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República de Moçambique

COREP

MÓDULO FINANCIAMENTO DE NEGÓCIOS

Manual do Professor

Certificado Vocacional de Contabilidade Nível 5

FEVEREIRO
2011
ÍNDICE

I. FINANCIAMENTO POR CAPITAIS PRÓPRIOS VS FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS ............................ 6

1.1. Capitais próprios ............................................................................................................................. 7

1.2. Capitais alheios ............................................................................................................................... 9

1.2.1. Financiamento de curto prazo ............................................................................................... 10

1.2.2. Financiamento a médio e longo prazo ................................................................................... 12

1.3. Organização da estrutura de capital .............................................................................................. 13

1.4. Como usar a alavancagem financeira?........................................................................................... 14

II. AS PRINCIPAIS ETAPAS DE UM PROCESSO DE FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS ........................... 17

2.1. O ciclo da empresa............................................................................................................................. 18

2.2. Fontes para financiamento de novos negócios ................................................................................... 20

2.3. Financiamento privado ...................................................................................................................... 21

2.4. Principais etapas de um processo de financiamento por capitais alheios............................................ 22

III. ATRIBUIÇÃO DE FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS: PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DE UMA INSTITUIÇÃO


FINANCEIRA ................................................................................................................................................. 25

IV. AS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO DISPONÍVEIS EM MOÇAMBIQUE............................................. 29

Instituições Financeiras por Tipo .......................................................................................................... 30

Bancos Comerciais................................................................................................................................ 30

Instituições Financeiras de Desenvolvimento ..................................................................................... 31

Bancos de Microfinanças ...................................................................................................................... 31

Operadores de Microfinanças............................................................................................................... 32

Fundos de Capitais de Risco/Private Equity ....................................................................................... 32

Mecanismos Alternativos de Financiamento ....................................................................................... 33

V. PRINCIPAIS ELEMENTOS A CONSIDERAR NA CONCESSÃO DE UM FINANCIAMENTO.................................. 35

Análise cadastral............................................................................................................................... 40

Análise de idoneidade ...................................................................................................................... 42

Análise financeira ............................................................................................................................. 43

Análise de relacionamento .............................................................................................................. 45


Análise patrimonial .......................................................................................................................... 46

VI. OS RÁCIOS E RESPECTIVOS PARÂMETROS DE LIQUIDEZ, ENDIVIDAMENTO E CAPACIDADE DE SERVIÇO DE


DÍVIDA DE UMA ORGANIZAÇÃO ................................................................................................................... 48

6.1. Principais rácios financeiros ............................................................................................................... 52

VII. PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM PLANO DE NEGÓCIOS PARA OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO ......... 55

7.1. Criação do plano de negócio .............................................................................................................. 58

7.2. Elementos financeiros do plano de negócios ...................................................................................... 67

VIII. RÁCIOS DE ANÁLISE DOS NÍVEIS DE ENDIVIDAMENTO E DE LIQUIDEZ .................................................... 76

8.1. Rácios de endividamento ................................................................................................................... 76

8.1.1. Autonomia Financeira ................................................................................................................. 77

8.1.2. Debt-to Equity Ratio .................................................................................................................... 79

8.2. Indicadores de liquidez ...................................................................................................................... 79

8.2.1. O grau de liquidez geral............................................................................................................... 79

8.2.2. O grau de liquidez reduzida ......................................................................................................... 82

IX. PREPARAÇÃO DE UM PEDIDO DE FINANCIAMENTO ................................................................................. 85

9.1. Investimento a realizar ...................................................................................................................... 86

9.2. Texto em Word ou noutro editor de texto ......................................................................................... 87

9.3. Os anexos ao estudo de viabilidade ................................................................................................... 89

X. AVALIAÇÃO DAS DIFERENTES IMPLICAÇÕES DAS ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO ............................. 91

10.1. Comparação entre alternativas de investimento .............................................................................. 91

10.2. Fluxos de Caixa ................................................................................................................................ 92

10.3. Avaliação de investimento ............................................................................................................... 92

10.3.1. Critério por Inspecção ............................................................................................................... 93

10.3.2. Período de Recuperação (“pay-back period”) ............................................................................ 93

10.3.3. Ganhos por capital investido ..................................................................................................... 93

10.3.4. Critérios económicos baseados no princípio de equivalência de fluxos de caixa......................... 94

10.4. Método do valor presente líquido .................................................................................................... 95

10.5. Método da taxa de retorno ............................................................................................................ 101

XI. APRECIAÇÃO DAS DIFERENTES ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO...................................................... 104


11.1. Financiamento de curto prazo........................................................................................................ 104

11.1.1. Crédito bancário de curto prazo .............................................................................................. 104

11.1.2. Empréstimos de curto prazo.................................................................................................... 105

11.1.3. Contas correntes caucionadas ................................................................................................. 105

11.1.4. Descobertos bancários ............................................................................................................ 106

11.1.5. "Factoring" .............................................................................................................................. 106

11.1.6. Créditos documentários .......................................................................................................... 107

11.2. Financiamento de médio e longo prazo.......................................................................................... 108

11.2.1. Recurso a capitais próprios...................................................................................................... 108

11.2.2. Empréstimos bancários de médio e longo prazo ...................................................................... 108

11.2.3. "Leasing" ou locação financeira ............................................................................................... 109

11.2.4. O capital de risco ..................................................................................................................... 111

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 112


Resultado de Compreender os principais conceitos, etapas e métodos
Aprendizagem 1: envolvidas na angariação e análise de alternativas de
financiamento

Critérios de
Desempenho:

(a) Distingue financiamento por capitais próprios de


financiamento por capitais alheios e identifica as principais
vantagens e desvantagens para a organização de ter
diferentes estruturas de financiamento para o respectivo
desempenho económico-financeiro, nomeadamente ao nível
da solvabilidade, rentabilidades corrente e líquida, e nível de
activos e volume de negócios

(b) Descreve as principais etapas de um processo de


financiamento por capitais alheios

(c) Compreende as principais preocupações que uma instituição


financeira demonstra na consideração e atribuição de
financiamentos bancários, descrevendo-as através do modelo
dos 5 Cs do crédito (carácter, capacidade, capital, colateral e
condições da envolvente)

(d) Identifica as principais instituições de crédito disponíveis em


Moçambique ao nível da Banca, instituições multilaterais, bem
como de Fundos Privados de Investimento

(e) Identifica correctamente os principais elementos a considerar


numa oferta de financiamento, nomeadamente, a duração do
financiamento, taxa de juro, nível de garantias bem como os
requisitos de natureza fiscal e legal para poder aceder a
financiamento
(f) Identifica correctamente os rácios e respectivos parâmetros
de liquidez, endividamento e capacidade de serviço de dívida
que uma organização deve cumprir no âmbito de um
financiamento por capitais alheios

(g) Descreve as principais componentes que devem constar de


um plano de negócios para obtenção de financiamentos,
nomeadamente, descrição dos empreendedores, do negócio,
estratégia de marketing, estratégia de operações, estrutura
accionista, orçamento do projecto e plano de financiamento,
plano de implementação, estudo de viabilidade, análise de
risco e impacto do projecto

I. FINANCIAMENTO POR CAPITAIS PRÓPRIOS VS FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS

O Financiamento de projectos de investimento trata das operações financeiras necessárias


para assegurar os recursos inerentes ao projecto. O financiamento do projecto pode ser de
curto prazo ou médio e longo prazo, consoante a exigibilidade dos pagamentos e a outros
diversos factores. Existe uma interdependência entre as decisões de investimento e as decisões
de financiamento. A forma de financiamento do projecto influência a sua rentabilidade,
potencia as decisões de investimento. O Financiamento pode determinar a viabilidade do
projecto. A empresa pode financiar o seu investimento com capitais próprios quando este
pertence à entidade investidora ou capitais alheios quando este se financia junto de terceiros,
levando a que haja quase sempre um custo implícito. A taxa de rentabilidade do capital próprio
e a taxa de rentabilidade do capital alheio evoluem com o aumento do endividamento.

Como se pode começar a notar, na decisão de qual a fonte de financiamento a utilizar, a


primeira grande escolha é sobre se o financiamento deverá ser externo ou interno. Nesta
escolha deverão pesar, entre outras questões, a perda ou ganho de autonomia financeira, a
facilidade ou possibilidade de acesso às fontes de financiamento e o custo financeiro (juros)
desse financiamento.

Principais fontes de financiamento disponíveis:

a) Auto-financiamento: corresponde aos fundos financeiros libertados pela actividade da


empresa.
b) Aumento de Capitais Próprios: corresponde ao aumento dos capitais próprios da
empresa por novas entradas de capital por parte dos actuais ou de novos sócios ou
accionistas.
c) Capitais Alheios: corresponde ao recurso a entidades externas para obtenção dos
capitais necessários à concretização dos investimentos tais como: crédito bancário,
leasing, crédito dos fornecedores de imobilizado, suprimentos de sócios, entre muitos
outros;
d) Incentivos Financeiros ao Investimento: corresponde aos diversos programas de apoio
criados pelo Estado para incentivar o investimento e a competitividade.

Desta forma e por outras palavras, estamos a dizer que as fontes de financiamento designam
o conjunto de capitais internos e externos à organização utilizados para financiamento dos
investimentos realizados.

Aqui nos concentraremos nas duas formas mais usadas que é são os capitais próprios e os
capitais alheios.

1.1. Capitais próprios


O termo capitais próprios pode ser visto numa dupla perspectiva, embora esteja em causa o
mesmo conceito: como representação do património num determinado momento de uma
empresa ou outra entidade ou como forma de financiamento das actividades de investimento e
exploração a que as empresas podem recorrer.

Entendidos como representação do património de uma entidade num determinado momento,


os capitais próprios, também designados por situação líquida, correspondem ao valor dos bens
(equipamentos, existências, meios monetários, etc.) e direitos (dívidas de terceiros), deduzidos
do valor das obrigações (dívidas a terceiros). E expressando:

Situação Líquida = valor dos bens (equipamentos, existências, meios monetários, etc.) + direitos
(dívidas de terceiros) - valor das obrigações (dívidas a terceiros).

A expressão em presença dos capitais próprios é a base da construção do balanço (documento


contabilístico fundamental), que é construído de forma a que se verifique a igualdade entre o
activo (onde estão representados os bens e direitos) e a soma da situação líquida com o passivo
(onde estão representadas as obrigações).
Quando se fala dos capitais próprios como fonte de financiamento, está em causa a
possibilidade de algumas das rubricas que os compõem se apresentarem precisamente como
meio de financiamento utilizado no âmbito do desenvolvimento das actividades de
investimento e/ou exploração. Tratando-se de capitais próprios, a origem destas fontes de
financiamento está precisamente nos detentores do capital da empresa. Assim, as empresas
podem recorrer neste âmbito aos seguintes instrumentos fundamentais:

 (Aumentos de) capital social; e

 Prestações suplementares.

O capital social (ou aumentos no caso de empresas já existentes) corresponde a entradas em


dinheiro ou espécie por parte dos sócios ou accionistas.

As prestações suplementares representam por sua vez financiamentos dos sócios nas
sociedades por quotas e apenas podem ser efectuadas por disposição expressa nos estatutos.
As prestações suplementares têm sempre dinheiro por objecto e não vencem juros.

Tanto o capital social como as prestações suplementares têm por regra um carácter definitivo,
ou seja, não são passíveis de ser reembolsados aos investidores, sendo, por consequência,
considerados fontes de financiamento de médio/longo prazo.

O peso percentual dos capitais próprios ao nível do financiamento do activo das empresas é um
indicador importante acerca da sua saúde financeira, sendo muitas vezes utilizado a nível da
análise financeira, através do indicador de autonomia financeira.

Sintetizando, o financiamento através dos capitais próprios pode ser feito de 5 maneiras:

1. Capital Social – Aumento do Capital subscrito pelos sócios ou accionistas da sociedade


no desempenho da sua actividade;
2. Auto-financiamento - obtido através dos recursos financeiros libertos pelo próprio
funcionamento da empresa que confere mais autonomia e flexibilidade na tomada de
decisões de investimentos, contribuindo para a redução do Custo do Capital.

Tendo algumas desvantagens que são: poder induzir uma redução da rentabilidade da
empresa e a perda de boas oportunidades de investimento, induzir à perda de disciplina
/rigor na gestão dos Capitais Próprios, pode, também, induzir ao aumento dos custos
implícitos dos Capitais Próprios (CP);
3. Cessão de Activos/desinvestimento – a empresa procede à alienação de activos
considerados não indispensáveis ao desenvolvimento regular da sua actividade.
4. Reforço de Capitais Próprios – Solicitação de contribuições adicionais de capital aos
sócios na forma de suprimentos. Os Sócios podem efectuar empréstimos (que se
designam por suprimentos) ás sociedades que tem participações sociais. Quer isso dizer
que a mesma pessoa pode ser sócio e credor de uma empresa. Os empréstimos de sócios
podem ser uma alternativa de financiamento no caso de ser difícil a obtenção de outro
tipo de crédito.
5. Capital de Risco – assumido por empresas especializadas em que consiste na
participação, normalmente, minoritária e temporária, no capital e gestão de empresas.

Para além dos capitais próprios, as empresas podem também recorrer aos denominados
capitais alheios, que são por norma reembolsáveis, seja a curto prazo ou a médio/longo prazo.

1.2. Capitais alheios


No decurso da sua actividade, as empresas têm naturalmente necessidade de recorrer ao
financiamento de capital como forma de garantir a aquisição e manutenção dos seus activos
corpóreos e incorpóreos e o desenvolvimento normal da sua laboração. Nesse contexto,
existem duas fontes de financiamento genéricas à disposição das empresas: recurso a capitais
próprios (por intermédio dos detentores de capital) ou recurso a capitais alheios.

O recurso a capitais alheios implica naturalmente o recurso a entidades financiadoras que


nessa qualidade assumam um carácter externo à empresa. Essas entidades podem ser várias,
designadamente fornecedores, instituições bancárias, sócios (quando concedam empréstimos à
empresa), etc. Qualquer que seja a forma do financiamento por capitais alheios, a empresa terá
naturalmente de proceder ao pagamento ou amortização das dívidas surgidas.

Dentro do recurso a capitais alheios, é usual diferenciar-se entre capitais de curto prazo
(quando a exigibilidade das dívidas se verifica a menos de um ano) e capitais de médio e longo
prazo (quando a referida exigibilidade se verifica a um ano ou mais).
Em termos de balanço, os capitais alheios a que a empresa recorra vão reflectir-se
naturalmente nas rubricas do passivo.
1.2.1. Financiamento de curto prazo

Crédito bancário: Operação pela qual uma instituição bancária coloca à disposição de um
cliente determinado montante e este se compromete a reembolsar a instituição na data
fixada antecipadamente, acrescido dos juros previamente combinados.
O crédito bancário poderá tomar a forma de crédito directo, caso em que a instituição
bancária coloca fundos à disposição de empresas e particulares (exemplos: desconto de
letras, de livranças e abertura de crédito através de conta corrente ou de empréstimo).
Quanto ao crédito bancário indirecto, a instituição bancária desembolsa fundos caso o
beneficiário do crédito não assuma os compromissos (exemplos: garantias bancárias, avais
ou aceites bancários).

Empréstimos de curto prazo: O objectivo é financiar operações de curto prazo (a 90, 120
ou 180 dias), por exemplo, para resolver dificuldades de liquidez momentâneas. Como
contrapartida, as empresas no fim do prazo convencionado com a instituição bancária terão
de restituir o valor do empréstimo acompanhado de juros postecipados.

Empréstimos em conta corrente: Tratam-se de contas correntes em que a instituição


bancária coloca à disposição da empresa um limite de crédito contratado. Geralmente estas
contas são válidas por 180 dias, podendo no entanto ser renovadas ciclicamente. Implicam o
pagamento de juros por parte da empresa contraente e uma garantia. Ainda, contas
correntes, eventualmente caucionadas é o estabelecimento de um tecto de crédito até ao
qual a empresa pode movimentar livremente através de transferências da conta corrente
para a sua conta bancária normal.

Desconto de livranças é utilização de uma figura bancária através da qual a empresa recebe
um determinado valor e se compromete a devolver esse valor ao banco numa determinada
data prefixada.

Descoberto bancário: Tem por objectivo ultrapassar dificuldades de tesouraria


momentâneas e implica a aceitação por parte da instituição bancária (geralmente só
concedida aos melhores clientes). Este tipo de crédito é mais caro do que o crédito normal
pois à taxa de juro das operações activas acrescentam-se normalmente dois pontos
percentuais. Por outras palavras, descoberto bancário é a situação em que a empresa, com
autorização bancária, mantém saldos negativos na sua conta bancária.
Crédito por assinatura: Consiste no cumprimento de uma obrigação pela instituição
bancária, condicionado ao não cumprimento de outra obrigação assumida pela empresa.
Quer isto dizer que se a empresa não assumir a sua responsabilidade a instituição bancária
procede ao pagamento da respectiva obrigação (exemplos: aval bancário e a fiança ou
garantia bancária). No entanto, a instituição bancária cobra geralmente uma comissão de
garantia (por um período de 3 meses).

Crédito documentário: Sob ordem de uma empresa (o ordenador), uma instituição


bancária responsabiliza-se por colocar determinado montante à disposição do vendedor (o
beneficiário), normalmente por intermédio de outra instituição bancária (o
correspondente). Assim, o vendedor tem a vantagem de garantir o recebimento atempado
do montante da venda. Este tipo de financiamento é, geralmente, utilizado em operações de
exportação/importação.

Factoring: Sistema aperfeiçoado de cobranças de vendas a prazo. Trata-se de uma


actividade que assegura o seu financiamento corrente através da tomada de créditos sobre
terceiros, substituindo assim o crédito de tesouraria. Através da cessão financeira, o
intermediário financeiro (a factor) adquire os créditos a curto prazo que os fornecedores (os
aderentes) concedem aos seus clientes (os devedores) e que advém da venda de produtos ou
da prestação de serviços. Ou ainda, factoring é o estabelecimento por parte da empresa de
um protocolo com uma empresa especializada através do qual esta liquida as dívidas dos
clientes da primeira ficando com o direito de receber essas dívidas posteriormente.

Sociedades financeiras para a aquisição de crédito: Instituições parabancárias que


exercem actividades de financiamento de aquisição a crédito de bens e serviços (concedem
crédito directo ao fornecedor, descontos, prestam garantias ou antecipam fundos sobre
créditos, por exemplo), bem como, prestam serviços directamente relacionados com as
formas de financiamento referidas, tais como gestão de créditos.

Papel comercial: Títulos de dívida emitidos por empresas e instituições não


governamentais, a curto prazo (o prazo máximo de cada emissão é de dois anos),
constituindo uma alternativa aos tradicionais títulos de renda fixa, em termos de aplicação
de fundos.
1.2.2. Financiamento a médio e longo prazo
Paralelamente, existem também diversas formas de financiamento a médio e longo prazo.
Nomeadamente:

Capital de risco: Participação (normalmente, temporária e minoritária) no capital próprio


de empresas com potencial de expansão e viabilidade, permitindo a partilha de risco do
negócio. Assessoriamente, capital de risco pode ser visto como entrada no capital da
empresa por parte de uma outra entidade com vista a melhorar a situação daquela e
posteriormente obter uma mais-valia na alienação da participação.

Empréstimos bancários que são, mais uma vez, uma situação típica em que a empresa
obtém um determinado valor de crédito que terá de devolver de acordo com um plano de
reembolso da dívida previamente estabelecido.

As principais características destes empréstimos são:

 O montante a contratar, definido entre o banco e a empresa que o solicita;


 O prazo de utilização do crédito, que depende do tipo de destino a que a empresa se
propõe para os fundos;
 A periodicidade dos reembolsos;
 A taxa de juro, que é geralmente indexada a uma taxa de referencia (por exemplo a
PRIME LENDING RATE) e um Spread que representa o prémio de risco que o banco
cobra à empresa cliente;
 Garantias apresentadas pela empresa, que podem ser de natureza real (hipoteca) ou
pessoal (aval).

Capitais alheios estáveis: Empréstimos de sócios (ou suprimentos), empréstimos


bancários, empréstimos obrigacionistas (como por exemplo, operações de junk bonds -
emissões de obrigações de elevado risco cuja remuneração é elevada), são algumas das
formas de financiamento em capitais alheios de que a empresa se poderá socorrer.

Leasing: Financiamento, por parte de intermediários financeiros, da aquisição de bens e


respectiva cedência em locação, mantendo, no entanto, estes intermediários a propriedade
do bem em questão como garantia. Também leasing pode se definir como o recurso a uma
empresa especializada com vista à aquisição de bens previamente definidos, através de uma
forma de reembolso estabelecida.
Empréstimos obrigacionistas são a emissão de títulos de dívida – obrigações.

Aqui os devedores estão obrigados a um pagamento regular fixo dos juros e ao reembolso final
do dinheiro emprestado. É importante ver que as autoridades fiscais encaram o pagamento de
juros como uma despesa. Isto significa que a empresa pode deduzir os juros aquando do
cálculo do seu rendimento colectável. Os juros são pagos a partir do rendimento antes de
impostos. Os dividendos e os lucros acumulados advêm do rendimento após o imposto.

1.3. Organização da estrutura de capital

Segundo Schroeder, Clark e Cathey (2005) a combinação (mix) entre a dívida e o capital
próprio de uma companhia é denominado de estrutura do capital. Os mesmos autores
acrescentam que ao longo dos anos tem-se debatido consideravelmente se o custo de capital de
uma firma varia de acordo com variadas estruturas de capital. Modigliani e Miller (1958)
concluíram que o custo de capital de uma empresa não é afectado por essa combinação
participativa entre dívidas e capital próprio, excepto quanto ao benefício da dedutibilidade de
impostos.

Na verdade, na grande maioria dos casos, as empresas financiam-se recorrendo a uma


combinação de capitais próprios e alheios.

Com efeito, quando se pensa em iniciar um projecto empresarial fazem-se contas aos capitais
próprios disponíveis para o investimento inicial. No entanto, é necessário ter em conta que o
recurso a capitais alheios permite a "alavancagem" dos capitais próprios, isto é, aumenta o seu
risco e também o seu retorno potencial.

Para a escolha do mix de financiamento (isto é, da percentagem de capitais próprios e de


capitais alheios/empréstimos) não existe uma fórmula universal, mas sim opções diferentes de
acordo com:

Ciclo de vida: Em regra, uma empresa na sua fase de lançamento é financiada quase na
totalidade por capitais próprios (alguns poderão ter a característica de capitais de risco),
pois a empresa está numa fase em que dificilmente poderá garantir com segurança o
pagamento dos juros e o reembolso dos capitais alheios. À medida que vai avançando para a
maturidade, a empresa poderá então recorrer a um maior nível de capitais alheios, pois já
gerará um nível de cash-flow suficiente para garantir com segurança o pagamento dos custos
de financiamento e o seu reembolso.

Percentagem de custos fixos na estrutura de custos: É normal que uma empresa com
muitos custos fixos tenha uma taxa de juro superior a uma empresa com custos
predominantemente variáveis, pois a primeira terá sempre que pagar em primeiro lugar os
seus custos regulares (renda, pessoal, etc.) e só depois pagará os encargos financeiros.

Risco do negócio: Também é intuitivo que uma empresa que actue em sectores de maior
risco (como a Internet ou a biotecnologia) tenha custos de financiamento superiores a uma
empresa que actue nos sectores mais tradicionais e menos arriscados da economia (como o
retalho alimentar ou a electricidade).

Percentagens de capital alheio: A empresa terá de ter em conta qual a taxa de juro que
consegue para diferentes percentagens de capital alheio. Se normalmente não é difícil
conseguir empréstimos bancários se estes representarem 20% ou 30% dos investimentos
totais (sendo o restante capitais próprios), tal não acontece se a situação for a inversa. Neste
último caso, quem emprestar o dinheiro exigirá uma taxa de juro muito superior por forma a
ser compensado pelo maior risco que estará a correr.

Na verdade, quer os capitais próprios quer os capitais alheios têm custos, o custo dos capitais
próprios é a taxa de retorno esperada do investimento, pelos accionistas/sócios, o custo dos
capitais alheios dividem-se em custos directos: taxa de juro, spreads e outras despesas e em
custos indirectos derivados à elevação do risco financeiro da empresa, que no futuro terá
custos mais elevados em financiamentos.

Os custos financeiros dos capitais alheios são considerados custos para efeitos fiscais, existe
uma poupança fiscal associada ao endividamento. Assim tanto maior o nível de endividamento
do projecto tanto maior a sua rentabilidade. A influência do benefício fiscal associado ao
financiamento por capitais alheios, na rentabilidade do projecto é designada por efeito
alavanca financeira.

1.4. Como usar a alavancagem financeira?


Como já foi visto, a ideia de alavancagem é que a rentabilidade dos capitais próprios investidos
em determinado projecto aumenta muito à medida que a percentagem de capitais alheios
utilizados é maior, desde que o nível de capitais alheios não seja tão elevado que ponha em
risco a viabilidade do projecto.

O efeito de alavancagem terá de estar sempre presente nas decisões de investimento, pois
poderá ser decisivo nas taxas de rentabilidade atingidas pelos capitais próprios.

Vamos ver este exemplo simples para um projecto de 1.000,00 Meticais de investimento:

PROJECTO A B C D E

(1) Investimento total 1000 1000 1000 1000 1000

(2) Rentabilidade esperada 10% 10% 10% 10% 10%

(3) Percentagem de capitais alheios 0% 20% 40% 60% 80%

(4) Montante de capitais alheios (1) X (3) 0 200 400 600 800

(5) Taxa de juro suportada 0% 6% 9% 14% 18%

(6) Taxa de imposto 35% 35% 35% 35% 35%

(7) Taxa de juro após imposto (5) x [1-(6)] 0% 4% 6% 9% 12%

(8) Retorno do investimento (1) x (2) 100 100 100 100 100

(9) Custo de financiamento (4) x (7) 0 7,8 23,4 54,6 93,6

(10) Retorno dos capitais próprios (8) - (9) 100 92,2 76,6 45,4 6,4

(11) Montante de capitais próprios (1) - (4) 1000 800 600 400 200

(12) Rentabilidade dos capitais próprios (10)/(11) 10,0% 11,5% 12,8% 11,4% 3,2%

Repare-se no exemplo que vale a pena ter uma maior percentagem de capitais alheios até 40%,
mesmo com a taxa de juro mais alta, e que ter uma percentagem superior a 40% já não é
recomendável, pois o aumento da taxa de juro diminui a rentabilidade dos capitais próprios. A
este efeito não é alheio o facto dos encargos financeiros serem dedutíveis fiscalmente, isto é,
uma taxa de juro de 6% transforma-se numa taxa real de 4%. A alavancagem só acontece
quando a rentabilidade dos investimentos é superior ao custo real do passivo. Em suma, a
empresa deverá escolher o mix de financiamento que maximize a rentabilidade dos capitais
próprios investidos no projecto.

Assim, o efeito alavancagem indica a variação percentual dos resultados líquidos resultante de
uma variação percentual nos resultados operacionais. Pode propiciar um aumento da
rendibilidade dos capitais próprios da empresa e, simultaneamente, provocar um aumento no
grau de risco financeiro da empresa.

Quanto maior o endividamento maior a rentabilidade do investimento, mas outros factores são
igualmente importantes e determinantes na decisão de financiamento, como por exemplo:
 Atitude face dos investidores face ao risco maior rentabilidade maior risco aos
accionistas;
 Atitude face à propriedade da empresa perda de influência e de parte da propriedade da
empresa;
 O risco do negócio e as empresas utilizam uma menor parte dos capitais alheios para
evitar o aumento do custo do capital;
 Rentabilidade dos investimentos auto-financiamento capacidade de gerar fundos
internamente;
 Relacionamento com a banca - sendo empresas pequenas e sem históricos ou gestores
sem credibilidade junto a banca;
 Condições de acesso ao financiamento bancário têm em conta a relação entre capitais
próprios e alheios;
 Estrutura de custos da empresa ou seja empresas com expressivo custos fixos tendem
ter maior taxa de juros que outras com predominantes custos variáveis.

Segundo as teorias de análise das decisões de financiamento de Myers designadas por teoria
de trade-off, a decisão é tomada em função dos custos benefícios da opção endividamento
versus capitais próprios.
II. AS PRINCIPAIS ETAPAS DE UM PROCESSO DE FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS

“Dinheiro é a semente do dinheiro, o primeiro centavo

é mais difícil de adquirir que o segundo milhão”

Jean Jacques Rousseau

Muitos dos empreendedores que criam uma nova empresa irão necessitar, em alguma altura do
crescimento do negócio, de recorrer a financiamento. De facto, são muitos os exemplos de
empreendedores que desenvolveram ideias geniais e criaram negócios que transformaram
mercados e quotidianos de muitas sociedades e que começaram sem recursos financeiros.

Estes empreendedores são exemplos de que é possível construir algo diferente, inovador e
economicamente desafiante, sem ter os recursos necessários para tal. Mas como são estas
ideias financiadas? E quais os financiamentos que mais se adequam a cada negócio? Nesta
secção abordaremos as fases de desenvolvimento de um negócio e analisaremos os
financiamentos que poderão estar disponíveis e serem adequados para cada uma dessas fases
para depois analisar as etapas de um processo de financiamento por capitais alheios.

Para a maior parte dos empreendedores que iniciam um negócio, o financiamento é um tema
desconhecido e, por vezes, até temido. Não obstante, a escolha do financiamento adequado é
normalmente determinante para que o lançamento de um negócio seja rápido e bem sucedido,
e as decisões de financiamento que são tomadas durante a fase inicial do negócio podem
afectar a maneira como este se irá desenvolver no futuro.

Para além da fase inicial, o empreendedor poderá necessitar de injectar mais capital na
empresa ao longo do desenvolvimento do negócio. Por este motivo, as diferentes possibilidades
de financiamento devem ser cuidadosamente avaliadas durante todas as fases, analisando
todas as alternativas disponíveis. Saber angariar os recursos financeiros mais adequados é uma
característica importante dos empreendedores. É necessário que estes possuam capacidades e
criatividade neste âmbito, para conseguirem atrair o capital necessário para financiar um
negócio que, muitas vezes, não possui qualquer histórico e tem um futuro incerto.
2.1. O ciclo da empresa
A maioria dos negócios tem um início incerto e não gera capital suficiente para cobrir todos os custos
iniciais nas primeiras fases de vida. Mesmo que o empreendedor trace um objectivo inicial, este
poderá ser alterado a qualquer altura do processo, pelo que o financiamento necessário também
poderá mudar (em natureza e quantidade) ao longo das diferentes fases do negócio.

Saber quando irá o negócio necessitar de mais financiamento é um problema que poderá ser
minimizado se o empreendedor traçar e delinear momentos (e depois monitorar estes momentos).
Desta forma, é possível às partes envolvidas (empreendedor e investidor) estabelecerem
compromissos financeiros e compreenderem as razões para eventuais falhas encontradas durante o
processo.

Este diagrama ilustra os ciclos cuja explicação se segue:


1) Semente / Seed
Neste estágio poderíamos dizer que existem apenas dois personagens: O aspirante a
empreendedor e a sua boa ideia. Normalmente nesta etapa não existe plano de negócios,
pesquisa de mercado e nem a concretização do conceito/ideia. Temos sim um mundo
das ideias.
Opções:
 Economias pessoais / familiares / amigos

2) Start-up

Nesta etapa já houveram algumas renúncias. Costuma-se dizer que pelo menos um dos
envolvidos já esteja alocado a tempo inteiro no projecto. Aqui provavelmente um estudo
de mercado já foi ou está sendo realizado, o plano de negócios está sendo refinado e
surge a necessidade de não somente fazer uma versão beta do produto/serviço mas
também de testá-lo com um nicho de clientes.

Opções:
 Incubadoras;
 Anjos investidores (Angel investor);
 Captação de recursos à fundo perdido

3) Primeiro estágio (crescimento inicial)

Aqui temos uma empresa já em operação e um produto/serviço que por sua vez já está
sendo testado no mercado e inclusive alguns retornos já podem ser colhidos neste
momento. Por isso, há uma necessidade maior de financiar o negócio, contratar
pessoas e principalmente conquistar mais projectos.

 Opções:

 Venture Capital (VC) (momento preferido para os VCs entrarem no negócio);

 Empréstimos em bancos (linhas de capital de giro com taxas reduzidas);

4) Segundo estágio (crescimento exponencial)

A empresa neste momento começa a atingir um patamar de vendas significativo a ponto


de buscar no mercado profissionais qualificados para expandir a equipa de trabalho e
também surge a necessidade de investir em infra-estrutura. Consequentemente a
necessidade de financiamento aumenta. Já é possível nesta etapa receber algumas
propostas de investimento, parceria, aquisição.

Opções:

 Venture Capital;

 Linhas governamentais

5) Colheita (maturação)

Neste estágio, o empreendedor vive o problema da maturação o seu negócio e entender


até que ponto vale a pena se manter na dianteira do mesmo. Concorrentes maiores
possivelmente irão fazer ofertas de aquisição e cabe ao empreendedor decidir se é o
momento de se desfazer do negócio, embolsar a ganhos financeiros e partir para a
próxima empreitada (mas desta vez com dinheiro no bolso).

Opções:

 Fusão/Aquisição (com um concorrente maior/menor);

 Venda do negócio para algum fundo de investimento no sector em que o seu


negócio actua;

 Abertura de capital;

A adequação das alternativas apresentadas a cada negócio altera-se consoante a evolução e a


maturação do mesmo, isto é, varia muito desde as fases iniciais – semente e start-up – até à
maturação e saída dos investidores na empresa.

O empreendedor que queira iniciar o seu negócio deverá percorrer vários passos que o ajudarão a
encontrar o financiamento ajustado às necessidades do seu projecto. Os caminhos a seguir podem
ser muito diversos, pelo que vale a pena explorar todas as alternativas. A seguir, descreve-se de uma
forma sintética cada uma destas alternativas.

2.2. Fontes para financiamento de novos negócios


Semente Start-up Crescimento inicial Crescimento exponencial Maturação

Empreendedor
 
Família/Amigos  
Business Angels   
Parceiros empresariais   
Capital de Risco   
Financiamento Público
   
Financiamento Privado    
Fonte: Smith & Smith (2000)

2.3. Financiamento privado


A forma de financiamento privado mais comum em Moçambique, dirigida ao sector
empresarial, é o tradicional recurso ao empréstimo bancário. Como acontece com outras
formas de financiamento, as necessidades em capital por parte das empresas vão variando
muito consoante o tipo, o tamanho e a fase de desenvolvimento da empresa que o solicita (e a
respectiva capacidade para dar garantias de suporte ao empréstimo bancário).

Por norma, este tipo de apoio financia tanto empresas recém criadas como empresas em fase
de expansão e maturação, mas as condições do empréstimo (incluindo taxas de juro), podem
ser muito distintas. Ao contrário do capital de risco, o empréstimo bancário é um instrumento
financeiro que proporciona às empresas recursos a longo prazo, sem haver qualquer
interferência do banco na gestão da empresa.

O direito ao retorno do capital e à remuneração do juro são normalmente garantidos (quase


sempre incluindo avales pessoais dos sócios), independentemente do sucesso ou insucesso da
empresa. Se o empreendedor ou a empresa falharem os pagamentos do capital, o credor pode
accionar diversos mecanismos legais, até à insolvência da empresa e penhora dos bens do
avalista.

Apesar de esta ser uma componente fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa
empresarial, raramente os empreendedores possuem a experiência necessária para decidir
adequadamente sobre a melhor forma de encontrar financiamento. Por outro lado, como não é
uma competência base necessária para o dia-a-dia da empresa, não é razoável contratar
alguém para esta função ou apenas porque tem experiência na angariação ou negociação de
financiamento.

Não obstante, é fundamental que quem lidera o negócio tenha apoio adequado e competente
nesta área, pelo que deverá criar as parcerias necessárias (por exemplo, associando-se a um
business angel com experiência) ou contratar alguém externamente que possa dar apoio no
processo de financiamento.
2.4. Principais etapas de um processo de financiamento por capitais alheios
O diagrama que se segue mostra as etapas importantes do processo de financiamento por
capitais alheios (o credito).

Apesar da facilidade e do crescimento da oferta de crédito a pessoa que toma o crédito é vista
como um risco, o que faz com que as instituições financeiras tenham de tomar diversos
cuidados antes de conceder o empréstimo, com o objectivo de minimizar esse risco e evitar o
prejuízo. Você sabe como funciona o processo de concessão de crédito nestas instituições? O
processo de crédito é definido em etapas, envolvendo a instituição financeira e o tomador de
crédito.

Vamos descrever cada uma das etapas como se segue.

DEFINIÇÃO DO MERCADO ALVO: nesta primeira etapa, a instituição financeira vai definir qual
o público que pretende atingir, estabelecendo produtos, instrumentos, estratégia, rendimento
mínimo etc. A selecção deve ser bem-feita, com o objectivo de garantir o sucesso das demais
etapas e evitar perdas.

ORIGEM: esta é a fase da captação do cliente, de acordo com a definição estabelecida na etapa
anterior. Vale ficar atento aos casos que são proibidos, por lei, de receber crédito, como é o
caso de pessoas envolvidas com actividades ilícitas e de contravenção.

ANÁLISE DO CLIENTE: o principal documento desta fase é a ficha cadastral. O preenchimento


correcto da ficha permite uma melhor análise por parte do responsável pela concessão que
deve avaliar, entre outros quesitos, se o candidato a tomador de empréstimo tem condições de
gerar caixa.

NEGOCIAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO: hora de estabelecer os critérios do crédito, as condições do


empréstimo, como prazo, taxas de juros etc. Este é o momento e definir o que o cliente precisa
e o que a instituição pode oferecer.

APROVAÇÃO: como o próprio nome já indica, é definir, com base nas etapas anteriores, se será
possível ou não conceder o empréstimo.

FORMALIZAÇÃO: fase importante, na qual o risco operacional está muito visível. Essa é a etapa
de documentar tudo o que foi acordado antes da efectivação do empréstimo. Todo o cuidado é
pouco para que detalhes importantes não fiquem para trás. Cabe às duas partes analisar com
cautela o documento antes de assiná-lo.

DESEMBOLSO: é o momento do empréstimo propriamente dito, ou seja, quando a instituição


disponibiliza o valor ao cliente.

ACOMPANHAMENTO: acompanhamento da transacção com o objectivo de se antecipar a


eventuais problemas e perdas.

LIQUIDAÇÃO: caso não seja detectado nenhum problema na fase anterior, este é o momento
de o cliente liquidar a dívida, ou seja, fazer o pagamento de acordo com a estrutura definida.

RENEGOCIAÇÃO: no entanto, caso algum problema tenha sido identificado na fase de


acompanhamento, é hora de renegociar a dívida, visando garantir o pagamento no final.

LIQUIDAÇÃO OU PREJUÍZO: após a renegociação, dá-se o pagamento da dívida ou configura-


se a perda, ou seja, ou o cliente consegue honrar o empréstimo ou o banco fica no prejuízo.

O objectivo de todo esse processo é, para o banco, uma garantia de que o contratante irá honrar
suas dívidas. No entanto, é importante frisar que esta é uma forma de diminuir a inadimplência
do consumidor.

A análise criteriosa por parte da instituição deixa claro, inclusive ao cliente, se ele terá
condições, ou não, de tomar um empréstimo. São cuidados que evitam o prejuízo da instituição,
mas que também colaboram com o bolso do tomador, que diante da facilidade do crédito pode
se ver tentado a contratá-lo, sem ter condições de honrar seus compromissos no futuro.
Vale lembrar, no entanto, que esse passo-a-passo é a forma correcta e criteriosa de instituições
financeiras analisarem a concessão do crédito. No entanto, existem outras formas, menos
burocráticas, de conseguir o empréstimo, mas que, com certeza, levam muito mais
consumidores ao endividamento e à inadimplência.

Dicas para Lidar com Bancos


1. Lembre-se que parte do trabalho dos bancos é lidar com pessoas na sua situação. No
entanto, não se atemorize, até porque você também lhes dá dinheiro a ganhar. Por
outro lado, existem outros bancos e estes nem sequer são um parceiro estratégico.
2. Não marque reuniões apenas para pedir dinheiro emprestado. Apresente-se a si a à
sua empresa. Tente perceber os critérios de concessão de crédito, nomeadamente
para empresas como a suam, antes de o pedir.
3. Prefira bancos que já o conhecem (empréstimos anteriores, por ter conta aberta, por
conhecer funcionários bem colocados e com quem mantêm uma relação de
confiança). No crédito bancário, a confiança e consideração pessoais podem ser mais
importantes que a própria qualidade do projecto apresentado. Se essa relação não
existe, procure criá-la (abra conta, contraria empréstimos pequenos, enfim, crie uma
história).
4. Saiba concretamente quanto precisa, para quê e como poderá calendarizar o
pagamento. Ter uma proposta claramente definida é a melhor forma de credibilizar
a mesma.
5. Seja sincero na resposta às questões que lhe são colocadas. Isto é fundamental para
cimentar uma relação de confiança.
III. ATRIBUIÇÃO DE FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS: PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DE UMA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Análise de Crédito é o momento no qual o agente cedente irá avaliar o potencial de retorno do
tomador do crédito, bem como, os riscos inerentes à concessão. Tal procedimento é realizado,
também, com o objectivo de ser possível identificar os clientes que futuramente poderão não
honrar com suas obrigações, acarretando uma situação de risco de caixa à organização.

Através da Análise de Crédito é possível identificar se o cliente possui idoneidade e capacidade


financeira suficiente para amortizar a dívida que se pretende contrair.

A análise de crédito é um processo organizado para analisar dados, de maneira a possibilitar o


levantamento das questões certas acerca do tomador do crédito. "Este processo cobre uma
estrutura mais ampla do que simplesmente analisar o crédito de um cliente e dados financeiros
para a tomada de decisão com propósitos creditícios" (BLATT, 1999, p. 93).

Segundo Santos (2000), o processo de análise e concessão de crédito recorre ao uso de duas
técnicas: a técnica subjectiva e a técnica objectiva ou estatística. A primeira diz respeito à
técnica baseada no julgamento humano e a segunda é baseada em processos estatísticos.

Em relação à primeira técnica, Schrickel observa que: "a análise de crédito envolve a habilidade
de fazer uma decisão de crédito, dentro de um cenário de incertezas e constantes mutações e
informações incompletas". (SCHRICKEL, 2000, p. 27). Ou seja, grande parte da análise de
crédito é realizada através do julgamento do agente de crédito, baseada principalmente na
habilidade e experiência do mesmo.

Santos (2006), ainda explica que esta técnica baseia-se na experiência adquirida,
disponibilidade de informações e sensibilidade de cada analista quanto a aprovação do crédito.

A análise subjectiva do tomador do crédito é importante, visto que através da experiência do


agente de crédito é possível identificar factores de carácter, capacidade, capital e condições de
pagamento. Porém, essa análise não pode ser realizada de maneira aleatória, é preciso estar
baseada em conceitos técnicos que irão guiar a tomada de decisão

A análise ocorrerá conforme as necessidades do solicitante e dentro de um nível de risco


aceitável, a partir de documentação apresentada e análise da mesma, objectivando a
maximização dos resultados da instituição, segundo Schrickel (2000).
As instituições financeiras utilizam-se de bancos de dados, públicos e privados, para a avaliação
do risco de crédito, ou seja, da probabilidade de recebimento do montante emprestado ao
cliente (consumidor de serviços bancários). De acordo com a avaliação que é feita pelo banco,
acedendo esses cadastros, estabelece-se a taxa de juros a ser cobrada em um negócio bancário
específico ou mesmo o banco pode deixar de conceder o empréstimo.

As informações são obtidas junto a empresas e organizações que mantêm esses bancos de
dados informacionais. Em sua maioria, esses bancos de dados possuem apenas informações
negativas, relativas à inadimplência de dívidas.

Estas informações são obtidas na Central de Risco de Crédito nos Bancos Centrais que tem
dupla finalidade:
a) Uma primeira e originariamente prioritária, de facilitar a supervisão bancária pelo
Banco Central, ao identificar com precisão as instituições financeiras com problemas em
suas carteiras de crédito;
b) Uma segunda e não menos importante, que é a de registar informações para auxiliar as
instituições bancárias no processo de avaliação da concessão de crédito a seus clientes.

Relativamente as preocupações das instituições de crédito na concessão de crédito, Gitman


(1997, p.696) questiona: "A actividade de selecção de crédito de uma empresa busca
determinar se deve ser concedido crédito a um cliente e quais os limites quantitativos que
devem ser impostos. Quais seriam as informações necessárias e suas fontes para que se
pudesse avaliar a capacidade creditícia de um cliente?”.

Assim, os cinco C's considerados serão descritos a seguir. O primeiro, o Carácter, segundo Berni
(1999, p.103), é a "Forma de agir e reagir da empresa diante de situações adversas; seriedade e
esforços empreendidos diante de crises”. Para Gitman (op.cit., p.696), é "O histórico do
solicitante quanto ao cumprimento de suas obrigações financeiras, contratuais e morais. Os
dados históricos de pagamento e quaisquer causas judiciais pendentes, ou concluídas contra o
cliente seriam utilizados na avaliação do seu carácter."Dessa forma, de forma concisa, o aspecto
carácter é determinado pela intenção da empresa em cumprir seus compromissos e pode ser
medido por sua análise histórica.

A capacidade é o segundo C dos cinco c's descritos. Berni (1999, p.103) coloca:
"Será fundamental um conhecimento do cronograma de recebimentos e pagamentos da
empresa [...]; Para avaliar a capacidade de uma empresa, devemos considerar os seguintes
aspectos: Informações: dados obtidos a respeito da empresa e seus administradores, origem,
conhecimento, relacionamento e actuação no mercado. Tradição: tempo de permanência no
negócio, respeito e qualidade dos produtos. Modus operandi: forma como a empresa opera com
bancos, clientes, fornecedores e funcionários. Dados Técnicos: facturação, nível de vendas”.
Para Gitman (1997, p.696), a Capacidade é "o potencial do cliente para quitar o crédito
solicitado. Análises dos demonstrativos financeiros, com ênfase especial nos índices de liquidez
e de endividamento, são geralmente utilizadas para avaliar a capacidade do solicitante de
crédito”.

Dentro dessa óptica, a capacidade, nesse caso, significa a possibilidade de geração de caixa da
empresa, levando em consideração o conhecimento do seu nível tecnológico, seu limite de
produtividade e, principalmente, a qualificação de seus administradores.

O terceiro, o Capital, sobre ele, alerta Berni (1999, p.104): Algumas empresas não podem ser
medidas pela facturação, mas o capital, o património e os recursos próprios podem ser um
óptimo determinante para o crédito.

A forma como a empresa reaproveita seus lucros, o consequente aumento de capital, a


constituição de reservas pode auxiliar na viabilização do crédito.
Segundo Gitman (1997, p.696), é o Capital, "a solidez financeira do solicitante, conforme
indicada pelo património líquido da empresa. O total de exigíveis em relação ao património
líquido, bem como os índices de lucratividade são, frequentemente, usados para avaliar o
capital do demandante de crédito”.

Em outras palavras, no caso de pessoas jurídicas, através da análise dos balanços pode se ter a
exacta dimensão do comportamento do capital, por outro lado, no caso das pessoas físicas, a
acumulação de capital mostra sua competência e, geralmente, o património imobiliário é o
melhor indicador de uma história de sucesso.

O quarto, os Colaterais são todos os tipos de activos que podem ser dados como garantia
adicional em uma operação de crédito. Gitman (1997, p.696) define como: "O montante de
activos colocados à disposição pelo solicitante para garantir o crédito.
Naturalmente, quanto maior, esse montante, maior será a possibilidade de se recuperar o valor
creditado, no caso de inadimplência. O exame do balanço patrimonial e a avaliação de activos
em conjunto com o levantamento de pendências judiciais podem ser usados para estimar os
colaterais."
Berni (1999, p.104) reforça as ideias de Gitman e descreve que o colateral "vai informar-nos
sobre as garantias adicionais que poderão amparar uma linha de crédito”.

O último elemento dos cinco c's são as Condições. Gitman (op.cit., p.697) observa que: "As
condições económicas e empresariais vigentes, bem como circunstâncias particulares que
possam afectar qualquer das partes envolvidas na negociação.... fazem parte da avaliação das
condições."

Berni (1999, p.104), discorda de Gitman e coloca que: "as condições da linha de crédito
(modalidade, custo, prazo e garantias) também são um parâmetro decisório do crédito”.
Contudo, a partir da colocação de Gitman as condições são, factores externos do mercado, ou
circunstâncias especiais, como sazonalidades, que podem alterar o desenvolvimento da
operação.

"Os parâmetros básicos da concessão de crédito são avaliados mediante profunda análise da
ficha cadastral do cliente, a qual deverá contemplar um sistema de pontuação, visando a
quantificar os parâmetros definidos e atribuir pesos de acordo com a relevância de cada
informação obtida. Conforme a pontuação obtida, a concessão de crédito poderá ser
automática, ou ser analisada de acordo com a política de crédito da empresa" ( NIKOLAY
2004, apud SECURATO 2002).

Dentro do que foi exposto, o sucesso financeiro de uma empresa depende directamente e
intensamente das práticas de concessão de crédito.
IV. AS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO DISPONÍVEIS EM MOÇAMBIQUE
As Instituições Financeiras exercem função de grande importância, relacionada com o
crescimento e com o desenvolvimento económicos, em especial ao actuar na captação de
recursos e na concessão de créditos, com o respectivo spread bancário, além dos demais
serviços prestados. Portanto, são os agentes económicos que propiciam o fomento à produção
de riquezas, ao financiar actividades produtivas.

Por tal motivo, é inimaginável concebermos uma economia de mercado, nos moldes actuais,
sem a presença de Instituições Financeiras fortalecidas.

O sistema financeiro caracteriza-se como ferramenta indispensável para o progresso de uma


economia de mercado, sendo certo que a existência de um sistema de crédito estruturado e
eficiente é premissa indispensável para o desenvolvimento económico e, por consequência,
social.
O sistema bancário moçambicano está a registar assinaláveis transformações acompanhando
os desenvolvimentos internacionais do sector. Estas transformações consubstanciam-se no
desenvolvimento de novos produtos financeiros, investimento em infraestrutura tecnológica,
modernização e expansão dos canais de distribuição (ATMs, abertura de mais agências) com
vista a responder à enorme e crescente procura pelos serviços bancários.

Desse universo do sistema bancário, em termos de propriedade os capitais nacionais


representavam 26,7 por cento sendo o remanescente, capitais estrangeiros. Portugal e África
do Sul representam em conjunto 44,4 por cento dos capitais totais e 60,6 por cento dos capitais
estrangeiros.

A presença de bancos de capitais estrangeiros tem trazido enormes vantagens para o sistema
bancário em termos de gestão, transferência de tecnologia, conhecimentos, bem como
observância de padrões elevados de actividade bancária definidos nos países de origem.

O quadro que se segue mostra a evolução das instituições financeiras nos últimos dois anos em
Moçambique.
Tipo de Instituição 2009 2008
Bancos 14 14
Microbancos 3 1
Cooperativas de 6 6
Crédito
Sociedades de 1 1
Locação Financeira
Sociedades de 1 1
Investimento
Sociedades Emitentes 1 1
ou Gestoras de
Cartões de Crédito
Casas de Câmbio 20 22
Organizações de 9 4
Poupança e
Empréstimo
Operadores de 95 72
Microcrédito

Instituições Financeiras por Tipo

Bancos Comerciais
African Banking Corporation Mozambique, SA (BancABC)

Banco Comercial e de Investimentos, SA (BCI)

Banco Internacional de Moçambique, SA (Millennium BIM)

Banco Terra, SA

Barclays Bank Moçambique, SA

First National Bank Moçambique, SA (FNB)

ICB – International Bank Of Commerce

KfW IPEX-Bank GmbH

Mauritius Commercial Bank Moçambique, SA (MCB)

30
Moza Banco, SA

Instituições Financeiras de Desenvolvimento


ADIPSA (Apoio ao Desenvolvimento de Iniciativas privadas no Sector Agrário)

African Development Bank (ADB)

African Management Services Company (AMSCO)

AGRIFUTURO

Belgian Investment Company for Developing Countries (BIO)

Danish International Development Agency (Danida)

DEG- Deutsche Investitions- und Entwicklungsgesellschaft

Development Bank of Southern Africa (DBSA)

Dutch Ministry of Foreign Affairs

European Investment Bank (EIB)

Ex-change Mozambique

Industrial Development Corporation of South Africa (IDC)

International Finance Corporation (IFC)

NORSAD

Norwegian Investment Fund for Developing Countries (NORFUND)

PROPARCO

Bancos de Microfinanças

31
Banco Oportunidade de Moçambique, SA (BOM)

Banco ProCredit, SA

Banco Tchuma, SA

Socremo - Banco de Microfinanças, SA

Operadores de Microfinanças
AfricaWorks

Agência de Desenvolvimento Económico da Província de Manica (ADEM)

Associação de Desenvolvimento Sócio Económico de Matutuíne (HLUVUKU)

Associação de Técnicos e Profissionais em Desenvolvimento Rural (kukula)

Associação Kwaedza Simukai Manica

Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural (AMODER)

Associacão Phambeni Makweru (APHAMA)

Cooperativa de Crédito Micro-Empresários de Angónia (CCMEA)

Fundo de Desenvolvimento da Mulher (FDM)

Kulima

OPHAVELA

Projecto HOPE Moçambique

The Hunger Project Mozambique

Fundos de Capitais de Risco/Private Equity


African Century

32
Aureos Capital

Lonrho Plc

MARIS Capital

Whatana Investments

Mecanismos Alternativos de Financiamento


Bolsa de Valores de Moambique

Evolução de agências autorizadas de bancos


Província 2009 2008
Cidade de Maputo 157 146
Província de 34 32
Maputo
Gaza 24 19
Inhambane 29 21
Sofala 37 32
Manica 21 16
Tete 20 17
Zambézia 17 14
Nampula 42 32
Cabo-Delgado 10 8
Niassa 10 6
Total 401 343

Os dados indicam que em Moçambique temos o seguinte quadro:

 O número de instituições bancárias em funcionamento no país totalizam 14 bancos;

 O total de operadores de microcrédito licenciados e em exercício incrementou


indicava até 2009, um total de 96 unidades;

33
 O número de agências de bancos em funcionamento incrementou para perfazer um
total de 352 em todo o país de um total de 401 autorizadas;

 O total de ATM´s e POS´s somavam 620 e 4,668, respectivamente.

O aumento do número de agências bancárias, principalmente nos distritos, (2009 em 51


distritos) revela por um lado, que as instituições de crédito tem respondido positivamente
ao apelo do Governo de Moçambique, de expandir os serviços financeiros às zonas rurais, e,
por outro, à necessidade de abranger maior número da população, de alargar a base de
clientes e captar poupanças.

Uma instituição multinacional de forte presença em Moçambique é a Corporação Financeira


Internacional, da sigla inglesa (IFC) é fundada em 1965.

A IFC é um exemplo de capacidade de adaptação do Grupo do Banco Mundial. O período em


que aparece o IFC, na história de pensamento económico, era marcado pela transição do
Keynesianismo que concede ao Estado um papel relevante para o período dos liberais e
neoliberais com Milton Friedman a cabeça e recuperada uma das máximas de Schumpeter
small is beautiful (o pequeno é giro,). Estes trazem o agente económico privado para a figura de
proa, motor e peça indispensável para o crescimento e desenvolvimento económicos. Esta
instituição é criada, por isso, para contribuir, activamente, no crescimento económico nos
países em desenvolvimento através de criação e fortalecimento do sector privado com (i)
empréstimos directos a este sector, (ii) participações financeiras em empreendimentos
privados, (iii) prestar assistência técnica tanto aos governos como ao sector privado no
esforço de promoção, crescimento e afirmação deste sector. Segundo estatísticas do Banco
Mundial, da carteira total de investimentos da IFC, 16% está na África sub-sahariana. Em
Moçambique vai crescendo o número de exemplos de participação desta instituição. Aliás, a
criação de escritórios desta instituição no país é mais uma prova desse comprometimento.

34
V. PRINCIPAIS ELEMENTOS A CONSIDERAR NA CONCESSÃO DE UM FINANCIAMENTO

A concessão de crédito é um dos pilares do desenvolvimento económico, com grande


repercussão nos indicadores sociais.

Quanto às operações bancárias, a elevação do grau de garantia é uma das condições para a
redução dos encargos ao tomador final, em virtude da diminuição do risco, criando assim
cenário favorável à universalização de acesso ao crédito.

Em Moçambique, a concessão de crédito é actividade exercida por Instituições Financeiras,


encontrando-se prevista no texto constitucional, bem como devidamente regulamentada
por meio de normas infraconstitucionais, sob a fiscalização do Banco Central.

A importância da concessão de crédito é apontada por Keynes e Kalecki, os dois fundadores


do estudo da macroeconomia, os quais entendem que, em uma economia de mercado
desenvolvida, empresários e consumidores podem gastar conjuntamente acima de suas
receitas correntes, desde que haja um sistema de crédito. Até então, a crença dominante era
que o crescimento da renda da comunidade e dos lucros empresariais dependia da
disposição de um grupo social, especialmente dos empresários (mas também dos
consumidores, do governo ou dos estrangeiros) de gastar acima de sua renda corrente, isto
é, de colocar mais dinheiro na economia do que as receitas auferidas.

35
O crédito bancário movimenta a economia, garante o comércio e a fluidez dos mecanismos
de troca. “A confiança subsistente entre homens de comércio nas suas relações mercantis é
o crédito, conforme definiu Henry Thornton no século XIX [...] Haverá pouca confiança e
crédito e, igualmente, pouco comércio, numa sociedade na qual a lei e o senso moral são
fracos e, em consequência, o direito de propriedade privada é inseguro”. A certeza e o
amparo jurídico às relações é pressuposto indispensável ao desenvolvimento económico,
em especial para a universalização de acesso ao crédito com redução da taxa de juros.

A questão comporta ainda uma intervenção valorativa: se de um lado as Instituições


Financeiras são vistas por alguns segmentos da sociedade como verdadeiros agiotas
institucionalizados, é inegável que se constituem agentes económicos essenciais por
permitirem o acesso ao crédito, elemento que fomenta a actividade e o crescimento
económico, de relevante função social.

Muitos factores interferem na concessão de crédito e na composição dos encargos


incidentes, mas, por certo, a certeza e a liquidez do título representativo da operação, bem
como a existência de garantias, trazem reflexos na fixação da taxa de juros e do spread
bancário (ou seja, “a diferença entre as taxas de juros de aplicação – empréstimos – e de
captação”) e demais encargos incidentes, com base na maior ou menor probabilidade de
recuperação pelo credor.

Os direitos reais de garantia ganham destaque, pois com a vinculação de um bem ao


cumprimento de uma obrigação, ocorre a elevação do nível de garantia. No entanto, deve-se
levar em consideração as formalidades envolvidas para a regular constituição do gravame,
ou seja, o custo-benefício em relação ao montante da operação objectivada.
As garantias reais são representadas pela obrigação acessória que uma pessoa assume
perante o credor, vinculando um bem ao cumprimento da obrigação principal, caso o
devedor não pague ou não possa cumprir com o pactuado.

36
As garantias reais são dotadas de “realidade”, conforme prelecciona Pontes de Miranda,
pois conferem ao seu titular, credor da obrigação, um poder particular e dependente,
suficiente para apreender o bem outorgado, “se estiver em poder de terceiro para fazer
valer aquela razão creditória e aqueles direitos de preferência a qualquer outro credor”.

A análise cadastral do cliente é importante para definir o êxito de uma operação, ou seja, de
aumentar as chances de recuperação de crédito. No entanto, é inquestionável que a aptidão
dos instrumentos para formalização da operação é factor relevante.

A análise do risco envolve vários aspectos. Inicialmente, o risco está relacionado à figura do
tomador e à possibilidade de concretizar a operação nos moldes pleiteados. Mas a análise
também compreende a avaliação dos juros e demais encargos a serem fixados, bem como a
escolha do instrumento que será adoptado para a formalização.

Outro elemento exigido no financiamento é o aval que é instituto de direito comercial e


corresponde à garantia que é dada por terceiro estranho ao título de crédito, pela qual se
prende à obrigação cambial, isto é, fica solidariamente vinculado ao título avalizado, pelo
compromisso que assume de pagar a importância que nele se contem, quando não a pague
o devedor, que é por ele garantido.

O aval corresponde a uma garantia cambial, firmada por terceiro – o avalista – ao avalizado,
garantindo o pagamento do título. O avalista pode ser um terceiro estranho ao título ou
alguém que já seja obrigado.

O avalista assume uma obrigação igual à de seu avalizado, tanto quanto aos efeitos, como
no que tange às consequências.

Duas são as características principais do aval: de um lado, a autonomia; de outro, a


equivalência. O avalista assume, perante o credor do título, uma obrigação autónoma, mas

37
equivalente à do avalizado. Ou, para dizer o mesmo, por termos diversos, o aval é dotado de
autonomia substancial e acessoriedade formal.

Outro elemento do financiamento é a hipoteca. A palavra hipoteca é derivada do grego


hypothéke onde teve origem este instituto jurídico, cujo significado é coisa entregue pelo
devedor, por exigência do credor, para garantia de uma obrigação.

Conforme Silvio Rodrigues, a hipoteca “é o direito real que recai sobre um imóvel, um navio
ou um avião, que, embora não entregues ao credor, o asseguram, preferentemente, do
cumprimento da obrigação”. Assim sendo, não paga a dívida, cabe ao credor o direito de
executar o bem dado em garantia, para com o produto apurado em praça satisfazer o
cumprimento, preferentemente e com exclusão dos outros credores, que só terão direito às
sobras, se houver. É um contrato acessório, pressupondo a existência de um contrato ou
uma obrigação principal por ele garantido.

De se considerar ainda a definição do mestre Washington de Barros Monteiro, pela qual a


hipoteca é direito real, declarado por lei de modo expresso. Como direito real, vincula o
bem gravado, acompanha-o sempre onde quer que se encontre, aderindo à coisa.

As principais características da hipoteca são:


a) O objecto gravado deve ser de propriedade do devedor ou de terceiro;
b) O devedor ou terceiro continua na posse do imóvel hipotecado;
c) É indivisível, pois a hipoteca grava o bem na sua totalidade, não acarretando
exoneração correspondente da garantia o pagamento parcial da dívida;
d) Tem carácter acessório (garante uma dívida principal; não existe garantia sem uma
obrigação principal);
e) A modalidade convencional, é negócio solene;
f) Confere ao seu titular direito de preferência e de sequela;
g) Assenta-se em dois princípios: o da especialização e o da publicidade.

38
São diversas as instituições financeiras que podem atender as micro e pequenas empresas,
formais. Tanto os bancos públicos quanto os privados possuem alternativas de serviços e
produtos financeiros adequados ao segmento. Além disso, as Cooperativas de Crédito e as
Instituições de Microcrédito têm sistematicamente aumentado o número de operações com
empreendimentos de pequeno porte.

Nestas instituições financeiras existem inúmeras soluções (linhas) de crédito para


empréstimos de capital de giro e para financiar projectos de investimento, com ou sem
capital de giro associado.

Para saber qual a linha de crédito é mais adequada, deve-se buscar estas alternativas
perante os agentes financeiros, identificando suas características e condições. A primeira
pesquisa deve ser realizada na instituição de relacionamento do cliente e, se estender para
outros agentes financeiros.

É função das instituições financeiras decidirem sobre a aprovação ou não da solicitação de


empréstimo, bem como liberar os recursos financeiros para as microempresas e empresas
de pequeno, médio e grande porte.

Para essa decisão, os bancos executam, pelo menos, as seguintes tarefas:


a) Análise do cadastro da empresa, dos sócios e dos avalistas;
b) Enquadramento da operação de acordo com suas soluções / linhas de crédito;
c) Definição das garantias sobre o financiamento e negociação com o interessado;
d) Análise de crédito de acordo com o projecto de viabilidade económica e financeira;
e) Aprovar ou recusar o pleito do financiamento.

39
Análise cadastral

A análise cadastral refere-se ao processo de análise dos dados de identificação dos clientes.
Conforme Blatt (1999) evidencia, o sucesso da concessão do crédito depende de
informações confiáveis a respeito do cliente. Santos (2006) complementa, dizendo que:

"O levantamento e a análise das informações básicas de crédito são requisitos


fundamentais para a determinação do valor do crédito, prazo de amortização, taxas de
juros e, se necessário reforço ou vinculação de novas garantias." (SANTOS, 2006, p. 47).

Os bancos só devem conceder empréstimos (crédito) a tomadores se possuírem adequadas


e não restritivas informações cadastrais. Schrickel (2000) reafirma todos estes factos,
dizendo que as instituições de crédito devem munir-se de elementos informativos
essenciais e indispensáveis sobre o potencial tomador do crédito, antes de manter qualquer
tipo de relacionamento concreto ou formalizar alguma operação de crédito.

Porém, todas as instituições de crédito devem atentar para o sigilo das informações
colectadas pelos agentes de crédito. Schrickel (2000) sugere que as informações e
documentação pessoal devem ser mantidas arquivadas sobre minucioso controle. Tal
atenção é necessária para que ocorra sigilo das informações e para que melhor lhe permita
o controle, manuseio e actualização dos dados.

Os dados que deverão ser identificados para análise, segundo Santos (2006), deverão ser os
seguintes:

 Escolaridade;
 Estado Civil;
 Idade;
 Idoneidade;
 Moradia (se própria ou alugada e tempo de residência);
 Número de dependentes;

40
 Renda (principal e complementar);
 Situação legal dos documentos; e
 Tempo no actual emprego ou actividade exercida.

Para a empresa são exigíveis as demonstrações financeiras do último exercício (balanço,


demonstrações de resultados, fluxo de caixa). Os estatutos da empresa e os corpos sociais,
moradia, NUIT são outros dados cadastrais exigidos. Normalmente os bancos solicitam o
balancete do último período e outra que é verificar na Central de Risco do Crédito para ver
o cadastro da empresa.

As demonstrações financeiras são sínteses elaboradas, segundo normas específicas, dos


valores e informações contidos em registos contábeis da empresa com os seguintes
demonstrativos:
 Balanço Patrimonial (BP), que retrata a posição patrimonial da empresa em
determinado momento;
 Demonstração de Resultados do Exercício (D.R. E), que mostra como se formou o
lucro ou o prejuízo em determinado período;
 Demonstração das Mutações do Património Líquido, que apresenta as variações de
todas as contas do Património Líquido ocorridas entre dois períodos;
 Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), que evidencia a
variação ocorrida no Capital Circulante Líquido (activo circulante – passivo
circulante), de um período para outro.

A análise por meio de índices é usada para comparar o desempenho e a situação de uma
empresa com outras empresas, ou consigo mesma ao longo do tempo, envolve os métodos
de cálculo e a interpretação dos índices financeiros, para avaliar o desempenho e a situação
da empresa, a análise por meio de índices não envolve meramente a aplicação de uma
fórmula a dados financeiros, para se obter um determinado índice. O mais importante é a
interpretação do valor do índice.”(GITMAN, 1997, p. 102, 103)”.

41
Santos (2006) ainda defende que no processo de análise de crédito deve-se considerar
todas as informações relacionadas com a situação financeira do cliente, pois a análise
conjunta dos dados irá fornecer informações mais precisas para a tomada de decisão. Para
Schrickel (2000), o agente de crédito deve atentar para a seguinte documentação legal:

 Certidão de Casamento, se casado (a);


 Bilhete de Identidade (BI);
 Número Único de Identificação Tributária (NUIT);
 Cópia da Declaração de Imposto de Rendimento
 Declaração de Bens
 Comprovante de rendimentos;
 Comprovante de residência;
 Procurações (se aplicável)
 Ficha Cadastral preenchida e assinada.

Por fim, Blatt (1999) explica que a ficha cadastral é um resumo da vida do cliente, por meio
da qual o credor tem a possibilidade de obter um conhecimento inicial sobre o mesmo. Ele
ainda define como “[...] um conjunto de informações financeiras e não financeiras que
subsidiam o processo decisório de crédito, auxiliando na avaliação [...] do cliente. (BLATT,
1999, p. 78).

Análise de idoneidade

Já a análise de idoneidade consiste no levantamento e análise de informações relacionadas


à idoneidade do cliente com o mercado de crédito. Segundo Santos (2006), esta análise
baseia-se na colecta de informações sobre o solicitante do crédito junto às empresas
especializadas na gestão de risco de crédito.

42
Para Santos (2006), a análise da idoneidade deve ser um das primeiras informações
averiguadas, pois caso o cliente não possua informações negativas as demais informações
poderão ser colectadas e analisadas para a análise do risco total.

A idoneidade do cliente pode ainda ser classificada em quatro categorias, conforme Santos
(2006):

 Não Restritivos: quando não há informações negativas sobre o cliente no mercado


de crédito;
 Alertas: quando há registos antigos no mercado de crédito, já solucionados, que não
impedem a concessão de novos créditos. Apenas ocorre a exigência de uma análise
mais criteriosa por parte do agente de crédito;
 Restritivos: indicam que o cliente possui informações desabonatórias no mercado
de crédito. São exemplos: registos de atrasos, renegociações e geração de prejuízos a
credores. Podem ser classificadas como de carácter subjectivo (de uso interno de
instituições do mercado de crédito) ou de carácter objectivo, tais como protestos,
registos de cheques sem fundo, acções de busca e apreensão, dentre outros; e
 Impeditivos: são apontamentos que impedem que pessoas físicas actuem como
tomadores de crédito, a exemplo de bloqueios de bens, proibições legais de
concessão de crédito, dentre outros.

No caso das empresas, a sua idoneidade é atesta através dos seus órgão sociais e para
pequenas empresas é através dos seus próprios proprietários (sócios).

Análise financeira

Em relação à análise financeira, Blatt (1999) explica que a mesma é primordial para a
determinação das forças e fraquezas financeiras do cliente, a partir das informações das
demonstrações financeiras do mesmo. A análise da renda total do cliente e posterior
análise de compatibilidade com os créditos pretendidos é uma fase de vital importância no
processo de análise dos riscos de crédito.

43
Para Black; Morgan (apud Santos, 2006), deve ser dada atenção especial à análise da renda,
pois consideram existir relação directa entre a renda e a taxa de inadimplência de pessoas
físicas. Santos (2006) ainda diz que é de suma importância determinar o valor exacto da
renda e a sua regularidade, bem como a probabilidade de continuar sendo recebida. Desta
maneira é possível identificar factores que poderão vir a prejudicar o futuro pagamento da
dívida contraída.

Autores como Santos (2006), Blatt (1999) e Schrickel (2000) definem os Demonstrativos
de Pagamento, Declaração de Imposto de Renda e Extractos Bancários como as melhores
fontes de informações sobre a renda do cliente.

Os Demonstrativos de Pagamento, fornecidos pelos empregadores dos solicitantes de


crédito, constituem-se na fonte mais utilizada pelas instituições de concessão de crédito. A
Declaração do Imposto de Renda é uma fonte alternativa de dados que possibilita um
melhor cálculo sobre a renda média mensal do solicitante, segundo Santos (2006).

No caso de pessoas físicas autónomas ou profissionais que trabalhem em actividades


sazonais, o agente de crédito deve tomar especial cuidado com discrepâncias na renda
média mensal do cliente. Para Santos (2006), nessa situação, a comprovação da renda é de
extrema dificuldade e por isso o agente de crédito deve se basear em cálculos aproximados
a partir de demonstrativos bancários, tais como extratos de contas bancárias.

É sugerido, por Santos (2006), a construção de um Balanço Patrimonial adaptado do


solicitante do crédito, por parte do agente de crédito. Tal instrumento visa a uma melhor
visualização dos activos e passivos a fim de determinar a situação financeira e capacidade
de pagamento do cliente.

Os activos representam os bens, tanto financeiros como patrimoniais, dos clientes. São
colocados em ordem de liquidez, iniciando pelos activos que melhor possam ser
convertidos em receita imediata, representados por valores em conta corrente, salário e
outros, até os activos menos líquidos, como por exemplo, veículos e imóveis. Os passivos
44
representam todos os compromissos que o cliente assumiu com o mercado de crédito ou
para a compra de bens e serviços. São organizados de maneira a iniciar pelos de maior
solvência (imediata) até os de maior prazo de pagamento.

Segundo Santos (2006), quanto maior for o saldo do activo total em relação ao passivo
total, maior será a capacidade de o cliente honrar as dívidas adquiridas. Neste caso, o
património líquido, calculado pela diferença entre o total dos activos e o total dos passivos,
será um excelente indicador da riqueza do cliente e, por conseguinte, da capacidade de
pagamento do mesmo.

Para as empresas, o mérito económico-financeiro do projecto (estudo de viabilidade) com a


análise dos indicadores de viabilidade mais importantes (Taxa Interna de Retorno e o Valor
Actual ou Presente Líquido assim como Tempo de Recuperação do Capital Descontado).

Adicionalmente, a empresa apresenta as demonstrações financeiras para se calcular os


rácios financeiros de solvência, endividamento, liquidez para se apurar o mérito financeiro
e capacidade para amortização da dívida.

Análise de relacionamento

A análise de relacionamento baseia-se principalmente na análise realizada sobre as


informações extraídas do histórico do relacionamento do cliente com o credor e o mercado
de crédito. Quando o cliente já é conhecido da instituição de concessão de crédito, é
possível extrair informações de créditos adquiridos anteriormente, taxas de juros
aplicadas, frequência de utilização, pontualidade na amortização, entre outros.

Santos (2006) acredita que essa análise de relacionamento auxilia na análise da idoneidade
do cliente e pode garantir uma decisão mais favorável ou não à concessão do crédito.
Contudo, aponta a dificuldade dos agentes de crédito de conseguirem informações precisas
junto a outras instituições de crédito devido à necessidade de manter sigilo sobre as

45
operações com que trabalham. Conhecer o património dos clientes é importante no
processo de análise de crédito, principalmente para que seja possível vinculá-lo em
contratos de crédito sempre que for verificada a existência de algum risco maior.

Análise patrimonial

A análise patrimonial é frequentemente utilizada para a avaliação das garantias que os


clientes podem oferecer para vincularem ao contrato de concessão, segundo Santos (2006).
O autor define garantia como a vinculação de um bem que assegure a liquidação do crédito
caso o tomador não honre suas dívidas.

Entretanto, Blatt (1999) defende que a concessão do crédito não pode estar atrelada ao
bem disposto como garantia, pois assim a organização estaria comprando um bem que não
é de interesse.

Santos (2006) complementa dizendo que a finalidade da garantia é evitar que factores
imprevisíveis impossibilitem a quitação do crédito adquirido pelo solicitante. O Banco
Central estabelece que as instituições financeiras que trabalham com a concessão de
crédito devem exigir dos solicitantes garantias suficientes para garantir o retorno do
capital utilizado na operação.

Porém, fica a cargo da instituição de concessão de crédito definir quais garantias serão
aceitas, bem como a real necessidade das mesmas para a realização da operação de crédito.
Além disso, Santos (2006) diz que as garantias reais (bens) devem ser correctamente
analisadas para se verificar a possibilidade de solvência das mesmas, assim como seu valor
de mercado real e a existência de acções legais que impeçam que sejam utilizadas.

Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade é uma fase extremamente importante do processo de análise de


concessão de crédito. É através dela que o agente de crédito ou analista financeiro irá

46
monitorar a situação macroeconómica a fim de prever situações que poderão aumentar o
nível de risco da operação.

Santos (2006) cita como exemplo o acompanhamento de taxas de juros. Esses aumentos
podem desencadear redução do nível de actividade económica e até recessão, reduzindo a
capacidade de geração e retenção de caixa das pessoas físicas, comprometendo a
capacidade de pagamento das mesmas.

É importante que os analistas de crédito acompanhem a situação do mercado a fim de


prever situações de desequilibro na economia que poderão acarretar um aumento na
inadimplência de suas carteiras de crédito. Blatt (1999) explica que uma correcta avaliação
do mercado pode ajudar a definir quais taxas serão praticadas, quais prazos de pagamento
são mais favoráveis e em quais situações, o solicitante poderá vir se tornar inadimplente.

47
VI. OS RÁCIOS E RESPECTIVOS PARÂMETROS DE LIQUIDEZ, ENDIVIDAMENTO E CAPACIDADE
DE SERVIÇO DE DÍVIDA DE UMA ORGANIZAÇÃO

Um rácio financeiro é uma razão valores escolhidos do relatório e contas de uma empresa,
com o objectivo de determinar alguma característica financeira dessa empresa, seja a sua
solvabilidade, risco, nível de valorização ou qualidade como investimento.

Existem muitos rácios já utilizados de forma sistemática para determinar a condição


financeira de uma empresa. Esses rácios possuem utilidade tanto para pessoas internas à
empresa (gestão da empresa) como para entidades exteriores (investidores, analistas,
financiadores, fornecedores e clientes).

Os valores utilizados para calcular os rácios são provenientes maioritariamente de


documentos produzidos pela empresa:

 O balanço;
 A demonstração de resultados e;
 O mapa de cash flow.

Podem ainda ser necessários valores oriundos de entidades externas como:

 Valores produzidos em mercados (cotações, taxas de juro, etc);


 Dados macroeconómicos;
 Valores respectivos a empresas concorrentes na mesma indústria ou no mercado
em geral, para efeitos de comparação.

Os rácios financeiros facilitam a optimização da proporção de capitais alheios no


financiamento da empresa. Comparando os valores dos rácios financeiros com os de outras
empresas do mesmo sector, podemos igualmente averiguar a razoabilidade do nível de
endividamento da empresa.

48
Os rácios financeiros permitem:

 Estabelecer o nível de valorização de uma empresa;


 Comparar esse nível ao de empresas no mesmo sector;
 Comparar esse nível a empresas de sectores diferentes;
 Comparar o nível de avaliação de sectores;
 Comparar o nível de avaliação de mercados;
 Comparar o nível de avaliação de produtos financeiros diferentes;
 Comparar a evolução de uma mesma empresa em períodos de tempo diferentes;
 Quantificar factos / características da empresa;
 Apontar indícios / detectar anomalias;
 Fazer comparações no tempo e no espaço.

Os rácios podem ser classificados pela área que analisam, por exemplo:

 Rácios de bolsa - medem o nível de avaliação da empresa atribuído pelo mercado


de capitais;

 Rácios de rendibilidade - medem a capacidade da empresa gerar lucros e


remunerar o accionista;

 Rácios de endividamento - medem o nível de endividamento da empresa, e


respectiva capacidade de lhe fazer face;

 Rácios de liquidez - medem a liquidez da firma e respectiva capacidade de fazer


face aos compromissos;

Rácios de actividade - medem a eficiência da empresa no seu ciclo produtivo;

Antes de partir para a análise dos rácios financeiros propriamente dita convém decompor
os diferentes tipos de capitais alheios em função do seu custo (se tem ou não de suportar

49
juros) e da sua permanência na empresa. Desde logo, é importante fazer esta análise por
três razões principais:

 Em primeiro lugar, porque os passivos que suportam juro expõem a empresa ao


risco de variação de taxas de juro, sendo sem dúvida interessante analisar o impacto
que uma variação significativa nas taxas de juro terá nos custos da empresa;

 Em segundo, porque quanto maior for a proporção dos custos de financiamento que
suportam juro no total do activo da empresa, maior vai ser o seu custo de
financiamento, pelo que haverá que avaliar até que ponto a empresa tem capacidade
de cumprir com as suas obrigações perante bancos e outras instituições de crédito;

 Em terceiro, porque, como já mencionamos, convém haver um certo equilíbrio entre


passivos e activos de longo prazo na empresa, sendo de evitar o financiamento de
activos de longo prazo recorrendo a empréstimos de curto prazo.

Então, em termos visuais teríamos:

No passivo de longo prazo encontramos normalmente empréstimos bancários cujo


vencimento é superior a um ano e empréstimos que os sócios fazem à sociedade (os
chamados suprimentos). Estes empréstimos servem para financiar os activos de longo
prazo, tais como terrenos, máquinas e outros bens duradouros. Na maior parte dos casos,
estes empréstimos estão sujeitos a juros.

50
No passivo de curto prazo temos os empréstimos bancários necessários para fazer face a
necessidades de tesouraria e a investimento em fundo de maneio, tais como mercadorias e
matérias-primas. Além destes empréstimos de curto prazo, as empresas recorrem também
a créditos cedidos pelos fornecedores sob a forma de prazos de pagamento alargado, tal
como vimos no artigo anterior. As facilidades de pagamento cedidas por fornecedores não
costumam estar sujeitas a juros, sendo uma das formas preferidas de financiamento de
empresa.

E quanto ao financiamento por capitais próprios, qual será o seu custo? Embora os sócios
da empresa não possam exigir o pagamento de juros pelo investimento que realizam na
empresa, será legítimo assumir que esperem obter lucros. Seja sob a forma de dividendos
seja pela valorização do património da empresa, os sócios esperam sempre um retorno do
seu investimento.

E porque os sócios se expõem a um risco maior do que os credores da empresa (em caso de
falência ou dissolução da empresa, os sócios são os últimos a serem ressarcidos do
investimento que realizaram, depois de cumpridas as obrigações com todos os credores e
na maioria dos casos a falência conduz a uma situação em que nada sobra após liquidadas
as dívidas perante terceiros), vão certamente exigir uma taxa de retorno superior à taxa de
financiamento por capitais alheios. Não poderia ser de outra forma, pois em função de
maior risco, os investidores esperam retornos superiores, caso contrário não teriam
incentivo para se exporem, preferindo activos de nível de risco inferior com o mesmo
retorno.

É então legítimo assumir que o financiamento por capitais próprios é mais oneroso do que
o financiamento por capitais alheios. E sendo assim, seria fácil de concluir que o custo
médio ponderado do capital (a média ponderada entre custo de capitais próprios e alheios)
é menor quanto maior for a proporção de capitais alheios na empresa. Acontece, no
entanto, que a partir de um certo grau de endividamento, alguns problemas vão sendo
criados, levando os credores a exigir um juro maior pelos empréstimos que concedem à
empresa.

51
Esses problemas são normalmente associados à perda de controlo de gestão da empresa,
que é posta em causa quando o grau de endividamento é muito elevado, ou seja, quando a
empresa se endivida em excesso começa a ser difícil de manter o controlo sobre ela, pois os
credores vão ganhando influência na gestão. Por outro lado, os credores apercebendo-se do
maior nível de risco a que se expõem quando financiam a empresa, vão exigir taxas de juro
maiores e levantando mais obstáculos à concessão de crédito.

Então, como podemos ver no gráfico seguinte, é verdade que o custo médio ponderado do
capital (k) diminui à medida que a proporção de capitais alheios aumenta (D/E), até um
certo limite. A partir desse limite, o custo médio ponderado do capital volta a aumentar,
pelas razões expostas.

6.1. Principais rácios financeiros

Solvabilidade total - expressa a capacidade da empresa para satisfazer os compromissos


com terceiros, à medida que se vão vencendo.

52
 Um valor superior a 1, significa que o valor do património é suficiente para cobrir
todas as dívidas da empresa.
 Um valor inferior a 1, significa que a empresa está impossibilitada de satisfazer todos
os seus compromissos com meios próprios.

Autonomia financeira - expressa a participação do capital próprio no financiamento


da empresa.

 Um valor inferior a 1/3, significa uma excessiva dependência de capitais alheios.


 Um valor maior ou igual a 1/3, representa um bom grau de autonomia
financeira.

Dependência financeira - expressa a participação dos capitais alheios no financiamento


da empresa, ou seja, o nível de endividamento.

 Rácio de autonomia + Rácio de dependência = 1

Liquidez geral - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas obrigações a curto


prazo com os activos circulantes.

 Um valor superior a 1, significa que a empresa pode utilizar activos líquidos para
pagar as dívidas a curto prazo.
 Um valor inferior a 1, significa que a empresa tem dificuldades de tesouraria.

53
Liquidez reduzida - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas dívidas a curto
prazo com os activos circulantes, sem contar com as existências.

 Consideram-se bons os valores entre 0,9 e 1,1.


Se houver uma diferença muito grande entre a liquidez geral e a liquidez reduzida,
significa que existem stocks "mortos", com elevados custos para a empresa.

Liquidez imediata -expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas dívidas a curto


prazo, apenas com as disponibilidades.

 Um valor superior a 0,9 poderá ser demasiado elevado e significar uma má aplicação
dos fundos de tesouraria.

54
VII. PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM PLANO DE NEGÓCIOS PARA OBTENÇÃO DE
FINANCIAMENTO

Antes de lançar qualquer projecto, seja ele desenvolvido através de uma nova empresa ou
através de uma empresa já existente, é útil sistematizar, planear e reflectir sobre tudo
aquilo em que tem vindo a pensar. Um plano de negócios assume-se como um instrumento
que permite analisar a viabilidade de um determinado projecto empresarial. Elaborar um
plano de negócios é, portanto, fazer uma reflexão sobre os custos, a rentabilidade e a
exequibilidade do referido projecto.

Com efeito, ainda que não esteja no imediato à procura de financiamento externo, a
elaboração de um Plano de Negócios é útil, na medida em que constitui uma grelha de
acção e orientação para o empreendedor e para o seu staff. Além disso, quanto mais cedo
estiver concluído, mais cedo estará apto a apresentar a sua proposta a potenciais
investidores. Um Plano de Negócios é uma parte de um processo mais vasto - a
implementação da sua ideia! O ideal é ver um plano como uma parte essencial de todo um
processo de criação de valor, porque mesmo o melhor dos planos é desperdiçado se
ninguém o seguir e implementar.
Existem algumas qualidades num plano que fazem com que seja mais provável que este
possa trazer resultados:

SIMPLES

OBJECTIVO
PLANO ACÇÕES RESULTADOS
REALISTA

COMPLETO
AFINAÇÃO

55
Um dos primeiros erros a evitar é fazer um Plano só para apresentação de uma proposta ou
candidatura.
O Plano deve ser pensado, desde o início, como o documento que traduz a estratégia que
queremos implementar e que será a base da vida da Empresa nos primeiros tempos da sua
existência.

Um Plano de Negócios será difícil de avaliar e/ou implementar a menos que seja Simples,
Objectivo, Realista e Completo. Mesmo que seja todas estas coisas, um bom plano precisará
sempre de alguém que o supervisione e/ou implemente.
O plano depende dos empreendedores e das suas equipas, particularmente durante o
processo de compromisso e lançamento, e durante a implementação que se irá seguir.
O sucesso da implementação começará, assim, com um bom plano.

Existem elementos que tornam mais provável que o plano seja bem sucedido.
Algumas pistas essenciais para a construção de um bom plano incluem:
1. O plano é simples? É de fácil entendimento e execução? Transmite os seus
conteúdos de forma fácil e prática?
2. O plano é objectivo? Os seus objectivos são concretos e mensuráveis? Inclui acções
específicas e actividades, cada uma delas com datas limite, pessoas responsáveis e
orçamentos detalhados?
3. Inclui um modelo financeiro sólido e bem fundamentado?
4. O plano é realista? Inclui todos os elementos necessários?

Não existe propriamente um número de páginas ideal, dependendo isso do grau de


complexidade do produto ou do historial da empresa (partindo do princípio que o Plano só
é apresentado a investidores algum tempo depois do arranque do projecto). No entanto,
lembre-se de dois aspectos essenciais.
 Os potenciais investidores têm muitos outros documentos para ler (inclusivamente
outros Planos de Negócio), por isso não exagere no conteúdo do seu.

56
 O mais provável é que os potenciais investidores não sejam especialistas no negócio
proposto. Assim sendo, seja claro e conciso, procurando focar-se naquilo que
realmente interessa ao investidor: como é que o seu negócio vai crescer e geral cash.

A partir do momento que existe uma sistematização escrita de todo o modelo definido, o
empreendedor pode ter uma ideia muito clara sobre se todos os aspectos financeiros e não-
financeiros considerados não põem em causa a viabilidade do projecto.

"Quem são essas pessoas afinal?"


Catorze perguntas "pessoais" que um plano de negócios deve responder

1. De onde são os fundadores?


2. Que escolas frequentam?
3. Onde trabalham, e para quem?
4. O que realizaram - ao nível profissional e pessoal - anteriormente?
5. Qual a sua reputação na comunidade empresarial?
6. Que experiência tem, directamente relevante, para a oportunidade que estão a
tentar agarrar?
7. Que perícia, capacidades, conhecimentos têm?
8. Até que ponto são realistas, relativamente às probabilidades de sucesso do
empreendimento e as atribuições que vão enfrentar?
9. Quem mais é preciso estar integrado na equipa?
10. Tem preparação para recrutarem pessoal de alta qualidade?
11. Como é que vão reagir à adversidade?
12. Tem perfil para fazerem as inevitáveis escolhas difíceis que será necessário fazer?
13. Qual o empenho que depositam nesta iniciativa empresarial?
14. Quais são as motivações?

57
7.1. Criação do plano de negócio
Como referimos no início, existem inúmeras obras e textos disponíveis sobre a elaboração
de Planos de Negócios e recomendamos a leitura de algumas destas obras para aumentar a
profundidade deste exercício.
No entanto, é possível sistematizar os passos essenciais para a sua elaboração e é esse
caminho que lhe mostramos aqui.

A estrutura base de um plano de negócios


i. Sumário executivo;
ii. O histórico da Companhia e/ou dos promotores;
iii. O mercado subjacente;
iv. A nova ideia e o seu posicionamento no mercado;
v. O Projecto/ Produto/ Ideia
vi. Estratégia Comercial;
vii. Projecções Financeiras;
viii. Gestão e controlo do negócio;
ix. Investimento necessário.

Sumário Executivo
Este é o capítulo mais importante de um plano de negócios. Deve sumarizar em não mais de
500 palavras toda a apresentação, que será mais detalhada nos capítulos seguintes. O
sumário executivo é a primeira coisa a ser lida pelos potenciais investidores. Se o sumário
executivo não for claro, pode desencorajar os analistas de rever o plano completo. A
maioria dos financiadores recebe muito mais pedidos de financiamento do que aqueles em
que pode investir, e por isso, não se dispõe a correr riscos potenciando situações
duvidosas.

Existe um perigo real de que o sumário executivo venha a falhar a sua missão, dado que ele
é, invariavelmente, o último capítulo a ser elaborado. Pode parecer que é uma coisa simples
de ser escrita em uma ou duas páginas. É normal ser preparado depois de um lento e
58
laborioso trabalho de elaboração do restante relatório, pelo que é compreensível que exista
a tendência de o acabar o mais rapidamente possível. Quem o escreve está confiante de que
contemplou todos os aspectos mais importantes do trabalho, e que, mesmo que alguma
coisa falhe no sumário executivo, a informação se encontrará em alguma das restantes
partes do plano. No entanto, não deverá assumir que os potenciais financiadores estarão
dispostos a percorrer todo o relatório em busca de informações que considerem vitais.

Acima de tudo, dever-se-á ter presente que, nas poucas páginas do sumário executivo,
deverá estar contida a mensagem mais poderosa e persuasiva de todo o documento.
Por isso, é crucial o esforço extra de verificar que este se encontra completo e claro.

Será de grande utilidade que ele seja revisto por alguém que seja neutro e que goze da
confiança de quem o elaborou.

Só os números mais importantes deverão ser usados para tornar a situação o mais forte
que seja possível.
Deverá ainda ser dada cuidadosa atenção para evitar erros de gramática e dispensáveis
erros de escrita, uma vez que estes tendem a ter um efeito negativo desproporcionado.
Pontos essenciais a focar no Sumário Executivo:
1) Qual é o nome do negócio e a sua área de actividade?
2) Qual a missão?
3) Qual é o âmbito do negócio e o mercado potencial para os seus produtos?
4) Porque constitui uma proposta inovadora e vencedora?
5) Quais os recursos, humanos e financeiros que são necessários?
6) Qual o prazo previsto para começar a apresentar lucros?
7) Quais são os pontos fortes e fracos do projecto?
8) Quais as suas referências e a sua experiência relevante para o projecto concreto?

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O Histórico da Companhia e/ou dos seus Promotores
O histórico da companhia ou a experiência empresarial do empreendedor, devem ser
apresentados.
Os pontos mais importantes a salientar são:
1) Como é que o projecto surgiu e como é que foi introduzido na companhia. É uma
empresa nova ou não e, se sim, porque é que se decidiu criar uma.
2) De que forma é que a experiência passada dos empresários pode contribuir para o
sucesso do projecto? Têm experiência de gestão? Conhecem em profundidade a área
de negócio?
3) Quais são os pontos fortes e os pontos fracos do projecto na óptica dos seus
promotores? 9

A Missão
A missão é uma declaração global que define os objectivos gerais da companhia,
expressando os propósitos fundamentais da gestão no seu conjunto, fornecendo linhas
gerais de desenvolvimento. É o ponto de partida para a definição dos objectivos
fundamentais da companhia.
O principal objectivo desta declaração é dar resposta à seguinte questão: “Porque é que a
companhia existe?”, assim como dar aos empregados e parceiros uma noção clara do que é
a empresa, melhorando os seus objectivos de longo prazo e explicitando como o seu
desempenho deve ser dirigido por forma a alcançar esses mesmos objectivos.
Para além do nome, formato legal, etc, uma companhia define-se essencialmente pela sua
Missão de Negócio.

O Mercado Subjacente
O mercado é a “arena” onde os planos da empresa irão ser levados a cabo. É muito
importante definir o mercado para o novo produto em termos de dimensão, estádio de
desenvolvimento, tipos de clientes e de competidores.

60
Quantos clientes existem e qual a sua influência no mercado?
O tamanho do mercado ou o consumo anual do produto será definido em termos do âmbito
do projecto em consideração. O tamanho do mercado pode ser avaliado pelo nível do
consumo do produto numa dada cidade, país, grupo de países ou no mundo inteiro ou,
alternativamente, em segmentos bem definidos de clientes com determinadas
características.

A acrescentar ao tamanho global do mercado, é importante ter claro o estádio de


desenvolvimento do mesmo.
Existe um padrão natural de evolução para a maior parte dos mercados e o estádio do ciclo
em que o mercado se encontrar irá afectar significativamente a estratégia de negócio que
deve ser adoptada.

As fases típicas podem ser sumarizadas como se segue:


 Embrionário
 Crescimento
 Maturidade
 Declínio

Para ter dados mais concretos, procure as associações empresariais e outras que analisam
e acompanham os mercados relevantes para a sua ideia/produto. Procure publicações
especializadas. Peça às Entidades Financeiras com que trabalha para lhe fornecerem
informação pública sobre esse mercado e as Empresas que nele se movimentam. Se a
dimensão do projecto o justificar, envolva Empresas de Estudos e Análise de
Mercado e faça análises específicas para este caso.

Garanta que a fundamentação que apresenta é sustentada em factos e, sempre que possível,
em dados de mercado criados por entidades credíveis.
A análise do mercado subjacente é essencial para dois efeitos:

61
 Fundamentar a viabilidade base da ideia/produto em causa;
 Traduzir o conhecimento específico dos promotores sobre o mesmo, um dos
factores mais fundamentais para os potenciais investidores.

A Nova Ideia e o seu Posicionamento no Mercado


Esta é uma apresentação sumária do negócio proposto e dos executivos que estão a fazer a
candidatura ao financiamento. O objectivo é dar confiança aos potenciais financiadores,
fazendo-os crer que este é um negócio financeiramente sustentável e que os executivos
possuem as necessárias qualificações empresariais e de gestão.

Qualquer parceiro/financiador tem de avaliar primordialmente três aspectos não


financeiros da sua ideia:
 O produto/serviço e o seu mercado;
 Os recursos físicos e de produção necessários;
 A capacidade de gestão do negócio dos promotores.

Essencialmente, o avaliador tentará perceber se a equipa terá capacidade para transformar


a nova ideia em vendas que possam gerar a margem prevista.
A informação fornecida deverá incluir um sumário dos mais recentes resultados comerciais
(para casos de expansão), o estatuto legal do negócio previsto ou existente, um
organigrama e a biografia dos executivos realçando as experiências mais relevantes para o
projecto em avaliação e os objectivos da empresa.

Se estamos a falar de um Start-up Plan não é, obviamente, possível basear a credibilidade e


solidez no histórico da empresa. Neste caso, será necessário colocar o ênfase no percurso
dos seus sócios fundadores, na sua capacidade para assumir os riscos decorrentes daquilo a
que se propõem e para a implementação dos planos definidos.
Se puder usar referências pessoais relevantes, indique-as garantindo que obtém
antecipadamente a autorização para tal.

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O Projecto / Produto / Ideia
Resumo do projecto e sumário das actividades a serem desenvolvidas
Esta secção deve descrever duma forma curta mas completa o estádio de desenvolvimento
do projecto, sobretudo dos principais objectivos já atingidos.
A ênfase deverá ser dada ao produto/serviço, incluindo temas como patentes e/ou licenças,
bem como a uma descrição exacta do processo produtivo.

Todas as actividades necessárias ao lançamento do produto devem estar descritas e, por


cada actividade, todas as acções necessárias. Este último item é de crucial importância, uma
vez que esta é uma das áreas onde os intervenientes tendem a ser demasiado optimistas,
levando a que se subestimem os custos envolvidos e/ou o tempo de desenvolvimento.

É essencial ser realista e ter em conta todas as possíveis dificuldades, para que estes factos
possam ser traduzidos nas projecções financeiras.
Como exercício de reflexão, e apesar de poder não ser explícito no plano de negócios, será
aconselhável para cada actividade ou acção estabelecer os intervenientes de quem estes
dependem (no caso de recursos externos), definir os possíveis constrangimentos, e como
deverá cada um agir nesse contexto. Por outro lado, deve ser considerado o tempo alocado
a cada actividade, com e sem constrangimentos, e considerado como tempo efectivo a soma
dos dois.
Reserve sempre algum tempo e esforço adicional (20% do total) para problemas e desvios
não previstos – a chamada margem de risco de implementação.

Motivação e objectivos dos intervenientes no processo


O desenvolvimento de um projecto é com frequência comparado ao nascimento e
crescimento de uma criança. Se não lhe for dado amor nos bons e maus momentos não será
possível obter o resultado desejado.

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Normalmente, quando um projecto começa, só tem um activo: as pessoas que o promovem
e a sua motivação e força de vontade.

A motivação com que cada interveniente enfrenta o projecto e, em particular, o tempo que
deseja atribuir-lhe, são variáveis importantes para o sucesso do mesmo.
Os factores de motivação variam muito e podem resultar de afinidades com o projecto, da
experiência profissional, do conhecimento de mercado, da possibilidade de ganhar mais
dinheiro e de considerações pessoais de vária ordem como sejam da possibilidade de ser
útil, da possibilidade de ser independente (não ter de responder a um patrão), da
possibilidade de criar empregos, etc.

Normalmente, é a complementaridade das várias motivações dos empreendedores que


acaba por sobressair ao longo do tempo e permitir o sucesso do mesmo.
Para minimizar problemas futuros, deixe claros, nesta secção, os níveis de envolvimento
efectivos de cada um dos promotores, o papel previsto, etc.
12
Pontos críticos no desenvolvimento do projecto
Devem ser, depois, mencionados os aspectos críticos do desenvolvimento do projecto ou
seja, os aspectos que podem condicionar o desenvolvimento do mesmo.
A reflexão sobre os pontos críticos permitirá antecipar as acções necessárias e os recursos
que deverão ser mobilizados, reduzindo o risco associado ao projecto. Por exemplo, se o
fornecedor de determinado material é fundamental para a empresa garantir o prazo de
entrega ao cliente, isso torna-o diferente dos outros fornecedores. Deve-se tentar conseguir
uma parceria com o fornecedor ou tentar encontrar uma lista de fornecedores alternativa
que possam garantir o cumprimento dos prazos.

Por outro lado, a análise dos pontos críticos deve permitir que os promotores se preparem,
mesmo que não seja por escrito, para planos de contingência (ou seja, como agir se
surgirem situações inesperadas), de forma a minimizar os riscos do projecto.

64
O Produto / Serviço
Esta é, provavelmente, a secção em que o promotor está mais à vontade e o leitor menos
familiarizado.
Devem ser feitos todos os esforços para explicar a tecnologia envolvida em termos simples
e para explicar a Proposta Única de Valor da invenção ou ideia. Esta preocupação é
transversal ao Plano de Início de Actividade, Plano de expansão e de Mudança de
Actividade.
Esta secção deve responder a questões relacionadas com “o que é o produto ou serviço”, e
“porque é que todos o vão comprar”.

A Produção
No caso de produtos que implicam a existência de um processo produtivo físico, com
materiais, máquinas, etc., este processo deve estar detalhado em todas as componentes
essenciais para o arranque e/ou lançamento do projecto.
A produção pode implicar compromissos significativos com investimento de capital para
espaço e equipamentos, o que pode obrigar a financiamentos elevados.
Para uma pequena empresa ou associação, isto pode implicar riscos demasiado elevados
que podem tornar o projecto não atractivo para os potenciais financiadores.
É possível reduzir o capital exigido através de sub-contratação de produção a outras
empresas e através de instrumentos financeiros de aquisição/aluguer de certos tipos de
equipamento e maquinaria. No entanto, estas estratégias devem ser ponderadas contra a
necessidade de se conseguir um nível de produção suficientemente elevado e de qualidade,
por forma a satisfazer os clientes. Os potenciais investidores irão querer comprovar que foi
conseguido um bom compromisso entre a contenção do capital necessário e as soluções
escolhidas, e analisar se estas soluções poderão originar problemas na produção e no
fornecimento de matéria prima quando a empresa começar a operar.

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O plano deve identificar que mecanismos de controlo de produção estão previstos em áreas
fundamentais como o nível de stocks, matéria-prima e produto acabado.
Todos os custos associados à produção têm de ser claramente reflectidos nas projecções do
Plano de Negócios, de forma a produzir projecções de cash-flow fiáveis que resultam num
plano sólido e adequado.

Em anexo ao plano de negócios e relativamente a esta secção, devem ser incluídas


descrições técnicas relevantes e licenças/patentes, quando aplicável.
 Será você a produzir o produto ou irá subcontratar esse trabalho?
 Qual é exactamente a maquinaria necessária e qual é o seu custo?
 Temos uma definição clara do processo produtivo?
 Quais são os custos de produção?
 Qual a quantidade de matéria-prima que tem de ser adquirida, será ela armazenada
ou comprada? Quais são os seus fornecedores? Que relações tem previstas com eles?
 Qual é o tempo de entrega após a ordem de compra?

Estratégia Comercial
Após termos definido claramente nas secções anteriores a Proposta Única de Valor do
projecto, dever-se-á demonstrar como a empresa pensa apresentá-la ao mercado.
O primeiro passo essencial e óbvio é estabelecer um preço para o produto. Se este é
completamente novo, isto poderá causar algumas dificuldades. No entanto, é normalmente
possível determinar um preço com base no valor acrescentado que o produto irá oferecer
ao seu consumidor.

Agregando todos os custos associados à produção, marketing e distribuição do produto


numa base unitária criamos o valor mínimo para o produto. Este é o valor a partir do qual
devemos depois estabelecer o valor final com base em margens típicas de mercado ou
análises de valor acrescentado percebido pelo Cliente.

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Após definida a estratégia de Marketing, deverão ser definidos e implementados os
circuitos e canais de vendas que são a base do processo de comunicação com o potencial
comprador.

Os elementos essenciais deste tipo de estratégias incluem:


 A identificação de um leque suficientemente grande de potenciais clientes;
 A criação de segmentos de clientes alvo, de acordo com critérios de segmentação a
definir caso a caso;
 A escolha dos canais que deverão ser explorados: directos como Vendedores, Canal
Telefónico ou Lojas
 Próprias ou indirectos como alianças com parceiros de distribuição, etc;
 Desenvolvimento dos elementos de Imagem e Comunicação;
 Desenvolvimento de uma Estratégia de Vendas eficaz, antecipando argumentos
contra as resistências e as objecções;
 Montagem e Formação das Forças de Vendas;
 Identificação das acções de Marketing relevantes.
Deverá assim ser criado um plano que contemple as acções a desenvolver, as forças de
vendas a envolver, os distribuidores, os agentes, formas de aconselhamento e a produção
de meios publicitários adequados. A gestão e monitorização deste plano tem de ser
efectiva, por forma a assegurar que são executadas as acções em causa, com a
periodicidade certa, e que os resultados são devidamente alcançados.

7.2. Elementos financeiros do plano de negócios


Os elementos financeiros de um plano de negócios são basicamente os seguintes:
 Plano de investimento;
 Plano de financiamento;
 Balanço inicial;
 Conta de exploração provisional;
 Orçamento provisional de tesouraria.
67
Plano de Investimento
O plano de investimento corresponde à inventariação e avaliação dos elementos
necessários para o arranque da empresa. Os empréstimos obtidos são, frequentemente,
função do plano de investimento e não há nada pior que descobrir, durante a fase de
arranque do negócio, que a dimensão financeira do investimento foi calculada
insuficientemente.

Os montantes incluídos no plano de investimento devem reflectir os preços reais


(incluindo o IVA) no momento do pagamento.
Estes montantes correspondem, de uma forma simplificada, ao somatório das seguintes
despesas:
a) Investimento em capital fixo corpóreo;
b) Investimento em capital fixo incorpóreo e despesas plurianuais;
c) Fundo de maneio;
d) Imprevistos.

Cálculo das imobilizações corpóreas


Os edifícios, os equipamentos básicos, de transporte e administrativos, por exemplo,
constituem elementos corpóreos indispensáveis ao arranque e funcionamento normal da
empresa, que acarretam necessariamente despesas de investimento. O cálculo do montante
respectivo poderá ser obtido, com alguma segurança, listando, exaustivamente, todos os
elementos que integram o activo fixo corpóreo da futura empresa, pedindo orçamentos aos
fornecedores (relativamente a investimentos em que tal se justifique) e fazendo um cálculo
aproximado para as restantes despesas.

Cálculo das imobilizações incorpóreas e despesas plurianuais


Integram-se aqui as despesas relativas à constituição da empresa (elaboração de estatutos,
declarações, registos e publicações) e ainda as correspondentes a trespasses, estudos e
projectos, campanhas de lançamento de novos produtos, patentes, marcas, alvarás,

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licenças, etc. As despesas plurianuais decorrem, numa primeira instância, das despesas de
coordenação e de fiscalização do projecto, mas também da obrigatoriedade de pagamento
de juros e de amortização dos empréstimos contratados.

Cálculo do fundo de maneio


A regra do equilíbrio financeiro mínimo é satisfeita quando o grau de liquidez das
aplicações é, pelo menos, igual ao prazo de exigibilidade dos fundos utilizados no seu
financiamento, ou seja, quando o capital ou activo circulante - que corresponde ao
somatório do disponível, realizável a curto prazo e existências, ou seja, aos elementos
patrimoniais directamente ligados ao ciclo de exploração da empresa e que, por isso,
circulam incessantemente no seu interior - é igual ao exigível a curto prazo.

Contudo, esta regra não contempla a eventual ocorrência de rupturas na rotação dos
elementos integrantes do capital circulante, que venham a comprometer a liquidação do
exigível a curto prazo na data do respectivo vencimento, como, por exemplo, o atraso no
recebimento de um crédito, o desencadear de uma greve, etc.

Desta maneira, e no sentido de evitar as consequências resultantes dos desequilíbrios


provenientes de eventuais rupturas na rotação do capital circulante, não acompanhadas da
automática readaptação do grau de exigibilidade do passivo de curto prazo, imperiosa se
torna a existência de uma margem de segurança.

O Fundo de Maneio é, em suma, a parcela de capitais permanentes que financia capitais


circulantes, ou seja, a margem de segurança de tesouraria advém do facto de um
determinado montante do capital circulante, com um grau de liquidez geralmente de curto
prazo, ser coberto financeiramente por capitais permanentes, caracterizados por um prazo
de exigibilidade superior.

Embora na prática seja vulgar identificar o Fundo de Maneio com a Reserva de Segurança
de Tesouraria, o empresário deve estar consciente de que não significam o mesmo, já que o
69
Fundo de Maneio é constituído pela Reserva de Segurança de Tesouraria, pelo crédito
concedido a clientes e pelas existências ao que se subtrai o crédito obtido de fornecedores.

O Fundo de Maneio corresponde ao montante necessário para assegurar a actividade


normal da empresa e calcula-se do seguinte modo:
Reserva de Segurança de Tesouraria + crédito concedido + existências – crédito obtido de
fornecedores

A Reserva de Segurança de Tesouraria representa o volume mínimo de disponibilidades


necessário para a empresa enfrentar, sem dificuldades, eventuais atrasos na ocorrência dos
seus recebimentos e/ou antecipações forçadas dos seus pagamentos. O crédito concedido
representa o volume de meios financeiros imobilizados na empresa, como resultado de as
suas vendas não se efectuarem a pronto pagamento. Trata-se, portanto, de crédito
concedido a Curto Prazo, insusceptível de titulação ou, quando titulado, de difícil
mobilização imediata junto da banca comercial ou de sociedades de factoring.

Tratando-se de uma empresa comercial a rubrica crédito concedido é normalmente


diminuta. Contudo, tal premissa nem sempre é verdadeira. Veja-se por exemplo o caso de
uma empresa de comércio por grosso que tenha como clientes exclusivamente outras
empresas. As existências (mercadorias) representam normalmente um valor muito
elevado.

Imprevistos
Independentemente do rigor do cálculo das rubricas anteriores, situações não previstas
inicialmente, podem alterar o montante global das necessidades de investimento. Estas
situações prendem-se com desvios qualitativos decorrentes de deficiências registadas nos
projectos de instalação, na implantação dos equipamentos, nas previsões relativas ao fundo
de maneio, etc.

Plano de Financiamento

70
Determinado o montante do investimento necessário, haverá que reunir os meios
financeiros, designados por capitais, indispensáveis à sua cobertura. Esta operação deve
realizar-se através da elaboração de um plano de financiamento, o que corresponde à
elaboração de um mapa de origem e aplicação de fundos. A boa ou má estrutura financeira
de uma empresa é geralmente consequência do modo como os seus bens activos são
financiados.

Antes de efectuar uma escolha entre os diferentes meios de financiamento que se podem
apresentar à empresa, o empresário não se deve esquecer que uma boa gestão exige que se
pratique o princípio da racionalidade económica, isto é, que se minimizem os meios para
atingir os mesmos objectivos. Ora, neste caso, os meios postos à disposição da empresa são
os capitais, logo a sua utilização deve ser racional pois, quer eles pertençam aos sócios ou
accionistas, quer sejam emprestados, há que pagar dividendos ou encargos financeiros.

De um modo geral, são os capitais próprios que devem cobrir os riscos da empresa e não os
capitais alheios, mesmo a longo prazo. Os empréstimos a médio e longo prazo dependem
do cash-flow futuro da empresa e podem ser considerados como uma antecipação à
actividade da empresa. É então necessário que, aquando do recurso a este tipo de
financiamento, nos asseguremos primeiro da rentabilidade da operação em causa e da
possibilidade de gerar fundos suficientes que assegurem os pagamentos dos encargos fixos
e do reembolso do capital emprestado, segundo os prazos fixados. Numa primeira fase,
quando a empresa se encontra em constituição e arranque, todos os capitais (à excepção do
capital social) são alheios à empresa, já que esta, de per si, ainda não teve actividade e,
portanto, não gerou qualquer receita.

Numa segunda fase, os meios de financiamento podem ser:


 Próprios da empresa (auto-financiamento);
 Exteriores.

71
Como vimos, o auto-financiamento representa o financiamento da empresa por ela própria,
isto é, pelos recursos financeiros que são libertos durante o seu funcionamento, e constitui
um complemento indispensável aos pedidos de empréstimos, pois as entidades
financiadoras não aceitam correr a totalidade dos riscos. Contudo, não nos devemos
esquecer que o auto-financiamento tende a reduzir os dividendos distribuídos, diminuindo,
por isso, a rentabilidade dos investimentos efectuados pelos sócios/accionistas. Ele deve
ser usado com parcimónia.

Os meios financeiros exteriores à empresa podem tomar diversas formas, como por
exemplo: aumento do capital social, empréstimos a médio e longo prazo, que podem
revestir a forma de empréstimos bancários ou obrigacionistas, empréstimos de sócios,
leasing, créditos a curto prazo, etc.

Em termos contabilísticos, podemos encontrar o capital próprio subdividido em:


 Capital social;
 Prestações suplementares;
 Reservas (de reavaliação, obrigatórias, especiais e livres);
 Resultados transitados.

E as dívidas a terceiros constituídas por:


 Crédito de fornecedores;
 Empréstimos bancários e obrigacionistas;
 Empréstimos dos sócios.

Balanço
O balanço, que é um documento estático, constitui para os economistas o "retrato" da
situação económica e financeira da empresa num dado momento. Poder-se-á dizer,
também, que o balanço mostra de onde vem o dinheiro da empresa (origens de fundos) e
para onde vai (aplicações de fundos). Num balanço inicial da empresa os elementos são

72
pouco numerosos correspondendo as aplicações de fundos – ou seja, o Activo - às despesas
de estabelecimento (imobilizações incorpóreas) e aos investimentos corpóreos necessários
ao arranque da empresa e as origens de fundos (Capital Próprio + Passivo) aos capitais
próprios e créditos dos fornecedores.

Conta de Exploração Provisional


Representando o cálculo dos proveitos e dos custos da empresa para um dado período e
permitindo prever os resultados do projecto, a conta de exploração provisional é um
documento indispensável do plano de negócios. Esta peça contabilística, elaborada
geralmente para um período de um a três anos, pode igualmente ser utilizada como
instrumento de gestão financeira após o arranque da empresa.

Neste caso, a sua periodicidade deve ser mensal, o que possibilita detectar mais
rapidamente certas anomalias como, por exemplo, uma baixa alarmante das vendas ou um
aumento exagerado dos custos e tomar as medidas correspondentes (aumentar a
prospecção de clientes, diminuir certos encargos, etc.).

Tratando-se de um documento provisional é aconselhável que os cálculos sejam feitos em


contos, conseguindo-se assim uma leitura mais fácil com um grau de pormenorização
suficiente. Os dois modelos aqui apresentados são-no a título de exemplo e destinam-se a
permitir ao futuro empresário ter uma visualização simples dos custos e proveitos da sua
empresa.

Orçamento Provisional de Tesouraria


Conhecida a previsão dos proveitos e dos custos surge agora a necessidade de conhecer os
fluxos de entrada e de saída de dinheiro ou seja de prever os montantes correspondentes
aos recebimentos e aos pagamentos. Essa previsão consegue-se através do orçamento
provisional de tesouraria, cujo papel é o de permitir ao empresário saber se a empresa vai
gerar meios financeiros suficientes para liquidar as dívidas que se vão vencer. As receitas e
despesas relativas ao negócio surgem quase sempre de um modo desfasado e por tal
73
motivo é impossível calcular médias mensais a partir do montante previsto para as vendas
anuais, sobretudo se a actividade é sazonal. Por outro lado, o empresário vai ter que pagar
os fornecimentos, os salários, os encargos financeiros, etc., nos prazos acordados,
independentemente da evolução das vendas.

No orçamento de tesouraria provisional, que deverá ser elaborado para um período


mínimo de um ano de actividade, inscrevem-se mês a mês ou eventualmente semana a
semana, o saldo financeiro inicial, todos os pagamentos que devem ser efectuados e todos
os recebimentos previstos.

As notas que se seguem poderão ajudar na elaboração deste documento


contabilístico:
1. Saldo financeiro no primeiro dia do mês: corresponde ao dinheiro existente em
caixa e aos depósitos bancários à ordem;
2. Recebimentos de vendas (IVA incluído): deverá fazer-se um cálculo aproximado dos
montantes a receber provenientes das vendas, tendo em consideração o Prazo
Médio de Recebimentos;
3. Outras receitas: outros recebimentos esperados, designadamente, um empréstimo
que ainda não foi liberado, a venda de um carro ou de uma máquina, etc.
A análise do orçamento de tesouraria permite verificar se existem meses com “descobertos
de tesouraria”, calcular dos montantes financeiros necessários para cobrir essas situações e
construir um saldo normal de disponível. Com base no orçamento provisional de tesouraria
é possível estudar as formas de financiamento mais convenientes, em termos de tipos de
financiamento, montantes e prazos.

74
Resultado de Aplicar técnicas de angariação e avaliação de alternativas
Aprendizagem 2: de financiamento

Critérios de
Desempenho:

(a) Aplica correctamente rácios de análise dos níveis de


endividamento e de liquidez para poder identificar
necessidades de financiamento do negócio

(b) Aplica correctamente meios informáticos de edição de texto


(ex: Word) na preparação de um pedido de financiamento
assegurando a inclusão da documentação necessária
(documentação legal, plano de negócios, estudo de
viabilidade) bem como a indicação dos termos de
financiamento propostos

(c) Aplica correctamente meios informáticos de cálculo (ex:


Excel) para avaliar as implicações de diferentes alternativas
de financiamento no desempenho económico-financeiro da
empresa

(d) Aplica correctamente meios informáticos de edição de texto


para preparar uma apreciação das diferentes alternativas de
financiamento à luz de diferentes cenários de estratégia de
financiamento de uma organização;

75
VIII. RÁCIOS DE ANÁLISE DOS NÍVEIS DE ENDIVIDAMENTO E DE LIQUIDEZ
São conhecidas as vantagens de endividamento, como as que se seguem (i) benefício fiscal,
com a particularidade de que quanto maior for a taxa de IRPC, maior será o benefício fiscal
com endividamento, (ii) aumento na disciplina de gestão já que a rigidez dos mapas de
dívida impõe maior ã administração de negócio das organizações, preocupadas no
cumprimento do acordado.

Em contraponto, as desvantagens perfilam no seguinte (i) aumento do risco financeiro, (ii)


os custos derivados da separação de interesses entre financiadores e a organização, (iii)
diminuição da flexibilidade da organização que, com o aumento do endividamento,
cativará, no futuro, parte dos seus fluxos financeiros para o pagamento do serviço da
dívida.

Estes elementos aumentam a preocupação de gestores financeiros de conhecer os seus


níveis de endividamento e liquidez através dos respectivos rácios

8.1. Rácios de endividamento


Os rácios de endividamento procuram dar indicações sobre o grau de intensidade de
recurso a capitais alheios no financiamento de uma empresa. Tal como os indicadores até
agora vistos, baseiam-se em grandezas contabilísticas, o que nem sempre proporciona
conclusões válidas. Por exemplo, conforme já se aludiu anteriormente, o valor do
endividamento existente poderá sofrer uma desvalorização do seu valor real (valor de
mercado).

Exemplos:
Uma pequena ilustração de apenas um dos problemas resultantes da utilização de grandezas
contabilísticas: se uma empresa recorre a doses maciças de endividamento, o seu risco
naturalmente aumentará. Esse fenómeno, ao ser reconhecido pelos seus credores, levará a um
aumento da taxa de juro que as instituições de crédito exigirão para novos créditos (além da
taxa de retorno exigida pelos accionistas). O resultado será que, na ausência de cláusulas
76
especiais, o endividamento existente na sociedade sofrerá uma depreciação, aspecto que a
contabilidade não reconhecerá, podendo igualmente alterar-se (para mais ou para menos) o
valor da sociedade para os accionistas.

Mais a renegociação da dívida de uma empresa em condições mais favoráveis do que as


inicialmente existentes, com a estipulação de uma taxa de juro abaixo das condições de
mercado e com um prazo alongado para reembolso (1). Tal significa que, considerando as
taxas de juro normais de mercado, o verdadeiro valor das responsabilidades da empresa não
será o valor nominal do empréstimo tal como ele se encontra registado no balanço, mas sim
um valor substancialmente inferior. Repare-se que faria todo o sentido um ajustamento do
valor desse endividamento: de facto, os fluxos financeiros que a empresa irá na realidade
pagar pelo passivo renegociado serão equivalentes aos que pagariam em condições normais
por um passivo inferior! Isto traduz-se, por conseguinte, em os encargos a suportar com o
endividamento estarem bastante distantes dos registados pela contabilidade, o que é uma
informação relevante para os analistas.

Por outro lado, também, conforme se viu em ponto anterior, apenas por feliz coincidência é
que a situação líquida espelhará o valor intrínseco de uma sociedade (2) para os seus
proprietários.

8.1.1. Autonomia Financeira


Um dos rácios de endividamento mais populares entre nós27 consiste na chamada
Autonomia Financeira (AF), cuja expressão de cálculo é a seguinte:
Autonomia Financeira = Situação Líquida /Activo Total

1 Essasituação ocorre com frequência em casos de processos de recuperação de empresas em dificuldades


financeiras.
2 Decorre, todavia, da nossa experiência, que o desvio entre valores intrínsecos e valores de balanço tende a

ser maior ao nível dos capitais próprios do que ao nível do endividamento de uma empresa.
77
Este rácio permite apreciar em que percentagem é que o activo da sociedade se encontra a
ser financiado por capitais próprios.

A popularidade deste indicador é tal que o leva a ser um dos indicadores mais utilizados
pelas instituições financeiras na apreciação do risco de crédito de um cliente.

O motivo para esse papel tem a ver com a aparente margem de segurança que traduz para
os créditos concedidos por um banco. Entendendo a situação líquida como o património da
empresa que excede os seus passivos, naturalmente que quanto maior for o seu montante,
maior a probabilidade de que os activos da sociedade consigam, em caso de liquidação,
cobrir a totalidade das responsabilidades da empresa, incluindo o crédito a conceder pela
instituição financeira.

Por outro lado, a existência de um valor apreciável de fundos próprios numa empresa
transmite a um financiador alguma tranquilidade adicional resultante do facto de que
quanto maior for o cometimento pessoal do proprietário no financiamento da empresa,
menos risco ele tenderá a assumir nos seus investimentos em relação a uma situação em
que a maior parte dos fundos investidos na empresa tenha a natureza de capitais alheios.
Por outras palavras, o banqueiro sentirá que o risco é partilhado de uma forma mais
equilibrada pela instituição de crédito e pelos donos da empresa, havendo uma menor
probabilidade de comportamentos oportunistas por parte dos responsáveis da empresa
que prejudiquem os detentores de capitais alheios.

Por estes motivos, os gestores procuram ter uma atenção especial com o comportamento
deste indicador, sabidas as possíveis consequências junto da praça financeira de uma
evolução desfavorável do seu valor (3).

3
Daí, por exemplo, a constante preocupação com a realização de reavaliações do imobilizado por parte de
muitas empresas. Muitos bancos, por exemplo, têm como regra de ouro procurar evitar a realização de
operações de crédito com sociedades que não disponham de uma autonomia financeira de pelo menos 30%.
78
8.1.2. Debt-to Equity Ratio
Uma alternativa ao indicador anterior consiste na relação entre o endividamento de uma
sociedade e os seus capitais próprios (D/E). Esse indicador pode ter diversas variantes:

1. Com base no passivo total (D/E1) = Passivo Total / Situação Líquida

2. Com base no passivo de médio/longo prazo (D/E2) = Passivo de ML / Situação


Líquida

Saliente-se que esta versão do D/E procura traduzir a repartição relativa dos capitais
permanentes (i.e., de longo prazo) de uma empresa em próprios e alheios. Certos analistas
consideram que uma situação em que os segundos sejam superiores aos primeiros poderá
traduzir um certo excesso de endividamento, recomendando por conseguinte que este
indicador apresente um valor inferior a 1.

Com base nos empréstimos bancários totais (D/E3) = Empréstimos bancários totais /
Situação Líquida

8.2. Indicadores de liquidez

8.2.1. O grau de liquidez geral


Um dos indicadores de liquidez mais popularmente utilizados pelos analistas financeiros
consiste no chamado grau de liquidez geral (GLG), que é calculado do seguinte modo:

Grau de Liquidez Geral = Activo Circulante / Passivo de curto prazo

Activo Circulante = Disponibilidades + Aplicações financeiras de curto prazo + Créditos de


Curto Prazo + Existências

Suponhamos que o valor assumido por este rácio é 1.25. Uma interpretação possível é que
"125% das responsabilidades de curto prazo poderão ser satisfeitas recorrendo às
disponibilidades, cobrança dos créditos de curto prazo e venda das existências".

79
O indicador em causa refere-nos assim em que medida o passivo de curto prazo está
coberto por activos que se esperam vir a ser convertidos em meios financeiros líquidos
num período supostamente correspondente ao do vencimento das dívidas de curto prazo.
Logo, decorre desta ideia que um valor superior a 1seria "razoável" e que corresponderia a
uma situação de algum desafogo da empresa em termos de liquidez de curto prazo.

A interpretação normal do GLG como indicador de liquidez deriva do facto de que, em


circunstâncias normais, uma empresa em dificuldades tenderá a pagar as suas dívidas mais
lentamente. Tal fará em princípio aumentar o seu passivo de curto prazo. E se este último
cresce mais rapidamente que o activo circulante, então o GLG tenderá a registar uma
descida, o que será para os analistas um sintoma de "perda de liquidez".

Para compreendermos o real interesse deste indicador, convirá reflectir. No entanto, sobre
o conceito que ele pretende medir, isto é, o conceito de liquidez.

Podemos tentativamente definir a liquidez como "a capacidade de uma empresa em


cumprir os seus compromissos financeiros de curto prazo à medida que estes se vão
vencendo"

Não é difícil apercebermo-nos que do conceito apresentado decorre que a liquidez de uma
empresa apresenta uma natureza marcadamente dinâmica. Isto é, a capacidade de solver os
compromissos financeiros de curto prazo de uma sociedade não depende só dos activos
com um certo grau de liquidez que são detidos num determinado ponto no tempo
(perspectiva estática) aptos a fazer face às dívidas de curto prazo existentes, mas também
dos seguintes factores:
 Capacidade de geração, no curto prazo, de novos meios financeiros pela exploração;
 Prazos relativos de pagamento e recebimento das dívidas e créditos actualmente
detidos pela sociedade;
 Capacidade de obtenção de novo endividamento no curto prazo;

80
Sendo um indicador utilizado pela quase generalidade das instituições financeiras como
componente importante na sua apreciação do risco de crédito de uma empresa,
salientemos que é extremamente frequente que uma evolução aparentemente "favorável"
deste indicador reflicta não uma melhoria mas uma degradação da sua liquidez.

Exemplo:
Repare-se, por exemplo, na seguinte situação: uma empresa enfrenta dificuldades de
escoamento da sua produção (com consequente aumento dos seus stocks), ao mesmo tempo
que um não cumprimento generalizado dos prazos de pagamento dos seus clientes (com
consequente aumento dos saldos de clientes em dívida) e um apertar dos prazos de
pagamento por parte dos fornecedores (por hipótese monopolistas, e devido à sua
preocupação com a estabilidade financeira da empresa em causa). Este cenário é,
seguramente, um dos piores pesadelos para qualquer director financeiro e sem dúvida que
acabará por afectar, a muito curto prazo, a capacidade da empresa em satisfazer os seus
compromissos financeiros. No entanto, o que sucede ao GLG? Todos os três acontecimentos
(aumento das existências e créditos sobre clientes e redução das dívidas aos fornecedores)
contribuem para um aumento do GLG (e não uma diminuição), dando, por conseguinte,
indicações completamente opostas às que deviam ser esperadas de um indicador de liquidez.

Podemos concluir deste modo que o real interesse do GLG reside numa hipótese
largamente improvável para a maioria das empresas que é a imediata liquidação do seu
activo circulante e vencimento dos seus créditos de curto prazo.

De facto, para uma empresa onde se perspective a continuidade da sua exploração, não será
razoável admitir a possibilidade prática de exigir dos seus clientes o imediato pagamento
dos seus créditos, assim como não é sensato esperar que as existências possam ser
alienadas ao valor registado em balanço e o seu valor de venda imediatamente recebido. E
se a hipótese de liquidação fosse provável, então é porque a empresa já estaria em sérias
dificuldades e por conseguinte de nada servirá analisar a capacidade de solver os
81
compromissos de curto prazo: se a empresa estiver efectivamente em vias de provável
liquidação, o problema já não é o da liquidez de curto prazo mas sim de averiguar se o
património da empresa é susceptível ou não de responder pelas dívidas totais (de curto,
médio e longo prazo).

8.2.2. O grau de liquidez reduzida


O rácio de liquidez seguinte resulta do reconhecimento de que as existências de uma
empresa são tipicamente o activo menos líquido do seu activo circulante.
Daí que muitos analistas calculem, conjuntamente com o GLG, o chamado grau de liquidez reduzida
(GLR), que se escreve da seguinte forma:

GLR = AR / PCP

Onde:

AR = Activo Realizável = Disponibilidades + Aplicações financeiras de curto prazo + Créditos


de curto prazo

PCP = Passivo de curto prazo

A comparação entre o GLG e o GLR permite, em particular, destacar o peso das existências
numa empresa.
Não obstante o ajustamento que é aqui efectuado relativamente ao indicador anterior, é de
referir que os problemas fundamentais que atrás detectamos não são, no essencial,
resolvidos.
Um terceiro indicador de liquidez é aquele que restringe ainda mais o conceito de activos
líquidos, cingindo-os às disponibilidades e aplicações financeiras de curto prazo de uma
empresa (GLI-grau de liquidez imediata):
GLI =(D+ AFcp) / PCP
Onde:
D = Disponibilidades
AFcp = Aplicações financeiras de curto prazo

82
PCP = Passivo de curto prazo

Voltamos a insistir que continuamos aqui a não estar em presença de um genuíno indicador
de liquidez nos termos em que definimos atrás este conceito. Mas também será justo
salientar que, não obstante tal facto, em certas situações (quiçá extremas) este indicador
poderá dar-nos alguma informação útil sobre a situação financeira da empresa. Será o caso
quando estejamos em presença de sociedades com um elevado valor de disponibilidades e
aplicações financeiras excedentárias que, naturalmente, constituem, do ponto de vista dos
credores da empresa, um buffer (isto é, uma "almofada de segurança") contra eventuais
dificuldades conjunturais que possam por em perigo os seus créditos.

Imagine-se, por exemplo, o caso de uma empresa cujas disponibilidades e aplicações


financeiras excedentárias correspondam ao dobro das suas responsabilidades de curto prazo!

Mas também não esqueçamos que aquilo que é actualmente uma prosperidade financeira
poderá rapidamente deixar de o ser se a sociedade dispender os activos líquidos existentes
em investimentos de longo prazo, tornando imprescindível o conhecimento da capacidade
da exploração em gerar meios líquidos. Como qualquer estudante sabe, é muito mais fácil
(e mais rápido) gastar dinheiro do que gerá-lo.

Nota Importante:
Certamente que a análise de rácios financeiros é uma técnica incompleta e que sofre de
importantes limitações na sua aplicação e interpretação. Estas decorrem de uma maneira
geral da íntima relação dos indicadores com as variáveis contabilísticas que se encontram
na base do seu cálculo.

A utilização de rácios deverá sempre, por conseguinte, ser simultânea com uma correcta
consciencialização dos pressupostos inerentes à sua construção, o que infelizmente nem
sempre é realizado por muitos analistas e responsáveis das empresas. Deverá igualmente

83
ser efectuada de forma cumulativa com a recolha de outro tipo de informações e dados,
com uma menção especial para a análise da formação e aplicação de fluxos financeiros na
empresa e para o estudo do seu risco de negócio.

A análise de rácios deverá deste modo assumir como que um papel de "exploração
preliminar" de uma empresa, recorrendo, para tal, à recolha criteriosa não de quaisquer
certezas mas de uma série de "indícios".

Finalmente, será de salientar que este conjunto de dados apenas globalmente poderá
contribuir para a formação de um diagnóstico informado sobre o estado económico-
financeiro de uma empresa. Este, por sua vez, que deverá ser estudado no contexto
complexo e integrado das diversas vertentes que contribuem para a formação de valor para
os seus proprietários e não com base uma simples definição de objectivos de índole
contabilística expressos sob a forma de simples metas a alcançar para os valores de
determinados rácio.

84
IX. PREPARAÇÃO DE UM PEDIDO DE FINANCIAMENTO
Cuidados ao solicitar um financiamento

Antes de preparar um pedido de financiamento deve ter presente os seguintes cuidados:


 Recursos de crédito devem ser aplicados correctamente, na finalidade para a qual
foram obtidos.
 Antes de tomar um empréstimo, o empresário deve tomar alguns cuidados e levar
em conta que:
1. Crédito viabiliza oportunidades, não as cria;
2. Um empréstimo precisa de ser pago, caso contrário a dívida aumenta e
transforma-se em um grave problema;
3. Planificar a abertura e a expansão do negócio contribui para identificar e
administrar os riscos e a capacidade de pagamento do empréstimo;
4. Na abertura de um negócio, deve ser sempre aplicada uma boa parcela de
recursos próprios;
5. Em muitos casos, a necessidade de capital de giro tem origem na má gestão e no
desfasamento entre contas a pagar e a receber.
Portanto, fique atento!
6. Um empréstimo deve ser SEMPRE aplicado na finalidade para a qual foi obtido:
Capital de giro investimento ou misto (giro associado a investimento).
7. Nunca contraía empréstimo cuja taxa de juros seja maior que a rentabilidade do
negócio
8. Esta é uma boa maneira de identificar se os juros praticados são altos para o
empreendimento ou não.

Depois de feitas as opções quanto ao objecto da empresa a criar e de esclarecidas as


respostas às questões: O que vou fazer? E como vou fazer? é altura de identificar os meios
financeiros que necessitará para cumprir os objectivos comerciais que se propôs a atingir.

85
Inicialmente é necessário determinar o capital necessário para a criação da empresa o qual
vai depender do volume de investimento que precisa de realizar e da necessidade de iniciar
a actividade com uma estrutura financeira minimamente equilibrada. As insuficiências de
capital conduzem, quase sempre, a prazo, ao colapso da empresa.

9.1. Investimento a realizar

As principais rubricas de investimento necessárias ao arranque da actividade de uma


empresa são descritas na tabela seguinte:

Os investimentos necessários para a compra de instalações,


equipamentos de escritório e de produção, constituem as principais
parcelas de investimento das pequenas empresas. Não são, no entanto,
Imobilizações
Corpóreas os únicos, existindo outros custos característicos da fase de arranque e
que não podem ser negligenciados por atingirem, por vezes, valores
muito significativos.

Incluem-se todos os custos relativos a investimentos sem natureza


física, designadamente: despesas de instalação (escrituras, estudos,
Imobilizações
Incorpóreas projectos e outras despesas de constituição), custos relativos a
patentes, licenças, trespasses, etc.

Na concretização de um projecto empresarial é normal haver recurso a


crédito como forma de financiar os investimentos a realizar. Também é
frequente decorrer algum tempo entre a altura em que a operação de
Juros durante a financiamento é aprovada e o dinheiro colocado à disposição da
fase de
empresa e a altura em que o mesmo é utilizado o que determina o
investimento
débito de juros por parte da entidade financiadora. Apenas os juros
vencidos até à data do início da actividade da empresa deverão ser
considerados nesta rubrica enquanto os debitados à posteriori serão

86
considerados custos de exploração.

No decurso da sua actividade a empresa tem necessidade de financiar,


no todo ou em parte, o seu Ciclo de Exploração, isto é, o montante de
capital directamente aplicado nas diferentes fases de Ciclo de
Capital circulante
permanente Exploração, desde a constituição de stocks de matérias-primas ou
materiais, até ao crédito que a empresa, por uma razão ou por outra,
concede aos seus clientes.

O Plano de Investimentos deverá assim ter em conta as necessidades do Ciclo de Produção,


designadamente, os valores relativos aos stocks de matérias-primas e de produto acabado
bem como o valor médio do crédito concedido a clientes.

Num período inicial, deve-se prever o dinheiro necessário para pagamento de, por
exemplo, salários, alugueres de instalações, despesas de comunicação, etc., pois é frequente
a empresa não obter, nos primeiros meses da sua existência, um nível suficiente de
receitas. Assim, quando se calcula o volume de Capital Circulante necessário, deve-se
incluir um valor capaz de cobrir a diferença entre as receitas e as despesas no período de
arranque da empresa.

O Capital Circulante Permanente é calculado somando as seguintes parcelas:

Disponibilidades + Crédito a clientes + Stocks mínimos + Crédito de fornecedores

Depois de calculados os custos deve verificar qual do custo de investimento será suportado
pelos capitais próprios, aquela parte que normalmente é conhecida como comparticipação
no investimento.

9.2. Texto em Word ou noutro editor de texto

Depois de conhecido o valor a ser suportado pelos capitais alheios e identificada a


instituição bancária, é preparado um estudo de viabilidade com as seguintes partes:

87
 Introdução com a apresentação do que é o projecto quais são os seus objectivos,
área de actuação e as partes em que estudo de viabilidade está dividido;

A passagem da ideia à empresa implica, necessariamente, o contacto com um


conjunto de entidades cujas atribuições e actividades se enquadram no processo de
criação do investimento em causa. A este conjunto poder-se-á chamar “infra-
estruturas de apoio à actividade empresarial”.

 Segue-se o estudo do mercado que se apresenta as condições do mercado com a


identificação dos bens e serviços e oferecer, a identificação do consumidor e sua
segmentação se possível, os preços a praticar e sua situação em relação a
concorrência;

Na linguagem dos especialistas de gestão a envolvente externa corresponde a um


conjunto de elementos que o empresário não pode controlar. É o caso dos futuros
clientes, factor com grande importância para a empresa e dos fornecedores e, ainda
das empresas concorrentes cujo número, agressividade e comportamento saem, por
completo, da esfera de controlo do potencial empresário. Reunindo todas as
informações disponíveis sobre a envolvente externa, o empresário estará em
condições de avaliar a viabilidade do seu projecto e toma consciência dos inúmeros
factores que podem condicionar o sucesso do seu financiamento.

Em relação ao seu produto, convém especificar o seguinte conjunto de informações:


 Características técnicas e comerciais dos produtos ou serviços existentes ou
similares - vantagens e desvantagens comparativas
 Imagem, prestígio e antiguidade
 Relação preço/qualidade
 Assistência pós-venda
 Prazos de entrega
 Pontos fortes e fracos da concorrência

88
 Condições oferecidas pelos fornecedores: preços, prazos, qualidade,
condições de pagamento
 Papel das organizações profissionais
 Leis e regulamentos específicos do sector

 A seguir apresenta aquilo que considera como serem vantagens do projecto em


função da sua localização, mão-de-obra a contratar, concorrência e outras que julgar
importantes;
 Apresenta os resultados financeiros do projecto em termos de valor actual ou
presente líquido que deve ser maior que zero e a taxa interna de retorno que deve
ser superior que a taxa de juros bancários para aquela finalidade e prazo.
 Depois prepara uma carta endereçada a instituição financeira que se identifica
primeiro, a sua morada, o seu registo caso seja uma empresa, o seu NUIT, indicando
o pedido de financiamento, o montante e apresentando a finalidade do mesmo.

9.3. Os anexos ao estudo de viabilidade

Todos os anexos ao estudo de viabilidade são constituídos pela documentação ou dados


que os bancos solicitam como de apresentação obrigatória e/ou opcional. Entre eles, se
podem destacar os seguintes:

 Os estatutos da sociedade;
 Caso seja uma empresa em funcionamento, o balanço do último exercício e o
balancete mais recente;
 O estudo de viabilidade económica e financeira;
 O plano de negócios da sociedade;
 Declaração negativa das Finanças mostrando que tem contas em dia com o fisco.

89
Na verdade, para a produção deste documento, todas as funções da empresa são
envolvidas:
 A função financeira que diz respeito à tesouraria, aos balanços e às contas de
exploração;
 A função marketing que abrange as tarefas com vista à comercialização em boas
condições, como os vendedores, a distribuição, a concorrência;
 A função produção que engloba os aspectos relacionados com o produto, como as
tecnologias, técnicas, materiais, quantidades, etc.;
 A função pessoal onde se enquadra tudo o que é relevante do ponto de vista da
qualidade da equipa e da sua gestão;
 A função gestão e organização que constitui a função central na condução da
empresa.
A partir dos elementos disponíveis é possível fazer o diagnóstico de cada uma das funções,
ou seja, verificar os aspectos positivos e negativas de cada uma.

90
X. AVALIAÇÃO DAS DIFERENTES IMPLICAÇÕES DAS ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO

10.1. Comparação entre alternativas de investimento

Fornecer critérios de decisão


Função da Engenharia para a escolha entre
Económica alternativas de financiamento

 Meios de produção
Factores que produzem  Diferenças entre produtos
as diferentes alternativas
 Objectivos a alcançar

Em resumo, várias formas de


aplicação do capital, cada uma
exigindo determinados recursos e
proporcionando determinadas
rentabilidades.

Nem sempre as propostas de investimentos mais rentáveis podem ser realizadas.


Por quê?
 MOTIVO:- Limitação de recursos.
Isto faz com que os resultados de estudos puramente económicos não seja o único factor a
considerar na decisão final.

A análise da disponibilidade de recursos, dos encargos financeiros assumidos, etc., deve ser
feita paralelamente - ANÁLISE FINANCEIRA DE INVESTIMENTO.

91
10.2. Fluxos de Caixa
Num estudo económico as entradas e saídas monetárias só têm um significado completo
quando acompanhadas pelas datas em que se efectuam. Embora se possa usar tabelas de
juros em que o período de composição seja de um ano, mês ou dia, etc., há limitações
práticas quanto à necessidade de precisão para as datas em que as receitas e as despesas
previstas ocorrerão. Contorna-se esse problema considerando essas quantias concentradas
em intervalos de tempos periódicos; em geral, adopta-se a “convenção de fim de período”,
ou seja, que as entradas e as saídas monetárias que se dão durante um período estejam
concentradas no fim do mesmo. Uma análise da questão mostra que o estudo não será
muito afectado em sua exactidão por esta simplificação. O período adoptado geralmente é
de um ano, podendo ser outro de acordo com a conveniência do projecto em estudo, grau
de detalhe e precisão das estimativas de datas e quantias. Para o caso moçambicano onde
as taxas de juros são altas, muitas vezes o mês deve ser tomado como período-base.
Por outro lado, o estudo económico deve cobrir um intervalo de tempo compatível com a
duração da proposta de investimento considerada, frequentemente denominada vida útil,
vida económica ou simplesmente vida da proposta de investimento.

10.3. Avaliação de investimento


Existem várias medidas para avaliar investimentos.
Seja uma determinada firma que tenha a oportunidade de escolher entre os seguintes
projectos em Meticais:
PROJECTO INVESTIMENTO INICIAL FLUXO DE CAIXA
Ano 1 Ano 2
A 10.000,00 10.000,00
B 10.000,00 10.000,00 1.100,00
C 10.000,00 4.000,00 8.000,00
D 10.000,00 6.000,00 6.000,00

92
10.3.1. Critério por Inspecção
O projecto B é melhor do que o projecto A
O projecto D é melhor que o projecto C, pois é possível reinvestir os ganhos entre os anos 1
e 2.

10.3.2. Período de Recuperação (“pay-back period”)


Procura-se estabelecer o tempo necessário para que fundos gerados pelo investimento
sejam iguais ao gasto inicialmente feito. Preocupa-se com a recuperação simples do
dinheiro empregado. No caso acima têm-se:
Projeto Período de Recuperação
Projectos Período de Recuperação
A 1 ano
B 1 ano
C 1 ano e 9 meses
D 1 ano e 8 meses

Nota-se imediatamente que o método não consegue diferenciar entre os projectos A e B.


Sua principal deficiência é não considerar os ganhos após a recuperação, nem o
escalonamento das entradas de Caixa. Não se faz um investimento para recuperar o capital,
e sim para obter lucro. O processo serve apenas para complementar os outros métodos no
auxílio da tomada de decisão.

10.3.3. Ganhos por capital investido.


Calcula-se o somatório dos fluxos de caixa e divide-se o total pelo investimento.
Proj
Projectos Ganhos por Capital Investido
A 1.0
B 1.1
C 1.2
D 1.2
eto Ganhos por Capital Investido
Desconsideram-se inteiramente o factor tempo e as possibilidades de reinvestimento.

93
Ganhos médios anuais por capital investido
Semelhante ao anterior.

10.3.4. Critérios económicos baseados no princípio de equivalência de fluxos de


caixa
Consideram-se o valor do dinheiro no tempo, as possibilidades de reinvestimento, o custo
de oportunidade, etc.

Conclusão
Apesar dos quatro primeiros processos poderem levar a boas decisões em alguns casos
(investimentos iguais, de mesma duração e fluxos de caixa homogéneos), a análise da
maioria das situações só pode ser feita adequadamente pelos critérios económicos
detalhados a seguir.

Critérios económicos de decisão


Os métodos de comparação de alternativas de investimento baseiam-se no princípio de
equivalência visto; isto supõe o uso de uma taxa de desconto. Qual seria essa taxa?

A rentabilidade de uma série de investimentos é dada pela taxa de juros que permitiria ao
capital empregado fornecer um certo retorno.

De um modo geral existem várias aplicações possíveis de capital, interessando apenas as


mais rentáveis. Ao se considerar uma nova proposta de investimento, deve-se levar em
conta que esta vai deslocar recursos disponíveis e, portanto, deixar-se-á de auferir retorno
de outras possíveis fontes.

Taxa mínima de atractividade


Uma nova proposta para ser atractiva deve render, no mínimo, a taxa de juros
equivalente à rentabilidade das aplicações correntes e de pouco risco.

94
Dado que cada pessoa ou empresa tem possibilidade de investimentos diferentes, haverá
uma taxa mínima de atractividade para cada uma.

Exemplo:
Se existirem letras de câmbio que garantem uma rentabilidade de 2,5% a.m. , a proposta de
investimento em acções só será atractiva se proporcionar rendimento maior.

Cumpre ressaltar que um estudo económico recai sempre na escolha entre alternativas;
dever-se-á tomar uma decisão entre não fazer nada, abandonar projectos em andamento
ou investir em novos projectos, etc.
Os métodos de comparação baseados nos princípios de equivalência determinam quantias
únicas que representem, do ponto de vista económico, cada alternativa de investimento.

OS MÉTODOS

Método do Valor Método da Taxa


Presente Líquido Interna de Retorno

HIPÓTESE FORTE: Inicialmente supor-se-á que o investimento seja instantâneo (no período zero) e
que não haja inflação, risco e imposto de renda.

10.4. Método do valor presente líquido


No método do valor presente líquido calcula-se o valor actual do fluxo de caixa, com o uso
da taxa mínima de atractividade; se este valor for positivo, a proposta de investimento é
atractiva.

95
Exemplo:
Considere-se a proposta de investimento que envolve investir 10.000,00 Meticais hoje para
receber 2.000,00 Meticais anuais, nos próximos 10 anos, conforme o diagrama de fluxo de
caixa que se segue:

2.000 .................................................................................................................... 2.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

10.000,00 Meticais

A taxa mínima de atractividade é de 10% a.a. É atractivo o investimento?

Solução

- 10.000 + 2.000 a10¬10 = 2.288.


Conclui-se, pois, que o investimento é atractivo.

Nota Importante
Quando se consideram alternativas de investimento com durações idênticas,
escolhe-se a de maior valor presente líquido.

96
NA PLANILHA DE EXCELL TERIAMOS:

A B

1 10% <--Taxa mínima de atractividade

2 -10.000 <-- Investimento

3 2.000

4 2.000

5 2.000

6 2.000 Anuidades /Pagamentos

7 2.000

8 2.000

9 2.000

10 2.000

11 2.000

12 2.000

13 2.289,13 <--=VPL(0,1;A3:A12)+A2

Exemplo:

Se, competindo com a proposta de investimento acima, houvesse uma alternativa B, de se


investir 14.000,00 Meticais para obter-se 3.000,00 Meticais anuais durante 10 anos, qual
seria a proposta escolhida?

Solução
O valor actual da proposta B é:
-14.000 + 3.000. a10¬10 = 4.432

Por ter maior valor actual, esta proposta é escolhida de preferência à anterior.
97
NA PLANILHA DE EXCELL TERIAMOS:

A B

1 10% <--Taxa mínima de atractividade

2 -14.000 <-- Investimento

3 3.000

4 3.000

5 3.000

6 3.000 Anuidades /Pagamentos

7 3.000

8 3.000

9 3.000

10 3.000

11 3.000

12 3.000

13 4.433,70 <--=VPL(0,1;A3:A12)+A2

Nota importante
Geralmente a data escolhida para o cálculo do valor actual é o “dia de
hoje”, daí o termo “valor presente” usado para designar o método.
Entretanto, qualquer que seja a data usada, a decisão será a mesma.

Para ilustrar, considerem-se as duas propostas anteriores. O valor actual de cada uma delas
ao fim do período 6 será:

98
 PROPOSTA A : 2.288 . FAC(6,10) = 2.288 . (1,1)6 = 4.053,33
 PROPOSTA B : 4.432 . FAC(6,10) = 4.432 . (1,1)6 = 7.851,56.
Evidentemente a posição relativa das propostas não mudou.

No caso de comparar propostas de durações diferentes, alguma hipótese será exigida sobre
o que será feito após o término da proposta de menor duração.

Considerações sobre o método do valor actual

Observe-se que toda vez que se consegue investir uma quantia exactamente à taxa de
atractividade, o valor presente do projecto como um todo será nulo. Um valor actual
positivo indica, pois, que está investindo a uma taxa superior à taxa de atractividade. O
inverso ocorre para valores presentes negativos.

Por outro lado, o valor presente de um fluxo de caixa indica a diferença entre o valor actual
das quantias futuras envolvidas e o investimento inicial. Justifica-se o método apresentado,
pois um valor actual positivo significa que as quantias futuras, descontadas à taxa mínima
de atractividade, superam o investimento inicial necessário - o que torna atractiva a
proposta. Por outro lado, um valor actual negativo significa que se está investindo mais do
que se irá obter, o que é, evidentemente, indesejável; em outras palavras, a mesma quantia,
se fosse investida à taxa de atractividade, renderia mais do que no projecto em questão.

IMPORTANTE
Conclui-se que o valor actual das quantias futuras de um fluxo de
caixa é igual ao máximo investimento que se está disposto a fazer
para obtê-las.

Exemplo:
É proposta a venda de determinada máquina para fins rentáveis; o comprador em
perspectiva tem uma taxa mínima de atractividade de 10% a.a.. A máquina proporcionará

99
uma receita líquida de 20.000,00 MT no primeiro ano, diminuindo em seguida à base de
1.000,00 MT ao ano por mais 12 anos. O valor estimado de revenda daqui a 12 anos é de
26.000,00 Meticais.
Até quanto estaria o comprador disposto a pagar pela máquina?
Solução
a. Fluxo de caixa ( em MT 1.000,00): P = S/[(1 +i)n]

NA PLANILHA DE EXCELL

A B

1 10% <--Taxa mínima de atractividade

2 20.000

3 19.000

4 18.000

5 17.000

6 16.000

7 15.000

8 14.000 Fluxos de Caixa de 1 a 11

9 13.000

10 12.000

11 11.000

12 10.000

13 35.000 Valor Residual + Fluxo de Caixa 12

14 114.657,02 <--VPL(A1;A2:A13)

100
Este valor é o máximo que o comprador estará disposto a pagar pela máquina, pois
corresponde ao valor actual das receitas líquidas futuras!!!.

10.5. Método da taxa de retorno


A avaliação da rentabilidade de uma proposta de investimento é feita pela taxa de juros que
torna equivalente o investimento inicial ao fluxo de caixa subsequente. Talvez este seja o
método mais fácil de entender, já que a avaliação de rentabilidade por meio de uma taxa é
coisa bastante usada (embora nem sempre correctamente).

Isto significa dizer que a taxa interna de retorno é aquela que torna nulo o valor presente
líquido do projecto. Ou ainda, é aquela que torna o valor dos lucros futuros equivalente aos
gastos realizados com o projecto, caracterizando assim, como a taxa de remuneração do
capital investido.

O cálculo da taxa de retorno é feito no caso geral por tentativas e interpolações. Isto porque
nem todas as propostas de investimento se constituem de fluxos de caixa semelhantes aos
usados para o estabelecimento dos factores de conversão.

No processo de tentativas, a partir de uma taxa inicial, calcula-se o valor actual do fluxo de
caixa. O objectivo é obter uma taxa que torne este valor nulo, e, portanto, vai-se
modificando a taxa no sentido de torná-lo próximo de zero.

A partir de duas taxas que forneçam valores actuais próximos de zero, porém de sinais
opostos, pode-se por interpolação determinar a taxa de retorno aproximada.

A primeira taxa usada nos cálculos deve ser evidentemente a mais próxima possível da taxa
de retorno.

101
Uma forma de obtê-la é aproximar-se o fluxo de caixa para um dos fluxos que originaram os
factores, determinar o factor correspondente e através de uma das tabelas de juros, ou
calculadora financeira do tipo HP 12-C, determinar a taxa.
O exemplo que se segue tornará mais claro o cálculo da taxa de retorno.

A compra de determinada máquina está sendo considerada por uma empresa; tem custo
inicial de 150.000,00 Meticais. Foi estimado que proporcionará um excesso de receitas
sobre despesas nos próximos 12 anos, começando com 30.000,00 MT no primeiro e
decrescendo à base de 1.500,00 MT por ano, devido ao aumento dos custos. O valor de
revenda daqui a 12 anos é previsto ser 39.000,00 MT. Qual a taxa de retorno fornecida pelo
investimento na máquina?

Solução
a-) Fluxo de Caixa 39.000,00

.....................................................................30.000,00...............................................................

150 mil

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

b-) Determinação de uma taxa em primeira aproximação.


Olhando-se para o fluxo de caixa, vê-se que é possível aproximá-lo para o seguinte fluxo de
caixa:

30.000,00

150 mil

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

102
Obtém-se, pois,
150.000,00 MT = 30.000,00 . a12¬i =» a12¬i = 150.000/30.000 = 5
Na HP-12C obtemos i = 17%5

c-) TENTATIVAS
Valor actual = - 150.000 + 30.000 a12¬ i - 1.500 GFVA(i,12) + 39.000 (1+i)-12
Com 17% temos:
VA = -150.000 + 149.651,62 - 27.923,81 + 5.926,99 = -22.345,20
Para introduzir 1.500 GFVA(17,12) na HP-12C, fizemos o seguinte:
f FIN 16.500 g CFj
0 g CF0 17
0 g CFj f NPV
1500 g CFj
3000 g CFj

Com 12% temos:


VA = -150.000 + 185.831,23 - 6 38.928,41+ 10.010,33 = + 6.913,15
Como os valores obtidos acima têm sinais opostos, pode-se fazer uma interpolação linear,
determinando-se a taxa que fornece valor actual nulo, de acordo com o gráfico abaixo:
Assim,
(i-0.12) /6913.15 = (0.17 – i)/22345.20 = (i-0.12)/(0.17-i) = 0.3094 » i = 13.18%
Na HP 12C, temos:
f FIN f 2
150000 CHS g CF0
30000 g CFj
28500 g CFj
27000 g CFj
.
.
.
15000 g CFj
52500 g CFj
f IRR
Aparecerá no visor 13.03

103
XI. APRECIAÇÃO DAS DIFERENTES ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO

Financiamento
De uma maneira geral, o objectivo financeiro da empresa consiste em conseguir, num dado
momento, o financiamento necessário em condições de custo e prazos adequados. Isto é,
não se trata apenas de conseguir o montante de financiamento necessário, mas sim
encontrar fontes mais económicas, de tal forma que o risco financeiro da empresa seja
minimizado, através de uma relação equilibrada entre meios próprios e alheios.

Existem diversas formas de financiamento, quer o investimento que vai ter que se realizar
para lançar a empresa quer o necessário para financiar a actividade.

De acordo com as necessidades e os objectivos assim se recomendam diferentes formas de


financiamento, distinguindo-se assim os financiamentos de médio/longo prazo que são
normalmente destinados à aquisição de equipamentos, edifícios e instalações e na
aquisição de bens duradouros e diferentes formas de financiamento de curto prazo,
baseados em capital alheio, designadamente de bancos, de clientes, de fornecedores e
outros.

De seguida são apresentadas as diferentes operações de financiamento possíveis:

11.1. Financiamento de curto prazo

11.1.1. Crédito bancário de curto prazo

O crédito bancário é uma operação através da qual uma instituição bancária coloca à
disposição do seu cliente um determinado montante por ele solicitado comprometendo-se,
este último, a liquidá-lo em datas previamente fixadas e acrescido dos respectivos juros. O
crédito bancário de curto prazo pode ter as seguintes formas:

 Desconto de letras e livranças - as letras e as livranças são geralmente utilizadas


para equilibrar a tesouraria e/ou a exploração da empresa. Uma operação de

104
desconto de uma letra ou livrança, corresponde a um adiantamento, feito pela
instituição bancária que realiza a operação, relativamente à data do seu vencimento.
Estas operações têm diversos tipos de custo, designadamente: juro, comissões,
imposto de selo e portes (no caso das letras). O valor dos encargos é calculado à taxa
de juro praticada pela instituição bancária que procede ao desconto, em função do
prazo que tiver sido previamente acordado entre a data do desconto e a data de
vencimento do título.
 Empréstimos de curto prazo;
 Contas correntes caucionadas;
 Outras operações de financiamento a curto prazo.

11.1.2. Empréstimos de curto prazo

São normalmente usados para financiar operações de prazo reduzido, como sejam, por
exemplo, necessidade momentânea de tesouraria.

Neste tipo de operação a instituição bancária disponibiliza ao seu cliente um determinado


valor de capital comprometendo-se este a restituí-lo à instituição, no final do prazo que
tenha sido acordado, acrescido dos respectivos juros à taxa praticada, à data, pela
instituição bancária que concede o crédito.

11.1.3. Contas correntes caucionadas

São operações de crédito pelas quais a entidade financiadora coloca ao dispor do seu
cliente um determinado volume de crédito contratado, que este pode utilizar até ao seu
limite, podendo repor, quando entender, partes de capital por forma a reduzir o montante
do seu débito. A taxa de juro deste tipo de operações, é preestabelecida, depende da
avaliação do risco que a entidade financiadora fizer ao seu cliente, consta do contrato a
celebrar com esta última, sendo os juros liquidados de acordo com o volume de crédito

105
utilizado. Esta forma de financiamento possui a vantagem de permitir a utilização do
crédito em função das necessidades da tesouraria da empresa.

11.1.4. Descobertos bancários

Os descobertos bancários constituem "plafonds" (valor limite) de crédito que as entidades


bancárias autorizam que as empresas movimentem, quase sempre por períodos muito
curtos de tempo, para suprir dificuldades momentâneas de tesouraria. São normalmente
concedidos a empresas que oferecem garantias de um determinado nível de saldos médios
e com carácter transitório e têm custos normalmente superiores aos praticados para as
restantes operações de crédito.

Esta forma de crédito está directamente associada à conta de depósitos à ordem, sobre a
qual são feitos os movimentos de crédito. A conta fica autorizada a ter saldos negativos até
ao montante fixado ("plafond" de crédito). Os juros são contados diariamente sobre o valor
do saldo devedor.

11.1.5. "Factoring"

Consiste na tomada, pela empresa de factoring (factor), para fins de administração e


cobrança, dos créditos de curto prazo, titulados por facturas, que determinada empresa
(aderente) adquire sobre os seus clientes pelo fornecimento de bens e serviços. Na data de
vencimento das facturas, os devedores liquidarão, à empresa de factoring, os valores em
dívida.

A empresa aderente poderá utilizar, antecipadamente, parte dos créditos cedidos à


empresa de factoring, normalmente até a um máximo de 80% do valor global dos créditos
cedidos, podendo assim encurtar o seu prazo de cobrança e, no limite, converter facturas
em vendas a dinheiro.

O custo de um crédito através de uma operação de factoring é normalmente inferior às


restantes operações de crédito já referidas e é constituído por uma comissão fixa (comissão
106
de factoring) sobre o valor dos créditos cedidos, devida pelo serviço de cobrança e garantia
do risco de crédito, a que se acresce uma taxa de juro aplicável ao montante adiantado à
empresa aderente.

As vantagens mais relevantes do recurso ao factoring são essencialmente as seguintes:


melhoria da liquidez da empresa aderente, redução do esforço de cobrança nas empresas
aderentes e disponibilidade do montante solicitado.

As dificuldades de acesso a esta forma de financiamento à tesouraria são normalmente as


seguintes: utilização de critérios muito selectivos, por parte das empresas de factoring, na
selecção das empresas aderentes e exigência de valores mínimos de crédito cedido.

11.1.6. Créditos documentários

Por ordem da empresa, uma instituição bancária assume a responsabilidade de liquidar um


determinado montante à empresa fornecedora, correspondente a um fornecimento
concreto. O pagamento é feito à empresa fornecedora contra a entrega da documentação
que prova a expedição da mercadoria por uma instituição bancária do país de origem da
empresa fornecedora, que funciona como correspondente.

Uma operação de crédito documentário é concedida à empresa que o requer por um prazo
determinado. Este instrumento garante a liquidação imediata do montante do
fornecimento à empresa fornecedora, permitindo à empresa que solicitou a operação
dispor, pouco tempo depois da data de satisfação da encomenda, do montante
correspondente ao valor do fornecimento.

107
11.2. Financiamento de médio e longo prazo

Para financiar a aquisição de bens duradouros de equipamentos e imobiliários e quando o


recurso a capitais próprios não é possível ou não é suficiente, as empresas recorrem a
diferentes formas de financiamento de médio e longo prazo designadamente:

 Recurso a capitais próprios (auto-financiamento);


 Empréstimos bancários;
 "Leasing";
 Capital de risco.

11.2.1. Recurso a capitais próprios

Constitui a forma menos cara de uma empresa se financiar e, simultaneamente, uma forma
de garantir a manutenção da sua actividade e, deste modo, garantir o seu crescimento. Os
capitais próprios são os capitais da própria empresa, tais como, o capital social, reservas,
resultados e/ou prestações suplementares. Os resultados acumulados retidos na empresa
são também denominados de auto-financiamento.

Sendo este tipo de recursos normalmente escasso, pode contudo vir a ser utilizado caso os
sócios ou accionistas tenham disponibilidade para aumentar o capital social da sociedade
ou realizar entradas em dinheiro ou espécie, em volume suficiente para sustentar as
necessidades de investimento requeridas, as quais poderão, posteriormente, vir ou não a
ser transformadas em capital.

11.2.2. Empréstimos bancários de médio e longo prazo

Destinam-se a financiar investimentos em curso ou no seu início. A empresa tem que


negociar as condições de concessão do empresário com a entidade bancária a quem o

108
solicita, designadamente o prazo, o período de carência de juros e/ou de amortização de
capital e a taxa de juro.

11.2.3. "Leasing" ou locação financeira

É um instrumento de financiamento integral. Utiliza-se, geralmente, para financiar a


aquisição de mobiliário de escritório, equipamento informático, de produção de viaturas
(leasing mobiliário), e também de instalações para a utilização na actividade empresarial
(leasing imobiliário).

A empresa de leasing - locadora - substitui-se à empresa que contrata a operação - locatária


- na aquisição do bem passando este a constituir sua propriedade. A locadora coloca-o à
disposição da empresa locatária a troco de um pagamento periódico - renda - o qual inclui
no valor da amortização, o valor de aquisição acrescido de juro, comissões e impostos.

As rendas podem ser liquidadas mensal ou trimestralmente, podendo assumir os seguintes


diferentes tipos:

 Rendas progressivas - são as mais reduzidas no período inicial do contrato e


aumentam progressivamente para o final do mesmo. Trata-se de uma modalidade
interessante para as empresas que não conseguem disponibilidades imediatas
apesar de resultar num encargo total superior;
 Rendas degressivas - têm um valor inicial superior e decrescem para o final do
contrato;
 Rendas sazonais - são particularmente atractivas para as empresas cuja actividade
se concentra em determinados períodos do ano.

Enquanto durar o contrato, o locatário assume todos os riscos e encargos com o bem
adquirido durante o período em que durar o contrato. No final do contrato o locatário tem a
opção de comprar o bem por um valor residual estabelecido na data de assinatura do
contrato.

109
As vantagens do recurso a este instrumento de financiamento são as seguintes:

 Rapidez e simplicidade da operação;


 Financiamento global;
 Alívio da tesouraria da locatária;
 Competitivo, relativamente a outras formas de financiamento;
 Não reduz o plafond de crédito da locatária.

As operações de leasing imobiliário, quando solicitadas por uma empresa em início de


actividade, são mais difíceis de conseguir uma vez que a empresa de leasing não possui
quaisquer referências ou garantias sobre o potencial da empresa locatária. Este tipo de
financiamento, financia até 100% do valor de aquisição, incluindo a sisa, as despesas de
escritura e as eventuais obras de adaptação.

O leasing imobiliário, por outro lado, permite a substituição regular de equipamento que se
torne eventualmente obsoleto, sendo fácil substituir o actual contrato por outro que tenha
em conta a aquisição de equipamento novo.

Os contratos de leasing não são denunciáveis antes do final dos prazos contratados a não
ser em condições muito especiais a negociar com as empresas locadoras assim como o bem,
adquirido através de uma operação de leasing, não constitui propriedade da locatária antes
do final do contrato.

O leasing pode também ser uma boa solução para empresas que, dispondo de equipamento,
necessitam de lançar capital no negócio para fazer face a eventuais necessidades de fundo
de maneio. Neste caso e confirmados determinados pressupostos e condições da empresa
locadora, esta adquire à locatária um determinado equipamento que lhe é posteriormente
alugado nas condições de leasing financeiro já anteriormente referidas. Uma operação
realizada com estes contornos designa-se por lease-back.

110
11.2.4. O capital de risco

As Sociedades de Capital de Risco (SCR) têm um modelo que assenta na partilha do risco do
negócio com as empresas em início de actividade ou aquelas que necessitam, em
determinada altura da sua vida, de injectar mais capital de modo a sustentar o seu
crescimento ou a entrar em novos negócios.

Tal partilha assenta na participação das SCR no capital das empresas que solicitam o seu
apoio através de um Contrato ou Acordo Parassocial que determina as formas de
relacionamento entre a SCR e a empresa participada e estipula igualmente o período,
previsto na lei, durante o qual aquela permanecerá no capital bem como a mais valia que
deseja obter quando da sua saída no final do período estabelecido no contrato.

O financiamento através de Sociedades de Capital de Risco é uma forma de financiamento


barata, já que não obriga à liquidação de quaisquer encargos financeiros, mas a obtenção de
apoio de uma SCR obriga à análise rigorosa e aprovação prévia de um Plano de Negócios
detalhado da empresa.

111
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