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M. MATILDE LAVOURAS
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Faculdade de Direito
o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
A resposta à questão que serve de título a este ponto só pode ser dada se tivermos em
consideração quer as normas de direito interno, quer normas de Direito da União Europeia
– quer de direito originário quer de direito derivado –, bem como as normas de Direito
Internacional, como sejam as constantes do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e
Governação na União Económica e Monetária 1 (TECG).
Optámos por analisar, separadamente, cada um dos conjuntos de normas sem esquecer
a interligação, interseção e relação hierárquica existente entre as normas internas e as
normas de direito supranacional, seja ele convencional ou de direito da União Europeia 2.
1
Tratado Sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária entre o Reino
da Bélgica, a República da Bulgária, o Reino da Dinamarca, a República Federal da Alemanha, a República
da Estónia, a Irlanda, a República Helénica, o Reino de Espanha, a República Francesa, a República
Italiana, a República de Chipre, A República da Letónia, a República da Lituânia, o Grão-Ducado do
Luxemburgo, a Hungria, Malta, o Reino dos Países Baixos, a República da Áustria, a República da Polónia,
a República Portuguesa, a Roménia, a República da Eslovénia, a República Eslovaca, a República da
Finlândia e o Reino da Suécia, celebrado em Bruxelas a 2 de março de 2012 e aprovado em Portugal no dia
13 de Abril do mesmo ano, pela Resolução da Assembleia da Republica n.º 84/2012. As suas disposições
foram transpostas para o direito interno passando a constar da Lei de Enquadramento Orçamental.
Sobre a problemática subjacente ao Tratado Orçamental e à transposição das suas disposições para o direito
interno português veja-se, por todos, José Casalta Nabais, Estabilidade financeira e o Tratado Orçamental,
JURISMAT, n.º 6, Portimão, pp. 43-68, disponível em
http://recil.grupolusofona.pt/xmlui/bitstream/handle/10437/6753/Estabilidade_financeira_Tratado_Orcam
ental.pdf?sequence=1.
2
Estamos a referir-nos, nomeadamente, ao impacto no desenho das normas de direito interno decorrente
da necessidade de transposição da transposição do TECG, da Diretiva 2011/85/UE ou do Regulamento
(UE) n.º 473/2013 operada pela Lei n.º 41/2014, de 10 de julho.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
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Na revisão da LEO ocorrida em 2015, foi eliminada uma norma genérica, introduzida com a Lei n.º
91/2001, no art.º 9.º, com a referência expressa aos critérios de determinação do equilíbrio orçamental para
cada tipo de serviço e para o orçamento globalmente considerado. Esta norma teve que ser, posteriormente,
compatibilizada com as alterações introduzidas na LEO decorrentes da transposição para o direito nacional
das normas do TECG. O artigo 9.º da velha LEO consagrava, em primeira linha, um equilíbrio em sentido
formal – “as receitas necessárias para a cobertura de todas as despesas” – no seu n.º 1, mas, também critérios
de equilíbrio em sentido material para cada tipo de serviço, numa leitura conjunta deste artigo e dos art.os
23.º, 25.º e 28.º da velha LEO. Em certa medida, podemos dizer que a norma do art.º 20.º da LEO cumpre
funções idênticas.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
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O OMP é definido, por cada Estado-Membro, no Programa de Estabilidade e Crescimento e calculado de
acordo com a metodologia estabelecida no Código de Conduta e no Vade Mecum sobre o Pacto de
Estabilidade e Crescimento. O OMP deve permitir aos Estados garantir uma margem de segurança face ao
limite do défice de 3% do PIB estabelecido quer no art.º 126.º do TFUE quer no art.º 2.º do Regulamento
(CE) n.º 1466/97 e, no médio prazo, atingir um saldo estrutural equilibrado ou excedentário ou, quando tal
não seja possível, um défice estrutural não superior a 1% do PIB – cfr. art.º 2.º-A do Regulamento (CE) n.º
1466/97. Para alcançarem este objetivo os estados-membros devem estabelecer medidas de convergência
que permitam um ajustamento anual adequado. Note-se que, nos termos do art.º 5.º do Regulamento (CE)
n.º 1466/97, a apreciação da trajetória de ajustamento para alcançar o OMP feita pela Comissão e pelo
Conselho, ao analisarem os Programas de Estabilidade e Crescimento, tem por referência precisamente o
mesmo valor, ou seja, um défice estrutural inferior a 0,5% do PIB, mas com algumas especificidades.
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A forma como as Comunidades foram criadas e a importância dada às formas de integração negativa –
com a eliminação dos obstáculos existentes (tão típica de uma União Aduaneira) –, em detrimento de uma
integração positiva – em que é necessário adotar medidas estruturadas e adequadas à prossecução dos
objetivos traçados –, permitia dar resposta às dificuldades em atingir acordos alargados em algumas áreas,
sendo que a política monetária era precisamente uma dessas áreas.
6
Estava inicialmente previsto que o novo Tratado entrasse em vigor a 1 de janeiro de 1993, mas os atrasos
na ratificação do Tratado por parte de vários Estados-Membros levaram a que este só entrasse em vigor em
novembro do mesmo ano.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
A primeira fase teve início precisamente com a aprovação do Relatório Delors, a que
se seguiria a aprovação do Tratado de Maastricht a que já nos referimos. No essencial,
este período caracteriza-se pela adoção de medidas de caráter preparatório das fases
seguintes quer a nível da política económica dos Estados-Membros quer da política
monetária.
Note-se que, nesta fase, os países deixaram de poder recorrer ao mecanismo das taxas
de câmbio e à balança de pagamentos para estabilizar a economia. Contudo, nos termos
do então artigo 99.º do Tratado (atual artigo 121.º TFUE), foram adotadas medidas de
coordenação da política económica que consistem maioritariamente na definição de
linhas gerais de orientação da política económica e na fiscalização do seu cumprimento
por parte dos Estados-Membros.
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Sobre estas fases veja-se Carlos Laranjeiro, Lições de Integração Monetária, Almedina, Coimbra (2009),
pp. 197 e ss.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
A inclusão ou exclusão dos Estados-Membros na UEM foi decidida com base nas
informações constantes dos relatórios apresentados. Estes deviam conter referências
expressas e detalhadas que permitissem avaliar se as disposições da legislação nacional
transpuseram corretamente para o direito interno as proibições constantes dos arts. 130.º
e 131.º do TFUE (anteriormente, arts. 108.º e 109.º), relativas à autonomia do Banco
Central (nacional) e à compatibilidade dos seus estatutos com os estatutos do BCE, bem
como deveriam aludir o cumprimento dos critérios de convergência previstos no art.º
140.º do TFUE e densificados no Protocolo 13 anexo aos Tratados, ou seja:
(.1.) taxa de inflação: a taxa de inflação durante o ano que antecede a avaliação não pode
ultrapassar em 1,5% a média das taxas de inflação verificadas nos países com a menor subida nos
índices de preços;
(.2.) taxa de juro a longo prazo: durante o ano que antecede a avaliação, a taxa de juro
média de longo prazo, aferida pela taxa praticada nas obrigações públicas, não pode ser superior
a 2% da média das taxas praticadas nos três Estados-Membros com menores taxas de inflação;
(.3.) comportamento da moeda nacional no Mecanismo de Taxas de Câmbio (MTC) do
Sistema Monetário Europeu (SME): a moeda do país em análise deveria fazer parte da banda
normal (flutuações na banda estreita, ou seja, 2.25%) do SME durante pelo menos dois anos, sem
que o Estado analisado tivesse tomado a iniciativa de desvalorizar a sua moeda, por alteração da
taxa central, e sem que a sua moeda tenha conhecido graves pressões cambiais;
(.4.) situação das finanças públicas: no momento da avaliação, o estado em causa não
pode apresentar um défice excessivo, isto é, o défice deve ser inferior a 3% do PIB 8 e a dívida
pública não pode ser superior a 60% do PIB9;
8
Este critério apesar de rigidamente estabelecido foi interpretado de forma mais flexível após o início da
terceira fase da UEM. Permitiu-se, dentro daquilo que resultava já do art.º 126.º do TFUE (ex-art.º 104.º do
TCE), que se não considerasse a existência de défice excessivo nos casos em que o défice era superior a
3% do PIB se (a) o défice tivesse baixado de forma contínua e significativa e se aproximasse do valor de
referência ou (b) se o valor de referência for apenas ligeiramente ultrapassado e se considerar tratar-se de
uma situação excecional e temporária. Permitiu-se também, precisamente nos termos do art.º 126.º, n.º 3
do Tratado, que a Comissão, no relatório que elabora, verifique se o défice orçamental excede as despesas
públicas de investimento, que deve ser compreendido por referência ao conceito avançado no art.º 2.º do
Protocolo n.º 12.
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Também relativamente à dívida há uma exceção, bastando que se verifique uma tendência para a descida
e a aproximação do valor de referência.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
É também nesta fase que se dão importantes passos no sentido da convergência das
economias dos vários países destacando-se, desde logo, a proibição de financiamento dos
Estados-Membros junto dos bancos centrais nacionais – cfr. art.º 123.º do TFUE (ex-art.º
101.º TCE), Regulamento (CE) n.º 3603/93 do Conselho, de 13 de dezembro de 1993, e
Regulamento (CE) n.º 3604/93 do Conselho, de 13 de dezembro de 1993. A partir de
então os Estados-Membros passariam a ter que se financiar nos mercados em condições
semelhantes às dos demais agentes económicos, ficando também proibida a emissão
monetária para financiamento da dívida pública (monetarização da dívida).
10
Posteriormente revogado pelo Regulamento (CE) n.º 479/2009 do Conselho, de 25 de maio de 2009. As
alterações ficam a dever-se, sobretudo, às implicações decorrentes da alteração do SEC operada pelo
Regulamento (UE) n.º 549/2013.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
Em 2005, com a revisão do PEC operada pelos Regulamento (CE) n.º 1055/2005 do
Conselho, de 27 de julho de 2005, que alterou o Regulamento (CE) n.º 1466/97 do
Conselho, de 7 de julho de 1997; e o Regulamento (CE) n.º 1056/2005 do Conselho de
27, de julho de 2005, que alterou o Regulamento (CE) n.º 1467/97 do Conselho, de 7 de
julho de 1997, assiste-se ao reforço das regras de supervisão e de coordenação, bem como
à adoção de medidas no sentido de tornar o procedimento relativo aos défices excessivos
mais claro e mais célere.
A par destas alterações, e tendo falhado uma outra tentativa de alterar o PEC em 2012,
foi aprovado um instrumento de direito internacional – o Tratado sobre a Estabilidade,
Coordenação e Governação na União Económica e Monetária (TECG), habitualmente
11
O Regulamento (CE) n.º 1466/97 foi alterado pelo Regulamento (UE) n.º 1175/2011 e o Regulamento
(CE) n.º 1467/97 foi alterado pelo e pelo Regulamento (UE) n.º 1177/2011.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
designado por Tratado Orçamental – que vincula apenas os estados signatários. Logrou-
se por via do direito internacional o que se não tinha conseguido por via do Direito da
União12.
São estes normativos que, em conjunto, contêm o quadro a que devem obedecer a
elaboração, aprovação e execução dos orçamentos dos Estados-Membros da União
Europeia. De entre estas obrigações há que considerar aquelas que são genéricas, mas
também as obrigações específicas e relativas ao equilíbrio orçamental que deve ser
observado.
12
Os países signatários obrigaram-se a introduzir nas suas constituições ou leis de valor reforçado uma
disposição que limitasse o valor do défice orçamental a 0,5% do PIB ou a 1% do PIB, se a relação entre a
dívida pública e o PIB (p.m.) for significativamente inferior a 60% do PIB e os riscos para a sustentabilidade
a longo prazo das finanças públicas forem reduzidos – cfr. art.º 3.º, n.º 1 al. d) do TECG. A verificação da
existência de défice é feita por referência ao n.º 1, al. b), do art.º 3.º do TECG, ou seja, tendo em
consideração o critério do saldo estrutural. De realçar ainda a obrigação de coordenação dos planos de
emissão de dívida pública por parte dos estados signatários. Verifica-se assim como que uma renovação da
importância do subcritério da dívida pública, não de um modo direto, mas apenas indireto.
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As medidas consagradas permitem suportar um aumento dos poderes da Comissão Europeia em todo o
processo orçamental, sobretudo dos países da zona euro.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
Considerando que Portugal faz parte de um conjunto de países que têm como moeda
o euro – aqueles Estados-Membros que a legislação da União Europeia designa por
estados participantes14 –, o Governo fica obrigado a cumprir, em matéria orçamental, as
obrigações decorrentes de um conjunto alargado de normas não só de direito originário
como também de direito derivado. Algumas dessas obrigações constam já da LEO
porquanto resultam da transposição de normas de direito da União Europeia. Assumem
especial importância, como referimos supra, as normas dos arts. 121.º e 126.º do TFUE
e as normas do PEC revisto.
14
Cfr. art.º 2.º, da Secção I – Objeto de definições, do Regulamento (CE) n.º 1466/97.
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Corresponde ao art.º 104.º do Tratado de Roma na sua última redação vigente até à entrada em vigor do
Tratado de Lisboa.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
Para compreendermos o sentido e alcance destas expressões temos que nos socorrer
do Protocolo n.º 12 sobre o procedimento relativo aos défices excessivos e das normas de
direito derivado da União Europeia 16.
Do Protocolo n.º 12 constam, de uma forma clara, várias noções. Desde logo, a
definição do âmbito de consolidação de contas a considerar, isto é, qual é o perímetro
orçamental a ter em conta, a noção de défice, a noção de dívida pública e a noção de
investimento.
16
Note-se ainda que o conceito de ‘défices excessivos’ é, por vezes, usado com alusão à ultrapassagem dos
valores de referência relativos ao défice e à dívida. É o que sucede, nomeadamente, no Procedimento por
Défices Excessivos (PDE).
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
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Verifica-se, assim, que o critério de convergência relativo à situação das finanças públicas se mantém em
vigor mesmo depois de o estado-membro se encontrar já na 3.ª fase da UEM. Os valores mencionados têm
como justificação o facto de se entender que deste modo ainda se permite o funcionamento dos
denominados estabilizadores orçamentais – que são mecanismos que, por atuarem ao nível da receita ou da
despesa públicas, conseguem produzir efeitos com reflexo direto no saldo orçamental, podendo ser
utilizados para contrariar a fase do ciclo económico (descendente ou ascendente) em que a economia de um
determinado país se encontra. Existem ainda outras justificações para que tenham sido escolhidos, a par de
outros critérios, o critério do défice e da dívida pública como critérios de convergência e que têm que ser
cumpridos pelos estados que pretendam aderir à UEM. Os demais critérios de convergências são: a
estabilidade dos preços (a taxa de inflação média que não seja superior em mais de 1,5% da verificada nos
três Estados-membros com taxa de inflação mais baixa), o respeito pelas margens de flutuação normais
previstas no mecanismo de taxas de câmbio do SME e a convergência das taxas de juro. Para maiores
desenvolvimentos sobre as razões explicativas da escolha dos critérios de convergência e, em especial, dos
critérios de finanças públicas veja-se Carlos Laranjeiro, ob. cit.
18
Se preferirmos utilizar as expressões constantes do SEC 2010 então teremos que “A capacidade líquida
de financiamento é um excedente emprestado, enquanto a necessidade líquida de financiamento é o
financiamento de um défice.” – cfr. § 1.125 do SEC. A ideia de que o critério referido nas normas de direito
da U.E. é o equilíbrio efetivo fica bem clara após a leitura de outras normas do SEC.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
No PEC podíamos encontrar, desde esta fase inicial, duas vertentes: a vertente
preventiva, constante do Regulamento (CE) n.º 1466/97, e a vertente corretiva, constante
do Regulamento (CE) n.º 1467/97. Atualmente, a redação destes dois regulamentos é a
que resulta das alterações introduzidas pelos Regulamentos (CE) n.º 1055/2005 e n.º
1056/2005 do Conselho, de 27 de junho de 2005, respetivamente, bem como pelos
Regulamentos (UE) n.º 1175/2011 e n.º 1177/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 16 de novembro de 2011.
Apesar de não ter existido uma alteração das vertentes do PEC, verificou-se um
reforço da supervisão e da coordenação das políticas económica e orçamental, bem como
à clarificação, simplificação e aceleração da aplicação do Procedimento por Défices
Excessivos (PDE). Motivadas pela grave crise financeira e económica iniciada em 2007,
às alterações introduzidas no PEC em 2011 pelo six pack, seguir-se-iam as constantes do
two pack, em 2013, relativas, estas últimas, ao processo orçamental. Não podemos
também ignorar as implicações decorrentes da assinatura do Tratado sobre Estabilidade,
Coordenação e Governação da União Económica e Monetária (TECG) e, especialmente,
as orientações constantes do Relatório do ECOFIN relativas à implementação do PEC.
Conclui-se assim que, se em 1997 quando foi adotado o PEC este apenas era
constituído pela Resolução do Conselho de 17 de junho de 1997, pelo Regulamento (CE)
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
n.º 1466/97 (vertente preventiva) e pelo Regulamento (CE) n.º 11467/07 (vertente
corretiva), adotados nos termos dos arts. 121.º, 126.º, 136.º e Protocolo n.º 12 do TFUE,
atualmente temos que considerar que o PEC atualmente é constituído por:
19
A vertente preventiva tem por objetivo principal a promoção da sustentabilidade das finanças públicas
dos estados-membros.
20
A vertente preventiva tem por base o art.º 121.º do TFUE e assume atualmente uma importância
crescente. Tem-se entendido que, com a imposição do cumprimento de determinadas regras e limites é
possível detetar precocemente e corrigir situações de desequilíbrio que podem levar ao incumprimento dos
critérios estabelecidos no Tratado.
21
A vertente corretiva é implementada no cumprimento do art.º 126.º do TFUE e do Protocolo n.º 12 e
operacionalizada pelo Regulamento (CE) n.º 1467/97. Esta vertente compreende diversas fases a que nos
referiremos mais adiante.
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Na vertente corretiva assiste-se a uma obrigatoriedade de definição por parte dos estados-membros das
medidas que se comprometem a adotar no sentido de atingirem o equilíbrio orçamental (OMP) e à
introdução de obrigações de redução da dívida para os estados-membros cujas dívidas soberanas
ultrapassem 60% do PIB.
Nos casos em que a dívida pública ultrapasse os 60% do PIB, o estado-membro fica obrigado a reduzir, em
cada ano, um vigésimo do montante em excesso sobre o teto definido. Estabeleceu-se ainda uma sanção
correspondente ao depósito de 0,2% do PIB para os estados-membros que não cumpram as recomendações
que lhe são dirigidas relativamente à redução do défice. De extrema importância é também a alteração da
forma de tomada de decisão quanto à aplicação da sanção por incumprimento prevista no art.º 126.º do
TFUE: ao invés de se exigir a aprovação por maioria qualificada passa agora a considerar-se aprovada a
decisão da aplicação da sanção se o Conselho não recusar, também por maioria qualificada, a proposta
enviada pela Comissão (inversão de voto).
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
Podemos então referir que o PEC viu robustecidas as exigências feitas aos Estados-
Membros, sobretudo depois das alterações introduzidas pelo six pack e pelo two pack,
sendo de realçar as medidas de prevenção e correção dos desequilíbrios macroeconómicos
previstas nos Regulamentos (UE) n.os 1174/2011 e 1176/2011; o reforço da supervisão das
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Este Regulamento prevê a aplicação de um regime de supervisão reforçada, a levar a cabo pela Comissão
e pelo Banco Central Europeu, semelhante ao que se aplica aos países que tenham solicitado a ajuda
financeira, bem como um regime especial de supervisão pós-programa de assistência financeira, segundo
o qual os estados-membros ficam sujeitos a um regime apertado de supervisão enquanto não estiver
restituído pelo menos 75% do valor do financiamento recebido. Trata-se, é claro, de um regime mais
exigente e rigoroso do que o previsto no PDE.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
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As implicações nas políticas orçamentais dos Estados-Membros que não fazem parte da zona euro são
diversas. Os Estados-Membros nessas condições não estão obrigados a apresentar um Programa de
Estabilidade, mas antes um Programa de Convergência.
25
O OMP para Portugal foi fixado pela Comissão Europeia em 0,25% do PIB potencial e será atingido em
2021, depois de excluído o efeito das medidas temporárias e extraordinárias (habitualmente designadas por
medidas one-off e cláusla unusual events).
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
Aliás, há que referir ainda que, na avaliação feita pela Comissão e pelo Conselho no
quadro da supervisão multilateral, é tido em consideração o valor de referência para o
défice estrutural primário, excluído das despesas relativas a programas da União
totalmente financiadas por receitas provenientes de fundos da União e das alterações não
discricionárias nas despesas com subsídios de desemprego, valor estes que tem que ser
inferior a 0,5% do PIB a preços de mercado – cfr. parágrafo 4.º do n.º 1 do art.º 5.º do
Regulamento (CE) n.º 1466/97.
26
Compreende-se assim a menção feita pelo art.º 12.º -C da velha LEO à necessidade de ser elaborado um
Programa de Estabilidade e Crescimento onde seja prevista uma fórmula que permita, em cada período
financeiro, apresentar e executar um orçamento cujo saldo estrutural seja inferior ao OMP estabelecido e,
permita a convergência para um saldo estrutural que não ultrapasse os 0,5% do PIB a preços de mercado.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
procedimento é sempre uma solução de ultima ratio27 que só é utilizado desde que se
verifiquem todos os requisitos previstos no art.º 126.º do TFUE e nos demais
regulamentos da UE. De acordo com o Tratado um défice superior a 3% ou uma dívida
pública superior a 60% do PIB não são considerados excessivos se:
(.3.) Se o défice público não exceder as despesas públicas de investimento (nº 3).
27
Note-se que não só o recurso ao PDE previsto no art.º 126.º é, em si mesmo, um procedimento de ultima
ratio como também o são as várias sanções previstas são gradativas, partindo-se das menos gravosas para
as mais gravosas.
28
A noção de medidas excecionais e temporárias pode ser encontrada no art.º 2.º do Regulamento (CE) n.º
1467/97.
29
Para maiores desenvolvimentos veja-se Carlos Laranjeiro, “Investimento Público e Défice Orçamental”,
Temas de Integração, 4.º vol. 1.º semestre de 1999, n.º 7, Coimbra, pp. 89 a 98, em especial pp. 94-98.
N.B: A leitura deste texto deve ter em consideração que: (a) as referências quer ao PEC quer aos artigos dos Tratados
se encontram desatualizadas; (b) quanto ao primeiro aspeto, este é tratado nas pp. 89-93 e pode ser compreendido numa
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
ótica atual se forem tidas em consideração as menções feitas a esse respeito neste sumário; (c) quanto ao segundo, basta
que se tenha em consideração que o texto do art.º 104.º do TCE passou a constar do atual artigo 126.º do TFUE.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
Prazo: 3 meses
Art.º 126.º, n.º 4 do TFUE: O Comité Económico e Art.º 3.º do Reg. (UE)
Financeiro emite um parecer sobre o relatório da Comissão n.º 1466/97
Art.º 126.º, n.º 8 do TFUE: A Comissão recomenda a adoção Apenas em caso de inação do EM
de medidas eficazes
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
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A Croácia não era, à data da assinatura do TECG, membro da União Europeia.
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São disso exemplo a Dinamarca, a Bulgária e a Roménia. A Hungria, a Polónia e a Suécia ratificaram o
TECG com exclusão das normas constantes do Tratado Orçamental -
http://www.consilium.europa.eu/pt/documents-publications/treaties-agreements/agreement/?id=2012008
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
e ss. – é tanta que por vezes o próprio TECG é designado não pela sigla ou pela sua
designação completa, mas apenas por Pacto Orçamental (Fiscal Compact), designação
esta que corresponde à epígrafe do mencionado título III.
No capítulo dedicado ao Tratado Orçamental podemos encontrar normas relativas à
delimitação dos défices orçamentais e às metas a atingir por cada um dos Estados-
Membros a que estas disposições são aplicáveis e normas relativas ao mecanismo de
correção a instituir a nível nacional, que será supervisionado por um corpo independente
cuja função é a de monitorizar o cumprimento dos objetivos orçamentais estabelecidos
pelos Estados-Membros, mas que devem ser consistentes com os OMP previstos na
vertente preventiva do PEC.
Ademais, os objetivos orçamentais traçados pelo TECG são ainda mais austeros do
que os que constam do PEC, estando estabelecido como limite máximo para o saldo
estrutural negativo (défice) o valor de 0,5% do PIB a preços de mercado. Este valor pode,
no entanto, ser ultrapassado temporariamente quando se verifiquem circunstâncias
excecionais e, nos casos em que a relação entre a dívida pública e o PIB a preços de
mercado seja significativamente inferior a 60 % e os riscos para a sustentabilidade a longo
prazo das finanças públicas forem reduzidos o valor do limite para o saldo estrutural passa
para 1% do PIB.
O Tratado Orçamental estabelece ainda que, nos casos em que os limites estabelecidos
forem ultrapassados, sejam implementados mecanismos nacionais para a correção dos
desvios e, concomitantemente, quando a dívida tenha ultrapassado os 60% do PIB a
preços de mercado a sua redução ao ritmo de 5% ao ano do valor da dívida pública.
Estabelece ainda a necessidade de ser implementado um programa de reformas
estruturais, económicas e orçamentais, nos casos em que se verifique défice excessivo
nos termos do art.º 126.º do TFUE, bem como a apresentação dos planos de emissão de
dívida pública.
Note-se que, não obstante a complexidade destes mecanismos e a dificuldade de
articulação entre as disposições de um Tratado Intergovernamental que não vincula senão
os estados contratantes e na exata medida da ratificação que do mesmo foi feita e as
normas de Direito da União, este tem como vantagem o facto de estabelecer para os
estados-contratantes e vinculados pelas disposições do título III – Tratado Orçamental –
limites mais apertados quanto ao desempenho orçamental. Contudo, a disposição do art.º
7.º do TECG já nos levanta maiores reservas pois estabelece de modo antecipado uma
espécie de disciplina de voto para as partes contratantes.
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o equilíbrio orçamental no Direito INTERNO, NO DIREITO da união Europeia e no Tratado orçamental
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Idêntica possibilidade encontra-se estabelecida no art.º 24.º da LEO, cabendo à Assembleia da República
reconhecer a existência de uma situação de excecionalidade. Este reconhecimento é dispensável, por força
do art.º 26.º da LEO e do art.º 8.º da CRP quando idêntico reconhecimento seja efetuado pelos órgãos
competentes da União Europeia, naqueles casos em que a causa seja comum a outros Estados-Membros.
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A cláusula de derrogação de âmbito geral foi introduzida em 2011 pela reforma operada pelo six-pack
nos artigos 5.º, n.º 1, 6.º, n.º 3, 9.º, n.º 1, e 10.º, n.º 3, do Regulamento (CE) n.º 1466/97, bem como nos
artigos 3.º, n.º 5, e 5.º, n.º 2, do Regulamento (CE) n.º 1467/97.
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Recomendação do Conselho relativa ao Programa Nacional de Reformas de Portugal de 2020 e que emite
um parecer do Conselho sobre o Programa de Estabilidade de Portugal de 2020 - COM (2020) 522, final.
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