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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E RELAÇÕES

INTERNACIONAIS
Reconhecido por Decreto do Conselho de Ministros n.º 26/07, de 07 de Maio

CURSO SUPERIOR DE ECONOMIA

ESTRATÉGIAS DE INCLUSÃO DE AGENTES ECONÓMICOS


PROVENIENTES DO SECTOR INFORMAL PARA O SECTOR
FORMAL: CASO DOS VENDEDORES AMBULANTES DO BAIRRO
CUCA – CAZENGA

Trabalho de Conclusão do Curso


Apresentado por Ângelo Barreto Francisco João, ano de 2022.
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Reconhecido por Decreto do Conselho de Ministros n.º 26/07, de 07 de Maio

CURSO SUPERIOR DE ECONOMIA

ESTRATÉGIAS DE INCLUSÃO DE AGENTES ECONÓMICOS


PROVENIENTES DO SECTOR INFORMAL PARA O SECTOR
FORMAL: CASO DOS VENDEDORES AMBULANTES DO BAIRRO
CUCA – CAZENGA

Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do grau de Licenciado em


Economia, sob orientação do Msc. Daniel Tendo

ELABORADO POR ÂNGELO BARRETO FRANCISCO JOÃO

LUANDA, 2022
Dedico este trabalho a todos os estudantes
trabalhadores e que ao mesmo tempo são pais e
chefes de família e que dia a dia perdem noites, dias
e se esforçam para obterem o tão esperado grau de
licenciatura.
AGRADECIMENTOS

Quero primeiramente agradecer a Deus Pai todo-poderoso por me permitir chegar até
aqui, com saúde e com a mente sã de forma a concluir esta fase tão importante da minha vida.
A seguir gostaria de agradecer a minha mãe, dona Domingas Manuel António Francisco, por
ser a pessoa que para além de me gerar, deu-me a educação necessária para eu me tornar no
homem que sou agora, e mesmo sendo pai e mãe ao mesmo tempo, nunca ter deixado nos
faltar o essencial para a nossa formação e educação, à minha esposa Maura João por ter-me
incentivado à inscrever-me na faculdade, apesar do momento crítico da minha vida, sem
condições financeiras necessárias; ao meu irmão mais velho Jó Barreto, por ter contribuído
para que este objectivo se concretizasse; à tia da ginguba que nos momentos cruciais se portou
como uma mãe para mim. A todos quanto directa ou indirectamente torceram e continuam
torcendo por mim e que durante a caminhada contribuíram com alguma coisa para que este
projecto se tornasse realidade.
O meu muito obrigado.
EPÍGRAFE

O sector informal compõe-se de actividades legais realizadas por agentes económicos ilegais.
Duns (2014)

III
RESUMO
O crescimento económico em Angola tem grande influência dos agentes económicos do
sector informal. Estes exercem acções que não são regulamentadas pelo Estado, formando o
sector formal. Para uma estabilidade económica é necessário que se inclua a actividade
informal no sector formal, por isso a perguntamos à partida sobre as estratégias necessárias
para a inclusão dos agentes económicos informais no sector formal. Estudamos o caso dos
agentes económicos do bairro da Cuca, situado no município do Cazenga. O objectivo geral
foi de analisar a formalização do mercado informal, fizemo-lo de modo específico definindo
os mercados, caracterizando os agentes económicos, avaliamos a relação dos sectores e
finalmente apresentamos as estratégias para a formalização do mercado informal. Utilizamos
a pesquisa exploratória, por isso, empregamos o método dedutivo, descritivo e estatístico,
com a técnica de estudo de caso dos vendedores ambulantes por intermédio de questionários,
com margem de respostas abertas aplicado a 63 agentes, processamos os dados por tabelas e
gráficos para a análise. 73% dos participantes têm como actividade negocial a venda, sendo
que a falta de emprego, a procura do lucro fácil e a renda extra são os principais factores
influenciadores da venda ambulante e os bens alimentares, bem como os vestuários, são os
principais produtos de venda. Observando os resultados da pesquisa, notamos que é
necessário políticas públicas para criação de empregos, medidas adequadas ao local de vendas
e um paradigma socioeconómico multidimensional, como estratégias de inclusão.

Palavras-chave: agentes económicos, informal, formal, mercado e estratégias.

IV
ABSTRACT
agents in the informal sector. These carry out actions that are not regulated by the State,
forming the formal sector. For economic stability it is necessary to include informal activity
in the formal sector, which is why we asked it at the outset about the necessary strategies for
the inclusion of informal economic agents in the formal sector. We studied the case of
economic agents in the neighborhood of Cuca, located in the municipality of Cazenga. The
general objective was to analyze the formalization of the informal market, we did it in a
specific way, defining the markets, characterizing the economic agents, evaluating the
relationship between the sectors and finally presenting the strategies for the formalization of
the informal market. We used exploratory research, therefore, we used the deductive,
descriptive and statistical method, with the case study technique of street vendors through
questionnaires, with a margin of open answers applied to 63 agents, we processed the data
through tables and graphs to the analysis. 73% of the participants have sales as a business
activity, with the lack of employment, the search for easy profit and extra income being the
main factors influencing street sales and food, as well as clothing, are the main products of
sale. Observing the research results, we note that public policies for job creation, appropriate
measures for the sales location and a multidimensional socio-economic paradigm, such as
inclusion strategies, are needed.

Keywords: economic agents, informal, formal, market and strategies.

V
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
 Apud – citado por;
 EPs – Empresas Públicas;
 et al – e outros;
 H1- hipótese primeira;
 IDE – Índice de Desenvolvimento Económico;
 IDH – Índice de Desenvolvimento Humano;
 IFC – International Finance Corporatio;
 MPME – Micros, Pequenas e Médias Empresas;
 OIT – Organização Internacional do Trabalho;
 ONU – Organização das Nações Unidas;
 p. - página;
 PIB – Produto Interno Bruto;
 pp. – páginas;
 S.d – sem data.

VI
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Idade dos Vendedores Ambulantes .......................................................................... 28
Tabela 2: Género dos Vendedores Ambulantes ....................................................................... 29
Tabela 3:Tempo de Trabalho .................................................................................................... 30
Tabela 4: Classificação da Actividade Negocial ...................................................................... 31
Tabela 5:Factores que Influenciam a Venda Ambulante.......................................................... 33
Tabela 6: Qual é o melhor comércio: formal ou informal? ...................................................... 35
Tabela 7: Tabela de Principais Produtos Vendidos .................................................................. 36
Tabela 8:Volume de Renda Mensal ......................................................................................... 37
Tabela 9: Troca do Sector Informal ao Sector Formal ............................................................. 39

VII
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................ II
EPÍGRAFE ............................................................................................................................................ III
RESUMO .............................................................................................................................................. IV
ABSTRACT ............................................................................................................................................V
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................................................... VI
ÍNDICE DE TABELAS ....................................................................................................................... VII
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 4
1.1. Conceito de Agente Económico .............................................................................................. 4
1.1.1. As Famílias...................................................................................................................... 4
1.1.2. As Empresas .................................................................................................................... 5
1.1.3. O Estado .......................................................................................................................... 5
1.1.4. Instituições Financeiras ................................................................................................... 6
1.1.5. O Exterior ou o Resto do Mundo .................................................................................... 6
1.2. Conceito de Actividade Económica ........................................................................................ 6
1.3. Noção de Mercado .................................................................................................................. 7
1.4. O Conceito de Mercado Formal .............................................................................................. 8
1.5. A Estrutura do Mercado Formal .............................................................................................. 9
1.6. A Formulação do Conceito Informalidade ............................................................................ 12
1.7. Do Sector Informal para a Economia Informal ..................................................................... 13
1.8. Formalidade versus Informalidade ........................................................................................ 14
1.8.1. Tipos de Custos da Informalidade ................................................................................. 15
1.8.2. Resultados dos Custos de Informalidade....................................................................... 16
CAPÍTULO II – DISCUSSÃO TEÓRICA DO OBJECTO DE ESTUDO .................................... 18
2.1. Panorâmica Geral da Economia Angolana: Estudos ............................................................. 18
2.2. Impacto da Economia Informal ............................................................................................. 20
2.3. Mercado Informal Angolano ................................................................................................. 20
2.4. Causas e Importância do Crescimento do Mercado Informal em Luanda ............................ 22
CAPÍTULO III – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ...................................................... 24
3.1. Tipos de Pesquisas Aplicados no Estudo ................................................................................... 24
3.2. Tipo de Abordagem de Pesquisa ................................................................................................ 24
3.3. Método de Pesquisa.................................................................................................................... 25
3.4 Técnicas e instrumentos de recolha de dados .............................................................................. 25
3.5. Unidade de Análise e População Alvo ....................................................................................... 26
3.6. Amostra ...................................................................................................................................... 26
3.7. Instrumentos de Analise e Interpretação dos Dados .................................................................. 27
3.8. Procedimentos de Pesquisa ........................................................................................................ 27
CAPÍTULO IV – ENQUADRAMENTO EMPÍRICO .................................................................... 28
4.1 Apresentação dos Resultados ...................................................................................................... 28
4.1.1 Idade dos Vendedores ................................................................................................... 28
4.1.2. Género ................................................................................................................................. 29
4.1.3. Tempo de Venda ................................................................................................................. 30
4.1.4. Actividade Negocial ............................................................................................................ 31
4.1.5 Factores Influenciadores da Escolha por ser Vendedor Ambulante ..................................... 32
4.1.6 Comércio Informal e Comércio Formal: Qual é o Melhor? ................................................. 34
4.1.7. Principais Produtos à Venda................................................................................................ 36
4.1.8. Volume de Renda Mensal ................................................................................................... 37
4.1.9.Troca para o Sector Formal .................................................................................................. 38
4.2. Discussão dos Resultados........................................................................................................... 39
4.2.1. Âmbito das Estratégias ........................................................................................................ 42
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 43
RECOMENDAÇÕES OU SUGESTÕES ............................................................................................. 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 46
APÊNDICE ........................................................................................................................................... 48

II
INTRODUÇÃO

As actividades informais compreendem as unidades económicas pertencentes a


trabalhadores por conta própria e a empregadores com poucos empregados, incluindo todos os
proprietários (sócios) desses empreendimentos. A diferenciação entre trabalhadores por conta
própria (autónomos) e empregadores é extremamente útil.
É muito comum nas nossas cidades de Angola encontrar determinadas pessoas com
produtos para o comércio fora do local ideal para se comercializar, outrossim, é vulgar
ouvirmos o termo «zungueiro» quando se trata de adquirir bens e serviços fora do mercado, o
que traz a sensação de que tudo quanto se pode adquirir em empresas comerciais se pode
encontrar também nas ruas, onde não há controlo do Estado, tanto na abordagem quanto ao
procedimento destes.
Se por um lado temos os vendedores, por outro lado temos o próprio sector da
economia e a sua repartição, pois, neste caso, não se arrecada receitas de forma para a
satisfação, não se consegue administrar os bens escassos quando não se tem um controlo. Isto
motivou-nos a pesquisar sobre as estratégias de inclusão daqueles vendedores ambulantes
enquanto agentes económicos no sector formal, já que eles fazem parte, neste caso, na
economia informal.
Podemos definir economia informal como tudo que é produzido pelo sector primário,
secundário ou terciário sem conhecimento do Estado (o Estado não consegue arrecadar
impostos e não são recolhidos os encargos sociais dos trabalhadores da informalidade).
Globalmente, existem vários tipos de economia informal, que vão desde vendedores
ambulantes, advogados, manicuros e professores, até mesmo a grandes mercados informais.
Objecto de Estudo
O nosso estudo não foi realizado tendo em conta todos os que fazem parte do sector
informal ou ainda todos os vendedores informais. Assim, o nosso estudo cingiu-se no caso
dos vendedores ambulantes que residam ou exerçam suas actividades económicas no bairro da
Cuca, situado no município do Cazenga, província de Luanda, num período correspondente
desde o mês de Outubro até o mês de Dezembro do ano de 2021.
Importância e Problemática
Vários têm sidos os debates sobre o crescimento e o desenvolvimento económico,
tendo em conta o factor produtivo na área comercial em Angola, nem se tem escapado a
análise sobre os vendedores informais nas diversas áreas de Luanda. Ainda, cada vez que se
1
reclama da organização urbana pelos diversos indicadores, fala-se dos locais de venda, para
que se evite as sucessivas corridas (por vezes trágicas) dos agentes policiais e fiscais da
administração pública. É importante que se traga cada vez mais (partindo pelas academias)
um referencial regulatório com contribuições relativas a categoria económica ligadas à
produção de valores, como participação.
Desde a conquista da independência que tentamos entre angolanos demostrar o
potencial económico, derivado dos diversos recursos naturais que temos, acompanhou-se com
diversas interpretações críticas acerca do desenvolvimento integral do país, fazendo surgir a
questão da divisão entre sectores económicos de forma automática. Hoje nota-se que muitos
angolanos, sobretudo luandenses e luandinos, vivem dependendo do sector económico
informal, ainda há quem diga que nesta altura é necessário reunir tudo que temos para uma
estabilidade económica e podermos caminhar para o desenvolvimento económico, para tal é
preciso incluir os agentes económicos informais, de forma concreta os vendedores
ambulantes.
Por isto, surge a nossa questão de partida: quais as estratégias necessárias para a
inclusão dos agentes económicos provenientes do sector informal para o sector formal da
economia angolana?
Hipóteses
Com base na questão supracitada, fizemos o levantamento de algumas hipóteses para
possíveis respostas ao problema apresentado.
H1: Se o Governo regulamentar a actividade comercial com mecanismos menos
burocráticos que licenciem os Agentes económicos, então poderia se aumentar o número de
atores no sector formal;
H2: Se o Governo se empenhar em melhorar as infra-estruturas comerciais de
mercado logo, se albergaria um maior número de Agentes económicos neste Sector;
H3: Se o conhecimento das políticas fiscais fosse de acesso e do entendimento de
todos os Agentes económicos então se cultivaria o interesse e a tendência de se formalizar a
economia.
H4: Se o Governo garantisse políticas públicas suficientes para garantir o emprego,
os agentes económicos informais teriam aderido mais nos diversos sistemas económicos
formais.
Objectivos
Geral:
 Analisar a formalização do mercado informal;
2
Específicos:
 Definir mercado informal e mercado formal;
 Caracterizar os agentes económicos informais (vendedores ambulantes);
 Avaliar a relação dos sectores;
 Apresentar as estratégias (soluções) para a formalização do mercado
informal.
Metodologia
No presente estudo foi feito uma pesquisa exploratória, mista e, por este facto,
empregamos o método dedutivo, estatístico e descritivo. Fizemos um estudo de campo nas
diversas ruas do bairro Cuca, o que torna o nosso trabalho num estudo de caso.
Estrutura dos Capítulos
Como apresentamos no índice geral, o trabalho é composto por 4 (quatro) capítulos,
no primeiro capítulo tratamos da fundamentação teórica, onde abordamos aos conceitos de
agentes económicos, mercados (formais e informais), e sua estrutura, realçamos o tema da
formalização e formalidade. No segundo capítulo cingimo-nos na fundamentação sobre a
economia informal em Angola, fizemo-lo apresentando uma panorâmica actual da economia
angolana segundo dados de alguns estudos, o impacto da economia informal em Angola, de
forma concreta em Luanda, o mercado informal em Luanda bem como as suas causas. O
enquadramento metodológico constituiu o nosso terceiro capítulo, onde apresentamos os
aspectos metodológicos que foram aplicados na pesquisa, sobretudo àquela relativa ao estudo
de caso dos vendedores ambulantes. Já no quarto capítulo, fizemos a apresentação e discussão
dos dados obtidos durante a nossa pesquisa, afirmando e negando as nossas hipóteses, e
apresentado as estratégias resultantes da interpretação dos dados.
Importa aqui aferir, que após a conclusão apresentamos as recomendações, que
constituem nossas sugestões, sem, no entanto, nos esquecermos de apresentar alguns dados
concretos nos apêndices e nos anexos, sendo que no apêndice foram dados da nossa pesquisa
directa (elaborada por nós) e no anexo, dados das pesquisas externas a nós.

3
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1.Conceito de Agente Económico


A economia como ciência, preocupa-se com o estudo da alocação de recursos da
economia. Esse assunto torna-se relevante devido à constatação de que os indivíduos têm
necessidades e desejos ilimitados, enquanto os recursos disponíveis para atende-los são
escassos. De facto, se pensarmos nas diversas realidades que têm acontecido cá em Angola, os
desejos de consumo das famílias estão em geral acima de sua capacidade económica. Quando
pensamos em países, é fácil perceber essa noção de escassez dos recursos. Afinal, o número
de pessoas disponíveis para trabalhar e os recursos naturais, financeiros e tecnológicos
existentes são limitados. (Pesente, 2019, p. 13).
Nota-se que a decisão económica embora algumas têm tido mais realce, não importa
apenas valores, se assim se considera, unilaterais, mas antes, comporta uma relação mais
abrangente dentro de algum sistema económico, o que dá existência aos agentes económicos.
Aos intervenientes na actividade económica atribui-se a designação de agentes
económicos. «Um agente económico corresponderá a um conjunto de indivíduos, entidades
e/ou instituições que partilham alguma homogeneidade de comportamento e funções similares
no sistema económico» (Gomes, 2015, p. 42)
Determinados autores consideram os agentes económicos em dois grupos,
nomeadamente típicos e outros. Neste caso, tipicamente consideram-se os seguintes agentes:
famílias, empresas, Estado e instituições financeiras. Poder-se-á ainda classificar como tal o
exterior ou resto do mundo, agente que na prática corresponde ao conjunto de agentes
nacionais de países com os quais a economia em questão mantém relações. (Dornbusch,
Fischer, & Startz, 2013).
Portanto, cada agente económico corresponde a uma série de indivíduos, entidades
ou instituições para os quais é possível reconhecer uma certa semelhança de comportamentos.
1.1.1. As Famílias
No conceito de agentes económicos entende-se que a economia interessa-se pelos
indivíduos e pelos grupos. Estes definem-se pela sua autonomia de decisão e se eles
constituem a peça chave no mercado económico, então é preciso ordena-lo num pequeno
conjunto de grupos.
Constitui o agente económico mais elementar, no sentido de que é a entidade
normalmente de menor dimensão a partilhar um mesmo orçamento. Em qualquer família há

4
um conjunto de receitas e despesas que é gerido em conjunto e cuja gestão tem impacto sobre
o bem-estar da família no seu todo.
Às famílias é atribuído um duplo papel no sistema económico: cabe-lhes fornecer a
força de trabalho que permitirá produzir bens e serviços; além disso, é o agente a quem está
associada a noção de consumo. (Onto, 2016)
Consomem bens e serviços para satisfazer as suas necessidades. O consumo por si
realizado designa-se consumo final, pois opõe-se ao consumo intermédio; este não tem por
fim satisfazer directamente necessidades, consistindo sim na utilização de determinados bens
e serviços para produzir bens e serviços adicionais, ou seja, «as famílias consomem bens e
serviços finais e são as detentoras dos factores produtivos a que as empresas recorrem para
criar riqueza, nomeadamente a força de trabalho». (Gomes, 2015, p. 41).

1.1.2. As Empresas
.
As empresas são outro grupo com homogeneidade de comportamentos que podemos
identificar na economia. São «unidades institucionais cuja principal função económica é a
produção de bens e serviços comercializáveis, isto é, bens ou serviços que podem ser
transaccionados nos mercados» (Varian, 2015).
As Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) têm sido dos principais
instrumentos de sustentação das economias modernas, incluindo nos países mais
desenvolvidos, por participarem na redução do desemprego, bem como por se ajustarem às
necessidades das comunidades, contribuindo para a redução da informalidade e da pobreza.
No nosso país, estas distinguem-se por dois critérios essenciais: a) o número de
trabalhadores efectivos e, b) o volume de facturação total anual. Esta última tem prevalecido
sempre que for necessário decidir sobre a classificação das mesmas. (Lei 30/11, de 11 de
Setembro, 2011)
1.1.3. O Estado
Quanto ao Estado, cabe-lhe um conjunto de atribuições que o mercado é incapaz de
suprir, nomeadamente a produção de bens e serviços não transaccionáveis e uma
redistribuição do rendimento que visa tornar mais equitativa a distribuição original que o
mercado promove. (Gomes, 2015)
Percebe-se que trata-se de bens e serviços que não são passíveis de serem objecto de
transacção nos mercados e que, normalmente, satisfazem necessidades colectivas. A própria
actividade financeira do Estado é entendida como:

5
Aquela que visa satisfazer necessidades colectivas ou alcançar outro tipo de objectivos
económicos, políticos e sociais e que concretiza na arrecadação de receitas e na
realização de despesas. Em segundo lugar, a possibilidade do Estado recorrer aos
impostos implica que nas finanças públicas, ao contrário do que sucede nas finanças
privadas, não são as receitas que determina as despesas. (Ministério das Finanças,
2011, p. 13)

1.1.4. Instituições Financeiras


As instituições financeiras assumem um papel específico na actividade económica,
uma vez que «lhes compete a intermediação entre famílias, que geram poupanças, e empresas,
que necessitam de recursos financeiros para investir» (Gomes, 2015, p. 41).
Funcionam como intermediários entre quem poupa (as famílias) e quem necessita de
recursos financeiros para financiar a actividade produtiva (as empresas). São elas: os bancos,
seguradoras, outras instituições de crédito.

1.1.5. O Exterior ou o Resto do Mundo


Considera-se a possibilidade de haver um quinto agente económico, que seria o
exterior ou o resto do mundo. Como normalmente a contabilização da actividade económica
se faz para um espaço geográfico restrito (um país), a análise macroeconómica só fica
completa quando consideramos também as relações comerciais e financeiras que os agentes
económicos de um país estabelecem com os agentes económicos de outros países. (Mendes,
Tredezini, Fagundes, & Bitencourt, 2015).
Deste modo, o resto do mundo não será bem um agente económico, mas antes uma
forma agregada de considerar todos os agentes económicos residentes em todas as
localizações com as quais a economia doméstica estabelece relações.

1.2. Conceito de Actividade Económica

A actividade económica desenrola-se em torno das relações que se estabelecem entre


os agentes que se identificaram, e podem ser representadas através de um esquema
designado por circuito económico. «A actividade económica concretiza-se pela produção de
um conjunto diversificado de bens e serviços, cujo objectivo é satisfazer as necessidades das
pessoas» (Rodrigues L. F., 2012, p. 32).
Num circuito económico, os agentes encontram-se ligados através de um conjunto de
fluxos, que são de dois tipos: os fluxos reais indicam o tipo de relação substantiva entre

6
agentes (por exemplo, as famílias adquirem bens e serviços às empresas); os fluxos
monetários constituem a contrapartida aos fluxos reais, sendo portanto de sentido contrário a
estes.
Silva e Luiz (2001) e Souza (2007) dividem essas actividades económicas em três
grandes sectores da economia de acordo com as características fundamentais de sua
produção:
Sector primário: é constituído pelas unidades produtoras que utilizam intensamente
recursos naturais. Envolve as actividades agrícolas, pesqueiras, pecuárias, extracção vegetal,
reflorestamento e mineração.
Sector secundário: é constituído pelas unidades produtoras dedicadas às actividades
industriais através das quais os bens são transformados. Inclui a produção de veículos
automotores, materiais de construção, produtos químicos e farmacêuticos, plásticos,
electrodomésticos, tractores, produtos alimentares.
Sector terciário: é formado pelas unidades produtoras que prestam serviços, tais
como bancos, empresas de transporte, hospitais, comércio, turismo, meios de comunicação.

1.3. Noção de Mercado


Em cada dia, em cada grupo ou sociedade e em cada pessoa, o problema económico
renova-se em cada decisão tomada. Estas decisões individuais inter-relacionam-se fortemente,
criando um sistema económico extremamente complexo. Neves (1997, p. 57) sustenta que
«podemos resumir os métodos de solução do problema económico de uma sociedade em três
princípios gerais: a tradição, a autoridade e o mercado». Não é mister que se trate sobre os
dois primeiros métodos, mas antes entendermos o conceito de mercado, que tem uma
característica mais flexível na tomada de decisão.
Existem diversos conceitos de mercado, todavia, são todos confluentes, apresentam
aspectos comuns. Alguns conceituam-no como o arranjo pelo qual compradores e vendedores
de um bem interagem para determinar o preço e a quantidade transaccionada (Neves, 1997, p.
62). Outros como o lugar de encontro da oferta dos vendedores e da procura dos compradores,
com o objectivo de realizar uma transacção. (Capul, 2005).
Pode ainda ser conceituado como o mecanismo pelo qual os compradores e
vendedores de uma mercadoria se confrontam para determinar o seu preço e quantidade.
(Oliveira, 2008). Mercado é «onde convergem a procura e a oferta de um bem e onde se de-
termina o preço e a quantidade pelo qual esse bem será vendido» (Silva & Luiz, 2001, p. 220).

7
A curva de oferta é analisada conjuntamente com a curva de demanda, para que se
possa visualizar o funcionamento do mercado. Então, podemos dizer que no mercado ocorre o
encontro da oferta com a demanda.
O encontro entre a oferta e a demanda determina o preço e quantidade do produto.
Isso ocorre porque não é possível determinar a quantidade e o preço analisando isoladamente
as curvas de oferta ou demanda. Significa o ponto onde a oferta será igual à demanda. Esse
ponto é chamado de ponto de equilíbrio. Esse ponto de equilíbrio mostra o preço e as
quantidades que atendem às aspirações dos empresários e dos consumidores simultaneamente.

1.4. O Conceito de Mercado Formal


O conceito de mercado formal identifica-se com o conceito de mercado em sentido
amplo, cuja definição já apresentamos. Rigorosamente, pouco ou nada se tem sobre o seu
conceito, todavia, através dos procedimentos diferentes entre o mercado informal e o formal
encontra-se uma noção.
Uma primeira categoria compreende os indivíduos relacionados às unidades
produtivas tipicamente capitalistas, inseridos nas grandes e médias empresas. Os
empregadores, evidentemente, pertencem a esse grupo. Entre os assalariados, aqueles que
apresentam carteira de trabalho assinada constam nessa categoria. Isso conformaria o
chamado “sector formal típico”. No entanto, inclui-se nesse grupo o trabalhador por conta
própria “especificamente qualificado” (o profissional liberal), em função do critério de
produtividade (potencial) aliado à regulamentação do exercício do trabalho. (Hirata &
Machado, 2007).
A segunda categoria é a baixa produtividade, em conformidade com a actividade
subordinada, relaciona o serviço doméstico, independentemente da regularização do trabalho.
Assim, nesse sentido, não se trata necessariamente de indivíduos desprotegidos. No entanto,
sabe-se que o serviço doméstico, apesar de ainda ser o destino de grande parte da força de
trabalho feminina angolana, está relacionado a condições precárias de trabalho, ainda que uma
parcela tenha algum tipo de seguro. (Hirata & Machado, 2007)
As unidades produtivas subordinadas às empresas capitalistas constituem uma
terceira categoria. O nível de produtividade é, portanto, variado. Trata-se dos trabalhadores
por conta própria sem qualificação específica e os pequenos empregadores. A quarta categoria
é delimitada por meio da aplicação da legislação. São todos os empregados em qualquer tipo
de firma, capitalista ou subordinada. Tanto nessa categoria quanto na anterior, não há clareza

8
quanto às estratégias seguidas pelos indivíduos, o que contribui para a heterogeneidade de
ambas (Hirata & Machado, 2007).
Neste caso mercado formal pode-se definir como um mercado como sendo um local
onde se encontram quem quer comprar e quem quer vender e que através de um processo de
negociação determinam o preço e a quantidade do bem a ser transaccionado. Se os
intervenientes nesse mercado forem trabalhadores que querem vender o seu trabalho e as
empresas que querem adquirir essa força de trabalho, então temos o mercado de trabalho e o
preço determinado é o salário.

1.5. A Estrutura do Mercado Formal


O mercado de um bem é formado pela oferta de todos os produtores e por todos os
consumidores que estão dispostos a adquiri-lo. As características do mercado para cada
produto variam de país para país e até de região para região e essas informações são
fundamentais para a actuação dos agentes económicos.
O tamanho do mercado depende tanto do número de consumidores quanto da renda
desses consumidores. É lógico pensar que o mercado norte-americano é bem maior que o
mercado angolano, por exemplo.
Os mercados podem ser estruturados em: concorrência pura ou perfeita, monopólio
puro, oligopólio e concorrência monopolística.

Concorrência Perfeita ou Pura

Quando a dimensão de cada empresa é insignificante em relação às demais empresas.


O termo “concorrência” tem sentido múltiplo. «Em economia, acompanhado da palavra
“pura”, significa justamente a inexistência de competição, no seu sentido parcial. (…) Em um
mercado no qual vigora a concorrência pura, os competidores não têm rivalidade entre si»
(Mendes, Tredezini, Fagundes, & Bitencourt, 2015, p. 75)

Na concorrência perfeita existe um grande número de agentes oferecendo um mesmo


produto. Como existe um grande número de agentes, cada uma deles representa uma pequena
fracção do mercado, ou seja, contribui com pouco para a oferta total.

Segundo Souza (2007), o produto produzido nesse tipo de mercado é uniforme, isto
é, o bem produzido por uma empresa é igual ao bem produzido por outra. O consumidor não

9
percebe a diferença entre os produtos oferecidos pelos diferentes agentes e não consegue
determinar de forma exacta o produtor.
Para Mendes, Tredezini, Fagundes e Bitencourt (2015) as condições básicas para a
existência de concorrência pura são:
- A homogeneidade do produto: implica que todos os vendedores de um dado
produto vendam unidades homogéneas deste, e os compradores também considerem o
produto homogéneo.
- Insignificância de cada comprador ou vendedor diante do mercado: cada comprador
e/ou vendedor precisa ser pequeno o suficiente para não ser capaz de influenciar, sozinho, o
preço de mercado.
- A ausência de restrições artificiais: é preciso que os preços sejam livres para oscilar
de acordo com as exigências de mercado.
- A mobilidade: é necessário que haja mobilidade de bens, serviços e recursos. Novas
firmas podem entrar sem dificuldade nesse mercado, assim como não deve existir
impedimento à saída.
- O pleno conhecimento (atributo da palavra “perfeita”): a concorrência perfeita
incorpora o pleno conhecimento do sistema económico e de todas as suas inter-relações por
parte dos agentes partícipes desse.
Monopólio puro
O monopólio é uma situação de mercado em que apenas uma firma vende um
produto que não tem substitutos próximos, ou seja, é uma situação de mercado em que existe
um só produtor de um bem (ou serviço) que não tem substitutos próximos. Devido a isso, o
monopolista exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado pelo seu
produto, pois constitui um agente sem concorrência (Mendes, Tredezini, Fagundes, &
Bitencourt, 2015).
Nele existem, de um lado, um único empresário (empresa) dominando inteiramente a
oferta e, de outro, todos os consumidores. Não há, desta sorte, concorrência nem produto
suplente ou opositor. Neste caso, os consumidores submetem-se às condições impostas pelo
vendedor ou simplesmente deixam de consumir o produto.
No monopólio puro apenas uma empresa oferece um bem, para o qual não existem
produtos substitutos satisfatórios (Souza, 2007). Essa empresa controla todo o mercado, pois é
a única que produz o bem. Nesse caso, se essa empresa deixar de produzir o produto, o
mercado deixará de existir. De acordo com Silva e Luiz (2001), os produtos não são

10
homogéneos, são diferenciados e o produto não pode ser substituído por outro. Exemplos
desse tipo de mercado são encontrados principalmente no sector público, como o
abastecimento de água e energia eléctrica.
Oligopólio
Outra estrutura bastante conhecida, nos dias de hoje, no campo da competição
imperfeita é o oligopólio. «Este tipo de estrutura normalmente é caracterizada por um
pequeno número de empresas que dominam a oferta de mercado» (Mendes, Tredezini,
Fagundes, & Bitencourt, 2015, p. 76), como a indústria automobilística, ou, então, por um
grande número de empresas, mas poucas dominando o mercado, como a indústria de bebidas,
no caso concreto de Angola.
No oligopólio existe um grande número de compradores e um pequeno número de
vendedores (empresas). Geralmente, poucas empresas dominam a maior parte do mercado, de
forma que as acções de uma empresa afectam as outras (Souza, 2007). Essas empresas
produzem bens diferenciados, mas que podem ser substituídos entre si.
O oligopólio pode ser: «puro: quando os concorrentes oferecem exactamente os
mesmos produtos homogéneos, iguais, substitutos entre si; ou - diferenciado: quando o
produto não é homogéneo» (Mendes, Tredezini, Fagundes, & Bitencourt, 2015, p. 78).
O oligopólio apresenta como principal característica o facto de os agentes serem
interdependentes, já que são em pequeno número no respectivo sector industrial; e significa
que elas levam em consideração as decisões quanto a preço e produção de outras firmas,
reagindo a qualquer alteração.

Concorrência monopolística
Na concorrência monopolística, a empresa tem determinado poder sobre a fixação de
preços. A diferenciação do produto pode ocorrer por características físicas, de embalagem ou
pelo esquema de promoção de vendas (Mendes, Tredezini, Fagundes, & Bitencourt, 2015).
Na concorrência monopolística existe um número razoavelmente grande de empresas
produzindo um mesmo bem, de modo que cada produtor individualmente não é importante
(Silva & Luiz, 2001). Os produtos produzidos pelas empresas neste tipo de mercado são os
mesmos, mas os consumidores os consideram diferenciados. Esse tipo de mercado apresenta
características da concorrência perfeita (número de empresas produzindo o mesmo bem) e do
oligopólio (cada produtor é diferente dos demais).

11
1.6. A Formulação do Conceito Informalidade
Pelo facto de não existir um consenso geral sobre a definição de sector informal ou,
em termos mais amplos, economia informal, tanto conceptual como operacional, e sobre a sua
medição e limitação, é difícil dar uma definição exacta. Existem várias definições da
economia informal. Entre elas: empresa não registada (exclusivamente, ou em combinação
com outros critérios como o da dimensão da empresa), a dimensão das unidades produtivas,
etc.
Na linha da concepção da ONU apresentada por Queiroz (1999, p. 26):
É todo um vasto leque de comportamentos económicos, socialmente admissíveis,
realizados fundamentalmente com finalidades de sobrevivência e que escapam quase
totalmente ou, pelo menos, parcialmente ao controlo dos órgãos de poder público
local/regional/nacional em matéria fiscal, laboral, comercial, sanitária ou de registo
estatístico.

M. Laguerre apud (Silva, s.d., p.15) procura uma definição separando o sector
informal da economia informal, o sector informal é um processo que não se restringe apenas à
dimensão económica, estando presente em todos os aspectos do funcionamento da sociedade
nomeadamente no plano das relações sociais, nos quadros dos sistemas de comunicação no
âmbito dos processos de tomada de decisão; refere-se à existência de um subsector formal da
formalidade institucional. A economia informal é limitada a actividades meramente
económicas, que podem ser total ou parcialmente ilegais.
Para a Organização Internacional do Trabalho estão contempladas todas as
actividades económicas de trabalhadores e unidades económicas que não estão cobertas – pela
legislação ou pela prática – pelas disposições oficiais que as enquadram, regulamentam e
disciplinam (OIT, 2002).
Na definição de Lopes (2004) apud (Silva, s.d., p.16) «são todas as actividades e
práticas económicas legais realizadas por agentes económicos totais ou parcialmente ilegais».
O sector informal compõe-se assim de actividades económicas legais realizadas por agentes
económicos ilegais e engloba geralmente a pequena produção mercantil (artesanal-industrial:
indústria alimentar, confecções, mobiliário, etc.), os transportes, o pequeno comércio
(grossista e retalhista), os mercados informais (onde encontramos a venda ambulante) a
prestação de serviços e as actividades de intermediação financeira.
Desta sorte, percebe-se que a condição de informalidade implica uma série de
desvantagens, especialmente a exclusão de mercados que exigem provas de regularidade

12
fiscal, a exemplo dos casos de vendas com notas fiscais, licitações no sector público e
privado, empréstimos no mercado livre de crédito, entre outras situações.

1.7.Do Sector Informal para a Economia Informal


Vimos no ponto anterior que a ONU inclui no conceito de informalidade todo
comportamento económico exercido com o objectivo de sobreviver e escapar-se das
formalidades da actividade económica.
Assim, o sector informal absorve os trabalhadores que de outra forma não teriam
trabalho nem rendimentos, particularmente nos países em desenvolvimento caracterizados por
uma mão - de- obra numerosa e em rápida expansão. A maior parte daqueles que entram no
sector informal não o fazem por escolha, mas por necessidade absoluta.
Nomeadamente em situações de forte desemprego e de pobreza este sector é uma
fonte potencial de criação de empregos e de rendimentos, pelo fato de ter um acesso
relativamente fácil, mesmo sem muita instrução ou qualificações, nem grandes meios técnicos
ou financeiros. O sector informal permite satisfazer as necessidades dos consumidores pobres,
oferecendo bens e serviços acessíveis a preços baixos (OIT, 2006, p.6).
O sector informal, na visão de Dum (2014), compõe-se assim de actividades legais
realizadas por agentes económicos ilegais, não cabendo portanto neste campo as designadas
actividades ilícitas (contrabando, tráficos, furto, etc.), e engloba geralmente a pequena
produção mercantil (artesanal-industrial: indústria alimentar, confecções, mobiliário, etc.), os
transportes, o pequeno comércio (grossista e retalhista), os mercados informais, a prestação de
serviços e as actividades de intermediação financeira.
As características que os trabalhadores do sector informal têm em comum segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), são os de não estarem reconhecido nem
protegidos dentro dos critérios jurídicos e regulamentares. Por isso a OIT diz que não são
estas as únicas características destes trabalhadores. A principal e mais importante das
características é o facto de todos trabalhadores serem vulneráveis a situações de doenças,
direitos, reformas etc. (OIT, 2006).
No que diz respeito à segurança e insegurança nas actividades informais, a
Organização Internacional do Trabalho identifica 7 (sete) dimensões que aparecem com
particular relevância (Silva, 2010, p.27):
1. Segurança no mercado laboral: refere as boas oportunidades laborais que
resultam de um elevado nível de emprego, produto de políticas macroeconómicas;

13
2. Segurança do emprego: protecção contra despedimentos arbitrários consignada
em geral numa legislação que regulamenta a contratação e o despedimento;
3. Segurança ocupacional: implica a oportunidade de inserção num segmento
profissional e possibilidade de desenvolver um sentido de pertença como consequência
do melhoramento profissional;
4. Segurança no trabalho: possibilidade de contar com a protecção em caso de
acidentes de trabalho e doença profissionais;
5. Segurança para o desenvolvimento das competências: oportunidade de manter
e desenvolver as habilitações e conhecimentos profissionais mediante acções de
formação ao longo da vida;
6. Segurança do ingresso: implica possibilidade de obtenção de ingressos
adequados para o trabalhador e a família;
7. Segurança de representação: possibilidade de exercício do direito a
representação colectiva de trabalhadores e empregados através de organizações
independentes, assim como do direito à negociação colectiva e ao diálogo social.
Assim, concordamos com Charmes (2000) apud (Dum, 2014) que o sector informal é
e sempre será um campo de dupla contradição com o Estado. A sua negação é, especialmente,
a sua imagem invertida, como ela cresce e prospera fora da regulamentação do Estado. Mas
ela também se tornou uma condição de reprodução, para o fornecimento de bens e serviços
para o mercado e oportunidade para o poder de compra.

1.8. Formalidade versus Informalidade


Os mercados informais de uma forma geral produzem bens e serviços semelhantes
ou até mesmo idênticos, aos que são produzidos pelo sector formal. O que os distingue não
são as características dos bens e serviços produzidos mas sim se o método de produção de
comercialização está ou não de acordo a lei.
Um mercado informal é realmente um mercado fragmentado e localizado, onde
apenas pessoas que confiam entre elas directamente estão preparadas para negociar umas com
as outras. Por mercado informal quer dizer-se que é todo um variado leque de actividades
orientadas para o mercado e realizadas pelas populações que habitam os centros urbanos dos
países em desenvolvimento, com uma logica de sobrevivência (Dum, 2014).
Os mercados informais emergem em todas as economias tanto para o melhor como
para o pior. Apesar da controvérsia desde o seu nascimento tem envolvido o conceito, bem

14
como a definição dos critérios que identificam e delimitam, parecem existir algumas
convergências quanto aos objectivos que determinam a realização dos comportamentos
económicos informais, a inclusão do seu campo conceptual das designadas actividades ilegais
ou ilícitas e ainda a alguns dos critérios de pertença ao sector formal. (Dum, 2014).
Determinados autores abordam o mercado informal como práticas económicas legais
realizadas por agentes económicos ilegais, comportamentos económicos que se efectuam à
margem, que estão excluídos ou que escapam ao sistema institucional de leis, regras, direitos,
regulamento e condutas que estruturam o sistema formal de produção e troca.
O mercado informal foi chamado por Soto (2000) apud (Dum, 2014) de revolução
invisível do Terceiro mundo, porque, para ele, este processo mostra que as pessoas são
capazes de violar um sistema que as exclui, não para que possam viver em desordem, mas que
possam construir um sistema diferente, que lhes garanta um mínimo de direitos essenciais.
Uma definição de economia informal circunscrita a actividades laborais e empresariais
apenas, em associação à sua legalidade e registro formal, limita muito as possibilidades de
uma análise dos mecanismos de protecção social, porque tais mecanismos contemplam uma
vasta gama de actividades e práticas económicas de diversos mercados.
Rocha (2012) define a informalidade como uma estrutura de acção, implicando a
existência de um espaço (casa/escritório/rua/etc.) onde a acção é desenvolvida, a existência de
actores (cujo comportamento pode ser formal ou informal), a existência de um sistema formal
(que permite e delimitar o que é informal) e a existência de uma intencionalidade (explicita ou
implícita) no sentido de concretizar objectivos específicos.

1.8.1. Tipos de Custos da Informalidade


A informalidade apresenta determinados custos, que, a princípio, podem distinguir-
se, na visão de Rodrigues, et al.(2008), em três mais comuns:
- Custos de evitar a sanção: são os que devem ser feitos para evitar a sua detenção
pelas autoridades, aplicados por falta de licenças, pagar impostos ou solicitar autorizações
requeridas pela lei. É o principal motivo de preocupação dos trabalhadores informais que
trabalham em dimensões muito reduzida, isto não lhes permite que alcancem escalas de
produção óptima. A corrupção das autoridades é outro custo importante. Funciona como um
seguro para os informais tratando de eliminar a incerteza com a relação as perdas que lhes
poderia ocasionar sanções pela autoridade;

15
- Custos de transferências nítidas: as actividades informais estão a transferir
continuamente recursos para o Governo e a outras instituições formais através de impostos
indirectos, da inflação e das diferenças das taxas de juros;
- Custos de evitar impostos: esta é a terceira diferença entre os formais e informais.
Estes últimos não pagam impostos directos, nem cumprem com as leis trabalhistas. A amostra
disso é que a mão-de-obra contratada pelo sector informal na sua maioria não é qualificada,
no que diz respeito aos impostos.

1.8.2. Resultados dos Custos de Informalidade


Ainda segundo Rodrigues et al. (2008) e Dum (2014) em relação aos resultados ou às
consequências dos custos de informalidade há que salientar as seguintes:
- Baixa produtividade: para as empresas do mercado informal, o cumprimento de
todas as regulações governamentais e as numerosas restrições resultam num desperdício e
numa má atribuição dos recursos. No caso dos custos informais, podem ter a flexibilidade de
utilizar mais eficientemente os seus recursos, mas assim os custos da informalidade resultam
numa produtividade mais baixa. Não respeitando as normas, os agentes económicos que
atuam na informalidade gozam de uma vantagem competitiva face aos que o fazem;
- Diminuição do investimento: quanto aos custos formais, os custos da legalidade
equivalem a baixos níveis de investimento. Sendo tipicamente pequenas e estando sujeitas a
grandes riscos, as empresas informais tendem a não investir nas melhores soluções
disponíveis e a ter uma baixa produtividade. Mas a sua presença desincentiva igualmente o
investimento e a inovação das empresas formais que com elas têm que concorrer;
- Ineficiência do sistema tributário: o Estado desperdiça grande quantidade de
recursos em estratégias para detectar a evasão tributaria; é assim que as empresas formais
terminam pagando mais impostos do que seria necessário se não existisse a informalidade;
- Progresso tecnológico: a economia informal prejudica o progresso tecnológico por
várias razões; tamanho reduzido das empresas (para evitar detenção), menor inteiração
produtiva e as perdas resultantes de não poder proteger as inovações. Por um lado, porque a
manutenção da actividade ao abrigo da atenção das autoridades assim o aconselha. Por outro
lado, porque a informalidade inviabiliza, ou desaconselha, a utilização de sistemas de
organização e controlos necessários ao funcionamento da grande empresa e condiciona o
acesso a diversos mecanismos de apoio ao crescimento;

16
- Dificuldades para formular políticas macroeconómicas: a existência das actividades
informais produz grandes dificuldades para a obtenção de informação sobre o rendimento
económico nacional, isto faz com que as decisões que um Governo toma a nível
macroeconómico sejam excessivamente especulativos. Reduz igualmente a receita do Estado
e assim a sua capacidade para fornecer bens e serviços públicos, especialmente em matéria de
protecção social e promoção do crescimento económico.

17
CAPÍTULO II – DISCUSSÃO TEÓRICA DO OBJECTO DE ESTUDO

2.1.Panorâmica Geral da Economia Angolana: Estudos

A crise económica em Angola levou a repensar novas fontes de crescimento e


revelou o custo da governação económica passada. Com reservas de petróleo limitadas e
preços que provavelmente não voltarão a ganhar os patamares anteriores, o sector público
deve renunciar o seu papel como um motor central de crescimento.
Desde 2000, a despesa do governo e o crescimento do sector financeiro foram
responsáveis por quase metade do crescimento de Angola, enquanto o consumo alimentado
por preços de petróleo mais elevados representou quase 40 porcento. As infra-estruturas e o
desenvolvimento do capital humano, contudo, contribuíram muito pouco, apesar da grande
despesa pública. A presença de Empresas Públicas (EPs) com baixo desempenho em sectores
produtivos e, de um modo mais geral, o domínio de interesses ligados à política não levou à
esperada diversificação da economia (International Finance Corporatio IFC, 2019).
Angola está a passar por uma transição rápida impulsionada por uma mudança de
liderança, uma profunda crise macroeconómica e o esgotamento do crescimento económico
impulsionado pelo petróleo. Anos de crescimento recorde impulsionados por um sector
petrolífero em ascensão, com média de 8,2% entre 2004 e 2014, ajudaram a financiar a
reconstrução do país após o conflito civil de 27 anos que terminou em 2002. (Rocha, Paulo,
Bonfim, & Santos, 2016).
Apesar desse crescimento, uma grande parte da população não tem acesso a serviços
básicos. Trinta por cento dos angolanos vive abaixo da linha de pobreza internacional
e o desempenho do país fica abaixo do Índice de Capital Humano (0,36 abaixo da
média regional de 0,40) e do Índice de Desenvolvimento Humano (147 de 189
países). Existem grandes disparidades urbano-rurais, com uma em cada duas pessoas
a viver na pobreza em comparação com uma em cada seis nas cidades. Os preços
mais baixos do petróleo expuseram as vulnerabilidades da dependência do petróleo,
levando a uma recessão e a desequilíbrios fiscais, monetários e cambiais. O governo
do Presidente João Lourenço, que encerrou o mandato de 37 anos de José Eduardo
dos Santos em Setembro de 2017, lançou um ambicioso programa de reformas para
enfrentar desequilíbrios macroeconómicos e alcançar um crescimento sustentável e
inclusivo baseado na diversificação económica, melhor governança e um papel maior
para o sector privado. A crise macroeconómica afectou negativamente o sector
privado. Projecta-se que o PIB diminua em 1,7% em 2022 (desacelerando pelo
terceiro ano consecutivo). A crise do preço do petróleo deu origem a deficits ambos
nas contas fiscais e correntes a partir de 2014. A dívida pública duplicou nos últimos
quatro anos e a inflação subiu para mais de 40% em Dezembro de 2016, expondo
riscos macroeconómicos significativos (International Finance Corporatio IFC, 2019).

18
Este facto remete-nos a realidade de que os investimentos na economia têm sido
importantes, mas não resultaram num sector privado mais forte. Nos anos que se seguiram ao
conflito, Angola adoptou uma estratégia de desenvolvimento liderada pelo Estado usando o
investimento público para reconstruir infra-estruturas e revitalizar sectores económicos, como
a agricultura. No entanto, o baixo desempenho dos investimentos e projectos públicos,
inúmeras empresas estatais de baixo desempenho e, de maneira mais geral, o domínio de
interesses politicamente conectados em sectores produtivos, impediram o desenvolvimento de
sectores não petrolíferos.
A maior parte do investimento privado é estrangeiro, e a maioria dos fluxos de IDE
tem como alvo o sector petrolífero. Um novo modelo de crescimento baseado numa economia
diversificada requer a redução de barreiras que dificultam o desenvolvimento do sector
privado.
O crescimento recente não foi globalmente favorável aos empregos que foram
criados principalmente nos sectores de consumo. O valor agregado real aumentou em 229%
em 1992-2015, mas o emprego em apenas 116%. A maioria dos novos empregos estava no
sector de serviços, seguida pela administração pública e, depois. Agricultura, fabricação e
transporte e comunicações, por outro lado, perderam empregos. A agricultura ainda responde
por quase 45% do emprego total, incluindo o emprego informal. (Ministério das Finanças,
2020)
De acordo com as estatísticas disponíveis, registaram-se 46.096 negócios activos em
2016 (um aumento de 11,1% em relação ao ano anterior), a maioria em Luanda (58%), sendo
o restante distribuído de forma relativamente uniforme noutras províncias. 50% dessas
empresas estão no comércio e na manutenção de veículos. Entre as empresas activas, 54,6%
eram empresas em nome individual e 42,1%, empresas de responsabilidade limitada. Quase
50% das empresas têm menos de 10 anos, sugerindo uma alta taxa de atrito. O número médio
de empregados é 21. Os dados revelaram um alto número (104.088) de empresas registradas
que ainda não iniciaram actividades. (International Finance Corporatio IFC, 2019)
O estado dessas empresas não é claro e deve ser investigado. Além disso, esses
números não incluem empresas informais, para as quais não há dados disponíveis. Segundo
um estudo recente, a economia informal representa 36% do PIB. (International Finance
Corporatio IFC, 2019). No geral, é necessário melhorar os dados sobre as características de
empresas e outros agentes económicos em Angola.

19
2.2. Impacto da Economia Informal
Alguns autores sobre a economia informal referem que as consequências deste tipo
particular de economia apresentam um forte impacto no crescimento económico a dois níveis
distintos. Por um lado, a economia informal leva à contracção do crescimento do PIB, na
medida em que, o aumento de negócios obtido através da economia informal leva a uma
redução nas receitas fiscais, e por conseguinte, uma retracção da taxa de crescimento
económico. Existem outros estudos que afirmam que a economia informal é mais competitiva
e competente que a formal, e, por conseguinte, um aumento na economia informal leva a um
aumento no crescimento económico, pois, os cerca de dois terços do rendimento gerado na
economia informal são rapidamente gastos na economia oficial através do aumento do
consumo de bens e serviços.
Nesta linha de pensamento, Nuno Gonçalves (2014) apud (Bento, 2014, p. 5) conclui
que «os efeitos positivos da expansão do consumo privado através de rendimentos informais
potenciam o crescimento económico».
O crescimento da economia informal envolve um aumento de factores como a
procura e oferta de trabalho informal que pode adoptar formas distintas que referimos no
capítulo passado, especificamente:
- O trabalho secundário realizado após ou mesmo durante o horário de trabalho
regular;
- O trabalho realizado por indivíduos que não participam activamente no mercado de
trabalho formal seja por se encontrarem no desemprego, seja por auferirem outra prestação
social;
- O trabalho realizado por indivíduos que não se encontram em situação regular de
permanência no país.
Determinados dados indicam que a informalidade constitui a maior fonte de renda
para 93% da população rural, e 51% do total da população urbana que depende da economia
informal para viver (ONU, 2005).

2.3.Mercado Informal Angolano

A economia informal é ao mesmo tempo visível e opaca, por isso, é necessário


identificá-la. O sector informal da economia teve maior relevo em África após a
descolonização dos países da África subsariana. A questão de desenvolvimento do continente
africano começou a ser discutida nos anos 60 do século XX, quando a maioria dos Estados se
20
tornou independente. Os Estados africanos apostaram fortemente em modelos económicos
que se baseavam em substituição da importação e na intervenção do Estado na economia.
Estes modelos económicos trouxeram uma urbanização acelerada e um grande contingente de
trabalhadores do campo para a cidade a par de um crescimento demográfico superior ao
crescimento económico (Silva O. L., O Impacto da Economia Informal no Processo de
Desenvolvimento na África Subsariana., s.d).
Os observadores destes países começaram por notar que :
Perante a falta de empregos no sector formal, muito dos pobres foram sobrevivendo
através do trabalho para eles próprios ou para familiares. Operando fora das regras e
das regulamentações da economia formal, estas actividades foram fornecendo uma
vasta gama de produtos e serviços. A razão da pobreza dessas pessoas parecia não ser
falta de iniciativa empresarial (Chickering & Salahdine, 1991 apud Silva O.L., 2015,
p.12).
Podemos perceber que a incapacidade do Estado em responder aos desafios
fundamentais da população nos domínios do emprego, da saúde, e da educação, está na
origem e expansão do sector informal. Pelo que a existência da Economia Informal reflecte
um desajustamento entre os interesses colectivos da sociedade, tal como entendidos pelo
Estado, e os incentivos individuais.
O sector informal tem uma importância muito grande na Africa subsariana, o que
levou o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional a integrarem este sector na sua
estratégia de desenvolvimento. E por outro lado, a economia informal tomou tal importância
que foi finalmente reconhecida pela Organização Internacional do trabalho (OIT) na décima
quinta Conferencia Internacional de Estatísticas do Trabalho, ocorrida em Genebra em 1993,
em que se definiu o sector informal para fins estatísticos como uma área de emprego. (OIT,
2002).
O comércio na rua, a produção artesanal, como meio de subsistência dos povos faz
parte integrante da cultura angolana e da história económica do povo angolano que foi, desde
sempre, muito empreendedor. A notoriedade da economia informal em Angola deu-se a partir
dos anos 90, no contexto de sucessivas reformas ao nível da liberalização da economia através
do incentivo dado às micro e pequenas empresas informais para operarem no novo quadro
económico, apesar de não se encontrarem à data, completamente legalizados. Houve, então,
uma explosão generalizada destas empresas que, rapidamente, invadiram a economia
angolana, por se tornarem no principal empregador de uma maioria significativa da
população. (Bento, 2014).
Podemos com sito perceber que a economia informal angolana surge como resposta
às necessidades de segurança física, necessidades relacionadas com a sustentabilidade dos

21
direitos de propriedade dos vendedores de rua, assim como da necessidade de oferecer aos
potenciais clientes uma oferta mais diversificada de bens e serviços, de acordo com a
utilização de técnicas de venda mais apelativas, motivando e influenciando a decisão de
compra. O mercado informal foi-se desenvolvendo à medida que o país atravessava fases
diferentes que apresentavam desafios específicos.

2.4.Causas e Importância do Crescimento do Mercado Informal em Luanda

A economia informal de Luanda é e tem sido uma fonte de subsistência para muitos
indivíduos que se encontram no desemprego e por todos os outros que por diversas razões não
conseguem emprego no sector formal e se vêem obrigados a recorrer a este sector para
poderem obter algum rendimento.
Luanda, assim como outras capitais da África Subsariana, ilustram um crescimento
acelerado das actividades económicas não reguladas e que são, portanto, desconhecidas pelo
estado e pelas Instituições públicas.
Os factores de crescimento acelerado dos mercados informais em Luanda, segundo
ABC comercial (2001), são:
- A procura de melhores condições de vida por parte das populações que foram
forçadas a sair da sua área de residência devido à guerra, instabilidade, falta de segurança e de
condições mínimas essenciais à sobrevivência humana;
- A facilidade de obtenção de rendimentos mais elevados ou outra fonte de
rendimentos, na cidade de Luanda para onde confluía toda a espécie de recursos,
financiamentos e actividades económicas;
- O fluxo migratório prolongado e intenso para a capital do país, devido ao conflito
armado que havia por todo o país, principalmente nas zonas do interior;
- Remunerações ou salários insuficientes para o sustento das famílias, direccionando
as pessoas para o mercado informal, como fonte complementar de rendimentos;
- A falta de resposta do sector formal em gerar emprego, isto é, a taxa de desemprego
demasiado elevada;
- A pobreza extrema da população;
- A contracção verificada no sector agrícola devido ao abandono das zonas
favoráveis à exploração agrícola e à redução de campos de cultivo devido à existência de
minas;
- O acentuado desequilíbrio entre a oferta e a procura de bens e serviços;

22
- O desequilíbrio acentuado entre a quantidade e a distribuição geográfica de
estabelecimentos comerciais e o crescimento demográfico da população;
- A formação académica, profissional, científica e técnica insuficiente da maioria dos
agentes económicos e de comerciantes angolanos;
- A falta de capacidade financeira do comerciante;
- O crescimento da carga tributária, isto é, impostos, taxas, contribuições sociais,
entre outras;
- A Inflação, isto é, o aumento gradual no nível geral de preços praticados que
origina a diminuição do poder de compra da população;
- O aumento da regulação no mercado formal, ao nível do aumento de normas e leis,
aumentando, assim, a burocracia e os custos relativos à constituição de empresas, por um
lado, aos impostos a pagar pelo empregador, por outro, são factores chaves para o
aparecimento e desenvolvimento da economia informal;
- A reforma antecipada;
- Uma elevada taxa demográfica urbana devido ao aumento da taxa de fecundidade
e, por conseguinte, da taxa de natalidade e de vagas sucessivas de deslocados provenientes de
áreas rurais;
- O nível elevado de analfabetismo entre a população mais carenciada;
- A redução e declínio do salário real devido a hiperinflação.

23
CAPÍTULO III – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

A pesquisa é definida por Andrade (2010, p. 109) como o “conjunto de


procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio, que tem por objectivo encontrar soluções
para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”. O que nos dá a
entender que a pesquisa seja um conjunto que tem como base o pensamento lógico.
Relativamente as finalidades da pesquisa, Andrade (2010, p. 110) classifica-a em
dois grupos: por razões de ordem intelectual e por razões de ordem prática. No primeiro caso,
o objectivo da pesquisa é alcançar o saber, para a satisfação do desejo de adquirir
conhecimentos. No segundo caso, a pesquisa visa às aplicações práticas, com objectivo de
atender às exigências da vida moderna, sendo o objectivo contribuir para fins práticos, pela
busca de soluções para problemas concretos, a denominada pesquisa aplicada.

3.1. Tipos de Pesquisas Aplicados no Estudo

Servimo-nos de uma pesquisa exploratória, no sentido de que exploramos os


conceitos e outros aspectos conexos, pois ela possibilita aumentar o conhecimento do
pesquisador sobre os factos, permitindo a formulação mais precisa de problemas, criar novas
hipóteses e realizar novas pesquisas mais estruturadas (Castro, 1976, p. 66). Empregamo-la no
levantamento de dados bibliográficos, questionário aos vendedores ambulantes do bairro Cuca
que constituem objecto do nosso estudo de caso.

3.2. Tipo de Abordagem de Pesquisa


Quanto à abordagem a pesquisa pode ser qualitativa, quantitativa ou mista.
Empregamos a pesquisa mista, que acontece quando num mesmo estudo utiliza-se
procedimentos da pesquisa qualitativa e da pesquisa quantitativa. «Trata-se de uma
combinação de instrumentos e técnicas, habitualmente associadas aos diversos tipos de
estudo» (Marconi & Lakatos, 2018, p. 326).
No uso de tabelas, gráficos, questionário utilizamos a pesquisa quantitativa, já na
procura de bibliografia para o sustento das ideias utilizamos a pesquisa qualitativa.

24
3.3. Método de Pesquisa

Metodologia «é o conjunto de métodos ou caminhos que são percorridos na busca do


pensamento» (Andrade, 2010, p.117). Distinguem-se em métodos de abordagem e métodos de
procedimento. Os métodos de abordagem referem-se ao plano geral do trabalho, a seus
fundamentos lógicos, ao processo de raciocínio adoptado, procedimentos gerais, por sua vez,
os métodos de procedimentos têm carácter mais específico, relacionam-se com as etapas do
plano geral do trabalho (Andrade, 2010).
Os métodos de abordagem classificam-se em: dedutivo, indutivo, hipotético-
dedutivo e o dialéctico. Os métodos de procedimentos são: histórico, comparativo, estatístico,
funcionalista, estruturalista e monográfico. No método indutivo percorre-se o caminho
inverso ao da dedução, ou seja, a cadeia de raciocínio estabelece conexão ascendente, do
particular para o geral. Neste caso, as constatações particulares é que levam às teorias e leis
gerais (Andrade, 2010, p. 119).
Servimo-nos, o método estatístico enquadra-se na pesquisa quantitativa, pois ele
fundamenta-se na utilização de estatísticas e probabilidades. (Andrade, 2010, pp. 121-122).
Finalmente, do método monográfico ou estudo de caso, que consiste no estudo de
determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades com a
finalidade de obter generalizações dos agentes económicos informais (Andrade, 2010, pp.
121-122).

3.4 Técnicas e instrumentos de recolha de dados

A distinção entre método e técnica é feita por Ruiz (1991, p. 138), na seguinte
maneira:
A rigor, reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas
fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos
procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objecto de
pesquisa, dentro das diversas etapas do método.

As técnicas de pesquisa podem ser agrupadas, segundo Andrade (2010, p. 123), em


dois tipos de procedimentos: documentação indirecta e documentação directa. Na
documentação indirecta fazem parte a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. A
documentação directa abrange a observação directa intensiva e a observação directa
extensiva. A observação directa intensiva baseia-se nas técnicas de observação propriamente
dita e nas entrevistas. A observação directa extensiva baseia-se na aplicação de formulários e

25
questionários; medidas de opinião e de atitudes; testes; pesquisas de mercado e história de
vida.

Utilizamos a técnica da observação directa extensiva, porquanto utilizamos


questionários para que pudéssemos obter dados dos vendedores ambulantes do bairro da
Cuca. O instrumento foi o mesmo questionário escrito e impresso em folhas de A4.

3.5. Unidade de Análise e População Alvo

A unidade de análise determina o grau de generalização da pesquisa, ou seja, o


quanto ela será válida externamente. Os vendedores ambulantes constituem nossa unidade de
análise.

3.6. Amostra

A amostra é o subconjunto do universo do qual se estabelecem ou se estimam as


características desse universo. (Castro, 1976). A amostra pode ser probabilística e não
probabilística ou não probabilística. O presente estudo utilizou-se uma amostra não
probabilística, que é um tipo de amostragem em que existe uma dependência, pelo menos em
parte, do julgamento do pesquisador ou do entrevistador de campo para a selecção dos
elementos da população para compor a amostra (Oliveira, 2011).
A amostra foi constituída através dos diversos vendedores ambulantes que actuam no
bairro da Cuca. Dentre eles, destacamos os comerciantes de bens alimentares, de vestuários e
sapatos, distribuídos nas ocupações de proprietários e de funcionários.
Como foi utilizada a técnica não probabilística para seleccionar a amostra, não se fez
necessária a aplicação de fórmulas estatísticas, pois, segundo Lakatos e Marconi (2018), a
técnica de amostragem não probabilísticas é a que não faz uso de formas aleatórias para
selecção da amostragem, sendo assim não podem ser objectos de tratamento estatísticos.
Lakatos e Marconi (2005, p.139) afirmam «pode ser considerada como uma classificação
ou medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, que contém ou apresenta valores;
aspecto, propriedade ou factor, discernível em um objecto de estudo e passível de mensuração».
Para Gil (1995, p. 61), uma variável é “qualquer coisa que pode ser classificada em duas ou mais
categorias.
A presente pesquisa evidenciou como variáveis de investigação: o sector informal,
factores de trabalhar no sector informal, renda informal.

26
3.7. Instrumentos de Analise e Interpretação dos Dados

A análise de dados consiste em examinar, categorizar, classificar em tabelas, testar


ou recombinar as evidências quantitativas e qualitativas para tratar as proposições iniciais do
estudo (Yin, 2006). Os dados podem ser tratados de forma quantitativa e qualitativa. No
tratamento quantitativo, utilizam-se procedimentos estatísticos. Já no qualitativo,
apresentando-os de forma mais estruturada, como é o caso desta pesquisa.
Os dados deste estudo foram analisados de forma mista (quantitativa e qualitativa),
através da interpretação empírica dos questionários combinados às informações provenientes
da literatura existente, sobre o sector informal. A técnica foi da análise do conteúdo oriundo
dos mesmos questionários feitos aos vendedores ambulantes.

3.8. Procedimentos de Pesquisa

Após a pesquisa para a fundamentação teórica sobre os agentes económicos no sector


informal, e em acordo o objectivo do nosso estudo, elaboramos um termo de consentimento
para a pesquisa bem como o questionário dirigido aos vendedores ambulantes, fizemos um
pré-teste para 10 vendedores e analisamos as perguntas relevantes. Terminada a análise
estendemos a entrega de questionários aos vendedores ambulantes, vulgos zungueiros, que
vendiam ao redor da estrada e paragem de automóveis da Cuca, mais tarde nas ruas do bairro.
Determinados vendedores nem mesmo para ler o termo de consentimento fizeram,
justificando o factor tempo e clientes, outros depois de lerem pediram tempo para ler e poder
responder. Houve quem não tenha entregado o questionário sem justificação alguma. Não nos
faltou quem tenha lido e respondido sem dificuldades, encorajando-nos a continuar a pesquisa
e indicando outros agentes para prestarem suas opiniões relativamente as opções do
questionário.
Depois da colecta seleccionamos os que responderam todas as questões e mais tarde
os que responderam parte delas. Retiramos os dados e elaboramos as devidas tabelas e
gráficos para análise dos resultados.

27
CAPÍTULO IV – ENQUADRAMENTO EMPÍRICO

4.1 Apresentação dos Resultados

Os dados aqui apresentados são frutos da pesquisa realizada junto com os vendedores
ambulantes, os quais foram organizados, analisados, tabelados e transcritos para que se
pudessem conhecer os resultados. Tais inferências nos mostram uma visão de que os estudos
até aqui realizados apresentam, quase nada do todo que o tema “inclusão de agentes
económicos provenientes do sector informal para o sector formal” nos reserva. De acordo
com a literatura pesquisada para fins de desenvolvimento desta monografia, pouco ou quase
nada se traduz a informalidade como uma possível reviravolta no mundo económico em que
vivemos, apesar de sabermos, como foi apresentado na fundamentação teórica, que a
informalidade é a responsável por grande parte da economia. O que não se justifica que o
sector informal seja um sector que contribui para desequilíbrios económicos na nossa vasta
Angola. Dada a necessidade de alcançar os objectivos propostos, serão expostos a seguir os
dados obtidos durante a colecta.
4.1.1 Idade dos Vendedores
As idades médias dos trabalhadores do sector mostram uma diversificação, visto que
entre as camadas mais jovens dessa população o desemprego é maior. Sabendo disso,
esperava-se uma proporção maior de trabalhadores informais nas faixas etárias abaixo de 30
anos, conforme Luna (2017). Para Pena (2008) apud Lima (2017) esta faixa etária é de longe
a população que mais sofre no cenário de crise, dada a pouca experiência de mercado que lhes
força a assumir posições precárias.

Tabela 1: Idade dos Vendedores Ambulantes

Idade Vendedores Percentagem


Até aos 18 anos 8 13%
Entre 19 e 35 anos 23 37%
Entre 36 e 45 anos 19 30%
Acima de 46 anos 13 21%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)
A pesquisa realizada mostrou que, dos entrevistados, a maioria se posicionou na
faixa etária de 19 a 35 anos, 23 respondentes; seguida pela faixa de 36 a 45 anos, 19
respondentes. Não se deixando a parte da venda ambulante verificou-se que os que estão

28
acima de 46 anos envidam actividades económicas também, apesar de tudo quanto possa
acontecer e a estes acrescentam-se os menores que ocupam a percentagem mínima, importa
aqui referir que existem mais crianças.

Gráfico 1: Idade dos Vendedores Ambulantes

13%
21%

Até aos 18 anos


Entre 19 e 35 anos
Entre 36 e 45 anos
Acima de 46 anos
36% Total
30%

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)


Podemos concluir, que a actividade comercial, mesmo que informal, integra várias
pessoas de idades diferentes, visto que no comércio informal existe essa flexibilidade, ou pelo
menos, é mais comum essa prática de diferentes faixas etárias nas organizações formais.

4.1.2. Género
Quanto ao género ou ao sexo, de acordo com a pesquisa realizada, questionou-se
diferentes homens e mulheres, o que tornou a pesquisa, integradora.
Tabela 2: Género dos Vendedores Ambulantes

Género Vendedores Percentagem


Feminino 37 59%
Masculino 26 41%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)
As mulheres constituem maior parte dos vendedores ambulantes no bairro da Cuca,
as vozes das diversas publicidades de produtos soam quase todo o dia e todos os dias, porém,
pode significar que a participação da mulher no sector informal está intrinsecamente ligada à

29
necessidade de independência e complemento da renda familiar (SORJ, 2005) apud (Lima,
2017).
Gráfico 2: Representação por Género

Masculino
41%
Feminino
59%

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)

4.1.3. Tempo de Venda


Ao se tratar de tempo de venda não referimos quanto tempo por dia os vendedores
exerciam sua actividade normal, mas sim, em relação ao tempo de trabalho informal que
vendiam, como a tabela a seguir indica:
Tabela 3:Tempo de Trabalho

Tempo de Venda Vendedores Percentagem


Inferior a 5 anos 26 41%
Entre 6 e 10 anos 16 25%
Entre 11 e 15 anos 10 16%
Entre 16 e 25 anos 8 13%
Acima de 25 anos 3 5%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)
Antes vimos que o sector informal no bairro da Cuca é constituído essencialmente
por jovens e mulheres. Dos questionados, como vemos, maior parte está nos primeiros anos
de exercício, talvez seja as diversas faltas de condições das políticas públicas hodiernas que
não as faças incluir no mercado formal, ou seja, a realidade socioeconómica actual fez com
que muitos ingressassem no sector informal da economia.

30
Gráfico 3:Tempo de Trabalho/Venda

5%

13%
Inferior a 5 anos
41% Entre 6 e 10 anos
Entre 11 e 15 anos
16%
Entre 16 e 25 anos
Acima de 25 anos

25%

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)


Dos inquiridos, 25% já está a caminho de 10 anos de venda ambulante, pelo que
tornam-se cada vez mais experientes nos negócios informais, embora notem os benefícios de
um negócio formal. Pode traduzir a ideia de que de 2011 até 2021 a população aderiu a
diversas formas de trabalho informal, no sector económico. A outra margem de percentagem,
16,13 e 5, respectivamente exerce esta actividade a mais de 11 anos.

4.1.4. Actividade Negocial


No que se refere a classificação da sua actividade como trabalho, apenas venda,
produção, entretenimento (passatempo) ou outra, quase que por unanimidade, responderam
vendas como sendo a actividade exercida no âmbito de trabalho.
Tabela 4: Classificação da Actividade Negocial

Classificação da Actividade
Negocial Vendedores Percentagem
Trabalho/Prestação de
serviços 8 13%
Vendas 46 73%
Produção 2 3%
Entretenimento 5 8%
Outro 2 3%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).

31
De acordo com a pesquisa aplicada, dos 63 questionados,73% ou 46 escolheram a
opção de vendas, 13% ou 8 de serviços, 8% ou 5 de entretenimento e apenas 3% ou 2, de
produção e outro, respectivamente. Vale salientar que muitos dos funcionários que colocaram
como actividade negocial a opção vendas prestam serviços. O que se pode deduzir é que, ao
preencher o questionário, tais funcionários sequer sabiam que sua actividade negocial.
Gráfico 4:Classificação da Actividade Negocial

3%
8% 13%
3% Trabalho/Prestação de
serviços
Vendas

Produção

Entretenimento
73%

Outro

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)


Percebe-se que, devido à grande maioria dos entrevistados dependerem totalmente da
renda do comércio informal que exercem, eles escolheram esse tipo de actividade por
oportunidade, necessidade ou simplesmente por querer ser dono do próprio negócio.

4.1.5 Factores Influenciadores da Escolha por ser Vendedor Ambulante


De fato, vários factores influenciam e podem incentivar as pessoas a escolherem
trabalhar no ramo da economia informal e ser vendedor ambulante. Frente a essa questão, a
tabela e o gráfico a seguir mostram os principais factores escolhidos pelos inquiridos.
Podemos considerar, nesse tipo de questão, que mais de um factor pode ser influenciador da
tomada de decisão por ser direccionado a trabalhar no ramo da informalidade.

32
Tabela 5:Factores que Influenciam a Venda Ambulante

Factores Vendedores Percentagem


Escolha Própria 3 5%
Gosto de Negociar 4 6%
Negócio Familiar 4 6%
Renda Extra 7 11%
Lucro Fácil 15 24%
Necessidade 5 8%
Oportunidade 3 5%
Não Fazer outra Coisa 2 3%
Ser dono do meu negócio 3 5%
Falta de emprego 17 27%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021 )

Almeida (2013) apud (Lima, 2017) mostra que as actividades, por mais que sejam
em busca de um sustento para a família, podem ser frutos de uma escolha própria devido
alguns benefícios que este tipo de trabalho apresenta. Ela destaca este ponto de vista no
trecho:
[...] O trabalho informal se tornou uma alternativa, que pode até agradar ao trabalhador
por algumas vantagens, como fazer seu próprio horário de trabalho, não estar sob a
pressão de um patrão e a possibilidade de se conseguir uma remuneração maior do que
com um trabalho formal onde também teria que seguir as regras do empregador e um
horário determinado. Eleva até sua auto-estima, porque ele pode dizer que tem um
emprego e passa a ter mais respeito [...] (Almeida, 2013, apud Lima, 2017, p.53).

33
Gráfico 5: Factores Influenciadores da Venda Ambulante

5% Escolha Própria
6%
Gosto de Negociar
27% 6%
Negócio Familiar
Renda Extra
11% Lucro Fácil
Necessidade
5% Oportunidade
3%
Não Fazer outra Coisa
5% Ser dono do meu negócio
24%
8% Falta de emprego

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).

Diante das alternativas apontadas pelos dados do Gráfico 5, podemos perceber que a
falta de emprego, quer seja no sector público quer seja no sector privado, vem em primeiro
lugar, com 27% , como factor principal para tomada de decisão em abrir um negócio, mesmo
que informal. Em seguida, vem o lucro fácil, com 24%, abarca-se ali a falta de burocracia no
reconhecimento da documentação, a falta de pagamento de impostos, a ausência de
pagamento no final de cada mês. A renda extra constitui o terceiro factor com 11%, que se
pode traduzir na ideia de aumentar no rendimento precário dos sectores de trabalho. O
negócio familiar, ser dono do próprio negócio, a oportunidade de iniciar um negócio, a
necessidade de se fazer este tipo de negócio, outros factores que influenciam os vendedores
ambulantes do bairro da Cuca a aderirem a este tipo de actividade económica.

4.1.6 Comércio Informal e Comércio Formal: Qual é o Melhor?


Com relação à questão que busca saber se o comércio informal é melhor que o
formalizado, as respostas tiveram diferentes resultados. Maior parte dos inquiridos, os quais
somaram 60% ou 38 totais, acreditam que o comércio informal de facto ainda é melhor do que
o comércio formal.

34
Tabela 6: Qual é o melhor comércio: formal ou informal?

Melhor Comércio Vendedores Percentagem


Formal 25 40%
Informal 38 60%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)
Podemos perceber que algumas vantagens da economia informal para o trabalhador é
que ele, por não ter registo tributário, não se vê obrigado a pagar impostos, ficando, assim,
com todo o retorno do seu investimento. Além disso, tem maior liberdade e flexibilidade com
seus horários, já que trabalha para si próprio, e, por consequência, não tem as obrigações
trabalhistas de um empregado formal.
Gráfico 6: Melhor Comércio

40%
Formal

60% Informal

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).


Diversas vantagens são proporcionadas pelo sector económico informal, como a
legalização do próprio negócio, facilitação na burocracia, direito a benefícios previdenciários,
isenção de impostos, simplificação da escrituração contabilista e fiscal, e a possibilidade de
contratação. (Portal Asaas, 2015). A possibilidade de reger-se por si próprio e pelas regras do
comércio faz com que classifiquem o sector informal como melhor. O que pode traduzir a
emancipação destes agentes económicos em relação às empresas e ao Estado.
Mesmo sendo um questionário, com perguntas fechadas, muitos participantes
pareciam desejar argumentar, como se fosse uma entrevista, tanto é que assinalavam
comentando sobre a vantagem de obtenção de rendimentos e a não necessidade de registo, a
gestão pessoal do horário, férias. Não faltou quem afirmasse que apesar destas vantagens, a

35
carga horária pode ser muito mais pesada, a desvalorização social, e a falta de credibilidade
nos produtos que estejam à venda.
Quando já estavam a nos devolver os questionários uma participante, que vendia
peixe e que todos os dias tira da praia para o bairro disse: «ser zungueira é um dom, não é
para qualquer um ficar aqui não, você tem que saber vender e ter aquele jeito para conquistar
os clientes».

4.1.7. Principais Produtos à Venda

Na pesquisa feita aos vendedores ambulantes, podemos notar que existe uma
variedade de produtos tal qual existem no sector informal, todavia, pode ver-se que no
mercado informal existe quase uma distribuição uniforme na compra dos produtos
identificados, embora os bens alimentares tenham registado uma percentagem maior (43%,
correspondente a 27 respostas).
Tabela 7: Tabela de Principais Produtos Vendidos

Produtos Vendedores Percentagem


Bens Alimentares 27 43%
Vestuários 22 35%
Sapatos 4 6%
Mobílias 2 3%
Outros 8 13%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).
Os bens alimentares constituem o primeiro produto entre os principais que são
comercializados pelos vendedores ambulantes, na sua diversidade (bebidas e comidas). Os
vestuários ocupam o segundo lugar da preferência do comércio informal, com 35%, as outras
posições são ocupadas por outros tipos de produtos e mobílias.
Ainda, quando se questionou de maneira informal (fora do questionário escrito) que
outros bens os consumidores adquiriam, verificou-se que as respostas incidiram sobre
produtos como acessórios de motorizadas, cigarros, electrodomésticos, cosméticos, Bijuteria,
material de construção civil, material de cozinha, material de pesca, mobília, material
electrónico medicamentos, entre outros.

36
Gráfico 7: Principais produtos vendidos pelos participantes

13%

3%
Bens Alimentares
6%
43% Vestuários
Sapatos
Mobílias
Outros

35%

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).

4.1.8. Volume de Renda Mensal


Os resultados obtidos, através do questionário dos vendedores, para a questão
Volume de Vendas Mensal, onde tínhamos que perguntar doutra forma: geralmente qual tem
sido o seu lucro mensal?
Tabela 8:Volume de Renda Mensal

Volume de Renda Mensal Vendedores Percentagem


Inferior a 30.000 kzs 6 10%
Entre 30.000 a 50.000 kzs 4 6%
Entre 51.000 e 80.000 kzs 16 25%
Entre 81.000 e 120.000 kzs 16 25%
Entre 121.000 e 200.000 kzs 6 10%
Entre 201.000 kzs e 300.000 kzs 7 11%
Acima de 300.000 kzs 8 13%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021)
O rendimento mensal dos vendedores ambulantes tem variado consoante o tempo,
uma resposta unânime, mas em média maior parte tem tido um rendimento no intervalo de
51.000 a 120.000 kwanzas, que constitui 50% dos inquiridos, sendo divididos em 25%, como
vemos na tabela 8. Existem ainda vendedores que tendo em conta a vulnerabilidade do
mercado o rendimento nem ultrapassa 30.000 kwanzas, o que torna a vida mais difícil, caso
observemos como está o custo de vida actual e o poder de compra.

37
Gráfico 8: Rendimento Mensal

Inferior a 30.000 kzs

13% 10%
Entre 30.000 a 50.000 kzs
6%

11% Entre 51.000 e 80.000 kzs

Entre 81.000 e 120.000 kzs


10% 25%
Entre 121.000 e 200.000 kzs

25%
Entre 201.000 kzs e 300.000
kzs
Acima de 300.000 kzs

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).


O facto interessante é que apesar de que haja quem tenha um rendimento de menos
de 30.000 kwanzas, existe quem consiga obter um rendimento acima de 300.000 kwanzas,
ocuparam 13% dos participantes, os outros ocupam as escalas médias, tal como apresentamos
no gráfico 8.

4.1.9.Troca para o Sector Formal


Trabalhar na informalidade nem sempre é emprego único para o trabalhador e. apesar
de pontos de vista divergentes, não se pode negar o facto de que esta actividade informal
ganha novos adeptos a cada dia. Entretanto, pouco se sabe a respeito dessa actividade, pois
uma característica inerente ao sector informal é a sua complexidade e a variedade de
actividades inseridas no seu contexto. E, algumas destas actividades são facilmente
observáveis, enquanto outras são menos distintas e praticamente impossíveis de serem
aferidas.
Não é de consenso a troca do sector informal para o sector formal, pois nesta
pesquisa, questionamos aos vendedores ambulantes se eles trocariam a venda ambulante pela
venda formal, ou seja, constituiriam uma microempresa com todos os requisitos mínimos
necessários para o reconhecimento pelo Estado, bem como todas as vantagens e encargos que
isto acarreta.

38
Tabela 9: Troca do Sector Informal ao Sector Formal

Troca de Sector Vendedores Percentagem


Sim 38 60%
Não 25 40%
Total 63 100%
Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).
Dos inquiridos 60% trocariam do comércio no sector informal, ou seja, trocariam a
venda ambulante pela constituição de pequenas empresas, legalização do que for preciso e
estabilidade na condição de vida. Ademais, 40% rejeita a troca. Ainda na informalidade na
abordagem, justificaram que identificavam-se pela venda, a troca atingiria muito a sua forma
de vida e que não conseguiriam mais depender de determinadas formalidades. Como podemos
observar no gráfico 9.
Gráfico 9: Troca de sectores económicos

40%
Sim
Não
60%

Fonte: Pesquisa directa (Dezembro de 2021).

4.2. Discussão dos Resultados

Tendo em conta os resultados que apresentamos, importa aqui aferir que apreciando
a faixa etária média dos vendedores ambulantes, entre 19 e 35 anos, as vantagens e
desvantagens que este sector económico apresenta, o rendimento e a economia em geral do
país, é necessário que se melhore a qualidade da política microeconómica do Estado.
Várias podem ser a estratégias para que se possa ao menos inverter a adesão
excessiva ao sector informal, pois faz com que a própria economia pode estar baixa por falta
de indicadores concretos. Como realçou-se no Plano de Desenvolvimento Nacional de
Angola:
Deve também sublinhar-se que a economia informal tem, ainda, um peso muito
relevante na actividade económica e uma parte significativa do emprego está
concentrada em actividades com baixa produtividade e, portanto, salários pouco
compensadores. Por isso mesmo, a promoção da competitividade das empresas no
mercado interno e nas exportações é uma pré-condição essencial para assegurar a

39
diversificação da estrutura económica, reduzir o défice da balança comercial, alargar
a base de incidência tributária, facilitar a integração nos mercados à escala regional e
internacional com reflexos positivos no crescimento económico, na criação de
empregos remuneradores e na redução da pobreza (Governo de Angola, 2018, p. 21).

Desta sorte, é preciso que desde a educação básica ao ensino superior se melhore a
qualidade de ensino superior para que as pessoas comecem a pensar em uma economia formal
desde cedo, sem pôr de parte a universalização do ensino do empreendedorismo.
Reformas semelhantes na saúde, voltadas para universalizar a adopção de
procedimentos básicos de alta eficácia e baixo custo, focalizando os subsídios públicos na
população de baixa renda e expandindo os sistemas de seguro privado para cobertura de riscos
médios e altos, com disponibilização de menu variado de opções.
Nos dois casos, se deve recorrer mais intensamente a esquemas de parceria público-
privada para a gestão de unidades de saúde e ensino. Melhorar o ambiente de negócios e
investimentos no país. Para isso se deveria fortalecer a segurança jurídica; simplificar o
relacionamento das empresas com a autoridade pública, aí incluídas as normas para
instalação, fechamento e operação de empresas; e simplificar e tornar mais eficientes as
regulações tributárias e trabalhistas, reduzindo a informalidade. Com estas medidas os
vendedores ambulantes sentir-se-ão atraídos por ser um procedimento normal.
Vimos que a falta de emprego constitui o factor principal que influencia muitos a
aderirem ao sector informal, isto corresponde uma hipótese da nossa pesquisa, outrossim o
Executivo angolano já sabe disto, visto que no seu Plano de Desenvolvimento Nacional
sustenta que «o emprego por conta própria é a fracção dominante da economia informal,
limitando o crescimento das receitas fiscais e a normalização do funcionamento dos
mercados» (Governo de Angola, 2018, p. 188). É mister que se defina políticas mais
inclusivas para diminuir o índice de desemprego para os vendedores ambulantes.
Embora existam vantagens de horário e negócio próprio, lucro fácil e outros factores,
é necessário que as políticas públicas fossem mais concretas para o comércio informal
exercido pelos vendedores ambulantes, não no sentido de intervencionismo público, mas
como garantia da transição do sector informal para o sector formal.
Para que se maximize o nível de emprego, e consequentemente haja uma mudança
do sector informal ao formal, cabe ao Estado prover a igualdade de oportunidade para todos
os cidadãos (educação económica e saúde); prover um sistema jurídico satisfatório; proteger à
propriedade privada; garantir o funcionamento de um sistema eficiente de alocação dos

40
recursos, através do mercado, onde se estabelecem livremente os preços e; garantir a
estabilidade interna do poder de compra do kwanza, nossa moeda nacional.
A experiência histórica mostra que uma boa definição e protecção da propriedade
privada são fundamentais por garantir aos agentes a apropriação dos retornos de sua
actividade. O respeito a esta instituição é fundamental porque os agentes são movidos por
incentivos e devem ser moralmente responsáveis por suas acções (Sicsú & Castelar, 2009).
Os vendedores ambulantes, como apresentamos, eximem-se de uma actividade
económica formal em parte por causa dos impostos. Posto isto, é preciso que exista um
equilíbrio fiscal com uma carga tributária mais leve e um endividamento líquido mais
modesto do Estado, que estimularão um crescimento sustentado forte. (Dornbusch, Fischer, &
Startz, 2013). A sociedade rejeita qualquer aumento de impostos e o sistema financeiro se
recusa a financiar o aumento do endividamento. Logo, não resta outra alternativa para
melhorar o equilíbrio fiscal a não ser um programa sério, capaz de estimular ao longo de
alguns anos.
O mercado é compatível com a liberdade individual, pois faz parte dos principais
factores influenciadores, mas não oferece nenhuma garantia para uma relativa igualdade que é
intensamente desejada e necessária para a coesão e o equilíbrio sociais, o que exige uma
acção inteligente e cuidadosa do Estado. A eficiência do mercado será percebida como
socialmente injusta, se não tiver na sua retaguarda uma política que aumente, paulatinamente,
a igualdade de oportunidade para todos os cidadãos, não importando sua origem, cor, religião
etc. É isso que garante que a “competição no mercado” será uma corrida honesta, onde todos
começarão no mesmo ponto de partida e terminarão de acordo com sua capacidade. (Rocha,
Paulo, Bonfim, & Santos, 2016).
Em matéria de infra-estrutura é melhor que o Estado faça apenas aquilo que o sector
privado não tenha condições de fazer, e que o controlo com bons sistemas regulatórios,
através de Agências de Estado, com mandatos fixos que as tornem imunes à pressão política
do poder incumbente passageiro.
Os lucros são importantes por três razões: primeiro, porque é a expectativa de lucros
futuros que move os empresários na sua decisão de produzir e de investir; segundo, porque a
existência de lucros presentes facilita o financiamento de suas actividades sem apelar
demasiadamente ao endividamento; e, finalmente, porque os lucros acumulados no passado
protegem as empresas contras desapontamentos de expectativas, permitindo o cumprimento
de compromissos assumidos sem ameaçar a solvência da empresa. (Souza, 2007).

41
4.2.1. Âmbito das Estratégias

Tendo em conta os resultados que obtivemos e pelos estudos feitos por Ramos e
Patrício (2014) eis o âmbito em que as estratégias de inclusão ao sector formal devem
orientar-se:
- É necessário um modelo de crescimento sustentável que crie emprego e tenha como
objectivo o respeito pela qualidade de vida e do trabalho dos cidadãos e pelos direitos sociais
básicos;
- É necessário um novo paradigma socioeconómico e uma economia
multidimensional que reconheça a paridade entre os diferentes pilares do desenvolvimento
sustentável, em que os bem-estares social, económico, ambiental e cultural é inseparáveis,
para construir uma sociedade ecológica e socialmente viável.
- É necessário promover uma consciência ambiental orientada para o
desenvolvimento sustentável e centrada na cidadania e na reformulação dos valores éticos,
individuais e colectivos. Se queremos uma educação para a sustentabilidade, recomendada em
documentos oficiais, nacionais e internacionais, o ensino e a investigação deverão introduzir
mais e melhor informação sobre a sustentabilidade, a cidadania e a responsabilidade social;
- É fundamental sensibilizar as empresas e os cidadãos para as exigências de um
desenvolvimento sustentável e duradouro, repensar as políticas e as estratégias que
contemplem as especificidades territoriais e aplicar as agendas europeias e nacionais que
preconizam o modelo de sustentabilidade económica, social e ambiental. Há que reforçar a
coerência das políticas públicas. Apesar de o discurso comum apelar ao desenvolvimento das
regiões e das localidades do interior de Portugal, as medidas e políticas aplicadas nem sempre
vão neste sentido;
- Há que (re) pensar as políticas públicas de desenvolvimento local, de ordenamento
do território, planeamento e definição das estratégias, com impacto no crescimento sustentado
das comunidades e no reforço do tecido económico e social envolvente.
É no domínio social e territorial que se encontram os maiores desafios onde se
podem criar alternativas que garantam a equidade, a justiça e as relações entre o local e o
global.

42
CONCLUSÃO

Neste trabalho partimos no problema e questão de partida: quais são as estratégias


necessárias para a inclusão dos agentes económicos provenientes do sector informal para o
sector formal da economia angolana? Importa-nos dizer que a pergunta foi respondida na
medida em que pelos resultados que obtivemos dos participantes podemos fazer um
diagnóstico da realidade e podermos pensar nas estratégias para que os vendedores
ambulantes do bairro Cuca (agentes económicos do sector informal), sejam incluídos no
sector informal.
As hipóteses todas foram confirmadas por intermédio das respostas dos inquiridos ou
participantes, pois muitos deles não conseguem uma licença para constituir uma empresa,
quer seja unipessoal quer seja em sociedades por conta dos vários mecanismos burocráticos
para que se exerça a actividade económica no sector formal. Ainda, a falta de infra-estruturas
comerciais faz com que não se façam negócios formais, assim, tendo em conta a pretensão e
necessidade de satisfazer as necessidades pessoais e familiares, os vendedores ambulantes vão
ao encontro do clientes tornando o mercado também ambulante, caso fosse fixo como os
supermercados e ainda os mercados do 30, a título de exemplo, não haveria necessidade de
estar sempre nas ruas, pelo menos parte deles.
Os agentes económicos informais desconhecem as políticas fiscais, tendo já
dificuldade de licenças e sedes de comércio acrescenta-se a falta de conhecimento, o que se
traduz na falta de interesse para formalizar a sua actividade. Também confirmou-se que maior
parte dos vendedores ambulantes são jovens, que afluem a esta actividade por falta de
emprego nos diversos sectores (públicos e privados), caso exista mais postos de trabalho
incluir-se-ia as suas actividades numa determinada firma ou num estabelecimento público.
Os objectivos da nossa pesquisa foi alcançado na medida em que se analisou através
dos resultados o mercado informal relativamente a sua formalização, ou seja, na medida em
que os vendedores ambulantes responderam e confirmaram nossas hipóteses conseguimos
cumprir o objectivo geral do trabalho que foi analisar a formalização do mercado informal.
De forma específica, este objectivo foi alcançado quando se definiu os mercados,
quer seja formal quer seja informal (objecto da nossa análise), sendo aquele um mercado
como sendo um local onde se encontram quem quer comprar e quem quer vender e que
através de um processo de negociação determinam o preço e a quantidade do bem a ser
transaccionado, confundindo-se com a noção própria de mercado oficial; e mercado informal,
apesar de ter um conceito difícil de se ter, é entendido como conjunto de actividades

43
produtivas realizadas fora da lei, porém socialmente lícitas, na qual não considera factores de
natureza tecnológica, nem no tamanho das unidades produtivas e nem interacções com
mercados, portanto, praticadas sem o amparo da administração pública. Por fim,
caracterizamos os agentes económicos no sector informal, avaliamos a relação com o sector
formal que é meramente de aquisição de produtos.
É preciso que se tenha em conta que a economia é um factor principal para o
desenvolvimento sustentável do país, a diferença exacerbada entre os agentes económicos nos
seus respectivos sectores só afasta cada vez mais o próprio desenvolvimento integral e
solidário e o crescimento económico. Os vendedores ambulantes, com suas práticas,
pressupõem que existe desigualdade de oportunidades económicas.
Sem que se tenha em conta o conceito de sustentabilidade, que envolve as diferentes
dimensões interligadas entre si, (social, ambiental, económica, territorial, cultural e política)
não será possível uma inclusão ou uma diferença mínima entre o mercado informal e o
mercado formal. Afirmamos isto de pé juntos porque numa sociedade onde há um respeito e
protecção pelo meio ambiente, dificilmente se coloca o mercado em qualquer sítio por causa
do lixo que o mercado produz, sobretudo o alimentar, que é o produto que os vendedores
ambulantes do bairro da Cuca mais comercializam; outrossim, onde há um sistema jurídico
célere é mais fácil existir investir, pois sabe-se ao certo que determinados conflitos que
potencialmente aconteçam por causa dos bens económicos serão dirimidos a tempo, junta-se a
isto a criação de várias infra-estruturas mais justas, inclusivas e humanas para que se possa
exercer a actividade económica sem sobressaltos, estimulando o emprego em sectores visando
o desenvolvimento endógeno; e a promoção de emprego decente e/ou auto-emprego para
todos, de forma a assegurar a sustentabilidade social e o crescimento económico.
Para tal é necessário enquadrar, e apropriar-se, o que os outros países desenvolvidos
já debatem há anos:
O crescimento inteligente, mediante o desenvolvimento de uma economia baseada no
conhecimento e na inovação, melhorando a qualidade e a eficiência da educação e da
formação;
- O crescimento sustentável, através da promoção de uma economia mais eficiente na
utilização dos recursos, isto é, mais ecológica, permitindo reduzir os impactos ambientais;
- O crescimento inclusivo, fomentando uma economia com níveis elevados de
emprego, que assegure coesão social e territorial, promova a equidade na distribuição dos
recursos e serviços e a cidadania activa.

44
RECOMENDAÇÕES OU SUGESTÕES

Contudo, após análises feitas em função das respostas dos vendedores inquiridos e
tendo em conta o funcionamento do mercado, sugere-se para melhor desenvolvimento e
inclusão das actividades económicas dos mesmos o seguinte:
- Construção de infra-estruturas de mercados;
- Criação de meios que permitem o acesso fácil dos vendedores ao mercado, uma vez
que estes são obrigados a fazerem gastos diários para deslocações das suas casas para o
mercado e vice-versa;
- Criação de programas de registo de negócios e impostos proporcionais;
- Criação de programas de educação financeira, que ensinam os vendedores a terem o
melhor controlo das suas receitas, visto que movimentam grandes quantidades em dinheiro;
- Criação de um seguro interno de extravio de mercadoria, de maneira a ter maio
organização, segurança e cumprimento de regras e normas.
Para a nossa instituição e para novos problemas a abordar estudos posterior
sugerimos:
a) Identificar as linhas de pesquisas da Instituição;
b) Publicação dos temas já apresentados em cada ano;
c) Insuficiências de trabalhos passados serem referidos aos novos estudantes para
conhecimento e aprofundamento;
d) Criar parcerias com organizações internacionais para pesquisas, assim evita-se
monografias para arquivos.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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47
APÊNDICE

48
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Reconhecido por Decreto do Conselho de Ministros n.º26/07, de 07 de Maio

TERMO DE CONSENTIMENTO

Sou Ângelo Barreto Francisco João, estudante do Curso Superior de Economia do Instituto
acima escrito.
No âmbito do Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do grau de licenciado em
Economia estou a realizar um trabalho de investigação com o tema: Estratégias De Inclusão
De Agentes Económicos Provenientes Do Sector Informal Para O Sector Formal: Caso
Dos Vendedores Ambulantes Do Bairro Cuca – Cazenga. Assim e perante a necessidade
da recolha de opiniões e dados da realidade em estudo, peço a sua colaboração no
preenchimento deste questionário.
As respostas serão anónimas e confidenciais, os dados serão apenas vistos por mim, pelo
professor orientador da investigação e demais entidades do mesmo Instituto Superior, pelo
que está protegido e agradecemos que não seja fornecido mais nenhum dado para além dos
dados solicitados de forma a manter o anonimato e confidencialidade.

MUITO OBRIGADO PELA COLABORAÇÃO.

O Estudante Investigador
_______________________________________
Ângelo Barreto Francisco João

49
QUESTIONÁRIO
1. Qual é a faixa etária (anos de idade) se encontra?
R:
________________________________________________________________________
2. Qual é o seu género? (assinale com X)
a) Masculino ___
b) Feminino ____
3. Há quanto tempo trabalha aqui na Cuca?
R:___________________________________________________________________
4. Qual é exactamente a sua actividade negocial?
R:___________________________________________________________________
5. O que o motiva a fazer a venda ambulante?
R:___________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
6. Para si qual é o melhor mercado: formal ou informal? (é melhor vender nos
supermercados, por empresas, organizados pelo Estado ou este tipo de venda que
fazes?)
R:___________________________________________________________________
7. Quais são os produtos que vende?
R:___________________________________________________________________
8. Normalmente por mês tem lucrado quanto?
R:___________________________________________________________________
9. Trocarias a venda ambulante por estar empregado numa empresa ou no Estado?
R:___________________________________________________________________

Exponha qualquer coisa que gostaria que o Estado e as Empresas fizessem por vós
vendedores ambulantes (zungueiros).
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
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