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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO

E
UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Conteúdo indicado como

leitura complementar da

disciplina de Direito

Económico para estudantes

dos cursos de Direito,

Economia, Administração e

Ciências Contábeis

JOEL ALMEIDA FILHO

CIDADE DO DUNDO - ANGOLA - 2017


O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO
E
UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Sumário
RESUMO ...........................................................................................................................................ii
ABSTRACT .......................................................................................................................................ii
AGRADECIMENTO .........................................................................................................................ii
1- INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1
2- A POLÍTICA ECONÓMICA....................................................................................................... 3
2.1 – Política Monetária .............................................................................................................. 3
2.2 – Síntese da História Económica de Angola .................................................................... 5
3 – O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO ........................................................................... 11
4- O BANCO NACIONAL DE ANGOLA ................................................................................... 16
4.1 – Competência do BNA ..................................................................................................... 16
4.2 – Metodologia de Supervisão ........................................................................................... 17
4.3 - Sistema de Pagamentos de Angola .............................................................................. 18
5- O CRÉDITO E O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO.................................................... 20
5.1 – Conceitos .......................................................................................................................... 20
5.2 – Crédito e Desenvolvimento Económico ....................................................................... 22
5.3 – Constrangimentos na expansão do crédito ................................................................. 24
5.4 – Potencialização do acesso ao sistema bancário ........................................................ 26
5.5 - Garantia do acesso à formação financeira................................................................... 27
5.6 - Reforço da capacidade dos bancos para a concessão e gestão de crédito........... 28
5.7 – Fomento da oferta e melhoria das condições de financiamento ............................. 29
5.8 – Melhoria da informação disponível para a avaliação de risco.................................. 30
5.9 – Enquadramento legal positivo ao crédito..................................................................... 30
6- A GLOBALIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO ............................................................. 32
7- CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 35
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 37
8.1 – Livos, documentos e revistas ........................................................................................ 37
8.2 - Legislação.......................................................................................................................... 38
8.3 – Sites Consultados............................................................................................................ 38

i
RESUMO
O Sistema Financeiro Angolano, dá passos para a sua modernização, sendo
evidente o crescimento do número de instituições a operar no país, da rede de agências e
a sofisticação de produtos, serviços e operações. Uma das principais actividade dos
bancos é realizar operações de crédito com o montante dos depósitos. Há uma relação
directa entre o volume de crédito, os investimentos e o consumo, com fortes reflexos no
PIB. O presente trabalho pretendeu demonstrar a estrutura do Sistema Financeiro de
Angola e os impactos na economia.

ABSTRACT
The Angolan Financial System takes steps to modernize it, with an evident increase
in the number of institutions operating in the country, the branch network and the
sophistication of products, services and operations. One of the main activities of banks is
to carry out credit operations with the amount of deposits. There is a direct relationship
between the volume of credit, investments and consumption, with strong reflections on
GDP. This paper aimed to demonstrate the structure of the Angolan Financial System and
the impacts on the economy.

AGRADECIMENTO
Agradeço e dedico o presente trabalho aos estudantes da Universidade Lueji A’ Nkonde,
que ao me pedirem orientações sobre o tema, me incentivaram a organizar a investigação
e tornar realidade o conteúdo que se segue.

ii
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

1- INTRODUÇÃO

O sistema financeiro Angolano é constituido pelos órgãos reguladores do sistema,


e por instituições financeiras, principalmente pelo o conjunto de bancos que operam no
país, cuja dinâmica principal concentra-se em captar o dinheiro depositado pelos clientes
(pessoas singulares, empresas, indústrias e/ou governo) para conceder empréstimos a
outros clientes, mediante a cobrança de juros. Desta forma os bancos ajudam para
multiplicação e circulação do dinheiro.

Em relação à origem dos bancos, desde que o homem existe como um ser social
que trabalha e adquire alimentos e bens para sobreviver, houve trocas destes últimos ou
de moedas, segundo corresponde-se em época. Entretanto, não foi no século XV que
fundou-se o primeiro banco, e sim em 1406, em Genova, Itália, batizado o Banco Di San
Giorgio. Vale destacar que os antigos impérios europeus contavam com moedas de
circulação elaboradas fundamentalmente em metais nobres, mas o papel moeda como
hoje conhecemos, é um dos inventos asiáticos mais conhecidos do Ocidente, após as
viagens de Marco Polo à China de tempos mongois.

Em Direito Económico aprende-se que há três grandes objectos de estudo: (i) a


organização da actividade económica; (ii) a definição do posicionamento das funções e dos
instrumentos de actuação do Estado na economia; e (iii) a estipulação do regime jurídico
da exploração da actividade económica pelos agentes privados.

O primeiro objecto contempla elementos essenciais que constituirão a base da


economia de um determinado país. Assim, define-se, por exemplo, quem poderá ter a
propriedade dos meios de produção (só o Estado? ou os agentes privados também
podem?) e quem pode ter a iniciativa da actividade económica. Disto resulta, portanto, a
definição do sistema económico de um país, que pode ser então socialista ou capitalista.

No segundo objecto, temos a definição da posição do Estado diante da actividade


económica. Há, portanto, a edição de regras sobre se haverá ou não intervenção do Estado
no domínio económico e, em caso positivo, em que extensão. Define-se ainda quais áreas
serão exploradas em regime de exclusividade ou monopólio pelo Estado e, ainda, quais
são os instrumentos que o Poder Público poderá usar para sua atuação (empresas
estatais? agências reguladoras? e assim por diante).

Por fim, o terceiro objecto está relacionado à delimitação do espaço de actuação


dos agentes privados, bem como das condições e das regras que eles deverão observar.
Nesta seara, então, a legislação estabelece o regime jurídico ao qual estarão sujeitos os
1
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

agentes privados. Há então leis, decretos e outros actos normativos aplicáveis a cada
mercado ou ramo de actividade, inclusive, e principalmente sobre o Sistema Financeiro.

O desenvolvimento do trabalho foi estruturado em seis títulos (ou capítulos), a


saber: (i) A política económica, (ii) O sistema financeiro angolano, (iii) o Banco Nacional de
Angola, (iv) O crédito e o desenvolvimento económico, (v) A globalização do sistema
financeiro; e (vi) as Considerações finais.

Com o título “A Política Económica” apresenta-se alguns conceitos sobre política


monetária e algumas formas de intervenção do Estado para implementar sua política
económica, assim como uma síntese da evolução histórica da política monetária e
financeira em Angola.

No capítulo “O Sistema Financeiro Angolano” pretendeu-se dar uma visão global de


toda estrutura actual do sistema financeiro Angolano, ora vigente. Já sob o tema “O Banco
Nacional de Angola” descreve-se as funções e competências do BNA sua metodologias de
supervisão, assim como uma breve descrição do Sitema de Pagamentos do país.

No item “O crédito e o desenvolvimento económico” traça-se uma panorâmica sobre


a dinâminca da oferta de credito, seus efeitos sobre a economia e uma proposta do BNA
com vistas ao incremento da oferta de crédito em Angola.

Foi incluido o tema “A Globalização do Sistema Financeiro” para mostrar a inter-


relação dos sistemas financeiros ao nível mundial e, finalmente, sob o título
“Considerações finais” o autor apresenta algumas conclusões pessoais a respeito de toda
a temática apresentada.

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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

2- A POLÍTICA ECONÓMICA
As correntes económicas modernas, abordam pela não intervenção do estado em
nenhum aspecto, embora esta seja necessária para manter um equilíbrio, ou para
conseguir obter certos resultados, como por exemplo, alavancar alguns sectores
económicos ou desestimular outros sectores. Esta intervenção realiza-se através da
Política Económica.

Os diferentes problemas de uma economia, como o desemprego, a inflação,


desvalorização, défice fiscal, pobreza, distribuição equitativa dos rendimentos, e o
crescimento económico podem ser controlados através da implementação adequada de
uma série de estratégias encaminhadas para oferecer condições propícias para a solução
dos ditos problemas.

Portanto, o conjunto de medidas tomadas por um governo para actuar e influir sobre
os mecanismos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços é denominado
Política Económica. Essas medidas obedecem também a critérios de ordem política e
social - à medida que determinam, por exemplo, quais segmentos da sociedade se
beneficiarão com as diretrizes económicas implementadas pelo Estado.

A Política Económica norteia-se pela Ordem Económica, que por sua vez, é o
tratamento jurídico disciplinado pela Constituição para a condução da vida económica de
uma nação, limitado e delineado pelas formas estabelecidas na própria Lei Maior para
legitimar a intervenção do Estado no domínio privado económico.

A intervenção do Estado pode se dar de diferentes formas, contudo,


fundamentalmente, tem o propósito de modificar o comportamento do sujeitos económicos.
No caso Angolano, o Estado assumiu para si o papel de regulador da economia e
coordenador do desenvolvimento económico nacional. 1

Fazem parte da estrutura económica de um país, para além da política fiscal e


cambial, a política monetária.

2.1 – Política Monetária


Política Monetária pode ser definida como o controlo da oferta da moeda e das
taxas de juros, no sentido de que sejam atingidos os objectivos da política económica
global do governo. Em outras palavras, pode-se definir a política monetária como sendo o

1
Artigo 89º/1/a da CRA.
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controlo do sistema bancário exercido por um governo na busca da estabilidade do valor


da moeda, para evitar um balanço de pagamento2 adverso, no sentido de obter o pleno
emprego.

Na maioria dos países, o principal órgão executor da política monetária é o Banco


Central, encarregado da emissão da moeda, da regulação do crédito, da manutenção do
padrão monetário e do controlo do câmbio.

A política monetária age directamente sobre o controlo da quantidade de dinheiro


em circulação, visando defender o poder de compra da moeda e pode ser restritiva e
expansionista.

Quando um governo atua para controlar a quantidade de moeda que circula em seu
país, os níveis de crédito, as taxas de juros e a liquidez da economia, estas são acções de
uma política monetária em âmbito nacional.

A política monetária visa defender o poder de compra de uma moeda, sendo ela
expansionista ou restritiva. Na política restritiva, o dinheiro em circulação é diminuído ou
estabilizado para desaquecer a economia e manter os preços de mercado.

A política monetária pode ser aplicada através dos seguintes instrumentos básicos:
estruturas das taxas de juros; controlo dos movimentos do capital internacional; controlo
sobre os termos de compra e venda a prestação e controlos gerais ou seletivos sobre o
crédito concedido por bancos e outras instituições financeiras sobre as emissões de
capitais.

Em síntese, o propósito imediato da Política Monetária é o controlo da oferta do


dinheiro e do crédito.

Os instrumentos de política monetária, de um modo genérico, são as variáveis que


o Banco Central controla directamente. Os três instrumentos tradicionais de política
monetária são a taxa de juros no mercado de reservas bancárias, a taxa de redesconto e
as alíquotas das reservas compulsórias sobre os depósitos do sistema bancário.

O Banco Central exerce o monopólio da moeda obrigando o sistema bancário a


manter parte de seus depósitos sob a forma de reservas bancárias depositadas no Banco
Central. Esta demanda de reservas bancárias é compulsória e depende da coeficiente

2
Registo do todas as transações de carácter económico e financeiro realizadas por residentes de um país com
os residentes dos demais países.
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fixado pelo Banco Central. Os bancos podem, por necessidade do próprio negócio, ter
reservas adicionais, cujo volume varia em função das condições de mercado.

Uma das funções do Banco Central é ser banco dos bancos, e uma das maneiras
que o Banco Central empresta dinheiro ao sistema bancário é através do redesconto. O
funcionamento do mercado de reservas bancárias depende do tipo de política de
redesconto adoptado pelo Banco Central. No sistema de política de redesconto em que o
Banco Central estabelece que o custo de redesconto é igual à taxa de juros de mercado
mais um percentual adicional, a taxa de redesconto é punitiva. Neste sistema um banco
somente usará a alternativa do redesconto em última instância.

Em Angola não é diferente: com a perrogativa intervencionista estabelecida no


Artigo 89º da CRA o Estado adopta suas próprias políticas fiscal, cambial, monetária, que
no seu conjunto constituem a Política Económica Angolana, cujo objectivo final é o bem
estar da sociedade.

O Banco Central em Angola é denominado BNA - Banco Nacional de Angola, cuja


função é assegurar a preservação do valor da moeda nacional e cooperar na definição das
políticas monetárias, financeira e cambial 3.

O BNA é um órgão público pertencente ao Governo da República de Angola,


nomeadamente o Ministério das Finanças. No topo de sua hierarquia institucional está um
Governador.

2.2 – Síntese da História Económica de Angola


Segundo PERES (Infobanca, p.4), “o sistema financeiro angolano apresenta hoje
um nível de desenvolvimento e sofisticação considerável, longe daquele que vigorou nos
primeiros anos da independência nacional, em que, em função do modelo económico
adoptado pelo país, o modelo de economia planificada centralmente, de inspiração
socialista, a actividade bancária e seguradora (e de comércio externo) eram monopólios
do Estado”.

Em função disso, cerca de um ano após a independência nacional, através de


diplomas legais de 5 de Novembro de 1976 foram confiscados os activos e passivos
adstritos à actividade do Banco de Angola (Lei n.º 69/76) e do Banco Comercial de Angola

3
Artigo 100º da CRA
5
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

(Lei n.º 70/76), tendo em seu lugar sido constituídos o Banco Nacional de Angola e o Banco
Popular de Angola, respectivamente.

Refira-se que antes deste acto formal, na realidade, a actividade bancária era
conduzida já por uma Comissão Coordenadora da actividade bancária, criada em 14 de
Agosto de 1975, meses antes da independência nacional, no acto que se designou por
“Tomada da Banca” e que tinha como função a direcção e coordenação das instituições de
crédito que na circunstância viram os seus órgãos sociais suspensos. Por aquela altura,
operavam em Angola, para além do Banco de Angola, que era o banco emissor e
comercial, cinco bancos comerciais, a saber, Banco Comercial de Angola (BCA), Banco de
Crédito Comercial e Industrial (BCCI), Banco Totta Standard de Angola (BTSA), Banco
Pinto & Sotto Mayor (BPSM) e o Banco Inter Unido, bem como quatro estabelecimentos
especiais de crédito, concretamente, Instituto de Crédito de Angola (ICRA), Banco de
Fomento Nacional (BFN), Caixa de Crédito Agro-Pecuário e o Montepio de Angola.

Assim, em lugar destas instituições de crédito, passaram a operar em Angola


apenas dois bancos, o Banco Nacional de Angola (BNA), como banco emissor e comercial,
e o Banco Popular de Angola (BPA), que na realidade não passava de simples caixa de
captação de poupanças, já que lhe era vedada a actividade creditícia. Apenas ao BNA
competia a concessão de crédito e o exercício de outras funções típicas de um banco
comercial. Igualmente as seguradoras e outras instituições de mutualidade então
existentes foram confiscadas e integradas em uma única empresa estatal, a Empresa
Nacional de Seguros e Resseguros de Angola (ENSA).

Com o desmoronar do bloco socialista em 1988 e a consequente ruptura do modelo


de dirigismo económico centrado no Estado, Angola ensaiou as primeiras mudanças no
domínio económico, através do lançamento do Programa de Saneamento Económico e
Financeiro - SEF, em 1988, que, de entre várias acções, objectivava a adopção do modelo
de economia de mercado.

O SEF foi o primeiro programa de (re)ajustamento da economia e com ele teve


início as primeiras reformas macroeconómicas. O SEF previa o reforço do papel do
mercado e da moeda, a descentralização do poder económico, o redimensionamento do
sector empresarial do Estado e a redução do déficie orçamental.

Com o SEF o governo oferece uma significativa abertura económica e começa a


criar condições para uma recuperação da situação contínua de problemas de balança de
pagamentos e de uma economia desorganizada. Mais tarde, em Agosto de 1990 o governo
faz uma tentativa de reforma complementar do SEF, e cria o Programa de Acção de
Governo.
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Nesta senda, foram feitas as primeiras negociações para integração em instituições


e organismos financeiros internacionais. Em 1987, teve lugar o primeiro reescalonamento
da dívida externa de Angola no Clube de Paris e em 1989, Angola aderiu ao Fundo
Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD).

Em 1991, com as Leis nº 4/91 (Lei Orgânica do Banco Nacional de Angola) e nº


5/91 (Lei das Instituições Financeiras) ambas de 20 de Abril, o quadro jurídico e económico
da actividade bancária foi alterado, com a adopção de um sistema bancário de dois níveis,
sendo o primeiro nível ocupado pelo BNA, assumindo funções de Banco Central, banco
emissor, órgão licenciador e supervisor do sistema financeiro, e o segundo nível ocupado
pelos bancos comerciais e de investimento. Ao abrigo deste quadro jurídico, o BNA deu
início à cessação das actividades de banca comercial nesta altura.

Este momento marcou a abertura da actividade bancária, que experimentou uma


explosão a partir de 1991, antevendo-se às mudanças radicais no modelo de
desenvolvimento económico que seria adoptado pelo país em 1992, através da
implantação da II República.

O Banco Popular de Angola passou a exercer funções de um banco universal,


mudando a sua designação para Banco de Poupança e Crédito (BPC), através do Decreto-
Lei nº 47/91, de 16 de Agosto.

Constituiu-se novos bancos públicos, o Banco de Comércio e Indústria (BCI), pelo


Decreto nº 8-A/91 de 11 de Março e a Caixa de Crédito Agro-Pecuário (CCAP), criada em
16 de Março de 1991 e extinta em 26 de Maio de 2000 por graves problemas de
solvabilidade.

Com a autorização do BNA, entraram em funcionamento sucursais de bancos


portugueses, nomeadamente, o Banco Totta & Açores (BTA) em Abril de 1993, o Banco de
Fomento Exterior (BFE) em Julho de 1993, e o Banco Português do Atlântico (BPA) em Maio
de 1994. Estes foram os primeiros bancos privados a operar em Angola, agindo
essencialmente em operações cambiais no mercado secundário e no financiamento de
algumas operações de investimento de médio e longos prazos, disponibilizando apoio técnico
e financeiro ao investimento directo em Angola, em particular ao investimento de empresas
portuguesas para fomentar o comércio entre Portugal e Angola. São hoje instituições
financeiras de direito angolano com as seguintes designações: Banco Caixa Geral e Totta de
Angola (BCGTA), Banco Fomento de Angola (BFA) e Banco Millennium Angola (BMA),
respectivamente.

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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Em 1996 a rede da Caixa de Crédito Agro-Pecuário (CCAP) foi alargada


substancialmente com a transferência pelo BNA da sua extensa rede comercial para esta
instituição.

Em 1997, no âmbito da reestruturação do sistema bancário, foram aprovadas pela


Assembleia Nacional a Lei nº 5/97 de 11 de Julho (Lei Cambial) e a Lei nº 6/97, de 11 de Julho
(Lei Orgânica do Banco Nacional de Angola), que revogou a Lei nº 4/91.

Em 1999, entrou em vigor a nova Lei das Instituições Financeiras, Lei nº 1/99, de
23 de Abril (revoga a Lei nº 5/97), que passou a regular a actividade das instituições
financeiras e atribuiu maiores poderes ao Banco Central. Também foi publicado o primeiro
pacote de medidas cambiais e prudenciais, que deu início ao processo de liberalização
cambial, entre outras medidas. Nesse mesmo ano, a Caixa Agro-Pecuária foi extinta e
liquidada, sob a supervisão do BNA.

No sector segurador, após a criação do Instituto de Supervisão de Seguros com o


Decreto-Lei nº 4/98 de 30 de Janeiro, a actividade de seguro e resseguro como actividade
financeira foi descentralizada em 1999 com a aprovação da Lei nº 1/2000 de 3 de
Fevereiro, a Lei Geral da Actividade Seguradora, que define as bases de concorrência e
crescimento do sector segurador angolano. A Empresa Nacional de Seguros de Angola
(ENSA) passou a partilhar o mercado com a Seguradora Angola Agora e Amanhã (AAA),
constituída maioritariamente por capitais públicos.

Após a emissão do Aviso nº1/00 de 8 de Fevereiro sobre a institucionalização do


projecto do Sistema de Pagamentos Nacional de Angola (SPA), a implementação deste
sistema iniciou em 2001, com a criação da Empresa Interbancária de Serviços (EMIS)
constituída para prestar serviços electrónicos de compensação das transacções
processadas na rede de pagamentos electrónicos nacional, a rede Multicaixa. A EMIS é
uma empresa cujos accionistas são o BNA e os bancos comerciais, sendo a entidade
operacional central do sistema interbancário automático de pagamentos. Em 2002 foram
instalados os primeiros Caixas Automáticos da rede Multicaixa, permitindo aos seus
utilizadores realizar levantamentos, requisitar livros de cheques e efectuar consulta de
saldos e de movimentos de conta.

Sendo 2003 o segundo ano vivido em paz, o Governo, numa tentativa de incentivar
a recuperação do sector não petrolífero da economia, priorizou as questões de
estabilização macroeconómica e reabilitação das infra-estruturas básicas. Nesta senda, o
BNA, como Banco Central, juntamente com o Ministério das Finanças, adoptou uma
política restritiva com vista a contenção da deterioração do quadro macroeconómico,
reflectida no segundo pacote de medidas prudenciais aprovado em Fevereiro daquele ano.
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Há que se salientar, a aprovação da Lei nº 1/04 de 13 de Fevereiro (Lei das


Sociedades Comerciais) em 2004, para além da emissão de normas emanadas do Banco
Central, para reforçar a liberalização cambial introduzida em 1999, assegurar a estabilidade
do mercado cambial e uma maior acumulação de reservas externas.

Em 2005, destaca-se a publicação da:

 Lei nº 5/05, de 9 de Julho, a Lei do Sistema de Pagamentos de Angola, em


conjunto com diplomas regulamentares publicados pelo BNA, para
implementação do Sistema de Pagamentos em Tempo Real (SPTR), que
tornou possível o serviço de transferências de fundos em tempo real;
 Lei nº 12/05, de 23 de Setembro, a Lei dos Valores Mobiliários e Decreto nº
9/05, de 18 de Março, que estabelece a Comissão do Mercado de Capitais
(CMC), que cria os pilares para o desenvolvimento do mercado de capitais
em Angola, em termos de definição do regulador e supervisor, de acordo
com os padrões aceites internacionalmente, que culminará na instituição da
Bolsa de Dívida Valores de Angola (BODIVA);
 Lei nº 13/05, de 30 de Setembro, a Lei das Instituições Financeiras, que
regula o processo de estabelecimento, exercício de actividade, supervisão
e saneamento das instituições financeiras.

Nos últimos anos, o sistema financeiro angolano cresceu em sofisticação e


robustez, sob a supervisão atenta dos reguladores, que têm introduzido mecanismos de
controlo e monitorização do sistema que visam regular e proteger a actividade financeira.
Hoje, o sistema é caracterizado por:

 O sector bancário, composto por 30 bancos autorizados, dos quais 3 são


bancos públicos, 8 são bancos privados com controlo accionista exercido
por bancos estrangeiros (com sede em Portugal, África do Sul, Inglaterra,
Rússia,China e Togo) e 19 são bancos privados nacionais, enquanto
existem 6 escritórios de representação de instituições financeiras bancárias
com sede no estrangeiro;
 O sector segurador angolano que é composto por 24 companhias de
seguros, 9 sociedades gestoras de fundos de pensões e 51 sociedades de
mediação e corretagem;
 O sector financeiro não bancário ligado à moeda e crédito que é composto
por 76 casas de câmbio, 1 sociedade locação financeira, 32 sociedades de
microcrédito, 18 sociedades de remessas de valores, 3 cooperativas de

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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

crédito, 2 sociedades prestadoras de serviços de pagamentos e 1 central de


informação de risco de crédito privada.

Desde o último trimestre de 2013, o BNA autorizou seis novos bancos a iniciar a
sua actividade no mercado nacional, nomeadamente, Standard Chartered Bank de Angola
(SCBA), o Banco de Poupança e Promoção Habitacional (BPPH), Banco Pungo Andongo
(BPAN), Banco de Investimento Rural (BIR), Banco Prestígio (BPG), Banco Yetu (YETU),
Credisul - Banco de Crédito do Sul (BCS), o Ecobank de Angola (ECO), o Banco Postal
(BPT) e o Banco da China Limitada - Sucursal em Luanda (BOCLB).

No último trimestre de 2014, o Banco de Poupança e Promoção Habitacional


(BPPH) foi extinto, no seguimento da entrada do seu accionista maioritário no capital do
Banco Económico (antigo Banco Espírito Santo Angola).

Por outro lado, os bancos angolanos aumentam esforços para internacionalização.


É de se salientar que a proximidade geográfica, económica e cultural tem bastante peso
na escolha dos destinos de internacionalização por parte das instituições bancárias. Pela
informação disponível, temos instituições associadas em expansão internacional, através
de filiais, sucursais, escritórios de representação ou participações, em especial nos
mercados vizinhos e noutros países de língua oficial portuguesa, nomeadamente Portugal,
Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil, Namíbia e África do Sul.

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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

3 – O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO

O sistema financeiro pode ser definido como o conjunto de instituições, regras,


instrumentos e serviços que possibilita a formação e rentabilização de poupanças, na forma
de recursos ou activos financeiros, para aplicação em financiamento para investimento e
consumo. Compreende, pois, o conjunto de instituições financeiras que asseguram,
essencialmente, a canalização da poupança para o investimento nos mercados financeiros,
através da compra e venda de produtos financeiros.

O sistema financeiro tem como finalidade primordial transferir os recursos em poder


dos poupadores (investidores) para o sector produtivo ou para o sector de consumo. Para
tal depende da existência de agentes económicos superavitários e de agentes económicos
deficitários na economia, que podem gastar ou consumir recursos (unidade de consumo)
ou podem sacrificar a satisfação de necessidades mediante a poupança (unidade de
poupança), que será canalizada para o investimento.

O sistema financeiro é constituído basicamente pelos mercados (onde vários


agentes realizam essa transferência mediante operações de compra, venda ou troca de
ativos financeiros), por instituições financeiras e pelos órgãos reguladores do sistema.

O sistema financeiro nacional está segmentado em cinco grandes mercados:

 Mercado monetário: é o segmento onde se concentram as operações para


controlo da oferta de moeda e das taxas de juros de curto prazo, de modo a
garantir a liquidez da economia. A liquidez deste mercado é regulada por
operações abertas, pelas autoridades monetárias, via colocação, recompra
e resgate de títulos de dívida pública de curto prazo. O Banco Nacional de
Angola actua neste mercado, implementando a Política Monetária.

 Mercado de crédito: é o segmento que atende às necessidades de crédito


de curto e médio prazos. Actuam neste mercado diversas instituições
financeiras que prestam serviços de intermediação de recursos de curto e
médio prazo para agentes deficitários que necessitam de recursos para
consumo ou investimento. O Banco Nacional de Angola é o órgão
responsável pelo controlo, supervisão e fiscalização deste mercado.

 Mercado de capitais: é o segmento que tem como objectivo canalizar


recursos de médio e longo prazo para agentes económicos produtivos
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

deficitários, através das operações de compra e de venda de títulos e


valores mobiliários, efectuadas entre empresas, investidores e
intermediários. A Comissão de Mercado de Capitais (CMC) é o órgão
responsável pelo controlo, supervisão e fiscalização deste mercado.

 Mercado cambial: é o segmento onde são negociadas a troca de moedas


estrangeiras por Kwanzas. O Banco Nacional de Angola é o responsável
pela gestão, fiscalização e controlo das operações de câmbio e da taxa de
câmbio, actuando através de sua Política Cambial.

 Mercado segurador: é o segmento que tem como objectivo a gestão de


riscos relativo a agentes económicos que procuram proteger-se
economicamente contra eventos imprevisíveis que tenham um impacto
negativo em relação aos seus interesses, através de um acordo financeiro,
estruturado no conceito do mutualismo e nas leis estatísticas da
probabilidade, onde se indemniza os segurados e seus beneficiários pela
ocorrência de determinados eventos ou por eventiais prejuizos. A Agência
Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG) é a autoridade
responsável pela regulação, supervisão, fiscalização e acompanhamento
deste mercado.

Fonte: ABANC – Associação Angolana de Bancos, Lisboa, 2014

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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

O quadro actual do sistema financeiro angolano, aprovado pela Lei n.º 12/15, de 17
de Junho, enquadra as instituições financeiras em dois tipos: as instituições financeiras
bancárias, que são os bancos em geral, e as instituições financeiras não bancárias.

Instituições sujeitas à jurisdição do Banco Nacional de Angola (BNA):

 Instituições Bancárias;
 Casas de Câmbio;
 Sociedades Cooperativas de Crédito;
 Sociedades de Cessão Financeira;
 Sociedades de Locação Financeira;
 Sociedades Mediadoras dos Mercados Monetário e de Câmbios;
 Sociedades de Microcrédito;
 Sociedades Prestadoras de Serviços de Pagamento;
 Sociedades Operadoras de Sistemas de Pagamentos, Compensação ou
Câmara de Compensação, nos termos da Lei do Sistema de Pagamentos
de Angola;
 Outras sociedades que sejam como tal qualificadas por lei.

Instituições sujeitas à jurisdição da Comissão do Mercado de Capitais (CMC):

 Sociedades Correctoras de Valores Mobiliários;


 Sociedades de Capital de Risco;
 Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários;
 Sociedades Gestoras de Participações Sociais (HOLDINGS);
 Sociedades de Iinvestiimento;
 Sociedades Gestoras de Patrimónios;
 Sociedades Gestoras de Fundos de Investimento;
 Sociedades Gestoras de Fundos de Titularização;
 Sociedades Gestoras de Investimento Imobiliário;
 Sociedades Operadoras de Sistemas ou Câmaras de Liquidação e
Compensação de Valores Mobiliários com observância da Lei do Sistema
de Pagamentos de Angola;
 Outras sociedades que sejam como tal qualificadas por lei.

Instituições sujeitas à jurisdição da Agência Angolana de Regulação e Supervisão


de Seguros (ARSEG):

13
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

 Sociedades Seguradoras e Resseguradoras;


 Fundos de Pensões e suas Sociedades Gestoras;
 Outras sociedades que sejam como tal qualificadas por lei.

O sistema bancário compreende trinta bancos autorizados a exercerem as suas


actividades em território nacional.4

1. Banco Angolano de Investimentos S.A.


2. Banco Angolano de Negócios e Comércio S.A.
3. Banco Comercial Angolano S.A.
4. Banco Caixa Geral Angola, S.A.
5. Banco Comercial do Huambo S.A.
6. Banco de Comércio e Indústria S.A
7. Banco de Desenvolvimento de Angola S.A.
8. Banco Económico S.A. (antigo Banco Espírito Santo Angola S.A.)
9. Banco de Fomento Angola S.A.
10. Banco BIC S.A.
11. BIR Banco de Investimento Rural, S.A.
12. Banco Kwanza Invest S.A.
13. Banco BAI Microfinanças S.A. (antigo Novo Banco S.A.)
14. Banco de Negócios Internacional S.A.
15. Banco Millenium Atlântico S.A.
16. Banco de Poupança e Crédito S.A.
17. Banco Regional do Keve S.A.
18. Banco Valor S.A.
19. Finibanco Angola S.A.
20. Standard Bank de Angola S.A
21. Banco Sol S.A.
22. Standard Chartered Bank Angola
23. Banco VTB África, S.A.
24. Banco de Crédito do Sul, S.A.
25. Banco Postal, S.A
26. Banco Pungo Andongo, S.A
27. Banco Prestígio, S.A
28. Banco Yetu, S.A.

4
BNA
14
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

29. ECO Ecobank, S.A.


30. Banco da China Limitada - Sucursal em Luanda, S.A.

O sistema bancário angolano é o terceiro maior da África Sub-sahariana, depois da


África do Sul e da Nigéria: 1.865 balcões e 18.918 funcionários no mercado doméstico. A
maioria das agências localiza-se em Luanda e nas província de Benguela, Huíla e Huambo.

Distribuição da Rede Bancária por Províncias e Municípios, 31 de Dezembro de 2015:

Fonte: ABANC – Associação Angolana de Bancos, Lisboa, 2014

15
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

4- O BANCO NACIONAL DE ANGOLA

4.1 – Competência do BNA


Para além da condução, execução, acompanhamento e controlo das políticas
monetária, financeira, cambial e de crédito no âmbito da política económica do Poder
Executivo, compete ainda ao Banco Nacional de Angola:5

 actuar como banqueiro único do Estado;


 aconselhar o Executivo nos domínios monetários, financeiro e cambial;
 participar com o Poder Executivo na definição, condução, execução,
acompanhamento e controlo a política cambial e respectivo mercado;
 agir, como intermediário, nas relações monetárias internacionais do Estado;
 velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional, assegurando, com
essa finalidade, a função de financiador de última instância;
 gerir as disponibilidades externas do país que lhe estejam cometidas, sem
prejuízo do disposto em Lei especial.
 participar na elaboração da programação financeira anual do Executivo, de
modo a compatibilizar a gestão das reservas cambiais e o crédito a conceder
pelo Banco Nacional de Angola com as necessidades de estabilização e
desenvolvimento da economia.

Compete, igualmente, ao Banco Nacional de Angola:

 supervisionar as instituições financeiras domicialiadas no país, assim como


zelar pela sua solvabilidade e liquidez e ainda abrir contas e aceitar
depósitos, segundo os termos e condições que o Conselho de
Administração venha a fixar;
 garantir e assegurar um sistema de informação, compilação e tratamento
das estatísticas monetárias, financeiras e cambiais e demais
documentação, nos domínios da sua actividade por forma a servir como
instrumento eficiente de coordenação, gestão e controlo;
 elaborar e manter actualizado o registo completo da dívida externa do País,
assim como efectuar a sua gestão;
 elaborar a balança de pagamentos externos do País..

5
Lei nº 16/10 de 17 de Julho
16
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Após uma revisão ao quadro regulamentar do sistema financeiro, o BNA introduziu


um quadro regulatório e prudencial mais sofisticado, de modo a estar em conformidade às
normas e recomendações internacionais.

A recente legislação e normativos publicados vêm robustecer as normas


prudenciais, a governação corporativa, o sistema de controlo interno e de gestão de riscos,
a prevenção de branqueamento de capitais e combate ao terrorismo e a harmonização do
regime contabilístico com as Normas Internacionais de Contabilidade e Normas
Internacionais de Relato Financeiro.

Este quadro regulamentar visa estabilizar, capacitar e robustecer o sistema


financeiro angolano face às transformações contínuas no mercado financeiro internacional,
segundo as melhores práticas internacionais (ver Capítulo 6- A GLOBALIZAÇÃO DO
SISTEMA FINANCEIRO).

4.2 – Metodologia de Supervisão


A Direcção de Supervisão das Instituições Financeiras (DSI), criada no início da
década de 1990, passou a adoptar, em 1993. uma estrutura orgânica dividida em três
departamentos técnicos. A saber: Acompanhamento Directo (DAD), Acompanhamento
Indirecto (DAI) e Consultadoria e Autorizações (DCA), tendo o suporte administrativo de
um secretariado. Assim, a (DSI), no âmbito da sua função de controlo do sistema financeiro,
combina na sua actuação as técnicas de inspecção no local ou “on site” e o monitoramento
à distância ou “off site”, em obediência ao 16.º princípio do Comité de Basileia para a
Supervisão Bancária.

A supervisão directa (inspecção no local) visa uma avaliação objectiva levada a


cabo na instituição financeira, por forma a determinar a sua situação económico-financeira,
o cumprimento das normas regulamentares e comprovar as informações prestadas ao
Banco Central. Por norma, o processo de inspecção compreende:

 Planeamento inicial que visa definir o escopo da inspecção em função do


perfil de risco da instituição, das preocupações levantadas pela análise “off
site” e outras, bem como o plano de actividades da área;
 O exame in loco que inclui a avaliação e a gestão de riscos, a verificação da
observância às leis e regulamentos, o exame às transacções e operações
bancárias, a avaliação da administração e outras áreas conforme o plano;
 A elaboração do relatório de inspecção com as constatações e
recomendações a observar.
17
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

A supervisão indirecta (análise à distância) é feita no Banco Central, com base nas
informações prestadas pelas instituições financeiras e visa:

 Analisar a performance económica e financeira das instituições com base


nas regras prudenciais e práticas bancárias internacionalmente
recomendáveis;
 Monitorar o cumprimento da regulamentação em vigor e identificar eventuais
discrepâncias relevantes que deverão posteriormente ser comunicadas à
supervisão directa para efeitos de investigação no local;
 Analisar o desenvolvimento e tendências do sistema financeiro nacional
como um todo, sendo um importante instrumento para a tomada de decisões
do Banco Central;
 Dispor de mecanismos de avaliação atempada sobre a situação das
instituições financeiras, por forma a permitir uma intervenção oportuna que
mitigue ou reduza os focos de risco antes que estes se tornem
incontroláveis;
 Classificar as instituições para promover uma salutar concorrência entre
elas e propiciar um estímulo ao aumento da eficiência e eficácia da
actividade bancária;
 Avaliar a capacidade e viabilidade de instituições entrarem para o sistema
financeiro.

4.3 - Sistema de Pagamentos de Angola


O Sistema de Pagamentos de Angola (SPA) é um conjunto estruturado de
instrumentos de pagamento, processos e subsistemas regulado pelo BNA, que visa
assegurar a circulação do dinheiro na economia nacional através de transferência de
fundos ou de dinheiro, cumprindo com a máxima de segurança, fiabilidade operacional,
eficiência e transparência estabelecidos na Lei do Sistema de Pagamentos de Angola, Lei
nº 05/2005, de 29 de Julho. O SPA é constituído por:

Três instrumentos de pagamentos escriturais:

 Cheques
 Transferências a Crédito (electronicamente ou por ordens de saque e
documentos de crédito)
 Cartões de Pagamento

Seis subsistemas de pagamentos:


18
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

 Sistema de Pagamentos em Tempo Real (SPTR)


 Sistema de Compensação de Valores (SCV)
 Sistema Multicaixa (MCX)
 Sistema de Transferências a Crédito (STC)
 Sistema de Compensação de cheques (SCC) – em definição
 Sistema de Débitos Directos (SDD) – em definição
 Um subsistema de liquidação de títulos
 Sistema de Gestão de Mercados de Activos (SIGMA)

Perspectiva-se para o sistema de pagamentos nacional a implementação integral


da Câmara de Compensação Automática de Angola, que inclui quatro subsistemas:

 Multicaixa (MCX)
 Sistema de Transferências a Crédito (STC)
 Débitos Directos (SDD)
 Telecompensação de Cheques (SCC)

Em 2012, entrou em funcionamento o Subsistema de Transferências a Crédito


(STC) para o processamento e compensação de transferências electrónicas a crédito de
valor inferior a 5 milhões de Kwanzas.

Estão em curso os seguintes projectos que contribuirão para a maior sofisticação


do SPA:

 Definição regulamentar e implementação do sistema para prestação de


serviços de pagamentos móveis.
 Inclusão do sistema de gestão de acções e dívida privada.
 Filiação à marcas de cartões de pagamento internacionais (VISA,
MASTERCARD, AMEX), incluindo a emissão e aceitação de pagamentos
com os mesmos.
 Promoção da massificação de pagamentos electrónicos com cartões de
pagamentos, como meio de aumentar o acesso a serviços financeiros e
bancarização e reduzir o peso do mercado informal na economia angolana.

19
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

5- O CRÉDITO E O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO

5.1 – Conceitos
Crédito é um termo que traduz confiança, e deriva da expressão “crer”, acreditar em
algo, ou alguém. O crédito, no sentindo financeiro, significa dispor recursos financeiros para
fazer frente a despesas ou investimentos, ou seja, financiar a compra de bens, sejam eles
materiais ou não.

O crédito bancário é uma operação pela qual uma entidade bancária disponibiliza
um determinado montante a um cliente, a pedido deste, que fica obrigado a liquidar o
mesmo em quantias e datas previamente acordadas, com os respetivos juros e comissões.

Independentemente da instituição e do tipo de empréstimo, estas são as principais


características do crédito bancário:

 Só pode ser realizado pelas instituições credenciadas pelo BNA;


 Pode ser concedido a empresas ou a particulares;
 Às instituições bancárias permite a obtenção de lucro;
 Aos clientes possibilita a liquidez necessária no momento em que precisa.

As restantes características do crédito bancário são específicas de cada produto,


com base em aspectos como a finalidade, o prazo, o preço, o montante, o risco e as
garantias.

No aspecto financeiro, o crédito teve seu início na Revolução Industrial, com o


aparecimento da classe operária, que usufruía de um emprego mais ou menos estável e
vivia do respectivo salário. A previsibilidade dos rendimentos do trabalho permitiu que os
trabalhadores pudessem ver antecipados sua remuneração, dando início à prática do
crédito. Em paralelo, o próprio contexto económico propiciou esta mudança. A contratação
de crédito popularizou-se mais tarde e de forma mais consolidada, colidindo com a cultura
de cada país.

As operações de crédito têm uma importância muito grande para a economia de um


país. Elas estimulam o consumo das pessoas e o investimento das empresas e,
consequentemente, impulsionam a actividade económica e a geração de empregos. Existe
uma clara relação entre abundância de crédito e desenvolvimento económico.

Isso ocorre por conta da transferência de recursos dos poupadores para os


consumidores ou produtores. Na engrenagem económica de um país, existem agentes

20
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

económicos (famílias e empresas) que num determinado momento precisam de recursos


financeiros para consumir ou produzir (agentes deficitários) e outros que possuem excesso
de recursos para suas necessidades actuais (agentes superavitários).

A complexidade das economias modernas dificulta a transferência de recursos


directamente entre esses agentes económicos. É nesse contexto que os bancos
desempenham papel fundamental na elevação do nível da actividade económica de um
país, por meio da oferta de crédito para as famílias e para os sectores produtivos.

Os bancos são os responsáveis por reunir a poupança da economia e alocá-la de


forma eficiente. Eles viabilizam o fluxo dos recursos dos agentes superavitários para os
deficitários, atendendo às necessidades de ambos e da economia como um todo.

Dessa forma, os agentes deficitários podem consumir e investir, usando os recursos


que os agentes superavitários possuem em excesso e estão poupando. Esse mecanismo
intensifica as trocas comerciais e acelera o crescimento económico.

Quando um banco concede um crédito, está transferindo temporariamente os


recursos dos poupadores, com a expectativa de receber esse valor integralmente, num
prazo determinado, adicionado de um preço remuneratório (juros). A cobrança dos juros
gera o lucro para o banco e serve também para compensar os riscos assumidos com
eventuais perdas por conta de incumprimentos.

As operações de crédito representam a principal aplicação de recursos captados


pelas instituições financeiras e também sua fonte de receita mais significativa. Existe uma
enorme variedade de modalidades de crédito disponíveis que se diferenciam em prazos,
taxas, formas de pagamento e garantias, com o limite sendo a criactividade do banco diante
das limitações impostas pelo BNA, que é o órgão responsável pelo controlo e normatização
desse mercado.

A oferta de crédito de um país, geralmente, é mensurada pela comparação entre o


saldo total das operações de crédito e o valor do PIB6 num determinado momento. Apesar
do sistema financeiro Angolano ser considerado um dos mais desenvolvidos da África Sub-
sahariana, em dezembro de 2016 o rácio “oferta de crédito / PIB” chegou próximo dos
25%7, o que pode ser considerado muito baixo, quando comparado com países de

6
PIB é a sigla para Produto Interno Bruto, e representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e
serviços finais produzidos no pais, durante um determinado período.
7
PIB 2016 = 89.63 billion USD. Fonte: Trading Economics, https://tradingeconomics.com/
Créditos concedidos em dez/2016 = 3.619,890 Mil Milhões de Kwanzas = 20,35 billion USD, Fonte: BNA
Estatísticas Monetárias, www.bna.ao

21
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

economia mais robusta, onde o valor total de recursos disponíveis para crédito supera, com
frequência, 100% do PIB. Isso ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, Japão e União
Europeia.

Considerando-se, ainda, que uma das principais actividade dos bancos é realizar
operações de crédito, justamente com o montante captado ou seja, os depósitos,
observamos no gráfico adiante que historicamente em Angola esta relação jamais
ultrapassou o limite próximo dos 70%, sendo que a oferta de crédito sofreu um declinio nos
anos 2016/2017.

Fonte: BNA - Estatísticas Monetárias, www.bna.ao

5.2 – Crédito e Desenvolvimento Económico


O maior volume de crédito disponível tende a impulsionar o crescimento do país por
duas variáveis que compõem o Produto Interno Bruto (PIB), o consumo e os investimentos
que, juntamente com os gastos do governo e o saldo comercial, representam o lado da
demanda do PIB.

Tendo em vista que parte do PIB é função do consumo das famílias, um maior
volume de crédito destinado às pessoas singulares, tenderá a elevar o poder de compra
da população, propiciando um impacto indirecto sobre o crescimento económico do país,
já que deverá incentivar o aumento dos gastos das famílias.

Simultaneamente, é de se esperar que, à medida que a economia fique mais


aquecida em função da elevação do poder de compra da população, haverá também um
aumento na oferta de produtos. Esta é estimulada por dois fatores: além do aumento do

22
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

consumo, o maior volume de crédito também deve acarretar um aumento nos


investimentos e, assim como o consumo, tenderá a impulsionar o PIB.

Vale lembrar também que o crescimento do PIB significa que outras variáveis
também podem ter melhorado, por exemplo, o emprego. À medida que empresários
passam a investir mais na produção, passa a haver também uma necessidade maior de
mão-de-obra, espaço físico ou mesmo maquinário. Note que à medida que aumenta o
número de pessoas empregadas na economia, estas também passarão a consumir mais
e, portanto, a incentivar ainda mais a produção.

Na Tabela adiante pode-se ver claramente uma expansão linear do crédito até o
ano 2015 e uma estagnação em 2016 e no presente ano corrente.

Repartição do Crédito por Ramo de Actividade Dez/2011 Dez/2012 Dez/2013 Dez/2014 Dez/2015 Dez/2016 Jul/2017
A - Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura. 35.231 74.348 81.403 131.540 172.842 220.397 200.913
B - Pescas 2.162 3.628 5.453 7.357 8.461 9.694 10.999
C - Indústria Extrativa 60.368 111.296 95.953 61.751 61.543 69.887 64.349
D - Indústria Transformadora 178.379 220.367 220.730 249.740 312.967 260.603 265.723
E - Prod. e Distrib.de Electricidade, de Gáz e de Àgua 4.914 2.044 2.527 6.340 18.097 26.959 28.518
F- Construção 171.524 268.589 288.442 350.659 421.275 436.545 444.745
G - Comércio por Grosso e a Retalho 365.211 451.675 498.799 573.302 727.753 854.841 813.539
H - Alojamento e Restauração (Restaur. e Similares) 15.304 34.654 45.049 57.612 68.481 82.847 80.224
I - Transportes, Armazenagem e Comunicações 83.472 74.249 82.519 58.682 52.843 72.415 72.618
J - Actividades Financeiras, Seguros e Fundos de Pensões 91.926 65.998 60.132 200.045 61.507 78.176 100.111
k - Activ. Imob.,Alugueres e Serv.Prest. as Empresas 319.700 285.452 321.595 422.673 498.447 505.950 575.259
M - Educação 5.697 8.684 9.005 8.771 9.954 18.859 12.926
N - Saúde e Acção Social 6.484 9.272 5.598 6.811 11.469 14.279 14.003
O - Outras Activ.de Serv. Colect., Sociais e Pessoais 349.851 481.933 653.688 384.775 517.603 425.779 376.357
P - Famílias Com Empregados Domésticos 400 3.282 6.115 2.053 4.321 719 604
Q - Organismos Internacionais e Outras Instituições Extra-Territoriais 49.124 2.348 476 665 398 394 393
Z - Particulares 362.168 483.823 566.143 682.734 645.338 541.459 486.676
Outros Valores Não Classificados 53.056 82.704 0 0 0 0 0
TOTAL 2.154.972 2.664.348 2.943.625 3.205.509 3.593.298 3.619.804 3.547.957
Saldos em fim do mês em milhões de Kwanzas

Fonte: BNA - Estatísticas Monetárias, www.bna.ao.

As posições doutrinárias adiante mencionadas foram encontradas no trabalho de


dissertação de Angélica Bachtold, apresentado como requisito para o grau de bacharel em
Ciências Económicas pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Centro de
Socioeconómico – CSE, em 2012. Diz a autora:

Para Chinelatto Neto (2007), “diante da relativa fragilidade do mercado de capitais


e de um sistema financeiro distintamente bancário, conclui-se que o sector bancário afecta
o desenvolvimento económico por meio da intermediação financeira através do crédito”:

E continua, “Existem duas fontes criadoras de moeda: o Governo ou Autoridade


Monetária e os Bancos Comerciais – ou, mais especificamente, as instituições que
recebem depósitos. O Governo é responsável pela emissão primária8 dos instrumentos
financeiros que são utilizados pelo público. Já os Bancos Comerciais “criam moeda”

8
Inclui toda a moeda emitida e os fundos da conta "Reservas Bancárias".
23
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

sempre que transformam os depósitos em empréstimos (crédito). O multiplicador bancário


faz com que certo volume inicial de emissão primária vire um montante muito superior de
moeda à disposição do público. O Banco Central é o responsável pela oferta de moeda,
mas os bancos comerciais também podem criar ou destruir moeda. Há criação de moeda
como por exemplo ao emprestar recursos para pessoas singulares e colectivas, através,
de um limite de crédito na própria conta corrente dos seus clientes, os bancos comerciais
estão criando moeda” (PAIVA e CUNHA, 2008, p. 244).

Deste modo, segue a autora em sua dissertação, “o desenvolvimento financeiro


atua como facilitador da concessão de crédito que, por sua vez, aumenta o nível de
investimentos e consumo, cujo resultado é aumento do nível de produção” (CHINELATTO
NETO, 2007, p. 2).

Por fim, citando Matos (2002) o trabalho afirma que o “desenvolvimento do sistema
financeiro se reflete na capacidade das instituições financeiras de um país ou região
colocarem à disposição dos agentes económicos serviços que facilitem e intensifiquem as
transações económicas destes”.

Portanto, como se viu, como os empréstimos feitos pelos bancos estão vindo de
uma poupança real que estaria apenas sendo transferida de um indivíduo para o outro, diz-
se que está havendo a criação de crédito real. O crédito real é a base da acumulação de
capital e do crescimento econômico.

5.3 – Constrangimentos na expansão do crédito


Como se viu nos capítulos anteriores uma das principais actividade dos bancos é
realizar operações de crédito com o montante captado e dessa forma eles podem
multiplicar a moeda em circulação. Veja o hipotético exemplo:

a) Um cidadão faz um depósito de 10.000 Kwanzas.


b) O homem da padaria vai ao banco e pega 10.000 Kwanzas emprestado
(aquele que o cidadão deixou no banco).
c) O padeiro que pegou esses 10.000 Kwanzas irá pagar o fornecedor de trigo.
d) O fornecedor de trigo vai pegar esses 10.000 Kwanzas e vai guardar esse
dinheiro no banco.
e) O ciclo começa novamente.

24
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

Como se pode notar, os bancos possuem o poder de gerar dinheiro para o mercado
(aumenta o volume dos meios de pagamentos9). Esse é o poder multiplicador da moeda e
por essa razão essas instituições podem ser chamadas de “instituições monetárias”.

É claro que existe um limitador, um controlador do poder multiplicador da moeda,


pois caso contrário os bancos poderiam fazer dinheiro infinitamente. Esse controlador é o
deposito compulsório definido pelo BNA sob a rubrica “reservas obrigatórias”10.

No trabalho de dissertação de Bruno Miguel Lopes Tamele, apresentado ao Instituto


Superior de Economia e Gestão, Lisboa, 2011, diz o autor que Bangake e Eggoh,
descrevem em sua obra “Further evidence on finance-growth causality: A panel data” o
estudo que fizeram sobre a relação causal e de co-integração entre o desenvolvimento
financeiro e o crescimento económico. Concluíram que existe uma forte relação a longo
prazo entre o desenvolvimento financeiro e o crescimento económico e que de facto as
políticas destinadas a melhorar o desenvolvimento financeiro podem promover o
crescimento económico, sugerindo que “para obter um crescimento económico sustentável
nos países em desenvolvimento, é desejável a realização de reformas financeiras,
especialmente a liberalização do sector financeiro”.

Na actual fase da economia angolana ao acesso ao crédito deve ser um catalisador


do desenvolvimento da economia. A actividade creditícia tem igualmente um papel
indispensável no suporte aos esforços em curso de diversificação da economia angolana,
funcionando como fornecedor de liquidez aos vários sectores.

Em 2013 o BNA - Banco Nacional de Angola realizou um estudo, com o apoio do


The Boston Consulting Group (BCG), com o objectivo de entender de forma detalhada as
razões e bloqueios que limitam a função do crédito na economia angolana. O resumo desse
estudo foi publicado num documento entitulado “Estudo do Desenvolvimento Equilibrado
da Função de Crédito na Economia Angolana”. Aquele documento traz o seguinte relato:

“Para melhor entender os desafios à actividade de crédito em Angola foram


identificados os temas críticos à concessão de crédito. Do lado da procura, o acesso
limitado ao sistema bancário e o baixo nível de educação financeira da população mostram
ser as razões fundamentais à não utilização de produtos de crédito. No que toca à oferta,
a capacidade e motivação dos bancos para concederem crédito, a falta de adequação à

9
Meios de pagamento correspondem ao total de moeda em poder do público e os depósitos à vista nos
bancos comerciais.
10
Actualmente o coeficiente de reservas obrigatórias a ser aplicado sobre os saldos diários dos depósitos é
de 30% (trinta por cento). Instrutivo N.º 04/2016, de 13 de Maio - BNA
25
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

procura e as limitações na informação disponível, que não permitem fundamentar as


decisões de concessão com uma correcta avaliação do risco, são os aspectos identificados
como mais críticos. Finalmente, existem também dificuldades relacionadas com o
enquadramento legal em Angola” (p. 6).

Na sequencia, vê-se que durante o estudo foi analisado um conjunto de 9 países


com melhores práticas em contextos particularmente relevantes para a realidade angolana
e, que permitiu, identificar as melhores práticas em 4 áreas fundamentais: “acesso ao
crédito, condições de financiamento, formação financeira e gestão de risco e do
incumprimento”

O documento ainda aponta que para implementação do programa,


necessariamente, teria que ser integrado por várias instituições do Executivo (Ministérios
da Economia, das Finanças e da Justiça), visando a resolução dos constrangimentos que
impedem o crescimento do crédito ao sector privado. Na sequencia de acções foi discutido
com os bancos comerciais no sentido de recolher a opinião dos mesmos para decidir sobre
a implementação ou não de um amplo programa de incentivo ao crédito à economia.

A resposta àquela consulta teve como resposta a dificuldade de constituição e


execução de garantias, a baixa sofisticação financeira e o fundeamento de longo prazo
como sendo as três principais razões apontadas pelos bancos comerciais como estando a
impedir um crescimento do crédito à economia.

Para ultrapassar os constrangimentos acima transcritos e desenvolver de forma


equilibrada a função do crédito na economia angolana o BNA instituiu e está
implementando um programa baseado em 6 iniciativas:

1) Potenciar o acesso ao sistema bancário


2) Garantir o acesso à formação financeira
3) Reforçar a capacidade e incentivos dos bancos para a concessão e
gestão de crédito
4) Fomentar a melhoria da oferta e condições de financiamento
5) Melhorar a informação disponível para a avaliação de risco
6) Assegurar um enquadramento legal positivo ao crédito

5.4 – Potencialização do acesso ao sistema bancário


A garantia de acesso ao sistema bancário é a premissa base para o desenvolvimento do
crédito numa economia e foi possível identificar alguns exemplos de medidas nos estudos

26
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

do BNA. O objectivo desta iniciativa é assegurar o acesso de todos ao sistema bancário


em geral e ao crédito em particular. As medidas a serem desenvolvidas no âmbito desta
iniciativa seriam as seguintes:

 Identificar entidade responsável pela dinamização do crédito agrícola:


identificar uma entidade que se responsabilize pela dinamização do crédito
agrícola ou avaliar a criação de uma agência dedicada ao crédito agrícola
que asseguraria a centralização da gestão das linhas de crédito à
agricultura;
 Promover criação de seguros agrícolas: Desenvolver mecanismos de
incentivo ao Seguro Agrícola, como por exemplo, a criação de parceiras
público-privadas com seguradoras, assegurando que desastres naturais são
cobertos por fundos do Governo;
 Promover o acesso ao crédito da indústria extractiva nacional: Desenvolver
um conjunto de instrumentos para promover a utilização do financiamento
no sistema bancário da indústria extractiva nacional, alavancando no
financiamento disponível na banca nacional, para rever o posicionamento
do sector nas parcerias internacionais;
 Promover uma saudável relação do Estado com a banca privada (em
concepção): Acelerar pagamentos do Estado e desenvolver um conjunto de
instrumentos para promover a utilização do financiamento no sistema
bancário de empresas do estado e parcerias público-privadas, substituindo
financiamento público por financiamento na banca;
 Fomentar o acesso ao sistema bancário (em implementação): Criar um
programa de fomento da utilização do sistema bancário através do
desenvolvimento de produtos simplificados (ex.: contas bancárias), mas
também de fomento de transacções através do sistema bancário (ex.:
pagamento de salários).

5.5 - Garantia do acesso à formação financeira


A formação financeira é um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável do
crédito, e existem alguns exemplos internacionais de sucesso. O objectivo desta iniciativa
é lançar medidas de formação adequadas a cada segmento para melhorar a sofisticação
da procura. As medidas seriam as seguintes:

 Criar incentivos para empresas com contabilidade organizada: Desenvolver


conjunto de incentivos para as empresas com contabilidade organizada,
27
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

garantindo benefícios a nível das condições de crédito, mas também a


outros níveis (fiscais, assessoria, etc.);
 Criar centros de empreendedorismo (já implementada): Criar centros de
formação e consultoria ao pequeno empreendedor, apoiando na geração de
ideias (incubadora), na formação em skills de gestão e na realização de
planos de negócio;
 Lançar um programa de formação financeira a empresas (em
implementação): Desenvolver e coordenar a implementação de um
programa de formação financeira para empresas e jovens empreendedores;
 Lançar um programa de formação financeira a particulares (já
implementada): Desenvolver e coordenar a implementação de um programa
de formação financeira, promovendo o trabalho conjunto de diferentes
“stakeholders” no desenvolvimento e distribuição de conteúdos, bem como
pela preparação de campanhas de comunicação pública.

5.6 - Reforço da capacidade dos bancos para a concessão e gestão de


crédito
É crítico garantir que exista capacidade dos bancos para conceder crédito, bem como
acautelar que os incentivos estão alinhados para tal, criando mecanismos que reduzam as
restrições e criem incentivos para a concessão e crédito. As medidas a serem
desenvolvidas no âmbito desta iniciativa seriam as seguintes:

 Criar instrumentos de crédito para maturidades de longo prazo: Facilitar a


gestão de risco de liquidez dos bancos, através da criação de linhas de
crédito orientadas para financiamento de longo prazo e desenvolver
incentivos a depósitos a longo prazo;
 Rever incentivos e mecanismos de poupança (em implementação):
Desenvolver incentivos à poupança (incluindo incentivos fiscais) e à criação
a depósitos a longo prazo, para facilitar a gestão do risco de liquidez dos
bancos;
 Potenciar mecanismos de financiamento alternativos (em implementação):
Disponibilizar títulos ou acesso a recursos financeiros de maturidade longa
para facilitar a gestão do risco de liquidez dos bancos, através do
desenvolvimento de mecanismos de financiamento de maiores maturidades
ligados a mercados financeiros e fundos de maturidade mais elevada (ex.:
criação de mercado de capitais);
 Optimizar processos de gestão de crédito no sistema bancário: Lançar um
programa de optimização dos processos de gestão de crédito no sistema

28
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

bancário, desde concessão, acompanhamento, recuperação até ao


contencioso, ponderando a criação de um programa de formação e
certificação financeira de analistas de crédito.

5.7 – Fomento da oferta e melhoria das condições de financiamento


É importante fomentar a melhoria da oferta e condições de crédito para facilitar o acesso
ao crédito. Países como o Brasil, África do Sul e Emirados criaram soluções apontadas a
resolver estes desafios. O objectivo desta iniciativa é dinamizar a utilização de crédito,
garantindo adequação das condições de financiamento aos diferentes segmentos. As
medidas a serem desenvolvidas no âmbito desta iniciativa são as seguintes:

 Criar linha jovem de crédito à habitação bonificado: Desenvolver um


conjunto de instrumentos para facilitar o acesso ao crédito à habitação junto
da banca e avaliar a criação de ferramentas de incentivo ao aluguer jovem;
 Introduzir limites nos “fees” de crédito: Introduzir limites aos encargos de
processamento e outras taxas cobradas por serviços de crédito,
incentivando a promoção de produtos de crédito mais acessíveis;
 Fomentar a maior participação de capitais próprios: Fomentar a maior
participação de capitais próprios nos pedidos de créditos de empresas,
através de um plano nacional que identifique fundos de participação de
capital social em projectos;
 Facilitar o acesso ao crédito das PMEs (já implementada): Desenvolver um
conjunto de instrumentos para facilitar o acesso ao financiamento junto da
banca, através de fundos de garantia, linhas de crédito a sectores
prioritários, entre outros;
 Criar fundo público de capital de risco (já implementada): Desenvolver um
fundo de capital de risco para estímulo ao desenvolvimento de projectos
competitivos em fase “early-stage”;
 Articular políticas monetárias com actividade de crédito (em concepção):
Continuar a promover o acompanhamento e articulação das politicas
monetárias com actividade de crédito na economia;
 Fomentar programas de microcrédito (já implementada): Melhorar o acesso
e as condições de financiamento dos microempresários, através da
continuação do fomento à criação de linhas de microcrédito.

29
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

5.8 – Melhoria da informação disponível para a avaliação de risco


Rever status do conteúdo da Central de Informação e Risco de Crédito (CIRC): Melhorar a
quantidade e qualidade da informação de crédito, através do desenvolvimento de um
programa de auditorias para controlar e homogeneizar a qualidade da informação
disponibilizada pelos bancos na CIRC, e criar um programa de formação para melhorar a
capacidade de utilização

 Potenciar a utilização da CIRC: Melhorar a qualidade da informação de


crédito, procurando garantir uma maior actualização da informação, através
de uma revisão da periodicidade de alimentação da base de dados por parte
dos bancos, e apoiar os bancos no aumento da automatização de processos
para alimentar a central;
 Criar central de registo de garantias: Criar uma central de registo de
garantias que permita ao credor apurar se o mutuário já utilizou o bem como
garantia em outra operação;
 Avaliar a criação de bureau de crédito: Criar um bureau complementar à
CIRC, alargando a informação além do sistema financeiro (outros credores,
tribunais, etc.);
 Criar bases de dados de informação empresarial (em implementação): Criar
uma central de registo de empresas com informação de registo estatal que
agregue informação do registo empresarial.

5.9 – Enquadramento legal positivo ao crédito


Assegurar os direitos legais dos credores e devedores é fundamental para atrair a
concessão de crédito. É um desafio enfrentado por países em desenvolvimento assim
como países desenvolvidos, havendo exemplos de práticas variadas para melhorar o
enquadramento legal. O objectivo desta iniciativa é mitigar os bloqueios legais à concessão
de crédito e à recuperação de crédito vencido, através das seguintes medidas:

 Criar incentivos à actualização da titularidade: Criar incentivos fiscais junto


dos proprietários com propriedades com titularidade desactualizada e que
não estão em processo de actualização;
 Criar canais rápidos para constituição de hipotecas: Promover a criação de
canais céleres para constituição de hipotecas (ex.: balcão único) e a
centralização do interface dos processos num único balcão, bem como o
reforço dos restantes intervenientes com pessoal dedicado aos processos
que dão entrada por este canal;
30
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

 Avaliar alternativas a hipotecas: Melhorar processos e legislação associada


à execução de garantias, avaliar a criação da figura do Penhor Financeiro e
criar processos céleres para execução de garantias;
 Melhorar processos e legislação associados à execução de garantias:
Avaliar oportunidades de melhoria nos processos e legislação para
execução de garantias;
 Rever processos de legalização de propriedade (em concepção): Promover
um programa de revisão dos processos associados à legalização de
propriedade, identificando os principais bloqueios e desenvolvendo
soluções e planos de acção para os ultrapassar;

31
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

6- A GLOBALIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO


Após os conflitos sociais do século XIX, bem como dos grandes conflitos mundiais,
presenciou-se o aparecimento do Estado Intervencionista com fortes matizes socialistas.
Entretanto, em virtude do superdimensionamento da máquina estatal, gerando déficies no
orçamento público aquele Estado Intervencionista cedeu lugar ao Estado Neoliberal.

Foi um movimento em vários países, inclusive Angola. Para citar, a Lei


Constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978 adotou um modelo nitidamente Socialista,
ao passo que, a Lei de Revisão n.º 23/92 confirmada e ampliada na Constituição da
República de Angola de 2010 marca a viragem para uma Constituição Económica
fundamentada numa economia de mercado na base dos princípios e valores da sã
concorrência, da moralidade e da ética, previstos e assegurados por lei, cabendo ao Estado
o papel regulador do desenvolvimento económico nacional.11

A recente implementação de políticas neoliberais ao nivel munidal incluiu o que se


chama de “liberalização financeira” que constitui um dos principais pilares das doutrinas
neoliberais.

A liberalização financeira internacional consiste no desmantelamento dos controlos


sobre o capital, de modo a aumentar a liberdade com que o capital financeiro cruza as
fronteiras entre os países.

A maior parte dos países em desenvolvimento foi forçada a desmantelar seus


controlos de capital no início da década de 1990, tanto por exigência de instituições como
o FMI, quanto por pressão dos países ricos, especialmente dos EUA, ou mesmo por
iniciativa interna, com a crescente influência dos movimentos nacionais neoliberais. O
desmantelamento dos controlos de capital expôs esses países à maior volatilidade e a
repetidas crises financeiras, entre outros efeitos negativos, com pouco ou nenhum ganho
perceptível em termos de crescimento económico. Na verdade, embora os neoliberais
afirmassem que a liberalização da conta de capital produziria melhor distribuição do capital
produtivo, foi o capital financeiro que se beneficiou dessa liberalização.

O capital financeiro não busca oportunidades para se tornar capital produtivo. Ele
busca oportunidades de desfrutar o que os economistas chamam de ganhos de
“arbitragem”, ou seja, de lucrar com diferenças entre as taxas de juros pagas em diferentes
países ou com diferenças de preços de ativos financeiros em mercados distintos. Esse

11
Artigo 89º da CRA
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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

capital nunca se torna investimento produtivo. Ele vem e vai de uma economia para outra,
deixando, no seu rastro, balanços de pagamentos devastados nos países que os
receberam.

Os países que, de facto, desmantelaram seus controlos de capital e abriram suas


contas de capital logo concluíram que enfrentariam mercados financeiros muito maiores do
que suas fronteiras nacionais. A liberalização da conta de capital é uma peça essencial do
que é popularmente conhecido como “globalização financeira”, tendência para unificar os
mercados financeiros em todo o mundo, criando forças que são capazes de derrotar os
Estados nacionais.

O pior efeito da liberalização financeira internacional é, certamente, a redução de


autonomia política dos Estados nacionais na arena doméstica: a abertura das contas de
capital que permite a livre entrada e saída do capital financeiro, sujeitando a nação à
vontade dos investidores financeiros – nacionais ou estrangeiros.

A liberdade de saída de capitais é complementada pela liberdade de entrada.


Quando um país aceita os fluxos de entrada de capital, sem qualquer restrição, está
contribuindo para enfraquecer a posição daqueles países que podem ser atingidos pela
fuga de capitais. Na verdade, como já foi mencionado, a liberdade de entrada também pode
debilitar as economias, causando uma sobrevalorização da taxa de câmbio, tornando as
importações mais competitivas do que a produção local e destruindo sectores económicos
inteiros, juntamente com os empregos que eles geraram.

Logo, a globalização financeira cria um dilema. Tendo permitido a constituição de


mercados que são literalmente maiores do que nações, o mundo agora tem que lidar com
o paradoxo de que uma regulamentação adequada é função de toda a sociedade e do
Estado. Para restringir as tendências mais destrutivas dos sistemas financeiros seria
logicamente necessário um Estado supra nacional. Obviamente, o problema é que esse
Estado não existe.

Na ausência de Estados supranacionais, o espaço reservado para a


regulamentação financeira na arena global foi ocupado por organizações que têm carácter
internacional, embora não tenham mandato político para isso. O candidato mais promissor
a cumprir o papel de regulador internacional foi o FMI – Fundo Monetário Internacional.

O Fundo tem tentado se projetar como um tipo de supervisor financeiro


internacional, responsável por avaliar o grau de estabilidade financeira dos países
membros, com a meta de prever e prevenir as crises financeiras, mas não será o regulador
financeiro internacional.

33
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

As autoridades reguladoras dos EUA, da Europa Ocidental e do Japão estão muito


pouco interessadas nos pontos de vista dos reguladores dos países de renda média, sem
falar daqueles realmente pobres. Essas autoridades podem estar dispostas a ouvir
algumas sugestões de países que possam ser “sistemicamente relevantes”, mas não
assumem o compromisso de aceitá-las, pois seus interesses podem ser (e provavelmente
são) diferentes dos interesses dos países em desenvolvimento.

Para manter a participação nos fóruns relevantes restrita aos países que realmente
contam, foi criado um canal informal por meio do Comitê da Basiléia de Supervisão
Bancária, mais conhecido como Comitê da Basiléia. Sediado pelo Banco de
Compensações Internacionais (BIS), esse Comitê da Basiléia tem formulado, desde os
anos 1980, as estratégias fundamentais que devem ser utilizadas nas regulamentações
prudenciais de bancos e conglomerados financeiros que incluam bancos.

Actualmente, há um conjunto quase inumerável de instituições que compartilham


os poderes de governança internacional. Além do Comitê da Basiléia de Supervisão
Bancária, patrocinado pelo Banco de Compensações Internacionais, os seguintes
organismos promulgam normas: FMI, Banco Mundial, Organização para a Cooperação e
o Desenvolvimento Económico (OCDE), Conselho Internacional de Padrões Contábeis,
Federação Internacional de Contadores, Comitê de Sistemas de Pagamentos e
Liquidações do BIS, Organização Internacional de Comissões de Valores, Força-Tarefa de
Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro e Associação Internacional de Supervisores
de Seguros.

O ponto central, no entanto, não são os organismos em si A questão importante são


as conseqüências de suas actuações de longo alcance, indo muito além da “mera” questão
da estabilidade financeira.

Consciente desses desafios, o BNA assumiu um papel de maior intervenção e


supervisão, procurando um reforço da sua reputação junto da comunidade bancária
internacional. Reflexo desse esforço são as iniciativas relativas à supervisão prudencial e
comportamental, a publicação de um conjunto de directivas, avisos e instrutivos referentes
à politica monetária e cambial, à actividade bancária, ao combate ao branquamento de
capitais e financiamento ao terrorismo, adopção plena das normas internacionais de
reporte contabilistico, bem como reforço da nova regulação fiscal sobre operações com o
exterior.

34
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Denomina-se “sistema financeiro” ou "banca" o conjunto de bancos que formam a


economia de um país determinado. Um banco é uma instituição financeira que, por um
lado, administra o dinheiro que seus clientes deixam em custódia, e por outro, utiliza este
para emprestar a outros indivíduos ou empresas aplicando-lhes juros.

A Constituição Económica de Angola enumera os princípios fundamentais sob os


quais se alicerça a organização económica, financeira e fiscal, incumbindo ao Estado o
papel de regulador da economia e coordenador do desenvolvimento económico nacional.

Nesta condição e para por em prática as políticas monetária, cambial, financeira,


dentre outras, que consituem a Política Económica Nacional, o Estado regulamenta todo o
Sistema Financeiro aravés de um arcabouço jurídico-legal e exerce o controlo e a
supervisão desse sistema, através do BNA – Banco Nacional de Angola.

O Banco Nacional de Angola, que começou a funcionar em 1976, exerceu até 1991
as funções de autoridade monetária e funções comerciais. Desde então, quando houve a
implementação de um sistema bancário de dois níveis, o BNA deixou de abrir contas de
depósitos que passou para a responsabilidade dos bancos comerciais e de investimento.

Após o estudo sobre a realidade normativa e regulamentar da estrutura do Sistema


Financeiro Angolano, constatámos que o sistema bancário está estruturado nas vertentes
e sub a jurisdição do BNA – Banco Nacional de Angola.

Além da relação jurídica (legislação) e técnica (BNA) existe uma relação política
entre o sistema bancário e o Estado através do Conselho Nacional de Estabilidade
Financeira, cuja competência encontra-se descrita no Nº 3, Art. 67º da Lei nº 12/2015, de
17 de Junho - Lei de Bases das Instituições Financeiras.

Existem dois tipos de operações bancárias, as passivas e as activas. As passivas,


também conhecidas na linguagem interna como as de captação, são aquelas através das
quais o banco recebe ou recolhe dinheiro directamente das pessoas e que se fazem reais
para o banco através dos depósitos bancários. Estes movimentos incluem as operações
que se realizam de modo tangível ou virtual em contas correntes, poupanças e aplicações
a longo prazo.

Em compensação, as operações activas ou de colocação permitem localizar esse


dinheiro que vem das passivas de novo em circulação na economia, através de

35
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

empréstimos à pessoas singulares ou colectivas como antes consignávamos. Nesta


categoria são incluídos tanto os denominados empréstimos pessoais como aqueles
dirigidos a um financiamento.

As actividades dos bancos modernos atingiram o plano digital. Com a inovação que
os caixas automáticos e os terminais de autoatendimento representaram nas últimas
décadas, os sistemas de banco eletrônico (home banking) tornaram-se recursos que
permitem aos usuários economizar tempo e evitar os atrasos decorrentes das múltiplas
tarefas dos funcionários destas instituições. Mediante as plataformas digitais, os clientes
de todo mundo podem administrar, trabalhar com suas contas, comprar moeda estrangeira,
renovar ou modificar suas operações em longo prazo, transferir fundos, pagar impostos e
serviços, e realizar variadas tarefas com um simples computador doméstico conectado à
internet.

Com a globalização da economia, os Estados e, consequentemente, o sistema


bancário nacional se inter-relacionam com diversos Organismos internacionais que actuam
também no sentido de regulamentar, não a actividade, mas sim a acção dos bancos no
plano internacional, com reflexos nos procedimentos interno.

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O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8.1 – Livos, documentos e revistas


ALMEIDA FILHO, Joel. O Preço de Venda no Comércio Retalhista Angolano, 2015. E-book
disponivel em https://independent.academia.edu/JoelAlmeidaFilho

ALMEIDA FILHO, Joel. Aulas de Direito Comercial, Fascículo V – Documentação


Comercial e Operações de Crédito, Fascículo VI - Operações Bancárias, Faculdade de
Direito da Universidade Lueji A’ Nkonde, Dundo, 2015.

ALMEIDA FILHO, Joel. Aulas de Direito Económico, Fascículo I – Introdução ao Direito


Económico, Fascículo III - A Constituição Económica Angolana e Fascículo IV - A
Administração Económica em Angola, Faculdade de Direito da Universidade Lueji A’
Nkonde, Dundo, 2015.

BACHTOLD, Angélica. O impacto do crédito na economia de Santa Catarina no período de


2004 a 2012, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC,
Florianópolis, 2012. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/ Acesso em 09/08/2017;

BANCO DE PORTUGUAL. Evolução da Economia dos PALOP 2015/2016. Lisboa, 2016;

CARVALHO, Fernando J. Cardim de, e KREGEL, Jan Allen. Quem controla o sistema
financeiro?, Ibase, Rio de Janeiro, 2007.

DILOLWA, C. Contribuição à História Económica de Angola, 2ª Ed., Editorial Nzila, Luanda,


2000;

MARQUES, W. Moeda e Instituições Financeiras. 2ª Ed., Publicações Dom Quixote,


Lisboa, 1998.

PAIVA, Carlos Águedo Nagel; CUNHA, André Moreira. Noções de Economia, Fundação
Alexandre de Gusmão, Brasília: 2008;

PERES, Jorge Leão. Caracterização do Sistema Financeiro Angolano, Revista do IFB –


Instituto de Formação Bancária, Inforbanca, Lisboa, 2009;

PEREIRA, Eugénia Chela Pontes. O Sistema Financeiro Angolano, Dissertação


apresentada no Instituto Superior de Gestão para obtenção do Grau de Mestre em Gestão
Financeira, Lisboa, 2015;

37
O SISTEMA FINANCEIRO ANGOLANO E UM OLHAR SOBRE A OFERTA DE CRÉDITO

ROQUE, Leandro. O sistema bancário e seus detalhes, Instituto Ludwig von Mises - Brasil,
Artigo disponivel em http://www.mises.org.br Acesso em 09/08/2017;

SILVA, Amilcar. Sistema Financeiro Angolano - Breve Apresentação, Abanc, Lisboa, 2014;

TAMELE, Bruno Miguel Lopes, O impacto da evolução do Sector Bancário no Crescimento


Económico, , Dissertação de Mestrado, Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior
de Economia e Gestão, Lisboa, 2011. Disponível em https://www.iseg.ulisboa.pt Acesso
em 09/08/2017.

8.2 - Legislação
ANGOLA. Constituição da República de Angola. 2010;

________. Lei n.º 12/2015, de 17 de Junho - Lei de Bases das Instituições Financeira;

________. Lei n.º 16/10, de 15 de Julho - Lei do Banco Nacional de Angola;

BNA. Instrutivo n.º 04/2016, de 13 de Maio - Política Monetária - Reservas Obrigatórias.

8.3 – Sites Consultados


ABANC Associação Angolana de Bancos. http://www.bancosdeangola.co.ao/ Acesso em
09/08/2017;

ABANC Associação Angolana de Bancos, http://www.abanc.ao/ Acesso em 09/08/2017

APB Associação Portuguesa de Bancos, http://www.apb.pt/ Acesso em 11/08/2017;

BNA Banco Nacional de Angola. http://www.bna.ao/ Acesso em Acesso em 09/08/2017;

INVESTEDUCAR, Cursos. Conceitos Gerais Mercado Financeiro - O que são instituições


financeiras?. https://www.investeducar.com.br/o-que-sao-instituicoes-financeiras/ Acesso
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SILVA, Rui Santos. Banca em Análise 2015. Deloitte Touche Tohmatsu Limited,
https://www2.deloitte.com/ao/pt/pages/financial-services/articles/Banca-em-Analise-
2015.html Acesso em 09/08/2017.

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