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DO CAPITAL HUMANO
CASO DAS EMPRESAS DE CONSULTORIAS EM MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE ECONOMIA
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
A CONTABILIZAÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM FORMAÇÃO
DO CAPITAL HUMANO
CASO DAS EMPRESAS DE CONSULTORIAS EM MOÇAMBIQUE
Maputo
2010
ii
DECLARAÇÃO DE HONRA
Declaro que este trabalho é da minha autoria e resulta da minha investigação. Esta é a
primeira vez que o submeto para a obtenção de um grau académico numa instituição
educacional.
___________________________
(Samuel Daúde Vasco Guambe)
Aprovação do Júri
_____________________________
(Presidente de Júri)
_____________________________
(Arguente)
______________________________
(Supervisor)
iii
DEDICATÓRIA
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço tanto a Deus meu criador e meu guia, por ter me encaminhado até ao alcance
desta vitória académica.
Meus agradecimentos especiais a Dra Guilhermina Notiço pela sua total disponibilidade
nos acompanhamentos e orientações ao longo do trabalho.
Para toda a equipa dos meus professores que continuem a apostar na transmissão de
conhecimentos com vista a formação de um novo capital humano, capaz de enfrentar os
actuais e futuros desafios profissionais.
Aos meus irmãos que sempre lutaram para que a formação académica estivesse nas
minhas prioridades.
Ao meu grande amigo Sérgio Mutuo, pela sua simplicidade e total ajuda na realização
deste trabalho.
v
RESUMO
vi
LISTA DE ABREVIATURAS USADAS
vii
ÍNDICE GERAL
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................. 56
ANEXOS .......................................................................................................................... 59
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE TABELAS
1.1 Introdução
Desta forma, dado o reconhecimento dos recursos humanos como importantes factores
produtivos, as empresas apostam na sua formação com o objectivo de transformá-lo no
seu capital humano. Portanto, a formação dos recursos humanos representa um dos
investimentos mais importantes para todas as empresas e particularmente para as
sociedades de conhecimento, pelo facto destas basearem-se essencialmente no uso do
conhecimento humano para a produção e venda dos seus serviços.
Contudo, mesmo que o capital humano seja um dos principais recursos produtivos das
empresas no seu todo e particularmente das actuais sociedades de conhecimento, o seu
reconhecimento contabilístico ainda continua omitido nas rubricas do balanço das
mesmas. Sendo assim, torna-se imperceptível a razão de se afirmar que o capital humano
é o principal activo das empresas, assim como questionável a necessidade das empresas
continuarem a investir na formação deste capital detido pelos recursos humanos.
Neste sentido, sendo que os investimentos em formação do capital humano não constam
no balanço patrimonial das empresas, surge o seguinte problema: como é que os
investimentos em formação do capital humano são reconhecidos, valorizados e
divulgados pela contabilidade financeira e qual é a prática e o posicionamento das
empresas de consultorias em Moçambique perante esta situação?
1
Trata-se de dispositivos legais divulgados pelo Boletim da República, através dos Decretos nº 36/2006 de
21 de Setembro e 70/2009 de 22 de Dezembro. Portanto, este último foi elaborado em conformidade com
as IFRSs – International Financial Reporting Standards (Normas Internacionais de Relato Fianceiro).
Esta pesquisa aparece como tentativa de dar uma contribuição ao estudo dos
investimentos em formação do capital humano nas empresas, com a finalidade de tomar
um posicionamento perante o problema levantado. Assim sendo, para uma melhor
compreensão do problema em estudo, o trabalho tem como objectivos:
1.4 Hipóteses
A análise das DFs das empresas assim como dos argumentos apresentados pela
contabilidade financeira para o reconhecimento dos investimentos em formação do
capital humano, suscita posicionamentos divergentes relativamente ao actual tratamento
contabilístico deste recurso produtivo. No caso vertente, este trabalho pretende
demonstrar que:
como finalidade compreender em qual das peças das DFs devem estar devidamente
registados e divulgados os gastos relativos a formação do capital humano nas empresas.
1.6 Metodologia
Devido a esta razão, 50% da revisão literária deste trabalho baseou-se em artigos de
contabilidade recentemente publicados e disponíveis na internet, e que na sua maioria
discutem sobre as limitações da teoria contabilística actual e da necessidade da adopção
de modelos contabilísticos que se enquadram no justo reconhecimento dos investimentos
em formação do capital humano perante a realidade actual das empresas.
Outras limitações ocorreram ao longo do estudo de caso deste trabalho, desde a não
receptividade por parte de algumas empresas pelo facto de o estudo tocar em assuntos de
carácter confidencial. Para as empresas que aceitaram a receptividade para a entrevista,
também impuseram o requisito da confidencialidade das suas fontes de informação, ou
seja, das suas DFs, como forma de salvaguardarem a imagem dos detentores de capital
humano.
humano nos activos das empresas e a contribuição dos modelos da contabilidade dos
recursos no reconhecimento das despesas em formação do capital humano.
Para Paiva (1999:3), o capital humano representa o conjunto de pessoas que participam
numa organização através da contribuição em seus conhecimentos, competências,
habilidades, experiências, talentos e ideias, de forma a atingir os objectivos da empresa.
O autor refere que a acção do capital humano sobre os demais recursos reflecte-se nos
resultados financeiros e económicos da empresa.
Por sua vez Stewart (1999:14-78), define o capital humano como o conjunto de
elementos intangíveis usados através do conhecimento, informação e experiência dos
recursos humanos para a criação do valor da empresa. Para este autor, o capital humano
tem uma maior contribuição no desempenho das actividades da empresa de duas formas
distintas. Primeiro, quando a empresa utiliza mais do que os seus funcionários sabem,
através da criação de oportunidades para que o conhecimento privado do trabalhador seja
tornado num conhecimento público e o conhecimento táctico seja tornado num
conhecimento explícito2 e segundo, através da mobilização de talentos seja por
contratação ou por formação de forma a que um número maior de funcionários tenham
conhecimentos úteis para a empresa.
Neste caso, para Stewart o capital humano está representado por esta última categoria dos
recursos humanos, sendo que os gastos pela sua formação e actualização devem ser
capitalizados e para as restantes três primeiras categorias os mesmos gastos devem ser
reconhecidos como despesa. Desta forma, as organizações devem reconhecer que nem
todos os seus empregados representam o seu capital humano, ou seja, apenas as pessoas
com talento representam os activos por investir.
As empresas ao formarem o seu pessoal tomam em consideração que o mesmo seja capaz
de desenvolver tarefas com maior agilidade, autonomia, seguindo regras e detalhes de
modo a criar o seu valor e que sobretudo, venha a transformar-se no seu capital humano.
resultados positivos é necessário que o seu planeamento não envolva apenas a alta
administração e a direcção dos recursos humanos, mas também os chefes operacionais,
porque estes possuem um conhecimento profundo das qualidades e necessidades dos
profissionais da empresa. Porém, uma formação bem programada envolve fases como
diagnóstico das necessidades da empresa, planificação, implementação, acompanhamento
e avaliação dos seus resultados.
Valor do Mercado
da Empresa
Capital Capital
Financeiro Intelectual
3
Saber, ou seja, saber fazer.
Segundo Stickney e Weil (2001:24), os activos de uma empresa são representados pelo
conjunto de recursos económicos com capacidade ou potencialidade para proporcionarem
futuros benefícios económicos a mesma empresa.
Por outro lado, para a NIC 38 (2004: parágrafo 8), um activo intangível é um recurso
controlado por uma empresa, como resultado de acontecimentos passados e do qual se
espera que fluam benefícios económicos futuros para a entidade. Um activo intangível
não tem substância física e não é monetário.
Segundo a NIC 38 (2004, parágrafos 9-21), para que um bem seja reconhecido como
activo intangível é necessário que esteja enquadrado nos seguintes três critérios
essenciais:
Neste contexto, para que um activo seja identificável, proporcione benefícios económicos
futuros e seja exclusivamente controlado pela empresa, é necessário que o mesmo resulte
de transacções ou eventos passados devidamente reconhecidos e fiavelmente mensurados
pela empresa.
Contudo, para Pacheco (2002:55), o critério essencial para se determinar que um gasto
em formação do capital humano é um activo ou uma despesa está relacionado com o
reconhecimento dos seus benefícios económicos futuros. Se os gastos em formação dos
recursos humanos geram benefícios económicos futuros à empresa, então esses gastos
podem ser reconhecidos como elementos do activo. Ainda segundo o mesmo autor,
alguns custos operacionais (como é o caso dos gastos em formação do capital humano)
não geram benefícios económicos imediatos, mas proporcionam condições para que a
empresa venha a gerar benefícios económicos futuros, daí que faz sentido serem
reconhecidos como activos.
Desta forma, sendo o capital humano um activo como é apontado por este autor, o
mesmo deverá pertencer a classe dos intangíveis. Portanto, este pensamento entra em
contradições com a actual teoria contabilística a qual defende que gastos em formação do
capital humano devem ser reconhecidos como despesa, devido a sua difícil
identificabilidade.
Para Costa, citado por Esteche e Lozeckyi (2007:6), a sobrevivência das empresas que
operam em negócios inovadores depende da contínua aposta em formação, capacitação e
satisfação dos seus recursos humanos. Porém, quando se fala dos investimentos em
formação do capital humano surge um grande debate na ciência contabilística,
relativamente a questão de se os mesmos devem ser capitalizados ou reconhecidos como
despesa.
Contudo, mesmo que estas três dificuldades sejam ultrapassadas e que os investimentos
em formação do capital humano passem a ser reconhecidos como elementos do activo,
isto é, que passem a constar no balanço patrimonial das empresas, surge um outro
problema relativamente a adopção de critérios específicos para a sua amortização, devido
a questões ligadas com a determinação da sua vida útil.
determinada é amortizável enquanto que um activo intangível com vida útil não
determinada não é.
entre os custos suportados e os resultados obtidos. Por outro lado, em conformidade com
o PGC, o princípio da especialização do exercício advoga que a empresa deve reconhecer
os proveitos e os custos à medida que eles ocorrem, tenham ou não sido recebidos ou
pagos, devendo incluí-los na DMR do exercício a que respeitam.
Portanto, para os investimentos em formação do capital humano estes dois princípios não
se verificam na sua plenitude porque uma actividade de formação de activo humano
aumenta os custos de um dado exercício, reduzindo os resultados do mesmo exercício
para posteriormente registar as melhorias resultantes dessa actividade na DMR dos anos
subsequentes como tendo custo zero.
Um dos maiores defensores desta contabilidade foi o Roger Hermanson, que entre 1960 a
1966, liderou a pesquisa em contabilidade dos recursos humanos no Michigan State
University (EUA), e divulgou a sua obra Accounting for Human Assets. Esta obra
criticava as recomendações das normas da contabilidade financeira, relativamente ao até
então tratamento do capital humano nas empresas
Segundo os estudos realizados por Subbarao e Zéghal em 1997 (citados por Brás,
2003:96), relativos a comparação internacional do reconhecimento dos gastos com o
pessoal apresentados nos relatórios anuais das empresas, concluiu-se que as pensões e os
benefícios aos empregados representavam as rubricas mais mencionadas nas DFs em
detrimento do valor acrescentado desses recursos humanos, ou seja, o capital humano
constituía o item menos divulgado. Por outro lado, constatou-se que as empresas
europeias divulgavam mais as informações sobre os seus investimentos em recursos
humanos que as norte americanas e asiáticas.
Para os mentores desta ciência, a actual imagem das empresas prestadoras de serviços
vale mais pelo conjunto de pessoas que lá trabalham do que pelo conjunto dos seus
activos físicos. O debate da contabilidade dos recursos humanos está em torno da
inclusão dos investimentos em capital humano nos activos das empresas.
Neste sentido, a contabilidade dos recursos humano é um ramo da contabilidade geral que
se dedica ao estudo dos investimentos em formação do capital humano nas empresas.
Este ramo concentra-se no fornecimento de informações sobre a formação dos activos
humanos, sendo estes os principais agentes de todas as modificações que ocorrem no
contexto sócio-económico das empresas.
Para Pacheco (2002:53), o custo histórico dos recursos humanos refere-se ao sacrifício
incorrido pela empresa para seleccionar, contratar e desenvolver os seus recursos
humanos. Este custo subdivide-se em duas partes sendo os custos de contratação e os
custos de aprendizagem do funcionário.
Para este modelo todos os custos supracitados representam o custo histórico da formação
do activo humano da empresa, pelo que devem ser capitalizados e amortizados dentro da
vida útil do mesmo activo.
2.9.2 Modelo da inclusão dos investimentos em capital humano nos activos das
empresas
O modelo da inclusão dos investimentos em capital humano nos activos das empresas é
também designado por modelo de Straioto, por este ser o autor. Straioto começa por fazer
uma comparação das rubricas do activo entre a contabilidade actual e a contabilidade dos
recursos humanos para demonstrar as diferenças existentes entre as duas contabilidades,
como demonstra a seguinte tabela:
Para sustentar a necessidade da inclusão das despesas em formação dos recursos humanos
nas rubricas do activo, ou seja, no balanço patrimonial da empresa, Straioto defende que
não haveriam investimentos em formação do capital humano se não estivesse em causa
os benefícios económicos futuros resultantes desses investimentos.
Tabela 2:2 – Inclusão dos investimentos em capital humano nos activos das
empresas
ACTIVO
1. Meios Circulantes financeiros
1.1 Realizáveis a Curto Prazo x
1.2 Realizáveis a Longo Prazo x
2. Meios Imobilizados Líquidos
2.1 Imobilizado x
2.2 Investimentos Financeiros x
2.3 Investimentos em Recursos Humanos x
TOTAL DO ACTIVO X
Desta forma, não se trata da depleção4 do corpo humano mas sim da depreciação dos
gastos suportados em formação dos activos humanos na empresa. Neste modelo, os
investimentos em activos humanos, devem ser reconhecidos pela contabilidade como
elementos do balanço e devem ser amortizados baseando-se na vida útil dos seus serviços
esperados.
Para a determinação da vida útil dos serviços esperados dos activos humanos, o modelo
toma em consideração muitos factores influenciadores, tais como a expectativa da vida
útil do indivíduo, a obsolência ou decréscimo da produtividade do indivíduo com o
decorrer da sua idade, a sua saúde e o estado emocional e as políticas de aposentadoria da
4
Termo referente a depreciação do corpo humano. Trata-se de um termo polémico, pois é discutível se o
corpo humano é ou não depreciável.
empresa. Sendo que estes factores não são conhecidos com precisão, a vida útil dos
serviços esperados do indivíduo é mensurada probabilisticamente através das
experiências vividas nas empresas em relação aos seus recursos humanos e também das
previsões do seu tempo operacional.
Ainda segundo este instrumento legal, o goodwill6 gerado internamente não pode ser
reconhecido como activo porque mais uma vez, não é um recurso identificável,
controlável e fiavelmente mensurável pela empresa. Este facto pode ser confirmado
recorrendo-se ao mapa da DMR, na rubrica dos custos com pessoal, conforme ilustra a
seguinte tabela:
5
Este dispositivo legal entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2010 e é aplicado para as empresas que se
enquadram em pelo menos uma das seguintes situações: com capitais maioritariamente públicos, cotadas na
bolsa de valores, que tenham um total de proveitos e ganhos superior a 1.275 milhões de Meticais, com
activo total líquido igual ou superior a 1.275 milhões de Meticais ou com um número médio de
trabalhadores igual ou superior a 500.
6
Refere-se ao termo contabilístico que representa a parte do mercado de uma empresa que não está
directamente reflectida nos seus activos e passivos. Inclui neste caso a marca e imagem do mercado da
empresa, a carteira de clientes, o know how dos funcionários, entre outros.
Como já foi referido nas notas introdutórias, o estudo de caso deste trabalho foi realizado
em três diferentes empresas mas, que operam no mesmo ramo de actividades, sendo de
prestação de serviços de contabilidade, auditoria, fiscalidade, consultorias empresariais,
formação e treinamento. Trata-se concretamente da BDO & Co. Moçambique, Lda, da
MBC Consulting, Lda e da CAT Consultores, Lda.
A BDO (Binder Dijker Otter) & Co. Moçambique, Lda é uma firma internacional de
prestação de serviços de contabilidade, auditoria, consultoria empresarial, consultoria
financeira e fiscalidade. Esta firma é juridicamente independente da BDO internacional,
não obstante ser membro desta organização e, existe em Moçambique desde os princípios
dos anos 90.
A Mozambique Business Consulting (MBC), Lda é uma empresa constituída por capitais
nacionais e que opera no país desde o ano de 2007, resultante da alteração da ex-
sociedade de Mopresco, Limitada. Esta empresa presta serviços de contabilidade,
7
Parceiro dos serviços do cliente. Informação extraída do website oficial da BDO & Co. Moçambique.
É uma empresa que surgiu também nos finais de 2007, como resultado de uma iniciativa
de quatro sócios nacionais. A empresa oferece serviços de contabilidade, auditoria,
consultorias empresariais, formação e treinamento dos trabalhadores em matérias ligadas
a gestão, contabilidade, fiscalidade e ainda na preparação dos candidatos à realização dos
exames da ACCA (Association of Chartered Certified Accountants). Actualmente está
representada por 10 profissionais a tempo inteiro e por 5 estagiários.9
As três empresas entrevistadas afirmaram que a formação faz parte dos seus planos
estratégicos e esta ocorre através de treinamentos internos, externos em cursos de
capacitação e desenvolvimento das capacidades do seu pessoal. Todo o pessoal destas
empresas, desde as secretárias até aos respectivos gestores, é tratado como capital
humano, sem nenhuma descriminação seja por nível académico, experiência profissional
ou responsabilidade que cada um assume na empresa.
8
Informação obtida do Sr. Arlindo Mapande (Gestor Geral da Empresa).
9
Agostinho Fernando (Partner da CAT Consultores, Lda).
No caso da BDO por exemplo, a formação é um processo contínuo que decorre desde o
recrutamento do pessoal até a fase de execução de tarefas. Trata-se neste caso de uma
formação em cascata, ou seja, transmitida desde os níveis mais altos da hierarquia da
gestão até aos níveis mais baixos, incidindo entre outros pontos em matérias de boas
práticas de execução de actividades, ética profissional, uso e interpretação dos dados de
sistemas informáticos e formação em matérias de domínio legislativo relevantes para a
execução de actividades quotidianas na empresa.10
10
Abdul Satar Hamid (Partner da BDO)
Assim sendo, que a preparação e divulgação das DFs das empresas de prestação dos
serviços de consultorias que operam no território nacional baseia-se nas normas e
princípios contabilísticos geralmente aceites no país, os custos com a formação do
pessoal são reconhecidos como despesas do exercício, sendo registados na rubrica de
custos com pessoal, segundo ilustra o tabela da DMR da empresa CAT Consultores, Lda,
para os exercícios económicos de 2008 e 2009.
Sendo assim, da análise efectuada nas DFs da empresa CAT Consultores, Lda, para os
exercícios económicos de 2008 e 2009 constatou-se que de facto os gastos decorrentes da
formação do pessoal não são mencionados no conjunto dos seus meios imobilizados,
como investimentos em capital humano, conforme demonstra a seguinte tabela:
11
Agostinho Fernando.
O controlo do valor gerado pelo capital humano tem sido um dos grandes desafios nas
empresas de consultorias em Moçambique. A rendibilidade do capital humano pressupõe
o reconhecimento de retornos sobre o capital financeiro investido no capital humano,
questão de grande dificuldade para estas empresas devido as incertezas na identificação
directa dos futuros benefícios proporcionados pelo capital humano, assim como no difícil
controlo da sua mobilidade.
12
Arlindo Mapande
3.3 Efeitos da não inclusão dos gastos em formação do capital humano nos activos
das empresas de consultorias em Moçambique
A não inclusão dos gastos em formação do capital humano nos activos das empresas de
consultorias em Moçambique, pode ter como efeitos a geração de benefícios fiscais para
as respectivas empresas e o uso do capital humano como um recurso de ajustamentos
orçamentais.
A não inclusão dos gastos em formação do capital humano nos activos das empresas de
consultorias em Moçambique e o consequente reconhecimento na DMR como custos do
exercício tem como efeitos a subvalorização dos activos em contrapartida da
sobrevalorização das despesas. Desta forma, o reconhecimento dos gastos em formação
como custos fiscalmente aceites tem um impacto imediato na redução da base do cálculo
dos impostos sobre resultados empresariais.
Tabela 3:3 – Efeitos dos custos com formação do pessoal na demonstração dos
resultados das empresas (valores em meticais)
2009
Valores excluindo a Valores incluindo a Efeitos na
Descrição componente formação componente formação DMR
Vendas de Serviços 5,466,725.00 5,466,725.00 -
Custo das Vendas 2,273,764.00 2,273,764.00 -
Margem Bruta 3,192,961.00 3,192,961.00 -
13
Custos operacionais 1,990,176.20 2,346,002.40 (355,826.2)
Remunerações aos trabalhadores 1,067,478.59 1,423,304.79 (355,826.2)
Fornecimentos e serviços de terceiros 545,981.23 545,981.23 -
Impostos e Taxas 345,296.08 345,296.08 -
Amortizações 16,705.61 16,705.61 -
Provisões 14,714.69 14,714.69 -
Resultados Operacionais 1,202,784.80 846,958.60 355,826.20
Proveitos Financeiros 112,416.67 112,416.67 -
Encargos Financeiros 451,842.00 451,842.00 -
Resultados Fiandeiros (339,425.33) (339,425.33) -
Resultados Antes de Impostos 863,359.47 507,533.27 355,826.20
IRPC 276,275.03 162,410.65 113,864.38
Resultados do exercício 587,084.44 345,122.62 241,961.82
Esta assumpção demonstra que no caso da exclusão dos custos com a formação do
pessoal na DMR pode resultar numa redução do nível de gastos em remunerações aos
trabalhadores e consequentemente, na redução dos custos operacionais. Por outro lado, a
redução dos custos operacionais poderá provocar aumentos nos resultados operacionais,
nos impostos e nos resultados do exercício.
13
Valor resultante depois da retirada dos 25% referentes a formação dos recursos humanos.
A não capitalização dos gastos em formação dos recursos humanos faz com que os
detentores do capital humano sejam os principais alvos de ajustamentos de custos
operacionais nos momentos de crises orçamentais nas empresas de consultorias. Estes
ajustamentos podem ser via redução do número do pessoal ou, através da contenção do
nível salarial e outras regalias aos trabalhadores.
Neste caso, o capital humano detido pelo pessoal é o recurso produtivo mais sacrificado
que os demais, como resultado de não fazer parte do valor do mercado das empresas.
Dada esta situação, não obstante os gestores defenderem que o capital humano é o
principal activo detido pelas empresas, em fases de crises orçamentais recorrem aos
recursos humanos como factores de ajustamentos dos custos operacionais das empresas,
dado que a redução dos seus custos não contribui para a destruição do valor das empresas
na óptica contabilística.
Segundo Arlindo Mapande, embora seja importante quantificar os custos suportados pela
formação dos recursos humanos, as normas contabilísticas actualmente vigentes
continuam a ter um tratamento completamente oposto ao debate levantado pela
contabilidade dos recursos humanos, relativamente a inclusão dos custos com formação
nos activos das empresas.
Os modelos defendidos pela contabilidade dos recursos humanos até hoje não foram
capazes de alterar as normas e princípios contabilísticos em uso porque parecem
defrontar-se com dois tipos de problemas: a falta de uma definição clara do capital
humano como activo das empresas e a incapacidade de elaborarem critérios específicos
que venham a opor o actual tratamento contabilístico dos gastos em formação do pessoal
nas empresas.
Desta forma, o actual SCE continua a pautar pela prudência no tratamento dos gastos em
formação do pessoal nas empresas que operam em diversas áreas de actividades
económicas. Uma das áreas que esta contabilidade pode ter uma aplicabilidade (mas
também discutível) é nas sociedades desportivas, concretamente nos clubes de futebol
profissional, dado que pode haver um espaço da negociação dos contratos para o uso
exclusivo do talento dos jogadores assim como na possibilidade das suas transferências
de uma equipa para outra, envolverem valores monetários.14
14
Trata-se de uma discussão que pode ser remetido a contabilidade das sociedades desportivas.
4.1 CONCLUSÕES
Várias são as razões que ditam a exclusão deste recurso no balanço das empresas de
consultorias, com maior destaque para as apresentadas pela NIC 38 e pelas empresas
entrevistadas, as quais defendem que o capital humano resultante desses investimentos
em formação representa um recurso intangível não identificável, impossível de ser
transaccionado ou convertido na liquidação das obrigações internas e externas das
empresas, não controlável, de benefícios económicos incertos e de fácil mobilidade.
Portanto, a componente formação do pessoal apesar de consumir boa parte dos recursos
orçamentos anuais das empresas de consultorias, o seu reconhecimento contabilístico está
em conformidade com a legislação contabilística vigente no país (através do Decreto nº
36/2006 de 21 de Setembro e do recente nº 70/2009 de 22 de Dezembro), assim como
com a normalização contabilística internacional (através das NICs emitidas pelo IASB) –
Por outro lado, a não capitalização dos custos em formação do capital humano refuta a
hipótese alternativa, através da qual, devido ao elevado peso do capital humano nas
empresas de consultorias, os gastos em formação e treinamento dos recursos humanos
são reconhecidos como investimentos em formação do pessoal e, consequentemente são
registados no balanço como activos destas empresas.
4.2 RECOMENDAÇÕES
destas empresas incluíssem notas explicativas de quanto dos custos com pessoal foi
alocado a actividade de formação.
BIBLIOGRAFIA
Outras Referências
BDO & Co. Moçambique, Lda. http://www.bdo.co.mz. Entrevista decorrida nos dias 22 e
26 de Fevereiro de 2010;
ANEXOS
Anexo 1: Questionário
Este anexo é referente a todas as perguntas realizadas nas três empresas de prestação de
serviços de consultorias em Moçambique, durante o estudo do caso.
1. Nome da empresa...............................................................................................................
2. Qual é o significado da denominação comercial da empresa?..........................................
3. Qual é ramo de actividade da empresa?.............................................................................
4. Quando é que foi criada a empresa?..................................................................................
5. De que origem é o capital social da empresa e como é que o mesmo está constituído?...
6. Que serviços a empresa disponibiliza ao mercado?...........................................................
7. Qual é o mercado alvo da empresa?..................................................................................
8. Quantos trabalhadores têm a empresa?..............................................................................
9. Dos trabalhadores da empresa, quantos tem uma formação equivalente ao nível
superior?.................................................................................................................................
10. Dos mesmos trabalhadores quantos têm uma formação em contabilidade, auditoria e
finanças empresariais?...........................................................................................................
11. Qual é a evolução do volume de negócios da empresa nos últimos três anos?...............
5. O capital humano da empresa é constituído por pessoas formadas pela própria empresa
ou de pessoas que já vem formadas de outras empresas e instituições de ensino?................
6. De que forma a empresa contribui na formação do seu capital humano?.........................
7. Quais são os critérios usados pela empresa para classificação do seu capital humano?...
8. A empresa tem políticas ou procedimentos específicos para a contabilização dos seus
investimentos em formação do capital humano? Se sim quais são?......................................
9. Como é que os gastos em formação do capital humano são reconhecidos nas
demonstrações financeiras da empresa?................................................................................
10. Como é que a empresa controla os retornos pela formação do seu capital humano?......
11. O actual plano de contabilidade (PGC-NIRF) assim como as normas internacionais
de contabilidade reconhecem os gastos em formação do capital humano como despesas.
Que efeitos este reconhecimento pode ter nas demonstrações financeiras das empresas de
consultoria, sendo que estas são compostas maioritariamente pelo capital humano?...........
12. Que efeitos teria o reconhecimento dos gastos em formação do capital humano como
um activo da empresa?...........................................................................................................
13. Para a preparação e divulgação das demonstrações financeiras a empresa baseia-se no
plano geral de contabilidade ou nas normas internacionais de contabilidade?......................
14. Há ou não necessidade de se rever ou alterar as actuais normas e princípios
contabilísticos de reconhecimento dos gastos em formação do capital humano nas
empresas, principalmente da produção de informações empresariais, como é o caso das
consultorias?..........................................................................................................................
15. Actualmente, o grande debate da contabilidade relativamente aos investimentos em
formação do capital humano está em torno da adopção de uma contabilidade
complementar a tradicional, que se dedicasse apenas na produção de informações desde a
contratação, formação e desempenho dos recursos humanos na empresa. Que comentários
a empresa pode ter acerca deste debate?................................................................................