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GOVERNO DE ANGOLA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO MÉDIO POLITÉCNICO DE CAMBAMBE-DONDO

Trabalho de pesquisa de D.E.S.

Tema: A Crise Economico-Financeiro em Angola.

O Discente O Docente

_______________________ __________________

Lírio Cassua Camilonga Eliseu Vunda Oleca

Cambambe, 2021
Índice
Introdução .................................................................................................................................... 3
A crise economico-financeira em Angola ............................................................................... 4
1. Impacto sobre as empresas privadas e sobre os contratos de trabalho:...................... 4
2. Impacto sobre o Estado: ....................................................................................................... 5
3. Impacto sobre a sociedade e em particular sobre os consumidores:............................ 7
CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 10
REFERÊNCIAS BIBIOLOGRAFICAS .................................................................................. 11
Introdução
A problemática das crises económica e financeira, remonta há vários anos na
história universal. Curiosamente, as maiores de que se tem registo histórico
têm a mesma conexão geográfica: os Estados Unidos da América (EUA).
Referimo-nos concretamente às crises de 1929 (chamada de grande
depressão) e de 2007-2010 (chamada crise dos suprimes), e esta última,
“ainda não superada inteiramente”, sendo designada por crise mundial.

Sublinhe-se que, sucederam-se outras crises, designadamente: crise asiática


de 19975 (Coreia, Indonésia e Tailândia), Russa, de 1998 (crise do Rublo),
tecnológica, de 2000 (crise das ponto com), o crash, de 2001/2002 (com os
ataques terroristas às torres gémeas world trade center e ao pentágono), e por
último, a crise do petróleo, de 2014, afectando particularmente os países
membros da OPEP, após o anúncio da exploração em grande escala pelos
EUA do gás de xisto, que tem as mesmas características que o petróleo,
provocando com efeito, a queda abrupta da cotação do preço do petróleo no
mercado internacional. De todas as crises sejam elas (mundiais ou sectoriais),
a África nunca ficou imune aos efeitos delas. Esta última crise do petróleo
arrastou completamente para o precipício o sistema económico e financeiro
angolano, devido a excessiva petrodependência da sua economia. Desde
2014 aos nossos dias, o desfecho da crise é ainda imprevisível, mas as
consequências são sobejamente conhecidas, sentidas e vividas
quotidianamente, pelo que o manto dos problemas por ela gerados cobrirá
Angola por longo tempo.

A queda do preço petróleo, em finais de 2014, trouxe consequências políticas,


sociais e económicas graves, sobretudo para a economia angolana. O país tem
atravessado um período muito turbulento, passando por uma crise política com
repercussão internacional e, sobretudo, por uma crise económica causada pela
redução das receitas do petróleo exportado, que se reflectiu em menos
disponibilidade financeira do Governo, deixando o país perante uma inflação
galopante e uma forte desvalorização do kwanza.

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A crise economico-financeira em Angola
A crise económico-financeira em Angola, está intrinsecamente ligada ao
problema da “petrodependência” a que o país durante vários anos se acostou,
esquecendo-se de diversificar as fontes de financiamento da sua economia.
Em abono da verdade, e para termos noção do quanto peso tem este mineral
nas finanças públicas angolana, vale dizer que, [quase] “95% das receitas
fiscais necessárias para a elaboração do Orçamento Geral do Estado”, provêm
do petróleo. O mesmo que dizer, que a economia angolanaestá construída à
volta do petróleo. E, olhando para esta realidade, qualquer leigo na matéria de
economia, finanças e fiscalidade, pode antever e concluir que qualquer
alteração na cotação do petróleo, provoca o desmoronamento de toda a
estrutura macro e microeconómica, acarretando consigo consequências
fortíssimas nas relações da vida social e nas relações privadas.

Como se pode constatar, pelas dificuldades que Angola atravessa, as


consequências do arrefecimento económico, são visíveis em todas esferas
económicas do país: quer seja nas empresas, quer para as famílias, na
redução do investimento público, no impacto negativo do desempenho macro
económico, nas políticas e objectivos macroeconómicos, bem como na
produção interna, a inflação, o desemprego, o comércio, assim como na
eficiência das políticas cambiais e monetárias, politica fiscal e de renda. Ainda
com a crise, viu-se crescer, o crédito mal parado, traduzido no incumprimento
das prestações pelos devedores para com as entidades credoras. De facto
neste capítulo, a situação está cada vez mais preocupante e de difícil solução a
curto prazo.

Esquematicamente, podemos detalhar e contextualizar o impacto da crise


económica angolana nos seguintes moldes:

1. Impacto sobre as empresas privadas e sobre os contratos de trabalho:


- Alteração da modalidade de contratação: Um dos efeitos gerais da crise
económica nas empresas e nos contratos de trabalho consistiu sem sombras
de dúvidas na substituição da antiga Lei Geral do Trabalho (LGT), Lei 02/00 de
11 de Fevereiro, pela Lei 07/15, de 15 de Julho, aprovada pela Assembleia
Nacional, medida que, a meu ver, visou atenuar ou amortecer os impactos
gravosos da crise neste sector do Direito do trabalho.

Despedimentos e congelamentos de novas contratações: Assistiu-se desde


o ano 2015 um cenário de despedimentos, individuais e colectivos de
trabalhadores, desde as grandes, às pequenas e médias empresas em todo o
território nacional, não acompanhado na maioria dos casos, das respectivas
indemnizações a que o trabalhadores teriam direito

- Redução de salários: As poucas empresas que mantiveram os funcionários


até à data presente, tiveram de fazer um exercício aturado de negociação com

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os trabalhadores a fim de manter os postos de trabalhos e, consequentemente,
reduzir os seus rendimentos salariais. Dependendo da dimensão da empresa,
a redução do salário para muitos casos oscilou entre os 40 a 60%.

- Encerramento das empresas: a crise gerou o empobrecimento e


encerramento das empresas em geral, e especialmente no ramo da indústria
transformadora “devido à crise de pagamentos externos, diminuição da
produção por carência de matérias-primas e intermédias”, «Mas também as mil
e uma dificuldades em se lançarem novos empreendimentos».

- Crédito malparado: Desde o surgimento da crise, os bancos comerciais


(especificamente), sem olvidar os bancos públicos, acumularam nas suas
carteiras excessivo crédito mal parado, pois que, muitos clientes deixaram
realizar as prestações a que se obrigaram regularmente a executar, dada a
inexistência de condições objectivas (liquidez) para cumprir com tais
obrigações.

- Dívida fiscal: As empresas viram crescer a dívida fiscal e as


correspondentes multas pesadas aplicadas pela Autoridade Geral Tributária
(AGT), deixando-as sufocadas – durante estes 4 anos de crise muitas
empresas privadas não cumpriram com muitas das suas obrigações fiscais,
alegando dificuldades financeiras e não tendo nada a declarar a AGT.

2. Impacto sobre o Estado:


- Redução das receitas fiscais: com a crise financeira, verificou-se o
empobrecimento do Estado devido à redução das receitas fiscais para os
cofres públicos. “A queda da cotação do barril de crude no mercado
internacional levou à redução das receitas de exportação do petróleo, de 68 mil
milhões de dólares para 26 mil milhões de dólares (56,3 mil milhões de euros
para 21,6 mil milhões de euros), entre 2013 e 2016”28. A par da diminuição das
receitas fiscais, registou-se também a diminuição dos investimentos e,
consequentemente, a procura interna.

- Cortes e contenção das despesas: Com a crise, surgiram também os cortes


nos investimentos ou despesas públicas na ordem dos 90% designadamente:
paralisação das obras públicas estruturantes, paralisação da construção das
centralidades, reabilitação de estradas (primárias, secundáriase terciárias),
pontes, hospitais, escolas, barragens hidroeléctricas a nível de todo o território
nacional.

- Estagnação económica: assistiu-se a uma desaceleração da economia e


estagnação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), sobretudo nos anos
2015 e 2016. Apontam-se ainda como factores de degradação do crescimento
económico de Angola: o decréscimo do consumo privado e investimento
público, a escassez de divisas e a dificuldades de obtenção do crédito

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bancário. Segundo o Relatório sobre a inflação do IV trimestre de 2017, do
Banco Nacional de Angola, comparativamente ao ano 2016, a perspectiva do
crescimento do PIB foi de 0,94% para 2017, em termos reais, o que
corresponde à uma aceleração [ligeira] da actividade económica nacional face
a 2016 de 0,81%.

- Austeridade: o Estado impôs limites às importações e definiu quais os


produtos (especialmente da cesta básica, medicamentos) e serviços prioritários
e não prioritários para importação.

- Novos impostos e actualização das taxas: para fazer face aos serviços
mínimos e às despesas, o Estado implementou o chamado Imposto Predial
Urbano (IPU) e a taxa de recolha de lixo endossada nas facturas de água e luz.
Prevê-se outrossim, a implementação do imposto sobre o valor acrescentado
(IVA) no próximo ano 2019.

- Forte actuação da Autoridade Geral Tributária (AGT): a AGT depois de


longos anos de passividade, deixando os contribuintes quase que numa
situação de “lesse fair, lesse passe” fiscal, passou a desempenhar um papel
mais activo na fiscalização, cobrança dos impostos e a aplicação de multas
pesadas às empresas (especialmente) e aos demais contribuintes. Uma atitude
de total inflexibilidade para com os contribuintes.

- Intervenções legislativas: foram aprovados muitos pacotes legais, como é o


caso da nova Lei dos Contratos Públicos (Lei 09/16, de 16 de Junho), Lei do
Fomento Empresarial, Decreto Presidencial n.º 91/17, de 07 de Junho, que
regula o salário mínimo nacional referente aos sectores do comércio e da
indústria extractiva, Lei Geral do Trabalho, Lei 09/16, de 16 de Junho. Através
de uma parceria público-privada, foi criada em 2017 por Decreto
Presidencialuma instituição denominada RECREDIT, com a finalidade de
comprar todo o crédito mal parado dos bancos públicos (principalmente) e
muito excepcionalmente privados. Ainda, o Decreto 274/17, que proibiu, o
corte, circulação e transportação de madeira em toro e serrada, em todo o
território nacional, forçando a cessação (com efeitos imediatos) da campanha
de exploração florestal até ao dia 31 de Janeiro de 2018. O que muito se
debateu foi: como ficam os contratos celebrados pelos exploradores e
fornecedores de madeira para com os seus clientes? E a madeira já
explorada? Os pagamentos recebidos e os produtos não entregues? Por outro
lado, através do Aviso N.º 2/2018, de 02 de Março, publicado em Diário da
República, o Estado, por meio do Banco Nacional de Angola (BNA), obrigou os
bancos angolanos a elevar o valor mínimo do capital social para 7.500 milhões
de kwanzas (28,4 milhões de euros) até 31 de Dezembro de 2018. Esta
decisão veio a triplicar uma outra exigência feita no ano de 2013, que fixava o
capital mínimo em 2.500 milhões de kwanzas (cerca de 9,5 milhões de euros, à
taxa de câmbio actual). O objectivo, segundo o documento, passa pelo

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"asseguramento de níveis adequados de solvabilidade e de liquidez e
promover a consolidação da banca"38, afectada pela crise económica,
financeira e cambial desde finais de 2014.

- Crise cambial, desvalorização e inflação: A situação dos cambiais no país


constitui o grande calcanhar de aquiles para o Estado desde que se instalou a
crise. De 2014 a meados de 2018 assistiu-se uma crise cambial profunda e
grave. Mas o pico da desvalorização do kwanza face ao dólar norteamericano
deu-se em 2016. A desvalorização do kwanza face o dólar norteamericano e ao
euro levou a um aumento dos custos das importações e toda uma gama de
serviços e produtos. Mas ainda assim, a escassez de dólares norte
americanos, tornou abismal a diferença entre o câmbio oficial do Banco
Nacional da Angola e o do mercado paralelo. São a causa de muito sofrimento
de angolanos e angolanas que se encontram na diáspora (quer seja para
estudo, como para tratamento de saúde), causa da especulação de preços,
causa da inflação, e depreciação do kwanza. De acordo com o relatório do
Instituto Nacional de Estatística de Angola (INE), o ponto mais alto da inflação
no país desde a crise, deu-se entre Janeiro e Dezembro de 2016 (12 meses),
onde os preços em Angola subiram praticamente 42%. Ao passo que, no
relatório publicado em Janeiro de 2018, sobre o comportamento da inflação,
nos últimos 12 meses (2017) ela foi de 23,90% segundo a mesma instituição.

- No plano da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP)


e internacional – quando a economia angolana esteve em plena ascensão, a
CPLP ganhou bastante com as externalidades do crescimento, principalmente
aqueles países membros que não produzem nem exploram petróleo, mas que
dependiam das exportações do crude angolano. A crise angolana reduziu
drasticamente as trocas comerciais entre os países lusófonos, ficando assim
comprometidos bilhões e bilhões de dólares com a importação do petróleo
angolano As trocas comerciais reduziram de forma grave afectando muitas
empresas privadas que, por sua vez, tinham contratado inúmeros angolanos
que infelizmente ficaram desempregados. A nível internacional a crise gerou o
afastamento e a desconfiança dos investidores internacionais,
comparativamente a períodos anteriores à crise.

3. Impacto sobre a sociedade e em particular sobre os consumidores:

- Custo de vida: os consumidores têm vindo a lutar e a debater-se nestes


quatro anos de crise com o fenómeno do aumento do custo de vida gritante
que em contrapartida gerou a diminuição do poder de compra das famílias.

- Cesta básica: apesar de ser a primeira medida do Estado, durante estes


anos, dar alta prioridade a importação dos produtos da cesta básica, ainda

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assim, verifica-se ano após ano, mês a mês, o aumento exponencial dos
preços dos produtos da cesta básica e das taxas de consumo.

- Bancos comerciais: em geral, os bancos mantiveram as taxas de juro nos


primeiros meses da crise e posteriormente foram se efectuando o
agravamentos naturais das taxas (até ao ano de 2017). Limitaram o
levantamento da moeda estrangeira, face a escassez e à orientação do Banco
Nacional; congelaram a concessão de todo tipo de crédito quer para as
empresas, quer para os particulares.

- Especulação de preços: com a crise, despoletou-se também o mecanismo


de aproveitamento e oportunismo comercial, levada a cabo pelos comerciantes,
fornecedores, revendedores, grossistas e retalhistas com vista a obtenção do
lucro fácil devido a escassez dos bens e serviços

- Depreciação salarial: mesmo que o Executivo não tenha feito a redução


oficial dos salários, a força do aumento exponencial da inflação e aescassez de
produtos da cesta básica, provocaram a derrocada do poder de compra dos
consumidores. Consequência principal reflectiu-se na dificuldade de poupança
e na manutenção do salário para realização de despesas preponderantemente
alimentares.

- Aumento das taxas de serviços básicos: verificou-se o agravamento das


taxas dos serviços de água, luz, gás, telecomunicações e transportes, que
passaram a ser suportados pelos consumidores, constituindo assim para estes,
um verdadeiro sufoco nas suas balanças de pagamentos familiares.

- Ensino privado e público: deu-se o aumento das taxas de propinas no


ensino privado e público, causando consequentemente, desistências e
abandono escolar.

- Telecomunicações: pela sua finalidade, as telecomunicações têm uma


importância fundamental devido ao papel que eles desempenham
concretamente na coesão social e na garantia da qualidade de vida das
populações. Os contratos de prestação de serviços de telecomunicações não
ficaram poupados do impacto da crise. Tal facto, obrigou as operadoras, a
procederem à modificação dos preços ou das tarifas praticadas anteriormente,
com base na justificação da desvalorização da moeda nacional, escassez de
divisas e aumento dos custos operativos, de modos a se ajustar as tarifas ao
contexto económico em que se vive no país.

- Transportes: em termos gerais, o transporte ocupou, ocupa e ocupará nas


nossas vidas (pessoal e social), um lugar marcadamente distinto. A distinção
encontra-se, indubitavelmente, pelo seu carácter essencial à vida da
colectividade. Ademais, o fenómeno da globalização tem, de algum modo,
justificado aquela essencialidade, permitindo as deslocações das pessoas e

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bens de um lugar para outro, graças aos transportes. Hoje,
“independentemente das migrações por razões económicas, sociais ou
pessoais, as pessoas viajam em negócios, em estudos ou em lazer. Todo o
dia-a-dia depende de uma rede de transportes em perfeito e
permanentefuncionamento, em incontável miríade de actos jurídicos
especializados, a tanto destinados”.

- Aviação civil: No campo da aviação, com a escassez de divisas, a


companhia Àrabe Fly Emirates, pós fim (extinguiu) o contrato celebrado com o
Ministério dos Transportes e o Conselho de Administração da TAAG, por
dificuldades de repatriamento de capitais (divisas). As demais companhias
aéreas comerciais, e não só, adoptaram a política da venda dos bilhetes com a
moeda do país do ponto de partida.

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CONCLUSÃO
Portanto concluímos que, o presente trabalho nos tras ao conhecimento da
diferença existente entre as ambas( Crise Económica & financeira) , tambem
nos permite saber como e quando começou a crise Económica & Financeira
em Angola. Sendo que A queda do preço petróleo, em finais de 2014, trouxe
consequências políticas, sociais e económicas graves, sobretudo para a
economia angolana. O país tem atravessado um período muito turbulento,
passando por uma crise política com repercussão internacional e, sobretudo,
por uma crise económica causada pela redução das receitas do petróleo
exportado, que se reflectiu em menos disponibilidade financeira do Governo,
deixando o país perante uma inflação galopante e uma forte desvalorização do
kwanza

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REFERÊNCIAS BIBIOLOGRAFICAS

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