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Faculdade AIEC

A CRISE FINANCEIRA E A REFORMA TRIBUTÁRIA EM ANGOLA

CARLOS COIMBRA PEDRO

LUANDA, 13 DE MARÇO DE 2021

CARLOS COIMBRA PEDRO

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A CRISE FINANCEIRA E A REFORMA TRIBUTÁRIA EM ANGOLA

Trabalho Final apresentado à


Faculdade AIEC, como requisito
parcial para conclusão do
Tecnólogo em Gestão
Financeira.

Orientador: Bento de Matos Félix

LUANDA, 13 DE MARÇO DE 2021

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SUMÁRIO

Agradecimentos ..................................................................................................4

Introdução – A Crise Financeira e Reforma Tributária em Angola .......................5

Objetivos.............................................................................................................5

Capítulo 1
1. Contextualização do fenómeno da crise em Angola.............................7
1.2- Impacto sobre as empresas…………………………………….....….7-9
1.3- Impacto sobre o Estado…………...…………………………………9-14
1.4- Impacto sobre a Sociedade e em particular aos consumidores.15-18

Capítulo 2
2. A reforma Tributária em Angola...................................................19-21
2.1 Regime Juridico de Facturas e Documentos Equivalentes..........22-23
2.2 Código Geral Tributário ...............................................................24-25
2.3 Imposto do Selo...........................................................................25-26
2.4 Imposto Industrial.........................................................................26-29

Capítulo 3
3. IVA – Imposto Sobre o Valor Acrescentado .................................30-34
Conclusão...............................................................................................35
Revisão Bibliográfica ..............................................................................36
Metodologia ............................................................................................37
Análise e Reflexão ............................................................................38-39
Considerações finais ..............................................................................40
Referências ............................................................................................41
Apêndices................................................................................................42
Anexos....................................................................................................43

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Agradecimentos
Agradeço a todos que contribuíram no decorrer desta jornada, em
especial:
A Deus, a quem devo minha vida.
A minha família, com destaque ao António Coimbra ou simplesmente
Awilca que sempre me apoiou nos estudos e nas escolhas tomadas.
Ao João Coimbra ou simplesmente Mr. Jonh pelos incentivos
A Branca Pedro, minha esposa por sempre me apoiar e compreender nos
momentos difíceis.
Ao orientador Prof. Bento de Matos Félix, que teve o papel fundamental
na elaboração deste trabalho.
Aos meus colegas pelo companheirismo e disponibilidade para me auxiliar em
vários momentos.
Aos meus amigos pela força concedida.

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INTRODUÇÃO – A Crise Financeira e a Reforma Tributária em Angola

A problemática das crises económica e financeira, remonta há vários anos


na história universal. Curiosamente, as maiores de que se tem registo histórico
têm a mesma conexão geográfica: os Estados Unidos da América (EUA).
Referimo-nos concretamente às crises de 1929 (chamada de grande depressão)
e a crise de 2007-2010 (chamada crise dos subprimes), e esta última crise,
“ainda não superada inteiramente” sendo designada por crise mundial.
Sublinha-se que, sucederam-se outras crises, designadamente: crise
asiática de 1975 (Coreia, Indonésia e Tailândia), a crise Russa de 1998 (crise do
Rublo), tecnológica, de 2000 (crise das pontocom), o crash, de 2001/2002 (com
os ataques terroristas às torres gémeas world trade center e ao pentágono), e
por último, a crise do petróleo, de 2014, afectando particularmente os países
membros da OPEP, após o anúncio da exploração em grande escala pelos EUA
do gás de xisto, que tem as mesmas características que o petróleo, provocando
com efeito, a queda abrupta da cotação do preço do petróleo no mercado
internacional. De todas as crises sejam elas (mundiais ou sectoriais), a África
nunca ficou imune aos efeitos delas.
Esta última crise do petróleo arrastou completamente para o precipício o
sistema económico e financeiro angolano, devido a excessiva dependência da
sua economia. Desde 2014 aos nossos dias, o desfecho da crise é ainda
imprevisível, mas as consequências são sobejamente conhecidas, sentidas e
vividas quotidianamente, pelo que o manto dos problemas por ela gerados
cobrirá Angola por longo tempo.

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OBJECTIVOS
Compreender as razões que estiveram na base da crise financeira e os impactos
que teve na economia de Angola.
Examinar em detalhe alguns conceitos-chave da reforma tributária e, em
particular o IVA1 com relevância para as empresas e a sociedade.
Ajustar o Sistema Tributário Nacional, adaptando a legislação fiscal à nova
realidade económica e social do País, de modos a Potenciar a Receita Fiscal
não Petrolífera, bem como combater a fraude fiscal e a evasão fiscal, garantindo
uma maior justiça tributária.
Reter os aspectos jurídicos legais sem substituir as leis vigentes nem os manuais
sobre o Direito Tributário, mas concorrer para, de modo simples, claro e
condensado, explicar a temática da crise e as suas nuances objectivas e
subjectivas, as isenções, as taxas dos Impostos, os modos de liquidação e
pagamento, bem como as obrigações declarativas dos sujeitos passivos.
Explicar, igualmente, o sentido da implementação do IVA e a revogação de
outros Diplomas que comportam normas de grande relevância tributária, como é
o caso da Lei do Imposto de Selo.

1
Imposto Sobre o Valor acrescentado introduzido em Angola pela Lei 7/19 de 24 de abril.
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CAPITULO 1
1.1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO FENÓMENO DA CRISE EM
ANGOLA
As alterações externas podem, tal como tivemos a ocasião de referir na
introdução, constituir um elemento de perturbação grave na estrutura económica
das relações jurídicas, máxime, quando se trata de relações duradouras ou de
longo prazo. Estes eventos estranhos à tributação afectaram gravemente e de
forma anormal a relação obrigacional diante do físco, criam um profundo
desequilíbrio nas contribuições tributárias das empresas, o que exigirá uma
intervenção do Estado para repor o equilíbrio inicial e assegurar a justiça
tributária.
A crise econômico-financeira em Angola, está intrinsecamente ligada ao
problema da “petróleo-dependência” a que o país durante vários anos se
acostou, esquecendo-se de diversificar as fontes de financiamento da sua
economia. Em abono da verdade, e para termos noção do quanto peso tem este
mineral nas finanças públicas angolana, vale dizer que, [quase] “95% das
receitas fiscais necessárias para a elaboração do Orçamento Geral do Estado”,
provêm do petróleo. O mesmo que dizer, que a economia angolana está
construída à volta do petróleo. E, olhando para esta realidade, qualquer leigo na
matéria de economia, finanças e fiscalidade, pode antever e concluir que
qualquer alteração na cotação do petróleo, provoca o desmoronamento de toda
a estrutura macro e microeconómica, acarretando consigo consequências
fortíssimas nas relações da vida social e nas relações privadas.
Como se pode constatar, pelas dificuldades que Angola atravessa, as
consequências do arrefecimento económico, são visíveis em todas esferas
económicas do país: quer seja nas empresas, quer para as famílias, na redução
do investimento público, no impacto negativo do desempenho macro económico,
nas políticas e objectivos macroeconómicos, bem como na produção interna, a
inflação, o desemprego, o comércio, assim como na eficiência das políticas
cambiais e monetárias, política fiscal e de renda. Ainda com a crise, viu-se
crescer, o crédito malparado, traduzido no incumprimento das prestações pelos
devedores para com as entidades credoras. De facto neste capítulo, a situação
está cada vez mais preocupante e de difícil solução a curto prazo.

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2.1 Impacto sobre as empresas privadas
Esquematicamente, podemos detalhar e contextualizar o impacto da crise
económica angolana nos seguintes moldes:
Encerramento das empresas: a crise gerou o empobrecimento e
encerramento das empresas em geral, e especialmente no ramo da indústria
transformadora “devido à crise de pagamentos externos, diminuição da produção
por carência de matérias-primas e intermédias”, «Mas também as mil e uma
dificuldades em se lançarem novos empreendimentos». O ponto mais alto do
encerramento das empresas, desde que se instalou a crise do petróleo em
Angola, deu-se no ano de 2016. Mas isso não significa que, no ano antecedente
a ele e o posterior não houve encerramento das empresas. Na verdade, foi neste
período em que aconteceram mais despedimentos e se rescindiram contratos
por superveniência da crise financeira.
Com o encerramento de muitas empresas, tanto estas, como os
trabalhadores desempregados não conseguiram honrar os compromissos com
os diversos credores (sobretudo os bancos), financiadores e intermediários
financeiros, despoletando assim, o incumprimento dos créditos. Por exemplo, as
concessionárias do mercado automóvel [entre outras concessionárias de
materiais diversos] registaram desde o início da crise em 2014 até 2017 uma
quebra de 90% das vendas de carros novos, devido à escassez de divisas para
fazer face à importação de novas viaturas e principalmente devido à
incapacidade financeira dos cidadãos em geral para adquirir novas viaturas, que
até então (2018) estão a custar o triplo do que custavam nos anos anteriores a
2014.
Hoje, as concessionárias acumulam, por sua vez, uma dívida com
fornecedores estrangeiros de 300 milhões de dólares aproximadamente.
1.2.1 Falência e insolvência: Atualmente em Angola, há como que uma
situação de “comodismo empresarial”. A crise tornou-se num verdadeiro
campo de fuzilamento das empresas. Doutrinalmente entendida, «a
insolvência traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir
as suas obrigações, normalmente por ausência da necessária liquidez em
momento determinado, ou em certos casos porque o total das suas
responsabilidades excede os bens de que pode dispor para as

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satisfazer». Durante longos anos, as empresas privadas, especialmente
as de prestação de serviços e de construção civil e obras públicas, entre
outras, e sem desprimor por outros parceiros de negócios, tiveram como
grande parceiro de negócios o Estado (principalmente), por meio de
fornecimento a este último de materiais múltiplos e serviços variados,
tendo o facto, permitido o crescimento financeiro das empresas ao longo
dos anos até, pelo menos, em 2013. Desde 2014, o Estado deixou de
honrar e realizar o pagamento a muitas empresas fornecedoras de
inúmeros serviços prestados a ele, por falta e pela diminuição grave de
receitas fiscais para os seus cofres. Consequentemente, o incumprimento
do Estado, gerou a falta de liquidez das empresas, e falta de liquidez
provocou o não cumprimento de outros compromissos contratuais das
empresas para com os demais credores (financiadores, outros sujeitos
contratuais). Dada a situação de falência e insolvência generalizada, para
que a situação não se degrade ainda mais a ritmo vertiginoso, as
empresas têm clamado pelo apoio do Estado para que este proceda à
recapitalização delas, que ao nosso ver, não parece viável para o Estado,
não obstante as dificuldades que este enfrenta.
1.2.2 Crédito malparado: Desde o surgimento da crise, os bancos comerciais
(especificamente), sem olvidar os bancos públicos, acumularam nas suas
carteiras excessivo crédito mal parado, pois que, muitos clientes deixaram
realizar as prestações a que se obrigaram regularmente a executar, dada
a inexistência de condições objetivas (liquidez) para cumprir com tais
obrigações.
Só para termos uma noção, «em fevereiro de 2018, o crédito malparado
no sector financeiro era equivalente a 31,3% do total de créditos
concedido pela banca nacional. De um total de 4, 8 bilhões de kwanzas
emprestados, mais de 1,5 bilhões são de crédito vencido ou malparado.
Um (1) em cada três (3) kwanzas emprestados pela banca em Angola são
malparados, ou crédito vencido». Entre inúmeros clientes encontram-se
as empresas. Elas ao longo destes anos de crise económica não têm
conseguido honrar com os compromissos para com os credores (bancos
principalmente) e não conseguem pagar os funcionários e colaboradores.

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Ora, por externalidade negativa, dadas as dificuldades, aqueles
trabalhadores que contraíram empréstimos bancários e cuja garantia foi
o salário, também deixaram de realizar as prestações para com os
credores e financiadores, pelo simples facto de que, deixaram de ter
salários porque o empregador não tem liquidez. Tanto os empregados,
quanto os empregadores, todos caíram num ciclo de incumprimento
generalizado, embora, vale lembrar, que tal não significa exoneração das
obrigações.
1.2.3 Dívida fiscal: As empresas viram crescer a dívida fiscal e as
correspondentes multas pesadas aplicadas pela Autoridade Geral
Tributária (AGT), deixando-as sufocadas – durante estes 4 anos de crise
muitas empresas privadas não cumpriram com muitas das suas
obrigações fiscais, alegando dificuldades financeiras e não tendo nada a
declarar a AGT. Por esta razão, «as associações empresariais têm
clamado por uma amnistia fiscal, no sentido de o Estado perdoar as
multas e juros de dívidas no período compreendido entre 2012 a 2017,
para não precipitar ainda mais centenas e centenas de empresas no vale
da falência. Sem a necessária liquidez, as empresas se vêem fustigadas
e sufocadas com a actuação da AGT, pedindo por outro lado, a
modificação da medida e se possível a revisão da Lei Tributária em
vigor27, adaptando-a ao novo contexto. Julgamos que, se o Estado não
tiver em conta o problema da redução ou sufoco da carga fiscal às
empresas, o índice de desemprego no sector privado vai crescer
assustadoramente, e pior do que hoje.
1.3 Impacto sobre o Estado:
Redução das receitas fiscais: com a crise financeira, verificou-se o
empobrecimento do Estado devido à redução das receitas fiscais para os cofres
públicos. “A queda da cotação do barril de crude no mercado internacional levou
à redução das receitas de exportação do petróleo, de 68 mil milhões de dólares
para 26 mil milhões de dólares (56,3 mil milhões de euros para 21,6 mil milhões
de euros), entre 2013 e 2016”28. A par da diminuição das receitas fiscais,
registou-se também a diminuição dos investimentos e, consequentemente, a
procura interna29. Assinala-se ainda que, no quarto trimestre de 2017, registou-

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se a queda 16,48% na arrecadação efectiva da receita fiscal30,
comparativamente ao ano 2016. Apesar do aumento significativo das
exportações do petróleo bruto (18,35%), ainda assim as receitas fiscais
continuam negativas. Nota-se também, a redução das linhas de financiamento
externo de crédito devido a instabilidade macroeconómica, a exiguidade dos
meios de garantias e desconfiança dos investidores.
1.3.1 Dívida Pública: verificou-se um sobre-endividamento público do Estado,
nestes nos últimos 4 anos de crise, visando fazer face às despesas e
compromissos sociais. A dívida pública angolana já ultrapassou o nível
limite permitido por lei. A título ilustrativo, para o Orçamento Geral do
Estado (OGE) 2018, 52% destina-se ao pagamento da dívida pública.
Ainda, “o Executivo estima que até ao final do ano a dívida pública atinja
o valor de 17.924 mil milhões de kzs (cerca de 77.300 milhões dólares
norte-americanos), o que representa 70,8% do PIB previsto para 2018.
Este aumento da dívida visa financiar projectos que não forma incluídos
no OGE 2018”31. Os números da dívida pública angolana parecem
assustar até os leigos na matéria.
1.3.2 Cortes e contenção das despesas: Com a crise, surgiram também os
cortes nos investimentos ou despesas públicas na ordem dos 90%
designadamente: paralisação das obras públicas estruturantes,
paralisação da construção das centralidades, reabilitação de estradas
(primárias, secundárias e terciárias), pontes, hospitais, escolas,
barragens hidroelétricas a nível de todo o território nacional. Essa medida
visou, muito claramente, conter as despesas face a residualidade das
receitas fiscais. Feliz ou infelizmente em Angola os maiores investimentos
foram e continuam a ser do Estado, não só, por ser sua tarefa fundamental
e vocação primária, mas também, pelo facto de haver em Angola um
tecido empresarial fragilizado e subordinado aos investimentos que o
Estado fazia e ainda faz, embora, ultimamente, de forma irregular. Prova
disso é que, quando o Estado levou a cabo uma série de cortes nos
investimentos, muitas empresas e empresários desapareceram e
inclusive as instituições públicas ficaram profundamente abaladas com o
facto, pois que, não conseguiram honrar com as suas obrigações diante

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dos fornecedores e prestadores de serviços. Os cortes nos investimentos
sentiram-se mais nos sectores petrolífero, mineral e o sector social do
Estado, e este últimos concretamente, nos programas de
desenvolvimento agrícola, fomento ao empreendedorismo e apoio à
juventude, construção de estradas, barragens, hospitais, escolas, tal
como nos referimos lá atrás. Ainda, no sector da saúde, a redução de
investimentos provocou e fragilizou vários programas de saúde pública,
forçando o encerramento de vários programas de combate à várias
endemias e, consequentemente, à rescisão de muitos contratos com
fornecedores e prestadores de serviços (fornecimento de medicamentos,
apetrechamento dos estabelecimentos hospitalares, parecerias público
privadas serviços de segurança, limpeza, etc). No sector da educação,
para além da construção e apetrechamentos das escolas e
estabelecimentos similares, o Estado deixou de investir num programa
que na nossa visão representava o verdadeiro Estado social, que é o
programa de merenda escolar. Este programa envolvia uma cadeia de
contratos entre os governos locais e empresas privadas que por sua vez
forneciam bens “alimentares” aos alunos do ensino primário com vista a
combater a fome e promover a aceleração escolar. Na medida em que
tais contratos vigoravam, proporcionava-se um clima de solvabilidade,
empregabilidade e de potenciação do poder de compra do cidadão e
geral, o que gerou a celebração de vários contratos privados. No sector
minério e industrial, assistiu-se à paralisação da construção de indústrias
chaves (cimento, materiais de construção) e os negócios a eles conexos.
Ainda forçou a paralisação do mega projecto industrial do país chamado
Zona Económica exclusiva (ZEE), na província de Luanda.
1.3.3 Orçamentos Gerais Revistos: Como sabemos, o petróleo representa o
motor da economia angolana. Devido à sua importância, só em 2014 por
exemplo, o crude angolano contribuiu para os cofres do Estado em
receitas fiscais com cerca de 72% percentuais, 48% do Produto interno
Bruto (PIB) e com 98% das exportações. Ora, a redução das receitas
fiscais obrigou a Revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) para o
ano 2015 [e 2016], reduzindo o preço de referência do petróleo, de 81

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para 40 dólares 32. E hoje, apesar de, o preço do crude no mercado
internacional oscilar entre 68 a 70 dólares, o OGE de 2021 foi elaborado
com base no preço de referência de 45 dólares norte-americanos.
1.3.4 Estagnação económica: assistiu-se a uma desaceleração da economia
e estagnação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), sobretudo
nos anos 2015 e 2020. Apontam-se ainda como factores de degradação
do crescimento económico de Angola: o decréscimo do consumo privado
e investimento público, a escassez de divisas e a dificuldades de obtenção
do crédito bancário. Segundo o Relatório sobre a inflação do IV trimestre
de 2017, do Banco Nacional de Angola, comparativamente ao ano 2016,
a perspectiva do crescimento do PIB foi de 0,94% para 2017, em termos
reais, o que corresponde à uma aceleração [ligeira] da actividade
económica nacional face a 2016 de 0,81%.
1.3.5 Austeridade: o Estado impôs limites nas importações e definiu quais os
produtos (especialmente da cesta básica, medicamentos) e serviços
prioritários e não prioritários para importação. A limitação de importações
afectou gravemente a actividade de muitas empresas privadas e
operadores comerciais, “degolando-as”.
Procedeu à contenção ou mesmo cortes nas transferências
internacionais. A implementação do programa de austeridade permitiu a
criação de instrumento programáticos como: o Plano Intercalar, programa
de redimensionamento e reestruturação do sector empresarial público e
do Programa de Estabilidade Macroeconómica (PME) para fazer face à
crise. “Dentro do plano intercalar, o Executivo está a preparar a
implementação do processo de privatização de empresas públicas até
abril de 2018”
1.3.6 Redução das subvenções: o Estado reduziu significativamente as
subvenções dos preços dos combustíveis, energia, água,
telecomunicações, que doravante passaram a ser suportados pelo
consumidor final.
Novos impostos e actualização das taxas: para fazer face aos serviços
mínimos e às despesas, o Estado implementou o chamado Imposto
Predial Urbano (IPU) e a taxa de recolha de lixo endossada nas facturas

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de água e luz. Prevendo outrossim, a implementação do imposto sobre o
valor acrescentado (IVA) no mês de outubro do ano 2019.
1.3.7 Intervenções legislativas: foram aprovados muitos pacotes legais e
alterações nos decretos existentes, como é o caso da Lei do Imposto
Sobre o Rendimento do Trabalho, Código Geral Tributário, Código do
Imposto Industrial, Código do Imposto Predial Urbano, Código do Imposto
Especial de Consumo, Lei do Imposto sobre Aplicação de Capitais e
finalmente o Imposto sobre o Valor Acrescentado. Através de uma
parceria público-privada, foi criada em 2017 por Decreto Presidencial uma
instituição denominada RECREDIT, com a finalidade de comprar todo o
crédito malparado dos bancos públicos (principalmente) e muito
excepcionalmente privados. Ainda, o Decreto 274/17, que proibiu, o corte,
circulação e transportação de madeira em toro e serrada, em todo o
território nacional, forçando a cessação (com efeitos imediatos) da
campanha de exploração florestal37 até ao dia 31 de janeiro de 2018. O
que muito se debateu foi: O que ganha o Estado com todas estas medidas
tributárias? Como viver com o IVA à uma taxa tão pesada para a
população?
Por outro lado, através do Aviso N.º 2/2018, de 02 de Março, publicado
em Diário da República, o Estado, por meio do Banco Nacional de Angola
(BNA), obrigou os bancos angolanos a elevar o valor mínimo do capital
social para 7.500 milhões de kwanzas (28,4 milhões de euros) até 31 de
Dezembro de 2018. Esta decisão veio a triplicar uma outra exigência feita
no ano de 2013, que fixava o capital mínimo em 2.500 milhões de
kwanzas (cerca de 9,5 milhões de euros, à taxa de câmbio actual). O
objectivo, segundo o documento, passa pelo "asseguramento de níveis
adequados de solvabilidade e de liquidez e promover a consolidação da
banca", afectada pela crise económica, financeira e cambial desde finais
de 2014.
1.3.8 Outras Medidas: o Estado criou o Programa de Estabilidade
Macroeconómica, diminuiu ou se não mesmo acabou com o número
elevadíssimo de empresas de prestação de serviços de consultoria,
injectou vários milhões de Euros para a recapitalização do maior banco

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público (Banco de Poupança e Crédito - BPC). «Em 4 (quatro)
intervenções do Estado no BPC, em menos de 2 (dois) anos, saíram dos
cofres públicos 568,8 mil milhões de kwanzas equivalentes a 3.186
milhões de dólares norte-amercano».
1.3.9 Crise cambial, desvalorização e inflação: A situação dos cambiais no
país constituiu o grande calcanhar de aquiles para o Estado desde que se
instalou a crise. De 2014 a meados de 2020 assistiu-se uma crise cambial
profunda e grave. Mas o pico da desvalorização do kwanza face ao dólar
norteamericano deu-se em 2016. Daí para cá, a desvalorização do
kwanza face ao dólar norte-americano e ao euro levou a um aumento dos
custos das importações e toda uma gama de serviços e produtos. Mas
ainda assim, a escassez de dólares norte-americanos, tornou abismal a
diferença entre o câmbio oficial do Banco Nacional da Angola e o do
mercado paralelo.
São a causa de muito sofrimento de angolanos que se encontram na
diáspora (quer seja para estudo, como para tratamento de saúde), causa
da especulação de preços, causa da inflação, e depreciação do kwanza.
De acordo com o relatório do Instituto Nacional de Estatística de Angola
(INEA), o ponto mais alto da inflação no país desde a crise, deu-se entre
Janeiro e Dezembro de 2020 (12 meses), onde os preços em Angola
subiram praticamente 42%. Ao passo que, no relatório publicado em
Janeiro de 2018, sobre o comportamento da inflação, nos últimos 12
meses (2017) ela foi de 23,90% segundo a mesma instituição. Apesar do
valor percentual situar-se abaixo, comparativamente ao ano 2016, ainda
assim a situação económica que o país atravessa não tem sido abonatória
para o alcance do equilíbrio dos preços. Mantém-se a tendência veloz de
subida da inflação e com fortes reflexos na vida concreta e com
tendências a piorar. Os preços dos bens e serviços vão variando ao
exemplo dos ponteiros de um relógio. Num dia um preço, e no outro dia,
outro preço.
No plano da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP)
e internacional – quando a economia angolana esteve em plena
ascensão, a CPLP ganhou bastante com as externalidades do

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crescimento, principalmente aqueles países membros que não produzem
nem exploram petróleo, mas que dependiam das exportações do crude
angolano. A crise angolana reduziu drasticamente as trocas comerciais
entre os países lusófonos, ficando assim comprometidos milhões e
bilhões de dólares com a importação do petróleo angolano. De entre os
países que se ressentiram da crise angolana, destacam-se o Brasil e
Portugal. Este último com mais de 1.200 empresas portuguesas a operar
em Angola e com elas centenas e centenas de portugueses, sobretudo
no ramo da construção civil e obras públicas, viram-se forçadas a encerrar
as suas empresas e repatriar muita mão-de-obra portuguesa com as
consequências dele adveniente, devido às dificuldades de repatriamento
de capitais, limitação de importação, dificuldades económicas,
paralisação da execução dos contratos, entre outros motivos. Ou seja, a
crise angolana contaminou a sobrevivência de muitas empresas
portuguesas. Não nos podemos esquecer que, Angola é o quarto maior
importador de Portugal, com um total de 2,4 milhões de euros anuais. As
trocas comerciais reduziram de forma grave afectando muitas empresas
privadas que, por sua vez, tinham contratado inúmeros angolanos que
infelizmente ficaram desempregados. A nível internacional a crise gerou
o afastamento e a desconfiança dos investidores internacionais,
comparativamente a períodos anteriores à crise.
1.4 Impacto sobre a sociedade e em particular sobre os
consumidores
1.4.1 Custo de vida: Os consumidores têm vindo a lutar e a debater-se nestes
quatro anos de crise com o fenómeno do aumento do custo de vida
gritante que em contrapartida gerou a diminuição do poder de compra das
famílias.
1.4.2 Cesta básica: apesar de ser a primeira medida do Estado, durante estes
anos, dar alta prioridade a importação dos produtos da cesta básica, ainda
assim, verifica-se ano após ano, mês a mês, o aumento exponencial dos
preços dos produtos da cesta básica e das taxas de consumo.
1.4.3 Bancos comerciais: em geral, os bancos mantiveram as taxas de juro
nos primeiros meses da crise e posteriormente foram se efectuando os

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agravamentos naturais das taxas (até ao ano de 2020). Limitaram o
levantamento da moeda estrangeira, face a escassez e à orientação do
Banco Nacional;
Congelaram a concessão de todo tipo de crédito quer para as empresas,
quer para os particulares. Tal decisão deveu-se não só pelo impacto da
crise, como também, pela incapacidade de solvabilidade dos devedores,
por ainda não liquidarem as suas dívidas anteriores; em contrapartida
viram crescer a carteira do crédito malparado.
1.4.4 Especulação de preços: com a crise, despoletou-se também o
mecanismo de aproveitamento e oportunismo comercial, levada a cabo
pelos comerciantes, fornecedores, revendedores, grossistas e retalhistas
com vista a obtenção do lucro fácil devido a escassez dos bens e serviços.
A especulação dos preços por agentes comerciais baseou-se, segundo
eles, na justificação da dificuldade do acesso aos cambiais por via oficial
bancária, sendo o mercado paralelo o único recurso e fonte para a
aquisição das moedas, e por outro lado, devido às dificuldades de
importação. Muitos preços chegaram a ultrapassar os 100% do valor tido
como normal.
1.4.5 Depreciação salarial: mesmo que o Executivo não tenha feito a redução
oficial dos salários, a força do aumento exponencial da inflação e a
escassez de produtos da cesta básica, provocaram a derrocada do poder
de compra dos consumidores. Consequência principal reflectiu-se na
dificuldade de poupança e na manutenção do salário para realização de
despesas preponderantemente alimentares.
Aumento das taxas de serviços básicos: verificou-se o agravamento das
taxas dos serviços de água, luz, gás, telecomunicações e transportes, que
passaram a ser suportados pelos consumidores, constituindo assim para
estes, um verdadeiro sufoco nas suas balanças de pagamentos
familiares.
1.4.6 Ensino privado e público: deu-se o aumento das taxas de propinas no
ensino privado e público, causando consequentemente, desistências e
abandono escolar. As escolas privadas com base na justificação da

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elevação geral do custo de vida causado pela crise, subiram
especulativamente os preços das propinas com aumento até 200%.
Hoje, por exemplo, em Luanda, dos reajustes feitos às taxas de propinas,
o preço mínimo mensal ronda entre os 28.000 kwanzas (cerca de 43,41
USD câmbio actual). Assim, as propinas que há cinco anos para cá
custavam 12.000 kz (18,60 USD), no ano lectivo 2018 passaram a custar
18.000 Kz (27,91 USD) na quinta região académica, afecta à
Universidade José Eduardo dos Santos.
1.4.7 Telecomunicações: pela sua finalidade, as telecomunicações têm uma
importância fundamental devido ao papel que eles desempenham
concretamente na coesão social e na garantia da qualidade de vida das
populações. Os contratos de prestação de serviços de telecomunicações
não ficaram poupados do impacto da crise. Tal facto, obrigou as
operadoras, a procederem à modificação dos preços ou das tarifas
praticadas anteriormente, com base na justificação da desvalorização da
moeda nacional, escassez de divisas e aumento dos custos operativos,
de modos a se ajustar as tarifas ao contexto económico em que se vive
no país. Assim, o Instituto Angolano das Comunicações (INACOM),
decidiu alterar a Unidade de Tarifa de Telecomunicação (UTT) de 7,2
kwanzas (0.03 cêntimos) por cada 1 UTT, para 10 kwanzas (0,04
cêntimos), ou seja, 2,8 Kzs mais caro para o cliente, tarifa que passou a
ser aplicada aos consumidores angolanos pelas operadoras da rede
móvel e fixa”, sendo que, por exemplo, o cartão de 125 UTT´s que custava
900 kwanzas (cerca de 1,40 USD ao câmbio actual) passou a custar 1250
kwanzas (cerca de 1,94 USD), com a particularidade da flutuação do
câmbio. Isso deixou os consumidores (clientes) numa posição de extrema
fragilidade e de um imponente sacrifício.
1.4.8 Transportes: em termos gerais, o transporte ocupou, ocupa e ocupará
nas nossas vidas (pessoal e social), um lugar marcadamente distinto. A
distinção encontra-se, indubitavelmente, pelo seu carácter essencial à
vida da colectividade. Ademais, o fenómeno da globalização tem, de
algum modo, justificado aquela essencialidade, permitindo as
deslocações das pessoas e bens de um lugar para outro, graças aos

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transportes. Hoje, “independentemente das migrações por razões
económicas, sociais ou pessoais, as pessoas viajam em negócios, em
estudos ou em lazer. Todo o dia-a-dia depende de uma rede de
transportes em perfeito e permanente funcionamento, em incontável
miríade de actos jurídicos especializados, a tanto destinados”.
1.4.9 Aviação civil: No campo da aviação, com a escassez de divisas, a
companhia Àrabe Fly Emirates, pós fim (extinguiu) o contrato celebrado
com o Ministério dos Transportes e o Conselho de Administração da
TAAG, por dificuldades de repatriamento de capitais (divisas). As demais
companhias aéreas comerciais, e não só, adoptaram a política da venda
dos bilhetes com a moeda do país do ponto de partida. Por exemplo, são
os casos da TAP e TAAG, que antes da crise aceitavam a compra do
bilhete em Angola e Portugal em kwanza, mesmo que o ponto de partida
seja diferente. Mas a crise veio mudar tudo e até agravar os preços à
medida da flutuação das taxas de câmbios.
1.4.10 Concretamente, a TAAG (companhia aérea nacional) foi obrigada
também a proceder a actualização dos preços dos seus serviços, à
medida da oscilação das taxas de câmbios, por um lado, e alegando, por
outro lado, a manutenção dos custos operativos. Tanto nas viagens ou
rotas a nível nacional como internacionais, os preços estão,
tendencialmente cada vez mais a subir e a sofrerem revisões. Por força
do impacto da crise, o Conselho de Administração da TAAG foi obrigado
a cancelar determinadas rotas tidas como não rentáveis e reforçar com
meios aéreos, aquelas que mais garantiam retornos/lucros à empresa
pública.

CAPITULO 2
Página | 19
2 A REFORMA TRIBUTÁRIA EM ANGOLA
Esta reforma tem vindo a ser apontada como uma medida
necessária para a captação de investimento e para o reforço do tecido
empresarial. Surge como consequência do forte impacto orçamental
provocado pela crise financeira tendo como consequência a redução do
preço e produção de petróleo, sendo esta necessidade ainda mais
agudizada pelo actual contexto de pandemia da COVID-19, o que motivou
a urgência de efectivar estas medidas.
Já dizia Oliver Wendell Holmes, um jurista americano:
“Os impostos são o preço que nós pagamos por uma sociedade
civilizada.”
 Deste modo a reforma tributária esperava-se ser amiga do investidor.
Mas nem tudo foram boas notícias para a atração de investimento
(sobretudo investimento estrangeiro).
Em relance, temos do lado das boas notícias:
 A redução de taxa do Imposto Industrial para a generalidade das
empresas de 30% para 25% (no caso de empresas petrolíferas de
50% para 35%);
 Aumento do prazo de reporte de prejuízos fiscais de 3 para 5 anos;
 Crédito de retenções na fonte e imposto provisório sem prazo de
reporte;
 Redução das coimas¹2;
 Aumento dos prazos de contencioso.
Más notícias:
 Aumento da taxa de retenção na fonte nos pagamentos ao estrangeiro
para 15%;
 Exclusão das diferenças de câmbio não realizadas para efeitos de
tributação vai resultar num aumento efectivo e imediato de tributação,
sem a garantia que essas perdas possam um dia materializar-se para
efeitos fiscais;
 Aumento da tributação efectiva em IRT.

2
Coima: É, a punição pelas infrações fiscais não criminais menos graves, e é, aplicada por órgãos
administrativos (pode depois passar para tribunal). O não pagamento pode implicar a penhora e venda
de bens do infrator.
Página | 20
Ao nível do Imposto Industrial (II), a principal novidade é a redução
da taxa geral de tributação de 30% para 25% para a generalidade das
empresas. Na verdade, para alguns sectores, a taxa nominal caiu de 15%
para 10% (atividades agrícolas, pecuárias, piscatórias, silvícolas entre
outras). 3 Contudo, a redução de taxa não foi para todos. Alguns sectores
saíram na verdade prejudicados. Foi o caso das empresas do sector
bancário e seguros e operadoras de telecomunicações em que a taxa
subiu dos actuais 30% para 35%.
Em especial para o tão controverso tratamento fiscal das diferenças
de câmbio não realizadas. O Governo decidiu acabar de uma vez por
todas com anos de controvérsia e litigância à volta deste tema. A questão
é se acabou bem ou mal. A partir de 2020, as perdas cambiais não
realizadas não são aceites como custo dedutível para efeitos de II4 e, de
forma simétrica, os ganhos cambiais não realizados ficam excluídos de
tributação. Esta medida vai penalizar fortemente as empresas ao não
permitir que reconheçam as perdas cambiais enquanto não conseguirem
pagar efectivamente aos seus credores, sendo que muitas vezes não
chega a ser possível materializar essas perdas pelo simples facto das
dívidas não poderem ser pagas por falta de divisas, resultando assim
numa dupla penalização para as empresas: não reconhecimento da perda
para efeitos fiscais e impossibilidade de pagar as dívidas por restrições
cambiais. Continuará a ser um tema de debate aceso.
Uma das medidas com maior impacto para investidores
estrangeiros, numa altura em que se pretende a todo o custo promover a
competitividade de Angola no plano internacional, foi o aumento da taxa
de retenção na fonte aplicável a serviços prestados por entidades não
residentes que sobe de 6.5% para 15%. Esta medida é um contra-senso
na estratégia de captação de investimento estrangeiro. Surgiu com o
intuito, compreensível, de dissuadir a contratação de serviços ao
estrangeiro em benefício da contratação de serviços locais. Contudo,

3
Uma nota também para as empresas petrolíferas em que a taxa desceu de 50%/65.75% para 35%.
4
Imposto Industrial
Página | 21
poderá não ter eficácia pelo simples facto do mercado doméstico não
dispor de muitas das competências técnicas contratadas ao estrangeiro.
Conclusão, as empresas continuarão a ver-se obrigadas a
contratar serviços estrangeiros, agora com um custo adicional.
Este aumento da taxa de retenção vai ser factor adicional de desincentivo
para os investidores estrangeiros que já têm as suas margens esmagadas
num mercado pressionado pela queda do preço do petróleo, adicionado
ao risco cambial associado à constante desvalorização do kwanza.
Na impossibilidade de aliviar as taxas de retenção para a generalidade
dos países que prestam serviços a Angola, espera-se maior agilidade e
celeridade na negociação e aprovação de novos acordos de dupla
tributação, pelo menos para proteger os investimentos daqueles países
considerados estratégicos para o relançamento da economia Angolana.
Assim a Autoridade Geral Tributária (AGT) depois de longos anos de
passividade, deixando os contribuintes quase que numa situação de “lesse fair,
lesse passe” fiscal, passou a desempenhar um papel mais activo na fiscalização
e cobrança dos impostos bem como na aplicação de multas pesadas às
empresas (especialmente) e aos demais contribuintes. Uma atitude de total
inflexibilidade para com os contribuintes.
Procedeu ainda em 2017, ao aumento das taxas de circulação com
implementação do Imposto sobre Veículos Motorizados (IVM), na ordem dos 22,
6%, por força da inflação, em comparação com o ano 2019, sem, no entanto, ter
em conta a capacidade económica dos contribuintes apesar do estado
degradante da malha rodoviária com justificações na incapacidade financeira do
Estado e no facto de, na óptica daquela instituição, seria a altura para proceder
a actualização e procedeu a alterações de vários pacotes legislativos fiscais.
2.1 Regime Jurídico das Facturas e Documentos Equivalentes
(RJFDE).
O Decreto Presidencial nº 292/18, de 3 de dezembro, introduziu novos
direitos e obrigações para “Grandes Contribuintes” visando a disciplina na
documentação de operações e combate à economia informal em todas as
transmissões de bens e prestações de serviços, efectuadas ou prestadas por
pessoas singulares ou colectivas com domicílio, sede, direcção efectiva ou

Página | 22
estabelecimento estável em Angola, como forma de comprovativo das
operações efectuadas.
Tais facturas ou documentos equivalentes deverão ser emitidos através
de programas informáticos certificados pela AGT que garantam a numeração
sequencial (anual) e cronológica dos documentos, contendo a designação
“Validado pela AGT”.
Na impossibilidade de emissão de factura por via electrónica, por
demonstrada inoperacionalidade do sistema, os contribuintes devem proceder à
emissão de facturas e documentos equivalentes impressos tipograficamente,
respeitando os requisitos descritos no decreto acima identificado ou emitidas
diretamente do portal do contribuinte oficial da AGT.
As facturas ou documentos equivalentes devem ser emitidas no momento
do pagamento ou até ao quinto dia útil subsequente à transmissão de bens ou à
prestação dos serviços.
As facturas ou documentos equivalentes emitidos em Angola devem
obrigatoriamente conter os seguintes elementos:
O nome, firma ou denominação social e a sede ou domicilio do fornecedor
de bens ou prestador de serviços e do destinatário ou adquirente, bem como os
seus números de identificação fiscal;
Numeração sequencial;
Discriminação dos bens ou serviços prestados, com indicação das
quantidades;
O preço final em moeda nacional (excepto as facturas que decorrem do
processo de importação e exportação);
Taxas de imposto aplicáveis e o montante de imposto devido;
Data em que os bens foram colocados à disposição do adquirente, em
que os serviços foram realizados, ou se foram efectuados pagamentos
anteriores à realização das operações, se a data não coincidir com a da emissão
da factura;
As facturas ou documento equivalentes devem ser emitidas
obrigatoriamente em Língua Portuguesa.
Outras Penalidades previstas no Código do IVA (Art. 70.º do CIVA)
consiste na falta ou atraso ao submeter eletronicamente qualquer declaração

Página | 23
fiscal ou documento eletrônico exigido, implica o pagamento de uma multa por
cada infracção independentemente da entrega de imposto AKZ 515.000,00
(Quinhentos Mil Kwanzas)
Os limites elevam-se para o dobro caso quando houver dolo e reduzem
para metade quando a infracção for regularizada nos 30 dias imediatos ao fim
do prazo legal; presume-se dolosa a falta de submissão de qualquer declaração
fiscal; a falta de liquidação bem como a falta de entrega do imposto é regulada
pelo Código Geral Tributário;
2.1.2 Arquivamento
Os contribuintes são obrigados a arquivar e conservar todas as facturas ou
documentos e equivalentes, e;
Registos relativos à análise, programação e execução dos tratamentos
informáticos.
Este arquivo são efectuados em território nacional Angolano durante um período
mínimo de até 5 anos .
2.2 CGT - Código Geral Tributário
Aprovada pela Lei n.º 21/20, de 9 de Julho, introduziu maior flexibilização
e simplificação dos procedimentos tributários, entrando em vigor no dia 09
de Julho de 2020, com novos prazos do procedimento tributário:
• Compensação de créditos e dívidas fiscais;
• Penalização para as principais transgressões tributárias;
• Prestação de informação bancárias em sede de procedimento
inspectivo;
• Introdução da norma anti-abuso e o pagamento espontâneo de
dívida tributária;
Mediante aprovação desta Lei nº 21/20, o governo flexibilizou a carga
fiscal dando aos contribuintes, o direito de reclamação do apuramento da
matéria colectável fixada por via de métodos indirectos, bem como o
direito de reclamação administrativa e interposição de Recurso
hierárquico.Quanto aos créditos tributários apenas podem ser utilizados
para a extinção da obrigação tributária em que o contribuinte é o titular do
encargo, excluindo assim todas as situações em que o contribuinte actue
enquanto substituto tributário situações de retenção na fonte).

Página | 24
A nova lei estende a obrigação tributária mediante compensação aos
tributos aduaneiros e consequentemente passou a ser possível a
compensação de créditos não tributários com dívidas tributárias.
Foi reduzida a multa pelo não pagamento de qualquer tributo dentro do
prazo legal de 35 % para 25% do tributo em falta e houve um aumento da
percentagem de redução da multa de 30% para 50% do montante
aplicável quando houver pagamento espontâneo por parte do infractor.
Passou a ser possível ter acesso às contas bancárias dos contribuintes,
por parte da Administração Geral Tributária, o qual prevê a comunicação
de contas bancárias no início da actividade ou havendo alteração desta,
e como se não bastasse, o CGT introduziu o conceito de acto (culpa) com
recurso a abuso de formas jurídicas. Acto que não é realizado por razões
económicas válidas que reflictam a substância da culpa. Consequência
da declaração de ineficácia e desconsideração para efeitos tributários,
efectuando se a tributação de acordo com as normas aplicáveis aos
negócios ou actos que correspondam à substancia ou realidade
económica.
2.3 Imposto do Selo (IS)
Com a aprovação da Lei 7/19 de 24 de abril, que introduziu o IVA em
Angola, foi também revogado a Lei do Imposto de Selo (IS)5 n.º 3- A /14, de 21
de Outubro), na verba 23.3 do Código do Imposto de Selo:
• Isenção de “Recibo de quitação pelo efectivo recebimento de
créditos resultantes do exercício da actividade comercial ou industrial, em
dinheiro ou em espécie, com excepção dos resultantes exclusivamente do

5
O Imposto do Selo incide sobre todos os actos, contratos, documentos, títulos, operações e outros factos
previstos na tabela anexa ao Código do Imposto do Selo, ou em leis especiais, ocorridos em território
nacional.
São, ainda, sujeitos a Imposto do Selo no País:
• Os documentos, actos ou contratos emitidos ou celebrados fora de Angola, nos mesmos termos
em que o seriam se no País fossem emitidos ou celebrados, caso no mesmo sejam apresentados
para quaisquer efeitos legais;
• As operações de crédito e as garantias prestadas no estrangeiro a quaisquer entidades com sede,
filial, sucursal ou estabelecimento estável em Angola;
• Os juros, as comissões e as contraprestações cobradas por entidades sedeadas no estrangeiro a
quaisquer entidades com sede, filial, sucursal ou estabelecimento estável em Angola;
• Os seguros efectuados no estrangeiro cujo risco tenha lugar em Angola.
Página | 25
arrendamento habitacional feito por pessoas singulares” quando o sujeito
passivo esteja abrangido pelo Regime Geral ou Transitório.
• Verbas n.º 16, 17, 21 e 22 do Código do Imposto de Selo6: Isenção
de Imposto de Selo para operações de financiamento, locação financeira,
seguros e resseguros que sejam sujeitas e não isentas de IVA, bem como
reporte sobre o valor do contrato se as operações forem sujeitas e não isentas
de IVA.
• A população deixou de pagar o Selo para averbamento ou
autenticação de documentos essenciais (certificados, cartas de condução,
requerimentos, contractos etc.).
• Pauta Aduaneira e dos Direitos de Importação e Exportação
(Decreto Legislativo Presidencial n.º 3/18, de 9 de Maio), na parte respeitante às
taxas aplicáveis ao Imposto de Consumo nasoperações aduaneiras e a;
• Verba n.º 15 do Código Imposto de Selo, sobre as operações aduaneiras
(Decreto Legislativo Presidencial n.º 3/14 de 21 de Outubro).
2.4 Imposto Industrial
Aprovada através da Lei n.º 19/14, de 22 de Outubro, sofreu alterações
significativas introduzidas pela Lei n.º 26/20, de 20 de Julho
Incidência
O Imposto Industrial (II) incide sobre os lucros obtidos no exercício de
qualquer actividade de natureza comercial ou industrial, ainda que acidental.
São considerados sempre de natureza comercial ou industrial:
 A actividade de exploração agrícola, aquícola, avícola, silvícola, pecuárias
e piscatórias;
 A actividade de mediação, agência ou de representação na realização de
contratos de qualquer natureza;

6
As verbas n.º 16, 17, 21 e 22, tributava as Letras, livranças, ordens e escritos de qualquer natureza, com
exclusão dos cheques, nos quais se determine pagamento ou entrega de dinheiro com clausulas à ordem
ou a disposição, ainda que sob a forma de correspondência sobre o respectivo valor, com o mínimo de
AKZ 100.
Os recibos de quitação pelo efectivo recebimento de créditos resultantes do exercício da actividade
comercial ou industrial, em dinheiro ou em espécie, com excepção dos resultantes exclusivamente do
arrendamento habitacional feito por pessoas singulares.
Página | 26
 O exercício de actividades reguladas pelas entidades de supervisão de
seguros e de jogos, pelo Banco Nacional de Angola e pela Comissão do
Mercado de Capitais;
 A actividade das sociedades cujo objecto consista na mera gestão de uma
carteira de imóveis, de participações sociais ou outros títulos;
 Actividades das fundações, fundos autónomos, cooperativas e
associações de beneficência;
 O exercício de profissões liberais no formato societário ou associativo.

As alterações introduzidas pela nova lei do Imposto Industrial, introduziu novos


regimes e obrigações declarativas para os contribuintes sendo:
1. Regime Simplificado aplicado aos contribuintes sujeitos ao Imposto
Industrial e que estejam abrangidos pelo regime de não sujeição do
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).
Os contribuintes sujeitos ao Regime Simplificado de Tributação devem
apresentar, anualmente, até ao último dia do mês de Abril, o Modelo de
Declaração Simplificada ou o livro de registo de compra e venda e
serviços prestados, podendo, a obrigação, ser cumprida na Repartição
Fiscal de domicílio ou por via da submissão electrónica, nos termos
regulamentares.
Os contribuintes do Regime Simplificado de Tributação que submetem
electronicamente as suas declarações fiscais passam a deduzir 10% (dez
por cento) das suas despesas administrativas relacionadas com a
aquisição de aplicativo informático, respectivas licenças e contratação de
contabilista.
2. Regime Geral inclui os contribuintes cuja matéria colectável é
determinada com base na declaração fiscal e demonstrações financeiras,
nos termos do CII, do Plano Geral de Contabilidade, Planos de Contas
das Instiuições Financeiras e Seguradoras, do Plano de Contas dos
Organismos de Investivemento Colectivo, das Sociedades Gestoras e
outros estabelecidos por legislação própria.
Os contribuintes do Regime Geral de Tributação submetem,
electronicamente, nos termos regulamentares, ou apresentam

Página | 27
anualmente, até ao último dia útil do mês de Maio, na Repartição Fiscal
de Domicílio, a Declaração Modelo 1 em duplicado.
A Declaração Modelo 1 deve ser entregue, obrigatoriamente, sob pena da
sua não recepção pela Repartição Fiscal, acompanhada da
Demonstração de Resultados por Natureza, Demonstração de Fluxo de
Caixa, Balanço, Balancete Razão e Balancete Geral Analítico, antes e
depois dos lançamentos de rectificação ou regularização e de apuramento
dos resultados do exercício e respectivos anexos, devidamente assinados
pelo contabilista responsável pela sua elaboração.
→ Isenções
Fica isentas do Imposto Industrial as companhias de navegação marítima
ou aéreas se, no país de nacionalidade, as companhias angolanas de igual
objecto social gozarem da mesma prerrogativa.

→Taxas
A taxa geral do Imposto Industrial caiu de 35% em 2014 para 25% em
2020.
Para os rendimentos provenientes de actividades exclusivamente
agrícolas, aquícolas, apícolas, avícolas, piscatórias, silvícolas e pecuárias, a
taxa única é de 10% (dez por cento).
Para os rendimentos provenientes de actividades do sector bancário e de
seguros, operadoras de telecomunicações e de empresas petrolíferas
angolanas, aplica-se a taxa única de 35% (trina e cinco por cento).

Prazo para Liquidação e Pagamento


A liquidação e pagamento provisório sobre as vendas dos contribuintes
enquadrados no Regime Geral, devem proceder à autoliquidação provisória e
pagamento do II, mediante a aplicação de uma taxa de 2% (dois por cento),
sobre o volume total das vendas dos primeiros seis meses do exercício, devendo
ser feito até ao último dia útil do mês de Agosto. O pagamento definitivo deve
ser feito até ao último dia útil do mês de Maio, e para os contribuintes

Página | 28
enquadrados no Regime Simplificado de Tributação até ao último dia útil do mês
de Abril de cada ano.
A matéria colectável, no âmbito de tributação aos contribuintes sem sede
estável ou representante legal em Angola, é constituída pelo valor global do
serviço prestado, excluídas as matérias-primas, peças ou materiais necessários
à prestação de serviço devidamente documentado e é aplicada a taxa de 15%.
A liquidação e o pagamento do imposto são da responsabilidade da pessoa
colectiva com sede, estabelecimento estável ou direcção efectiva em Angola,
que procede ao pagamento do serviço contratado, mediante retenção na fonte
do pagamento a taxa efectiva de 6,5%, devendo entregar o valor retido até ao
final do mês seguinte àquele a que respeite o pagamento, aos serviços
tributários.

Página | 29
CAPITULO 3
3. IVA – Imposto Sobre o Valor Acrescentado
- Procedimentos gerais para Implementação do IVA
O Executivo aprovou em 2011 pelo Decreto Presidencial n.º 50/11, de 15
de Março, as Linhas Gerais do Executivo Para a Reforma Tributária,
visando a melhoria do sistema tributário nacional com a alteração e
melhoria de vários diplomas legais, por forma a adapta-los à nova
realidade económica e social do País;
Dos ajustamentos efectuados a legislação fiscal, destacam-se dentre
outros operados no domínio do Imposto sobre o Consumo7,
nomeadamente, com a clarificação no que respeita a figurado sujeito
passivo, as obrigações de liquidação e pagamento, assim como a correcta
identificação do titular do encargo do imposto por via do mecanismo da
repercussão;
Apesar das alterações operadas, a prática tributária e as experiencias
vivenciadas revelaram a necessidade de novos ajustamentos, no sentido
de cumprir com a perspectiva do ponto 1.4.3. (prioridades de intervenção
no plano legislativo) das Linhas Gerais do Executivo Para a Reforma
Tributária, que previa que “a tributação do consumo, no âmbito da
reforma, far-se-ia essencialmente a partir da introdução ou evolução do
actual imposto de consumo para um imposto do tipo IVA, sem efeitos de
cascata e adequado à estrutura socioeconómica angolana”, devendo para
o efeito, a Administração Tributária deve dominar a lógica de
funcionamento deste imposto e colher experiências internacionais,
essencialmente em contextos sócio-económicos afins;
O contexto actual que Angola vive e as experiências internacionais
estudadas, aconselham a substituição do actual imposto de consumo, por
um imposto do tipo IVA baseado nas melhores práticas tributárias;

7
A matéria objecto do Regulamento do Imposto de Consumo, aprovado pelo Decreto Legislativo
Presidencial n.º 3-A/14, de 21 de Outubro, na Pauta Aduaneira e dos Direitos de Importação e Exportação,
aprovada pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º 3/18, de 9 de Maio, bem como no Código do Imposto
de Selo aprovado pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º 3/14, de 21 de Outubro, foram revogados com
a introdução da Lei 7/19 de 24 de abril.
Página | 30
Ademais, tendo em consideração as especificidades da indústria
petrolífera e uma vez que se trata de um sector de capital intensivo,
pretende-se adoptar em sede de Imposto sobre o Valor Acrescentado
aprovado um regime diferenciado para as companhias petrolíferas que
exerçam operações petrolíferas em Áreas de Concessões, aplicando-o
nos custos de pesquisa ou desenvolvimento, garantindo e
salvaguardando assim, a estabilidade e viabilidade económica dos
investimentos nessa fase;
Por outro lado, o Plano Intercalar do Executivo aprovado pelo Decreto
Presidencial n.º 258/17 de 27 de Outubro, em alinhamento com o Plano
de Desenvolvimento Nacional 2018 – 2022, contemplou, enquanto
instrumento orientador da gestão económica e social de Angola, um
conjunto de acções de curto prazo acometidas ao Ministério das
Finanças, dentre as quais se destaca a implementação do Imposto sobre
o Valor Acrescentado aprovado no Orçamento Geral do Estado de 2019;
A inclusão em um dos regimes tornou-se obrigatório para todos os
contribuintes a partir de 1 de Janeiro de 2021, nos termos do art. 3.º, n.º
4 do preâmbulo do CIVA.
Deste modo, o código do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), foi
aprovado no dia 24 de Abril de 2019, através da publicação da Lei n.º 7/19
que entrou em vigor no dia 01 de outubro de 2019, obrigando os
contribuintes cadastrados na repartição dos grandes contribuintes a
entrarem no regime geral de tributação do IVA (art 3.º, n.º 2, alíneas a) e
b) do preâmbulo do CIVA ) e opcionalmente os restantes contribuintes
que não estejam cadastrados na Repartição fiscal dos Grandes
Contribuintes mediante o cumprimento de determinados requisitos (Art.
3.º, n.º 3 do preâmbulo do CIVA).
A implementação do IVA trouxe consigo três regimes de tributação,
sendo:
Regime Geral: destinado aos sujeitos passivos cadastrados na
Repartição Fiscal dos Grandes Contribuintes e para os contribuintes que
no âmbito de suas atividades pratiquem operações de importação de
bens.

Página | 31
Regime Transitório - Tributação Simplificada: todos os sujeitos passivos
que: (Art 4.º do preâmbulo do CIVA) não estejam inscritos na Repartição
Fiscal dos Grandes Contribuintes, que não optaram pelo regime geral do
IVA com efeitos a 01.10.2019 e que tenham atingido no exercício anterior
um volume de negócios ou operações de importação superior, em
kwanzas, equivalente a 250.000 USD.
Sendo necessário efectuarem a actualização do cadastro no prazo de 30
dias para apresentação, por via electrónica, da Declaração de Início de
Actividade (“Modelo 6”) após a publicação da Lei n.º 17/19, de 13 de
Agosto que alterou a Lei nº 7/19 de 24 de abril.
O Cadastro dos sujeitos passivos inscritos na Repartição Fiscal dos
Grandes Contribuintes foi oficiosamente actualizado pela AGT.
Os sujeitos passivos que estão no Regime Transitório deviam actualizar
o cadastro para efeitos de IVA, através da submissão da correspondente
declaração de início de atividade e até o dia 1 de Janeiro de 2021 todos
os sujeitos passivos foram obrigados a manter seus cadastros
actualizados para efeitos de IVA.
Plurifásico – O IVA tributa todas as fases do circuito económico, mas
sem efeito cumulativo, sendo o seu pagamento fraccionado por todos os
intervenientes.
Neutralidade - É baseado no método subtrativo e do crédito do imposto,
assegurando o reembolso do crédito.
Princípio do destino - A tributação é feita no país do destino onde o bem
ou o serviço será consumido, evitando se a dupla tributação e promove a
competividade dos bens e serviços no mercado internacional.
Regime Transitório e principais impactos
Os contribuintes do Regime Transitório, foram obrigados a entregar
mensalmente, até ao último dia do mês seguinte, por transmissão
electrónica de dados, o mapa de fornecedores contendo todas operações
efectuadas no mês anterior (sempre que adquirissem bens e serviços a
sujeitos passivos do regime geral do imposto, bem como a prestadores
de serviços não residentes);

Página | 32
Conservação e arquivo dos documentos comprovativos das suas
aquisições (compras), bem como outros documentos comprovativos do
seu volume de negócios.
Apuramento e pagamento do imposto
No apuramento do IVA, os sujeitos passivos que estão abrangidos por
este regime (Transitório) procedem ao apuramento do imposto
trimestralmente nos meses de Abril, Julho, Outubro e Janeiro aplicando a
taxa de 3%, e o imposto deve ser calculado sobre o valor do volume de
negócios (vendas ou serviços prestados, que tenham sido efetivamente
pagos, com exceção das operações isentas de IVA) nos três meses
anteriores;
O pagamento e a submissão da declaração simplificada, efectuada
através de transmissão electrónica de dados, ocorre até ao último dia útil
do mês seguinte ao que respeitam as operações realizadas no trimestre.
Não é concedido reembolso do imposto suportado quando o montante da
dedução for superior ao imposto apurado. Nesse caso, o imposto que não
é possível deduzir transita para os períodos tributáveis seguintes até ao
final do período transitório, ou seja 31 de dezembro de 2020.

Incidência do IVA e facto gerador

O IVA é aplicável em todo o território nacional que compreende:


A extensão do espaço terrestre, as águas interiores e o mar territorial, o
espaço aéreo, o solo e o subsolo, o fundo marinho e os leitos
correspondentes, tal como se encontra definido no número 2 do artigo 3.º
da Constituição da República de Angola.

O IVA é cobrado quando estamos perante:


Transmissão de bens8 ou prestação de serviços9 e importação; no
território angolano, por um sujeito passivo registado para efeitos de IVA;

8
Em geral, transmissão de bens correspondente ao exercício do direito de propriedade. A entrega
material de bens ou transferência em execução de um contrato. A não devolução da mercadoria (bem)
num período de 180 dias constitui transmissão de bens.
9
Quando a prestação de serviços for efectuada por intervenção de um mandatário agindo em nome
próprio, este é, sucessivamente, adquirente e prestador do serviço (redébito de serviços). (Art 6.º, n.º 3,
da Lei 7/19 de 24 de abril do CIVA)
O pagamento de uma indemnização, sempre que seja efectuado a um sujeito passivo no âmbito de um
contrato de seguros, é tido como a contraprestação de uma prestação de serviços executada por esse
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No âmbito do exercício de uma actividade económica sujeita ao imposto.
Utilização de bens da empresa para uso próprio do seu titular, do pessoal
ou, em geral, a fins alheios à mesma e ainda em sectores de actividade isentos
quando, relativamente a esses bens ou aos elementos que os constituem, tenha
havido dedução total ou parcial do imposto; (Art 6.º, n.º 2, alínea a) da Lei 7/19
de 24 de abril do CIVA).
Exemplo: a empresa X adquiriu um computador para o exercício da sua
actividade e deduziu o IVA suportado. Caso ofereça esse computador ao
administrador, verificar-se-á uma transmissão de bens; caso empreste o
computador ao administrador, está a efetuar uma prestação de serviços. Em
ambos os casos deverá liquidar IVA.
Exemplo: um sujeito passivo que possui um hotel e o utiliza, com a
respetiva família, para se hospedar e realizar casamento de familiares,
traduzindo-se esta utilização numa operação assimilada a uma prestação de
serviços e, como tal, tributada.
Prestações de serviços efectuadas a título gratuito pela própria empresa
com vista às necessidades particulares do seu titular, do pessoal ou, em geral,
a fins alheios à mesma. (Art 6.º, n.º 2, alínea b) do CIVA)
Exclusão de Incidência
Não é considerada transmissão de bens:
A cessão a título oneroso ou gratuito do estabelecimento comercial, da
totalidade de um património ou de uma parte dele, que seja suscetível de
constituir um ramo de actividade independente. 10
Quando, em qualquer dos casos, o adquirente seja, ou venha a ser pelo
facto da aquisição, um sujeito passivo do imposto que pratiquem exclusivamente
operações que confiram o direito à dedução.

mesmo sujeito passivo. (Art 6.º, n.º 4, do CIVA)


10
(Art 5.º, n.º 6, do CIVA 7/19 de 24 de abril)
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CONCLUÃO
É um facto assente, que a crise económica que graça em Angola desde 2014,
causou um impacto muito forte nos cofres do Estado e nas empresas público ou
privados e em todos os seguimentos da vida da sociedade angolana.
Contudo o sector financeiro em Angola tem vindo a crescer de forma consolidada
nos últimos anos, assumindo-se como um dos motores do crescimento
económico do País. As instituições financeiras constituem um pilar essencial do
desenvolvimento nacional e, nessa qualidade, continuarão a contribuir, através
da contínua melhoria da qualidade dos serviços que prestam e da dinamização
da sua actividade, para o esperado aumento da receita tributária do Estado.
No âmbito do processo de Reforma Tributária, que se tem desenvolvido de forma
gradual ao longo dos últimos anos, com a introdução faseada de novas regras
ao nível dos vários impostos, foram publicados, desde o último trimestre de 2014
a Dezembro de 2020, novos Códigos fiscais,contendo regras com impacto muito
significativo para o sector financeiro.
Face a esta nova realidade, as instituições financeiras terão de adaptar-se o mais
rapidamente possível ao novo enquadramento tributário da sua actividade. Num
cenário de modernização das regras fiscais e de renovação da máquina
administrativa, espera-se acrescida assertividade por parte das autoridades
tributárias e cabe às instituições financeiras, enquanto grandes contribuintes de
referência no país, adaptarem-se ao novo enquadramento e contribuir
decisivamente para a construção do novo sistema fiscal angolano.
As matérias tributárias continuam a merecer, cada vez mais, um enorme
destaque na vida das empresas e a ter um papel central na evolução económica
do País, uma vez que hoje representam 3% do valor no orçamento geral do
Estado.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
https://dowbor.org/wp-content/uploads/2012/06/102859970-Crise-
Financeira-Mundial.pdf
https://www.plmj.com/xms/files/03_Novidades_legislativas/2021/01_janei
ro/NI_Colab_BCSA-PLMJ_Orcamento_Geral_do_Estado_para_2021.pdf
https://oncorporate.com/orcamentogeraldoestado2021/
https://agt.minfin.gov.ao/PortalAGT/#!/iva/legislacao
https://www.bna.ao/uploads/%7Bd78d18ef-27ec-48c8-ad1f-
c802c5b719cc%7D.pdf
www.bna.ao/uploads/{f695f340-799c-47a4-ba22-061f327ce7a2}.pdf
https://www.academia.edu/8020415/O_Papel_do_BNA_na_preven%C3
%A7%C3%A3o_do_Risco_de_Cr%C3%A9dito
_ António Vicente Marques, “Direito Fiscal Angolano Vol. I”
_ DIÁRIO DA REPÚBLICA Lei n.º 19_14 - Código de Imposto Industrial
_ Decreto Presidencial nº 194.20
_ Código Geral Tributário, Lei n.º 21-20
_ Decreto Executivo Conjunto nº 201-20 de 9 de Julho
_ Regulamento do reembolso IVA - Decreto Presidencial n.º 180-19, de
24 de Maio
_ Regime Juridico de Facturas e Documentos Equivalentes, DP-292-18-
de-3-de-Dezembro-RJFDE
_ Imposto Industrial, Lei-19.14-Artº-1-a-44
_ Lei n.º 42_20, de 31 de Dezembro - OGE 2021
_ Lei 312.18 de 21 de Dezembro REGIME DE SUBMISSÃO
ELECTRÓNICA
_ Código do IVA - Lei n.º 7-19, de 24 de Abril

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METODOLOGIAS
O trabalho foi desenvolvido com base numa pesquisa exploratória através
do desenvolvimento de um tema que hoje gera muita controvérsia e debates no
sistema financeiro mundial, em particular na economia angolana. A metodologia
de desenvolvimento deste trabalho é dividida em três etapas:
Etapa 1: Contextualização do fenómeno da crise em Angola tendo em
conta o impacto sobre as: empresas, sociedade, consumidores e sobre os
próprio Estado.
Etapa 2: A implementação da Reforma Tributária em Angola como motor
de arranque para requalificação dos órgãos fiscalizadores do Estado e do papel
das entidades jurídico comerciais, no cumprimento dos decretos e códigos
tributários, e;
Etapa 3: O impacto da implementação do IVA – Imposto sobre o Valor
Acrescentado em Angola.

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ANALISE E REFLEXÃO
O processo legislativo conducente à aprovação do novo quadro de
tributação, para além de resultar de imperativos constitucionais, decorre de
motivações políticas, económicas e sociais. Na verdade, com a aprovação da
Constituição de 2010, Angola inaugurou um novo paradigma para os objectivos
do sistema fiscal, deixando de ser um simples mecanismo de arrecadação de
receitas fiscais para o Estado, visando promover o crescimento económico, a
redistribuição do rendimento e da riqueza nacional, a atracção de investimentos,
bem como contribuir para a realização da justiça social e da estabilidade
financeira do Estado através da diversificação das suas fontes de receitas,
premissas que mais tarde, em 2014, tiveram acolhimento no plano
infraconstitucional, mais concretamente no Código Geral Tributário.
Com efeito impõe-se a criação de um moderno sistema fiscal adequado a
realidade econômica e social do país, permitindo concretização dos objetivos da
Constituição programática, bem como os desafios do desenvolvimento
socioeconômico.
No plano interno, diferente do contexto anterior, o da fase embrionária da
reforma tributária inaugurada com a criação do Projecto Executivo para a
Reforma Tributária -PERT em 2010, a actual fase da Reforma Estrutural do
Sistema Tributário Angolano tem como principal adversário o período tumultuoso
da crise em que a economia angolana se encontra, decorrente de um
emagrecimento substancial das receitas petrolíferas que conduziu o País a um
choque financeiro.
O efeito negativo da queda abrupta do preço do petróleo foi extensível a
toda a economia, provocando uma contracção da actividade económica, uma
redução da receita e da despesa pública, mas também uma redução da despesa
privada.
Esta situação conduziu a uma quebra do investimento público e a uma
diminuição da despesa pública, no entanto com algum desfasamento em relação
à quebra da receita, provocando défices orçamentais na ordem de 6% e um
aumento da dívida pública para 121% do Produto Interno Bruto de acordo com
o OGE 2020 revisto.
Estes desequilíbrios tiveram consequências ao nível do aumento
generalizado dos preços e da instabilidade cambial que se caracterizou por uma
redução significativa das Reservas Internacionais Líquidas (entre 2013 e 2017,
o país reduziu a cobertura de importações de 8 para 5 meses) e pela dificuldade
no acesso às divisas muitas empresas chegaram mesmo a encerrar as suas
actividades.
É neste ambiente em que se situa a actual Reforma Tributária.
O objectivo da optimização das receitas tributárias, sobretudo as do sector
não petrolífero, o alargamento da base tributária e a necessidade urgente de
redução da dívida pública impõem um desafio à reforma do sistema tributário.
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Como é sabido, as receitas fiscais crescem em correlação com o crescimento
nominal da actividade económica. Mas também as despesas crescem. O que
interessa é que a correlação seja maior na parte das receitas do que nas
despesas, e que o crescimento destas, sobretudo da sua parte corrente e
primária, seja inferior ao crescimento do PIB.
E, para tal, é necessário que o Estado flexibilize as taxas de tributação
nos diversos produtos, especialmente as taxas do IVA nos produtos associados
a cesta básica, no sentido de estimular maior consumo e consequentemente
arrecadar maior receitas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral desse trabalho foi desenvolver a partir de bases textuais
o tema sobre a crise financeira e a reforma tributária em Angola. Neste sentido
foi realizada uma revisão das áreas de descoberta de conhecimento fiscal e
financeiro, visando suportar as preposições do trabalho, bem como a sua
aplicação às situações em que os contribuintes assumem as consequências da
crise, por razões de ordem económica ou tributárias.
Ao longo deste trabalho surgiram várias informações e situações que não
foram desenvolvidas, pois tornariam este trabalho muito extenso. As principais
situações decorrem das alterações dos pacotes legislativos introduzidas pelo
Orçamento Geral do Estado para o ano 2021 cujo destaque recaí sobre a
importação e investimento privado.
Face a isso, facilmente chegamos a perceber o impacto grave que a crise
económica angolana, que surgiu em 2014, causou nas relações público estatal
e não só.
Facto é que, ela provocou a desvalorização abrupta da moeda, a inflação
gritante, a escassez de divisas, as limitações de importação, a perda dos postos
de trabalho, a falta de meios de pagamentos para prosseguir com a realização
das prestações e fazer face aos compromissos financeiros, a queda e o
agravamento abrupto dos preços das matérias-primas, o agravamento e
generalizou os inadimplementos das obrigações tributárias, especialmente as
alterações dos pacotes legislativos.
Causou a insolvência de devedores e falência das empresas, aumentou
o desemprego, impôs ainda um sacrifício elevado aos consumidores (famílias),
piorando a sua condição de parte mais fraca nas relações de consumo,
diminuindo, com efeito, o seu poder de compra.
Com base nestes elementos factuais, podemos concluir que a crise
económica e financeira angolana teve um grave impacto na introdução da
reforma tributária. Esse impacto pode muito bem, na base do juízo de
ponderabilidade, ter enquadramento no regime da alteração das circunstâncias.

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