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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA (ISTA)

POLO-CAXITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO

DIREITO FISCAL

TRIBUTAÇÃO DA ACTIVIDADE PETROLÍFERA

Grupo nº: 01
3º Ano
Período: Noturno
Curso: Contabilidade e Administração

Docente
_____________________
Dr. Graciano Panzo

CAXITO-ABRIL
2022/2023
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA (ISTA)
POLO-CAXITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO

DIREITO FISCAL

TRIBUTAÇÃO DA ACTIVIDADE PETROLÍFERA

Trabalho apresentado ao ISTA/Bengo como parte


necessária do requisito parcial para a obtenção de uma nota
na Disciplina de Direito Fiscal, orientado pelo Prof.
Graciano Panzo.

Autores:
António Joaquim Mantantu
Ernesto Manuel António Francisco
Justino Miguel Gomes Manuel
Miguel Vontade João da Silva
Pedro Pereira Frederico da Silva

CAXITO-ABRIL
2022/202
SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................................... i
INTRODUÇÃO........................................................................................................................01
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................02
1.1. Breve história do Petróleo..................................................................................................02
1.2. Quadro Legal......................................................................................................................03
1.3. REGIME FISCAL APLICÁVEL AO SECTOR PETROLÍFERO (LEI N.º 13/04, DE 24
DE DEZEMBRO).....................................................................................................................06
1.3.1. Âmbito e Objecto............................................................................................................06
1.3.2. Regras Gerais Aplicáveis................................................................................................07
1.3.3. Isenções...........................................................................................................................07
1.3.4. Encargos Tributários.......................................................................................................08
1.4. DISTINÇÃO DO SISTEMA FISCAL E ENQUADRAMENTO ORÇAMENTAL DOS
DIFERENTES TIPOS DE RENDIMENTOS GERADOS PELA INDÚSTRIA.....................09
1.4.1. Imposto sobre a Produção do Petróleo............................................................................09
1.4.2. Imposto sobre o Rendimento do Petróleo.......................................................................09
1.4.3. Imposto sobre a Transacção do Petróleo.........................................................................11
1.4.4. Taxa de Superfície..........................................................................................................11
1.4.5. Contribuição para a Formação dos Quadros Angolanos.................................................11
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................14
RESUMO

O presente estudo tem como principal objetivo analisar, em pormenor, a eficácia da


tributação da actividade petrolífera. O regime de tributação é caraterizado como sendo
complexo e com tendências de flexibilidade. Contudo, tem operado e atraído o investimento
estrangeiro, durante décadas, constituindo a maior fonte geradora de receitas para o Estado.

Estas receitas contribuíram em mais de 30% para o Produto Interno Bruto (PIB) e em
mais de 70% das receitas fiscais totais do OGE nos últimos 25 anos. Porquanto, a literatura da
ciência política e económica adverte que a ineficiência na gestão destes recursos, para além de
comprometer a equidade intergeracional e a boa governação, pode também induzir o aumento
dos níveis de corrupção e criar instabilidade ao Estado.
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como pretensão analisar a tributação da actividade petrolífera,


é um assunto bastante vasto o que não nos permite desenvolver cabalmente, porem, nos
limitamos em abordar alguns assuntos achados por nós como digno de realce. O petróleo tem
uma importância imediata e determinante na economia mundial, pois é um líquido facilmente
armazenável, transportável e destilável, uma matéria-prima energética e química
incomparável.

A indústria em questão detém uma imensa importância estratégica, seja para o


equilíbrio económico nacional como para a soberania dos estados. O país que detenha
petróleo ou gás natural considera-o, sem dúvida, essencial para a sua sobrevivência. Neste
sentido, uma vez que não se trata de uma indústria comum, à imposição de impostos antecede,
em regra, uma morosa discussão política, económica e social.

A economia angolana depende do petróleo, que contribui com mais de 50% do PIB,
75% das receitas governamentais e 90% do valor exportado. O crescimento do PIB angolano
dos últimos anos tem a ver com o aumento da produção de petróleo aliada ao preço alto desta
commodity. A par do petróleo, a indústria diamantífera é relevante, contribui nas exportações
e no PIB do país. A importância deste tema reside, acima de tudo, no facto de, entre todos os
factores que contribuem para o sucesso ou insucesso desta indústria, o regime fiscal ser o
único que os estados conseguem efectivamente controlar.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Abordar uma temática deste género obriga-nos a recorrer a uma série de definições e
conceitos a fim de permitir uma melhor compreensão do conteúdo que orientam esta pesquisa.

1.1. Breve história do Petróleo

A guerra civil desestabilizou a economia angolana durante décadas. As reformas


económicas dos últimos anos feitas pelo Governo e a estabilização da moeda interna, Kwanza,
tem proporcionado uma estabilidade económica, aliada aos baixos índices de inflação.

Reconstruir as infra-estruturas é imperioso para Angola. Para tal, as entidades


governamentais, vêm e têm no petróleo, para viabilizar a execução de tais obras, a porta
standard para que tal reconstrução seja exequível a curto e médio prazo.

Os progressos alcançados, não livra Angola em enfrentar inúmeros desafios que se


prendem em corrigir a excessiva burocracia, o alto índice de pobreza e as inúmeras
dificuldades sociais, o combate ao analfabetismo, a construção de infra-estruturas de energias,
água, vias de comunicação, transportes e, entres outras, vitais para Angola, produção dos
alimentos, modernização do tecido económico agrícola, industrial e serviços.

Angola conheceu as primeiras descobertas em terra (onshore) e em águas rasas


marítimas (offshore) na década de 1950. A primeiras concessões sobre a pesquisa e produção
(E&P) aconteceram na região de Cabinda e à favor da CABGOC (Cabinda Gulf Oil
Company), subsidiária da Chevron, que desde 1955 opera o “Bloco 0”, região com reservas
recuperáveis estimadas em 5 bilhões de barris.

Em 1976 o governo de Angola criou a sua National Oil Company (NOC), que é a
Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, Sonangol, que é responsável pela
estruturação e gestão das participações governamentais no sector de pesquisa e produção
(E&P) de petróleo em território angolano, além de actuar em outros elos da cadeia de petróleo
e gás no país. Ao Ministério dos Petróleos “MINPET” cabe a responsabilidade de regular e
definir a política nacional de petróleo e coordenar, controlar e auditor este sector económico.

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A exploração onshore sustada devido as hostilidades da guerra civil, a Sonangol
incentivou as oportunidades offshore de pesquisa e produção (E&P) na costa marítima
angolana. Tal incentivo despertou interesse das International Oil Company (IOC ou IOCs)
através do licenciamento de áreas significativas, em águas rasas no sul de Cabinda, na década
de 80, e na década seguinte em águas mais profundas, em torno de 100 km da costa.

O acordo da Sonangol com a CABGOC, para a região de Cabinda, é o único relevante


e que segue o modelo de concessão. Todos os outros relacionamentos da Sonangol com as
IOCs nos blocos offshore são baseados em acordos de joint ventures e modelos de partilha de
produção. As IOCs exercem o papel de operadores dos campos concedidos.

O sucesso da exploração dos campos offshore, na da década de 90, determinou a


influência de Angola entre os países produtores de petróleo. Angola é o segundo maior
produtor de petróleo na África e é membro da OPEP desde Janeiro de 2008, cuja cota diária,
cifra-se na produção de Um milhão e novecentos mil barris de petróleo.

1.2. Quadro Legal

Em Angola prevalece o princípio da soberania permanente sobre os recursos naturais


desde a sua independência ocorrida em 1975, ano em que foi promulgado a Lei
Constitucional, embora com alterações, vigorou até 2010.

A Constituição, no seu 16º artigo determina que propriedade sobre os hidrocarbonetos


pertence ao Estado, ipsis verbis, “os recursos naturais, sólidos, líquidos ou gasosos existentes
no solo, subsolo, no mar territorial, na zona económica exclusiva e na plataforma continental
sob jurisdição de Angola são propriedades do Estado que determina as condições para sua
concessão, pesquisa e exploração, nos termos da Constituição, da Lei e do Direito
Internacional”, ou seja, o princípio da soberania permanente sobre os recursos naturais é
exercido nos termos da lei suprema, da lei infra ou extra constitucional e de acordo com o
direito internacional (positivo ou costumeiro). O regime jurídico deste artigo reforça o poder
do Estado Angolano quanto ao seu poder soberano sobre os recursos naturais prescrito no
artigo 3º da Constituição Angolana.

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O regime legal do sector petrolífero de Angola é decalcado ou influenciado ao modelo
da Malásia. A NOC foi constituída em 1976, através do Decreto nº 57, sob denominação de
SONANGOL-Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, Unidade Empresarial Estatal
“SONANGOL-UEE”. O estatuto da Sonangol-UEE é alterado e passa a ter a sua actual
denominação social: Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, Empresa Pública
“SONANGOL-EP”.

A Lei nº 13/78, de 26 de Agosto «Lei Geral das Actividades Petrolíferas» substitui o


regime colonial português e representou uma grande mudança na legislação petrolífera
angolana, estabelecendo os princípios fundamentais que passaram a reger a exploração do
potencial petrolífero do país no período pós-independência. Nos termos da lei pós-
independência, a totalidade dos reservatórios petrolíferos, localizados em áreas onshore e
offshore, era de propriedade do povo de Angola.

Todos os direitos de exploração e produção de petróleo foram transferidos para a


Sonangol. Esta, por sua vez, não estava autorizada a alienar tais direitos. A Lei estabeleceu
que todos os direitos existentes com relação à exploração petrolífera em Angola seriam
cancelados e transferidos para a Sonangol. E, qualquer IOC que desejasse explorar petróleo
nesse país teria que possuir as qualificações técnicas e financeiras necessárias e associar-se à
Sonangol. Tal associação poderia ser realizada nas áreas onshore por meio de uma Joint
Venture, que deveria contar com a participação majoritária da Sonangol, ou através de um
Contrato de Partilha da Produção, que poderia ser aplicável tanto às áreas onshore como
offshore.

A Lei nº 13/78, de 26 de Agosto “Lei Geral das Actividades Petrolíferas” apesar de


actualizar aspectos importantes, como nos princípios atribuíveis à actividade, o governo de
Angola decidiu proceder à revisão da mesma de modo a torna-la mais rica e melhor adaptada
às mudanças que o sector apresentava, visando, com isso, atingir de maneira mais eficaz os
interesses nacionais. Assim, foi promulgada a Lei nº 10/2004, de 12 de Novembro, que
ratificou o princípio fundamental da propriedade estatal sobre os recursos petrolíferos, já
consagrado na Constituição angolana e na anterior Lei Geral das Actividades Petrolíferas,
bem como a obrigatoriedade associativa com a Sonangol no âmbito de suas concessões
petrolíferas, reproduzindo, ainda, alguns outros princípios constantes da Lei Geral das
Actividades Petrolíferas.

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A Lei visa salvaguardar, os princípios de política económica e sociais aplicáveis ao
sector petrolífero: protecção do interesse nacional; desenvolvimento do mercado de trabalho e
valorização dos recursos petrolíferos; protecção do meio ambiente e racionalização da
utilização dos recursos petrolíferos; e viabilização da competitividade do país no mercado
internacional. A Lei prevê condições e regras operacionais de carácter geral e abstracta que se
aplicam a quaisquer tipos de associação com a Sonangol.

Nos termos do artigo 6º da Lei nº 10/2004, de 12 de Novembro “as operações


petrolíferas só podem ser exercidas através de uma licença de prospecção ou de uma
concessão petrolífera nos termos da lei.” Uma leitura literal a este dispositivo legal ou o
regime jurídico deste artigo, quanto as actividades de exploração e produção de petróleo,
parece dizer que só pode ser feita através de um contrato de Concessão. Na verdade, as
concessões de áreas a serem exploradas são feitas exclusivamente à Sonangol que, nos termos
da Lei, é a Concessionária Nacional exclusiva.

As concessões outorgadas à NOC angolana devem ser feitas por Decreto de


Concessão. A NOC pode explorar sozinha ou individualmente as áreas concessionadas ou
associar-se a uma IOC, nos termos estabelecidos nos artigos 7º e 44º da Lei nº 10/2004, de 12
de Novembro. Ou seja, a Sonangol pode associar-se com uma IOC nos termos prescritos na
Lei. Angola usa mais os modelos de Joint Venture (societária e contratual), PSA e Risk
Production Agreement, pois é através destes instrumentos que as relações entre as IOCs e o
Estado hospedeiro angolano são materializadas.

Embora a Lei preveja três regimes, na verdade, desde a promulgação da Lei, a


Sonangol tem utilizado apenas o regime de PSA ou Contrato de Partilha de Produção para
associar-se às IOCs. Ou seja, Angola adopta o regime contratual do PSA para regular sua
relação com as IOC, uma vez que os outros nunca foram postos em prática.

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1.3. REGIME FISCAL APLICÁVEL AO SECTOR PETROLÍFERO (LEI
N.º 13/04, DE 24 DE DEZEMBRO)

1.3.1. Âmbito e Objecto

O regime fiscal aplicável às companhias petrolíferas encontra-se previsto nos


Diplomas de concessão dos vários blocos de exploração petrolífera aprovados até ao ano de
2004, sendo que às concessões atribuídas a partir de 1 de Janeiro de 2005 estão sujeitas às
disposições da Lei n.º 13/04, de 24 de Dezembro. No entanto, a referida Lei aplica-se às
concessões atribuídas antes da sua entrada em vigor, no que respeita a:

 Mais-valias realizadas ou contabilizadas e os rendimentos das cessões de interesses


participativos;
 Centralização da contabilidade;
 Declaração Fiscal;
 Fixação e revisão da matéria colectável;
 Liquidação e cumprimento da obrigação fiscal;
 Reclamação e recurso contencioso;
 Fiscalização e penalidades.

O regime fiscal previsto na referida lei é aplicável a todas as entidades nacionais e


estrangeiras que exerçam em Angola ou noutras áreas territoriais ou internacionais sobre as
quais o direito ou os acordos internacionais reconheçam poder de jurisdição atribuída ao
Estado angolano, operações petrolíferas, nomeadamente:

Pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenagem, venda, exportação, tratamento e


transporte de petróleo bruto, gás natural, nafta, ozoterite, enxofre, hélio, dióxido de carbono e
substâncias salinas, quando provenientes de operações petrolíferas.

Além dos Impostos especiais, as entidades nacionais e estrangeiras que exerçam em


Angola operações petrolíferas, encontram-se igualmente sujeitas a outros Impostos, taxas,
direitos e demais imposições aduaneiras pela prática de actos complementares ou acessórios
das actividades petrolíferas.

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1.3.2. Regras Gerais Aplicáveis

Podem aplicar-se as seguintes regras gerais:

 A indústria petrolífera está dividida nos sectores de: Upstream - que consiste na
actividade de pesquisa, produção e venda do petróleo bruto e gás natural – e
Downstream – que consiste na actividade de refinação de petróleo, a liquefacção de
gás, a distribuição e venda de petróleo refinado e seus derivados;
 Os encargos tributários na indústria petrolífera devem ser calculados de forma
completamente independente em relação à cada área de concessão, havendo assim
autonomização dos encargos das áreas de concessão (Ring Fence);
 O Preço de Referência Fiscal do Petróleo (PRF) é fixado trimestralmente pelos
Ministérios do Petróleo e das Finanças e resulta da compilação de dados de vendas e
outras informações relevantes, prestadas pela Concessionária Nacional e suas
associadas;
 O sistema contabilístico a utilizar na indústria deve observar as regras e os métodos
descritos no Plano Geral de Contabilidade (PGC), sendo que os procedimentos e
princípios contabilísticos relativos aos custos são geralmente definidos num anexo aos
documentos contratuais.

1.3.3. Isenções

Estão isentos deste regime especial:

 A cessão de interesses participativos, que se encontra isenta de quaisquer impostos ou


encargos directamente relacionados com a concretização ou transmissão do interesse
participativo, sendo que os lucros, taxas ou contribuições de mais-valias decorrentes
das mesmas, contabilizadas ou não, são computados na totalidade da matéria
colectável que é sujeita aos encargos tributáveis inerentes;
 As acções ou quaisquer títulos representativos do capital social das entidades às quais
a lei se aplica, bem como a transferência de lucros para fora de Angola ou o
pagamento de dividendos.

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1.3.4. Encargos Tributários

Os encargos tributários que integram o regime fiscal especial aplicável à indústria petrolífera
são:

1. Imposto sobre a Produção do Petróleo (IPP);


2. Imposto sobre o Rendimento do Petróleo (IRP)
3. Imposto sobre a Transacção do Petróleo (ITP);
4. Taxa de superfície;
5. Contribuição para a formação de quadros angolanos.

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1.4. DISTINÇÃO DO SISTEMA FISCAL E ENQUADRAMENTO
ORÇAMENTAL DOS DIFERENTES TIPOS DE RENDIMENTOS
GERADOS PELA INDÚSTRIA

Nos termos da Lei 13/2004 de 24 de Dezembro, todas as outras actividades que não
sejam consideradas como actividades petrolíferas encontram-se sujeitas a tributação nos
termos das regras tributárias gerais, mais concretamente do Imposto Industrial, segundo o
qual são tributados os lucros imputáveis ao exercício de qualquer actividade de natureza
comercial ou industrial.

Presentemente, estão simultaneamente em vigor dois regimes de tributação das


actividades petrolíferas. O primeiro, constante da lei antiga, aplica-se à generalidade das
concessões contratadas antes de 1 de Janeiro de 2005. Por sua vez o novo regime aplica-se às
concessões acordadas posteriormente.

O actual regime especial de tributação das actividades petrolíferas prevê a aplicação de


cinco impostos:

1.4.1. Imposto sobre a Produção do Petróleo

O Imposto sobre a Produção do Petróleo incide sobre “a quantidade de petróleo bruto


e gás natural medido à boca do poço, deduzidas as quantidades consumidas nas operações
petrolíferas”. A dedução mencionada carece, contudo, de parecer favorável por parte da
Sonangol.

Este imposto é devido por todas as empresas que participem num contrato com a
Sonangol, anualmente, à taxa de 20%, salvo raras excepções previstas na lei. O único caso à
parte será o das empresas que operam sob uma joint venture, pois neste caso podem deduzir,
como custos de investimento, 50% da produção de petróleo.

Este imposto não se aplica aos Contratos de Partilha de Produção.

1.4.2. Imposto sobre o Rendimento do Petróleo

Conforme referido, o cost oil consiste na percentagem acordada até à qual as


empresas podem deduzir os seus custos de exploração, desenvolvimento e produção, assim
como os custos de administração e serviços A&S. Por sua vez, o profit oil é todo o lucro
restante. Em conformidade com as regras estabelecidas na Lei 13/2004 e nos contratos
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celebrados, o rendimento tributável, reporta-se ao lucro de cada exercício, relativamente a
cada área de concessão, calculando-se, nos contratos de partilha de produção, com base no
lucro real atribuído a cada empresa, dentro de uma certa área, subtraindo-se o quinhão de
profit oil partilhado com a Sonangol e ainda o cost oil.

No caso de outras associações ou contrato de prestação de serviços, a matéria


colectável será calculada através da diferença entre os ganhos realizados e os custos
imputáveis ao mesmo exercício.

Nos termos do artigo 41º da Lei 13/2004, a taxa aplicável aos rendimentos varia
consoante o tipo de contrato em causa. No caso de existência de contratos de partilha de
produção aplica-se uma taxa de 50%. Nos restantes contratos ou concessões a taxa
aplicável será de 65,75%.

Todos os custos de desenvolvimento e produção, como sejam (i) despesas com


pessoal e materiais, (ii) despesas de transporte, (iii) encargos relacionados com actividades
básicas, acessórias ou complementares, (iv) aprovisionamentos necessários para a execução
de actividades petrolíferas, ou, ainda, (v) juros e encargos relativos a financiamentos que
tenham sido efectivamente pagos, desde que contraídos junto de instituições de crédito
angolanas são recuperáveis. Adicionalmente, caso haja uma margem de cost oil não
utilizada, podem ser deduzidos custos de exploração. Não sendo estes custos recuperáveis
são reportados para o futuro na respectiva área de desenvolvimento.

Contudo, não são dedutíveis para efeitos fiscais: (i) as comissões auferidas por
intermediários, (ii) indemnizações, com mais ou outro tipo de penalidades, assim como
despesas incorridas em processos de arbitragem, (iii) juros ou outros encargos que não
caibam nos custos dedutíveis do parágrafo anterior; e ainda (iv) os fundos, provisões e
reservas, excepto quando tenham sido previamente aprovados pelo Governo. Tratando-se
de liquidação definitiva, os contribuintes ficam obrigados a entregar anualmente, durante o
mês de Março, uma declaração Modelo 2 sobre a previsão de pagamentos para o ano
seguinte, a qual será utilizada como base de fixação da matéria coletável por uma
Comissão de Fixação.

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1.4.3. Imposto sobre a Transacção do Petróleo

O Imposto sobre a Transacção do Petróleo incide sobre o lucro das empresas operadoras em
Angola, calculando-se segundo as regras aplicáveis ao Imposto sobre o Rendimento do
Petróleo, nos termos da Lei 13/04, aplicando-se a taxa de 70%.

Contém, no entanto, algumas especificidades relativamente às despesas, nomeadamente


apenas serem dedutíveis o prémio de produção e o prémio de investimento, aplicando-se-lhes,
ainda, a taxa de superfície, contribuição de treino e as despesas financeiras.

1.4.4. Taxa de Superfície

As empresas operadoras devem também uma taxa de superfície, a qual incide sobre a
área de concessão ou sobre as áreas de desenvolvimento.

Calcula-se através de um valor anual de 300 USD por km2, devendo ser liquidado no
mês seguinte ao da assinatura do contrato ou da apresentação da declaração comercial.

1.4.5. Contribuição para a Formação dos Quadros Angolanos

Nos termos do artigo 57º da Lei 13/2004, é, ainda, exigido um financiamento para o
treino de cidadãos angolanos na indústria do petróleo e gás natural. Esta contribuição difere
entre empresas e fornecedores de bens e serviços prestados às empresas petrolíferas,
dependendo, essencialmente, da fase da actividade em que se encontram. Neste sentido, esta
pode variar entre USD 200.000 por ano, USD 0,15 por barril e 0,5% do rendimento bruto
anual, quando estejamos perante uma sociedade de exploração, de produção ou sub-
empreiteiros, respectivamente.

Poderão ser aplicáveis outros impostos gerais, no caso de as actividades


complementares às operações petrolíferas, efetuadas pelas operadoras, caírem no âmbito de
incidência de algum outro imposto ou taxa. O Imposto sobre a Aplicação de Capitais foi
recentemente revisto e aprovado pelo Decreto Legislativo Presidencial nº5/11de 30 de
Dezembro, aplicando-se aos rendimentos de capitais, como sejam os juros, dividendos,
royalties, mais-valias e rendimentos de jogo.

Os dividendos distribuídos por uma entidade angolana são tributados à taxa de 10%, por
retenção na fonte da entidade pagadora, a qual deve entregar, até ao final do mês seguinte, o

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imposto devido às Autoridades Fiscais. Os juros sobre empréstimos garantidos por terceira
parte ou accionistas são tributados à taxa de 15%. Note-se que, no caso de os juros serem
pagos por entidades estrangeiras, a obrigação de entregar o imposto às Autoridades recai na
entidade nacional. Relativamente aos empréstimos concedidos por accionistas haverá retenção
na fonte na altura do pagamento. Contudo, através de disposições contratuais, a Sonangol
concede isenções de Imposto sobre a Aplicação de Capitais.

A Lei n.º 11/04 prevê uma isenção nas importações de bens que sejam exclusivamente
necessários à indústria do petróleo e gás natural, desde que não seja possível adquiri-los em
Angola. Todas as outras importações estão sujeitas a Direitos Aduaneiros, com uma taxa que
pode variar entre os 2% e os 30%.

O Imposto sobre o Consumo, herdado da era colonial, tributa a produção de bens e,


recentemente, também uma ampla gama serviços definidos na lei. Foi recentemente aprovado o
Decreto Executivo n.º 333/13, de 8 de Outubro, que veio determinar um novo conjunto de regras
para as companhias petrolíferas que efetuem operações em Angola, relacionadas com a liquidação
e pagamento do Imposto sobre o Consumo. Nos termos deste novo regime, no momento de
emissão de factura, as entidades prestadoras de serviços às operadoras petrolíferas devem liquidar
o imposto nos termos das regras gerais aplicáveis, ficando, por sua vez, as companhias
petrolíferas responsáveis pela entrega do imposto junto do estado, na medida em que estas
irão retê-lo aquando do pagamento dos serviços prestados. Por outras palavras, as companhias
petrolíferas passam a estar sujeitas ao regime geral aplicável à generalidade dos contribuintes
sendo que o seu incumprimento determina a irrecuperabilidade do encargo do Imposto de
Consumo por estas suportado, em sede de Imposto sobre o Rendimento do Petróleo.

As taxas deste imposto variam significativamente, sendo a taxa normal de 10%, mas
pode ser reduzida para 2%, no caso de alimentos essenciais e medicamentos, ou subir para
20% ou mesmo 30%, nos casos em que estão envolvidos bens considerados de luxo. Quanto
aos serviços as taxas variam entre 5% e 10%.

Relativamente à Segurança Social, são devidas contribuições sobre o salário, à taxa de 11%,
sendo que 8% são retidos na fonte pelo empregador e 3% ficam a cargo do trabalhador.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tributação da actividade petrolífera sua análise é extremamente complexa uma vez


que tem que ter em conta vários elementos e depende de inúmeros factores, sendo, neste
sentido, considerada uma indústria com elevados riscos inerentes, como sejam o geológico, o
fiscal e os relacionados com as flutuações de preços. Acrescem aos problemas referidos
outros, como sejam os de índole legal, técnica, financeira e política.

A única forma possível de os estados conseguirem assumir algum controlo na indústria


é através do regime fiscal, único elemento que os estes controlam totalmente. O regime fiscal
é, sem dúvida o principal mecanismo para a distribuição da riqueza produzida entre os estados
e os investidores.

O conflito de interesses, entre estados e empresas, tem originado vários problemas.


Neste sentido, é fulcral para a sustentabilidade dos regimes fiscais a estabilidade e
flexibilidade, garantindo a adequada distribuição de riscos e lucros e prevenindo as mudanças
constantes nas leis fiscais, para que os investidores possam adquirir confiança e não assimilar
um risco. Angola deveria estar, não tanto em alterações drásticas ao seu regime, mas sim
numa melhor gestão dos interesses de ambas partes, estados e empresas operadoras,
apostando na estabilidade e na confiança dos investidores, tendo uma especial atenção em
alocar uma parte do lucro ao desenvolvimento social do país.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRAGOSO, Antónia Manuela em Dissertação em Ciência Política e Relações Internacionais


de Maio de 2010.

História do Crude em Angola, Sonangol EP, disponível online em:http://www.sonangol.co.ao

Exploração no Mar, Sonangol EP, disponível online em: http://www.sonangol.co.ao

NARKHLE, Carole, no artigo Petroleum Fiscal Regimes em The taxation of Petroleum and

Minerals, Routledge, 1ª ed. 2010

Artigo Reforma Fiscal: Imposto sobre a Aplicação de Capitais, Imposto do Selo e Imposto de
Consumo de Março de 2012, Vitor Carvalho & Associados.

Artigo Um olhar sobre…O SISTEMA FISCAL ANGOLANO, Rogério Fernandes Ferreira &

Associados, 2012

Angola: novas regras em Imposto sobre o Consumo na Indústria Petrolífera, Rogério


Fernandes Ferreira & Associados, N.º 28/2013.

FONSECA, André, em A Tributação do Rendimento no Sistema Fiscal Angolano, Centro de



Investigação Jurídico-Económica, 2010.

SANCHES, JJ Saldanha e GAMA, João Taborda da, Manual de Direito Fiscal Angolano,

Coimbra, 2010

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