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República de Moçambique

COREP

MÓDULO FINANCIAMENTO DE NEGÓCIOS

Manual do Professor

Certificado Vocacional de Contabilidade Nível 5

FEVEREIRO
2011
ÍNDICE

I. FINANCIAMENTO POR CAPITAIS PRÓPRIOS VS FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS..............................6

1.1. Capitais próprios.................................................................................................................................7

1.2. Capitais alheios...................................................................................................................................9

1.2.1. Financiamento de curto prazo..................................................................................................10

1.2.2. Financiamento a médio e longo prazo......................................................................................12

1.3. Organização da estrutura de capital.................................................................................................13

1.4. Como usar a alavancagem financeira?..............................................................................................14

II. AS PRINCIPAIS ETAPAS DE UM PROCESSO DE FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS............................17

2.1. O ciclo da empresa................................................................................................................................18

2.2. Fontes para financiamento de novos negócios......................................................................................20

2.3. Financiamento privado..........................................................................................................................21

2.4. Principais etapas de um processo de financiamento por capitais alheios.............................................22

III. ATRIBUIÇÃO DE FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS: PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DE UMA INSTITUIÇÃO


FINANCEIRA......................................................................................................................................................25

IV. AS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO DISPONÍVEIS EM MOÇAMBIQUE..............................................29

Instituições Financeiras por Tipo..............................................................................................................30

Bancos Comerciais....................................................................................................................................30

Instituições Financeiras de Desenvolvimento........................................................................................31

Bancos de Microfinanças..........................................................................................................................31

Operadores de Microfinanças..................................................................................................................32

Fundos de Capitais de Risco/Private Equity..........................................................................................32

Mecanismos Alternativos de Financiamento..........................................................................................33

V. PRINCIPAIS ELEMENTOS A CONSIDERAR NA CONCESSÃO DE UM FINANCIAMENTO...................................35

Análise cadastral...................................................................................................................................40

Análise de idoneidade..........................................................................................................................42

Análise financeira.................................................................................................................................43

Análise de relacionamento..................................................................................................................45
Análise patrimonial..............................................................................................................................46

VI. OS RÁCIOS E RESPECTIVOS PARÂMETROS DE LIQUIDEZ, ENDIVIDAMENTO E CAPACIDADE DE SERVIÇO DE


DÍVIDA DE UMA ORGANIZAÇÃO.......................................................................................................................48

6.1. Principais rácios financeiros...................................................................................................................52

VII. PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM PLANO DE NEGÓCIOS PARA OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO..........55

7.1. Criação do plano de negócio..................................................................................................................58

7.2. Elementos financeiros do plano de negócios.........................................................................................67

VIII. RÁCIOS DE ANÁLISE DOS NÍVEIS DE ENDIVIDAMENTO E DE LIQUIDEZ......................................................76

8.1. Rácios de endividamento.......................................................................................................................76

8.1.1. Autonomia Financeira.....................................................................................................................77

8.1.2. Debt-to Equity Ratio.......................................................................................................................79

8.2. Indicadores de liquidez..........................................................................................................................79

8.2.1. O grau de liquidez geral..................................................................................................................79

8.2.2. O grau de liquidez reduzida............................................................................................................82

IX. PREPARAÇÃO DE UM PEDIDO DE FINANCIAMENTO....................................................................................85

9.1. Investimento a realizar..........................................................................................................................86

9.2. Texto em Word ou noutro editor de texto............................................................................................87

9.3. Os anexos ao estudo de viabilidade.......................................................................................................89

X. AVALIAÇÃO DAS DIFERENTES IMPLICAÇÕES DAS ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO..............................91

10.1. Comparação entre alternativas de investimento.................................................................................91

10.2. Fluxos de Caixa....................................................................................................................................92

10.3. Avaliação de investimento...................................................................................................................92

10.3.1. Critério por Inspecção...................................................................................................................93

10.3.2. Período de Recuperação (“pay-back period”)...............................................................................93

10.3.3. Ganhos por capital investido........................................................................................................93

10.3.4. Critérios económicos baseados no princípio de equivalência de fluxos de caixa..........................94

10.4. Método do valor presente líquido.......................................................................................................95

10.5. Método da taxa de retorno...............................................................................................................101

XI. APRECIAÇÃO DAS DIFERENTES ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO........................................................104


11.1. Financiamento de curto prazo...........................................................................................................104

11.1.1. Crédito bancário de curto prazo.................................................................................................104

11.1.2. Empréstimos de curto prazo.......................................................................................................105

11.1.3. Contas correntes caucionadas....................................................................................................105

11.1.4. Descobertos bancários................................................................................................................106

11.1.5. "Factoring"..................................................................................................................................106

11.1.6. Créditos documentários..............................................................................................................107

11.2. Financiamento de médio e longo prazo.............................................................................................108

11.2.1. Recurso a capitais próprios.........................................................................................................108

11.2.2. Empréstimos bancários de médio e longo prazo........................................................................108

11.2.3. "Leasing" ou locação financeira..................................................................................................109

11.2.4. O capital de risco........................................................................................................................111

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................................112
Resultado de Compreender os principais conceitos, etapas e métodos
Aprendizagem 1: envolvidas na angariação e análise de alternativas de
financiamento

Critérios de
Desempenho:

(a) Distingue financiamento por capitais pró prios de


financiamento por capitais alheios e identifica as principais
vantagens e desvantagens para a organizaçã o de ter
diferentes estruturas de financiamento para o respectivo
desempenho econó mico-financeiro, nomeadamente ao nível
da solvabilidade, rentabilidades corrente e líquida, e nível de
activos e volume de negó cios

(b) Descreve as principais etapas de um processo de


financiamento por capitais alheios

(c) Compreende as principais preocupaçõ es que uma instituiçã o


financeira demonstra na consideraçã o e atribuiçã o de
financiamentos bancá rios, descrevendo-as através do modelo
dos 5 Cs do crédito (cará cter, capacidade, capital, colateral e
condiçõ es da envolvente)

(d) Identifica as principais instituiçõ es de crédito disponíveis em


Moçambique ao nível da Banca, instituiçõ es multilaterais, bem
como de Fundos Privados de Investimento

(e) Identifica correctamente os principais elementos a considerar


numa oferta de financiamento, nomeadamente, a duraçã o do
financiamento, taxa de juro, nível de garantias bem como os
requisitos de natureza fiscal e legal para poder aceder a
financiamento
(f) Identifica correctamente os rá cios e respectivos parâ metros
de liquidez, endividamento e capacidade de serviço de dívida
que uma organizaçã o deve cumprir no â mbito de um
financiamento por capitais alheios

(g) Descreve as principais componentes que devem constar de


um plano de negó cios para obtençã o de financiamentos,
nomeadamente, descriçã o dos empreendedores, do negó cio,
estratégia de marketing, estratégia de operaçõ es, estrutura
accionista, orçamento do projecto e plano de financiamento,
plano de implementaçã o, estudo de viabilidade, aná lise de
risco e impacto do projecto

I. FINANCIAMENTO POR CAPITAIS PRÓPRIOS VS FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS

O Financiamento de projectos de investimento trata das operaçõ es financeiras necessá rias


para assegurar os recursos inerentes ao projecto. O financiamento do projecto pode ser de
curto prazo ou médio e longo prazo, consoante a exigibilidade dos pagamentos e a outros
diversos factores. Existe uma interdependência entre as decisõ es de investimento e as decisõ es
de financiamento. A forma de financiamento do projecto influência a sua rentabilidade,
potencia as decisõ es de investimento. O Financiamento pode determinar a viabilidade do
projecto. A empresa pode financiar o seu investimento com capitais próprios quando este
pertence à entidade investidora ou capitais alheios quando este se financia junto de terceiros,
levando a que haja quase sempre um custo implícito. A taxa de rentabilidade do capital pró prio
e a taxa de rentabilidade do capital alheio evoluem com o aumento do endividamento.

Como se pode começar a notar, na decisã o de qual a fonte de financiamento a utilizar, a


primeira grande escolha é sobre se o financiamento deverá ser externo ou interno. Nesta
escolha deverã o pesar, entre outras questõ es, a perda ou ganho de autonomia financeira, a
facilidade ou possibilidade de acesso à s fontes de financiamento e o custo financeiro (juros)
desse financiamento.

Principais fontes de financiamento disponíveis:

a) Auto-financiamento: corresponde aos fundos financeiros libertados pela actividade da


empresa.
b) Aumento de Capitais Pró prios: corresponde ao aumento dos capitais pró prios da
empresa por novas entradas de capital por parte dos actuais ou de novos só cios ou
accionistas.

c) Capitais Alheios: corresponde ao recurso a entidades externas para obtençã o dos


capitais necessá rios à concretizaçã o dos investimentos tais como: crédito bancá rio,
leasing, crédito dos fornecedores de imobilizado, suprimentos de só cios, entre muitos
outros;

d) Incentivos Financeiros ao Investimento: corresponde aos diversos programas de apoio


criados pelo Estado para incentivar o investimento e a competitividade.

Desta forma e por outras palavras, estamos a dizer que as fontes de financiamento designam
o conjunto de capitais internos e externos à organizaçã o utilizados para financiamento dos
investimentos realizados.

Aqui nos concentraremos nas duas formas mais usadas que é sã o os capitais pró prios e os
capitais alheios.

1.1. Capitais próprios


O termo capitais pró prios pode ser visto numa dupla perspectiva, embora esteja em causa o
mesmo conceito: como representaçã o do patrimó nio num determinado momento de uma
empresa ou outra entidade ou como forma de financiamento das actividades de investimento e
exploraçã o a que as empresas podem recorrer.

Entendidos como representaçã o do patrimó nio de uma entidade num determinado momento,
os capitais pró prios, também designados por situaçã o líquida, correspondem ao valor dos bens
(equipamentos, existências, meios monetá rios, etc.) e direitos (dívidas de terceiros), deduzidos
do valor das obrigaçõ es (dívidas a terceiros). E expressando:

Situação Líquida = valor dos bens (equipamentos, existências, meios monetários, etc.) + direitos
(dívidas de terceiros) - valor das obrigações (dívidas a terceiros).

A expressã o em presença dos capitais pró prios é a base da construçã o do balanço (documento
contabilístico fundamental), que é construído de forma a que se verifique a igualdade entre o
activo (onde estã o representados os bens e direitos) e a soma da situaçã o líquida com o passivo
(onde estã o representadas as obrigaçõ es).
Quando se fala dos capitais pró prios como fonte de financiamento, está em causa a
possibilidade de algumas das rubricas que os compõ em se apresentarem precisamente como
meio de financiamento utilizado no â mbito do desenvolvimento das actividades de
investimento e/ou exploraçã o. Tratando-se de capitais pró prios, a origem destas fontes de
financiamento está precisamente nos detentores do capital da empresa. Assim, as empresas
podem recorrer neste â mbito aos seguintes instrumentos fundamentais:

 (Aumentos de) capital social; e

 Prestaçõ es suplementares.

O capital social (ou aumentos no caso de empresas já existentes) corresponde a entradas em


dinheiro ou espécie por parte dos só cios ou accionistas.

As prestaçõ es suplementares representam por sua vez financiamentos dos só cios nas
sociedades por quotas e apenas podem ser efectuadas por disposiçã o expressa nos estatutos.
As prestaçõ es suplementares têm sempre dinheiro por objecto e nã o vencem juros.

Tanto o capital social como as prestaçõ es suplementares têm por regra um cará cter definitivo,
ou seja, nã o sã o passíveis de ser reembolsados aos investidores, sendo, por consequência,
considerados fontes de financiamento de médio/longo prazo.

O peso percentual dos capitais pró prios ao nível do financiamento do activo das empresas é um
indicador importante acerca da sua saú de financeira, sendo muitas vezes utilizado a nível da
aná lise financeira, através do indicador de autonomia financeira.

Sintetizando, o financiamento através dos capitais pró prios pode ser feito de 5 maneiras:

1. Capital Social – Aumento do Capital subscrito pelos só cios ou accionistas da sociedade


no desempenho da sua actividade;
2. Auto-financiamento - obtido através dos recursos financeiros libertos pelo pró prio
funcionamento da empresa que confere mais autonomia e flexibilidade na tomada de
decisõ es de investimentos, contribuindo para a reduçã o do Custo do Capital.

Tendo algumas desvantagens que sã o: poder induzir uma reduçã o da rentabilidade da


empresa e a perda de boas oportunidades de investimento, induzir à perda de disciplina
/rigor na gestã o dos Capitais Pró prios, pode, também, induzir ao aumento dos custos
implícitos dos Capitais Pró prios (CP);
3. Cessã o de Activos/desinvestimento – a empresa procede à alienaçã o de activos
considerados nã o indispensá veis ao desenvolvimento regular da sua actividade.
4. Reforço de Capitais Pró prios – Solicitaçã o de contribuiçõ es adicionais de capital aos
só cios na forma de suprimentos. Os Só cios podem efectuar empréstimos (que se
designam por suprimentos) á s sociedades que tem participaçõ es sociais. Quer isso dizer
que a mesma pessoa pode ser só cio e credor de uma empresa. Os empréstimos de só cios
podem ser uma alternativa de financiamento no caso de ser difícil a obtençã o de outro
tipo de crédito.

5. Capital de Risco – assumido por empresas especializadas em que consiste na


participaçã o, normalmente, minoritá ria e temporá ria, no capital e gestã o de empresas.

Para além dos capitais pró prios, as empresas podem também recorrer aos denominados
capitais alheios, que sã o por norma reembolsá veis, seja a curto prazo ou a médio/longo prazo.

1.2. Capitais alheios


No decurso da sua actividade, as empresas têm naturalmente necessidade de recorrer ao
financiamento de capital como forma de garantir a aquisiçã o e manutençã o dos seus activos
corpó reos e incorpó reos e o desenvolvimento normal da sua laboraçã o. Nesse contexto,
existem duas fontes de financiamento genéricas à disposiçã o das empresas: recurso a capitais
pró prios (por intermédio dos detentores de capital) ou recurso a capitais alheios.

O recurso a capitais alheios implica naturalmente o recurso a entidades financiadoras que


nessa qualidade assumam um cará cter externo à empresa. Essas entidades podem ser vá rias,
designadamente fornecedores, instituiçõ es bancá rias, só cios (quando concedam empréstimos à
empresa), etc. Qualquer que seja a forma do financiamento por capitais alheios, a empresa terá
naturalmente de proceder ao pagamento ou amortizaçã o das dívidas surgidas.

Dentro do recurso a capitais alheios, é usual diferenciar-se entre capitais de curto prazo
(quando a exigibilidade das dívidas se verifica a menos de um ano) e capitais de médio e longo
prazo (quando a referida exigibilidade se verifica a um ano ou mais).
Em termos de balanço, os capitais alheios a que a empresa recorra vã o reflectir-se
naturalmente nas rubricas do passivo.
1.2.1. Financiamento de curto prazo

Crédito bancário: Operaçã o pela qual uma instituiçã o bancá ria coloca à disposiçã o de um
cliente determinado montante e este se compromete a reembolsar a instituiçã o na data
fixada antecipadamente, acrescido dos juros previamente combinados.
O crédito bancá rio poderá tomar a forma de crédito directo, caso em que a instituiçã o
bancá ria coloca fundos à disposiçã o de empresas e particulares (exemplos: desconto de
letras, de livranças e abertura de crédito através de conta corrente ou de empréstimo).
Quanto ao crédito bancá rio indirecto, a instituiçã o bancá ria desembolsa fundos caso o
beneficiá rio do crédito nã o assuma os compromissos (exemplos: garantias bancá rias, avais
ou aceites bancá rios).

Empréstimos de curto prazo: O objectivo é financiar operaçõ es de curto prazo (a 90, 120
ou 180 dias), por exemplo, para resolver dificuldades de liquidez momentâ neas. Como
contrapartida, as empresas no fim do prazo convencionado com a instituiçã o bancá ria terã o
de restituir o valor do empréstimo acompanhado de juros postecipados.

Empréstimos em conta corrente: Tratam-se de contas correntes em que a instituiçã o


bancá ria coloca à disposiçã o da empresa um limite de crédito contratado. Geralmente estas
contas sã o vá lidas por 180 dias, podendo no entanto ser renovadas ciclicamente. Implicam o
pagamento de juros por parte da empresa contraente e uma garantia. Ainda, contas
correntes, eventualmente caucionadas é o estabelecimento de um tecto de crédito até ao
qual a empresa pode movimentar livremente através de transferências da conta corrente
para a sua conta bancá ria normal.

Desconto de livranças é utilizaçã o de uma figura bancá ria através da qual a empresa recebe
um determinado valor e se compromete a devolver esse valor ao banco numa determinada
data prefixada.

Descoberto bancário: Tem por objectivo ultrapassar dificuldades de tesouraria


momentâ neas e implica a aceitaçã o por parte da instituiçã o bancá ria (geralmente só
concedida aos melhores clientes). Este tipo de crédito é mais caro do que o crédito normal
pois à taxa de juro das operaçõ es activas acrescentam-se normalmente dois pontos
percentuais. Por outras palavras, descoberto bancá rio é a situaçã o em que a empresa, com
autorizaçã o bancá ria, mantém saldos negativos na sua conta bancá ria.
Crédito por assinatura: Consiste no cumprimento de uma obrigaçã o pela instituiçã o
bancá ria, condicionado ao nã o cumprimento de outra obrigaçã o assumida pela empresa.
Quer isto dizer que se a empresa nã o assumir a sua responsabilidade a instituiçã o bancá ria
procede ao pagamento da respectiva obrigaçã o (exemplos: aval bancá rio e a fiança ou
garantia bancá ria). No entanto, a instituiçã o bancá ria cobra geralmente uma comissã o de
garantia (por um período de 3 meses).

Crédito documentário: Sob ordem de uma empresa (o ordenador), uma instituiçã o


bancá ria responsabiliza-se por colocar determinado montante à disposiçã o do vendedor (o
beneficiá rio), normalmente por intermédio de outra instituiçã o bancá ria (o correspondente).
Assim, o vendedor tem a vantagem de garantir o recebimento atempado do montante da
venda. Este tipo de financiamento é, geralmente, utilizado em operaçõ es de
exportaçã o/importaçã o.

Factoring: Sistema aperfeiçoado de cobranças de vendas a prazo. Trata-se de uma


actividade que assegura o seu financiamento corrente através da tomada de créditos sobre
terceiros, substituindo assim o crédito de tesouraria. Através da cessã o financeira, o
intermediá rio financeiro (a factor) adquire os créditos a curto prazo que os fornecedores (os
aderentes) concedem aos seus clientes (os devedores) e que advém da venda de produtos ou
da prestaçã o de serviços. Ou ainda, factoring é o estabelecimento por parte da empresa de
um protocolo com uma empresa especializada através do qual esta liquida as dívidas dos
clientes da primeira ficando com o direito de receber essas dívidas posteriormente.

Sociedades financeiras para a aquisição de crédito: Instituiçõ es parabancá rias que


exercem actividades de financiamento de aquisiçã o a crédito de bens e serviços (concedem
crédito directo ao fornecedor, descontos, prestam garantias ou antecipam fundos sobre
créditos, por exemplo), bem como, prestam serviços directamente relacionados com as
formas de financiamento referidas, tais como gestã o de créditos.

Papel comercial: Títulos de dívida emitidos por empresas e instituiçõ es nã o


governamentais, a curto prazo (o prazo má ximo de cada emissã o é de dois anos),
constituindo uma alternativa aos tradicionais títulos de renda fixa, em termos de aplicaçã o
de fundos.
1.2.2. Financiamento a médio e longo prazo
Paralelamente, existem também diversas formas de financiamento a médio e longo prazo.
Nomeadamente:

Capital de risco: Participaçã o (normalmente, temporá ria e minoritá ria) no capital pró prio
de empresas com potencial de expansã o e viabilidade, permitindo a partilha de risco do
negó cio. Assessoriamente, capital de risco pode ser visto como entrada no capital da
empresa por parte de uma outra entidade com vista a melhorar a situaçã o daquela e
posteriormente obter uma mais-valia na alienaçã o da participaçã o.

Empréstimos bancários que sã o, mais uma vez, uma situaçã o típica em que a empresa
obtém um determinado valor de crédito que terá de devolver de acordo com um plano de
reembolso da dívida previamente estabelecido.

As principais características destes empréstimos sã o:

 O montante a contratar, definido entre o banco e a empresa que o solicita;


 O prazo de utilizaçã o do crédito, que depende do tipo de destino a que a empresa se
propõ e para os fundos;

 A periodicidade dos reembolsos;

 A taxa de juro, que é geralmente indexada a uma taxa de referencia (por exemplo a
PRIME LENDING RATE) e um Spread que representa o prémio de risco que o banco
cobra à empresa cliente;

 Garantias apresentadas pela empresa, que podem ser de natureza real (hipoteca) ou
pessoal (aval).

Capitais alheios estáveis: Empréstimos de só cios (ou suprimentos), empréstimos


bancá rios, empréstimos obrigacionistas (como por exemplo, operaçõ es de junk bonds -
emissõ es de obrigaçõ es de elevado risco cuja remuneraçã o é elevada), sã o algumas das
formas de financiamento em capitais alheios de que a empresa se poderá socorrer.

Leasing: Financiamento, por parte de intermediá rios financeiros, da aquisiçã o de bens e


respectiva cedência em locaçã o, mantendo, no entanto, estes intermediá rios a propriedade
do bem em questã o como garantia. Também leasing pode se definir como o recurso a uma
empresa especializada com vista à aquisiçã o de bens previamente definidos, através de uma
forma de reembolso estabelecida.
Empréstimos obrigacionistas sã o a emissã o de títulos de dívida – obrigaçõ es.

Aqui os devedores estã o obrigados a um pagamento regular fixo dos juros e ao reembolso final
do dinheiro emprestado. É importante ver que as autoridades fiscais encaram o pagamento de
juros como uma despesa. Isto significa que a empresa pode deduzir os juros aquando do
cá lculo do seu rendimento colectá vel. Os juros sã o pagos a partir do rendimento antes de
impostos. Os dividendos e os lucros acumulados advêm do rendimento apó s o imposto.

1.3. Organização da estrutura de capital

Segundo Schroeder, Clark e Cathey (2005) a combinaçã o (mix) entre a dívida e o capital
pró prio de uma companhia é denominado de estrutura do capital. Os mesmos autores
acrescentam que ao longo dos anos tem-se debatido consideravelmente se o custo de capital de
uma firma varia de acordo com variadas estruturas de capital. Modigliani e Miller (1958)
concluíram que o custo de capital de uma empresa nã o é afectado por essa combinaçã o
participativa entre dívidas e capital pró prio, excepto quanto ao benefício da dedutibilidade de
impostos.

Na verdade, na grande maioria dos casos, as empresas financiam-se recorrendo a uma


combinaçã o de capitais pró prios e alheios.

Com efeito, quando se pensa em iniciar um projecto empresarial fazem-se contas aos capitais
pró prios disponíveis para o investimento inicial. No entanto, é necessá rio ter em conta que o
recurso a capitais alheios permite a "alavancagem" dos capitais pró prios, isto é, aumenta o seu
risco e também o seu retorno potencial.

Para a escolha do mix de financiamento (isto é, da percentagem de capitais pró prios e de


capitais alheios/empréstimos) nã o existe uma fó rmula universal, mas sim opçõ es diferentes de
acordo com:

Ciclo de vida: Em regra, uma empresa na sua fase de lançamento é financiada quase na
totalidade por capitais pró prios (alguns poderã o ter a característica de capitais de risco),
pois a empresa está numa fase em que dificilmente poderá garantir com segurança o
pagamento dos juros e o reembolso dos capitais alheios. À medida que vai avançando para a
maturidade, a empresa poderá entã o recorrer a um maior nível de capitais alheios, pois já
gerará um nível de cash-flow suficiente para garantir com segurança o pagamento dos custos
de financiamento e o seu reembolso.

Percentagem de custos fixos na estrutura de custos: É normal que uma empresa com
muitos custos fixos tenha uma taxa de juro superior a uma empresa com custos
predominantemente variá veis, pois a primeira terá sempre que pagar em primeiro lugar os
seus custos regulares (renda, pessoal, etc.) e só depois pagará os encargos financeiros.

Risco do negócio: Também é intuitivo que uma empresa que actue em sectores de maior
risco (como a Internet ou a biotecnologia) tenha custos de financiamento superiores a uma
empresa que actue nos sectores mais tradicionais e menos arriscados da economia (como o
retalho alimentar ou a electricidade).

Percentagens de capital alheio: A empresa terá de ter em conta qual a taxa de juro que
consegue para diferentes percentagens de capital alheio. Se normalmente nã o é difícil
conseguir empréstimos bancá rios se estes representarem 20% ou 30% dos investimentos
totais (sendo o restante capitais pró prios), tal nã o acontece se a situaçã o for a inversa. Neste
ú ltimo caso, quem emprestar o dinheiro exigirá uma taxa de juro muito superior por forma a
ser compensado pelo maior risco que estará a correr.

Na verdade, quer os capitais pró prios quer os capitais alheios têm custos, o custo dos capitais
pró prios é a taxa de retorno esperada do investimento, pelos accionistas/só cios, o custo dos
capitais alheios dividem-se em custos directos: taxa de juro, spreads e outras despesas e em
custos indirectos derivados à elevaçã o do risco financeiro da empresa, que no futuro terá
custos mais elevados em financiamentos.

Os custos financeiros dos capitais alheios sã o considerados custos para efeitos fiscais, existe
uma poupança fiscal associada ao endividamento. Assim tanto maior o nível de endividamento
do projecto tanto maior a sua rentabilidade. A influência do benefício fiscal associado ao
financiamento por capitais alheios, na rentabilidade do projecto é designada por efeito
alavanca financeira.

1.4. Como usar a alavancagem financeira?


Como já foi visto, a ideia de alavancagem é que a rentabilidade dos capitais pró prios investidos
em determinado projecto aumenta muito à medida que a percentagem de capitais alheios
utilizados é maior, desde que o nível de capitais alheios nã o seja tã o elevado que ponha em
risco a viabilidade do projecto.

O efeito de alavancagem terá de estar sempre presente nas decisõ es de investimento, pois
poderá ser decisivo nas taxas de rentabilidade atingidas pelos capitais pró prios.

Vamos ver este exemplo simples para um projecto de 1.000,00 Meticais de investimento:

PROJECTO A B C D E

(1) Investimento total 1000 1000 1000 1000 1000

(2) Rentabilidade esperada 10% 10% 10% 10% 10%

(3) Percentagem de capitais alheios 0% 20% 40% 60% 80%

(4) Montante de capitais alheios (1) X (3) 0 200 400 600 800

(5) Taxa de juro suportada 0% 6% 9% 14% 18%

(6) Taxa de imposto 35% 35% 35% 35% 35%

(7) Taxa de juro apó s imposto (5) x [1-(6)] 0% 4% 6% 9% 12%

(8) Retorno do investimento (1) x (2) 100 100 100 100 100

(9) Custo de financiamento (4) x (7) 0 7,8 23,4 54,6 93,6

(10) Retorno dos capitais pró prios (8) - (9) 100 92,2 76,6 45,4 6,4

(11) Montante de capitais pró prios (1) - (4) 1000 800 600 400 200

(12) Rentabilidade dos capitais pró prios (10)/(11) 10,0% 11,5% 12,8% 11,4% 3,2%

Repare-se no exemplo que vale a pena ter uma maior percentagem de capitais alheios até 40%,
mesmo com a taxa de juro mais alta, e que ter uma percentagem superior a 40% já nã o é
recomendá vel, pois o aumento da taxa de juro diminui a rentabilidade dos capitais pró prios. A
este efeito nã o é alheio o facto dos encargos financeiros serem dedutíveis fiscalmente, isto é,
uma taxa de juro de 6% transforma-se numa taxa real de 4%. A alavancagem só acontece
quando a rentabilidade dos investimentos é superior ao custo real do passivo. Em suma, a
empresa deverá escolher o mix de financiamento que maximize a rentabilidade dos capitais
pró prios investidos no projecto.
Assim, o efeito alavancagem indica a variaçã o percentual dos resultados líquidos resultante de
uma variaçã o percentual nos resultados operacionais. Pode propiciar um aumento da
rendibilidade dos capitais pró prios da empresa e, simultaneamente, provocar um aumento no
grau de risco financeiro da empresa.

Quanto maior o endividamento maior a rentabilidade do investimento, mas outros factores sã o


igualmente importantes e determinantes na decisã o de financiamento, como por exemplo:
 Atitude face dos investidores face ao risco maior rentabilidade maior risco aos
accionistas;
 Atitude face à propriedade da empresa perda de influência e de parte da propriedade da
empresa;
 O risco do negó cio e as empresas utilizam uma menor parte dos capitais alheios para
evitar o aumento do custo do capital;
 Rentabilidade dos investimentos auto-financiamento capacidade de gerar fundos
internamente;
 Relacionamento com a banca - sendo empresas pequenas e sem histó ricos ou gestores
sem credibilidade junto a banca;
 Condiçõ es de acesso ao financiamento bancá rio têm em conta a relaçã o entre capitais
pró prios e alheios;
 Estrutura de custos da empresa ou seja empresas com expressivo custos fixos tendem
ter maior taxa de juros que outras com predominantes custos variá veis.

Segundo as teorias de aná lise das decisõ es de financiamento de Myers designadas por teoria
de trade-off, a decisã o é tomada em funçã o dos custos benefícios da opçã o endividamento
versus capitais pró prios.
II. AS PRINCIPAIS ETAPAS DE UM PROCESSO DE FINANCIAMENTO POR CAPITAIS ALHEIOS

“Dinheiro é a semente do dinheiro, o primeiro centavo

é mais difícil de adquirir que o segundo milhã o”

Jean Jacques Rousseau

Muitos dos empreendedores que criam uma nova empresa irã o necessitar, em alguma altura do
crescimento do negó cio, de recorrer a financiamento. De facto, sã o muitos os exemplos de
empreendedores que desenvolveram ideias geniais e criaram negó cios que transformaram
mercados e quotidianos de muitas sociedades e que começaram sem recursos financeiros.

Estes empreendedores sã o exemplos de que é possível construir algo diferente, inovador e


economicamente desafiante, sem ter os recursos necessá rios para tal. Mas como sã o estas
ideias financiadas? E quais os financiamentos que mais se adequam a cada negó cio? Nesta
secçã o abordaremos as fases de desenvolvimento de um negó cio e analisaremos os
financiamentos que poderã o estar disponíveis e serem adequados para cada uma dessas fases
para depois analisar as etapas de um processo de financiamento por capitais alheios.

Para a maior parte dos empreendedores que iniciam um negó cio, o financiamento é um tema
desconhecido e, por vezes, até temido. Nã o obstante, a escolha do financiamento adequado é
normalmente determinante para que o lançamento de um negó cio seja rá pido e bem sucedido,
e as decisõ es de financiamento que sã o tomadas durante a fase inicial do negó cio podem
afectar a maneira como este se irá desenvolver no futuro.

Para além da fase inicial, o empreendedor poderá necessitar de injectar mais capital na
empresa ao longo do desenvolvimento do negó cio. Por este motivo, as diferentes possibilidades
de financiamento devem ser cuidadosamente avaliadas durante todas as fases, analisando
todas as alternativas disponíveis. Saber angariar os recursos financeiros mais adequados é uma
característica importante dos empreendedores. É necessá rio que estes possuam capacidades e
criatividade neste â mbito, para conseguirem atrair o capital necessá rio para financiar um
negó cio que, muitas vezes, nã o possui qualquer histó rico e tem um futuro incerto.
2.1. O ciclo da empresa
A maioria dos negócios tem um início incerto e não gera capital suficiente para cobrir todos os custos
iniciais nas primeiras fases de vida. Mesmo que o empreendedor trace um objectivo inicial, este
poderá ser alterado a qualquer altura do processo, pelo que o financiamento necessário também
poderá mudar (em natureza e quantidade) ao longo das diferentes fases do negó cio.

Saber quando irá o negócio necessitar de mais financiamento é um problema que poderá ser
minimizado se o empreendedor traçar e delinear momentos (e depois monitorar estes momentos).
Desta forma, é possível às partes envolvidas (empreendedor e investidor) estabelecerem
compromissos financeiros e compreenderem as razões para eventuais falhas encontradas durante o
processo.

Este diagrama ilustra os ciclos cuja explicação se segue:


1) Semente / Seed
Neste está gio poderíamos dizer que existem apenas dois personagens: O aspirante a
empreendedor e a sua boa ideia. Normalmente nesta etapa nã o existe plano de negó cios,
pesquisa de mercado e nem a concretizaçã o do conceito/ideia. Temos sim um mundo
das ideias.
Opçõ es:
 Economias pessoais / familiares / amigos
2) Start-up

Nesta etapa já houveram algumas renú ncias. Costuma-se dizer que pelo menos um dos
envolvidos já esteja alocado a tempo inteiro no projecto. Aqui provavelmente um estudo
de mercado já foi ou está sendo realizado, o plano de negó cios está sendo refinado e
surge a necessidade de nã o somente fazer uma versã o beta do produto/serviço mas
também de testá -lo com um nicho de clientes.

Opçõ es:
 Incubadoras;
 Anjos investidores (Angel investor);
 Captaçã o de recursos à fundo perdido

3) Primeiro estágio (crescimento inicial)

Aqui temos uma empresa já em operaçã o e um produto/serviço que por sua vez já está
sendo testado no mercado e inclusive alguns retornos já podem ser colhidos neste
momento. Por isso, há uma necessidade maior de financiar o negó cio, contratar
pessoas e principalmente conquistar mais projectos.

 Opçõ es:

 Venture Capital (VC) (momento preferido para os VCs entrarem no negó cio);

 Empréstimos em bancos (linhas de capital de giro com taxas reduzidas);

4) Segundo estágio (crescimento exponencial)

A empresa neste momento começa a atingir um patamar de vendas significativo a ponto


de buscar no mercado profissionais qualificados para expandir a equipa de trabalho e
também surge a necessidade de investir em infra-estrutura. Consequentemente a
necessidade de financiamento aumenta. Já é possível nesta etapa receber algumas
propostas de investimento, parceria, aquisiçã o.

Opçõ es:

 Venture Capital;

 Linhas governamentais

5) Colheita (maturação)

Neste está gio, o empreendedor vive o problema da maturaçã o o seu negó cio e entender
até que ponto vale a pena se manter na dianteira do mesmo. Concorrentes maiores
possivelmente irã o fazer ofertas de aquisiçã o e cabe ao empreendedor decidir se é o
momento de se desfazer do negó cio, embolsar a ganhos financeiros e partir para a
pró xima empreitada (mas desta vez com dinheiro no bolso).

Opçõ es:

 Fusã o/Aquisiçã o (com um concorrente maior/menor);

 Venda do negó cio para algum fundo de investimento no sector em que o seu
negó cio actua;

 Abertura de capital;

A adequaçã o das alternativas apresentadas a cada negó cio altera-se consoante a evoluçã o e a
maturaçã o do mesmo, isto é, varia muito desde as fases iniciais – semente e start-up – até à
maturação e saída dos investidores na empresa.

O empreendedor que queira iniciar o seu negócio deverá percorrer vários passos que o ajudarão a
encontrar o financiamento ajustado às necessidades do seu projecto. Os caminhos a seguir podem
ser muito diversos, pelo que vale a pena explorar todas as alternativas. A seguir, descreve-se de uma
forma sintética cada uma destas alternativas.

2.2. Fontes para financiamento de novos negócios


Semente Start-up Crescimento inicial Crescimento exponencial Maturação

Empreendedor  
Família/Amigos  
Business Angels   
Parceiros empresariais   
Capital de Risco   
Financiamento Público    
Financiamento Privado    
Fonte: Smith & Smith (2000)

2.3. Financiamento privado


A forma de financiamento privado mais comum em Moçambique, dirigida ao sector
empresarial, é o tradicional recurso ao empréstimo bancá rio. Como acontece com outras
formas de financiamento, as necessidades em capital por parte das empresas vã o variando
muito consoante o tipo, o tamanho e a fase de desenvolvimento da empresa que o solicita (e a
respectiva capacidade para dar garantias de suporte ao empréstimo bancá rio).

Por norma, este tipo de apoio financia tanto empresas recém criadas como empresas em fase
de expansã o e maturaçã o, mas as condiçõ es do empréstimo (incluindo taxas de juro), podem
ser muito distintas. Ao contrá rio do capital de risco, o empréstimo bancá rio é um instrumento
financeiro que proporciona à s empresas recursos a longo prazo, sem haver qualquer
interferência do banco na gestã o da empresa.

O direito ao retorno do capital e à remuneraçã o do juro sã o normalmente garantidos (quase


sempre incluindo avales pessoais dos só cios), independentemente do sucesso ou insucesso da
empresa. Se o empreendedor ou a empresa falharem os pagamentos do capital, o credor pode
accionar diversos mecanismos legais, até à insolvência da empresa e penhora dos bens do
avalista.

Apesar de esta ser uma componente fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa
empresarial, raramente os empreendedores possuem a experiência necessá ria para decidir
adequadamente sobre a melhor forma de encontrar financiamento. Por outro lado, como nã o é
uma competência base necessá ria para o dia-a-dia da empresa, nã o é razoá vel contratar
alguém para esta funçã o ou apenas porque tem experiência na angariaçã o ou negociaçã o de
financiamento.

Nã o obstante, é fundamental que quem lidera o negó cio tenha apoio adequado e competente
nesta á rea, pelo que deverá criar as parcerias necessá rias (por exemplo, associando-se a um
business angel com experiência) ou contratar alguém externamente que possa dar apoio no
processo de financiamento.
2.4. Principais etapas de um processo de financiamento por capitais alheios
O diagrama que se segue mostra as etapas importantes do processo de financiamento por
capitais alheios (o credito).

Apesar da facilidade e do crescimento da oferta de crédito a pessoa que toma o crédito é vista
como um risco, o que faz com que as instituiçõ es financeiras tenham de tomar diversos
cuidados antes de conceder o empréstimo, com o objectivo de minimizar esse risco e evitar o
prejuízo. Você sabe como funciona o processo de concessã o de crédito nestas instituiçõ es? O
processo de crédito é definido em etapas, envolvendo a instituiçã o financeira e o tomador de
crédito.

Vamos descrever cada uma das etapas como se segue.

DEFINIÇÃO DO MERCADO ALVO: nesta primeira etapa, a instituiçã o financeira vai definir qual
o pú blico que pretende atingir, estabelecendo produtos, instrumentos, estratégia, rendimento
mínimo etc. A selecçã o deve ser bem-feita, com o objectivo de garantir o sucesso das demais
etapas e evitar perdas.

ORIGEM: esta é a fase da captaçã o do cliente, de acordo com a definiçã o estabelecida na etapa
anterior. Vale ficar atento aos casos que sã o proibidos, por lei, de receber crédito, como é o
caso de pessoas envolvidas com actividades ilícitas e de contravençã o.

ANÁLISE DO CLIENTE: o principal documento desta fase é a ficha cadastral. O preenchimento


correcto da ficha permite uma melhor aná lise por parte do responsá vel pela concessã o que
deve avaliar, entre outros quesitos, se o candidato a tomador de empréstimo tem condiçõ es de
gerar caixa.

NEGOCIAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO: hora de estabelecer os critérios do crédito, as condiçõ es do


empréstimo, como prazo, taxas de juros etc. Este é o momento e definir o que o cliente precisa
e o que a instituiçã o pode oferecer.

APROVAÇÃO: como o pró prio nome já indica, é definir, com base nas etapas anteriores, se será
possível ou nã o conceder o empréstimo.

FORMALIZAÇÃO: fase importante, na qual o risco operacional está muito visível. Essa é a etapa
de documentar tudo o que foi acordado antes da efectivaçã o do empréstimo. Todo o cuidado é
pouco para que detalhes importantes nã o fiquem para trá s. Cabe à s duas partes analisar com
cautela o documento antes de assiná -lo.

DESEMBOLSO: é o momento do empréstimo propriamente dito, ou seja, quando a instituiçã o


disponibiliza o valor ao cliente.

ACOMPANHAMENTO: acompanhamento da transacçã o com o objectivo de se antecipar a


eventuais problemas e perdas.

LIQUIDAÇÃO: caso nã o seja detectado nenhum problema na fase anterior, este é o momento
de o cliente liquidar a dívida, ou seja, fazer o pagamento de acordo com a estrutura definida.

RENEGOCIAÇÃO: no entanto, caso algum problema tenha sido identificado na fase de


acompanhamento, é hora de renegociar a dívida, visando garantir o pagamento no final.

LIQUIDAÇÃO OU PREJUÍZO: apó s a renegociaçã o, dá -se o pagamento da dívida ou configura-


se a perda, ou seja, ou o cliente consegue honrar o empréstimo ou o banco fica no prejuízo.

O objectivo de todo esse processo é, para o banco, uma garantia de que o contratante irá honrar
suas dívidas. No entanto, é importante frisar que esta é uma forma de diminuir a inadimplência
do consumidor.

A aná lise criteriosa por parte da instituiçã o deixa claro, inclusive ao cliente, se ele terá
condiçõ es, ou nã o, de tomar um empréstimo. Sã o cuidados que evitam o prejuízo da instituiçã o,
mas que também colaboram com o bolso do tomador, que diante da facilidade do crédito pode
se ver tentado a contratá -lo, sem ter condiçõ es de honrar seus compromissos no futuro.
Vale lembrar, no entanto, que esse passo-a-passo é a forma correcta e criteriosa de instituiçõ es
financeiras analisarem a concessã o do crédito. No entanto, existem outras formas, menos
burocrá ticas, de conseguir o empréstimo, mas que, com certeza, levam muito mais
consumidores ao endividamento e à inadimplência.

Dicas para Lidar com Bancos


1. Lembre-se que parte do trabalho dos bancos é lidar com pessoas na sua situaçã o. No
entanto, nã o se atemorize, até porque você também lhes dá dinheiro a ganhar. Por
outro lado, existem outros bancos e estes nem sequer sã o um parceiro estratégico.
2. Nã o marque reuniõ es apenas para pedir dinheiro emprestado. Apresente-se a si a à
sua empresa. Tente perceber os critérios de concessã o de crédito, nomeadamente
para empresas como a suam, antes de o pedir.
3. Prefira bancos que já o conhecem (empréstimos anteriores, por ter conta aberta, por
conhecer funcioná rios bem colocados e com quem mantêm uma relaçã o de
confiança). No crédito bancá rio, a confiança e consideraçã o pessoais podem ser mais
importantes que a pró pria qualidade do projecto apresentado. Se essa relaçã o nã o
existe, procure criá -la (abra conta, contraria empréstimos pequenos, enfim, crie uma
histó ria).
4. Saiba concretamente quanto precisa, para quê e como poderá calendarizar o
pagamento. Ter uma proposta claramente definida é a melhor forma de credibilizar
a mesma.
5. Seja sincero na resposta à s questõ es que lhe sã o colocadas. Isto é fundamental para
cimentar uma relaçã o de confiança.
III. ATRIBUIÇÃO DE FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS: PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DE UMA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Aná lise de Crédito é o momento no qual o agente cedente irá avaliar o potencial de retorno do
tomador do crédito, bem como, os riscos inerentes à concessã o. Tal procedimento é realizado,
também, com o objectivo de ser possível identificar os clientes que futuramente poderã o nã o
honrar com suas obrigaçõ es, acarretando uma situaçã o de risco de caixa à organizaçã o.

Através da Aná lise de Crédito é possível identificar se o cliente possui idoneidade e capacidade
financeira suficiente para amortizar a dívida que se pretende contrair.

A aná lise de crédito é um processo organizado para analisar dados, de maneira a possibilitar o
levantamento das questõ es certas acerca do tomador do crédito. "Este processo cobre uma
estrutura mais ampla do que simplesmente analisar o crédito de um cliente e dados financeiros
para a tomada de decisã o com propó sitos creditícios" (BLATT, 1999, p. 93).

Segundo Santos (2000), o processo de aná lise e concessã o de crédito recorre ao uso de duas
técnicas: a técnica subjectiva e a técnica objectiva ou estatística. A primeira diz respeito à
técnica baseada no julgamento humano e a segunda é baseada em processos estatísticos.

Em relaçã o à primeira técnica, Schrickel observa que: "a aná lise de crédito envolve a habilidade
de fazer uma decisã o de crédito, dentro de um cená rio de incertezas e constantes mutaçõ es e
informaçõ es incompletas". (SCHRICKEL, 2000, p. 27). Ou seja, grande parte da aná lise de
crédito é realizada através do julgamento do agente de crédito, baseada principalmente na
habilidade e experiência do mesmo.

Santos (2006), ainda explica que esta técnica baseia-se na experiência adquirida,
disponibilidade de informaçõ es e sensibilidade de cada analista quanto a aprovaçã o do crédito.

A aná lise subjectiva do tomador do crédito é importante, visto que através da experiência do
agente de crédito é possível identificar factores de cará cter, capacidade, capital e condiçõ es de
pagamento. Porém, essa aná lise nã o pode ser realizada de maneira aleató ria, é preciso estar
baseada em conceitos técnicos que irã o guiar a tomada de decisã o

A aná lise ocorrerá conforme as necessidades do solicitante e dentro de um nível de risco


aceitá vel, a partir de documentaçã o apresentada e aná lise da mesma, objectivando a
maximizaçã o dos resultados da instituiçã o, segundo Schrickel (2000).
As instituiçõ es financeiras utilizam-se de bancos de dados, pú blicos e privados, para a avaliaçã o
do risco de crédito, ou seja, da probabilidade de recebimento do montante emprestado ao
cliente (consumidor de serviços bancá rios). De acordo com a avaliaçã o que é feita pelo banco,
acedendo esses cadastros, estabelece-se a taxa de juros a ser cobrada em um negó cio bancá rio
específico ou mesmo o banco pode deixar de conceder o empréstimo.

As informaçõ es sã o obtidas junto a empresas e organizaçõ es que mantêm esses bancos de


dados informacionais. Em sua maioria, esses bancos de dados possuem apenas informaçõ es
negativas, relativas à inadimplência de dívidas.

Estas informaçõ es sã o obtidas na Central de Risco de Crédito nos Bancos Centrais que tem
dupla finalidade:
a) Uma primeira e originariamente prioritá ria, de facilitar a supervisã o bancá ria pelo
Banco Central, ao identificar com precisã o as instituiçõ es financeiras com problemas em
suas carteiras de crédito;
b) Uma segunda e nã o menos importante, que é a de registar informaçõ es para auxiliar as
instituiçõ es bancá rias no processo de avaliaçã o da concessã o de crédito a seus clientes.

Relativamente as preocupaçõ es das instituiçõ es de crédito na concessã o de crédito, Gitman


(1997, p.696) questiona: "A actividade de selecçã o de crédito de uma empresa busca
determinar se deve ser concedido crédito a um cliente e quais os limites quantitativos que
devem ser impostos. Quais seriam as informaçõ es necessá rias e suas fontes para que se
pudesse avaliar a capacidade creditícia de um cliente?”.

Assim, os cinco C's considerados serã o descritos a seguir. O primeiro, o Cará cter, segundo Berni
(1999, p.103), é a "Forma de agir e reagir da empresa diante de situaçõ es adversas; seriedade e
esforços empreendidos diante de crises”. Para Gitman (op.cit., p.696), é "O histó rico do
solicitante quanto ao cumprimento de suas obrigaçõ es financeiras, contratuais e morais. Os
dados histó ricos de pagamento e quaisquer causas judiciais pendentes, ou concluídas contra o
cliente seriam utilizados na avaliaçã o do seu cará cter."Dessa forma, de forma concisa, o aspecto
cará cter é determinado pela intençã o da empresa em cumprir seus compromissos e pode ser
medido por sua aná lise histó rica.

A capacidade é o segundo C dos cinco c's descritos. Berni (1999, p.103) coloca:
"Será fundamental um conhecimento do cronograma de recebimentos e pagamentos da
empresa [...]; Para avaliar a capacidade de uma empresa, devemos considerar os seguintes
aspectos: Informaçõ es: dados obtidos a respeito da empresa e seus administradores, origem,
conhecimento, relacionamento e actuaçã o no mercado. Tradiçã o: tempo de permanência no
negó cio, respeito e qualidade dos produtos. Modus operandi: forma como a empresa opera com
bancos, clientes, fornecedores e funcioná rios. Dados Técnicos: facturaçã o, nível de vendas”.
Para Gitman (1997, p.696), a Capacidade é "o potencial do cliente para quitar o crédito
solicitado. Aná lises dos demonstrativos financeiros, com ênfase especial nos índices de liquidez
e de endividamento, sã o geralmente utilizadas para avaliar a capacidade do solicitante de
crédito”.

Dentro dessa ó ptica, a capacidade, nesse caso, significa a possibilidade de geraçã o de caixa da
empresa, levando em consideraçã o o conhecimento do seu nível tecnoló gico, seu limite de
produtividade e, principalmente, a qualificaçã o de seus administradores.

O terceiro, o Capital, sobre ele, alerta Berni (1999, p.104): Algumas empresas nã o podem ser
medidas pela facturaçã o, mas o capital, o patrimó nio e os recursos pró prios podem ser um
ó ptimo determinante para o crédito.

A forma como a empresa reaproveita seus lucros, o consequente aumento de capital, a


constituiçã o de reservas pode auxiliar na viabilizaçã o do crédito.
Segundo Gitman (1997, p.696), é o Capital, "a solidez financeira do solicitante, conforme
indicada pelo patrimó nio líquido da empresa. O total de exigíveis em relaçã o ao patrimó nio
líquido, bem como os índices de lucratividade sã o, frequentemente, usados para avaliar o
capital do demandante de crédito”.

Em outras palavras, no caso de pessoas jurídicas, através da aná lise dos balanços pode se ter a
exacta dimensã o do comportamento do capital, por outro lado, no caso das pessoas físicas, a
acumulaçã o de capital mostra sua competência e, geralmente, o patrimó nio imobiliá rio é o
melhor indicador de uma histó ria de sucesso.

O quarto, os Colaterais sã o todos os tipos de activos que podem ser dados como garantia
adicional em uma operaçã o de crédito. Gitman (1997, p.696) define como: "O montante de
activos colocados à disposiçã o pelo solicitante para garantir o crédito.
Naturalmente, quanto maior, esse montante, maior será a possibilidade de se recuperar o valor
creditado, no caso de inadimplência. O exame do balanço patrimonial e a avaliaçã o de activos
em conjunto com o levantamento de pendências judiciais podem ser usados para estimar os
colaterais."
Berni (1999, p.104) reforça as ideias de Gitman e descreve que o colateral "vai informar-nos
sobre as garantias adicionais que poderã o amparar uma linha de crédito”.

O ú ltimo elemento dos cinco c's sã o as Condiçõ es. Gitman (op.cit., p.697) observa que: "As
condiçõ es econó micas e empresariais vigentes, bem como circunstâ ncias particulares que
possam afectar qualquer das partes envolvidas na negociaçã o.... fazem parte da avaliaçã o das
condiçõ es."

Berni (1999, p.104), discorda de Gitman e coloca que: "as condiçõ es da linha de crédito
(modalidade, custo, prazo e garantias) também sã o um parâ metro decisó rio do crédito”.
Contudo, a partir da colocaçã o de Gitman as condiçõ es sã o, factores externos do mercado, ou
circunstâ ncias especiais, como sazonalidades, que podem alterar o desenvolvimento da
operaçã o.

"Os parâ metros bá sicos da concessã o de crédito sã o avaliados mediante profunda aná lise da
ficha cadastral do cliente, a qual deverá contemplar um sistema de pontuaçã o, visando a
quantificar os parâ metros definidos e atribuir pesos de acordo com a relevâ ncia de cada
informaçã o obtida. Conforme a pontuaçã o obtida, a concessã o de crédito poderá ser
automá tica, ou ser analisada de acordo com a política de crédito da empresa" ( NIKOLAY
2004, apud SECURATO 2002).

Dentro do que foi exposto, o sucesso financeiro de uma empresa depende directamente e
intensamente das prá ticas de concessã o de crédito.
IV. AS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO DISPONÍVEIS EM MOÇAMBIQUE
As Instituiçõ es Financeiras exercem funçã o de grande importâ ncia, relacionada com o
crescimento e com o desenvolvimento econó micos, em especial ao actuar na captaçã o de
recursos e na concessã o de créditos, com o respectivo spread bancário, além dos demais
serviços prestados. Portanto, sã o os agentes econó micos que propiciam o fomento à produçã o
de riquezas, ao financiar actividades produtivas.

Por tal motivo, é inimaginá vel concebermos uma economia de mercado, nos moldes actuais,
sem a presença de Instituiçõ es Financeiras fortalecidas.

O sistema financeiro caracteriza-se como ferramenta indispensá vel para o progresso de uma
economia de mercado, sendo certo que a existência de um sistema de crédito estruturado e
eficiente é premissa indispensá vel para o desenvolvimento econó mico e, por consequência,
social.
O sistema bancá rio moçambicano está a registar assinalá veis transformaçõ es acompanhando
os desenvolvimentos internacionais do sector. Estas transformaçõ es consubstanciam-se no
desenvolvimento de novos produtos financeiros, investimento em infraestrutura tecnoló gica,
modernizaçã o e expansã o dos canais de distribuiçã o (ATMs, abertura de mais agências) com
vista a responder à enorme e crescente procura pelos serviços bancá rios.

Desse universo do sistema bancá rio, em termos de propriedade os capitais nacionais


representavam 26,7 por cento sendo o remanescente, capitais estrangeiros. Portugal e Á frica
do Sul representam em conjunto 44,4 por cento dos capitais totais e 60,6 por cento dos capitais
estrangeiros.

A presença de bancos de capitais estrangeiros tem trazido enormes vantagens para o sistema
bancá rio em termos de gestã o, transferência de tecnologia, conhecimentos, bem como
observâ ncia de padrõ es elevados de actividade bancá ria definidos nos países de origem.

O quadro que se segue mostra a evoluçã o das instituiçõ es financeiras nos ú ltimos dois anos em
Moçambique.
Tipo de Instituição 2009 2008
Bancos 14 14
Microbancos 3 1
Cooperativas de 6 6
Crédito
Sociedades de 1 1
Locaçã o Financeira
Sociedades de 1 1
Investimento
Sociedades 1 1
Emitentes ou Gestoras
de Cartõ es de Crédito
Casas de Câ mbio 20 22
Organizaçõ es de 9 4
Poupança e
Empréstimo
Operadores de 95 72
Microcrédito

Instituições Financeiras por Tipo

Bancos Comerciais
African Banking Corporation Mozambique, SA (BancABC)

Banco Comercial e de Investimentos, SA (BCI)

Banco Internacional de Moçambique, SA (Millennium BIM)

Banco Terra, SA

Barclays Bank Moçambique, SA

First National Bank Moçambique, SA (FNB)

ICB – International Bank Of Commerce

KfW IPEX-Bank GmbH

Mauritius Commercial Bank Moçambique, SA (MCB)

30
Moza Banco, SA

Instituições Financeiras de Desenvolvimento


ADIPSA (Apoio ao Desenvolvimento de Iniciativas privadas no Sector Agrário)

African Development Bank (ADB)

African Management Services Company (AMSCO)

AGRIFUTURO

Belgian Investment Company for Developing Countries (BIO)

Danish International Development Agency (Danida)

DEG- Deutsche Investitions- und Entwicklungsgesellschaft

Development Bank of Southern Africa (DBSA)

Dutch Ministry of Foreign Affairs

European Investment Bank (EIB)

Ex-change Mozambique

Industrial Development Corporation of South Africa (IDC)

International Finance Corporation (IFC)

NORSAD

Norwegian Investment Fund for Developing Countries (NORFUND)

PROPARCO

Bancos de Microfinanças

31
Banco Oportunidade de Moçambique, SA (BOM)

Banco ProCredit, SA

Banco Tchuma, SA

Socremo - Banco de Microfinanças, SA

Operadores de Microfinanças
AfricaWorks

Agência de Desenvolvimento Económico da Província de Manica (ADEM)

Associação de Desenvolvimento Sócio Económico de Matutuíne (HLUVUKU)

Associação de Técnicos e Profissionais em Desenvolvimento Rural (kukula)

Associação Kwaedza Simukai Manica

Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural (AMODER)

Associacão Phambeni Makweru (APHAMA)

Cooperativa de Crédito Micro-Empresários de Angónia (CCMEA)

Fundo de Desenvolvimento da Mulher (FDM)

Kulima

OPHAVELA

Projecto HOPE Moçambique

The Hunger Project Mozambique

Fundos de Capitais de Risco/Private Equity


African Century

Aureos Capital

32
Lonrho Plc

MARIS Capital

Whatana Investments

Mecanismos Alternativos de Financiamento


Bolsa de Valores de Moambique

Evolução de agências autorizadas de bancos


Província 2009 2008
Cidade de Maputo 157 146
Província de 34 32
Maputo
Gaza 24 19
Inhambane 29 21
Sofala 37 32
Manica 21 16
Tete 20 17
Zambézia 17 14
Nampula 42 32
Cabo-Delgado 10 8
Niassa 10 6
Total 401 343

Os dados indicam que em Moçambique temos o seguinte quadro:

 O nú mero de instituiçõ es bancá rias em funcionamento no país totalizam 14 bancos;

 O total de operadores de microcrédito licenciados e em exercício incrementou


indicava até 2009, um total de 96 unidades;

 O nú mero de agências de bancos em funcionamento incrementou para perfazer um


total de 352 em todo o país de um total de 401 autorizadas;

33
 O total de ATM´s e POS´s somavam 620 e 4,668, respectivamente.

O aumento do nú mero de agências bancá rias, principalmente nos distritos, (2009 em 51


distritos) revela por um lado, que as instituiçõ es de crédito tem respondido positivamente
ao apelo do Governo de Moçambique, de expandir os serviços financeiros à s zonas rurais, e,
por outro, à necessidade de abranger maior nú mero da populaçã o, de alargar a base de
clientes e captar poupanças.

Uma instituição multinacional de forte presença em Moçambique é a Corporação Financeira


Internacional, da sigla inglesa (IFC) é fundada em 1965.

A IFC é um exemplo de capacidade de adaptação do Grupo do Banco Mundial. O período em


que aparece o IFC, na histó ria de pensamento econó mico, era marcado pela transição do
Keynesianismo que concede ao Estado um papel relevante para o período dos liberais e
neoliberais com Milton Friedman a cabeça e recuperada uma das máximas de Schumpeter
small is beautiful (o pequeno é giro,). Estes trazem o agente econó mico privado para a figura de
proa, motor e peça indispensável para o crescimento e desenvolvimento econó micos. Esta
instituição é criada, por isso, para contribuir, activamente, no crescimento econó mico nos
países em desenvolvimento através de criação e fortalecimento do sector privado com (i)
empréstimos directos a este sector, (ii) participaçõ es financeiras em empreendimentos
privados, (iii) prestar assistência técnica tanto aos governos como ao sector privado no
esforço de promoção, crescimento e afirmação deste sector. Segundo estatísticas do Banco
Mundial, da carteira total de investimentos da IFC, 16% está na Á frica sub-sahariana. Em
Moçambique vai crescendo o nú mero de exemplos de participação desta instituição. Aliás, a
criação de escritó rios desta instituição no país é mais uma prova desse comprometimento.

V. PRINCIPAIS ELEMENTOS A CONSIDERAR NA CONCESSÃO DE UM FINANCIAMENTO

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A concessã o de crédito é um dos pilares do desenvolvimento econó mico, com grande
repercussã o nos indicadores sociais.

Quanto à s operaçõ es bancá rias, a elevaçã o do grau de garantia é uma das condiçõ es para a
reduçã o dos encargos ao tomador final, em virtude da diminuiçã o do risco, criando assim
cená rio favorá vel à universalizaçã o de acesso ao crédito.

Em Moçambique, a concessã o de crédito é actividade exercida por Instituiçõ es Financeiras,


encontrando-se prevista no texto constitucional, bem como devidamente regulamentada
por meio de normas infraconstitucionais, sob a fiscalizaçã o do Banco Central.

A importâ ncia da concessã o de crédito é apontada por Keynes e Kalecki, os dois fundadores
do estudo da macroeconomia, os quais entendem que, em uma economia de mercado
desenvolvida, empresá rios e consumidores podem gastar conjuntamente acima de suas
receitas correntes, desde que haja um sistema de crédito. Até entã o, a crença dominante era
que o crescimento da renda da comunidade e dos lucros empresariais dependia da
disposiçã o de um grupo social, especialmente dos empresá rios (mas também dos
consumidores, do governo ou dos estrangeiros) de gastar acima de sua renda corrente, isto
é, de colocar mais dinheiro na economia do que as receitas auferidas.

O crédito bancá rio movimenta a economia, garante o comércio e a fluidez dos mecanismos
de troca. “A confiança subsistente entre homens de comércio nas suas relaçõ es mercantis é

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o crédito, conforme definiu Henry Thornton no século XIX [...] Haverá pouca confiança e
crédito e, igualmente, pouco comércio, numa sociedade na qual a lei e o senso moral sã o
fracos e, em consequência, o direito de propriedade privada é inseguro”. A certeza e o
amparo jurídico à s relaçõ es é pressuposto indispensá vel ao desenvolvimento econó mico,
em especial para a universalizaçã o de acesso ao crédito com reduçã o da taxa de juros.

A questã o comporta ainda uma intervençã o valorativa: se de um lado as Instituiçõ es


Financeiras sã o vistas por alguns segmentos da sociedade como verdadeiros agiotas
institucionalizados, é inegá vel que se constituem agentes econó micos essenciais por
permitirem o acesso ao crédito, elemento que fomenta a actividade e o crescimento
econó mico, de relevante funçã o social.

Muitos factores interferem na concessã o de crédito e na composiçã o dos encargos


incidentes, mas, por certo, a certeza e a liquidez do título representativo da operaçã o, bem
como a existência de garantias, trazem reflexos na fixaçã o da taxa de juros e do spread
bancário (ou seja, “a diferença entre as taxas de juros de aplicaçã o – empréstimos – e de
captaçã o”) e demais encargos incidentes, com base na maior ou menor probabilidade de
recuperaçã o pelo credor.

Os direitos reais de garantia ganham destaque, pois com a vinculaçã o de um bem ao


cumprimento de uma obrigaçã o, ocorre a elevaçã o do nível de garantia. No entanto, deve-se
levar em consideraçã o as formalidades envolvidas para a regular constituiçã o do gravame,
ou seja, o custo-benefício em relaçã o ao montante da operaçã o objectivada.
As garantias reais sã o representadas pela obrigaçã o acessó ria que uma pessoa assume
perante o credor, vinculando um bem ao cumprimento da obrigaçã o principal, caso o
devedor nã o pague ou nã o possa cumprir com o pactuado.

As garantias reais sã o dotadas de “realidade”, conforme prelecciona Pontes de Miranda,


pois conferem ao seu titular, credor da obrigaçã o, um poder particular e dependente,

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suficiente para apreender o bem outorgado, “se estiver em poder de terceiro para fazer
valer aquela razã o creditó ria e aqueles direitos de preferência a qualquer outro credor”.

A aná lise cadastral do cliente é importante para definir o êxito de uma operaçã o, ou seja, de
aumentar as chances de recuperaçã o de crédito. No entanto, é inquestioná vel que a aptidã o
dos instrumentos para formalizaçã o da operaçã o é factor relevante.

A aná lise do risco envolve vá rios aspectos. Inicialmente, o risco está relacionado à figura do
tomador e à possibilidade de concretizar a operaçã o nos moldes pleiteados. Mas a aná lise
também compreende a avaliaçã o dos juros e demais encargos a serem fixados, bem como a
escolha do instrumento que será adoptado para a formalizaçã o.

Outro elemento exigido no financiamento é o aval que é instituto de direito comercial e


corresponde à garantia que é dada por terceiro estranho ao título de crédito, pela qual se
prende à obrigaçã o cambial, isto é, fica solidariamente vinculado ao título avalizado, pelo
compromisso que assume de pagar a importâ ncia que nele se contem, quando nã o a pague
o devedor, que é por ele garantido.

O aval corresponde a uma garantia cambial, firmada por terceiro – o avalista – ao avalizado,
garantindo o pagamento do título. O avalista pode ser um terceiro estranho ao título ou
alguém que já seja obrigado.

O avalista assume uma obrigaçã o igual à de seu avalizado, tanto quanto aos efeitos, como
no que tange à s consequências.

Duas sã o as características principais do aval: de um lado, a autonomia; de outro, a


equivalência. O avalista assume, perante o credor do título, uma obrigaçã o autó noma, mas
equivalente à do avalizado. Ou, para dizer o mesmo, por termos diversos, o aval é dotado de
autonomia substancial e acessoriedade formal.

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Outro elemento do financiamento é a hipoteca. A palavra hipoteca é derivada do grego
hypothéke onde teve origem este instituto jurídico, cujo significado é coisa entregue pelo
devedor, por exigência do credor, para garantia de uma obrigaçã o.

Conforme Silvio Rodrigues, a hipoteca “é o direito real que recai sobre um imó vel, um navio
ou um aviã o, que, embora nã o entregues ao credor, o asseguram, preferentemente, do
cumprimento da obrigaçã o”. Assim sendo, nã o paga a dívida, cabe ao credor o direito de
executar o bem dado em garantia, para com o produto apurado em praça satisfazer o
cumprimento, preferentemente e com exclusã o dos outros credores, que só terã o direito à s
sobras, se houver. É um contrato acessó rio, pressupondo a existência de um contrato ou
uma obrigaçã o principal por ele garantido.

De se considerar ainda a definiçã o do mestre Washington de Barros Monteiro, pela qual a


hipoteca é direito real, declarado por lei de modo expresso. Como direito real, vincula o
bem gravado, acompanha-o sempre onde quer que se encontre, aderindo à coisa.

As principais características da hipoteca sã o:


a) O objecto gravado deve ser de propriedade do devedor ou de terceiro;
b) O devedor ou terceiro continua na posse do imó vel hipotecado;
c) É indivisível, pois a hipoteca grava o bem na sua totalidade, nã o acarretando
exoneraçã o correspondente da garantia o pagamento parcial da dívida;
d) Tem cará cter acessó rio (garante uma dívida principal; nã o existe garantia sem uma
obrigaçã o principal);
e) A modalidade convencional, é negó cio solene;
f) Confere ao seu titular direito de preferência e de sequela;
g) Assenta-se em dois princípios: o da especializaçã o e o da publicidade.

Sã o diversas as instituiçõ es financeiras que podem atender as micro e pequenas empresas,


formais. Tanto os bancos pú blicos quanto os privados possuem alternativas de serviços e
produtos financeiros adequados ao segmento. Além disso, as Cooperativas de Crédito e as
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Instituiçõ es de Microcrédito têm sistematicamente aumentado o nú mero de operaçõ es com
empreendimentos de pequeno porte.

Nestas instituiçõ es financeiras existem inú meras soluçõ es (linhas) de crédito para
empréstimos de capital de giro e para financiar projectos de investimento, com ou sem
capital de giro associado.

Para saber qual a linha de crédito é mais adequada, deve-se buscar estas alternativas
perante os agentes financeiros, identificando suas características e condiçõ es. A primeira
pesquisa deve ser realizada na instituiçã o de relacionamento do cliente e, se estender para
outros agentes financeiros.

É funçã o das instituiçõ es financeiras decidirem sobre a aprovaçã o ou nã o da solicitaçã o de


empréstimo, bem como liberar os recursos financeiros para as microempresas e empresas
de pequeno, médio e grande porte.

Para essa decisã o, os bancos executam, pelo menos, as seguintes tarefas:


a) Aná lise do cadastro da empresa, dos só cios e dos avalistas;
b) Enquadramento da operaçã o de acordo com suas soluçõ es / linhas de crédito;
c) Definiçã o das garantias sobre o financiamento e negociaçã o com o interessado;
d) Aná lise de crédito de acordo com o projecto de viabilidade econó mica e financeira;
e) Aprovar ou recusar o pleito do financiamento.

Análise cadastral

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A aná lise cadastral refere-se ao processo de aná lise dos dados de identificaçã o dos clientes.
Conforme Blatt (1999) evidencia, o sucesso da concessã o do crédito depende de
informaçõ es confiá veis a respeito do cliente. Santos (2006) complementa, dizendo que:

"O levantamento e a aná lise das informaçõ es bá sicas de crédito sã o requisitos


fundamentais para a determinaçã o do valor do crédito, prazo de amortizaçã o, taxas de
juros e, se necessá rio reforço ou vinculaçã o de novas garantias." (SANTOS, 2006, p. 47).

Os bancos só devem conceder empréstimos (crédito) a tomadores se possuírem adequadas


e nã o restritivas informaçõ es cadastrais. Schrickel (2000) reafirma todos estes factos,
dizendo que as instituiçõ es de crédito devem munir-se de elementos informativos
essenciais e indispensá veis sobre o potencial tomador do crédito, antes de manter qualquer
tipo de relacionamento concreto ou formalizar alguma operaçã o de crédito.

Porém, todas as instituiçõ es de crédito devem atentar para o sigilo das informaçõ es
colectadas pelos agentes de crédito. Schrickel (2000) sugere que as informaçõ es e
documentaçã o pessoal devem ser mantidas arquivadas sobre minucioso controle. Tal
atençã o é necessá ria para que ocorra sigilo das informaçõ es e para que melhor lhe permita
o controle, manuseio e actualizaçã o dos dados.

Os dados que deverã o ser identificados para aná lise, segundo Santos (2006), deverã o ser os
seguintes:

 Escolaridade;
 Estado Civil;

 Idade;

 Idoneidade;

 Moradia (se pró pria ou alugada e tempo de residência);

 Nú mero de dependentes;
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 Renda (principal e complementar);

 Situaçã o legal dos documentos; e

 Tempo no actual emprego ou actividade exercida.

Para a empresa sã o exigíveis as demonstraçõ es financeiras do ú ltimo exercício (balanço,


demonstraçõ es de resultados, fluxo de caixa). Os estatutos da empresa e os corpos sociais,
moradia, NUIT sã o outros dados cadastrais exigidos. Normalmente os bancos solicitam o
balancete do ú ltimo período e outra que é verificar na Central de Risco do Crédito para ver
o cadastro da empresa.

As demonstraçõ es financeiras sã o sínteses elaboradas, segundo normas específicas, dos


valores e informaçõ es contidos em registos contá beis da empresa com os seguintes
demonstrativos:
 Balanço Patrimonial (BP), que retrata a posiçã o patrimonial da empresa em
determinado momento;
 Demonstraçã o de Resultados do Exercício (D.R. E), que mostra como se formou o
lucro ou o prejuízo em determinado período;
 Demonstraçã o das Mutaçõ es do Patrimó nio Líquido, que apresenta as variaçõ es de
todas as contas do Patrimó nio Líquido ocorridas entre dois períodos;
 Demonstraçã o das Origens e Aplicaçõ es de Recursos (DOAR), que evidencia a
variaçã o ocorrida no Capital Circulante Líquido (activo circulante – passivo
circulante), de um período para outro.

A aná lise por meio de índices é usada para comparar o desempenho e a situaçã o de uma
empresa com outras empresas, ou consigo mesma ao longo do tempo, envolve os métodos
de cá lculo e a interpretaçã o dos índices financeiros, para avaliar o desempenho e a situaçã o
da empresa, a aná lise por meio de índices nã o envolve meramente a aplicaçã o de uma
fó rmula a dados financeiros, para se obter um determinado índice. O mais importante é a
interpretaçã o do valor do índice.”(GITMAN, 1997, p. 102, 103)”.

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Santos (2006) ainda defende que no processo de aná lise de crédito deve-se considerar
todas as informaçõ es relacionadas com a situaçã o financeira do cliente, pois a aná lise
conjunta dos dados irá fornecer informaçõ es mais precisas para a tomada de decisã o. Para
Schrickel (2000), o agente de crédito deve atentar para a seguinte documentaçã o legal:

 Certidã o de Casamento, se casado (a);


 Bilhete de Identidade (BI);

 Nú mero Ú nico de Identificaçã o Tributá ria (NUIT);

 Có pia da Declaraçã o de Imposto de Rendimento

 Declaraçã o de Bens

 Comprovante de rendimentos;

 Comprovante de residência;

 Procuraçõ es (se aplicá vel)

 Ficha Cadastral preenchida e assinada.

Por fim, Blatt (1999) explica que a ficha cadastral é um resumo da vida do cliente, por meio
da qual o credor tem a possibilidade de obter um conhecimento inicial sobre o mesmo. Ele
ainda define como “[...] um conjunto de informaçõ es financeiras e nã o financeiras que
subsidiam o processo decisó rio de crédito, auxiliando na avaliaçã o [...] do cliente. (BLATT,
1999, p. 78).

Análise de idoneidade

Já a aná lise de idoneidade consiste no levantamento e aná lise de informaçõ es relacionadas


à idoneidade do cliente com o mercado de crédito. Segundo Santos (2006), esta aná lise

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baseia-se na colecta de informaçõ es sobre o solicitante do crédito junto à s empresas
especializadas na gestã o de risco de crédito.

Para Santos (2006), a aná lise da idoneidade deve ser um das primeiras informaçõ es
averiguadas, pois caso o cliente nã o possua informaçõ es negativas as demais informaçõ es
poderã o ser colectadas e analisadas para a aná lise do risco total.

A idoneidade do cliente pode ainda ser classificada em quatro categorias, conforme Santos
(2006):

 Nã o Restritivos: quando nã o há informaçõ es negativas sobre o cliente no mercado


de crédito;
 Alertas: quando há registos antigos no mercado de crédito, já solucionados, que nã o
impedem a concessã o de novos créditos. Apenas ocorre a exigência de uma aná lise
mais criteriosa por parte do agente de crédito;

 Restritivos: indicam que o cliente possui informaçõ es desabonató rias no mercado


de crédito. Sã o exemplos: registos de atrasos, renegociaçõ es e geraçã o de prejuízos a
credores. Podem ser classificadas como de cará cter subjectivo (de uso interno de
instituiçõ es do mercado de crédito) ou de cará cter objectivo, tais como protestos,
registos de cheques sem fundo, acçõ es de busca e apreensã o, dentre outros; e

 Impeditivos: sã o apontamentos que impedem que pessoas físicas actuem como


tomadores de crédito, a exemplo de bloqueios de bens, proibiçõ es legais de
concessã o de crédito, dentre outros.

No caso das empresas, a sua idoneidade é atesta através dos seus ó rgã o sociais e para
pequenas empresas é através dos seus pró prios proprietá rios (só cios).

Análise financeira

Em relaçã o à aná lise financeira, Blatt (1999) explica que a mesma é primordial para a
determinaçã o das forças e fraquezas financeiras do cliente, a partir das informaçõ es das
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demonstraçõ es financeiras do mesmo. A aná lise da renda total do cliente e posterior
aná lise de compatibilidade com os créditos pretendidos é uma fase de vital importâ ncia no
processo de aná lise dos riscos de crédito.

Para Black; Morgan (apud Santos, 2006), deve ser dada atençã o especial à aná lise da renda,
pois consideram existir relaçã o directa entre a renda e a taxa de inadimplência de pessoas
físicas. Santos (2006) ainda diz que é de suma importâ ncia determinar o valor exacto da
renda e a sua regularidade, bem como a probabilidade de continuar sendo recebida. Desta
maneira é possível identificar factores que poderã o vir a prejudicar o futuro pagamento da
dívida contraída.

Autores como Santos (2006), Blatt (1999) e Schrickel (2000) definem os Demonstrativos
de Pagamento, Declaraçã o de Imposto de Renda e Extractos Bancá rios como as melhores
fontes de informaçõ es sobre a renda do cliente.

Os Demonstrativos de Pagamento, fornecidos pelos empregadores dos solicitantes de


crédito, constituem-se na fonte mais utilizada pelas instituiçõ es de concessã o de crédito. A
Declaraçã o do Imposto de Renda é uma fonte alternativa de dados que possibilita um
melhor cá lculo sobre a renda média mensal do solicitante, segundo Santos (2006).

No caso de pessoas físicas autó nomas ou profissionais que trabalhem em actividades


sazonais, o agente de crédito deve tomar especial cuidado com discrepâ ncias na renda
média mensal do cliente. Para Santos (2006), nessa situaçã o, a comprovaçã o da renda é de
extrema dificuldade e por isso o agente de crédito deve se basear em cá lculos aproximados
a partir de demonstrativos bancá rios, tais como extratos de contas bancá rias.

É sugerido, por Santos (2006), a construçã o de um Balanço Patrimonial adaptado do


solicitante do crédito, por parte do agente de crédito. Tal instrumento visa a uma melhor
visualizaçã o dos activos e passivos a fim de determinar a situaçã o financeira e capacidade
de pagamento do cliente.

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Os activos representam os bens, tanto financeiros como patrimoniais, dos clientes. Sã o
colocados em ordem de liquidez, iniciando pelos activos que melhor possam ser
convertidos em receita imediata, representados por valores em conta corrente, salá rio e
outros, até os activos menos líquidos, como por exemplo, veículos e imó veis. Os passivos
representam todos os compromissos que o cliente assumiu com o mercado de crédito ou
para a compra de bens e serviços. Sã o organizados de maneira a iniciar pelos de maior
solvência (imediata) até os de maior prazo de pagamento.

Segundo Santos (2006), quanto maior for o saldo do activo total em relaçã o ao passivo
total, maior será a capacidade de o cliente honrar as dívidas adquiridas. Neste caso, o
patrimó nio líquido, calculado pela diferença entre o total dos activos e o total dos passivos,
será um excelente indicador da riqueza do cliente e, por conseguinte, da capacidade de
pagamento do mesmo.

Para as empresas, o mérito econó mico-financeiro do projecto (estudo de viabilidade) com a


aná lise dos indicadores de viabilidade mais importantes (Taxa Interna de Retorno e o Valor
Actual ou Presente Líquido assim como Tempo de Recuperaçã o do Capital Descontado).

Adicionalmente, a empresa apresenta as demonstraçõ es financeiras para se calcular os


rá cios financeiros de solvência, endividamento, liquidez para se apurar o mérito financeiro
e capacidade para amortizaçã o da dívida.

Análise de relacionamento

A aná lise de relacionamento baseia-se principalmente na aná lise realizada sobre as


informaçõ es extraídas do histó rico do relacionamento do cliente com o credor e o mercado
de crédito. Quando o cliente já é conhecido da instituiçã o de concessã o de crédito, é
possível extrair informaçõ es de créditos adquiridos anteriormente, taxas de juros
aplicadas, frequência de utilizaçã o, pontualidade na amortizaçã o, entre outros.

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Santos (2006) acredita que essa aná lise de relacionamento auxilia na aná lise da idoneidade
do cliente e pode garantir uma decisã o mais favorá vel ou nã o à concessã o do crédito.
Contudo, aponta a dificuldade dos agentes de crédito de conseguirem informaçõ es precisas
junto a outras instituiçõ es de crédito devido à necessidade de manter sigilo sobre as
operaçõ es com que trabalham. Conhecer o patrimó nio dos clientes é importante no
processo de aná lise de crédito, principalmente para que seja possível vinculá -lo em
contratos de crédito sempre que for verificada a existência de algum risco maior.

Análise patrimonial

A aná lise patrimonial é frequentemente utilizada para a avaliaçã o das garantias que os
clientes podem oferecer para vincularem ao contrato de concessã o, segundo Santos (2006).
O autor define garantia como a vinculaçã o de um bem que assegure a liquidaçã o do crédito
caso o tomador nã o honre suas dívidas.

Entretanto, Blatt (1999) defende que a concessã o do crédito nã o pode estar atrelada ao
bem disposto como garantia, pois assim a organizaçã o estaria comprando um bem que nã o
é de interesse.

Santos (2006) complementa dizendo que a finalidade da garantia é evitar que factores
imprevisíveis impossibilitem a quitaçã o do crédito adquirido pelo solicitante. O Banco
Central estabelece que as instituiçõ es financeiras que trabalham com a concessã o de
crédito devem exigir dos solicitantes garantias suficientes para garantir o retorno do
capital utilizado na operaçã o.

Porém, fica a cargo da instituiçã o de concessã o de crédito definir quais garantias serã o
aceitas, bem como a real necessidade das mesmas para a realizaçã o da operaçã o de crédito.
Além disso, Santos (2006) diz que as garantias reais (bens) devem ser correctamente
analisadas para se verificar a possibilidade de solvência das mesmas, assim como seu valor
de mercado real e a existência de acçõ es legais que impeçam que sejam utilizadas.

Análise de sensibilidade
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A aná lise de sensibilidade é uma fase extremamente importante do processo de aná lise de
concessã o de crédito. É através dela que o agente de crédito ou analista financeiro irá
monitorar a situaçã o macroeconó mica a fim de prever situaçõ es que poderã o aumentar o
nível de risco da operaçã o.

Santos (2006) cita como exemplo o acompanhamento de taxas de juros. Esses aumentos
podem desencadear reduçã o do nível de actividade econó mica e até recessã o, reduzindo a
capacidade de geraçã o e retençã o de caixa das pessoas físicas, comprometendo a
capacidade de pagamento das mesmas.

É importante que os analistas de crédito acompanhem a situaçã o do mercado a fim de


prever situaçõ es de desequilibro na economia que poderã o acarretar um aumento na
inadimplência de suas carteiras de crédito. Blatt (1999) explica que uma correcta avaliaçã o
do mercado pode ajudar a definir quais taxas serã o praticadas, quais prazos de pagamento
sã o mais favorá veis e em quais situaçõ es, o solicitante poderá vir se tornar inadimplente.

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VI. OS RÁCIOS E RESPECTIVOS PARÂMETROS DE LIQUIDEZ, ENDIVIDAMENTO E CAPACIDADE
DE SERVIÇO DE DÍVIDA DE UMA ORGANIZAÇÃO

Um rá cio financeiro é uma razã o valores escolhidos do relató rio e contas de uma empresa,
com o objectivo de determinar alguma característica financeira dessa empresa, seja a sua
solvabilidade, risco, nível de valorizaçã o ou qualidade como investimento.

Existem muitos rá cios já utilizados de forma sistemá tica para determinar a condiçã o
financeira de uma empresa. Esses rá cios possuem utilidade tanto para pessoas internas à
empresa (gestã o da empresa) como para entidades exteriores (investidores, analistas,
financiadores, fornecedores e clientes).

Os valores utilizados para calcular os rá cios sã o provenientes maioritariamente de


documentos produzidos pela empresa:

 O balanço;
 A demonstraçã o de resultados e;

 O mapa de cash flow.

Podem ainda ser necessá rios valores oriundos de entidades externas como:

 Valores produzidos em mercados (cotaçõ es, taxas de juro, etc);


 Dados macroeconó micos;

 Valores respectivos a empresas concorrentes na mesma indú stria ou no mercado


em geral, para efeitos de comparaçã o.

Os rá cios financeiros facilitam a optimizaçã o da proporçã o de capitais alheios no


financiamento da empresa. Comparando os valores dos rá cios financeiros com os de outras
empresas do mesmo sector, podemos igualmente averiguar a razoabilidade do nível de
endividamento da empresa.

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Os rácios financeiros permitem:

 Estabelecer o nível de valorizaçã o de uma empresa;


 Comparar esse nível ao de empresas no mesmo sector;

 Comparar esse nível a empresas de sectores diferentes;

 Comparar o nível de avaliaçã o de sectores;

 Comparar o nível de avaliaçã o de mercados;

 Comparar o nível de avaliaçã o de produtos financeiros diferentes;

 Comparar a evoluçã o de uma mesma empresa em períodos de tempo diferentes;

 Quantificar factos / características da empresa;

 Apontar indícios / detectar anomalias;

 Fazer comparaçõ es no tempo e no espaço.

Os rá cios podem ser classificados pela á rea que analisam, por exemplo:

 Rácios de bolsa - medem o nível de avaliaçã o da empresa atribuído pelo mercado


de capitais;

 Rácios de rendibilidade - medem a capacidade da empresa gerar lucros e


remunerar o accionista;

 Rácios de endividamento - medem o nível de endividamento da empresa, e


respectiva capacidade de lhe fazer face;

 Rácios de liquidez - medem a liquidez da firma e respectiva capacidade de fazer


face aos compromissos;

← Rácios de actividade - medem a eficiência da empresa no seu ciclo produtivo;

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Antes de partir para a aná lise dos rá cios financeiros propriamente dita convém decompor
os diferentes tipos de capitais alheios em funçã o do seu custo (se tem ou nã o de suportar
juros) e da sua permanência na empresa. Desde logo, é importante fazer esta aná lise por
três razõ es principais:

 Em primeiro lugar, porque os passivos que suportam juro expõ em a empresa ao


risco de variaçã o de taxas de juro, sendo sem dú vida interessante analisar o impacto
que uma variaçã o significativa nas taxas de juro terá nos custos da empresa;

 Em segundo, porque quanto maior for a proporçã o dos custos de financiamento que
suportam juro no total do activo da empresa, maior vai ser o seu custo de
financiamento, pelo que haverá que avaliar até que ponto a empresa tem capacidade
de cumprir com as suas obrigaçõ es perante bancos e outras instituiçõ es de crédito;

 Em terceiro, porque, como já mencionamos, convém haver um certo equilíbrio entre


passivos e activos de longo prazo na empresa, sendo de evitar o financiamento de
activos de longo prazo recorrendo a empréstimos de curto prazo.

Entã o, em termos visuais teríamos:

No passivo de longo prazo encontramos normalmente empréstimos bancá rios cujo


vencimento é superior a um ano e empréstimos que os só cios fazem à sociedade (os
chamados suprimentos). Estes empréstimos servem para financiar os activos de longo

50
prazo, tais como terrenos, má quinas e outros bens duradouros. Na maior parte dos casos,
estes empréstimos estã o sujeitos a juros.

No passivo de curto prazo temos os empréstimos bancá rios necessá rios para fazer face a
necessidades de tesouraria e a investimento em fundo de maneio, tais como mercadorias e
matérias-primas. Além destes empréstimos de curto prazo, as empresas recorrem também
a créditos cedidos pelos fornecedores sob a forma de prazos de pagamento alargado, tal
como vimos no artigo anterior. As facilidades de pagamento cedidas por fornecedores nã o
costumam estar sujeitas a juros, sendo uma das formas preferidas de financiamento de
empresa.

E quanto ao financiamento por capitais pró prios, qual será o seu custo? Embora os só cios
da empresa nã o possam exigir o pagamento de juros pelo investimento que realizam na
empresa, será legítimo assumir que esperem obter lucros. Seja sob a forma de dividendos
seja pela valorizaçã o do patrimó nio da empresa, os só cios esperam sempre um retorno do
seu investimento.

E porque os só cios se expõ em a um risco maior do que os credores da empresa (em caso de
falência ou dissoluçã o da empresa, os só cios sã o os ú ltimos a serem ressarcidos do
investimento que realizaram, depois de cumpridas as obrigaçõ es com todos os credores e
na maioria dos casos a falência conduz a uma situaçã o em que nada sobra apó s liquidadas
as dívidas perante terceiros), vã o certamente exigir uma taxa de retorno superior à taxa de
financiamento por capitais alheios. Nã o poderia ser de outra forma, pois em funçã o de
maior risco, os investidores esperam retornos superiores, caso contrá rio nã o teriam
incentivo para se exporem, preferindo activos de nível de risco inferior com o mesmo
retorno.

É entã o legítimo assumir que o financiamento por capitais pró prios é mais oneroso do que
o financiamento por capitais alheios. E sendo assim, seria fá cil de concluir que o custo
médio ponderado do capital (a média ponderada entre custo de capitais pró prios e alheios)
é menor quanto maior for a proporçã o de capitais alheios na empresa. Acontece, no
entanto, que a partir de um certo grau de endividamento, alguns problemas vã o sendo
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criados, levando os credores a exigir um juro maior pelos empréstimos que concedem à
empresa.

Esses problemas sã o normalmente associados à perda de controlo de gestã o da empresa,


que é posta em causa quando o grau de endividamento é muito elevado, ou seja, quando a
empresa se endivida em excesso começa a ser difícil de manter o controlo sobre ela, pois os
credores vã o ganhando influência na gestã o. Por outro lado, os credores apercebendo-se do
maior nível de risco a que se expõ em quando financiam a empresa, vã o exigir taxas de juro
maiores e levantando mais obstá culos à concessã o de crédito.

Entã o, como podemos ver no grá fico seguinte, é verdade que o custo médio ponderado do
capital (k) diminui à medida que a proporçã o de capitais alheios aumenta (D/E), até um
certo limite. A partir desse limite, o custo médio ponderado do capital volta a aumentar,
pelas razõ es expostas.

6.1. Principais rácios financeiros

Solvabilidade total - expressa a capacidade da empresa para satisfazer os compromissos


com terceiros, à medida que se vã o vencendo.

52
 Um valor superior a 1, significa que o valor do património é suficiente para cobrir
todas as dívidas da empresa.
 Um valor inferior a 1, significa que a empresa está impossibilitada de satisfazer todos
os seus compromissos com meios próprios.

Autonomia financeira - expressa a participaçã o do capital pró prio no financiamento


da empresa.

 Um valor inferior a 1/3, significa uma excessiva dependência de capitais alheios.


 Um valor maior ou igual a 1/3, representa um bom grau de autonomia
financeira.

Dependência financeira - expressa a participaçã o dos capitais alheios no financiamento


da empresa, ou seja, o nível de endividamento.

 Rácio de autonomia + Rácio de dependência = 1

Liquidez geral - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas obrigaçõ es a curto


prazo com os activos circulantes.

 Um valor superior a 1, significa que a empresa pode utilizar activos líquidos para
pagar as dívidas a curto prazo.
53
 Um valor inferior a 1, significa que a empresa tem dificuldades de tesouraria.

Liquidez reduzida - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas dívidas a curto


prazo com os activos circulantes, sem contar com as existências.

 Consideram-se bons os valores entre 0,9 e 1,1.


Se houver uma diferença muito grande entre a liquidez geral e a liquidez reduzida,
significa que existem stocks "mortos", com elevados custos para a empresa.

Liquidez imediata -expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas dívidas a curto


prazo, apenas com as disponibilidades.

 Um valor superior a 0,9 poderá ser demasiado elevado e significar uma má aplicação
dos fundos de tesouraria.

54
VII. PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM PLANO DE NEGÓCIOS PARA OBTENÇÃO DE
FINANCIAMENTO

Antes de lançar qualquer projecto, seja ele desenvolvido através de uma nova empresa ou
através de uma empresa já existente, é ú til sistematizar, planear e reflectir sobre tudo
aquilo em que tem vindo a pensar. Um plano de negó cios assume-se como um instrumento
que permite analisar a viabilidade de um determinado projecto empresarial. Elaborar um
plano de negó cios é, portanto, fazer uma reflexã o sobre os custos, a rentabilidade e a
exequibilidade do referido projecto.

Com efeito, ainda que nã o esteja no imediato à procura de financiamento externo, a


elaboraçã o de um Plano de Negó cios é ú til, na medida em que constitui uma grelha de
acçã o e orientaçã o para o empreendedor e para o seu staff. Além disso, quanto mais cedo
estiver concluído, mais cedo estará apto a apresentar a sua proposta a potenciais
investidores. Um Plano de Negó cios é uma parte de um processo mais vasto - a
implementaçã o da sua ideia! O ideal é ver um plano como uma parte essencial de todo um
processo de criaçã o de valor, porque mesmo o melhor dos planos é desperdiçado se
ninguém o seguir e implementar.
Existem algumas qualidades num plano que fazem com que seja mais prová vel que este
possa trazer resultados:

SIMPLES

OBJECTIVO
PLANO ACÇÕES
RESULTADOS
REALISTA

COMPLETO
AFINAÇÃO
55
Um dos primeiros erros a evitar é fazer um Plano só para apresentaçã o de uma proposta ou
candidatura.
O Plano deve ser pensado, desde o início, como o documento que traduz a estratégia que
queremos implementar e que será a base da vida da Empresa nos primeiros tempos da sua
existência.

Um Plano de Negó cios será difícil de avaliar e/ou implementar a menos que seja Simples,
Objectivo, Realista e Completo. Mesmo que seja todas estas coisas, um bom plano precisará
sempre de alguém que o supervisione e/ou implemente.
O plano depende dos empreendedores e das suas equipas, particularmente durante o
processo de compromisso e lançamento, e durante a implementaçã o que se irá seguir.
O sucesso da implementaçã o começará , assim, com um bom plano.

Existem elementos que tornam mais provável que o plano seja bem sucedido.
Algumas pistas essenciais para a construçã o de um bom plano incluem:
1. O plano é simples? É de fá cil entendimento e execuçã o? Transmite os seus
conteú dos de forma fá cil e prá tica?
2. O plano é objectivo? Os seus objectivos sã o concretos e mensurá veis? Inclui acçõ es
específicas e actividades, cada uma delas com datas limite, pessoas responsá veis e
orçamentos detalhados?
3. Inclui um modelo financeiro só lido e bem fundamentado?
4. O plano é realista? Inclui todos os elementos necessá rios?

Nã o existe propriamente um nú mero de pá ginas ideal, dependendo isso do grau de


complexidade do produto ou do historial da empresa (partindo do princípio que o Plano só
é apresentado a investidores algum tempo depois do arranque do projecto). No entanto,
lembre-se de dois aspectos essenciais.
 Os potenciais investidores têm muitos outros documentos para ler (inclusivamente
outros Planos de Negó cio), por isso nã o exagere no conteú do do seu.

56
 O mais prová vel é que os potenciais investidores nã o sejam especialistas no negó cio
proposto. Assim sendo, seja claro e conciso, procurando focar-se naquilo que
realmente interessa ao investidor: como é que o seu negó cio vai crescer e geral cash.

A partir do momento que existe uma sistematizaçã o escrita de todo o modelo definido, o
empreendedor pode ter uma ideia muito clara sobre se todos os aspectos financeiros e nã o-
financeiros considerados nã o põ em em causa a viabilidade do projecto.

"Quem são essas pessoas afinal?"


Catorze perguntas "pessoais" que um plano de negócios deve responder

1. De onde sã o os fundadores?
2. Que escolas frequentam?
3. Onde trabalham, e para quem?
4. O que realizaram - ao nível profissional e pessoal - anteriormente?
5. Qual a sua reputaçã o na comunidade empresarial?
6. Que experiência tem, directamente relevante, para a oportunidade que estã o a
tentar agarrar?
7. Que perícia, capacidades, conhecimentos têm?
8. Até que ponto sã o realistas, relativamente à s probabilidades de sucesso do
empreendimento e as atribuiçõ es que vã o enfrentar?
9. Quem mais é preciso estar integrado na equipa?
10. Tem preparaçã o para recrutarem pessoal de alta qualidade?
11. Como é que vã o reagir à adversidade?
12. Tem perfil para fazerem as inevitá veis escolhas difíceis que será necessá rio fazer?
13. Qual o empenho que depositam nesta iniciativa empresarial?
14. Quais sã o as motivaçõ es?

57
7.1. Criação do plano de negócio
Como referimos no início, existem inú meras obras e textos disponíveis sobre a elaboraçã o
de Planos de Negó cios e recomendamos a leitura de algumas destas obras para aumentar a
profundidade deste exercício.
No entanto, é possível sistematizar os passos essenciais para a sua elaboraçã o e é esse
caminho que lhe mostramos aqui.

A estrutura base de um plano de negócios


i. Sumá rio executivo;
ii. O histó rico da Companhia e/ou dos promotores;
iii. O mercado subjacente;
iv. A nova ideia e o seu posicionamento no mercado;
v. O Projecto/ Produto/ Ideia
vi. Estratégia Comercial;
vii. Projecçõ es Financeiras;
viii. Gestã o e controlo do negó cio;
ix. Investimento necessá rio.

Sumário Executivo
Este é o capítulo mais importante de um plano de negó cios. Deve sumarizar em nã o mais de
500 palavras toda a apresentaçã o, que será mais detalhada nos capítulos seguintes. O
sumá rio executivo é a primeira coisa a ser lida pelos potenciais investidores. Se o sumá rio
executivo nã o for claro, pode desencorajar os analistas de rever o plano completo. A
maioria dos financiadores recebe muito mais pedidos de financiamento do que aqueles em
que pode investir, e por isso, nã o se dispõ e a correr riscos potenciando situaçõ es
duvidosas.

Existe um perigo real de que o sumá rio executivo venha a falhar a sua missã o, dado que ele
é, invariavelmente, o ú ltimo capítulo a ser elaborado. Pode parecer que é uma coisa simples
de ser escrita em uma ou duas pá ginas. É normal ser preparado depois de um lento e

58
laborioso trabalho de elaboraçã o do restante relató rio, pelo que é compreensível que exista
a tendência de o acabar o mais rapidamente possível. Quem o escreve está confiante de que
contemplou todos os aspectos mais importantes do trabalho, e que, mesmo que alguma
coisa falhe no sumá rio executivo, a informaçã o se encontrará em alguma das restantes
partes do plano. No entanto, nã o deverá assumir que os potenciais financiadores estarã o
dispostos a percorrer todo o relató rio em busca de informaçõ es que considerem vitais.

Acima de tudo, dever-se-á ter presente que, nas poucas pá ginas do sumá rio executivo,
deverá estar contida a mensagem mais poderosa e persuasiva de todo o documento.
Por isso, é crucial o esforço extra de verificar que este se encontra completo e claro.

Será de grande utilidade que ele seja revisto por alguém que seja neutro e que goze da
confiança de quem o elaborou.

Só os nú meros mais importantes deverã o ser usados para tornar a situaçã o o mais forte
que seja possível.
Deverá ainda ser dada cuidadosa atençã o para evitar erros de gramá tica e dispensá veis
erros de escrita, uma vez que estes tendem a ter um efeito negativo desproporcionado.
Pontos essenciais a focar no Sumário Executivo:
1) Qual é o nome do negó cio e a sua á rea de actividade?
2) Qual a missã o?
3) Qual é o â mbito do negó cio e o mercado potencial para os seus produtos?
4) Porque constitui uma proposta inovadora e vencedora?
5) Quais os recursos, humanos e financeiros que sã o necessá rios?
6) Qual o prazo previsto para começar a apresentar lucros?
7) Quais sã o os pontos fortes e fracos do projecto?
8) Quais as suas referências e a sua experiência relevante para o projecto concreto?

59
O Histórico da Companhia e/ou dos seus Promotores
O histó rico da companhia ou a experiência empresarial do empreendedor, devem ser
apresentados.
Os pontos mais importantes a salientar sã o:
1) Como é que o projecto surgiu e como é que foi introduzido na companhia. É uma
empresa nova ou nã o e, se sim, porque é que se decidiu criar uma.
2) De que forma é que a experiência passada dos empresá rios pode contribuir para o
sucesso do projecto? Têm experiência de gestã o? Conhecem em profundidade a á rea
de negó cio?
3) Quais sã o os pontos fortes e os pontos fracos do projecto na ó ptica dos seus
promotores? 9

A Missão
A missã o é uma declaraçã o global que define os objectivos gerais da companhia,
expressando os propó sitos fundamentais da gestã o no seu conjunto, fornecendo linhas
gerais de desenvolvimento. É o ponto de partida para a definiçã o dos objectivos
fundamentais da companhia.
O principal objectivo desta declaraçã o é dar resposta à seguinte questã o: “Porque é que a
companhia existe?”, assim como dar aos empregados e parceiros uma noçã o clara do que é
a empresa, melhorando os seus objectivos de longo prazo e explicitando como o seu
desempenho deve ser dirigido por forma a alcançar esses mesmos objectivos.
Para além do nome, formato legal, etc, uma companhia define-se essencialmente pela sua
Missã o de Negó cio.

O Mercado Subjacente
O mercado é a “arena” onde os planos da empresa irã o ser levados a cabo. É muito
importante definir o mercado para o novo produto em termos de dimensã o, está dio de
desenvolvimento, tipos de clientes e de competidores.

Quantos clientes existem e qual a sua influência no mercado?


60
O tamanho do mercado ou o consumo anual do produto será definido em termos do â mbito
do projecto em consideraçã o. O tamanho do mercado pode ser avaliado pelo nível do
consumo do produto numa dada cidade, país, grupo de países ou no mundo inteiro ou,
alternativamente, em segmentos bem definidos de clientes com determinadas
características.

A acrescentar ao tamanho global do mercado, é importante ter claro o está dio de


desenvolvimento do mesmo.
Existe um padrã o natural de evoluçã o para a maior parte dos mercados e o está dio do ciclo
em que o mercado se encontrar irá afectar significativamente a estratégia de negó cio que
deve ser adoptada.

As fases típicas podem ser sumarizadas como se segue:


 Embrioná rio
 Crescimento
 Maturidade
 Declínio

Para ter dados mais concretos, procure as associaçõ es empresariais e outras que analisam
e acompanham os mercados relevantes para a sua ideia/produto. Procure publicaçõ es
especializadas. Peça à s Entidades Financeiras com que trabalha para lhe fornecerem
informaçã o pú blica sobre esse mercado e as Empresas que nele se movimentam. Se a
dimensã o do projecto o justificar, envolva Empresas de Estudos e Aná lise de
Mercado e faça aná lises específicas para este caso.

Garanta que a fundamentaçã o que apresenta é sustentada em factos e, sempre que possível,
em dados de mercado criados por entidades credíveis.
A aná lise do mercado subjacente é essencial para dois efeitos:
 Fundamentar a viabilidade base da ideia/produto em causa;

61
 Traduzir o conhecimento específico dos promotores sobre o mesmo, um dos
factores mais fundamentais para os potenciais investidores .

A Nova Ideia e o seu Posicionamento no Mercado


Esta é uma apresentaçã o sumá ria do negó cio proposto e dos executivos que estã o a fazer a
candidatura ao financiamento. O objectivo é dar confiança aos potenciais financiadores,
fazendo-os crer que este é um negó cio financeiramente sustentá vel e que os executivos
possuem as necessá rias qualificaçõ es empresariais e de gestã o.

Qualquer parceiro/financiador tem de avaliar primordialmente três aspectos nã o


financeiros da sua ideia:
 O produto/serviço e o seu mercado;
 Os recursos físicos e de produçã o necessá rios;
 A capacidade de gestã o do negó cio dos promotores.

Essencialmente, o avaliador tentará perceber se a equipa terá capacidade para transformar


a nova ideia em vendas que possam gerar a margem prevista.
A informaçã o fornecida deverá incluir um sumá rio dos mais recentes resultados comerciais
(para casos de expansã o), o estatuto legal do negó cio previsto ou existente, um
organigrama e a biografia dos executivos realçando as experiências mais relevantes para o
projecto em avaliaçã o e os objectivos da empresa.

Se estamos a falar de um Start-up Plan nã o é, obviamente, possível basear a credibilidade e


solidez no histó rico da empresa. Neste caso, será necessá rio colocar o ênfase no percurso
dos seus só cios fundadores, na sua capacidade para assumir os riscos decorrentes daquilo a
que se propõ em e para a implementaçã o dos planos definidos.
Se puder usar referências pessoais relevantes, indique-as garantindo que obtém
antecipadamente a autorizaçã o para tal.

O Projecto / Produto / Ideia

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Resumo do projecto e sumário das actividades a serem desenvolvidas
Esta secçã o deve descrever duma forma curta mas completa o está dio de desenvolvimento
do projecto, sobretudo dos principais objectivos já atingidos.
A ênfase deverá ser dada ao produto/serviço, incluindo temas como patentes e/ou licenças,
bem como a uma descriçã o exacta do processo produtivo.

Todas as actividades necessá rias ao lançamento do produto devem estar descritas e, por
cada actividade, todas as acçõ es necessá rias. Este ú ltimo item é de crucial importâ ncia, uma
vez que esta é uma das á reas onde os intervenientes tendem a ser demasiado optimistas,
levando a que se subestimem os custos envolvidos e/ou o tempo de desenvolvimento.

É essencial ser realista e ter em conta todas as possíveis dificuldades, para que estes factos
possam ser traduzidos nas projecçõ es financeiras.
Como exercício de reflexã o, e apesar de poder nã o ser explícito no plano de negó cios, será
aconselhá vel para cada actividade ou acçã o estabelecer os intervenientes de quem estes
dependem (no caso de recursos externos), definir os possíveis constrangimentos, e como
deverá cada um agir nesse contexto. Por outro lado, deve ser considerado o tempo alocado
a cada actividade, com e sem constrangimentos, e considerado como tempo efectivo a soma
dos dois.
Reserve sempre algum tempo e esforço adicional (20% do total) para problemas e desvios
nã o previstos – a chamada margem de risco de implementaçã o.

Motivação e objectivos dos intervenientes no processo


O desenvolvimento de um projecto é com frequência comparado ao nascimento e
crescimento de uma criança. Se nã o lhe for dado amor nos bons e maus momentos nã o será
possível obter o resultado desejado.

Normalmente, quando um projecto começa, só tem um activo: as pessoas que o promovem


e a sua motivaçã o e força de vontade.

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A motivaçã o com que cada interveniente enfrenta o projecto e, em particular, o tempo que
deseja atribuir-lhe, sã o variá veis importantes para o sucesso do mesmo.
Os factores de motivaçã o variam muito e podem resultar de afinidades com o projecto, da
experiência profissional, do conhecimento de mercado, da possibilidade de ganhar mais
dinheiro e de consideraçõ es pessoais de vá ria ordem como sejam da possibilidade de ser
ú til, da possibilidade de ser independente (nã o ter de responder a um patrã o), da
possibilidade de criar empregos, etc.

Normalmente, é a complementaridade das vá rias motivaçõ es dos empreendedores que


acaba por sobressair ao longo do tempo e permitir o sucesso do mesmo.
Para minimizar problemas futuros, deixe claros, nesta secçã o, os níveis de envolvimento
efectivos de cada um dos promotores, o papel previsto, etc.
12
Pontos críticos no desenvolvimento do projecto
Devem ser, depois, mencionados os aspectos críticos do desenvolvimento do projecto ou
seja, os aspectos que podem condicionar o desenvolvimento do mesmo.
A reflexã o sobre os pontos críticos permitirá antecipar as acçõ es necessá rias e os recursos
que deverã o ser mobilizados, reduzindo o risco associado ao projecto. Por exemplo, se o
fornecedor de determinado material é fundamental para a empresa garantir o prazo de
entrega ao cliente, isso torna-o diferente dos outros fornecedores. Deve-se tentar conseguir
uma parceria com o fornecedor ou tentar encontrar uma lista de fornecedores alternativa
que possam garantir o cumprimento dos prazos.

Por outro lado, a aná lise dos pontos críticos deve permitir que os promotores se preparem,
mesmo que nã o seja por escrito, para planos de contingência (ou seja, como agir se
surgirem situaçõ es inesperadas), de forma a minimizar os riscos do projecto.

O Produto / Serviço

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Esta é, provavelmente, a secçã o em que o promotor está mais à vontade e o leitor menos
familiarizado.
Devem ser feitos todos os esforços para explicar a tecnologia envolvida em termos simples
e para explicar a Proposta Única de Valor da invençã o ou ideia. Esta preocupaçã o é
transversal ao Plano de Início de Actividade, Plano de expansã o e de Mudança de
Actividade.
Esta secçã o deve responder a questõ es relacionadas com “o que é o produto ou serviço”, e
“porque é que todos o vã o comprar”.

A Produção
No caso de produtos que implicam a existência de um processo produtivo físico, com
materiais, má quinas, etc., este processo deve estar detalhado em todas as componentes
essenciais para o arranque e/ou lançamento do projecto.
A produçã o pode implicar compromissos significativos com investimento de capital para
espaço e equipamentos, o que pode obrigar a financiamentos elevados.
Para uma pequena empresa ou associaçã o, isto pode implicar riscos demasiado elevados
que podem tornar o projecto nã o atractivo para os potenciais financiadores.
É possível reduzir o capital exigido através de sub-contrataçã o de produçã o a outras
empresas e através de instrumentos financeiros de aquisiçã o/aluguer de certos tipos de
equipamento e maquinaria. No entanto, estas estratégias devem ser ponderadas contra a
necessidade de se conseguir um nível de produçã o suficientemente elevado e de qualidade,
por forma a satisfazer os clientes. Os potenciais investidores irã o querer comprovar que foi
conseguido um bom compromisso entre a contençã o do capital necessá rio e as soluçõ es
escolhidas, e analisar se estas soluçõ es poderã o originar problemas na produçã o e no
fornecimento de matéria prima quando a empresa começar a operar.

O plano deve identificar que mecanismos de controlo de produçã o estã o previstos em á reas
fundamentais como o nível de stocks, matéria-prima e produto acabado.

65
Todos os custos associados à produçã o têm de ser claramente reflectidos nas projecçõ es do
Plano de Negó cios, de forma a produzir projecçõ es de cash-flow fiá veis que resultam num
plano só lido e adequado.

Em anexo ao plano de negó cios e relativamente a esta secçã o, devem ser incluídas
descriçõ es técnicas relevantes e licenças/patentes, quando aplicá vel.
 Será você a produzir o produto ou irá subcontratar esse trabalho?
 Qual é exactamente a maquinaria necessá ria e qual é o seu custo?
 Temos uma definiçã o clara do processo produtivo?
 Quais sã o os custos de produçã o?
 Qual a quantidade de matéria-prima que tem de ser adquirida, será ela armazenada
ou comprada? Quais sã o os seus fornecedores? Que relaçõ es tem previstas com eles?
 Qual é o tempo de entrega apó s a ordem de compra?

Estratégia Comercial
Apó s termos definido claramente nas secçõ es anteriores a Proposta Única de Valor do
projecto, dever-se-á demonstrar como a empresa pensa apresentá -la ao mercado.
O primeiro passo essencial e ó bvio é estabelecer um preço para o produto. Se este é
completamente novo, isto poderá causar algumas dificuldades. No entanto, é normalmente
possível determinar um preço com base no valor acrescentado que o produto irá oferecer
ao seu consumidor.

Agregando todos os custos associados à produçã o, marketing e distribuiçã o do produto


numa base unitá ria criamos o valor mínimo para o produto. Este é o valor a partir do qual
devemos depois estabelecer o valor final com base em margens típicas de mercado ou
aná lises de valor acrescentado percebido pelo Cliente.

Apó s definida a estratégia de Marketing, deverã o ser definidos e implementados os


circuitos e canais de vendas que sã o a base do processo de comunicaçã o com o potencial
comprador.
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Os elementos essenciais deste tipo de estratégias incluem:
 A identificaçã o de um leque suficientemente grande de potenciais clientes;
 A criaçã o de segmentos de clientes alvo, de acordo com critérios de segmentaçã o a
definir caso a caso;
 A escolha dos canais que deverã o ser explorados: directos como Vendedores, Canal
Telefó nico ou Lojas
 Pró prias ou indirectos como alianças com parceiros de distribuiçã o, etc;
 Desenvolvimento dos elementos de Imagem e Comunicaçã o;
 Desenvolvimento de uma Estratégia de Vendas eficaz, antecipando argumentos
contra as resistências e as objecçõ es;
 Montagem e Formaçã o das Forças de Vendas;
 Identificaçã o das acçõ es de Marketing relevantes.
Deverá assim ser criado um plano que contemple as acçõ es a desenvolver, as forças de
vendas a envolver, os distribuidores, os agentes, formas de aconselhamento e a produçã o
de meios publicitá rios adequados. A gestã o e monitorizaçã o deste plano tem de ser
efectiva, por forma a assegurar que sã o executadas as acçõ es em causa, com a
periodicidade certa, e que os resultados sã o devidamente alcançados.

7.2. Elementos financeiros do plano de negócios


Os elementos financeiros de um plano de negó cios sã o basicamente os seguintes:
 Plano de investimento;
 Plano de financiamento;
 Balanço inicial;
 Conta de exploraçã o provisional;
 Orçamento provisional de tesouraria.

Plano de Investimento

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O plano de investimento corresponde à inventariaçã o e avaliaçã o dos elementos
necessá rios para o arranque da empresa. Os empréstimos obtidos sã o, frequentemente,
funçã o do plano de investimento e nã o há nada pior que descobrir, durante a fase de
arranque do negó cio, que a dimensã o financeira do investimento foi calculada
insuficientemente.

Os montantes incluídos no plano de investimento devem reflectir os preços reais


(incluindo o IVA) no momento do pagamento.
Estes montantes correspondem, de uma forma simplificada, ao somató rio das seguintes
despesas:
a) Investimento em capital fixo corpó reo;
b) Investimento em capital fixo incorpó reo e despesas plurianuais;
c) Fundo de maneio;
d) Imprevistos.

Cálculo das imobilizações corpóreas


Os edifícios, os equipamentos bá sicos, de transporte e administrativos, por exemplo,
constituem elementos corpó reos indispensá veis ao arranque e funcionamento normal da
empresa, que acarretam necessariamente despesas de investimento. O cá lculo do montante
respectivo poderá ser obtido, com alguma segurança, listando, exaustivamente, todos os
elementos que integram o activo fixo corpó reo da futura empresa, pedindo orçamentos aos
fornecedores (relativamente a investimentos em que tal se justifique) e fazendo um cá lculo
aproximado para as restantes despesas.

Cálculo das imobilizações incorpóreas e despesas plurianuais


Integram-se aqui as despesas relativas à constituiçã o da empresa (elaboraçã o de estatutos,
declaraçõ es, registos e publicaçõ es) e ainda as correspondentes a trespasses, estudos e
projectos, campanhas de lançamento de novos produtos, patentes, marcas, alvará s,
licenças, etc. As despesas plurianuais decorrem, numa primeira instâ ncia, das despesas de

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coordenaçã o e de fiscalizaçã o do projecto, mas também da obrigatoriedade de pagamento
de juros e de amortizaçã o dos empréstimos contratados.

Cálculo do fundo de maneio


A regra do equilíbrio financeiro mínimo é satisfeita quando o grau de liquidez das
aplicaçõ es é, pelo menos, igual ao prazo de exigibilidade dos fundos utilizados no seu
financiamento, ou seja, quando o capital ou activo circulante - que corresponde ao
somató rio do disponível, realizá vel a curto prazo e existências, ou seja, aos elementos
patrimoniais directamente ligados ao ciclo de exploraçã o da empresa e que, por isso,
circulam incessantemente no seu interior - é igual ao exigível a curto prazo.

Contudo, esta regra nã o contempla a eventual ocorrência de rupturas na rotaçã o dos


elementos integrantes do capital circulante, que venham a comprometer a liquidaçã o do
exigível a curto prazo na data do respectivo vencimento, como, por exemplo, o atraso no
recebimento de um crédito, o desencadear de uma greve, etc.

Desta maneira, e no sentido de evitar as consequências resultantes dos desequilíbrios


provenientes de eventuais rupturas na rotaçã o do capital circulante, nã o acompanhadas da
automá tica readaptaçã o do grau de exigibilidade do passivo de curto prazo, imperiosa se
torna a existência de uma margem de segurança.

O Fundo de Maneio é, em suma, a parcela de capitais permanentes que financia capitais


circulantes, ou seja, a margem de segurança de tesouraria advém do facto de um
determinado montante do capital circulante, com um grau de liquidez geralmente de curto
prazo, ser coberto financeiramente por capitais permanentes, caracterizados por um prazo
de exigibilidade superior.

Embora na prá tica seja vulgar identificar o Fundo de Maneio com a Reserva de Segurança
de Tesouraria, o empresá rio deve estar consciente de que nã o significam o mesmo, já que o

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Fundo de Maneio é constituído pela Reserva de Segurança de Tesouraria, pelo crédito
concedido a clientes e pelas existências ao que se subtrai o crédito obtido de fornecedores.

O Fundo de Maneio corresponde ao montante necessá rio para assegurar a actividade


normal da empresa e calcula-se do seguinte modo:
Reserva de Segurança de Tesouraria + crédito concedido + existências – crédito obtido de
fornecedores

A Reserva de Segurança de Tesouraria representa o volume mínimo de disponibilidades


necessá rio para a empresa enfrentar, sem dificuldades, eventuais atrasos na ocorrência dos
seus recebimentos e/ou antecipaçõ es forçadas dos seus pagamentos. O crédito concedido
representa o volume de meios financeiros imobilizados na empresa, como resultado de as
suas vendas nã o se efectuarem a pronto pagamento. Trata-se, portanto, de crédito
concedido a Curto Prazo, insusceptível de titulaçã o ou, quando titulado, de difícil
mobilizaçã o imediata junto da banca comercial ou de sociedades de factoring.

Tratando-se de uma empresa comercial a rubrica crédito concedido é normalmente


diminuta. Contudo, tal premissa nem sempre é verdadeira. Veja-se por exemplo o caso de
uma empresa de comércio por grosso que tenha como clientes exclusivamente outras
empresas. As existências (mercadorias) representam normalmente um valor muito
elevado.

Imprevistos
Independentemente do rigor do cá lculo das rubricas anteriores, situaçõ es nã o previstas
inicialmente, podem alterar o montante global das necessidades de investimento. Estas
situaçõ es prendem-se com desvios qualitativos decorrentes de deficiências registadas nos
projectos de instalaçã o, na implantaçã o dos equipamentos, nas previsõ es relativas ao fundo
de maneio, etc.

Plano de Financiamento

70
Determinado o montante do investimento necessá rio, haverá que reunir os meios
financeiros, designados por capitais, indispensá veis à sua cobertura. Esta operaçã o deve
realizar-se através da elaboraçã o de um plano de financiamento, o que corresponde à
elaboraçã o de um mapa de origem e aplicaçã o de fundos. A boa ou má estrutura financeira
de uma empresa é geralmente consequência do modo como os seus bens activos sã o
financiados.

Antes de efectuar uma escolha entre os diferentes meios de financiamento que se podem
apresentar à empresa, o empresá rio nã o se deve esquecer que uma boa gestã o exige que se
pratique o princípio da racionalidade econó mica, isto é, que se minimizem os meios para
atingir os mesmos objectivos. Ora, neste caso, os meios postos à disposiçã o da empresa sã o
os capitais, logo a sua utilizaçã o deve ser racional pois, quer eles pertençam aos só cios ou
accionistas, quer sejam emprestados, há que pagar dividendos ou encargos financeiros.

De um modo geral, sã o os capitais pró prios que devem cobrir os riscos da empresa e nã o os
capitais alheios, mesmo a longo prazo. Os empréstimos a médio e longo prazo dependem
do cash-flow futuro da empresa e podem ser considerados como uma antecipaçã o à
actividade da empresa. É entã o necessá rio que, aquando do recurso a este tipo de
financiamento, nos asseguremos primeiro da rentabilidade da operaçã o em causa e da
possibilidade de gerar fundos suficientes que assegurem os pagamentos dos encargos fixos
e do reembolso do capital emprestado, segundo os prazos fixados. Numa primeira fase,
quando a empresa se encontra em constituiçã o e arranque, todos os capitais (à excepçã o do
capital social) sã o alheios à empresa, já que esta, de per si, ainda nã o teve actividade e,
portanto, nã o gerou qualquer receita.

Numa segunda fase, os meios de financiamento podem ser:


 Pró prios da empresa (auto-financiamento);
 Exteriores.

71
Como vimos, o auto-financiamento representa o financiamento da empresa por ela pró pria,
isto é, pelos recursos financeiros que sã o libertos durante o seu funcionamento, e constitui
um complemento indispensá vel aos pedidos de empréstimos, pois as entidades
financiadoras nã o aceitam correr a totalidade dos riscos. Contudo, nã o nos devemos
esquecer que o auto-financiamento tende a reduzir os dividendos distribuídos, diminuindo,
por isso, a rentabilidade dos investimentos efectuados pelos só cios/accionistas. Ele deve
ser usado com parcimó nia.

Os meios financeiros exteriores à empresa podem tomar diversas formas, como por
exemplo: aumento do capital social, empréstimos a médio e longo prazo, que podem
revestir a forma de empréstimos bancá rios ou obrigacionistas, empréstimos de só cios,
leasing, créditos a curto prazo, etc.

Em termos contabilísticos, podemos encontrar o capital pró prio subdividido em:


 Capital social;
 Prestaçõ es suplementares;
 Reservas (de reavaliaçã o, obrigató rias, especiais e livres);
 Resultados transitados.

E as dívidas a terceiros constituídas por:


 Crédito de fornecedores;
 Empréstimos bancá rios e obrigacionistas;
 Empréstimos dos só cios.

Balanço
O balanço, que é um documento está tico, constitui para os economistas o "retrato" da
situaçã o econó mica e financeira da empresa num dado momento. Poder-se-á dizer,
também, que o balanço mostra de onde vem o dinheiro da empresa (origens de fundos) e
para onde vai (aplicaçõ es de fundos). Num balanço inicial da empresa os elementos sã o
pouco numerosos correspondendo as aplicaçõ es de fundos – ou seja, o Activo - à s despesas
72
de estabelecimento (imobilizaçõ es incorpó reas) e aos investimentos corpó reos necessá rios
ao arranque da empresa e as origens de fundos (Capital Pró prio + Passivo) aos capitais
pró prios e créditos dos fornecedores.

Conta de Exploração Provisional


Representando o cá lculo dos proveitos e dos custos da empresa para um dado período e
permitindo prever os resultados do projecto, a conta de exploraçã o provisional é um
documento indispensá vel do plano de negó cios. Esta peça contabilística, elaborada
geralmente para um período de um a três anos, pode igualmente ser utilizada como
instrumento de gestã o financeira apó s o arranque da empresa.

Neste caso, a sua periodicidade deve ser mensal, o que possibilita detectar mais
rapidamente certas anomalias como, por exemplo, uma baixa alarmante das vendas ou um
aumento exagerado dos custos e tomar as medidas correspondentes (aumentar a
prospecçã o de clientes, diminuir certos encargos, etc.).

Tratando-se de um documento provisional é aconselhá vel que os cá lculos sejam feitos em


contos, conseguindo-se assim uma leitura mais fá cil com um grau de pormenorizaçã o
suficiente. Os dois modelos aqui apresentados sã o-no a título de exemplo e destinam-se a
permitir ao futuro empresá rio ter uma visualizaçã o simples dos custos e proveitos da sua
empresa.

Orçamento Provisional de Tesouraria


Conhecida a previsã o dos proveitos e dos custos surge agora a necessidade de conhecer os
fluxos de entrada e de saída de dinheiro ou seja de prever os montantes correspondentes
aos recebimentos e aos pagamentos. Essa previsã o consegue-se através do orçamento
provisional de tesouraria, cujo papel é o de permitir ao empresá rio saber se a empresa vai
gerar meios financeiros suficientes para liquidar as dívidas que se vã o vencer. As receitas e
despesas relativas ao negó cio surgem quase sempre de um modo desfasado e por tal
motivo é impossível calcular médias mensais a partir do montante previsto para as vendas
73
anuais, sobretudo se a actividade é sazonal. Por outro lado, o empresá rio vai ter que pagar
os fornecimentos, os salá rios, os encargos financeiros, etc., nos prazos acordados,
independentemente da evoluçã o das vendas.

No orçamento de tesouraria provisional, que deverá ser elaborado para um período


mínimo de um ano de actividade, inscrevem-se mês a mês ou eventualmente semana a
semana, o saldo financeiro inicial, todos os pagamentos que devem ser efectuados e todos
os recebimentos previstos.

As notas que se seguem poderão ajudar na elaboração deste documento


contabilístico:
1. Saldo financeiro no primeiro dia do mês: corresponde ao dinheiro existente em
caixa e aos depó sitos bancá rios à ordem;
2. Recebimentos de vendas (IVA incluído): deverá fazer-se um cá lculo aproximado dos
montantes a receber provenientes das vendas, tendo em consideraçã o o Prazo
Médio de Recebimentos;
3. Outras receitas: outros recebimentos esperados, designadamente, um empréstimo
que ainda nã o foi liberado, a venda de um carro ou de uma má quina, etc.
A aná lise do orçamento de tesouraria permite verificar se existem meses com “descobertos
de tesouraria”, calcular dos montantes financeiros necessá rios para cobrir essas situaçõ es e
construir um saldo normal de disponível. Com base no orçamento provisional de tesouraria
é possível estudar as formas de financiamento mais convenientes, em termos de tipos de
financiamento, montantes e prazos.

Resultado de Aplicar técnicas de angariação e avaliação de alternativas


Aprendizagem 2: de financiamento

74
Critérios de
Desempenho:

(a) Aplica correctamente rá cios de aná lise dos níveis de


endividamento e de liquidez para poder identificar
necessidades de financiamento do negó cio

(b) Aplica correctamente meios informá ticos de ediçã o de texto


(ex: Word) na preparaçã o de um pedido de financiamento
assegurando a inclusã o da documentaçã o necessá ria
(documentaçã o legal, plano de negó cios, estudo de
viabilidade) bem como a indicaçã o dos termos de
financiamento propostos

(c) Aplica correctamente meios informá ticos de cá lculo (ex:


Excel) para avaliar as implicaçõ es de diferentes alternativas
de financiamento no desempenho econó mico-financeiro da
empresa

(d) Aplica correctamente meios informá ticos de ediçã o de texto


para preparar uma apreciaçã o das diferentes alternativas de
financiamento à luz de diferentes cená rios de estratégia de
financiamento de uma organizaçã o;

VIII. RÁCIOS DE ANÁLISE DOS NÍVEIS DE ENDIVIDAMENTO E DE LIQUIDEZ


Sã o conhecidas as vantagens de endividamento, como as que se seguem (i) benefício fiscal,
com a particularidade de que quanto maior for a taxa de IRPC, maior será o benefício fiscal

75
com endividamento, (ii) aumento na disciplina de gestã o já que a rigidez dos mapas de
dívida impõ e maior ã administraçã o de negó cio das organizaçõ es, preocupadas no
cumprimento do acordado.

Em contraponto, as desvantagens perfilam no seguinte (i) aumento do risco financeiro, (ii)


os custos derivados da separaçã o de interesses entre financiadores e a organizaçã o, (iii)
diminuiçã o da flexibilidade da organizaçã o que, com o aumento do endividamento,
cativará , no futuro, parte dos seus fluxos financeiros para o pagamento do serviço da
dívida.

Estes elementos aumentam a preocupaçã o de gestores financeiros de conhecer os seus


níveis de endividamento e liquidez através dos respectivos rá cios

8.1. Rácios de endividamento


Os rá cios de endividamento procuram dar indicaçõ es sobre o grau de intensidade de
recurso a capitais alheios no financiamento de uma empresa. Tal como os indicadores até
agora vistos, baseiam-se em grandezas contabilísticas, o que nem sempre proporciona
conclusõ es vá lidas. Por exemplo, conforme já se aludiu anteriormente, o valor do
endividamento existente poderá sofrer uma desvalorizaçã o do seu valor real (valor de
mercado).

Exemplos:
Uma pequena ilustração de apenas um dos problemas resultantes da utilização de grandezas
contabilísticas: se uma empresa recorre a doses maciças de endividamento, o seu risco
naturalmente aumentará. Esse fenómeno, ao ser reconhecido pelos seus credores, levará a um
aumento da taxa de juro que as instituições de crédito exigirão para novos créditos (além da
taxa de retorno exigida pelos accionistas). O resultado será que, na ausência de cláusulas
especiais, o endividamento existente na sociedade sofrerá uma depreciação, aspecto que a
contabilidade não reconhecerá, podendo igualmente alterar-se (para mais ou para menos) o
valor da sociedade para os accionistas.
76
Mais a renegociação da dívida de uma empresa em condições mais favoráveis do que as
inicialmente existentes, com a estipulação de uma taxa de juro abaixo das condições de
mercado e com um prazo alongado para reembolso (1). Tal significa que, considerando as
taxas de juro normais de mercado, o verdadeiro valor das responsabilidades da empresa não
será o valor nominal do empréstimo tal como ele se encontra registado no balanço, mas sim
um valor substancialmente inferior. Repare-se que faria todo o sentido um ajustamento do
valor desse endividamento: de facto, os fluxos financeiros que a empresa irá na realidade
pagar pelo passivo renegociado serão equivalentes aos que pagariam em condições normais
por um passivo inferior! Isto traduz-se, por conseguinte, em os encargos a suportar com o
endividamento estarem bastante distantes dos registados pela contabilidade, o que é uma
informação relevante para os analistas.

Por outro lado, também, conforme se viu em ponto anterior, apenas por feliz coincidência é
que a situaçã o líquida espelhará o valor intrínseco de uma sociedade (2) para os seus
proprietá rios.

8.1.1. Autonomia Financeira


Um dos rá cios de endividamento mais populares entre nó s27 consiste na chamada
Autonomia Financeira (AF), cuja expressã o de cá lculo é a seguinte:
Autonomia Financeira = Situação Líquida /Activo Total

Este rá cio permite apreciar em que percentagem é que o activo da sociedade se encontra a
ser financiado por capitais pró prios.

A popularidade deste indicador é tal que o leva a ser um dos indicadores mais utilizados
pelas instituiçõ es financeiras na apreciaçã o do risco de crédito de um cliente.
1
Essa situaçã o ocorre com frequência em casos de processos de recuperaçã o de empresas em dificuldades
financeiras.
2
Decorre, todavia, da nossa experiência, que o desvio entre valores intrínsecos e valores de balanço tende a
ser maior ao nível dos capitais pró prios do que ao nível do endividamento de uma empresa.
77
O motivo para esse papel tem a ver com a aparente margem de segurança que traduz para
os créditos concedidos por um banco. Entendendo a situaçã o líquida como o patrimó nio da
empresa que excede os seus passivos, naturalmente que quanto maior for o seu montante,
maior a probabilidade de que os activos da sociedade consigam, em caso de liquidaçã o,
cobrir a totalidade das responsabilidades da empresa, incluindo o crédito a conceder pela
instituiçã o financeira.

Por outro lado, a existência de um valor apreciá vel de fundos pró prios numa empresa
transmite a um financiador alguma tranquilidade adicional resultante do facto de que
quanto maior for o cometimento pessoal do proprietá rio no financiamento da empresa,
menos risco ele tenderá a assumir nos seus investimentos em relaçã o a uma situaçã o em
que a maior parte dos fundos investidos na empresa tenha a natureza de capitais alheios.
Por outras palavras, o banqueiro sentirá que o risco é partilhado de uma forma mais
equilibrada pela instituiçã o de crédito e pelos donos da empresa, havendo uma menor
probabilidade de comportamentos oportunistas por parte dos responsá veis da empresa
que prejudiquem os detentores de capitais alheios.

Por estes motivos, os gestores procuram ter uma atençã o especial com o comportamento
deste indicador, sabidas as possíveis consequências junto da praça financeira de uma
evoluçã o desfavorá vel do seu valor (3).

8.1.2. Debt-to Equity Ratio


Uma alternativa ao indicador anterior consiste na relaçã o entre o endividamento de uma
sociedade e os seus capitais pró prios (D/E). Esse indicador pode ter diversas variantes:

1. Com base no passivo total (D/E1) = Passivo Total / Situação Líquida


3
Daí, por exemplo, a constante preocupaçã o com a realizaçã o de reavaliaçõ es do imobilizado por parte de
muitas empresas. Muitos bancos, por exemplo, têm como regra de ouro procurar evitar a realizaçã o de
operaçõ es de crédito com sociedades que nã o disponham de uma autonomia financeira de pelo menos 30%.
78
2. Com base no passivo de médio/longo prazo (D/E2) = Passivo de ML / Situação
Líquida

Saliente-se que esta versã o do D/E procura traduzir a repartiçã o relativa dos capitais
permanentes (i.e., de longo prazo) de uma empresa em pró prios e alheios. Certos analistas
consideram que uma situaçã o em que os segundos sejam superiores aos primeiros poderá
traduzir um certo excesso de endividamento, recomendando por conseguinte que este
indicador apresente um valor inferior a 1.

Com base nos empréstimos bancários totais (D/E3) = Empréstimos bancários totais /
Situação Líquida

8.2. Indicadores de liquidez

8.2.1. O grau de liquidez geral


Um dos indicadores de liquidez mais popularmente utilizados pelos analistas financeiros
consiste no chamado grau de liquidez geral (GLG), que é calculado do seguinte modo:

Grau de Liquidez Geral = Activo Circulante / Passivo de curto prazo

Activo Circulante = Disponibilidades + Aplicações financeiras de curto prazo + Créditos de


Curto Prazo + Existências

Suponhamos que o valor assumido por este rá cio é 1.25. Uma interpretaçã o possível é que
"125% das responsabilidades de curto prazo poderã o ser satisfeitas recorrendo à s
disponibilidades, cobrança dos créditos de curto prazo e venda das existências".

O indicador em causa refere-nos assim em que medida o passivo de curto prazo está
coberto por activos que se esperam vir a ser convertidos em meios financeiros líquidos
num período supostamente correspondente ao do vencimento das dívidas de curto prazo.

79
Logo, decorre desta ideia que um valor superior a 1seria "razoá vel" e que corresponderia a
uma situaçã o de algum desafogo da empresa em termos de liquidez de curto prazo.

A interpretaçã o normal do GLG como indicador de liquidez deriva do facto de que, em


circunstâ ncias normais, uma empresa em dificuldades tenderá a pagar as suas dívidas mais
lentamente. Tal fará em princípio aumentar o seu passivo de curto prazo. E se este ú ltimo
cresce mais rapidamente que o activo circulante, entã o o GLG tenderá a registar uma
descida, o que será para os analistas um sintoma de "perda de liquidez".

Para compreendermos o real interesse deste indicador, convirá reflectir. No entanto, sobre
o conceito que ele pretende medir, isto é, o conceito de liquidez.

Podemos tentativamente definir a liquidez como "a capacidade de uma empresa em


cumprir os seus compromissos financeiros de curto prazo à medida que estes se vã o
vencendo"

Nã o é difícil apercebermo-nos que do conceito apresentado decorre que a liquidez de uma


empresa apresenta uma natureza marcadamente dinâ mica. Isto é, a capacidade de solver os
compromissos financeiros de curto prazo de uma sociedade nã o depende só dos activos
com um certo grau de liquidez que sã o detidos num determinado ponto no tempo
(perspectiva está tica) aptos a fazer face à s dívidas de curto prazo existentes, mas também
dos seguintes factores:
 Capacidade de geraçã o, no curto prazo, de novos meios financeiros pela exploraçã o;
 Prazos relativos de pagamento e recebimento das dívidas e créditos actualmente
detidos pela sociedade;
 Capacidade de obtençã o de novo endividamento no curto prazo;

Sendo um indicador utilizado pela quase generalidade das instituiçõ es financeiras como
componente importante na sua apreciaçã o do risco de crédito de uma empresa,

80
salientemos que é extremamente frequente que uma evoluçã o aparentemente "favorá vel"
deste indicador reflicta nã o uma melhoria mas uma degradaçã o da sua liquidez.

Exemplo:
Repare-se, por exemplo, na seguinte situação: uma empresa enfrenta dificuldades de
escoamento da sua produção (com consequente aumento dos seus stocks), ao mesmo tempo
que um não cumprimento generalizado dos prazos de pagamento dos seus clientes (com
consequente aumento dos saldos de clientes em dívida) e um apertar dos prazos de
pagamento por parte dos fornecedores (por hipótese monopolistas, e devido à sua
preocupação com a estabilidade financeira da empresa em causa). Este cenário é,
seguramente, um dos piores pesadelos para qualquer director financeiro e sem dúvida que
acabará por afectar, a muito curto prazo, a capacidade da empresa em satisfazer os seus
compromissos financeiros. No entanto, o que sucede ao GLG? Todos os três acontecimentos
(aumento das existências e créditos sobre clientes e redução das dívidas aos fornecedores)
contribuem para um aumento do GLG (e não uma diminuição), dando, por conseguinte,
indicações completamente opostas às que deviam ser esperadas de um indicador de liquidez.

Podemos concluir deste modo que o real interesse do GLG reside numa hipó tese
largamente imprová vel para a maioria das empresas que é a imediata liquidaçã o do seu
activo circulante e vencimento dos seus créditos de curto prazo.

De facto, para uma empresa onde se perspective a continuidade da sua exploraçã o, nã o será
razoá vel admitir a possibilidade prá tica de exigir dos seus clientes o imediato pagamento
dos seus créditos, assim como nã o é sensato esperar que as existências possam ser
alienadas ao valor registado em balanço e o seu valor de venda imediatamente recebido. E
se a hipó tese de liquidaçã o fosse prová vel, entã o é porque a empresa já estaria em sérias
dificuldades e por conseguinte de nada servirá analisar a capacidade de solver os
compromissos de curto prazo: se a empresa estiver efectivamente em vias de prová vel
liquidaçã o, o problema já nã o é o da liquidez de curto prazo mas sim de averiguar se o

81
patrimó nio da empresa é susceptível ou nã o de responder pelas dívidas totais (de curto,
médio e longo prazo).

8.2.2. O grau de liquidez reduzida


O rá cio de liquidez seguinte resulta do reconhecimento de que as existências de uma
empresa sã o tipicamente o activo menos líquido do seu activo circulante.
Daí que muitos analistas calculem, conjuntamente com o GLG, o chamado grau de liquidez reduzida
(GLR), que se escreve da seguinte forma:

GLR = AR / PCP

Onde:

AR = Activo Realizável = Disponibilidades + Aplicações financeiras de curto prazo + Créditos


de curto prazo

PCP = Passivo de curto prazo

A comparaçã o entre o GLG e o GLR permite, em particular, destacar o peso das existências
numa empresa.
Nã o obstante o ajustamento que é aqui efectuado relativamente ao indicador anterior, é de
referir que os problemas fundamentais que atrá s detectamos nã o sã o, no essencial,
resolvidos.
Um terceiro indicador de liquidez é aquele que restringe ainda mais o conceito de activos
líquidos, cingindo-os à s disponibilidades e aplicaçõ es financeiras de curto prazo de uma
empresa (GLI-grau de liquidez imediata):
GLI =(D+ AFcp) / PCP
Onde:
D = Disponibilidades
AFcp = Aplicações financeiras de curto prazo
PCP = Passivo de curto prazo

82
Voltamos a insistir que continuamos aqui a nã o estar em presença de um genuíno indicador
de liquidez nos termos em que definimos atrá s este conceito. Mas também será justo
salientar que, nã o obstante tal facto, em certas situaçõ es (quiçá extremas) este indicador
poderá dar-nos alguma informaçã o ú til sobre a situaçã o financeira da empresa. Será o caso
quando estejamos em presença de sociedades com um elevado valor de disponibilidades e
aplicaçõ es financeiras excedentá rias que, naturalmente, constituem, do ponto de vista dos
credores da empresa, um buffer (isto é, uma "almofada de segurança") contra eventuais
dificuldades conjunturais que possam por em perigo os seus créditos.

Imagine-se, por exemplo, o caso de uma empresa cujas disponibilidades e aplicações


financeiras excedentárias correspondam ao dobro das suas responsabilidades de curto prazo!

Mas também nã o esqueçamos que aquilo que é actualmente uma prosperidade financeira
poderá rapidamente deixar de o ser se a sociedade dispender os activos líquidos existentes
em investimentos de longo prazo, tornando imprescindível o conhecimento da capacidade
da exploraçã o em gerar meios líquidos. Como qualquer estudante sabe, é muito mais fá cil
(e mais rá pido) gastar dinheiro do que gerá -lo.

Nota Importante:
Certamente que a aná lise de rá cios financeiros é uma técnica incompleta e que sofre de
importantes limitaçõ es na sua aplicaçã o e interpretaçã o. Estas decorrem de uma maneira
geral da íntima relaçã o dos indicadores com as variá veis contabilísticas que se encontram
na base do seu cá lculo.

A utilizaçã o de rá cios deverá sempre, por conseguinte, ser simultâ nea com uma correcta
consciencializaçã o dos pressupostos inerentes à sua construçã o, o que infelizmente nem
sempre é realizado por muitos analistas e responsá veis das empresas. Deverá igualmente
ser efectuada de forma cumulativa com a recolha de outro tipo de informaçõ es e dados,

83
com uma mençã o especial para a aná lise da formaçã o e aplicaçã o de fluxos financeiros na
empresa e para o estudo do seu risco de negó cio.

A aná lise de rá cios deverá deste modo assumir como que um papel de "exploraçã o
preliminar" de uma empresa, recorrendo, para tal, à recolha criteriosa nã o de quaisquer
certezas mas de uma série de "indícios".

Finalmente, será de salientar que este conjunto de dados apenas globalmente poderá
contribuir para a formaçã o de um diagnó stico informado sobre o estado econó mico-
financeiro de uma empresa. Este, por sua vez, que deverá ser estudado no contexto
complexo e integrado das diversas vertentes que contribuem para a formaçã o de valor para
os seus proprietá rios e nã o com base uma simples definiçã o de objectivos de índole
contabilística expressos sob a forma de simples metas a alcançar para os valores de
determinados rá cio.

IX. PREPARAÇÃO DE UM PEDIDO DE FINANCIAMENTO

84
Cuidados ao solicitar um financiamento

Antes de preparar um pedido de financiamento deve ter presente os seguintes cuidados:


 Recursos de crédito devem ser aplicados correctamente, na finalidade para a qual
foram obtidos.
 Antes de tomar um empréstimo, o empresá rio deve tomar alguns cuidados e levar
em conta que:
1. Crédito viabiliza oportunidades, nã o as cria;
2. Um empréstimo precisa de ser pago, caso contrá rio a dívida aumenta e
transforma-se em um grave problema;
3. Planificar a abertura e a expansã o do negó cio contribui para identificar e
administrar os riscos e a capacidade de pagamento do empréstimo;
4. Na abertura de um negó cio, deve ser sempre aplicada uma boa parcela de
recursos pró prios;
5. Em muitos casos, a necessidade de capital de giro tem origem na má gestã o e no
desfasamento entre contas a pagar e a receber.
Portanto, fique atento!
6. Um empréstimo deve ser SEMPRE aplicado na finalidade para a qual foi obtido:
Capital de giro investimento ou misto (giro associado a investimento).
7. Nunca contraía empréstimo cuja taxa de juros seja maior que a rentabilidade do
negó cio
8. Esta é uma boa maneira de identificar se os juros praticados sã o altos para o
empreendimento ou nã o.

Depois de feitas as opçõ es quanto ao objecto da empresa a criar e de esclarecidas as


respostas à s questõ es: O que vou fazer? E como vou fazer? é altura de identificar os meios
financeiros que necessitará para cumprir os objectivos comerciais que se propô s a atingir.

85
Inicialmente é necessá rio determinar o capital necessá rio para a criaçã o da empresa o qual
vai depender do volume de investimento que precisa de realizar e da necessidade de iniciar
a actividade com uma estrutura financeira minimamente equilibrada. As insuficiências de
capital conduzem, quase sempre, a prazo, ao colapso da empresa.

9.1. Investimento a realizar

As principais rubricas de investimento necessárias ao arranque da actividade de uma empresa são


descritas na tabela seguinte:

Os investimentos necessá rios para a compra de instalaçõ es,


equipamentos de escritó rio e de produçã o, constituem as principais
parcelas de investimento das pequenas empresas. Nã o sã o, no entanto,
Imobilizações
Corpóreas os ú nicos, existindo outros custos característicos da fase de arranque e
que nã o podem ser negligenciados por atingirem, por vezes, valores
muito significativos.

Incluem-se todos os custos relativos a investimentos sem natureza


física, designadamente: despesas de instalaçã o (escrituras, estudos,
Imobilizações
Incorpóreas projectos e outras despesas de constituiçã o), custos relativos a
patentes, licenças, trespasses, etc.

Na concretizaçã o de um projecto empresarial é normal haver recurso a


crédito como forma de financiar os investimentos a realizar. Também é
frequente decorrer algum tempo entre a altura em que a operaçã o de
financiamento é aprovada e o dinheiro colocado à disposiçã o da
Juros durante a
fase de empresa e a altura em que o mesmo é utilizado o que determina o
investimento
débito de juros por parte da entidade financiadora. Apenas os juros
vencidos até à data do início da actividade da empresa deverã o ser
considerados nesta rubrica enquanto os debitados à posteriori serã o
considerados custos de exploraçã o.
86
No decurso da sua actividade a empresa tem necessidade de financiar,
no todo ou em parte, o seu Ciclo de Exploraçã o, isto é, o montante de
capital directamente aplicado nas diferentes fases de Ciclo de
Capital circulante
permanente Exploraçã o, desde a constituiçã o de stocks de matérias-primas ou
materiais, até ao crédito que a empresa, por uma razã o ou por outra,
concede aos seus clientes.

O Plano de Investimentos deverá assim ter em conta as necessidades do Ciclo de Produçã o,


designadamente, os valores relativos aos stocks de matérias-primas e de produto acabado
bem como o valor médio do crédito concedido a clientes.

Num período inicial, deve-se prever o dinheiro necessá rio para pagamento de, por
exemplo, salá rios, alugueres de instalaçõ es, despesas de comunicaçã o, etc., pois é frequente
a empresa nã o obter, nos primeiros meses da sua existência, um nível suficiente de
receitas. Assim, quando se calcula o volume de Capital Circulante necessá rio, deve-se
incluir um valor capaz de cobrir a diferença entre as receitas e as despesas no período de
arranque da empresa.

O Capital Circulante Permanente é calculado somando as seguintes parcelas:

Disponibilidades + Crédito a clientes + Stocks mínimos + Crédito de fornecedores

Depois de calculados os custos deve verificar qual do custo de investimento será suportado
pelos capitais pró prios, aquela parte que normalmente é conhecida como comparticipaçã o
no investimento.

9.2. Texto em Word ou noutro editor de texto

Depois de conhecido o valor a ser suportado pelos capitais alheios e identificada a


instituiçã o bancá ria, é preparado um estudo de viabilidade com as seguintes partes:

87
 Introduçã o com a apresentaçã o do que é o projecto quais sã o os seus objectivos,
á rea de actuaçã o e as partes em que estudo de viabilidade está dividido;

A passagem da ideia à empresa implica, necessariamente, o contacto com um


conjunto de entidades cujas atribuiçõ es e actividades se enquadram no processo de
criaçã o do investimento em causa. A este conjunto poder-se-á chamar “infra-
estruturas de apoio à actividade empresarial”.
 Segue-se o estudo do mercado que se apresenta as condiçõ es do mercado com a
identificaçã o dos bens e serviços e oferecer, a identificaçã o do consumidor e sua
segmentaçã o se possível, os preços a praticar e sua situaçã o em relaçã o a
concorrência;

Na linguagem dos especialistas de gestã o a envolvente externa corresponde a um


conjunto de elementos que o empresá rio nã o pode controlar. É o caso dos futuros
clientes, factor com grande importâ ncia para a empresa e dos fornecedores e, ainda
das empresas concorrentes cujo nú mero, agressividade e comportamento saem, por
completo, da esfera de controlo do potencial empresá rio. Reunindo todas as
informaçõ es disponíveis sobre a envolvente externa, o empresá rio estará em
condiçõ es de avaliar a viabilidade do seu projecto e toma consciência dos inú meros
factores que podem condicionar o sucesso do seu financiamento.

Em relaçã o ao seu produto, convém especificar o seguinte conjunto de informaçõ es:


 Características técnicas e comerciais dos produtos ou serviços existentes ou
similares - vantagens e desvantagens comparativas
 Imagem, prestígio e antiguidade
 Relaçã o preço/qualidade
 Assistência pó s-venda
 Prazos de entrega
 Pontos fortes e fracos da concorrência

88
 Condiçõ es oferecidas pelos fornecedores: preços, prazos, qualidade,
condiçõ es de pagamento
 Papel das organizaçõ es profissionais
 Leis e regulamentos específicos do sector
 A seguir apresenta aquilo que considera como serem vantagens do projecto em
funçã o da sua localizaçã o, mã o-de-obra a contratar, concorrência e outras que julgar
importantes;

 Apresenta os resultados financeiros do projecto em termos de valor actual ou


presente líquido que deve ser maior que zero e a taxa interna de retorno que deve
ser superior que a taxa de juros bancá rios para aquela finalidade e prazo.

 Depois prepara uma carta endereçada a instituiçã o financeira que se identifica


primeiro, a sua morada, o seu registo caso seja uma empresa, o seu NUIT, indicando
o pedido de financiamento, o montante e apresentando a finalidade do mesmo.

9.3. Os anexos ao estudo de viabilidade

Todos os anexos ao estudo de viabilidade sã o constituídos pela documentaçã o ou dados


que os bancos solicitam como de apresentaçã o obrigató ria e/ou opcional. Entre eles, se
podem destacar os seguintes:

 Os estatutos da sociedade;
 Caso seja uma empresa em funcionamento, o balanço do ú ltimo exercício e o
balancete mais recente;

 O estudo de viabilidade econó mica e financeira;

 O plano de negó cios da sociedade;

 Declaraçã o negativa das Finanças mostrando que tem contas em dia com o fisco.

89
Na verdade, para a produçã o deste documento, todas as funçõ es da empresa sã o
envolvidas:
 A funçã o financeira que diz respeito à tesouraria, aos balanços e à s contas de
exploraçã o;
 A funçã o marketing que abrange as tarefas com vista à comercializaçã o em boas
condiçõ es, como os vendedores, a distribuiçã o, a concorrência;
 A funçã o produçã o que engloba os aspectos relacionados com o produto, como as
tecnologias, técnicas, materiais, quantidades, etc.;
 A funçã o pessoal onde se enquadra tudo o que é relevante do ponto de vista da
qualidade da equipa e da sua gestã o;
 A funçã o gestã o e organizaçã o que constitui a funçã o central na conduçã o da
empresa.
A partir dos elementos disponíveis é possível fazer o diagnó stico de cada uma das funçõ es,
ou seja, verificar os aspectos positivos e negativas de cada uma.

90
X. AVALIAÇÃO DAS DIFERENTES IMPLICAÇÕES DAS ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO

10.1. Comparação entre alternativas de investimento

Fornecer critérios de decisã o


Função da Engenharia para a escolha entre alternativas
Económica de financiamento

Meios de produçã o
Factores que produzem Diferenças entre produtos
as diferentes alternativas
Objectivos a alcançar

Em resumo, várias formas de


aplicação do capital, cada uma
exigindo determinados recursos e
proporcionando determinadas
rentabilidades.

Nem sempre as propostas de investimentos mais rentáveis podem ser realizadas.


Por quê?
 MOTIVO:- Limitaçã o de recursos.
Isto faz com que os resultados de estudos puramente econó micos nã o seja o ú nico factor a
considerar na decisã o final.

A aná lise da disponibilidade de recursos, dos encargos financeiros assumidos, etc., deve ser
feita paralelamente - ANÁ LISE FINANCEIRA DE INVESTIMENTO.

91
10.2. Fluxos de Caixa
Num estudo econó mico as entradas e saídas monetá rias só têm um significado completo
quando acompanhadas pelas datas em que se efectuam. Embora se possa usar tabelas de
juros em que o período de composiçã o seja de um ano, mês ou dia, etc., há limitaçõ es
prá ticas quanto à necessidade de precisã o para as datas em que as receitas e as despesas
previstas ocorrerã o. Contorna-se esse problema considerando essas quantias concentradas
em intervalos de tempos perió dicos; em geral, adopta-se a “convençã o de fim de período”,
ou seja, que as entradas e as saídas monetá rias que se dã o durante um período estejam
concentradas no fim do mesmo. Uma aná lise da questã o mostra que o estudo nã o será
muito afectado em sua exactidã o por esta simplificaçã o. O período adoptado geralmente é
de um ano, podendo ser outro de acordo com a conveniência do projecto em estudo, grau
de detalhe e precisã o das estimativas de datas e quantias. Para o caso moçambicano onde
as taxas de juros sã o altas, muitas vezes o mês deve ser tomado como período-base.
Por outro lado, o estudo econó mico deve cobrir um intervalo de tempo compatível com a
duraçã o da proposta de investimento considerada, frequentemente denominada vida útil,
vida econó mica ou simplesmente vida da proposta de investimento.

10.3. Avaliação de investimento


Existem vá rias medidas para avaliar investimentos.
Seja uma determinada firma que tenha a oportunidade de escolher entre os seguintes
projectos em Meticais:
PROJECTO INVESTIMENTO INICIAL FLUXO DE CAIXA
Ano 1 Ano 2
A 10.000,00 10.000,00
B 10.000,00 10.000,00 1.100,00
C 10.000,00 4.000,00 8.000,00
D 10.000,00 6.000,00 6.000,00

92
10.3.1. Critério por Inspecção
O projecto B é melhor do que o projecto A
O projecto D é melhor que o projecto C, pois é possível reinvestir os ganhos entre os anos 1
e 2.

10.3.2. Período de Recuperação (“pay-back period”)


Procura-se estabelecer o tempo necessá rio para que fundos gerados pelo investimento
sejam iguais ao gasto inicialmente feito. Preocupa-se com a recuperaçã o simples do
dinheiro empregado. No caso acima têm-se:
Projeto Período de Recuperação
Projectos Período de Recuperação
A 1 ano
B 1 ano
C 1 ano e 9 meses
D 1 ano e 8 meses

Nota-se imediatamente que o método nã o consegue diferenciar entre os projectos A e B.


Sua principal deficiência é nã o considerar os ganhos apó s a recuperaçã o, nem o
escalonamento das entradas de Caixa. Nã o se faz um investimento para recuperar o capital,
e sim para obter lucro. O processo serve apenas para complementar os outros métodos no
auxílio da tomada de decisã o.

10.3.3. Ganhos por capital investido.


Calcula-se o somató rio dos fluxos de caixa e divide-se o total pelo investimento.
Proj
Projectos Ganhos por Capital Investido
A 1.0
B 1.1
C 1.2
D 1.2
eto Ganhos por Capital Investido
Desconsideram-se inteiramente o factor tempo e as possibilidades de reinvestimento.

Ganhos médios anuais por capital investido


93
Semelhante ao anterior.

10.3.4. Critérios económicos baseados no princípio de equivalência de fluxos de


caixa
Consideram-se o valor do dinheiro no tempo, as possibilidades de reinvestimento, o custo
de oportunidade, etc.

Conclusão
Apesar dos quatro primeiros processos poderem levar a boas decisõ es em alguns casos
(investimentos iguais, de mesma duraçã o e fluxos de caixa homogéneos), a aná lise da
maioria das situaçõ es só pode ser feita adequadamente pelos critérios econó micos
detalhados a seguir.

Critérios económicos de decisão


Os métodos de comparaçã o de alternativas de investimento baseiam-se no princípio de
equivalência visto; isto supõ e o uso de uma taxa de desconto. Qual seria essa taxa?

A rentabilidade de uma série de investimentos é dada pela taxa de juros que permitiria ao
capital empregado fornecer um certo retorno.

De um modo geral existem vá rias aplicaçõ es possíveis de capital, interessando apenas as


mais rentá veis. Ao se considerar uma nova proposta de investimento, deve-se levar em
conta que esta vai deslocar recursos disponíveis e, portanto, deixar-se-á de auferir retorno
de outras possíveis fontes.

Taxa mínima de atractividade


Uma nova proposta para ser atractiva deve render, no mínimo, a taxa de juros
equivalente à rentabilidade das aplicaçõ es correntes e de pouco risco.

94
Dado que cada pessoa ou empresa tem possibilidade de investimentos diferentes, haverá
uma taxa mínima de atractividade para cada uma.

Exemplo:
Se existirem letras de câ mbio que garantem uma rentabilidade de 2,5% a.m. , a proposta de
investimento em acçõ es só será atractiva se proporcionar rendimento maior.

Cumpre ressaltar que um estudo econó mico recai sempre na escolha entre alternativas;
dever-se-á tomar uma decisã o entre nã o fazer nada, abandonar projectos em andamento
ou investir em novos projectos, etc.
Os métodos de comparaçã o baseados nos princípios de equivalência determinam quantias
ú nicas que representem, do ponto de vista econó mico, cada alternativa de investimento.

OS MÉTODOS

Método
Método do
do Valor
Valor Método
Método da
da Taxa
Taxa
Presente
Presente Líquido
Líquido Interna de Retorno
Interna de Retorno

HIPÓ TESE FORTE: Inicialmente supor-se-á que o investimento seja instantâ neo (no período zero) e
que não haja inflação, risco e imposto de renda.

10.4. Método do valor presente líquido


No método do valor presente líquido calcula-se o valor actual do fluxo de caixa, com o uso
da taxa mínima de atractividade; se este valor for positivo, a proposta de investimento é
atractiva.

Exemplo:

95
Considere-se a proposta de investimento que envolve investir 10.000,00 Meticais hoje para
receber 2.000,00 Meticais anuais, nos pró ximos 10 anos, conforme o diagrama de fluxo de
caixa que se segue:

2.000 .................................................................................................................... 2.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

10.000,00 Meticais

A taxa mínima de atractividade é de 10% a.a. É atractivo o investimento?

Solução

- 10.000 + 2.000 a10¬10 = 2.288.


Conclui-se, pois, que o investimento é atractivo.

Nota Importante
Quando se consideram alternativas de investimento com duraçõ es idênticas,
escolhe-se a de maior valor presente líquido.

NA PLANILHA DE EXCELL TERIAMOS:

96
A B

1 10% <--Taxa mínima de atractividade

2 -10.000 <-- Investimento

3 2.000

4 2.000

5 2.000

6 2.000 Anuidades /Pagamentos

7 2.000

8 2.000

9 2.000

10 2.000

11 2.000

12 2.000

13 2.289,13 <--=VPL(0,1;A3:A12)+A2

Exemplo:

Se, competindo com a proposta de investimento acima, houvesse uma alternativa B, de se


investir 14.000,00 Meticais para obter-se 3.000,00 Meticais anuais durante 10 anos, qual
seria a proposta escolhida?

Solução
O valor actual da proposta B é:
-14.000 + 3.000. a10¬10 = 4.432

Por ter maior valor actual, esta proposta é escolhida de preferência à anterior.

97
NA PLANILHA DE EXCELL TERIAMOS:

A B

1 10% <--Taxa mínima de atractividade

2 -14.000 <-- Investimento

3 3.000

4 3.000

5 3.000

6 3.000 Anuidades /Pagamentos

7 3.000

8 3.000

9 3.000

10 3.000

11 3.000

12 3.000

13 4.433,70 <--=VPL(0,1;A3:A12)+A2

Nota importante
Geralmente a data escolhida para o cá lculo do valor actual é o “dia de
hoje”, daí o termo “valor presente” usado para designar o método.
Entretanto, qualquer que seja a data usada, a decisão será a mesma.

Para ilustrar, considerem-se as duas propostas anteriores. O valor actual de cada uma delas
ao fim do período 6 será :
 PROPOSTA A : 2.288 . FAC(6,10) = 2.288 . (1,1)6 = 4.053,33
 PROPOSTA B : 4.432 . FAC(6,10) = 4.432 . (1,1)6 = 7.851,56.
98
Evidentemente a posiçã o relativa das propostas nã o mudou.

No caso de comparar propostas de duraçõ es diferentes, alguma hipó tese será exigida sobre
o que será feito apó s o término da proposta de menor duraçã o.

Considerações sobre o método do valor actual

Observe-se que toda vez que se consegue investir uma quantia exactamente à taxa de
atractividade, o valor presente do projecto como um todo será nulo. Um valor actual
positivo indica, pois, que está investindo a uma taxa superior à taxa de atractividade. O
inverso ocorre para valores presentes negativos.

Por outro lado, o valor presente de um fluxo de caixa indica a diferença entre o valor actual
das quantias futuras envolvidas e o investimento inicial. Justifica-se o método apresentado,
pois um valor actual positivo significa que as quantias futuras, descontadas à taxa mínima
de atractividade, superam o investimento inicial necessá rio - o que torna atractiva a
proposta. Por outro lado, um valor actual negativo significa que se está investindo mais do
que se irá obter, o que é, evidentemente, indesejá vel; em outras palavras, a mesma quantia,
se fosse investida à taxa de atractividade, renderia mais do que no projecto em questã o.

IMPORTANTE
Conclui-se que o valor actual das quantias futuras de um fluxo de
caixa é igual ao má ximo investimento que se está disposto a fazer
para obtê-las.

Exemplo:
É proposta a venda de determinada má quina para fins rentá veis; o comprador em
perspectiva tem uma taxa mínima de atractividade de 10% a.a.. A má quina proporcionará
uma receita líquida de 20.000,00 MT no primeiro ano, diminuindo em seguida à base de

99
1.000,00 MT ao ano por mais 12 anos. O valor estimado de revenda daqui a 12 anos é de
26.000,00 Meticais.
Até quanto estaria o comprador disposto a pagar pela má quina?
Solução
a. Fluxo de caixa ( em MT 1.000,00): P = S/[(1 +i)n]

NA PLANILHA DE EXCELL

A B

1 10% <--Taxa mínima de atractividade

2 20.000

3 19.000

4 18.000

5 17.000

6 16.000

7 15.000

8 14.000 Fluxos de Caixa de 1 a 11

9 13.000

10 12.000

11 11.000

12 10.000

13 35.000 Valor Residual + Fluxo de Caixa 12

14 114.657,02 <--VPL(A1;A2:A13)

Este valor é o máximo que o comprador estará disposto a pagar pela má quina, pois
corresponde ao valor actual das receitas líquidas futuras!!!.

100
10.5. Método da taxa de retorno
A avaliaçã o da rentabilidade de uma proposta de investimento é feita pela taxa de juros que
torna equivalente o investimento inicial ao fluxo de caixa subsequente. Talvez este seja o
método mais fá cil de entender, já que a avaliaçã o de rentabilidade por meio de uma taxa é
coisa bastante usada (embora nem sempre correctamente).

Isto significa dizer que a taxa interna de retorno é aquela que torna nulo o valor presente
líquido do projecto. Ou ainda, é aquela que torna o valor dos lucros futuros equivalente aos
gastos realizados com o projecto, caracterizando assim, como a taxa de remuneraçã o do
capital investido.

O cá lculo da taxa de retorno é feito no caso geral por tentativas e interpolações. Isto porque
nem todas as propostas de investimento se constituem de fluxos de caixa semelhantes aos
usados para o estabelecimento dos factores de conversã o.

No processo de tentativas, a partir de uma taxa inicial, calcula-se o valor actual do fluxo de
caixa. O objectivo é obter uma taxa que torne este valor nulo, e, portanto, vai-se
modificando a taxa no sentido de torná -lo pró ximo de zero.

A partir de duas taxas que forneçam valores actuais pró ximos de zero, porém de sinais
opostos, pode-se por interpolaçã o determinar a taxa de retorno aproximada.

A primeira taxa usada nos cá lculos deve ser evidentemente a mais pró xima possível da taxa
de retorno.

Uma forma de obtê-la é aproximar-se o fluxo de caixa para um dos fluxos que originaram os
factores, determinar o factor correspondente e através de uma das tabelas de juros, ou
calculadora financeira do tipo HP 12-C, determinar a taxa.
101
O exemplo que se segue tornará mais claro o cá lculo da taxa de retorno.

A compra de determinada má quina está sendo considerada por uma empresa; tem custo
inicial de 150.000,00 Meticais. Foi estimado que proporcionará um excesso de receitas
sobre despesas nos pró ximos 12 anos, começando com 30.000,00 MT no primeiro e
decrescendo à base de 1.500,00 MT por ano, devido ao aumento dos custos. O valor de
revenda daqui a 12 anos é previsto ser 39.000,00 MT. Qual a taxa de retorno fornecida pelo
investimento na má quina?

Solução
a-) Fluxo de Caixa 39.000,00

.....................................................................30.000,00...............................................................

150 mil

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

b-) Determinaçã o de uma taxa em primeira aproximação.


Olhando-se para o fluxo de caixa, vê-se que é possível aproximá -lo para o seguinte fluxo de
caixa:

30.000,00

150 mil

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Obtém-se, pois,
150.000,00 MT = 30.000,00 . a12¬i =» a12¬i = 150.000/30.000 = 5

102
Na HP-12C obtemos i = 17%5

c-) TENTATIVAS
Valor actual = - 150.000 + 30.000 a12¬ i - 1.500 GFVA(i,12) + 39.000 (1+i)-12
Com 17% temos:
VA = -150.000 + 149.651,62 - 27.923,81 + 5.926,99 = -22.345,20
Para introduzir 1.500 GFVA(17,12) na HP-12C, fizemos o seguinte:
f FIN 16.500 g CFj
0 g CF0 17
0 g CFj f NPV
1500 g CFj
3000 g CFj

Com 12% temos:


VA = -150.000 + 185.831,23 - 6 38.928,41+ 10.010,33 = + 6.913,15
Como os valores obtidos acima têm sinais opostos, pode-se fazer uma interpolaçã o linear,
determinando-se a taxa que fornece valor actual nulo, de acordo com o grá fico abaixo:
Assim,
(i-0.12) /6913.15 = (0.17 – i)/22345.20 = (i-0.12)/(0.17-i) = 0.3094 » i = 13.18%
Na HP 12C, temos:
f FIN f 2
150000 CHS g CF0
30000 g CFj
28500 g CFj
27000 g CFj
.
.
.
15000 g CFj
52500 g CFj
f IRR
Aparecerá no visor 13.03

XI. APRECIAÇÃO DAS DIFERENTES ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO

Financiamento
103
De uma maneira geral, o objectivo financeiro da empresa consiste em conseguir, num dado
momento, o financiamento necessá rio em condiçõ es de custo e prazos adequados. Isto é,
nã o se trata apenas de conseguir o montante de financiamento necessá rio, mas sim
encontrar fontes mais econó micas, de tal forma que o risco financeiro da empresa seja
minimizado, através de uma relaçã o equilibrada entre meios pró prios e alheios.

Existem diversas formas de financiamento, quer o investimento que vai ter que se realizar
para lançar a empresa quer o necessá rio para financiar a actividade.

De acordo com as necessidades e os objectivos assim se recomendam diferentes formas de


financiamento, distinguindo-se assim os financiamentos de médio/longo prazo que sã o
normalmente destinados à aquisiçã o de equipamentos, edifícios e instalaçõ es e na
aquisiçã o de bens duradouros e diferentes formas de financiamento de curto prazo,
baseados em capital alheio, designadamente de bancos, de clientes, de fornecedores e
outros.

De seguida sã o apresentadas as diferentes operaçõ es de financiamento possíveis:

11.1. Financiamento de curto prazo

11.1.1. Crédito bancário de curto prazo

O crédito bancá rio é uma operaçã o através da qual uma instituiçã o bancá ria coloca à
disposiçã o do seu cliente um determinado montante por ele solicitado comprometendo-se,
este ú ltimo, a liquidá -lo em datas previamente fixadas e acrescido dos respectivos juros. O
crédito bancá rio de curto prazo pode ter as seguintes formas:

 Desconto de letras e livranças - as letras e as livranças sã o geralmente utilizadas


para equilibrar a tesouraria e/ou a exploraçã o da empresa. Uma operaçã o de
desconto de uma letra ou livrança, corresponde a um adiantamento, feito pela
instituiçã o bancá ria que realiza a operaçã o, relativamente à data do seu vencimento.
Estas operaçõ es têm diversos tipos de custo, designadamente: juro, comissõ es,

104
imposto de selo e portes (no caso das letras). O valor dos encargos é calculado à taxa
de juro praticada pela instituiçã o bancá ria que procede ao desconto, em funçã o do
prazo que tiver sido previamente acordado entre a data do desconto e a data de
vencimento do título.
 Empréstimos de curto prazo;

 Contas correntes caucionadas;

 Outras operaçõ es de financiamento a curto prazo.

11.1.2. Empréstimos de curto prazo

Sã o normalmente usados para financiar operaçõ es de prazo reduzido, como sejam, por
exemplo, necessidade momentâ nea de tesouraria.

Neste tipo de operaçã o a instituiçã o bancá ria disponibiliza ao seu cliente um determinado
valor de capital comprometendo-se este a restituí-lo à instituiçã o, no final do prazo que
tenha sido acordado, acrescido dos respectivos juros à taxa praticada, à data, pela
instituiçã o bancá ria que concede o crédito.

11.1.3. Contas correntes caucionadas

Sã o operaçõ es de crédito pelas quais a entidade financiadora coloca ao dispor do seu


cliente um determinado volume de crédito contratado, que este pode utilizar até ao seu
limite, podendo repor, quando entender, partes de capital por forma a reduzir o montante
do seu débito. A taxa de juro deste tipo de operaçõ es, é preestabelecida, depende da
avaliaçã o do risco que a entidade financiadora fizer ao seu cliente, consta do contrato a
celebrar com esta ú ltima, sendo os juros liquidados de acordo com o volume de crédito
utilizado. Esta forma de financiamento possui a vantagem de permitir a utilizaçã o do
crédito em funçã o das necessidades da tesouraria da empresa.

105
11.1.4. Descobertos bancários

Os descobertos bancá rios constituem "plafonds" (valor limite) de crédito que as entidades
bancá rias autorizam que as empresas movimentem, quase sempre por períodos muito
curtos de tempo, para suprir dificuldades momentâ neas de tesouraria. Sã o normalmente
concedidos a empresas que oferecem garantias de um determinado nível de saldos médios
e com cará cter transitó rio e têm custos normalmente superiores aos praticados para as
restantes operaçõ es de crédito.

Esta forma de crédito está directamente associada à conta de depó sitos à ordem, sobre a
qual sã o feitos os movimentos de crédito. A conta fica autorizada a ter saldos negativos até
ao montante fixado ("plafond" de crédito). Os juros sã o contados diariamente sobre o valor
do saldo devedor.

11.1.5. "Factoring"

Consiste na tomada, pela empresa de factoring (factor), para fins de administraçã o e


cobrança, dos créditos de curto prazo, titulados por facturas, que determinada empresa
(aderente) adquire sobre os seus clientes pelo fornecimento de bens e serviços. Na data de
vencimento das facturas, os devedores liquidarã o, à empresa de factoring, os valores em
dívida.

A empresa aderente poderá utilizar, antecipadamente, parte dos créditos cedidos à


empresa de factoring, normalmente até a um má ximo de 80% do valor global dos créditos
cedidos, podendo assim encurtar o seu prazo de cobrança e, no limite, converter facturas
em vendas a dinheiro.

O custo de um crédito através de uma operaçã o de factoring é normalmente inferior à s


restantes operaçõ es de crédito já referidas e é constituído por uma comissã o fixa (comissã o
de factoring) sobre o valor dos créditos cedidos, devida pelo serviço de cobrança e garantia
do risco de crédito, a que se acresce uma taxa de juro aplicá vel ao montante adiantado à
empresa aderente.
106
As vantagens mais relevantes do recurso ao factoring sã o essencialmente as seguintes:
melhoria da liquidez da empresa aderente, reduçã o do esforço de cobrança nas empresas
aderentes e disponibilidade do montante solicitado.

As dificuldades de acesso a esta forma de financiamento à tesouraria sã o normalmente as


seguintes: utilizaçã o de critérios muito selectivos, por parte das empresas de factoring, na
selecçã o das empresas aderentes e exigência de valores mínimos de crédito cedido.

11.1.6. Créditos documentários

Por ordem da empresa, uma instituiçã o bancá ria assume a responsabilidade de liquidar um
determinado montante à empresa fornecedora, correspondente a um fornecimento
concreto. O pagamento é feito à empresa fornecedora contra a entrega da documentaçã o
que prova a expediçã o da mercadoria por uma instituiçã o bancá ria do país de origem da
empresa fornecedora, que funciona como correspondente.

Uma operaçã o de crédito documentá rio é concedida à empresa que o requer por um prazo
determinado. Este instrumento garante a liquidaçã o imediata do montante do
fornecimento à empresa fornecedora, permitindo à empresa que solicitou a operaçã o
dispor, pouco tempo depois da data de satisfaçã o da encomenda, do montante
correspondente ao valor do fornecimento.

11.2. Financiamento de médio e longo prazo

Para financiar a aquisiçã o de bens duradouros de equipamentos e imobiliá rios e quando o


recurso a capitais pró prios nã o é possível ou nã o é suficiente, as empresas recorrem a
diferentes formas de financiamento de médio e longo prazo designadamente:

 Recurso a capitais pró prios (auto-financiamento);

107
 Empréstimos bancá rios;

 "Leasing";

 Capital de risco.

11.2.1. Recurso a capitais próprios

Constitui a forma menos cara de uma empresa se financiar e, simultaneamente, uma forma
de garantir a manutençã o da sua actividade e, deste modo, garantir o seu crescimento. Os
capitais pró prios sã o os capitais da pró pria empresa, tais como, o capital social, reservas,
resultados e/ou prestaçõ es suplementares. Os resultados acumulados retidos na empresa
sã o também denominados de auto-financiamento.

Sendo este tipo de recursos normalmente escasso, pode contudo vir a ser utilizado caso os
só cios ou accionistas tenham disponibilidade para aumentar o capital social da sociedade
ou realizar entradas em dinheiro ou espécie, em volume suficiente para sustentar as
necessidades de investimento requeridas, as quais poderã o, posteriormente, vir ou nã o a
ser transformadas em capital.

11.2.2. Empréstimos bancários de médio e longo prazo

Destinam-se a financiar investimentos em curso ou no seu início. A empresa tem que


negociar as condiçõ es de concessã o do empresá rio com a entidade bancá ria a quem o
solicita, designadamente o prazo, o período de carência de juros e/ou de amortizaçã o de
capital e a taxa de juro.

11.2.3. "Leasing" ou locação financeira

É um instrumento de financiamento integral. Utiliza-se, geralmente, para financiar a


aquisiçã o de mobiliá rio de escritó rio, equipamento informá tico, de produçã o de viaturas
108
(leasing mobiliá rio), e também de instalaçõ es para a utilizaçã o na actividade empresarial
(leasing imobiliá rio).

A empresa de leasing - locadora - substitui-se à empresa que contrata a operaçã o - locatá ria
- na aquisiçã o do bem passando este a constituir sua propriedade. A locadora coloca-o à
disposiçã o da empresa locatá ria a troco de um pagamento perió dico - renda - o qual inclui
no valor da amortizaçã o, o valor de aquisiçã o acrescido de juro, comissõ es e impostos.

As rendas podem ser liquidadas mensal ou trimestralmente, podendo assumir os seguintes


diferentes tipos:

 Rendas progressivas - sã o as mais reduzidas no período inicial do contrato e


aumentam progressivamente para o final do mesmo. Trata-se de uma modalidade
interessante para as empresas que nã o conseguem disponibilidades imediatas
apesar de resultar num encargo total superior;
 Rendas degressivas - têm um valor inicial superior e decrescem para o final do
contrato;

 Rendas sazonais - sã o particularmente atractivas para as empresas cuja actividade


se concentra em determinados períodos do ano.

Enquanto durar o contrato, o locatá rio assume todos os riscos e encargos com o bem
adquirido durante o período em que durar o contrato. No final do contrato o locatá rio tem a
opçã o de comprar o bem por um valor residual estabelecido na data de assinatura do
contrato.

As vantagens do recurso a este instrumento de financiamento sã o as seguintes:

 Rapidez e simplicidade da operaçã o;


 Financiamento global;

 Alívio da tesouraria da locatá ria;

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 Competitivo, relativamente a outras formas de financiamento;

 Nã o reduz o plafond de crédito da locatá ria.

As operaçõ es de leasing imobiliá rio, quando solicitadas por uma empresa em início de
actividade, sã o mais difíceis de conseguir uma vez que a empresa de leasing nã o possui
quaisquer referências ou garantias sobre o potencial da empresa locatá ria. Este tipo de
financiamento, financia até 100% do valor de aquisiçã o, incluindo a sisa, as despesas de
escritura e as eventuais obras de adaptaçã o.

O leasing imobiliá rio, por outro lado, permite a substituiçã o regular de equipamento que se
torne eventualmente obsoleto, sendo fá cil substituir o actual contrato por outro que tenha
em conta a aquisiçã o de equipamento novo.

Os contratos de leasing nã o sã o denunciá veis antes do final dos prazos contratados a nã o


ser em condiçõ es muito especiais a negociar com as empresas locadoras assim como o bem,
adquirido através de uma operaçã o de leasing, nã o constitui propriedade da locatá ria antes
do final do contrato.

O leasing pode também ser uma boa soluçã o para empresas que, dispondo de equipamento,
necessitam de lançar capital no negó cio para fazer face a eventuais necessidades de fundo
de maneio. Neste caso e confirmados determinados pressupostos e condiçõ es da empresa
locadora, esta adquire à locatá ria um determinado equipamento que lhe é posteriormente
alugado nas condiçõ es de leasing financeiro já anteriormente referidas. Uma operaçã o
realizada com estes contornos designa-se por lease-back.

11.2.4. O capital de risco

As Sociedades de Capital de Risco (SCR) têm um modelo que assenta na partilha do risco do
negó cio com as empresas em início de actividade ou aquelas que necessitam, em

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determinada altura da sua vida, de injectar mais capital de modo a sustentar o seu
crescimento ou a entrar em novos negó cios.

Tal partilha assenta na participaçã o das SCR no capital das empresas que solicitam o seu
apoio através de um Contrato ou Acordo Parassocial que determina as formas de
relacionamento entre a SCR e a empresa participada e estipula igualmente o período,
previsto na lei, durante o qual aquela permanecerá no capital bem como a mais valia que
deseja obter quando da sua saída no final do período estabelecido no contrato.

O financiamento através de Sociedades de Capital de Risco é uma forma de financiamento


barata, já que nã o obriga à liquidaçã o de quaisquer encargos financeiros, mas a obtençã o de
apoio de uma SCR obriga à aná lise rigorosa e aprovaçã o prévia de um Plano de Negó cios
detalhado da empresa.

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