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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E SOCIAIS


LICENCIATURA EM GESTÃO FINANCEIRA

ANÁLISE DO EMPREENDEDORISMO E DA INOVAÇÃO APLICADOS NAS


PEQUENAS EMPRESAS NA CIDADE DE MAPUTO: ESTUDO DE CASO DA
MICROFINANÇAS BAYPORT (2018-2020)

Cheila Buanar Mohamede

Maputo, Janeiro de 2023


ANÁLISE DO EMPREENDEDORISMO E DA INOVAÇÃO APLICADOS NAS PEQUENAS
EMPRESAS NA CIDADE DE MAPUTO: ESTUDO DE CASO DA MICROFINANÇAS
BAYPORT (2018-2020)

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para a obtenção do grau
de Licenciatura em Ciências Económicas e Sociais com orientação em Gestão Financeira na
Universidade Técnica de Moçambique.

Autor: Cheila Buanar Mohamede


Tutor: Dr. Cassamo Sulemane.

Maputo, Janeiro de 2023

O JÚRI:

O Presidente O Tutor O Arguente Data


_____________ ____________ __________ ___/___/___

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE


FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E SOCIAIS
LICENCIATURA EM GESTÃO FINANCEIRA
Declaração de Honra

Declaro que este trabalho de Diploma nunca foi apresentado na sua essência para obtenção de
qualquer grau académico e ele constitui o resultado da minha pesquisa pessoal.

________________________
(Cheila Buanar Mohamede)

Maputo, Janeiro de 2023

i
Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu pai Buanar Mohamede que desde a minha infância, sempre
procurou, com muito esforço, criar condições para que hoje eu tivesse uma boa formação.

ii
Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Allah, por estar ao meu lado nesta longa caminhada que enfrentei,
pois sem a sua permanência nada seria possível.

Agradecer ao meu querido pai, Buanar Mohamede, incansavelmente pelo sacrifício, apoio e
confiança na minha educação e formação. Meu amigo, companheiro, meu Deus na terra, que
sempre esteve presente em todos momentos da minha vida.

Aos meus irmãos Abiba Buanar, Lina Buanar, Sininha Buanar, Asha Buanar e Dino Buanar que
deram o seu apoio moral e incondicional ao longo dessa caminhada.

Ao meu marido por ter sido persistente durante a minha formação e ter acreditado sempre em
mim.

Ao Doutor Cassamo Sulemane, meu docente e supervisor pelo seu papel crucial, pela
disponibilidade imediata e paciência que teve na orientação deste trabalho.

Aos meus colegas, em especial a Helena Muve e Daniela Guiamba, pelo apoio que sempre me
deram nos momentos em que mais precisei sempre com boa disposição.

iii
Tabelas

Tabela 1: Tipos de Empreendedores..............................................................................................12


Tabela 2:Classificação das MPME’s em Moçambique.................................................................26
Tabela 3: Estado Civil dos Colaboradores.....................................................................................44
Tabela 4: Tempo de Serviço..........................................................................................................45
Tabela 5: Idade dos Inqueridos......................................................................................................46
Tabela 6: Escolaridade...................................................................................................................48
Tabela 7: Género dos Empreendedores.........................................................................................48
Tabela 8: tempo de experiência com o negócio.............................................................................49
Tabela 9: Sector de actividade do empreendimento......................................................................49

Gráfico
iv
Gráfico 1: Distribuição das Empresas em Percentagem................................................................27

Figuras

v
Figura 1: Estado Civil dos Colaboradores.....................................................................................43
Figura 2: Tempo de Serviço...........................................................................................................45
Figura 3: Idade ..............................................................................................................................46
Figura 4: Escolaridade...................................................................................................................47

Resumo

vi
O empreendedorismo desempenha um papel importante na empresa sendo relevante no
planeamento, tomada de decisões quanto a aquisições de equipamentos e na visão de futuro,
levando em consideração o presente e as metas traçadas. O presente trabalho contém resultado de
uma pesquisa com o objectivo de analisar as estratégias de empreendedorismo e de inovação na
melhoria do ambiente de negócio nas pequenas empresas da cidade de Maputo. Este trabalho
envolve etapas de determinação dos objectivos gerais e específicos, o referencial teórico, a
metodologia e o estudo de caso. Foi realizado uma revisão bibliográfica que abrange os temas de
empreendedorismo e inovação. O trabalho foi dividido em duas fases. A primeira consistiu em
um amplo levantamento do referencial teórico e a segunda, no estudo de caso sobre o ambiente
de negócio nas pequenas empresas da cidade de Maputo. Constatou-se que o empreendedorismo
e inovação têm influenciado para o desenvolvimento de uma empresa, tal como é o caso das
microempresas.

Palavras Chaves: Empreendedorismo, Inovação, Microfinanças.

Abstract

vii
Entrepreneurship plays an important role in the company, being relevant in planning, making
decisions regarding equipment purchases and in the vision of the future, taking into account the
present and the goals set. The present work contains the result of a research with the aim of
analyzing the strategies of entrepreneurship and innovation in improving the business
environment in small companies in the city of Maputo. This work involves steps to determine the
general and specific objectives, the theoretical framework, the methodology and the case study.
A bibliographic review was carried out covering the themes of entrepreneurship and innovation.
The work was divided into two phases. The first consisted of a comprehensive survey of the
theoretical framework and the second, the case study on the business environment in small
companies in the city of Maputo. It was found that entrepreneurship and innovation have
influenced the development of a company, as is the case of micro companies.

Keywords: Entrepreneurship, Innovation, Microfinance.

ÍNDICE

viii
I CAPÍTULO: Introdução.......................................................................................................1

1.1 Contextualização.....................................................................................................................1

1.2 Justificativa.............................................................................................................................3

1.3 Problematização do Tema.......................................................................................................4

1.4 Questões de Pesquisa..............................................................................................................5

1.5 Objectivos do estudo...............................................................................................................5

1.5.1 Objectivos Específicos............................................................................................................5

1.6 Hipóteses.................................................................................................................................6

1.7 Estrutura do trabalho...............................................................................................................6

II CAPITULO: Revisão Bibliográfica.....................................................................................7

2.1 Origem do empreendedorismo...............................................................................................7

2.1.1 Empreendedorismo.................................................................................................................8

2.1.2 Caracterização do empreendedorismo..................................................................................10

2.1.3 Características e tipos de empreendedores...........................................................................12

2.1.4 A importância do empreendedorismo...................................................................................13

2.2 Inovação................................................................................................................................14

2.2.1 Modelos e práticas da Inovação............................................................................................18

2.2.2 Tipos de inovação.................................................................................................................19

2.2.3 A empresa inovadora e o processo de inovação...................................................................21

2.3 Abordagem Histórica do Empreendedorismo e Inovação em Moçambique........................21

2.4 Pequenas e Médias Empresa no panorama Mundial............................................................25

2.4.1 Classificação das Pequenas e Médias Empresas..................................................................25

2.4.2 Evolução de Pequenas e Médias Empresas em Moçambique..............................................26

2.4.3 Contributo das Pequenas e Médias empresas em Moçambique...........................................28

2.4.4 Pequenas e Médias Empresas no contexto Moçambicano...................................................28

ix
2.4.5 Características das Pequenas e Médias Empresas em Moçambique....................................29

2.4.6 Importância socio-económica de Pequenas e Médias Empresas..........................................31

2.4.7 Constrangimentos que embaraçam o desenvolvimento de Pequenas e Médias Empresas...31

2.5 Microfinanças em Moçambique...........................................................................................32

2.5.1 Surgimento das microfinanças em Moçambique..................................................................33

2.5.2 Evolução das microfinanças.................................................................................................35

III CAPÍTULO: Metodologia de Trabalho..............................................................................36

3.1 Técnicas de Pesquisa............................................................................................................36

3.1.1 Estudo de caso......................................................................................................................36

3.2 Recolha de dados..................................................................................................................36

3.2.1 Pesquisa bibliográfica...........................................................................................................36

3.2.2 Pesquisa Documental............................................................................................................37

3.2.3 Questionário / Entrevista Semi-Estruturada.........................................................................37

3.3 População e amostra.............................................................................................................37

3.4 Limitações do estudo............................................................................................................38

IV CAPITULO : Apresentação e Discussão de Resultados....................................................39

4.1 Apresentação da Empresa.....................................................................................................39

4.2 A escolha deste banco de microfinanças..............................................................................39

4.3 Historial................................................................................................................................39

4.4 Missão / Visão / Valores.......................................................................................................39

4.4.1 Missão...................................................................................................................................39

4.4.2 Visão.....................................................................................................................................39

4.4.3 Valores..................................................................................................................................40

4.5 Os clientes da BAYPORT....................................................................................................40

4.6 Serviços da Bayport..............................................................................................................40

x
4.6.1 Empréstimos.........................................................................................................................40

4.6.2 Economias.............................................................................................................................41

4.6.3 Dinheiro................................................................................................................................41

4.6.4 Seguro...................................................................................................................................41

4.7 Apresentação e discussão dos resultados..............................................................................42

4.7.1 Análise da Entrevista............................................................................................................42

4.8 Questionários aos colaboradores da Bayport Moçambique..................................................42

4.8.1 Perfil dos colaboradores inquiridos......................................................................................43

4.8.2 Tempo de serviço..................................................................................................................44

4.8.3 Idade.....................................................................................................................................46

4.8.4 Escolaridade..........................................................................................................................47

4.9 Informação sobre Empreendedores/ Clientes da Bayport....................................................48

4.10 Medidas Inovativas...............................................................................................................50

V CAPÍTULO: Conclusões e Recomendações......................................................................51

5.1 Conclusões............................................................................................................................51

5.2 Recomendações....................................................................................................................52

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................53

xi
I CAPÍTULO: Introdução

I.1 Contextualização
O presente trabalho de pesquisa tem como tema: Análise do empreendedorismo e da inovação
aplicados às pequenas empresas na cidade de Maputo: estudo de caso da Micro finanças Bayport
Moçambique (2018-2020).

O sector das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) é um contributo importante e um


segmento imprescindível para o desenvolvimento económico e social. Em muitos países, ao
longo das últimas décadas, o sector tem sido o principal motor do crescimento, forma redes e
cadeias de valor com grandes empresas e é visto como um dinamizador do emprego, da
produção e da exportação. Nos países em desenvolvimento, estas empresas também são vistas
como um instrumento importante para a erradicação da pobreza. As MPMEs sabem que inovar é
imprescindível para seu funcionamento e permanência no mercado.

A invenção é a primeira ocorrência - de uma ideia para um novo produto ou processo -


enquanto a inovação é a primeira tentativa de transpô-la para a prática. O empreendedor não tem
necessariamente que ser um inventor, porém tem que ser um inovador. Os empreendedores têm
características comportamentais que os distinguem das outras pessoas. Em vez de resolverem os
problemas da forma como lhes são apresentados, utilizam formas de pensamento inovadoras
(Kao, 1998 citado por Leite, 2002).

A combinação entre empreendedorismo e inovação e vem sendo estudado desde há muito tempo
tendo os autores considerado estes como partícula comum no âmbito de um negócio. Importante
seria não diferenciar estes dois conceitos pelo que ao longo do trabalho estes são tratados de
forma conexa.

O empreendedorismo influencia positivamente o desenvolvimento económico do país e


actualmente deve estar presente nas pequenas empresas, através de empreendedores criativos e
capazes de gerar soluções rápidas.

Segundo Longenecker, Moore, Petty (2004), em uma empresa pequena, o empreendedor

1
tipicamente não dispõe de staff especializado adequado. Os gerentes são, em sua maioria,
generalistas, e não dispõem de suporte de staff experiente em pesquisa de mercado, análise
financeira, propaganda, gerenciamento de recursos humanos e outras áreas.

O principal requisito para o sucesso dessas empresas é a presença de uma conduta


empreendedora, o empresário tem que ter a capacidade de identificar as oportunidades e
transformá-las em produtos e serviços inovadores.

“Uma das características mais identificadas para o empreendedor está atrelada ao indivíduo que
decide montar o seu próprio negócio ou ao líder visionário que fornece as directrizes para a
consecução das tarefas da empresa e leva a organização a um nicho de mercado que traga
vantagem competitiva”, Gadea (2005, p. 45).

De acordo com Sebrae (2007, p. 22), “os proprietários de pequenas empresas precisam ser
versáteis, pois precisam dominar os elementos básicos de gerenciamento, além de ser capazes de
resolver problemas e tomar decisões rapidamente.”

A investigação e a capacidade de inovação não são um fim em si. A inovação em matéria dos
produtos e processos deve contribuir e promover a mudança estrutural dos países em vias de
desenvolvimento, com vista a alcançar a competitividade internacional, o bem-estar e um alto
grau de ocupação da população.

O tema apresentado neste trabalho permite-nos levar a uma reflexão em torno do


empreendedorismo e inovação particularmente na importância que estes componentes têm
influenciado para o desenvolvimento de uma empresa, tal como é o caso das microempresas.

O empreendedorismo desempenha um papel importante na empresa sendo relevante no


planeamento, tomada de decisões quanto a aquisições de equipamentos e na visão de futuro,
levando em consideração o presente e as metas traçadas.

2
“ O empreendedorismo e a inovação são tópicos bastante abordados na literatura actual,
despertando bastante interesse em todo o mundo e aparece destacado como sendo o motor da
economia” (Kuratko, 2005, p. 178).

Para Hisrich et al. (2005, p. 23), “o empreendedorismo é um processo dinâmico de criação de


riqueza incremental, resultante da tomada de riscos de um indivíduo, sendo que o produto ou
serviço criado pode ou não ser único, mas de alguma forma de elevado valor.”

O empreendedorismo tem originado nas últimas décadas um surgimento de novas Pequenas e Médias
Empresas (PME), com especial destaque para as de crescimento rápido. Estas novas empresas entendem-
se como cruciais nos processos de inovação e na condução de mudanças tecnológicas que potenciam
aumento de produtividade. As mesmas têm contribuído para a criação de riqueza, criação de emprego e
melhor qualidade de vida das populações e destacam-se pela sua capacidade de adaptação a um ambiente
de mudança. (Kuratko, 2003, p. 348).

Em Moçambique, depois da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), passou a assistir-se a um


diálogo bipartido anual contínuo entre o governo e o sector privado e, desde então, o governo
empreendeu uma série de reformas, destinadas a melhorar o ambiente de negócios. Apesar do
optimismo do governo quanto à sua política e acções de reforma do ambiente empresarial, o
crescimento das PME’s não tem sido rápido e em consequência dessa lentidão, os postos de
trabalho criados têm sido mínimos e limitados aos sectores dominados por grandes investidores
internacionais (por exemplo, a indústria extrativa e os serviços financeiros). Estas PME’s são
afectadas por uma série de barreiras.

I.2 Justificativa

Do ponto de vista institucional, este estudo é relevante para a Bayport Moçambique, pois poderá
diagnosticar a percepção quanto as estratégias de inovação na empresa.

3
Do ponto de vista do trabalhador, este estudo poderá contribuir para a sua participação na criação
de um ambiente de trabalho mais estimulante e atractivo repercutindo positivamente em outras
esferas da vida como a social e familiar.

Do ponto de vista científico, poderá contribuir com conhecimentos novos acerca de estratégias
de empreendedorismo e inovação orientados para as pequenas empresas. Trazendo à tona a
discussão actual, os novos paradigmas e os resultados alcançados no segmento do
empreendedorismo e inovação.

Do ponto de vista social, poderá auxiliar no levantamento de medidas para melhoria da


produtividade e da qualidade do serviço público prestado à população, beneficiário deste serviço
financeiro, como consequência da melhoria das condições dos factores relacionados ao trabalho.
Torna-se necessário verificar se as PME’s estão em condições de auto-financiar as suas
inovações ou de assumir os problemas estruturais.

I.3 Problematização do Tema

Do ponto de vista científico, problema constitui objecto ou questão de discussão que pode-se
deparar em qualquer área de conhecimento, devendo ser estudado para a sua melhor
compreensão no sentido de poder-se delinear medidas de solução (Gil, 1999). Para (Vale, 2009,
apud Martins 2013), o problema de pesquisa veicula a determinação de informações necessárias
e a forma como estas podem ser obtidas de forma eficaz à luz dos objectivos traçados.

O desemprego juvenil é hoje o problema que mais desafia a capacidade de intervenção, a


responsabilidade colectiva e a vontade política para o consenso nacional pelo que a criação de
mais empregos para milhares de jovens que anualmente chegam ao mercado de trabalho é um
imperativo para que esta camada participe na construção de um Moçambique moderno e
acreditar no futuro. 

Nesta perspectiva, nota-se que, actualmente, em Moçambique os problemas no mercado de


emprego, os condicionalismos que se verificam na transição da escola para a vida activa, com

4
especial incidência na falta de saídas profissionais, a falta de habitação social e de baixo custo, a
burocracia excessiva na função pública, o acesso ao crédito e melhoramento de infra-estruturas
de transporte de pessoas e bens, acredita-se serem essas as grandes linhas de força para constituir
uma fonte de inspiração e de soluções a nível interno e um desafio à capacidade de iniciativa,
criatividade e empreendedorismo.

Diante do acima articulado, coloca-se a seguinte pergunta de partida:


Até que ponto o empreendedorismo e a inovação podem influenciar na melhoria do ambiente de
negócios nas pequenas empresas?

I.4 Questões de Pesquisa

 Quais são as medidas inovativas que as pequenas empresas podem implementar para
melhorar o seu ambiente de negócios?
 Quais são as estratégias que as pequenas empresas implementam para garantir um bom
ambiente de negócios?
 Quais são as estratégias de empreendedorismo que os gestores precisam adoptar para
melhorar a forma de fazer negócio das pequenas empresas?

I.5 Objectivos do estudo

Analisar as estratégias de empreendedorismo e de inovação na melhoria do ambiente de negócio


nas pequenas empresas da cidade de Maputo: estudo de caso da Microfinanças Bayport
Moçambique (2018-2020).

I.5.1 Objectivos Específicos

 Identificar o impacto da inovação na empresa Microfinanças Bayport Moçambique;


 Verificar os métodos usados da empresa Microfinanças quanto ao processo de
Empreendedorismo e Inovação;

5
 Identificar as estratégias de empreendedorismo mais adequadas orientadas às pequenas
empresas.

I.6 Hipóteses

H1 - O empreendedorismo e inovação não influenciam na melhoria do ambiente de negócio nas


pequenas empresas.
H2 - O empreendedorismo e a inovação influenciam na melhoria do ambiente de negócio nas
pequenas empresas.

I.7 Estrutura do trabalho

A pesquisa é composta por 5 capítulos, nomeadamente: Introdução, Revisão Bibliográfica;


Metodologia; Apresentação dos Resultados e Conclusão.

No capítulo I, referente à Introdução, procura-se estabelecer o assunto, fazendo-se a apresentação


e a relevância do tema; a indicação de problema de pesquisa, as hipóteses e a apresentação dos
objectivos da pesquisa.

No capítulo II, referente à Revisão Bibliográfica, são apresentadas as teorias que se debruçam
sobre assuntos relacionados com o tema.

No capítulo III, referente à Metodologia, é descrito o tipo de pesquisa aplicado, a população, a


amostra do estudo, as fontes de informação e os principais instrumentos de colecta de dados.

No capítulo IV, referente à Apresentação dos Resultados, são apresentados os resultados da


pesquisa e a discussão dos mesmos.

No capítulo V, é abordada a Conclusão e são propostas as Recomendações.

6
II CAPITULO: Revisão Bibliográfica

II.1 Origem do empreendedorismo

Desde a época primitiva, se considerar a evolução humana, pode-se se dizer que o homem
primitivo já tinha atitudes empreendedoras à medida que precisava, para sobreviver, inovar na
construção de diversas ferramentas para agilizar a caça de animais.

Segundo Dolabela (2008), o empreendedorismo não é um tema novo: existe desde a primeira
acção humana inovadora, com o objectivo de melhorar as relações do homem com os outros e
com a natureza. “Os indivíduos são atraídos para o empreendimento por inúmeros incentivos
prazeres ou recompensas”. (Longenecker; Moore; Petty, 2004, p. 6).

Brito et al (2013, p. 65), afirmam que “a origem do termo empreendedorismo não é precisa, no
entanto, constata-se que desde os primórdios da humanidade existem pessoas que se destacam,
inovando suas actividades ou produtos. À essas práticas inovadoras dá-se o nome de
empreendedorismo.”

A história do empreendedorismo não é recente como parece. A palavra começou a ser usada a
algumas décadas atrás, porém pode-se dizer que o primeiro a ser definido como empreendedor
foi Marco Polo, quando fez um acordo com um homem que possuía dinheiro e mercadorias.
Como empreendedor Marco Polo seria o aventureiro e trabalharia activamente, enquanto o
homem que emprestou dinheiro seria o capitalista, o que assume riscos de forma passiva
(Dornelas, 2014). Quando a viagem resultava em boas vendas, os lucros eram divididos (Hisrich,
et al., 2009).

Na Idade Média, era conhecido como empreendedor aquele que gerenciava ou participava de
grandes projectos, como construções de castelos e fortificações e catedrais. Os recursos
utilizados eram provenientes do governo e seu papel principal era gerenciar o projecto, não
correndo muitos riscos (Hisrich, et al., 2009 citado por Dornelas, 2014).

7
O termo começou a ser utilizado próximo do que é hoje, no século XVII. O empreendedor nessa
época assumia um contrato com o governo para desempenhar algum serviço ou fornecer
produtos. Esta foi a primeira combinação de empreendedor com o facto de assumir riscos, pois
os preços eram fixos e qualquer lucro ou prejuízo era todo do empreendedor. Neste período
existia um escritor famoso, Richard Cantillon, considerado por muitos como um dos criadores do
termo empreendedorismo, que foi um dos primeiros a distinguir empreendedor e capitalista. Para
ele o empreendedor é aquele que assume riscos, enquanto o capitalista é o fornecedor de capital
(Hisrich, et al., 2009 citado por Dornelas, 2014).

No século XVIII, os doi termos, empreendedor e capitalista, ficaram claros e distintos. A


provável causa foi a industrialização que emergia nesta época através da Revolução Industrial
que ocorreu na Inglaterra (Dornelas, 2014). “Pode-se citar como exemplo de empreendedor desta
época o inventor Thomas Edison, que levantava capital de fontes particulares para financiar seus
experimentos, ou seja, era um usuário de capital”. (Hisrich, Peters & Shepher, 2008, p. 146).

No século XIX e início do XX o termo empreendedor e administrador eram muito confundidos.


Isso porque a análise era feita meramente do ponto de vista econômico “como aqueles que
organizam a empresa, pagam os empregados, planejam, dirigem e controlam as ações
desenvolvidas na organização, mas sempre a serviço do capitalista” Dornelas ( 2014, p. 147).

II.1.1 Empreendedorismo

O empreendedor e ser alguém que possui habilidades técnicas para saber produzir, que
consegue reunir recursos financeiros, organizar as operações e realizar as vendas da sua
empresa.  

Para Chiavenato (2005), ser empreendedor é ser uma pessoa com sensibilidade e “tino”
financeiro para os negócios; é ser dinâmico e realizador de propostas; é alguém que inicia e
opera um negócio para realização de uma ideia ou um projecto pessoal, assumindo riscos,
responsabilidades e, enfim, inovando em sua área de actuação.

8
Segundo Carvalho (1996, p. 79-82):
Os empreendedores são indivíduos que têm a capacidade de criar algo novo, assumindo responsabilidades
em função de um sonho, o de obter sucesso em seu negócio, estas pessoas são ousadas, aprendem com os
erros e encaram seu negócio como um desafio a ser superado; têm facilidade para resolverem problemas
que podem influenciar em seu empreendimento, e mais, identificam oportunidades que possibilitam
melhores resultados; são pessoas incansáveis na procura de informações interessadas em melhorias para o

seu sector ou ramo de actividade, elevando ao máximo sua gestão.

De acordo com Bernardi (2010, p. 89), “a ideia de um empreendimento surge da observação, da


percepção e da análise de actividades, tendências e desenvolvimentos, na cultura, na sociedade,
nos hábitos sociais e de consumo. Assim também as oportunidades detectadas, racional ou
intuitivamente, nas necessidades e nas demandas prováveis (actuais e futuras), bem como nas
necessidades não atendidas, para o autor, definem o conceito de empreendimento.”

“Empreendedorismo é o processo de criar algo novo com valor, dedicando o tempo e o esforço
necessários, assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais correspondentes e recebendo as
consequentes recompensas da satisfação e independência económica e pessoal.”( Sebrae, 2007,
p. 15).

De acordo com Hitt; Ireland; Hoskisson (2008, p. 48), “a essência do empreendedorismo é


identificar e explorar as oportunidades empreendedoras, ou seja, oportunidades que os outros não
vêem ou das quais não reconhecem o potencial comercial. Como um processo, o
empreendedorismo resulta na destruição criativa de produtos existentes (bens e serviços) ou dos
métodos para produzi-los e os substitui por novos produtos e métodos de produção”.

Pode-se dizer que o empreendedorismo está ligado a satisfação das necessidades com a disposição para
enfrentar crises, explorando oportunidades e curiosidades com inovação e criatividade. O termo
empreendedorismo aponta para a execução de planos ou impulsos para a realização de um negócio ou para

a introdução de uma inovação de gestão numa organização já estruturada. (Camargo; Farah 2010,
p.22).

9
De acordo com Dornelas (2008, p. 97), “o empreendedorismo é o envolvimento de pessoas e
processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades.”

Conforme Sebrae (2007, p. 248), “no empreendedorismo a possibilidade de realização pessoal é


grande, é possível unir prazer e trabalho, sendo esta a principal diferenciação do mesmo, pois ele
promove nas pessoas a vontade de criar algo novo, diferente do que os outros já fizeram, ou seja,
o empreendedorismo consiste essencialmente em fazer as coisas que geralmente não são feitas
quando se relaciona a negócios.”

Numa obra mais antiga o autor acima referido privilegiou no seu conceito o elemento
criatividade implementando num contexto de superação de riscos. Para Leite (2002),
empreendedorismo é a criação de valor por pessoas e organizações trabalhando juntas para
implementar uma ideia por meio da aplicação da criatividade, capacidade de transformar e o
desejo de tomar aquilo que comummente se chamaria de risco.

Segundo Menezes (2003, p. 167) “o empreendedor é o indivíduo de iniciativa que promove o


empreendimento a partir de um comportamento criativo e inovador, que sabe transformar
contextos, estimular a colaboração, criar relacionamentos pessoais, gerar resultados, fazendo o
que gosta de fazer, com entusiasmo, dedicação, autoconfiança, optimismo e necessidade de
realização.”

O empreendedor deve ter visão e percepção para identificar as oportunidades. Suas atitudes
empreendedoras devem focar as pessoas e não somente as empresas, atitudes estas que são
fundamentais para o sucesso ou o fracasso da empresa. (ibid)

Os empreendedores têm características comportamentais que os distinguem das outras pessoas.


Em vez de resolverem os problemas da forma como lhes são apresentados, utilizam formas de
pensamento inovadoras (Kao, 1998 citado por Leite, 2002).

10
II.1.2 Caracterização do empreendedorismo

De acordo com Cerveira (2009) empreendedorismo tem sido estudado por várias disciplinas e
por investigadores que procuram centrar-se em aspectos diferentes, gerando definições
diversificadas para conceitos importantes. É possível olhar para esta temática sob algumas dessas
visões diferentes:

a) A perspectiva de gestão da Gestão (Drucker, 1985)

Para Drucker, a designação de “empreendedor” não pode ser aplicada a todos e qualquer
indivíduo que começa um pequeno negócio. Por definição, o empreendedor é aquele que,
simultaneamente cria novos tipos de procura e produtos. (Cerveira, 2009)

b) A perspectiva psicológica (Mclelland, 1995)

“O desenvolvimento de um negócio por parte de um empreendedor, está ligado à sua necessidade de


realização pessoal, necessidades de afiliação (estar próximo de outras pessoas, obter um bom
relacionamento pessoal) e de poder (são pessoas com tendência para dominar ou influenciar outras
pessoas). Para Mclleand, os empreendedores distinguem-se pela sua capacidade de assumir riscos, o seu
sentido de responsabilidade individual, a capacidade de anteciparem responsabilidades futuras,
habilidades de organização e gosto pelo risco e prestígio.” Cerveira (2009, p. 12)

c) A perspectiva económica (Schumpeter, 1998)

Schumpeter encara o empreendedorismo na óptica da destruição criadora (ao passar de um tipo


de produto ou tecnologia para outro que representa uma ruptura clara com o passado). Esta
representa a principal característica do sistema capitalista, na opinião de Schumpeter. O
capitalismo é, essencialmente, um processo evolutivo e “é por definição uma forma ou método
de mudança económica e, além de nunca o ser, nunca poderá ser estático. Esta dinâmica
evolutiva do desenvolvimento do capitalismo tem características marcadas: esta evolução vem de
dentro do próprio sistema económico (…). Ocorre descontinuamente em vez de suavemente.

11
Traz alterações ou “revoluções”, que fundamentalmente substituem os anteriores equilíbrios e
criam condições radicalmente diferentes” (Schumpeter). Isto significa que para o economista, os
empreendedores não necessariamente capitalistas, administradores ou inventores, já que afinal se
trata apenas de pessoas com uma capacidade para “combinar” os factores de produção existentes
o obter os melhores resultados de forma a utilizá-los e a inovar. Transparece das afirmações de
Schumpeter a apologia da mudança, o desequilíbrio introduzido pelo empresário inovador – e
não o equilíbrio e a optimização – é a norma de uma economia saudável e a realidade central da
teoria e da prática económicas. (Cerveira, 2009).

II.1.3 Características e tipos de empreendedores

As empresas podem ser criadas pelos indivíduos por distintas razões e também conforme as
características que cada tipo de empreendedor possui (Bessant; Tidd, 2009). Segundo Dolabela
(2008) é através do entendimento dessas características e tipos de empreendedores que cada
indivíduo pode desenvolver seu potencial empreendedor.

Tabela 1: Tipos de Empreendedores

TIPO CARACTERÍSTICA
Empreendedor nato Pessoa que geralmente começa do nada e cria
grandes empresas. Normalmente está à frente
de seu tempo.
Empreendedor que aprende Alguém que se depara com uma oportunidade
de negócio e muda sua vida para dedicar-se
ao próprio negócio.
Empreendedor serial Indivíduo que gosta de empreender e criar
novas empresas
Empreendedor corporativo Pessoa que conhece as ferramentas
administrativas e sabe como utilizá-las para
obter resultados
Empreendedor social Ser humano que se preocupa em construir um

12
mundo melhor, envolvendo-se em causas
humanitárias.
Empreendedor por necessidade Sujeito que cria seu próprio negócio porque
não tem alternativa e precisa arranjar alguma
forma de sobreviver.
Empreendedor herdeiro Indivíduo que herdou o negócio de sua
família e aprendeu a arte de empreender com
seus familiares.
Empreendedor normal Alguém que utiliza muito de planeamento,
aumentando as chances de um negócio ser
bem-sucedido
Fonte: Adaptado de Dornelas (2007).

“Os empreendedores podem ser voluntários (que têm motivação para empreender) ou
involuntários (que são forçados a empreender por motivos alheios à sua vontade, como é o caso
de desempregados, imigrantes etc.)” (Dolabela, 2008, p. 31). Complementando o pensamento
anterior, Rios e Neves (2004) e Oliveira e Guimarães (2006) ainda afirmam que o empreendedor
involuntário, apesar de criar uma actividade de negócio, não é movido pelo espírito inovador e
sim pela alternativa de trabalho e renda, assim, pode-se dizer que é o oposto do empreendedor
voluntário. Souza (2006), por meio de uma “matriz de características de empreendedor e
empreendedorismo” desenvolveu um cruzamento de informações sobre as principais
características do empreendedor, de acordo com autores estudados por ela.

II.1.4 A importância do empreendedorismo

De acordo com Longenecker; Moore; Petty (2004), os empreendedores são heróis populares da
moderna vida empresarial. Eles fornecem empregos, introduzem inovações e estimulam o
crescimento económico.
A presença do empreendedor torna-se cada vez mais fundamental para as organizações, quando
as mesmas avaliam a necessidade quotidiana de criatividade, do trabalho eficiente, da inserção
de novas possibilidades, da criação de uma nova postura de trabalho, fazendo com que a empresa

13
tenha um centro espontaneamente criativo, gerando soluções rápidas, constantes e funcionais a
estas organizações.
“Actualmente os empreendedores são reconhecidos como componentes essenciais para mobilizar
capital, agregar valor aos recursos naturais, produzir bens e administrar os meios para
administrar o comércio”. (Sebrae, 2007, p. 28).

O empreendedorismo é importante para a empresa, pois permite que a mesma se mantenha


competitiva no mercado, através de atitudes inovadoras.

II.2 Inovação

Inovação é fazer mais com menos recursos é a capacidade de mudar um cenário por mais simples
que seja a ideia inovadora se ela for capaz de revolucionar, trará um ganho imenso para aquele
que a executou.

“A expressão inovação está cada vez mais presente nos estudos da área de administração e
aliado a ela a actividade empreendedora, que antes estava focada na criação de novos negócios e
agora se volta para o interior das empresas, como um novo perfil das actividades e funções
intrínsecas dos colaboradores” (Costa , 2013, p. 67).

Não se pode falar em inovação sem falar em empreendedorismo (Coelho, 2010). Para
Schumpeter (1988, p. 72) “produzir a inovação e principalmente liderar (garantir) a
implementação destas inovações nos processos produtivos era o papel exercido por aqueles que
ele chamou então de empreendedores.”

Pinchot (1999) percebeu que o empreendedor descrito por Schumpeter não era apenas aquele
indivíduo que constrói uma empresa, mas também aquele que dentro das estruturas corporativas
existentes age de modo inovador e se responsabiliza por implementar as invenções necessárias
aos mais variados processos. Schumpeter (1988) pode-se dizer que a ideia de inovação está
ligada a mudanças, a novas combinações de factores que rompem com o equilíbrio existente.

14
Como dito anteriormente: Inovar, portanto, traz implícita a ideia de empreender. E
vice versa.

Mas, por outro lado, Inovação pode ser a inovação ao nível da estratégia (Hamel e Prahalad,
1994), da gestão dos recursos, da concepção ou acompanhamento dos processos, das formas de
organização e estruturas, da vertente financeira, da produção, da distribuição, do marketing e
comercialização, das marcas, das políticas de remuneração e recompensa, da gestão da qualidade
ou ambiental, em suma, em todas as actividades relacionadas com a forma de ser e de estar de
uma organização, que também é uma característica partilhada com a Gestão da Qualidade Total.

Peter Drucker (1981, p. 317) define inovação como sendo a “ferramenta específica dos
empresários, o meio através do qual eles exploram a mudança como oportunidade para um
negócio ou um serviço diferente. É possível apresentá-la sob forma de disciplina, aprendê-la e
praticá-la”.

Freeman e Perez (1988, p. 467) “distinguem inovação entre inovação radical e incremental,
mudanças de sistemas, e paradigmas tecnológicos: A Inovação radical, ou de primeira ordem,
refere-se à introdução de um novo produto ou processo ou a introdução de uma estrutura
organizacional de produção inteiramente nova.”

A inovação incremental, ou de segunda ordem, consiste na introdução de algum tipo de melhoria


em produto, processo ou organização da produção, sem alteração na estrutura industrial. As
inovações incrementais podem resultar de processos de learning by doing, learning by using ou
learning by interacting e, embora individualmente não tenham um grande impacto económico,
quando combinadas podem ter uma grande influência sobre os ganhos de produtividade (Lança
2001) .

De acordo com a visão de Schumpeter (1988), o desenvolvimento económico surge de mudanças


da vida económica, um processo que se inicia espontaneamente, de maneira descontínua, sem
imposições, com iniciativa própria, criando pré-requisitos para novos desenvolvimentos. Assim
sendo, o autor enfatiza a importância das grandes empresas como pilar central do

15
desenvolvimento económico, mediante a denominada acumulação criativa e acumulação de
conhecimentos não transferíveis em determinados mercados tecnológicos e principalmente da
capacidade de inovação.

Segundo Schumpeter (1988, p. 487), “a inovação tecnológica cria uma ruptura no sistema
económico, tirando-a do estado de equilíbrio, alterando, desta forma, padrões de produção e
criando diferenciação para as empresas. Ela representa papel central na questão do
desenvolvimento económico regional e de um país.”

Tratando-se do processo de inovação, o mesmo autor dividiu-o em três fases: invenção (a ideia
potencialmente aberta para a exploração comercial), a inovação (exploração comercial) e difusão
(propagação de novos produtos e processos pelo mercado). Além disso, a abordagem
schumpeteriana (1988) dá ênfase as grandes inovações radicais que envolvem mudanças no
sistema económico, já as inovações incrementais são melhorias das inovações radicais.

Através da análise schumpeteriana conclui-se que as empresas buscam a inovação tecnológica


para aumentar seus lucros. No caso de uma inovação em processo produtivo, isto vai
proporcionar à empresa uma vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes,
aumentando-lhe, desta forma, a possibilidade de maior lucro.

“Autores chamados de neoschumpeterianos vêm reforçar o pensamento de Schumpeter com


relação à importância da inovação para o desenvolvimento económico no século XXI”. (Santos
et al. 2019, p. 05).

Freeman (1987) definiu quatro categorias de inovação: incremental, radical, mudanças do


sistema tecnológico e mudança no paradigma tecno-econômico (revolução tecnológica).
 A inovação incremental ocorre com maior ou menor intensidade continuamente em
qualquer indústria ou actividade de serviço. Embora muitas inovações incrementais
possam surgir como resultado de programas organizados de pesquisa e desenvolvimento,
estas inovações podem frequentemente ocorrer não tanto como resultado de actividade de
pesquisa e desenvolvimento, mas como resultado de invenções e melhorias sugeridas por

16
engenheiros e outros profissionais envolvidos directamente no processo de produção ou
como resultados de iniciativas e propostas de usuários. A inovação pode ser resultado de
uma solução criativa de um colaborador, uma nova forma de atender o cliente, uma
alternativa de determinada etapa do processo produtivo ou a modificação de um insumo
para o novo produto.

 Inovações radicais são eventos descontínuos e são o resultado de uma actividade de


pesquisa e desenvolvimento deliberada realizada em empresas e/ou universidades e
laboratórios. As mudanças do sistema tecnológico afectam um ou vários sectores da
economia, assim como causam a entrada de uma empresa em novos sectores. Elas são
baseadas na combinação de inovação radical e incremental, junto com inovações
organizacionais, afectando mais do que uma ou pequena quantidade de empresas.
Algumas mudanças no sistema tecnológico são tão fortes que têm importante influência
no comportamento da economia.

 “A expressão paradigma tecno-econômico implica um processo de selecção económica


do âmbito da combinação de inovações tecnicamente factíveis e, de fato, isto toma um
tempo relativamente longo. Um paradigma tecno-econômico é aquele que afecta a
estrutura e as condições de produção e distribuição de quase todo o ramo da economia”
(Freeman, 1987, p. 146).

…caracterizam inovação ou desempenho inovador empresarial a partir das inovações


tecnológicas de processos e produtos comercialmente viáveis, uma consequência dos esforços
tecnológicos realizados pelas organizações. Estas inovações podem ser tantas significativas
como incrementais. As inovações significativas relacionam-se a produtos ou processos
inteiramente novos, diferentes dos existentes até aquele momento. Já as inovações de
produtos ou processos incrementais resultam de aperfeiçoamentos de produtos que já existem
e que podem ser melhorados. Os autores ainda discutem que para medir a inovação
empresarial é necessário considerar tanto as quantidades de inovação em produtos e processos
como a parcela do facturamento decorrente das inovações e número de patentes conquistadas.
Rieg e Alves Filho (2003, p. 538)

17
II.2.1 Modelos e práticas da Inovação

“Os modelos de inovação podem ser classificados em dois grandes grupos: inovação fechada e
inovação aberta. O primeiro, inovação fechada, limita o processo inovador aos conhecimentos,
conexões e tecnologias desenvolvidos dentro das organizações, sem participação de instituições
externas ou outras empresas no processo”. (Santos et al. 2019, p. 09).

“O primeiro, inovação fechada, limita o processo inovador aos conhecimentos, conexões e


tecnologias desenvolvidos dentro das organizações, sem participação de instituições
externas ou outras empresas no processo”. (Santos et al. 2019, p. 097).

Já o segundo, “inovação aberta, considera como parte do processo inovador também o


conhecimento e tecnologias externos aos da organização com objectivo inovador e sugere o
envolvimento de universidades, outras organizações parceiras, do mercado através dos
consumidores, fornecedores e do canal de distribuição”. (Santos et al. 2019, p. 10).

“As parcerias, que inicialmente foram a opção de melhoria de resultados através da terciarização
de produção ou serviços, atingiram uma nova dimensão: a da inovação. O desenvolvimento de
novos produtos, tecnologias, conceitos ou serviços para participação em novos mercados e
geração de novas demandas passam a ser em conjunto com outras instituições.” (Santos et al.
2019, p. 10).

Para atender às necessidades das organizações que optam pelas conexões externas sugeridas pelo modelo
de inovação aberta, já existem iniciativas de normalização e regulamentação desse novo modelo de
propriedade intelectual. Inicialmente, dentro de um modelo de inovação fechada e como parte de um
cenário de mercado protegido, bastante sedimentado e comum antes da globalização, as organizações

inovavam, desenvolvendo produtos e ofertando-os ao mercado. (Santos et al. 2019, p. 11).

“No modelo de inovação aberta, a prática do desenho do funil de desenvolvimento tem


seu universo estendido às dimensões fora da organização, o que possibilita não apenas uma
infinidade de novas criações, mas também gera a necessidade de maior controlo e definições

18
objectivas relacionando o processo criativo às estratégias de mercado e económica da
organização”. (Santos et al. 2019, p. 11).

“Neste modelo, também conhecido como “Open innovation” ressalta-se a capacidade que
as organizações têm de articular, de forma efectiva, o uso de seus recursos internos e recursos
externos (ideias, competências, projectos, infra-estrutura, tecnologias, capital, dentre outros)”.
(Santos et al. 2019, p. 11).

Assim sendo, a inovação aberta propõe abrir as fronteiras da empresa para viabilizar
inovações a partir de combinações internas e externa de recursos, tendo em vista dois objectivos principais:
absorver recursos externos (gerados fora da empresa); permitir que os internos que não forem utilizados pelo
negócio possam ser licenciados para fora, de forma que outras empresas tenham a oportunidade de aproveitá-

los.(Santos et al. 2019, p. 12).

II.2.2 Tipos de inovação

De acordo com Rogers e Shoemaker (1971) uma inovação pode ser uma nova ideia, uma nova
prática ou também um novo material a ser utilizado num determinado processo, embora sejam
vários os tipos de inovações que se podem implementar:
 Inovações administrativas e técnicas (Kimberly e Evanisko, 1981);
 Inovação no trabalho organizacional, inovações em produtos e,
 Inovações em processos (Whipp e Clark, 1986).

Quanto aos tipos de inovação, vários autores (Pavitt, 2005) enfocam inovações em produtos e
serviços, processos e operações, marketing, estratégia, inovação organizacional e inovação
gerencial. Desses, com o intuito de subsidiar teoricamente o presente trabalho, destacam-se as
inovações em serviços, em processos e operações e a inovação gerencial. Essa última pode
ocorrer na gestão e nos formatos organizacionais e está relacionada à criação ou adopção de
novidades na gestão e organização do trabalho, em novidades nos princípios, políticas, práticas,
processos, conhecimentos, métodos e técnicas de gestão (Lopes, 2009).

19
Chandler (1997, p. 574) considera que essa inovação “está relacionada ao desenvolvimento de
“novos métodos e meios de coordenar, avaliar e planear a efectiva utilização de uma ampla
variedade de recursos humanos, financeiros e materiais.”

Stata (1997) relaciona esse tipo de inovação com o desenvolvimento de novas tecnologias de
gestão: conhecimentos, ferramentas e métodos que podem mudar (ou até revolucionar) a forma
de se gerenciar uma empresa. “Em algumas circunstâncias, a inovação organizacional adquire
lugar privilegiado em análises da inovação como factor dominante na aquisição da flexibilidade
necessária para adaptação a condições de mercado caracterizadas por forte mutabilidade”
(Godinho, 2003 p. 357).

Birkinshaw, Hamel e Mol (2008, p. 825) definem “inovação gerencial como a invenção e
implementação de uma prática, processo, estrutura ou técnica de gestão que é nova para o estado
da arte e é intencionada para avançar os objectivos organizacionais”.

A inovação gerencial abrange os processos típicos de gestão Hamel (2007): planeamento


estratégico, orçamento de capital, gestão de projectos, contratação e promoção, treinamento e
desenvolvimento, comunicação interna, revisões periódicas do negócio e avaliação e
remuneração de empregados.

De acordo com Pereira (2002, p. 428)


“inovação organizacional diz respeito a todos os processos de
organização e/ou gestão da organização (ou de parte desta), que são reconhecidos como novos
determinado contexto e são susceptíveis de reformar ou melhorar processos empresariais,
bem como de trazer valor acrescentado para a empresa e para os trabalhadores – o que significa
que uma inovação não tem de ser necessariamente a concepção de algo novo, pode tratar-se de

uma melhoria incremental em algo pré-concebido”.

Segundo Martins (2013, p. 231)


As inovações organizacionais surgem no sentido de ajustar as práticas administrativas às mudanças
tecnológicas, económicas e sociais decorrentes de amplos processos de difusão de inovações; elas

20
representam o “elemento central para a compreensão da concepção e implantação das inovações
tecnológicas no que tange a aprendizagem, habilidades organizacionais, rotinas e conhecimento tácito, que
estabelecem a forma de funcionamento das organizações.

Kovács (2003, p. 515)


Ressalta que há um conjunto de elementos sistematicamente referidos como fundamentais para a inovação
organizacional, tais como: hierarquias mais planas, tarefas mais complexas, trabalho em equipa,
centralidade das competências, autonomia na realização do trabalho, confiança nas relações laborais,
envolvimento e participação dos trabalhadores e aprendizagem contínua individual e colectiva.

Segundo Moura (2003, p. 435)


O âmbito organizacional da inovação é muito amplo e abarca diversos domínios gerais: novas formas de
organização do trabalho, novas práticas de gestão do tempo de trabalho, formação continuada, práticas de
participação e diálogo social no âmbito da empresa, responsabilidade social das organizações, inovação nas
práticas de recursos humanos e segurança, higiene e saúde no trabalho.

II.2.3 A empresa inovadora e o processo de inovação

O que torna uma empresa inovadora? Será que as características de uma empresa inovadora
mudaram ao longo do tempo? Para reflectirmos sobre estas questões, temos que analisar como
uma empresa transforma os seus recursos produtivos em bens e serviços prestados aos seus
clientes a preços acessíveis. Para conseguir esta transformação, a empresa necessita de
desenvolver três actividades: planear (estrategicamente), financiar e organizar (Lazonick , 2007).
Os tipos de estratégia, financiamento e organização que suportam o processo de inovação
mudam ao longo do tempo, variam de actividade industrial e de meio envolvente.

II.3 Abordagem Histórica do Empreendedorismo e Inovação em Moçambique

A actual abordagem do empreendedorismo é extremamente importante para a humanidade, capaz


de promover o desenvolvimento económico e social, deixando de ser aquele desestruturado, que
muitas vezes não era bem visto pela sociedade, devido ao seu grande poder de mudança e
transformação, capacidade de criar o novo, o inédito. INE (Cempre, 2007).

21
A sociedade moderna vem passando por muitas mudanças, violentas e rápidas. Isto exige
atitudes arrojadas, corajosas, ousadas, inovadoras e acima de tudo ágeis, viabilizando desta
forma soluções para as mais diversas situações que a conjuntura assim impuser. (Chiavenato,
2007).

O termo “empreendedor”, refere-se a uma figura vital a sobrevivência da humanidade.


Hoje a concepção do empreendedor passou a representar aquele ou aquela que faz a diferença
possuindo características e habilidades diferenciadas. São os empreendedores que estão
rompendo barreiras comerciais e culturais encurtando distâncias, globalizando e renovando os
conceitos económicos, criando novas relações de trabalho e novos empregos, quebrando
paradigmas e gerando riquezas para a sociedade. (Chiavenato, 2007).

Actualmente podemos observar que é crescente o número de novos empreendedores em Moçambique,


contudo verificamos que muitos não estão preparados o suficiente para sustentar esta nova realidade,
acabando por fracassar em seu projecto. Para isso, é necessário à criação de estruturas de apoio ao
empreendedor, sejam elas: financeira, técnica, etc. Há também, os casos em que, o empreendedor
através de sua coragem, ousadia, criatividade, inovação, flexibilidade, agilidade, dentre outras, realiza

seus sonhos e os concretiza. (IESE, 2015, p. 257)

Neste momento nasce uma outra questão, a partir do momento em que o empreendedor se firmou
no mercado, “O negócio deu certo”, ele precisa sobreviver. “Para isto resta a ele duas
alternativas, uma seria se acomodar e simplesmente trabalhar o seu negócio e mantê-lo da forma
que está, se comportando desta forma, o empreendedor acaba por perder muitas de suas
características, que possuía quando no início do negócio, pois fica sem tempo para inovar,
deixando de ter ousadia e coragem, procurando obter uma falsa segurança nas suas poupanças.”
(IESE, 2015, p. 258)

A outra alternativa seria continuar inovando, aprimorando, mudando sempre que a circunstância
assim requisitar, não deixando nunca de empreender, não tendo medo e sempre disposto a
aprender a aprender. (IESE, 2015)

22
A capacidade individual de definir claramente os objectivos a serem alcançados, através da identificação e
do aproveitamento das oportunidades ofertadas pelo meio em que está inserido; a habilidade na
comunicação e persuasão, das pessoas com quem está envolvido nesta empreitada; a obtenção, utilização e
controle dos recursos; poder de negociação; aquisição de informações; a desenvoltura na resolução de
problemas; criatividade e inovação; persistência; agilidade; ousadia e coragem; dentre outros, são factores
imprescindíveis e fundamentais, quando na avaliação do empreendedor bem-sucedido ou mal-sucedido.

(IESE, 2015, p. 260)

A partir deste quadro, o empreendedor, buscando salvar a sua empresa, procura gerir tudo, caixa,
operação, financeiro, marketing, pessoal, etc. Parte disto ligado à falta de estrutura e parte ligada
à falta de confiança na equipe. “Desta forma, o empreendedor acaba perdendo muita de suas
características, que possuía no início do negócio, pois fica sem tempo para inovar, deixando de
ter ousadia e coragem, preocupado com sua “manutenção” na selva de pedra, na busca pela
obtenção da falsa segurança.”(IESE, 2015, p. 261)

O empreendedor foi se tornando ao longo dos tempos figura essencial e imprescindível à evolução da
humanidade. É ele que questiona paradigmas, produz revoluções, cria novos conceitos, formas de fazer as
coisas, novas verdades para antigas questões, é um incessante e incansável agente de mudanças. O
empreendedor está sempre pronto a aprender, a romper barreiras, a criar, a inovar, disposto a enfrentar

desafios e superar dificuldades. (IESE, 2015, p. 264)

Em 2000, foram publicados os resultados no relatório executivo do Global Entrepreneurship


Monitor (GEM, 2000), onde o Brasil aparece como o país que possui a melhor relação entre o
número de habitantes adultos que começam um novo negócio e o total dessa população: 1 em
cada 8 adultos. Nos Estados Unidos esta relação é de um em cada 10; na Austrália, 1 em cada 12;
na Alemanha, 1 em cada 25; no Reino Unido, 1 em cada 33; na Finlândia e na Suécia, 1 em cada
50; e na Irlanda e no Japão, 1 em cada 100.

A pesquisa fala que o empreendedorismo faz a grande diferença para a prosperidade económica, e um país
onde não há altas taxas de criação de novas empresas, estará fadado à estagnação económica. Para que haja
um incremento no estímulo da actividade empreendedora é necessário à existência de um conjunto de
valores sociais e culturais capazes de encorajar a criação de novas empresas. Os novos empreendedores,

23
denominados, indivíduos dotados de grande e saudável inquietude, ousadia, desejo permanente de inovar e

progredir, necessitam de apoio através de cursos, palestras, seminários, encontros, etc. (IESE, 2015, p.
267)

O novo empreendedor que surge, deve possuir além do seu espírito empreendedor, a formação
necessária para que o seu negócio inicie e continue mediante uma prévia preparação, o
aprendizado teórico-prático como instrumento de gestão, com o objectivo de aumentar a
probabilidade de o negócio ser bem-sucedido.

“A dinâmica do mercado globalizado e as possibilidades de novas oportunidades de negócios


interna e externa, juntamente com a actualização de informações nas ferramentas de gestão e
troca de experiências de negócios bem-sucedidos, estes e outros, são assuntos abordados nos
cursos ministrados sob o patrocínio do governo de Moçambique através do Ministério da
Juventude e Desportos.” (IESE, 2015, p. 270)

Quanto mais empreendedores formados, mais certeza se terá de que as micro e pequenas
empresas se tornarão mais fortes e auto-sustentáveis, contribuindo, assim, para um Moçambique
melhor.

“Projectos e atitudes como esta, fortalecem cada vez mais a teoria de que não basta apenas
surgirem muitos novos empreendedores, mas é preciso que se dê as bases o apoio necessário para
que estes novos empreendimentos nasçam, cresçam, floresçam e deem seus frutos para a
sociedade rumo a prosperidade económica e social do país, já que estas micro e pequenas
empresas são grandes geradoras de empregos e renda para a sociedade”. (IESE, 2015, p.271)

Alguns requisitos necessários para ser empreendedor como: julgamento, perseverança e um


conhecimento sobre o mundo, assim como, sobre os negócios. Deverá também, possuir a arte da
superintendência e da administração.

Moçambique está sentado em cima de uma das maiores riquezas naturais do mundo, ainda
relativamente pouco exploradas: o potencial empreendedor dos Moçambicanos. A cultura de

24
Moçambique é a do empreendedor espontâneo. Que está em toda parte, bastando-se um estímulo
para que brote, floresça e dê seus frutos.

Não se pode parar no tempo, pelo contrário as acções e atitudes perante as situações devem ser as
mais acertadas e arrojadas, baseando-se em situações reais de experiências bem-sucedidas, no
intuito de melhorar e inovar sempre em um mercado tão competitivo.

Apesar dos diversos cursos, programas e outras atitudes de incentivo, faltam ainda políticas
duradouras dirigidas à consolidação do empreendedorismo, como alternativa à falta de emprego,
no intuito de respaldar todo movimento advindo da iniciativa privada e de entidades não-
governamentais, que estão fazendo a sua parte.

Outro factor dependerá dos próprios moçambicanos, desmistificar e quebrar o paradigma cultural
de não valorização de homens e mulheres de sucesso que têm construído esse país e gerando
riquezas, sendo eles grandes empreendedores, os quais dificilmente são reconhecidos ou
admirados. Pelo contrário, são vistos como pessoas de sorte ou que venceram por outros meios
alheios à sua competência.

II.4 Pequenas e Médias Empresa no panorama Mundial

II.4.1 Classificação das Pequenas e Médias Empresas


“Na classificação não existe critério único universalmente aceite para definir as Pequenas e
Medias Empresas. Vários indicativos podem ser utilizados para a classificação das empresas nas
categorias micro, pequena, média e grande, mas eles não podem ser considerados completamente
apropriados e definitivos para todos os tipos de contexto”, como afirma (Filion, 1990, p. 359).

Portanto, relativamente as empresas em termos de dimensão, existem micro, pequenas e médias e


grandes empresas que, normalmente variam com o tamanho do país, com o grau do
desenvolvimento, entre outros Puga (2002). Todavia a nossa abordagem será feita relativamente
às PME’s do sector industrial. A definição das PME’s varia de acordo com a metodologia
adoptada por cada país, mais especificamente, pelo tamanho de cada mercado.
25
Países de economia desenvolvida como os Estados Unidos identificam-nas como tendo 500 funcionários ou
menos. Em países em desenvolvimento, por sua vez, onde o tamanho do mercado e os indicadores de
tamanho das organizações são menores, os pontos de corte estão entre 100 trabalhadores e 250
trabalhadores. Na formação de blocos económicos tem aumentado o consenso em torno da classificação das
PME’s. Na União Européia, tais empresas possuem até 250 empregados, nas Américas, adoptado pelos
países que integram o NAFTA e pelo Brasil, consideram-se as PME’s aquelas com até 500 empregados. Na
Ásia, Taiwan considera aquelas que possuem até 200 empregados, Coreia do Sul e Japão até 300

empregados. Puga (2002, p. 481).

O Estatuto Geral das Micro, Pequenas e Médias Empresas (Decreto n.º 44/2011, de 21 de
setembro) define o que é uma Pequena e Média Empresa (PME) em Moçambique.

Tabela 2:Classificação das MPME’s em Moçambique

Categoria da Empresa N° de Trabalhadores Volume Negócios Anual


(Meticais)
Micro 1a4 Até 1.200.000 Pequena
Pequena 5 a 49 1.200.000 a 14.700.000
Média 50 a 99 14.700.000 a 29.900.000
Fonte : adaptado pela autora 2020

Observa-se que dois critérios são fundamentais: volume de negócios e número de trabalhadores.
Além disso, uma PME não pode ter mais de 25% de participações detidas por uma grande
empresa ou pelo Estado. O critério de volume de Negócio é determinante.

II.4.2 Evolução de Pequenas e Médias Empresas em Moçambique

Moçambique é um dos países da África Subsariana com um nível de risco baixo para as
empresas e que advém em grande medida do processo de reformulação que tem vindo a sofrer.
Desde o término da Guerra Civil em 1992, o país tem vindo a crescer de forma acelerada, com a
revitalização da indústria, com a inflação em sentido descendente e com apoios do Banco
Mundial (MOZAMBIQUE, THE GOVERNMENT Of JUNE 2004). Até ultimo censo 2004, existia
26
no país cerca de 28.474 PME’s registadas na base de dados, com 129.225 trabalhadores. Das
28.474, cerca de 2.621 são médias empresas, enquanto 25.853 são pequenas empresas.

As pequenas e médias empresas constituem 89,5% e 9,1% do número total de empresas


respectivamente e de 1.4% constituído por grandes empresas. Cerca de 23.074, ou 79.9%, do
número total de PME’s, são classificadas como micro-empresas com base nas classificações do
Fundo de Fomento à Pequena Indústria (FFPI). De acordo com os mesmos dados, as PME’s
empregam 129.225 pessoas, ou 42,9%, do número total de trabalhadores, enquanto as grandes
empresas retêm 171.920, ou 57,1%. Cerca de 69.076 trabalhadores, ou 22,9% do total de
trabalhadores, encontram-se nas médias empresas INE (Cempre 2007).

Gráfico 1: Distribuição das Empresas em Percentagem.

Empresas

Grandes Medias Pequenas

Fonte: Censo de Empresas (Cempre 2004), INE.

Actualmente, Moçambique encontra-se com evolução positiva em vários domínios, sendo neste
momento considerado um dos países africanos com mais vertente para o investimento directo
estrangeiro. Segundo o ranking “Doing Business 2013 – Mozambique”. Iniciar actividade em
Moçambique é um processo relativamente simples e acessível. O indicador que respeita ao
indicador “Protecção dos investidores” é claramente o ponto forte de Moçambique, uma vez que
o país ocupa, actualmente, a 49ª posição do ranking. Acompanhando esta boa classificação está o
processo de iniciar um negócio (96º), onde não há qualquer tipo de limite mínimo de capital para
a entrada neste mercado, situação que se traduz numa boa vantagem para empresas com menor
liquidez (DOING BUSINESS IN MOZAMBIQUE, WORLD BANK 2013).

27
II.4.3 Contributo das Pequenas e Médias empresas em Moçambique

Em 2012, o sector da “Agricultura e Pescas” representa quase 27% do PIB de Moçambique,


sendo o sector que mais contribui para o PIB nacional. De seguida, ainda com valores
consideráveis, encontram-se os sectores dos “Serviços Financeiros às empresas” e da “Indústria
Transformadora”, contribuindo com 14,5% e 13,1% respectivamente. Não menos importantes
estão os sectores do “Comércio e serviços de reparação”, dos “Transportes e comunicações” e da
“Administração, educação e saúde” com 12,2%, 11,7% e 9,7%, respectivamente. Por último,
com valores menos significativos, fazem parte os sectores da “Electricidade e água” (5,2%), da
“Construção” (3,8%), da “Hotelaria e restauração” (1,8%) e da “Indústria Extrativa” (1,2%).
(INE Moçambique, 2013).

Terence (2002), afirma que as pequenas empresas contribuem em vários aspectos no âmbito
social, em função da absorção da mão-de-obra não qualificada. Com isso, reduz-se a imigração
inter-regional. Hoje, a acção das pequenas empresas ajuda no aumento da mão-de-obra existente
nestas organizações em relação ao total da força de trabalho. Em função desta situação, geram-se
mais empregos, que desenvolvem as questões sociais, promovendo, com isso, a melhora na
distribuição de renda.

II.4.4 Pequenas e Médias Empresas no contexto Moçambicano

O sector empresarial Moçambicano é constituído maioritariamente pelas Pequenas Médias


Empresas, totalizando cerca de 78% do total do universo empresarial. Só no ramo industrial, as
Pequenas e Médias Empresas, totalizam cerca de 97.4% do total de empresas, empregando
aproximadamente 67% da força de trabalho (MIC, 2006).
As Pequenas e Médias Empresas (PMEs), constituem o centro de desenvolvimento de um país,
na medida em que contribuem para a geração de postos de trabalho, estimulam e disponibilizam
produtos, aumentando assim a competitividade da economia. Porém, a sua importância para uma
economia de uma nação tem quatro dimensões (CONSELHO DE MINISTROS, 2007).

28
a) As PMEs geram o emprego, partindo do princípio que uma grande empresa e uma
pequena empresa produzem o mesmo artigo ao mesmo valor, a grande empresa tem a
característica de ser de capital intensivo, enquanto a pequena, de mão-de-obra intensiva.
Isto implica que as PMEs oferecem maiores oportunidades de emprego à força de
trabalho de um país, ao contrário das grandes empresas.

b) As PMEs são cruciais para a competitividade de um país, encorajam a concorrência e a


produção e inspiram inovações e o empreendedorismo. As PMEs são inerentemente
guiadas para o mercado, procurando capturar as oportunidades de negócio criadas pela
procura de mercado.

c) As PME diversificam as actividades, estimulam a inovação e a criatividade, diversificam


as actividades económicas oferecendo produtos e serviços que o mercado procura num
determinado momento, disponibilizando assim novas linhas de produtos e serviços que
ainda não foram introduzidos no mercado e estimulam a inovação e a criatividade.

As PMEs mobilizam recursos sociais e económicos. As PMEs são os agentes sociais que
mobilizam recursos sociais e económicos nacionais que ainda não tenham sido explorados. Daí o
papel chave desempenhado pelas PMEs no desenvolvimento socioeconómico dos países. Após a
concretização dos primeiros objectivos macroeconómicos de criação de um ambiente de
estabilidade política, social e monetária propício ao crescimento económico, foram realizados os
grandes investimentos em Sectores Críticos de Actividade. O próximo passo é assegurar que a
melhoria das condições de vida pelo emprego e pela satisfação e realização pessoal chega a todos
e de forma equilibrada, pelo que o motor desse processo, como em qualquer Economia
desenvolvida do mundo, é o sucesso das Pequenas e Médias Empresas (USAID, 2014).

II.4.5 Características das Pequenas e Médias Empresas em Moçambique


As características das PME’s podem ser assim resumidas:
 O crescimento do número de PME’s não é satisfatório;
 As oportunidades que as PME’s oferecem não são suficientes;
 Em termos numéricos, as micro-empresas constituem a maioria das PME’s;

29
 As PME’s contribuem com menos de metade do volume bruto de negócio (41%);
 No geral, a produtividade laboral das PME’s é baixa;
 A manufactura e o comércio são as áreas que sustentam o sector das PME’s;
 O desempenho das PME’s nas indústrias tradicionais não é adequado, e;
 É acentuada uma assimetria regional em termos de dimensão MIC (2008).

Leone também aponta


“características como forte cultura organizacional e grande facilidade no fluxo de informações. O
facto de as decisões serem centralizadas nos sócios, pois geralmente são eles que constituem a
mão-de-obra qualificada destas empresas, contribui bastante para que qualquer informação
importante chegue rapidamente ao seu destino, facilitando a tomada de decisões rapidamente,
diminuindo a burocracia na empresa” (1999, p. 247).

Segundo Lhoyd (s/d), as PME’s são conhecidas pelo seu leque de características económicas e
sociais, que incluem:
 As PME’s são vistas como geradoras de novas oportunidades de emprego líquidas;
 PME’s são a única, em tal extensão, que mais se prestam a inovações e invenções, isto é
devido as características dos seus empresários;
 Conseguem providenciar bens mais procurados internamente;
 Prestam-se, por si mesmas, a estabilidade económica e a melhor distribuição de
actividades económica e de oportunidades menos diferenciados;
 Tendem a ser mais flexíveis e adaptáveis;
 Actuam como subcontratadas as grandes companhias;
 Suas actividades resultam em efeitos múltiplos nas actividades sócio-economicas;
 Actividades de pequenas e médias escala são vistas como o ponto de entrada aos grandes
negócios e/ou ampliação dos mesmos.
Além disso, Solomon (1989), observa que as PME’s apresentam características como vantagens
para a competição no mercado, tais como:
 Desenvolve actividades com baixa intensidade de capital e com alta intensidade de mão
de-obra;

30
 Melhor desempenho nas actividades que requerem habilidades a serviços especializados;
 Muitas vezes opera em mercados pouco conhecidos ou instáveis ou atende a uma
demanda marginal flutuante;
 Está mais perto do mercado e responde rápido e inteligentemente as mudanças.

II.4.6 Importância socio-económica de Pequenas e Médias Empresas

De acordo com Longenecker et al (apud Terence, 2002, p. 57), “as empresas de pequeno porte,
como parte da comunidade empresarial, colaboram para o bem-estar económico da nação,
produzindo uma parte do total dos bens e serviços.” Além disso, possuem algumas qualidades
que acabam por oferecer contribuições excepcionais, na medida em que:
 Oferecem muita oportunidade de emprego para a população;
 Introduzem inovação;
 Estimulam a competitividade, actuando como concorrentes económicos, promovendo um
efeito saudável ao sistema capitalista e;
 Auxiliam as grandes empresas.

Ceglie e Dini (1999), ressaltam que as PME’s têm assumido uma importância crescente na
economia. Reduzem o risco de problemas inflacionários, decorrentes da existência de oligopólios
com grande poder sobre o estabelecimento de preços no mercado.

II.4.7 Constrangimentos que embaraçam o desenvolvimento de Pequenas e Médias


Empresas
Segundo Mic (2008), o ambiente de negócios no país, que de certa forma influência no
desenvolvimento das PME’s, apresenta uma diversidade de constrangimentos que bloqueiam o
crescimento e consolidação das PME’s, se destacam:
 As excessivas barreiras reguladoras;
 O elevado custo de financiamento e a limitação dos recursos financeiros;
 A fraca qualificação da mão-de-obra;
 Uma carga fiscal excessiva e um custo elevado do pagamento dos impostos;

31
 O fraco acesso aos mercados;
 A falta de ligações horizontais e verticais entre empresas;
 Barreiras ao comércio exterior e;
 Infra-estruturas públicas pouco satisfatórias.

II.5 Microfinanças em Moçambique

“As microfinanças consistem na provisão de serviços financeiros a clientes com baixo


rendimento, incluindo “auto-empregados” nos sectores formal ou informal, com o objectivo de
promover o desenvolvimento e erradicar a pobreza”( Ledgerwood, 1999, p. 461).

Visa também a provisão de serviços financeiros tradicionais formais – crédito, poupança e


seguros. Segundo Ledgerwood (1999), os serviços das instituições de micro finanças (MFIs)
normalmente envolvem:
 Empréstimos pequenos, tipicamente para capital de trabalho;
 Avaliação informal dos mutuários e de investimento;
 Substituição de garantias de crédito materiais por outras tais como grupo solitários ou
poupanças obrigatórias;
 Permite a repetição e aumento de empréstimos, baseado na performance dos reembolsos;
 Facilidade de crédito e monitorização do mesmo;
 Produtos de poupança assegurados.

As micro finanças acabam assim por desempenhar um papel importantíssimo na economia, pois
contribuem para a alocação de recursos, aumento de produção e aumento de capital (Silvestre e
Navalha, 2003).

Importa distinguir os conceitos de microcrédito e microfinanças. Assim, “microfinanças” é


definido como um conceito mais amplo, que engloba não só o microcrédito como a prestação de
outros serviços financeiros (poupanças e seguros) destinados a beneficiar o desenvolvimento
económico dos pobres e daqueles com baixo rendimento (Sengupta e Aubuchon, 2008).

32
O objectivo das micro finanças é, então, conseguir que os seus beneficiários criem uma
sustentabilidade financeira, para poderem sair da pobreza de forma definitiva e que não estejam
constantemente a recorrer ao microcrédito sempre que uma situação inesperada baixe os seus
rendimentos.

II.5.1 Surgimento das microfinanças em Moçambique

“Em Moçambique o sector financeiro tem sofrido mudanças significativas com o passar dos
anos. Estas mudanças reflectem-se ao nível da legislação do sector, a sua estrutura de
propriedade (pública ou privada), ao crescimento da concorrência e, até mesmo, ao nível dos
produtos ou serviços prestados”. ( Ambrósio, 2002, p. 184)

País com uma economia nacional subdesenvolvida, apresenta diversos problemas geográficos e
económicos que fazem com que o seu sector financeiro seja fraco e de difícil acesso aos que realmente
precisam. Estes entraves económicos e geográficos levam a que a rede do sector financeiro
moçambicano se concentre nas áreas urbanas, devido à maior concentração populacional, aos menores

custos de informação e aos menores custos iniciais. (Ambrósio, 2002, p. 185)

A reduzida cobertura territorial do país pelos serviços e produtos financeiros tem sido uma
preocupação permanente das autoridades financeiras moçambicanas pela importância da
intermediação financeira em todo o processo de crescimento e desenvolvimento económico
(Vala, 2007). o acesso aos mercados financeiros continua a ser um dos constrangimentos para o
desenvolvimento económico destas regiões (MPD, 2006). Paralelamente ao sector formal,
desenvolveu-se um sector informal para responder às necessidades de liquidez das famílias que
não têm acesso ao sistema formal.

Segundo Psico (2010), dentro do sistema informal podemos identificar três dos principais
“agentes”:
 O “Xitique” é uma forma de poupança dentro de um grupo. Este grupo, normalmente, é
constituído por 4 a 10 pessoas, sendo que estes têm uma relação de proximidade familiar
ou de amizade. As poupanças podem assumir a forma monetária ou serem em espécie.

33
Numa base periódica estipulada, essa poupança é paga em regime de rotação a cada um
dos membros (Mussagy, 2005);
 Associações funerárias – estas funcionam em grupos de 20 a 30 pessoas, também eles
familiares, onde mensalmente cada um paga um determinado valor. Em caso de
falecimento de um dos membros do grupo ou familiares directos, estes têm direito a um
caixão e, em caso de doença grave, também se pode usar o fundo para pagar as despesas
hospitalares;
 “Agiotas” – concedem créditos individuais em valores monetários. Como não exigem
garantias físicas, estes praticam taxas de juro astronómicas. É neste contexto que surgem
as micro finanças em Moçambique. O sistema das micro finanças visa permitir que as
populações mais desfavorecidas, que são quem na realidade precisam, tenham acesso ao
financiamento. As primeiras iniciativas deste sector iniciaram-se as primeiras iniciativas
deste sector iniciaram-se em 1987 com a criação de 11 fundos de investimento
independentes (destacando-se o FFADR, FFP e FFH) do sistema bancário existente. No
entanto a primeira iniciativa de microcrédito, no seu conceito mais abrangente, ocorre em
1989, a quando da criação do Fundo de Crédito para Empreendimento Urbano, que
oferecia pequenos empréstimos para uma variedade de actividades como restaurantes,
bares, salões de beleza, carpintarias, actividades pesqueiras e outros (Júnior, 2008).

Enquadramento legal das micro finanças em Moçambique O primeiro documento legal para
regular as micro finanças em Moçambique foi o Programa de Micro finanças, segundo a
resolução 3/98 de 24 de Fevereiro do Conselho de Ministros (Cassamo, 2008). Posteriormente
surge um novo enquadramento legal das micro finanças em Moçambique, que, segundo Alves
(2008) a divide em duas dimensões:
 Microfinanças autorizadas apenas a fazer depósitos, ou seja, a realizar operações
bancárias distintas reguladas pela lei 9/2004;
 Micro finanças autorizadas apenas para conceder créditos. Estas são regulamentadas pelo
decreto nº47/98 de 22 de Setembro e pelo aviso 1/GGBM/99 que estabelecia os fundos
mínimos a afectar ao exercício de funções de crédito de micro finanças. Como a evolução
do sector das micro finanças pode suscitar a institucionalização das regras, é fundamental

34
a necessidade de regulamentação e supervisão das instituições microfinanças de modo a
(Cassamo, 2008):
 Desenvolver uma indústria financeira como parte integrada do sistema financeiro e não
como um sector marginal;
 Proteger o interesse dos clientes;
 Garantir a estabilidade e confiança ao sistema financeiro bancário;
 Reduzir riscos de escassez de liquidação e corrupção;

II.5.2 Evolução das microfinanças

Inicialmente o sector da microfinanças era dominado por organizações não governamentais


internacionais com experiência em projectos de microcrédito predominantemente nas áreas
rurais. Nesta época a maior parte das operações financeiras baseavam-se no financiamento a
actividades na área do comércio, maioritariamente, o sector informal (57%), agricultura (18%),
transformação e manufactura (15%) e serviços (10%) (Psico,2007).

“A predominância de ONG nas áreas rurais fica-se a dever à estabilidade política que se vivia
nas zonas rurais, à sua característica de não procurar a sustentabilidade operacional e financeira e
à crescente necessidade de desenvolvimento rural. O desenvolvimento das microfinanças era
visto como uma componente do programa de desenvolvimento rural”. (Ambrósio, 2002, p. 188)

“Em meados de 2000, com a conclusão dos programas de apoio a estes projectos, consequência
do corte financeiro, as instituições viram-se obrigadas a mudar a sua mentalidade e redefinir os
seus objectivos. Com as verbas a escassear, as instituições de microcrédito começaram a
procurar atingir a sustentabilidade financeira, para não fecharem as suas portas.” (Júnior, 2008,
p. 18).

35
III CAPÍTULO: Metodologia de Trabalho

Sendo o presente estudo uma pesquisa científica exige-se o estudo de métodos científicos. Deste
modo, para a materialização do presente trabalho recorrer-se-á à seguinte metodologia científica.

III.1 Técnicas de Pesquisa


As técnicas de pesquisa acham- se relacionadas com a colecta dos dados, ou seja, a parte prática
da pesquisa. Andrade (2006).

III.1.1 Estudo de caso


Segundo Yin (2002 ) apud Alegre (2012, p. 18) “o estudo de caso permite uma investigação para
se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real, tais como ciclo
de vida individual, processos organizacionais, administrativos, mudanças ocorridas em regiões
urbanas, relações internacionais e a maturidade de alguns sectores.”

Conforme afirma (Ponte, 2006 apud Araujo et al., 2008, p. 251), “é uma investigação que se
assume como particularista, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação
específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando
descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a
compreensão global de um certo fenómeno de interesse.”

III.2 Recolha de dados


Os instrumentos frequentemente usados para a colecta de dados são, a pesquisa bibliográfica, a
entrevista, a observação e os questionários (Gil, 2008). Quanto às técnicas de pesquisa, o estudo
tomou em conta três instrumentos, abrangendo a pesquisa bibliográfica, em paralelo realizou-se
um questionário e a entrevista semi-estruturada.

III.2.1 Pesquisa bibliográfica


A pesquisa baseou-se na consulta de boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias,
teses, material cartográfico etc., de modo a obter um conjunto de informações relevantes para a

36
analisar e compreender o tema. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenómenos muito mais ampla do que aquela
que poderia pesquisar directamente, esta vantagem se torna particularmente importante quando o
problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (Gil, 2008).

III.2.2 Pesquisa Documental


A pesquisa documental baseou-se em consulta de documentos oficiais (Politicas, Legislação e
Relatórios), referentes as Pequenas e Médias Empresas. Esta é a fonte de colecta de dados
restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias, estas
podem ser feitas no momento em que o fato ou fenómeno ocorre, ou depois (Marconi e Lakatos,
2003).

III.2.3 Questionário / Entrevista Semi-Estruturada


Barros e Lehfeld (2007, p. 106 -108) defendem que “o questionário é o instrumento mais usado
para o levantamento de informações”, já a entrevista “é uma técnica que permite o
relacionamento estreito entre entrevistado e entrevistador.”

Com a intenção de obter a informação, o estudo utilizou um questionário e a entrevista semi-


estruturada.

III.3 População e amostra


População ou universo da pesquisa constitui a totalidade dos funcionários afectos na Micro-
finanças Bayport Moçambique. Para seleccionar a amostra de pesquisa que represente a
população é importante ter o objectivo claramente definido. É necessário determinar a
população-alvo e assim o contexto, unidade e tamanho da amostra. A amostra não probabilística,
que foi utilizada no presente trabalho, é determinada a partir de algum tipo de critério que faz
com que nem todos os elementos da população tenham a mesma chance de ser escolhido (Freitas
et al. 2002).

Portanto para calcular a amostra, foi utilizada a fórmula:


37
no = 1 / Eo²
n = N • no / N + no

Sendo :
N – tamanho (número de elementos) da população;
n – tamanho (número de elementos) da amostra;
Eo² – erro amostral tolerável

no = 1 / 0,10²
no=100
n= 115 • 100 / 115 + 100
n= 53

III.4 Limitações do estudo


 O gestor não aceitou responder a todas questões elaboradas pela autora do trabalho;
 Demora na autorização da credencial para pesquisa de estudo de caso.

38
IV CAPITULO : Apresentação e Discussão de Resultados

IV.1 Apresentação da Empresa.


BYPORT FINANCIAL SERVICES MOZAMBIQUE é um banco, especializado em
microfinanças, aberto em Moçambique desde 2012, e com a sua sede localizada na avenida 25 de
Setembro, n°1147, 3°andar, cidade de Maputo.

IV.2 A escolha deste banco de microfinanças


A escolha deste banco de microfinanças, deveu-se ao facto de este banco existir em vários
bairros da cidade de Maputo, incluindo os bairros periféricos da cidade onde a maioria da
população residente vive no limiar da pobreza. Assim sendo, para o que se pretende analisar, este
banco oferece as melhores condições de estudo.

IV.3 Historial
A Bayport Moçambique foi constituída em 2012, ao abrigo de um acordo de acionistas entre a
Bayport Management Ltd e a Whatana Investments. A operação atende atualmente cerca de 62
mil clientes através de 16 agências, mais de 190 funcionários permanentes e cerca de 370 agentes
de vendas móveis.

IV.4 Missão / Visão / Valores


IV.4.1 Missão
Mobilizar recursos de forma a maximizar valor, oferecendo serviços, produtos e soluções
adequadas ao mercado e aos seus clientes, com Tecnologia de Crédito pioneira adequada aos
empreendedores moçambicanos.

IV.4.2 Visão
Ser referência nacional no mercado financeiro moçambicano, reconhecido como especialista em
tecnologia de Microfinanças, criador de capacitação de quadros eficientes e criador de
rentabilidade de negócio, com enfase em esforços multidimensionais de interacção entre clientes,
colaboradores, fornecedores e a sociedade em geral, com objectivo de criar valor acrescentado
aos seus accionistas.

39
IV.4.3 Valores
Sólido; Exigente; Especialista; Eficaz; Dedicado;
Com tecnologia de crédito adequada aos empreendedores moçambicanos;
Respeito e valorização dos colaboradores.

IV.5 Os clientes da BAYPORT


Os clientes da BAYPORT são cidadãos moçambicanos e estrangeiros com baixo rendimento,
clientes com negócios informais sem acesso a banca formal (falta de licenciamento, registos
contabilísticos, etc.) e clientes desprovidos de garantias reais exigidas nos bancos tradicionais.
Os requisitos para um cliente ter um empréstimo neste banco são: ter casa própria ou ter um
avalista, e, se for um cidadão estrangeiro e porque estes têm dificuldade de ter casa própria e até
de conseguir um avalista, poderá apresentar garantias que podem ser bens domésticos,
equipamento e stock de mercadoria não perecível. As áreas de negócio prioritárias para o
microcrédito são as áreas do comércio e serviços porque trata-se de áreas com menor risco e com
negócios que geram fluxos de caixa regulares.

IV.6 Serviços da Bayport


IV.6.1 Empréstimos
Este conjunto de produtos inclui os produtos de empréstimo pessoal da Bayport, tanto no varejo
quanto na folha de pagamento. Os empréstimos consignados são recolhidos através das folhas de
pagamento dos empregadores. 

É o pilar do negócio de crédito da Bayport e é construído em relacionamentos com empregadores


tanto quanto com clientes individuais. Em muitos mercados, os funcionários do governo são a
maior parte dos clientes de empréstimos consignados da Bayport.
Os empréstimos a retalho são recuperados através de pagamentos diretos, preferencialmente
através de ordens de débito. As diferentes operações da Bayport projetaram empréstimos de
varejo inovadores, como o empréstimo garantido por título de carro em Gana e o empréstimo
NipeBoost na Tanzânia. 

40
Algumas operações também oferecem empréstimos a comerciantes informais e
microempresas. Todos os empréstimos pessoais são garantidos com Seguro de Crédito. 
Para isso, a Bayport desenvolveu seu próprio produto de seguro de crédito, o que a torna
competitiva em seus mercados locais.

IV.6.2 Economias
Contas de depósito fixo  são extraordinariamente flexíveis.O banco permite que você escolha
por quanto tempo deseja investir seu dinheiro e como deseja receber os juros – mensalmente,
trimestralmente ou no final do prazo de seu investimento.
As contas de poupança e depósitos fixos não possuem taxas de configuração, manutenção
mensal, serviço ou transação.

IV.6.3 Dinheiro
A conta transaccional não atrai taxas de serviço ou transação e oferece aos clientes acesso a taxas
de juros competitivas, serviços bancários móveis, carteiras electrônicas, quiosques de pagamento
e serviços de caixa eletrônico. Não há saldo mínimo de abertura ou operacional, não há taxa de
conta mensal e você pode ganhar bons juros sobre seu saldo.

IV.6.4 Seguro
O seguro é uma adição relativamente recente ao conjunto de produtos Bayport. No entanto, já
provou ser popular entre os clientes em todos os mercados. Os produtos incluem planos de
proteção educacional, cobertura hospitalar e cobertura funeral. O produto de seguro funeral sul-
africano inclui recursos inovadores de valor agregado e benefícios de vida que o tornam
competitivo no mercado local.

A Bayport Management Ltd detém 51% da Traficc, empresa especializada em produtos e


soluções de seguros. 

41
IV.7 Apresentação e discussão dos resultados
Este capitulo é destinando a apresentação e discussão de resultados, para a obtenção da
informação relativamente ao tema de estudo, onde conduziu-se uma investigação de carácter
descritiva e exploratória, utilizando-se um questionário e uma entrevista semi-estruturada, para
se entender até que ponto o empreendedorismo e a inovação podem influenciar na melhoria do
ambiente de negócios nas pequenas empresas.

A entrevista foi feita ao gestor de Clientes Sénior afecto na Direção Comercial da Bayport
Moçambique

IV.7.1 Análise da Entrevista


Analisando as respostas do entrevistado da micro finanças Bayport Moçambique, no que
concerne à inovação a Bayport tem investido constantemente em tecnologia, através da inovação
em seus serviços, como forma de facilitar e flexibilizar as transações bem como a concessão de
crédito para os seus clientes. O investimento nas formas de atendimento como internet banking,
mobilie banking, veio aumentar a eficiência no atendimento garantindo qualidade e melhoria na
experiência com o cliente que tem uma micro finança cada vez mais digital. Entretanto no que
concerne ás principais funções dos Agentes de Crédito e do Grupo de Aval Solidário sendo eles
uma Inovação, percebe-se a vital importância desses agentes pois eles fazem o acompanhamento
dos clientes, realizando visitas pessoais para analisar e inspeccionar o negócio que está sendo
desenvolvido e o fluxo de receitas e despesas. Todo esse acompanhamento ajuda a identificar e
minimizar os problemas de risco moral, assim o agente de crédito pode actuar como um agente
de desenvolvimento, além de oferecer suporte técnico e de gestão ao micro empreendedor e de
salientar que o agente não necessita ser um perito no negócio desenvolvido pelo cliente, porém
ele deve auxiliar em todas as necessidades, conhecer o ambiente e os recursos que estão
disponíveis para o negócio.

IV.8 Questionários aos colaboradores da Bayport Moçambique


O questionário preservou a identidade dos colaboradores, garantindo a confidencialidade e
anonimato, procurou-se respeitar a diversidade de estado civil, tempo de serviço, idade, grau de

42
escolaridade, todavia, pode colectar as informações que se seguem abaixo para uma melhor
percepção dos resultados.

IV.8.1 Perfil dos colaboradores


Foram elaborados um conjunto de questões que visam identificar a experiência e o perfil que eles
possuem, de maneira a aferir e relacionar sobre a maneira como estes podem influenciar na
implementação de medidas inovativas e empreendedoras na empresa. Assim sendo a figura
abaixo, reproduz os resultados obtidos.

Figura 1: Estado Civil dos Colaboradores.

Estado Civil dos Colaboradores

9%
4% Casado
Solteiro
43% Viuvo
Divorciado

44%

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

43
Tabela 3: Estado Civil dos Colaboradores

Estado Colaborad Percenta


Civil ores gem
Casado 22 43
Solteiro 24 44
Divorci
ado 5 9
Viúvo 2 4
Total 53 100

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Analisando o perfil da variável Estado civil ficamos a saber até que ponto o estado civil pode
influenciar na implementação das medidas inovativas e empreendedoras no banco Bayport.
Assim os dados revelam-nos que a maioria dos inquiridos tem como estado civil de solteiro, o
que corresponde a uma percentagem de 43%.
De seguida temos que o estado civil casado representa uma percentagem de 44 dos
trabalhadores.
Os divorciados e viúvos completam o estado civil dos inquiridos, representando 9 e 4% porcento
respectivamente.

IV.8.2 Tempo de serviço


A variável tempo de serviço foi estudada na medida em que nos permite conhecer o nível de
experiência que os inquiridos possuem na empresa e através disto podemos aferir sobre a
disponibilidade e ou acessibilidade que esta vantagem permite na implementação das medidas
empreendedoras e de inovação na empresa. Assim sendo, o gráfico abaixo reproduz os dados
obtidos.

44
Figura 2: Tempo de Serviço

Tempo de Serviço
9%

menos de 1 ano
19% 2 a 3 anos
43% 4-5 anos
6 anos ou mais

28%

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Tabela 4: Tempo de Serviço

Tempo de
Serviço Colaboradores Percentagem
Menos de 1 ano 5 10
2 a 3 anos 10 19
4-5 anos 15 28
6 anos ou mais 23 43
Total 53 100

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Constatamos da figura acima exposto que o Banco Bayport Moçambique apresenta um quadro
de pessoal com um tempo de serviço longo, o que de certa forma pode permitir uma melhor
prestação de serviços no âmbito das medidas de empreendedorismo e inovação.

45
IV.8.3 Idade
A variável idade foi trazida para o estudo para nos permitir perceber a relação que esta pode ter
com a implementação das medidas de empreendedorismo. A figura abaixo traduz os dados.

Figura 3: Idade

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Tabela 5: Idade

Idade Colaboradores Percentagem


18-30
anos 37 70
30-40
anos 13 24
50- +60
anos 3 6
Total 53 100

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.


A faixa etária mais expressiva nesta microfinanças é a faixa dos 18-30 anos de idade.
Constatamos que 37 trabalhadores encontram-se dentro desta faixa etária e representam em

46
termos percentuais 70 porcento do total dos inquiridos. Este dado revela uma acentuada
composição de trabalhadores jovens.

IV.8.4 Escolaridade

Para aferir o nível de escolaridade dos trabalhadores neste banco e melhor entender a relação
desta variável com o empreendedorismo e inovação foi estudada a variável escolaridade. A
figura abaixo revela os dados obtidos:

Figura 4: Escolaridade

Escolaridade

4%

Escolaridade
Nível básico
42% Nivel médio
Nível superior

55%

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Tabela 6: Escolaridade

Escolaridade Colaboradore Percentagem

47
s
Nível básico 2 4
Nivel médio 29 55
Nível
superior 22 41
Total 53 100

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

O nível de escolaridade que apresenta o maior peso percentual é o de nível médio com um total
de 55%, seguidamente o nível superior representa um total de 41% e sendo o nível básico o
menos expressivo com somente 4%. Estes dados revelam também a existência de um equilíbrio
entre o nível médio e superior. A escolaridade, o empreendedorismo e a inovação são áreas do
conhecimento que caminham juntas. Desenvolvem habilidades como tomar decisões, ter
iniciativa, autonomia e orientação inovadoras que são competências cada vez mais exigidas na
formação profissional.

IV.9 Informação sobre Empreendedores/ Clientes da Bayport


Garantindo maior clareza das informações, procurou-se respeitar a diversidade de sexo, tempo
de experiência com o negócio e sector de actividade do empreendimento, todavia colectaram-se
as informações que se seguem abaixo, para uma melhor percepção dos resultados.

Tabela 7: Género dos Empreendedores

GENERO TOTAL
Masculino % Feminino %
38 44.2 48 55.8 86

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

48
De acordo com os dados levantados, 55,8% dos empreendedores são do sexo feminino. É
possível admitir que as mulheres normalmente empreendam em casa, ou seja, na informalidade,
permitindo que fiquem perto dos filhos, podendo assim, acompanhar o seu processo de educação
e crescimento, além de contribuir para a renda da família.

Tabela 8: tempo de experiência com o negócio

Tempo de experiência / Masculino


< 0 a 1 ano % 1 a 3 anos % 3 a 5 anos % >5anos % Total
10 25.8 18 52. 8 20.8 2 1.1 38
3
Tempo de experiência / Feminino
< 0 a 1 ano % 1 a 3 anos % 3 a 5 anos % >5anos %
10 15.4 13 20. 20 60.5 5 3.6 48
5

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Os empreendedores financiados pela Bayport apresentam, em geral, pouca experiência na gestão


dos negócios, ou seja, um percentual na ordem de 60,5%, possuem menos de 5 anos de
experiência.

Tabela 9: Sector de actividade do empreendimento

Sector Percentual (%) Percentual Acumulado (%)


Indústria 9,4 9,4
Comércio 9.9 46,6
Serviço 9.4 13,2
Avicultura 34,2 30,8
Agricultura Familiar 37,2 100,0
Total 100

49
Fonte - Elaborado pela autora, 2021

A distribuição dos clientes por sector da actividade econômica o destaque vai para Agricultura
Familiar e a Avicultura, com 71,4%, e uma representação pouco expressiva dos sectores de
Indústria e Serviço.

IV.10Medidas Inovativas
Em relação ás medidas inovativas o gestor de clientes sénior disse que a empresa implementou
novos serviços como a internet banking e mobile banking, onde o cliente não precisa se deslocar
ao balcão do atendimento, pode realizar as suas operações pelo telemóvel e não só, também
implementou medidas inovativas na concessão de créditos com taxas de juros mais acessíveis em
relação ao mercado o que conseguiu resgatar a população mais carente. O gestor afirmou que as
taxas de juros variam dependendo do montante.

Acrescentou, ainda, o gestor dizendo que, os agentes de crédito fazem o acompanhamento dos
clientes, realizando visitas pessoais para analisar e inspecionar o negócio que está sendo
desenvolvido e o fluxo de receitas e despesas.

O gestor afirmou também que não existe nenhum tipo de incentivo financeiro especifíco para a
inovação. As iniciativas possuem como factor motivador a redução de custos com eficiência nos
processos de inovação incremental e o cumprimento de metas estabelecidas pela automação de
processos. Dizendo que não existe uma cultura de inovação que premeie todas as áreas da
empresa. Houve diferentes percepções sobre como estão estruturadas as equipas para focar em
inovação.

50
V CAPÍTULO: Conclusões e Recomendações

Neste capitulo são feitas as conclusões com base na revisão da literatura, abordando as
conclusões tidas após a análise e discussão dos resultados e fazem – se as recomendações e as
limitações do estudo.

5.1 Conclusões
O presente trabalho abordou o tema Análise do Empreendedorismo e da Inovação aplicados nas
Pequenas Empresas na Cidade de Maputo, visando identificar e analisar a percepção dos
empreendedores sobre microfinanças, no intuito de verificar sua contribuição e impacto na
condição de vida do empreendedor, processo de obtenção de crédito, além de apresentar as
características dos empreendedores e dos empreendimentos atendidos. Por se tratar de um tema
de grande relevância econômico-social, a pouca produção de conhecimento a respeito não
permite arriscar conclusões sobre melhores caminhos sobre os processos de aprovação e
liberação de crédito.

A microfinança, na sua abordagem mais difundida, destina-se a empreendimentos que gerem


emprego e renda para as famílias beneficiadas. A discussão gira basicamente em torno de dois
pontos: como garantir que o crédito chegue àqueles sem acesso às formas convencionais de
crédito (sistema bancário tradicional) e, por outro lado, como garantir a sustentação econômica
da microfinança, de maneira a financiar cada vez mais empreendimentos que se enquadrem no
perfil do segmento.

Este trabalho confirmou a hipótese que o empreendedorismo e a inovação influenciam na


melhoria do ambiente de negócio nas pequenas empresas. Ao longo da pesquisa, foram
identificados alguns aspectos considerados positivos no que tange a micro finanças Bayport que
coloca à disposição dos microempreendimentos para desenvolver os seus negócios. Foram
constatadas influências positivas da Bayport nas transações comerciais dos empreendimentos

51
financiados, permitindo aumentar a clientela e as actividades do negócio. Nesse sentido, essas
constatações são relevantes, pois confirmam a aplicação dos recursos nas actividades
financiadas, evidenciando o fortalecimento do empreendimento na visão dos clientes.

É importante salientar que o impacto social obtido pela Bayport , possibilitou uma melhor
compreensão dos benefícios proporcionados pelo crédito no desenvolvimento e fortalecimento
da capacidade produtiva dos microempreendimentos financiados, ao mesmo tempo em que
mostrou indicadores de melhoria nas condições de vida e progressos das famílias.

Por fim, há que se ressaltar a importante contribuição das microempresas e dos empreendimentos
da economia informal no crescimento e desenvolvimento do país, a de servirem como ferramenta
para redução do desemprego, considerados como uma alternativa viável de ocupação para uma
parcela considerável da população.

5.2 Recomendações
Para a MicroFinanças Bayport recomenda-se:
 Analisar o ambiente político em que o país atravessa neste momento;
 Ter compromisso com as melhores práticas;
 Garantir envolvimento local;
 Ser flexível na concessão de empréstimos.

Para o Supervisor e Legislador Banco de Moçambique recomenda-se que:


 A criação de melhores práticas e protecção melhor para o consumidor.
 Um marco regulatório inclusivo para todos os fornecedores de microfinanças que permite
o estabelecimento de benchmarks para indicadores de desempenho
 Garantir um mercado de microfinanças mais estável e melhor protecção contra fraude e
in adimplência.

52
BIBLIOGRAFIA

Andrade, M.A. (2006) Introdução ao Método de Trabalho Cientifico. (4ª ed.).Rio de Janeiro:
Editorial Presença.
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diferenciar na sua empresa. Rio de Janeiro: Elsevier,.

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sucesso. Riode Janeiro.

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(4ª ed). Porto Alegre: Bookman.

53
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Brasil,.
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e Fortalecimento Instituicional Em Moçambique. Conferência Inaugural do IESE, 19 de
Setembro.

54
Artigos
Conselho de Ministros (2006) Estratégia de Emprego e Formação Profissional em Moçambique.

Conselho de Ministros (2007) Estratégias para o Desenvolvimento de Pequenas e Médias


Empresas em Moçambique.

55
Apêndice

56
Guião das Entrevistas

1. Quais são as Principais medidas inovativas implementadas pela Bayport ?


2. Quais são as principais funções dos Agentes de Credito e do Grupo de Aval Solidário
sendo eles uma Inovação ?
3. Quais são as taxas de juros cobradas pela Bayport ?
4. Qual é o Impacto das medidas inovativas no trabalho ?
5. Qual a Satisfação do pessoal com as medidas inovativas ?
6. Quanto a Bayport já gastou para empréstimos ?
7. Qual é o nível de reembolso ?

57
QUESTIONÁRIO DE ANÁLISE DO EMPREENDEDORISMO E DA INOVAÇÃO
APLICADOS NAS PEQUENAS EMPRESAS NA CIDADE DE MAPUTO.
O presente questionário refere-se a parte de uma pesquisa para complementação de monografia,
requisito indispensável para a obtenção do grau de Licenciatura em Gestão Financeira na
Universidade Técnica de Moçambique, e somente será utilizado para este fim.

1. Marque com um X os dados referentes a seu perfil.


1.1 Sexo:
( ) Feminino ( ) Masculino

1.2 Idade:
De 18 a 30 anos ( ) De 30 a 40 anos ( ) De 40 a 50 anos
( ) Mais de 60 anos
1.3 Categoria profissional: _______________________

1.4 Tempo de serviço: ____________


1.5 Escolaridade
E. Básico___
E. Medio ____
E. Superior ____

2. Dados dos clientes da Bayport (Empreendedores)


1.1 Sexo:
( ) Feminino ( ) Masculino
1.2 Tempo de experiência no negócio:
De 1 a 3anos ( ) De 3 a 5 anos ( ) Mais de 5 anos
1.3 Sector de actividade:
Indústria ()

58
Comércio ( )
Serviços ( )
Avicultura ( )
Agricultura Familiar ( )

59
Entrevista

Entrevistado: Gestor de Clientes Sénior!

1° Questão : Principais medidas inovativas implementadas pela Bayport ?


O gestor senior da empresa apresentou a seguinte resposta:
Bem, respondendo a sua questão primeiro faço alusão a nossa visão que é ser referência nacional
no mercado financeiro moçambicano, reconhecido como especialista em tecnologia de
Microfinanças, perante a esta visão a Bayport implementou novos serviços como Internet
Bankink e o mobile banking, onde o cliente não precisa se deslocar ao balcão do atendimento
pode realizar as suas operações pelo telemóvel e não só a Bayport implantou medidas invativas
na concessão de créditos com taxas de juros mais acessíveis em relação ao mercado o que
conseguiu resgatar a população mais carente para que com um crédito de pequeno montante,
advindo de uma instituição micro financeira, o indivíduo possa viver com melhores condições de
vida, saúde, educação e diversas outras melhorias. Todavia, o empréstimo de pequeno montante
por si só não consegue auxiliar as pessoas de maneira sustentável e, dessa forma, foram
estudadas algumas maneiras de combater, principalmente, a questão da falta de garantias para
esses empréstimos. Sendo assim a Bayport decidiu dar reposta a essa fragilidade que é trazer
inovações singulares que possam auxiliar e torna-lo mais sustentável, sendo eles, o agente de
crédito, que acompanha as actividades dos empreendimentos, e o grupo de aval solidário, que se
apresenta como uma superação à falta de garantias dos empreendedores.

2° Questão : Principais funções dos Agentes de Crédito e do Grupo de Aval Solidário


sendo eles uma Inovação?
Segundo o gestor os agentes de crédito fazem o acompanhamento dos clientes, realizando visitas
pessoais para analisar e inspecionar o negócio que está sendo desenvolvido e o fluxo de receitas
e despesas. Todo esse acompanhamento ajuda a identificar e minimizar os problemas de risco
moral, assim o agente de crédito pode actuar como um agente de desenvolvimento, além de
oferecer suporte técnico e de gestão ao microempreendedor e de salientar que o agente não
necessita ser um perito no negócio desenvolvido pelo cliente, porém ele deve auxiliar em todas
as necessidades, conhecer o ambiente e os recursos que estão disponíveis para o negocio.

60
Falando do grupo aval solidário se caracteriza por uma junção de um pequeno grupo de pessoas
que deliberadamente se unem para ter acesso ao crédito de pequeno montante. Os grupos são
formados espontaneamente, e os próprios indivíduos que se conhecem entre si que escolhem os
membros. Entre as vantagens que esse sistema traz está a superação do problema de assimetria
de informação e o problema de lidar com os altos custos de transação. A assimetria de
informação refere-se ao facto de os bancos tradicionais saber quem será um bom pagador e quem
não será, esse tipo de informação ajuda a aumentar os custos de transação, se tornando, muitas
vezes, inviável em questões microfinanceiras, porém, com o aval solidário, os próprios
indivíduos do grupo fazem esse trabalho ao escolher quem participará e usufruirá desse pequeno
empréstimo. Como considera-se que sejam pessoas que tenham um certo nível de
relacionamento, logo conclui-se que escolheram pessoas que confiam, reduzindo assim, os
custos de informação sobre quem será um bom pagador ou não é a cobrança sobre um
empréstimo atrasado ocorrerá por iniciativa de um membro do grupo sobre o outro já que se um
não paga a responsabilidade de arcar com as consequências são de todos. Dessa forma, reduz os
altos custos sociais, tornando mais viável esse modelo de negócio para as instituições
microfinanceiras.

3° Questão : Taxas de juros cobradas pela Bayport?


O gestor afirmou que as taxas de juros variam, dependendo do montante, isto é, de 5.000,00Mtn
até 50.000,00Mtn é aplicada uma taxa de juro de 70% anuais o que significa pagar uma taxa
mensal de 5,80% e de 51.000,00Mtn até 350.000,00Mtn uma taxa de 66% ao ano o que significa
pagar 5,50% ao mês.

4° Questão : Qual e o Impacto das medidas inovativas no trabalho?


Na questão, não foi identificado nenhum tipo de incentivo financeiro específico para inovação.
As iniciativas possuem como factor motivador a redução de custos com eficiência nos processos
de inovação incremental e o cumprimento de metas estabelecidas pela automação de processos.
Um dos factores impeditivos de direccionar incentivos financeiros específicos para iniciativas de
inovação é a centralização do orçamento e de seu processo decisório no conselho executivo da
organização. Para a descentralização e o incentivo orçamentário em projectos de inovação
ocorrerem, é preciso que a organização estabeleça indicadores claros e tempestivos para que cada

61
gestor tenha a decisão em suas mãos, exigindo menor racionalidade para aprovação e mais
apetite a risco em projecto futuros.

5° Questão : Qual a Satisfação do pessoal com as medidas inovativas?


O gestor afirmou que não há uma cultura de inovação que permeie todas as áreas do banco.
Houve diferentes percepções sobre como estão estruturadas as equipas para focar em inovação.
Os processos do banco estão focados em inovações incrementais e fechadas, principalmente nos
canais de distribuição e, nesse caso, o banco apresenta áreas apartadas e específicas, algumas
delas com diretrizes próprias.
As equipas não estão organizadas de forma a gerar inovações disruptivas, desenvolver ideias
para revolucionar o mercado, criar novos produtos e serviços em que os clientes já não tenham
acesso. A empresa entende que precisa buscar novos caminhos para fazer inovações que não
sejam apenas incrementais, porém há um caminho longo a ser percorrido, pois é necessário que,
primeiramente, os gestores estejam preparados para uma nova forma de pensar em inovação e as
equipes estejam capacitadas e sejam estimuladas a inovar pensando em criar produtos ou
serviços que solucionem problemas de clientes.

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