lentamente até ao verão. Pelo contrário, no interior, as alterações na temperatura são muito mais bruscas (comparem -se
os casos de Porto e Bragança) [Fig. 29].

4. COMO SE PODE VALORIZAR A RADIAÇÃO SOLAR?

4.1. A ENERGIA SOLAR E O SEU POTENCIAL


A radiação solar permite um aproveitamento energético de duas formas principais: absorção direta, convertendo
radiação de curto comprimento de onda em calor (por exemplo: aquecimento de água), e conversão direta da energia de
curto comprimento de onda em energia elétrica, através de células fotovoltaicas.

Portugal está dotado de excelentes condições naturais para o aproveitamento da energia solar em qualquer uma das
formas referidas. Os níveis de radiação solar são muito elevados, em especial no interior sul, considerados os maiores da
Península Ibérica e da Europa. Contudo, e apesar da sua dependência energética face ao exterior, agravada nos dias de
hoje pela escalada do preço do petróleo, esse facto não tem sido aproveitado [Fig. 32].

Entre os países da União Europeia, Portugal, especialmente o território continental, apresenta um dos mais elevados
potenciais para a utilização da energia solar, com uma capacidade de irradiação no plano horizontal situada entre os
1400-1800 kW h/m2 /ano.

Este valor aumenta consideravelmente quando os painéis solares estão ligeiramente inclinados para sul, favorecendo
uma maior incidência da radiação solar e diminuindo os efeitos da obliquidade dos raios solares provocados pela latitude
e pelo momento do ano [Fig. 31]. Assim, para que se tire o maior partido da radiação solar, será necessário dar
inclinações diferentes aos painéis, mediante a região e a época do ano. Por exemplo, no solstício de inverno, a maior
obliquidade dos raios solares obrigará a uma maior inclinação dos painéis solares.

A inclinação a sul com cerca de 20º é aquela que é normalmente utilizada em Portugal.

Há um claro contraste noroeste/sudeste, em que os valores mais elevados são registados no interior do Alentejo e
Algarve. Apesar dos valores mais baixos no Minho e Douro Litoral, estes são bastante razoáveis para a exploração de
sistemas fotovoltaicos.
Entre algumas cidades da Europa, Lisboa surge como o local com o maior valor em termos do potencial anual de
produção de energia solar em sistemas fotovoltaicos [Quadro 2].

4.2. O GRAU DE APROVEITAMENTO DE ENERGIA SOLAR EM PORTUGAL


Apesar das condições favoráveis de insolação de que dispõe, Portugal não tem apostado na produção de energia solar,
sobretudo quando comparado com a eólica [Fig. 34]. Mesmo considerando apenas as outras energias renováveis,
representa pouco face às restantes formas de produção energética. Apesar disso, a evolução recente é muito positiva,
uma vez que, a partir de 2010, a produção de energia elétrica fotovoltaica ultrapassou, pela primeira vez, a produzida por
fontes geotérmicas [Fig. 35]. Também a nível mundial, o crescimento da energia fotovoltaica é muito acentuado e
estima-se que terá uma taxa de crescimento anual de 40 %. Os painéis começam a ser instalados não só nos telhados das
casas, mas também nas fachadas de edifícios [Fig. 36].

Quanto à energia solar térmica (mais utilizada no aquecimento de água), a situação também não é muito favorável a
Portugal, quando comparado com o resto da Europa. Portugal produz menos e tem menos coletores para aquecimento
de águas domésticas por habitante do que alguns países com níveis de insolação mais baixos, como, por exemplo, Áustria,
Alemanha, Dinamarca e Suíça [Fig. 37]. Alguns destes países, em particular os nórdicos, registam insolações muito baixas
de inverno, fruto de uma noite longa nos meses mais frios do ano. Mesmo assim, têm dado à energia solar uma
importância que não seria expectável. Países mediterrânicos, como Chipre, Israel e Grécia, com condições de insolação
idênticas a Portugal, lideram estes indicadores. Portugal, apesar de uma evolução muito positiva entre 2002 e 2010, tem
vindo a registar um decréscimo muito acentuado que, segundo os especialistas, se deve ao atual contexto de crise
económica e financeira [Fig. 38].

4.2.1. OS CUSTOS DA ENERGIA


Uma das principais barreiras à utilização da energia solar é o elevado custo de investimento inicial dos sistemas
solares, estimado, para os utilizadores domésticos, em valores entre 2000 e 3000 euros. A estes custos acrescem ainda os
relacionados com a manutenção. No entanto, os custos de exploração são consideravelmente mais baixos do que os dos
sistemas convencionais, o que, segundo algumas opiniões, leva a um retorno do investimento inicial num período
compreendido entre 8 e 10 anos. Este cálculo é feito com base na forte redução de consumos de eletricidade motivada
pela utilização de sistemas solares.

Pode, então, dizer-se que a energia solar, apesar da grande quantidade e da disponibilidade de tecnologia de ponta
portuguesa, não está a ser aproveitada em todo o seu potencial. Acresce ainda o facto de, nesta matéria, Portugal já ter
assumido com a UE compromissos que, em caso de incumprimento, poderão levar ao pagamento de multas.

4.3. A IMPORTÂNCIA DA INSOLAÇÃO NA ATIVIDADE TURÍSTICA


O setor do turismo, que emprega milhares de pessoas, é de grande importância para Portugal, representando uma
grande fatia do Produto Interno Bruto (PIB) português. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), este
setor representou, em 2010, 9,2 % do PIB e foi responsável, em 2008, pela criação de cerca de 8,2 % do emprego [Fig. 39
e Quadro 3]. O posicionamento de Portugal como um destino turístico por excelência tem vindo a ser provado pelo
aumento, desde 2002, das receitas de turismo [Fig. 40].

Para o sucesso deste setor, contribuem, entre outros fatores ambientais, o clima e a insolação, associados à prática de
turismo balnear [Fig. 41]. A sua importância é tal que se pode considerar que os ambientes mais procurados em Portugal
estão relacionados com a elevada insolação. Com exceção do turismo rural, todos os outros ambientes são pouco
significativos.

A entrada de turistas internacionais em Portugal mostra a importância da insolação no território nacional [Fig. 42]. A
maior afluência regista-se no verão, época em que se concentra quase 50 % das dormidas de todo o ano. Mesmo nos
meses de inverno, a vinda de turistas é muito significativa, relacionada sobretudo com o turismo sénior e a prática de
golfe no Algarve, região que mantém valores relativamente elevados de insolação e tempera- turas amenas nesta época
do ano. As excelentes condições de insolação tornam a região atrativa para além dos meses de verão, o que faz do
Algarve a região, por excelência, do turismo de praia.

A origem dos estrangeiros que passam férias em Portugal também nos diz muito sobre as condições privilegiadas do
País em termos de insolação [Fig. 43]. Com exceção de Espanha, os países de origem dos turistas têm, na sua maioria,
níveis de radiação solar consideravelmente mais baixos, como Reino Unido, Alemanha e Países Baixos.

Registam-se, no entanto, grandes contrastes na insolação em Portugal. As praias do Algarve registam valores mais
altos de insolação do que as praias do Minho [Fig. 44]. O Litoral Norte, além de valores de insolação menos elevados,
caracteriza -se por ter um clima mais fresco e ventoso, que afasta alguns turistas. A maior pressão turística sobre o
Algarve, bem como a maior oferta em equipamentos, terá, pois, causas climáticas.

OS RECURSOS HÍDRICOS

1. QUAL É A IMPORTÂNCIA DA POSIÇÃO GEOGRÁFICO PARA O CLIMA DE PORTUGAL?

1.1. A ÁGUA COMO RECURSO


A água é o bem mais precioso do Planeta. A história da civilização humana relaciona-se com a forma como
aprendemos a lidar, manipular e aproveitar os recursos hídricos.

A água existe em grandes quantidades na Terra, mas nem toda pode ser consumida [Fig. 2]. Quase 98 % da água do
planeta é salgada. Pouco mais de 2 % é água doce cuja grande maioria, quase 70 %, está retida nos gelos polares e
glaciares, 30 % encontra-se nos aquíferos (a água subterrânea) e só uma pequena percentagem, 0,3 %, é água doce de
lagos e rios [Fig. 4].

Os recursos hídricos são de enorme importância para as atividades humanas e para os seres vivos em geral. A água é
um recurso renovável, que está sempre em movimento, e pode ser encontrada nos três estados físicos da matéria: sólido
(neves e gelos), líquido (rios, lagos e águas subterrâneas) e gasoso (vapor de água). A renovação da água doce faz-se num
ciclo que «funciona» há milhares de milhões de anos, num movimento contínuo [Fig. 3]. Por uma questão de
simplificação, assume-se que tudo começa nos oceanos, uma vez que é aí que se concentra a maior parte da água da
Terra.

1.1.1. O CICLO HIDROLÓGICO


O Sol fornece energia ao sistema climático e é o «gerador» do ciclo da água [Fig. 3], aquecendo a água dos oceanos, o
que leva à sua posterior evaporação para a atmosfera. Parte do vapor de água pode ter também origem em fenómenos
de sublimação (passagem direta do estado sólido ao gasoso) dos gelos e das neves. A água chega também à atmosfera
por evapotranspiração — a água que resulta da transpiração das plantas e dos animais e a que é evaporada do solo.

O vapor de água vai para a atmosfera, e as massas de ar, ao arrefecerem, provocam a sua condensação. A
condensação é um processo que se torna visível quando se dá a formação de nuvens. Estas são constituídas por água no
estado líquido, sob a forma de pequenas gotículas de água em suspensão. A circulação atmosférica move as nuvens ao
longo do globo e, neste movimento, as gotas de água em suspensão que formam as nuvens colidem, crescem e, quando
são já suficientemente pesadas, caem sob a forma de precipitação. A precipitação pode ser líquida (chuva) ou sólida (neve
ou granizo). A precipitação sólida vai alimentar, entre outros, as calotas de gelo e os glaciares, que podem reter água
durante milhares de anos. Todo este gelo poderá sofrer um processo de fusão em situações de alteração para climas mais
quentes ou, então, a fusão pode ser sazonal, com a chegada da primavera e o aumento das temperaturas.
A maior parte da chuva volta a cair sobre os oceanos, onde o ciclo se reinicia. Outra parte vai cair sobre os continentes
onde, por ação da gravidade, a água vai escoar à superfície (escoamento superficial). Parte desta água é drenada pelos
rios, que a transportam até ao oceano, e outra parte vai alimentar os lagos e, por processos de infiltração, as toalhas de
água subterrâneas. Alguma desta água retorna à superfície, através das nascentes, e pode incorporar-se nos rios
(escoamento de base das bacias hidrográficas). A maior parte das reservas de água doce em estado líquido está localizada
nos aquíferos.

1.2. A CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA


A atmosfera da Terra exerce uma pressão à superfície (pressão atmosférica) que é fruto da força exercida pelo ar. Essa
pressão não é sempre constante, e varia com:

• a altitude — quanto maior é a altitude, menor é a pressão, em virtude da menor espessura da atmosfera que está
por cima;

• a temperatura — quanto mais elevada é a temperatura, menor é a pressão;

• a densidade do ar (que pode também ser em função da sua temperatura) — quanto maior é a densidade, maior será
a pressão;

• o espaço e o tempo — os fatores anteriormente descritos não se observam da mesma forma, em todas as partes da
Terra, ao longo do tempo.

Num anticiclone, ou centro de altas pressões, o ar é subsidente, ou seja, descendente em espiral e divergente à
superfície [Fig. 5]. Nas depressões barométricas (centro de baixas pressões), o ar ascende em espiral, mas converge à
superfície e diverge em altitude. No primeiro caso (anticiclones), o ar torna-se mais quente e seco durante a descida,
enquanto, no segundo (depressões), o ar vai ficando mais frio e húmido. Assim, nas regiões sob a influência de
anticiclones, o céu está limpo ou com fraca nebulosidade e não há condições à ocorrência de precipitação. Pelo contrário,
nas regiões afetadas por baixas pressões, a ascendência do ar provoca o seu arrefecimento, levando ao processo de
condensação do vapor de água atmosférico e consequente formação de nuvens. A probabilidade de chuva é grande.

1.2.1. O EFEITO DE CORIOLIS


Quer os anticiclones quer as baixas pressões são situações isobáricas que podem ser identificadas pela existência de
linhas concêntricas de igual pressão (isóbaras). Essas linhas formam núcleos com pressões mais elevadas no centro, os
anticiclones, ou mais baixas, as depressões. A ascendência ou subsidência do ar em espiral está relacionada com o
denominado efeito de Coriolis [Fig. 5], que designa a influência do movimento de rotação da Terra no desvio para a
direita dos ventos no hemisfério norte, e para a esquerda no hemisfério sul. Assim, os ventos deslocam-se das altas para
as baixas pressões, mas com desvio para a direita ou para a esquerda consoante o hemisfério. Nos anticiclones, esta
deslocação faz-se no sentido dos ponteiros do relógio, e no sentido contrário nas baixas pressões. O inverso observa-se
no hemisfério sul. O que acontece nos ventos verifica-se também nas correntes oceânicas.

1.2.2. O EFEITO DE BALANÇO DE RADIAÇÃO


O balanço entre a radiação incidente (vinda do Sol) e a radiação emitida pela Terra tende a ser equivalente ao longo
do ano, ou seja, a radiação incidente é igual à radiação emitida pela Terra. No entanto, se analisarmos o balanço de
radiação em bandas latitudinais, temos um excedente nos trópicos e um défice nas regiões polares [Fig. 6].

Para compensar o excedente e o défice de radiação em diferentes regiões do Globo, os processos de transporte
atmosféricos e oceânicos tendem a distribuir a energia de forma idêntica por toda a Terra. O Sol aquece muito mais as
regiões equatoriais do que as regiões polares.

1.2.3. A CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA: MODELO TEÓRICO


Os processos de transporte atmosféricos e oceânicos criam, assim, uma gigantesca corrente de convecção,
juntamente com um mecanismo de transferência de calor, para as regiões mais frias, em que o ar aquecido ascende nas
regiões equatoriais (formando uma extensa área de baixas pressões), desloca-se até à alta troposfera, onde arrefece, e
vai subsidir nas regiões polares [Fig. 7]. Podemos, contudo, assumir um modelo intermédio, tendo em consideração o
movimento de rotação da Terra. Teremos, então, um desvio para a direita no hemisfério norte e o inverso no hemisfério
sul. A análise dos ventos e dos campos de pressão da Terra mostra que o modelo representado na figura 8 é muito mais
realista. Em vez de uma só célula de convecção (designada por célula de Hadley), o modelo considera três: a célula de
Hadley, a célula de Ferrel (latitudes médias) e a célula polar [Fig. 8].

A intensa radiação solar nas regiões equatoriais aquece o ar, o que provoca a sua ascendência, pois o ar aquecido é
mais leve. O ar, ao ascender, arrefece e condensa, o que confere às regiões equatoriais um cariz extremamente chuvoso.
Esta zona designa-se por convergência intertropical (CIT). O ar termina a sua ascensão na estratosfera (uma camada mais
estável) e move-se em direção aos polos, sofrendo um desvio para leste (direita) em virtude do efeito de Coriolis.
Aproximadamente a 30º N, o ar já arrefeceu suficientemente, e inicia uma subsidência, criando uma zona de altas
pressões, designada por zona de altas pressões subtropicais. Esta subsidência inibe a formação de nuvens e a
consequente ocorrência de precipitação, sendo esta a razão por que os principais desertos quentes se localizam nesta
faixa.

Ao chegar à superfície, o ar subsidente pode ir em direção ao equador (virando para oeste) ou em direção aos polos
(virando para leste). No primeiro caso, temos os ventos alísios caracterizados pela sua grande regularidade em termos de
velocidade e de direção. No segundo caso, no domínio da célula de Ferrel (latitudes médias), o ar tropical vindo dos
anticiclones encontra o ar frio polar vindo dos anticiclones polares. O ar quente e o ar frio não se misturam, têm
densidades diferentes e, por isso, o ar frio vindo dos polos desloca-se sob o ar quente vindo dos trópicos. Forma-se a
frente polar, sensivelmente entre as latitudes de 40° e 60°, dependendo da época do ano. O ar muito frio e muito denso
das regiões polares dá origem às altas pressões polares. Nos polos, o clima é seco e muito frio. A maior nebulosidade e,
consequentemente, os maiores valores de precipitação, distribuem-se em grandes zonas geográficas. Nas páginas 178 e
179, está representado um modelo ainda mais realista, tendo em conta situações concretas de precipitação e a
distribuição da vegetação.

1.3. AS MASSAS DE AR QUE AFETAM PORTUGAL


O desigual aquecimento dos dois hemisférios ao longo do ano faz com que a circulação geral da atmosfera se altere
significativamente, conforme a época do ano.

No verão do hemisfério norte, os raios solares incidem com menor obliquidade a norte do equador. Isto faz com que a
convergência intertropical (CIT) se situe mais a norte. A subida da CIT faz com que, por sua vez, os anticiclones
subtropicais se desloquem também mais para norte, assim como a frente polar. Desta forma, Portugal fica, nesta altura
do ano, sob a influência do anticiclone dos Açores, que é responsável pelo verão quente e seco [Fig. 9 e páginas 178 e
179].

No inverno, o hemisfério norte recebe menos radiação solar. Em virtude disso, arrefece, e os anticiclones polares
ganham intensidade e exercem a sua influência em regiões mais meridionais, «empurrando» as perturbações da frente
polar mais para sul. Ao mesmo tempo, a CIT desloca-se para sul do equador. Nesta altura do ano, a frente polar exerce a
sua influência no território português, sendo a causa dos nossos invernos frescos e chuvosos [Fig. 9 e páginas 178 e 179].

As massas de ar que chegam até ao território nacional são, assim, diferenciadas. Apresentam características mais ou
menos homogéneas de temperatura e de humidade consoante o seu local de origem (oceano, superfícies de gelo ou
continente).

1.3.1. TIPOS DE MASSAS DE AR


O território português pode ser afetado por cinco grandes tipos de massas de ar [Fig. 10]: as tropicais (marítimas e
continentais), as polares (marítimas e continentais) e as árticas. As massas de ar tropicais marítimas e polares marítimas
são as mais frequentes.

Assim, no verão, há um predomínio de massas de ar tropical marítimo, originárias do Atlântico, na área de influência
do anticiclone dos Açores. Esta massa de ar dá origem a um tipo de tempo cuja temperatura, apesar de elevada, é
agradável. Pelo contrário, as massas de ar tropical seco, oriundas do Norte de África, geram grandes ondas de calor no
continente. As temperaturas sobem normalmente acima dos 35 ºC.

No inverno, e em especial no outono, as massas de ar tropical marítimo podem também exercer a sua influência,
dando origem a um tempo mais quente e chuvoso [Fig. 11].

As massas de ar polar marítimo são mais típicas do inverno e estão na origem de um tempo fresco e chuvoso,
associado à passagem sucessiva de perturbações frontais. Igualmente comum é a influência de massas de ar polar
continental, que estão associadas a tipos de tempo muito frio e seco. São as típicas situações anticiclónicas de inverno,
com acentuado arrefecimento noturno.

As massas de ar ártico estão associadas aos recordes das temperaturas mínimas e podem originar vagas de frio com
ou sem queda de neve.

Em conclusão, pode dizer-se que o território nacional está numa encruzilhada de massas de ar, sofrendo várias
influências. A sua posição geográfica face às massas de ar confere a Portugal uma diversidade muito grande de tipos de
tempo ao longo do ano.

1.4. A FRENTE POLAR E OS TIPOS DE TEMPO ASSOCIADOS


Quando diferentes massas de ar se cruzam, não se misturam, pois têm densidades diferentes. É o que acontece, por
exemplo, com o azeite e a água. O ar quente é menos denso do que o ar frio, portanto, o ar mais frio tende a ficar sob o
ar mais quente, que ascende quando entra em contacto com o ar frio. Quando duas massas de ar se encontram, criam-se
áreas de contacto que se designam por superfícies frontais. O ponto de contacto entre a superfície frontal e o solo
designa-se por frente [Fig. 12].

As frentes podem ser:

• quentes — o ar quente avança sobre o ar frio;

• frias — o ar frio avança em cunha sob o ar quente, obrigando este último a ascender, por vezes de forma intensa.

1.4.1. FORMAÇÃO DE UMA PERTURBAÇÃO FRONTAL


O ciclo de vida de uma perturbação frontal está representado na figura 12. Uma perturbação frontal é formada por
uma depressão barométrica, à qual se associa um sistema frontal com, pelo menos, uma frente quente e uma frente fria.

O ciclo de vida pode ser descrito da seguinte forma:

• O ar tropical e o ar polar encontram-se nas latitudes médias; a superfície de contacto entre as diferentes massas de
ar forma uma frente estacionária (A);

• Com o passar do tempo, o ar tropical tem tendência a dirigir-se cada vez mais para norte, enquanto o ar polar o faz
cada vez mais para sul. A frente estacionária começa a ondular (B a E);

• A tendência é uma constante aproximação da frente fria à frente quente, pois o ar frio é mais dinâmico; quando a
frente fria alcança o ar quente, forma-se a frente oclusa (D e E).
A área de chuva está assinalada em diferentes tons de cinzento. As áreas de chuva mais intensa estão associadas a
frentes frias e oclusas. Às frentes quentes está normalmente associada chuva pouco intensa, mas constante. A frente fria,
porque é mais dinâmica, avança mais rapidamente do que a frente quente e é essa a razão pela qual se vai formar a
frente oclusa. Os estádios A e B são considerados iniciais, e a tendência é para o sistema atingir a sua fase de maturidade
(D e E) e mais tarde iniciar a sua dissipação. O vento segue paralelo às isóbaras da depressão que se forma, e é tanto mais
forte quanto mais próximas as isóbaras estiverem umas das outras. Esta proximidade traduz um maior gradiente de
pressão, o que leva a um aumento da velocidade do vento

1.4.2. O CASO PORTUGUÊS


No caso português, os sistemas frontais atingem o território continental já próximo da sua fase de maturidade, pois
vão evoluindo ao longo do Atlântico Norte. Normalmente, no Atlântico Norte, os sistemas frontais formam-se sobre a
região da Terra Nova, zona de grande ciclogénese devido à confluência de correntes oceânicas de temperaturas e
salinidades muito diferenciadas. Após a sua formação (estádios A e B), os sistemas deslocam-se de oeste para este, na
direção da Europa Ocidental, onde chegam por vezes num estádio de maturidade, ou seja, com frente oclusa já formada.
O ponto que une a frente oclusa à frente fria e à frente quente é denominado ponto triplo, sendo a zona de maior
intensidade da chuva e do vento.

1.5. ESTADOS DE TEMPO ASSOCIADOS A UMA PERTURBAÇÃO FRONTAL


Na frente quente, o ar tropical avança sobre o ar frio polar. A subida dá-se de forma mais ou menos lenta e suave e,
por isso, a chuva normalmente nunca é muito forte [Fig. 14A]. Antes da chegada da frente quente, estamos na presença
de ar frio polar, no setor do ar frio anterior. O céu começa por ficar nublado, com nuvens do tipo cirros [Fig. 15], às quais
se seguem os estratos, camada de nuvens uniforme que cobre todo o céu e que se assemelha a um nevoeiro que não
toca no solo [Fig. 16]. A algumas centenas de quilómetros da chegada da frente quente, o céu cobre-se de nimbos-
estratos [Fig. 17], nuvens cinzentas, muito escuras e espessas que dão origem a precipitação. Após a passagem da frente
quente, para de chover e a temperatura aumenta. Está-se no setor quente da perturbação frontal, onde normalmente
não chove e o céu tem algumas nuvens do tipo cúmulos, um tipo de nuvem comum, que faz lembrar algodão e que pode
assumir várias formas.

De seguida, aproxima-se a frente fria, cuja chegada se faz sentir pelo aumento da força do vento e por chuva forte. É
frequente a presença de nuvens espessas, de desenvolvimento vertical, do tipo cúmulos-nimbos [Fig. 18]. Depois da
passagem da frente fria, entra-se no ar frio posterior, e a temperatura desce consideravelmente. Podem, então, ocorrer
aguaceiros (chuvas relativamente fortes, mas esporádicas). Na frente oclusa [Figs. 13 e 19], o tempo também é bastante
instável, com ventos fortes e muita chuva. O ar quente é obrigado a ascender em virtude da junção do ar frio posterior
com o ar frio anterior. Contudo, o ponto de maior instabilidade atmosférica da perturbação frontal é conhecido como
ponto triplo, local onde se cruzam a frente fria, a frente quente e a frente oclusa.

2. COMO SE CARACTERIZA O CLIMA DE PORTUGAL?

2.1. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO


Em Portugal continental, podemos observar claramente dois grandes contrastes na distribuição da precipitação:
norte/sul e litoral/interior [Fig. 20].

A região mais chuvosa é o Noroeste, em particular as áreas mais montanhosas como a serra da Peneda-Gerês. O
interior do vale do Douro e afluentes e o interior alentejano são as regiões mais secas. De notar que no Norte do País se
passa de valores de precipitação superiores a 3000 mm para valores inferiores a 400 mm em menos de 150 km em linha
reta. Tal está relacionado com a disposição do relevo no Noroeste que, pela densidade de serras que o compõem,
constitui uma barreira de condensação. Nestes sistemas montanhosos, as vertentes ocidentais completamente expostas
às massas de ar húmidas vindas do Atlântico (barlavento) são mais chuvosas, enquanto as vertentes orientais (a
sotavento) estão mais abrigadas. O Norte é mais afetado pelas perturbações frontais, enquanto no Sul predomina a
influência dos anticiclones (fator latitude). Outra razão para a maior pluviosidade a norte está relacionada com um relevo
mais acidentado do que a sul. Nas ilhas, o principal fator explicativo da distribuição da precipitação é o relevo. De facto, é
nas altitudes mais elevadas do interior das ilhas e nas vertentes expostas aos fluxos pluviogénicos que se registam os mais
elevados valores de precipitação.

2.1.1. TIPOS DE PRECIPITAÇÃO EM PORTUGAL


Em Portugal, a precipitação pode ser de três tipos: frontal, orográfica e convectiva [Fig. 21].

• Precipitação frontal — A chuva nas superfícies frontais resulta do contacto entre massas de ar de temperatura e
densidade diferentes: massas de ar polar, vindas de norte, e massas de ar tropical, vindas de latitudes mais meridionais,
originárias dos anticiclones subtropicais. O ar quente, ao ascender sobre o ar frio, arrefece o vapor de água e condensa,
dando lugar, primeiro, à formação de nuvens e, depois, à queda de chuva.

• Precipitação orográfica — As chuvas orográficas formam-se quando uma massa de ar húmida encontra uma barreira
montanhosa e é obrigada a subir. Ao subir, a massa de ar arrefece, e o vapor de água condensa, em particular na vertente
exposta ao fluxo. Na vertente oposta, acontece o contrário, ou seja, o ar subside, aquece e fica mais seco. Este processo
ocorre em Portugal continental e é a causa do contraste litoral/interior. A precipitação orográfica está também bem
evidente nas ilhas, pois a distribuição espacial da precipitação quase decalca o relevo.

• Precipitação convectiva — O grande aquecimento a que, por vezes, o solo está sujeito, aquece o ar pela base. Este
aquecimento torna o ar instável e pode levar à sua ascendência. Ao ascender, o ar arrefece e o vapor de água condensa.
Algumas precipitações convectivas podem ser bastante fortes e, por necessitarem de calor, são mais frequentes no verão
e no outono.

2.2. SITUAÇÕES METEOROLÓGICAS TÍPICAS DE PORTUGAL


A posição geográfica de Portugal continental, entre os 36º e os 42º a norte do equador, faz com que o território seja
influenciado pelas depressões subpolares, de latitudes mais elevadas, e pelos anticiclones subtropicais, de latitudes
inferiores. Esta localização expõe Portugal a uma grande diversidade de situações meteorológicas ao longo do ano. Ainda
assim, os estados de tempo e as respetivas situações sinópticas são recorrentes no tempo. De acordo com as estações do
ano, ocorrem, em Portugal, algumas situações sinópticas mais frequentes ou mais típicas.

2.2.1. SITUAÇÕES DE INVERNO


No inverno, há dois tipos de situações sinópticas fundamentais [Fig. 22].

A primeira é uma situação depressionária, que se traduz na presença de chuvas frontais, originadas pela passagem de
sistemas frontais. O tipo de precipitação que ocorre é variado, dependendo do tipo de frente (chuva forte na frente fria e
chuviscos na frente quente). Da mesma forma, os estados de tempo são bastante diversificados, em função das
diferentes massas de ar de uma perturbação frontal, conforme o setor da perturbação (setor frio anterior, frente quente,
setor quente, frente fria e setor frio posterior).

A segunda situação, situação anticiclónica, está relacionada com «bom tempo», ou seja, com céu limpo. Ocorre
quando um anticiclone atlântico se estende sobre o continente europeu, podendo ligar-se ou não a um anticiclone
térmico que se forma na Europa de Leste e Central (devido ao grande arrefecimento do continente durante o inverno) e
que se estende até à Península Ibérica. Este anticiclone é responsável por «desviar» os sistemas frontais para outros
locais, colocando em abrigo as regiões por ele influenciadas. No entanto, faz chegar à Península Ibérica massas de ar frio e
seco de origem continental, que estão na origem de estados de tempo caracterizados por madrugadas muito frias e
tardes relativamente amenas e soalheiras. Na figura 22, estão representados dois casos concretos.

No primeiro caso, estamos perante a passagem sucessiva de sistemas frontais que originam diferentes tipos de estado
de tempo, como se viu nas páginas 184 e 185. Portugal continental está no momento sob a influência de uma frente
quente (A), mas, em breve, estará sob o setor quente e, posteriormente, sob a influência de uma frente fria. Como se
pode ver em B, a chuva já cai abundantemente e valores mais altos são esperados para as horas seguintes, aquando da
passagem da frente fria. Em C, é bem visível a cobertura nebulosa associada a este sistema frontal.

Na situação anticiclónica, na coluna da direita, temos o anticiclone térmico europeu que exerce a sua influência até
Portugal (A) e um fluxo de este ou nordeste. Temos céu limpo (B), muito sol e registo de temperaturas mínimas muito
baixas (C) com acentuado arrefecimento noturno. De notar que, em C, as temperaturas inferiores a 0 ºC se registam até
quase ao litoral, tornando quase ineficaz a ação moderadora do oceano.

2.2.2. SITUAÇÕES DE VERÃO


No verão, há a considerar também duas situações principais: uma caracterizada pela influência do anticiclone dos
Açores e outra caracterizada por vagas de calor [Fig. 23].

A situação anticiclónica mostra o anticiclone dos Açores, que se estende até à Península Ibérica (A). O céu está
normalmente limpo (B) e as temperaturas são as normais para a época, existindo um acentuado contraste litoral/interior.
O vento vem normalmente do quadrante oeste, mais precisamente de noroeste, o que gera temperaturas mais baixas no
litoral ocidental, em especial durante a noite.

O aquecimento da massa continental ibérica pode levar à formação de uma depressão térmica no interior da
Península. Esta é a situação de verão depressionária (à esquerda na figura). Nessa depressão térmica (superficial), o ar
não ascende a altitudes elevadas para que possa haver condensação, pois o ar subsidente do anticiclone é dominante (A).
Todavia, à superfície, não deixa de existir uma circulação ciclónica que se junta, no litoral de Portugal, à circulação do
anticiclone dos Açores.

A componente resultante destas circulações é um vento forte, vindo de norte, que se faz sentir em particular no litoral
ocidental, com especial incidência durante a tarde, quando a diferença de aquecimento é maior entre a Península Ibérica
e o oceano. Ao mesmo tempo que as regiões do litoral são refrescadas pela nortada, no interior, onde esta não se faz
sentir, as temperaturas são mais elevadas. Veja-se como é forte o gradiente das temperaturas entre o litoral e o interior
neste tipo de situação (C).

Por vezes, a depressão térmica do Norte de África liga-se à depressão térmica ibérica, ocorrendo então a invasão de ar
sariano (tropical continental) que traz para Portugal ar muito quente e seco. Dependendo da sua duração, estas situações
podem originar ondas de calor. É nestas alturas que, durante dias seguidos, a temperatura do ar pode ultrapassar os 35
ºC (ou mesmo os 40 ºC) no interior do Alentejo e no vale do Douro.

Quando ocorrem invasões de ar frio em altitude, a depressão térmica evolui para uma depressão dinâmica e o ar
quente pode ascender livremente para níveis mais elevados da troposfera, resultando em chuvas no verão. Isto origina as
conhecidas trovoadas típicas de verão. Tal manifestação figura em B, onde se podem observar já nuvens de
desenvolvimento vertical (cúmulos-nimbos) no interior sudeste da Península Ibérica.

Estas nuvens são responsáveis por fortes trovoadas, por vezes acompanhadas por episódios de queda de granizo, de
efeitos devastadores para a agricultura.

Por enquanto, Portugal continental não está ainda sob a influência destas nuvens, mas já ocorreram episódios destes
no interior, onde a acumulação de calor é muito maior do que no litoral, que é refrescado pela forte nortada.

De uma forma geral, a situação anticiclónica representada do lado direito da figura 23, se tiver alguma persistência no
tempo, evolui para a situação depressionária representada no lado esquerdo. A manutenção de uma influência
anticiclónica ao longo de vários dias leva ao sobreaquecimento da massa continental da Península Ibérica, que gera,
então, movimentos ascendentes de ar sobreaquecido, movimentos esses que estão na origem da formação da depressão
térmica.
2.3. ALGUMAS SITUAÇÕES SINÓPTICAS DAS ESTAÇÕES DE TRANSIÇÃO
Nas estações intermédias, podem ocorrer situações muito variadas, ou seja, as perturbações frontais poderão descer
às latitudes de Portugal durante o outono, ou ainda não terem migrado (primavera) para regiões mais setentrionais.

2.3.1. PERTURBAÇÕES FRONTAIS


A figura 24 mostra uma situação comum no outono, que se traduz em fortes chuvas e na passagem de uma superfície
frontal fria. É, pois, uma situação de outono que se assemelha a uma situação típica de inverno. No caso aqui
representado, a frente fria que atravessa o território português tem grande atividade, a julgar não só pela proximidade
das isóbaras, mas também pelas imagens de radar, onde se verifica o registo de elevados valores de precipitação. De
notar que as áreas de chuva estão bem marcadas no espaço e decalcam na perfeição o «desenho» da frente fria. A frente
fria atravessa o território nacional sensivelmente de oeste para este. Contudo, os maiores valores de precipitação são
registados nas regiões de Lisboa e Setúbal.

2.3.2. «GOTA FRIA»


A segunda situação é também típica das estações de transição, neste caso do início da primavera [Fig. 25]. Trata-se de
uma situação designada por «gota fria» e que consiste numa situação de bloqueio de uma pequena depressão sem
frentes. É uma situação de bloqueio porque a depressão se mantém estacionária na mesma região, pelo menos, três dias
consecutivos. São depressões pequenas, mas com grande atividade, e que provocam chuvas intensas concentradas no
espaço. Normalmente, afetam sobretudo as regiões mais meridionais de Portugal continental. A imagem de satélite
mostra sobre o Sul de Portugal, em particular sobre a região de Lisboa, nuvens de desenvolvimento vertical que geram
grandes quantitativos de precipitação (por vezes concentrada no tempo e no espaço), e que podem desencadear cheias
rápidas. É um tipo de situação sinóptica menos frequente no inverno.

2.3.3. «VERÃO DE SÃO MARTINHO»


No outono também podem ocorrer situações de muito bom tempo, ao contrário da situação de «gota fria». Situações
como o verão de São Martinho têm uma tradução climática e meteorológica, ou seja, a ocorrência de dias de sol durante
o outono com temperaturas relativamente elevadas (sobretudo durante a tarde) é um fenómeno que tem elevada
frequência e tendência a repetir-se ao longo dos anos. É, pois, normal que, em novembro, um anticiclone se instale na
Europa Ocidental e se estenda em crista até à Península Ibérica. É precisamente esta situação a retratada na figura 26. A
instalação destes anticiclones nesta altura do ano é um facto perfeitamente estudado e considerado normal. Pode
originar temperaturas amenas e situações de alguma secura outonal. A imagem de satélite ilustra a situação de céu
praticamente limpo sobre a Península Ibérica.

2.4. ALGUMAS SITUAÇÕES SINÓPTICAS ASSOCIADAS A FENÓMENOS EXTREMOS


Outras situações sinópticas com interesse são as que desencadeiam fenómenos extremos. As situações escolhidas
para analisar dizem respeito a uma vaga de calor, a uma situação de cheia e, por fim, uma situação de queda de neve
ainda no decorrer do outono.

2.4.1. VAGAS DE CALOR


Os registos mostram que se trata da maior vaga de calor de que há referência. Foi registado um valor recorde de
temperatura máxima do ar de 47,4 ºC, na Amareleja (concelho de Moura), no dia 1 de agosto de 2003. Nesse mesmo dia,
e no mesmo local, foi batido o recorde de temperatura média, que chegou aos 37,1 ºC. Foi neste verão que se registou
um grande número de incêndios, nos quais arderam centenas de hectares de florestas. Foi uma das piores épocas de
incêndios florestais no País. A situação sinóptica resume-se à formação da depressão térmica no interior da Península
Ibérica que acaba por se ligar à depressão sariana [Figs. 27A e B]. Assim, há um fluxo intenso de ar sariano para a
Península e interior de Portugal. O litoral ocidental está a ser afetado por uma nortada que faz baixar consideravelmente
as temperaturas, originando um forte gradiente litoral/interior [Figs. 27B e C]. A figura 27B mostra bem a chegada de ar
quente do Norte de África para o interior da Península, mas estando o litoral ocidental algo abrigado da chegada de ar
tropical continental, muito quente e seco, devido à nortada que se faz sentir.

2.4.2. CHEIAS
Na figura 28 está representada uma situação de cheia, resultado da passagem de uma frente oclusa com grande
instabilidade sobre Portugal, em particular o Sul. A Península Ibérica está sob a influência de uma massa de ar tropical
marítima, muito instável e com elevada humidade. O fluxo de sul que afeta Portugal provoca uma queda de precipitação
particularmente elevada no Algarve e região de Lisboa, onde se registaram algumas cheias. A imagem de satélite mostra
sobre o Sul de Portugal a existência de nuvens de desenvolvimento vertical (cúmulos-nimbos), responsáveis pela forte
queda de chuva, concentrada no tempo e no espaço.

2.4.3. QUEDA DE NEVE DURANTE O OUTONO


A queda de neve, a 29 de novembro de 2009, foi particularmente intensa no Norte do País e ocorreu a cotas acima
dos 400/500 metros de altitude [Fig. 29]. Houve mesmo áreas mais elevadas do Sul do País onde se registou queda de
neve, como, por exemplo, no distrito de Portalegre. A situação sinóptica retrata a passagem de uma frente fria, com um
fluxo de norte muito rápido. Essa frente fria está bem visível na imagem de satélite. Após a frente fria, é evidente a
presença de uma massa de ar pós-frontal (setor frio posterior) com cúmulos que ainda geraram queda de neve mais
esporádica e alguns aguaceiros mais a sul. As temperaturas desceram abaixo dos zero graus, em particular no interior
norte e centro, onde caíram as maiores quantidades de neve.

2.5. O CLIMA DE PORTUGAL CONTINENTAL E INSULAR


Analisadas as situações sinópticas mais frequentes em Portugal, chega agora a altura de fazer a síntese do clima em
Portugal. Portugal continental tem um clima de tipo temperado mediterrânico, caracterizado por um verão quente e seco
e por um inverno fresco e húmido. Há, pois, grandes contrastes no clima ao longo do ano, que geram grandes contrastes
nas paisagens [Fig. 30].

2.5.1. VERÃO
A natureza quente e seca do verão decorre da influência dos anticiclones subtropicais (neste caso, o anticiclone dos
Açores) que atuam especialmente durante o verão no território do continente e ilhas. Nesta altura, há um predomínio
claro das massas de ar tropicais (marítimas e continentais), que conferem ao verão português temperaturas e insolação
elevadas, e quase ausência de precipitação. As temperaturas elevadas, mesmo durante a noite, são comuns em Portugal.
A chuva está quase ausente e a insolação atinge valores muito elevados.

2.5.2. INVERNO
Já no inverno, a descida em latitude das perturbações da frente polar (que acompanham o arrefecimento
generalizado que se regista no hemisfério norte) dão a esta estação do ano uma característica bastante mais fresca,
húmida e chuvosa. Em algumas áreas mais elevadas do interior norte, o inverno pode mesmo ser considerado frio. É
muito frequente a queda de neve nas terras altas do Norte Interior. No Sul, a probabilidade de queda de neve é quase
nula. São necessárias condições verdadeiramente excecionais (como a retratada na figura 29) para que a queda de neve
ocorra em regiões mais meridionais de Portugal continental.

2.5.3. PRIMAVERA
As estações de transição assumem algumas das características da estação anterior e da seguinte. No entanto, a
primavera marca um aquecimento progressivo e, ao mesmo tempo, uma queda acentuada nos valores de precipitação.
Todavia, há uma certa tendência para, apesar do aumento da temperatura durante a primavera, os golpes de frio
poderem ser comuns, sendo possíveis algumas geadas tardias de efeitos devastadores na agricultura portuguesa. É o
inverno que, por vezes, nos visita durante a estação primaveril.
2.5.4. OUTONO
No outono, apesar de haver um forte aumento nos valores de precipitação, podem registar-se ainda, em alguns anos,
valores de temperatura elevados para a época até meados de novembro. Neste caso, prolonga-se o verão, em particular
no Sul do País. Os outonos podem ser muito contrastados de ano para ano. Podem ser muito chuvosos e tempestuosos,
mas também podem ser relativamente frios e secos, com insolação relativamente elevada.

2.5.5. O CLIMA NAS ILHAS


O clima dos Açores e, em menor grau, o clima da Madeira são, claramente, climas temperados marítimos. A vertente
sul da ilha da Madeira, por estar abrigada das massas de ar mais húmidas vindas de norte, é bastante mais seca, tendo a
região do Funchal um clima tipicamente mediterrânico.

2.5.6. SITUAÇÕES DE SECA


Um aspeto interessante do clima em Portugal é que, geralmente, os invernos muito frios correspondem a invernos
secos. É o resultado da ligação entre o anticiclone atlântico e o anticiclone térmico europeu, gerando uma grande faixa
anticiclónica com vento de quadrante leste sobre a Europa. As massas de ar que afetam Portugal são as polares
continentais, muito frias e secas. Foi o caso, por exemplo, do inverno de 2011/2012. Por seu lado, os invernos mais
quentes são, regra geral, mais chuvosos, em virtude da influência das massas de ar marítimas (polares ou tropicais). São
estes os invernos em que mais se faz sentir a influência das perturbações da frente polar. O ar vindo do oceano é sempre
mais quente do que o ar vindo do continente durante o inverno.

A situação de seca em Portugal define-se, assim, pela ausência de chuva durante o inverno, pois a que normalmente
cai nas estações de transição não é suficiente para compensar a sua falta no inverno, em particular a chuva primaveril.
Por isso, se não chover de novembro a março (o período mais chuvoso do ano), a probabilidade de se entrar num período
de seca é muito elevada. Mesmo as primaveras mais chuvosas (como foi o caso da de 2012) não são suficientes para
compensar um inverno extraordinariamente seco.

2.5.7. A IRREGULARIDADE TÍPICA DO CLIMA MEDITERRÂNICO


É uma generalização muito grosseira dizer-se que os invernos são sempre frescos e húmidos. Em geral, sim, mas a
probabilidade de invernos quase secos, ou meses de inverno sem qualquer registo de chuva, é muito elevada, pois está
dependente do jogo entre as situações sinópticas típicas de inverno (anticiclónicas, com frio e secura, e depressionárias,
normalmente mais quentes e chuvosas) [Fig. 31].

Já a característica quente e seca do verão é muito mais marcada, pois é preponderante a influência dos anticiclones
subtropicais. No entanto, há sempre a possibilidade de ocorrer queda de chuva frontal (em particular no Norte Litoral, de
posição mais atlântica e setentrional) e, também, de episódios de chuva muito forte, concentrada no tempo e no espaço,
como resultado da convecção gerada pelo aquecimento elevado do substrato peninsular (chuvas convectivas).

No entanto, há regiões onde se observa uma maior influência atlântica (Noroeste e Cordilheira Central) e outras onde
há uma clara influência continental (interior norte e sul). Contudo, a irregularidade típica do clima mediterrânico pode
levar à ocorrência de invernos muito secos, aos quais se podem suceder invernos muito chuvosos. Da mesma forma, a
secura e o calor de verão podem prolongar-se pelo outono. A irregularidade faz-se sentir em particular na precipitação e
não tanto nas temperaturas, pois, ao contrário da precipitação, é sempre previsível uma descida da temperatura no
inverno e uma subida da mesma no verão.

Quanto à precipitação, não se pode afirmar convictamente que no inverno irá chover. O risco de seca é, então, uma
realidade com a qual Portugal tem de se confrontar. No período seco estival, é normal a não ocorrência de precipitação.
No outono/inverno, quando os valores de precipitação mensal se situam bastante abaixo da média, ou seja, quando não
chove como seria de esperar, ocorre a seca invernal, com grandes prejuízos nos ecossistemas e em vários setores
económicos.
2.6. A DIVERSIDADE CLIMÁTICA EM PORTUGAL DEFINIDA PELOS GRÁFICOS TERMOPLUVIOMÉTRICOS
Os meses secos e húmidos podem ser identificados pela análise de gráficos termopluviométricos. Os meses secos são
aqueles cujas barras correspondentes à quantidade de precipitação ficam abaixo da linha da temperatura, desde que se
respeite a relação P(mm) = 2T(ºC). Como se pode observar na figura 32, o número de meses secos aumenta em direção a
sul e para o interior. São registados somente dois meses secos no Noroeste e cinco meses secos no extremo sul do País.

Sendo Portugal um território relativamente pequeno, é, contudo, diversificado em termos climáticos. De uma forma
geral, pode dizer-se que todo o País tem um clima temperado mediterrânico, mas há algumas cambiantes regionais que
importa salientar. Por um lado, os quantitativos de precipitação são muito contrastados: no Norte Litoral e nas terras
altas, os valores são relativamente elevados, enquanto no Interior e no Sul os valores são já relativamente baixos. Por seu
turno, há também fortes contrastes em termos da duração e intensidade da estação seca. Assim, esta é bastante reduzida
(cerca de dois a três meses) no Norte Litoral, sul da ilha de São Miguel e serra da Estrela. Ao contrário, é bastante mais
longa (quatro a seis meses) no Sul do continente (em particular o Interior Sul) e na vertente sul da ilha da Madeira.
Agravando o que se passa na estação seca mais longa, está ainda o facto de, nestas regiões, os quantitativos de
precipitação serem relativamente baixos mesmo na estação húmida.

O Norte Litoral regista influências mais oceânicas, que se traduzem numa estação seca estival muito curta e numa
amplitude térmica anual bem menos acentuada. Estão nestes casos as regiões do Norte e Centro Litoral (Minho, Douro
Litoral e Beira Litoral), regiões nas quais, em termos de vegetação natural, predominam as árvores de folha caduca.

O Norte e o Centro interiores denotam ainda influências continentais, que se traduzem por uma amplitude térmica
anual relativamente elevada. Nas terras altas do interior é comum a queda de neve durante os meses de inverno;
contudo, há uma estação seca estival relativamente longa (entre três e quatro meses), facto que coloca claramente
aquela área geográfica nas regiões de clima temperado mediterrânico.

No Sul (da margem sul do Tejo ao Algarve), o clima é tipicamente mediterrânico, caracterizado por uma estação seca
estival relativamente longa e um inverno mais fresco e húmido, mas com valores de precipitação francamente mais
reduzidos do que no Norte do País. No interior do Norte e do Centro, em particular nos vales dos principais rios, o clima
assume características que só encontramos no Alentejo e Algarve, ou seja, é tipicamente mediterrânico. É o caso do
interior de Trás-os-Montes, onde até mesmo as culturas agrícolas são comuns às do Sul do País. É frequente encontrar a
vinha, a oliveira e a amendoeira. Estas culturas agrícolas são consideradas bons marcadores do clima mediterrânico.

Nos Açores, a estação seca ou é inexistente ou é muito curta. Ao mesmo tempo, os valores de precipitação anual são
elevados e a amplitude térmica é muito baixa, situação típica de um clima temperado marítimo.

Na ilha da Madeira, há um grande contraste entre a vertente sul (onde se localiza a cidade do Funchal) e a vertente
norte. Na primeira, o clima é claramente mediterrânico, com uma estação seca bem marcada e relativamente longa
(aproximadamente cinco meses), enquanto na segunda, muito mais chuvosa, o clima tem claramente características
marítimas.

3. QUAIS AS DISPONIBILIDADES HÍDRICAS DE PORTUGAL?

3.1. A REDE HIDROGRÁFICA E O ESCOAMENTO FLUVIAL 

3.1.1. O ESCOAMENTO FLUVIAL


A quantidade de água que circula na rede hidrográfica de Portugal apresenta profundos contrastes, quer no espaço
quer no tempo. O escoamento fluvial [Fig. 33B] está dependente de vários fatores, nomeadamente, a quantidade da
precipitação [Fig. 33A], o coberto vegetal, o solo e o subsolo, o relevo e, por fim, a ação humana.
O escoamento fluvial organiza-se hierarquicamente em bacias hidrográficas. Estas últimas são áreas drenadas por uma
rede de cursos de água, cujas águas confluem num rio principal. As águas são transportadas para esse rio por toda uma
rede de afluentes.

Em Portugal, existem bacias hidrográficas nacionais (Cávado, Ave, Vouga, Mondego, Lis, Sado, Mira, Arade) e
internacionais (Minho, Douro, Tejo e Guadiana), o que levanta grandes desafios à gestão da água entre os dois países
ibéricos. De facto, 45 % do escoamento vem de Espanha; Portugal está, contudo, numa situação que, no geral, se pode
considerar mais favorável relativamente a Espanha.

Pela sua posição atlântica, o nosso país é, de uma forma geral, mais chuvoso, pelo que cada unidade de área do
território (km2) produz mais água do que a congénere espanhola. A utilização dos recursos hídricos em Portugal é
também mais baixa do que em Espanha (16 % contra 32 %), o que coloca Portugal numa situação de stress hídrico
moderado e a Espanha num nível médio-elevado.

O escoamento é maior nas bacias do Noroeste, ou seja, nas regiões com maiores valores de precipitação, mas
também onde o relevo é mais acidentado, diminuindo, à semelhança do que acontece com a precipitação, do litoral para
o interior e, sobretudo, de norte para sul.

3.1.2. AS ESPECIFICIDADES DOS AÇORES


A rede hidrográfica [Fig. 34] é substancialmente diferente entre o continente e as ilhas. Nos Açores, o relevo vulcânico
condiciona o escoamento num padrão radial (centrífugo), no qual a água escoa do centro para a periferia nas vertentes
exteriores dos cones vulcânicos. Nas vertentes internas das caldeiras, o escoamento é centrípeto (da periferia para o
centro, originando lagoas).

Alguns dos rios nascem em lagoas, que ocupam, na sua maior parte, crateras vulcânicas que se encheram
posteriormente de água das chuvas. São preciosos depósitos de água doce em regiões rodeadas de água salgada. São
exemplos, na ilha de São Miguel, a lagoa das Sete Cidades, a lagoa das Furnas e a lagoa do Fogo. Trata-se de lagoas
relativamente extensas e com grande capacidade de conter água doce.

Os elevados valores de precipitação que se registam nas ilhas enchem rapidamente de água doce estas caldeiras
vulcânicas, que se tornam assim uma reserva fundamental, dado que o escoamento superficial é menos importante do
que em regiões continentais.

3.2. OS PERFIS LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS DOS RIOS


Os rios apresentam, geralmente, um declive maior a montante (junto à nascente ou cabeceira) do que a jusante (mais
próximo da foz). A representação gráfica do declive do leito do rio da nascente à foz designa-se por perfil longitudinal do
rio [Fig. 38]. Os rios modelam o seu perfil longitudinal através da erosão vertical exercida no fundo do leito. Quanto maior
for o declive, maior será a velocidade de escoamento e, potencialmente, maior será a capacidade erosiva. Essa
capacidade erosiva depende ainda da carga sólida transportada.

A maior capacidade erosiva vai desgastando o leito do rio, arrancando materiais de diferentes tamanhos que serão
transportados para jusante. A evolução do perfil longitudinal de um rio depende do seu nível de base (local onde se
encontra a foz), que pode ser o mar ou outro rio. Se o nível de base descer, o rio entalha o seu leito. Se o nível de base
subir, o rio tem tendência a assorear o seu leito. Este processo desenvolve-se de jusante para montante, levando ao perfil
de equilíbrio.

Outro aspeto a considerar é o perfil transversal [Fig. 37], que nos dá a forma do vale em determinadas secções do rio.
O troço a montante de um vale mais próximo da nascente tem, igualmente, uma forma em «V», é estreito e as vertentes
são declivosas. À medida que o escoamento vai aumentando, a forma do vale alarga-se, continuando a existir vertentes, e
o vale assume uma forma em «V» aberto. Junto à foz, o vale alarga-se consideravelmente e tem um fundo plano. Aqui
poderão mesmo existir fenómenos de meandrização [Figs. 35 e 36].
A partir da forma dos vales podemos inferir também a sua idade e o seu tempo de evolução [Fig. 39]. A fase de
juventude de um curso de água vê-se pela forma abrupta das vertentes do seu vale e do declive do leito. Até à fase de
senilidade, as vertentes vão-se rebaixando até se chegar a uma fase de peneplanície, em que o rio escoa numa área mais
ou menos plana. No entanto, a situação descrita é uma generalização muito grande da realidade e foi posta em causa
devido às provas acumuladas das alterações climáticas e da neotectónica que interrompem este ciclo.

3.3. FASES DO CICLO DE EROSÃO DOS RIOS


A montante, no chamado curso superior do rio, a erosão vertical domina e há um grande aprofundamento do vale,
devido à sua maior capacidade erosiva, em virtude da maior velocidade de escoamento provocada pelos declives mais
elevados [Figs. 40 e 41]. Os rios escoam por regiões montanhosas de elevada altitude Os vales são, normalmente, em «V»
fechado, com vertentes abruptas. É a fase de juventude do rio.

No troço médio dos rios [Figs. 40 e 41] domina o transporte dos materiais. Os mais pesados vão sendo depositados à
medida que o declive se vai tornando menos acentuado. Os rios escoam em regiões muito menos acidentadas e o maior
desgaste transfere-se do leito para as margens do rio. A erosão vertical dá agora lugar a uma mais lateral, onde há um
maior desgaste das margens. Predomina, pois, o desgaste lateral e o transporte de materiais. Os vales têm uma forma de
«V» aberto, com vertentes ainda de forte declive, mas muito mais suaves do que a montante. É a fase de maturidade do
rio.

A jusante, no curso inferior, o já fraco declive das áreas mais planas e de baixa altitude conduz a um predomínio da
deposição dos materiais mais leves, pois a velocidade de escoamento da água é muito mais reduzida [Figs. 40 e 41]. Nesta
secção dos rios, predominam a deposição e sedimentação dos materiais mais leves e que dão origem a planícies aluviais
ou sedimentares, como é o caso das do rio Tejo, Mondego ou Vouga. Aqui, os fundos de vale são largos e de baixa
altitude, e o traçado dos rios é sinuoso devido à quase inexistência de declive. É aqui que pode surgir alguma
meandrização do curso de água. Estamos na fase de senilidade do rio.

3.3.1. CONTRASTES REGIONAIS


Em Portugal, há grandes contrastes entre o Norte e o Sul em termos do perfil longitudinal dos rios. Assim, a norte do
rio Tejo, o relevo mais acidentado origina um predomínio de vales encaixados em forma de «V» fechado e «V» aberto. A
sul do Tejo, o relevo menos acidentado dá origem a perfis de curso de água mais próximos do equilíbrio e a vales de
fundo plano. Estes aspetos estão todos bem patentes no rio Douro, nomeadamente a questão da forma do perfil
transversal e a ausência de um perfil longitudinal de equilíbrio [Fig. 42]. Tal deve-se ao enquadramento tectónico do rio,
que originou o levantamento tectónico e posterior encaixe do rio.

3.4. OS REGIMES DOS CURSOS DE ÁGUA


A maior parte do território português tem um clima mediterrânico, caracterizado por uma forte irregularidade
interanual e intermensal de precipitação. Essa irregularidade reflete-se necessariamente no regime dos rios, isto é, na
variação mensal da quantidade de água que passa numa determinada secção de um rio por unidade de tempo (caudal).
Por norma, o caudal de um curso de água é medido em m3 /s (metros cúbicos por segundo). A variação mensal dos
caudais de um rio define, assim, o seu regime.

O regime de um rio pode ser representado graficamente e, dependendo da forma do gráfico, que mostra a variação
do caudal médio mensal ao longo do ano, pode ser classificado.

Há rios que escoam durante todo o ano e que se designam por perenes. Outros, contudo, são classificados de
intermitentes, quando só há escoamento na estação húmida, ou efémeros, nos casos em que há escoamento apenas
quando existem episódios chuvosos suficientemente intensos.

3.4.1. O REGIME DOS RIOS PORTUGUESES


Em Portugal, o regime dos rios segue, normalmente, a variação da precipitação, embora esteja algo desfasado desta
última. Por se ter atravessado um período estival quente e seco durante meses, em que a precipitação foi inferior à
evapotranspiração, as primeiras chuvas servem, em primeiro lugar, para repor as reservas hídricas do solo. Com efeito, o
máximo de caudal ocorre, em média, um ou dois meses após o máximo de precipitação, tal como pode ser observado na
figura 43, para o caso do escoamento em Moinho do Bravo. Por essa razão, também podemos ter escoamento durante os
primeiros meses da estação seca, devido à água acumulada na bacia hidrográfica durante a estação mais chuvosa. O
problema complica-se em anos de seca, quando não chove o suficiente na estação húmida — facto de elevada
probabilidade em Portugal.

O regime dos principais rios portugueses é normalmente perene, mas pode haver fortes variações espaciotemporais
no mesmo rio em função do clima (sobretudo da quantidade de chuva que se regista) [Figs. 44 e 46], do relevo (altitude e
declive), da maior ou menor permeabilidade do solo e subsolo, da cobertura vegetal, e da ação antrópica (construção de
barragens, com o efeito de regularizar os regimes dos rios) [Fig. 45].

3.4.2. A IRREGULARIDADE DOS CAUDAIS


No entanto, os cursos de água portugueses têm um regime irregular e, em certos casos, pode mesmo ser considerado
torrencial, em especial no Sul do País, onde é mais marcada a irregularidade do clima mediterrânico.

No inverno, os caudais são maiores devido à maior precipitação e à menor temperatura (diminui a evaporação).

No verão, os caudais são muito menores devido aos menores quantitativos pluviométricos e às temperaturas mais
elevadas, que favorecem a evaporação [Fig. 44].

Devido a precipitações mais baixas, a um relevo menos acidentado e a uma menor cobertura vegetal, os caudais no
Sul do País são muito menores do que no Norte. No Sul, pode mesmo registar-se, em alguns rios, ausência de caudal.

3.5. AS LAGOAS E AS ALBUFEIRAS


Na figura 47 está representada a localização das albufeiras e de algumas lagoas em crateras de origem vulcânica nas
ilhas do arquipélago dos Açores. Quer as lagoas quer as albufeiras são importantes reservatórios de água doce.

As lagoas podem ter diferentes origens, mas aquelas que existem em Portugal são normalmente pequenas e de pouca
profundidade, como a lagoa Comprida, na serra da Estrela [Fig. 48], e as lagoas em cratera ou em caldeiras vulcânicas, no
arquipélago dos Açores [Fig. 49].

As albufeiras (lagos que se formam pelo enchimento a montante de uma barragem) constituem os mais importantes
reservatórios de água doce superficial em Portugal. A par disso, têm a função de poder regularizar os regimes dos rios,
controlando cheias e estiagens e permitindo a existência de um caudal ecológico, e de produzir eletricidade e reservar
água para rega e abastecimento às populações.

3.6. AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


A água da chuva pode infiltrar-se no solo e subsolo devido à gravidade. Durante a infiltração, a água pode encontrar
uma camada de rocha impermeável, começando a acumular-se em profundidade. Às formações geológicas que permitem
a circulação e o armazenamento de água nos seus espaços vazios, possibilitando a sua exploração economicamente
rendível, dá-se o nome de aquíferos. A água pode acumular-se em formações geológicas que assentam sobre formações
impermeáveis, podendo ser extraída para consumo humano. Em Portugal, os aquíferos são essencialmente de três tipos:
porosos, cársicos e fissurados [Fig. 50A]. Os aquíferos constituem importantes reservas de água doce e, por isso, têm um
grande valor económico, pois asseguram disponibilidade de água doce a um número muito elevado de pessoas.

3.6.1. TIPOS DE AQUÍFEROS


Nos aquíferos porosos, a água circula através de espaços vazios, ou poros, ou seja, entre os grãos que formam as
rochas, em particular as rochas detríticas (balastros, areias, rochas desagregadas, conglomerados pouco consolidados,
entre outras).

Nos aquíferos cársicos, a água circula em cavidades formadas pela dissolução química do calcário. Essa dissolução
começa quando a água se infiltra em pequenas fendas e falhas que, com o tempo, alargam devido à continuação da
dissolução química do calcário. Essa dissolução é favorecida quando a água tem um caráter mais ácido, o que pode
ocorrer em áreas de vegetação mais acidificante, como os pinhais.

Nos aquíferos fissurais, a água circula em fendas, falhas ou outro tipo de descontinuidades. Estes aquíferos são típicos
de rochas ígneas e metamórficas. A capacidade de um aquífero armazenar água é função, portanto, da sua porosidade,
mas também da permeabilidade. Assim, podem distinguir-se dois grandes tipos de aquíferos: os aquíferos livres e os
aquíferos confinados [Fig. 50B].

Os aquíferos livres constituem-se como uma formação geológica permeável e parcialmente saturada de água. São
limitados na sua base por uma camada de rocha impermeável (argilas, por exemplo) e encontram-se a uma pressão
semelhante à pressão atmosférica.

Os aquíferos confinados ou cativos são uma formação geológica permeável, mas completamente saturada de água.
Como o próprio nome indica, são limitados no topo e na base por rochas impermeáveis. A sua pressão é já superior à
pressão atmosférica.

3.6.2. A DIVERSIDADE REGIONAL: O CASO DA ÁREA DE LEIRIA-FÁTIMA


As regiões calcárias da área de Leiria-Fátima são extremamente ricas em águas subterrâneas — toalhas cársicas.
Existem mesmo rios subterrâneos, característicos destas regiões, que, quando afloram à superfície, constituem nascentes
com caudais importantes, que se designam por exsurgências.

Por vezes, os rios, ao chegarem a uma região calcária, desaparecem à superfície, fazem parte do seu percurso
subterraneamente, aparecem novamente à superfície uns quilómetros mais à frente, nas denominadas ressurgências [Fig.
51]. Este fenómeno pode ser observado em alguns sítios de Portugal, nomeadamente na transição entre a orla
mesocenozoica ocidental e a bacia do Tejo.

3.6.3. A LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS AQUÍFEROS


As figuras 52 e 53 mostram que o Maciço Antigo, unidade morfoestrutural que predomina em Portugal continental, é
pobre em aquíferos. Já a bacia do Tejo-Sado é rica em reservas de água subterrânea, com cerca de 72 % do total do País.
As orlas ocidental e meridional têm uma grande variedade, possuindo cerca de 21 % das reservas extraíveis.

As regiões do Maciço Antigo [Fig. 54B] são constituídas por rochas pouco permeáveis: xistos e granitos. A água só
consegue infiltrar-se onde as rochas estão fissuradas (fraturas, falhas e outras). A bacia do Tejo-Sado possui o maior
sistema de aquíferos da Península Ibérica. É uma área especialmente rica em reservas de água subterrânea porque nela
convergem águas das regiões envolventes, mais elevadas, e porque possui vários aquíferos muito porosos [Fig. 54B].

As regiões das orlas são também ricas e bastante exploradas. Na orla meridional, no Algarve, existem situações de
sobre-exploração dos aquíferos, em virtude das fracas precipitações e da pressão turística que se exerce nesta região,
particularmente durante o verão [Fig. 54C]. Na orla ocidental, os sistemas aquíferos são importantes e de elevada
produtividade. São regiões onde há grandes extensões de rocha calcária, por vezes muito carsificada, o que facilita a
infiltração da água [Fig. 54A].

4. COMO FAZER UMA BOA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS?

4.1. OS RISCOS ATUAIS PARA AS DISPONIBILIDADES HÍDRICAS


A água doce salubre é um recurso cada vez mais escasso. Uma das grandes questões que se levantam em relação à
água é o seu desperdício. A outra é o impacto das atividades humanas sobre a água potável.

A água doce representa menos de 3 % de toda a água do Planeta. Esta situação é agravada pela extrema necessidade
que o ser humano tem da água e pelo facto de, embora o volume de água se mantenha constante, as atividades humanas
(de forma direta ou indireta) serem geradoras de poluição, tornando não consumível grandes quantidades de água doce.

4.1.1. A AÇÃO INDIRETA DO SER HUMANO


O Homem pode atuar de forma indireta na destruição das reservas de água doce, alterando o clima de forma global, o
que tem como consequências principais a fusão das calotas polares e a subida do nível do mar, que irá provocar a
salinização das águas subterrâneas próximas do litoral. Este aspeto é particularmente grave porque nas regiões litorais a
água doce provém do subsolo, pois a de superfície é demasiado salgada, mesmo na foz de grandes rios. De notar ainda
que a maior parte da população mundial vive em regiões litorais.

À medida que o clima se vai alterando, a probabilidade de haver efeitos dramáticos na disponibilidade de reservas de
água doce é muito elevada. Esses efeitos podem fazer-se sentir nas latitudes subtropicais, nas áreas de fronteira dos
grandes desertos, mas o quadro também se agrava consideravelmente nas regiões das latitudes médias, como é o caso de
Portugal.

Os mapas da figura 55 mostram um estudo da Universidade de Kassel, na Alemanha, no qual se faz uma estimativa da
evolução futura, a nível global, das regiões de maior vulnerabilidade ao stress hídrico. Os resultados são baseados num
modelo do Met Office Hadley Centre (Reino Unido), que gera as projeções futuras de temperatura e precipitação. Por sua
vez, o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) produziu diferentes cenários. Os mapas consistem em projeções
per capita de água potável disponível num cenário mais pessimista quanto ao crescimento económico e elevado
crescimento populacional; neste caso, a situação é ainda mais preocupante. A concretizar-se este cenário, ao longo do
próximo século, as disponibilidades de água serão substancialmente agravadas num cenário de aquecimento global, e as
áreas mais afetadas serão as desérticas e as proximidades imediatas aos grandes desertos. O continente africano e o Sul
da Ásia serão as regiões mais afetadas, o que poderá vir a provocar verdadeiros desastres humanos, já que algumas
regiões, em especial o Sul asiático, são densamente povoadas. Portugal está numa posição particularmente complicada,
uma vez que se prevê que a situação se agrave, em particular no Sul do País.

4.1.2. O IMPACTO DAS ATIVIDADES HUMANAS: EFLUENTES


De uma forma direta, o ser humano é responsável por todos os tipos de poluição que lança para os rios e toalhas
freáticas. Algumas atividades humanas e o seu impacto na qualidade e quantidade da água estão representadas na figura
58. Todas estas atividades resultam na contaminação das águas subterrâneas ou superficiais por matérias poluentes.

As águas subterrâneas são afetadas por poluentes através do processo da infiltração. Os rios são contaminados por
efluentes de várias origens, que são despejados, diretamente, nos cursos de água. As atividades humanas mais poluidoras
para os recursos hídricos são as atividades industriais, os efluentes domésticos e as atividades agrícolas.

Os resíduos resultantes das atividades industriais podem ser sólidos ou líquidos, ou ainda produtos que podem ser
dissolvidos e arrastados por águas de infiltração.

As atividades agropecuárias são também grandes poluidoras dos recursos hídricos, destacando-se as descargas
poluentes da criação de porcos ou a contaminação de aquíferos através de pesticidas, por exemplo. Acresce ainda que a
atividade agrícola é grande consumidora de recursos hídricos, sobretudo para a rega.

Os efluentes domésticos são outro grande setor poluidor das águas. Há neles grandes quantidades de vírus e de
bactérias e, nos países menos desenvolvidos, onde não há redes de esgotos, causam grandes epidemias, nomeadamente
de tifo ou de cólera.
4.1.3. O IMPACTO DAS ATIVIDADES HUMANAS: CONSEQUÊNCIAS
Importa ainda referir outros três grandes problemas relacionados com as atividades humanas, com graves
consequências para os recursos hídricos.

Em primeiro lugar, a salinização, que ocorre nos aquíferos junto ao litoral. Em Portugal continental, existem muitos
aquíferos junto ao litoral e a sua sobre-exploração pode fazer com que a água salgada, mais densa, penetre nos aquíferos,
fazendo chegar grandes quantidades de água salgada a furos e poços, inutilizando a sua exploração.

Em segundo lugar, o problema da eutrofização [Fig. 56], que está relacionado com o aparecimento de grandes
quantidades de algas verdes e azuis nos rios, lagos e albufeiras. Estas algas surgem devido ao lançamento para os rios de
resíduos orgânicos que servem de nutrientes. As algas multiplicam-se, consomem grande parte do oxigénio da água,
podendo levar à extinção da vida nas águas superficiais.

Por último, a desflorestação [Fig. 57], que pode dever-se aos incêndios florestais ou ao abate de floresta para diversos
fins (madeira, abertura de vias de comunicação, crescimento urbano, entre outros). Independentemente das causas, as
consequências da desflorestação são sempre as mesmas em termos de impactos negativos para os recursos hídricos:

• diminuição da infiltração das águas das chuvas devido ao aumento do escoamento superficial, levando a uma
alimentação deficiente dos aquíferos;

• aumento da capacidade erosiva das águas de escorrência, que levam um volume muito grande de detritos para os
rios, lagos e albufeiras, aumentando o risco de cheia e diminuindo o tempo de vida útil das barragens, devido ao excesso
de material proveniente da erosão dos solos.

4.2. O CONSUMO DE ÁGUA


Portugal é um país com valiosos recursos hídricos que interessa preservar para manter a qualidade de vida das
populações. O País tem uma grande quantidade de nascentes minerais [Fig. 59] e uma boa qualidade de águas
subterrâneas [Fig. 60].

As nascentes termais ocorrem em grande quantidade, em particular a norte do Tejo, e as que debitam mais água
estão localizadas nas orlas (ocidental e meridional). A região Oeste é particularmente rica em nascentes termais, assim
como o Norte de Portugal (Minho e Trás-os-Montes). As águas das Furnas, nos Açores, são bem conhecidas, existindo até
uma estação termal onde se faz o aproveitamento medicinal de lamas e águas.

A rede de qualidade das águas subterrâneas é particularmente densa na metade sul do País. No Norte, são raros os
aquíferos considerados de qualidade. Há uma elevada densidade no Algarve e na região central de Portugal, entre
aproximadamente as latitudes de Setúbal e de Aveiro. No Alentejo e interior centro, a densidade é menor, mas, mesmo
assim, elevada, se excetuarmos o Alentejo Litoral.

A água para consumo tem, pois, diferentes destinos. A agricultura absorve a maior parte do consumo de água, seguida
da indústria e, finalmente, o consumo doméstico. Na agricultura, 65 % da água utilizada provém de caudais subterrâneos.
A exceção é a região do Alentejo. Nos casos da indústria e do consumo público, a proveniência reparte-se sensivelmente
em partes idênticas entre a origem subterrânea e a origem superficial [Fig. 61].

4.2.1. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS


Os Planos de Ordenamento de Albufeiras (POA) e os Planos de Ordenamento de Bacias Hidrográficas (POBH) assumem
particular importância na gestão dos recursos hídricos superficiais, assegurando um melhor conhecimento, racionalização
e utilização dos recursos hídricos.
Os POA estão centrados nas barragens e respetivas albufeiras, e definem opções e orientações que estão relacionadas
com o controlo de cheias, manutenção de caudal ecológico dos rios em épocas de estio, aproveitamento turístico e
definição de usos variados da água, entre outros aspetos.

Os POBH são de extrema importância, sobretudo nos rios internacionais, onde tem de haver uma boa articulação com
o país vizinho. Aspeto importante na gestão dos recursos hídricos é o tratamento dos efluentes e poluentes diversos que
chegam até aos cursos de água. As estações de tratamento de águas residuais têm sido a solução com vista à redução da
poluição dos recursos hídricos superficiais. No entanto, nem sempre têm funcionado da melhor maneira, pois, por vezes,
ou não estão em funcionamento ou encontram-se a trabalhar de forma muito deficiente.

OS RECURSOS MARÍTIMOS

1. QUAIS SÃO OS RECURSOS E POTENCIALIDADES MAIS IMPORTANTES?

1.1. A IMPORTÂNCIA ECONÓMICA DO MAR


O mar foi, desde sempre, fundamental para o ser humano. Os litorais sempre foram locais privilegiados para a fixação
humana, na medida em que o mar é um excelente amenizador do clima, sempre foi uma importante via de comunicação
e fornece uma quantidade de recursos essenciais à vida e ao crescimento das civilizações, como os recursos minerais,
alimentares e energéticos.

O mar assume ainda hoje uma importância fulcral na organização das atividades humanas e está sujeito a uma
pressão cada vez maior. A regulação dessa pressão (urbanística, de ocupação do litoral, turística e de exploração de
recursos) tornou-se imprescindível para preservar os recursos marítimos.

No que diz respeito à economia nacional, o mar e os seus recursos representam um papel fundamental, pois o nosso
país tem uma extensa costa marítima, dois arquipélagos localizados no Atlântico e uma extensa Zona Económica Exclusiva
(ZEE).

O mar tem ainda uma forte componente social, pois é um grande gerador de emprego.

Em Portugal, tem-se dado grande importância a recursos marítimos ligados sobretudo:

• aos recursos piscícolas [Fig. 2A] e a outras atividades relacionadas, como a aquicultura. A pesca, apesar de estar há
vários anos em forte declínio em Portugal, continua, mesmo assim, a ter um papel importante na economia nacional, pois
o pescado e os produtos que o mar nos dá são componentes importantes da dieta dos Portugueses, que são dos maiores
consumidores de peixe a nível mundial.

• à extração e exploração de outros recursos [Fig. 2E], como o sal e as algas. A extração de sal é, ainda hoje, uma
atividade económica importante para o País. As algas são aproveitadas sobretudo para a indústria dos cosméticos,
farmacêutica e bioquímica.

• à prospeção de recursos energéticos não renováveis [Fig. 2C], como o petróleo, em relação ao qual se julga que a
costa portuguesa terá, eventualmente, grande potencial de exploração, sobretudo nas bacias sedimentares já
identificadas: a bacia lusitânica, a bacia de Peniche, a bacia do Alentejo e a bacia do Algarve (esta última para ocorrências
de gás). No entanto, ainda são necessários alguns anos de prospeções e de estudos para verificar a viabilidade desta
exploração.

• à exploração de recursos energéticos renováveis [Fig. 2D], como, por exemplo, as ondas, as marés e, mais
recentemente, a energia eólica.

• ao turismo e lazer [Fig. 2B], que representam uma das atividades com maior peso no PIB português. O turismo
balnear, relacionado com o mar e as praias, é aquele que mais importância tem em Portugal, quer no peso das receitas
quer na chegada de turistas estrangeiros ao nosso país. A este facto não serão estranhas as condições climáticas do
território português, assim como a sua extensa linha de costa, com muitos quilómetros de praias.

1.2. OS TIPOS DE COSTA


A linha de costa marca o contacto entre a terra e o mar, caracterizando-se pela sua dinâmica: os seus limites não são
estáticos, pois movem-se em função da maré, das condições dinâmicas do mar (muito diferentes entre o verão e o
inverno) e, ainda, dos sedimentos erodidos ou que aí são depositados.

Em Portugal, existem dois grandes tipos de linha de costa, que podem ser representados sob a forma de esquema,
como se verifica nas figuras 3 e 4. Portugal possui cerca de 1450 km de linha de costa e a maior parte da sua população
vive em concelhos do litoral. Predomina claramente a costa de arriba, que é normalmente mais elevada e escarpada [Fig.
7], resultante da ação marinha sobre as rochas.

Já a costa de praia é baixa e de menor extensão no litoral português [Fig. 8], quer no continente quer, sobretudo, nas
regiões autónomas, onde predomina claramente a costa de arriba. Resulta da acumulação de areias vindas dos rios, da
plataforma continental, e da erosão costeira, e que são posteriormente transportadas ao longo da costa pela corrente de
deriva litoral.

O predomínio da costa de arriba justifica-se pela existência de mais quilómetros de um litoral talhado em rocha dura
[Figs. 5 e 6], ou seja, calcários, granitos e xistos. Apesar disso, as praias existem em grandes extensões em Portugal,
sobretudo no continente e, em particular, a sul do Porto (Gaia, Espinho, Aveiro), entre Coimbra e Peniche (Figueira da
Foz, Nazaré), entre Troia e Sines, e, por fim, em boa parte do litoral algarvio. Neste último, temos um barlavento onde
predomina uma grande extensão de costa de arriba, interrompida por pequenas praias, e um sotavento onde predomina
claramente uma costa arenosa de praia, entre Faro e Vila Real de Santo António.

A natureza das rochas, as marés, as correntes marítimas, a ação das ondas, a morfologia do fundo dos mares, entre
outros, são fatores fundamentais para se perceber esta diferenciação entre costa de arriba e de praia. Contudo, o tipo de
rocha parece ser fundamental na explicação da evolução da linha de costa.

1.2.1. OS EFEITOS DA AÇÃO HUMANA


Portugal enfrenta ainda um problema grave em termos da ação do ser humano na linha de costa, em particular na
extração de areias para construção (proibida por lei) e na ocupação de dunas e arribas com elevada densidade de
construção. Esta densidade de construção é particularmente grave em áreas de dunas e nas arribas talhadas em rocha
mais branda, que recuam a maiores velocidades. No primeiro caso, podemos observar esta densidade de construção na
ilha de Faro e de Tavira, na península de Troia e na barra de Aveiro/Vagos. No caso das arribas, a situação é
particularmente preocupante no Algarve, onde há já mesmo construções em risco de derrocada.

1.3. A AÇÃO EROSIVA DO MAR


A ação marinha dá-se na linha de costa e modela a sua forma e o seu contorno por meio de processos de erosão,
transporte e acumulação. Essa ação é caracterizada por fenómenos muito típicos de erosão, normalmente designada por
erosão marinha e abrasão marinha.

A abrasão marinha consiste na ação mecânica das ondas, que talham as arribas e as plataformas rochosas de sopé. A
erosão marinha integra todos os processos mecânicos (abrasão marinha), químicos e biológicos que atuam na faixa
costeira. A ação constante do mar vai moldando a linha de costa, dando-lhe configurações distintas. A erosão e a abrasão
marinhas vão desgastando a linha de costa, predominando a erosão nas saliências (cabos, por exemplo) e a deposição nas
reentrâncias (enseadas, por exemplo). A figura 9 mostra alguns aspetos das formas de relevo litoral resultantes da ação
do mar, tendo em conta a erosão e a deposição.
A ação dos agentes erosivos e dos fenómenos de deposição sobre as costas de praia e dunas está representada na
figura 10. A construção nas dunas, por exemplo, vai destruir o fraco equilíbrio entre erosão e deposição, que pode levar à
destruição do cordão dunar e ao avanço do mar sobre regiões densamente povoadas. As dunas são a primeira barreira ao
avanço do mar, em particular durante o inverno.

No caso das arribas [Fig. 11], o mar começa por desgastar a sua base, formando pequenas reentrâncias e cavernas.
Chega-se a um ponto em que a parte superior da arriba perde o seu apoio na base e acaba por desmoronar, provocando
igualmente o recuo da arriba. Na base da arriba acumulam-se os blocos rochosos resultantes desse desmoronamento e
vai-se formando uma nova plataforma de abrasão marinha. De seguida, inicia-se um novo ciclo que acaba por provocar o
recuo sucessivo das arribas ao longo do tempo. Quando as arribas recuam ao ponto de já não evoluírem por processos
ligados ao mar designam-se por «arribas mortas». Quando, mais tarde, evolui por processos continentais (erosão hídrica
provocada pela água da chuva), designa-se por arriba fóssil. Um exemplo de uma arriba deste tipo pode ser encontrado
na área litoral entre a Costa de Caparica, Fonte da Telha e Lagoa de Albufeira.

1.3.1. OS ACIDENTES DO LITORAL


Estes fenómenos de erosão e deposição conferem à linha de costa portuguesa uma determinada configuração e a
existência de algumas formas típicas, representadas na figura 12. A erradamente designada «Ria» de Aveiro é uma área
lagunar onde se conjuga a deposição de sedimentos trazidos pelo rio Vouga e pelo mar. Esta intensa deposição dá origem
à formação de um extenso cordão arenoso, interrompido por um canal que dá acesso ao porto de Aveiro. Já a «Ria» de
Faro (ou Ria Formosa) tem origem na deposição de sedimentos provenientes da erosão litoral do barlavento
(transportados pelas correntes de deriva Oeste-Este), pelas areias da plataforma continental e pelos sedimentos
transportados pelo rio Guadiana.

Os estuários do Tejo e do Sado constituem outra interface entre o rio e o mar. Estes são formas de erosão localizadas
nos troços terminais dos rios que são invadidos pelas marés. No estuário do Sado temos ainda a considerar a restinga de
Troia, que resulta da acumulação de areias trazidas pelo Sado e pela corrente de deriva litoral.

1.3.2. A LOCALIZAÇÃO DOS PORTOS


A forma regular da linha de costa portuguesa, sem grandes reentrâncias nem saliências, não é favorável à instalação
de portos de mar. Os portos necessitam de aproveitar as irregularidades da linha de costa para usufruírem de algumas
condições de abrigo, no litoral ocidental e nas ilhas atlânticas [Fig. 13]. Facilmente verificamos a quase inexistência de
portos no litoral alentejano (apesar de se localizar em Sines o único porto de águas profundas da Península Ibérica). Nas
ilhas, a localização preferencial é, sobretudo, a costa sul, local com condições meteorológicas mais favoráveis. Mesmo
tendo em conta os acidentes existentes, foi ainda necessária a construção de alguns portos artificiais (Póvoa de Varzim,
por exemplo) e de obras estruturais de fundo noutros portos (como barras ou desassoreamentos).

1.3.3. A PLATAFORMA CONTINENTAL E OS RECURSOS PISCATÓRIOS


Também a dimensão da plataforma continental portuguesa [Fig. 14] não é demasiado pequena, sobretudo quando
comparada com outros países europeus, e, como é sabido, é na plataforma continental (que só ocupa 10 % das áreas
oceânicas) que se concentram 80 % de todas as espécies piscícolas capturadas. Esta maior diversidade de espécies deve-
se à pouca profundidade das águas, que favorece uma melhor penetração da radiação solar e uma maior oxigenação das
águas, em virtude da sua maior agitação. Além disso, são áreas próximas dos continentes, de onde provêm grandes
quantidades de alimento para os peixes. Na plataforma continental [Fig. 15], o declive é pouco acentuado. O limite
inferior da plataforma continental encontra-se a cerca de 200 m de profundidade. A fase quente em que vivemos
provocou a fusão de extensas massas de gelo, que levou à subida do nível do mar até ao ponto em que se encontra
atualmente. A plataforma liga-se às planícies abissais por uma área de forte declive, o talude continental [Fig. 15]. A
plataforma continental portuguesa é mais extensa no litoral norte e centro, e bastante mais estreita no litoral sul, em
particular no litoral alentejano. Aqui, o seu maior declive faz com que se atinja rapidamente a batimétrica de 200 m e se
chegue à área do talude continental.
1.3.4. O PAPEL DAS CORRENTES MARÍTIMAS
Além da forma e da extensão da plataforma, temos ainda de considerar as correntes marítimas [Fig. 16] para explicar
a quantidade e diversidade de recursos piscícolas no mar. Estas correntes podem ser quentes e frias. As zonas de
contacto entre correntes são aquelas onde a diversidade é maior, devido à grande agitação das águas, que provoca uma
maior oxigenação (que conduz a maiores variedades de plâncton), mas também porque são áreas de grande variabilidade
da temperatura e salinidade. Nas áreas onde há fenómenos de upwelling [Fig. 17], a riqueza de espécies é maior.

2. COMO SE PODE CARACTERIZAR A ATIVIDADE PISCATÓRIA EM PORTUGAL?

2.1. AS PRINCIPAIS ÁREAS DE PESCA


A maior parte da pesca portuguesa ocorre na nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE). No entanto, o espaço marítimo
português não é suficiente e, por isso, os pescadores portugueses viraram-se para outras zonas, algumas delas a vários
milhares de quilómetros da costa portuguesa. Com a entrada de Portugal na União Europeia e a obrigação de respeitar as
normas comunitárias da Política Comum de Pescas, verificou-se uma drástica redução da frota pesqueira. Apesar de ser
cada vez mais difícil obter licenças de pesca fora da ZEE, os Portugueses continuam a pescar em áreas longínquas.

2.2. OS PORTOS DE MAR


Portugal é considerado a entrada atlântica para a Europa. A sua posição coloca o País bem no centro das principais
rotas marítimas [Fig. 18] entre:

• a Europa e a África;

• a Europa e o Mediterrâneo (com ligação ao Médio Oriente);

• a Europa e a América.

Neste contexto, os portos marítimos de Portugal assumem uma importância estratégica de grande valor comercial,
económico e social. No entanto, há um grande número de problemas nos portos portugueses que impedem que o País
usufrua destas condições verdadeiramente únicas a nível europeu e mesmo global.

2.2.1. CARACTERÍSTICAS DOS PORTOS PORTUGUESES


As atividades principais dos portos portugueses são o transporte de mercadorias e passageiros, a navegação de
recreio e turismo, a construção e reparação naval e, claro, a pesca (empresarial e desportiva). Os portos de Portugal têm-
se revelado, contudo, um entrave ao desenvolvimento das pescas, pois as infraestruturas portuárias estão mal equipadas,
são de pequena dimensão e as lotas são antiquadas, com poucas condições de higiene. A juntar a tudo isto há ainda
problemas nas instalações de redes de conservação e refrigeração, gruas de descarga, informatização do setor, etc.
Apesar disso, os portos existem em número relativamente elevado, ou seja, 157 no total, entre o continente e as ilhas.
Estes portos têm um volume relativamente reduzido de descargas em termos de pescado, quer em volume quer no
rendimento, o que demonstra não só a fragilidade dos portos, mas também de todo o setor da pesca em Portugal [Fig.
19].

Os portos marítimos portugueses carecem ainda de melhorias urgentes nas acessibilidades, de molhes de proteção e
de obras de ampliação em algumas docas.

Em outubro de 2011, o Governo aprovou o Plano Estratégico dos Transportes para o Horizonte 2011-2015, no qual se
diz que «no setor marítimo-portuário, que se tem vindo a desenvolver progressivamente, materializando a crescente
importância do mar para a evolução da economia nacional, assistiu-se, nos últimos anos, a uma modernização das
infraestruturas portuárias e ao aumento do investimento nos portos portugueses. Para assegurar o desenvolvimento e o
aumento de eficiência deste setor torna-se, porém, indispensável melhorar o modelo de governação do sistema
portuário, bem como a regulação do trabalho portuário, com vista a uma maior competitividade das empresas e das
exportações nacionais».

A juntar a estas ações estão ainda previstos alguns projetos de investimento considerados prioritários, a saber:

• Terminal de contentores de Leixões;

• Plataforma logística de Leixões;

• Terminal de contentores da Trafaria;

• Terminal de passageiros de Lisboa;

• Terminal Vasco da Gama, em Sines;

• Ligação ferroviária Sines-Badajoz em bitola europeia;

• Ligação ferroviária Aveiro-Salamanca em bitola europeia

2.3. A MÃO DE OBRA


A mão de obra na pesca em Portugal é, na sua generalidade, envelhecida, masculina e de reduzida formação
profissional. Os dados do INE [Fig. 20] mostram bem que a atividade em Portugal é dominada por homens, sobretudo
entre os 35 e os 54 anos. Vem-se notando, contudo, um número cada vez maior de jovens. Nas estatísticas do INE
relativas à pesca para o ano de 2011, 60,8 % do total dos pescadores possuíam entre os 35 e os 54 anos de idade, 18,3 %
entre os 16 e 34 anos e 20,9 % com mais de 55 anos. No entanto, é no segmento «águas interiores não marítimas» que
predominam os pescadores com mais de 55 anos (34 % do total). Pelo contrário, no segmento «arrasto» predominam os
pescadores com menos de 35 anos (21 % do total). As mulheres existem em número muito reduzido e surgem, sobretudo,
nas tarefas de terra ligadas à pesca, em particular na indústria transformadora.

No final de 2011, estavam matriculados 16 402 pescadores [Fig. 21], valor que representa uma diminuição de 518
indivíduos relativamente a 2010. Este valor é claramente inferior aos dos primeiros anos representados no gráfico A da
figura 21, que mostra o decréscimo de pescadores em Portugal. A estrutura representada na figura 21B tem-se mantido
ao longo da última década, a julgar pelas várias publicações das estatísticas da pesca pelo INE. Assim, tem-se registado
uma tendência nítida de decréscimo no segmento «polivalente», ao mesmo tempo que se observa um aumento muito
ligeiro, ou até estagnação, nos segmentos «arrasto» e «cerco». Podemos, eventualmente, estar a assistir a um processo
muito lento, quase impercetível, de modernização do setor, à custa de uma drástica diminuição do setor mais tradicional.
Contudo, a forte queda registada no segmento «polivalente» não é acompanhada de um aumento significativo nos
segmentos «arrasto» e «cerco» [Fig. 22].

2.3.1. A QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA


Os pescadores portugueses têm igualmente baixas qualificações, o que também constitui um importante entrave à
modernização do setor. Em 2011, a maioria dos pescadores possuía apenas o 1.º Ciclo do Ensino Básico, embora seja de
realçar que cerca de 10 % possuía pelo menos o Ensino Secundário [Fig. 23].

No sentido de tentar inverter estas circunstâncias, foram criados pelo País centros de formação do For-Mar apoiados
pelo Fundo Social Europeu (FSE). Este centro de formação para o setor das pescas nasceu em 2008, sucedendo, nas suas
atribuições, à Escola de Pesca e da Marinha do Comércio e ao Forpescas. Há vários núcleos do For-Mar em todas as
localidades em que a pesca é uma atividade importante, nomeadamente em Viana do Castelo, Póvoa de Varzim/Vila do
Conde, Matosinhos, Ílhavo, Figueira da Foz, Peniche/Nazaré, Lisboa, Sesimbra e Olhão.
A adesão dos pescadores tem sido muito irregular e um pouco abaixo das expectativas [Fig. 24]. As razões que têm
sido apontadas para esta fraca adesão prendem-se com a instabilidade do setor, as condições de trabalho pouco
aliciantes (que afastam muita população jovem), o abate de embarcações e a falta de perspetivas de futuro, entre outras.
No entanto, no discurso político, o mar tem sido frequentemente referido como uma opção estratégica para a economia
nacional.

3. COMO SE PODE FAZER UMA BOA GESTÃO DO ESPAÇO MARÍTIMO?

O mar é um recurso cuja preservação é fundamental, um bem comum que, apesar da sua imensidão, tem um caráter
finito. Os principais problemas da gestão do mar são os que aqui vamos abordar.

3.1. A POLUIÇÃO DO MAR


Desde sempre se considerou que o mar tinha uma capacidade infinita de receber lixo e resíduos. Hoje já se percebeu
que não é assim. As atividades humanas produzem enormes quantidades de lixo e resíduos, que mesmo o mar, apesar da
sua imensidão, tem dificuldade em «absorver». Um dos principais problemas a este nível são as marés negras [Fig. 25] e a
poluição gerada pela limpeza de petroleiros, pois afetam áreas costeiras que são, normalmente, densamente povoadas.
Esta poluição tem um impacto muito negativo nas atividades piscatórias, no turismo e na biodiversidade no mar e no
litoral. A centralidade de Portugal, relativamente às principais rotas marítimas, coloca a nossa costa sob um grande risco
[Fig. 26]. A costa portuguesa é rota de passagem obrigatória de grande parte do tráfego marítimo de/para o Norte da
Europa, de/para África, de/para o continente americano. Há, pois, um tráfego intenso de todo o tipo de barcos, incluindo
os grandes petroleiros vindos do Norte da Europa, do Médio Oriente, de África e do continente americano.

3.2. A SOBRE-EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS


Este é um dos problemas que mais têm afligido os pescadores portugueses, pois é um dos principais motivos da
imposição de quotas de pesca, em que a subdesenvolvida frota pesqueira portuguesa foi uma das mais afetadas na
Europa. No entanto, este é um problema global, pois 70 % das reservas mundiais já estão a ser capturadas nos limites ou
para além dos limites minimamente sustentáveis [Fig. 27].

3.3. A FISCALIZAÇÃO DAS ÁGUAS NACIONAIS E DA ZEE


Tendo Portugal a maior ZEE da Europa, a sua vigilância eficaz é um desafio. Esta vigilância é importante para prevenir
ou punir infrações cometidas por navios portugueses e estrangeiros. Algumas das ações visam controlar a captura de
espécies não permitidas, o desrespeito pelas quotas de pesca, a descarga de poluentes ou a utilização da ZEE no
transporte de substâncias proibidas. Estas medidas visam, sobretudo, prevenir o esgotamento de recursos na costa
portuguesa, o aumento do tráfego clandestino (drogas, armamento) e ainda o aumento da poluição marítima [Fig. 25]. A
vigilância da costa pode ser feita por terra (radar), por ar e por mar [Fig. 28].

3.4. A PRESSÃO DAS ÁREAS COSTEIRAS


O turismo balnear contribui para o PIB nacional, mas, a par de uma crescente litoralização do País, coloca as áreas
costeiras sob grande pressão. A pressão urbanística daqui resultante [Fig. 29] tem impactos ambientais muito graves,
nomeadamente a construção sobre as arribas e as dunas, a destruição das dunas e, consequentemente, da proteção da
costa, a sobre-exploração dos aquíferos, um aumento muito considerável na produção de resíduos e efluentes urbanos
que acabam por ir para o mar, e a redução da biodiversidade com destruição da fauna e da flora.

4. COMO SE PODE FAZER A RENDIBILIZAÇÃO SUSTENTADA DO LITORAL E DOS RECURSOS?

4.1. ATIVIDADES ECONÓMICAS A POTENCIALIZAR NO ESPAÇO MARÍTIMO


O mar está habitualmente associado à atividade piscatória, mas os recursos económicos do mar são bastante mais
amplos. Assim, podemos considerar como recursos económicos do mar a aquicultura, a indústria conserveira, a extração
de algas, a produção de sal, a exploração petrolífera e de outros recursos, o turismo e as energias renováveis. Há, pois,
um importante potencial económico ainda por explorar. No entanto, em Portugal, só o turismo tem um peso importante
e, em alguns casos, é gerador de pressão ambiental que interessa regulamentar.

4.2. A IMPORTÂNCIA DO ORDENAMENTO DA ORLA COSTEIRA


A elevada pressão urbanística, resultante da litoralização e do turismo balnear, coloca grande pressão no litoral
português, provocando alguns problemas ambientais muito graves, tais como a destruição das dunas, a artificialização da
linha de costa (construção de pontões) e a deterioração da paisagem devido ao excesso de construção. Para pôr um
pouco de ordem na costa portuguesa foram criados os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC). Estes planos são
considerados Planos Especiais de Ordenamento do Território (PEOT). O ponto de situação em Portugal está representado
na figura 30, de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Os POOC foram criados para tentar resolver alguns
problemas associados ao litoral português, entre os quais se destaca o recuo da linha de costa que, em Portugal,
predomina claramente sobre as áreas onde há maior acumulação de sedimentos [Fig. 31].

Os POOC têm como objetivos:

• ordenar os diferentes usos e atividades específicas da orla costeira;

• classificar as praias e regulamentar o uso balnear;

• valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais e turísticos;

• enquadrar o desenvolvimento das atividades específicas da orla costeira;

• assegurar a defesa e a conservação da Natureza.

Os POOC têm, ainda, como ações prioritárias:

• identificar áreas de risco;

• estabelecer as regras para a utilização da orla costeira;

• requalificar as praias e recuperar os sistemas dunares;

• estabilizar as arribas e fazer a alimentação artificial de praias;

• demolir e remover as estruturas localizadas em áreas de risco;

• manter e construir obras de engenharia para a proteção do litoral.

O âmbito dos POOC é uma estreita faixa litoral que vai desde os 500 metros para o interior, desde o limite das águas
do mar, até à batimétrica de -30 metros. Contudo, nesta estreita faixa, a diversidade de problemas e conflitos colide com
interesses particulares [Fig. 32].

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