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FACULDADE DE ECONOMIA DA

UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

DEPARTAMENTO DE GESTÃO

TEMA: DERIVATIVOS AGROPECUÁRIOS E SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO SECTOR
AGRÍCOLA NACIONAL.

“ESTUDO DE CASO APLICADO A EMPRESA AGRICULTIVA,


Lda”

Elaborado por: Isaac José Manuel Sabalo

Orientado por: Fernandes Wanda, MSc.

Luanda, Junho 2016


FACULDADE DE ECONOMIA DA

UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

DEPARTAMENTO DE GESTÃO

TEMA: DERIVATIVOS AGROPECUÁRIOS E SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO SECTOR
AGRÍCOLA NACIONAL.

“ESTUDO DE CASO APLICADO A EMPRESA AGRICULTIVA,


Lda”

Trabalho de fim de curso, apresentado à Faculdade


de Economia da Universidade Agostinho Neto,
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura em Gestão, na especialidade de
Gestão Financeira.

Elaborado por: Isaac José Manuel Sabalo

Nº 85.571

Luanda, Junho 2016


Dedicatória

À minha mãe, Emília Manuel, “Futi”


Incansável, batalhadora, mãe e amiga.
Apesar de não se ter licenciado na escola
Convencional considero-te como mestre e
guia na escola da vida...

I
Agradecimentos

Agradeço primeiramente à Deus todo-poderoso, pois sem ele nada seria


possível, por tudo que tem feito a meu favor, por me dar saúde e forças ao longo do meu
percurso estudantil, ao ponto de hoje, felizmente, conseguir fechar mais um estágio do
ciclo do aprendizado.

Por outro lado, a elaboração deste trabalho não seria uma realidade se não
houvesse a intervenção e apoio de pessoas, entidades e instituições que se
predispuseram em nos apoiar. Daí as minhas notas de agradecimento ao corpo docente
da Faculdade de Economia, da Universidade Agostinho Neto em especial ao meu
orientador MSc. Fernandes Wanda pela sua disponibilidade, orientação e incentivo
para a materialização deste trabalho.

Ao Dr. Domingos Gabriel e pessoal da biblioteca do Ministério da Agricultura,


ao Sr. Dinho Major e ao Sr. Sebastião Teixeira, pelas valiosas informações a respeito
do sector agrário nacional.

Aos meus pais, José Sabalo e Emília Manuel, às minhas queridas mães
Victória e Suzana, aos meus irmãos, Quiteque Aníbal, Cahanda Sabalo, Chilola Manuel,
António Bernardo, Marquinha, Fátima, Léo, Maura, Agéu, Toni, Tadeu, aos primos (as)
aos meus sobrinhos (as), a Luzia dos Reis, o meu muito obrigado pelo apoio
incondicional.

Os meus agradecimentos são extensivos aos meus colegas de faculdade,


Benedito Maiamba, Dr. Vladmir Neves, Cláudio Gomes, Dra. Alice Manecas, Dra.
Leopoldina Buto, Garcia Paca, Bernardo Vaz, Menayame Afonso e outros tantos, pela
ajuda e companheirismo ao longo dos quatros anos.

Finalmente mas não menos importantes os meus agradecimentos são dirigidos


aos meus amigos, aos irmãos em Cristo e outras pessoas que de forma directa ou
indirecta vêm contribuindo para o meu crescimento.

II
Abreviaturas e Siglas

ADRA - Acção Para o Desenvolvimento Rural e Ambiente;

AKZ - Kwanza Angolano;

BDA - Banco de Desenvolvimento de Angola;

BIC – Banco de Investimento e Crédito;

BNA – Banco Nacional de Angola;

CBOT – Chicago Board Of Trade;

CEIC – Centro de Estudo e Investigação Científica;

CMC – Comissão de Valores Mobiliários;

CVM - Comissão de Valores Mobiliários;

FAO - Food and Agriculture Organization (Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura);

GEPE – Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística

ha – hectare;

INE – Instituto Nacional de Estatística;

Kg – Quilogramas;

OGE – Orçamento Geral do Estado;

OPSA - Observatório Político Social de Angola;

PDMPSA – Programa de Médio Prazo do Sector Agrário;

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento;

MINAGRI- Ministério da Agricultura

NEPAD - New Partnership for Africa‘s Development;

USD – United Stade Dollar (Dólar Norte Americano);

VAB – Valor Bruto Acrescentado;

III
Epígrafe

“O prudente vê o perigo e esconde-se;


mas os simples passam adiante e sofrem a pena”
Provérbios 22 v 3

IV
Lista de Figuras

Figura nº 1 - Cadeia de valor da actividade agrícola…………………………………....6


Figura nº 2 - Fluxo de operações na bolsa de mercadoria……………………………...36
Figura nº 3 - Estrutura organizacional da empresa Agricultiva, Lda…………………..42
Figura nº 4 - Parceiros comerciais da Agricultiva, Lda………………………………..42
Figura nº 5 - Ciclo para comercialização dos produtos na Agricultiva, Lda…………..43

V
Lista de tabelas

Tabela nº 1 - Total acumulado do financiamento feito pelo BDA período 2007-


2011…………………………………………………………………………………….10
Tabela nº 2 Total acumulado do financiamento feito pelos bancos comerciais período
2007-2011……………………………………………………………………………....11
Tabela nº 3 - Resultado em função das posições assumidas...........................................27
Tabela nº 4 - Resultado da base sobre a operação hedge................................................30
Tabela nº 5 - Terminologias dos contratos de opções………………………………….31
Tabela nº 6 - Direitos e obrigações dos intervenientes num contrato de opção………..32
Tabela nº 7 - Principais commodities negociadas em bolsas e futuros………………...37
Tabela nº 8 - Comercialização sem o uso de derivativos agropecuários ……………....44
Tabela nº 9 - Operação de hedge usando contratos a Termo…………………………...45
Tabela nº 10 - Ajustes diários do exercício…………………………………………….46
Tabela nº 11 - Operação de hedge usando contratos futuros…………………………..46
Tabela nº 12 - Operação de hedge usando contratos de opções………………………..47
Tabela nº 13 - Hedge com opções em caso de queda dos preços………………………47
Tabela nº 14 - Hedge com opções em caso de alta dos preços…………………….…...47

VI
Lista de Gráficos

Gráfico nº 1 - VAB do sector agrícola em relação aos demais sectores da economia no


período de 2003 a 2012……………………………………………………………….....8
Gráfico nº 2 - OGE para agricultura no período de 2008-2014………………………...10
Gráfico nº 3 - Equilíbrio entre procura e oferta no mercado...........................................18
Gráfico nº 4 - Deslocação ascendente da curva oferta....................................................18
Gráfico nº 5 - Funcionamento das opções de venda…………………………………...33
Gráfico nº 6 - Funcionamento das opções de compra………………………………….34

VII
Resumo

A actividade agrícola enfrenta níveis de incertezas significativos, marcado pelo


risco de variabilidade nos volumes de produtos e consequente volatilidade dos preços
decorrentes da interacção entre oferta e procura. Esta volatilidade tem implicações
directa na actividade agrícola, sendo resultante destas circunstâncias o aumento das
incertezas sobre os rendimentos futuros, baixa produtividade e redução do incentivo de
investimento no sector.

O presente trabalho está centrado nas estratégias de gestão de risco de preço na


produção agrícola. É nesta senda que apresentamos os derivativos agropecuários como
instrumentos financeiros alternativos que podem ajudar o produtor, e outros elementos
do agronegócio a mitigar as oscilações dos preços das mercadorias. Através de um
estudo de caso da empresa Agricultiva, ficam evidentes as vantagens desta metodologia
de comercialização.

Palavras-chave: Risco de Preço, Derivativos, Contrato a Termo, Contrato


Futuro, Contrato de Opções.

VIII
Abstract

Agricultural activity faces significant levels of uncertainty, marked by the risk


of variability in the volume of products and consequent price volatility arising from the
interaction between supply and demand. This volatility has direct implications for
farming, being the result of these circumstances the increased uncertainty about future
income, low productivity and reduced investment incentives in the sector.

This work is focused on price risk management strategies in agricultural


production. It is this path that we present the agricultural derivatives as alternative
financial instruments that can help the producer, and other elements of agribusiness to
mitigate fluctuations in commodity prices. Through a case study of Agricultiva
company, it is clear the advantages of this marketing methodology.

Keywords: Price Risk, Derivatives, forward contract, futures contract, options contract.

IX
Índice Geral

Dedicatória………………………………………….........................................................I

Agradecimentos………………………………………....................................................II

Epígrafe...........................................................................................................................III

Abreviaturas e siglas.......................................................................................................IV

Lista de figuras.................................................................................................................V

Lista de tabelas...........................................................................................................,....VI

Lista de gráficos.............................................................................................................VII

Resumo ……….…………………………………………………...............................VIII

Abstract………………………………………………………………………………...IX

Introdução…………………………………………………………………....................1

Capítulo I - Fundamentação Teórica Sobre A Agricultura E Os Risco Neste Sector

1.1- Breve abordagem sobre a cadeia agrícola…………………………………..............5

1.2 - Características da actividade agrícola.......................................................................6

1.3 - Caracterização do sector da agricultura em Angola.................................................7

1.3.1 - Principais desafios do sector..................................................................................9

1.3.2 - Estratégia para o desenvolvimento do sector.......................................................13

1.4 - Noções de risco.......................................................................................................14

1.4.1 - Tipos de riscos na actividade agrícola……………………..................................15

1.4.1.1- Principais riscos na actividade agrícola..............................................................16

Capítulo II - Metodologia Sobre Os Derivativos Agropecuários

2.1 - História dos derivativos……………………………………...................................20

2.2 - Principais participantes do mercado derivativos…………………….....................20

2.3 - Tipos de derivativos agropecuários………….........................................................22

2.3.1- Contractos a termo…………………............................................................,.......23

2.3.1.1- Característica dos contractos a termo……………….........................................23


2.3.2 – Contractos futuro……………………………….................................................24

2.3.2.1- Principais características contractos futuro........................................................25

2.3.2.2 – Especificações dos contractos futuro…………………....................................25

2.3.2.3 - Margem de garantia………………………………………………...................26

2.3.2.4 - Mecanismo de ajuste diário……………………...............................................26

2.3.2.5 - Formas de encerramento das posições (liquidação)……..................................27

2.3.2.6 – O Risco de base em contratos futuro................................................................28

2.3.3 - Contractos de opções……………………….......................................................31

2.3.3.1 - Caracterização dos contractos de opções………..............................................31

2.3.3.2 - Funcionamento das opções de venda (Put Option)..........................................32

2.3.3.3 - Funcionamento das opções de compra (Call Option).......................................33

2.3.4 - Perigos associados ao uso de derivativos agropecuários.....................................34

2.3.5 - Vantagens do uso dos derivativos agropecuários................................................35

2.3.6 - Bolsa de mercadoria e futuro…………...............................................................35

Capítulo III – Estudo De Caso: Demonstração Das Vantagens Do Uso Dos


Derivativos Agropecuários Na Empresa Agricultiva, Lda

3.1 - Identificação...........................................................................................................40

3.2 - Caracterização.........................................................................................................40

3.3 - Estudo de caso........................................................................................................42

3.4 - Resultados...............................................................................................................48

Conclusões......................................................................................................................49

Recomendações..............................................................................................................50

Bibliografia………………………………….................................................................51

Apêndice………………………………………………….............................................54
Introdução

A Gestão de risco tem sido uma das prioridades no mundo actual, tanto para os
indivíduos, empresas e para governos. Com o crescimento do comércio internacional e a
crescente globalização da economia, os diversos agentes económicos no mundo
passaram a estar expostos a maiores riscos no desempenho de suas actividades tendo
então surgido uma grande necessidade de protecção contra riscos que o mercado
apresenta.

A agricultura é uma actividade complexa e vulnerável a diversos factores de


risco. Factores climáticos, as pragas, oscilações na oferta e na procura, variabilidade na
produção e nos preços representam alguns dos principais problemas que flagelam essa
actividade económica causando perdas aos produtores e afectando outros elementos da
cadeia do agronegócio.

De acordo com Mishkin (2000, p.213), o surgimento dos derivativos vem


responder a um dos principais problemas dos agentes económicos que consiste em
reduzir os riscos financeiros dentro dos mercados em que se encontram inseridos. “Um
derivativo pode ser definido como um instrumento financeiro cujo valor depende
(deriva) de outras variáveis básicas subjacentes” Hull (2012, p.1). Estes instrumentos
representam contratos de compra e venda entre duas partes cujo valor deriva do valor de
um activo financeiro ou mercadorias negociados no mercado a vista, tais activos ou
mercadorias serão liquidados em data futura preestabelecida, por um preço previamente
combinado.

O surgimento e expansão dos mercados de derivativos agropecuários abrem a


possibilidade de realização de operações de cobertura de riscos sobre a mais variada
gama de activos para a maior parte dos agentes económicos, reduzindo o impacto das
incertezas geradas pela volatilidade dos principais indicadores financeiros.

Problemática

Para além do petróleo que tem sido o grande alicerce da economia nacional, Angola
dispõe de inúmeros recursos naturais e um grande potencial agrícola, contudo esse

1
potencial carece de aproveitamento sendo que apenas 16% da terra arável se encontram
cultivada1.

Hoje, o sector agrícola é considerado um dos sectores estratégico indispensável


para o crescimento e diversificação da economia nacional,2 mas apesar de todo
investimento público e privado empreendido, o sector ainda depara-se com grandes
problemas e um conjunto de riscos eminentes a actividade. As flutuações dos preços dos
produtos agrícolas causadas pela sazonalidade da produção e pelos movimentos da
procura e oferta, além de ser uma modalidade de risco em que os produtores não têm
nenhuma ou pouca possibilidade de influência, podem provocar instabilidade financeira
e prejuízo ao produtor. Daí a necessidade do estudo sobre as diferentes formas de
administração dos riscos de preço dos produtos agrícolas de forma a evitar estes
prejuízos e torna o sector mais atractivo. Tendo em conta estes pressupostos
apresentamos a seguinte questão de pesquisa: De que forma os grandes produtores do
sector agrícola em Angola fazem a gestão de risco contra as alterações dos preços?

Hipótese

Com base na nossa problemática formulamos a seguinte hipótese:


H1: Na produção agrícola, o preço é de difícil protecção porque ele é definida
pelo mercado, mediante o binómio oferta e procura dos produtos.

Objectivos
Objectivo geral

 Perceber o funcionamento do mercado de derivativos agropecuários, e verificar


como estes podem ajudar para o crescimento do sector agrícola nacional.

 Objectivos específicos

 Identificar os riscos mais comuns na actividade agrícola;

1
De acordo com o nosso informante 1, esta informação ainda assim não é a mais consistente uma vez que
não tem em conta os hectares de terra utilizado pelas explorações agrícolas empresariais. Por outro lado
não existe uma coerência entre os valores apresentados pela Food and Agriculture Organization (FAO),
que afirma existir aproximadamente um total de 58.990.000 ha. de terra aráveis, suscitando alguma
dúvida sobre esta questão. Em todo caso, neste trabalho usaremos os dados do Gabinete de Estudo,
Planeamento e Estatística (GEPE) ou seja dados que o Ministério da agricultura (MINAGRI) utiliza.
2
Relatório de fundamentação do Orçamento Geral do Estado (OGE) 2016 p.38 e p.48
2
 Caracterizar o sector agrícola nacional e avaliar as estratégias de gestão de risco
de preço utilizada pelos produtores nacionais;
 Analisar as características em volta de cada instrumento derivativo agro-
pecuário;
 Mostrar os princípios básicos de operacionalização no mercado de derivativos.

Justificativa e importância do tema

A escolha deste tema “Derivativos Agropecuários e sua Contribuição para o


Desenvolvimento do Sector Agrícola Nacional” deve-se fundamentalmente a duas
razões:
1. Pelo papel que os derivativos apresentam hoje no contexto financeiro em geral,
proporcionando aos investidores a actuação em condições de menor risco;
2. Pelo facto dos derivativos permitirem aos produtores agrícolas uma nova
estratégia de negociação dos seus outputs protegendo-se das constantes
oscilações dos preços a nível do mercado.

A análise deste tema assume-se ser de grande importância, pois é apresentado


aqui uma nova estratégia de negociação dos produtos agrícolas cujo cerne é proteger os
produtores e outros elementos ligados ao agronegócio (indústrias transformadora,
comerciantes etc.) contra as oscilações de preços e garantir um preço de venda/ ou de
compra satisfatório.

Metodologia

Pretende-se desenvolver esse trabalho baseando-se numa pesquisa descritiva e


exploratória, Esta metodologia envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com
especialistas/ instituições do sector agrícola, análise de exemplos que estimulem a
compreensão incluindo um estudo de caso de forma que se tenha um amplo
conhecimento do tema a ser desenvolvido.
A escolha da metodologia de pesquisa descritiva consiste no facto desta
metodologia permitir descrever as características de uma realidade/ fenómeno por
intermédio de técnicas padronizadas de colecta de dados. Contundo de forma a dar
resposta à principal temática do trabalho, procurando pormenorizar os vários aspectos

3
relacionados com os derivativos, recorremo-nos a metodologia de pesquisa exploratória
sendo esta uma metodologia que permite entender um fenómeno por intermédio de
análises a documentos afins produzidos de forma a proporcionar maior familiaridade
com o problema e com vista a torná-lo explícito.

Delimitação do tema escolhido

O mercado de derivativos é bastante vasto, hoje, é notório este desenvolvimento


com surgimento das negociações em derivativos de crédito, derivativos de
electrecidade, derivativos climáticos, derivativos de seguro e uma variedade de produtos
derivativos. Portanto, tendo em conta essa vasta aplicabilidade dos derivativos o tema
em estudo fica delimitado apenas para os derivativos agropecuários e a contribuição que
poderão trazer para o desenvolvimento do sector agrícola em Angola.

Estrutura de trabalho

Com vista ao alcance dos objectivos pretendidos, o presente trabalho foi


estruturado em três grandes capítulos, a saber:

No capítulo I, faz-se uma abordagem sobre as características associadas à


actividade agrícola, analisa-se sinteticamente o sector agrícola nacional e já no final
deste capítulo aborda-se sobre os tipos de riscos associados a esta actividade económica.

No capítulo II, faz-se uma revisão literária a respeito dos derivativos, expondo a
parte histórica sobre o surgimento destes contractos, das bolsas de mercadorias e uma
abordagem mais pormenorizada acerca dos diferentes derivativos agropecuários.

No capítulo III, “estudo de caso” é feita uma análise mais prática à empresa
Agricultiva, Lda de forma a verificar como ela lida com a questão do risco de preço.
Neste capítulo compara-se o resultado da metodologia de comercialização na
Agricultiva com os resultados da metodologia usando derivativos agropecuários a partir
de exemplos hipotéticos.

4
CAPITULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE A AGRICULTURA E
OS RISCOS NESTE SECTOR

Neste primeiro capítulo, começamos por fazer uma abordagem sobre a cadeia de
valor da agricultura e características que diferenciam essa actividade das outras
actividades económicas. De seguida faremos uma análise ao sector agrícola nacional
identificando os constrangimentos e políticas para desenvolver este sector. Finalmente
abordamos o conceito de riscos e os principais riscos em que a actividade agrícola está
exposta.

1.1. Breve Abordagem sobre a Cadeia de Valor da Actividade Agrícola

A agricultura pode ser entendida como um conjunto de técnicas que visam obter
da terra a partir do processo de cultivo, produtos para a sustentabilidade do homem.
Essa actividade quando bem desenvolvida pode servir como um instrumento para o
crescimento económico de qualquer país.
A agricultura envolve um circuito integrado de mercados, abrangendo diversos
segmentos e sectores que desempenham um papel fundamental para o processo
produtivo até que o produto chegue ao consumidor final. O conceito da cadeia adoptado
aqui abrange a soma de todas as actividades relacionadas com agricultura operações de
produção dos insumos agrícolas, movimentação, transformação e comercialização de
produtos e matérias-primas oriundas do campo. À luz destas perspectivas, podemos
resumir a cadeia da actividade agrícola em três partes distintas, nomeadamente:
 Os negócios à montantes da produção agrícola, representados pela indústria e
comércio que fornecem os insumos indispensáveis para o processo produtivo,
como por exemplos de fertilizantes, calcário, equipamentos e outras;

 A Segunda parte tem haver precisamente com a produção agrícola, nela estão
incluídas as actividades dos produtores;

 Na terceira parte, estão incluídas as actividades à jusante da produção agrícola,


onde encontramos o processamento dos produtos, venda dos produtos
agropecuários até o consumidor final, enquadram-se para este caso, as tradings,
as agro-indústrias, os supermercados e outros distribuidores.

5
Figura nº 1 - cadeia de valor da actividade agrícola

Fonte: Luís César da Silva, Logística e Organização de Cadeias Produtivas, Rio de Janeiro, (n.d.), p.3

O entendimento da cadeia de valor permite-nos visualizar como funciona a


actividade agrícola e ter uma percepção sobre os factores/ elementos da cadeia que
poderão ser condicionantes para a competitividade e o funcionamento desta actividade.

1.2. Características da Actividade Agrícola

A agricultura possui determinadas características que a torna diferente de outras


actividades económicas. O conhecimento dessas características poderá ilustrar-nos até
certo modo sobre o que poderá estar na base da formação dos preços dos produtos.
Marques, P.V, et al, (2006, p.15), descrevem várias características das quais
destacamos:

a. A produção agropecuária é sazonal, de forma que é notória a variabilidade da


produção ao longo do ano, sendo este um elemento influenciador na oferta e
procura dos produtos agrícolas;

b. Os produtos agropecuários são geralmente perecíveis, o que diminui o tempo


disponível para sua comercialização;

c. Os produtos agropecuários geralmente são comercializados na forma não


diferenciada, sendo então denominados de “commodities”. Para conseguir
melhores preços para seus produtos, alguns produtores rurais investem na
embalagem, serviços e outros elementos agregadores de valor. Isso diferencia o
produto e permite estratégias de vendas baseadas na qualidade;

d. O mercado é referido muitas vezes como um mercado com possibilidade de


haver um número elevado de agentes económicos evolvidos neste sector
(atomizado);
6
e. A produção agropecuária é de difícil ajustamento às necessidades da demanda
porque o planeamento da produção é feito com meses ou anos de antecedência à
entrega do produto, quando então as condições de mercado podem ter se
modificado;

1.3. Caracterização do Sector Agrícola Nacional

Angola dispõe de potencialidades naturais para fazer face aos níveis de produção
que fortemente podem contribuir para o desenvolvimento harmonioso dos seus
habitantes. A existência de solos com forte potencial agrário, a biodiversidade, o clima,
a genética, a abundância de recursos hídricos, constitui os factores favoráveis ao
desenvolvimento agropecuário do país.3 Mas apesar da grande potencialidade existente
em Angola os dados recentes do GEPE, mostram que dos 35.000.000 ha. disponíveis
somente 16% da área agrícola é usado para agricultura4 o que em certo modo pode
ajudar a ilustrar o subaproveitamento deste recurso e explicar também uma das razões
pela falta de auto-suficiência alimentar e do excesso de importação de produtos básicos
e remete-nos a reflectir sobre as verdadeiras razões em volta deste problema passados
14 anos após assinatura da paz em Angola.

Contudo, segundo Pereira (2014, p.84 e 87), o sector já teve momentos áureos,
o período de 1961-1974 é frequentemente tido como um período de referência do sector
da agricultura em Angola, com uma produção agrícola bastante diversificada5 e muito
virada à exportação. Angola não só detinha uma produção capaz de dar resposta à
demanda alimentar, mas também se posicionava como uma das potências em termo de
exportações,6 ou seja, a agricultura era a base da economia de angolana e o ano de 1973
uma referência para o Estado no pós independência,7 embora M.R. Bhagavan no seu
livro Angola's Political Economy 1975-1985 refuta a ideia de uma auto-suficiência
neste período. Para este autor a auto-suficiência era limitada a burguesia que de tinha

3
La 26ᵉᵐᵉConférence Régionale de La FAO por I´ Africa, Brochure de Information, 2010, p.28
4
GEPE
5
Mais informações sobre a produção agrícola podem ser encontrada na Web site FAOSTAT
6
Para melhor entendimento sobre do sector agrícola nacional desde o período de 1961-2002 ver do
professor PEREIRA, Pedro Agricultura e Desenvolvimento Económico de Angola: Análise e Solução Da
Questão da Terra, Ed. Tekute Lda, Bélgica, 2014, p.340. Entretanto a nossa análise por uma questão
delimitação singir-se-á ao período após o conflito armado até hoje.
7
Filipe Paulo, Nós e a Nossa Terra, Ed. Damer Gráfica, 2015, p.83
7
um maior poder de compra. Por outro lado ao analisar a relação entre o volume da
produção no ano 1973 e a população urbana, Bhagavan (1986, p.13), explica que
podemos ter uma visão sobre a pouca disponibilidade de alimentos neste período8.
Portanto deste modo as afirmações a respeito do ano de 1973 suscitam em nós algumas
reservas.

Actualmente no país a produção assenta fundamentalmente nas culturas da


mandioca, banana, no milho, na batata, doce e na batata rena9 o que não quer dizer que
sejam as únicas a serem produzidas. Contudo o grosso da produção nacional é
proveniente das explorações agrícolas familiares10 embora sejam as fracções que mais
dificuldades enfrentam principalmente no que diz respeito ao acesso aos insumos e
outras condições para execução desta actividade.

A contribuição do sector agrário ainda encontra-se muito aquém das


potencialidades existes no nosso país. A prova deste facto pode ser verificada quando se
compara nas Contas Nacionais, o Valor Acrescentado Bruto11 (VAB) do sector agrícola
em relação aos sectores comércio e serviços e sector da indústria nos períodos de 2003 a
2012

Gráfico nº 1 – VAB do sector agrícola em relação aos demais sectores da economia


no período de 2003 a 2012

Fonte: INE, Contas Nacionais de Angola

8
Mais detalhes, pode ser encontrado no livro de M.R. Bhagavan, Angola's Political Economy 1975-1985.
9
GEPE, Campanha Agrícola 2013/2014.
10
Segundo o Programa de Médio Prazo do Sector Agrário (PDMSA) as explorações agrícolas familiares
contribuem com 80% da produção nacional sendo o resto vindo das explorações agrícolas empresariais.
11
O VAB mostra o resultado final criado por uma empresa, sector ou ramo no decurso de um período
determinado. Calcula-se pela diferença entre o valor da produção e o consumo intermédio.
8
Este gráfico demonstra, o quanto ainda é necessário trabalhar para o
relançamento da actividade agrária no nosso país, sendo esta a “palavra de ordem” face
a crise que o país enfrenta. O incentivo ao aumento da produção agrária poderá
proporcionar resultados não só do ponto de vista da segurança alimentar ou da auto-
suficiência, como também facilitar, o relançamento da indústria, contribuir para o
relançamento diminuição das importações e mais do que isso, proporcionar um maior
número de postos de trabalho. Esta proeza pode ser garantida de três formas distintas
que utilizadas de forma coordenada poderão garantir sustentabilidade a produção, elas
segundo o nosso informante 2, os quais citamos:

 Facilitação ao acesso aos insumos de produção agrícolas;


 Condições para o acesso ao mercado, possibilidade de escoamento do
produto sem que haja perda de produção;
 Acesso ao crédito.

1.3.1. Principais Constrangimentos do Sector Agrário

O desenvolvimento integrado do sector agrário tomando como referência o


pleno aproveitamento do potencial dos recursos naturais produtivo poderá ser alcançado
caso se ultrapasse um conjunto de constrangimentos. Muitos desses constrangimentos
constam no PDMPSA. Todavia faremos menção a alguns que achamos mais relevantes:

Poucos Recursos alocados para o Sector


O primeiro desafio no nosso ponto de vista consiste no aumento da atenção ao
sector a partir do orçamento geral do estado, de formas que se concretizem os diversos
programas detidos pelo sector que visam promover esta actividade como, por exemplo,
a reabilitação e expansão das infra-estruturas de apoio à produção agrícola, programa de
assistência técnica, desenvolvimento da agricultura familiar e outros tantos.

O gráfico abaixo mostra a tendência do OGE designado para agricultura do


período de 2008 a 2014 e ilustra uma realidade inversa quanto ao engajamento para o
processo de relançamento da agricultura no país uma vez que os recursos alocados para
além de reduzido, estes valores encontram-se abaixo das exigências dos acordos da New

9
Partnership for Africa’s Development (NEPAD), em Maputo que advoga a alocação
para agricultura de 10% OGE.12

Gráfico nº 2 - OGE para agricultura no período de 2008-2014

Fonte: Orçamento Geral do Estado

Acesso ao Financiamento

Outro aspecto relevante e que constitui desafio para o sector é o acesso aos
financiamentos (créditos), sendo esta uma das alternativas que os investidores têm para
a materialização dos seus projectos.
Após uma análise ao relatório de gestão do Banco Desenvolvimento de Angola
(BDA), para o período 2007-2011, verificamos que do total de financiamentos directos
feito neste período pelo BDA, somente 16,6% dos mesmos foram destinados para
agricultura.
Tabela nº 1 Total acumulado do financiamento feito pelo BDA período 2007-2011

Fonte: BDA, Relatório de gestão 2007-2011, p.31

12
FAO, “Alocação Do Orçamento Geral Do Estado Para 2014 Destinado Para Agricultura”, Florestas,
Pecuária e Desenvolvimento Rural, Luanda, 2014
10
Segundo o mesmo relatório, alguns bancos comerciais também se encontram
inseridos no programa de financiamento encabeçado pelo BDA, mas a sua participação
ao longo do período em análise foi bastante modesta. Em quatro anos foram financiados
15 projectos sendo 11 projectos para o sector agrícola em quatro para a indústria
transformadora.

Tendo em conta ao convénio existente entre o BDA e alguns bancos comerciais


de financiar projectos do sector da agricultura e da indústria podemos observar na tabela
abaixo que, existiu um enorme receio por parte destes bancos em financiar projectos
deste sector razão na qual não se justifica que no mesmo período de quatro anos,
comparativamente aos resultados do BDA, os mais de 10 bancos só terem financiado 11
projectos em relação aos 43 projectos do BDA, e ainda assim em termos valores
monetários, os 11 projectos da agricultura apresentam um valor total inferior ao da
indústria.

Tabela nº 2 Total acumulado do financiamento feito pelos Bancos Comerciais


período 2007-2011

Fonte: BDA, Relatório de gestão 2007-2011, p.31


Portanto o desenvolvimento do sector agrário poderá passar sobre tudo numa
aposta forte do sector bancário, mediante ao incremento na concessão de crédito tanto
para as grandes e médias empresas do sector e para os pequenos agricultores juntando-
se a esta acção a supervisão das acções realizadas pelos investidores. Neste sentido, uma
vez que actividade agrícola encontra-se exposta a riscos que de algum modo poderá
inviabilizar o reembolso da dívida é imperioso que se adoptem políticas que permitam a
mitigar esses riscos entres os quais citamos por exemplo os seguros agrícolas; um
instrumento que oferece cobertura contra perdas físicas de produção e os derivativos
agropecuários o que poderia garantir maior segurança aos credores e incentiva-los a
disponibilizarem mais créditos.

11
A esta medida, deve ser incorporada a questão de uma melhor alocação do
crédito, segundo o estudo do Banco Nacional de Angola (BNA) sobre potenciação de
crédito na economia angolana feito em 2013, para além de existir uma predominância
na concessão de crédito para o sector de comércio e serviços à outra questão é o facto de
que 90% do crédito estejam concentrados em Luanda.13 É uma situação a analisar de
forma que se possam alocar estes créditos para províncias com bastante potencial e que
se criem estímulos como a criação de condições infra-estruturais e incentivo fiscal, para
que os investidores possam investir nestas regiões.

Investigação Agrária

A investigação é um factor fundamental para o progresso da actividade agrária,


pois constitui uma ferramenta para o desenvolvimento de técnicas que melhoram os
resultados da agricultura. Actualmente a investigação no sector agrícola ainda não
apresenta resultados suficientes para dar resposta as exigências correntes, de modo que
se encontra no quadro das prioridades do sector da agricultura.14 Segundo Manuel
Correia (2013, p.14) Apud Zacarias Sambeny (2011), deficiências nas infra-
estruturas físicas e organizacional, na quantidade e qualidade dos recursos humanos,
financeiros e no modelo de gestão dos recursos de investigação são apontadas como
alguns factores que inviabilizam a realização de certos trabalhos de investigação.

Apesar de haver iniciativas para promover a investigação com a criação de


institutos médios e uma faculdade de agronomia no país é necessário que se possa
fortalecer cada vez mais a investigação com meios técnicos, financeiro, humanos e com
programas que visam melhorar as questões candentes como a criação de um sistema de
recolha estatística de dados que ajudem na implementação de projectos agrícolas,
aumento dos níveis de produtividade da terra, comercialização agrícola etc.15
Caso contrário, erros grosseiros continuarão a persistir, a título de exemplo, são
os casos do projecto de produção do milho no Cubal, onde depois dos investimentos
feitos houve a necessidade de realocar o projecto para outra localidade devido as

13
BNA, Sobre Potenciação De Crédito Na Economia Angolana, Angola, 2013, p.4
14
PND
15
Mais questões sobre a investigação agrária podem ser encontrada no trabalho de CORREIA, Manuel,
Prioridades da Investigação Agrária em Angola, 2013, Huambo,20p.
12
condições climatéricas; o projecto para a produção do algodão no K. Sul até o ano
passado não havia registado algum resultado plausível16.

1.3.2. Estratégias Para o Desenvolvimento do Sector

Com vista a reverter alguns dos constrangimentos analisados no ponto anterior,


foi desenvolvido o PDMPSA que posteriormente foi integrado ao PND 2013-2017,
documento no qual podem ser encontrados as principais estratégias e políticas definidas
pelo governo para o relançamento do sector.

Várias medidas já foram efectivadas até ao momento, algumas das quais podemos aqui
enunciar:

 Aprovação pelo Governo em 2010 de linha de crédito para apoio aos produtores
que prevê a concessão de crédito de campanha, e crédito de investimento.17
Apesar da sua pertinência o crédito de campanha ficou paralisado durante de 3
anos, isto é de 2012-2014;
 A redução da taxa de juro do credito agrícola de campanha de 5% para 2% pelo
BDA, de forma a garantir que os investidores tenham maior facilidade de
reembolso;
 A construção e reabilitação de vários perímetros irrigados (Matala, Caxito,
Ganguelas, Bom Jesus, Kikuxi e outros).18
 O desenvolvimento do pólo agro-industrial de Capanda em Malanje, onde se
encontra inserido o projecto Biocom que produz o açúcar e o etanol e energia
eléctrica com base na produção da cana-de-açúcar.

Contudo existe um pormenor que segundo a nossa análise deveria ser corrigido.
Trata-se das aprovações de projectos públicos de produção de larga escala,19 por
tratarem-se de projectos que consomem uma boa parte dos valores destinados para o
OGE da agricultura mas que do ponto de vista de produção ainda apresentam resultados
incipientes.

16
Posição do OPSA e da ADRA sobre o OGE 2014, p.14
17
BDA, relatório de gestão 2007- 2011, p.56
18
La 26ᵉᵐᵉ Conférence Regional de La FAO por I´ Africa, Brochure de Information, 2010 p.34
19
Posição do Observatório Político Social de Angola (OPSA) e da Acção Para o Desenvolvimento Rural e
Ambiente (ADRA) sobre o OGE 2014, p.14
13
Na nossa opinião os projectos deveriam ser terciarizados para investidores que
apresentarem melhores condições e assim fazia-se um trade off canalizando os
montantes que seriam para a operacionalização desses projectos aos agricultores
familiares sob forma de crédito, pois segundo o PDMPSA 80% da produção nacional é
proveniente desta classe de produtores. Caso contrários os mesmos valores podem ser
usados para a materialização dos programas que visam aumentar as condições de
produção.20 Acerca destas questões Stefan Dercon e Douglas Gollin (2014, p.5),
afirmam que o sector público deve por a disposição condições para o investimento
privado, sendo esta uma condição fundamental para que os actores do sector privado
respondam as estratégias do sector público.

Embora as explorações agrícolas familiares sejam as que mais contribuem para


o grosso da produção nacional, existe um antagonismo, pois os mesmos possuem uma
produtividade muito inferior quando comparados com as explorações do tipo
empresariais. Segundo Stefan Dercon e Douglas Gollin (2014, p.3), a razão da pouca
produtividade agrícola em alguns países de África para além de estar relacionado com
factores como dificuldade no acesso a terra e a insumos, deve-se também a discrepância
no do padrão de vida entre as regiões rurais e urbanas, esta é de facto uma das razões
para as constantes migrações das populações das zonas rurais para as cidades, situação
que além de afectar a produtividade, origina também um conjunto de problemas sócias
tais como alto índice de desemprego, delinquência, pobreza etc.
De forma a reverter este índice e aumentar a força de trabalho é fundamental
que se continue a empreender esforços para eliminar as assimetrias regionais,
estabelecendo mais e melhores condições sociais às populações rurais. Pois no nosso
ponto de vista não é suficiente reabilitar infra-estruturas para apoio da actividade
agrícola, ou conceder créditos enquanto as condições básicas para que as pessoas se
fixem nas regiões rurais não forem aceitáveis.

1.6. Noções de Risco

A gestão eficiente dos riscos nas empresas proporciona resultados bastante


satisfatórios, um destes resultados é certamente estabilização da receita, permitindo que
a empresa continue a gerar fluxos de caixa necessários para a continuação das suas

20
PDMPSA 2009-2013, p.14
14
actividades. Por esta razão ao analisarmos os derivativos agropecuários é pertinente
fazer uma incursão sobre o risco.
Como é de conhecimento, o risco está presente em toda actividade humana; a
nível político, social, ambiental, económico etc. Segundo José Neto e Renata Sério
(2009, p.21), o risco pode ser definido como “eventos futuros incertos, factos que
podem acontecer e contrariar as expectativas iniciais”, por sua vez Aníbal e Jorge
Caiado (2008, p.207), “definem o risco como a probabilidade de ocorrerem perdas em
operações realizadas pelos agentes económicos”. Observando ambos conceitos acima,
apreende-se logo de que o conceito de risco está associado a possibilidade de haver
desvios a nível dos resultados esperados, razão pela qual os investidores a procuraram
soluções/ procedimentos que propiciem resultados mais vantajosos, confirmando-se
afirmação de Samuelson e Nordhaus (2005, p.208), segundo o qual as pessoas não
gostam de assumir riscos e preferem investimentos menos arriscado.

1.6.1. Tipos de Riscos na Actividade Agrícola

A actividade Agrícola está exposta a diversos riscos e incertezas, que impactam


directamente nos custos de produção e no rendimento do negócio e que por sua vez
poderão afectar na relação com outros agentes (financiadores, fornecedores de insumos)
e os custos para os usuários finais que integram as cadeias produtivas, (indústrias,
comerciantes, consumidores). Estes riscos distinguem-se em: risco operacional, risco de
crédito/ financeiro, risco de mercado.

Risco Operacional

O risco operacional resulta dos elementos humanos, materiais e técnicos,


disponíveis. Na agricultura, por exemplo, a falta de insumos, as dificuldades de acesso à
tecnologia, o mal estado dos equipamentos, a falta de conhecimentos sobre a actividade
por parte do pessoal estão na base deste risco. Segundo Aníbal E Jorge Caiado (2008,
p.208) de forma a minimizar os efeitos desse risco e atingir ao bom desempenho
operacional é imprescindível que haja preparação conveniente dos elementos acima
citado. No caso dos recursos humanos, por exemplo, é necessário que haja formação
competente do pessoal e que se disponibilizem condições suficientes para execução
normal da actividade da empresa.

15
Risco de Crédito/ Financeiro

O risco de crédito está relacionado a factores tais como: a carência de linhas de


financiamento, dos juros altos, dos valores insuficientes para financiamento dos custos
operacionais de produção, da incapacidade ou da falta de condições de pagamento.

Risco de Mercado

O risco de mercado tem a ver com a variação do preço do produto agrícola. Este
risco depende do tipo de produto que se produz, da demanda pelo produto, da mudança
de hábitos dos consumidores e de saturação do mercado, ou seja, o comportamento do
mercado influenciará directamente no preço. Assim sendo para uma boa administração
desse tipo de risco é necessário o acompanhamento frequente do mercado.

1.6.1. 1. Principais Riscos na Actividade Agrícola

A falta de insumos agrícolas ou ainda o elevado custo dos mesmos, a ausência de


canais suficientes que garantam a chegada do produto final ao consumidor, a
sazonalidade da produção a probabilidade de existir um número elevado de produtores
poderão causar impactos para actividade agrícola como nos referimos anteriormente.
Porém Marques P.V e outros autores sintetizam estes constrangimentos da seguinte
forma:

O chamado "problema" da agropecuária geralmente está associado a preços baixos e


relativamente instáveis. Do ponto de vista da comercialização, o problema torna-se
particularmente importante porque é difícil para quem produz ajustar rapidamente sua
produção às alterações de mercado. Para complicar ainda mais esse problema, as
mudanças climáticas, pragas, doenças e outros factores impedem que se façam
estimativas precisas de produção e preços. Marques, P.V., et al (2006, p.12).

De modo geral são aqui identificados dois principais riscos que podem
condicionar a actividade agrícola e causar constrangimentos para o produtor e outros
entes ligado ao sector, nomeadamente: o risco de produção e de preço.

Risco de Produção Agrícola

O risco de produção agrícola está relacionado com a oscilação da produção, ou seja,


com as incertezas com relação ao comportamento das commodities durante o processo
produtivo. Normalmente verifica-se quando o produtor constata (com alto grau de

16
acurácia) o produto que o processo gerará divergir do nível do produto anteriormente do
projectado. Este risco está associado a vários factores21 (muito deles alheios ao
produtor) tais como:

 Climáticos: as chuvas excessivas/ inundações, chuvas de granizos,


temperaturas, secai, vendavais etc;

 Biológicos: pragas, infestações, doenças e outros;

 Operacional: tecnologia ultrapassada, dificuldade de acesso tecnológica, falta


de conhecimento por parte dos colaboradores.

Esses riscos podem ser mitigados usando, por exemplo, uma boa tecnologia, ou até
mesmo cobri-los por um seguro agrícola.

Risco de Preço na Agricultura

O preço é um elemento imprescindível no processo de comercialização, “ela


representa o custo monetário de um bem, serviço ou activo medido em unidades
monetárias por unidades do bem” Samuelson e Nordhaus (2005, p.748).

O risco de preço baseia-se essencialmente na oscilação do preço do produto em


função do comportamento dos produtos nos mercados a nível interno e externo ou ainda
pelos comportamentos dos consumidores no mercado. Portanto a sua variação poderá
proporcionar ganhos ou mesmo perdas consideráveis para o produtor cuja intenção é
rentabilizar o esforço empreendido durante o processo produtivo.

Um aspecto básico que poderá elucidar um pouco mais a questão sobre esta
variabilidade tem a ver com a teoria económica sobre a oferta e procura agregada de
bens.

O gráfico nº 3 representa o momento em que a procura no mercado iguala-se a


quantidade de bens oferecidos, de modo que os produtores e consumidores alcançam
um preço desejável aos seus interesses denominado preço de equilíbrio.

21
ODÍLIO Sepulcri, Gestão do Risco na Agricultura, Curitiba, 2006, p.2
17
Gráfico nº 3-Equilíbrio entre procura e oferta no mercado

Fonte: elaboração própria com bases a dados hipotéticos

Contudo, As dificuldades da agricultura resultam principalmente da expansão da


oferta e da elasticidade preço da procura, além dos demais problemas de carácter
estrutural que o sector poderá apresentar.

O gráfico a baixo ilustra uma variação positiva na curva de da oferta agregada,


como se pode observar, há um novo equilíbrio na qual os produtores e consumidores
estão dispostos a negociar sendo que o novo preço de equilíbrio agora se situa em AKZ
2,00 e a quantidade oferecida em 16,00 kg.

Gráfico nº 4 - deslocação ascendente da curva oferta

Fonte: elaboração do autor com bases a dados hipotéticos

Um aspecto interessante a reter com estas demonstrações é que a queda do


preço dos produtos agrícolas não garantirá um aumento no consumo do alimento cujo
preço caiu, mas sim provocar mais uma relocação na cesta de consumo dos indivíduos,
isto porque, os produtos agrícolas são bem de primeira necessidade e possuem uma

18
procura rígida em relação ao preço22 noutros termos pode-se dizer que a diminuição do
preço permitirá com que haja uma redução das receitas totais do produtor.

De modo a reverter os resultados das incertezas nas actividades económicas é


proeminente que os agentes económicos saibam alguns princípios básicos de como
administrar esses riscos. Segundo Ehrhadt e Brighham23 (2012, p.901), existem três
processos fundamentais para a gestão dos riscos nomeadamente:

 Identificação dos riscos sobre as quais a empresa está exposta através do


conhecimento minucioso sobre a actividade que desenvolve e sobre o mercado em
que se encontra inserido;

 Cálculo do efeito potencial de cada risco, ou seja é necessário segregar os riscos por
efeito potencial e então focalizar nas ameaças mais sérias o que não quer dizer que
não se deve olhar para as outras ameaças;

 Escolha da alternativa e metodologia para mitigar o risco neste caso deve-se decidir
como cada risco deverá ser tratado.

Neste capítulo vimos que a actividade agrícola está inserida numa cadeia cujas
actividades encontram-se intrinsecamente ligadas, também vimos que embora Angola
possua potencial agrícola, este potencial está a ser subaproveitado e que existe uma série
de constrangimentos que impedem o desenvolvimento do sector agrário nacional.
Finalmente observamos que as empresas do sector agrário, podem ter rendimentos
baixos por causa das quebras nas produções ou mesmo pelos baixos preço, o que pode
leva-las a não honrarem com seus compromissos, criando uma série de
constrangimentos. Por esta razão, as empresas são desafiadas a procurar mecanismos
que possibilitem eliminar ou minimizar as questões acima levantadas. Uma das
respostas ao problema do risco de preço é certamente o surgimento dos derivativos
agropecuários, tema que será tratado no capítulo a seguir.

22
Isto significa a que quantidade da procura responde fracamente às variações do preço.
23
Mais detalhes sobre administração de risco podem ser encontrado no livro dos autores EHRHARDT,
Michael C., e BRIGHAM Eugene F. Administração Financeira, 13 ª ed., ED. Cengage Learning Lda, S.
Paulo, 2012, p.1111
19
CAPÍTULO II – METODOLOGIA SOBRE OS DERIVATIVOS
AGROPECUÁRIOS

Os derivativos agropecuários são uma realidade em mercados desenvolvidos, e


por apresentarem alguma complexidade e especificidade em relação às formas de
comercialização mais comuns, é essencial que os produtores agrícolas, gestores de
riscos e outros, compreendam o uso destas novas ferramentas financeiras. Neste
capítulo abordamos os diferentes tipos de derivativos agropecuários (contratos a termos,
futuro e opções) e modo de funcionamento de uma bolsa de mercadoria e futuro.

2.1. Breve História Sobre o Surgimento dos Derivativos

Etimologicamente a palavra derivativo provém do latim derivativos “relativo a


derivação”, ou seja algo/ coisa que depende ou deriva de outra, segundo Hull (2012,
p.1), os derivativos são definidos como instrumentos financeiros cujos valores de
podem de outras variáveis básicas subjacentes, ou seja, são contratos no qual se definem
pagamentos e entregas futuras cujo preço dos mesmos é determinado como base no
valor assumido pelo activo (commodity, acção e outros) denominado activo subjacente
ou activo base.

O uso destes instrumentos data do século XVII no Japão com a comercialização


de recibos de bens estocados que poderiam ser resgatado no futuro. Inicialmente os
derivativos surgiram para dar respostas aos riscos de preços na actividade agrícola.
Sendo que hoje são utilizados para os mais variados fins24. Em 1730, na Bolsa de
Mercadorias de Osaka, teve início o primeiro negócio organizado de futuro, e mais tarde
em 1830 nasce a Chicago Board of Trade (CBOT), que inicialmente utilizaram
contratos a termos mais próximos daqueles que se conhece hoje.

2.2. Principais Participantes do Mercado de Derivativos Agropecuários

As operações com derivativos agropecuários envolvem normalmente três tipos


de participantes cujos interesses são totalmente diferentes, nomeadamente: o hedger, o
arbitrador e o especulador, todavia a existência e a actuação dos três são imprescindíveis
para o sucesso deste mercado, as funções de uns complementam as de outros em uma

24
Segundo Hull, o mercado de derivativos é bastante vasto, hoje, é notório este desenvolvimento com
surgimento das negociações em derivativos de crédito, derivativos de electrecidade, derivativos
climáticos, derivativos de seguro e outros tantos.
20
relação activa e permanente somente isso garante um mercado de derivativos forte e
líquido.

Hedger, Operações de Cobertura de Risco

O hedger é indivíduo preocupado em proteger o seu produto contra subida/


descida de preços. A principal preocupação do hedger não é obter lucro com
derivativos, mas garantir o preço de compra ou de venda de determinada mercadoria em
data futura e eliminar o risco da variação de preço.

Segundo Mishkin (2000, p.213), em operações de hedging a parte vendedora


do contrato de futuro é aquela que está preocupada com uma redução dos preços do
produto, por está razão ela vende contratos futuros25 de forma a “travar” o preço da
mercadoria. Assim sendo mesmo que o preço caia, a parte vendedora consegue evitar
perdas uma vez que o preço do bem (commodity) encontra-se assegurado. A esta
operação denominamos de hedge de venda. Por outro lado, a contraparte (a parte
compradora dos contratos futuros) tem uma visão oposta ao do vendedor este por sua
vez participa em operações de hedging procurando “congelar” o preço do activo contra
uma possível subida do preço adquirindo esses contratos assumindo assim a posição
comprada. A esta operação denominamos hedge de compra.

Arbitrador

O arbitrador é o participante que tem como objectivo lucrar com as diferenças


dos preços dos produtos entre os mercados, e tirando proveito dessa diferença ou da
expectativa futura dessa diferença, sem no entanto assumir algum risco.

Contrariamente ao hedger, ao invés de fazer cobertura contra as possíveis


alterações do preço, o arbitrador, procura rentabilizar com estas oscilações comprando
os activos em mercados onde os preços encontram-se baixos e vende-los de forma
rápida em mercados onde o preço encontra-se em alta, de forma a ganhar com a
diferença de preços, Samuelson e Nordouhs (2005, p.205).

25
Os contratos futuros a que nos referimos aqui tem a ver com qualquer um destes contratos derivativo,
por possuírem essa particularidade de serem transaccionados para uma data futura.
21
Especulador

O especulador é o participante cuja meta é a obtenção lucro proveniente das


flutuações de preços. Diferentemente dos hedgers, os especuladores não vendem
nenhuma mercadoria nem sequer estão interessados em obter estes produtos. Sua
actuação consiste apenas na compra e na venda de contratos futuros de forma a ganhar o
diferencial entre o preço de compra e o de venda o que acaba de expondo-os a certos
riscos e prejuízos.

Os mercados especulativos servem para melhorar os padrões de preço e da distribuição


através do espaço e do tempo, bem como para ajudar a transferir riscos. Estas tarefas
são desempenhadas por especuladores que, levados pelo seu desejo de lucro resultante
das variações de preço, de facto mostram a acção da mão invisível. Se olharmos por
baixo do véu do dinheiro vemos que a especulação ideal opera transferência dos bens de
épocas de abundância (quando os preços são baixos) para épocas de escassez (quando
os preços são elevados). Samuelson e Nordouhs (2005, p.207).

Apesar da conotação negativa acerca dos especuladores, na qual se associa esta


actividade à fraudes e outras práticas menos aceitáveis como se referem Mellagi Filho e
Ishikawa, (2003, p.365) Apud Leonardo Marmitte (2009, p.13), a actividade
especulativa pode ser benéfica para o mercado, permitindo a partilha de risco, e
proporcionando liquidez ao mercado.

2.3. Tipos de Derivativos Agropecuários

Actualmente em bolsas de mercadorias e futuros existem essencialmente quatro


tipos de contratos, nomeadamente: os contratos a termo, contratos de futuro contrato de
opções e contratos swaps. Todavia, no nosso trabalho abordaremos apenas acerca dos
contratos a termo, futuro e de opções os contratos swaps serão postos à parte, uma vez
que esta modalidade de derivativos consiste em acordos de troca de fluxo de caixa entre
dois lados, e, portanto se distancia um pouco da essência da ideia que pretendemos
transmitir no nosso trabalho uma vez que a nossa intenção é debruçarmo-nos sobre os
instrumentos financeiros de protecção contra as oscilações dos preços na
comercialização dos produtos agrícola.

Assim sendo apesar das especificidades de cada um destes instrumentos a serem


retratados, é importante relembrar que todos eles atendem ao mesmo tempo às
necessidades de segurança e protecção quanto à administração do risco.
22
2.3.1. Contratos a Termo

Dos derivativos agropecuários existentes o mais simples de ser operacionalizado


são os contratos a termos. Os contratos a termo são acordos entre duas partes para
transaccionar uma mercadoria num período futuro e a um certo preço.

Segundo Hull (2012, p.5), as negociações com contratos a termo assemelham-se


com as operações no mercado a vista (mercado spot) onde os produtos são negociados
com pagamentos a vista ou a prazo mediante entrega imediata da mercadoria,
contrariamente, nos contratos a termo verifica-se a entrega da mercadoria no futuro.

De acordo com Mishkin (2000, p.213), nas negociações com contratos a termo é
fundamental que estes instrumentos especifiquem os seguintes elementos:

 O tipo, a qualidade e a quantidade da commodity;


 A data e o local no qual deverá ser efectuada a entrega;
 Além disso, deve definir um preço ou uma fórmula que determine o valor que
será pago (ou recebido) pelo comprador (ou vendedor) no momento da
liquidação.

2.3.1.1. Características dos Contratos a Termo

Os Contratos a termos apresentam certas características operacionais que os


torna bastantes diferentes aos demais contratos facto este que segundo Mischkin (2000,
p.214), estão na base do surgimento de outros instrumentos como os contratos de futuro
e que vale apenas retratar aqui.

O primeiro aspecto a ter-se em consideração tem a ver com o modo como esses
derivativos são negociados, normalmente os contratos a termo podem ser encontrados
em bolsa, mas geralmente são negociados nos mercados de balcão26 sendo vantajoso
para as partes envolvidas, pois os termos dos acordos neste caso dependerão dos desejos
dos mesmos (contratos customizados).

26
O mercado de balcão é um mercado secundário em que as operações não são registadas em bolsas
também designadas por mercados “customizados” por atenderem as especificações dos clientes, esse
mercado abrange não só comercialização de acções mais também de outras variedades de activos. Estes
mercados são classificados em mercados de Balcão organizado e mercados não organizados.
23
Por serem customizados, as operações com contratos a termo são encerradas
apenas no vencimento e nunca antes do prazo. O que de certo modo impossibilita a
transição do compromisso a outro participante. Embora que por solicitação do
comprador alguns contratos a termo negociados em bolsa podem ser liquidadas antes do
tempo.27 Contudo para Mischkin (2000, p.214), os contratos a termos sofrem dois
males que limitam em muito a sua utilidade, tratam-se dos riscos de liquidez28 e de
default (risco de não pagamento).

O primeiro problema com risco de liquidez consiste na grande dificuldade de se


encontrar contrapartes precisamente com os mesmos interesses, coincidindo nos
mínimos detalhes ou ainda pela possibilidade da contraparte (o vendedor por exemplo)
vender esses contratos a um preço muito baixo por haver pouca gente interessada para
negociar esses de acordo aos critérios do vendedor, ou seja, este mercado sofre falta de
liquidez. O segundo problema é que os contratos a termo estão sujeitos ao risco de não
pagamento. Apesar de o acordo estar firmado o mercado não continuará estático de tal
modo que poderá verifica-se alterações nos preços de forma a favorecer uma das partes
o que ocasionará o risco de não cumprimento das cláusulas do contrato por um dos
lados envolvidos nesta operação.

2.3.2. Contratos Futuro

Face aos problemas a apresentados pelos contratos a termo dos quais já nos
referimos, houve a necessidade da criação de outro instrumento que cobrisse estas
lacunas daí o aparecimento dos contratos futuros em 1975 pela Chicago Board of Trade
(CBOT).

Conceitualmente os contratos futuros são semelhantes aos contratos a termos.


Entretanto estes contratos são normalmente negociados em bolsas e de forma a tornar a
transacção viável, a bolsa responsabiliza-se em especificar os padrões e garantias dos
contratos futuros, Hull (2012, p.7).

27
BM&F Brasil, Mercados Derivativos, p.23
28
A liquidez de mercado, que é o nosso caso, se refere com à facilidade de haver transacções financeiras
num certo mercado e difere da liquidez de um activo.

24
2.3.2.1. Principais Características dos Contratos Futuros

De acordo com a Corretora Concórdia (n.d., p.3), os contratos futuros


apresentam característica que os permite sanar os problemas apresentados pelos
contratos a termo, entre os quais citamos:

 Padronização acentuada;
 Elevada liquidez;
 Negociação transparente em bolsa;
 Possibilidade de encerramento da posição com qualquer participante;
graças aos ajustes diários do valor do contrato;
 Utilização do mecanismo das margens depositadas em garantia para
evitar acumulação de perdas decorrentes da falta de pagamento de ajustes
diários negativos.

2.3.2.2. Especificações do Contratos Futuro

A padronização consiste na fixação de um conjunto de requisitos aos contratos


para que a negociação possa ser realizada na bolsa. Segundo Hull (2012, p.24), para a
padronização de um contrato de futuro deve-se ter em conta os seguintes elementos
especificações:

 Activo: descrição do activo cuja oscilação de preços está em negociação.


Exemplo: café, algodão, milho;
 Preço: unidade de valor atribuída a cada unidade física da mercadoria em
negociação. Exemplo: Kwanzas/ saco, Dólar/ Kg;
 Limites de Variação do preço: preço mínimo e máximo de variação dos
contratos;
 Unidade de negociação: tamanho de cada contrato a ser negociado. Exemplo:
Um contrato de café é de 100 sacos de 60 kg;
 Meses de vencimento: meses em que serão liquidados os contratos;
 Liquidação: forma pela qual o contrato será encerrado;

 Acordos de entrega: especificação do lugar de entrega da mercadoria e dos


custos de transporte;

25
2.3.2.3. Margem de Garantia nas Operações com Contratos Futuro

Uma das reformas criadas de maneira a superar os riscos de não pagamento


verificado nos contratos a termo é a obrigação da deposição de uma margem de garantia
pela câmara de compensação da bolsa que garante cumprimento das obrigações às
partes envolvidas na negociação, CMV (2014, p.329). Trata-se de um depósito (em
dinheiro ou em activos aceite pela bolsa) exigido de todos os clientes para cobrir o risco
de suas posições, dentro de cenários preestabelecidos pelo comité de risco da bolsa,
Schouchana e Miceli (2004, p.14).
Como dissemos anteriormente os preços das commodities não são estáticos,
alteram-se várias vezes até a data de maturidade do contrato, em função das
expectativas e informações relativas a commodity, portanto de modo a evitar o risco de
inadimplência na maturidade do contrato exige-se este fundo de garantia.

2.3.2.4. Mecanismo de Ajuste Diário

Outro aspecto importante sobre os contratos futuros deve-se ao desenvolvimento


do mecanismo denominado ajuste diário (Daily Settlement), em que os vendedores e
compradores acertam a diferença entre o preço futuro anterior e actual de forma diária,
de acordo com elevações ou quedas no preço futuro da mercadoria, Danilo Fariello e
Raquel Salgado (2008, 16.p). Este sistema de liquidação diária permite não só aos
hedgers, mas também a uma gama de investidores, como os especuladores, a utilizar os
contratos futuro por meio de grande variedade de estratégias operacionais.

Fórmula para o cálculo da a justes das operações realizadas no dia

Fonte: BM&F BOVESPA/ Contrato Futuro de Base de Preço de Milho

Fórmula para o cálculo da a justes das posições em aberto no dia anterior


realizadas no dia

Fonte: BM&F BOVESPA/ Contrato Futuro de Base de Preço de Milho

26
Onde:

AD = valor do ajuste diário; M = Tamanho do contrato.


PAt = preço de ajuste do dia; n = número de contratos;
PO = preço da operação; PAt-1 = preço de ajuste do dia anterior;

2.3.2.5. Formas de Encerramento das Posições (Liquidação)

Segundo Marques, P.V, et al, (2006, p.92), As operações com contratos futuros
podem ser liquidadas de três formas de distintas, a saber: entrega da mercadoria,
liquidação financeira e liquidação inversão de posição.

Liquidação por Entrega da Mercadoria

A liquidação por entrega da mercadoria deve levar em conta as especificidades do


contrato que são previamente estabelecidas pela bolsa. No entanto, na ocasião da
entrega da mercadoria, por exigência da bolsa é efectuada uma inspecção seja por um
departamento próprio, seja por empresa credenciada de modo a avaliar a conformidade
do produto. Havendo algumas reservas após a inspecção, caberá aos especialistas da
bolsa definirem as melhores soluções de forma a evitar conflitos entre as partes
envolvidas na operação.

Liquidação Financeira

A liquidação financeira normalmente ocorre sempre que o vendedor dos


29
contratos não demonstrar a sua intenção de entregar o activo objecto à bolsa e é feita
através de um acerto financeiro em relação ao preço à vista do activo após o último
pregão. Se este se movimentar-se favoravelmente, o participante receberá um valor
correspondente ao saldo positivo obtido do diferencial entre compra e venda, Caso
contrário, o participante pagará o saldo negativo à sua contraparte.

Tabela nº 3 - Resultado em função das posições assumidas

Fonte: Carlos Pinho, Isabel, Finanças Mercados e Instrumentos, 2.ª ed., Edições Sílabos, Lisboa, 2008,
p.189

29
Esta opção de liquidação também pode ser exigida pela bolsa caso não haver possibilidades de se
efectuar liquidação por entrega de mercadoria.
27
Onde:

PV = Preço a vista

PF = Preço futuro

Liquidação por Reversão da Posição

A liquidação por reversão da posição ocorre mediante operação inversa à


original,30 ou seja, consiste em recomprar ou revender contratos que havia sido vendido
ou comprado, transferindo assim os direitos e obrigações para outro comprador ou
vendedor. Mas, entretanto mesmo encerrando suas posições o investidor ganha com o
fluxo resultante dos ajustes diários feitas pela câmara de compensação enquanto as suas
posições mantiveram-se abertas. Esta flexibilidade permite que os contratos futuro
sejam liquidados antes do prazo de maturidade devido.

2.3.2.4. O Risco de Base em Contratos Futuro

Embora os contratos futuro sejam óptimos instrumentos para ajudar na redução


dos riscos de preços das commodities agrícolas os produtores podem incorre-se em um
problema básico quando tentarem fazer o hedge, este problema denomina-se risco
básico ou risco de base.

De acordo com Hull (2012, p.52), a base é definida como a diferença de preço a
vista do activo a ser hedgeado e o preço futuro do contrato futuro. Tal diferença pode
ser atribuída a diversos factores como, o frete, custo de armazenagem e outros factores
que são incluídos no preço futuro da commodity. Este elemento é de extrema
importância pois ajuda na fixação do preço da mercadoria.

Fórmula para determinação da base

Fonte: John C. Hull, Options, Future and other derivates, 8th edition, Ed. Prentice Hall, Boston, 2012

30
No vencimento dos contratos, o preço a vista e a futuro convergem ou se tornam muito
próxima uma da outra, Hull (2012, p.27). Isto faz com maior parte dos contratos nas bolsas sejam
liquidados antes do período de entrega, por operação de inversão das posições.

28
Onde:

PV= Preço a vista do activo a ser hedgeado

PF = Preço futuro do contrato utilizado

Segundo Waquil et al (2010, p.46), o risco de base define-se como incertezas


inerentes à previsão das diferenças entre os preços no mercado futuro e no mercado à
vista, segundo Miceli (2008, p.69) apud Fabiano Gabriel (2011, p.8), esta situação
decorre da diferença entre os preços a vista e futuros não se igualarem, conforme
explicitado na equação seguinte:

Situação eminente de risco de base

Fonte: Fabiano Gabriel, Base e o Risco de Base do Café Arábica no Brasil: um estudo empírico para o
período 2003-2010, S. Paulo, 2011, p.8

Onde:

St = preço à vista no vencimento do contrato futuro


St-1 = preço à vista no momento da operação do contrato futuro
Ft = preço futuro no vencimento do contrato futuro
Ft-1= preço futuro no momento da operação do contrato futuro

Os exemplos dados a seguir, adaptado do tese de Fabiano Gabriel (2011, p.8),


buscam elucidar como o risco de base pode afectar as partes envolvidas no contrato:

Suponhamos que em Junho de 2015 uma indústria de café expresso suspeitando


das altas dos preços no mercado de café adquire 20 contratos na bolsa de valores com
vencimento em Setembro sendo o tamanho de cada contrato igual a 1000 sacos por
contratos. Suponhamos que na abertura do contrato o preço à vista do café na região do
produtor esteja no valor AKZ 66,00/ sacos e na bolsa o café esteja cotado em AKZ
68,00/ sacos. A base inicial será igual -2.

Passados três meses, em Setembro, temos a seguinte situação: cotação do café à


vista na região do produtor igual a AKZ 69.10/ saco e na bolsa igual AKZ 70.00/ saco e
logo veremos que a base não permanece constante e será igual AKZ -0,90. Assim sendo
29
houve um fortalecimento base31 de 1,1 quando varia de -2 para -0,90 e portanto pode se
dizer que o diferencial entre os preços no mercado a vista e no mercado futuro não se
igualam 3.1 ≠ 2 o que quer dizer que o preço no mercado a vista não variou na mesma
proporção que no mercado futuro portanto o hedge não será perfeito.

No geral podemos dizer que a indústria teve um ganho na bolsa no valor de AKZ
40.000, ou seja [(70 - 68)×(20×1000)] e no mercado à vista a indústria desembolsou
AKZ 1.382.000 para aquisição da mercadoria (69.10×20.000), mas, no entanto o custo
efectivo foi de Kz 1.342.000, ou seja, de AKZ 67.1/ saco. Observa-se que o preço do
mercado à vista na região, quatro meses antes, era de AKZ 66 A diferença de AKZ 1,1
desfavorável a indústria, decorre exactamente do fortalecimento da base ocorrido no
período.

Apesar desta variação não é sensato dizer a indústria não foi protegida contra as
alterações dos preços porque se a indústria não fizesse o hedge teriam um custo no valor
de AKZ 1.382.000.

No ponto de vista de quem vende os contratos, produtor de café, o processo é


quase semelhante, apegando-se no exemplo anterior na maturidade do contrato o
produtor auferirá uma receita no mercado à vista no valor de AKZ 1.382.000, no
mercado futuro ele obterá um resultado negativo de AKZ 40.000 resultado do aumento
dos preços na bolsa. Portanto o resultado efectivo da venda será de Kz 1.342.000, mas o
facto do preço no mercado ter subido de AKZ 66 para Kz 69,10 com o diferencial de
1,1 acabou por ser favorável ao produtor.

Tabela nº 4 - Resultado da base sobre a operação hedge

Fonte: Marques, P.V. et al, Mercados Futuros e de Opções Agropecuários, Piracicaba, S. Paulo, 2006,
p.115

31
Segundo MARQUES, P.V et al (2006) a base enfraquece quando torna-se mais negativa e que fortalece
quando torna-se mais positiva.
30
Um aspecto a ter em conta relativamente ao risco de base é que o mesmo não
pode ser eliminado, Schouchana e Miceli (2004, pp.21). Entretanto, o risco pode ser
conhecido e mensurado, de forma a ser incorporado nas estratégias de hedging.

2.3.3. Contratos de Opções

Os contratos de opções representam derivativos não lineares, devido à assimetria


de direitos e deveres das posições dos vendedores e compradores. De acordo com Pinho
e Soares (2008, p.217), esses derivativos caracterizam-se por dar ao titular o direito,
mas a obrigação, de comprar ou de vender um determinado activo, em condições pré
estabelecidas numa data futura.

A Tabela abaixo mostra algumas terminologias usadas nas negociações com os


contratos de opções:

Tabela nº 5 - Terminologias dos contratos de opções

Fonte: Adaptado do livro de Carlos Pinho, Isabel, Finanças Mercados e Instrumentos, 2.ª ed., Edições
Sílabos, Lisboa, 2008, p.218

2.3.3.1. Caracterização dos Contratos de Opções

As opções, diferentemente dos contratos futuro podem ser comercializadas na


bolsa ou nos mercados de balcão e classificam-se em opções de compra e opções de
venda32. Segundo explica Pinho e Soares (2008, p.217), a opção de compra (Call
Option) garante ao portador o direito de comprar o activo subjacente, de acordo com as
especificações do contrato numa data futura. Por sua vez uma opção de venda (Put

32
CMV, Mercados de Valores Mobiliários Brasileiro, 3.ª ed., Rio de Janeiro, 2014, p.321

31
Option) confere ao portador o direito de vender uma dada quantidade do activo
subjacente de acordo com as especificações do contrato numa data futura.

Tabela nº 6-Direitos e obrigações dos intervenientes num contrato de opção

Fonte: Carlos Pinho, Isabel, Finanças Mercados e Instrumentos, 2.ª ed., Edições Sílabos, Lisboa, p.218.

As opções podem ser do estilo americano ou europeu em função das formas


como elas são encerradas e a diferença consiste no facto das opções americanas serem
exercidas em qualquer momento, até a data de encerramento acordada entre as parte,
enquanto as opções do estilo europeu somente são exercidas na data vencimento, Hull
(2012, p.194). Relativamente ao activo objecto a ser negociado, os contratos de opções,
distinguem-se em opções sobre mercadoria a vista, opções sobre contrato futuro, opções
sobre contrato a termo, CMV (2014, p.335).

2.3.3.2. Funcionamento das Opções de Venda (Put Option)

Segundo a CMV (2014, p.337), normalmente quem compra uma opção de


venda acredita que o preço à vista do activo subjacente vai “cair” por isso ele adquire
uma opção (de venda), de modo a obter direitos de vender o seu activo a um
determinado preço que lhe permita cobrir os custos caso isso o corra. Entretanto, se ao
invés de cair, o preço posicionar-se acima da soma entre preço de exercício mais o
prémio pago no prazo de maturidade, o titular da opção poderá decidir em exercer o seu
direito ou vender pelo novo preço em que o activo está cotado, perdendo desse modo o
prémio pago.

32
Gráfico nº 5 - Funcionamento das opções de venda

Fonte: CMV, Mercados de Valores Mobiliários Brasileiro, 2014, p.337

O gráfico a cima ilustra um exemplo simplificado de como funciona um hedge


com uma opção de venda. Suponhamos que um produtor esteja preocupado com o
movimento de queda do preço de café e quer garantir pelo menos o preço de AKZ 90/
saco de café. O produtor dá ordem ao seu corrector e consegue-se na bolsa uma opção
de venda no valor AKZ 100/ para cada saco daqui a quatro meses, sendo que o prémio
pago pelo produtor foi de AKZ 10/ por cada saco.

Na maturidade da opção, caso o preço no mercado a vista for de AKZ 80 o


produtor exercerá seu direito de vender o activo subjacente no valor de AKZ 100, e seu
lucro será de AKZ 20 (100-80). Mas como pagou um prémio de AKZ 10, o seu lucro
líquido será de 10.

Se na maturidade o preço a vista for AKZ 110, o produtor não exercerá seu direito,
venderá o activo subjacente neste preço, mas, no entanto perderá AKZ 10 do valor do
prémio pago.

2.3.3.3. Funcionamento das Opções de Compra (Call Option)

De acordo com CMV (2014, p.336), o titular de uma opção de compra acredita
que o preço a vista do activo subjacente suba, por isso ele adquire uma opção (de
compra), de modo a obter direitos de comprar o activo a um preço menos elevado
(preço de exercício) numa certa data. Todavia, se ao invés de subir, o preço posicionar-
se abaixo da soma entre o preço de exercício mais o prémio pago no prazo de
maturidade, o titular da opção poderá decidir em exercer o seu direito ou comprar pelo
novo preço em que o activo está cotado, perdendo desse modo o prémio pago.

33
Gráfico nº 6 - Funcionamento das opções de compra

Fonte: CMV, Mercados de Valores Mobiliários Brasileiro, 2014, p.335

O gráfico acima ilustra um exemplo simplificado de como funciona um hedge


com uma opção de compra. Suponhamos que os administradores de uma fábrica de café
precisando de café daqui a quatro meses estejam preocupados com o movimento de
subida do preço de café e que o mesmo ultrapasse os 110 AKZ por cada saco de café.
Assim sendo, a empresa dá ordem ao seu corrector e consegue-se na bolsa contratos de
opções de compra no valor AKZ 100/ para cada saco daqui a quatro meses, sendo que o
prémio pago pelo produtor foi de AKZ 10/ por cada saco.

Se na maturidade da opção, o preço no mercado a vista for de AKZ 115 o


produtor exercerá seu direito, comprando o activo subjacente no valor de AKZ 100, e
seu lucro será de AKZ 15 (115-100). Mas como pagou um prémio de AKZ 10, o seu
lucro líquido será de AKZ 5.

Se na maturidade dos contratos o preço a vista for AKZ 90, o produtor não exercerá seu
direito, comprará o activo subjacente neste preço, poupando para si AKZ 20, mas, no
entanto perderá AKZ 10 que diz respeito ao valor do prémio pago.

2.3.4. Perigos Associados ao uso de Derivativos Agropecuários

Os derivativos agropecuários apresentam-se como instrumentos estratégicos para


comercialização dos produtos agrícolas e como elemento para protecção/ redução contra
os riscos de preços. Contudo, a complexidade destes instrumentos, a falta de
conhecimento e o consequente mau uso destes instrumentos por parte dos investidores
podem causar prejuízos irreparáveis, Danilo Fariello e Raquel Salgado (2008, 17.p).

34
Segundo a Corretora Concórdia (n.d., p.8), ao negociar com derivativos
agropecuários, os agentes económicos incorrem-se além dos riscos operacionais ao risco
de crédito, que consiste na probabilidade de umas das partes não poderem honrar com
suas obrigações tal como dissemos anteriormente, porém, as bolsas possuem
mecanismos para reduzir a este risco tais como a margens de garantia o ajuste diário, os
limites das flutuações diária das cotações e outros. Outro risco a ter em conta é o risco
de mercado, causado pelas expectativas dos preços futuros dos contratos, da liquidez
dentro do mercado, da concentração de posições (vendidas/ compradas) por parte de
investidores ou ainda pela alteração do preço do activo de referência do contrato o que
acaba originando flutuações dos preços destes contratos.

2.3.5. Vantagens do uso dos Derivativos Agropecuários

A utilização dos derivativos pode proporcionar ao usuário um conjunto de


benefícios tais como: permitir aos agentes económicos a partilha e a redução a
exposição de risco de preço mediante operações de hedge, por outro lado os produtores
podem servir-se destes instrumentos para servir como garantia junto dos bancos a fim
de conseguirem financiamento.33

Os ajustes diários para além de facilitar na mitigação contra os incumprimentos


das obrigações contratuais também permitem aos participantes obterem ganhos (ou
perdas) devido a flutuações dos preços futuros. Por outro lado os contratos futuros são
reconhecidos por possuírem um grande poder de alavancagem, isso deve-se a
possibilidade de um investidor negociar grandes quantidades de mercadorias usando
uma fracção do capital exigido graças as margens exigidas para aquisição destes
contratos que representam 3% a 12% do valor destes contratos.34

2.3.6. Bolsa de Mercadoria e Futuros

Uma bolsa de mercadoria e futuros é um local que oferece condições necessárias


para a realização de negócios de compra e venda de contractos futuros referenciados em
activos reais (commodities), financeiros (índices, indicadores, taxas e moedas) ou ainda
de energia.

33
FÉLIX Schouchana e WILSON Miceli, Introdução aos Mercados Futuros e de Opções Agropecuários
no Brasil, 3.ª ed., S. Paulo, 2004, p.16.
34
CME Group Educação, Manual de futuros para operadores, Chicago, 2011, p.10
35
Para Marques, P.V., et al (2006,p.297) de forma a se atingir esses propósitos, é
fundamental que se verifique os seguintes elementos: Uma estrutura própria com
elementos básicos que permitam o normal funcionamento da bolsa, estrutura de
governação responsável pelas normas, procedimentos de operações, regulamentos e
controles e fiscalização das actividades da bolsa, processo divulgação, rápida,
abrangente e transparente, das informações relacionadas com as operações da bolsa.

Figura nº 2- fluxo de operações na bolsa de mercadoria

Fonte: Adaptado do livro de Marques, P.V., et al., mercados futuros e de opções agropecuárias, 2006
p.72

Condições Para Operacionalização dos Derivativos Agropecuários

Segundo Félix Schouchana e Wilson Miceli (2004, p.15), existem um conjunto


de condições/ requisitos para que uma mercadoria possa ser negociada em bolsa de
mercadoria e futuros os quais citamos:

 Deve haver grande oferta e procura do produto, e isto exige grande número de
vendedores e compradores do produto, de modo que haja liquidez e
competividade neste mercado;
 O produto deve ser idêntico para que haja facilidade de padronização e
classificação e para que possa ser comum a qualquer comprador e vendedor;

36
 O mercado deve ser livre e o preço do mercado a vista deve ser transparente,
sem o constrangimento por parte do governo ou de monopólio;
 A mercadoria, objecto do contrato futuro, deve ter volatilidade, pois, caso
contrário, não há necessidade de hedge;
 O objecto do contrato futuro deve ser de grande interesse económico pelos
agentes económicos;
 Deve haver diversos tomadores de risco, de forma a permitir que o custo desse
risco se dilua entre eles;
 As regras do mercado devem ser estáveis e não podem mudar durante a vida do
contrato, pois as condições pelas quais os preços foram contratados não devem
mudar até o final do contrato, sob o risco de trazer prejuízo para uma ou ambas
as partes.

Commodities Comercializadas em Bolsas de Mercadorias e Futuros

A tabela abaixo mostra as principais commodities negociadas em diversas bolsas


de futuros existentes no mundo.

Tabela nº 7 – principais commodities negociadas em bolsas e futuros

Fonte: Adaptado do livro de Marques, P.V., et al, mercados futuros e de opções agropecuárias, 2006,
p.312

37
Custos Relativos ao Uso Derivativos Agropecuários

Ao realizar negócios numa bolsa de mercadoria, as gentes económicos devem


atentar para as taxas que são cobradas sobre as operações. Estes custos estão
relacionados aos diferentes estágios do negócio, como compra e venda o registo, a
liquidação e a custódia e são diferentes para os diferentes tipos de contratos de
derivativos. Eis aqui alguns custos de acordo com a Corretora Concórdia (n.d., p.6):

Taxa de Corretagem

É uma taxa negociada livremente entre os investidores e as empresas de


corretagem no momento das compras ou vendas dos contratos derivativos, essa taxa
varia de empresa para empresa e incide sobre o valor total do movimento financeiro.

Emolumentos

Os emolumentos são valores cobrados pela bolsa e que permitem o normal


funcionamento da mesma. Esses valores correspondem à negociação do contrato, seja
abertura ou encerramento dos contratos.

Taxa de Registo

A taxa de registo é cobrada de acordo com o serviço de registo pela Bolsa e


incide somente nas negociações que impliquem a abertura de posições ou o seu
encerramento antes do vencimento.

Taxa de Liquidação

A taxa de liquidação incide a quando da liquidação de uma posição na data de


vencimento ou liquidação financeira de uma entrega financeira de uma entrega física e é
cobrada como um valor fixo por contrato, independente do volume negociado.

Taxa de permanência

Essa taxa é cobrada pela bolsa, pelo serviço de acompanhamento de posições de


relatórios e arquivos pela casa de compensação e objectiva a cobertura de custos
operacionais para a manutenção de posições inactivas em contratos futuro. Esta taxa
incide sobre todas as posições em aberto.

38
De modo geral, os derivativos agropecuários apresentam-se como bons
instrumentos de gestão de riscos de preços e como óptima estratégia para
comercialização de produtos, pois permitem aos agentes económicos em fixarem preços
aos produtos para uma negociação futura, garantindo a rentabilidade do negócio. Mas,
no entanto o uso destes instrumentos requer cuidados e conhecimentos sobre o
funcionamento dos mercados futuros ou ainda uma acessória especializada de forma a
evitar erros irreparáveis.

39
CAPÍTULO III- ESTUDO DE CASO: DEMONSTRAÇÃO DAS VANTAGENS
DO USO DOS DERIVATIVOS AGROPECUÁRIOS NA EMPRESA
AGRICULTIVA, Lda

Neste capítulo analisaremos um conjunto de informações que nos foi fornecida


pela Agricultiva, Lda a partir de seus documentos institucional e por meio entrevistas
directa com o nosso informante 3, no intuito de compararmos o modelo de
comercialização e protecção dos produtos contra riscos de preços, com a metodologia
do uso dos derivativos agropecuários a partir de uma bolsa de mercadoria e futuros.

3.1. Identificação

A Agricultiva, Lda é uma empresa do sector agrário criada em 2008. Passado


pelo em Diário da República nº 7/08 série III Está envolvido em cinco projectos
agrícolas nomeadamente: Cacanda (L. Norte), Nzeto (Zaire), Sakassange (Moxico),
Negas (Uíge) e Lutao (Malanje). Destes projectos são produzidos frutas, Legumes, fuba,
carne, ração35 e ovo.

Esta organização faz parte do grupo Mitrelli, que presta serviços em todo o
mundo em áreas como a educação, energia, saúde, telecomunicações e construção. Em
2015 a Agricultiva foi distinguida na FILDA propriamente na fera do sector agrícola
com o prémio de melhor participação no que diz respeito à produção nacional.

3.2. Caracterização

A Agricultiva desenvolve e implementa projectos agrícolas do tipo chave na


mão36 de pequena e grande escala, para sectores privados, institucional e
governamental. As soluções oferecidas pela empresa incluem o desenvolvimento da
pecuária, da indústria de lacticínios bem como de diversas culturas, instalações
industriais, centros logísticos e muitos mais. Além da construção de infra-estruturas e de
fornecimentos de equipamentos, sementes e animais, as equipas de especialistas da
Agricultiva formam agricultores e gestores de explorações agrícolas para se tornarem
independentes e auto-suficientes.

35
A ração é produzida para consumo interno, ou seja, para alimentação das aves.
36
Chave na mão, ou turn key, é um tipo de operação empregada em processos licitatórios na qual a
empresa contratada fica obrigada a entregar a obra em condições de pleno funcionamento
40
Através da criação de parcerias com os seus clientes desde o primeiro dia, a
Agricultiva envolve-se activamente na sustentação do crescimento e do emprego nas
comunidades onde intervém, ajudando os governos e as organizações locais de todos os
tipos de dimensões, bem como os empreendedores privados a aumentarem as suas
receitas e aprimorarem a gestão das suas actividades.

Objecto Social

Promoção, avanço, direcção, desenvolvimento de assessoria e operação de


projectos do sector agrícola, pecuário, projectos agro-industriais na cadeia agro-
alimentar, agro-cosmética, farmacêutica bem como exportação e importação de
produtos derivados da actividade agropecuária e equipamentos.

Missão Institucional

Contribuir para acelerar o desenvolvimento equilibrado e sustentável do sector


agropecuário, permitindo a criação de emprego e renda, a modernização da actividade
agrícola e o aumento da competitividade.

Valores da Organização

A Agricultiva acredita que as comunidades e as empresas agrícolas devem ser


auto-suficientes, desenvolver-se e ter acesso a recursos avançados de subsistência, saúde
e educação. Os equipamentos métodos e tecnologias modernas têm o impacto positivo
na vida das populações locais, sempre que se desenvolvam no âmbito do cumprimento
dos princípios de respeito para com o meio ambiente e os indivíduos. Trabalhando a
nível comunitário, regional e nacional, tanto para o sector público como para o sector
privado, os projectos da Agricultiva encontram o equilíbrio perfeito entre o progresso de
hoje e a sobrevivência e sustentabilidade sem riscos das gerações futuras.

Capital social

O capital social da empresa é de kz 800.000 sendo 95% do capital pertencente à


sócia OFEK- Investimento e Administração de Empresas, Lda. e 5% à sócia BRILHO
HORIZONTE- Construção Civil e Obras Públicas.37

37
Diário da República nº 7/08 Série III
41
Estrutura organizacional

Figura nº 3 - Estrutura organizacional da empresa Agricultiva Lda

Fonte: Elaboração própria, baseada na entrevista com a área comercial da Agricultiva Lda.

3.3. Estudo de caso

Após análise das informações obtidas nas entrevistas mantidas com o nosso
informante 3 permitiu-nos apresentar os pressupostos necessários para entendermos a
problemática.

A empresa Agricultiva Lda, na comercialização dos seus produtos tem como os


seguintes alvos: hotéis, supermercados, distribuidores, mercado informal.

Figura nº 4 - Parceiros comercias da Agricultiva

Fonte: Elaboração própria, baseada na entrevista à empresa Agricultiva Lda.

A forma de comercialização traduz-se numa venda de forma “directa”, ou seja, no


final da colheita é feita a comercialização dos produtos a um preço que é normalmente
ditado pelo mercado.

42
Figura nº 5 - ciclo para comercialização dos produtos na Agricultiva, Lda

Fonte: Elaboração própria, baseada na entrevista à empresa Agricultiva Lda.

Ao proceder-se deste modo tal como na figura acima, a empresa poderá a assumir
um risco de preço bastante elevado, isto porque até o período de venda, existe a
probabilidade da empresa vender os produtos a um preço abaixo caso naquele período
haja um excesso de produtos mercado por exemplo, o que poderá ser desvantajoso para
a empresa.

De acordo com o nosso entrevistado na Agricultiva uma das práticas usadas de


forma a reduzir os efeitos de uma possível descida dos preços, consiste no
conhecimento dos períodos em que há bastante oferta de um certo produto a fim de se
efectuar uma redução antecipada na produção. No nosso entender, essa posição não
inibe a empresa de ser afectada pelos baixos preços mas sim poderá ajuda-los a evitar
que haja muito excedente e o que o mesmo possa vir a deteriorar tendo em conta a
dificuldade em poder vender a mercadoria naqueles períodos.

Por outro lado essa estratégia só tem aplicabilidade para certas culturas como
exemplo produção do tomate, que é colhido três meses após a sua plantação e cuja
oferta é bastante forte nas épocas de cacimbo, a empresa pode preferir diminuir a
produção evitando excedente de produção que não poderá ser comercializado. No caso
de culturas com ciclos mais longos esta prática torna-se bastante inconsistente pois é
difícil prever como será o mercado até o período da colheita.

Estas inconsistências em termos de previsão do preço futuro do produto no


mercado podem ser suprimidas com ajuda do uso dos derivativos permitindo a fixação
do preço de venda. Para todos efeitos apresentamos em seguida alguns cenários
43
(hipotéticos) de comercialização de produto agrícola, sem o uso de derivativos
considerando as práticas vigentes na empresa Agricultiva e com o uso de derivativos, a
fim de constatarmos e compararmos os resultados.

Cenário 1

Venda De Milho Sem o Uso de Derivativos

A Empresa Agricultiva, Lda produtora de milho deverá ter sua produção


colhida no prazo de três meses. Estima-se uma colheita de 3000 sacos de milho de 25
Kg ao custo de produção de AKZ 50,00/ saco de milho.

Suponhamos que, após os três meses cada saco de milho de 25 Kg esteja a ser
comercializado no mercado no valor AKZ 49,00 devido a concentração da oferta de
milho naquele período.
Tabela nº 8 – Comercialização sem o uso de derivativos agropecuários

Fonte: elaboração própria

Neste caso a empresa acarretará uma perda gigantesca, pois será obrigada a
comercializar a um preço baixíssimo que não leva em conta o custo de produção. Isto
ocorre pela falta de instrumentos de comercialização capazes de assegurarem o preço
deste produto.

Cenário 2

Hedge De Venda De Milho Usando Contratos a Termo

A Empresa Agricultiva, Lda produtora de milho deverá ter sua produção


colhida no prazo de três meses. Estima-se uma colheita de 3000 sacos de milho de 25
Kg ao custo de produção de AKZ 50,00 por cada saco de milho. Como ela não deseja
correr o risco de mercado no acto da comercialização, ou seja, sofrer redução capaz de
comprometer a rentabilidade de sua actividade. Resolve fazer hedge de toda a colheita e
para efectuar o hedge, a empresa negocia com uma contra parte no mercado de balcão,
30 contratos a termo de milho para venda futura do milho no valor AKZ 65,00/ saco de
milho (sendo o tamanho de cada contrato igual a 100 sacos de milho de 25 Kg).

44
 Supondo que, na maturidade do contrato, no mercado físico cada saco de milho
de 25 Kg esteja cotado no valor de AKZ 49,00.

Tabela nº 9 - Operação de hedge usando contratos a Termo

Fonte: elaboração própria

Apesar do preço do milho estar cotado a AKZ 49,00 no mercado físico, a


contraparte tem a obrigação de comprar cada saco de milho de 25 Kg no valor de AKZ
65,00 como explicamos no capítulo II, o uso deste tipo de contratos, algumas é vezes
condicionado pela ausência dos ajustes diários o que poderá inibir a uma das partes em
honrar com a sua obrigação.

Cenário 3

Hedge Venda De Milho Usando Contratos Futuro

A Empresa Agricultiva, Lda produtora de milho deverá ter sua produção


colhida no prazo de três meses. Estima uma colheita de 3000 sacos de milho de 25 Kg
ao custo de produção de AKZ 50,00 por cada saco de milho. Como ela não deseja correr
o risco de mercado no acto da comercialização, ou seja, sofrer redução capaz de
comprometer a rentabilidade de sua actividade. Resolve fazer hedge de toda colheita e
para efectuar o hedge na bolsa de mercadoria e futuro, o produtor vende 30 contratos
futuros, para venda futura do milho no valor de AKZ 65,00/ saco de milho (sendo o
tamanho de cada contrato igual a 100 sacos de milho de 25 Kg).

 Supondo que, na maturidade do contrato, no mercado físico cada saco de milho


de 25 Kg esteja cotado no valor de AKZ 49,00.

Custos operacionais: taxa de corretagem (0,30% sobre a operação de venda e de


compra de contratos para liquidação) e 6,32% sobre o valor da corretagem (taxa da
Bolsa):

45
Tabela nº 10 - Ajustes Diários do Exercício

Fonte: elaboração própria

Tabela nº 11 - Hedge Usando Contratos Futuro

Fonte: elaboração própria

Apesar de que após três meses o do saco de milho de 25 Kg ter sido negociado
no preço de AKZ 49,00 no mercado, a empresa Agricultiva, Lda consegue ainda assim,
assegurar as suas vendas, mesmo comercializando os sacos de milho a este valor, tudo
graças ao hedge feito na bolsa, que lhe permitiu obter um ganho de AKZ 48.000,00
fazendo com que o preço inicialmente negociado estivesse assegurado.

Cenário 4

Hedge De Venda De Milho Usando Contratos de Opões de Venda

A Empresa Agricultiva, Lda produtora de milho deverá ter sua produção


colhida no prazo de três meses. Estima-se uma colheita de 3000 sacos de milho de 25
Kg ao custo de produção de AKZ 50,00/saco de milho.

Como ela não deseja correr o risco de mercado no acto da comercialização, ou


seja, sofrer redução capaz de comprometer a rentabilidade de sua actividade. Resolve
fazer hedge no mercado futuro e adquire 30 contratos de opções (put), para venda futura
46
do milho a um preço de exercício de AKZ 65,00/ saco de milho (sendo o tamanho de
cada contrato igual a 100 sacos de milho de 25 Kg) de modo que para obter este direito,
a empresa tenha desembolsado AKZ 3,50 como prémio para cada saco de milho.

Tabela nº 12 - Operação de hedge usando contratos de opções

Fonte: elaboração própria

Se na maturidade dos contratos cada saco de milho de 25 Kg estiver cotado no


valor de AKZ 49,00, a empresa exercerá o seu direito de vender o milho a AKZ 65,00/
saco e o seu retorno efectivo fica posicionado em AKZ 61,5, ou seja, (Preço de
exercício – Prémio). Por sua vez o lançador da opção terá a obrigação de comprar o
produto.

Tabela nº 13 - Hedge com opções em caso de queda dos preços

OBS: Para este caso não tivemos em consideração os custos de transacção.


Fonte: elaboração própria

Se porventura na data de vencimento dos contratos, o saco de milho de 25 Kg


custar AKZ 70,00 no mercado, a empresa não exercerá o seu direito de vender o milho a
AKZ 65,00 por cada saco e venderá o milho a AKZ 70,00 e seu retorno efectivo fica
posicionado em AKZ 66,5, ou seja, (Preço de mercado – Prémio).

Tabela nº 14 - Hedge com opções em caso de alta dos preços

OBS: Para este caso não tivemos em consideração os custos de transacção.


Fonte: elaboração própria
47
3.4. Resultados

No princípio do trabalho levantou-se a questão sobre como os grandes


produtores do sector agrícola em Angola fazem a gestão de risco contra as alterações
dos preços, ao desenvolvermos este estudo de caso fica-se convicto de que as práticas
de comercialização dos agricultores no país não evidenciam o uso de instrumentos ou
metodologias capazes de reduzir incertezas quanto a preço de sorte que produtores
ficam totalmente expostos a este risco. Todavia, os cenários hipotéticos ilustram-nos
que o uso dos derivativos agropecuários pode realmente ajudar as organizações do
sector agrário na administração do risco de preço dos produtos e garantir um preço de
venda sustentável.

48
CONCLUSÕES

Após o desenvolvimento de todos os aspectos pertinentes a compreensão do


nosso trabalho e tendo em consideração aos objectivos traçados, queremos de forma
substancial apresentar as seguintes conclusões:

Apesar do potencial, o sector agrícola nacional ainda enfrenta problemas


estruturais e outros constrangimentos que inibem o seu crescimento e caso não sejam
abordados com alguma atenção poderá servir de obstrução para que se implemente uma
bolsa de mercadoria e futuro e se possa utilizar os derivativos agropecuários.
De modo geral o sector agrícola enfrenta uma série de riscos (risco operacional,
risco de crédito, risco de produção e risco de preço), entretanto, conhecimento dos
factores de risco na actividade agrária é de capital importância, porque esta acção vai
permitir encontrar estratégias para contrapor a estes problemas e deste modo poder a
segurar a rentabilidade e a continuidade das suas actividades dos produtores agrícola e
não só.
Hoje, em mercados desenvolvidos existem três tipos de derivativos
agropecuários nomeadamente: contratos a termo, contratos futuro e os contratos de
opções. Apesar da sua complexidade, os derivativos agropecuários apresentam-se como
uma alternativa para minimização dos efeitos das variações de preço permitindo que o
produtor e outros elementos da cadeia do agronegócio façam cobertura de preço dos
produtos.
Portanto, é refutada a hipótese H1 afirmada no início do nosso trabalho,
portanto, embora os preços sejam ditados pelo mercado pelo binómio da procura e da
oferta, ainda assim, existem várias formas de protecção contra o risco de preço entre
quais constam os derivativos agropecuários, as políticas de controlo de preços e outros
instrumentos.

49
RECOMENDAÇÕES

Para que o uso dos derivativos agropecuários possa ser um facto, é vital a
dinamização do sector agrícola/ agronegócio em termos de políticas agrárias e de
organização, potencialização do know-how, da investigação, aumento de recursos
financeiro para o sector agrícola a fim de se criar condições estruturais e de apoio para o
fomento da actividade agropecuária, aumento do volume de crédito para o sector
principalmente às províncias com potencialidades, incentivo estatal para criação das
agro-indústrias, apoio a agricultura e familiar e às cooperativas, formação e capacitação
dos técnicos e dos agricultores, criação de cadeias logística, cadeias de armazenagem,
desenvolvimento dos corredores de desenvolvimento etc., de modo que se cumpra um
dos pressupostos básicos dos mercados derivativos que é a existência de grande oferta e
procura do produto, com vista a aumentar competividade e liquidez neste mercado
(volume de negócio).
Resolvida a questão da dinamização do sector o passo seguinte deve ser a
abertura de uma bolsa de mercadoria e futuro com estruturas afins e com as condições
para operacionalização destes instrumentos. Para tal será fundamental a capacitação das
pessoas que terão acesso a este mercado. Aqui surge também um desafio a Direcção da
faculdade no sentido de promover formações sobre os derivativos agropecuários dentro
e fora da academia.
Por fim, para empresa Agricultiva, recomenda-se uma contínua estratégia de
economia de escopo que poderá ajudar na redução dos custos de produção e garantir
preços mais competitivos dos produtos agrícolas, bem como incluir dentro da sua
actividade core serviços de facilitação de distribuição e comercialização que
compreende: a transportação, pesquisa de mercado, certificação de produtos e
processos.

50
BIBLIOGRAFIA
Livros

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53
Apêndice

54
Apêndice nº1: Questionário utilizado na pesquisa com os entrevistados nº1 e nº 2
(da ADRA e do MINIAGRI respectivamente)

Q1. Que condições existiam no período (1961- 1974) para que Angola se mantivesse
naqueles níveis de produção elevados?
Q2. Hoje como está a agricultura no pais e qual a sua percentagem de participação no
PIB?
Q3. Que factores levaram a desaceleração do sector agrícola nacional?
Q4. Como vê a produção agrícola hoje?
a) Subsistência
b) Virada para o mercado
c) Auto-suficiente
Q5. Há uma classe empresarial significativa no sector agrícola nacional?
Q6. Quais os principais problemas enfrentados por essa classe empresarial?
Q7. Como vê a agricultura familiar no país?
Q8. Como vê a questão da Indústria agro-alimentar actualmente?
Q9. De forma genérica quais os grandes problemas enfrentado pelo sector actualmente?
Q10. Como analisa a questão dos preços dos produtos agrícolas produzidos
internamente e os que são provenientes do exterior?
Q11. É rentável a agricultura em Angola ou ainda há bastantes prejuízos para os
produtores?
Q12. Que estratégias de comercialização dos produtos agrícolas são utilizados pelos
produtores e como os produtores nacionais se protegem contra as oscilações de preços?
Q13. O que pensa sobre abertura de uma bolsa de mercadoria e futuro em Angola?
a) Que condições seriam criadas para sua implementação?

55
Apêndice nº 2: Questionário utilizado na pesquisa com o entrevistado nº 3
(Empresa Agricultiva, Lda)

Q1. Quando foi criada a Agricultiva, Lda?


Q2. Como caracteriza a Agricultiva, Lda?
Q3. Quais são os principais parceiros comerciais da Agricultiva, Lda?
Q4. Quais são os principais produtos produzidos pela Agricultiva?
Q5. Quais são os principais concorrentes da Agricultiva?
Q6. Existe alguma estratégia de comercialização dos produtos agrícolas?
Q7. É rentável a actividade agrícola desenvolvida pela Agricultiva?
Q8. Como a Agricultiva faz a gestão do risco de preço dos seus produtos?
Q9. Tem alguma informação a respeito dos mercados futuros e dos outros instrumentos
derivativos?
a) O que acha da implementação da bolsa mercadoria?
Q10. Quais os principais constrangimentos enfrentados pela Agricultiva ao desenvolver
esta actividade?
Q11. Como analisa o sector agricultura nacional e a produção de grande escala?
Q12. Que políticas deveriam ser implementadas para o desenvolvimento do sector
agrário?

OBS: Outras informações foram obtidas do manual de acolhimento da empresa.

56

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