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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE ECONOMIA

CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL VERSUS CRISE ORÇAMENTAL: A


INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL
IMPLEMENTADAS EM ANGOLA NO PERÍODO 2002-2016

Luanda, 2017.
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE ECONOMIA

CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL VERSUS CRISE ORÇAMENTAL: A


INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL
IMPLEMENTADAS EM ANGOLA NO PERÍODO 2002-2016

Trabalho de pesquisa interdisciplinar, apresentado


ao Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e
Ciências, como requisito de avaliação.

Integrantes do grupo de pesquisa: Edmar de Sousa,


20150657; Ivan Prata, 20150819; Jorge Sarr,
20150500; Maria Gonçalves, 20152441; Yara
Massolo, 20152141 e Ohzani Espírito Santo,
20151013

Orientador: MSc. Yuri Quixina

Luanda, 2017
iii

DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos nossos pais por nos agraciarem com a ferramenta mestra da vida,
a educação.
iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, por nos capacitar. Aos nossos pais e familiares que têm apoiado o processo de
formação académica. Aos nossos professores pela paciência, empenho e dedicação e aos
nossos colegas pelo apoio.
v

EPÍGRAFE

“O Orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas devem


ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada
e controlada. Os pagamentos a governos estrangeiros devem ser
reduzidos se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem,
novamente, aprender a trabalhar, em vez de viver por conta
pública.”

Por: Marco Túlio Cícero1

1
Marco Túlio Cícero, mais conhecido por Cícero, foi um político, escritor, filósofo e orador da República
Romana, que viveu entre 106 a.C. e 43 a.C.
vi

RESUMO

O presente estudo aborda sobre a questão da consolidação orçamental e enfatiza a sua análise
no período da crise orçamental angolana que teve começo em 2014. Em termos legais é o
poder executivo que tem a incumbência de dirigir o processo de consolidação orçamental. O
período do pós guerra civil foi marcadamente caracterizado pelo reconstrução nacional e
profunda evolução do sistema económico em Angola. Com a análise dos relatórios de
fundamentação do Orçamento Geral do Estado é possível verificar que desde que a crise
orçamental começou o executivo apenas aplicou de concreto medidas de consolidação
orçamental no ano de 2015. Com uma análise de regressão é possível detectar que no período
2002-2016, as variações das receitas fiscais, da despesa de capital e corrente explicam 92,83%
das variações do saldo orçamental e têm uma correlação de aproximadamente 96,35%.

Palavras-chave: consolidação orçamental, saldo orçamental, crise orçamental.


vii

ABSTRACT

The present study talks about fiscal consolidation and emphasize its analysis on the period of
fiscal crisis in Angola, which started in 2014. In legal terms, it’s the executive power which
have the obligation to lead the fiscal consolidation process. The period after the civil war was
characterized by the national reconstruction and a deep evolution on the political system of
Angola. With the analysis of the reports of government budget it’s possible to verify that
since the fiscal crisis started, the executive only applied concretely fiscal consolidation
policies in the year of 2015. With the regression analysis it’s possible do detect that in the
period 2002-2016, the variations of tax revenues, capital expenditures and current
expenditures explain 92,83% of the variations of budget balance and have a correlation close
to 96,35%.

Key-words: fiscal consolidation, budget balance, budget crisis


viii

ÍNDICE GERAL

DEDICATÓRIA .............................................................................................................................................. iii


AGRADECIMENTOS................................................................................................................................... iv
EPÍGRAFE .......................................................................................................................................................... v
RESUMO............................................................................................................................................................. vi
ABSTRACT ....................................................................................................................................................... vii
ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................................................. x
ÍNDICE DE GRÁFICOS ..................................................................................................................................... x
LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................................................... xi
I. INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 12
II. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................................... 16
2.2. Implicações de uma medida de consolidação orçamental defendidas pela escola clássica e
Keynesiana. ........................................................................................................................................... 17
2.2.1. Implicações defendidas pela escola Keynesiana ................................................................. 17
2.2.2. Implicações defendidas pela nova escola clássica .............................................................. 17
III. ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS COM A POLÍTICA DE
CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL ...................................................................................................... 21
3.1. Princípios orçamentais ............................................................................................................. 22
3.2. Fases de Elaboração do O.G.E: ................................................................................................ 24
IV. CONTEXTUALIZAÇÃO ECONÓMICA DE ANGOLA NO PERÍODO DE 2002-
2016 26
4.1. Análise das contas públicas no período de crise orçamental (2014-2016)............................... 29
4.2. Políticas orçamentais aplicadas no período 2002 a 2016 ......................................................... 32

V. O COMPORTAMENTO DO SALDO ORÇAMENTAL NO PERÍODO 2002-2013 ..... 37


VI. MEDIDAS DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL IMPLEMENTADAS EM
ANGOLA NO PERÍODO 2014-2016 ...................................................................................................... 39
6.1. Políticas económicas e seus resultados no ano de 2014 ..................................................... 39
6.2. Políticas económicas e seus resultados no ano de 2015 ..................................................... 41
6.3. Políticas económicas e seus resultados no ano de 2016 ..................................................... 43

VII. A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL


IMPLEMENTADAS EM ANGOLA NO PERÍODO DE 2002 A 2016 SOBRE O SALDO
ORÇAMENTAL ............................................................................................................................................. 45
7.1. Interpretação da análise de regressão ..................................................................................... 46

VIII. CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 49


ix

IX. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................. 51


X. ANEXOS ................................................................................................................................................... 54
x

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 Evolução das receitas fiscais, despesas de capital e despesa correntes e do Saldo
Global dos Orçamentos Gerais do Estado de Angola....................................................... 45

Quadro 2 Estatística de regressão ............................................................................................. 45

Quadro 3 ANOVA .................................................................................................................... 45

Quadro 4 Coeficientes e teste t-student .................................................................................... 45

Quadro 5 Quadro Fiscal de Angola de 2013-2016 ................................................................... 54

Quadro 6 Balanço macro-fiscal do OGE 2017 ......................................................................... 55

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Comparação do crescimento económico .................................................................. 28

Gráfico 2. Transformações económicas ................................................................................... 29

Gráfico 3 Despesas e Receitas no período de 2014-2016 ........................................................ 30

Gráfico 4. Evolução do Défice em % do PIB ........................................................................... 32

Gráfico 5 Dependência das finanças públicas e as receitas petrolíferas ................................... 38


xi

LISTA DE ABREVIATURAS

AOA - Kwanzas

BAI – Banco Angolano de Desenvolvimento

CRA – Constituição da República de Angola

MINFIN – Ministério das Finanças

MPDT – Ministério do Planeamento e Desenvolvimento Económico

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OGE – Orçamento Geral do Estado

PIB – Produto Interno Bruto

USD – Dólares norte-americanos


12

I. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como tema a “Consolidação orçamental versus crise orçamental: a
influência das políticas de consolidação orçamental implementada em Angola no período de
2002-2016”. Os dados orçamentais foram analisados a partir de 2002, com vista a se criar
uma amostra de dados suficientemente larga para se demonstrar com certo rigor a influência
que a variação das receitas fiscais, despesas correntes e despesas de capital têm sobre o saldo
orçamental global de Angola. A ênfase do estudo das políticas implementadas no período de
2014 a 2016 deve-se ao facto de ao longo desse período a baixa do preço do petróleo ter
afectado a economia angolana de tal modo que reacendeu o fenómeno da crise orçamental.

O cenário económico de Angola não é dos melhores por causa da crise que se faz presente no
país. Esta crise faz com que Angola tenha uma classificação B1 2 de dívida pública pelas
agências de rating. (BAI, 2017-Q1, p. 11)

O Estado angolano, com o intuito de dirimir os efeitos dos desequilíbrios macroeconómicos,


um dos quais o défice orçamental definiu no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017,
onde consta, especificamente no plano de sustentabilidade das contas públicas (ANGOLA,
2012, p. 57), “garantir a capacidade solvente do Estado e limitar o encargo para as gerações
futuras.”

1.1.Problema de Pesquisa

O presente trabalho apresenta como problema “qual foi a influência que as políticas de
consolidação orçamental implementadas em Angola no período de 2002 a 2016 tiveram sobre
o défice orçamental?”

1.2.Hipótese de pesquisa

As hipóteses de pesquisa do presente estudo são as apresentadas abaixo:

Hipótese 1: As políticas de consolidação orçamental implementadas em Angola no período de


2002 à 2016 tiveram uma influência positiva sobre o défice orçamental.

2
B1 trata-se de uma classificação da dívida pública. Algumas agências chamam informalmente de lixo,
indicando que o risco de inadimplência de Angola é alto.
13

Hipótese 2: As políticas de consolidação orçamental implementadas em Angola no período de


2002 à 2016 não tiveram uma influência positiva sobre o défice orçamental.

Hipótese 3: As políticas de consolidação orçamental implementadas em Angola no período de


2002 à 2016 não tiveram nenhuma influência sobre o défice orçamental.

1.3.Objectivo Geral

A presente pesquisa tem como objectivo geral “avaliar a influência que as políticas de
consolidação orçamental implementadas em Angola no período de 2002 a 2016 tiveram sobre
o défice orçamental”.

1.4.Objectivos específicos

Os objectivos específicos da presente pesquisa são os elencados abaixo:

1. Abordar os aspectos legais relacionados com a política de consolidação orçamental;


2. Contextualizar a economia angolana no período de 2002 à 2016;
3. Verificar o comportamento do saldo orçamental no período 2002-2013
4. Descrever as políticas de consolidação orçamental implementadas em Angola no período
2014 à 2016, bem como a sua influência no comportamento do saldo orçamental.
5. Explicar a influência que as políticas de consolidação orçamental, implementadas em
Angola no período de 2002 à 2016, tiveram sobre o défice orçamental através da análise
do comportamento das receitas fiscais, das despesas de capital e das despesas correntes
em relação ao saldo orçamental global de Angola de 2002 à 2016;

1.5. Justificativa

É importante estudar esse tema porque permitirá fazer um paralelismo entre o momento
anterior e posterior ao défice orçamental verificado em Angola em 2014, bem como perceber
qual a influência que as políticas de consolidação orçamental implementadas no período de
2002 à 2016 tiveram sobre o saldo orçamental a fim de se entender se estas contribuíram para
o aumento ou diminuição do défice orçamental.
14

1.6.Metodologia da pesquisa científica

Quanto aos objectivos o trabalho aqui apresentado classifica-se como sendo uma pesquisa
exploratória. Ele tem como finalidade abordar a questão das políticas de consolidação
orçamental no contexto específico de Angola, com ênfase para o período de crise orçamental
que teve início em 2014.

Segundo Gil (2008, p. 27) a pesquisa exploratória “habitualmente envolve levantamento


bibliográfico e documental”.

O delineamento da pesquisa foi feito através da realização de pesquisa documental e


bibliográfica.

Caracteriza-se a pesquisa como documental, por utilizar levantamento de fontes primárias,


tais como os relatórios de fundamentação do Orçamento Geral do Estado divulgados pelo
Governo de Angola, bem como leis aprovadas e divulgadas que tratam de matéria
orçamentária.

Por outro lado, a pesquisa também é considerada como bibliográfica, pois, é desenvolvida
igualmente a partir de fontes secundárias, tal como livros, artigos científicos ou dissertações.
No que diz respeito ao método a pesquisa é considerada quantitativa e qualitativa.
Quantitativa porque são aplicados vários métodos estatísticos no tratamento de dados, como a
análise de regressão, bem como o teste t-student e teste F-Fisher. É qualitativa porque
analisa-se de forma qualitativa os dados orçamentais bem como a sua evolução ao longo do
período delimitado.

A avaliação dos dados será feita através da análise de regressão. Neste sentido, pretende-se
através da metodologia dos Mínimos Quadrados Ordinários perceber como a variação das
variáveis receitas fiscais, despesas de capital e despesas correntes influenciam no
comportamento do saldo orçamental.
15

1.7.Estrutura e descrição dos capítulos

No capítulo um é feita uma apresentação do tema, a sua importância. Está igualmente incluído
neste capítulo o problema, a hipótese, o objectivo geral, os objectivos específicos, a
justificativa, a metodologia e a descrição dos capítulos.

O segundo capítulo encarrega-se de fazer uma revisão de literatura sobre o tema em análise.

No terceiro capítulo pretende-se abordar a cerca dos aspectos legais relacionados à política de
consolidação orçamental.

O capítulo quatro faz uma contextualização económica da República de Angola desde o fim
da guerra civil (2002) até ao ano 2016.

Com o quinto capítulo pretende-se fazer uma análise do comportamento do saldo orçamental
antes da implementação das políticas de consolidação orçamental em 2015.

No sexto capítulo faz-se uma exposição das políticas de consolidação orçamental que foram
implementadas pelo executivo angolano desde que começou a crise orçamental, através de
uma análise dos relatórios de fundamentação do Orçamento Geral do Estado.

No sétimo capítulo apresentar-se-á os resultados da análise de regressão feita no Excel bem


como a sua interpretação.

Por último, é apresentada a conclusão de todo o estudo.


16

II. REVISÃO DE LITERATURA


2.1.Consolidação orçamental – conceito
De acordo com a definição originária da OCDE (apud MARTINS, 2012), a consolidação
orçamental é um conceito material que identifica o resultado das medidas e políticas
financeiras destinadas a reduzir o défice e a dívida. A consolidação orçamental tem o seu
antecedente imediato no equilíbrio orçamental e surge nos últimos trinta anos perante a
proposta de recusar a criação de mais dívida pública, através da imposição de regras
restritivas. Estuda, por outras palavras, as várias formas de ajustamento orçamental e os seus
efeitos na actividade económica e está associada a uma metodologia de quantificação do
efeito do ciclo nas políticas orçamentais.

Segundo Almeida (2011), a consolidação orçamental é definida como uma redução


permanente do rácio da dívida públicas cuja sua implementação é feita através de uma
redução gradual orçamental, seguida de politicas que visam estabilizar o rácio da dívida em
torno de um novo estado estacionário.

A consolidação orçamental é um processo de ajustamento em que durante um determinado


período de tempo são tomadas medidas com o objetivo de reduzir o défice e a dívida
(PIMENTEL, 2014, p. 4).

Um ajustamento orçamental ou Consolidação Orçamental de acordo com o Conselho das


finanças públicas (2015) é um processo de redução do défice orçamental das Administrações
Públicas, medido em termos estruturais, por via de medidas discricionárias de politica
orçamental. O ajustamento orçamental corresponde à correcçaõ efetuada ao saldo estrutural
primário.

Existem duas teorias económicas, em que as implicações teóricas dos processos de


consolidação orçamental diferem consideravelmente. Do ponto de vista da teoria keynesiana
tradicional, aumentos dos impostos e reduções dos gastos públicos implicam uma contração
(política orçamental restritiva) do produto. Em outras palavras, cortes nas despesas públicas e
aumento dos impostos resultam numa diminuição do PIB, pelo menos no curto prazo. Do lado
oposto, os modelos da nova escola clássica defendem que ajustamentos orçamentais podem
ter efeitos expansionistas no curto prazo.
17

2.2.Implicações de uma medida de consolidação orçamental defendidas pela escola


clássica e Keynesiana.
2.2.1. Implicações defendidas pela escola Keynesiana

De acordo com Pinto (2014) e Afonso (2001) na perspectiva de Keynes as medidas de


consolidação orçamental provocam uma desaceleração da actividade económica, isto porque
ocorrem cortes nas despesas públicas e/ou aumento dos impostos, conduzindo diretamente à
diminuição da procura agregada e/ou indiretamente, através da diminuição do rendimento
disponível das empresas e das famílias, desincentivando o investimento e o consumo.

Por outro lado, temos as políticas orçamentais expansionistas resultantes do aumento dos
gastos e /ou diminuição da carga fiscal, levando a um aumento da procura agregada e
consequentemente a um aumento do rendimento disponível das famílias. Para Keynes, essas
são as políticas que induzem o défice orçamental.

Assim, para Keynes a política orçamental deve ser contra-cíclica: expansionista em períodos
de crise e conservadora em períodos de expansão. Tendo como objetivo subjugar o ciclo
económico e evitar acúmulo de desequilíbrios económicos sempre que a procura interna for
elevada, estando assim, preparado para períodos de recessão, em que o Estado é encarregue de
suportar a procura.

Desta forma, uma medida de consolidação orçamental provoca uma redução do défice
orçamental e tem consequências contraccionistas, o que provoca uma desaceleração
temporária da procura agregada e da actividade económica, quer directamente através da
diminuição do consumo ou do investimento público, quer indiretamente, devido ao menor
consumo por parte das famílias devido à diminuição do rendimento, em consequência da
subida dos impostos ou da redução das transferências públicas, ou seja, para Keynes é suposto
que os multiplicadores assumam valores positivos no curto prazo.

2.2.2. Implicações defendidas pela nova escola clássica

A nova escola clássica defende a existência de efeitos expansionistas no curto prazo


(multiplicador orçamental negativo no curto prazo) na execução de medidas de consolidação
orçamental, e a primeira apresentação desses efeitos surge com Feldstein (1982 apud PINTO,
2014) dizendo que contrações permanentes na despesa pública poderiam conduzir a efeitos
18

expansionistas da actividade económica, desde que gerem expectativas de que no futuro os


impostos serão menores, reproduzindo logo rendimentos permanentes cada vez maiores.

Neste sentido, caso os consumidores percebam que as políticas de consolidação orçamental

podem significar um menor aumento dos impostos futuros, uma vez que esta irá reduzir as

despesas públicas e, por conseguinte, o aumento do financiamento por meio do aumento dos

impostos, então o consumo vai reagir de forma positiva dado a expectativa de aumento dos

rendimentos permanentes.

“Os efeitos expansionistas da consolidação orçamental podem ocorrer tanto do lado da


procura como do lado da oferta” (PIMENTEL, 2014, p.5)

Do lado da procura, existem dois mecanismos indispensáveis para a sua explicação:


expectativas sobre o imposto e o efeito riqueza. No primeiro ponto a consolidação orçamental
pode exercer influência na economia, por meio do impacto sobre as expectativas dos agentes
económicos, no que diz respeito à forma como a política orçamental será conduzida e na
estabilização da dívida. Assim, um ajustamento orçamental pode ter efeitos expansionistas se
os agentes privados acreditarem que a alteração na política orçamental vai funcionar como um
sinalizador de mudança de regime, eliminando assim a necessidade de ajustamentos mais
fortes e com elevados custos no futuro, associados a níveis de dívida insustentáveis.

No segundo ponto, quando os investidores acreditam que a estabilização da dívida é real e


suficiente para evitar o seu incumprimento, estes podem exigir um prémio de risco menor
sobre os títulos de dívida pública, isto é, se a execução da consolidação orçamental for
plausível, diminuirá a probabilidade de default3 da dívida pública, levando à queda do prémio
de risco, associado à emissão da dívida pública e, consequentemente, a uma redução nas taxas
de juro reais. Este efeito permite um aumento da riqueza que surge através de um efeito
positivo no preço dos ativos e um desincentivo à poupança (custo de oportunidade superior),
estimulando os agentes económicos a investir e a consumir.

3
Default significa o não cumprimento de uma cláusula de um contrato de empréstimo por parte do devedor, ou
seja, o termo é usado quando o devedor deixa de pagar corretamente sua dívida, porque não quer ou porque não
pode (DEFAULT,2017).
19

Segundo McDermott e Wescott (1996 apud VENES,2003) uma medida de consolidação pode
gerar efeitos expansionistas no curto prazo, devido a uma redução dos prémios sobre as taxas
de juro, estimulando assim o investimento. Para além disso, a ideia de uma redução futura
pode influenciar no aumento do investimento, e do valor de mercado da riqueza existente nas
carteiras de activos dos consumidores.

Blanchard (1990 apud AFONSO,2001) elabora um modelo no qual o impacto de uma medida
de consolidação orçamental no consumo dos particulares depende do rácio inicial da dívida
pública. Ele defende que um aumento dos impostos pode conduzir a dois efeitos: o primeiro
ocorre com a redução do consumo privado, pois verifica-se uma transferência do aumento da
carga fiscal da geração futura para a actual. No segundo efeito ele enuncia que estas políticas
podem ter resultados expansionistas por meio do efeito positivo da riqueza, que está ligado a
ideia de que aumentos dos impostos no presente evita maiores aumentos no futuro. Este
segundo efeito pode mais do que compensar o primeiro, quando o nível de dívida pública em
proporção do PIB é elevado.

Do lado da oferta, a consolidação orçamental pode ser expansionista consoante o seu impacto
nos custos unitários do trabalho e na competitividade internacional da economia.

Quanto aos custos unitários do trabalho, as consolidações orçamentais baseadas em cortes na


despesa, sobretudo aquelas que recaem sobre o emprego e os salários da função pública,
proporcionam uma diminuição da utilidade de reserva dos sindicatos. Isto resulta num
aumento dos lucros, e numa diminuição dos custos unitários do trabalho, que se forem
reinvestidos podem melhorar a competitividade internacional e estimular o crescimento
económico, o emprego e as exportações.

Por outro lado, as políticas baseadas no aumento dos impostos normalmente resultam numa
efectivação dos custos unitários do trabalho, que resultam numa diminuição dos lucros, do
investimento e da competitividade a nível internacional.

Desta forma, a probabilidade de surgirem efeitos expansionistas da consolidação orçamental


depende da capacidade de resposta do consumo privado e/ou do investimento privado ao
ajustamento que permita compensar o efeito negativo sobre a procura agregada. As restrições
de liquidez e a eficiência dos mercados são factores que podem afectar a capacidade de
resposta dos agentes económicos.
20

Para o efeito, esta visão expansionista da medida de consolidação orçamental esteve assentada
em um conjunto de estudos, um deles é o trabalho realizado por Giavazzi e Pagano em 1990
que visava o estudo de dois países, Dinamarca e Irlanda, nos quais os governos seguiram
políticas orçamentais contraccionistas nos anos 1980 com vista a redução de dívida pública.
Os efeitos macroeconómicos resultantes foram expansionistas, o que permitiu dar
credibilidade à perspetiva da nova escola clássica.

Portanto, quando as economias operam sob uma taxa de câmbio fixa (aquelas em que o
Estado se propõe em defender a paridade da moeda) têm um multiplicador da despesa
estatisticamente diferente de zero.

Em contrapartida, quando as economias estão sob um regime de câmbios flexível (aquelas em


que a taxa de câmbio não é fixado pelo banco central) os multiplicadores da despesa são
negativos em todos os horizontes de previsão.
21

III. ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS COM A POLÍTICA DE


CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL

Antes de se começar a descrever as políticas de consolidação orçamental implementadas no


período de 2002 à 2016, bem como o contexto económico a partir do período após a segunda
guerra civil pretende-se neste capítulo apresentar os principais aspectos jurídicos por meio dos
quais o processo de consolidação orçamental é feito.

Tal como referenciado por Martins (1976) a consolidação orçamental é um conceito que
identifica o resultado das medidas de política fiscal destinadas a reduzir o défice orçamental e
a dívida pública.

Segundo Del Masso (2013), a ordem económica é um conjunto de situações, princípios e


regras que tem como finalidade a organização da actividade económica de uma comunidade.

Definidas as principais variáveis que orientarão a abordagem no decorrer do presente capítulo


prossegue-se apresentando a definição de um dos principais instrumentos através do qual o
executivo, no exercício de suas competências atribuídas nos termos da lei vigente com a
aprovação da Constituição de 2010, orienta o processo de consolidação orçamental.

Do ponto de vista legal o Orçamento Geral do Estado (doravante designada OGE), constitui o
plano financeiro anual ou plurianual consolidado, do Estado que deve refletir os objetivos, as
metas e as ações contidas nos instrumentos de planeamento nacional”, conforme consagra o
nº 1 do artigo 104º da Constituição da República de Angola (doravante designada por CRA).

Com este artigo é possível identificar dois dos principais pontos que caracterizam este
instrumento, nomeadamente: a previsão e o período de execução. Pode-se, portanto, constatar
que os dados numéricos constantes no OGE são previsões futuras e referem-se a apenas um
ano-fiscal4.

Do ponto de vista doutrinário, o orçamento público é segundo o professor Aliomar Baleeiro


(apud PALUDO, 2013) é um acto pelo qual o poder legislativo autoriza o Poder Executivo
por um certo período, em pormenor, a estimar as despesas destinadas ao funcionamento dos

4O ano fiscal ou exercício fiscal é um período de tempo onde se faz a demonstração de resultados contabilísticos de
uma empresa. Em Angola o ano fiscal coincide com o ano civil (365 dias).
22

serviços públicos e outros fins adoptados pela política económica do país, assim como a
arrecadação das receitas criadas em lei.

3.1.Princípios orçamentais

Na elaboração e controlo do OGE um conjunto de princípios devem ser seguidos, sendo que
estes apresentam-se como um conjunto de premissas e linhas norteadoras de acção com a
principal finalidade de disciplinar e orientar as acções do executivo.

Os princípios orçamentais de maior relevância são: o principio da legalidade, universalidade,


periodicidade, exclusividade, unidade, publicidade, equilíbrio, orçamento bruto e utilidade.

 No princípio da legalidade, os gestores públicos exigem um conjunto de dogmas ou


normas legais que devem ser aplicadas durante a arrecadação das receitas e a
consequente realização das despesas, estabelecendo para o efeito limites.
 O principio da universalidade, trata-se de uma globalização orçamentária que consiste
na inclusão no orçamento de todas as despesas e receitas do exercício financeiro, este
encontra-se consagrado no artigo 5º da Lei nº 15/10 quadro do OGE.
 O princípio da periodicidade refere-se à vigência dos orçamentos, no caso de Angola,
este deve ser elaborado e autorizado em um período de tempo, geralmente de um ano,
consagrado no artigo 2º da Lei quadro do OGE.
 No princípio da exclusividade o OGE deve conter apenas matérias relacionadas ao
direito financeiro, sendo que qualquer outra matéria deve ser vedada.
 Princípio da unidade: neste, pressupõe-se que todas receitas e despesas devem estar
previstas em uma única lei, logo o orçamento deve ser unitário (artigo 5º da Lei
quadro do OGE).
 No que diz respeito ao princípio da publicidade, este tem como objectivo permitir que
todos tenham acesso às informações relacionadas aos actos praticados pela
administração (nº 1 do Lei quadro do OGE)
 O princípio da utilidade da despesa pública deve possibilitar que todos os gastos
necessários para o funcionamento dos organismos de Estado, bem como dos serviços
públicos, tenham como finalidade a satisfação das necessidades colectivas.
 Princípio do orçamento bruto: neste, pressupõe-se que as parcelas das despesas e
receitas devem ser apresentadas no orçamento com seus valores brutos, sem que hajam
possíveis deduções.
23

 O Princípio do equilíbrio, estabelece que as despesas e as receitas devem ser iguais, de


modo a evitar défices e superavits. Este, encontra o seu respaldo legal no nº 1 e 2 do
artigo 7º da Lei quadro do OGE.

O OGE reparte-se por um lado pelas despesas e por outro pelas receitas. Segundo Ricardo
Torres (2011), as despesas públicas referem-se a um conjunto de gastos realizados pelo
Estado, para efectivação das obras e para a prestação de serviços públicos. Enquanto que, para
Tathiane Piscitelli (2015) a despesa pública é um conjunto de gastos realizados pelo Estado,
cuja a finalidade é a de promover a realização das necessidades colectivas, sendo que estas
dependem das receitas arrecadadas pelo Estado num determinado período.

Quanto à vertente económica, as despesas públicas classificam-se em despesas correntes e de


capital. As despesas correntes referem-se à manutenção das actividades realizadas pelo
Estado, isto é, compreendem os gastos reais efectivos, o que implica que as despesas correntes
não proporcionam um aumento do património público.

As despesas de capital são gastos efectuados principalmente para aquisição de bens de capital,
de consumo, de imóveis ou com obras e instalações, ou seja, que visem a formação bruta de
capital fixo.

Quanto à inclusão no orçamento, as despesas podem ser classificadas como orçamentais e


extraorçamentais. As orçamentais são aquelas que se encontram fixadas no orçamento,
enquanto as extraorçamentais são aquelas que não se encontram definidas no orçamento, e
que por alguma razão são difíceis de serem estimadas.

As receitas são todos os fundos arrecadados de forma definitiva pelo Estado, com objectivo de
satisfazer as necessidades públicas. Estas podem ser caracterizadas como uma forma de
intervenção do Estado na economia, isto pode ocorrer numa situação em que o Estado regula
a quantidade da moeda no mercado, estabelecendo políticas expansionistas ou restritivas.

Quanto à vertente económica as receitas podem ser correntes e de capital. As receitas


correntes são aquelas que resultam da própria actividade do Estado, isto é, através das receitas
tributárias.

As receitas de capital são aquelas obtidas através das operações realizadas pelo Estado com o
exterior, isto é, relações de crédito. Contabilisticamente é considerado um efeito modificativo,
pois afecta tanto o activo (entrada e capital) quanto ao passivo (dívida)
24

Quanto à coercitividade, as receitas podem ser enquadradas como originárias e derivadas.


 Originárias –são aquelas que são auferidas pelo Estado através da exploração do seu
patrimônio, sem que este exerça o seu poder de soberania, ou seja, encontra-se a pé de
igualdade com os particulares, logo não existe nenhum poder de coerção ou de
imperatividade.
 Derivadas - estas receitas são de caracter obrigatório e coercitivo, o que significa que
os particulares por meio do seu património são obrigados a suportar as receitas, sem
que haja qualquer negociação. Neste tipo de receita o Estado aparece revestido de ius
imperium.

Quanto à inclusão no orçamento, podem ser denominadas orçamentárias ou extra-


orçamentárias.

 Orçamentárias – são aquelas que se encontram previstas no OGE. Estas, incluem os


impostos, as taxas e as contribuições.
 Extra-orçamentárias – são receitas que não se encontram configuradas no OGE, pelo
facto de não serem previstas.


Qualquer Orçamento de Estado deve cumprir três conjuntos de funções:

1.Económica de racionalidade, que permite uma melhor gestão do dinheiro público e de


eficácia, pois permite ao governo conhecer a política económica global do estado.

2.Políticas - garante os direitos fundamentais dos cidadãos, ao impedir que sejam tributados
sem autorização dos seus legítimos representantes.

3.Jurídicas - através de normas que permitem concretizar as funções de garantia que o


Orçamento pretende prosseguir.

3.2.Fases de Elaboração do O.G.E:

1 – Instruções: estabelecem as regras e procedimentos a serem observados pelos órgãos do


Sistema Orçamental no processo de elaboração do OGE para o ano em questão (um exemplo
foi o facto de em 2017 se elaborar o OGE para 2018).
25

2 – Elaboração do Orçamento Preliminar: é constituído com base na avaliação preliminar de


Programas e actividades, segundo escala de prioridades, a fim de atingir os objectivos
nacionais.

3 – Limite de Despesa:

Tal como se pode observar nas alíneas a), c), d) e g) do 3º artigo da Lei Que Aprova O
Orçamento Geral do Estado 2017, o Presidente da República de Angola, enquanto titular do
Poder executivo é autorizado a fixar o teto de despesas de investimento público, bem como
fazer ajustamentos orçamentais, que podem não só ter como objectivo minimizar os défices
orçamentais como também dinamizar a economia.

4 – Proposta Orçamental: determinada tendo por base os Limites de Despesa e a


fundamentação apresentada pelas Unidades Orçamentais.

A proposta orçamental é elaborada com base num conjunto de instruções que são ditadas pelo
Presidente da República, sendo que ele detém a competência de submeter esta proposta
relativa ao ano subsequente à Assembleia nacional até 31 de Outubro ( nª 1 do artigo 24º da
Lei quadro do OGE). Esta, observa dois níveis de consolidação: o primeiro nível está a cargo
dos órgãos do executivo e governos municipais, o segundo está a cargo do órgão central,
responsável pelo OGE que enuncia as propostas apresentadas pelos órgãos de soberania que
fazem parte do Orçamento Geral do Estado, isto é, como consagra o nº 1 e 2 do 20º artigo da
Lei do quadro orçamental.

5 – Aprovação: após discussão pelo Executivo, a proposta de orçamento é submetida à


Assembleia Nacional para a aprovação nos termos da Lei, tal como consagra a alínea e) do
artigo 161º da CRA.
26

IV. CONTEXTUALIZAÇÃO ECONÓMICA DE ANGOLA NO PERÍODO DE


2002-2016

De acordo com Manuel da Rocha (2013) o período de 2002 à 2008 foi caracterizado por um
extraordinário crescimento do PIB, incitado por quatro factores: a paz, a estabilização
macroeconómica, as exportações de petróleo e os investimentos. A taxa média anual de
crescimento económico, entre 2002 à 2008, foi de aproximadamente 15,5%, - a mais elevada
de África e das mais elevadas do mundo. A paz determinou a intensidade do crescimento
económico e o sucesso da política económica. Isto pode ser verificado através das diferenças
entre as taxas tendenciais de crescimento do PIB: 2,21% entre 1980 e 2002 e 15,5% entre
2002 e 2008.

Estas taxas de crescimento da economia acabaram sendo influenciadas pelas reformas


económicas de mercado levadas a cabo nos períodos anteriores, particularmente as
implementadas a partir de 1999, com a nova equipa económica do governo.

Foi a partir deste ano que a desinflação da economia se tornou efectiva, a redução dos défices
fiscais se tornou consistente e que ocorreram os mais elevados excedentes da balança de
transacção corrente do país. Evidentemente que a excelente situação económica mundial
contribuiu para as extraordinárias performances conseguidas no domínio financeiro e
económico interno, permitindo que as reformas de mercado se aprofundassem, como por
exemplo a estruturação de um sistema bancário forte e moderno.

Rocha (2013) afirma que os investimentos foram outra das fontes de crescimento do período.
O mesmo autor indica igualmente que o governo iniciou, a partir de 2003, um ambicioso
programa de reconstrução de infra-estruturas económicas e sociais que envolveu dispêndios
acumulados de 27,1 mil milhões de dólares correntes, equivalentes a uma média anual de 4,5
mil milhões entre 2003 e 2008. Estes investimentos foram financiados através das parcerias
com a China, o Brasil e Portugal. O Orçamento Geral do Estado, depois de 2003, passou a
apresentar excedentes anuais em torno dos 5% do PIB.

Os investimentos privados também foram decisivos para essa fase de crescimento económico.
O investimento petrolífero foi, evidentemente, o mais importante, tendo representado em
média, cerca de 85% do investimento total. Entretanto, o investimento privado não-petrolífero
também se acentuou, como resultado do clima de euforia, confiança e credibilidade que a
27

política económica do governo transmitiu aos agentes económicos, nacionais e estrangeiros.


Em 2008, o investimento privado não-petrolífero foi cerca de 1,8 mil milhões de dólares
correntes, enquanto em 2003 não foi além dos 600 milhões de dólares.

De acordo com Rocha (2013) a estabilização económica foi determinante para a criação de
um ambiente propício ao crescimento económico, acabando por ser um dos resultados mais
expressivos da governação angolana, internacionalmente reconhecido.

A diminuição da inflação contribuiu para garantir uma relativa preservação do poder de


compra dos rendimentos das classes mais pobres da população já que, durante o período,
ocorreram na Função Pública ajustamentos salariais de sinal e amplitude iguais aos da
inflação.

A política económica do governo durante este período foi aplicada através de programas
bienais, com início em 2003. Assim, até 2008, o governo implementou os Programas Gerais
do Governo de 2003-2004, 2005-2006 e 2007-2008.

Para Alves da Rocha (2013) as preocupações desses programas foram a consolidação da paz e
reconciliação nacional, e a criação das bases para transformar Angola num país próspero,
moderno, sem pobres e com um nível de desenvolvimento científico e técnico-cultural
elevado. Para tal, foram definidos domínios de intervenção prioritária: consolidação da
estabilidade macroeconómica, reorganização das redes de distribuição (energia, água,
comercialização), realização de uma política social adequada tendente a melhorar as
condições de vida da generalidade da população, lançamento de indústrias de apoio à
reconstrução nacional e expansão das cadeias produtivas, manutenção e exploração eficiente
das infra-estruturas.

Foi em 2008 que na tentativa de consolidar a estabilidade macroeconómica, as políticas


orçamentais e cambial actuaram em convergência de esforços e de meios, e que os resultados
positivos foram facilitados pela obtenção das excepcionais receitas fiscais petrolíferas, que
permitiram estabilizar a taxa de câmbio, promover a convergência cambial, reduzir a inflação
e investir somas avultadas na reconstrução de todas as infraestruturas de que o país
necessitava. Neste período as receitas fiscais petrolíferas ascenderam a 91,8 mil milhões de
dólares correntes, equivalente a uma média anual de 15,3 mil milhões de dólares. O
crescimento ocorrido no sector não-petrolífero da economia e a melhoria da fiscalização
28

orçamental (maior disciplina orçamental, combate à fraude fiscal, etc.) propiciaram com que a
fiscalidade não-petrolífera também tivesse aumentado, embora, em 2008, não representasse
mais do que 9,7% do PIB (40,8% para as de origem no petróleo).

Gráfico 1 Comparação do crescimento económico

Fonte: ROCHA, Manuel Alves da. Relatório económico de Angola 2016, Junho de 2017.

Os gráficos acima mostram duas fases distintas do crescimento económico em Angola depois
da paz: um até 2008, com episódios de variação anual do PIB notáveis, tendo o pico sido em
2005, com 15%. O segundo maior crescimento económico ocorreu em 2007 com um valor de
13,9%.

A política económica, na sua generalidade, foi passiva, aguardando que o preço do principal
produto de exportação retomasse os níveis de antes de 2008, o que acabou por acontecer em
2011 (USD 111,3), 2012 (111,7) e 2013 (108,8). Não obstante isso, à economia angolana
começaram a faltar outros fundamentos para que as taxas de crescimento do PIB do período
dourado fossem recuperadas. Isto mostra que deixou de ser suficiente – embora ainda seja
necessário – o preço e a produção de petróleo.

A agricultura e a indústria transformadora continuam a ter papéis marginais na estratégia de


sustentabilidade do crescimento e de consolidação do valor agregado nacional. Os
investimentos públicos em infraestruturas económicas, apesar da enormidade dos seus
valores, não têm propiciado condições aceitáveis e estimulantes de rentabilidade aos
investimentos privados devido à sua geral baixa qualidade, nem de melhoria considerável das
condições de vida da população.
29

Gráfico 2. Transformações económicas

Fonte: ROCHA, Alves da. Relatório económico de Angola 2016, Junho de 2017.

Neste gráfico verifica-se que a principal transformação neste período foi a da perda do peso
relativo do sector petrolífero no PIB, de 44% em 2002 para 38% em 2016, mas que não foi
acompanhada nem pela agricultura, nem pela indústria transformadora. Os serviços acabaram
por aproveitar o espaço deixado pelo petróleo e gás, tornando-se hoje no mais importante
sector da economia nacional.

4.1. Análise das contas públicas no período de crise orçamental (2014-2016)

De acordo com o Relatório de Fundamentação do OGE de 2014, a economia de Angola neste


ano ainda estava dependente do sector petrolífero, uma vez que grande parte das receitas
públicas resultava da colecta de impostos petrolíferos. As receitas correntes totais que o
Estado arrecadou foram de AOA 4.402,1 mil milhões (que representaram 99,99% do total de
receitas), dentre as quais AOA 2.969,8 mil milhões (representando 67,46% das receitas
correntes) advinha do sector petrolífero. No entanto, a queda nas receitas advindas do sector
petrolífero começou a dar os primeiros sinais em Junho de 2014 quando o preço do barril de
petróleo decresceu 50%, estando a ser negociado em torno dos USD 50,00 por barril.

Além do mais, no ano de 2014 iniciou-se a “estratégia de médio prazo de reforma dos
subsídios aos combustíveis, em razão do elevado grau de subsidiação média da economia na
ordem dos 50% do PIB” (MINFIN, 2015, p. 16)
30

Gráfico 3 Despesas e Receitas no período de 2014-2016

Entre 2014 e 2015, a receita tributária petrolífera registou uma queda de 36,1%, passando de
AOA 2.969,8 mil milhões para AOA 1.897,7 mil milhões (verificar o balanço macro-fiscal
do OGE 2017).

A queda da receita total, no mesmo período, foi significativa, mas menos acentuada na
ordem de 23,53%, tendo evoluindo de AOA 4.402,6 mil milhões para AOA 3.366,7 mil
milhões (verificar igualmente os dados do balanço macro-fiscal do OGE 2017).

Os efeitos da queda do preço do petróleo repercutiram-se igualmente a nível da receita não


petrolífera, que em função da revisão em baixa do crescimento do PIB de 9,7% para 6,6%, e
de perspectivas de abrandamento da componente importada procura interna, registou uma
queda homóloga no II Trimestre de 2015 na ordem de 6%, em particular, a nível da
componente aduaneira da receita.

No que toca ao ano de 2015, de acordo com o Ministério da Finanças (2015) a crise
petrolífera começada em 2014, que fez o preço do barril de crude cair de USD 100,7 para
USD 96,9, consequentemente fez com que o Governo angolano revisse em baixa as suas
estimativas de receitas, uma vez que é do sector petrolífero onde o Estado angolano arrecada
as suas maiores receitas. A estimativa feita inicialmente foi de USD 81,00 para o preço do
barril de crude. Entretanto, com o desenrolar do desequilíbrio macroeconómico causado pelo
choque petrolífero, o Estado foi obrigado a baixar as suas estimativas para USD 40,00 para o
31

preço do barril do petróleo. Com o preço do barril revisto em baixa, a previsão do PIB passou
de 13.480,90 mil milhões de kwanzas para 11. 534, 90 mil milhões de kwanzas.

Estes dados ilustram que realmente

“as receitas públicas dependem muito do sector petrolífero, sendo esta


uma situação que torna difícil o alcance da prioridade, do lado da
receita, instrumental da política da receita não petrolífera” (MINFIN,
2015, p. 19).

No que diz respeito ao ano de 2016, segundo o Ministério das Finanças (2016) a evolução do
preço do petróleo no I Semestre do ano fiscal de 2016 teve um grande impacto no aumento da
taxa de inflação, por causa da depreciação da moeda nacional. A arrecadação de receitas foi
fortemente afectada pela evolução do preço do petróleo no período, que na média ficou em
torno dos USD 31,50 por barril, durante o I Trimestre de 2016.

Os fluxos globais do OGE 2016, apresentados no Quadro Macro-Fiscal do OGE 2017 (ver o
Quadro macro-fiscal 2017 em anexo), apontam, em valores absolutos, que o OGE 2016 tem
Receitas totais projectadas em cerca de AOA 3.484,6 mil milhões e Despesas totais fixadas
em cerca de AOA 4.484,6 mil milhões, correspondendo, respectivamente, a 20,6% e 26,6%
do PIB. Com efeito, em valor absoluto, registou-se um Défice Global de AOA 1 bilhão em
2016, ou seja, cerca de -5,9% do PIB.
32

Gráfico 4. Evolução do Défice em % do PIB5

Fonte: ROCHA, Alves. Relatório económico de Angola 2016, Junho de 2017.

4.2.Políticas orçamentais aplicadas no período 2002 a 2016

Depois de uma análise das políticas fiscais apresentadas pelos OGE 2002-2016, apresentam-
se abaixo parte dos principais aspectos que marcaram a implementação das medidas de
políticas orçamentais nos respectivos anos.

De acordo com o OGE de 2002, previa-se nesse período a realização de ajustamentos de


alguns factores de modo a garantir um orçamento equilibrado. A situação fiscal estimada para
esse ano foi de um défice fiscal de AOA 35.216.122.676,436. Esse cenário de acordo com o
balanço-macro-fiscal de 2004 representou uma degradação do saldo orçamental em relação ao
ano de 2001, no qual o défice fiscal estimado foi de AOA 12.139.100.140,867.

No ano de 2003 a Política Orçamental consubstanciou-se no seguinte: cobertura orçamental


dos programas sectoriais e provinciais específicos, previamente aprovados e inscritos no
Orçamento Geral do Estado (OGE); Concessão de incentivos fiscais (tributários e aduaneiros)
e financeiros, previamente avaliados, às actividades económicas; Definição de políticas e
instrumentos financeiros para o fomento habitacional; Aceleramento do processo de
reestruturação das empresas públicas, assim como da implementação do Programa de
Privatizações, tendo em conta a necessidade do controlo do défice público; Melhoria do

5
Atenda-se ao facto de dado as fontes dos dados numéricos acima e do gráfico serem diferentes há alguma
diferença nos valores absolutos e percentuais apontados.
6
Dados actualizados do OGE 2004
7
Dados actualizados do OGE 2004
33

acompanhamento das empresas públicas e controlo do desempenho económico e financeiro;


Racionalização dos Serviços (órgãos de administração indirecta do Estado) e Fundos
Autónomos; Definição de uma política de financiamento de Organizações Não
Governamentais e de diferentes actividades sociais (como as culturais e desportivas) no limite
da capacidade financeira efectiva do Estado e com base na avaliação do custo/beneficio;
Estabelecimento de um novo mecanismo, de observância obrigatória, para a realização das
compras e contratação pelos organismos da administração pública.

Em 2004 deu-se continuidade às políticas fiscais estabelecidas em 2003. Ressalta-se que foi
em 2004 o país já não tinha défice, mas sim um superavit de AOA 17.800.000.000,00. Para o
ano de 2005, o Orçamento Geral do Estado previu uma política orçamental que visava
privilegiar o financiamento das acções tendentes à realização das principais funções que se
reconhecem ao Estado. Para o efeito, pretendia-se a arrecadação máxima de receitas fiscais
com base no alargamento da base tributária, onde possível, mas evitando-se a elevação da
carga impositiva. O recurso ao endividamento interno e externo deveria ser consistente com o
objectivo de garantir a estabilização económica e desenvolvimento sustentável. O
endividamento interno seria feito, fundamentalmente, por emissão de dívida, contrariando a
tendência de anos anteriores em que se acumularam volumes significativos de atrasados que
têm vindo a ser titulados.

A afectação de verbas deveria ser feita tendo em atenção uma abordagem de orçamento de
desempenho em que se identificam programas, projectos e actividades para realizar os
objectivos estabelecidos no Programa do Governo, estabelecendo-se, para aqueles, metas
concretas. Com isso, procurava-se criar as condições para proceder-se à avaliação dos
resultados em termos de produto e impacto da despesa realizada, na perspectiva de melhorar a
eficácia da despesa pública. No ano de 2005 o superavit foi de AOA 226 200 000 000,00.

Por forma a racionalizar-se as despesas administrativas, cujo peso era significativo, previa-se
a implementação, tanto quanto possível, de normas de gastos para a afectação de verbas para
as despesas de funcionamento dos diversos órgãos do governo a todos os níveis.
34

Pretendia-se também, restringir os fluxos financeiros do Tesouro Nacional para as empresas


públicas aos montantes orçamentados, bem como a intervenção do governo em acções de
fomento da actividade económica interna por meio dos instrumentos criados para o efeito, a
saber: o Instituto Nacional de Apoio à Pequena e Média Empresa (INAPEM) e o Fundo de
Desenvolvimento Económico e Social (FDES). Para o efeito, previa-se observar o
estabelecido na Lei n.º 14/03, de 18 de Julho – Lei do Fomento do Empresário do Privado
Angolano.

Em 2006, de acordo com OGE 2008 o saldo global foi de AOA 396 700 000 000,00. Neste ano
deu-se continuidade à realização dos objectivos pretendidos em 2005.

As Medidas de Política Orçamental enunciadas no OGE 2007 continuaram a ser consideradas


no OGE de 2008. Estas foram: a preparação de uma reforma tributária abrangente;
Implementação de medidas de melhoria dos serviços da administração tributária e de
alargamento da tributação de rendimentos e consumo; Adequação dos benefícios fiscais ao
investimento produtivo; Cobertura financeira das acções do Governo para realizar os
objectivos gerais e específicos estabelecidos, atendendo o limite da capacidade de absorção,
buscando a eficácia da despesa pública e evitando a geração de pressões inflacionistas. O
saldo orçamental deste ano (2007) foi de AOA 525 100 000 000,00. O do ano seguinte AOA
892 600 000 000,00.

Para o ano de 2009 e 2010, a Política Orçamental do Governo pretendia ter como principais
eixos a Sustentabilidade da despesa pública, Racionalização da despesa pública, Melhoria da
eficiência do sector público e da eficácia da despesa pública e Melhoria da arrecadação fiscal.

Em 2011, pretendia-se ter como prioridade o melhor equilíbrio e maior controlo das contas do
governo, com vista à recuperação da capacidade de investimento do Estado. Para tanto,
algumas das medidas de maior prioridade seriam: (i) a regulamentação dos subsídios às
instituições de utilidade pública, (ii) a implementação das rotinas para o processo de
fiscalização orçamental, financeira, patrimonial e operacional da Administração do Estado e
(iii) para a elaboração da Conta Geral do Estado e a continuidade das acções de
desconcentração do processo de programação financeira para as unidades provinciais e
municipais.
35

No ano de 2012 a política orçamental teve como foco a publicação da Lei n.º 15/10, de 14 de
Julho (Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado), revogando a Lei n.º 9/97, de 17 de
Outubro, sendo que, esta dá ênfase ao reforço do compromisso do Estado com as boas
práticas de gestão fiscal, garantindo a estabilidade e o crescimento sustentável da economia.

Na Proposta do OGE 2013, a política orçamental procurou respeitar os seguintes


pressupostos: a quantificação financeira das propostas orçamentais preliminares, elaboradas
pelas Unidades Orçamentais e Órgãos Dependentes, que devia ser feita sob a responsabilidade
e supervisão dos respectivos Departamentos do Executivo e Governos Provinciais; as
propostas dos Órgãos de Soberania deveriam ser discutidas entre o Titular de cada Órgão e o
Poder Executivo; Proibição de admissão ou contratação de pessoal a qualquer título, sem o
devido planeamento de efectivos e previsão da respectiva dotação orçamental, exceptuando-se
a reposição decorrente de aposentação ou falecimento de funcionários públicos.

Em 2014, as finanças públicas nacionais continuaram vulneráveis aos choques do sector


petrolífero, os quais provinham tanto da oscilação da produção, como da volatilidade do preço
do barril do petróleo no mercado internacional. Devido este facto, como medida prudencial, o
Executivo continuou a assumir um nível de preço conservador para a projecção da receita
petrolífera no OGE, bem como a de constituição de Reservas do Tesouro Nacional das
receitas excedentárias sobre o nível do preço assumido. Com isso, a despesa pública limitou-
se a um nível de receita previsível, não comprometendo assim a sua realização, e
constituíram-se poupanças para a estabilização da despesa em períodos em que a receita se
mostrasse aquém do nível previsível.

Entretanto, da necessidade decorrente do aumento da cobertura e da melhoria da qualidade


dos serviços públicos, resultou pressão para o aumento da despesa pública. Por isso, o
Executivo procurou investir na melhoria do processo de planeamento e programação nos
serviços públicos, de modo a assegurar a racionalidade da despesa pública.

No ano de 2015 a gestão coordenada das políticas fiscais foi fortemente influenciada pelas
perspectivas pessimistas de desenvolvimento realizadas internamente e a nível do mercado
internacional, pelo curso antagónico entre as taxas de inflação e a taxa de câmbio de
referência do kwanza face ao dólar, bem como pela queda do preço do petróleo. Deste modo,
a política orçamental do corrente ano procurou adoptar um conjunto de medidas de
36

orçamentais de modo a tornar o orçamento mais equilibrado face às dificuldades enfrentadas


neste período.

De acordo com o OGE de 2016, o enquadramento plurianual da estratégia fiscal reforça o


carácter imperativo da prossecução do ajustamento fiscal e estrutural da economia, face as
vulnerabilidades que se impuseram para os processos de criação de receita e realização de
despesa e, consequentemente, reforço do serviço público.

As bases da gestão macroeconómica experimentam a prova de esforço estrutural em tempo


real, e o reforço da estabilidade macroeconómica demanda respostas estruturais para ajustar
os quadros económico, fiscal e monetário a um novo cenário de preços baixos do petróleo, e
remover factores endógenos estruturais, que se não removidos impedirão um crescimento
ordenado e mais acelerado da economia, ou conduzirão a uma recuperação mais débil e então,
com efeitos sobre o quadro fiscal.

Tendo em conta o défice fiscal estimado para 2016, o efeito das pressões conjunturais
identificadas para o cenário fiscal, a moderação da actividade económica – em particular o
enfraquecimento da confiança dos mercados e dos agentes económicos – e a situação
estrutural deficitária da posição fiscal não petrolífera, não corrigida do ciclo económico, que
precisava de ser controlada a favor da dinâmica da dívida, a política fiscal engendrou um
esforço de consolidação fiscal, em sede do exercício financeiro 2016. Neste contexto,
concorreram um conjunto de medidas de política orçamental de reforço da optimização da
receita e de compressão da despesa pública.
37

V. O COMPORTAMENTO DO SALDO ORÇAMENTAL NO PERÍODO 2002-


2013

O saldo orçamental da economia angolana sempre dependeu maioritariamente das receitas


fiscais petrolíferas, no entanto o desenvolvimento não era sustentável sendo que outros
sectores que deviam ser catapultados recebiam pouco investimento advindo das receitas
fiscais petrolíferas deixando o saldo global dependente das oscilações do preço do barril do
petróleo dentro do mercado internacional, logo nestes últimos 12 anos (2002-2013) o saldo
orçamental global passou por três períodos de défice : 2002, 2003 e 2009. Destacam-se
abaixo os dois anos em que houve défice pelo facto de ser nesta altura em que a aplicação de
medidas de consolidação orçamental se torna mais urgente.

1º Défice: 2002 e 2003

Em 2002 o défice registado foi de AOA 35 216 122 676,43. Com o país em guerra civil e a
estrutura económica desmantelada, a divida publica cresceu de forma descontrolada chegando
a atingir 104,5% o PIB.

Em 2003 o défice orçamental permaneceu relativamente elevado ( 7,9% do PIB),


consequência esta da guerra civil que terminou em 2002. Os empréstimo garantidos pelo
petróleo , contraídos juntos a bancos serviram maioritariamente para financiar aumento de
despesas ( salários de grandes efectivos de militares funcionários públicos, compras de armas
e subsídios ao consumo) essa situação conduz ao défice orçamental de 2003. Desta forma
podemos ver que este défice foi financiado através do recurso intensivo aos empréstimo e
donativos provenientes do exterior ,assim como a utilização dos bónus de assinatura das
companhias petrolíferas.

2º Défice: 2009

A Crise financeira internacional entre 2008 e 2009 levou ao colapso do preço, a nível
internacional, do barril de petróleo, sendo esta a base do défice orçamental da economia
angolana no período de 2009 com a quebra das receitas orçamentais o saldo orçamental global
sofreu uma deterioração acentuada excedente de 8,9% do PIB em 2008 para um défice de
7,4% em 2009. Neste ano as despesas excederam as receitas em 515,5 mil milhões AOA.
38

Gráfico 5 Dependência das finanças públicas e as receitas petrolíferas

O Gráfico ilustra a grande dependência das finanças públicas e as receitas petrolíferas.


Verifica-se com o gráfico que em 2009 verificou-se uma queda do preço do petróleo, por
força da baixa procura internacional que se deveu à crise económica internacional.
39

VI. MEDIDAS DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL IMPLEMENTADAS


EM ANGOLA NO PERÍODO 2014-2016
6.1. Políticas económicas e seus resultados no ano de 2014

De acordo com o balanço macro-fiscal do OGE 2017 em 2014 teve-se receitas de AOA
4.402,6 mil milhões e se teve despesas totais fixadas em AOA 5.221,4 mil milhões, do que
resulta um deficit global de AOA 818,7 mil milhões equivalente a 6,6% do PIB.

Quanto aos impostos a balança fiscal macroeconómica do OGE 2017 (MINFIN, 2017, p. 49)
apresenta um montante de 4.098,0 mil milhões de kwanzas como arrecadação de impostos
petrolíferos e não petrolíferos. Houve uma diminuição de aproximadamente 25,77% de
arrecadação de imposto de 2013 para 2014, tal como se pode ver no Balanço Macro-Fiscal
2013-2017 (p. 49), do relatório de fundamentação do OGE 2017. Tendo os impostos
petrolíferos saído de AKZ 3.629,8 mil milhões em 2013, para AKZ 2.969,8 mil milhões em
2014 (devido à diminuição do preço do barril do petróleo), e os impostos não petrolíferos
saído de 972,2 mil milhões de kwanzas para 1.128,2 mil milhões de kwanzas em 2014. Ou
seja, os impostos petrolíferos reduziram 18,18% e os não petrolíferos8 aumentaram em
16,04%.

No que diz respeito às despesas públicas, no âmbito do cumprimento do objectivo de


melhoria da eficiência dos serviços públicos pode-se notar um aumento de 8,41% das
despesas totais de 2013 à 2014. As despesas totais apresentadas em 2014 foram de 5.221,4
mil milhões de kwanzas e as de 2013 foram de 4.816,4 mil milhões de kwanzas.

No que diz respeito às despesas correntes, com excepção do item “subsídios” que diminuiu de
valor, o restante das despesas registou um aumento, tendo isto contribuído para o surgimento
do défice fiscal.

“A composição da despesa por natureza económica reflecte o


apoio prioritário à ampliação das infra-estruturas económicas e
sociais necessárias ao aumento da produção, do emprego e do
bem-estar da população, com a predominância dos dispêndios
para fins de Investimentos (23,44%), Amortização da dívida

8
Impostos não petrolíferos = Imp. s/ rend., lucros e ganhos de capital + Imp. s/ propriedade + Imp. s/ Bens e
serviços + Imp. s/ transações e Comércio Internacional + Outros Impostos.
40

(21,45%), Pessoal (18,87%); aquisição de Bens e Serviços


(19,71%); Subsídios (10,28%) e em contraposição às despesas
de menor expressão como Outras Despesas (4,50%) e
pagamento de juros (1,76%)”. (MINFIN, 2014, p. 45)

O executivo, pelo menos no que toque à diminuição das despesas do governo com vista a
aumentar o saldo orçamental não aplicou nenhuma medida de consolidação orçamental, tendo
se verificado, pelo contrário, um aumento das despesas correntes, cuja redução de seu
crescimento é recomendada como medida de consolidação orçamental. Esse aumento das
despesas públicas foi consequência

“da necessidade (…) da melhoria da qualidade dos serviços


públicos (…). Assim é que o Executivo investiu na melhoria do
processo de planeamento e programação nos serviços públicos,
de modo a assegurar a racionalidade da despesa pública.”
(MINFIN, 2014, p. 41)

No que diz respeito aos impostos,

“os desafios que se colocaram à política fiscal angolana foram


grandes em 2014, nomeadamente para fazer face à reduzida
capacidade de arrecadação de receitas e à incapacidade de
alargar a base tributável, também pelo peso significativo que o
sector informal teve na economia nacional” (MINFIN, 2014, p.
32).

O PERT9 visava optimizar e modernizar o sistema, o aparelho institucional e o quadro legal


na área da tributação, para transformar a fiscalidade num instrumento fundamental e eficaz de
desenvolvimento económico-social e de equidade na redistribuição do rendimento nacional.

A implementação do PERT, em 2014, foi norteada pelos objectivos que abaixo se identificam:

9
Projecto do Executivo para Reforma Tributária
41

“Reforma do sistema tributário - Criar um sistema tributário


justo, simples, eficiente e eficaz na arrecadação; Reforma da
justiça tributária - Assegurar o cumprimento dos deveres e a
protecção integral efectiva dos direitos dos contribuintes;
Reforma da tributação internacional - Reduzir a dupla tributação
e a evasão fiscal; Reforma da parafiscalidade - Simplificar o
sistema de taxas e outras receitas parafiscais, visando desonerar
a actividade dos particulares e empresas.” (MINFIN, 2014, p.
32)

De acordo com os dados apresentados no OGE 2014, não houve reduções nas despesas, mas
sim um aumento nelas na ordem de 8,41%. No que diz respeito aos impostos houve uma
diminuição de aproximadamente 25,77% em comparação a 2013. O défice orçamental de
2014 foi de 818,7 mil milhões de kwanzas. O total de receitas foi de 4.402,6 mil milhões
kwanzas. O total de despesas foi de 5.221,4 mil milhões de kwanzas.

6.2.Políticas económicas e seus resultados no ano de 2015

De acordo com o Ministério das Finanças (2015) a política orçamental neste ano, visou o
alcance dos objectivos preconizados no Plano Nacional de Desenvolvimento.

No que diz respeito às políticas orçamentais de potenciação da receita preconizava-se “a


continuidade do alargamento da base tributária da arrecadação não petrolífera, no âmbito da
Administração Geral Tributária (AGT)” (MINIFN, 2015, p. 21).

De acordo com o Ministério das Finanças (2015) as políticas ligadas às despesas orçamentais
visavam racionalizar e melhorar a qualidade da despesa, com a adopção de medidas
específicas, constantes no Relatório de fundamentação do OGE 2015, na página 22.

O Orçamento Geral do Estado, no seu item “5.3.1.2 - Medidas de gestão orçamental10”, ou se


se quiser Medidas de Consolidação Orçamental apresenta dois pontos:

“No contexto do ano orçamental 2015, a política fiscal enfrenta


importantes desafios decorrentes da recente dinâmica de queda
abrupta e prolongada do preço do petróleo, desde Junho de
10
MINFIN, 2015, p. 23
42

2014, em particular, a queda acentuada da receita pública. Em


resposta à actual conjuntura, torna-se imprescindível um quadro
de ajustamento fiscal como pré-condições para o reforço da
mitigação (suavização) dos impactos, quer a nível financeiro
como económico, reforço da estabilidade macroeconómica,
sustentabilidade fiscal e estabilidade financeira.

Este Quadro de Ajustamento Fiscal contempla um conjunto de


medidas fiscais de curto prazo e fundamenta-se em três frentes
de actuação: (i) Flexibilização e Consolidação Orçamental (ii)
Reforço das Bases Fiscais Apropriadas para o Crescimento da
Economia; (iii) Estabilidade Macroeconómica conjugada de uma
margem razoável expectável para o crescimento do produto
interno bruto” (MINFIN, 2015, p. 23).

De acordo com o Ministério das Finanças (2015), desde o princípio de 2014, o preço do barril
de petróleo caiu mais de 50%. O preço reduziu de USD 111,97, para um preço médio de USD
48,47, em Janeiro de 2015.

Segundo a mesma instituição (2015) as receitas totais foram de AOA 3.366,7 mil milhões de
kwanzas e as despesas totais foram de AOA 3.773,7 mil milhões, o que resultou em um défice
orçamental de AOA 407,0 mil milhões, equivalente a -3,3% do PIB.

No que toca às medidas de gestão orçamental implementadas para fazer face à queda do preço
do barril do petróleo de acordo com o Ministério das Finanças (2015), a flexibilização da
despesa centrou-se na redução da despesa total, tendo passado de AOA 5.221,4 mil milhões
para AOA 3.773,7 mil milhões, de 2014 para 2015. A despesa corrente caiu de AOA 3.665,9
mil milhões para AOA 3.037,5 mil milhões, correspondendo a uma redução percentual de
17,14%.

As flexibilizações incidiram sobre as despesas: Bens e serviços (redução de 36,99%), (ii)


Subsídios (redução de 58,32%) e Doações (redução de 37,7%).

O total de receitas em 2015 foi de 3.366,7 mil milhões de kwanzas. O total de despesas foi de
3.773,7 mil milhões de kwanzas. O saldo global deste mesmo ano foi de -407,0 mil milhões
43

de kwanzas. Pode-se notar que apesar dos esforços enveredados no sentido de reduzir as
despesas correntes e a continuidade da melhoria no processo de arrecadação de impostos não
resultaram em uma eliminação do défice orçamental, mas apenas uma diminuição em 50,29%
( de AOA -818,7 bilhões, em 2014, para AOA -407 bilhões em 2015).

6.3.Políticas económicas e seus resultados no ano de 2016

As Receitas totais deste ano foram de AOA 3.484,6 mil milhões, as despesas totais foram
estimadas em AOA 4.484,6 mil milhões, o que resultou em um défice fiscal de AOA 1.000,0
mil milhões, equivalente a -5,9% do PIB.

De acordo com o Ministério das Finanças o aumento do défice de 407,0 bilhões de kwanzas
em 2015 para um bilhão de kwanzas “é consistente com a necessidade de reforço do
crescimento” (2016, p. 30).

O principal objectivo das políticas orçamentais neste ano foi de “devolver o crescimento do
PIB para níveis mais robustos, não obstante a assunção de um défice agravado” (MINFIN,
2016, p. 30).

Em resultado do exercício de flexibilização fiscal pelo lado da despesa, o volume estimado


em 2016 foi uma despesa de capital na ordem dos AOA 961,1 mil milhões, face aos 736,2 mil
milhões de kwanzas de despesa de capital registadas em 201511.

A despesa corrente observou igualmente um ligeiro incremento (crescimento de 16%), ao


passar para AOA 3.523,5 mil milhões, face aos AOA 3.037,5 mil milhões de 2015.

As receitas totais em 2016 foram de 3.484,6 mil milhões de kwanzas. A despesa global foi de
4.484,6 mil milhões de kwanzas. A necessidade de financiamento foi de um bilhão de
kwanzas.

Houve um aumento do défice orçamental em 2016, por causa das políticas orçamentais
expansionistas aplicadas neste ano fiscal.

Primeiro notamos que o Governo angolano reconhece a sua reduzida capacidade de


arrecadação de receitas, tanto por causa da alta volatilidade do preço do barril de petróleo que

11
Dados do Balanço Macro-fiscal de 2017.
44

é um dos determinantes do volume das receitas arrecadadas pelo Estado do sector petrolífero
quanto pela extensão do sector informal. Notamos também que vai levar muito tempo até que
o Estado angolano deixe de depender maioritariamente das receitas fiscais petrolíferas e passe
a depender das receitas fiscais não petrolíferas. Logo, as receitas fiscais desde 2014, conforme
se pode notar no OGE de 2017 (MINFIN, 2017, p. 49), foram decrescendo, mostrando como a
economia angolana ainda é muito influenciada pela volatilidade do preço do petróleo e sua
produção e pelo nível da taxa de câmbio.

As despesas, por outro lado, foram crescendo em vista da necessidade de se cumprir as metas
delineadas nos orçamentos de 2014 e 2015. O governo angolano pretendia manter os gastos
públicos em níveis que não influenciassem o aumento da necessidade de financiamento e,
consequentemente, o aumento da dívida pública. Entretanto, a necessidade de se cumprir os
programas de fornecimentos de serviços públicos fez com que se gastasse mais do que o
previsto nos orçamentos iniciais. Tais gastos não só contribuem para o aumento do défice
orçamental como também agravam o nível de dívida pública e aumentam o pagamento dos
juros da dívida pública.

Os custos sociais do aumento do défice orçamental a partir de 2014 são evidentes. O facto de
as receitas fiscais ainda estarem muito dependentes do sector petrolífero não obstante o PIB
não petrolífero ter vindo a crescer mais do que o PIB petrolífero indica que ainda há muitas
empresas no sector não petrolífero que não pagam impostos, causando enormes perdas ao
Estado angolano (FMI, 2017, p.31). O aumento das despesas públicas combinado com um
reduzido volume de receitas fiscais implica as consequências acima mencionadas e
compromete as gerações futuras transferindo os encargos actuais com a dívida pública – o
aumento das despesas públicas em um nível superior ao das receitas públicas compromete a
sustentabilidade das contas públicas e mostra falta de disciplina fiscal quer no curto quer no
médio e longo prazos (MINFIN, 2015b, 19).
45

VII. A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS DE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL


IMPLEMENTADAS EM ANGOLA NO PERÍODO DE 2002 A 2016 SOBRE
O SALDO ORÇAMENTAL

Quadro 1 Evolução das receitas fiscais, despesas de capital e despesa correntes e do Saldo Global dos
Orçamentos Gerais do Estado de Angola

Ano Variação do Saldo global Variação da Receita fiscal Variação da Despesa corrente Variação da Despesa de capital
2003 -72 602 108 982,40 193 266 815 120,62 -152 774 801 487,19 42 547 144 184,63
2004 90 400 000 000,00 215 300 000 000,00 479 600 000 000,00 -3 400 000 000,00
2005 116 900 000 000,00 453 000 000 000,00 206 400 000 000,00 61 400 000 000,00
2006 262 000 000 000,00 539 200 000 000,00 127 400 000 000,00 301 300 000 000,00
2007 128 400 000 000,00 463 300 000 000,00 215 800 000 000,00 95 300 000 000,00
2008 367 500 000 000,00 1 017 400 000 000,00 693 000 000 000,00 361 300 000 000,00
2009 -1 408 100 000 000,00 -1 366 500 000 000,00 -141 100 000 000,00 -149 300 000 000,00
2010 1 031 500 000 000,00 1 390 800 000 000,00 426 100 000 000,00 -10 000 000 000,00
2011 484 900 000 000,00 1 433 200 000 000,00 882 200 000 000,00 113 000 000 000,00
2012 -276 300 000 000,00 298 200 000 000,00 256 000 000 000,00 298 500 000 000,00
2013 -692 300 000 000,00 -223 900 000 000,00 252 900 000 000,00 234 300 000 000,00
2014 -851 000 000 000,00 -504 000 000 000,00 228 600 000 000,00 176 300 000 000,00
2015 411 700 000 000,00 -1 056 000 000 000,00 -628 400 000 000,00 -819 200 000 000,00
2016 -593 000 000 000,00 50 000 000 000,00 486 000 000 000,00 224 900 000 000,00

Fonte: Própria. Dados retirados dos OGE 2017, 2016, 2014, 2013, 2012, 2011, 2010, 2008, 2007, 2006 e 2004.

Quadro 2 Estatística de regressão

Estatística de regressão
R múltiplo 96,35%
R-Quadrado 92,83%
R-quadrado ajustado 0,906760261
Erro padrão 1,94208E+11
Observações 14

Quadro 3 ANOVA
gl SQ MQ F F de significação
Regressão 3 4,88153E+24 1,62718E+24 43,14184345 4,98187E-06
Resíduo 10 3,77169E+23 3,77169E+22
Total 13 5,2587E+24

Quadro 4 Coeficientes e teste t-student

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P


Interseção -60829436679 67006352295 -0,90781597 0,385330282
Variação da Receita fiscal 0,997393344 0,100695505 9,90504335 1,7347E-06
Variação da Despesa corrente -0,582315024 0,263904229 -2,206539192 0,051863739
Variação da Despesa de capital -1,190979832 0,261574015 -4,553127461 0,001053215
46

7.1.Interpretação da análise de regressão

Tal como já foi aqui referido um ajustamento orçamental ou Consolidação Orçamental, de


acordo com o Conselho Das Finanças Públicas (2015) é um processo de redução do défice
orçamental das Administrações Públicas, medido em termos estruturais, por via de medidas
discricionárias de política orçamental.

As variáveis escolhidas para se fazer o estudo econométrico baseiam-se no conceito de


consolidação orçamental apresentado pelo Conselho de Finanças Públicas de Portugal (2015).
Com o saldo orçamental como variável dependente pretende-se analisar de que maneira
sofreu influência ao longo dos anos 2002-2016, da variação das receitas fiscais, despesas de
capital e correntes.

Com o presente estudo econométrico, pretende-se de forma objectiva, clara e quantificável


responder ao problema de pesquisa “qual foi a influência que as políticas de consolidação
orçamental implementadas em Angola no período de 2002 à 2016 tiveram sobre o défice
orçamental?” É através do conceito de coeficiente de determinação que se irá responder a esta
pergunta. Segundo Gujarati (2011), o coeficiente de determinação tem como objectivo medir
o poder explicativo das variáveis explanatórias sobre a variável explicada.

O coeficiente de determinação de 0,9283 significa que 92,83% das variações do saldo


orçamental ao longo do período 2002-2016, foram explicadas pelas variações das receitas
fiscais, da despesa de capital e corrente. Pode-se portanto concluir que 7,17% das variações
do saldo orçamental são explicadas por outras variáveis que não fazem parte deste modelo
(nesse caso as variáveis aleatórias).

De acordo com Mukaka (2009) o coeficiente de correlação de 96,35% significa que existe
uma correlação positiva elevada12 entre o saldo orçamental, as receitas fiscais, a despesa de
capital e as despesas correntes.

O modelo econométrico tem um valor de AOA – 60.829.436.679, o que significa que se se


considerar como nulos os valores da receita fiscal, da despesa de capital e a corrente o Saldo

12
Na sua forma original, de acordo com Mukaka (2008) “High positive”
47

Orçamental diminuirá em um valor médio com este montante, que provém da contabilização
das outras rúbricas do balanço macro-fiscal.

Pode-se verificar que considerando inalteráveis os valores das receitas, da despesa de capital e
da despesa corrente, por cada aumento de um kwanza de imposto arrecadado o saldo
Orçamental aumenta AOA 0,9974, por outro lado, considerando os impostos, as receitas e as
despesas correntes constantes, por cada aumento unitário nas despesas de capital o Saldo
Orçamental diminui em AOA 1,19. Partindo do pressuposto de que os impostos, as receitas e
as despesas de capital não se alteram por cada aumento nas despesas correntes o Saldo
Orçamental diminui em AOA 0,58.

Dado que o F de significância de 4,98187E-0613, que é menor que o nível de significância de


0,05, podemos afirmar que se deve rejeitar a hipótese nula (segundo a qual nenhuma das
vaiáveis do modelo de um efeito significativo) e considerar que entre as receitas, a despesa de
capital e corrente pelo menos uma rúbrica item tem efeito significativo sobre o Saldo
Orçamental. Em uma análise geral pode-se afirmar que todas têm um impacto sobre o saldo
orçamental.

Olhando os efeitos de forma individual de cada uma das variáveis acima mencionadas, de
acordo com o teste t-student, verifica-se que as variáveis despesa de capital e despesa corrente
têm um impacto negativo, com efeito significativo. O parâmetro amostral do intercepto não
têm efeito significativo, enquanto que o coeficiente angular da variável receita fiscal tem
efeito significativo.

Com os coeficientes pode-se verificar que a variável com maior influência sobre o Saldo
Orçamental no período 2002-2016, foi a despesa de capital. A receita fiscal foi a segunda com
maior grau de influência sobe o Saldo Orçamental.

Desta feita pode-se concluir, a partir da análise de regressão, que no período 2002-2016, as
políticas de consolidação orçamental implementadas por intermédio de variações nas despesas
de capital e correntes, bem como nas receitas fiscais, tiveram uma influência positiva sobre o
défice orçamental. Pode-se fazer essa conclusão a partir da variação das observações das
receitas fiscais e despesas de capital e corrente ao longo desse período. A correlação foi de

13
Este número está em notação científica. Por compreensão, escreve-se 0,00000498187.
48

92,83%, o que implica dizer que as variações destas rúbricas tiveram uma correlação positiva
forte com as variações do saldo orçamental neste período.

O período em que o Estado teve de se centrar mais na consolidação orçamental foi o de 2014-
2016, por causa do começo da crise económica.
49

VIII. CONCLUSÃO

No que concerne aos aspectos legais relacionados com as políticas de consolidação


orçamental concluiu-se que para que estas sejam efetivadas é necessário que se encontrem
definidas num documento, que neste caso é o OGE. Este é elaborado baseando-se em um
conjunto de fases, sendo que cada uma delas deve ser cumprida, para que as subsequentes
entrem em acção. A sua essência é definir os limites das despesas, bem como as formas de
arrecadação de receitas.

Quanto ao contexto económico do período 2002-2016 com base nos dados analisados
pudemos constatar que a economia angolana não apresentou um comportamento constante ao
longo de todo o período analisado, pois foram vários os aspectos que contribuíram para que
num primeiro momento apresentasse um crescimento acelerado e um posterior ritmo lento.

O primeiro momento teve início com a conquista da paz e prolongou-se até aos finais de
2008, sendo considerado por muitos como sendo uma das melhores fases que a economia
angolana vivenciou. Assim, este período foi marcado com episódios de variações anuais
positivas do PIB, tendo como destaque os anos de 2005 com 15% e 2007 com 13,9%.
Posteriormente, a economia começa a enfraquecer pelo facto de ter ocorrido a queda do preço
do barril de petróleo. Dado que, este foi durante muito tempo o principal responsável pelo
crescimento económico, a economia viu-se fragilizada diante de tal situação.

Relativamente à implementação das políticas de consolidação orçamental, importa referir que


no ano anterior ao de 2014 (começo da actual crise orçamental), houve défice igualmente nos
anos de 2003 e 2009. Mesmo com o défice de 2014 houve um aumento das despesas totais.
Neste ano (2014) o saldo orçamental, de acordo com o Ministério das Finanças (2017) foi de
-818, 7 mil milhões de kwanzas.

A consolidação orçamental de 2015 resultou em uma diminuição de 50,29% do défice


orçamental (graças à diminuição da despesa corrente e do aumento dos impostos não
petrolíferos). Em 2015 o défice orçamental foi de 407 mil milhões de kwanzas. Pode-se,
portanto, ver que a influência da política de consolidação orçamental implementada no ano de
2015 foi positiva uma vez que o salgo global orçamental teve uma variação positiva.

No ano de 2016 adoptou-se uma política orçamental expansionista, por isso o défice
50

orçamental se agravou. Neste ano a necessidade de financiamento foi de um bilhão de


kwanzas.

Os resultados da análise de regressão aqui efectuada revelaram que (com significância) a


variação das receitas fiscais, da despesa de capital e da despesa corrente explicaram 92,83%
das variações do saldo orçamental, o que significa que a hipótese positiva (segundo a qual as
políticas de consolidação orçamental implementadas no período 2002-2016 tiveram uma
influência positiva sobre o défice orçamental) pode ser aceite como verdadeira.
51

IX. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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X. ANEXOS

Quadro 5 Quadro Fiscal de Angola de 2013-2016

Em percentagem
Quadro Fiscal OGE do PIB OGE
2013 2014 2015 OGE OGE
Ord. (expressas em mil milhões de Kwanzas, excepto 2016 2016
Exec. Exec. Prel. 2016 2013 2014 2016
onde indicado em contrário) Revisto 2015 Revisto
Exec. Exec.
Prel.
1.0 Receitas 4 848,6 4 402,6 3 381,4 3 514,5 3 484,6 40,2 35,3 27,4 24,7 20,6
1.1 Receitas Correntes 4 847,8 4 402,1 3 380,3 3 514,5 3 484,6 40,2 35,3 27,4 24,7 20,6
1.1.1 Impostos 4 602,0 4 098,0 3 055,6 3 235,1 3 092,0 38,2 32,9 24,8 22,8 18,3
1.1.1.1 Petrolíferos 3 629,8 2 969,8 1 897,7 1 689,7 1 535,50 30,1 23,8 15,4 11,9 9,1
1.1.1.1.9 Dos quais: Direitos da concessionária 2 445,6 1 993,5 1 305,6 1 163,0 968,07 20,3 16,0 10,6 8,2 5,7
1.1.1.2 Não petrolíferos 972,2 1 128,2 1 157,8 1 545,4 1 556,54 8,1 9,1 9,4 10,9 9,2
1.1.2 Contribuições sociais 120,7 86,9 150,7 153,0 153,0 1,0 0,7 1,2 1,1 0,9
1.1.3 Doações 1,8 1,5 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
1.1.9 Outras receitas 123,2 215,7 172,8 126,4 239,6 1,0 1,7 1,4 0,9 1,4
1.2 Receitas de Capital 0,8 0,5 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
2.0 Despesa Total 4 816,4 5 221,4 3 858,0 4 295,7 4 484,6 39,9 41,9 31,3 30,2 26,6
2.1 Despesas correntes 3 437,3 3 665,9 3 044,9 3 480,1 3 523,5 28,5 29,4 24,7 24,5 20,9
2.1.1 Remuneração dos empregados 1 154,8 1 318,9 1 390,4 1 497,4 1 562,6 9,6 10,6 11,3 10,5 9,3
2.1.1.1 Vencimentos 1 083,7 1 246,7 1 313,6 1 420,5 1 484,0 9,0 10,0 10,7 10,0 8,8
2.1.1.2 Contribuições sociais 71,1 72,2 76,8 76,9 78,7 0,6 0,6 0,6 0,5 0,5
2.1.2 Bens e serviços 1 228,3 1 249,4 778,8 995,2 847,6 10,2 10,0 6,3 7,0 5,0
2.1.3 Juros 99,1 147,2 248,5 307,4 441,7 0,8 1,2 2,0 2,2 2,6
2.1.3.1 Externos 40,1 59,6 105,9 155,0 221,5 0,3 0,5 0,9 1,1 1,3
2.1.3.2 Internos 59,0 87,6 142,6 152,3 220,2 0,5 0,7 1,2 1,1 1,3
2.1.4 Transferências correntes 955,0 950,4 627,2 680,2 671,5 7,9 7,6 5,1 4,8 4,0
2.1.4.1 Subsídios 710,2 668,2 278,5 370,1 361,9 5,9 5,4 2,3 2,6 2,1
2.1.4.2 Doações 2,9 6,1 3,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
2.1.4.3 Prestações sociais 210,2 233,3 298,3 199,8 200,1 1,7 1,9 2,4 1,4 1,2
2.1.4.9 Outras despesas 31,7 42,9 46,6 110,3 109,5 0,3 0,3 0,4 0,8 0,6
2.2 Despesas de Capital 1 379,1 1 555,4 813,2 815,6 961,1 11,4 12,5 6,6 5,7 5,7
2.1 Aquisição de activos não Financeiros 1 376,4 1 547,3 796,4 815,6 961,1 11,4 12,4 6,5 5,7 5,7
2.1.1 Activos fixos 1 376,1 1 546,2 795,9 815,62 961,1 11,4 12,4 6,5 5,74 5,7
2.2 Outras 2,7 8,1 16,7 0,0 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0
3.0 Saldo Global (compromisso) 32,3 -818,7 -476,6 -781,2 -1 000,0 0,3 -6,6 -3,9 -5,5 -5,9
55

Quadro 6 Balanço macro-fiscal do OGE 2017

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