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Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Adão André Manuel

Adão André Manuel O IMPACTO DO SETOR FINANCEIRO NO PROCESSO DE DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA DE ANGOLA
O IMPACTO DO SETOR FINANCEIRO
NO PROCESSO DE DIVERSIFICAÇÃO
DA ECONOMIA DE ANGOLA

UMinho|2022

setembro de 2022
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gestão

Adão André Manuel

O IMPACTO DO SETOR FINANCEIRO


NO PROCESSO DE DIVERSIFICAÇÃO
DA ECONOMIA DE ANGOLA

Dissertação de Mestrado
Mestrado em Economia Monetária, Bancária e Financeira

Trabalho efetuado sob orientação da


Professora Doutora Maria João Cabral Almeida Ribeiro
Thompson
e da
Professora Doutora Cristina Alexandra Oliveira Amado

setembro de 2022
DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR
TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas
as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e
direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo
indicada.

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RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição
CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

ii
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer ao Supremo Deus por dar-me forças e motivação nos momentos de
muitas contrariedades e vontade de desistir, fui acolhido no seu manto de luz divina para
continuar a trilhar o caminho académico e concluir o curso. Em seguida quero agradecer aos
meus pais Manuel Valente e Maria Sebastião André pelo amor, atenção e apoio incondicional
nos meus estudos. A minha gratidão especial para toda minha família, mesmo estando distante,
mas sempre a torcerem por mim almejando que tudo corra bem. Aos meus colegas da turma do
mestrado, Susana Braga, Tiago Loureiro, Alexandra, Kateline Sousa, Gislaine Pereira, Ana
Catarina, Sara Costa, obrigado pela colaboração e apoio.
A minha gratidão é extensiva a Professora Maria João pelas sábias orientações. Uma
palavra de apreço a Professora Cristina Amado, pela dedicação, sapiência e compromisso a
orientar, como se diz à boa maneira angolana “filha alheia nasceu mbora para a ciência” não há
palavras que traduzam a minha gratidão. O meu muito obrigado.

“O que vem da alma e do coração não


engana, o esforço sincero e a dedicação resultam em triunfo.”

iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e


confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou
falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do
Minho.

iv
O impacto do sector financeiro no processo de diversificação da economia de Angola

RESUMO

Esta dissertação debruça-se sobre o sistema financeiro e a diversificação económica em


Angola.
Analisou-se a relação entre o sistema financeiro e a diversificação da economia angolana,
efetuando-se uma resenha da evolução do sistema financeiro deste país, sua caracterização e as
etapas percorridas para atingir a modernização.
Recorreu-se a análise econométrica com aplicação empírica de modo a verificar a
contribuição das variáveis: preço do petróleo brent, crédito bancário cedido ao setor privado,
taxa de câmbio e inflação na diversificação económica expressa pelo indicador exportações de
bens e serviços em percentagem do PIB, no horizonte temporal de 1995 a 2020. Estimou-se o
modelo vetorial autorregressivo multivariado. Concluiu-se que houve efeitos positivos do
desenvolvimento do setor financeiro (crédito bancário fornecido ao setor privado) sobre a
diversificação económica em Angola.

Palavras-chave: diversificação económica, modelo de vetores autorregressivos, setor


financeiro.

v
The impact of the financial sector on Angolan economic diversification process

ABSTRACT

This dissertation focuses on the financial system and economic diversification in Angola.
The relationship between the financial system and the diversification of the Angolan
economy was analyzed, making a review of the evolution of the financial system in this country,
its characterization and the steps taken to achieve modernization.
An econometric analysis with empirical application was used in order to verify the
contribution of the variables: price of brent oil, bank credit granted to the private sector,
exchange rate and inflation in economic diversification expressed by the indicator exports of
goods and services as a percentage of GDP, in the time horizon from 1995 to 2020. The
multivariate autoregressive vector model was estimated. It was concluded that there were
positive effects of financial sector development (bank credit provided to the private sector) on
economic diversification in Angola.

Keywords: autoregressive vector model, economic diversification, financial sector.

vi
ÍNDICE

DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR


TERCEIROS ......................................................................................................................... ii

AGRADECIMENTOS ................................................................................................ iii

DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE..........................................................................iv

RESUMO ...................................................................................................................... v

ABSTRACT .................................................................................................................vi

ÍNDICE ...................................................................................................................... vii

ÍNDICE DE TABELAS................................................................................................. x

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................xi

LISTA DE ACRÓNIMOS .......................................................................................... xii

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONJUNTURAL .................... 4

1.1. Conceitos e Articulações do Sistema Financeiro .................................................. 4

1.2. Mercados Financeiros ......................................................................................... 5

1.2.1. Mercado de Capitais ........................................................................................ 5

1.2.2. Mercado de Crédito ......................................................................................... 6

1.2.3. Mercado de Câmbios ....................................................................................... 7

1.3. Génese e Desenvolvimento do Sistema Financeiro de Angola .............................. 7

1.4. Funcionamento do Sistema Financeiro de Angola ............................................... 9

1.5. Caraterização do Sistema Financeiro de Angola ............................................... 11

1.6. Evolução do Setor Bancário em Angola............................................................. 13

CAPÍTULO 2. O SISTEMA FINANCEIRO E O PROCESSO D E


DIVERSIFICAÇÃO ECONÓMICA DE ANGOLA ......................................................... 16

2.1. Contexto Económico-Financeiro ....................................................................... 16

2.2. Banco de Desenvolvimento de Angola, Impulsionador da Diversificação


Económica? ...................................................................................................................... 18

2.3. Potencialidades e Riquezas de Angola ............................................................... 19

vii
2.4. A Importância da Diversificação da Economia de Angola .................................. 21

2.5. Estratégias para acelerar a Diversificação Económica ........................................ 24

2.6. Características de Diversificação Económica ..................................................... 25

2.7. Indicadores de medição da diversificação económica ........................................ 25

2.8. Revisão da Literatura: Relação entre o sistema financeiro e a diversificação


económica ......................................................................................................................... 29

CAPÍTULO 3. APLICAÇÃO EMPÍRICA ............................................................... 34

3. Dados e Metodologia ........................................................................................... 34

3.1. Descrição dos Dados ......................................................................................... 34

3.2. Metodologia de estimação do modelo VAR ....................................................... 35

3.3. Identificação da ordem de integração das variáveis ............................................ 36

3.4. Testes de raízes unitárias ................................................................................... 37

3.4.1. Teste de Dickey – Fuller ................................................................................. 37

3.4.2. Teste de Dickey - Fuller Aumentado............................................................... 39

3.5. Teste de Estacionariedade.................................................................................. 40

3.6. Escolha do número de desfasamentos ................................................................ 40

3.7. Discussão dos resultados ................................................................................... 41

3.8. Estatísticas Descritivas ...................................................................................... 44

3.9. Teste de Raiz Unitária ....................................................................................... 45

3.10. Teste de KPSS................................................................................................ 45

3.11. Critério de Seleção da Ordem de desfasamentos ............................................ 46

3.12. Modelo Final - VAR (3) ................................................................................. 46

3.13. Testes Diagnóstico ......................................................................................... 49

3.15. Decomposição da Variância ........................................................................... 50

3.16. Funções impulso-resposta............................................................................... 50

3.17. Efeitos dos choques nas variáveis macroeconómicas....................................... 51

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 55

viii
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 57

ANEXOS .................................................................................................................... 63

ix
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Estatística Cambial ....................................................................................... 13


Tabela 2. Financiamento direto por Províncias (Reforço de Crédito) ............................ 18
Tabela 3. Estatísticas descritivas das variáveis ............................................................. 44
Tabela 4. Teste de ADF das variáveis .......................................................................... 44
Tabela 5. Teste de KPSS.............................................................................................. 45
Tabela 6. Critério de seleção da ordem de desfasamentos............................................. 45
Tabela 7. Modelo VAR (3) .......................................................................................... 47
Tabela 8. Diagnóstico dos modelos .............................................................................. 48
Tabela 9. Decomposição da Variância ......................................................................... 49
Tabela 10. Modelo VAR (1) ........................................................................................ 62
Tabela 11. Teste de Raiz Unitária – Iª Diferenciação .................................................... 62
Tabela 12. Teste de Raiz Unitária – IIª Diferenciação .................................................. 62
Tabela 13. Modelo VAR (2) ........................................................................................ 63

x
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Evolução do crédito á economia……………………………………………...11

Figura 2. Séries temporais das variáveis macroeconómicas .......................................... 42


Figura 3. Crédito Bancário Fornecido ao Setor Privado ............................................... 43
Figura 4. Funções impulso-resposta das variáveis do modelo VAR (3) ........................ 53

xi
LISTA DE ACRÓNIMOS

ABANC Associação de Bancos de Angola


ADF Dickey Fuller Aumentado
AIC Critério de Informação de Akaike
AMENE………………………………………………...Associação Nacional das Empresas
Metalúrgicas e Eletrónicos
ARSEG Agência Angolana de Resseguros
BNA Banco Nacional de Angola
BDA Banco de Desenvolvimento de Angola
BCA Banco Comercial Angolano
BCCA Banco de Crédito Comercial Angolano
BDA Banco de Desenvolvimento de Angola
BIU Banco Inter Unido
BFN Banco de Fomento Nacional
BNA Banco Nacional de Angola
BPSTM Banco Pinto Sotto-Maior
BTSA Banco Totta Standard de Angola
CCAP Caixa de Crédito Agropecuária
CEIC Centro de Estudo e Investigação Católica
CMC Comissão de Mercado de Capitais
ENSA……………………………………………….. Empresa Nacional de Seguros de Angola
FMI…………………………………………………. Fundo Monetário Internacional

INE Instituto Nacional de Estatística


HQ Hannah Quinn
PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PIB Produto Interno Bruto

SC Critério de Schwartz

INE Instituto Nacional de Estatística

PIB Produto Interno Bruto


OGE Orçamento Geral do Estado
KPMG Klynveld Peat Marwick Goerdeler
KPSS Kwiatkowski, Phillips, Schmidt e Shin

xii
INTRODUÇÃO

Apesar dos enormes desafios que Angola enfrenta para manter a estabilidade
macroeconómica e enveredar para um modelo de crescimento e desenvolvimento sustentável,
o atual cenário socioeconómico que o país tem vivido, com destaque para a gradual descida do
preço das matérias-primas, particularmente o barril de petróleo no mercado internacional como
consequência da crise pandémica do Coronavírus que afetou de forma geral, o mundo e Angola
em particular.
Este clima obrigou Angola a pautar por um modelo de diversificação económica, de modo
a potencializar os setores de atividade produtiva e diversificar as fontes de receitas para que o
país possa reentrar no caminho do crescimento e da prosperidade económica, afirmando-se
assim como uma das nações com nível de crescimento económico significativo no continente
Africano.
O reforço do controlo orçamental e uma gestão mais exigente das finanças permitiram ao
país dinamizar o investimento público e privado com vista a apoiar uma ampla e rápida
diversificação económica, bem como a criação de emprego com o objetivo de reduzir a pobreza
e a considerável vulnerabilidade de Angola aos choques externos. Os progressos registados nos
investimentos e na estrutura regulamentar financeira possibilitaram a rápida expansão do setor
financeiro, se bem que constrangimentos sistémicos no acesso ao crédito dificultaram
seriamente a eficiência da economia como um todo.
As reformas ocorridas depois de 2002 permitiram a modernização do sistema financeiro
e proporcionaram o aumento do número de bancos Angolanos e estrangeiros a operar no país
com diferentes serviços à disposição dos agentes económicos. Nas últimas décadas, o setor
financeiro revelou uma crescente evolução, o que permitiu ao país beneficiar de vários produtos
e serviços oriundos deste setor, embora as receitas fiscais provenientes das indústrias
petrolíferas continuem a ter maior peso no Produto Interno de Angola, dependendo este país
maioritariamente deste recurso (economia de enclave).
O objetivo da presente dissertação é analisar os efeitos do setor financeiro, através do seu
indicador de desenvolvimento crédito bancário fornecido ao setor privado em percentagem do
PIB, na diversificação económica. Especificamente pretende-se:

 Caraterizar o sistema financeiro Angolano, sua evolução e modernização;


 Analisar o estado da diversificação da economia de Angola no período em referência.

1
 Demonstrar através das funções impulso resposta a influência dos choques ocorridos
nas séries observadas.
É um estudo pertinente, dado que o setor financeiro Angolano experimentou excelente
crescimento e modernização. Este fenómeno teve pouca repercussão em outros setores de
atividade económica.
Relativamente a esta matéria, a literatura é muito escassa e incipiente, e este trabalho
aparece no intuito de contribuir com evidências empíricas para analisar os efeitos do setor
financeiro na diversificação da economia Angolana. Alguns estudos sugeriram que a
modernização financeira não aumenta o desempenho da diversificação económica na
componente das exportações de bens e serviços. É assim que Ortega et al. (2012) defende que
a relação entre setor financeiro e diversificação económica é conflituante. Na análise dos
principais motores da diversificação das exportações para o período de 1962 a 2000, estes
autores encontraram evidências relevantes que o desenvolvimento financeiro não aumenta a
diversificação das exportações. Por sua vez, Beck (2011) mostra que o sistema financeiro em
economias baseadas em recursos naturais (capturados pelas exportações de recursos para o PIB)
são menos desenvolvidos e os bancos são mais líquidos, mais bem capitalizados e lucrativos,
mas dão menos empréstimos às empresas. Uma vez que o crédito bancário ao setor privado é
deficiente nessas economias, obstaculiza o empreendedorismo e consequentemente a
diversificação económica. Usando regressões para indústrias de vários países, Rajan e Zingales
(1998) descobriram que a relação do setor financeiro e a diversificação com vista ao
crescimento é tão importante para economias baseadas em recursos quanto para outras, de modo
que o desinvestimento no setor financeiro terá repercussões negativas a longo prazo para o
crescimento económico. Por outro lado, Barajas et al. (2013) demonstraram que pode haver um
efeito diferencial de se considerar o painel em vez de regressões entre países com o
desenvolvimento financeiro, tendo um impacto menor se não negativo, no crescimento dos
países exportadores de petróleo. Especificamente, os autores descobriram que o impacto do
crescimento do setor bancário é mais fraco para os exportadores de petróleo e esta fraqueza
aumenta progressivamente na medida que o grau de dependência do setor petrolífero apresenta
tendências expansionistas. Adeola et al. (2017) evidenciaram que o desenvolvimento financeiro
tem efeitos positivos na diversificação económica, embora o efeito não seja estatisticamente
significativo. Os autores usaram os mínimos quadrados totalmente modificados e concluíram
que a inclusão financeira em termos de acesso e utilização financeira, o desenvolvimento do
capital humano e o investimento direto estrangeiro têm efeitos significativos na diversificação
da economia nigeriana.

2
O presente trabalho aparece com pertinência acrescida, uma vez que a economia
Angolana vem clamando há muitos anos pela aceleração da diversificação por forma a criar
amortecedores internos aos choques do preço do petróleo no mercado internacional e
consequentemente o investimento na agricultura, indústria, comércio e serviços para criar
riqueza e prosperidade. O setor financeiro aparece como intermediário na canalização dos
recursos para produção de bens e serviços. Tendo em consideração a importância deste setor na
diversificação e concomitantemente no crescimento da economia, torna-se oportuno um estudo
que se debruce sobre esta temática e que pretende dar resposta a seguinte questão: Qual é o
impacto do setor financeiro no processo de diversificação da economia de Angola?
A aplicação empírica sugere que o preço do petróleo brent no mercado internacional é a
variável determinante na conjuntura macroeconómica de Angola, tendo em conta os canais de
transmissão na componente fiscal, monetária e cambial.
Os resultados demostram que as variáveis, preço do petróleo brent em USD, taxa de
câmbio AOA/USD, crédito bancário fornecido ao setor privado em percentagem do PIB e a
inflação aos preços do consumidor explicam alterações ocorridas no indicador de diversificação
económica - exportações de bens e serviços em percentagem do PIB.
No que respeita à decomposição da variância, verificou-se que a alteração no indicador
de desenvolvimento financeiro é responsável por cerca de 63% da variação do indicador de
diversificação da economia de Angola, esta percentagem demonstra a relevância que os créditos
bancários fornecidos ao setor privado têm desempenhado na criação de projetos de
investimentos e por conseguinte na produção de bens e serviços na economia Angolana no
horizonte temporal de 2013 a 2020.

3
CAPÍTULO 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONJUNTURAL

Neste capítulo, abordamos a conceitualização do sistema financeiro, suas funções e o


papel dos mercados financeiros na diversificação económica, bem como os pensamentos de
alguns académicos que analisaram a relevância do sistema financeiro na alavancagem de
outros setores para diversificar a economia.

1.1. Conceitos e Articulações do Sistema Financeiro

O sistema financeiro deve ser visto de forma plural. Segundo Carvalho et al. (2007), o
sistema financeiro é composto pelo conjunto de mercados financeiros existentes em
determinada economia, pelas instituições financeiras participantes, suas inter-relações e pelas
regras de participação e intervenção do Estado nestas atividades. Silva et al. (2006)
escreveram que o sistema financeiro é composto por vários intermediários, dos quais fazem
parte o Banco Central, os bancos comerciais, corretoras de valores, fundos de investimentos,
bolsas de valores e companhias de seguros.
Mankiw (2014) define que o sistema financeiro é um grupo de instituições presentes na
economia que ajudam a promover o encontro dos aforradores com aquelas que investem. Por
outro lado, Samuelson (2012) argumenta que o sistema financeiro é um conjunto de instituições
e instrumentos que forma o sistema circulatório vital através do qual as decisões de poupanças
de um grupo de indivíduos e países são canalizadas para os investimentos de outras empresas
ou países.
O mundo real caracteriza-se pela presença de assimetria de informação e poder de
mercado, facto que dificulta a alocação eficiente dos recursos financeiros, caso haja um
intermediário financeiro entre depositante líquido e investidor. Lista-se em seguida algumas
funções do sistema financeiro, que lhe conferem a capacidade para promover a eficiência
alocadora dos recursos financeiros:
 Transferências de recursos no espaço e no tempo. Isto é, entre setores e regiões, as
quais permitem que os investimentos sejam aplicados nos seus usos mais produtivos;
 Gestão de Risco para a economia: dispersa o risco das pessoas ou setores que mais
precisam de reduzir os seus riscos, para outros que estão melhor habilitados a
suportar o risco;
 Função de Corretagem: facilita as transações entre pagadores e recebedores.

4
 Seleção e Monitorização de Empresas: seleciona e monitoriza as empresas que
possuem melhores propostas de investimento;
 Produção e Divulgação da Informação: funciona como um instrumento
extremamente importante quando se consolida uma transação, seja ela financeira ou
não. Logo, a existência de informação assimétrica causa desvantagem para a parte
que estiver menos informada.
O sistema financeiro tem um papel importante no crescimento das economias modernas,
onde a operacionalização da economia é feita pelo conjunto de instituições financeiras
voltadas para a gestão da política monetária do país, através de mercados específicos e para
concretização deste objetivo é necessário a existência de intermediários financeiros, para
mitigar os problemas decorrentes dos custos de transação e de informação, fatores que
influenciam nas decisões de poupanças e investimentos.

1.2. Mercados Financeiros

Nos mercados financeiros, os aforradores podem fornecer fundos diretamente aos


investidores (Mankiw, 2014). O mercado financeiro é o local de encontro entre a oferta e a
procura de fundos emprestáveis com elevado grau de liquidez, (Ferraz, 2005).
Como escreveu Stiglitz (1989), os mercados financeiros desempenham três funções
fundamentais em economia de mercado, a saber: (i) Seleção de projetos de investimentos;
(ii) Controlo do uso de recursos; (iii) Agregação de poupanças. Cada uma destas funções realiza
- se em contexto que prevaleça a informação assimétrica, onde os custos envolvidos na
realização das transações e no cumprimento dos contratos não são desprezíveis.
Os mercados financeiros em bom funcionamento são elementos essenciais na
rentabilidade financeira da economia, pelo que aumenta a eficiência económica e o bem-estar
social.

1.2.1. Mercado de Capitais

Ferraz (2005) esclarece que o mercado de capitais é o local de encontro entre a oferta e a
procura de fundos emprestáveis de médio e longo prazo (prazos de vencimentos superiores a
um ano). Oriel et al. (2010) definem que o mercado de capitais abrange as operações com
produtos como as obrigações, ações, títulos de participação.
Tal como Mishkin (2000) afirmou, o mercado de capitais possui instrumentos poderosos
para os investimentos, que são os títulos de dívidas e de ações com vencimentos de

5
mais de um ano. Eles têm flutuações de preços mais largos do que as dos instrumentos de
mercado monetário e são considerados investimentos com menos riscos.
De acordo com a Comissão de Mercados de Capitais de Angola (2013), mercado de
capitais é o local físico ou virtual onde os instrumentos de investimentos e cobertura de risco
são transacionados. Os principais tipos de investimentos transacionados no mercado de capitais
são: Instrumentos de capital próprio (ações), Instrumentos de mercado de crédito (obrigações,
hipotecas), Instrumentos derivados.
O mercado de capitais tem como objetivos principais: proteção da carteira de crédito,
oportunidade de investimento, liquidez de ativos, oportunidade de financiamento, atração de
capital externo, diversificação de negócio e produção de informação. Segundo a mesma fonte,
os mercados de capitais classificam-se quanto a fase de negociação; em mercado primário e
secundário.
a) Mercado Primário: Onde as ações, obrigações e outros instrumentos de capitais são
vendidos pela primeira vez para coleta de capitais de longo prazo. Neste mercado, o fluxo de
fundos vai sempre dos aforradores para os que necessitam de financiamentos (Governo,
Indústria e outras entidades) que os utilizam para modernização de fábricas, máquinas,
edifícios, expansão de negócios e para criação de novas unidades de negócios.
b) Mercado Secundário: Onde as compras e vendas de ativos previamente emitidas
têm lugar. As transações do mercado secundário são geralmente realizadas por via de bolsas
de valores e a principal qualidade deste mercado é a criação de liquidez não gerando massa
monetária por motivos inflacionários. Estes mercados são acompanhados pelos índices de
mercado que são indicadores de comportamento médio do mercado ou de um segmento
económico específico. Sendo assim, podemos afirmar que é o referencial que indica se o
mercado está em alta ou em baixa.

1.2.2. Mercado de Crédito

O mercado de crédito compreende todas as operações de financiamentos e empréstimos


de curto, médio e longo prazo para aquisição de bens de consumo corrente e duráveis, bem
como para o capital de giro das empresas e as instituições que operam neste mercado. Os bancos
especializados na concessão de créditos ao consumidor, no financiamento de bens duráveis, são
os bancos comerciais, bancos de investimentos (Samuelson e Nordahus, 2010).
De acordo com Matos (2002), o mercado de crédito é formado, basicamente, por agentes
superavitários, representados pelas instituições financeiras que oferecem créditos na economia

6
e por agentes económicos deficitários ou que necessitam de créditos. Os intermediários
financeiros têm maior número de informação sobre este mercado, porque realizam repetidas
operações de financiamento, ou seja, conhecem o mercado através da prática de estudos de
projetos e contratação de empréstimos.
Na mesma linha de pensamento, King e Levine (1997) e Matos (2002) enfatizaram que
os intermediários financeiros são capazes de reduzir a ineficiência do mercado de crédito,
porque possuem vantagem informacional ao adquirirem informações qualitativas, que não
estão disponíveis para o público, acerca dos projetos individuais, principalmente sobre as
empresas menos sólidas, mas com potencial de desenvolver produtos inovadores via crédito.
O mercado de crédito tem algumas características que influenciam o comportamento das
instituições ofertantes na alocação de recursos na economia, dessas características destacam-se
a composição da taxa de juros e a ocorrência de assimetria de informação. Neste sentido, quanto
maior o volume de créditos cedidos pelos bancos comerciais, mais eficiente o mercado de
créditos se torna, tendendo a aumentar a capacidade produtiva da economia.

1.2.3. Mercado de Câmbios

No mercado cambial, transaciona-se diferentes moedas, sendo a taxa de câmbio que é o


preço de determinada moeda em relação as outras moedas e é definida neste mercado. Os
mercados de câmbios têm terminologias específicas que são frequentemente confundidas,
porém as taxas de câmbio desempenham um papel preponderante no comércio internacional,
permitindo comparar os preços dos bens e serviços produzidos em diferentes países, sendo as
operações feitas no mercado cambial (Samuelson e Nordhaus, 2005).
Em conformidade, a depreciação da moeda de um país em relação às moedas estrangeiras
(uma elevação dos preços em moedas domésticas das moedas estrangeiras) torna as suas
exportações mais baratas e suas importações mais caras. Ocorre a apreciação quando acontece
o inverso. Os principais participantes do mercado de câmbios são os bancos centrais, os bancos
comerciais, as empresas que operam no comércio internacional e as companhias de seguros.

1.3. Génese e Desenvolvimento do Sistema Financeiro de Angola

Segundo o Ministério das Finanças de Angola (2015), com o alcance da independência,


Angola teve de estruturar um sistema fiscal com os recursos humanos, financeiros e materiais
de que dispunha. Deste modo, seria necessário criar uma plataforma financeira e monetária,
para que Angola fosse considerado país independente.

7
Com a criação da Lei 71-A/76, da moeda nacional, publicada em 11 de novembro de
1976, data da comemoração do primeiro aniversário da independência de Angola, obrigou à
reestruturação do orçamento geral do Estado, transformando-o em um instrumento de transição
financeira colonial para o sistema planificado, estabelecendo a construção da base material e
técnica do sistema socialista (Ministério das Finanças de Angola, 2015).
De acordo com a mesma fonte, ficou definido naquela época que o orçamento geral do
Estado seria o plano financeiro fundamental de formação e emprego dos recursos monetários
do Estado, regulamentado por meio de leis e decretos. Logo, o primeiro exercício de finanças
públicas de Angola foi suportado pelas receitas provenientes das unidades económicas estatais,
de empresas mistas, de cobrança dos impostos as empresas privadas, cooperativas e indivíduos.
A instalação do primeiro estabelecimento bancário em Angola remonta a 1865 e começou
a funcionar em agosto do mesmo ano, sendo uma sucursal do Banco Nacional Ultramarino de
Portugal, autorizado a instalar-se em Luanda, passando as notas emitida por este banco a
constituir a moeda nacional. Estavam lançadas as bases para o início do exercício da atividade
bancária em Angola (BNA, 2015).
Com a chegada da independência, em 1975, o sistema financeiro foi influenciado pelo
regime socialista que Angola adotou. Neste sistema vigorava o dirigismo económico,
centralizado no Estado, as atividades das instituições financeiras bancárias e não bancárias,
eram monopólio do Estado.
Para além do Banco Nacional de Angola, que era o Banco emissor e comercial, operavam
no território Angolano cinco bancos comerciais privados, nomeadamente Banco Comercial
Angolano (BCA), Banco de Crédito Comercial Angolano (BCCA), Banco Totta Standard de
Angola (BTSA), Banco Pinto&Sotto-Maior (BPSTM) e o Banco Inter Unido (BIU), quatro
instituições de créditos, nomeadamente Instituto de Crédito de Angola (ICRA), Banco de
Fomento Nacional (BFN), Caixa de Crédito Agropecuária (CCAP) e o Montepio de Angola.
Assim ficou estipulado que toda atividade financeira seria exclusivamente exercida pelas
instituições do Estado (Banco Nacional de Angola, Banco popular de Angola e a ENSA).
Em 1988, Angola implementou o programa de Saneamento Económico e Financeiro que
visava a dinamização da economia. Este programa atingiu o seu ponto mais alto em 1992 com
a liberalização dos preços e por conseguinte para a economia de mercado (Ministério das
Finanças, 2015).
Após a independência, destaca-se as mudanças ocorridas em três períodos distintos. O
primeiro período entre 1975 a 1987 economia planificada. No segundo período de 1987 a
1992, com a denominada transição, verificou-se o fim do modelo da economia centralizada, e

8
maior abertura à iniciativa privada. Destaca - se neste período, as primeiras negociações para a
integração de Angola nas instituições e organismos financeiros internacionais (Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial). O terceiro período tem como marco a
implantação da IIª República em 1992 e com a realização das primeiras eleições gerais (Peres,
2005).
Tendo em conta o contexto prevalente em cada período, o sistema financeiro foi-se
alterando de forma a desempenhar o seu papel em conformidade com as mudanças ocorridas
na economia Angolana.
Entretanto a lei que vigorava naquela altura, era a Lei nº5/91 de 20 de abril- Lei das
instituições financeiras. Foram introduzidos os primeiros instrumentos de política monetária,
nomeadamente as reservas obrigatórias e aumentadas as taxas de juros nos finais de 1991.
Com a transição para a economia de mercado, o BNA alterou a sua forma de funcionamento,
ficando responsável pela condução e execução da política monetária e cambial do país. Em
1999, foi decidida a extinção e liquidação da Caixa Agropecuária e Pesca (CAP) e, em maio
do mesmo ano, a autoridade monetária e cambial implementou um conjunto de medidas, com
o objetivo de estabilizar o mercado monetário, cambial e aumentar a competitividade entre os
bancos (BNA, 2015).
Atualmente e de acordo com a legislação em vigor, o sistema financeiro angolano está
constituído por várias instituições bancárias de capital Angolano e estrangeiro, as quais se
constituíram em bancos de direito Angolanos, bem como as instituições financeiras não
bancárias, nomeadamente as seguradoras, fundos pensões e casas de jogos.

1.4. Funcionamento do Sistema Financeiro de Angola

Segundo a Lei 12/15 (de 17 de junho, Iª série do Diário da República nº89), lei de base
das instituições financeiras, o sistema financeiro é composto por instituições financeiras
bancárias e não bancárias. A referida Lei no artigo 9º realça que a atividade de receber do
público, depósitos ou outros fundos reembolsáveis, para utilização por conta própria e exercer
a função de intermediário de liquidação de operações de pagamento, pode ser exercida apenas
pelas instituições financeiras bancárias.
De acordo com Silva et al. (2006), os bancos são representantes legítimos do sistema
financeiro, pelo facto de serem responsáveis por mais de 60% da fonte de financiamento das
empresas e outras entidades.
As instituições financeiras não bancárias, ligadas a moeda e crédito estão sujeitas a
jurisdição do Banco Nacional de Angola e as ligadas à atividade seguradora e previdência

9
social, estão sujeitas à jurisdição da Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros
(lei 12/15, art.7º).

1.5. Caraterização do Sistema Financeiro de Angola

O sistema financeiro vem sofrendo transformações estruturais que implicam uma maior
operacionalidade do sistema e também maior diversidade de produtos oferecidos, procurando
satisfazer os desafios de uma economia em transformação.
O sistema financeiro apresenta atualmente um nível de crescimento e sofisticação
considerável, longe daquele que vigorou nos anos 90. Vários fatores fundamentam essa
evolução, destacando-se dois fatores preponderantes, o primeiro de natureza política, deve-se
ao facto de o país ter conhecido a paz definitiva em 2002. O segundo de natureza económica
atendendo ao facto, de a partir 2003, a economia Angolana ter começado a apresentar sinais
visíveis de estabilização macroeconómica, a julgar pelos índices baixos de inflação e de
depreciação cambial (KPMG, 2014).
A atividade de crédito em Angola cresceu de forma significativa, com o stock de crédito
que expandiu a uma taxa de 42% por ano, desde 2006. Atingiu os 2,4 biliões de kwanzas em
2012, face a 0,3 biliões em 2006 (Figura 1). Apesar do aumento notável em volume, o peso do
crédito na economia estagnou a partir de 2009, com o rácio de crédito/PIB a oscilar entre os
20% e os 21%, após um período de crescimento médio de 37% por ano como se pode observar
na figura abaixo (acedível pelo website do BNA).
O tecido empresarial privado é o principal utilizador do crédito no país, representando
79% do crédito líquido de provisões. O crédito também está geograficamente concentrado em
três províncias, Luanda a representar 90% do stock do sistema financeiro, Huila e Benguela a
representar 2% cada, e o conjunto das restantes províncias, com 8% (CEIC, 2013).
Na distribuição do crédito por produto e a respetiva relação com os diferentes setores
económicos, existe uma grande predominância dos empréstimos bancários ao setor dos
serviços, que nos últimos três anos viram o seu peso aumentar 7% de 11% para 18% e hoje
representa a maior fatia do crédito à economia. O crédito ao setor do comércio representa a
segunda maior fatia (17%) (acedível pelo website do BNA).

10
Figura 1. Evolução do crédito à economia de 2006-2012

Fonte: Estudo de desenvolvimento equilibrado da função de crédito, BNA (2013)

Relativamente ao mercado cambial, a Tabela 1 espelha a crescente taxa de câmbio do


Kwanza, devido a escassez de divisas no mercado de câmbio, o kwanza depreciou 18,2% face
ao dólar. No último trimestre de 2009, verificou-se um ajustamento da cotação
Kwanzas/Dólares de 88,7 para 95,5 houve uma inversão na tendência da queda, a taxa de
câmbio estabilizou -se no patamar dos 89 kwanzas por dólar em dezembro do mesmo ano.
Entretanto, no ano seguinte a taxa de câmbio Kwanza/dólar fixou-se entre 92,4 e aos 100,4,
verificando uma depreciação de 4,3% do kwanza face ao dólar. Em 2011, a economia
Angolana observou a menor desvalorização do kwanza face ao dólar, relativamente a 2009 e
2010, com a estabilidade da moeda Angolana em 95,3 AOA/USD aproximadamente como
resultado da política cambial do BNA, financiada pela acumulação de reservas internacionais
líquidas. (Relat. ABANC, 2011).
No âmbito das reformas introduzidas no mercado cambial, o BNA criou em 2020 a
plataforma de negociação eletrónica FXGO da Bloomberg para acomodar os leilões de moedas
externas, para além dos bancos, as empresas petrolíferas e o Tesouro de Angola também foram
orientados a transacionar moedas estrangeiras na referida plataforma, pelo que a taxa de câmbio
de referência no mercado Angolano, passou a ser apurada na plataforma que comporta todas as
taxas negociadas pelos operadores (Relatório de Gestão e Contas – BDA, 2020).

11
Tabela 1. Estatística Cambial
2007 2008 2009 2010 2011
Taxa de Referência de Dólares
Compra 74,8 74,9 88,5 92,1 95,0
Venda 75,2 75,3 89,0 92,6 95,5
Média 75,0 75,1 88,7 92,4 95,3
Taxa de Câmbio de Compra e Venda
Referência 75,0 75,1 88,7 92,4 95,3
Informal 76,0 75,3 95,5 100,4 100,4
Depreciação ( %)
Referência -6,5 0,4 18,2 4,3 2,9
Informal -16,3 -11,3 3,7 -9,5 -7,7

Fonte: Associação Angolana de Bancos, dados do BNA (2012)

Até ao final de 2020, exerciam atividades bancárias no sistema financeiro Angolano 26


(vinte e seis) instituições financeiras bancárias, sendo 3 (três) bancos públicos, 17 (dezassete)
bancos privados Angolanos, 5 (cinco) filiais de bancos estrangeiros e uma sucursal;
relativamente as instituições financeiras não bancárias encontram se a operar em Angola, 105 (
cento e cinco), sendo 63 (sessenta e três) casas de câmbios, das quais 47 (quarenta e sete) casas
de câmbios com serviços de remessas, 26 (vinte e seis) sociedades de microcréditos, 15 (quinze)
sociedades prestadoras de serviços de pagamentos e 1 (uma) sociedade cooperativa de crédito
(Relatório de Estabilidade financeira - BNA, 2020).

1.6. Evolução do Setor Bancário em Angola

O setor Bancário é indiscutivelmente um dos pilares do processo de diversificação e do


crescimento da economia. Para o efeito, a autoridade monetária e financeira tem salvaguardado
conjuntos de medidas com objetivos de garantir a segurança, solidez e a estabilidade do sistema
bancário.
De acordo com o Departamento de Supervisão de Instituições Financeiras do BNA
(2011), apesar da tendência de crescimento do número de instituições bancárias em Angola, a
elevada concentração do setor continua a ser uma realidade com cinco instituições a deter 80%
dos totais dos ativos (BFA, BPC, BIC, BAI e o BCI). Porém verifica-se, de forma gradual uma
perda de quota de mercado destas cinco instituições, o que indicia uma maior competitividade
no setor.

12
O forte crescimento do setor bancário, bem como a inovação tecnológica que se tem
verificado na prestação dos serviços, proporcionou benefícios adicionais à banca Angolana e
permitiu a segmentação das instituições bancárias em grupos, sendo que estão classificados em
quatro grupos, a saber: Bancos Comerciais, Bancos Regionais, Bancos de Desenvolvimento e
Investimentos e Bancos Especialistas ou de Nicho. Com a evolução tecnológica e forte
investimento nas tecnologias de informação e comunicação, a banca Angolana diversificou os
seus canais de distribuição. Portanto, conta com uma significativa rede de balcões espalhada
por todo país, postos de atendimentos, centros de empresas e de investimentos, multicaixas
(multibancos), terminais de pagamentos automáticos, internet banking e ainda mobile banking
(KPMG, 2014) b.
Ao nível da cobertura geográfica de agências das instituições financeiras bancárias, pelo
território Angolano até ao final de 2020, o sistema bancário estava composto por 1.567 agências
e dependências bancárias pelo que se observou uma maior concentração nas províncias do
litoral, nomeadamente Luanda e Benguela, com 55,11%, e 8,13% (Relatório de estabilidade
Financeira- BNA, 2020).
Segundo a mesma fonte, os ativos do setor bancário no ano em referência, estava
avaliado em kz 18,36 biliões, um crescimento nominal de 17,38% face ao período homólogo
de 2019, com destaque para os fluxos das aplicações dos instrumentos de dívidas públicas
(Títulos de Tesouro Nacional), mas em termos reais apresentou um aumento mais ténue de
5,02%. Porém o volume dos ativos da banca no final de 2020 representava 72,90% sobre o
PIB não petrolífero e 54,65% sobre o PIB total. O mesmo documento realça que nos últimos
cinco anos, os ativos do setor bancário apresentou uma tendência expansionista, assente
essencialmente nas aplicações dos títulos de dívida pública, o incremento das aplicações em
títulos e valores imobiliários, cujo valor cifrou em cerca de 1.756,77 mil milhões de kwanzas,
correspondendo a 34,40%, permanecendo como a maior rubrica dos ativos da banca, cuja
liderança foi de 37,40%, seguido pela caixa e disponibilidades e pelo crédito que
representavam 16,87% e 16,38%, respetivamente.
A concentração dos ativos do sistema bancário Angolano permaneceu quase inalterado
nos últimos 5 anos exceto para os bancos privados Angolanos, que registaram uma expansão
dos ativos de 137,96% face a 2015, justificada pelo efeito combinado do surgimento de novos
bancos no mercado bem como a melhoria da performance dos demais bancos deste nicho, com
maior tempo de permanência no mercado atingindo no final de 2020 uma quota de mercado do
total dos ativos de 70,89%, seguido pelo segmento dos bancos públicos com 18,35% e pelas
filiais de bancos privados estrangeiros que cobriram 10, 43% do total. O volume dos
ativos
13
continua concentrado em 5 bancos que representam 66, 7% do total dos ativos do sistema, contra
65,46% em 2015, conforme mencionei acima (Relatório de Estabilidade Financeira- BNA,
2020).

14
CAPÍTULO 2. O SISTEMA FINANCEIRO E O PROCESSO DE
DIVERSIFICAÇÃO ECONÓMICA DE ANGOLA

Neste capítulo, foi analisada às potencialidades dos recursos naturais de Angola, a


missão do Banco de Desenvolvimento de Angola e a capacidade para impulsionar a
diversificação da economia Angolana, posteriormente revisamos a literatura sobre a relação
entre o sistema financeiro e a diversificação económica, abordando alguns autores no tocante
a diversificação, crescimento e desenvolvimento económico e por último revemos sobre os
indicadores de diversificação económica.

2.1. Contexto Económico-Financeiro

Após o conflito armado, que culminou com o memorando de entendimento rubricado em


4 de abril de 2002, havia necessidade de reconstrução do país, Angola não dispunha de recursos
financeiro para a concretização desse desiderato. O governo de Angola, elaborou programas de
reconstrução das infraestruturas destruídas pela guerra e para executá-las, manifestou interesse
em realizar conferência de doadores e foi recusado pelos países da comunidade internacional,
alegando que Angola possuía recursos financeiros para suportar as despesas de reconstrução.
Entretanto, Angola recorreu ao financiamento das Instituições internacionais,
nomeadamente Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial; essas instituições
remeteram ao governo de Angola pacotes de exigências. O contexto económico e social da
época não permitiu anuir, foi então que optou por encetar contactos com a China, que aceitou
prontamente em financiar a reconstrução das infraestruturas destruídas pela guerra (Mercado,
2015).
Segundo a fonte, a linha de crédito da China à Angola em 2002 foi de 5,2 mil milhões de
dólares que financiou 155 projetos, executados por empresas chinesas e criou cerca de 365 mil
empregos. Em 2004, o EX- IM BANK da China cedeu outro financiamento de 4,5 mil
milhões de dólares, juntando-se aos créditos atribuídos por Brasil, Espanha e a Alemanha que
permitiu reconstruir as infraestruturas destruídas pela guerra, bem como construir novas
estruturas.
A estabilidade macroeconómica e a desaceleração dos elevados níveis de inflação e o
crescimento acentuado do produto interno bruto (PIB), com valores nunca registados em
Angola, veio alterar a realidade do país e em particular do setor financeiro. O período
compreendido de 2002 e 2007 foi o de mais elevada taxas do crescimento do PIB no país
(Relatório económico- CEIC, 2012).

15
Os primeiros resultados positivos de um programa de estabilidade macroeconómica
concebido pela equipa económica do governo depois de 1999 (taxa de inflação no início da
nova política de recuperação dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais, era de 105,6%
em 2002 e 2008 estabeleceu-se em 13,2%). Estes sucessos foram estimulados e ajudados, pela
expansão das receitas fiscais (4,5 mil milhões de dólares em 2002 e 42,4 mil milhões de
dólares em 2008), o preço do barril de petróleo apresentou um comportamento sempre
ascendente ao longo do período, tendo atingido, em 2008, o valor de 137 dólar por barril.
Preço médio entre 2002 e 2008 foi de 52.6 dólar por barril (Relatório Económico-CEIC, 2012).
É de salientar o envolvimento do FMI como estabilizador, através do programa do Acordo
de Stand-By aprovado em 2009, via reforçar a disciplina orçamental e monetária, reformar o
sistema de taxa de câmbio, melhorar a gestão financeira do Estado Angolano, juntamente com
outras medidas e o crescimento económico, permitiu a criação de um sistema bancário robusto
e encorajou maior transparência orçamental. Tendo finalizado em fevereiro de 2011, Angola
consolidou uma posição macroeconómica mais estável, atribuindo uma maior confiabilidade as
políticas económicas nos investidores estrangeiros, embora ainda havia e há desafios a
ultrapassar, nomeadamente na gestão das finanças públicas e na redução da pobreza e
desemprego (Relatório Anual- ABANC, 2011).
No período de 2002 a 2008, Angola foi identificado como uma das economias que mais
cresceu no mundo e passou a ser um dos países mais procurados pelos investimentos direto
estrangeiro (Relatório The Economist Intelligence Unit, julho de 2012).
Com a propagação da Covid 19, observou se uma contração da estabilidade
macroeconómica e que afetou gravemente os principais indicadores económicos e sociais. Face
à situação vigente, Angola decidiu criar amortecedores económicos para minimizar os efeitos
negativos da crise pandémica sobre o nível de produção, distribuição e consumo,
nomeadamente a manutenção da taxa de redesconto, redução da taxa de juro de facilidade
permanente de absorção de liquidez com maturidade de sete dias, e manutenção dos coeficientes
das reservas obrigatórias (BNA, 2020). Na mesma linha de pensamento, foi criado e está em
execução o Plano Integrado de Intervenções nos Municípios (PIIM), que visa a criação de
infraestruturas sociais para dinamizar a economia e contribuir positivamente no processo de
diversificação da economia.

16
2.2. Banco de Desenvolvimento de Angola, Impulsionador da Diversificação
Económica?

Como a oferta de crédito ao setor privado ainda é inferior a 30% do PIB, e com um setor
produtivo que ainda não contribui significativamente para o crescimento do PIB, impõem-se a
necessidade de diversificar a base económica, induzindo o crescimento do setor não petrolífero,
e foi neste âmbito que nasceu o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).
Em países com economias desestruturadas (infraestruturas deficientes), as análises
financeiras do setor público são feitas pelo Banco de Desenvolvimento e são maximizadas
durante os períodos de recessão nos ciclos económicos, como o que tivemos agora, em virtude
da queda do preço do barril de petróleo bruto no mercado internacional, devido à crise
pandémica do Covid 19. Mas em Angola particularmente, onde se vive o período de início do
crédito ao investimento, o BDA tem uma presença significativa na oferta de crédito ao
Investimento produtivo e tal presença reforça-se nessas circunstâncias em que outras
instituições financeiras tendem a decrescer.
À luz do Decreto Presidencial nº 37/06 de 7 de junho, foi criado o Banco de
Desenvolvimento de Angola em substituição do Fundo de Desenvolvimento Económico e
Social (FDES). O Banco de Desenvolvimento de Angola é uma instituição financeira pública,
com objetivo de apoiar o crescimento económico sustentado, constituindo um instrumento
privilegiado para o financiamento do desenvolvimento da economia Angolana em conexão com
o programa de Desenvolvimento Económico e Social de Angola e da estratégia Angolana de
desenvolvimento de longo prazo.
De acordo com o referido decreto, o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) foi
criado com intuito de prestar assistência técnica e financeira aos projetos de desenvolvimento
da produção de milho, algodão e materiais de construção e, mais tarde, aos setores da pecuária,
avicultura, hotelaria, produção de cereais, exploração de madeira e de mel.
Em 2015, o BDA através do canal direto financiou projetos inseridos nos diversos setores
da atividade económica, tendo aprovado créditos no valor de kz 9.259,65 milhões; (Relatório e
Contas do BDA, 2015) relativamente a 2014 observou-se a concessão de crédito de kz 7.611,91
milhões, repartidos em 7.572,97 milhões para operações diretas e 38,94 milhões para o crédito
agrícola de investimento em 2016, assistimos uma expansão do crédito no valor de kz 28.
970,14 milhões face aos kz 40.073, 31 milhões do período homólogo de 2017 (Relatório e
Contas BDA, 2017). No âmbito das operações indiretas, o governo aprovou sob proposta do
BDA quatro linhas de crédito num valor total de kz 12.555, 43 milhões em 2018, face aos kz
147.654 milhões registado em 2019 (Relatório e Contas, 2019) para atender às necessidades de

17
financiamento das pequenas e médias empresas enquadradas nos domínios da agricultura,
pecuária, pescas, comércio, serviços, indústria e infraestruturas (Tabela 2).
Os projetos aprovados em 2020, apresentam a composição por linhas e programas de
financiamento, ou seja, 14 projetos no montante de kz 47,473 milhões enquadrados no
programa de financiamento do BDA, 2 projetos no montante de kz 335 milhões enquadrados
no projeto de Apoio ao Crédito (PAC), 414 projetos no montante de kz 38.148 milhões,
enquadrados na linha de crédito para o Alívio Económico da crise pandémica da COVID-19 e
4 projetos, no montante de kz 106.426 milhões enquadrados na linha de crédito do Deutsche
Bank (Relatório e Conta - BDA, 2020).
O Banco de Desenvolvimento de Angola, foi criado fundamentalmente para apoiar o
crescimento económico sustentado do país, centrando-se basicamente no estímulo à iniciativa
privada, mediante a dotação de bens e equipamentos via crédito, capacitação e o acesso a novas
tecnologias necessárias para a atividade produtiva das pequenas, médias e grandes empresas.

Tabela 2. Financiamento direto por Províncias (Reforço de Crédito).


Províncias 2015 2014 Variação (%)
Projetos Montantes Projetos Montantes Projetos Montantes
Bengo - - 2 224.837.510 - -
Benguela - - 1 784.901.187 - -
Huambo - 749.066.810 1 1.218.227.977 - -39%
Huila - - 1 1.153.735.451 - -
Kwanza Sul - - 21 3.022.058.025 - -
Luanda 1 8.510.583.033 1 713.737.485 0% 92%
Malange - - 1 327.654.208 - -
Se se se Se Se Se se
Total 1 9.259.649.843 28 7.572.968.043 - 53%

Fonte: Relatório de Gestão e Contas do BDA, 2014.

2.3. Potencialidades e Riquezas de Angola

Angola situa-se na África Austral, ocupando uma área de 1.246.700 Km2, com uma
população estimada em cerca de 32 milhões de habitantes e maioritariamente jovem. A sua
costa ocidental é banhada pelo oceano atlântico, com uma extensão de 1.650 Km, a fauna
marítima é muito rica, encontram-se variedades de peixes e mariscos.

18
Há no país uma diversidade climática que resulta num riquíssimo e variado património
natural. Apresenta cinco tipos de zonas naturais, nomeadamente a floresta do Maiombe
(Cabinda), que contém as mais raras madeiras do mundo. As savanas, normalmente associadas
as matas, como é o caso das províncias da Lunda – Norte e Lunda – Sul, as savanas secas, com
árvores ou arbustos, em Luanda, baixa de Kassanje (província de Malanje) e também em
algumas áreas das Lundas. Existe ainda zona desértica, que ocupa uma estreita faixa costeira
no extremo sul do país, onde se pode encontrar, no deserto do Namibe, uma espécie vegetal
única e endémica no mundo que caracteriza o país; a Welwitschia Mirabilis.
Relativamente à fauna, predominam variedades de animais em diferentes zonas do país
com destaque para a palanca negra gigante, um antílope raro no mundo, que se situa em
Cangandala, província de Malanje. Quanto às potencialidades hidrográficas, existe
naturalmente uma relação estreita entre o relevo e as características hidrográficas, a maior parte
dos rios de Angola correm a partir das zonas planálticas e de montanhas marginais localizadas
no centro e sul do país, e assinalamos os quatro principais rios (Cubango, Cunene, Zaire e o
Kwanza que é o maior e mais importante do país, com uma extensão de cerca de 1. 000 Km,
sendo apenas 240 Km destes navegáveis e dá o nome a moeda nacional), no afluente do
Kwanza, encontramos o rio Lucala que corre sobre as célebres Quedas de Calandula, com mais
de 100 metros de altura; para além destas, existem diversas quedas e rápidos noutros rios, como
as do Mbridge, Cambambe, Kwanza e Ruacaná; essas riquezas hidrográficas oferecem
oportunidades para a implementação de negócios de interesse turísticos e comerciais ou ainda
para a prática do eco – turismo (ANEME, 2020).
O país possui vastos lençóis de água que se encontram no subsolo da região sul,
nomeadamente nas províncias do Namibe, Huila e na fronteira com a República da Namíbia.
As potencialidades hidrográficas (rios e quedas de água) existentes em Angola,
permitiram construir barragens hidroelétricas que alimentam todo o território nacional e parte
de alguns países limítrofes.
As barragens hidroelétricas contribuem para o desenvolvimento da economia do país, o
que permite a irrigação agrícola, o abastecimento de água potável, a produção de energia
elétrica e a navegação e recreação nos rios e nas albufeiras. Angola possui 26 barragens, das
quais destacamos as de Biópio e Lomaum, localizadas na província de Benguela, com 15, 2
MW e 35 MW respetivamente de capacidade instalada; Capanda e Laúca, província de
Malange, com 520 MW e 2067 MW, Gove no Huambo com 60 MW; Mabubas na Província do
Bengo, com 18 MW; Matala na província da Huila com 40, 8 MW; Ruacaná na província do
Cunene com 341 MW de capacidade instalada (INRH, 2016).

19
É um país com grandes potencialidades, e que não sabia ao certo o que tinha no seu
subsolo, sendo assim o governo Angolano gizou um plano ambicioso em 2012 denominado
PLANAGEO, para pesquisas geológicas; utilizando equipamentos tecnológicos ultramodernos,
que envolveu especialistas nacionais e internacionais para aferir em concreto, os minerais
existentes em Angola.
O Plano Nacional de Geologia (PLANAGEO) teve como objetivo investigar, conhecer
as riquezas existentes e a composição do solo angolano. Com o levantamento geofísico que
forneceu informações geológicas, detetou-se que os elementos químicos da tabela periódica de
Mendelev existem em Angola. De sublinhar que os geólogos enviados ao campo certificaram
os dados detetados pelos equipamentos tecnológicos com as amostras analisadas em
laboratórios especializados; o PLANAGEO, iniciado em 2014, custou aos cofres do Estado
Angolano cerca de 405 milhões de dólares e o seu encerramento estava previsto para 2017, mas
devido à crise financeira foi alargado para abril de 2021 (IGEO, 2020). Segundo a mesma fonte,
Angola possui 38 dos 42 minerais mais procurados no mundo, com destaque para estanho,
alumínio, ferro, ouro, mercúrio, fosfatos, cobre, magnésio, urânio, rochas ornamentais,
mármore (granito negro e quartzo), alumínio, zinco, esmalte e diamantes.
Angola é também detentor de importantes reservas de gás, estimadas em cerca de 50 mil
milhões de metros cúbicos; o setor mineiro (excluindo o petróleo) contribui com cerca de 3%
para o Orçamento Geral do Estado, sendo a maior parte proveniente da produção de
diamantes, que é a segunda matéria prima com maior nível de exportação, permitindo a
Angola posicionar-se como sexto fornecedor mundial de diamantes em termos de volume e
com produção estimada em quase 9 milhões de quilates, e o quarto em termos de valor, há
reservas que não estão a ser exploradas.

2.4. A Importância da Diversificação da Economia de Angola

O setor petrolífero ocupa uma posição de destaque no processo de crescimento da


economia angolana, quer pelo impacto da sua volatilidade, quer por ser a principal fonte de
receitas fiscais, das exportações e das divisas que entram no país.
A taxa média de crescimento do setor não petrolífero foi de 1,2% (2018 a 2020), o que
corresponde 3 vezes a taxa média de crescimento do produto petrolífero (0,4%), este
crescimento foi considerado sustentado, embora a nível relativamente baixo para o contexto da
Africa subsariana, pelos setores da diversificação que são: agricultura, construção, energia e
indústria transformadora que registaram, ao longo do período, os mais elevados ritmos de

20
crescimento. O sector das pescas e os serviços mercantis são setores onde existe bastante
informalidade e não há pagamento de impostos, facto este que explica o pouco desempenho
desses setores (PND 2018- 2022).
A diversificação da economia é considerada como a melhor estratégia para resolver
problemas criados pela dependência de recursos naturais, conhecida na literatura económica
como “the natural-resources curse”. A diversificação da estrutura económica e produtiva dos
países tem como propósito contrariar os efeitos da doença holandesa identificados em muitos
estudos e países e que consiste nas distorções do nível de preços internos de alguns fatores de
produção e produtos no sector da indústria transformadora (Rocha et. al, 2016). Os autores
apontam que os elevados desníveis entre a produtividade bruta dos que trabalham para o
mercado externo (exportação) e a produtividade bruta dos que trabalham para o mercado
interno, sem grande capacidade de endogeneização e poder de compra, são das piores
consequências, fazendo com que o crescimento económico se torne desequilibrado. Ademais,
estudos recentes enfatizam a influência dos mecanismos políticos perversos (tráfico de
influência, corrupção e apropriação indevida do erário público) sobre as causas e as incidências
da maldição dos recursos naturais.
A diversificação económica é um processo que leva tempo e que precisa ser
criteriosamente bem estudado, planificado e que garanta que os setores – chave sejam
identificados, os recursos necessários estejam à disposição, as políticas e os programas sejam
coerentes e consistentes entre si, com o pensamento económico geral e com vontade política de
diversificar a economia em prol do bem-estar social (Rocha et. al, 2016).
O desempenho da diversificação dos países ricos em recursos naturais em termos de
alguns resultados de desenvolvimento intermediários e finais, refere-se como “capacidade
competitiva”. Este termo é extraído da estratégia de negócios.
A literatura de desenvolvimento económico enfatiza o aspeto estratégico do uso de
políticas e recursos organizacionais para aumentar a competitividade (Werker et. al, 2020). A
nível mais abrangente, as capacidades competitivas constituem resultados de políticas que
podem aumentar a capacidade de agregar valor à economia e por via disso aumentar a vantagem
competitiva (Porter, 1990). Essas mais valias são construídas pelas autoridades económicas do
país com intuito de alcançar o crescimento económico a longo prazo e níveis mais elevados de
prosperidade para seus cidadãos, desenvolvendo capacidades produtivas e projetando o
ambiente de negócios competitivos (Schwab et. al, 2017).
A capacidade competitiva para a diversificação é determinante no desempenho do setor
privado e podemos destacar três elementos fundamentais para a concretização deste desiderato:

21
• Desenvolvimento do capital humano (é uma medida do capital humano que
é mensurada pela taxa de matrícula no ensino superior). O capital humano é considerado
um motor importante no crescimento económico e diversificação, que permite a
atualização económica para atividades de maior valor agregado com requisitos de
qualificações mais elevados (Barros, 2001).
• Desenvolvimento de capital público e intelectual. Estamos a fazer alusão às despesas
com pesquisa e desenvolvimento como proporção do PIB (P&D) para mensurar o investimento
em conhecimento científico, nomeadamente; taxa de licenciamento de patentes, para medir o
desempenho geral a nível de inovações tecnológicas e infraestruturas públicas para captar
investimentos agregados na prestação de serviços públicos (Lashitew et. al, 2020). A
infraestrutura pública sob a forma de estradas, ferrovias, portos e serviços públicos é um insumo
fundamental para o crescimento económico (Bhattacharyya et. al, 2013). O investimento em
vias de comunicações permite a ligação das regiões do país e contribui positivamente para
diminuição das assimetrias regionais facilitando a circulação de pessoas e bens. O
desenvolvimento do capital intelectual e da capacidade de inovação aumenta a atualização e
diversificação de valor e expande a capacidade doméstica de criar tecnologias, ou capacidade
de absorção para assimilar tecnologias importadas (Schwab et. al, 2017).
• Desenvolvimento de capacidade empresarial (e acesso ao crédito). O mecanismo de
treinamento em gestão de negócios é crucial para o empreendedorismo e desenvolvimento de
pequenos negócios e permite a entrada de novas empresas na economia, a envolvência dos
decisores públicos na elaboração e implementação de programas que favorecem o
desenvolvimento dessas capacidades de negócios apoiam o crescimento de um ecossistema
dinâmico e competitivo que facilitam a criação de novos empreendimentos e maior crescimento
de produtividade.
A abundância de recursos pode prejudicar o desenvolvimento de políticas de
competitividade por causa das receitas que advêm dos mesmos que podem minar a vontade de
implementação de reformas potencialmente dolorosas para aumentar a competitividade nos
sectores não relacionados com os recursos naturais (Bhattacharyya et. al, 2014). A riqueza
proveniente dos recursos naturais aumenta o PIB per capita sem o desenvolvimento de
capacidades competitivas que são essenciais para sustentar o crescimento não relacionado com
recursos, efeitos da doença holandesa que resulta em rendas altas, mas baixa produtividade em
setores não relacionados a recursos naturais (Lashitew et, al 2020).

22
2.5. Estratégias para acelerar a Diversificação Económica

No período em análise, a receita fiscal do petróleo sustenta cerca de 80% do orçamento


do País e, com a crise internacional de 2008, o executivo traçou algumas estratégias para
diversificar as fontes de receitas, destas elaborou o Plano Nacional de Desenvolvimento de
Angola.
O Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola (PND) é um instrumento que define os
programas e metas que o executivo angolano pretende alcançar no âmbito do desenvolvimento
socioeconómico do país e para o efeito dele constam as linhas orientadoras para a diversificação
económica de Angola. A concretização deste plano assenta numa estratégia de crescimento
económico em que o investimento público em projetos estruturantes nos setores de atividade
económica se constituem na plataforma para o desenvolvimento da economia de Angola.
Segundo o PND (2013-2017), para acelerar o processo de diversificação económica,
Angola traçou alguns objetivos e clusters fundamentais, que são:
• Aumentar a produção nacional;
• Reduzir a dependência de Angola as importações;
• Fortalecer o tecido empresarial angolano;
• Promover a criação do emprego;
• Diversificar as fontes de receitas fiscais e de divisas;
O plano nacional de desenvolvimento de Angola, elegeu os seguintes clusters
fundamentais:
• Cluster de energia e água;
• Cluster da agricultura, pescas, alimentação e agroindústria;
• Cluster da habitação;
• Cluster das atividades extrativas;
• Cluster dos transportes e logísticas;
• Cluster de petróleo e gás natural;
• Cluster do turismo, lazer e outros serviços.

Angola pretende com estes projetos e clusters acelerar a produção interna, sobre tudo os
bens de consumo de forma a reduzir as importações dos mesmos, aumentar o emprego e baixar
a pressão sobre as divisas.
Tendo verificado que a velocidade que estava a ser imprimida ao processo de
diversificação económica não era satisfatória, para os objetivos propostos, o Governo Angolano

23
aprovou outra estratégia de aceleração do processo. Para o efeito identificou sete agrupamentos
(clusters) como já foi frisado acima. De acordo com o Ministério da Economia de Angola
(2014), destes agrupamentos foram delineados trinta e seis projetos, destacando-se os da
companhia de Bioenergia de Angola (BIOCOM), o polo industrial de Kizenga, a exploração
agrícola pedras negras e da Kiminha, produção de fosfato, exploração de ouro e o grande projeto
mineiro- siderúrgico das minas de Cassinga e Cassala Quitungo, assim como os da produção e
exportação de ferro.
A esta lista adiciona-se a produção de fertilizantes, baseada na indústria derivada do gás,
projetos dos polos turísticos de Okavango Zambeze, Cabo Ledo, Calandula e as refinarias do
Lobito e Soyo.

2.6. Características de Diversificação Económica

A diversificação económica pode ser feita em duas vertentes, a diversificação


intrassectorial e a extra setorial. A diversificação intrassectorial é feita quando se pretende
dinamizar um setor de produção em subsetores. Exemplo o setor da agricultura começa a
produzir adubos e fertilizantes internamente para evitar importação desses produtos. Estamos
perante a diversificação económica extra setorial, quando um determinado setor contribui
positivamente no crescimento de outros setores produtivos e consequentemente, estes setores
conseguem potencializar-se e contribuir para o crescimento do Produto interno bruto do país
Samuelson (2008). O autor, acrescentou que a economia é considerada diversificada quando
apresenta os seguintes indicadores:
Um forte crescimento do seu produto interno bruto (PIB); a existência de uma
participação significativa e visível do seu produto interno bruto de todos setores (primário,
secundário e terciário); uma certa competitividade entre os empresários nacionais e
estrangeiros; um certo equilíbrio na balança comercial, sendo ela a componente da balança de
pagamento de um país que trata das importações e exportações de mercadorias, incluindo
rúbricas como bens alimentares, bens de equipamentos e veículos e que, quando a ele se
associam serviços e outros bens correntes obtêm-se a balança de transição correntes; a gravação
na pauta aduaneira nos bens e serviços que o país produz de forma eficiente e que possui uma
certa vantagem comparativa.

24
2.7. Indicadores de medição da diversificação económica

Os indicadores podem ser entendidos como ferramentas de avaliação que devem ser
interpretados de maneira científica. Os indicadores de diversificação são grandezas de caracter
económico, expressos em valor numérico com as seguintes principais utilidades (Organização
Para Cooperação e Desenvolvimento da Europa, 2002):
• Aferir o nível de crescimento de países, regiões, empresas;
• Informar, prever o comportamento da economia;
• Ajuizar a política económica do governo.
A literatura tem usado diferentes indicadores para medir a diversificação das economias
ricas em recursos naturais, desde a participação das exportações de recursos naturais nas
exportações totais ou em relação ao PIB, até à importância da riqueza do subsolo na riqueza
total de um país e as descobertas de campos gigantes de petróleo; no entanto essas medidas têm
sido criticadas por falta de exogeneidade e não se basearem não apenas na geologia, mas
também no esforço de exploração, tecnologia e custo de extração que determinam o grau de
recuperação económica dos recursos (Beck, 2011).
A teoria económica não apresenta um só indicador ou medida convencional utilizada para
aferir o nível de diversificação económica dos países, mas sim diferentes indicadores em
conformidade com os dados de diferentes economias e objetivos dos estudos. No entanto, as
medidas existentes estão a sofrer transformações ao longo do tempo e assistimos a construções
de novos índices de diversificação, crescimento e desenvolvimento económico, como por
exemplo a medida ou índice de complexidade económica (ICE).
Existe também o indicador do FMI que classifica os países pela diversidade e
complexidade da sua estrutura de exportação. Este índice define que os produtos mais
complexos são químicos e maquinarias sofisticadas, enquanto que os produtos menos
complexos são matéria - primas e produtos agrícolas simples, entretanto países que produzem
bens complexos em grande escala e um grande numero de produtos, são normalmente mais
avançados ou provavelmente terão crescimento económico mais rápido no futuro em relação
aos países que produzem menos produtos e bens menos complexos, o ICE é usado para avaliar
o desenvolvimento económico e considera a complexidade económica adicionando uma
dimensão potencialmente útil à análise da diversificação económica (Gylfan, 2016). O mesmo
estudo identificou o índice de diversificação das exportações (IDE), que foi construído pelo
FMI com base no índice de Theil, uma medida comum de desigualdade, segregação e outras
formas de diversificação; o índice de Theil ao contrário por exemplo do Índice de Desigualdade
de Gini, é projetado para refletir a diversificação interna dos países, bem como entre setores e

25
grupos de países e quanto mais diversificadas as exportações de um país, menor é o IDE.

26
A diversificação da economia, geralmente considerada desejável, além de ter em conta os
riscos, também ajuda a promover o surgimento de exportações de qualidade, expandindo o
mercado no sentido da venda do mesmo produto a vários clientes com caraterísticas diferentes
por forma a minimizar o risco. Neste âmbito o FMI produziu recentemente séries temporais
destinadas a medir a qualidade média de produtos exigidos nos atuais mercados de destino dos
exportadores, que resultou no índice de qualidade do Produto (IQP) e que varia de 0 (baixa
qualidade) a 1,2 (alta qualidade). Este indicador cobre apenas bens e não serviços, logo
apresenta lacunas e é importante realçar que a literatura demonstra que as estratégias de
diversificação económica de muitos países se concentram cada vez mais na ramificação para os
serviços que são considerados para muitos investigadores, atualmente, o maior setor económico
do mundo, medido em termos de mão de obra ou participação na produção total; assumindo
que a expansão dos serviços pode ser um forte catalisador para as exportações de bens, tanto
direta ou indiretamente por meio de externalidades.
O índice de diversificação económica, foi apresentado por Rodgers (1957) com o objetivo
de mensurar a diversificação industrial e a especialização da indústria nos Estados Unidos da
América. Para o cálculo deste índice é necessário selecionar e ordenar as quotas de todos setores
do país; o somatório dessas quotas representa o índice de Diversificação Bruto (IDB). O mesmo
também é usado para comparar os níveis de diversificação de um país em relação a grupos de
países com características semelhantes, para efeito sendo necessário calcular a média do IDB
para todos países em análise e o menor índice de diversidade será 1, obtendo-se o Índice de
diversificação refinado (Bartolomeu, 2013).
O autor refere que o índice apresenta lacunas relativamente aos limites, a decomposição
e a introdução de setores com quotas nulas. Quanto aos limites, refere o limite superior que não
se encontra definido, sendo apenas atingido quando a estrutura setorial do país em análise é
igual à estrutura setorial de referência. Por outro lado, o índice não é passível de ser decomposto
e quando se adicionam setores com quota nula, o nível de especialização varia; ademais este
indicador tem em conta um grupo de referência e não compara as quotas de cada setor por pares,
apenas compara o grau de especialização. Na mesma linha de pensamento encontramos, o
Índice de Entropia de Shannon (IES), apresentado pelo mesmo em 1948, que é um indicador
de diversidade para mensurar a incerteza (entropia) de uma dada variável, obtendo um valor
médio para um conjunto de dados. À semelhança do índice de diversificação, este indicador
falha quando são introduzidos setores com quotas nula, pois é impossível calcular o IES para
qualquer setor com quota igual a zero. Entretanto ao introduzir setores com uma quota muito

27
próximo de zero o IES não se altera muito, o que significa que setores muito pequenos não têm
impacto no nível de diversificação (Bartolomeu, 2013).
O autor enfatiza que apesar da literatura apresentar diferentes indicadores de medição da
diversificação económica, os estudos referem que não existe até à data atual, um índice ótimo
para mensurar o nível diversificação das economias.

2.8. Revisão da Literatura: Relação entre o sistema financeiro e a diversificação


económica

O setor financeiro tem sido considerado um instrumento relevante para o processo de


diversificação económica, dado o seu papel de intermediário financeiro e alocador de recursos
escassos. A importância do setor financeiro não consiste somente no conjunto de serviços
oferecidos pelas instituições financeiras, no sentido de facilitar as transações comerciais e as
tomadas de decisões no mercado financeiro; sua relevância incide fundamentalmente no facto
de estar diretamente ligado ao nível de atividade económica, ao realocar recursos entre agentes
superavitários e deficitários através da concessão de créditos.
Os investimentos públicos criam as infraestruturas para viabilizar o aumento da eficiência
dos investimentos privados, que constituem o motor das atividades produtivas. Por outro lado,
há que considerar as ligações a montante e a jusante dos empreendimentos produtivos, que
ajudam a viabilizar investimentos complementares e a romper as limitações dos mercados, não
só de bens finais, como de bens intermediários e bens de capitais. Neste sentido cabe ao setor
financeiro impulsionar esses investimentos com estratégias de financiamento sólido e
estruturado para alargar as fontes de rendimentos e contribuir positivamente para o processo de
diversificação económica. Porém, o aspeto mais importante de um sistema financeiro sólido
está na garantia de oferta abundante e barata de um dos mais relevantes fatores de produção, o
crédito (Relatório de fundamentação OGE, 2011).
Diversa literatura aborda a diversificação, desenvolvimento e crescimento económico e a
relação entre o sistema financeiro e a diversificação económica. Muitos países detentores de
recursos naturais, permaneceram na sua zona de conforto, dado que as receitas fiscais
proveniente da principal matéria prima de exportação gera crescimento financeiro e sustenta as
despesas públicas, e consequentemente não potenciaram outros sectores de atividade
económica, enquanto que outros países gizaram planos para diversificar as suas economias os
quais resultaram em fracassos, devido a alguns fatores que restringiram a sua implementação
ou ausência de motivação para tomar algumas medidas necessárias para a concretização dos
objetivos. Alguns governos tiveram visão e decidiram diversificar, com o argumento de que

28
economias fortemente diversificadas apresentam melhor desempenho a longo prazo.
A literatura sugere que os países com grandes riquezas de recursos naturais tendem a ter
um crescimento do PIB real de longo prazo menor do que os países sem recursos naturais, e
que podem sofrer de desindustrialização impulsionada pela perda de competitividade nas
indústrias manufatureiras devido à valorização da moeda local (Turkisch, et al. 2010), Sala-

Martin (1997) e Doppelhofer et al (2004) realizaram testes empíricos com dados de vários
países e classificaram os recursos naturais como uma das variáveis mais robustas que afetam
negativamente o crescimento económico dos países a longo prazo. Na mesma linha de
pensamento, Sachs e Warner (1997) encontraram uma relação negativa entre abundância de
recursos e crescimento económico, que se aplica mais ao petróleo do que a outros recursos
naturais, sendo que, no entanto, em muitos países a instabilidade política ou outras questões de
governação podem explicar a falta de crescimento e desenvolvimento económico.
Tal como Albassam (2015) afirmou, a diversificação económica é importante para a
construção de crescimento sustentável, já que economias altamente dependentes da receita de
um recurso natural correm o risco de instabilidade ou mesmo de colapso, se o preço dessa
matéria-prima cair no mercado internacional. Também para Lashitew et al (2020), é imperativa
a diversificação económica em países ricos em recursos naturais, dado o preço das matérias-
primas altamente voláteis e o baixo potencial de emprego dos setores extrativos.
Dobrynskaya et al. (2010) analisaram a diversificação e a doença holandesa da economia
Russa, usando as publicações Rosstat e a base de dados da CHALEM do período de 1999 a
2007. Apuraram que houve forte crescimento da produção industrial, apesar da presença de
alguns sintomas da doença holandesa que pode ser explicada por outros fatores além da
existência de recursos naturais. Os autores apontam o processo natural de recuperação após a
desindustrialização na década de 1990 como a explicação em parte dos elevados ganhos de
produtividade na indústria, apesar da diminuição significativa do emprego. A valorização real
do rubro permitiu que os produtos russos ganhassem participação de mercado no comercio
mundial, graças às novas oportunidades de mercado da União Europeia e em outros países da
Europa e a crescente demanda chinesa por alguns produtos russos específicos; outro sim tem
que ver com o mercado interno, o aquecimento da procura interna também ajudou a sustentar a
produção russa. O investimento estrangeiro nos setores estratégicos, em particular energia,
bancos e seguros, estava sujeito a restrições, o investimento na maioria das indústrias
manufatureiras foi amplamente incentivado, graças as altas qualificações e aos custos de
produção relativamente baixos, as indústrias manufatureiras atraíram muitos investimentos
(incluindo os estrangeiros) e se desenvolveram rapidamente. Políticas ativas de diversificação
podem produzir resultados frutíferos em condições favoráveis que incluem o acesso a mercados
29
e tecnologias estrangeiras (Lashitew et al. 2020) b.
Albassam (2020) analisou a diversificação da economia saudita, e apurou que apesar de
vários planos de desenvolvimento terem como objetivos diversificar a mesma, o petróleo ainda
é o principal motor da economia. O autor realça que seria necessário gizar planos adequados

mensuráveis e regulamentos que apoiem financeiramente o sector privado para que não dependa
dos gastos e projetos do governo, tirando lições das economias semelhantes, cuja diversificação
económica já é uma realidade e que vai além do crescimento económico sustentado; visando
também o combate à corrupção, criação de empregos e melhoria da qualidade institucional.
No planeamento macroeconómico, a diversificação promove o crescimento e o
desenvolvimento por meio da mobilização da poupança dos setores excedentários para
alavancar os outros setores em deficit na economia (Suberu, et. al. 2015). Os autores afirmaram
que a diversificação não ocorre no vazio, são necessários vários impulsionadores chave, como
políticas de investimento na agricultura, comércio e indústrias, estabilidade macroeconómica,
uma taxa de câmbio competitiva, política fiscal expansionista, bem como variáveis
institucionais tais como boa governação, ausência de conflitos e baixa ou ausência de corrupção
para intensificar o crescimento dinâmico.
Gylfason (2016) escreveu que economias bem diversificadas tendem a ser mais eficientes
e abertas ao comércio e, portanto, tendem a ter maior capacidade de crescimento económico
rápido a longo prazo, pois conseguem obter o aumento da produção interna que é muito valiosa
por que reduz os riscos e vulnerabilidades associados a economia de base estreita. e aumenta a
capacidade de produzir itens de alta qualidade que outras nações podem desejar comprar. O
autor realçou que a maneira de ver os efeitos benéficos da diversificação económica sobre o
crescimento é por meio da relação inversa, amplamente observada, tanto entre países, quanto
dentro dos países, entre a forte dependência de alguns recursos naturais e o crescimento de
longo prazo.
Bhattacharya e Hodler (2014) relacionaram o nível de receitas provenientes dos recursos
naturais em percentagem do PIB e o indicador de desenvolvimento financeiro crédito bancário
ao setor privado em percentagem do PIB num período de aproximadamente cinco anos.
Examinaram o nível de rendimentos sobre o PIB com um índice de preços das matérias-primas
especifica para cada país, usando dados em painel no período de 1970 a 2005 e 1870 a 1940,
em 133 e 31 países respetivamente, tendo concluído que as receitas provenientes dos recursos
naturais estão associadas a um menor desenvolvimento financeiro em países com instituições
políticas deficientes comparativamente com países com instituições políticas fortes. Portanto,
este estudo demonstra que as instituições políticas nos países detentores de recursos naturais
influenciam fortemente no desenvolvimento do setor financeiro, o que não permite analisar as
30
consequências da riqueza dos recursos para o sistema financeiro.
Tal como analisaram Beck e Poelhekke (2018), a relação entre mudanças nas receitas de
recursos causadas por variações de preços (que podem ser consideradas exógenas para os

países) e mudanças em depósitos e empréstimos por instituições financeiras resulta em menores


depósitos no sistema financeiro em países que experimentaram receitas inesperadas dos
recursos naturais, medidas pelo impacto dos preços no mercado internacional e
consequentemente uma relativa diminuição dos empréstimos que se deve principalmente à
diminuição dos depósitos. É importante salientar que se trata de uma redução relativa, os países
com maior expansão do PIB devido a ganhos inesperados provenientes dos recursos naturais,
experimentam menores depósitos e empréstimos em comparação com países cujo crescimento
não está relacionado com os recursos naturais.
Neli e Rastad (2007) concluíram que as taxas de crescimento económico experimentadas
pelos países importadores de petróleo num período de 30 anos são mais baixas que as dos países
exportadores, embora a taxa de investimento seja mais alta, em média. Os autores verificaram
que o setor financeiro ajudou a explicar este fenómeno e concluíram que os países importadores
de petróleo demonstravam menor desenvolvimento financeiro e os efeitos negativos
verificaram-se no investimento agregado.
A importância do desenvolvimento financeiro para o crescimento económico tem-se
mostrado mais forte entre países de rendimento médio, onde o sistema financeiro é grande e
sofisticado suficientemente para gerar impacto na economia real, mas concentra-se
essencialmente nos negócios de intermediação financeira (Arcand et al. 2015).
De acordo com Gylfason (2016), a diversificação e o crescimento económico de longo
prazo tendem a caminhar juntos, a atividade económica diversificada e as exportações de
diferentes bens e serviços reduzem o risco e instabilidade e fortalecem a base de crescimento
económico a longo prazo. O autor usou diferentes medidas de diversificação económica e
crescimento de longo prazo para mostrar a correlação entre países e utiliza o índice de
diversificação de Theil desenvolvido pelo FMI e o rendimento nacional bruto per capita
(ajustado pelo poder de compra) para a amostra de 164 países. O estudo concluiu que houve
uma correlação significativamente positiva entre a diversificação mensurada pelo valor médio
do índice de diversificação económica de Theil e o logaritmo natural do rendimento nacional
bruto per capita (interpretado como indicador de crescimento económico do passado, com base
no facto de que o rendimento dos países hoje, representa o desempenho no passado). O mesmo
estudo sugere que a diversificação económica é um determinante do crescimento, tendo
encontrado correlações bivariadas, o que permitiu fazer inferências válidas sobre causa e efeito.
Nesta linha de pensamento a teoria de desenvolvimento económico sugere que a diversificação
31
pode ser boa para o crescimento económico e a expansão económica possivelmente conduz à
diversificação económica.

Os recursos naturais podem ser considerados maldição ou bênção dependendo de muitos


fatores institucionais, de qualidade do sistema financeiro e boas práticas de gestão por parte dos
governos (Haber e Menaldo, 2011; Arezki, 2012).
Van der Ploeg (2010) estudou os efeitos dos recursos naturais sobre os níveis de qualidade
institucionais dos países, usando um método transversal para o período de 1970 a 2002 e
descobriu que países ricos em recursos naturais e com boas instituições governativas, facilidade
de abertura comercial e elevado investimento em tecnologias de exploração, aproveitam os
frutos da riqueza dos recursos naturais. Consequentemente, Alexeev e Conrad (2009)
argumentaram que a discussão do impacto negativo dos recursos naturais sobre o crescimento
económico e na qualidade institucional, especialmente nos países em desenvolvimento foi
construída sobre estudos que usaram variáveis e metodologias imprecisas. De facto, muitos
estudos não encontraram evidência de uma forte relação entre a dependência de países de um
recurso natural e o baixo crescimento económico (Alexeev e Conrad, 2009; Ross, 1999). A
teoria da maldição dos recursos pode ser muito simplista e determinista para explicar
completamente porque é que alguns países parecem ser “amaldiçoados” com recursos enquanto
outros são “abençoados” (Sovacool, 2010, p. 225). Neste estudo, a diversificação económica e
a teoria da maldição dos recursos não são analisados indistintamente, no entanto existe uma
conexão entre os dois.
Os estudos sobre a diversificação enfatizam a relevância de os países ricos em recursos
naturais terem mais de um sector a contribuir significativamente para o desenvolvimento
económico. É neste âmbito que a teoria da maldição de recursos naturais reconhece o impacto
negativo sobre o desenvolvimento económico de ter uma única fonte de renda nacional como
principal motor da economia.
O sistema financeiro aparece como dinamizador da diversificação económica com
financiamento de projetos de curto, médio e longo prazo para a produção de bens e serviços de
qualidade para consumo interno dos países e para exportações, alargando a base das fontes de
receitas, aumentando emprego e, por conseguinte, criando riqueza e prosperidade para as
nações.

32
CAPÍTULO 3. APLICAÇÃO EMPÍRICA

Este capítulo compreende o estudo econométrico. Apresenta-se as variáveis em análise,


e a metodologia do modelo de vetores autorregressivos (VAR). Recorreu-se aos critérios de
seleção de informação com o intuito de escolher a ordem de desfasamento, para o efeito utilizou
se o critério de AIC, BIC, HQ e o método de estimação de máxima verossimilhança.
O teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF) e o teste de KPSS aparecem nesta dissertação
para examinar a raiz unitária e/ou estacionariedade das séries temporais. Posteriormente
procedeu-se à estimação do modelo Vetorial Autorregressivo (VAR), e testes diagnósticos para
verificar problemas relacionados com a especificação do modelo. Porém o baixo número de
observações leva a que a interpretação dos resultados deva ser feita com cautela. É dentro destas
limitações, que se aplicaram algumas das metodologias acima referidas. Não se aplicou nenhum
teste de cointegração para apurar a relação de longo prazo entre as variáveis devido ao reduzido
número de observações.
Ademais, foram observadas as medidas corretivas para resolver os problemas decorrentes
de violações de pressupostos e de erros de especificação do modelo, como multicolinearidade,
auto correlação e heteroscedasticidade. Finalmente procedeu-se à interpretação e discussão dos
resultados para aferir o impacto do sector financeiro no processo de diversificação da economia
angolana no horizonte temporal de 1995 a 2020.

3. Dados e Metodologia

3.1. Descrição dos Dados

A organização das séries temporais para este estudo foi dificultada pela falta de dados
mais longínquos da economia Angolana. A explicação deste fenómeno, recai no facto de a
divulgação de dados estatísticos por parte das instituições angolanas ser relativamente recente.
Não se conseguiu obter dados com estatísticas mensais, trimestrais e anuais para períodos
mais recuados e a esta lacuna, junta-se o facto que a economia Angolana ter passado por várias
transformações políticas e económicas, o que influenciou os dados, apresentando-se repletos de
erros de aproximação. Observou-se nos ensaios experimentais efetuados em alguns gráficos
que apresentavam muitas quebras de estruturas e para suprir a nulidade desses fenómenos
utilizou se algumas técnicas econométricas que abordaremos mais abaixo. Relativamente aos
dados utilizados neste trabalho, foram extraídos do site do Banco Mundial (indicadores de
desenvolvimento mundial) as variáveis Exportações de bens e serviços em percentagem do PIB
de Angola, apresentada de

33
forma abreviada por (EBS), excluindo as exportações petrolíferas, Taxa de câmbio de Angola,
apresentada de forma abreviada por (CÂMBIO) em unidade de conversão Kz/USD 1, Crédito
bancário fornecido ao setor privado em percentagem do PIB, apresentada de forma abreviada
por CBSP. O Preço do barril de petróleo Brent, apresentado de forma abreviada por (PriceP)
em dólares norte-americano, foi obtido no site do Banco Nacional de Angola. Os dados
comportam uma periodicidade anual.

Elaborou-se o Índice de Diversificação das Exportações com base no índice de Shannon e as


series estavam constituídas pelas receitas fiscais petrolíferas no numerador e o PIB (formado
pelas receitas da agricultura e pesca, industria, comercio e serviços) no denominador
apresentou efeitos de correlação (multicolinearidade) fundamentada pela variável preços de
petróleo brent e para não incorrer a problemas de mal especificação do modelo, procedeu-se a
exclusão, ficando apenas com o indicador de diversificação (exportações de bens e serviços
em percentagem do PIB).

A escolha das variáveis foi feita com base no trabalho de Adeola et al. (2017). Para
uniformização metodológica aplicou - se logaritmo natural a todas variáveis na estimação do
modelo.

3.2. Metodologia de estimação do modelo VAR

A análise dinâmica de sistemas de variáveis económicas através de modelos VAR foi


introduzida por Sims (1980). A abordagem VAR, ao tratar todas variáveis simetricamente sem
impor qualquer restrição quanto à independência e dependência entre elas, permite descrever
cada uma das variáveis endógenas no sistema como função dos valores com desfasamentos de
todas as variáveis endógenas.
A expressão matemática do modelo VAR é dada por:

Yt = A0 + A1Yt-1 + … + ApYt-p + Ԑt (3.1)

Em que Yt = (Yt-1 + Yt-2 ….+Yt-p) ´ é um vetor de k variáveis endógenas, A0 é um vetor de


termo independente, A1 + A2 +……+Ap são matrizes de coeficientes e Ԑt = (Ԑ1 + Ԑ2 +…+Ԑk)´é um
vetor de perturbações aleatórias não correlacionadas com os seus próprios valores passados e
não correlacionados com nenhuma das variáveis do segundo membro, embora possam estar
contemporaneamente correlacionadas, e com matriz de covariâncias (termo do erro ou ruído
branco).

1
A assunção de preferência da taxa de câmbio Kz/Usd é explicado pelo setor petrolífero (referenciado em dólares Americano
no mercado Internacional) que é a principal fonte de receitas fiscais e de divisas que entram em Angola.
34
O uso do VAR na estimação econométrica surgiu como uma solução para modelos de
séries temporais multivariadas. Modelo onde as variáveis explicativas de certa variável
dependente, também sejam explicadas pela variável Prognosticada. Isso exige a identificação
correta das variáveis endógenas e exógenas, mas com o VAR todas as variáveis passam a ser
tratadas como endógenas na forma de vetores autorregressivos. Segundo Asterius e Hall (2011),
quando não estamos confiantes de que a variável é exógena, temos que a transformar em
endógena. Sua formulação é representada na forma primitiva pelas equações abaixo, onde as
variáveis Y(t) e X(t) sendo exógenas não identificáveis e estacionárias.

35
Yt = β10 – β12Y12 + y11Yt-1 + y12Yt-1 + μyt (3.2)

Xt = β20 – β21Yt + y21Yt-1 + y22 Yt-1 + μxt (3.3)

Assim, sai de um modelo complexo de duas variáveis, conforme acima, e agora o choque
é transmitido apenas pela equação matemática que elimina o enviesamento de X t e Yt. A partir
da estimação de um modelo VAR é possível a análise das funções impulso-resposta, as quais
permitem verificar os efeitos dos choques nas variáveis endógenas do VAR, quando há um
choque em uma variável exógena específica. Contudo, cada variável endógena é explicada por
seus valores com desfasamentos, ou passados, e pelos valores com desfasamentos de todas
outras variáveis endógenas do modelo.

3.3. Identificação da ordem de integração das variáveis

Nesta secção começamos por fazer a análise da característica de estacionariedade das


variáveis a incluir no modelo. Existem vários testes desenvolvidos para o estudo da
estacionariedade, destacamos os testes de Raiz unitária (Dickey-Fuller aumentado) e teste de
KPSS. O teste de raiz unitária permite diagnosticar a presença de uma tendência estocástica (ou
raiz unitária) das séries temporais.
Os modelos econométricos que envolvem séries temporais por serem processos
estocásticos, nem sempre apresentam características estacionárias, ou seja, média, variância e
covariância com relação ao tempo. Assim, o primeiro passo ao trabalhar com dados no formato
temporal é supor que as mesmas são estacionárias, isto porque regressões com séries não
estacionárias podem levar a um problema de regressão espúria, por exemplo, ao estimar-se um
modelo com variável de série temporal função de uma outra variável de série temporal. Muitas
vezes pode-se obter um R2 elevado e estatística de teste com valores significativos, embora não
haja uma relação importante entre as duas (Gujarati, 2011).
Os econometristas advertem que a utilização de métodos tradicionais para estimar a
relação entre variáveis que tenham raízes unitárias, pode fornecer inferências com
enviesamentos, sendo a determinação da ordem de integração das variáveis, imprescindível.
Utilizou-se para o efeito, o teste de raiz unitária Dickey- Fuller Aumentado (ADF) e o teste de
KPSS.

36
3.4. Testes de raízes unitárias

Os testes de raízes unitárias, são testes de estacionariedade (ou não estacionariedade), que
foram muito utilizados nos últimos anos, como um dos pressupostos básicos para estimação de
modelos econométricos. Para explicar o referido teste é importante conhecer basicamente o
conceito de Séries estacionárias, que é um conjunto de dados numéricos, previamente
selecionados cujas média, a variância e auto covariância (em vários desfasamentos)
permanecem inalterados, independentemente do ponto em que é calculado. Por outro lado, uma
série temporal é dita não estacionária se a média varia com o tempo e a variância se altera com
o tempo ou ambas se modificam com o tempo.
Gujarati (2011) apoia-se na seguinte transformação algébrica para justificar:

Yt – Yt-1 = Ut (3.4)

Em que:
Ut: É o termo de erro de ruído branco;
Yt: observações de y no período t, t =1……, T;
O autor, utilizou o Operador de desfasamento L de modo que: LY t = Yt-1, L2 Yt = Yt-2
O termo raiz unitária refere-se à raiz do polinómio no operador de desfasamento (L).
Ao estabelecer que: (1 – L) = 0, obtém se L = 1 é a razão do nome raiz unitária.
A literatura de econometria apresenta vários testes de estacionariedade, com destaque
para o teste de análise gráfica e a função de autocorrelação. O primeiro baseia-se na inspeção
visual dos gráficos, pois dão uma pista inicial sobre a natureza provável das séries temporais,
como foi descrito na secção de dados. O segundo é um teste simples de estacionariedade que
tem como argumento principal a função correlação com desfasamentos. Neste teste, tanto a
variância como a covariância são mensuradas na mesma unidade de medida. A função
autocorrelação varia no intervalo de -1 e +1 e o diagrama é conhecido por correlograma.
Neste trabalho fez-se recurso ao teste de raiz unitária de Dickey – Fuller Aumentado que
será descrito abaixo de forma sucinta.

37
3.4.1. Teste de Dickey – Fuller

A inspeção visual de uma série raramente permite distingui-la como tendência estocástica
ou tendência determinística. Frequentemente, quando se procede assim incorre-se em
equívocos, sendo que por este facto foram desenvolvidos testes para verificar a existência de
raízes unitárias, ou a averiguação se as séries são estacionárias ou não (Bueno, 2011). Dickey
e Fuller (1979) sugeriram o teste de raiz unitária com o nome dos autores para preencher a
lacuna que existia na literatura. O teste Dickey- Fuller (1979) considere a seguinte equação:

∆Yt = pYt-1 + ut (3.5)

Em que Ut é um termo de erro de ruido branco.


Sabe-se que p=1, isto é, no caso da raiz unitária a equação (3.5) torna-se um modelo de
passeio aleatório sem deslocamento que sabemos ser um processo estocástico não estacionário.
Sendo assim, vamos fazer a regressão de Yt sobre seu valor com desfasamento (de um período),
Yt-1 para verificar se o p (polinómio de raiz unitária) estimado é estatisticamente igual a 1. Se
for, então Yt será não estacionário. Esta é a ideia geral que está por trás do teste estacionariedade
de raiz unitária. Desse modo, ao transformar a equação (3.5), subtraindo Yt-1 dos dois membros
da equação obteremos:

Yt - Yt-1 = pYt-1 – Yt-1 + ut (3.6)


= (p-1) Yt-1 + ut (3.7)

Que pode também ser escrita por:

∆Yt = δYt-1 + ut (3.8)


Em que δ = (p– 1) e ∆ é o primeiro operador da diferença

A análise da equação (3.5) permite ter em atenção as primeiras diferenças de Y t, para


fazer a regressão destas em Yt-1 e observar se o coeficiente angular (δ) é zero ou não. Se for
zero, conclui-se que Yt é não estacionário e se for negativo então diz-se que Yt é estacionário δ
= (Ƥ-1), para que se tenha a estacionariedade, Ƥ deve ser menor que 1 e para isso acontecer δ
deve ser negativo). A grande questão será: qual é o teste a ser utilizado para descobrir se o
coeficiente estimado de Yt-1 na equação (3.5) é zero ou não? Poder-se-ia avançar com o habitual
teste de t- student, mas Gujarati (2011) discorda categoricamente, enfatizando que sob a
38
hipótese nula de que δ = 0, o valor de t do coeficiente estimado de Yt-1 não segue a distribuição
de t, mesmo em grandes amostras ou seja não segue a distribuição assintótica normal.
Dickey e Fuller (1979), ao desenvolverem o teste, demonstraram que sob a hipótese nula
de que δ = 0, o valor estimado t do coeficiente de Yt-1 na equação (3.5) segue a estatística tau,
os autores calcularam os valores críticos da estatística do teste com base nas simulações de
Monte Carlo. As hipóteses são as seguintes:
Hipótese nula (H0): δ = 0 (há uma raiz unitária ou a série temporal é não estacionaria ou
ainda possui uma tendência estocástica).
Hipótese Alternativa (H1): δ <0 (a série temporal é estacionária, possivelmente em torno
de uma tendência determinística).

3.4.2. Teste de Dickey - Fuller Aumentado

O teste de Dickey - Fuller aumentado, é uma extensão do teste de Dickey - Fuller. O


problema do teste anterior é que Dickey e Fuller (1978), consideraram o erro um ruido branco,
ou seja, os termos de erro não são correlacionados. Entretanto, a literatura demonstra
frequentemente que o erro é um processo estacionário qualquer e esse problema pode causar
distorções no poder do teste.

Dickey e Fuller desenvolveram o teste de raiz unitária com o intuito de examinar o


problema de correlação dos termos de erro nas series, ao aplicar os termos de diferença com
desfasamentos na variável dependente. Basicamente o teste é realizado com estimação do
modelo com variáveis autorregressivas.

De modo mais específico, temos o seguinte modelo:

∆Yt = β1 + β2t + δYt-1 + ∑𝑚


𝑖=1 𝛼i ∆Yt-i +ℇt (3.9)

Em que: Y é a série, t é o período de tempo, αi é o intercepto, β2t é a tendência e β1 é a


inclinação, Yt-1 é a série defasada e δ = p-1 é o declive e p é o número de tendência no teste,
depende do comportamento da série e o número de defasagens é arbitrário ou escolhido segundo
algum critério.

ℇt é o termo de erro de ruído branco puro e ∆Yt-1 = (Yt-1- Yt-2), ∆Yt-2 = (Yt-2 - Yt-3). O
número de termos de diferenças com desfasamentos a serem incluídos, é frequentemente
determinado empiricamente, a ideia é incluir termos suficientes para que o termo de erro na
equação acima, seja serialmente não correlacionada para que se obtenha uma estimativa não

39
viesada de δ, o coeficiente desfasado de Yt-1. Os aplicativos informáticos ligados a
econometria, estão estruturados para permitir selecionar automaticamente a extensão de
desfasamentos baseados nos critérios de informação de Akaíke, Scwartz, Bayesiano, Hannan-
Aquin,etc. No ADF. O teste de estacionariedade de ADF segue a mesma distribuição assintótica
da estatística de DF, sendo que serão utilizados os mesmos valores fundamentais.

Ao aplicar os testes de raiz unitária deve se ter em atenção, o tamanho, a potência e as


suas limitações. Tamanho do teste quer dizer o nível de significância (probabilidade de cometer
um erro do tipo I), a potência do teste, indica a probabilidade de rejeitar a hipótese nula quando
for falsa. Uma das limitações mais frequentes nos testes de raiz unitária, é quando ocorre
quebras estruturais na serie temporal, em virtude de ocorrências de fenómenos, os testes podem
não detetar. Por causa disso, Maddala e Kim defendem que os testes de Dickey-Fuller, Dickey-
Fuller Aumentado e Phillips-Perron deveriam ser descartados, na mediada que os pacotes
econométricos incorporam os novos testes, porém não há ainda nenhum teste sistematicamente
poderoso da hipótese de raiz unitária (Gujarati, 2011).

3.5. Teste de Estacionariedade

A grande questão que é discutida na literatura específica é a fraca potência do teste de


raiz unitária desenvolvido por Dickey- Fuller perante a presença de um componente de médias
móveis perto do circuito unitário. O que pressupõe que o teste de raiz unitária não tem
capacidade para rejeitar a hipótese nula para séries observadas com grandes dimensões. Nesta
ordem de ideias, foram desenvolvidos alguns testes para minimizar o problema de fraca
potência que ocorre no teste de raiz unitária.
O teste de KPSS (Kwiatkowski, Phillips, Schmidt e Shin) é um teste de estacionariedade
desenvolvido em 1992. A ideia dos autores é usar o teste para complementar o teste de raiz
unitária. O argumento é que com o teste de KPSS, consegue-se distinguir a raiz unitária das
séries cujos dados não são suficientemente conclusivos. A hipótese nula é de estacionariedade
da série, isto é, H0: Yt ~ I(0), contra a hipótese alternativa, H1: Yt ~I(1).
O desenvolvimento do teste segue a literatura dos modelos estruturais, cujo objetivo é dar
uma interpretação económica aos vários componentes da série temporal.

40
3.6. Escolha do número de desfasamentos

Para todos os procedimentos determinou-se a ordem dos desfasamentos para o modelo


VAR, sendo que o mesmo anuiu a ordem 3. Sabe-se que a escolha do número apropriado de
desfasamentos a ser utilizada nas regressões é um ponto importante na estimação do modelo.
Os métodos utilizados para determinação do número de desfasamentos são: Critério de
Informação AIC, BIC e HQ, que partem de um modelo de regressão com vários desfasamentos
e vai-se gradativamente reduzindo-os até que os valores de AIC e BIC sejam minimizados.
David e Mackinnon (1993) argumentaram que a escolha de um número elevado de
desfasamentos seria preferível, uma vez que dessa forma o analista pode verificar, como a
exclusão de alguns desfasamentos afeta o resultado das estimações. Além disso, a escolha de
poucos desfasamentos pode causar forte enviesamento, devido a omissão de variáveis
relevantes. Por outro lado, a escolha de mais desfasamentos do que necessário pode levar ao
enviesamento de inclusão de variáveis irrelevantes, que é menos sério do que no caso anterior.
Assim, para estimação do modelo utilizou-se o critério da parcimónia, adotando-se o método
que determinou a menor ordem para o critério de seleção.

3.7. Discussão dos resultados

Esta secção descreve os resultados dos testes associados ao modelo estimado. Começou-
se por analisar os gráficos das séries temporais das variáveis escolhidas para o presente trabalho.
Posteriormente fez-se a discussão da estacionariedade e o teste de raiz unitária das séries, e
observou-se a estatística descritiva para examinar o comportamento das variáveis em estudo.
Com o intuito de analisar os efeitos dos choques ocorridos nas variáveis, analisou-se as funções
impulso resposta e por fim alinharam-se as conclusões do trabalho.
O quarto gráfico da Figura 2 mostra a trajetória da série da inflação ao preço do
consumidor da economia Angolana, a qual apresentou tendências de aceleração (atingiu o nível
mais alto precisamente em 1995), desafiando a prossecução dos objetivos de política monetária
gizada pela autoridade monetária e financeira da Angola que é a de garantir a estabilidade dos
preços. Porém, no horizonte temporal de 1995 até ao final de 1998 assistiu -se a queda de preço
do petróleo brent no mercado internacional e, para suavizar o impacto desta queda, os resultados
sugerem ação coordenada de políticas monetária e cambial para garantir o controlo da
aceleração da inflação. Este cenário levou à diminuição de entrada de divisas ao país e afetou
as reservas internacionais líquidas, repercutindo-se na depreciação da moeda Angolana
(kwanza), podendo-se visualizar no terceiro gráfico da Figura 2 a tendência crescente da taxa
de câmbio. Com a depreciação do kwanza, houve um aumento da massa monetária em

41
circulação, o que criou condições para a existência de pressão no sentido de aceleração dos
preços o que justifica a subida gradual dos preços de bens e serviços na economia Angolana.
No setor financeiro registou-se a contração do crédito ao setor privado, sendo um período que
tecnicamente é considerado pelos monetaristas como ratoeira de liquidez. Então os credores
formaram as suas expetativas com base na desconfiança sobre taxa de juro a aplicar sobre os
créditos. Quanto à diversificação económica, medida pelas exportações de bens e serviços em
percentagem do PIB, verificou-se uma forte expansão no período de 1995 a 1998, facto
explicado pela melhoria do ambiente de negócios e o crescimento do crédito fornecido ao setor
privado por parte das instituições bancárias Angolanas, com o objetivo de reanimar o setor
privado e dinamizar a diversificação económica.
Para mitigar a tendência da subida dos preços dos bens e serviços, os resultados sugerem
duas medidas fundamentais: A manutenção em baixa dos preços das matérias-primas para a
produção nacional, principalmente para produção alimentar em grande escala para o mercado
interno e exportação para os países da região, no âmbito da diversificação, e o abaixamento ou
isenção das despesas aduaneiras sobre as importações de alguns insumos e tecnologias que são
necessárias para o mercado Angolano.

42
Figura 2. Séries temporais das variáveis macroeconómicas

Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl (1995 – 2020).

43
Figura 3. Crédito Bancário Fornecido ao Setor Privado

Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl (1995 – 2020).

3.8. Estatísticas Descritivas

A Tabela 3 mostra as estatísticas descritivas registadas no período de 1995 a 2020.


Constata-se que os valores máximos e mínimos das Exportações de bens e serviços da economia
Angolana foram de aproximadamente 135 e 24 mil milhões de kwanzas, respetivamente.
Relativamente ao preço do barril de petróleo brent durante o período em análise, Angola
registou em média 57,70 USD/barril no mercado internacional. No que tange a taxa de câmbio
praticada em Angola, no período em referência, os valores mínimos e máximos foram de 0,
0028 e 252,86 AOA/USD respetivamente; sendo que o valor da mediana que divide este
indicador macroeconómico (mede o preço do dinheiro de uma moeda em relação a outro de
referência) em duas partes iguais é de 81,96 %, assumindo em média 84,63%. No que concerne
ao indicador de desenvolvimento do sistema financeiro (Crédito bancário ao setor privado), este
apresenta um desvio padrão de cerca 567% e o coeficiente de curtose de 0,393. Quanto ao
indicador económico, que permite avaliar a subida gradual dos preços de bens e serviços (Taxa
de Inflação), registou um mínimo de 7,28% e o máximo de 4145%.

44
Tabela 3. Estatísticas descritivas das variáveis
Estatísticas EBS PriceP CÂMBIO CBSP INFLAC
Média 57,70 53,19 84,63 1230,52 320,24
Mediana 57,73 50,00 81,96 46931 23,55
Mínimo 24,09 12,00 0,0028 15871 7,28
Máximo 134,75 111,60 252,86 1757,34 4145,1
Desvio Padrão 25,15 31,40 67,29 566,66 935,87
Coef. Curtose 1,54 -0,924 -0,0338 0,393 10,26
Fonte: Elaboração própria, dados do Banco Mundial e BNA (1995-2020).

3.9. Teste de Raiz Unitária

A Tabela 4 refere-se ao teste de raiz unitária para verificar se as séries contêm raiz unitária
ou não. Conforme os resultados apresentados, o teste ADF indicou a não rejeição da hipótese
nula de que as séries contêm raiz unitária. Os resultados do teste de raiz unitária indicam que
as séries das exportações de bens e serviços em percentagem do PIB, taxa de câmbio
AOA/USD, créditos bancários ao setor privado em percentagem do PIB, taxa de inflação, são
estacionários ao nível de significância de 5%, ou seja, são da ordem de integração I(0) e a série
Preço do barril de petróleo brent em USD apresenta não estacionariedade. Quando estamos
perante a este fenómeno, Gujarati aconselha a diferenciar a série até que ela se torne
estacionária. Os resultados para a série da variável PriceP em primeira diferença indica que a
ordem de integração permanece I(1), conforme mostra a Tabela 12, e para a transformar em
I(0) recorreu-se a segunda diferenciação como se pode visualizar na Tabela 13.
Tabela 4. Teste de ADF das variáveis
Variáveis Estatística de teste P -Valor Termos Determinísticos Ordem de
Integração
EBS -6,885 0,00066 Constância e tendência I(0)
PriceP -2,189 0,496 Constância e tendência I(1)
CÂMBIO -4,459 0,002 Constância e tendência I(0)
CBSP -4,882 0,00031 Constância e tendência I(0)
INFLAC -4,306 0,0030 Constância e tendência I(0)
Fonte: Elaboração própria, dados Gretl (1995 – 2020).

3.10. Teste de KPSS

O teste de KPSS aparece neste trabalho com o intuito de confirmar ou rejeitar os


resultados do teste de raiz unitária, pois é um teste complementar ao teste de ADF. Assim pode-
se distinguir a raiz unitária das séries, conforme ilustra a Tabela 5, tendo-se determinado que
as séries testadas são estacionárias, pelo que rejeita-se a hipótese nula (H0) aos níveis de
significância de 5 e 10% respetivamente para todas variáveis em análise.

45
Tabela 5. Teste de KPSS
Variáveis Estatística de teste P -Valor Ordem de
Integração
EBS O,067 0,355 I(0)
PriceP 0,252 0,095 I(0)
CÂMBIO 0,367 0,461 I(0)
CBSP 0,230 0,462 I(0)
INFLAC 0,391 0,083 I(0)
Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl (1995 – 2020).

3.11. Critério de Seleção da Ordem de desfasamentos

Para a seleção do número ótimo de desfasamentos, utilizou-se os critérios de Informação


de AIC, HQ, BIC e o método de máxima verosimilhança. Este método consiste em estimar os
parâmetros de maneira que a probabilidade de observar os dados dos Vetores seja a maior (ou
máximo) possível. O principal argumento é encontrar o máximo da verosimilhança do VAR.
Conforme os critérios de informação para seleção do modelo; os resultados mais ajustados são
aqueles que apresentam menores valores e o máximo para a função logarítmica de
verosimilhança, a ideia é selecionar o VAR, o mais parcimonioso possível que em geral produz
melhores previsões, segundo a literatura. Pelos resultados que a Tabela 6 apresenta, escolheu
se o VAR (3).

Tabela 6. Critério de seleção da ordem de desfasamentos


Ordem de desfasamentos AIC BIC HQ Log Verosimilhança

VAR (1) 4,129 5,111 4,390 -29,555


VAR (2) 2,661 4,439 3,108 5,394
VAR (3) 1,721 4,300 2,329 33,066
Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl (1995 – 2020)

3.12. Modelo Final - VAR (3)

De acordo com as equações estimadas do modelo VAR (3), observa-se que em média as
Exportações de Bens e Serviços em percentagem do PIB de Angola entre 1995 e 2020
experienciaram uma expansão na ordem de 0. 58 pontos percentuais, quando tudo o resto se
manteve constante, com uma variação de um ponto percentual na taxa das Exportações de Bens
e Serviços em percentagem do PIB.
Com uma variação de um ponto percentual no Preço de Petróleo Brent no mercado
Internacional, as Exportações de Bens e Serviços em percentagem do PIB de Angola no período

46
em referência sofreram uma redução em cerca de 0.52 pontos percentuais, quando tudo o resto
se manteve constante e alterou-se de forma descendente na ordem de 0.4 pontos percentuais,
quando a Taxa de Câmbio AOA/USD apresentou uma variação de 1 ponto percentual e tudo o
resto se manteve constante. A variação de 1 ponto percentual da taxa do indicador de
desenvolvimento financeiro (CBSP) fez com que as Exportações de Bens e Serviços em
percentagem do PIB se tenha contraído na ordem de 0.13% mil milhões de dólares americanos,
mantendo-se tudo o resto constante.
No modelo estimado, foram aplicados logaritmos para adequar o modelo aos seus
problemas de especificação (redução da heteroscedasticidade), porém ressalta-se que os sinais
obtidos em algumas variáveis são menos esperados, nomeadamente a Inflação ao preço do
consumidor, a Taxa de Câmbio AOA/USD apresentam sinais negativos, o que não é coerente
com os índices crescentes verificados na economia Angolana, durante o período de 1995 a 2020.
O mesmo pode dizer-se sobre a cedência de créditos Bancários ao Setor Privado da economia
pela banca Angolana: assistiu-se a uma expansão significativa na ordem de 24%, depois de
2002. O crescimento dos créditos é explicado em parte pelo fim do conflito armado e a boa
conjuntura macroeconómica que grassava sobre a economia Angolana, facto este confirmado
pelos relatórios de estabilidade financeira da autoridade monetária e financeira de Angola
(BNA).

47
Tabela 7. Modelo VAR (3)
Equação1: Equação 2: Equação 3: Equação 4: Equação 5:
Variáveis dln_ EBS dln_PriceP dln_CÂMBIO dln_CBSP dln_ INFLAC

Estimativas Estimativas Estimativas Estimativas Estimativas


0, 119* 0,353** -0,056 0,519*** −0,692
Constante (0,056) (0,133) (0,097) (0,149) (0,404)
0,581** 1,427*** 0,098 0,044 −0,329
dln_EBS(t-1) (0,183) (0,265) (0,418) (0,985) (0,509)
-0,496*** -0,185 -0,412 -0,231 0,229
dln_EBS(t-2) (0,077) (0,116) (0,274) (0,269) (0,335)
-0,056 0,101 -0,174 -0,124 −0,062
dln_EBS(t-3) (0,081) (0,059) (0,138) (0,202) (0,243)
-0,521*** -0,795** -0,366 -0,711 −0,886*
dln_PriceP(t-1) (0,134) (0,287) (0,249) (0,704) (0,374)
-0,078 -0,331 0,077 0,061 −0,796**
dln_PriceP(t-2) (0,153) (0,225) (0,236) (0,264) (0,291)
-0,025 -0,207 -0,042 -0,258 −0,316
dln_PriceP(t-3) (0,068) (0,124) (0,212) (0,397) (0,289)
0,033 -0,189** 0,223 −0,268 0,483*
dln_CÂMBIO(t-1) (0, 064) (0,065) (0,292) (0,229) (0,231)
-0,396** -0,778*** -0,039* 0,0002 0,196
dln_CÂMBIO(t-2) (0,139) (0,172) (0,162) (0,478) (0,279)
0,331*** 0,706*** 0,522** -0,143 −0,527
dln_CÂMBIO(t-3) (0,085) (0,112) (0,215) (0,447) (0,274)
-0,131** - 0,175 0,011 −0,112 0,121
dln_CBSP(t-1) (0, 257) (0, 136) (0,047) (0,152) (0,089)
-0,051 -0,250* 0,048 -0,318 0,032
dln_CBSP(t-2) (0,064) (0,129) (0,095) (0,229) (0,153)
0,2423*** -0,257** 0,045 -0,034 −0,100
dln_-CBSP(t-3) (0,066) (0,098) (0,104) (0,255) (0,185)
dln_INFLAC(t-1) −0,329 −0,886 0,483 0,121 −0,636*
(0,509) (0,374) (0,231) (0,089) (0,282)
dln_INFLAC(t-2) 0,228 −0,796 0,196 0,032 −0,468**
(0,335) (0,291) (0,279) (0,153) (0,140)
dln_INFLAC(t-3) −0,062 −0,316 −0,527 −0,100 −0,182
(0,243) (0,289) (0,274) (0,185) (0,135)
Fonte: Elaboração Própria, dados do Banco Mundial e BNA (1995 – 2020).

48
3.13. Testes Diagnósticos

Para verificar a existência de problemas decorrentes da estimação dos modelos VAR, fez-
se os testes diagnósticos. Os testes de independência (autocorrelação multivariada),
normalidade homocedasticidade sobre os resíduos constam na Tabela 8.
O teste de autocorrelação da série dos resíduos permitiu não rejeitar a hipótese nula de
que os resíduos não estão correlacionados (os resíduos do modelo estimado são independentes)
e rejeitar a hipótese alternativa de que há presença de correlação serial entre os resíduos. Isto
porque o p-valor = 0.770, maior que 5% de nível de significância e com grau de liberdade igual
a 36.
No que concerne à heterocedasticidade dos resíduos, o teste de ARCH permitiu verificar
que a variância dos resíduos é constante ou homocedástica, o valor da estatística de Qui-
quadrado excede o valor probabilístico. Rejeita-se a hipótese nula de homocedasticidade com
um nível de significância de 5%. Concluiu-se que o modelo estimado não apresenta problemas
de heteroscedasticidade ou não existe efeito ARCH (heteroscedasticidade condicional
autorregressiva).
Por outro lado, o teste de normalidade dos termos de erro da estimação do VAR (3)
permitiu verificar o resultado do teste de Doornik e Hansen (1994). Não se rejeita a hipótese
nula de que os resíduos do modelo seguem uma distribuição normal (distribuição simétrica,
admitindo valores negativos e positivos), uma vez que o p-valor é menor que o valor da Qui-
quadrado, no nível de significância de 5%.

Tabela 8. Diagnósticos dos modelos


Testes Diagnósticos VAR (1) VAR (2) VAR (3)
Qui-Quadrado P-Valor Qui- Quadrado P- Valor Qui - Quadrado P - Valor
Autocorrelação 1,543 0, 211 0, 836 0,645 0, 655 0, 770
ARCH 28,480 0, 809 76,442 0, 338 107, 650 0, 491
Doornik–Hansen 25, 683 0, 003 6, 937 0, 327 10, 466 0, 106
Fonte: Elaborado pelo autor, dados do Gretl (1995 - 2020).

49
3.15. Decomposição da Variância

Relativamente às percentagens de variação das séries temporais ao longo do horizonte de


previsão entre 1995 e 2020 e que está estruturado em quatro períodos subsequentes, em que o
mesmo é explicado pela diversificação da economia Angolana (representada pela taxa de
crescimento das exportações de bens e serviços em percentagem do PIB). A Tabela 9 mostra a
decomposição da variância e as percentagens de variação dos erros de previsão das variáveis
que compõem o modelo VAR (3). É possível observar que a alteração no indicador de
desenvolvimento financeiro (dln_CBSP) é responsável por cerca de 63% da variação do
indicador de diversificação da economia Angolana (dln_EBS) no horizonte temporal de 2013
a 2020, representa 12,7% da variação da taxa de câmbio e 10,3% da variação do preço de
petróleo brent no mercado internacional. Quanto à Taxa de Inflação (INFLAC), durante o
período de 1995 a 2000, assistiu-se à variação de 11% da diversificação da economia Angolana.

Tabela 9. Decomposição da Variância


Horizonte de Previsão
Variáveis 1995-2000 2001-2006 2007-2012 2013-2020
dln_EBS 100,00 50,00 1,47 5,87
[0,11; 0,23] [0,18;0,36] [0,17; 0,31] [0,37;043]
dln_PriceP 31,11 49,17 21,79 10,31
[0,14;0,22] [0,24;0,36] [0,19;0,33] [0,39;0,47]
dln_CÂMBIO 5,81 22,85 59,60 12,70
[0,17;029] [0,13;0,27] [0,21;0,48] [0,41;0,52]
dln_CBSP 4,96 11,01 7,47 63,96
[0,19;0,31] [0,33;0,56] [0,27;0,32] [0,42;0,59]
dln_INFLAC 11,00 32,00 19,38 14,02
[0,87;0,15] [0,11;0,23] [0,15;0,09] [0,72;0,24]
Fonte: Elaboração Própria, dados do Banco Mundial e do BNA (1995 – 2020).

3.16. Funções impulso-resposta

As funções impulso-resposta aparecem após estimação do modelo VAR (3), para


identificar a estrutura dinâmica das séries temporais. As mesmas traçam o efeito de um choque
no tempo t dos termos de erro de uma variável em particular sobre os valores corrente e futuro
das variáveis pertencentes ao VAR (3). No caso específico, a finalidade das funções de impulso-
resposta consiste em averiguar de que forma as variáveis, respondem a choques nos termos de
erro. Basicamente as funções impulso-resposta, permitem analisar os choques que ocorreram

50
em certas variáveis da série temporal e qual será o comportamento das restantes variáveis face
a esses choques em determinados períodos. A função impulso-resposta é calculada mediante
coeficientes estimados, logo há intervalos de confiança a serem considerados nessas
estimativas. Este intervalo pode ser calculado de forma analítica ou por método de experiências
de Monte Carlos (Bueno, 2011). O software econométrico Gretl calculou o intervalo de
confiança automaticamente.

3.17. Efeitos dos choques nas variáveis macroeconómicas

Esta subsecção analisa os efeitos associados às funções Impulso-Resposta das séries


observadas na Figura 4. A linha verde representa as séries estimadas e as suas correlações, o
sombreado cinza representa os intervalos de confiança a 90% e as linhas cinzentas tracejadas
mostram a resposta mediana dos choques.
O preço do petróleo brent (PriceP) é a variável determinante na conjuntura
macroeconómica e financeira da economia Angolana, tendo em conta os canais de transmissão
na componente fiscal, monetária e cambial. O último gráfico da Figura 4 ilustra a subida do
preço do petróleo brent no mercado internacional em quase 12% no primeiro período, resultado
da menor oferta no mercado internacional. Verifica-se desequilíbrios de preços em quase todo
o período em analise, fazendo refletir as flutuações que são resultado das compensações dos
choques do lado da oferta e da procura desta variável. Assume-se que essa flutuação tem que
ver com a dinâmica do mercado internacional e um dos fatores que pode estar na origem do
mesmo é o reposicionamento da OPEP que definiu as quotas da produção de petróleo aos seus
membros. Relativamente ao crédito bancário cedido ao setor privado em percentagem do PIB
de Angola, os resultados sugerem que os efeitos do choque sobre o indicador de diversificação
económica (exportações de bens e serviços em percentagem do PIB) permitiram a oscilação
desta variável. Pelo que se observa um comportamento ascendente de quase 4% no terceiro
período e descendente em aproximadamente 7% no quinto período.
A taxa de câmbio nominal respondeu com comportamento expansionista de 0,15 pontos
percentuais no primeiro período e decresceu no segundo período á 0,5 pontos percentuais e
daí para frente assistiu-se a oscilações até atingir um mínimo de 0,25 pontos percentuais no
oitavo ano face ao período homólogo. Em Angola, a variação dos preços internos em moeda
nacional (kwanza) está muito relacionada com a variação da taxa de câmbio nominal. Uma
variação da taxa de câmbio nominal reflete-se automaticamente nos preços, isto agravado pelo
fato que os agentes económicos normalmente fazerem ajustamentos acima da taxa de
câmbio oficial,

51
antevendo variações futuras da mesma. As variações não compensadas da taxa de câmbio
nominal e dos preços internos apenas significam que no mercado cambial os ajustamentos são
mais rápidos e que a inflação é flexível à subida e não à descida da taxa de câmbio nominal. Do
lado da oferta de moeda, o forte aumento da massa monetária na economia em moeda angolana
(kwanza), criou condições no sentido de aceleração dos preços, dado que não acompanhou com
a oferta de bens e serviços a disposição dos agentes económicos e como consequência verificou-
se uma subida da taxa de câmbio real. Face a este cenário, os resultados mostram que a
autoridade monetária e financeira de Angola acomodou essa subida utilizando os instrumentos
de politica monetária (operações de open market) ou/e o ajustamento pode ser feito no mercado
de bens e serviços com politicas expansionistas. Porém, no período de escassez de divisas os
agentes económicos recorrem ao mercado “paralelo”2 em que a taxa de câmbio é superior à taxa
de câmbio oficial fazendo refletir essa diferença nos preços internos, o que agrava a apreciação
da taxa de câmbio real ou seja o kwanza vai desvalorizando-se gradualmente face a este cenário.
Relativamente à resposta da diversificação (exportações de bens e serviços em
percentagem do PIB), esta apresenta efeitos negativos sobre o choque da taxa de câmbio
nominal, contraindo-se a 0.8% no segundo período com um intervalo de confiança de 90%.
Na prática, observa-se justamente o contrário, ou seja, as exportações de bens e serviços
exercem efeitos positivos sobre a taxa de câmbio real, assumindo que quanto maior forem as
exportações de bens e serviços produzidos em Angola, maiores serão as entradas de divisas
para a economia Angolana. Entretanto o efeito da taxa de juros nominal nunca é detetado
(ceterius paribus), o mesmo apenas traduz que o custo de oportunidade de detenção de moedas
estrangeiras por parte dos agentes económicos aumenta quando esta taxa aumenta.

Relativamente à resposta do indicador de diversificação da economia (exportações de


bens e serviços em percentagem) aos choques ocorridos no crédito bancário fornecido ao setor
privado, contraiu-se em cerca de 0,6% no primeiro período e expandiu - se 0,4% no segundo
período respetivamente, e nos períodos subsequentes apresentou comportamento oscilante, o
que permite concluir que a diversificação económica respondeu positivamente aos choques
ocorridos no indicador de desenvolvimento financeiro (crédito bancário fornecido ao setor
privado). Independentemente das oscilações verificadas, a tendência de longo prazo da taxa de
inflação (índice do preço do consumidor) permaneceu decrescente. Do ponto de vista da
política monetária, a subida da inflação observada em 2009 e 2010 na economia Angolana
deveu-se a ligeira desvalorização da moeda nacional (kwanza), face a uma queda das
reservas

2
Obtenção de moeda estrangeira fora do sistema financeira (nas vendedoras de rua denominadas de
kinguílas).
52
internacionais líquidas, provocadas pela baixa do barril de petróleo. Esta desvalorização não foi
suficientemente compensada pelo aumento da oferta interna de bens e serviços.

53
Figura 4. Funções impulso-resposta das variáveis do modelo VAR (3)

Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl(1995-2020).

54
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho analisou o impacto do sector financeiro no processo de diversificação da


economia de Angola. Para a realização da aplicação empírica, começou-se por examinar o
comportamento das séries temporais, em que se destacaram a inflação, a taxa de câmbio, o
preço do petróleo e os seus efeitos na conjuntura macroeconómica de Angola.
Com o intuito de verificar a raiz unitária das séries temporais, efetuou-se o teste de ADF,
tendo-se concluído que as mesmas são integradas de ordem zero, aos níveis de significância de
1%, 5% e 10% respetivamente.
No concernente à decomposição da variância, verificou-se que a alteração no indicador
de desenvolvimento financeiro é responsável por cerca de 63% da variação do indicador de
diversificação da economia Angolana, esta percentagem demonstrando a relevância do crédito
bancário fornecido ao setor privado na criação de projetos de investimento e por conseguinte
na produção de bens e serviços na economia Angolana, no horizonte temporal entre 2013 e
2020.
Relativamente às variações ocorridas no indicador de diversificação económica (EBS),
os resultados demonstram que as variáveis: Preço do Petróleo Brent, Taxa de Câmbio, Crédito
Bancário ao Setor Privado em percentagem do PIB e a Inflação (aos preços do consumidor)
explicam as alterações ocorridas no indicador de diversificação económica na ordem de 85.7%.
A análise empírica mostra uma resposta negativa do indicador de diversificação sob o
efeito dos preços do petróleo Brent no mercado internacional, durante todo período em análise,
o que pressupõe que a excessiva dependência do sector petrolífero na economia angolana é
contraproducente para diversificação.
Adicionalmente, os resultados sugerem que o setor financeiro representado neste estudo
pelo crédito bancário fornecido ao setor privado tem efeitos positivos sobre o indicador de
diversificação económica (EBS). Porém as receitas petrolíferas ainda são predominantes para a
economia Angolana e a inflação está muito ancorada na taxa câmbio, a explicação deste
fenómeno tendo que ver em parte com a dependência relativamente, a muito bens e serviços
importados, pelo que qualquer alteração na taxa de câmbio reflete-se nos preços internos.
Apesar dos esforços das autoridades Angolanas para diversificar a economia, o país não
detém setores primário e secundário fortes que permitam a autossuficiência e capacidade de
exportação. Custos de matéria-prima elevados em comparação com alguns países da região e
uma economia maioritariamente informal, são fatores que dificultam seriamente a aceleração
da diversificação económica, sendo que este estudo demonstrou que os constantes aumentos da

55
taxa de inflação e da taxa de câmbio exercem influência negativa na conjuntura
macroeconómica de Angola. A estabilidade dos preços tem efeitos positivos sobre a economia,
uma vez que garante maior solidez e confiança na moeda Angolana, aumentando os níveis de
poupança e estimulando os agentes económicos a investir. Neste âmbito, a estabilidade de
preços permitiria uma melhoria na gestão eficiente da política monetária, um dos requisitos
desejáveis para o desenvolvimento do sistema financeiro e consequentemente o aumento da
diversificação económica.
O presente estudo salienta que argumentos de que a modernização do sector financeiro e
a potencialização dos recursos naturais levam inequivocamente à aceleração da diversificação
da economia devem ser tratados com cautela.

56
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concessão de crédito em moedas estrangeira.

62
ANEXOS

Tabela 10. Modelo VAR (1)


Equação 1: Equação 2: Equação3: Equação 4: Equação 5:
dln_ EBS dln_ PriceP dln_CÂMBIO dln_ CBSP dln_INFLAC

Variáveis Estimativas Estimativas Estimativas Estimativas Estimativas


-0, 233 - 0,025 0,167* 0,356*** 0,317
Constante (0,138) (0,081) (0,094) (0,084) (0,494)
-0, 417** - 0, 296** -0, 509 0,279*** −0,398**
dln_EBS(t-1) (0, 177) (0, 109) (0,313) (0,086) (0,163)
0,65 0,450* -0, 509 −0,597* −0,512
dln_PriceP(t-1) (0,527) (0,258) (0,213) (0,299) (0,420)
0, 173** 0,024 0,312* −0,234*** −0,612**
dln_CÂMBIO(t-1) (0, 075) (0,058) (0,157) (0,049) (0,233)
0,237 0, 022 - 0, 133 −0,042 0,050
dln_CBSP(t-1) (0, 257) (0, 115) (0,107) (0,123) (0,193)
0,563*** 0,226*** 0,090 0,011 0,240
dln_INFLAC(t-1) (0,072) (0,041) (0,114) (0,059) (0,189)
Fonte: Elaboração própria, dados do Banco Mundial e BNA (1995- 2020).

Tabela 11. Teste de Raiz Unitária – Iª Diferenciação


Ordem de
Variáveis Estatística de teste P -Valor Termos Determinísticos Integração
PriceP -3,331 0,061 Constância e tendência I(1)
Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl.

Tabela 12. Teste de Raiz Unitária – IIª Diferenciação


Ordem de
Variáveis Estatística de teste P -Valor Termos Determinísticos Integração
PriceP -4,561 0,0012 Constância e tendência I(0)
Fonte: Elaboração própria, dados do Gretl.

63
Tabela 13. Modelo VAR (2)

Equação 1: Equação 2: Equação 3: Equação 4: Equação 5:


dln_EBS dln_PriceP dln_CÂMBIO dln_CBSP dln_INFLAC

Variáveis Estimativas Estimativas Estimativas Estimativas Estimativas


0,013 0,133 -0,017 0,459*** −0,639**
Constante (0,063) (0,117) (0,062) (0,149) (0,221)
− 0,097 -0,083 -0,632*** 0,386 0,158
dln_EBS(t-1) (0,084) (0,131) (0,198) (0,219) (0,367)
− 0,174 0,071 0,053 -0,321** −0,257
dln_EBS(t-2) (0,144) (0,112) (0,103) (0,133) (0,190)
0,087 0,221 0,073 -0,798* −0,895***
dln_PriceP(t-1) (0,142) (0,286) (0,127) (0,439) (0,244)
−0,057 -0,391 -0,109 0,088 −0,198
dln_PriceP(t-2) (0,202) (0,259) (0,193) (0,228) (0,325)
0,543*** 0,201** 0,669*** - 0,375*** 0,300
dln_CÂMBIO(t-1) (0,128) (0,076) (0,150) (0,116) (0,219)
−0,477*** -0,161** 0,144** 0,005 −0,212
dln_CÂMBIO(t-2) (0,071) (0,063) (0,048) (0,082) (0,187)

−0,107** -0,127 0,008 -0,058 0,104


dln_CBSP(t-1) (0,038) (0,121) (0,049) (0,195) (0,097)

-0,029 0,205 -0,023 -0,262 0,018


dln_CBSP(t-2) (0,085) (0,123) (0,079) (0,232) (0,169)

0,343*** 0,121 0,167 −0,068 −0,219


dln_INFLAC(t-1) (0,106) (0,101) (0,166) (0,201) (0,236)
0,163 0,121 0,076 0,113 −0,305
dln_INFLAC(t-2) (0,096) (0,101) (0,179) (0,249) (0,177)
Fonte: Elaboração própria, dados do Banco Mundial e BNA (1995 – 2020).

64

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