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Dilson dos Santos

Impacto do microcrédito para o desenvolvimento socioeconómico

Caso de estudo: Pequenos Produtores Familiares da Cidade de Maputo no Vale do


Infulene

Licenciatura em Contabilidade com habilitação em Auditoria

Universidade Pedagógica de Maputo


Maputo
20223
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Dilson dos Santos

Impacto do microcrédito para o desenvolvimento socioeconómico

Caso de estudo: Pequenos Produtores Familiares da Cidade de Maputo no Vale do


Infulene

Licenciatura em Contabilidade com habilitação em Auditoria

Monografia apresentada no Departamento de


Economia e Gestão para a obtenção do grau de
Licenciatura em Contabilidade com habilitação em
Auditoria.

Supervisor:
MSc. Natália Graziano

Universidade Pedagógica de Maputo


Maputo
20223
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Índice
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO................................................................................................1
1.1. Contextualização..........................................................................................................1
1.2. Problematização...........................................................................................................2
1.3. Justificativa..................................................................................................................3
1.4. Objectivos....................................................................................................................4
1.4.1. Objectivo geral......................................................................................................4
1.4.2. Objectivos específicos..........................................................................................4
1.5. Hipóteses......................................................................................................................4
1.6. Delimitação do tema.....................................................................................................4
CAPÍTLO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................5
2.1. Conceitos gerais...........................................................................................................5
2.2. Concessão de crédito....................................................................................................6
2.3. Microfinanças...............................................................................................................7
2.4. Microcrédito.................................................................................................................8
2.4.1. Principais características do Microcrédito..........................................................10
2.4.2. A importância do Microcrédito para o desenvolvimento local...........................11
2.4.3. Vantagens e desvantagens do Microcrédito para a Economia............................12
2.4.4. Modelos de concessão de Microcrédito..............................................................13
2.4.5. Correntes de Pensamento sobre o Microcrédito.................................................15
2.5. Enquadramento do microcrédito na estrutura microfinanceira Moçambicana..........16
2.6. Impacto das microfinanças em Moçambique.............................................................18
CAPÍTULO III – METODOLOGIA........................................................................................19
3.1. Introdução..................................................................................................................19
3.1.1. Tipo de Pesquisa.................................................................................................19
3.1.2. Quanto ao objectivo............................................................................................19
3.1.3. Técnicas de recolha de dados..............................................................................20
3.1.4. População do Estudo...........................................................................................21
3.1.5. Amostra da população.........................................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................22
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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
Dentro do contexto de uma economia capitalista, o crédito tem função de antecipar o futuro,
multiplicar os fluxos financeiros, fazendo a mesma economia girar várias vezes,
multiplicando a riqueza, mobilizando o capital e conduzindo-o ao aumento do produto, além
de fazer o elo entre o consumo e a produção (ADAM, 2006).

Segundo CONSTANZI, (2002) nos países subdesenvolvidos as especificidades da sua


evolução é baixo e o crédito concentra-se ainda mais nas mãos de poucos, dificultando o
acesso para a maioria da população, em relação à dos países desenvolvidos este tem uma
economia organizada.

Ibib, Este autor refere ainda que Moçambique é um país em via de desenvolvimento, a
maioria das populações tem acesso a poupanças geradas localmente e funcionam como uma
certa almofada em períodos de flutuação económica, encorajando a formação de cooperativas
e reforçando o sentimento de comunidade.

Em Moçambique o crédito vem sendo demandando no sentido de democratizar as


oportunidades entre os menos favorecidos que estão fora do circuito da produção formal,
compondo parte do que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) passou a denominar, a
partir de 1970, de economia informal.

O mesmo autor refere que o micro crédito pode ser definido como um empréstimo de
pequenos valores, dado a comunidade serde baixo rendimento. É uma das formas de
potencializar o desenvolvimento de pequenos negócios, através de crédito para indivíduos
que, pelo baixo nível de formalização de seus negócios, ou pela inexistência de garantias, não
conseguem a cessar crédito junto às instituições tradicionais do sistema financeiro.

Ou seja, além de pequenos valores, o crédito é direccionado especificamente para a camada


da população de mais baixa renda, em geral excluída do sistema financeiro convencional, e
em especial os micros empreendedores do segmento informal da economia.

O público-alvo do micro crédito é predominantemente composto por donos de empresas que


realizam uma actividade económica autónoma, muitas vezes, informal e geralmente, auto
financiada através de poupanças próprias ou de parentes e amigos. São pessoas que conhecem
bem o seu ramo de actividade e cuja orientação é voltada primordialmente para o sustento de
sua família, sem grandes expectativas de crescimento. Por isso, a maior parte da demanda por
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micro crédito destina-se a capital de giro para cobrir dificuldades momentâneas de liquidez ou
utilizar outros negócios favoráveis (ADAM, 2006).

1.2. Problematização
Moçambique não ignorou a importância do micro crédito na redução da pobreza e geração do
emprego., Vvisto que, o micro crédito foi instrumentalizado na luta contra a pobreza e a
exclusão social através dos programas de redução da pobreza, principalmente nas zonas rurais
assinaladas como as mais carenciadas em todos os Distritos. Nos últimos anos, o sistema de
microcrédito ganhou uma dinâmica considerável, contribuindo de forma significativa para o
processo de inclusão económica e social das camadas mais desfavorecidas, concedendo
créditos aos micros empreendedores, pessoas que necessitam de empréstimo para desenvolver
o seu próprio negócio e que não têm acesso ao banco comercial, mulheres consideradas chefes
de família, jovens à procura do primeiro emprego (ADAM, 2006).

De acordo com o autor supra citado ADAM (2006) o microcrédito transcende a mera oferta
de crédito, constituindo uma filosofia de mudança capaz de desencadear mecanismos
inovadores voltados o para combater a descriminação socioeconómico já que são voltados
para aqueles indivíduos que não têm acesso ao sistema financeiro.

Segundo BARONE (2002), o O microcrédito é ferramenta de fomento ao empreendedorismo.


Ampliação dos serviços de microcrédito visam atingir desigualdades e exclusão social,
factores que contribuem para o crescimento e desenvolvimento económico. A inclusão social
através do empreendedorismo, tem sido objecto de estudo nas economias capitalistas, visando
este desenvolver alternativas para o crescimento e desenvolvimento económico. Neste
sentido, o microcrédito pode ser um instrumento de amplo alcance às comunidades de baixa
rendimento, na promoção de mudanças sociais.

A relevância do estudo consiste em programar estratégias e buscar instrumentos adequados


das administrações, necessidades específicas das pequenas e médias empresas nas
comunidades, de modo a obter fácil acesso ao micro financiamento. Em resposta às
constatações registrados dos problema que a comunidade tem a ter o acesso a crédito por
exigências de garantias reais, em particular as do tipo hipotecário e pela solicitação de
informação registrados sobre os demonstrativos financeiros e os balanços das actividades dos
solicitantes. Com isso, chega-se ao seguinte questão de estudo:
3

Até que ponto o microcrédito contribui para a melhoria da vida dos beneficiários e para o
desenvolvimento socioeconómico dos pequenos produtores e agricultores da cidade de
Maputo no Vale do Infulene?

1.3. Justificativa
Para que as pessoas desfavorecidas consigam melhorar as suas condições de vida elas
precisam de ter acesso a microcrédito de forma a poder impulsionar as suas actividades
socioeconómicas.

O agricultor do sector familiar não tem fontes alternativas de renda, o que aumenta a sua
vulnerabilidade em relação aos fenômenos naturais como a seca e as cheias. A maioria dos
pequenos produtores familiares ainda não tem acesso ao financiamento agrário devido a
vários constrangimentos tais como a falta de garantias reais e as taxas de juros praticadas
pelas instituições no financiamento do microcrédito.

A massificação das microfinanças e a inclusão de pacotes específicos, para os agricultores


familiares, pode contribuir para reduzir o nível de pobreza e impulsionar o desenvolvimento
socioeconómico nas zonas rurais, que é onde se encontra a maior parte da população
vulnerável em Moçambique.

Assim, a relevância da pesquisa baseia-se no facto de que as microfinanças influenciam na


produtividade dos pequenos produtores por facilitar a construção de infraestrutura agrícolas,
providenciar o capital de maneio, contribuindo assim na melhoria do rendimento dos
produtores e reduzindo a pobreza na população rural.

No âmbito plano pessoal, notamos ser importante realizar a pesquisa, pois melhorará os
conhecimentos sobre a importância que tem o microcrédito para o investimento das pessoas
de baixa renda.

No âmbito plano social irá despertar a necessidade de olhar para o microcrédito como uma
fonte segura para o financiamento de qualquer negócio ou empreendimento.

No âmbito plano acadêmico, consideramos importante realizar a pesquisa pois ajudaraá a


melhorar os conhecimentos sobre o microcrédito e a desenvolver mais políticas e normas de
forma a beneficiar as pessoas que precisam de fazer um investimento.
4

1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo geral
Analisar o impacto do microcrédito na melhoria de vida dos beneficiários e a sua
contribuição no desenvolvimento socioeconómico dos pequenos produtores e
agricultores da cidade de Maputo no Vale do Infulene.

1.4.2. Objectivos específicos


 Descrever o impacto no desenvolvimento do negócio dos beneficiários antes e depois
do financiamento;

 Avaliar a carteira dos beneficiários de microcrédito;

 Identificar Avaliar o impacto do microcrédito para o desenvolvimento


socioeconómico na cidade de Maputo no Vale de Infulene.

1.5. Hipóteses
H0: O sector de microcrédito contribui para a melhoria da vida dos beneficiários e para o
desenvolvimento socioeconómico dos pequenos produtores e agricultores da cidade de
Maputo no Vale do Infulene.

H1: O sector de microcrédito não contribui para a melhoria da vida dos beneficiários e para o
desenvolvimento socioeconómico dos pequenos produtores e agricultores da cidade de
Maputo no Vale do Infulene.

1.6. Delimitação do tema


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CAPÍTLO II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


2.1. Conceitos gerais Microfinança
O microcrédito é a linha principal das microfinanças, que consistem em diversos mecanismos
que visam ofertar serviços financeiros à população de baixa renda, que na maioria das vezes
fica a margem do sistema financeiro tradicional (KARINNE, 2017). Entre os serviços
oferecidos, podemos citar, além do crédito, poupanças, microsseguros, crédito para o
consumo, moedas sociais, entre outros. Segundo SOARES & SOBRINHO (2007, p. 14),
“inicialmente acreditava-se que apenas a expansão do crédito à população desassistida fosse
o suficiente”.

Para alguns estudiosos, microfinanças significa serviços financeiros, principalmente crédito e


poupança, destinados às pequenas actividades produtivas (BARBOSA, 2011).

Entretanto, percebeu-se que essa expansão deve ser acompanhada por outros serviços que
permitam a essas pessoas administrarem melhor seus ganhos e activos, implementando o
manejo de suas e economias e mitigando os riscos. As principais funções das microfinanças
são citadas por RIBEIRO & CARVALHO (2006, p.48):

As microfinanças desempenham, simultaneamente, duas importantes funções:


i) atendem aos anseios e às necessidades da população de baixa renda com
relação aos serviços financeiros, fornecendo produtos adequados a seu perfil e
ii) servem de fonte de financiamento à carteira de microcrédito e ao
desenvolvimento institucional das Instituições de Microfinanças.

O microcrédito é apenas um tipo de serviço que compõe as microfinanças. A literatura


também diverge no que se refere ao conceito do microcrédito. Para alguns autores, significa
empréstimo de pequeno valor que possui uma metodologia diferenciada do crédito
convencional (crédito oferecido pelas instituições do Sistema Financeiro Nacional), que pode
ser direccionado para a produção, tanto como para o consumo, (CHIVENATO, 2007).

Segundo COLEMAN (1990) o microcrédito é a concessão de empréstimos de baixo valor a


pequenos empreendedores informais e micro empresas sem acesso ao sistema financeiro
tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias reais de um crédito
destinado a produção e é concedido com o uso de uma metodologia específica que passa por
análise:
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 Carácter do cliente;
 Negócio do cliente;
 Capacidade de pagamento.

Analisar o carácter do cliente passa por uma observação detalhada das condições reais
apresentadas por ele tendo em conta a actividade que desempenha ou que pretende
desempenhar. Para a análise do próprio negócio torna-se necessária fazer uma avaliação
criteriosa do projecto apresentado pelo cliente, e analisar assim a sua capacidade
empreendedora (BARBOSA, 2011).

Segundo CONSTANZI, (2002), o microcrédito consiste, portanto em emprestar dinheiro aos


micro empresários de rendimento baixo, que não têm normalmente acesso aos serviços de
crédito de um banco tradicional. Estes tipos de empréstimos são concedidos por instituições
micro financeiras, entidades especializadas nesse tipo de crédito.

Com base nos conceitos acima citados pode-se concluir que por Microcrédito, entende-se
exclusivamente a concessão de empréstimos, de pequeno montante, que se destinam a
promoção do aumento de rendimentos, à criação de emprego e ao alívio da pobreza dos seus
beneficiários, bem como o financiamento do arranque ou da expansão de microempresas ou
simplesmente de pequenas actividade de geradoras de rendimento.

2.2. Concessão de crédito


O crédito designa um tipo de financiamento de montante reduzido e destinado a apoiar a
criação de pequenos negócios por pessoas que não tenham condições para recorrer ao crédito
tradicional. Sendo uma forma de apoio social, o conceito de micro crédito difere muito do
conceito tradicional de ajuda e combate à pobreza na medida em que rejeita a esmola, o
subsídio ou o donativo como forma de justiça social (PARENTE, 2002).

Segundo BARBOSA (2011) existe uma diferença entre os diferentes conceitos de crédito e
microcrédito, bem como entre microfinanças e microcrédito. Há uma grande diferença entre
microcrédito e crédito, em que este obtém lucro através de grandes montantes, com garantias
reais, juros altos que compensam os custos com verificação e monitoria do projecto e
geralmente excluem (de seus clientes) os micros e pequenos empreendedores, enquanto o
microcrédito possui características voltadas exclusivamente para a população de baixo
rendimento, exemplos (PINDULA, 2016):
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 Trabalhar directamente na comunidade, através de visitas e encontros que esclarecem


á comunidade os pré-requisitos necessários para um provável cliente potencial;
 Fornecimento rápido do empréstimo, visto que, ninguém quer esperar meses para ter
em mãos o empréstimo, até porque a maioria desses clientes estão acostumados com
os agiotas que liberam o dinheiro de imediato;
 Trabalhar com actividades económicas já existentes ou que estejam começando e no
mercado local;
 Começar com pequenos investimentos, de modo que prove a capacidade do pequeno
empresário de reembolsar e verificar o nível de crescimento devido ao empréstimo;
 Fornecer empréstimos crescentes, na medida em que os investimentos são bem-
sucedidos; etc.

Segundo PARENTE (2002) a diferença entre microfinanças e microcrédito, advém de que o


segundo é parte das micro finanças, ou seja, a microfinanças abrangem instituições que
oferecem serviços financeiros aos carentes como por exemplo, micro poupança,
microsseguro, micro doações e dentre outros o microcrédito.

O microcrédito não deve ser entendido apenas como uma medida de política económica, mas
também, como de política social, pois, deve oferecer acessibilidade para agentes económicos
que dantes estavam excluídos do mercado financeiro (Ibid).

2.3. Microfinanças
Segundo PIERRE (2002) o historial de microfinanças se desenvolveu para tornar os serviços
financeiros acessíveis às populações que não têm acesso às instituições financeiras clássicas.
São portanto, os serviços de poupança e de crédito que são oferecidos às populações cujo
rendimento se situa geralmente abaixo da média.

As microfinanças são serviços que foram-se desenvolvendo numa perspectiva de


desenvolvimento, no sentido de fazer face à exclusão ou dificuldade de pessoas e empresas,
formais ou informais, terem acesso ao sistema financeiro tradicional (PSICO, 2010),
referindo-se especialmente aos Bancos Comerciais. Entretanto, há que referir que, conforme
LEDGERWOOD (1998), os serviços de microfinanças nem sempre se circunscrevem aos
serviços de intermediação financeira, pois existem muitas instituições de microfinanças cuja
actividade abrange também a intermediação social, traduzindo-se em actividades de formação
de grupos, desenvolvimento de autoestima e formação em matérias de finanças e gestão entre
8

os membros de grupo. Para esta autora, isto torna as microfinanças não simplesmente uma
actividade bancária, mas um importante instrumento de desenvolvimento.

Normalmente, de acordo com LEDGERWOOD (1998), as actividades de microfinaças


envolvem: a concessão de pequenos créditos, geralmente capital de investimento; a avaliação
informal dos candidatos aos serviços e dos investimentos que pretendem fazer; a exigência de
substitutos de colaterais, tais como garantias de grupo ou poupanças obrigatórias; acesso a
novos e maiores créditos, dependendo do desempenho que obteve nos pagamentos dos
créditos anteriores; processo simplificado de desembolso e monitoria de empréstimos;
produtos de poupança seguros. Segundo esta autora, são os serviços de assistência a empresas
e os serviços sociais, prestados por algumas instituições no ramo das microfinanças, que
geralmente não são incluídos na definição de microfinanças.

As microfinanças consistem na provisão de serviços financeiros a clientes com baixo


rendimento, incluindo “auto-empregados” nos sectores formal ou informal, com o objectivo
de promover o desenvolvimento e erradicar a pobreza (LEDGERWOOD, 1999). Visa
também a provisão de serviços financeiros tradicionais formais – crédito, poupança e seguros.

Segundo LEDGERWOOD (1999), os serviços das instituições de microfinanças normalmente


envolvem:

 Empréstimos pequenos, tipicamente para capital de trabalho;


 Avaliação informal dos mutuários e de investimento;
 Substituição de garantias de crédito materiais por outras tais como grupo solitários ou
poupanças obrigatórias;
 Permite a repetição e aumento de empréstimos, baseado na performance dos
reembolsos;
 Facilidade de crédito e monitorização do mesmo;
 Produtos de poupança assegurados.

As microfinanças acabam assim por desempenhar um papel importantíssimo na economia,


pois contribuem para a alocação de recursos, aumento de produção e aumento de capital
(SILVESTRE & NAVALHA, 2003).

O objectivo das microfinanças é, então, conseguir que os seus beneficiários criem uma
sustentabilidade financeira, para poderem sair da pobreza de forma definitiva e que não
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estejam constantemente a recorrer ao microcrédito sempre que uma situação inesperada baixe
os seus rendimentos.

2.4. Microcrédito
Como vimos, os empréstimos tradicionais têm pouca acessibilidade para os mais necessitados
e o seu retorno apresenta taxas reduzidas. As razões para os retornos destes empréstimos nem
sempre se verificarem estão relacionadas com características inadequadas do projecto, bem
como a falta de incentivo e politização, que fez com que os beneficiários do crédito vejam
como políticas de generosidade (LIPTON et al., 1997).

O conceito de Microcrédito nasceu no Bangladesh, nos finais dos anos 70, com o Professor de
Economia Rural, Muhammad Yunus e o Grameen Bank (Índia), “O Banco das ideias” que
tinha como premissa básica, a criação de um sistema bancário baseado no mutualismo, na
confiança, participação e criatividade, concedendo empréstimos de baixo valor a pequenos
empreendedores informais e micro-empresas sem acesso ao sistema de crédito tradicional,
principalmente, por não oferecerem garantias reais.

O Microcrédito, muitas vezes e utilizado para designar instrumentos diversos como o crédito
agrícola ou rural, o crédito cooperativo, o crédito ao consumo, crédito e empréstimos
associativos ou mutualistas.

Segundo Muhammad Yunus e o Grameen Bank (Data?), existem varias classificações e


categorias de Microcrédito, cujas características são (OIKOS, 2006):

 Promover o crédito como um direito do Homem;


 Conceder crédito dirigido aos pobres, especialmente mulheres, tendo por missão
ajudar as famílias pobres a ultrapassar o limiar da pobreza;
 Basear-se na confiança e não em garantias reais ou contratos judicialmente
accionáveis;
 Créditos concedidos para a criação de autoemprego através de actividades geradoras
de rendimentos, bem como à habitação para os pobres, por oposição ao crédito ao
consumo;
 Desafiar os bancos convencionais que rejeitam os pobres por não os considerar
dignos de um crédito, o Grameen rejeita a sua metodologia e criou a sua própria
metodologia;
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 Providenciar serviços ao domicílio baseado no princípio de que o banco deve ir ao


encontro dos indivíduos;
 Para obter um empréstimo, o tomador tem de integrar um grupo de beneficiários;
 Todos os empréstimos podem ser concedidos sucessivamente. Um novo empréstimo
é concedido quando o anterior é reembolsável;
 Geralmente, estes empréstimos são concedidos por organizações sem fins lucrativos.

2.4.1. Principais características do Microcrédito


 Crédito Produtivo

Trata-se de um sistema financeiro virado a pequenos empreendimentos, pequenos


empresários e micro empresas geridos por pessoas com baixo rendimento concedendo
empréstimos de baixo valor, que não se destina a financiar o consumo (ADAM, 2006).

 Ausência de garantias reais

O micro crédito é um sistema onde não há garantias reais do retorno do crédito concedido, na
medida em que, aqui se trabalha com pessoas de fraco rendimento, ou seja, possuem poucos
recursos o que poderá dificultar o pagamento do débito. É um sistema que se sustenta em duas
garantias (ADAM, 2006):

 A primeira é o aval solidário que consiste na junção de pequenos grupos de pessoas


com pequenos negócios e necessidade de crédito, encaixando-se na tipologia do
microcrédito ao grupo.
 A segunda garantia é recorrendo á um avalista/fiador que esteja conforme as leis
vigentes na instituição micro financeira. O avalista será o responsável pelo débito, no
caso, do não cumprimento do acordado por parte do cliente.

 Crédito Orientado

Segundo CONSTANZI, (2002) define como um sistema onde não a garantias, então existe o
receio do endividamento, daí há necessidade da concepção do crédito de forma assistida, ou
seja, é necessário acompanhar investimento do cliente mais de perto, por agentes de crédito
com vista, a alcançar o êxito do negócio e o retorno do investimento à instituição, visto que, o
ambiente circundante é composto por clientes que muitas vezes não tem experiência em
gestão do negócio e do crédito
11

 Crédito adequado ao ciclo do negócio

O microcrédito é um sistema onde o montante do crédito é concedido conforme o tipo de


negócio do cliente (ADAM, 2006). É um sistema onde os montantes são pequenos, com
prazos de pagamento curtos, com a possibilidade de renovação do empréstimo com valores
crescentes consoantes o histórico do pagamento até ao limite estabelecido pela instituição.

 Baixo custo de transacção e elevado custo operacional.

Segundo (ADAM, 2006), Eeste sistema possui elevados custos operacionais para o cliente,
visto que, as taxas de juros praticadas pelas instituições são elevadas, para além dos custos do
processo, obriga o empreendedor a deixar o local de trabalho para desencadear o processo o
que pode significar perda de dinheiro. Por outro lado, este sistema possui baixos custos de
transacção, na medida em que, a localização da instituição do micro crédito deverá ser
próxima ao cliente, poucas burocracias tais como assinaturas de documentos e agilidade na
entrega do crédito que deve ser mais curto possível.

 Acção Económica com forte impacto social

Este sistema tem um forte impacto social, pois ela fortalece o investimento, aumenta a renda
das famílias, o que traduz em melhoria das condições de vida das famílias, combatendo a
pobreza, a exclusão social e o abandono escolar. O microcrédito tem-se revelado no punho do
desenvolvimento sustentável, combate a pobreza e no financiamento as pequenas empresas
(ADAM, 2006).

2.4.2. A importância do Microcrédito para o desenvolvimento local


Como se disse anteriormente, crédito é dinheiro pedido emprestado para financiar uma
actividade ou negócio, cujos rendimentos, a posterior, permitem pagar o valor emprestado, os
juros e, ainda, acumular algum capital. Disse-se também que o microcrédito visa atingir
essencialmente a população de baixa renda, ajudando-a a ter acesso a serviços a que
normalmente não consegue aceder através do sistema bancário tradicional. Portanto, o
microcrédito ajuda, no final das contas, a população pobre a aceder a um capital (que de outra
forma teria grandes dificuldades de aceder), para investir em alguma actividade que o permita
melhorar as suas capacidades produtivas, gerar receitas, criar emprego e melhorar a sua
condição financeira e de vida (PEREIRA, 2013).
12

No seu artigo Microcrédito como fomento ao empreendedorismo na base social, ALICE &
RUPPENTHAL (2012) procuram apresentar o microcrédito como um instrumento que
permite impulsionar tanto ao crescimento económico como o desenvolvimento no seu todo,
através do fomento do empreendedorismo, das iniciativas privadas. Na perspesctiva destes
autores, a pobreza é algo directamente relacionada a falta de ocupação remunerada (a falta de
renda) e colocam o processo do fomento ao empreendedorismo como solução a esta falta de
ocupação. Ora, as dificuldades para a criação destes empreendimentos, especialmente pela
população mais pobre, e a natureza efémera dos mesmos pela falta de financiamento
constituem um problema grave. Daí ser lógico, na perspectiva destes autores, trazer como
solução para este problema a concessão do microcrédito.

Contudo, vale também ressaltar aqui a chamada de atenção de PSICO (2010): Primeiro, há
que dizer que este autor concorda que o microcrédito traz consigo muitos benefícios, pois,
para além de ajudar ao próprio beneficiário, permite também criar emprego para parentes,
vizinhos, entre outros. Entretanto, chama atenção para as situações em que o microcrédito
pode não ter os efeitos desejados. É o caso da concessão de crédito a famílias extremamente
pobres que, para além das deficiências alimentares e de outras ordens, poderão não ter
oportunidades de trabalho independente (falta de oportunidades para aplicar o crédito, falta de
infraestruturas, falta de mercado), não restando outra saída para estes senão consumir o valor
do empréstimo. Este aspecto ajuda-nos a perceber a complexidade da prática do microcrédito
e a necessidade do estudo dos pedidos de crédito e do acompanhamento do seu investimento,
a posterior. Ajuda-nos também a perceber que, apesar de ser uma ferramenta importante para
o desenvolvimento local, como já foi abordado anteriormente, ele deve ser encarado como
uma ferramenta dentro de um pacote de ferramentas.

2.4.3. Vantagens e desvantagens do Microcrédito para a Economia


 Vantagens

Segundo NITSH (2001) As principais vantagens do micro crédito para a Economia são:

 A rapidez na libertação ou reembolso dos recursos financeiros;


 A flexibilidade nas categorias de financiamento;
 A desburocratização na captação de financiamento;
 O aumento do capital circulante da pequena empresa;
 A simplicidade das operações;
13

 O poio a indivíduos desempregados, reformados, com poucas habilitações literárias na


criação do próprio emprego;
 Trazer para a economia formal empreendedores que se encontram na economia
informal; e
 Permitir as camadas pobres, excluídos do sistema financeiro, ao crédito, trazendo-as
para o serviço financeiro tradicional.

 Vantagem social.
 Promove a iniciativa comercial;
 Promove a mentalidade da verdade, compromisso e responsabilidade;
 Promove a diminuição da taxa de desemprego e exclusão social;
 Promove uma boa imagem dos bancos;
 Promove formação qualificante dos beneficiários;
 Promove estratégias e medidas alternativas para as pessoas desempregadas, inactivas e
reformadas.

 Desvantagens

Os bancos e as instituições de microcrédito enfrentam, actualmente, sérios problemas


relacionados com:

 Os altos custos operacionais;


 Os baixos montantes para financiar os seus projectos;
 As altas taxas de incumprimento em maior parte das instituições de micro finanças.

Os altos custos operacionais decorrem principalmente da metodologia de concessão de crédito


adoptados nessas instituições, que tem como característica o acompanhamento do crédito
concedido, através da presença de agentes de créditos especializados que avaliam a evolução
do empreendimento bem como da sua capacidade de pagamento. Por outro lado, esses custos
são ainda mais elevados atendendo à relação entre o montante concedido a título de crédito e
os encargos inerentes (PARENTE, 2002).

2.4.4. Modelos de concessão de Microcrédito


É possível identificar, na perspectiva de LEDGERWOOD (1998), dois modelos gerais de
concessão do microcrédito, baseando-se na forma como as instituições de microfinanças
14

concedem o crédito e nas formas de garantia que exigem: o modelo de concessão de crédito a
grupos e o modelo de concessão de créditos individuais. A caracterização, a seguir, de cada
modelo é feita de acordo com esta autora.

No primeiro modelo – de grupos – o crédito é concedido usando uma abordagem grupal, seja
concedendo a um membro do grupo1, ou concedendo ao grupo todo, o qual, por sua vez irá
disponibilizá-lo aos seus membros2. Ou seja, para se aceder ao microcrédito, há necessidade
de formação de grupos pelos potenciais beneficiários.

Este modelo, frequentemente adaptado das Associações de Poupança e Crédito Rotativo


(Rotating Savings and Credit Associations - ROSCAS)3, apresenta várias vantagens e
desvantagens. Começando pelas vantagens, pode-se indicar o uso da pressão dos outros
membros do grupo, como substituto da exigência de garantias materiais 4; pode ajudar a
reduzir diversos custos transaccionais, os quais são passados aos grupos, tais como os custos
de avaliação e monitoria dos membros, os custos da cobrança das prestações (ao invés de
cobrar aos membros, cobra ao grupo como um todo).

Passando para as desvantagens, pode-se identificar a tendência de nesta abordagem


apresentar-se maiores taxas de reembolso do crédito que na abordagem de empréstimos
individuais, em épocas de prosperidade, mas apresentar piores taxas de reembolso, em épocas
de crise (se vários membros do grupo encontram dificuldades de pagar, geralmente todo o
grupo entra em colapso); alguns críticos questionam também se, de facto, os custos de
transacção são menores neste modelo de concessão de microcrédito, colocando-se em questão
o facto do treinamento dos grupos envolver grandes custos e o facto de os custos de
transacção serem maiores também para o cliente, pois mais responsabilidade passa da
instituição de microcrédito para os clientes; muitas pessoas preferem empréstimos individuais
pois receiam serem punidos financeiramente pela falta de reembolso de outros membros do
grupo (PEREIRA, 2013).

Passando para o segundo modelo, de concessão de créditos individuais, neste concede-se


créditos baseando-se na capacidade dos potenciais beneficiários proporcionarem alguma

1
Exemplo do Grameen Bank, de Muhamad Yunus, em Bangladesh, que facilita a criação de pequenos grupos de
5 a 10 pessoas e fazem empréstimos individuais aos seus membros (LEDGERWOOD, 1998).
2
Exemplo da Foundation for International Community Assistance (FINCA) que concede créditos a grupos de 30
a 100 pessoas, e não a cada membro (LEDGERWOOD, 1998).
3
Em Moçambique, designadas por grupos de Xitique, conforme CASIMIRO & SOUTO (2010).
4
Este aspecto é extremamente importante em casos em que os tomadores de crédito não possuem qualquer bem
para oferecer como garantia.
15

garantia para o reembolso e algum nível de segurança. É este segundo modelo que inspirou à
orientação estratégica da cooperativa. O modelo combina as técnicas de concessão de crédito
usadas em instituições financeiras tradicionais (bancos), com técnicas usadas informalmente,
por exemplo por agiotas.

Desta fusão de características do setor formal e informal, resultaram as seguintes


características deste modelo, na perspectiva de WATERFIELD & DUVAL (1996, apud
LEDGERWOOD, 1998): a exigência de algum tipo de garantia material, com menor
rigorosidade que as instituições financeiras formais, ou de um fiador (pessoa que, apesar de
não ter recebido o crédito, aceita se responsabilizar legalmente pelo seu pagamento caso o
beneficiário não cumpra com as suas obrigações); a avaliação de potenciais clientes,
baseando-se no histórico de recepção e pagamento de créditos e nas referências relacionadas
ao seu carácter; estabelecimento da quantia de crédito e prazos de pagamento de acordo com
as necessidades de negócio; o incremento frequente da quantia de crédito e dos prazos de
pagamento, com o passar do tempo; os esforços dos trabalhadores da instituição de crédito
para desenvolver relacionamentos próximos com os clientes, consequentemente, cada cliente
representa um investimento significativo de tempo e energia dos trabalhadores (PEREIRA,
2013).

2.4.5. Correntes de Pensamento sobre o Microcrédito


O tipo de actividades de microcrédito desenvolvido pelas instituições e a forma como estas
actividades são delimitadas e organizadas baseiam-se em duas correntes de pensamento: uma
conhecida como minimalista e outra chamada desenvolvimentista (PSICO, 2010).

A corrente minimalista pauta a sua análise sobre o conceito de sustentabilidade. Entende que
as instituições de microcrédito só podem desempenhar as suas funções de facilitação de
acesso ao crédito se atingirem a sustentabilidade, isto é, se conseguirem se manter a
funcionar, continuando a oferecer os seus serviços a população necessitada. Tal propósito
implicaria, de acordo com esta corrente, a maior redução possível dos custos administrativos
das actividades de concessão de microcrédito e a sua orientação segundo os parâmetros
financeiros do mercado. Consequentemente, diversas actividades de apoio aos beneficiários,
como a capacitação técnica, o acompanhamento próximo do desenvolver do negócio e o
aconselhamento, entre outras, seriam excluídas do pacote oferecido pela instituição.

A corrente desenvolvimentista, por sua vez, como o nome diz, pretende que as actividades de
concessão do microcrédito esteja virada essencialmente para objectivos de desenvolvimento
16

social, sendo, assim, necessário desenvolver programas que ataquem a problemática estrutural
da pobreza. Contrariamente a anterior, consoante esta corrente é necessário juntar no pacote
das actividades de microcrédito outras formas de apoio ao beneficiário para ajudá-lo de forma
mais eficiente a melhorar a sua vida, incluído a capacitação, o acompanhamento e o
aconselhamento.

Há que chamar atenção, contudo, para o facto das duas correntes, no final das contas terem
como meta final a promoção do desenvolvimento, diferenciando-se as duas na forma como
entendem que se deve gerir as actividades para tal. A diferença entre as duas é que uma se
preocupa mais com a sustentabilidade da organização que oferece os serviços de
intermediação financeira, limitando as suas actividades para a concessão de crédito, reduzindo
custos de operação, enquanto a outra entende que não faz sentido limitar as actividades ao
crédito, devendo-se nesta perspectiva investir em actividades de apoio ao beneficiário, mesmo
que isso signifique aumento dos custos de operação.

2.5. Enquadramento do microcrédito na estrutura microfinanceira Moçambicana


“As microfinanças constituem um importante sistema de intermediação financeira
apropriado ao desenvolvimento económico local, baseado em actividades de pequena e
média escala - financiando empreendimentos geradores de emprego (incluindo o
autoemprego) e de rendimentos que, devido à sua natureza nomeadamente de reduzida
dimensão; deficiente sistema, ou inexistência de registos contabilísticos; precariedade de
garantias, encontram-se praticamente vedadas em aceder à banca convencional” Banco de
Moçambique5 (2007).

Embora o objecto de estudo esteja centrado no microcrédito, é fundamental perceber onde é


que este se insere no contexto económico.

As instituições de microcrédito estão englobadas nas operadoras de microfinanças ou


instituições de microcrédito pois, a sua actividade é caracterizada pela prestação de serviços
financeiros, fundamentalmente em operações de reduzida e média dimensão.

Há dois tipos de operações:

 Supervisão prudencial, onde com a finalidade de proteger o sistema financeiro como


um todo e a segurança dos fundos do público de cada instituição, é feita uma
supervisão centrada na fiscalização e acompanhamento do cumprimento de normas de

5
http://www.bancomoc.mz/
17

natureza prudencial, como as reservas obrigatórias, limites de riscos e rácios de


solvabilidade;
 Monitorização, acompanhado da prestação de serviços financeiros (excluindo as
instituições de crédito e as sociedades financeiras) por parte das microfinanças, onde
há uma fiscalização na recepção da informação de carácter geral e periodicidade
dilatada sobre os serviços financeiros por eles prestados (para fins estatísticos) com
vista ao seguimento da actividade financeira desenvolvida por eles;

Para cada um dos operadores será feita uma breve descrição dos serviços que estes podem
prestar e do seu capital mínimo.

Na supervisão prudencial há dois tipos de operações:

 Microbancos, que se subdividem em quatro tipos:


 Caixa Geral de Poupança e Crédito, onde os serviços prestados incluem: (i)
concessão de crédito; (ii) captação de depósito público; (iii) outras operações e serviço
estritamente necessários à execução destas operações; (iv) outros serviços financeiros
não proibidos por lei, tendo a obrigatoriedade de estar autorizados pelo Banco de
Moçambique numa base casuística, quando são de utilidade relevante e necessidade
para o público, tendo o operador condições técnicas e financeiras para os prestar com
qualidade. O capital mínimo deste tipo de micro bancos é 5.000.000,00 MT.
 Caixa Financeira Rural, onde os serviços prestados são iguais aos anteriores mas, a
obrigatoriedade de pelo menos 50% do seu foco ser no meio rural. O capital mínimo é
de 1.200.000,00 MT
 Caixa Económica, onde os serviços prestados são: (i) idênticos aos da Caixa Geral de
Poupança e Crédito (CGPC) com a nuance de que apenas poderá contratar depósitos à
ordem até 1 ano; (ii) um dos sócios deve ser uma instituição sem fins lucrativos ou de
fins sociais ou de solidariedade social, mantendo porém uma relação de controlo. O
capital mínimo é 2.400.000,00 MT.
 Caixa de Poupança Postal, onde os serviços prestados são: (i) mesmos que a CGPC,
tirando o facto de não poder conceder crédito e os fundos recebidos em depósito
público. Só podem ser Depósitos a Prazo (DP) e operações de baixo risco; (ii) Pelo
menos um dos sócios da Caixa Poupança Postal (CPP) tem de ser uma empresa de
prestação de serviços postais ou similares que com ele mantenha uma relação de
domínio. O capital mínimo é de 1.800.000,00 MT.
18

 Cooperativas de Crédito (CC), onde os serviços prestados são: (i) concessão de


créditos e captação de depósitos apenas aos membros; (ii) autorização prévia para a
prestação de serviços financeiros como pagamentos e aluguer de cofres; (iii) nas CC´s
é imperativo que a ligação entre os associados seja baseada numa relação pré existente
como por exemplo, terem a mesma profissão. O capital mínimo é 200.000,00 MT.

Há três operadores sujeitos a monitorização:

 Organizações de Poupança e Empréstimos (OPE), os serviços prestados são: (i)


depósitos concedidos apenas aos seus membros com a nuance dos mesmos não
poderem ser mais de duzentos e o montante máximo não poder ultrapassar os 10
Milhões de meticais; (ii) as OPE pressupõem a existência de membros de carácter
associativo ou cooperativo. O capital mínimo é 150.000,00 MT.
 Operadores de Microcrédito, os serviços prestados são: (i) concessão de crédito ao
público; (ii) podem ser pessoas singulares ou colectivas com excepção das sociedades
comerciais. O capital mínimo é 75.000,00 MT
 Intermediários de Captação de Depósitos, os serviços prestados são: (i)
intermediação de depósitos por conta de uma instituição de crédito autorizada a captar
depósitos; (ii) pode se tratar de qualquer entidade singular ou colectiva, pública ou
privada, incluindo comerciantes. Estes operadores não têm capital mínimo.

2.6. Impacto das microfinanças em Moçambique


Com o que verificámos até este ponto, é inquestionável que as microfinanças têm um papel
importante no combate à pobreza. A sua forma de actuar permitiu mudar a mentalidade de
algumas famílias e orientou-as de forma a conseguirem gerir os seus recursos. Por exemplo, a
promoção da poupança permite potencializar o aumento de recursos disponíveis para fazer
frente a despesas inesperadas e apostar em oportunidades de investimento que surjam. Este
investimento ocasiona um aumento da actividade económica local, cria emprego e,
consequentemente, aumenta o bem-estar económico e social dos seus intervenientes. O
incremento da economia rural exige um aumento do grau de monitorização da economia
nacional e existência de serviços financeiros para responder às necessidades do crescimento
do sector privado nacional, quer nas zonas rurais quer nas zonas urbanas (VALA, 2007).

Embora nas zonas urbanas haja maior número de instituições financeiras e serviços
financeiros mais desenvolvidos do que nas zonas rurais, a redução da pobreza é maior nas
19

zonas rurais que nas zonas urbanas. Este facto demonstra bem a eficácia das microfinanças
diante das populações mais carenciadas (SABAPATHY, 2008).

Podemos concluir que, em economias menos desenvolvidas, como é o caso da economia


moçambicana, faz sentido que a actividade financeira se inicie por instituições financeiras,
dado que estas não requerem grandes investimentos e possuem a capacidade e condições
necessárias para contribuírem para o aumento económico, criação/aumento de rendimentos e
criação de emprego, captação de poupanças e consequente desenvolvimento económico.
20

CAPÍTULO III – METODOLOGIA

3.1. Introdução
A realização da presente pesquisa compreendeu três fases. A primeira fase tratou-se de
realizar pesquisas bibliográficas e documentais, com vista a obter informações relacionadas
com o tema em estudo, através de pesquisas na internet, consulta de livros.

3.1.1. Tipo de Pesquisa

As pesquisas científicas podem ser classificadas, em dois tipos básicos: qualitativa e


quantitativa (OLIVEIRA, 2011, p. 24).

Quanto ao método qualitativo, segundo ZANELLA (2013, p. 99), preocupa-se em conhecer a


realidade segundo a perspectiva dos sujeitos participantes da pesquisa, sem medir ou utilizar
elementos estatísticos para análise dos dados.

A abordagem de cunho qualitativo trabalha os dados buscando seu significado, tendo como
base a percepção do fenômeno dentro do seu contexto. O uso da descrição qualitativa procura
captar não só a aparência do fenômeno como também suas essências, procurando explicar sua
origem, relações e mudanças, e tentando intuir as consequências (OLIVEIRA, 2011, p. 24).

ZANELLA (2013) diz que a pesquisa quantitativa é caracterizada pelo emprego de


instrumentos estatísticos, tanto na colecta como no tratamento dos dados, e que tem como
finalidade medir relações entre as variáveis.

Quanto ao tipo de pesquisa, o presente trabalho revela-se qualitativa.

3.1.2. Quanto ao objectivo

GIL (2002) diz que é possível classificar as pesquisas em três grupos: exploratórias,
descritivas e explicativas.

O mesmo autor referencia que a pesquisa exploratória tem como objectivo de proporcionar
maior familiaridade com o problema de modo a torná-lo mais explícito. Esta pesquisa tem
como objectivo principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em
vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos
posteriores.
21

ZANELLA (2013) diz que este tipo de pesquisa tem a finalidade de ampliar o conhecimento a
respeito de um determinado fenómeno, isto é, explora a realidade buscando maior
conhecimento.

Quanto a Ppesquisa descritiva, procura conhecer a realidade estudada, suas características e


seus problemas. Pretende “descrever com exactidão os factos e fenômenos de determinada
realidade (ZANELLA, 2013, p. 34).

As pesquisas descritivas têm como finalidade principal a descrição das características de


determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis
(OLIVEIRA, 2011, p. 21).

Para este trabalho configura-se a pesquisa explicativa e descritiva.

3.1.3. Técnicas de recolha de dados

As diferentes técnicas de colecta de dados mais utilizados são: bibliográfica, a entrevista, o


questionário, a observação e a pesquisa documental e de conteúdo.

Segundo OLIVEIRA (2011) a entrevista pode ser definida como conversa realizada face a
face pelo pesquisador junto ao entrevistado, seguindo um método para se obter informações
sobre determinado assunto. É uma técnica de interação social, uma forma de diálogo
assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra se apresenta como fonte de
informação.

O questionário refere-se a um meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o
próprio informante preenche.

Questionário é um instrumento de coleta de dados constituídos por uma série ordenada de


perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do
pesquisador (GERHARDT & SILVEIRA, 2009, p. 69).

Observação é uma técnica que faz uso dos sentidos para a apreensão de determinados
aspectos da realidade. Ela consiste em ver, ouvir e examinar os factos, os fenômenos que se
pretende investigar (GERHARDT & SILVEIRA, 2009, p. 74).

A observação ajuda o pesquisador a identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os


quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. A observação
também obriga o pesquisador a ter um contacto mais directo com a realidade (OLIVEIRA,
2011, p. 39).
22

Pesquisa documental e de conteudo é aquela realizada a partir de documentos,


contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente autênticos.

A pesquisa documental é a colecta de dados em fontes primárias, como documentos escritos


ou não, pertencentes a arquivos públicos; arquivos particulares de instituições e domicílios, e
fontes estatísticas (OLIVEIRA, 2011, p. 40).

De modo a alcançar os objectivos previamente traçados, optou-se por aplicar inquérito por
questionários aos beneficiários (os clientes), com a intenção de perceber qual o impacto do
microcrédito no distrito de Gondola, As entrevistas foram conduzidas de forma não
estruturada, evitando as questões directas que pudessem exortar os entrevistados a respostas
directas do tipo sim ou não, e facilitando os mesmos, que expressassem livremente sobre o
assunto em questão.

As entrevistas foram organizadas através de um contacto prévio com os beneficiário do


crédito efectuado directamente pela investigadora, mantendo o contacto com os colaboradores
do banco oportunidade de Moçambique de modo que o beneficiário (Cliente) transmite-se a
informação sem reserva nem desconfiança, o que permitiu relatar detalhadamente o estudo.

3.1.4. População do Estudo

População é o conjunto de todos os elementos ou resultados sob investigação (BUSSAB &


MORETTIN, 2002)

O presente trabalho teve como população alvo os beneficiários de microcrédito no Vale do


Infulene.

3.1.5. Amostra da população


De acordo com SOARES (2003) a população corresponde ao agregado de todos os elementos
que compartilham um conjunto comum de características de interesse para o problema sob
investigação. Desta feita, a caracterização da população alvo deste estudo são benificiário
(Cliente) de microcrédito do vale do Infulene.

Tratando-se de um estudo qualitativo, não haverá necessidade de se determinar uma


quantidade de amostra para validar a conclusão do estudo sob pena da conclusão não ser
válida, como acontece em estudos econométricos. Desta forma, serão entrevistadas 10 pessoas
seguindo as questões que constam no roteiro da entrevista. O tamanho da amostra será
determinado por conveniência.
23

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