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9123 Diário da República, 2ª série – Nº 123 – 09 de junho de 2016

Artigo 1º Esta coordenação resulta ainda do facto do orçamento


comunitário não ter vocação de estabilização
União Económica e Monetária macroeconómica global, alem de ter uma dimensão
De 1990 a 1993 existia o objetivo de reforçar as muito reduzida.
políticas económicas e monetárias entre os Estados Os programas de estabilidade e crescimento (sendo
membros no contexto da criação do mercado único e também instrumento de programação em médio prazo
previa a integração das moedas comunitárias no Sistema ou plurianual da despesa pública) deveriam conter o
Monetário europeu. estatuo do programa e as medidas previstas + conteúdo
De 1994 a 1998 existiu a promoção de uma do programa + informação sobre a consistência dos
convergência nominal dos Estados membros, ou seja, a objetivos orçamentais e das medidas previstas para os
convergência dos principais agregados alcançar com as especificações sobre a politica
macroeconómicos como a inflação, taxas de cambio, económica e medidas com o objetivo de melhorar a
taxas de juro, divida publica e défices orçamentais, o qualidade das FP e alcançar sustentabilidade a longo
que levou à apresentação anual dos programas de prazo.
convergência. Houve também concretização da
autonomia dos bancos centrais.
Artigo 3º
Para os países aptos a adotar a moeda única, teriam de
ser cumpridos dois pressupostos, cumulativamente: Críticas ao PEC – vários países começaram a incumprir,
défice orçamental no máximo de 3% e critério da dívida incluindo PT:
pública não ultrapassar os 60% PIB.
→ o pacto dizia-se que era de “estabilidade e crescimento”,
A terceira fase marcou-se pela adoção de uma moeda mas, na verdade, parecia apenas de estabilidade e não de
única pela generalidade de Estados que preencheram os
crescimento;
critérios de convergência nominal, o que implica a perda
dos instrumentos convencionais de estabilização → o pacto era cego a vários tipos de realidades: em relação
macroeconómica, as políticas monetária e cambial. ao desenvolvimento económico, em relação às fases do
ciclo económico, em relação à diferenciação de despesas,
etc.;
Artigo 2º
→ o pacto não era verdadeiramente sensível às medidas
PEC estruturais, tratando tudo por igual.

É constituído por dois grupos de institutos que


configuram uma intervenção comunitária com natureza A preocupação fundamental está em garantir um
e força jurídica diferentes: vertente preventiva (prevê comportamento financeiro ao longo do ciclo e uma plataforma
que os EM atinjam uma posição de equilíbrio de ajustamento em direção ao MTBO (medium-term
budgetary objective). Os Estados devem, então, adotar uma
orçamental, de modo a criar um sistema de supervisão
abordagem mais consentânea em períodos de recuperação
de acordo com o qual os EM devem apresentar os seus
económica, evitando políticas pró-cíclicas e aproximando-se
programas de estabilidade e crescimento, ajustando as gradualmente do objetivo de médio prazo.
medidas de acordo com o objetivo de atingir a
estabilidade orçamental) e vertente sancionatória (cria Artigo 4º
um procedimento por défice orçamental excessivo –
ultrapassando os 3%PIB – prevê a aplicação de sanções, Six Pack
de gravidade crescente, em função de incumprimento do
PIB de cada país incumpridor). Constituído por 6 medidas de dt comunitário derivado,
de 2011, em que visava reforçar as medidas de
Surgiu devido à necessidade de coordenação das supervisão multilateral das políticas económicas e
políticas orçamentais pois, caso contrário, poderiam associar-lhe novas sanções para o caso de
existir penalização dos países que nada de erraram incumprimento dos objetivos orçamentais fixados aos
fizeram por sofrerem os efeitos dos países lenientes. Estados membros. Acima de tudo, trata-se de reforçar o
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quadro comum de governação económica, em se a Comissão identificar um desvio significativo em


conformidade com o elevado grau de integração relação à trajetória de ajustamento ao objetivo
alcançado entre as economias dos Estados membros da orçamental de médio prazo, e a fim de evitar a
União e, em especial, da área do euro. ocorrência de um défice excessivo, será dirigida uma
advertência precoce ao Estado-Membro em causa.

Era constituído por 5 regulamentos e uma diretiva: Para a avaliação global do desvio em relação ao objetivo
orçamental de médio prazo devem-se ter em conta os
Os regulamentos alteram o PEC, quer na sua seguintes critérios:
vertente preventiva (por exemplo, prevê-se a critério quantitativo: ao avaliar a variação do saldo
constituição, pelo Estado incumpridor, de depósitos estrutural, se o desvio for de, pelo menos, 0,5% do
remunerados; é estabelecido um mecanismo de PIB num só ano, ou de, pelo menos, 0,25% do PIB,
alerta para facilitar a identificação precoce e a de média anual, em dois anos consecutivos; ao
vigilância de desvios macroeconómicos; etc.), quer avaliar a evolução da despesa, se o desvio tiver um
na sua vertente sancionatória (por exemplo, prevê-se impacto total sobre o saldo da Administração
a constituição, pelo Estado incumpridor, de Pública de, pelo menos, 0,5% do PIB num único
depósitos não remunerados; aplicação de multas ano, oi, cumulativamente, em dois anos
para os casos de manipulação de estatísticas por consecutivos;
parte dos Estados; etc.) critério qualitativo: o desvio não será considerado
A diretiva é muito importante já que veio a ser significativo se o Estado-Membro em causa tiver
definitivamente transposta. Contém medidas como ultrapassado significativamente o objetivo
as seguintes: os Estados membros devem criar orçamental de médio prazo, tendo em conta a
sistemas contabilísticos que abranjam todos os possibilidade de receitas excecionais significativas,
subsectores da Administração Pública e contenham desde que os planos orçamentais estabelecidos no
as informações necessárias para gerar dados de programa de estabilidade não coloquem em risco
exercício, com vista à elaboração dos dados este objetivo ao longo do período de vigência do
baseados no SEC95; os Estados membros programa.
asseguram que o planeamento orçamental se baseia
em previsões macroeconómicas e orçamentais
realistas, recorrendo, para isso, às informações mais
Artigo 5º
atualizadas; os Estados membros devem estabelecer
um quadro orçamental eficaz, credível, a médio Two Pack

prazo que facilite a adoção de um horizonte de A União Europeia fez aprovar as duas últimas peças
planeamento orçamental de, pelo menos, três anos, a legislativas (dois regulamentos comunitários) do após
crise, em 2013:
fim de assegurar que o planeamento orçamental
nacional se inscreve numa perspectiva de • O primeiro regulamento cria novos
planeamento orçamental plurianual; etc. procedimentos e regras de supervisão para
países que se encontrem em dificuldade
O six pack garante aprofundamento do conceito de financeira. Aplicar-se-á em três casos: países
desvio significativo, complementado por um mecanismo em situação de dificuldade financeira severa;
efetivo de sanções, por referencia ao ajustamento do
países que se encontrem a receber assistência
objetivo orçamental de médio prazo. Assim, doravante,
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financeira; países que estão em vias de Artigo 7º


abandonar essa assistência. Com esta
Austeridade
regulamentação, pretende-se melhorar a
1- Visões da austeridade canónica: forma de
transparência e os canais de acompanhamento
deflação voluntária em que a economia se ajusta
relativamente aos países visados. através:
• O segundo regulamento aplica-se aos países da a) redução de salários;
b) redução de preços;
zona euro e visa fortalecer a base jurídica do
c) despesa púb.
processo de coordenação económica do
Semestre Europeu, dando maiores poderes à 2 - Vista: recuperação da competitividade alcançada
com cortes na despesa e divida publica e défices
Comissão na monotorização do cumprimentos orçamentais. Acreditando no restabelecimento de
dos objetivos orçamentais definidos de acordo confiança nos negócios. Suprira efeito crowding out na
com o PEC. Os países devem assim apresentar economia, e não aumenta a divida.
à Comissão os seus projetos de orçamento, Artigo 7-A
nessa mesma altura do ano, (15 de Outubro), e
Crowding out
a Comissão terá o direito de se pronunciar
sobre eles, podendo inclusive propor que os Entre os instrumentos normalmente à disposição do
Estado para influenciar a economia está a denominada
projetos de orçamento sejam revistos, o
política orçamental, que está relacionada com a
regulamento prevê também uma monotorização cobrança de impostos, a realização de transferências e a
mais apertada aos países da zona Euro, no aquisição de bens e serviços por parte daquele. A
política orçamental implementada pelo Estado tem
quando do procedimento orçamental por
assim reflexos ao nível das variáveis macroeconomias
défices excessivos. da economia em causa, designadamente no seu produto
(indicador de riqueza gerada). A medida do produto
pode ser feita do lado da procura agregada, sendo que
Artigo 6º nesse caso se entra em linha de conta com rubricas como
o consumo privado, o consumo publico e o
Equilíbrio orçamental
investimento, entre outras.
Equilíbrio em sentido formal: refere-se a uma
A politica orçamental do estado reflete-se na elaboração
igualdade contabilística entre receitas e despesas, e posterior execução de orçamentos, normalmente
sendo que a violação desta exigência é quase anuais, que incluem a previsão das receitas e das
despesas do Estado.
impensável, apenas podendo acontecer por
manifesto erro grosseiro. Artigo 7 - B

Equilíbrio em sentido substancial: permite Medidas Expansionistas


evidenciar a situação orçamental do Estado,
1 - Política orçamental restritiva: quando as receitas
confrontando um certo tipo de receita, com um certo superam as despesas – orçamento excedentário.
tipo de despesa (receitas e despesas de referência) e
2 – politica orç expansionista – quando as despesas
definindo uma linha, acima da qual haverá ultrapassam as receitas – orç deficitário.
equilíbrio e abaixo da qual se verificará uma
O Estado pode atenuar o efeito das crises com
situação de défice orçamental.
políticas orçamentais expansionistas. Do ponto de
vista monetário, o aumento da moeda em circulação
é um dos meios da política monetária expansionista.
Através do aumento da moeda em circulação, e da
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consequente procura de bens, a economia tende a saldo estrutural anual das administrações atinja o
crescer mais do que se se tivesse seguido uma objetivo de médio prazo específico desse país, tal como
política monetária restritiva. De igual forma, o definido no PEC revisto, com um limite de défice
aumento do consumo e do investimento público estrutural de 0,5% do PIB a preços de mercado. Esta
aumentará a procura de bens, aumentando a previsão remete-nos para uma outra forma de olhar para
produção nacional (apenas em parte, visto que o saldo orçamental que não a convencional.
muitos bens são importados).
saldo global (salG = reEf – desEf). Este saldo pode
Se a política expansionista tem a vantagem de fazer traduzir-se em duas situações: uma situação de superavit
crescer a economia no curto prazo (nem sempre isso (havendo um excesso de receitas efetivas em face das
acontece, cada vez sucederá menos), uma política despesas efetivas, o Estado apresenta capacidade de
mais restritiva tem a vantagem de repercutir-se em financiamento líquido); uma situação de défice
finanças públicas mais saudáveis e de incentivar o orçamental (havendo insuficiência de receita efetiva
esforço individual para ultrapassar os problemas para suportar a despesa efetiva, o Estado tem
necessidade de financiamento líquido). Ou seja, as
económicos, tornando as pessoas mais competitivas
receitas e as despesas correspondentes a passivos
e mais bem preparadas para ultrapassar as
financeiros situam-se abaixo desta linha, sendo
dificuldades que as esperam.
qualificadas como receitas e despesas não efetivas.
No fundo, as políticas mais restritivas têm a O saldo primário ((salP = reEf – (desEf –
vantagem de permitirem políticas mais jurosDivPub)) tem um grande interesse analítico por
expansionistas no futuro, na medida em que se duas razões:
equilibram as contas públicas, primeiro, para depois em primeiro lugar, porque é através do confronto do
poder baixar os impostos e incentivar o investimento.
saldo primário com o saldo global que é possível
As políticas expansionistas com recurso a
estimar o peso que os juros da dívida pública têm no
investimento público podem agravar o desequilíbrio
orçamental e, desta forma, pôr em causa a saldo global;
sustentabilidade futura das contas públicas. Foi o que em segundo lugar, porque a obtenção de saldos
aconteceu em Portugal: o Estado gastou e investiu
primários positivos é uma das condições de
mais, mas a economia não cresceu o suficiente para
sustentabilidade da dívida pública.
conseguir pagar o excesso de despesa/investimento
efetuado.

Artigo 12º
Artigo 8º
I. Défice: quando o valor das despesas de 1
Saldo orçamental governo é maior que as suas receitas. % sobre
PIB do país, comparando e avaliando excessos
O saldo orçamental traduz a diferença entre as receitas e
em relação ao valor de produção.
as despesas de referência.
II. Austeridade: implica o restabelecimento das
A poupança bruta corresponde à noção de saldo condições de competitividade através da
desvalorização.
corrente (salC = reC – desC), sendo que esta noção
III. Discriminação: económica, orgânica, funcional.
aparece tradicionalmente associada à definição da regra
IV. Anotação praisional (n conhecida imediata com
de ouro da política orçamental.
orç): imprevisível e inadiável.
Em certos casos servir para tolerar o endividamento
Artigo 14º
público, quando este se destine a fazer face às despesas
de investimento. O sentido da regra de ouro, Abba Lerner vem dizer que as finanças públicas devem
concretizada no pacto orçamental, de que antes tratámos, ser funcionais e ativas e objetivo é o combate ao
é diferente: aqui, do que se trata, é de garantir que o
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desemprego, de tal forma que o pleno emprego não Modalidades de receitas:


poderá ser sacrificado, em circunstância alguma:
funcionalização das finanças. a) Receitas Patrimoniais São as que resultam da
administração do património do Estado ou da
Artigo 15º disposição de elementos do seu ativo e que não
tenham carater tributário.
Estratégia da política orçamental vem suscitar, se a b) Receitas Tributárias São as receitas provenientes
política orçamental deve ser marcada pela da cobrança de tributos, tais como os Impostos,
discricionariedade ou pela sujeição a regras. Nas as Taxas e as Contribuições financeiras. (tudo
políticas discricionárias, o Estado pode fazer o que disto em baixo)
quiser, tendo total liberdade para conduzir a sua política. c) Imposto de soma fixa: são impostos que
Esta ideia faz da política orçamental o exercício de resultam do estabelecimento de um montante
escolhas, em função das legitimidades do momento. Nas uniforme a ser pago por todos os contribuintes.
regras, destaca-se Milton Friedman sendo que, para este, Ex: Taxa de audiovisuais na fatura da EDP ou
a política económica deveria ficar confinada à definição valor fixo igual para todos os contribuintes
de regras do jogo, claras e estáveis, que permitissem a (10€). Não atende à capacidade tributária de
antecipação e a previsibilidade. Aparece também cada contribuinte.
Prescott com o modelo das expectativas racionais, d) Imposto progressivo: imposto com várias taxas
segundo o qual se há um governo que dá sinais de ser consoante as classes de contribuintes
um Governo gastador, que realiza despesa pública, é apresentadas. Este imposto segue os propósitos
claro que há uma antecipação da inflação. A grande da igualdade verticais e horizontais próprias da
preocupação destes autores era controlar a inflação e, capacidade de pagar. Ou seja, atende à
para isso, eram definidas regras para que ela não capacidade tributária de cada contribuinte, pois
ultrapassasse certos valores. quem mais rendimento tira, mais paga.
Artigo 16º Imposto proporcional: imposto com taxa fixa. Ex: 3%
AR diz se o orç é viável ou não, é por votação global art Este tipo de imposto não atende à capacidade tributária
a art ou se alguém quiser votar a norma de um art, terá de cada contribuinte, uma vez que cada um paga um
de ser norma em normal. Existe 1 guião que vai para a valor cero do seu rendimento.
AR com os moldes de votação: regra parlamentar. Esta distinção das receitas tribuárias tem relevância a
Artigo 17º nível jurídico-constitucional, designadamente quanto ao
princípio da legalidade fiscal, pois de acordo com o art.
O estado não tem dinheiro, tem receitas, que provem de 165º nº1, alínea I da CRP, a criação de impostos, regime
bolso dos contribuintes. Taxas, impostos, lucros quando geral das taxas e demais contribuições financeiras, é da
existem, coimas/sanções e vendas. Divida contraída reserva relativa da AR. Deste princípio podemos
hoje, paga-se com os impostos de amanhã. concluir: - Relativamente aos impostos: exige que o tipo
fiscal, bem como os demais elementos essenciais (103º
Artigo 18º nº2 CRP) sejam criados por lei. - Relativamente às taxas
e contribuições financeiras: apenas se impõe que da lei
- Princípio da legalidade tributária: as receitas devem
especifique o respetivo regime geral. Quer isto dizer que
ser regidas e criadas por lei, ou então em respeito pela
o tipo de cada taxa ou contribuição financeira pode ser
Lei. - Princípio da renovação anual: as receitas não
concretizado por um ato normativo inferior
podem ser cobradas sem autorização orçamental anual. -
O Princípio de que as receitas devem encontrar-se Artigo 29º
integralmente previstas no OE. - Principio da não
dedução das despesas de cobrança, como Os tributos são prestações pecuniárias em favor do
consequência da regra da não compensação - Princípio Estado (ou de outras entidades públicas), de natureza
da não consignação a despesas específicas, salvo em obrigatória e sem carater sancionatório.
relação a casos especiais ou excecionais previstos na lei.
Imposto: constituem tributos unilaterais, pois o
Artigo 19º pagamento de impostos não envolve qualquer
contraprestação direta.
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O princípio da capacidade contributiva (art. 104º nº1 f) - Impostos sobre os veículos (ISV). O ISV traz
CRP) está ligado ao imposto, pois cada como principal inovação o alargamento da base de
contribuinte/sujeito passivo deve pagar consoante a sua incidência a veículos que, até agora, não estavam
capacidade, ou seja, consoante o seu rendimento pagará sujeitos ao imposto automóvel e cuja sujeição a
mais ou menos. Os tributos unilaterais típicos imposto especial no momento da compra se justifica
(Impostos), situa-se fora da relação entre sujeito passivo pelos custos ambientais, viários e de sinistralidade
e administração, cujo pressuposto assentando no que lhes estão sempre associados. Assim se sucede
património do sujeito passivo e outros fatores de riqueza com os motociclos e autocaravanas, integrados no
(ex: consumo, rendimento), e têm como finalidade o âmbito de incidência do novo impostos, ainda que
financiamento geral das despesas públicas em geral. lhes sejam aplicáveis taxas de imposto menos
elevadas, pelo menor custo ambientável e viário que
Artigo 20º produzem. A base tributável desde imposto é
O sistema Fiscal português - Então, no nosso sistema constituída pelo nível de emissão de dióxido de
fiscal, temos impostos sobre três componentes: carbono ou de partículas pesadas.

a) Impostos sobre o rendimento: temos o imposto Artigo 21º


sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) e o Taxas: constituem tributos bilaterais, pois o seu
imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas pagamento pressupõe uma determinada contrapartida
(IRC). específica, tendencialmente direta e imediata (em alguns
b) Impostos sobre o património: a criação de um casos pode ser diferida no tempo). As taxas são cobradas
sistema efetivo de avaliação dos prédios urbanos e tendencialmente numa de 3 situações: - Pela utilização
rústicos fez com que fosse possível estabelecer o de bens de domínio público Ex: taxa de saneamento -
valor patrimonial próximo do valor de mercado Pela obtenção de um serviço público - Pela remoção de
desses mesmos prédios (IMI), e não sobre o um obstáculo jurídico ao exercício da atividade privada
rendimento. Ex: Obtenção de Licenças, Alvarás e taxas de justiça O
c) Impostos sobre o consumo (existência de um custo Princípio da equivalência jurídica está subjacente à taxa,
social associado ao consumo de determinados bens, pois esta deve ser tanto maior quanto o benefício obtido,
tendo em vista a internalização de externalidades ou seja, tem de existir uma relação paritária entre o
negativas geradas, como seja o deperecimento da imposto e a contrapartida recebida. A taxa tem como
saúde pública ou do meio ambiente, que pressuposto uma prestação administrativa de que o
fundamenta a arrecadação da receita do estado. Há 3 sujeito passivo seja efetivo causador ou beneficiário e
impostos sobre o consumo: tem como finalidade a compensação à administração
d) O imposto sobre o valor acrescentado (IVA); O dessa mesma prestação.
IVA é um imposto de tipo consumo assente no
sistema de pagamentos fracionados destinados a Artigo 23º
tributar o consumo final, sendo que a dedução do
imposto pago nas operações intermédias do circuito Receitas creditícias São as receitas resultantes do
económico é, desta forma, indispensável ao crédito público e ao contrário das demais receitas
funcionamento deste sistema públicas, são receitas não efetivas. Embora se traduzam
e) - Impostos especiais sobre o consumo (IEC); Os numa entrada de ativos monetários no património de
IEC pretendem punir o consumo de determinados tesouraria do Estado, implicam o registo no passivo
bens, assumindo-se como sendo uma alternativa à financeiro, de um valor exatamente igual ao do da
proibição. Assim, a tributação é de caráter receita assim obtida. O recurso ao crédito é explicado: -
repressivo, no caso dos tabacos e das bebidas Pela existência de défice orçamental: as receitas efetivas
alcoólicas e, no caso dos produtos petrolíferos e são insuficientes para cobrir as despesas efetivas (assim,
energéticos, a tributação visa a proteção do o défice influencia a valor da dívida pública) - Ou pela
ambiente. Os IEC constituem verdadeiros impostos existência de um stock prévio de dívida acumulado
pigouvianos, sendo que são um instrumento
incontornável na correção das externalidades.
Estamos na presença de impostos de finalidade Artigo 24º
extrafiscal.
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Conceito de dívida pública e suas modalidades O processo de emissão de dívida pública é regulado pela
principais Numa aceção ampla, podemos considerar a CRP, pela LEO e pela lei 7/98 que limitam todos os
dívida pública como a dívida do Estado, que como setores do Estado.
qualquer dívida, traduz um, ou um conjunto, de
compromissos financeiros vencíveis num determinado 1) A primeira limitação resulta da necessária
prazo. Não se deve confundir a dívida pública com a autorização parlamentar quando esteja em causa
dívida soberana, pois: - A dívida pública: tanto pode dívida pública fundada – art. 161º alínea H da
aferir-se a dívida de curto como de longo prazo - A CRP. Esta autorização decorre do princípio da
dívida soberana: respeita apenas à divida de longo prazo. democracia financeira e visa assegurar que os
A dívida pública abarca a dívida do Estado (stricto representantes do povo exercem o controlo
sensu), a dívida das administrações regionais e do SEE. efetivo sobre os futuros encargos do país.
A dívida pública traduz o conjunto de situações passivas Representa ainda uma garantia aos credores da
de que o Estado (lato sensu) seja titular, determinada satisfação do seu crédito. À AR, com base neste
pelo recurso ao crédito (daí se falar em passivo preceito, compete ainda a definição das
financeiro, ou seja, enquanto correlação da contração de condições gerais dos empréstimos a emitir que
empréstimos). Tal como as receitas do crédito público são, de acordo com o art. 4º nº1 da Lei 7/98, o
traduzem receitas não efetivas do Estado, também a respetivo montante e os prazos de vencimento.
amortização da dívida traduz uma despesa não efetiva. 2) Além disso, a LEO define, no art. 31º alíneas E
a G, que a lei parlamentar onde consta a
a) - Dívida Financeira do Estado: a que está autorização para a contratação de empréstimos e
associada à contração de empréstimos ou à a definição das respetivas condições gerais é A
emissão de dívida pública (de forma geralmente Lei do Orçamento de Estado, logo essa
titulada) autorização é anual.
b) - Dívidas não Financeiras: são as dívidas 3) Neste processo, segue-se, de acordo com o art.
contraídas a quem o Estado adquire bens e 5º nº1 da Lei 7/98, a definição das condições
serviços. Embora esta dívida seja registada, não complementares a que devem obedecer a
é avaliada na sua relação com o PIB. emissão, negociação e contratação da dívida em
c) Dívida direta do Estado: situações em que o Conselho de Ministros
Estado é o devedor principal 4) Por último, é ainda necessário a definição das
d) - Dívida acessória do Estado: situações em que condições específicas dos empréstimos a
o Estado é devedor subsidiário contrair pela Agência de Gestão da Tesouraria e
e) Critério de maturidade - Curto prazo: no caso de da Dívida pública – IGCP, EPE, onde o
ser inferior a 1 ano. - Longo prazo: o caso de a Ministro das Finanças tem um papel
dívida é superior a 1 ano preponderante, mediante as linhas de orientação
f) - Dívida Flutuante: quando a amortização da que emite. O IGCP é a principal entidade
dívida ocorre no mesmo exercício orçamental responsável pela gestão da dívida.
(01JAN a 31DEZ) em que a dívida foi 5) A hipótese de renegociação da dívida pública
contraída. portuguesa de que tanto se fala, traduz uma
g) Dívida Fundada: se a amortização ocorre em forma de gestão anormal da dívida pública,
exercício orçamental diferente daquele em que qualificado como conversão, que consiste na
haja sido contraída. Ex: Dívida em Dezembro de alteração, por acordo ou pelo devedor, das
2014 a pagar em janeiro de 2015 A distinção de condições contratuais em que foi celebrado o
curto ou longo prazo não releva neste critério. O empréstimo público, no decurso da vigência
regime jurídico aplicável a esta distinção é dos deste.
art. 161º alínea H da CRP e Lei 7/98, sendo
mais exigente na dívida fundada. Artigo 27º

Artigo 26º Instrumentos da dívida direta (art. 11º Lei 7/98)

Emissão e gestão da dívida pública direta 1) - Contrato É a forma convencional de


empréstimos a que o Estado recorre. Franco
defende que este contrato é um contrato
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financeiro de direito público, com características condições suplementares previstas no art. 9º


mais próximas do Dto Comercial que do Dto (viabilidade financeira e solidez económico-
Administrativo financeira do solicitante). - Elaboração de
2) - Obrigações do Tesouro (OT) – DL- 280/98 pareceres que venham a ser solicitados em apoio
Constituem o principal instrumento utilizado à decisão governamental - Decisão final do
pelo Estado português para se financiar. As OT Ministro, mediante Despacho, onde fundamente
são valores mobiliários de médio e longo prazo, a demonstração que o projeto reúne as
cuja emissão se efetua através de operações condições legais e é de manifesto interesse para
sindicadas, leilões ou por operações de a economia nacional (art. 15º)
subscrição limitada (tappng). O IGCP tem
privilegiado as duas primeiras formas. Artigo 29º
3) - Bilhetes do Tesouro (BT) – DL- 279/98 e DL-
Despesa pública: é o conjunto de dispêndios realizados
261/2012 Constituem um importante pelos entes públicos para custear os serviços públicos
instrumento de financiamento do Estado e de (despesas correntes) prestados à sociedade ou para a
intervenção monetária. Nelson Pimenta FDL realização de investimentos (despesas de capital).
24761 31 Os BT são valores mobiliários de
curto prazo com o valor unitário de um Euro, Despesas de consumo: engloba a despesa do Estado na
podendo ser emitidos com prazos até um ano, aquisição de bens, tendo em vista a satisfação das
colocados a desconto através de leilão ou necessidades presentes a que um sujeito se propõe.
subscrição limitada e reembolsáveis o
vencimento pelo seu valor nominal. Despesas de investimento: engloba a despesa pública
4) - Certificados de Aforro (CA) – DL- 122/2002 que visam um rendimento ou um retorno futuro.
São instrumentos de dívida cridos com o Representa todo o capital físico adicional adquirido pelo
objetivo de captar a poupança das famílias. setor público e privado ao fim de um determinado
período de tempo.
Artigo 28º
Despesas Produtivas: é a despesa pública que se limita a
A dívida pública condicional e acessória gerar utilidades no presente, esgotando-se a sua utilidade

A dívida pública é uma dívida acessória pois não Despesas reprodutivas: são as despesas públicas que
constitui uma divida direta do Estado. Nem mesmo do implicam o aumento da capacidade produtiva no futuro,
ponto de vista orçamental é percecionada como tal, pois ou seja, aquela utilidade repete-se.
nem sempre chega a materializar-se. Logo, é uma divida
condicional e subsidiária, uma vez que o Estado só a despesas produtivas, ela esgota-se naquele momento,
assume, se e quando esta não for paga pelo devedor sendo apenas uma despesa sem qualquer tipo de
principal, sendo o primeiro o garante do direito de benefício, ao passo que nas despesas reprodutivas, o
crédito do credor. O regime jurídico resulta do art. 161º objetivo que a despesa visou, “dá alguns frutos”
alínea H da CRP e da Lei 112/97, que de acordo com o
Despesas de funcionamento: despesas públicas afetas
art. 7º, as garantias pessoais abrangem os Avales e as
aos gastos necessários para assegurarem o normal
Fianças. Conjugados os dois preceitos legais, podemos
funcionamento da máquina administrativa
retirar o exigente processo de concessão pelo Estado
dessas garantias: Despesas de investimento: são as despesas que
concorrerem para o formação/aumento do capital fixo do
1) - Afixação, por lei parlamentar, do limite
Estado. São as despesas que embora se esgotem naquele
máximo de garantias a conceder pelo Governo
momento, acabam por ter algum retorno em forma
(161º alínea H da CRP), cuja lei, por força do
diferente/transformada. Ex: € para uma obra. Acaba por
art. 31º da LEO é a lei orçamental.
ter o retorno material/físico dessa obra
2) - Relativamente ao processo de concessão: -
Pedido dirigido ao Ministro das Finanças - Despesas de bens e serviços: são as despesas que
Apresentação, anexa ao pedido, que ateste a asseguram a criação de utilidades, por meio da aquisição
verificação de um manifesto interesse para a de bens e serviços do Estado.
economia nacional (art. 8º Lei 112/97) e das
9123 Diário da República, 2ª série – Nº 123 – 09 de junho de 2016

Despesas de transferência: são os tipos de despesas que Setor público e as regras de contabilidade pública e
se limitam a proceder a uma redistribuição de recursos, da contabilidade nacional
atribuindo-os a entidades que se situam no setor público
ou no setor privado Pode entender-se por setor público todas a s entidades
controladas pelo poder político que abrange a totalidade
As despesas de transferência, podem, após a reafectação, da AP(Central, Regional, Local e Segurança Social) e o
ter uma natureza distinta: - Transferência de capital ou Setor Empresarial do Estado (SEE). Ambos os conceitos
correntes: consoante afetem ou não o património (contabilidade pública e contabilidade nacional), são
duradouro do Estado - Transferência direta ou indireta: sistemas contabilísticos de natureza orçamental (registo
consoante visem aumentar diretamente os rendimentos de execução orçamental, quer quanto às receitas quer
disponíveis (pagamento de pensões) ou traduzem um quantos às despesas) e de natureza patrimonial (balanço
benefício meramente indireto pelo aumento das e demonstração de resultados), com critérios e lógicas
possibilidades de consumo (subsídios a preços) - diferentes.
Transferência para entidades do setor público ou para o
setor privado • Contabilidade pública: baseia-se em critérios de
natureza jurídico-institucional, e encontra-se
Artigo 31º regulada pela Lei de bases da contabilidade
pública (Lei 8/90 20 FEV) e o regime da
Diferença tipos de receitas e tipos de despesa administração financeiro do Estado regulado no
públicas DL 155/92.
existem 3 tipos de modalidades a ter em conta, que se • Contabilidade Nacional: baseia-se em critérios
aplicam tanto às despesas como às receitas públicas. de natureza económica, desde logo, quando se
trata de proceder à distinção entre AP e SEE.
Ordinárias: são as receitas ou despesas públicas que se (Regulamento 2223/96) O seu regime
repetem com um certo carater de frequência. Ex: IRS e fundamental é de origem comunitária (SEC 95)
pagamentos de salários dos trabalhadores da função que divide: - Administrações públicas: as
pública entidades qualificadas como produtores não
mercantis, em relação a cujos bens o consumo
Extraordinária: são as receitas ou despesas públicas que seja de natureza individual ou coletiva e dando
se verificam pontualmente. Ex: venda de património azo a pagamentos obrigatórios. As suas
estadual instituições têm natureza redistributiva. - SEE:
A distinção fundamental entre ambas, é a frequência as entidades qualificadas como produtores
com que são realizadas.: mercantis, os que realizam atos de comercio,
venda de bens e serviços
Correntes: são as despesas ou receitas públicas • Concretização das regras do SEC 95 e o
relacionadas com o consumo que não afetam o conceito de unidade institucional
património duradouro do Estado (não aumentam nem
oneram o capital do Estado). Artigo 33º

Capital: são as despesas ou receitas públicas associadas As unidades institucionais encontram-se, então,
ao investimento. agrupadas em cinco sectores institucionais, mutuamente
exclusivos, constituídos pelos seguintes tipos de
Efetiva: as que traduzem em entradas efetivas ou em unidades: i. Sociedades não financeiras; ii. Sociedades
saídas efetivas de massa monetária no património de financeiras; iii. Administrações públicas; iv. Famílias; v.
tesouraria do Estado. Ex: os Juros, cumprimento de uma Instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias.
garantia, Estas estão consagradas no art. 9º nº2 da LEO.
Quando a função principal da unidade institucional
Não efetiva: são as despesas e receitas públicas que não consiste na produção de bens serviços, é necessário,
alteram a massa monetária da tesouraria do estado. Ex: primeiramente, distinguir o tipo de produtor a que a
emissão ou amortização da dívida pública. mesma pertence para, depois, se poder decidir sobre a
inclusão da unidade num determinado sector. No SEC
Artigo 32º 95, distinguem-se três tipos de produtores: - Produtores
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mercantis privados e públicos: são classificados nos Artigo 36º


sectores sociedades não financeiras, sociedades
financeiras ou famílias; - Produtores privados para Posto isto, podemos assim identificar, como fazendo
utilização final própria: são classificados no sector parte integrante do corpo regulador de uma LEO, três
família; - Outros produtores não-mercantis privados e eixos principais de matérias ou temas: - Primeiro eixo:
públicos: são classificados no sector das administrações estrutura, conteúdo e resultados orçamentais; - Segundo
públicas ou das instituições sem fim lucrativo ao serviço eixo: processo orçamental; - Terceiro eixo: controlo
das famílias. orçamental e responsabilidade financeira.

Umas das questões mais críticas da contabilidade Artigo 37º


nacional é o controlo e prevenção de situações de História
desorçamentação (é uma forma de fraude à lei ou de
manipulação das regras contabilísticas). Após a entrada de Portugal na EU, tem-se verificado
várias alterações à LEO. Em 2002, foi alterado o
São situações de desorçamentação, exemplos como: Capitulo V da LEO, referente ao princípio da
- A retirada artificial de uma entidade do setor público, estabilidade orçamental, na sequência da aprovação do
qualificando-a como entidade privada ainda que ela Tratado da União Europeia e do Pacto de Estabilidade e
possa ser continuada a ser apoiada se não pelo lado do Crescimento em 1997. Embora tenham havido outras
financiamento, ao menos pela via fiscal, - A retirada alterações à LEO, não foram significativas. Em 2011,
artificial do perímetro artificial do perímetro orçamental com a assinatura do Memorando de Entendimento
(do OE) de entidades, qualificando-as já não como assinado com a Troika, deu-se a maior e mais
entidades administrativas mas sim como empresas importante alteração da LEO, que assenta: (“Six Pack”)
públicas e mantendo embora canais de financiamento - Na consolidação orçamental - Definição de um
público às mesmas. objetivo orçamental de médio prazo - Cálculo de saldos
orçamentais - Endurecimento das exigências de feitura
- Qualificação como receitas de fluxos financeiros que do OE e da condução das Finanças públicas Já em 2013,
podem, em futuros exercícios orçamentais, gerar o Governo propôs à AR a introdução da “regra de ouro
despesa pública (ex: receitas extraordinárias que das finanças públicas” na LEO. Determinantes das
implicam despesa para o futuro, como a integração de alterações mais recentes são de dupla ordem: 1. Por um
fundos de pensões privadas no “orçamento” da lado, a crise económico-financeira e o Memorando de
segurança social, PPP´s que implicam a assunção de Entendimento assinado com a Troika; 2. Por outro lado
encargos futuros para o Estado) e consubstanciando também, as boas práticas internacionais do domínio das
formas de dívida implícita. finanças públicas e da orçamentação pública e que
vinham sendo incorporadas também na legislação ou
Artigo 35º documentação europeia relevante.
O OE é uma previsão: associado às funções económicas Os objetivos fundamentais do programa de ajustamento
do OE, que se subdividem em 2 perspetivas: - Perspetiva eram, então: i.Realização de reformas estruturais que
da racionalidade económica: o OE permite uma gestão potenciem o crescimento económico; ii. A
mais eficiente e racional dos dinheiros públicos - implementação de uma estratégia de consolidação
Perspetiva da eficácia como quadro de elaboração das orçamental, apoiada por medidas orçamentais de
políticas financeiras: o OE permite conhecer as politicas natureza estrutural e por um maior controlo financeiro
económicas do Estado. sobre as PPP e empresas públicas, tendo em vista a
- O OE é uma autorização: associado às funções diminuição do rácio da dívida pública/PIB para valores
sustentáveis e a redução do défice orçamental para
politicas e jurídicas do OE, que visa por um lado a
garantia dos DF e o equilíbrio da separação de poderes, valores inferiores a 3% do PIB em 2013; iii. A
devido à necessidade de aprovação da AR. Pode ainda implementação de uma estratégia para o sector
verificar-se que o OE é uma limitação jurídica da AP, na financeiro, baseada na recapitalização e
medida em que os respetivos poderes financeiros desalavancagem, com medidas que salvaguardem o
sector financeiro dos perigos de uma desalavancagem
carecem de ser autorizados anualmente. O OE é uma lei
em sentido formal e em sentido material.
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não regulada, reforçando os mecanismos de mercado, certos países, a utilização de tais técnicas
apoiadas em facilidades não convencionais. aparece associada à implementação de processos
orçamentais de duas fases, sendo que estes
Art. 39º processos visam obviar às tensões sentidas em
Boas práticas internacionais, sendo elas: diversos sistemas orçamentais entre totais
previstos no orçamento e nas suas partes e evitar
o 1) Os sistemas orçamentais estão menos tentações despesistas, mormente em períodos de
concentrados nos procedimentos e nos formatos expansão. - Terceira característica: novas regras
orçamentais e mais nos resultados orçamentais, ou princípios orçamentais – estas novas regras
pelo que a micro orçamentação está subordinada não fazem parte integrante do orçamento, sendo
aos objetivos da macro orçamentação. Neste exteriores a este, mas devendo por ele ser
sentido: - Os países devem promover planos respeitadas. Estas regras, diferentemente das
credíveis de redução do défice público; - Os regras clássicas, procuram condicionar os
planos melhor sucedidos envolvem resultados orçamentais (consolidação
ajustamentos a longo prazo; - A consolidação orçamental e a disciplina financeira, a
orçamental deve dar preferência às restrições do sustentabilidade financeira de longo prazo, a
lado da despesa, pois garantem melhores eficiência agregada e a eficiência alocativa). As
resultados económicos, do que subidas de novas regras abrangem a integralidade das
impostos; - A orçamentação deve basear-se em Administrações Públicas e não apenas o sector
previsões económicas prudentes e realistas, Estado. Existem dois grandes tipos de regras
utilizando adequados métodos de trabalho, tais orçamentais: - Regras de natureza
como: abertura total; análise de sensibilidade; procedimental, que regulam sobretudo os
comparações com as previsões feitas por procedimentos e o papel dos diversos atores no
entidades ou agentes privados; que o trabalho processo orçamental; - Regras de natureza
seja atribuído a agências ou organismos quantitativa ou numérica, que fixam alvos
independentes do governo. específicos quantitativos relativamente a um ou
o A micro orçamentação exibe um conjunto de a vários agregados financeiros. - Quarta
características novas, a saber: - Primeira característica: relaxamento, na gestão
característica: exacerbação dos instrumentos de orçamental, dos controlos sobre os inputs e
programação plurianual da despesa pública – a focalização nos resultados – a gestão orçamental
programação plurianual da despesa pública parte de uma menor rigidez no regime de
constitui a base fundamental da consolidação classificação e uso das dotações orçamentais,
orçamental, trançando os objetivos de médio pressupondo um sistema orçamental com menos
prazo em termos de níveis elevados de decisão. rubricas, atribuindo-se antes ao gestor um
Em regra, são formas de programação envelope financeiro que ele irá gerir com maior
deslizante, apresentadas todos os anos com o flexibilidade, tendo em vista o cumprimento dos
orçamento. Estes institutos não têm forma legal, objetivos traçados para aquele departamento ou
mas, ainda assim, traduzem um bom programa (gestão por objetivos). O gestor é
compromisso em torno da disciplina orçamental. responsável pela concretização dos objetivos
A programação enquadra e informa o traçados, baseando-se a execução orçamental na
Orçamento do Estado, sendo que, no limite, performance. A orçamentação é, também, uma
estamos perante um verdadeiro sistema de orçamentação por objetivos, onde interessam
programação da despesa que integra diferentes não os meios, mas antes os fins, orientando-se a
peças/patamares: projeções de longo prazo; gestão por preocupações de eficiência e eficácia.
programação económica e financeira de médio A performance budgeting supõe uma alteração
prazo; programação orçamental. - Segunda estrutural orçamental: definição de programas
característica: desenvolvimentos de técnicas orçamentais baseados em atividades. As
orçamentais “top-down” – implica a definição especificações fundamentais a considerar num
prévia de tetos máximos de despesa para cada modelo atual de performance budgeting são as
ministério sectorial e só depois a concretização seguintes: - Regras de agregação das despesas
de dotações para cada rubrica orçamental. Em na estrutura de programas; - Cobertura
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institucional dos programas e responsabilidade as eximir à apresentação de todas as suas receitas e


pela sua gestão; - Implementação de um sistema despesas num só orçamento (art. 1º, 2º e 3º nº 2 e 3
de informação de gestão de desempenho LEO).
adequado; implementação de um sistema de
financiamento que relacione os outputs Discriminação- tem 3 sub-regras, as quais pretendem
(resultados orçamentais) com os seus custos assegurar uma maior racionalidade financeira e um
orçamentais e benefícios, avaliando-se, assim, efetivo controlo orçamental: A não compensação: art. 6º
cabalmente, a respetiva performance. Iremos LEO (as receitas e as despesas devem ser inscritas no
verificar em que medida estas novas tendências, OE de forma bruta e não liquida, não devem ser
domínio orçamental, têm vindo a ser acolhidas deduzidas às receitas as importâncias gastas com a sua
pela legislação portuguesa. cobrança (apenas podendo ser deduzidas nos termos do
Nº2 “as estimativas…. cobradas”) nem às despesas, as
Artigo 40º receitas originadas pela sua realização (conforme Nº3
“sem dedução de qualquer espécie”). A não
Vinculações Internas do OE: as regras orçamentais consignação: Art. 7º LEO Segundo esta regra, o OE não
clássicas pode afetar qualquer receita à cobertura de uma despesa
Anualidade (art. 4º LEO) Esta regra envolve uma dupla determinada (Nº1) . No 7º/2 há a exceção à não
exigência: - Votação anual do OE pela AR - Execução consignação, existindo uma consignação excecional e
anual do OE pelo Governo e AP. De acordo com este temporária por expressa estatuição legal ou contratual,
representando, situações de autonomia financeira em
princípio, pode-se incluir no OE: - O Orçamento de
Gerência: todas as receitas a cobrarem efetivamente que as receitas de determinados organismos são afetadas
durante o ano e as despesas a realizar efetivamente, à cobertura de determinadas despesas – Receitas
independentemente do momento em que juridicamente consignadas cujas justificações são: reforço do crédito
tenham nascido. Este tipo de orçamento torna mais fácil público, limitação do montante de uma despesa ou
e clara a execução orçamental, mas dificulta a receita, a personalização de um serviço público e
responsabilização de cada Governo pela elaboração e afetação da receita temporária a uma despesa
execução dos orçamentos que lhe são imputáveis - O determinada
Orçamento de Exercício: todos os créditos e débitos A especificação: Segundo esta regra, o OE deve
originados naquele período orçamental, individualizar suficientemente cada receita e cada
independentemente do momento em que se venham a despesa - no art. 105º nº3 CRP. Para o cumprimento da
concretizar. Permitem a responsabilização do Governo regra da especificação, prevê-se a existência de três
em exercício, mas não permite saber qual a situação da classificações orçamentais: -Classificação económica
tesouraria, não se sabe ao certo quais as despesas que (art. 8º nº1 LEO): encontra-se definido no art. 3º do DL
têm de ser pagas durante esse ano. No ordenamento 26/2012 O seu desrespeito gera apenas uma ilegalidade -
financeiro português vigora o Orçamento de gerência. Classificação funcional (art. 8º nº2 LEO): encontra-se
No entanto, alerta-se para o facto de, mesmo quando a definido no art. 5º do DL 26/2012 - Classificação
lei prevê a existência de mapas plurianuais, as verbas orgânica (art. 8º nº2 LEO): assenta na organização dos
neles incluídas devem ser inscritas no OE de cada ano, serviços integrados, na distribuição das despesas pelos
sob pena de não poderem ser realizadas por falta de Departamentos do Estado (Ministérios) e pela rubrica
cabimento orçamental (art.106º/1 CRP). dos Encargos Gerais da Nação e, no orçamento dos
Plenitude (art. 5º LEO). o imposição de aprovação de serviços e fundos autónomos, na distribuição das
receitas e despesas por cada um dos referidos serviços e
orçamentos que permitam aos serviços e organismos
administrativos tomar conhecimento das receitas que fundos. O desrespeito pela classificação funcional e
podem cobrar e das despesas que podem realizar. Esta orgânica, gera nos termos do art. 105º nº3, uma
regra tem uma abrangência limitada, não abrangendo: - inconstitucionalidade material.
As operações de tesouraria - A gestão patrimonial do Publicidade: é fundamental não só devido à sua
Estado - Os fenómenos de independência orçamental: natureza, que impõe a publicação oficial no diário da
esta exclusão, relativamente às Regiões Autónomas e às República (119º nº1 Alínea C, da CRP), como condição
Autarquias Locais, se faz apenas no sentido de estas de eficácia jurídica da autorização e do consentimento
poderem ter o seu próprio orçamento, e não no intuito de
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parlamentares para a cobrança de receitas e a realização centram-se sobretudo nos resultados


de despesas (art. 105º, 106º e 119º nº 2 e 3). orçamentais;
Equilíbrio: mais importante e também se encontra d) Enquanto as regras clássicas desligam a micro
previsto no art. 105º nº4 da CRP, embora num sentido orçamentação da macro orçamentação, as novas
formal (só no sentido contabilístico de igualdade entre
regras associam claramente estas duas
receitas e despesas). encarado de 2 perspetivas: -
Equilíbrio Formal: postula a estrita igualdade entre as dimensões, subordinando a primeira à segunda;
receitas e as despesas, o que traduz a interdição dos e) Enquanto as regras orçamentais clássicas se
défices e excedentes de receita. A interdição dos défices
filiam na perspetiva tradicional que concebia o
pressupõe que nunca a totalidade das despesas exceda a
totalidade das receitas (tributárias, patrimoniais). Caso orçamento como um orçamento de meios
se excedam, os referidos défices só poderiam ser focados na dotação orçamental, as novas regras
financiados com recurso ao empréstimo, o que agravaria alicerçam-se nos fins ou objetivos orçamentais;
as dificuldades financeiras do Estado. A interdição dos
excedentes, explica que o aumento das receitas faria f) Enquanto as regras clássicas concebem a micro
aumentar a poupança estadual. - Equilíbrio substancial: orçamentação a partir de uma função de
Baseia-se nas teorias do défice sistemático e dos controlo, as novas regras orçamentais são
orçamentos cíclicos. A teoria do défice sistemático:
tributarias de uma função de controlo, as novas
defendida por William Beveridge que para funcionar, é
preciso que o Estado saiba com rigor qual a situação regras orçamentais são tributarias de uma
conjuntural da economia e qual a eficácia dos função de gestão;
estabilizadores. Esta teoria baseia-se no facto de o
g) Enquanto que as regras clássicas são sobretudo
desemprego ser um mal social que não desaparece
espontaneamente. de cariz continental, as novas regras traduzem
claramente uma nova influência dominante: a
influência da literatura internacional mais
Artigo 41º relevante produzida em matéria de
Diferença entre regras clássicas e as novas regras orçamentação pública;
orçamentais: h) Enquanto as regras clássicas estão consagradas,
de há muitas décadas, no nosso direito
a) Enquanto as regras clássicas respeitam orçamental, algumas remontando ao direito
tendencialmente ao OE, as novas reras liberal clássico, as novas regras orçamentais
respeitam a todas as Administrações Públicas aparecem no nosso direito orçamental,
(incluindo sobretudo, a partir da aprovação da atual LEO e
Administrações Regionais e Locais); suas sucessivas alterações.
b) Enquanto as regras clássicas regulam
fundamentalmente a fase de elaboração e
aprovação do OE, nas novas regras está em
Artigo 42º
causa todo o ciclo orçamental, ou sejam,
respeitam também à fase da execução; 1) Estabilidade orçamental- Ligado com a
preocupação de um maior rigor quanto ao
c) Enquanto as regras orçamentais clássicas se equilíbrio, surge o princípio da estabilidade
baseiam fundamentalmente na estrutura e no orçamental (art.10º - A LEO), o qual impõe a
procedimento orçamentais, as novas regras todas as entidades do sector público
administrativo a verificação de situação de
equilíbrio ou excedente orçamental, calculada
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de acordo com a definição constante no Sistema termos daquele art.17º, constituem vinculações externas:
Europeu de Contas Nacionais e Regionais. - As obrigações decorrentes de lei, de contrato, de
2) Transparência e solidariedade recíproca- O sentenças judiciais ou outras obrigações determinadas
princípio da transparência orçamental aparece, pela lei (despesas obrigatórias); - As obrigações
de igual modo, mobilizado pela maior exigência decorrentes do Tratado da União Europeia; - As opções
substantiva de bom comportamento orçamental. em matéria de planeamento e a programação financeira
Significa a ideia de informação exata e objetiva plurianual.
sobre o modo como o Estado utiliza os dinheiros
públicos, sobre o custo dos programas Artigo 43º
orçamental e, se possível, sobre os seus Processo origináro orçamental e aprovação
benefícios. Contribui para a disciplina
106º/1 CRP
financeira e para afetação adequada daqueles
recursos. Elaboração e organização: A proposta de Lei do
Orçamento do Estado para o ano económico seguinte é
3) A equidade intergeracional A necessidade de
apresentada pelo Governo à Assembleia da República,
avaliação da sustentabilidade de longo prazo da até 15 de Outubro de cada ano. (Art.12-E, nº1 da LEO)
dívida pública induz a previsão do princípio da Este prazo só não se verifica nos casos apresentados no
equidade intergeracional (art.10º LEO).
Nº2. A iniciativa em matéria orçamental é um exclusivo
4) Regras procedimentais- A aprovação do do Governo: art.161º/1 alínea g) CRP, : o OE é o
Orçamento do Estado faz-se em articulação com principal instrumento de concretização financeira da
a aprovação de outros documentos com política do Governo, assumida e apresentada ao
relevância orçamental que o vinculam ou Parlamento no respetivo programa, logo após a sua
condicionam. tomada de posse.
5) Regras numéricas - Hoje, podemos encontrar na
legislação portuguesa, sobretudo, três tipos de Votação: (art. 12-F da LEO) A votação da proposta
regras numéricas: 1- A regra de saldo ou realiza-se no prazo de 45 dias após a sua admissão pela
equilíbrio: saldo estrutural ajustado ao ciclo e de AR (Nº2). Primeiro passo: Votação Geral – inicial e
medidas excecionais/temporárias Com a final. a proposta do OE chumba quase sempre na prática.
alteração de 2011, foi aditado à LEO o art.12º-C Segundo passo: Votação na especialidade A votação é
que concretiza a regra do saldo estrutural efetuada na generalidade em regra, salvo algumas
ajustado ao ciclo e das medidas temporárias, em situações de votação obrigatória na especialidade, a
conformidade com o objetivo orçamental de saber: - Nos casos em que resulta de obrigatoriedade
médio prazo resultante do PEC. 2- Regras de legal, sempre que estejamos perante a criação, alteração
dívida Podemos identificar dois tipos de regras, e extinção de impostos e nas situações em que se
consistentes com dois momentos da história da autorizam empréstimos e financiamentos; - Nas
LEO: Regras de dívida aplicáveis aos subsetores restantes situações não mencionadas, sempre que a
institucionais (Adm. Regional e Local). 3- Assembleia da República entender submeter à
Regras de despesa Pode-se considerar que apreciação individual.
existem, hoje, dois tipos de regras de despesa: -
Uma de caráter implícito e indireto e que resulta Publicação (12-G da LEO): Levada a cabo pelo
da necessária subordinação do OE aos limites Governo, até ao final do segundo mês após a entrada em
máximos de despesa fixados pela lei de vigor do OE, sob pena de ineficácia jurídica (119º nº 2
programação orçamental plurianual (art.12º-D); CRP.).
- A segunda, de caráter expresso e direto que
Artigo 42º
consta do art.12º-C/6. (ver artigo).
A prorrogação de vigência do Orçamento de Estado (12-
Artigo 40º
H da LEO) O art. 12-H, Nº1, estipula quando é que se
O regime das vinculações externas consta do pode verificar a prorrogação (atenção ao nr.3 que diz o
art.17ºLEO, o qual traduz, por sua vez, um que é que não abrange). a prorrogação do OE não é uma
desenvolvimento do disposto do art.105º/2CRP. Nos extensão do exercício orçamental, pois o exercício
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orçamental termina no fim do dia 31 de Dezembro do no OE, sem provocar o aumento do montante global das
ano em causa (art. 4º nº4 LEO). dotações e sem prever ovas ações.

Artigo 43º Artigo 45º

O conteúdo do OE e os cavaleiros orçamentais tem-se considerado que a iniciativa superveniente dos


deputados ou dos grupos parlamentares conhece maiores
a Leo pretende, pela negativa, afastar do seu âmbito as limitações quando ela incide sobre uma proposta de
matérias que não tenham um conteúdo especificamente alteração orçamental, do que quando ela respeita à
orçamental (cavaleiros ou “boleias” orçamentais) (Nº2) proposta inicial do OE.
(Normas que surgem no meio do OE, cujo conteúdo
nada tem a ver com a politica orçamental). propostas de alteração orçamental, a emenda
parlamentar está, por força da jurisprudência
Não esquecer que as autorizações legislativas em constitucional, mais limitada. E isto por força de dois
matéria fiscal orçamental ou financeira, não são argumentos fundamentais: a) O argumento da alteração
prorrogadas, caducando no fim do exercício orçamental de sentido da proposta de lei (o desvirtuar da proposta):
em causa (art.12º-H, º3, alínea A da LEO e art.165º nº5 no caso de alteração do Orçamento, já não se está numa
da CRP ) fase de previsão, nem se pretende traçar um plano
Quanto ao desvalor jurídico dos cavaleiros orçamentais, financeiro global.
a Doutrina Diverge entre: - Inconstitucionalidade - b) O argumento da “lei-travão”: este argumento trata-se
Irrelevância jurídica: as regras não orçamentais, não da aplicação do regime constante do art.167º/2CRP, ou
beneficiam das regras especiais previstas na CRP de seja, a aplicação, na fase das alterações orçamentais,
aprovação e de caducidade para a Lei do OE. diferentemente do que sucede aquando da proposta
Artigo 44º inicial do OE, do regime da “lei-travão”. A “lei-travão”
impede o seguinte (Estas condições são cumulativas): -
O processo orçamental subsequente: o regime das Que os deputados, grupos parlamentares e cidadãos
alterações orçamentais eleitores apresentem projetos de lei, propostas de lei ou
propostas de alteração; - Que envolvam o aumento da
A necessidade de efetuar alterações orçamentais resulta despesa ou a diminuição da receita; - No ano económico
da execução orçamental. Há três grandes graus: 1) em curso.
Alterações da competência da Assembleia da República:
veja-se a redação do art.50º-A LEO; 2) Alterações da Artigo 46º
competência do Governo: autorização do Ministro das
Finanças e, eventualmente dos Ministros-adjuntos; Problema lei travão
alterações de relevância média, veja-se o disposto no O problema da Lei travão só surge no processo
art.51ºLEO e DL 71/95; 3) Alterações da competência orçamental subsequente. As alterações ao OE em vigor,
dos serviços: alterações de muito pequeno significado. só podem ser feitas nos termos do art. 50º-A
(competência da reserva da AR) ou nos termos do art.
Aquando da proposta inicial do OE (proposta do
Governo e aprovação da AR), os deputados e os grupos 51º (competência residual do Governo após exclusão do
parlamentares podem apresentar propostas de alteração à art. 50º-A) Assim, caso se verifique alguma das
proposta originária do Governo. Após a provação do OE situações que não se enquadram nestes artigos, que
visem aumentar a despesa ou diminuir as receitas,
(processo orçamental subsequente), a emenda
parlamentar conhece alguns limites, como a lei-travão estaremos perante uma inconstitucionalidade ou
do art. 167º nº2 da CRP. As alterações orçamentais ineficácia jurídica, conforme a tese que se escolha. A
podem ser, segundo referências do Direito da UE: - contrario, podem apresentar propostas que visem
Orçamento suplementar: que consiste numa alteração diminuir a despesa e aumentar a receita. A lei travão
profunda ao programa de dotações inicialmente previsto prende-se pelo facto de, ao Governo ser atribuído o
e aprovado no orçamento das comunidades europeias - poder de execução orçamental (199º alínea B da CRP).
Orçamento retificativo: quando a alteração consiste O desvalor jurídico do desrespeito pela lei-travão - O
apenas em alterações de natureza financeira ou técnica TC, no seu acórdão 297/86, considerou que se tratava de
uma inconstitucionalidade parcial, sendo que essa
9123 Diário da República, 2ª série – Nº 123 – 09 de junho de 2016

proposta de alteração em questão, só seriam qual, nos termos do art. 103º nº2 da CRP, integra
constitucionais na medida em que aplicáveis ao ano relativamente a cada imposto, os seus elementos
económico em curso, podendo ser constitucionais para o essenciais (a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as
próximo exercício orçamental. - A tese da ineficácia garantias do contribuinte). Esta exigência deve verificar-
jurídica, foi defendida por Gomes Canotilho e o Prof. se quer se trate de criação, aumento, extinção ou
Guilherme de Oliveira (A lei inexistente é uma mera diminuição de impostos, conforme Acórdão do TC
aparência de lei, pelo que não produz qualquer efeito). 48/84. - O princípio da segurança jurídica Este princípio,
assente no conceito de Estado de direito democrático
Artigo 47º (art. 2º CRP), impõe-se fundamentalmente ao legislador,
Ordenamento jurídico-fiscal limitando-o em dois sentidos: - Na edição de normas
retroativas desfavoráveis (art. 103º nº2) O contribuinte
Os atuais impostos são um preço que pagamos por tem o direito de resistência, consagrado no art. 103º nº3
termos a sociedade que temos, assenta na ideia de da CRP, caso esta norma não seja cumprida. - Na livre
liberdade, no reconhecimento dos direitos, liberdades e revogabilidade e alterabilidade das leis fiscais
garantias fundamentais. favoráveis.

O valor dos impostos tem de constituir um preço Artigo 50º


aceitável e limitado. O Estado português é um Estado
Limites de natureza material: limites relativos ao que e
fiscal e um Estado fiscal social, ou seja, é um Estado que
tem por suporte financeiro dominante os impostos e um ao quanto se tributa. - Princípio da Igualdade fiscal a
Estado cujo nível de fiscalidade é o reclamado pelo aferir através da capacidade contributiva, da não
Estado social recortado na CRP. discriminação da família e do respeito pelos direitos
fundamentais e pelo princípio do Estado social. O
Os princípios jurídico-constitucionais da tributação: princípio da igualdade tributária (104º nº1 CRP).
Limites de natureza formal: limites relativos a quem
tributa, ao como se tributa e ao quando se tributa.:
Princípio da legalidade fiscal Este princípio tem por
base a ideia de autoimposição, autotributação ou
autoconsentimento dos impostos.;

Artigo 48º

Autotributação:

- Votação anual

- - A exigência de os impostos serem criados e


disciplinados nos seus elementos essenciais através de
lei – instituto da legalidade, que se desdobra em dois
aspectos: - O princípio da reserva da lei (formal) (165º
nº1, alínea I); - Implica que haja uma intervenção de lei
parlamentar, seja: - Uma intervenção material a fixar a
própria disciplina dos impostos, ou - Uma intervenção
de carater formal, autorizando o Governo (165º nº1,
alínea I) - Ou as Assembleias Legislativas Regionais
(227º nº1, alínea I -ou as assembleias das autarquias
locais (238º nº3).

a estabelecer, dentro de certas coordenadas que constam


na lei de autorização, essa disciplina - O princípio da
reserva material da lei (103º nº2) Exige que a lei, no
sentido amplo do art. 112º da CRP, contenha a disciplina
tão completa quanto possível da matéria reservada, a

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