Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURSO DE ECONOMIA
Luanda, 2017.
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS
CURSO DE ECONOMIA
Luanda, 2017
iii
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho aos nossos pais por nos agraciarem com a ferramenta mestra da vida,
a educação.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por nos capacitar. Aos nossos pais e familiares que têm apoiado o processo de
formação académica. Aos nossos professores pela paciência, empenho e dedicação e aos
nossos colegas pelo apoio.
v
EPÍGRAFE
1
Marco Túlio Cícero, mais conhecido por Cícero, foi um político, escritor, filósofo e orador da República
Romana, que viveu entre 106 a.C. e 43 a.C.
vi
RESUMO
O presente estudo aborda sobre a questão da consolidação orçamental e enfatiza a sua análise
no período da crise orçamental angolana que teve começo em 2014. Em termos legais é o
poder executivo que tem a incumbência de dirigir o processo de consolidação orçamental. O
período do pós guerra civil foi marcadamente caracterizado pelo reconstrução nacional e
profunda evolução do sistema económico em Angola. Com a análise dos relatórios de
fundamentação do Orçamento Geral do Estado é possível verificar que desde que a crise
orçamental começou o executivo apenas aplicou de concreto medidas de consolidação
orçamental no ano de 2015. Com uma análise de regressão é possível detectar que no período
2002-2016, as variações das receitas fiscais, da despesa de capital e corrente explicam 92,83%
das variações do saldo orçamental e têm uma correlação de aproximadamente 96,35%.
ABSTRACT
The present study talks about fiscal consolidation and emphasize its analysis on the period of
fiscal crisis in Angola, which started in 2014. In legal terms, it’s the executive power which
have the obligation to lead the fiscal consolidation process. The period after the civil war was
characterized by the national reconstruction and a deep evolution on the political system of
Angola. With the analysis of the reports of government budget it’s possible to verify that
since the fiscal crisis started, the executive only applied concretely fiscal consolidation
policies in the year of 2015. With the regression analysis it’s possible do detect that in the
period 2002-2016, the variations of tax revenues, capital expenditures and current
expenditures explain 92,83% of the variations of budget balance and have a correlation close
to 96,35%.
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 Evolução das receitas fiscais, despesas de capital e despesa correntes e do Saldo
Global dos Orçamentos Gerais do Estado de Angola....................................................... 45
ÍNDICE DE GRÁFICOS
LISTA DE ABREVIATURAS
AOA - Kwanzas
I. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como tema a “Consolidação orçamental versus crise orçamental: a
influência das políticas de consolidação orçamental implementada em Angola no período de
2002-2016”. Os dados orçamentais foram analisados a partir de 2002, com vista a se criar
uma amostra de dados suficientemente larga para se demonstrar com certo rigor a influência
que a variação das receitas fiscais, despesas correntes e despesas de capital têm sobre o saldo
orçamental global de Angola. A ênfase do estudo das políticas implementadas no período de
2014 a 2016 deve-se ao facto de ao longo desse período a baixa do preço do petróleo ter
afectado a economia angolana de tal modo que reacendeu o fenómeno da crise orçamental.
O cenário económico de Angola não é dos melhores por causa da crise que se faz presente no
país. Esta crise faz com que Angola tenha uma classificação B1 2 de dívida pública pelas
agências de rating. (BAI, 2017-Q1, p. 11)
1.1.Problema de Pesquisa
O presente trabalho apresenta como problema “qual foi a influência que as políticas de
consolidação orçamental implementadas em Angola no período de 2002 a 2016 tiveram sobre
o défice orçamental?”
1.2.Hipótese de pesquisa
2
B1 trata-se de uma classificação da dívida pública. Algumas agências chamam informalmente de lixo,
indicando que o risco de inadimplência de Angola é alto.
13
1.3.Objectivo Geral
A presente pesquisa tem como objectivo geral “avaliar a influência que as políticas de
consolidação orçamental implementadas em Angola no período de 2002 a 2016 tiveram sobre
o défice orçamental”.
1.4.Objectivos específicos
1.5. Justificativa
É importante estudar esse tema porque permitirá fazer um paralelismo entre o momento
anterior e posterior ao défice orçamental verificado em Angola em 2014, bem como perceber
qual a influência que as políticas de consolidação orçamental implementadas no período de
2002 à 2016 tiveram sobre o saldo orçamental a fim de se entender se estas contribuíram para
o aumento ou diminuição do défice orçamental.
14
Quanto aos objectivos o trabalho aqui apresentado classifica-se como sendo uma pesquisa
exploratória. Ele tem como finalidade abordar a questão das políticas de consolidação
orçamental no contexto específico de Angola, com ênfase para o período de crise orçamental
que teve início em 2014.
Por outro lado, a pesquisa também é considerada como bibliográfica, pois, é desenvolvida
igualmente a partir de fontes secundárias, tal como livros, artigos científicos ou dissertações.
No que diz respeito ao método a pesquisa é considerada quantitativa e qualitativa.
Quantitativa porque são aplicados vários métodos estatísticos no tratamento de dados, como a
análise de regressão, bem como o teste t-student e teste F-Fisher. É qualitativa porque
analisa-se de forma qualitativa os dados orçamentais bem como a sua evolução ao longo do
período delimitado.
A avaliação dos dados será feita através da análise de regressão. Neste sentido, pretende-se
através da metodologia dos Mínimos Quadrados Ordinários perceber como a variação das
variáveis receitas fiscais, despesas de capital e despesas correntes influenciam no
comportamento do saldo orçamental.
15
No capítulo um é feita uma apresentação do tema, a sua importância. Está igualmente incluído
neste capítulo o problema, a hipótese, o objectivo geral, os objectivos específicos, a
justificativa, a metodologia e a descrição dos capítulos.
O segundo capítulo encarrega-se de fazer uma revisão de literatura sobre o tema em análise.
No terceiro capítulo pretende-se abordar a cerca dos aspectos legais relacionados à política de
consolidação orçamental.
O capítulo quatro faz uma contextualização económica da República de Angola desde o fim
da guerra civil (2002) até ao ano 2016.
Com o quinto capítulo pretende-se fazer uma análise do comportamento do saldo orçamental
antes da implementação das políticas de consolidação orçamental em 2015.
No sexto capítulo faz-se uma exposição das políticas de consolidação orçamental que foram
implementadas pelo executivo angolano desde que começou a crise orçamental, através de
uma análise dos relatórios de fundamentação do Orçamento Geral do Estado.
Por outro lado, temos as políticas orçamentais expansionistas resultantes do aumento dos
gastos e /ou diminuição da carga fiscal, levando a um aumento da procura agregada e
consequentemente a um aumento do rendimento disponível das famílias. Para Keynes, essas
são as políticas que induzem o défice orçamental.
Assim, para Keynes a política orçamental deve ser contra-cíclica: expansionista em períodos
de crise e conservadora em períodos de expansão. Tendo como objetivo subjugar o ciclo
económico e evitar acúmulo de desequilíbrios económicos sempre que a procura interna for
elevada, estando assim, preparado para períodos de recessão, em que o Estado é encarregue de
suportar a procura.
Desta forma, uma medida de consolidação orçamental provoca uma redução do défice
orçamental e tem consequências contraccionistas, o que provoca uma desaceleração
temporária da procura agregada e da actividade económica, quer directamente através da
diminuição do consumo ou do investimento público, quer indiretamente, devido ao menor
consumo por parte das famílias devido à diminuição do rendimento, em consequência da
subida dos impostos ou da redução das transferências públicas, ou seja, para Keynes é suposto
que os multiplicadores assumam valores positivos no curto prazo.
podem significar um menor aumento dos impostos futuros, uma vez que esta irá reduzir as
despesas públicas e, por conseguinte, o aumento do financiamento por meio do aumento dos
impostos, então o consumo vai reagir de forma positiva dado a expectativa de aumento dos
rendimentos permanentes.
3
Default significa o não cumprimento de uma cláusula de um contrato de empréstimo por parte do devedor, ou
seja, o termo é usado quando o devedor deixa de pagar corretamente sua dívida, porque não quer ou porque não
pode (DEFAULT,2017).
19
Segundo McDermott e Wescott (1996 apud VENES,2003) uma medida de consolidação pode
gerar efeitos expansionistas no curto prazo, devido a uma redução dos prémios sobre as taxas
de juro, estimulando assim o investimento. Para além disso, a ideia de uma redução futura
pode influenciar no aumento do investimento, e do valor de mercado da riqueza existente nas
carteiras de activos dos consumidores.
Blanchard (1990 apud AFONSO,2001) elabora um modelo no qual o impacto de uma medida
de consolidação orçamental no consumo dos particulares depende do rácio inicial da dívida
pública. Ele defende que um aumento dos impostos pode conduzir a dois efeitos: o primeiro
ocorre com a redução do consumo privado, pois verifica-se uma transferência do aumento da
carga fiscal da geração futura para a actual. No segundo efeito ele enuncia que estas políticas
podem ter resultados expansionistas por meio do efeito positivo da riqueza, que está ligado a
ideia de que aumentos dos impostos no presente evita maiores aumentos no futuro. Este
segundo efeito pode mais do que compensar o primeiro, quando o nível de dívida pública em
proporção do PIB é elevado.
Do lado da oferta, a consolidação orçamental pode ser expansionista consoante o seu impacto
nos custos unitários do trabalho e na competitividade internacional da economia.
Por outro lado, as políticas baseadas no aumento dos impostos normalmente resultam numa
efectivação dos custos unitários do trabalho, que resultam numa diminuição dos lucros, do
investimento e da competitividade a nível internacional.
Para o efeito, esta visão expansionista da medida de consolidação orçamental esteve assentada
em um conjunto de estudos, um deles é o trabalho realizado por Giavazzi e Pagano em 1990
que visava o estudo de dois países, Dinamarca e Irlanda, nos quais os governos seguiram
políticas orçamentais contraccionistas nos anos 1980 com vista a redução de dívida pública.
Os efeitos macroeconómicos resultantes foram expansionistas, o que permitiu dar
credibilidade à perspetiva da nova escola clássica.
Portanto, quando as economias operam sob uma taxa de câmbio fixa (aquelas em que o
Estado se propõe em defender a paridade da moeda) têm um multiplicador da despesa
estatisticamente diferente de zero.
Tal como referenciado por Martins (1976) a consolidação orçamental é um conceito que
identifica o resultado das medidas de política fiscal destinadas a reduzir o défice orçamental e
a dívida pública.
Do ponto de vista legal o Orçamento Geral do Estado (doravante designada OGE), constitui o
plano financeiro anual ou plurianual consolidado, do Estado que deve refletir os objetivos, as
metas e as ações contidas nos instrumentos de planeamento nacional”, conforme consagra o
nº 1 do artigo 104º da Constituição da República de Angola (doravante designada por CRA).
Com este artigo é possível identificar dois dos principais pontos que caracterizam este
instrumento, nomeadamente: a previsão e o período de execução. Pode-se, portanto, constatar
que os dados numéricos constantes no OGE são previsões futuras e referem-se a apenas um
ano-fiscal4.
4O ano fiscal ou exercício fiscal é um período de tempo onde se faz a demonstração de resultados contabilísticos de
uma empresa. Em Angola o ano fiscal coincide com o ano civil (365 dias).
22
serviços públicos e outros fins adoptados pela política económica do país, assim como a
arrecadação das receitas criadas em lei.
3.1.Princípios orçamentais
Na elaboração e controlo do OGE um conjunto de princípios devem ser seguidos, sendo que
estes apresentam-se como um conjunto de premissas e linhas norteadoras de acção com a
principal finalidade de disciplinar e orientar as acções do executivo.
O OGE reparte-se por um lado pelas despesas e por outro pelas receitas. Segundo Ricardo
Torres (2011), as despesas públicas referem-se a um conjunto de gastos realizados pelo
Estado, para efectivação das obras e para a prestação de serviços públicos. Enquanto que, para
Tathiane Piscitelli (2015) a despesa pública é um conjunto de gastos realizados pelo Estado,
cuja a finalidade é a de promover a realização das necessidades colectivas, sendo que estas
dependem das receitas arrecadadas pelo Estado num determinado período.
As despesas de capital são gastos efectuados principalmente para aquisição de bens de capital,
de consumo, de imóveis ou com obras e instalações, ou seja, que visem a formação bruta de
capital fixo.
As receitas são todos os fundos arrecadados de forma definitiva pelo Estado, com objectivo de
satisfazer as necessidades públicas. Estas podem ser caracterizadas como uma forma de
intervenção do Estado na economia, isto pode ocorrer numa situação em que o Estado regula
a quantidade da moeda no mercado, estabelecendo políticas expansionistas ou restritivas.
As receitas de capital são aquelas obtidas através das operações realizadas pelo Estado com o
exterior, isto é, relações de crédito. Contabilisticamente é considerado um efeito modificativo,
pois afecta tanto o activo (entrada e capital) quanto ao passivo (dívida)
24
Originárias –são aquelas que são auferidas pelo Estado através da exploração do seu
patrimônio, sem que este exerça o seu poder de soberania, ou seja, encontra-se a pé de
igualdade com os particulares, logo não existe nenhum poder de coerção ou de
imperatividade.
Derivadas - estas receitas são de caracter obrigatório e coercitivo, o que significa que
os particulares por meio do seu património são obrigados a suportar as receitas, sem
que haja qualquer negociação. Neste tipo de receita o Estado aparece revestido de ius
imperium.
2.Políticas - garante os direitos fundamentais dos cidadãos, ao impedir que sejam tributados
sem autorização dos seus legítimos representantes.
3 – Limite de Despesa:
Tal como se pode observar nas alíneas a), c), d) e g) do 3º artigo da Lei Que Aprova O
Orçamento Geral do Estado 2017, o Presidente da República de Angola, enquanto titular do
Poder executivo é autorizado a fixar o teto de despesas de investimento público, bem como
fazer ajustamentos orçamentais, que podem não só ter como objectivo minimizar os défices
orçamentais como também dinamizar a economia.
A proposta orçamental é elaborada com base num conjunto de instruções que são ditadas pelo
Presidente da República, sendo que ele detém a competência de submeter esta proposta
relativa ao ano subsequente à Assembleia nacional até 31 de Outubro ( nª 1 do artigo 24º da
Lei quadro do OGE). Esta, observa dois níveis de consolidação: o primeiro nível está a cargo
dos órgãos do executivo e governos municipais, o segundo está a cargo do órgão central,
responsável pelo OGE que enuncia as propostas apresentadas pelos órgãos de soberania que
fazem parte do Orçamento Geral do Estado, isto é, como consagra o nº 1 e 2 do 20º artigo da
Lei do quadro orçamental.
De acordo com Manuel da Rocha (2013) o período de 2002 à 2008 foi caracterizado por um
extraordinário crescimento do PIB, incitado por quatro factores: a paz, a estabilização
macroeconómica, as exportações de petróleo e os investimentos. A taxa média anual de
crescimento económico, entre 2002 à 2008, foi de aproximadamente 15,5%, - a mais elevada
de África e das mais elevadas do mundo. A paz determinou a intensidade do crescimento
económico e o sucesso da política económica. Isto pode ser verificado através das diferenças
entre as taxas tendenciais de crescimento do PIB: 2,21% entre 1980 e 2002 e 15,5% entre
2002 e 2008.
Foi a partir deste ano que a desinflação da economia se tornou efectiva, a redução dos défices
fiscais se tornou consistente e que ocorreram os mais elevados excedentes da balança de
transacção corrente do país. Evidentemente que a excelente situação económica mundial
contribuiu para as extraordinárias performances conseguidas no domínio financeiro e
económico interno, permitindo que as reformas de mercado se aprofundassem, como por
exemplo a estruturação de um sistema bancário forte e moderno.
Rocha (2013) afirma que os investimentos foram outra das fontes de crescimento do período.
O mesmo autor indica igualmente que o governo iniciou, a partir de 2003, um ambicioso
programa de reconstrução de infra-estruturas económicas e sociais que envolveu dispêndios
acumulados de 27,1 mil milhões de dólares correntes, equivalentes a uma média anual de 4,5
mil milhões entre 2003 e 2008. Estes investimentos foram financiados através das parcerias
com a China, o Brasil e Portugal. O Orçamento Geral do Estado, depois de 2003, passou a
apresentar excedentes anuais em torno dos 5% do PIB.
Os investimentos privados também foram decisivos para essa fase de crescimento económico.
O investimento petrolífero foi, evidentemente, o mais importante, tendo representado em
média, cerca de 85% do investimento total. Entretanto, o investimento privado não-petrolífero
também se acentuou, como resultado do clima de euforia, confiança e credibilidade que a
27
De acordo com Rocha (2013) a estabilização económica foi determinante para a criação de
um ambiente propício ao crescimento económico, acabando por ser um dos resultados mais
expressivos da governação angolana, internacionalmente reconhecido.
A política económica do governo durante este período foi aplicada através de programas
bienais, com início em 2003. Assim, até 2008, o governo implementou os Programas Gerais
do Governo de 2003-2004, 2005-2006 e 2007-2008.
Para Alves da Rocha (2013) as preocupações desses programas foram a consolidação da paz e
reconciliação nacional, e a criação das bases para transformar Angola num país próspero,
moderno, sem pobres e com um nível de desenvolvimento científico e técnico-cultural
elevado. Para tal, foram definidos domínios de intervenção prioritária: consolidação da
estabilidade macroeconómica, reorganização das redes de distribuição (energia, água,
comercialização), realização de uma política social adequada tendente a melhorar as
condições de vida da generalidade da população, lançamento de indústrias de apoio à
reconstrução nacional e expansão das cadeias produtivas, manutenção e exploração eficiente
das infra-estruturas.
orçamental (maior disciplina orçamental, combate à fraude fiscal, etc.) propiciaram com que a
fiscalidade não-petrolífera também tivesse aumentado, embora, em 2008, não representasse
mais do que 9,7% do PIB (40,8% para as de origem no petróleo).
Fonte: ROCHA, Manuel Alves da. Relatório económico de Angola 2016, Junho de 2017.
Os gráficos acima mostram duas fases distintas do crescimento económico em Angola depois
da paz: um até 2008, com episódios de variação anual do PIB notáveis, tendo o pico sido em
2005, com 15%. O segundo maior crescimento económico ocorreu em 2007 com um valor de
13,9%.
A política económica, na sua generalidade, foi passiva, aguardando que o preço do principal
produto de exportação retomasse os níveis de antes de 2008, o que acabou por acontecer em
2011 (USD 111,3), 2012 (111,7) e 2013 (108,8). Não obstante isso, à economia angolana
começaram a faltar outros fundamentos para que as taxas de crescimento do PIB do período
dourado fossem recuperadas. Isto mostra que deixou de ser suficiente – embora ainda seja
necessário – o preço e a produção de petróleo.
Fonte: ROCHA, Alves da. Relatório económico de Angola 2016, Junho de 2017.
Neste gráfico verifica-se que a principal transformação neste período foi a da perda do peso
relativo do sector petrolífero no PIB, de 44% em 2002 para 38% em 2016, mas que não foi
acompanhada nem pela agricultura, nem pela indústria transformadora. Os serviços acabaram
por aproveitar o espaço deixado pelo petróleo e gás, tornando-se hoje no mais importante
sector da economia nacional.
Além do mais, no ano de 2014 iniciou-se a “estratégia de médio prazo de reforma dos
subsídios aos combustíveis, em razão do elevado grau de subsidiação média da economia na
ordem dos 50% do PIB” (MINFIN, 2015, p. 16)
30
Entre 2014 e 2015, a receita tributária petrolífera registou uma queda de 36,1%, passando de
AOA 2.969,8 mil milhões para AOA 1.897,7 mil milhões (verificar o balanço macro-fiscal
do OGE 2017).
A queda da receita total, no mesmo período, foi significativa, mas menos acentuada na
ordem de 23,53%, tendo evoluindo de AOA 4.402,6 mil milhões para AOA 3.366,7 mil
milhões (verificar igualmente os dados do balanço macro-fiscal do OGE 2017).
No que toca ao ano de 2015, de acordo com o Ministério da Finanças (2015) a crise
petrolífera começada em 2014, que fez o preço do barril de crude cair de USD 100,7 para
USD 96,9, consequentemente fez com que o Governo angolano revisse em baixa as suas
estimativas de receitas, uma vez que é do sector petrolífero onde o Estado angolano arrecada
as suas maiores receitas. A estimativa feita inicialmente foi de USD 81,00 para o preço do
barril de crude. Entretanto, com o desenrolar do desequilíbrio macroeconómico causado pelo
choque petrolífero, o Estado foi obrigado a baixar as suas estimativas para USD 40,00 para o
31
preço do barril do petróleo. Com o preço do barril revisto em baixa, a previsão do PIB passou
de 13.480,90 mil milhões de kwanzas para 11. 534, 90 mil milhões de kwanzas.
No que diz respeito ao ano de 2016, segundo o Ministério das Finanças (2016) a evolução do
preço do petróleo no I Semestre do ano fiscal de 2016 teve um grande impacto no aumento da
taxa de inflação, por causa da depreciação da moeda nacional. A arrecadação de receitas foi
fortemente afectada pela evolução do preço do petróleo no período, que na média ficou em
torno dos USD 31,50 por barril, durante o I Trimestre de 2016.
Os fluxos globais do OGE 2016, apresentados no Quadro Macro-Fiscal do OGE 2017 (ver o
Quadro macro-fiscal 2017 em anexo), apontam, em valores absolutos, que o OGE 2016 tem
Receitas totais projectadas em cerca de AOA 3.484,6 mil milhões e Despesas totais fixadas
em cerca de AOA 4.484,6 mil milhões, correspondendo, respectivamente, a 20,6% e 26,6%
do PIB. Com efeito, em valor absoluto, registou-se um Défice Global de AOA 1 bilhão em
2016, ou seja, cerca de -5,9% do PIB.
32
Depois de uma análise das políticas fiscais apresentadas pelos OGE 2002-2016, apresentam-
se abaixo parte dos principais aspectos que marcaram a implementação das medidas de
políticas orçamentais nos respectivos anos.
5
Atenda-se ao facto de dado as fontes dos dados numéricos acima e do gráfico serem diferentes há alguma
diferença nos valores absolutos e percentuais apontados.
6
Dados actualizados do OGE 2004
7
Dados actualizados do OGE 2004
33
Em 2004 deu-se continuidade às políticas fiscais estabelecidas em 2003. Ressalta-se que foi
em 2004 o país já não tinha défice, mas sim um superavit de AOA 17.800.000.000,00. Para o
ano de 2005, o Orçamento Geral do Estado previu uma política orçamental que visava
privilegiar o financiamento das acções tendentes à realização das principais funções que se
reconhecem ao Estado. Para o efeito, pretendia-se a arrecadação máxima de receitas fiscais
com base no alargamento da base tributária, onde possível, mas evitando-se a elevação da
carga impositiva. O recurso ao endividamento interno e externo deveria ser consistente com o
objectivo de garantir a estabilização económica e desenvolvimento sustentável. O
endividamento interno seria feito, fundamentalmente, por emissão de dívida, contrariando a
tendência de anos anteriores em que se acumularam volumes significativos de atrasados que
têm vindo a ser titulados.
A afectação de verbas deveria ser feita tendo em atenção uma abordagem de orçamento de
desempenho em que se identificam programas, projectos e actividades para realizar os
objectivos estabelecidos no Programa do Governo, estabelecendo-se, para aqueles, metas
concretas. Com isso, procurava-se criar as condições para proceder-se à avaliação dos
resultados em termos de produto e impacto da despesa realizada, na perspectiva de melhorar a
eficácia da despesa pública. No ano de 2005 o superavit foi de AOA 226 200 000 000,00.
Por forma a racionalizar-se as despesas administrativas, cujo peso era significativo, previa-se
a implementação, tanto quanto possível, de normas de gastos para a afectação de verbas para
as despesas de funcionamento dos diversos órgãos do governo a todos os níveis.
34
Em 2006, de acordo com OGE 2008 o saldo global foi de AOA 396 700 000 000,00. Neste ano
deu-se continuidade à realização dos objectivos pretendidos em 2005.
Para o ano de 2009 e 2010, a Política Orçamental do Governo pretendia ter como principais
eixos a Sustentabilidade da despesa pública, Racionalização da despesa pública, Melhoria da
eficiência do sector público e da eficácia da despesa pública e Melhoria da arrecadação fiscal.
Em 2011, pretendia-se ter como prioridade o melhor equilíbrio e maior controlo das contas do
governo, com vista à recuperação da capacidade de investimento do Estado. Para tanto,
algumas das medidas de maior prioridade seriam: (i) a regulamentação dos subsídios às
instituições de utilidade pública, (ii) a implementação das rotinas para o processo de
fiscalização orçamental, financeira, patrimonial e operacional da Administração do Estado e
(iii) para a elaboração da Conta Geral do Estado e a continuidade das acções de
desconcentração do processo de programação financeira para as unidades provinciais e
municipais.
35
No ano de 2012 a política orçamental teve como foco a publicação da Lei n.º 15/10, de 14 de
Julho (Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado), revogando a Lei n.º 9/97, de 17 de
Outubro, sendo que, esta dá ênfase ao reforço do compromisso do Estado com as boas
práticas de gestão fiscal, garantindo a estabilidade e o crescimento sustentável da economia.
No ano de 2015 a gestão coordenada das políticas fiscais foi fortemente influenciada pelas
perspectivas pessimistas de desenvolvimento realizadas internamente e a nível do mercado
internacional, pelo curso antagónico entre as taxas de inflação e a taxa de câmbio de
referência do kwanza face ao dólar, bem como pela queda do preço do petróleo. Deste modo,
a política orçamental do corrente ano procurou adoptar um conjunto de medidas de
36
Tendo em conta o défice fiscal estimado para 2016, o efeito das pressões conjunturais
identificadas para o cenário fiscal, a moderação da actividade económica – em particular o
enfraquecimento da confiança dos mercados e dos agentes económicos – e a situação
estrutural deficitária da posição fiscal não petrolífera, não corrigida do ciclo económico, que
precisava de ser controlada a favor da dinâmica da dívida, a política fiscal engendrou um
esforço de consolidação fiscal, em sede do exercício financeiro 2016. Neste contexto,
concorreram um conjunto de medidas de política orçamental de reforço da optimização da
receita e de compressão da despesa pública.
37
Em 2002 o défice registado foi de AOA 35 216 122 676,43. Com o país em guerra civil e a
estrutura económica desmantelada, a divida publica cresceu de forma descontrolada chegando
a atingir 104,5% o PIB.
2º Défice: 2009
A Crise financeira internacional entre 2008 e 2009 levou ao colapso do preço, a nível
internacional, do barril de petróleo, sendo esta a base do défice orçamental da economia
angolana no período de 2009 com a quebra das receitas orçamentais o saldo orçamental global
sofreu uma deterioração acentuada excedente de 8,9% do PIB em 2008 para um défice de
7,4% em 2009. Neste ano as despesas excederam as receitas em 515,5 mil milhões AOA.
38
De acordo com o balanço macro-fiscal do OGE 2017 em 2014 teve-se receitas de AOA
4.402,6 mil milhões e se teve despesas totais fixadas em AOA 5.221,4 mil milhões, do que
resulta um deficit global de AOA 818,7 mil milhões equivalente a 6,6% do PIB.
Quanto aos impostos a balança fiscal macroeconómica do OGE 2017 (MINFIN, 2017, p. 49)
apresenta um montante de 4.098,0 mil milhões de kwanzas como arrecadação de impostos
petrolíferos e não petrolíferos. Houve uma diminuição de aproximadamente 25,77% de
arrecadação de imposto de 2013 para 2014, tal como se pode ver no Balanço Macro-Fiscal
2013-2017 (p. 49), do relatório de fundamentação do OGE 2017. Tendo os impostos
petrolíferos saído de AKZ 3.629,8 mil milhões em 2013, para AKZ 2.969,8 mil milhões em
2014 (devido à diminuição do preço do barril do petróleo), e os impostos não petrolíferos
saído de 972,2 mil milhões de kwanzas para 1.128,2 mil milhões de kwanzas em 2014. Ou
seja, os impostos petrolíferos reduziram 18,18% e os não petrolíferos8 aumentaram em
16,04%.
No que diz respeito às despesas correntes, com excepção do item “subsídios” que diminuiu de
valor, o restante das despesas registou um aumento, tendo isto contribuído para o surgimento
do défice fiscal.
8
Impostos não petrolíferos = Imp. s/ rend., lucros e ganhos de capital + Imp. s/ propriedade + Imp. s/ Bens e
serviços + Imp. s/ transações e Comércio Internacional + Outros Impostos.
40
O executivo, pelo menos no que toque à diminuição das despesas do governo com vista a
aumentar o saldo orçamental não aplicou nenhuma medida de consolidação orçamental, tendo
se verificado, pelo contrário, um aumento das despesas correntes, cuja redução de seu
crescimento é recomendada como medida de consolidação orçamental. Esse aumento das
despesas públicas foi consequência
A implementação do PERT, em 2014, foi norteada pelos objectivos que abaixo se identificam:
9
Projecto do Executivo para Reforma Tributária
41
De acordo com os dados apresentados no OGE 2014, não houve reduções nas despesas, mas
sim um aumento nelas na ordem de 8,41%. No que diz respeito aos impostos houve uma
diminuição de aproximadamente 25,77% em comparação a 2013. O défice orçamental de
2014 foi de 818,7 mil milhões de kwanzas. O total de receitas foi de 4.402,6 mil milhões
kwanzas. O total de despesas foi de 5.221,4 mil milhões de kwanzas.
De acordo com o Ministério das Finanças (2015) a política orçamental neste ano, visou o
alcance dos objectivos preconizados no Plano Nacional de Desenvolvimento.
De acordo com o Ministério das Finanças (2015) as políticas ligadas às despesas orçamentais
visavam racionalizar e melhorar a qualidade da despesa, com a adopção de medidas
específicas, constantes no Relatório de fundamentação do OGE 2015, na página 22.
De acordo com o Ministério das Finanças (2015), desde o princípio de 2014, o preço do barril
de petróleo caiu mais de 50%. O preço reduziu de USD 111,97, para um preço médio de USD
48,47, em Janeiro de 2015.
Segundo a mesma instituição (2015) as receitas totais foram de AOA 3.366,7 mil milhões de
kwanzas e as despesas totais foram de AOA 3.773,7 mil milhões, o que resultou em um défice
orçamental de AOA 407,0 mil milhões, equivalente a -3,3% do PIB.
No que toca às medidas de gestão orçamental implementadas para fazer face à queda do preço
do barril do petróleo de acordo com o Ministério das Finanças (2015), a flexibilização da
despesa centrou-se na redução da despesa total, tendo passado de AOA 5.221,4 mil milhões
para AOA 3.773,7 mil milhões, de 2014 para 2015. A despesa corrente caiu de AOA 3.665,9
mil milhões para AOA 3.037,5 mil milhões, correspondendo a uma redução percentual de
17,14%.
O total de receitas em 2015 foi de 3.366,7 mil milhões de kwanzas. O total de despesas foi de
3.773,7 mil milhões de kwanzas. O saldo global deste mesmo ano foi de -407,0 mil milhões
43
de kwanzas. Pode-se notar que apesar dos esforços enveredados no sentido de reduzir as
despesas correntes e a continuidade da melhoria no processo de arrecadação de impostos não
resultaram em uma eliminação do défice orçamental, mas apenas uma diminuição em 50,29%
( de AOA -818,7 bilhões, em 2014, para AOA -407 bilhões em 2015).
As Receitas totais deste ano foram de AOA 3.484,6 mil milhões, as despesas totais foram
estimadas em AOA 4.484,6 mil milhões, o que resultou em um défice fiscal de AOA 1.000,0
mil milhões, equivalente a -5,9% do PIB.
De acordo com o Ministério das Finanças o aumento do défice de 407,0 bilhões de kwanzas
em 2015 para um bilhão de kwanzas “é consistente com a necessidade de reforço do
crescimento” (2016, p. 30).
O principal objectivo das políticas orçamentais neste ano foi de “devolver o crescimento do
PIB para níveis mais robustos, não obstante a assunção de um défice agravado” (MINFIN,
2016, p. 30).
As receitas totais em 2016 foram de 3.484,6 mil milhões de kwanzas. A despesa global foi de
4.484,6 mil milhões de kwanzas. A necessidade de financiamento foi de um bilhão de
kwanzas.
Houve um aumento do défice orçamental em 2016, por causa das políticas orçamentais
expansionistas aplicadas neste ano fiscal.
11
Dados do Balanço Macro-fiscal de 2017.
44
é um dos determinantes do volume das receitas arrecadadas pelo Estado do sector petrolífero
quanto pela extensão do sector informal. Notamos também que vai levar muito tempo até que
o Estado angolano deixe de depender maioritariamente das receitas fiscais petrolíferas e passe
a depender das receitas fiscais não petrolíferas. Logo, as receitas fiscais desde 2014, conforme
se pode notar no OGE de 2017 (MINFIN, 2017, p. 49), foram decrescendo, mostrando como a
economia angolana ainda é muito influenciada pela volatilidade do preço do petróleo e sua
produção e pelo nível da taxa de câmbio.
As despesas, por outro lado, foram crescendo em vista da necessidade de se cumprir as metas
delineadas nos orçamentos de 2014 e 2015. O governo angolano pretendia manter os gastos
públicos em níveis que não influenciassem o aumento da necessidade de financiamento e,
consequentemente, o aumento da dívida pública. Entretanto, a necessidade de se cumprir os
programas de fornecimentos de serviços públicos fez com que se gastasse mais do que o
previsto nos orçamentos iniciais. Tais gastos não só contribuem para o aumento do défice
orçamental como também agravam o nível de dívida pública e aumentam o pagamento dos
juros da dívida pública.
Os custos sociais do aumento do défice orçamental a partir de 2014 são evidentes. O facto de
as receitas fiscais ainda estarem muito dependentes do sector petrolífero não obstante o PIB
não petrolífero ter vindo a crescer mais do que o PIB petrolífero indica que ainda há muitas
empresas no sector não petrolífero que não pagam impostos, causando enormes perdas ao
Estado angolano (FMI, 2017, p.31). O aumento das despesas públicas combinado com um
reduzido volume de receitas fiscais implica as consequências acima mencionadas e
compromete as gerações futuras transferindo os encargos actuais com a dívida pública – o
aumento das despesas públicas em um nível superior ao das receitas públicas compromete a
sustentabilidade das contas públicas e mostra falta de disciplina fiscal quer no curto quer no
médio e longo prazos (MINFIN, 2015b, 19).
45
Quadro 1 Evolução das receitas fiscais, despesas de capital e despesa correntes e do Saldo Global dos
Orçamentos Gerais do Estado de Angola
Ano Variação do Saldo global Variação da Receita fiscal Variação da Despesa corrente Variação da Despesa de capital
2003 -72 602 108 982,40 193 266 815 120,62 -152 774 801 487,19 42 547 144 184,63
2004 90 400 000 000,00 215 300 000 000,00 479 600 000 000,00 -3 400 000 000,00
2005 116 900 000 000,00 453 000 000 000,00 206 400 000 000,00 61 400 000 000,00
2006 262 000 000 000,00 539 200 000 000,00 127 400 000 000,00 301 300 000 000,00
2007 128 400 000 000,00 463 300 000 000,00 215 800 000 000,00 95 300 000 000,00
2008 367 500 000 000,00 1 017 400 000 000,00 693 000 000 000,00 361 300 000 000,00
2009 -1 408 100 000 000,00 -1 366 500 000 000,00 -141 100 000 000,00 -149 300 000 000,00
2010 1 031 500 000 000,00 1 390 800 000 000,00 426 100 000 000,00 -10 000 000 000,00
2011 484 900 000 000,00 1 433 200 000 000,00 882 200 000 000,00 113 000 000 000,00
2012 -276 300 000 000,00 298 200 000 000,00 256 000 000 000,00 298 500 000 000,00
2013 -692 300 000 000,00 -223 900 000 000,00 252 900 000 000,00 234 300 000 000,00
2014 -851 000 000 000,00 -504 000 000 000,00 228 600 000 000,00 176 300 000 000,00
2015 411 700 000 000,00 -1 056 000 000 000,00 -628 400 000 000,00 -819 200 000 000,00
2016 -593 000 000 000,00 50 000 000 000,00 486 000 000 000,00 224 900 000 000,00
Fonte: Própria. Dados retirados dos OGE 2017, 2016, 2014, 2013, 2012, 2011, 2010, 2008, 2007, 2006 e 2004.
Estatística de regressão
R múltiplo 96,35%
R-Quadrado 92,83%
R-quadrado ajustado 0,906760261
Erro padrão 1,94208E+11
Observações 14
Quadro 3 ANOVA
gl SQ MQ F F de significação
Regressão 3 4,88153E+24 1,62718E+24 43,14184345 4,98187E-06
Resíduo 10 3,77169E+23 3,77169E+22
Total 13 5,2587E+24
De acordo com Mukaka (2009) o coeficiente de correlação de 96,35% significa que existe
uma correlação positiva elevada12 entre o saldo orçamental, as receitas fiscais, a despesa de
capital e as despesas correntes.
12
Na sua forma original, de acordo com Mukaka (2008) “High positive”
47
Orçamental diminuirá em um valor médio com este montante, que provém da contabilização
das outras rúbricas do balanço macro-fiscal.
Pode-se verificar que considerando inalteráveis os valores das receitas, da despesa de capital e
da despesa corrente, por cada aumento de um kwanza de imposto arrecadado o saldo
Orçamental aumenta AOA 0,9974, por outro lado, considerando os impostos, as receitas e as
despesas correntes constantes, por cada aumento unitário nas despesas de capital o Saldo
Orçamental diminui em AOA 1,19. Partindo do pressuposto de que os impostos, as receitas e
as despesas de capital não se alteram por cada aumento nas despesas correntes o Saldo
Orçamental diminui em AOA 0,58.
Olhando os efeitos de forma individual de cada uma das variáveis acima mencionadas, de
acordo com o teste t-student, verifica-se que as variáveis despesa de capital e despesa corrente
têm um impacto negativo, com efeito significativo. O parâmetro amostral do intercepto não
têm efeito significativo, enquanto que o coeficiente angular da variável receita fiscal tem
efeito significativo.
Com os coeficientes pode-se verificar que a variável com maior influência sobre o Saldo
Orçamental no período 2002-2016, foi a despesa de capital. A receita fiscal foi a segunda com
maior grau de influência sobe o Saldo Orçamental.
Desta feita pode-se concluir, a partir da análise de regressão, que no período 2002-2016, as
políticas de consolidação orçamental implementadas por intermédio de variações nas despesas
de capital e correntes, bem como nas receitas fiscais, tiveram uma influência positiva sobre o
défice orçamental. Pode-se fazer essa conclusão a partir da variação das observações das
receitas fiscais e despesas de capital e corrente ao longo desse período. A correlação foi de
13
Este número está em notação científica. Por compreensão, escreve-se 0,00000498187.
48
92,83%, o que implica dizer que as variações destas rúbricas tiveram uma correlação positiva
forte com as variações do saldo orçamental neste período.
O período em que o Estado teve de se centrar mais na consolidação orçamental foi o de 2014-
2016, por causa do começo da crise económica.
49
VIII. CONCLUSÃO
Quanto ao contexto económico do período 2002-2016 com base nos dados analisados
pudemos constatar que a economia angolana não apresentou um comportamento constante ao
longo de todo o período analisado, pois foram vários os aspectos que contribuíram para que
num primeiro momento apresentasse um crescimento acelerado e um posterior ritmo lento.
O primeiro momento teve início com a conquista da paz e prolongou-se até aos finais de
2008, sendo considerado por muitos como sendo uma das melhores fases que a economia
angolana vivenciou. Assim, este período foi marcado com episódios de variações anuais
positivas do PIB, tendo como destaque os anos de 2005 com 15% e 2007 com 13,9%.
Posteriormente, a economia começa a enfraquecer pelo facto de ter ocorrido a queda do preço
do barril de petróleo. Dado que, este foi durante muito tempo o principal responsável pelo
crescimento económico, a economia viu-se fragilizada diante de tal situação.
No ano de 2016 adoptou-se uma política orçamental expansionista, por isso o défice
50
ALMEIDA, V.; CASTRO, G.; FÉLIX, R.; MARIA, J. Política orçamental numa pequena
economia da área do euro, Boletim Económico, Primavera 2011, Banco de Portugal.
ANGOLA, República de. Lei Quadro Do Orçamento Geral Do Estado – Lei 9/97 de Outubro.
CASTRO, Conceição & NUNES, Pedro. Os efeitos não Keynesianos da política fiscal:
consolidações fiscais expansionistas ou contraccionistas? - Estudo de caso Portugal. Revista
Enfoques, Vol. VII, Nº 11, 2009.
GIL, António Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 6ª. Ed. São Paulo: Editora Atlas
S.A 2008.
GUJARATI, Damodar N.; PORTER, Dawn C. Econometria Básica. 5. ed. Porto Alegre:
AMGH Editora Ltda., 2011.
MARTINS, Guilherme Waldemar Goulão dos Reis de Oliveira. Consolidação fiscal e política
financeira, FD, 2011.
MASSO, Fabiano Del. Direito económico esquematizado. 2º ed. São Paulo: Método, 2012.
53
PINTO, Tânia Filipa Ferreira. Efeitos não Keynesianos da política orçamental: do entusiasmo
ao ceticismo, FEP, 2014.
ROCHA, Alves da. Relatório económico de Angola 2016. Universidade Católica de Angola –
Centro de Estudos e Investigações Científicas, 21 de Junho de 2017.
SANTOS, Jorge; PINA, Álvaro; BRAGA, Jacinto; MIGUEL St. Aubyn. Macroeconomia. 3.
ed. Lisboa: Escolar Editora, 2010.
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. 18 ed, revista e actualizada.
Rio de Janeiro: Renovas,2011.
VENES, Nunos Miguel Simões. Efeitos não Keynesianos da política orçamental: Uma
evidência empírica de Portugal, UTL, 2003.
54
X. ANEXOS
Em percentagem
Quadro Fiscal OGE do PIB OGE
2013 2014 2015 OGE OGE
Ord. (expressas em mil milhões de Kwanzas, excepto 2016 2016
Exec. Exec. Prel. 2016 2013 2014 2016
onde indicado em contrário) Revisto 2015 Revisto
Exec. Exec.
Prel.
1.0 Receitas 4 848,6 4 402,6 3 381,4 3 514,5 3 484,6 40,2 35,3 27,4 24,7 20,6
1.1 Receitas Correntes 4 847,8 4 402,1 3 380,3 3 514,5 3 484,6 40,2 35,3 27,4 24,7 20,6
1.1.1 Impostos 4 602,0 4 098,0 3 055,6 3 235,1 3 092,0 38,2 32,9 24,8 22,8 18,3
1.1.1.1 Petrolíferos 3 629,8 2 969,8 1 897,7 1 689,7 1 535,50 30,1 23,8 15,4 11,9 9,1
1.1.1.1.9 Dos quais: Direitos da concessionária 2 445,6 1 993,5 1 305,6 1 163,0 968,07 20,3 16,0 10,6 8,2 5,7
1.1.1.2 Não petrolíferos 972,2 1 128,2 1 157,8 1 545,4 1 556,54 8,1 9,1 9,4 10,9 9,2
1.1.2 Contribuições sociais 120,7 86,9 150,7 153,0 153,0 1,0 0,7 1,2 1,1 0,9
1.1.3 Doações 1,8 1,5 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
1.1.9 Outras receitas 123,2 215,7 172,8 126,4 239,6 1,0 1,7 1,4 0,9 1,4
1.2 Receitas de Capital 0,8 0,5 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
2.0 Despesa Total 4 816,4 5 221,4 3 858,0 4 295,7 4 484,6 39,9 41,9 31,3 30,2 26,6
2.1 Despesas correntes 3 437,3 3 665,9 3 044,9 3 480,1 3 523,5 28,5 29,4 24,7 24,5 20,9
2.1.1 Remuneração dos empregados 1 154,8 1 318,9 1 390,4 1 497,4 1 562,6 9,6 10,6 11,3 10,5 9,3
2.1.1.1 Vencimentos 1 083,7 1 246,7 1 313,6 1 420,5 1 484,0 9,0 10,0 10,7 10,0 8,8
2.1.1.2 Contribuições sociais 71,1 72,2 76,8 76,9 78,7 0,6 0,6 0,6 0,5 0,5
2.1.2 Bens e serviços 1 228,3 1 249,4 778,8 995,2 847,6 10,2 10,0 6,3 7,0 5,0
2.1.3 Juros 99,1 147,2 248,5 307,4 441,7 0,8 1,2 2,0 2,2 2,6
2.1.3.1 Externos 40,1 59,6 105,9 155,0 221,5 0,3 0,5 0,9 1,1 1,3
2.1.3.2 Internos 59,0 87,6 142,6 152,3 220,2 0,5 0,7 1,2 1,1 1,3
2.1.4 Transferências correntes 955,0 950,4 627,2 680,2 671,5 7,9 7,6 5,1 4,8 4,0
2.1.4.1 Subsídios 710,2 668,2 278,5 370,1 361,9 5,9 5,4 2,3 2,6 2,1
2.1.4.2 Doações 2,9 6,1 3,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
2.1.4.3 Prestações sociais 210,2 233,3 298,3 199,8 200,1 1,7 1,9 2,4 1,4 1,2
2.1.4.9 Outras despesas 31,7 42,9 46,6 110,3 109,5 0,3 0,3 0,4 0,8 0,6
2.2 Despesas de Capital 1 379,1 1 555,4 813,2 815,6 961,1 11,4 12,5 6,6 5,7 5,7
2.1 Aquisição de activos não Financeiros 1 376,4 1 547,3 796,4 815,6 961,1 11,4 12,4 6,5 5,7 5,7
2.1.1 Activos fixos 1 376,1 1 546,2 795,9 815,62 961,1 11,4 12,4 6,5 5,74 5,7
2.2 Outras 2,7 8,1 16,7 0,0 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0
3.0 Saldo Global (compromisso) 32,3 -818,7 -476,6 -781,2 -1 000,0 0,3 -6,6 -3,9 -5,5 -5,9
55