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Eu, Eugénio Artur Mondlane, declaro, por minha honra, que o presente trabalho é da minha
autoria e que nunca foi anteriormente apresentado para avaliação em alguma Instituição de
Ensino Superior, nacional ou de outro País.
__________________________________
i
Termo de Responsabilidade
Trabalho a ser submetido a Universidade Joaquim Chissano como dos requisitos necessários
para a conclusão do grau de Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia.
O Candidato A Supervisora
________________________ ________________________
ii
Índice
Declaração de Autoria................................................................................................................i
Termo de Responsabilidade.......................................................................................................ii
Agradecimentos..........................................................................................................................v
Dedicatória...............................................................................................................................vi
Lista de Siglas e Acrónimos.....................................................................................................vii
Lista de Tabelas e Gráficos....................................................................................................viii
Sumario Executivo....................................................................................................................ix
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1
Contextualização........................................................................................................................1
Justificativa................................................................................................................................3
Problematização.........................................................................................................................3
Objectivos da Pesquisa...............................................................................................................5
Objectivo geral.......................................................................................................................5
Objectivos específicos............................................................................................................5
Questões de pesquisas................................................................................................................5
Hipóteses....................................................................................................................................6
Metodologia...............................................................................................................................6
Classificação da Pesquisa.......................................................................................................6
Quanto à abordagem do problema.........................................................................................7
Métodos de Procedimento......................................................................................................7
Procedimentos Técnicos.........................................................................................................8
Estrutura do Trabalho.................................................................................................................9
CAPÍTULO 1.
REFERENCIAL TEÓRICO E DEBATE CONCEPTUAL.....................................................11
1.1 Referencial Teórico...................................................................................................11
1.1.1.1 Contexto de surgimento da Teoria do Crescimento Exógeno...........................11
1.1.1.2 Precursores da Teoria de Crescimento Exógeno................................................12
1.1.1.3 Pressupostos da Teoria de Crescimento Exógeno..............................................12
1.1.1.4 Aplicabilidade da Teoria de Crescimento Exógeno...........................................13
1.1.2.1 Contexto de Surgimento da Teoria da Dependência..........................................14
1.1.2.2 Precursores da Teoria da Dependência..............................................................14
1.1.2.3 Pressupostos da Teoria da Dependência............................................................14
1.1.2.4 Aplicabilidade da Teoria da Dependência.........................................................15
1.2 Debate Conceptual.....................................................................................................16
1.2.1 Cooperação Económica.........................................................................................16
iii
1.2.2 Crescimento Económico........................................................................................17
CAPÍTULO 2.
CONTRIBUIÇÃO DO ACORDO DE PARCERIA ECONÓMICA PARA CRESCIMENTO
ECONÓMICO DOS ESTADOS DO APE-SADC..................................................................19
2.1 Principais Objectivos do Acordo de Parceria Económica (APE-SADC).....................19
2.2 As relações comerciais entre a União Europeia e os Estados do APE-SADC..........21
2.3 Impacto do APE para o Crescimento Económico dos Estados da SADC.................27
CAPÍTULO 3.
IMPACTO DO ACORDO DE PARCERIA ECONÓMICA PARA O CRESCIMENTO
ECONÓMICO DE MOÇAMBIQUE......................................................................................30
3.1 Relações Comerciais entre Moçambique e a União Europeia...................................30
3.2 Balança comercial de Moçambique para a União Europeia......................................34
2.4 Impacto do APE no Crescimento Económico De Moçambique...............................40
CONCLUSÃO.........................................................................................................................44
LISTA DE REFERÊNCIAS....................................................................................................47
ANEXO................................................................................................................................53
iv
Agradecimentos
Os meus agradecimentos vão em primeiro lugar a Deus pela vida e saúde. Em segundo lugar
agradeço a minha supervisora Elisa Salaúde pelo suporte na elaboração da pesquisa, muito
obrigado por tudo. Em terceiro, minha mãe e Marelisse, e aos meus treinadores Arlindo e
António pelo apoio incondicional e por sempre acreditarem em mim. E por fim, Edson
Muirazeque e ao prof. Dr. Paulo Wache.
v
Dedicatória
vi
Lista de Siglas e Acrónimos
COMESA – Common Market for Eastern and Southern Africa (Mercado Comum da África
Oriental e Austral).
vii
Lista de Tabelas e Gráficos
Tabelas
Gráficos
viii
Sumario Executivo
A pesquisa aborda sobre o Impacto do Acordo de Parceria Económica entre a União Europeia
e a SADC para o Crescimento Económico dos Estados do APE-SADC: Caso de
Moçambique. A pesquisa tem como objectivo compreender o impacto do APE entre a União
Europeia e os Estados do APE-SADC para o Crescimento Económico de Moçambique. Os
seus objectivos específicos em primeiro analisar contributo do APE para crescimento
económico dos Estados do APE-SADC e em segundo avaliar o impacto do APE para o
crescimento económico de Moçambique. Para a sua elaboração foram usados os métodos
estatístico, histórico, monográfico e comparativo e as técnicas usadas foram a técnica
bibliográfica, documental e de entrevista. Após a elaboração de pesquisa evidenciou-se que
os APE têm um contributo positivo nas economias dos Estados da SADC e em particular para
Moçambique. Os dados ilustrados durante o trabalho foram obtidos através de revisão de
literaturas sobre esta matéria, de livros, sites de internet, revistas científicas e jornais. Depois
de aplicar as teorias de Crescimento Económico Exógeno e a teoria da Dependência os
Estados da SADC não tiveram um aumento considerado das suas exportações para a União
Europeia. A pesquisa concluiu que as evidencias não mostram um aumento significativo, não
mostram um impacto significativo do APE do ponto de vista de aumento de importações e
exportações, tendo em conta o objectivo do acordo que era impulsionar o crescimento
económico desses Estados através da promoção de maior comércio. Este aumento não
aconteceu, não houve um aumento consideram que mostram que mesmo com a
implementação do APE não houve mudanças. A parte positiva é que existe comércio, existe a
oportunidade aberta para que os Estados possam usar este acordo a seu favor para diversificar
os produtos.
ix
x
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como tema “Impacto do Acordo de Parceria Económica entre a
União Europeia e a SADC para o Crescimento Económico dos Estados do APE-SADC:
Caso de Moçambique”. A pesquisa apresenta como delimitação espacial o território
Moçambicano. A escolha de Moçambique como delimitação espacial, justifica-se pela facto
de Moçambique ser signatário do Acordo de Parceria Económica (APE) 1 com a União
Europeia. Quanto ao horizonte temporal, a pesquisa tem como marco inicial o ano de 2017 e
como marco final o ano de 2021. A escolha do ano 2017, justifica-se pelo facto de ter sido
neste ano em que o governo de Moçambique ratificou o APE sobre o estabelecimento do
novo regime de cooperação económica e comercial entre Moçambique e a União Europeia,
através da resolução n.º 12/2017 da Assembleia da República (Boletim da República, 2017).
A escolha do ano 2021 justifica-se pelo facto de ter sido neste ano em que foi lançado, na
cidade Maputo o projecto “Promove Comércio”, lançado no âmbito do APE-SADC.
Financiado com cerca de 12 milhões de euros pela União Europeia em Moçambique e
implementado pela UNIDO2 (Moz APE, 2021: 16).
Contextualização
O tema em pesquisa insere-se em três contextos divididos em três níveis de análise. A nível
sistémico, os APE entre a União Europeia e os países da África, Caraíbas e Pacífico (ACP)
não são um evento novo. Na sequência das Convenções de Iaundé, de âmbito mais limitado,
em 1975 a Comunidade Europeia e os Estados de ACP assinaram em Lomé, no Togo, um
novo tipo de acordo de cooperação. As quatro Convenções de Lomé que expiraram no ano de
2000, eram incompatíveis com a OMC, porque os países desenvolvidos faziam trocas
comerciais com os países menos desenvolvidos apenas em busca de matéria prima, enquanto
que os países menos desenvolvidos ainda eram dependentes dos produtos manufacturados.
Por isso, a Convenção de Lomé foi substituída pelo Acordo de Parceria de Cotonou no ano de
1
Estados do Acordo de Parceria Económica da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral", ("Estados
do APE SADC"), fazem parte deste acordo de um lado a União Europeia e do outro lado a República do
Botsuana, o Reino do Lesoto, a República de Moçambique, a República da Namíbia, a República da África Do
Sul, República de Angola e o Reino da Eswatini. https://trade.ec.europa.eu/access-to-markets/pt/content/ape-
sadc-comunidade-de-desenvolvimento-da-africa-austral. Consultado em 11 de Outubro de 2021.
2
UNIDO – United Nations Industrial Development Organization (Organização das Nações Unidas para
Desenvolvimento Industrial).
1
2000-2008 no qual foi chamado de “período preparatório” 3, assinado em Cotonu, no Benim
pelos Chefes de Estado de todos os países União Europeia e ACP. Este acordo tinha como
principais objetivos a redução da pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável dos
países da ACP e a sua integração gradual na economia mundial. O acordo determinava as
modalidades da cooperação entre a União Europeia e os ACP nos domínios político, de
desenvolvimento e comércio (Comissão Europeia, 2005: 02). Além disso, em Janeiro de 2008
entraram em vigor os Acordos de Parceria Económica e de 2008 à 2018 houve a
implementação transitória dos Acordos de Parceria Económica. E por fim, de 2018 à 2020
estabeleceram-se os acordos de áreas de comércio livre compatíveis com as regras da OMC
(Ibid).
A nível regional, os APE entre os Estados da União Europeia e os Estados da Comunidade
Para o Desenvolvimento da África Austral (APE-SADC), e foi assinado num contexto em
que a SADC buscava reduzir a pobreza na região. Além disso, o APE buscava reduzir a
pobreza promover o desenvolvimento sustentável na região e tinha como metas estabelecidas
para a liberalização do comércio, a criação do Plano Estratégico Indicativo de
Desenvolvimento Regional (RISDP). O RISDP tinha o objectivo de criar uma zona de
comércio livre em 2008, criação de uma união aduaneira em 2010, o estabelecimento do
mercado comum da SADC em 2015, e união monetária em 2018 (República de Moçambique,
2012: 01). Além disso, o RISDP baseia-se na visão da SADC, que indica as diretrizes para o
desenvolvimento da Região e apoia-se no enunciado da missão da SADC. Ademais, foi neste
contexto em que a União Europeia e os Estados da SADC assinaram o APE em Kassane, no
ano de 2016 no Botswana, em que os países da SADC buscavam uma transformação
estrutural com foco na agricultura e na industrialização, principalmente da indústria
alimentar, construção, energia e no turismo, na produção de bens e serviços para o mercado
regional (substituição de importações) (Mosca, Dada e Marques, 2021: 19). Actualmente,
encontra-se em execução o APE com os seguintes Estados da SADC: Madagáscar, Maurícias,
Ilhas Seicheles, Zimbabué e Moçambique.
O fluxo das transações comerciais de Moçambique com a União Europeia nos períodos de
2010 a 2020, coloca este bloco económico como o principal parceiro comercial de
Moçambique (Ibid, 2020: 13). Durante este período o fluxo de exportações para a União
Europeia totalizou 38% do total das exportações do país. Porém, além de ter sofrido uma
3
Acordo de Cotonu, Parte 3, Título II, Artigos 34º a 54º, sob o título de “Cooperação Económica e Comercial”.
A Cláusula de Permissão da OMC, permite aos países desenvolvidos de oferecerem preferências para os países
em desenvolvimento em geral, ou apenas para os Países Menos Desenvolvidos.
2
redução de 63%, a balança comercial com a União Europeia em 2019 e 2020 foi favorável
para Moçambique, com uma exportação de 504,1 e 197,3 milhões de dólares,
respectivamente4. Além deste índice favorável, a incidência das exportações de Moçambique
para a União Europeia, continua a ter pouca participação das Micro, Pequenas e Medias
Empresas (MPME). Antes da entrada em vigor dos APE, as importações da União Europeia
provenientes de Moçambique registaram um grande redução e só conseguido em parte graças
a matérias-primas como o alumínio, os combustíveis minerais, os minérios e o sal.
Justificativa
A relevância do presente tema de pesquisa, deve-se ao facto de ser um assunto emergente na
política global. E em segundo ponto, a pesquisa mostra-se relevante pela escassez de
resultados de pesquisa relativos ao impacto dos APE no Crescimento Económico de
Moçambique. Além disso, na década de 2010 a 2020 a questão dos Acordos de Parceria
Económica tem merecido grande atenção por parte dos académicos, por esta ser tomada na
acepção corrente de cooperação e integração regional. Existem poucos estudos que abordam
a integração económica entre os APE-SADC e a União Europeia e em particular para o
crescimento económico de Moçambique.
Problematização
Os APE constituem instrumentos concebidos para transformar as relações comerciais em
regimes compatíveis com as regras de Organização Mundial de Comércio. Os APE Visam
alcançar a liberalização comercial considerada como um objectivo que contribuirá para o
crescimento económico, criação de riqueza e desenvolvimento sustentável nos países da
SADC. No entanto, as dinâmicas na celebração do APE entre a União Europeia e os Países
SADC tem levantado dúvidas por parte dos Estados da SADC devido às dificuldades em
avaliar adequadamente custos e benefícios deles decorrentes.
O perigo oculto, representado pelo APE com a União Europeia para o regionalismo pode ser
ilustrado no caso da SACU. Apesar da África do Sul ser membro da SACU, ela assinou um
acordo de comércio livre com a União Europeia, o Acordo de Comércio, Desenvolvimento e
Cooperação (ACDC). Apesar do acordo não incluir formalmente os outros membros da
SACU, o Botswana, o Lesoto, a Namíbia e o Essuatíni, ele teve um impacto claro sobre estes
Estados, tornando-os membros efetivos. Devido à tarifa externa comum da SACU, os quatro
países serão forçados a reduzir suas tarifas sobre importações provindas da União Europeia,
de acordo com as taxas acordadas pela África do Sul. Estima-se que isto poderá levar a uma
queda de até 21% em renda tarifária, com a Botswana perdendo cerca de 10% de sua receita
nacional. Da mesma forma, os parceiros de qualquer APE da SADC estariam efetivamente
aceitando o regime de importação já acordado entre a África do Sul e a União Europeia, a não
ser que retenham controles robustos e dispendiosos nas suas fronteiras, para filtrar os bens
originários da Europa que possam entrar em seus países através da África do Sul (Ibid: 10).
Ademais, países como Angola numa primeira fase quando alguns países da SADC como
Moçambique que ratificaram o APE, não aderiram ao APE de imediato. O governo Angolano
estava céptico sobre a adesão do país ao APE, justificando que ainda não tinha organizado
suas economias para se abrir a uma integração regional. Pois, alguns Estados como Angola
receavam que as perdas fossem superiores aos ganhos face aos ajustes que as estruturas das
economias existentes teriam de sofrer face à liberalização comercial, nomeadamente em sede
de eliminação das barreiras alfandegárias e dos direitos aduaneiros (Ferreira, Rodrigues e
Malta (2006: 29).
4
Desde a ratificação do APE pelo Governo da Republica de Moçambique, no ano de 2017, que
tinha como objectivo de alavancar as exportações dos países parceiros. A União Europeia é o
maior parceiro comercial dos Estados do APE-SADC. O APE tem o objectivo de promover a
integração entre os Estados da SADC. Mas, desde a sua ratificação em 2017, não se pode
perceber o aumento de exportações no contexto do APE dos países parceiros da União
Europeia, dos quais os Estados da SADC. Por fim, sendo o caso de Moçambique similar ao
dos outros países5, em que Moçambique ratificou o acordo no ano de 2017 e estando este
envolvido no processo de Integração Económica Regional da SADC, até o ano de 2021 ano
final da pesquisa, não pode se perceber sobre o aumento das exportações como os objectivos
do acordo preconizam. Pretende-se com este estudo, saber: Qual é o impacto do APE entre
a União Europeia e os Estados do APE-SADC para o Crescimento Económico de
Moçambique?
Objectivos da Pesquisa
Objectivo geral
Compreender o impacto do APE entre a União Europeia e os Estados do APE-SADC para o
Crescimento Económico de Moçambique.
Objectivos específicos
Analisar o impacto do APE para crescimento económico dos Estados do APE-SADC;
Avaliar o impacto do APE para o crescimento económico de Moçambique.
Questões de pesquisas
De que forma o APE contribui para o crescimento económico dos Estados do APE-
SADC?
Qual é o impacto do APE para o crescimento económico de Moçambique?
A República do Botsuana, o Reino do Lesoto, a República de Moçambique, a República da Namíbia, a
5
Metodologia
Para o desenvolvimento desta pesquisa, será feito o recurso aos métodos de procedimento, o
método histórico e o método monográfico. Os procedimentos técnicos (colecta de dados):
técnica bibliográfica, a técnica documental e a técnica de entrevista.
Classificação da Pesquisa
A presente pesquisa será classifica quanto a sua natureza, quanto aos objectivos, quanto aos
métodos de procedimentos e por fim quanto aos procedimentos técnicos usados para a
elaboração do trabalho.
Pesquisa básica na visão de Gerhardt e Silveira (2009: 34), é aquela que procura gerar
conhecimentos novos para avanço da ciência sem aplicação prática prevista, envolve
verdades e interesses universais. Desta forma, a pesquisa tem em vista contribuir para o
avanço da ciência e em particular para a área de Economia de Desenvolvimento. Portanto, a
pesquisa tem em vista aprofundar o estudo sobre o desenvolvimento económico de
Moçambique.
De acordo com Lundin (2016: 121), pesquisa analítica-explicativa trata-se daquela que visa
identificar os factores que determinam ou que contribuem para ocorrência dos fenómenos.
Aprofunda os conhecimentos sobre a realidade porque visa explicar a racionalidade dos
processos, dos eventos e das coisas. Sendo assim, a pesquisa permitiu perceber de forma
analítica e explicativa a configuração do Acordo de Parceria Económica em Moçambique. De
6
forma específica, perceber de que forma o acordo com a União Europeia contribui para o
crescimento de Moçambique.
De acordo com, (Ibid.: 31), a pesquisa qualitativa se caracteriza, por preocupar “com
representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo
social, de uma organização”, proporcionando uma melhor visão e compressão do contexto do
problema. Ainda sobre esse tipo de pesquisa, (Raup e Beuren, 2003: 67), acrescentam que ela
descreve a complexidade de um problema, analisando, compreendendo e classificando as
variáveis com os processos dinâmicos ocorridos, sendo profunda a forma de tratar o
fenômeno estudado. Portanto, a pesquisa tem como objectivo aprofundar a compreensão
sobre o Acordo de Parceria Económica entre a União Europeia e Moçambique e o seu
contributo no crescimento económico de Moçambique. Através de uma abordagem
hipotética-dedutiva mediante uma interpretação dos fenómenos e atribuição de significados.
Métodos de Procedimento
As ciências se caracterizam pela utilização de métodos científicos. Método é a forma de
proceder ao longo de um caminho. De acordo com Gomides (2002: 04) “na ciência os
métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento em
sistemas, traçam de modo ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um percurso
para alcançar um objetivo”. Para a elaboração do trabalho, foram usados os seguintes
métodos: Estatístico, Histórico, Monográfico e o método Comparativo.
7
Método Histórico
Método Monográfico
O método parte do princípio de que um (qualquer) caso, estudado com profundidade, pode
ser considerado representativo de muitos outros casos, ou até de todos casos iguais ou
semelhantes. O método consiste em estudar indivíduos, profissões, condições, instituições,
grupos sociais ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações (Lundin,2016: 140).
O método monográfico serviu para estudar as condições e as comunidades para perceber
como o APE contribui para o crescimento económico de Moçambique.
Método Comparativo
Segundo Lakatos (1979: 26-27, citado por Lundin, 2016: 193), considera que o estudo das
semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos sociais, sociedades ou povos,
contribui para melhor compressão sobre o comportamento humano. Assim, o método
comparativo realiza comparações, com a finalidade de verificar semelhanças e explicar
diferenças/divergências. Este método foi usado, tanto para comparações de grupos sócias,
existentes no passado e no presente, como entre sociedades em iguais ou diferentes estágios
de desenvolvimento. Este método vai ajudar a fazer a comparação entre as exportações de
Moçambique antes e depois do APE de modo a aferir os resultados.
Procedimentos Técnicos
8
Técnica Bibliográfica: É uma técnica usada a partir de material já elaborado, constituindo
principalmente por livros e artigos científicos, que permitem ao investigador a cobertura de
uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia ser pesquisada
diretamente, (Gil, 2008: 50). Esta técnica serviu de auxílio ao método histórico para a
interpretação dos dados que foram fornecidos pelos materiais bibliográficos publicados física
ou virtualmente, tal como se confere nas citações da pesquisa e nas referências bibliográficas.
Estrutura do Trabalho
Para além dos elementos pré-textuais e pós-textuais, o presente trabalho está dividido em três
capítulos, precedidos de uma introdução e seguidos de uma conclusão. O primeiro capítulo
está dividido em duas partes. A primeira parte constitui o referencial teórico onde são
apresentadas a Teoria de Crescimento Exógeno e a Teoria da Dependência. Nesta vertente
são enunciados o seu contexto de surgimento, os precursores intelectuais, os pressupostos
básicos e a sua aplicabilidade nesta pesquisa. A segunda parte do trabalho é o debate
conceptual onde são apresentados os debates a volta dos conceitos-chave para a compreensão
do trabalho, nomeadamente Cooperação Económica e Crescimento Económico que são
relevantes utilizados no decorrer desse trabalho. O segundo capítulo tem por objectivo
9
analisar o contributo do APE para o crescimento económico dos Estados da SADC. Para o
efeito o capítulo está dividido em três partes. A primeira parte apresenta os principais
objectivos do acordo. A segunda parte, apresenta uma descrição das relações comerciais entre
a União Europeia e os Estados do APE-SADC. E a terceira parte analisa o impacto do APE
para o crescimento económico dos estados do APE-SADC.
10
CAPÍTULO 1.
O primeiro capítulo está dividido em duas partes. A primeira parte constitui o referencial
teórico onde é apresentada a teoria de Crescimento Exógeno. Nesta vertente são enunciados o
seu contexto de surgimento, os precursores intelectuais, os pressupostos básicos e a sua
aplicabilidade nesta pesquisa. A segunda parte do trabalho é o debate conceptual onde são
apresentados os debates a volta dos conceitos-chave para a compreensão do trabalho,
nomeadamente Cooperação Económica e Crescimento Económico que são relevantes
utilizados no decorrer desse trabalho.
11
modelo desenvolvido por Harrod em 1939. Segundo Solow, a principal falha de Harrod foi
estudar problemas de longo prazo utilizando ferramentas de curto prazo. Ao afirmar que o
estudo de longo prazo é um domínio da teoria neoclássica, Solow desenvolve seu modelo sob
as condições neoclássicas usuais. Solow introduz em 1956 o progresso tecnológico exógeno
ao modelo, acrescentando uma variável tecnologia à função de produção. A ideia geral de
crescimento exógeno foi desenvolvida em meados do século XX. E leva em consideração os
fundamentos da Teoria do Crescimento Neoclássico, ao expandir o conceito para permitir
eventos e cenários relevantes para o crescimento econômico em um ambiente
contemporâneo6. O crescimento exógeno é um tipo de teoria ou crença de que o crescimento
que ocorre dentro de uma economia é influenciado pelo que está acontecendo fora dessa
economia. Este modelo se insere nas teorias de crescimento económico.
A Teoria do Crescimento Exógeno afirma que factores externos exógenos são mais
críticos na determinação do sucesso de uma economia, indústria ou negócio individual
do que fatores internos endógenos.
A Teoria do Crescimento Exógeno advoga que fatores externos, principalmente
macroeconómicos, são os que impulsionam a taxa de crescimento económico.
A teoria advoga que os fatores que impulsionam o crescimento, como a taxa de
avanço tecnológico e as políticas fiscais e tarifárias, não estão sob o controle dos
produtores primários da economia, ou seja, empresas individuais.
A Teoria do Crescimento Exógeno contrasta com a teoria do crescimento endógeno,
que sustenta que as forças internas são mais importantes do que as forças externas na
determinação da taxa de crescimento econômico.
6
Disponível em https://spiegato.com/pt/o-que-e-crescimento-exogeno. Consultado em 05 de Janeiro de 2022.
7
Romer, P. M. (1990), Endogenous technological change. The Journal of Political Economy, v. 98 n°5.
12
Na teoria do crescimento exógeno a acumulação tem retornos marginais decrescentes
a taxa de crescimento sustentável é exógena em relação à taxa de poupança e
investimento e dependente do crescimento da força de trabalho e do progresso
técnico.
8
Bedin, G. A, et al, (2003): Paradigmas das Relações Internacionais. Editora UNIJUI: São Paulo.
13
1.1.2.1 Contexto de Surgimento da Teoria da Dependência
Segundo Dougherty e Pfaltzgraff (2003: 5789, citado por Ibid: 205-206), a teoria da
dependência surgiu durante os anos de 1970 como uma escola de pensamento estruturalista-
globalista com o objectivo de explicar o fosso existente entre as nações ricas e as nações
pobres do mundo. Esta teoria foi desenvolvida principalmente pelos analistas latino-
americanos da Comissão Económica Para América Latina (CEPAL) e foi acolhida com
satisfação por autores que não se encontravam satisfeitos com as explicações daqueles que
atribuíam o fracasso do desenvolvimento das sociedades do Terceiro Mundo ao pressuposto
de que as tradições religiosas e culturais representam obstáculos à modernização.
Dougherty, E.J & R. Pfaltzgraff Jr., (2003), Replaces Internacionais – As teorias em conforto. 1ª Edição,
9
Gradiva: Lisboa.
14
iniciou-se a partir de uma pequena parcela do planeta, onde se desenvolveu até atingir
as fases mais avançadas, para então, a partir daí, tentar utilizar o mundo inteiro em seu
proveito.
Por acordo entenda-se qualquer pacto de aliança ou entendimento a estabelecer entre duas ou
mais partes. Internacional, por sua vez, é algo relacionado com dois ou mais países ou que se
relaciona com diferentes nações. O acordo é um documento no qual duas ou mais partes
concordaram em trabalhar juntas para um objetivo comum. Enquanto o Memorando de
Entendimento é um documento escrito que descreve os termos de um acordo. Os elementos
de um acordo são: a Oferta e Aceitação, enquanto os elementos de um Memorando são: a
10
Disponível em https://pt.mimi.hu/economia/cooperacao.html#:~:text=Coopera%C3%A7%C3%A3o
%20%C3%A9%20uma%20rela%C3%A7%C3%A3o%20baseada%20entre%20indiv%C3%ADduos%20ou,uma
%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20internacional%20que%20conta%20com%2036%20pa%C3%ADses.
Consultado em 25 de Fevereiro de 2022.
11
Disponível em https://www.suno.com.br/artigos/acordo-de-cooperacao/. Consultado em 12 de Abril de 2022.
16
Oferta, Aceitação, Intenção e Consideração12. Pode-se dizer que um acordo é o fruto
(resultado) de uma negociação ou de um debate. As partes envolvidas expõem os seus
argumentos durante as negociações e procuram uma posição comum; ao encontrá-la, chegam
a acordo. Por hábito, durante o processo de procura de um acordo, cada parte cede em prol
dos interesses comuns
O crescimento económico dos Estados tem sido considerado o principal responsável pelos
impactos socioambientais negativos. Devido a essa constatação, alguns estudos têm sido
direcionados para mostrar que o actual modelo de desenvolvimento é incompatível com a
sustentabilidade do meio ambiente e com a qualidade de vida da sociedade. Em resposta a
isso, pesquisadores vem tratando, cada vez mais de assuntos relacionados ao bem-estar social
antes considerado o principal indicador de desempenho dos Estados, é insuficiente para
informar sobre o uso de recursos naturais e sobre a qualidade de vida da população.
Consequentemente impõe-se a necessidade de que a avaliação do desempenho dos Estados
12
Disponível em https://findmoreanswer.com/o_que_e_um_acordo_de_cooperacao/. Consultado em 20 de A
bril de 2022.
13
Disponível em https://economiaenegocios.com/definicao-de-crescimento-economico/. Consultado em 25 de
Fevereiro de 2022.
17
incorpore indicadores de sustentabilidade, de modo que, além do crescimento económico dos
países, se avalie o seu desenvolvimento (Santana,2012: 08)
18
CAPÍTULO 2.
O presente capítulo tem por objectivo analisar o contributo do APE para o crescimento
económico dos Estados da SADC. Para o efeito o capítulo está dividido em três partes. A
primeira parte apresenta os principais objectivos do acordo. A segunda parte, apresenta uma
descrição das relações comerciais entre a União Europeia e os Estados do APE-SADC. E a
terceira parte analisa o impacto do APE para o crescimento económico dos estados do APE-
SADC.
Uma das características deste acordo advém do facto de ter em conta os diferentes níveis de
desenvolvimento de cada um dos países parceiros. Nesse sentido, a União Europeia garante
ao Botsuana, Lesoto, Moçambique, Namíbia e Essuatíni o acesso 100% gratuito, ou seja,
livre de direitos aduaneiros ao seu mercado. Em relação à África do Sul, a União Europeia
também eliminou total ou parcialmente os direitos aduaneiros sobre 98,7% das importações
provenientes deste gigante africano. Em contrapartida, os países da SADC abrem as suas
portas aos produtos provenientes da União Europeia de forma progressiva e parcial. No caso
dos países que fazem parte da União Aduaneira da África Austral (Botsuana, Lesoto,
Namíbia, África do Sul e Essuatíni), estes eliminam os direitos aduaneiros sobre cerca de
86% das importações provenientes da União Europeia. No que diz respeito a Moçambique, o
acordo prevê a eliminação dos direitos aduaneiros sobre 74% das importações provenientes
da União Europeia (Comissão Europeia, 2020).
Disponível em https://trade.ec.europa.eu/access-to-markets/pt/content/comunidade-de-desenvolvimento-da-
15
16
Um destes acordos é Tudo menos Armas (TMA), que dá aos países menos desenvolvidos acesso sem tarifas e
isento de quotas aos mercados da União Europeia.
17
Disponível em https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/pt/IP_16_3338. Consultado em 24 de Março
de 2022.
21
espera por causa do COVID19, mas foi retomado em novembro de 2020 e o painel de
arbitragem foi estabelecido em dezembro de 2021 (European Commision,2022: 6-7).
22
Moçambique foi excluído pelo motivo de ser o caso de estudo e para tal reservo o estudo
aprofundado para o próximo capítulo.
2.2.1 Essuatíni
As trocas comerciais do Essuatíni, enquanto economia de um país sem litoral, fazem se
sobretudo com a África do Sul (65 % do comércio). A União Europeia representa 3,5 % das
exportações diretas, mas uma percentagem mais elevada é exportada através da África do
Sul. O Essuatíni está, aos poucos, a diversificar as suas exportações para a União Europeia,
tendo registado aumentos nas exportações de citrinos (+ 3 milhões de euros, um aumento de
72 % em 2018 em comparação com 2017), rum (+ 4 milhões de euros, um aumento de 435 %
em 2018) e frutas e frutos secos preparados ou conservados, incluindo sumos de frutas (+ 2
milhões de euros, um aumento de 21 % em 2018) (Comissão Europeia,2020).
23
As relações comerciais entre África do Sul e a União Europeia não são um evento novo. Para
efeitos a pesquisa vai incluir o Lesoto na mesma análise que da África do Sul, por estes
estarem diretamente ligado economicamente. Após Maio de 1994, a União Eueopeia oferece
desenvolver “uma relação que possa contribuir para o crescimento econômico e
desenvolvimento e, consequentemente, para o fortalecimento da democracia no cone sul da
África” (Davies 2000). Destacam-se os principais eventos económicos nas relações UE-
África do Sul: no ano de 2004 Novo tratado da SACU entra em vigor Burger (2007:169); no
ano de 2004 foi finalizada a revisão da implementação do Protocolo de Comércio da SADC
pelo Secretariado do SADC; em meados de 2005 houve a implementação do Protocolo de
Comércio da SADC por todos os países-membros (à exceção de Angola, República
Democrática do Congo e Madagascar) (Burger 2007, 169). No mesmo ano, foi concluído o
Tratado de Livre Comércio da SADC com os países membros da área de Livre Comércio
Europeia (FTA) (Burger 2007:170). No ano de 2005 a África do Sul e União Europeia
assinam Protocolo Adicional, o qual permite à África do Sul estender as preferências do
Tratado de Comércio Desenvolvimento e Cooperação (TDCA) a 10 novos Estados membros
e vice-versa (Burger 2007:170). Em 2006, a proposta da SADC de aprofundamento das
relações com a União Europeia, tendo por base o texto revisado do Tratado para o Comércio,
Desenvolvimento e Cooperação (TCDC). Em meados de 2006, substanciais progressos na
harmonização de documentos e processos e na preparação do Memorando de Entendimento
em Assistência Mútua entre aduanas dos países da SADC (Burger,2007:169). E por fim, em
Dezembro de 2007, a Cúpula UE-África em Lisboa.
O APE apoia a diversificação da produção vinícola. Com uma produção anual de 900
milhões de litros, sendo a África do Sul o nono maior produtor de vinho do mundo Comissão
Europeia (2020). Cerca de metade da produção vinícola da África do Sul é exportada, sendo a
União Europeia o seu principal destino. Embora a África do Sul produza vinho há mais de
três séculos, antes do Apartheid não existiam viticultores negros qualificados. Atualmente,
são as mulheres negras jovens que estão a quebrar essa barreira e a usar o APE para exportar
os seus produtos para a União Europeia. A marca de vinhos Thokozani é uma subsidiária da
marca de vinhos Diemersfontein, que visa a capacitação da população negra. É detida por 85
acionistas funcionários, muitos dos quais mulheres, e exporta os seus vinhos para a Chéquia,
a Dinamarca, a Alemanha, os Países Baixos e a Suécia (Ibid.: 13). Ao abrigo do APE, a
União Europeia duplicou o contingente pautal anual referente aos vinhos da África do Sul
que entram na União Europeia isentos de direitos aduaneiros. Subsequentemente, as
24
exportações de vinhos da África do Sul aumentaram de 300 000 toneladas em 2015 para 320
000 toneladas em 2018, com as receitas das exportações a totalizarem 405 milhões de euros
em 2018. Além disso, a África do Sul beneficia da proteção das indicações geográficas no
que respeita a 105 vinhos sul-africanos, e de apoio financeiro destinado a transformar o setor
em prol dos produtores que apresentam maior diversidade e que são socialmente
desfavorecidos (Ibid.).
2.2.3 Namíbia
Relações comerciais entre a Namíbia e a União Europeia não são um evento novo, por este
país ter assinado o APE no ano de 2016. Sendo Namíbia um dos países membros do APE-
SADC já está a executar o APE com a União Europeia. A produção de uvas de mesa frescas
na Namíbia cresceu de 1 000 toneladas em 1991 para cerca de 30 000 toneladas em 2018.
Cerca de 85 % da produção é exportada para a União Europeia. De 2015 a 2018, as
exportações de uvas para a União Europeia cresceram 35%, atingindo 26.000 toneladas por
ano. Em 2018, as receitas das exportações totalizaram 65 milhões de euros, tendo as uvas
namibianas conquistado a reputação de serem um produto de elevada qualidade na União
Europeia. As importações da União Europeia provenientes da Namíbia têm vindo a crescer de
forma constante nos últimos anos (de 963 milhões de euros em 2014 para 1,3 mil milhões de
euros em 2018, uma subida de 35 % em quatro anos). Em 2018, as exportações mais
importantes foram cobre (528 milhões de euros, uma subida de 6 %), peixe e crustáceos (341
milhões de euros, uma subida de 6 %), diamantes (114 milhões de euros, uma descida de 10
%), zinco (110 milhões de euros, uma subida de 9 %) e uvas (65 milhões de euros, uma
subida de 28 %). A agricultura é um setor importante na Namíbia, com cerca de dois terços
dos seus habitantes a depender direta ou indiretamente dela. A União Europeia é o maior
mercado de exportação dos produtos agrícolas e das exportações da Namíbia, que também
incluem tâmaras, produtos hortícolas e plantas medicinais (Comissão Europeia (2020: 16).
2.2.4 Botsuana
A economia do Botsuana ainda não é muito diversificada, representando os diamantes mais
de 85 % das suas exportações ao nível mundial (chegando mesmo aos 95 % no caso de
exportações para a União Europeia). Por conseguinte, os pequenos avanços conseguidos no
sentido de diversificar a economia e acelerar a produção em setores que criem muitos postos
de trabalho são de extrema importância para se conseguir fazer progressos no que toca à
25
redução da pobreza (Ibid: 17). No Botsuana, as importações para a União Europeia no ano de
2018, situava-se em 1.248 mil milhões de euros, 912 em 2019, 980 em 2020 e 1.078 mil
milhões de euros em 2021. As exportações em 2017 estava em cerca de 234, 291 em 2018,
407 em 2019, 447 em 2020 e 634 milhões de euros em 2021. A Bea Bond, é uma marca de
vestuário artesanal, acessórios e bens relacionados com o estilo de vida, para crianças. A Bea
Bond utiliza competências locais para desenvolver e conceber os seus produtos trabalhando
com artesãos botsuanos, nomeadamente tecelões, colmeiros, designers e artistas. As peças de
vestuário são depois cortadas e cosidas na fábrica parceira localizada na cidade de Pilane, nos
arredores da capital Gaborone.
Contudo, constata-se que a União Europeia é o maior parceiro comercial dos Estados da
SADC. Num estudo elaborado pela Comissão Europeia em 2020, permitiu obter
desenvolvimentos substanciais nas trocas comercias entre os dois blocos e especialmente em
cada país membro do APE SADC. No caso do Essuatíni, as hortícolas em miniatura ajudam a
reduzir a pobreza. As trocas comerciais de Essuatíni como país sem litoral, fazem-se
sobretudo da África do Sul com 65% do comércio. No caso da África do Sul, o APE apoia a
diversificação da produção vinícola. A produção anual desta produção é de 900 milhões de
litros e metade desta produção é destinada a União Europeia. No caso da Namibia, a
produção de uvas de mesa de 2015 a 2018 exportou 26 000 toneladas e as receitas das
exportações totalizaram 65 milhões de euros. No caso do Botsuana, a sua economia não é
muito diversificada exportando diamantes e que representam 85% das suas exportações ao
nível mundial (chegando mesmo a 95% no caso da União Europeia.
O APE melhorará efectivamente o acesso dos produtos originários dos Estados da SADC aos
mercados da União Europeia. Tal como no Acordo de Cotonu de 2000 concluído entre os
países ACP e a União Europeia, os APE têm por objectivo dar uma resposta aos desafios
suscitados pela globalização e à necessidade de desenvolvimento (Comissão Europeia, 2020).
Trata-se de criar uma zona económica em que se torne possível assegurar mais facilmente as
trocas de mercadorias, serviços e financiamento, assim como de definir um conjunto de
regras claras, previsíveis e transparentes, que ofereçam estabilidade tanto aos operadores
comerciais como aos investidores. O APE entre a União Europeia e os Estados da SADC será
um acordo negociado único, que definirá as modalidades da cooperação futura entre as duas
27
regiões. As modalidades respeitam um vasto conjunto de questões relacionadas com o
comércio, entre as quais: os direitos cobrados quando da importação das mercadorias, as
normas aplicáveis a essas mercadorias, o comércio de serviços, bem como políticas conexas,
tais como a cooperação aduaneira, os direitos de propriedade intelectual e, provavelmente, os
investimentos e a política de concorrência. Além disso, o APE apoiará o ambicioso processo
de integração regional que já está em curso, ajudando a tirar o máximo proveito desse
processo. O APE será caracterizado pela flexibilidade por forma a reflectir os
condicionalismos socioeconómicos dos países da SADC18.
Esta dimensão política da integração regional poderá ser uma das razões que explicam a
complexidade da situação na SADC em termos de integração económica, também
comparativamente a outras regiões do continente africano. A abordagem regional dos APE
com a União Europeia deu um maior realce aos desafios que se colocam em termos de
selecção de iniciativas de integração que se sobrepõem. Atendendo às sensibilidades políticas
e económicas, a escolha do modelo de APE foi difícil para alguns países (Comissão Europeia,
2020). A participação da África do Sul nas negociações do APE com a SADC, na qualidade
de observador e com funções de apoio, permitiu assegurar a coerência entre as disposições
comerciais existentes e futuras, bem como obter os melhores resultados possíveis.
O presente capítulo tinha como objectivo analisar o contributo do APE para crescimento
económico dos Estados APE-SADC. Porém, constata-se que o conjunto de produtos
exportados para União Europeia, destaca-se apenas de matéria-prima. Tal como a teoria da
Dependência defende em seu primeiro pressuposto a assimetria entre a União Europeia e os
Estados do APE-SADC que todos eles juntos não conseguem fazer face a economia Sul
Africana. Essa assimetria que a teoria da Dependência advoga é que a União Europeia é que
dita que tipo de produtos e os termos de trocas o que de certa forma prejudica os países em
desenvolvimento, devido ao desnível no desenvolvimento dos mesmos, ficando assim numa
situação de os Estados do APE-SADC serem subordinados a União Europeia devido ao seu
poder económico. Além disso, a relação entre a União Europeia e os Estados do APE-SADC
ainda está longe de alcançar interesses mútuos devido a essa assimetria, daí, surge a
subordinação por parte dos Estados do APE-SADC. Também, constata-se que a União
Europeia é o maior parceiro comercial dos Estados da SADC. Num estudo elaborado pela
Comissão Europeia em 2020, permitiu obter desenvolvimentos substanciais nas trocas
Disponível em https://trade.ec.europa.eu/access-to-markets/pt/content/comunidade-de-desenvolvimento-da-
18
29
CAPÍTULO 3.
19
Wache, Paulo. Entrevistado em 16 de Maio de 2022.
20
Disponível em https://docplayer.com.br/113158004-Relacoes-comerciais-entre-mocambique-e-ue-revigoradas-
atraves-de-acordo.html. Consultado em 10 de Maio de 2021.
30
um quadro estável para as trocas comerciais de mercadorias nos próximos anos. Sendo que
Moçambique mesmo ao atingir o nível de país de média renda vai continuar a beneficiar de
um acesso preferencial ao mercado da União Europeia. O acordo surge no sentido de garantir
regras comerciais previsíveis bem como um ambiente de negócios no qual as empresas
poderão investir mediante um regime estável e com a garantia de que as vantagens comerciais
preferenciais do APE irão prevalecer. Ao mesmo tempo, todos os produtos com origem em
Moçambique têm, através do APE, a garantia de isenção de direitos aduaneiros e de livre
acesso ao mercado da União Europeia, com excepção feita para a comercialização de armas e
armamentos. Além disso, o APE simplifica os requisitos para exportar de Moçambique para a
União Europeia através de regras de origem mais vantajosas. As regras de origem ajudam a
definir a nacionalidade económica do seu produto, o que se torna importante para poder
beneficiar do regime aduaneiro preferencial adequado. No APE, as regras de origem são
formuladas por forma a apoiar o desenvolvimento de novas cadeias de valor na Região (Ibid).
Passam 21 anos desde o lançamento oficial das negociações dos APE a nível global. O que
permitiu o estabelecimento do Novo Regime de Cooperação Económica e Comercial entre
alguns países da SADC (entre os quais Moçambique) e a União Europeia. O objetivo é
facilitar as relações comerciais e, portanto, permitir aos diversos agentes encontrarem as
melhores oportunidades de comércio, superando algumas das barreiras comerciais que
possam existir. Uma das convenções que está em vigor é o APE UE-SADC. Assinado em
junho de 2016, este acordo foi subscrito pela União Europeia e os seguintes países SADC:
Botsuana, Lesoto, Namíbia, África do Sul, Essuatíni e Moçambique. Além destas nações,
também Angola solicitou em fevereiro de 2020 a sua adesão a esta parceria económica,
encontrando-se neste momento em fase de negociação 21. Uma das características deste acordo
advém do facto de ter em conta os diferentes níveis de desenvolvimento de cada um dos
países parceiros. Nesse sentido, a União Europeia garante ao Botsuana, Lesoto, Moçambique,
Namíbia e Essuatíni o acesso 100% gratuito, ou seja, livre de direitos aduaneiros ao seu
mercado. Em relação à África do Sul, a União Europeia também eliminou total ou
parcialmente os direitos aduaneiros sobre 98,7% das importações provenientes deste gigante
africano.
21
Disponível em https://www.rangel.com/pt/blog/acordo-de-parceria-economica-ape-ue-sadc/. Consultado em
23 de Março de 2022.
31
regras de origem flexíveis e medidas especiais para a agricultura, a segurança alimentar e a
proteção das indústrias nascentes (Ibid). Assim, estes podem manter tarifas sobre produtos
considerados sensíveis à concorrência internacional. Na verdade, podem ativar determinadas
cláusulas de salvaguarda e aumentar os direitos de importação sobre produtos provenientes da
União Europeia, caso estas importações aumentem muito e ameacem perturbar a produção
interna. Embora os mercados da União Europeia estejam imediata e totalmente abertos, os
países SADC dispõem de 15 anos para se abrirem às importações da União Europeia, com
proteção para as importações sensíveis e de 25 anos em casos excecionais. Além disso, os
produtores de 20% das mercadorias mais sensíveis beneficiarão de uma proteção permanente
contra a concorrência22.
Apesar destas ideias ambiciosas e boas intenções, era desde o início pouco clara a forma
como se devia alcançar esta integração regional. Muitos dos países agregados em grupos
regionais não são comparáveis em termos de desenvolvimento económico: alguns são
relativamente avançados, outros pertencem aos mais pobres do mundo, alguns produzem
arroz, mangas e bananas para propósitos de exportação, outros dependem de agricultura de
subsistência (Jones e Perez, 2008). Os países que concordaram em assinar um APE individual
e intermédio são normalmente os mais ricos da sua região. Para estes países, os APEs são
relativamente atractivos, por causa da sua posição económica e economias relativamente
avançadas, que os colocam em melhor posição para se adaptarem à nova situação quando as
fronteiras se abrirem aos produtos europeus. Para além disso, não assinar o APE intermédio
significaria para eles terem de enfrentar acordos de comércio ao abrigo do GSP+, o que lhes
traria muitas mais desvantagens. E não só, tornar-se-iam não elegíveis para comércio com a
União Europeia ao abrigo da iniciativa Tudo Menos Armas (TMA 23). Os países menos
desenvolvidos beneficiam actualmente do acordo APE Preferencial, que é muito mais
vantajoso para eles. Isto torna a assinatura de um APE muito menos atraente para estes
países. Para proteger os Países em Desenvolvimento, ainda são permitidas preferências
unilaterais como a TMA24.
22
Disponível em https://trade.ec.europa.eu/access-to-markets/pt/content/comunidade-de-desenvolvimento-da-
africa-austral-comunidade-de-desenvolvimento-da-africa-austral. Consultado em 23 de Março de 2022.
23
Um destes acordos é Tudo Menos Armas (TMA), que dá aos países menos desenvolvidos acesso sem tarifas e
isento de quotas aos mercados da União Europeia.
24
Disponível em https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/pt/IP_16_3338. Consultado em 24 de Março
de 2022.
32
Moçambique ratificou o APE, que estabeleceu e introduziu nas opções de acesso ao mercado
uma nova base de relação comercial e económica com a União Europeia, que permite que
Moçambique:
(i) Maximize o tratamento preferencial que tem nas relações comerciais, promovendo
a sua integração económica na economia e comércio internacional assente no
desenvolvimento sustentável;
(ii) Exporte para a União Europeia, livre de quotas e direitos aduaneiros;
(iii) Beneficie e use as regras de origem mais flexíveis, simples e vantajosas na
produção dos bens que exporta e, sempre que necessário, factores de produção
mais baratos, de melhor qualidade e mais inovadores.
Assim sendo, pode-se constatar que a União Europeia é o maior parceiro comercial de
Moçambique. Sendo assim, suas maiores exportações têm como a União Europeia seu
principal destino. Mas no fundo, as relações comerciais são boas porque existe comércio,
mais ganhos para a União Europeia e para Moçambique. Por serem assimétricas não significa
que são necessariamente más, são relações possíveis nas condições de hoje.
33
3.2 Balança comercial de Moçambique para a União Europeia
De 2017 à 2020, as trocas comerciais entre Moçambique e União Europeia tiveram um
comportamento oscilatório. As exportações registaram o seu valor mais baixo no ano de
2020, com cerca de 3.663.460 milhões de dólares e o mais alto no ano de 2018 com cerca de
5.012.287 milhões de dólares, enquanto que, as importações o valor mais baixo foi no ano de
2020 com cerca de 5.206.186 milhões de dólares e o mais alto em 2019 cerca de 7.427.812
milhões de dólares. A balança comercial que tem sido sempre negativa também com
comportamento oscilatório, o seu valor mais alto registou-se em 2017 (-1 020 095 milhões de
dólares) e daí em diante com uma tendência decrescente onde em 2020 atingiu o valor mais
baixo de (-2.882.520 milhões de dólares. Em 2020 as exportações de Moçambique para
União Europeia baixaram 33,2% (com um valor de 859 879 milhões de dólares) (INE, 2020:
11).
6000000
4000000
2000000
0
2017 2018 2019 2020 2021
-2000000
-4000000
25
Instituto Nacional de Estatística, (2020), Estatística do Comércio Externo de Bens – Moçambique. Maputo,
Moçambique.
26
Banco de Moçambique, 2021, http://www.bancomoc.mz. Consultado em 20 de Abril de 2022.
34
De 2019 para 2020, os principais países que Moçambique exportou na União Europeia,
nomeadamente Itália, Países Baixos, Bélgica, Espanha e Polónia cujos valores são
respectivamente 238.560 milhões de dólares (27,7%), 206 042 milhões de dólares (24,0%),
136.728 milhões de dólares (15,9%), 104.770 milhões de dólares (12,2%) e 77.255 milhões
de dólares (9,0%). No que diz respeito a variação na estrutura o destaque vai para França,
Grécia e Croácia que reduziu em 60,1%, 73,9% e 84,65% respectivamente sendo que para
Estónia e a Bulgária a redução foi quase de 100% (INE, 2020: 12). Os dados do ano de 2017
ao ano de 2020 foram elaborados pelo INE e do ano 2021 foi elaborado pelo Banco de
Moçambique. Moçambique exportou em 2021 mais de 3 mil milhões de dólares para a União
Europeia. O que representa 38% das exportações de Moçambique, as exportações passaram
de 13.5 mil milhões para 16.3 mil milhões.
Analisando a evolução trimestral do movimento de bens entre 2019 e 2020, verifica-se que as
exportações e importações tendem a crescer entre o 1º e o 4º trimestre de cada ano. No
período em análise os valores das exportações variam entre 724.502 milhões de dólares no 2º
trimestre de 2020 e 1.252.762 bilhões de dólares no 4º trimestre de 2019. Por sua vez as
importações variam entre 1.395.863 bilhões de dólares e 2.095.107 bilhões de dólares num
período similar das exportações. No 2º trimestre de 2020 nota-se uma redução tanto nas
importações como nas exportações de bens, o que pode ter sido motivado pelo estado de
emergência decretado nessa altura que ditou o encerramento das fronteiras e restrições de
voos internacionais. O saldo da balança comercial foi sempre deficitário em todo período
sendo os maiores registos atingidos no 1º trimestre de 2019 (-457 932 milhões de dólares) e o
3º trimestre de 2020 (-568 463 milhões de dólares) (Ibid: 10).
35
Gráfico 2. Principais destinos de Exportações de Moçambique.
Outros
EUA-AGOA 17% União Eu-
1% ropeia
38%
China
7%
Índia
12%
Africano
2% SADC
23%
A União Europeia tem sido, nos últimos 10 anos (2011-2020), o principal parceiro comercial
de Moçambique por causa do alumínio com destino a Holanda, figurando como destino de
38% do total das exportações, o correspondente a 14.558,06 milhões de dólares. Apesar da
redução global da balança comercial de 63%, em 2019 e 2020, por exemplo, o País exportou
para aquele mercado 1.489,69 e 1.221,85 milhões de dólares, respectivamente.
Paralelamente, a União Europeia exporta 10% do total das importações de Moçambique, com
destaque para trigo (13%), óleos e petróleos (6%), medicamentos (3%), carnes e miudezas
(1%), adubos (1%) e pneumáticos (1%). Portugal, Reino Unido, Itália, Alemanha e Rússia
são os principais países de origem dos produtos importados por Moçambique, sendo que os
Países Baixos, o Reino Unido, a Itália, Espanha, Portugal e Polónia são o destino das
exportações (Moz APE, 2021: 09).
Em 2020 entraram no país bens provenientes dos países da União Europeia num valor de 687
996 mil milhões de dólares o que corresponde a um decréscimo de 22,9% face a 2020. Tanto
em 2019 como em 2020 Portugal lidera as importações com um valor de 230 325 mil milhões
de dólares (33,5%) apesar de ter reduzido a variação em 14,5% relativamente ao ano 2019. O
2º e 3º postos são ocupados pela Itália e Alemanha respectivamente com 109 886 mil milhões
de dólares (16,0%) e 81 958 mil milhões de dólares (11,9%). O destaque pela negativa vai
para os Países Baixos que passou da 2ª para 4ª posição com uma variação de -61,9% tendo
em 2020 registado um valor de 56 717 mil milhões de dólares contra os 149 008 mil milhões
de dólares face ao ano 2019. Por outro lado a Polónia, Lituânia e Malta registaram subidas
que variam em 136,2%, 75,7% e 13243,5% respectivamente. A subida galopante de Malta é
explicada pelo aumento nas importações de Cimentos (com um valor de 1 743 mil milhões de
dólares), Partes destinadas aos aparelhos de conexão (com um valor de 666 mil milhões de
dólares), Quadros, painéis, consolas e outros suportes (com um valor de 286 mil milhões de
dólares), Máquinas e aparelhos de ar condicionado (com um valor de 200 mil milhões de
de 2022.
38
dólares) e entre outros. Ainda nas grandes subidas de variação apesar dos valores serem
insignificantes temos Luxemburgo (59,2%), Estónia (161,7%) e Eslovénia (284,8%)
(INE,2020: 20).
Principais Importações
6% Automóveis
13%
Combustíveis
Alumínio Bruto
43% 7% Material de Construção
Maquinaria
8% Outros
22%
Fon
te: Banco de Moçambique31.
Os cinco bens mais importados representam aproximadamente 59% do total das importações
de 2019. As importações principais são bens de consumo final são: o arroz, o trigo, óleos
alimentares, combustíveis e automóveis, e de consumo intermédio, alumínio bruto e materiais
O valor das importações de Moçambique para União Europeia em 2019 foi de 892 867
milhões de dólares e em 2020 houve uma redução e citou-se em 687 996 milhões de
dólares32. Quanto às importações concentradas em bens de consumo e bens intermédios,
apesar da redução gradual não houve registo de quebra nem abrandamento no fornecimento
de bens. Visto que as indústrias e os operadores económicos anteciparam as importações, o
que resultou na existência permanente de “stocks” de matéria-prima e abastecimento regular
do mercado. A indústria extractiva teve um peso de cerca de 32%, as exportações do carvão
mineral (57%), areias pesadas (22%) e gás natural (20%). A indústria transformadora teve um
Instituto Nacional de Estatística, (2020), Estatística do Comércio Externo de Bens – Moçambique. Maputo,
32
Moçambique.
39
peso de 31%, com destaque para o alumínio (80%), e a energia eléctrica (13%). Os produtos
agrícolas representaram cerca de 7%, com destaque para o tabaco (57%), feijões, outros
legumes de vagem, hortícolas, sementes e frutas oleaginosas (18%), castanha de caju (13%),
frutas diversas de casca rija (12%) e algodão (5%), outros produtos, com um peso de cerca de
14%, incluindo madeira e produtos pesqueiros (camarão e lagosta) com 1%.
de Abril de 2022.
40
produto exportado para a União Europeia (180 milhões de euros em 2018). Outras
exportações agroalimentares de Moçambique para a União Europeia são o peixe e os
crustáceos com 37 milhões de euros em 2018, o açúcar com 16 milhões de euros e o caju (11
milhões de euros). Em 2018, a parte correspondente aos abacates nas exportações totalizou
500 000 euros.
Volvidos 5 anos, desde que Moçambique ratificou o APE com a União Europeia, embora
com muito potencial ainda por explorar, muitos são os ganhos que o país tem vindo a registar,
nomeadamente:
(i) Desde o aumento dos fluxos nas transacções comerciais com índices percentuais
favoráveis (2016 a 2020), o que torna o mercado da União Europeia um dos
principais parceiros, o correspondente a 38% do total das exportações, sendo de
expressão alguns dos seus países membros (Países Baixos - 17%, Reino Unido -
4%, Itália - 4%, Espanha - 2%, Bélgica - 2% e Portugal - 1%); Unido - 4%, Itália -
4%, Espanha - 2%, Bélgica - 2% e Portugal - 1%);
(ii) Um ecossistema institucional de apoio em consolidação e com valências técnicas
de resposta às exigências do mercado da União Europeia (a APIEX, o IPEME, o
INNOQ, o IPI, o ICM e a BMM, para além das estruturas provinciais
descentralizadas e de representação do Estado);
(iii) A implementação de programas de assistência técnica e de desenvolvimento,
sendo de assinalar, e com implicação regional na SADC, por exemplo, o “Trade
Related Facility”, que Moçambique terminou com mais de 95% de execução em
41
Janeiro de 2021 e, mais recentemente, com impacto nacional, a aprovação do
programa Promove Comércio34.
Tal como a teoria de Crescimento Económico advoga nos seus principais pressupostos, a
economia de um país tem mais chances de sucesso com factores exógenos, ou seja, um país
vai desenvolver com factores externos, como financiamento ou cooperação tal como o acordo
prevê. No âmbito do APE, foi lançado o projecto “Promove Comércio”, que visa impulsionar
o desenvolvimento estrutural das cadeias de valor prioritárias directas. Voltadas para as
exportações e o aumento qualitativo do investimento europeu em Moçambique, foi lançado a
29 de Março, na Cidade de Maputo, pelo Ministério da Indústria e Comércio, em parceria
com a União Europeia. O projecto, a ser operacionalizado, na componente “Construindo
Competitividade para as Exportações”, em parceria com a UNIDO (Organização das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Industrial). É financiado pela União Europeia e visa,
também, apoiar a implementação do APE e do AFC da Organização Mundial do Comércio
(OMC) (Moz APE, 2021: 16).
O presente capítulo tinha como objectivo de avaliar o impacto do APE para o crescimento
económico de Moçambique. Assim sendo, o presente capítulo conclui que a União Europeia
é o maior parceiro comercial de Moçambique apenas para matéria-prima como alumínio que
e exportado para Holanda. Após analisar as relações comercias entre a União Europeia e
Moçambique, pode-se compreender estas relações em duas vertentes teóricas que sustentam a
pesquisa. Constatou-se, também que tal como a teoria da Dependência defende em seu
primeiro pressuposto a assimetria entre a União Europeia e Moçambique. Sendo a União
Europeia desenvolvida e Moçambique muito pobre, dois polos um rico e outro pobre. Essa
assimetria que a teoria da Dependência advoga é que a União Europeia é que dita que tipo de
produtos e os termos de trocas o que de certa forma prejudica os países em desenvolvimento.
Prejudica devido ao desnível no desenvolvimento dos países mais pobres, ficando assim
numa situação de Moçambique ser subordinado da União Europeia devido ao seu poder
económico. A União Europeia é o maior parceiro comercial de Moçambique, apenas porque a
União Europeia só importa matéria-prima de Moçambique e em contrapartida exporta
produtos acabados.
Promove Comércio visa impulsionar o desenvolvimento estrutural das cadeias de valor prioritárias directas,
34
voltadas para as exportações e o aumento qualitativo do investimento europeu em Moçambique, foi lançado a 29
de Março, em Maputo, pelo Ministério da Indústria e Comércio, em parceria com a União Europeia.
42
Daí surge a assimetria, porque Moçambique não vai desenvolver neste ritmo, porque a União
é quem dita que tipo de produtos é que vão entrar no mercado europeu, mesmo esse produto
sendo eficiente e competitivo as barreiras dificultam. Além disso, a relação entre a União
Europeia e Moçambique ainda está longe de alcançar interesses mútuos devido a essa
assimetria, daí, surge a subordinação por parte de Moçambique. Mas não pode-se ver o APE
como como um acordo sem benefícios. Pelo contrário, podemos chamar aqui a teoria de
Crescimento Exógeno que em um dos seus pressupostos advoga que os Estados têm mais
chance de sucesso quando tem factores exógenos (externos). Isso significa que pelo menos no
APE existe comércio e que Moçambique está na busca de se inserir na economia mundial de
modo a crescer economicamente. Desde o início das negociações entre a União Europeia e os
Estados do APE-SADC, os estados do APE-SADC não aumentaram suas exportações, apenas
aumentaram devido a assimetria entre ambos. Do ponto de vista de crescimento económico
não houve um aumento considerado das exportações de Moçambique para União Europeia,
além de matéria-prima. A teoria da Dependência defende em seu primeiro pressuposto a
assimetria entre a União Europeia e de Moçambique.
43
CONCLUSÃO
O primeiro capítulo tinha por objectivo apresentar a principal teoria que vai servir de base
para explicação do tema. Para efeitos, foram aplicadas a Teoria de Crescimento Exógeno e a
Teoria da Dependência. A Teoria de Crescimento Económico contribuiu através dos seus
pressupostos através de um estudo aprofundado da Balança Comercial (Importações e
Exportações) e o seu impacto na economia moçambicana. Uma vez que a teoria advoga que
os factores externos (exógenos) são mais determinantes no sucesso de uma economia. Por
outro lado, foi usada a Teoria da Dependência para explicar a assimetria entre o
desenvolvimento da União Europeia e os Estados do APE-SADC e em particular de
Moçambique.
O segundo capítulo tinha como objectivo analisar o contributo do APE para crescimento
económico dos Estados APE-SADC. Porém, constata-se que o conjunto de produtos
exportados para União Europeia, destaca-se apenas de matéria-prima. Tal como a teoria da
Dependência defende em seu primeiro pressuposto a assimetria entre a União Europeia e os
Estados do APE-SADC que todos eles juntos não conseguem fazer face a economia Sul
Africana. Essa assimetria que a teoria da Dependência advoga é que a União Europeia é que
dita que tipo de produtos e os termos de trocas o que de certa forma prejudica os países em
desenvolvimento, devido ao desnível no desenvolvimento dos mesmos, ficando assim numa
situação de os Estados do APE-SADC serem subordinados a União Europeia devido ao seu
poder económico. Além disso, a relação entre a União Europeia e os Estados do APE-SADC
ainda está longe de alcançar interesses mútuos devido a essa assimetria, daí, surge a
subordinação por parte dos Estados do APE-SADC. Também, constata-se que a União
Europeia é o maior parceiro comercial dos Estados da SADC. Num estudo elaborado pela
Comissão Europeia em 2020, permitiu obter desenvolvimentos substanciais nas trocas
comercias entre os dois blocos e especialmente em cada país membro do APE SADC. No
caso do Essuatíni, as hortícolas em miniatura ajudam a reduzir a pobreza. As trocas
comerciais de Essuatíni como país sem litoral, fazem-se sobretudo da África do Sul com 65%
do comércio. No caso da África do Sul, o APE apoia a diversificação da produção vinícola. A
produção anual desta produção é de 900 milhões de litros e metade desta produção é
destinada a União Europeia. No caso da Namibia, a produção de uvas de mesa de 2015 a
2018 exportou 26 000 toneladas e as receitas das exportações totalizaram 65 milhões de
euros. No caso do Botsuana, a sua economia não é muito diversificada exportando diamantes
44
e que representam 85% das suas exportações ao nível mundial (chegando mesmo a 95% no
caso da União Europeia.
O terceiro capítulo teve como objectivo de avaliar o impacto do APE para o crescimento
económico de Moçambique. Assim sendo, constatou-se que a União Europeia é o maior
parceiro comercial de Moçambique apenas para matéria-prima como alumínio que e
exportado para Holanda. Após analisar as relações comercias entre a União Europeia e
Moçambique, pode-se compreender estas relações em duas vertentes teóricas que sustentam a
pesquisa. Constatou-se, também que tal como a teoria da Dependência defende em seu
primeiro pressuposto a assimetria entre a União Europeia e Moçambique. Sendo a União
Europeia desenvolvida e Moçambique muito pobre, dois polos um rico e outro pobre. Essa
assimetria que a teoria da Dependência advoga é que a União Europeia é que dita que tipo de
produtos e os termos de trocas o que de certa forma prejudica os países em desenvolvimento.
Prejudica devido ao desnível no desenvolvimento dos países mais pobres, ficando assim
45
numa situação de Moçambique ser subordinado da União Europeia devido ao seu poder
económico. A União Europeia é o maior parceiro comercial de Moçambique, apenas porque a
União Europeia só importa matéria-prima de Moçambique e em contrapartida exporta
produtos acabados.
Daí surge a assimetria, porque Moçambique não vai desenvolver neste ritmo, porque a União
é quem dita que tipo de produtos é que vão entrar no mercado europeu, mesmo esse produto
sendo eficiente e competitivo as barreiras dificultam. Além disso, a relação entre a União
Europeia e Moçambique ainda está longe de alcançar interesses mútuos devido a essa
assimetria, daí, surge a subordinação por parte de Moçambique. Mas não pode-se ver o APE
como como um acordo sem benefícios. Pelo contrário, podemos chamar aqui a teoria de
Crescimento Exógeno que em um dos seus pressupostos advoga que os Estados têm mais
chance de sucesso quando tem factores exógenos (externos). Isso significa que pelo menos no
APE existe comércio e que Moçambique está na busca de se inserir na economia mundial de
modo a crescer economicamente. Desde o início das negociações entre a União Europeia e os
Estados do APE-SADC, os estados do APE-SADC não aumentaram suas exportações, apenas
aumentaram devido a assimetria entre ambos. Do ponto de vista de crescimento económico
não houve um aumento considerado das exportações de Moçambique para União Europeia,
além de matéria-prima. A teoria da Dependência defende em seu primeiro pressuposto a
assimetria entre a União Europeia e de Moçambique.
46
LISTA DE REFERÊNCIAS
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52
ANEXO
Questionário de entrevista realizada no terreno.
Questionário 1
Contextualização
Esta entrevista tem por objectivo colher informações relevantes, no âmbito do Trabalho de
Conclusão de Licenciatura, cujo tema é Impacto do Acordo de Parceria Económica
entre a União Europeia e a SADC para o Crescimento Económico dos Estados do
APE-SADC: Caso de Moçambique.
Este trabalho visa compreender como o impacto do APE contribui no crescimento
económico dos Estados do APE-SADC e em particular de Moçambique. Explicar as áreas
de cooperação entre a União Europeia e os Estados do APE-SADC, avaliar contributo do
APE para crescimento económico dos Estados da SADC e avaliar o impacto do APE para
o crescimento económico de Moçambique.
Questões
1- Como caracteriza as relações comerciais entre os Estados da SADC e União
Europeia?
2- Quais são as vantagens de Moçambique no APE?
3- Quais são os beneficios que Moçambique pode tirar no APE?
4- Quais são os principais desafios enfrentados por Moçambique dentro do APE?
5- Como olha para a questão da Cooperação em Matéria de Comércio e
Desenvolvimento Sustentável.
6- Como olha para os domínios de Cooperação?
53
7- - Gostava de acrescentar alguma coisa? Qual?
54