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FACULDADE DE ECONOMIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS FISCAIS

Docentes: Nome do Estudante:


Mestre Énia Nkalinga (R) Orlando José Penicela Júnior
Mestre Titos Siueia (A)
Dr. Khopre Munapeia (A)

Cevik, S., Huang, G. (2018). How to manage the fiscal costs of natural
disasters. How to Notes IMF. Washington DC: International Monetary Fund

COMO GERIR OS CUSTOS FISCAIS DOS DISASTRES NATURAIS

A crescente frequência e severidade dos desastres naturais e dos eventos


climáticos extremos tem estado por detrás de um progressivo aumento do
custo económico associado a esses eventos. Entre 1950 e 2015, cerca de 40
países foram assolados por desastres naturais com prejuízos correspondentes a
mais de 10% do seu PIB. Embora não existam diferenças sistemáticas entre os
Países de Alto Rendimento e os Países de Baixo Rendimento em termos
probabilidade de ser assolado por este tipo de desastres, os Países de Baixo
Rendimento tendem a sofrer prejuizos disproporcionalmente maiores e mais
duradoiros relativamente ao tamanho das suas economias e população.

Contrariamente a outros tipos de riscos fiscais (macroeconómicos e passivos


contigentes), os disastres naturais distinguem-se pela sua natureza exógena e
pela magnitude do seu potencial impacto. Os desastres naturais podem
deteriorar a posição fiscal do Governo de forma directa (aumentando a
despesa ou forçando a reorientação dos gastos de outras prioridades
orçamentais) ou de forma indirecta (corroendo a base tributária). O impacto
de qualquer desastre sobre as receitas públicas depende do nível de
diversificação da economia da composição das receitas tributárias. Estima-se
que, em média, a ocorrência de um desastre natural de média – grande
escala, provoca um aumento da Despesa Pública em 15% e uma redução
da Receita em cerca de 10% ao longo dos 5 anos posteriores ao desastre,
causando um significativo agravamento do déficit orçamental.

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Mas para além das implicações fiscais, os desastres naturais podem de uma
forma geral comprometer o crescimento económico e atrasar os objectivos de
desenvolvimento sobretudo nos Países de Baixo Rendimento onde prevalecem
elevados défices de infraestrutura e constrangimentos institucionais.

Numa perspectiva orçamental, os riscos fiscais relacionados com desastres


naturais representam um passivo contingente implícito. Quando os desastres
naturais ocorrem, os passivos contingentes convertem-se em custos reais
associados às operações de alívio económico e humanitário (no curto prazo) e
ao esforço de recuperação e reconstrução no (no médio-longo prazo).

Por isso, uma vez reconhecido o seu risco implicíto e custo fiscal potencial, os
desastres naturais devem, num País altamente vulnerável à sua ocorrência, ser
necessariamente parte da Declaração de Riscos Fiscais (DRF) que acompanha o
Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP), para que sejam tidos em conta no
processo de discussão e preparação dos Orçamentos anuais. A DRF é um
documento no qual se identificam e se apresentam os riscos fiscais iminentes
no horizonte no curto a médio prazo e se propõem medidas para a sua gestão e
mitigação.

Para fazer face a esse risco de desastres naturais e ao seu potencial custo
fiscal preservando a integridade orçamental, a estratégia de Gestão de
Finanças Públicas deve prever o estabelecimento de mecanismos de
amortecedores fiscais: i) provisões orçamentais ou reservas de
contingência - são recursos disponíveis dentro do Orçamento anual e que
podem ser usados para ajustar a despesa do Estado à eventuais novas
circunstâncias ou situações de emergência como é o caso dos desastres
naturais de intensidade moderada mas de frequência recorrente, e; ii) Fundos
de Desastres Naturais – são uma fonte de recursos especificamente dedicada
para a gestão desastres de grande magnitude, cujo uso é condicionado por um
cojunto de normas restritivas. Na existência desse Fundo, o Orçamento fica
menos exposto ao risco de desastres naturais que pela sua magnitude
poderiam comprometer a sustentabilidade fiscal a longo prazo daí que, esse
tipo de Fundo é classificado como um instrumento de Transferência de
Riscos.

A incorporação de amortecedores fiscais no Orçamento, enquadra-se numa


abordagem de Gestão Fiscal Baseada no Risco, que contempla os seguintes
passos:

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1. Quantificar as vulnerabilidades – obter estimativas precisas dos custos
fiscais;
2. Investir na redução do risco – reforçar a capacidade de resiliência das
infra-estruturas contra os desastres naturais;
3. Adoptar a flexibilidade salvaguardando a credibilidade – os orçamentos
deve ser suficientemente flexíveis para poder responder pontualmente a
uma situação de desastres;
4. Desenvolver planos de financiamento de contingência - planos
contingentes de alívio a desastres devem combinar auto-financiamento
(fundos e reservas de contigência), Donativos e Empréstimos e
Transferência de Riscos.
5. Conceber os amortecedores fiscais – dependendo da extensão da
vulnerabilidade, a experiência internacional recomenda que se reserve até
3% da despesa para cobrir os riscos fiscais relacionados aos desastres
naturais. No fim do ano fiscal, os fundos não aplicados (ou uma fracção
destes) podem, ser canalizados para um Fundo de Desastres para uso em
desastres futuros.

Entretanto, mesmo na presença de mecanismos de amortecedores fiscais


(reservas de contingência e Fundos de Desastres Naturais), as necessidades
imediatas do pós-desastre podem exigir recursos adicionais. Nestes casos, a
alternativa tem sido a realocação de recursos dentro do Orçamento. A
realocação do Orçamento pode ser feita em três modalidades:

1. Transferência (Virement) – é a passagem de recursos de uma prioridade


orçamental para outra, sem que seja necessária uma autorização
parlamentar para o efeito. Obviamente que esta transferência não afecta
o montante total da Despesa orçamentada e em príncipio não deve
alterar significativamente a composição da Despesa autorizada pelo
Parlamento.
2. Orçamento Suplementar – recursos adicionais que alteram o limite do
Orámento anual, e provocam modificações de fundo na estrutura de
alocação de recursos aprovada pelo parlamento. O orçamento
suplementar carece de nova autorização Parlamentar e é uma alternativa
que deve ser usada para situações de grandes calamidades naturais
quando as necessidades não podem ser suficientemente cobertas pelas
transferências e pelas reservas de contingência.
3. Repriorização de Despesas entre Orçamentos – reprogramação de
despesas para os orçamentos dos próximos anos, para permitir a criação
de espaço fiscal para cobrir as despesas de emergência.

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