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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana N.

º 1
Trimestral
Abril de 2023
Coordenador: Wilson Salvador

ADILSON SEQUEIRA
Iva aplicado ao sector petrolífero angolano

SIMÃO SALUWANDA
Política Fiscal Para Promoção de Investimentos Via Mercados Regulamentados (Bolsa de Valores)

EDSON MARTINS
O Imposto sobre os Veículos Motorizados

WILSON SALVADOR
O Dossier Fiscal

WILSON SALVADOR
Da (im)possibilidade de aceitação do furto ou roubo de dinheiro como custo fiscal em sede de Imposto Industrial
2
Editorial

Criada no ano de 2022, a Revista de Fiscalidade Angolana (RFA) publica em 2023 a sua
primeira edição e cumpre com o objectivo de preencher as lacunas doutinárias existentes em
Angola à nível de Fiscalidade e outras ciências afins (Contabilidade, Auditoria, Finanças Públicas,
Direito Fiscal, Direito Administrativo, etc.) que se dedicam ao estudo dos Impostos e da sua
aplicação.

Esta primeira edição, espelha alguns rumos da fiscalidade angolana percorridos desde o início
da reforma fiscal até à actualidade.

Longe de ser uma edição perfeita, o que se pretende é a partilha de informações relevantes ao
entendimento de determinados temas actuais da nossa fiscalidade, analisadas pelos diversos
autores. Esta análise é efectuada a partir de diversas perspectivas, e certamente que os temas
ora apresentados não se esgotam nestas linhas.

Neste contexto, cumpre-me agradecer aos autores que com empenho produziram os artigos
que constam nesta edição, bem como de muitos outros que foram propostos para
publicação.

Na qualidade de coordenador da RFA manifesto o meu reconhecimento a todos aqueles que


tornaram possível a publicação desta edição: aos autores dos artigos agradeço o facto de
nos terem proposto a divulgação os resultados da sua pesquisa e reflexão.

A coordenação de um periódico Editorial como este é um labor exigente e resiliente. Esta


edição conta com a colaboração, empenhada e proficiente na coordenação, de elevado
profissionalismo de colegas investigadores e apaixonados pela Fiscalidade.

Apresento ainda os meus agradecimentos ao Fórum Virtual, Consultório Económico &


Tributário, pelo suporte institucional dado à RFA.

Ao Hilton dos Santos, agradeço o acolhimento da presente publicação da RFA bem como o
empenho na sua valorização.

Agradecimento extensivo a todos os colaboradores da RFA.

O Coordenador da Revista
Wilson Salvador

3
Os autores conservam os direitos de autor e concedem à revista o direito de
primeira publicação.

O trabalho pode ser simultaneamente publicado pelos autores, o que permite a


partilha do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta
revista.

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana _ Iva aplicado ao sector petrolífero angolano

IVA APLICADO AO SECTOR PETROLÍFERO ANGOLANO

Por: Adilson Sequeira1

As Linhas Gerais do Executivo Para a Reforma Tributária, aprovadas pelo Decreto


Presidencial n.º 50/11, de 15 de Março, definem os instrumentos e os objectivos de política
fiscal que norteiam o processo de reforma quer do sistema tributário, quer da Administração
Tributária, em que no ponto 1.4.3. (prioridades de intervenção no plano legislativo), que “a
tributação do consumo, no âmbito da reforma, far-se-ia essencialmente a partir da introdução ou evolução do
actual imposto de consumo para um imposto do tipo IVA, sem efeitos de cascata e adequado à estrutura
socioeconómica angolana”.

É sabido que as principais receitas orçamentais em Angola, advêm dos impostos petrolíferos
que têm características muito especiais, quer no plano fiscal, quer no plano administrativo.
Por isso, aconselha a prudência, que os Estados produtores de petróleo preparem novas
fontes de receita, para sustentar os níveis de receitas futuras, o que implica uma maior atenção
aos impostos indirectos. Neste contexto, houve necessidade de se alterar o paradigma
existente no domínio da tributação da despesa, mediante a introdução no sistema fiscal do
IVA em substituição do imposto de consumo em Angola.

Tendo em consideração as especificidades da indústria petrolífera em Angola e uma vez que


se trata de um sector de capital intensivo, pretendeu-se adoptar em sede de IVA um regime
diferenciado para as companhias petrolíferas exerçam operações petrolíferas em áreas de
concessões aplicando-o nos custos de pesquisa, desenvolvimento, produção ou abandono e às
Empresas Executoras que se destinem exclusiva e directamente à execução das operações do
Projecto Angola LNG sem vínculo contratual com a Concessionária Nacional, garantindo e
salvaguardando assim, a estabilidade e viabilidade económica dos investimentos nessa fase,
em que foi desenhado um modelo “ibrido”na legislação angolana para a tributação do IVA
nestes sectores (upstream e downstream), tendo em conta as características típicas dos projectos
especiais existentes em Angola.

O Projecto Angola LNG é executado por três Empresas Executoras:


i. a Angola LNG Limited, principal entidade encarregue de executar o Projecto;
ii. a OPCO - Sociedade Operacional Angola LNG que realiza, em representação da
Angola LNG Limited, as operações relacionadas com as Instalações Terrestres e as
Instalações Marítimas; e
iii. a SOMG - Sociedade Operadora dos Gasodutos de Angola, que realiza, em
representação da Angola LNG Limited, as operações relacionadas com a Rede de
Gasodutos de Gás Associado e a Rede de Gasodutos de Gás Não-Associado.

O enquadramento legal do IVA no “upstream”nos Contratos de Patilha e Produção para as


Sociedades Investidoras Petrolíferas “Operadoras e Não Operadoras”e do “downtream” para as

1
Perito Contabilista da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA) e Docente Universitário. É
Mestrando em Direito Fiscal, na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto (UAN), é Licenciado em
Contabilidade e Auditoria, na Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto (UAN), é Licenciado em Direito, na
Universidade Lusíadas de Angola (ULA); e é Bacharel do Curso Superior em Matemática, no Instituto Superior de Ciências
da Educação (UAN).
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana _ Iva aplicado ao sector petrolífero angolano

Empresas Executoras que se destinem exclusiva e directamente à execução das operações do


Projecto Angola LNG não relacionadas com às actividades de avaliação, desenvolvimento e
produção de Gás, estão previstos nos artigos 21.º, 24.º, 25.º, 30.º, 31.º e 32.º do Código do
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), aprovado pela Lei nº 7/19 de 24 de Abril e no
Decreto Presidencial n.º 343/19 de 21 de Novembro, que aprova o Regime de Liquidação e
Pagamento do Imposto sobre o Valor Acrescentado aplicável ao Projecto Angola LNG.

O Modelo do IVA para às Sociedades Investidoras Petrolíferas e para às Empresas


Executoras das operações do Projecto Angola LNG, com e sem vínculo contratual com a
Concessionária Nacional, está centrado em duas (2) vertentes, o (i) Modelo Declarativo e a (ii)
Modelo de Pagamento Parcial, que substancia no seguinte:

(i) Modelo Declarativo, em que as Sociedades Investidoras Petrolíferas e às Empresas


Executoras das operações do Projecto Angola LNG suportam o "imposto dedutível"
e o deduz imediatamente no período na declaração periódica, não havendo qualquer
impacto na tesouraria e nos resultados das Petrolíferas;

(ii) Modelo de Pagamento Parcial, em que as Sociedades Investidoras Petrolíferas e às


Empresas Executoras das operações do Projecto Angola LNG suportam o “imposto
não dedutível” e entregam a totalidade aos Cofres do Estado, considerado como
custo fiscalmente aceite em sede do Imposto sobre o Rendimento de Petróleo (IRP).

Quanto ao regime do IVA Cativo, às aquisições de bens e serviços nas quais suporte o
Imposto sobre o Valor Acrescentado quando efectuadas pelas Sociedades Investidoras
Petrolíferas e as Empresas Executoras que se destinem exclusiva e directamente à execução
das operações do Projecto Angola LNG devem obrigatoriamente cativar (reter na fonte) a
totalidade do IVA contido nas facturas ou documentos equivalentes emitidos pelos
fornecedores enquadrados no Regime Geral de Tributação do IVA aquando da transmissão
de bens ou prestações de serviços.

Às Sociedades Investidoras Petrolíferas e às Empresas Executoras das operações do Projecto


Angola LNG, devem cativar o “imposto dedutível” e o “imposto não dedutível” e declarar no
anexo de fornecedores da declaração periódica do IVA. Devem entregar na totalidade aos
Cofres do Estado o “imposto não dedutível”, contido nas facturas ou documentos
equivalentes emitidos pelos fornecedores, aquando da transmissão de bens ou prestações de
serviços.

Existem determinadas despesas suportadas pelas Sociedades Investidoras Petrolíferas e pelas


Empresas Executoras das operações do Projecto Angola LNG que devem ser excluídas das
operações do IVA Cativo, nomeadamente:

(i) Transmissões de bens efectuadas por supermercados;

(ii) Serviços prestados por bancos comerciais;

(iii) Consumo de água e energia;

(iv) Serviços de hotelaria e outras actividades a si conexas ou similares;

(v) Serviços adquiridos em caixas de pagamento automático;

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana _ Iva aplicado ao sector petrolífero angolano

(vi) As indemnizações de seguro que resultem em reembolso efectuadas pelas seguradoras


aos segurados.

Quanto a responsabilidade pelo pagamento do IVA Cativo, relativamente ao “imposto não


dedutível”, contido na factura ou documento equivalente das transmissões de bens ou
prestações de serviços é da Sociedades Investidoras Petrolíferas e das Empresas Executoras
das operações do Projecto Angola LNG, que são obrigadas a entregar na totalidade o
montante do “imposto não dedutível” cativo que consta das facturas ou documentos
equivalentes emitidos pelos seus fornecedores de bens e serviços enquadrados no Regime
Geral de Tributação do IVA, submetendo por transmissão electrónica de dados a declaração
periódica e os respectivos anexos, até ao último dia do mês seguinte àquele a que respeitam as
operações nela abrangidas, através do “Portal de Contribuintes” gerando o documento de
cobrança para ser efectuado o respectivo pagamento nos meios legalmente permitidos.

O IVA contido nas facturas ou documentos equivalentes dos fornecedores enquadrados no


Regime Geral de Tributação do IVA, quando classificados como “custos de produção” nos
contratos em “upstream”, isto é, impostos não dedutíveis, devem ser cativos e entregues aos
cofres do Estado, nomeadamente:

(i) Locação de máquinas ou outros equipamentos, em que uma das partes se obriga a
proporcionar a outra o gozo temporário destes bens, mediante retribuição, excluindo
a locação de máquinas ou outros equipamentos que, pela sua natureza, dêem lugar a
pagamento de royalties, conforme definido no Código do Imposto sobre a Aplicação
de Capitais;

(ii) Serviços de consultoria, compreendendo designadamente a consultoria jurídica, fiscal,


financeira, económica, imobiliária, contabilística, informática, de engenharia,
arquitetura, desde que não assuma um carácter de execução material;

(iii) Serviços de segurança, informática, auditoria, revisão de contas e advocacia;

(iv) Serviços de gestão de estabelecimentos comerciais, refeitórios, dormitórios, imóveis e


condomínios;

(v) Aluguer de viaturas;

(vi) Aquisição ou importação de tabaco.

Ao passo que, os serviços de comunicação electrónica e telecomunicações,


independentemente da sua natureza, devem ser cativos e entregues aos cofres do Estado,
quando classificados como “custos de pesquisa, desenvolvimento, produção e abandono”,
nos contratos em “upstream”.

Também são considerados “impostos não dedutíveis” o IVA contido nas facturas ou
documentos equivalentes dos fornecedores enquadrados no Regime Geral de Tributação do
IVA, adquiridos pelas Sociedades Investidoras Petrolíferas quando classificados como “custos
próprios” e em quaisquer custos adquiridos pelas Empresas Executoras das operações do
Projecto Angola LNG, nomeadamente:

(i) A aquisição, fabrico ou importação, locação, incluindo a locação financeira, a


utilização, transformação e reparação de viaturas de turismo, barcos de recreio,
helicópteros, aviões, motos e motociclos;
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana _ Iva aplicado ao sector petrolífero angolano

(ii) Alojamento, alimentação, bebidas e despesas de recepção, incluindo as relativas ao


acolhimento de pessoas estranhas à empresa e as despesas relativas a imóveis ou
parte de imóveis e seu equipamento, destinados principalmente a tais recepções;

(iii) Aquisição ou importação de tabaco.

A inclusão do “imposto dedutível” nos custos de pesquisa, desenvolvimento, produção e


abandono das sociedades investidoras petrolíferas, bem como os custos das Empresas
Executoras das operações do Projecto Angola LNG em todos os momentos, implicam a não-
aceitação do imposto como custo fiscalmente aceite em sede do Imposto sobre o
Rendimento.

Quanto a importação de mercadorias ou equipamentos, estão isentos, desde que destinadas


exclusiva e directamente à execução das operações petrolíferas nos termos da Lei que
estabelece o Regime Aduaneiro do Sector Petrolífero.

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

POLÍTICA FISCAL PARA PROMOÇÃO DE INVESTIMENTOS VIA


MERCADOS REGULAMENTADOS (BOLSA DE VALORES)

Por: Simão Saluwanda1

Sumário

1 Introdução.............................................................................................................................. 10
2 Mercados Regulamentados ..................................................................................................... 11
2.1 A BODIVA – Sociedade Gestora de Mercados Regulamentados, SA. .................................... 12
3 Ofertas Públicas de Distribuição ............................................................................................. 12
3.1 O Prospecto ........................................................................................................................... 13
4 A promoção de investimentos via Mercados Regulamentados e o Plano Nacional deInclusão
Financeira ............................................................................................................................... 13
5 A política Fiscal ...................................................................................................................... 14
6 A tributação de lucros distribuídos ou dividendos ................................................................... 16
6.1 A isenção (participation exemption) ............................................................................................. 16
7 Benefícios Fiscais sobre lucros distribuídos a investidores via MercadosRegulamentados ....... 17
ARTIGO 3.º .............................................................................................................................. 18
ARTIGO 3.º .............................................................................................................................. 19
8 Considerações finais ............................................................................................................... 19
9 Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 20

1 Introdução

Mercado de Capitais, bolsa de valores e realidades afins têm sido assuntos recorrentes em
Angola. O processo de privatização de empresas do sector público, bem como a negociação
de acções de algumas instituições financeiras bancárias já cotadas, têm a sua cota parte neste
facto.

1 Advogado & Consultor Fiscal, Mestrando em Direito Financeiro e Fiscal pela Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa (FDUL), Pós-graduado em Direito Fiscal pelo IDEFF|FDUL.
Contacto: saluwanda@gmail.com
10
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

Para se ter noção da actualidade e importância do assunto, a Ordem dos Advogados de


Angola realizou recentemente a sua VII Conferência Nacional subordinada ao tema:
Advocacia e a Dinamização da Economia, em que se abordou o papel do advogado nos
mercados de valores mobiliários.
Assim, enquanto cidadão e profissional interessado na matéria, tive a necessidade de elaborar
este escrito que visa analisar essencialmente em que medida a política fiscal pode contribuir
para a promoção dos mercados regulamentados em Angola nesta fase embrionária.
Para o efeito, tivemos de fazer uma descrição das principais questões do Direito dos
valores mobiliários, para em seguida, analisar as questões fiscais inerentes à matéria,
designadamente saber se os impostos ou benefícios fiscais vigentes em Angola são
simpáticos ao mercado de capitais a ponto de servir como incentivo à sua adesão e a sua
consequente consolidação.

2 Mercados Regulamentados
O Regime Jurídico dos mercados regulamentados em Angola, bem como os demais institutos
que compõem o Direito dos valores mobiliários, está estabelecido no Código dos Valores
Mobiliários, abreviadamente C.V.M., aprovado pela Lei n.º 22/15 de 31 de agosto.2
Nos termos da alínea j) do n.º 2 do CVM, entende-se por “mercados regulamentados – qualquer
espaço ou sistema multilateral situado ou a funcionar em Angola em que se possibilite de forma organizada o
encontro de interesses relativos a valores mobiliários e instrumentos derivados com vista a celebração de negócios
sobre os mesmos”.
Segundo António Pereira de Almeida3, os mercados regulamentados estão sujeitos a dois
princípios de interesse público: princípio da segurança do mercado e princípio da defesa do
investidor.
O princípio da segurança do mercado faz depender a autorização para a abertura de regras
rigorosas, sujeitas à supervisão em matéria de organização, idoneidade dos membros e da
entidade gestora, divulgação de informação, transparência e regular função de preços,
liquidação e prevenção de risco sistémico. Enquanto o princípio de defesa dos investidores
traduz-se no acesso à informação adequada, segurança nas transações, fundos de garantias,
responsabilidade dos auditores e intermediários financeiros, associação de defesa de
investidores e acção popular.
Em Angola o organismo de supervisão dos mercados regulamentados é a Comissão de
Mercado de Capitais, doravante CMC aprovada pelo Decreto Presidencial n.º 54/13 de 6
de junho.
A CMC tem como atribuições a regulação, supervisão, a fiscalização e a promoção do
mercado de capitais e das actividades que envolvam todos os agentes que nele intervenham,
directa ou indirectamente, tendo em vista a realização dos seguintes objectivos: (i) proteger
os investidores; (ii) assegurar a eficiência, o funcionamento regular e a transparência do
mercado de capitais, máxime mercado de valores mobiliários; (iii) prevenir o risco sistémico.

2
Os artigos que indicarmos sem menção do diploma referem-se ao C.V.M.
3
António Pereira de Almeida, António Pereira de Almeida. Sociedades Comerciais, Valores Mobiliários,Instrumentos Financeiros e
Mercados. Vol. II. Lisboa: Almedina, 2022, pag. 177.
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

Os mercados regulamentados são integrados pelo mercado da bolsa e pelo mercado de


balcão organizado.4
2.1 A BODIVA – Sociedade Gestora de Mercados Regulamentados, SA.
A Bolsa de Dívida e de Valores Mobiliários, Sociedade Gestora de Mercados
Regulamentados, Sociedade Anónima (abreviadamente BODIVA, SGMR, SA) é uma
sociedade comercial com capitais integralmente públicos cuja autorização de constituição
consta do Decreto Presidencial n.º 97/14 de 7 de maio.
Actualmente, o Mercado da Bolsa gerido pela BODIVA, SGRM, S.A. integra os seguintes
segmentos:5
1) Mercado da Bolsa de Título de Tesouro (MBTT) – tendo sido o primeiro segmento
de bolsa disponibilizado pela BODIVA em novembro de 2016, permitindo aos
investidores efectuarem as suas operações em regime de order driven, isto é, por meio
de interação permanente de todos os interesses de compra e venda;
2) Mercado de Bolsa de Acções (MBA) – que se destina à negociação de títulos
representativos de capital social de emitentes, isto é, acções em ambiente de bolsa;
3) Mercado de Bolsa de Obrigações Privadas (MBOP) – destinado à negociação de
títulos de dívida emitidos por emitentes privados; e
4) Mercados de Bolsa de Unidade de Participação (MBUP) – tem por finalidade a
negociação de unidades de participação de fundos de investimento.
Vejamos a seguir algumas operações em Mercado da Bolsa.

3 Ofertas Públicas de Distribuição


De acordo a definição legal constante na alínea j) do n.º 2 do CVM, “é pública a oferta relativa
a valores mobiliários dirigida, no todo ou em parte, a destinatários indeterminados, sendo que a
indeterminação dos destinatários não é prejudicada pela circunstância de a oferta se realizar através de
múltiplas comunicações padronizadas, ainda que endereçadas a destinatários individualmente identificados”.
A alínea q) do artigo 2.º, elenca os tipos de valores mobiliários:
a) As acções;
b) As obrigações;
c) As unidades de participação em organismos de investimento colectivo;
d) Os direitos destacados dos valores mobiliários referidos nas alíneas a) a c), desde
que abranja toda a emissão ou série ou esteja previsto no acto de emissão;
e) Outros documentos representativos de situações jurídicas homogéneas, desde que
estejam susceptíveis de transmissão em mercado.
As ofertas públicas podem ser de distribuição (artigo 180.º e ss.) ou de aquisição6.
As ofertas públicas de distribuição podem ser de subscrição (IPO) quando respeitam à
distribuição de acções na constituição de sociedades anónimas ou nos aumentos de capital
social com recurso à subscrição pública7 ou de venda (OPV) quando respeitam à alienação
de acções8.

4 Vide artigo 222.º e seguintes do C.V.M.


5 A. Barreto Menezes Cordeiro; Francisco Satiro. Direito dos Valores Mobiliários e dos Mercados de Capitais - Angola, Brasil e
Portugal. 1.ª. Lisboa: Almedina, 2019. Obra Coletiva., pag. 27.
6 As Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) estão reguladas no Capítulo III do CVM, artigo 196.º e ss.
7 Cfr. artigo 194.º.
8 Cfr. Artigo 180.º e ss; art. 192.º do CVM.

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

A cotação de uma empresa em bolsa (going public; flotation) constitui um meio para obtenção de
financiamento através de capitais próprios de forma mais alargada e este processo
normalmente anda associado à oferta pública de subscrição ou oferta pública de acções,
que no direito anglo-saxónico, corresponde à IPO: Initial Public Offer9.
Quanto ao funcionamento do mercado de valores mobiliários, podemos distinguir as
operações em mercado primário e em mercado secundário.
Mercado primário é relativo à subscrição pública de valores mobiliários, quer inicial, na
constituição de sociedades anónimas com recurso à subscrição pública, quer subsequente,
como forma de financiamento nos aumentos de capital. Por outro lado, mercado secundário
diz respeito a operações de compra e venda de valores mobiliários anteriormente emitidos
no mercado primário.10
De modo a concretizar os princípios da segurança do mercado e da defesa do investidor, a
admissão à negociação em Mercado Regulamentado está condicionada a observância de
requisitos severos (artigo 249.º), incluindo a exigência de apresentação do prospecto que a
seguirdescrevemos.
3.1 O Prospecto
Prospecto é um documento de informação relativo a oferta pública ou à admissão à
negociação em mercados regulamentados (alínea m), n.º 2.º do artigo 2.º, artigos 307.º e ss.,
311.º e ss. do C.V.M.).
O prospecto é uma peça crucial no processo das ofertas públicas em geral, bem como as
ofertas públicas de distribuição, máxime IPOs, pois é através dele que se fornece informação
completa sobre os valores mobiliários e respectivos emitentes, de modo a proteger os
investidores e a reforçar a confiança no mercado.11 /12
Nos termos do artigo 291.º, o prospecto deve conter informação completa, verdadeira,
actual, clara, objectiva e lícita, que permita aos destinatários formar juízos fundados sobre
os valores mobiliários e os direitos que lhes são inerentes, sobre características específicas, a
situação patrimonial, económica e financeira e as previsões relativas à evolução da
actividade e dos resultados do emitente e de um eventual garante, e sobre a oferta pública
no caso de prospecto de oferta pública.
O prospecto deve incluir um sumário resumo que apresente, de forma concisa e numa
linguagem não técnica, as características essenciais dos valores mobiliários, do emitente e da
oferta, também deve fazer advertência de que constitui apenas uma introdução ao prospecto
e que qualquer decisão deve basear-se na informação do prospecto no seu todo (artigo
293.º).
O artigo 301.º e ss., estabelece o regime da responsabilidade civil pelo conteúdo do
prospecto no caso de desconformidade com o disposto no artigo 291.º.

4 A promoção de investimentos via Mercados Regulamentados e o Plano


Nacional de Inclusão Financeira.

9 Ana Perestrelo de Oliveira. Manual de Corporate Finance. 2.ª. Lisboa: Almedina, 2020, pag. 91.
10 (António Pereira de Almeida, op.cit . pag. 103).
11 Ibidem, pag. 203.
12 (Ana Perestrelo de Oliveira, op.cit., pag. 102).

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

A promoção do mercado de valores mobiliários constitui um dos objectivos do Plano


Estratégico da CMC para o período 2017-2022.
Nos últimos anos, pudemos acompanhar a implantação de principais segmentos dos
mercados regulamentados sob gestão da BODIVA, cumprindo assim com uma parte dos
objectivos do plano estratégico. Por outro lado, consta também do plano estratégico a
promoção da literacia financeira de modo a garantir a efectiva participação dos investidores
(empresas e pessoas singulares) no mercado de valores mobiliários cujo programa está
estruturado nos seguintes eixos:13
a) Divulgação da importância do mercado de valores mobiliários e do papel da CMC
enquanto co-garante da estabilidade do sistema financeiro, do funcionamento
eficiente do mercado e da protecção do investidor;
b) Inserção de conteúdos financeiros e do mercado de valores mobiliários no sistema
regular de ensino;
c) Divulgação e popularização dos principais conceitos financeiros e do mercado de
valores mobiliários; e
d) Realização de diagnósticos sobre o nível de literacia financeira da população
angolana.
A par da CMC, o Conselho Nacional de Estabilidade Financeira (CNEF)14 tem em
execução o Plano Nacional de Inclusão Financeira (PNIF) que tem como obejctivo a
educação financeira da população com vista a compreender os conceitos elementares da
actividade bancária e investimentos, bem como os serviços e produtos financeiros;
divulgação dos direitos e deveres do consumidor financeiro, e a conscientização para
identificação de situações que podem indiciar fraudes ou práticas potencialmente lesivas dos
seus interesses financeiros.15
Feita a descrição, ainda que sucinta, do mercado dos valores mobiliários em Angola, bem
como as medidas de conscientização da população sobre o mercado, vamos a seguir
analisar a fiscalidade inerente ao mercado, saber em que medida o sistema fiscal é simpático
ou indiferente a este embrionário sector da economia.

5 A política Fiscal
Política fiscal consiste no uso adequado dos vários impostos e das características que os
recortam (incidência, isenções, taxas, etc,) no sentido de serem prosseguidos os objectivos
económico- sociais definidos. A política fiscal enquanto instrumento das receitas fiscais
(imposto) integra a política orçamental cujos instrumentos são as despesas e as receitas
públicas.16
Os sistemas fiscais não estão apenas limitados à sua função tradicional de arrecadação de
impostos para a satisfação das necessidades financeiras do Estado – finalidade fiscal, mas
também têm a finalidade de regulação económica e social, ao que a doutrina designa por

13 (A. Barreto Menezes Cordeiro; Francisco Satiro, op.cit., pag. 30).


14 Órgão público e independente, criado com o objectivo de promover os mecanismos de cooperação para garantir a
estabilidade financeira e prevenção de crise sistémica. Integram o CNEF como membros permanentes, o Ministro das
Finanças que o preside, o Governador do BNA, os Presidentes da CMC e ARSEG, bem como os respectivos
administradores responsáveis pelo pelouro da supervisão.
15 (A. Barreto Menezes Cordeiro; Francisco Satiro, op.cit., pag. 30).
16 Manuel Henrique de Freitas Pereira. Fiscalidade. 5.ª. Lisboa: Almedina, 2014 , pag. 397.

14
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

finalidade extrafiscal.17
Esta dupla finalidade do sistema fiscal vem previsto no artigo 101.º da Constituição (CRA)
que estabelece o seguinte: “O sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e
outras entidades públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e proceder a uma
justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional.”
Por regra, a finalidade extrafiscal dos impostos é concretizada através da conceção de
benefícios fiscais e incentivos que iremos abordar mais adiante.
Hodiernamente, os sistemas fiscais mais competitivos, dispõem de uma verdadeira política
fiscal externa orientada para o combate à dupla tributação internacional, bem como a
criação de um ambiente fiscal propício à atração de investimento estrangeiro18 e à
internacionalização das empresas nacionais.19
A política fiscal externa visa favorecer o investimento estrangeiro, procurando não
prejudicar o repatriamento de lucros gerados pelas filiais das multinacionais ou
estabelecimentos estáveis de sociedades com residência no estrangeiro. Este desiderato
concretiza-se em duas frentes: na frente internacional com a celebração de convenções de
dupla tributação e na frente interna, através da adopção de medidas unilaterais de combate
à dupla tributação e à incentivação do investimento estrangeiro.20
Um dos assuntos incontornáveis da política fiscal tem a ver com a concretização do
princípio da neutralidade, pelo que o objectivo principal prosseguido pelos sistemas fiscais
modernos é “ser neutral”, isto é, a eliminação de impostos que penalizem mais uma pessoa
em relação a outra. No plano internacional, Richard Musgrave, estabelece uma distinção
entre neutralidade na exportação de capitais (capital export neutrality) – quando o sistema
fiscal não incentiva investimento no território nacional ou estrangeiro e neutralidade na
importação de capitais (capital import neutrality) – quando investidores nacionais e estrangeiros
são tratados igualmente pelo país onde é realizado o investimento.21 /22
A neutralidade na importação de capitais, do meu ponto de vista, é o sistema ideal para
países em desenvolvimento na medida em que precisam de atrair investidores estrangeiros
que com o seu capital, tecnologia e know-how contribuem para o crescimento e
desenvolvimento da economia.
Vejamos a seguir as questões mais concretas, para saber em que medida o sistema fiscal
materializa a política extrafiscal ou política de prossecução de objectivos económicos e
sociais através dos impostos, bem como a neutralidade no contexto internacional.
De lembrar que o foco da nossa abordagem é a fiscalidade inerente ao investimento através
de mercados regulamentados.

17 Américo Fernando Brás Carlos. Impostos - Teoria Geral. 5.ª. Lisbia: Almedina, 2020., pag. 25 - 27 Investimento estrangeiro
directo – o lançamento de uma empresa no País sustentada em capitais estrangeiros ou indirecto que é detenção de
participação social numa empresa nacional, ainda que minoritária (geralmente através da bolsa de valores). Cfr. Fernando
Araújo. Introdução à Economia - II. 4.ª. Lisboa: Almedina, 2022., pag. 621.
18 José Casalta Nabais. Por um Estado Fiscal Suportável - Estudos de Direito Fiscal. Vol. IV. Lisboa: Almedina, 2015, pag.

41-42.
19 Ibidem.
20 Glória Teixeira. Manual de Direito Fiscal. 5.ª. Lisboa: Almedina, 2019, pag. 51 – 52.
21 Paula Rosado Pereira. Convenções de Dupla Tribução no Atual Direito Fiscal Internacional. Lisboa:Almedina, 2022. pag. 52 – 56.
22 O nosso resumo sobre a reforma do imposto industrial operada em 2020. Cfr.

https://www.linkedin.com/posts/simaosaluwanda_os-desafios-da-tributa%C3%A7%C3%A3o-das- empresas-em-activity-
6884106143623352320-bSaf?utm_source=share&utm_medium=member_desktop.
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

6 A tributação de lucros distribuídos ou dividendos


A tributação do rendimento em angola ainda é feita de forma cedular na medida em que os
rendimentos, tanto das pessoas colectivas como das pessoas singulares são tributados em
vários impostos autónomos. Assim, temos o imposto industrial que incide sobre os lucros
das empresas, o imposto sobre o rendimento de trabalho que incide sobre o rendimento
das pessoas singulares, o imposto sobre aplicação de capitais que incide sobre juros,
dividendos e royalties e o imposto predial sobre as rendas.
Os dividendos ou lucros distribuídos aos sócios são tributados em sede do Código do
Imposto sobre Aplicação de capitais (CIAC), aprovado pelo Decreto Legislativo
Presidencial n.º 2/14 de 20 de outubro, entrou em vigor 30 dias após a sua publicação.
Nos termos das disposições combinadas dos artigos 1.º e 9.º, n.º 1 do CIAC, integram a
incidência objectiva do Imposto sobre a Aplicação de Capitais (IAC) “os lucros, seja qual for a
sua natureza, espécie ou designação, atribuídos aos sócios ou accionistas das sociedades comerciais ou civis sob
forma comercial, bem como o repatriamento dos lucros imputáveis a estabelecimentos estáveis de não
residentes”.
Nos termos do artigo 27.º, n.º 2, 1.ª parte, a taxa do IAC sobre os dividendos é de 10%. No
entanto, o n.º 3 do mesmo artigo prevê uma taxa reduzida para alguns rendimentos
relacionados com os mercados regulamentados:
3. A taxa do imposto é de 5%:

a) – (…);
b) No caso de rendimentos referidos na alínea a) do n.º 1 do artigo 9.º, quando as
participações a que dizem respeito os rendimentos se encontrem admitidas à negociação em
mercado regulamentado;
c) – (…).
4. A redução de taxa prevista na alínea b) do número anterior é aplicável apenas durante 5 (cinco)
anos após a entrada em vigor do presente Código.
Da interpretação da norma descrita, resulta que os dividendos provenientes de sociedades
cotadas são/eram tributados em sede do IAC à taxa de 5% nos 5 anos posteriores à entrada
em vigor do CIAC. Entretanto, é um benefício que já se encontra caducado.
A tributação dos dividendos origina sempre uma situação de dupla tributação económica
que consiste na tributação do mesmo rendimento na esfera de dois contribuintes e pode
acontecer tanto a nível interno como a nível internacional. No caso dos dividendos, são
lucros já tributados em sede do imposto industrial e, por isso, urge a necessidade de se criar
mecanismos de eliminação ou atenuação da dupla tributação económica.
6.1 A isenção (participation exemption)
Nos termos do artigo 13.º, n.º 1, al., a) do CIAC, estão isentos de IAC “os lucros ou dividendos
distribuídos por uma sociedade com sede ou direcção efectiva em território angolano no caso em que a entidade
beneficiária seja uma pessoa colectiva ou equiparada com sede ou direcção efectiva em território angolano
sujeita a imposto industrial, ainda que dele isenta, que detenha no capital social da entidade que distribui os
lucros ou dividendos uma participação não inferior a 25% por um período superior a um ano anterior à
distribuição de lucros.”
Em torno da norma descrita, impõe-se tecer os seguintes comentários:
16
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

As pessoas colectivas sujeitas a imposto industrial que detenham uma participação social
inferior a 25% numa outra entidade sujeita a imposto industrial, não poderão beneficiar-se
da referida isenção. No entanto, nos termos do artigo 47.º, n.º 1, al., b) do Código do
Imposto Industrial, têm a possibilidade de deduzir os rendimentos que já foram tributados
em sede do IAC, evitando assim a dupla tributação económica. Todavia, prevalece a dupla
tributação económica se o beneficiário de dividendos for uma pessoa singular, e o Código do
IRT que tributa os rendimentos das pessoas singulares não prevê nenhum mecanismo de
atenuação da referida dupla tributação conforme acontece em outros sistemas fiscais.
Os dividendos distribuídos a não residentes (pessoas coletivas e singulares) estão sujeitos à
dupla tributação em Angola, e provavelmente a uma outra tributação no Estado da
residência do beneficiário.
Urge a necessidade de rever o conteúdo do artigo 13.º, n.º 1, al., a) do CIAC de modo a
conformá- lo com a actual prática da fiscalidade internacional, fundada na globalização, livre
circulação de capitais e investimento estrangeiro. Pois, o conteúdo da norma em referência,
apesar de constar de um diploma legislativo aprovado em 2014, ainda conserva um espírito
do século XX em que a política fiscal estava apenas virada aos nacionais ou residentes.
Angola deverá criar uma verdadeira política fiscal externa, para além dos tratados
internacionais, especialmente as convenções de dupla tributação, é de extrema importância
a criação de normas internas ou unilaterais que abordem o fenómeno da dupla tributação
internacional.
Por exemplo, para o artigo em crítica, dever-se-á reduzir a percentagem da particpation
exemption ou isenção pela participação de 25% para 5% e também estender os seus
benefícios para os não residentes tal como é a prática internacional. E consequentemente, o
sistema fiscal angolano tornar-se-á mais competitivo e simpático ao investimento
estrangeiro.

7 Benefícios Fiscais sobre lucros distribuídos a investidores via Mercados


Regulamentados
Finalmente temos em Angola um Código dos Benefícios Fiscais, aprovado pela Lei n.º
8/22 de 14 de abril.
O Código dos Benefícios Fiscais, doravante CBF, é composto por 2 Títulos: o Título I –
Parte Geral e o Título II – Parte Especial, que contém as regras dos Benefícios Fiscais e
integra 8 Capítulos.
1) Capítulo I – Benefícios Fiscais de Carácter Social;
2) Capítulo II – Benefícios Fiscais Relativos à Criação de Emprego, Estágio e
Formação Profissional;
3) Capítulo III – Benefícios Fiscais Relativos ao Ambiente;
4) Capítulo IV - Benefícios Fiscais ao Sistema Financeiro e Mercados de Capitais;
5) Capítulo V – Benefícios Fiscais ao Investimento Privado, a Zonas Francas, à
Capitalização de Empresas e às Micro, Pequenas e Médias Empresas;
6) Capítulo VI – Benefícios Fiscais Relativos ao Mecenato;
7) Capítulo VII – Outros Benefícios;
8) Capítulo VIII – Sanções.

O fulcro da nossa análise é indagar a (in)existência de benefícios fiscais para as pessoas que

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

detenham participação social numa empresa cotada em bolsa aquando da repartição dos
lucros ou dividendos.
Dos 8 capítulos do CBF, é mais provável encontrarmos resposta à nossa questão no
capítulo IV pois, a epígrafe já denuncia. Porém, as duas secções do referido capítulo fazem
referências apenas a benefícios fiscais à poupança e benefícios fiscais à organismos de
investimentos colectivos. Portanto, o CBF não prevê benefícios fiscais para investidores em
mercados regulamentados, mas a lei que aprova o CBF, no seu artigo 3.º faz menção a
benefício fiscal relativo a investimentos em mercado regulamentado que a seguir
reproduzimos:
ARTIGO 3.º
(Rendimentos Decorrentes de Instrumentos negociados em Mercado
Regulamentado)
1. os lucros, seja qual for a sua natureza, espécie ou designação, atribuídos aos sócios ou
accionistas das sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, bem como o
repatriamento dos lucros imputáveis a estabelecimentos estáveis de não residentes, referentes
a participações sociais que se encontrem à negociação em mercado regulamentado angolano,
beneficiam de uma redução de 50% da taxa do Imposto sobre a Aplicação de Capitais.
2. A taxa referida no número anterior é aplicável por um período de 5 anos, contados a
partir da admissão das participações sociais a negociações em mercado regulamentado.
3. os lucros ou dividendos distribuídos por uma sociedade com sede ou direcção efectiva em
território angolano no caso em que a entidade beneficiária seja uma pessoa colectiva ou
equiparada com sede ou direcção efectiva em território angolano sujeita a imposto
industrial, ainda que dele isenta, que detenha no capital social da entidade que distribui os
lucros ou dividendos uma participação não inferior a 25% por um período superior a um
ano anterior à distribuição de lucros.
Ora, os números do artigo 3.º da Lei do CBF são uma reprodução mutatis mutandis para não
dizer que é um copy&paste dos artigos do CIAC que analisámos anteriormente. O número 1
corresponde aos artigos 9.º, n.º 1 e 27.º, n.º 3, al., b); o número 2 corresponde ao n.º 4 do
artigo 27.º e o número 3 é cópia fiel do artigo 13.º, n.º 1, al., a) do CIAC, o que é
dispensável.
Posto isto, começa a fazer sentido o facto de uma norma que até tem algum benefício fiscal,
mas, não consta do Código dos Benefícios Fiscais. A ilação que podemos tirar desse
procedimento é que houve apenas uma transposição das normas constantes no CIAC.
Portanto, em bom rigor e em respeito às regras de legística, devia-se apenas proceder a
alteração/actualização do n.º 4 do artigo 27.º.
No que concerne aos aspectos substanciais, coloca-se a questão de saber se o artigo 3.º da
Lei que aprova o CBF vai servir como estímulo para as empresas e a população em geral, no
sentido de investirem em mercados de valores mobiliários. Para as empresas, essa redução
da taxa não influi muito, pois, de qualquer forma, têm o direito de deduzir o rendimento
sujeito a IAC. Quanto às pessoas singulares, o ideal seria mesmo a isenção do imposto,
conforme fez, por exemplo, Cabo Verde aquando da aprovação do seu Código de
Benefícios Fiscais em 2013.
A isenção de dividendos, é o mais recomendável neste estágio embrionário da nossa Bolsa
de Valores. É o benefício fiscal mais eficiente, em comparação com a taxa preferencial ou
reduzida. Por outro lado, a isenção constituiria uma aliança ao plano da CMC e CNEF que
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

visa a literacia financeira e a promoção do mercado de valores mobiliários em Angola.


É muito mais convincente e eficaz dizer que os lucros que um investidor recebe pela
participaçãosocial numa empresa cotada é isenta de imposto do que dizer que paga imposto
reduzido.
Mais, seria uma estratégia de prevenir a população a investir em plataformas de
investimentos informais, não credenciadas e fraudulentas.
Em suma, sou de opinião de uma revisão e concomitante revogação do artigo 3.º da Lei do
CBF e o resultado da revisão deverá ser incluído no Capítulo IV do CBF que trata dos
benefícios fiscais relativos ao sistema financeiro e mercado de capitais.
A nossa proposta seria a seguinte:

ARTIGO 3.º
(Rendimentos Decorrentes de Instrumentos negociados em
MercadoRegulamentado)
1. os lucros, seja qual for a sua natureza, espécie ou designação, atribuídos aos sócios ou
accionistas das sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, bem como o
repatriamento dos lucros imputáveis a estabelecimentos estáveis de não residentes, referentes
a participações sociais que se encontrem à negociação em mercado regulamentado angolano,
estão isentos de Imposto sobre a Aplicação de Capitais.
2. A isenção referida no número anterior é aplicável por um período de 5 anos, contados a
partir da admissão das participações sociais a negociações em mercado regulamentado.

8 Considerações finais
O recurso aos mercados regulamentados constitui uma alternativa de financiamento a
empresas, sobretudo as ofertas públicas de distribuição, máxime IPOs. Por outro lado, pode
ser uma boa oportunidade de investimento para a população. Por isso, é indiscutível a
necessidade da sua promoção nesta fase embrionária.
A CMC e o CNEF têm um programa de educação financeira que visa a conscientização da
população sobre os mercados financeiros e as oportunidades de investimento.
Enquanto cidadão e profissional interessado na matéria, coube-me fazer uma descrição das
principais questões atinentes ao mercado dos valores mobiliários e, em seguida, analisar a
fiscalidade inerente ao mercado.
O Código dos Benefícios Fiscais não prevê algum benefício fiscal sobre os rendimentos ou
dividendos provenientes de uma empresa cotada. No entanto, a lei que aprova o CBF
contém uma norma que prevê a redução da taxa do IAC para a metade, que na verdade foi
apenas a actualizaçãoe adaptação das normas que já constam no CIAC.
De qualquer forma, do nosso ponto de vista, a taxa preferencial sobre os dividendos
derivados de uma empresa cotada não vai ajudar a promover o mercado ou servir como
incentivo à população a aderir ao mercado. O ideal é a isenção da taxa que seria um
benefício fiscal mais eficaz e que estaria em consonância com os objectivos da CMC e
CNEF de aumentar a literacia financeira e a cultura de investimentos em mercados
regulamentados.
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana : Política fiscal para promoção de investimentos via mercados regulamentados (Bolsa de Valores)

9 Referências Bibliográficas
A. Barreto Menezes Cordeiro; Francisco Satiro. Direito dos Valores Mobiliários e dos Mercados de
Capitais - Angola, Brasil e Portugal. 1.ª. Lisboa: Almedina, 2019. Obra Coletiva.
Américo Fernando Brás Carlos. Impostos - Teoria Geral. 5.ª. Lisbia: Almedina, 2020.
Ana Perestrelo de Oliveira. Manual de Corporate Finance. 2.ª. Lisboa: Almedina, 2020.
António Pereira de Almeida. Sociedades Comerciais, Valores Mobiliários, Instrumentos
Financeiros e Mercados. Vol. II. Lisboa: Almedina, 2022.
Fernando Araújo. Introdução à Economia - II. 4.ª. Lisboa: Almedina, 2022.
Glória Teixeira. Manual de Direito Fiscal. 5.ª. Lisboa: Almedina, 2019.
José Casalta Nabais. Por um Estado Fiscal Suportável - Estudos de Direito Fiscal. Vol. IV.
Lisboa: Almedina, 2015.
Manuel Henrique de Freitas Pereira. Fiscalidade. 5.ª. Lisboa: Almedina, 2014.
Paula Rosado Pereira. Convenções de Dupla Tribução no Atual Direito Fiscal Internacional. Lisboa:
Almedina, 2022.

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Imposto sobre os Veículos Motorizados

O IMPOSTO SOBRE OS VEÍCULOS MOTORIZADOS

Por: Edson Martins1.

1. Nota introdutória
Qualquer país, ou economia, sustentam-se, principalmente com a cobrança dos tributos,
dentre outras formas de financiamento que o Estado possa ter, e cá, em Angola, não se foge a
esta regra. Daí que as medidas de cobrança de impostos, devem ser melhoradas
constantemente, e sempre que o contexto económico-social mude, mas estando ajustadas a
realidade de cada região.

Desde de 2020, com entrada em vigor da Lei n.º 24/20, de 13 de Julho, foi introduzido no
ordenamento jurídico angolano, o Imposto sobre Veículos Motorizados, com a sigla (IVM),
que resultou da reestruturação do regime jurídico da taxa de circulação e fiscalização de
trânsito, elevando-o à categoria de imposto, aprovada em Assembleia Nacional.

Este tributo propõe uma distribuição da carga fiscal mais justa, entre os proprietários ou
possuidores (detentores) de veículos motorizados, ampliou as garantias destes contribuintes,
veio de alguma forma alargar a base dos tributos e estender os benefícios fiscais. Tem como
pano de fundo uma plataforma electrónica que permite o cadastro, a liquidação e extração
dos selos dos veículos, dando assim, maior comodidade ao contribuinte. E como essa
inovação, foi incluída na incidência objectiva às embarcações e às aeronaves, meios que até
então não tinham qualquer imposto sobre estes.

Para alguns, é um novo impostos, e para outros, é continuidade do pagamento de um tributo,


ou melhor, da extinta taxa de circulação em moldes diferentes, ou seja, para os proprietários
de veículos terrestres designadamente, das motas, dos veículos ligeiros, dos 4x4, e dos
camiões, estes sempre tiveram de pagar pelo usufruto da malha rodoviária. E neste sentido,
foram mantidos os valores cobrados, bem com o facto tributável, neste caso, pela cilindrada
ou pelo peso bruto, já para as embarcações e aeronaves, para estes sim, passam a pagar este
imposto pela primeira vez na história da tributação angolana.

Quanto as isenções, como não há regra sem excepção, estão isentos do pagamento do IVM
em 100%, os tractores destinados exclusivos aos trabalhos agrícolas. Os veículos exclusivos e
destinados ao apoio agricultura (transporte de produtos agrícolas) e para pesca artesanal,
(transporte de pescado), bem como, os veículos eléctricos todos estes têm a taxa do imposto
reduzido em 50%. Para as embarcações de pesca artesanal a redução é 75%, mas carecem
sempre da aprovação das entidades competentes (fiscalizadoras), e da validação da AGT, para
que possam gozar destes benefícios fiscais.

2. Tributos: Taxa vs Imposto


Muito se tem dito que há uma dupla tributação, principalmente no que tange as embarcações
e aeronaves, isso pelo facto de as mesmas, pagarem as licenças de embarcação (barcos) e ou
certificado de navegabilidade (aeronaves), para possam circular com as respectivas meios. É
de salientar que as taxas (pagas) pelas licenças, são cobradas pelos órgãos reguladores de cada
sector, neste caso, marítimo ou aéreo, para o licenciamento, ou para autorização ou ainda para
certificação, é no âmbito das suas competências, norteadas por legislações próprias. Quanto
aos impostos estes são cobrados por uma única entidade autorizada para tal, a Administração

1Formado em Gestão e Marketing, na especialidade de Marketing, pela Universidade Óscar Ribas. Curso extensivo em
Direito Tributário, pela Universidade agostinho Neto.
21
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Imposto sobre os Veículos Motorizados

Geral Tributária.

De salientar que os referidos tributos possuem naturezas, características de aplicabilidade e


finalidades, diferentes em função ao sector. Para melhor entendimento, precisamos ter em
consideração o seguinte:

 Tributos: Prestações patrimoniais, pecuniárias ou susceptíveis de avaliação pecuniárias,


sem carácter de sansão, impostas pelo Estado ou outras entidades de direito público
ou concessionárias de serviços públicos, com vista à satisfação das necessidades
colectivas e à prossecução do interesse público.

 Imposto: é o tributo com natureza unilateral, em virtude da sua obrigação não constituir
a contrapartida de qualquer prestação individualizada do Estado e demais entes
públicos.

 Taxa: é o tributo que constitui contraprestação pecuniária ou avaliáveis em dinheiro,


exigidas por entidades públicas, em regime de direito público, em virtude da prestação
individualizada, concreta e efectiva de um serviço público, da utilização de um bem do
domínio público ou da remoção de um limite ou obstáculo jurídico ao exercício de
uma actividade.

É necessário que se entenda que estes conceitos, para que se deixe de confundir, o que é
imposto e o que é taxa.

3. Veículos Motorizados
Todos veículos a motor de propulsão ou eléctrico, que circulam por si, destinados ao
transporte de pessoas e bens, são considerados como veículos motorizados.

4. Imposto sobre Veículos Motorizados


Recai sobre a propriedade, do veículo motorizado, e são pagos pelos proprietários (aqueles
que são o titular de direito do bem) ou possuidores (aqueles que o detém em nome de
outrem).

5. Portal do IVM
Esta plataforma on-line, de fácil manuseio, permite o acesso de qualquer contribuinte, desde
que estejam devidamente cadastrados no portal, assim, cada um pode fazer o cadastro, a
liquidação, e a extração dos os selos dos respectivos veículos ou seja, fazer gestão dos seus
veículos no sistema, para singulares ou colectivos, de ordem pública ou privada.

Está igualmente desenvolvida para haja interoperabilidade de sistemas, com as entidades


(públicas ou privadas), que regulem ou que lidem com esta matéria (veículos motorizados).

6. Transmissão de propriedade
Quanto a transmissão de titularidade, muitos são os contribuintes, que após a transmissão
(alienação) de um veículo a terceiros, não têm tido o cuidado de registarem essas transações,
junto dos órgãos competentes. A título de exemplo, um determinado veículo, pode passar por
vários proprietários, sem que se formalize essas transmissões (vendas), nesses casos, os
documentos de registo inicial continuam em nome do primeiro proprietário, ficando a cargo
destes o ónus do pagamento deste imposto, pelo facto do veículo ainda estar registado em seu
nome.

22
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Imposto sobre os Veículos Motorizados

7. Expurgação de veículo
O mesmo acontece, quanto a expurgação dos veículos do parque motorizado a nível nacional,
os proprietários deixam de ter em sua posse efectiva um determinado veículo ou por estar
obsoleto, perda total ou por exportação, ou por roubo, ou por outras razões, e não se
informar aos órgãos competentes, para o cancelamento da matrícula (veículos terrestres) ou
do registo de propriedade (veículos náuticos e aéreos), se assim não for procedido, os
proprietários correm sempre o risco de terem sobre si, o ónus do pagamento deste tributo até
a sua regularização.

De certa forma, vai aqui um alerta á todos os contribuintes (colectivos e singulares) em


particular os proprietários, que depois de uma transmissão de propriedade de uma pessoa
para outra, ou seja, depois da venda, de qualquer veículo motorizado, é necessários informar
as entidades de direito para a regularização do processo de transmissão.

8. Retroactividade de cobrança do imposto


Importa referir que os serviços tributários podem cobrar os impostos de até cinco anos atrás,
com as respectivas multas e juros, ou seja, não se aconselha que os titulares de veículos
motorizados deixem de pagar os impostos, sob pena de estarem sujeitos a cobrança de forma
coerciva, as multas e os respectivos juros (compensatórios e de mora), após terem decorrido
de 5 anos.

9. Matéria colectável
A matéria colectável em sede de IVM recai sobre:
a) cilindrada (cc) do motor: para automóveis ligeiros, ciclomotores, motociclos, triciclos e
quadriciclos;
b) A potência (kw): para veículos eléctricos;
c) O peso bruto (kg): automóveis Pesados;
d) O peso máximo autorizado à descolagem (kg): para aeronaves;
e) A potência de propulsão (hp) do motor e tonelagem de arqueação bruta (kg): para embarcações.

Essas informações podem ser tiradas dos documentos de registo, nos livretes ou documentos
equivalentes dos veículos.

10. Liquidação e Pagamento


O IVM é liquidado e pago numa periodicidade anual, entre janeiro e junho de cada ano, e
reporta-se ao exercício anterior.
A liquidação deve ser extraída no Portal do Contribuinte ou deverá ser solicitada ao Call
Center, e ela conterá a RUPE (Referência Única de Pagamento ao Estado).

11. Formas de Pagamento


O IVM pode ser pago nos mais variados canais de pagamento:
 ATM2;
 POS3 (terminais de pagamento automaticos);
 aplicativo multicaixa express;
 Agências Bancárias; e
 internet banking.

12. Fiscalização
2 Automatic Teller Machine
3 Point Of Sale
23
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Imposto sobre os Veículos Motorizados

É outro “calcanhar de Aquiles” com a entrada do IVM, para além da Administração Geral
Tributária, existem outros órgãos que passam a fazer a fiscalização, cada uma na sua área de
jurisdição. Assim, as entidades legalmente previstas para a fiscalização do cumprimento das
obrigações em sede de IVM são:
• Administração Geral Tributária, para todos os veículos motorizados de uma forma
geral;
• A Direcção de Trânsito e Segurança Rodoviária (DTSER), para os motociclos ligeiros
e pesados;
• A Agência Marítima Nacional (AMN) para as embarcações; e
• Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), para as aeronaves.

13. Obrigatoriedade de informação em caso de transmissão do veículo


Por se tratar de um imposto que incide sobre a propriedade – e/ou posse - e não sobre a
circulação, este deve ser pago, independentemente de o veículo estar em circulação ou não,
isto para todos os veículos motorizados, registados ou matriculados pelos órgãos
competentes, estando na condição de parados, avariados, ou até mesmo com perda total.

Este imposto tem uma particularidade muito interessante, é dos tributos com o prazo mais
alargado de pagamento, dentre os existentes no país, que é de 6 meses (janeiro a junho),
dando assim, uma margem mais do que suficientes para que os contribuintes possam honrar
com os seus compromissos tributários.

Tão logo faça a venda do seu veiculo, os contribuintes devem informar junto da entidade
competente, para que passe esse ónus ao novo proprietário e deve dar a conhecer a AGT
com os respectivos comprovativos.

14. A Comunicação
As entidades públicas devem comunicar entre si de forma mais eficiente, isso em 3 eixos:
i. a nível de competências e responsabilidades;
ii. a nível de sistemas; e
iii. a nível de procedimentos.

14.1. A nível de competência e responsabilidade


As entidades devem exercer as suas competências e responsabilidades de facto, olhando o
país como um todo. Se se continuar a trabalharem de forma individualizada, como se tem
vindo a ser feito, o Estado perde e os cidadãos também, para além da perda de recursos
financeiros, vai causar desarmonia entre os sectores, e como resultado, a ineficiência dos
serviços públicos, acabando por ser penalizante para o cidadão em ultima estância.

14.2. A nível de sistemas


A congregação de bases de dados, e a interoperabilidade de sistemas, entre as instituições
publicas, e privadas, é fundamental para o Estado, por varias razões, dentre elas,
conhecimento efectivos do parque motorizado nacional, ter estatísticas e projecções mais
realistas, melhorar a fiscalização e controlar a receita em tempo real, isso a nível dos impostos.

14.3. A nível de procedimentos


Muitas entidades têm cumprido com muitas dificuldades os procedimentos, desse modo,
causando desalinhamento dentro do próprio Estado, o que acaba por causar grandes
dissabores para os cidadãos em geral.

A título de exemplo, existem ainda muitos motociclistas que não conseguem proceder ao
registo dos seus motociclos por falta de documentos de identificação, outros há que nem os
24
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Imposto sobre os Veículos Motorizados

documentos de registo dos motociclos têm, situação igual verifica-se em relação as


embarcações de pesca artesanal, quanto ao número de taxas que são pagas pelos proprietários,
para que possam ter as suas embarcações em conformidade com os requisitos legais.

Esta situação se verifica por um lado, por existirem muitas entidades envolvidas nos
processos de licenciamento, e por ouro lado, pelas burocracias institucionais. Há necessidade
urgente de se reverter este quadro, vamos acreditar que o Projecto Simplifica, venha para
resolver estas questões.

15. Desafios:
a) Estreitar a comunicação entre entidades, para que os resultados se tornem mais
eficazes e mais eficientes;
b) As entidades fiscalizadoras, têm de garantir uma interação mais afinada para a troca de
dados, bem como a fiscalização de facto;
c) Melhorar o alinhamento de procedimentos entre as entidades, quanto as questões
administrativas, bem como quem deve fazer o quê;
d) Garantir que o contribuinte tenha a destreza na utilização do aplicativo.

16. Bibliografia:
Lei que aprova o Código Geral Tributário (CGT)
Lei do sobre o Imposto sobre os Veículos Motorizados.
Lei dos Benefícios Fiscais.
Lei n.º 7/11, de 16 de Fevereiro, lei que aprova o Regime Geral das Taxas.
https://portaldocontribuinte.minfin.gov.ao (Portal do Contribuinte).
https://ivm.minfin.gov.ao (Site do IVM).
https://agt.minfin.gov.ao/PortalAGT/#!/servicos-eletronicos (SITE da AGT).

25
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

O DOSSIER FISCAL1

Por: Wilson Salvador2


Sumário:
1. Introdução
2. Conceito
3. Objectivos da elaboração do Dossier Fiscal
4. Características qualitativas dos documentos que compõem o Dossier Fiscal
5. Utentes
6. Conservação dos documentos que compõem o Dossier Fiscal
7. Lista de Documentos

1. Introdução
A relação jurídica tributária é, em regra, uma relação entre dois sujeitos, composta por direitos
e obrigações. O cumprimento destas obrigações, são fundamentais para a realização dos
obejctivos do Estado enquanto ente com a responsabilidade de dar resposta a satisfação das
necessidades colectivas por meio da arrecadação de receitas.

No presente artigo, vamos descrever as obrigações associadas à constituição do dossier fiscal,


elemento fundamental no auxílio ao contribuinte no cumprimento das suas obrigações fiscais,
já que, como não há o dever legal de entrega do mesmo à Administração Geral Tributária
(“AGT”), poderá haver alguns atrasos na sua organização.

Ora, cabe aos Contabilistas e Peritos Contabilistas, inscritos na Ordem dos Contabilistas e
Peritos Contabilistas de Angola (“OCPCA”) preparar a documentação/informação do
dossier, incluindo os documentos que devam ser elaborados pela gerência ou administração
da empresa por forma a que este fique completo e esteja sempre disponível nos
estabelecimentos ou instalação situada em território nacional na morada que consta do
cadastro do contribuinte. Esta “obrigação” abrange todos os sujeitos passivos de Imposto
Industrial (“II”) e os sujeitos passivos de Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho
(“IRT”) que possuam ou sejam obrigados a possuir contabilidade organizada, e deve ser
mantido em boa ordem, durante o prazo de 5 anos.

Como as empresas então obrigadas ao cumprimento das obrigações declarativas, e sujeitas a


fiscalização da Administração Tributária a qualquer momento, o dossier fiscal deverá
permanecer na empresa, com o objectivo de dar resposta às solicitações feitas ao abrigo do
dever de colaboração entre o contribuinte e o fisco.

2. Conceito
O Dossier Fiscal é um conjunto de documentos organizados por um contabilista que
armazena todos os documentos da administração da empresa referentes ao ano fiscal, com
relevância fiscal e contabilística, que demonstram o cumprimento das obrigações fiscais e
contabilísticas ao longo do ano. Nele contém documentos que fazem parte do calendário
fiscal anual.
3. Objectivos da elaboração do Dossier Fiscal
1 O presente artigo serviu de base da formação de Fiscalidade, ministrada pelo autor via online, que teve lugar em janeiro de
2021, na Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA), e que se subordinou ao tema: O Dossier Fiscal.
2 Coordenador da Revista de Fiscalidade Angolana, Licenciado em Contabilidade na Faculdade de Economia da Universidade
Lusiada de Angola, Fiscalista, Formador em Fiscalidade, tendo participado em diversas sessões de formação, incluindo na
Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola – OCPCA, Professor Universitário na disciplina de Fiscalidade.
26
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

i. Proporcionar informação acerca da situação fiscal, de uma entidade que seja útil a
um vasto leque de utentes na tomada de decisões;
ii. Garantir o cumprimento atempado das obrigações tributárias das empresas;
iii. Permite dar uma resposta atempada e inequívoca às solicitações de informações da
Administração Geral Tributária, em caso de um procedimento de inspecção,
reclamação, ou Recurso Hierárquico;
iv. Permite dar uma resposta atempada e inequívoca às solicitações de informações do
Tribunal, em caso de Recurso Contencioso Administrativo e/ou Tribuitário;
v. Os utentes das informações do Dossier Fiscal que desejem avaliar o zelo ou a
responsabilidade do órgão de gestão pelos recursos que lhe foram confiados
fazem-no a fim de que possam tomar decisões económicas; estas decisões podem
incluir, por exemplo, deter ou vender o seu investimento na entidade ou
reconduzir ou substituir o órgão de gestão.

4. Características qualitativas dos documentos que compõem o Dossier Fiscal


Os documentos que compõem o Dossier Fiscal devem obedecer a uma série de critérios. Os
principais são:

4.1. Compreensibilidade
Pretende-se que a informação seja rápida e facilmente compreensível pelos seus utilizadores.
Presume-se que estes possuem um razoável conhecimento contabilístico e fiscal. Porém, não
deve ser excluída qualquer matéria mais complexa com o fundamento de que nem todos os
utentes terão capacidade para a compreender.
4.2. Relevância
A informação reveste-se desta qualidade quando influencia as decisões dos utentes, ao
permitir-lhes avaliar os acontecimentos e/ou confirmar as suas decisões passadas.
4.3. Materialidade
Diz-se que a informação é material quando a omissão ou distorção da mesma tem impacto na
determinação da matéria colectável e consequentemente nos impostos a serem pagos pelos
contribuintes. Porém, a materialidade varia em função da dimensão do erro, considerando as
circunstâncias específicas da sua omissão ou inexactidão.
4.4. Fiabilidade
Aos documentos que compõem o dossier fiscal, exige-se que a informação seja fiável, isto
é, isenta de erros materiais e preconceitos.

5. Utentes
Nos utentes dos documentos que compõem o dossier fiscal, incluem-se investidores actuais e
potenciais, empregados, mutuantes, fornecedores e outros credores comerciais, clientes,
Governo e seus departamentos e o público. Eles utilizam as demonstrações financeiras a fim
de satisfazerem algumas das suas diferentes necessidades de informação. Estas necessidades
incluem o seguinte:
a) Investidores - Os fornecedores de capital de risco e os seus consultores estão ligados ao
risco inerente aos, e ao retorno proporcionado pelos, seus investimentos. Necessitam
de informação para os ajudar a determinar se devem comprar, deter ou vender. Os
27
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

accionistas estão também interessados em informação que lhes facilite determinar a


capacidade da entidade pagar dividendos.

b) Empregados – Os empregados e os seus grupos representativos estão interessados na


informação acerca da estabilidade e da lucratividade dos seus empregadores. Estão
também interessados na informação que os habilite a avaliar a capacidade da entidade
proporcionar remuneração, benefícios de reforma e oportunidades de emprego,
pagamento dos seus impostos e contribuição da Segurança Social.

c) Mutuantes – Os mutuantes estão interessados em informação que lhes permita


determinar se os seus empréstimos, e os juros que a eles respeitam, serão pagos
quando vencidos, e que não há riscos associados a falta de pagamento dos impostos
por parte da entidade, que a ocorrer, deverá ser o Estado pago antes dos mesmos.

d) Fornecedores e outros credores comerciais - Os fornecedores e outros credores estão


interessados em informação que lhes permita determinar se as quantias que lhes são
devidas serão pagas no vencimento. Os credores comerciais estão provavelmente
interessados numa entidade durante um período mais curto que os mutuantes a
menos que estejam dependentes da continuação da entidade como um cliente
importante.

e) Clientes - Os clientes têm interesse em informação acerca da continuação de uma


entidade, especialmente quando com ela têm envolvimentos a prazo, ou dela estão
dependentes.

f) Estado e seus departamentos – O Estado e os seus departamentos estão interessados na


arrecadação de receitas fiscais e, por isso, nas actividades das entidades. Também
exigem informação a fim de regularem as actividades das entidades, determinar as
políticas de tributação e como base para estatísticas do rendimento nacional e outras
semelhantes.

g) Público - As entidades afectam o público de diversos modos. Por exemplo, podem dar
uma contribuição substancial à economia local de muitas maneiras incluindo o
número de pessoas que empregam e patrocinar comércio dos fornecedores locais. As
demonstrações financeiras que compõem o dossier fiscal, podem ajudar o público ao
proporcionar informação acerca das tendências e desenvolvimentos recentes na
prosperidade da entidade e leque das suas actividades.

h) Gestão - O órgão de gestão duma entidade tem a responsabilidade primária pela


preparação e apresentação das suas demonstrações financeiras e do dossier fiscal. O
órgão de gestão está também interessado na informação contida no dossier fiscal que
o ajude a assumir as suas responsabilidades de planeamento, de tomada de decisões e
de controlo.

i) Tribunais – A informação constante do dossier fiscal pode constituir objecto de prova


em caso de Recurso Contencioso Administrativo e/ou Tribuitário.
Se bem que nem todas as necessidades de informação destes utentes possam ser supridas
pelas demonstrações financeiras, há necessidades que são comuns a todos os utentes.

28
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

6. Conservação dos documentos que compõem o Dossier Fiscal


O Dossier Fiscal deve ser mantido em suporte de papel por um período de 5 anos3, ou
em suporte digital, podendo ainda integrar o ficheiro SAF-T.

7. Lista de Documentos que compõem o Dossier Fiscal


Assim, importa saber o que deve constar deste dossier. A legislação fiscal definiu nos mais
diversos Códigos de impostos, documentos que obrigatoriamente têm de ser entregues em
anexo as declarações, a par destes, devem constar do dossier fiscal, os seguintes documentos:

i. Imposto Industrial
a) Regime Geral:
• Declaração de rendimentos Modelo 1;
• Elementos a serem entregues com a Declaração Modelo 1:
 Demonstração de Resultados por Natureza;
 Demostração de Fluxo de Caixa;
 Balanço;
 Balancete do razão e Balancete Geral Analítico, antes e depois dos
lançamentos de rectificação ou regularização e de apuramento dos resultados
do exercício, e respectivos anexos, devidamente assinados pelo contabilista
responsável pela sua elaboração;
 Relatório técnico onde, com base em mapas discriminativos, o contabilista
que assinou as demonstrações financeiras e a declaração fiscal deve comentar
sucintamente as reintegrações e amortizações contabilizadas, com indicação
do método utilizado, das taxas aplicadas e dos valores iniciais e actuais dos
diversos elementos sobre os quais aquelas recaíram, as alterações sofridas
pelas existências de todas as categorias e os critérios que presidiram à sua
valorimetria, as provisões constituídas ou as alterações nelas ocorridas, os
créditos incobráveis verificados, as mais-valias realizadas, as variações
patrimoniais ocorridas, os gastos gerais de administração, com especial
referência às remunerações, de qualquer espécie, atribuídas aos corpos
gerentes, bem como a todas as despesas de representação suportadas durante
o exercício, as mudanças nos critérios de imputação de custo ou atribuições
dos proveitos às diferentes actividades ou estabelecimentos da empresa,
quaisquer outros elementos reputados de interesse à justa determinação do
lucro tributável e ao esclarecimento do balanço e da conta de resultados do
exercício ou de ganhos e gastos;
 Declaração Modelo 5 de opção pelo regime de tributação de Grupos de
Sociedades;
• Outros elementos/documentos (n.º 1 do artigo 52.º da Lei 19/14 de 22 de Outubro):
 Relação dos titulares dos órgãos de gestão;
 Cópia da Acta da Assembleia Geral de Aprovação de contas do exercício, ou
documento de aprovação de contas;
 Demonstração dos Fluxos de Caixa;
 Mapa geral de todos os impostos pagos no decurso do exercício;

3 Nos termos do n.º 7, do artigo 62.º da Lei 21/14, de 22 de Outubro, Lei que aprova o Código Geral Tributário, (…) as
entidades que no País exerçam qualquer actividade empresarial, comercial ou profissional devem conservar todos os documentos e registos relativos às
operações efectuadas nos últimos 5 (cinco) anos.
29
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

 Documento de comunicação à AGT dos elementos de identificação do


Contabilista artigo 56.º da Lei 19/14, de 22 de Outubro;
 Relatório de gestão, parecer do conselho fiscal e documento de certificação
legal de contas quando legalmente exigidos;
 Mapa de provisões, perdas por imparidade em créditos e ajustamentos em
inventários;
 Mapa das mais-valias e menos-valias;
 Mapas das reavaliações;
 Mapa do apuramento do lucro tributável por regimes de tributação;
 Mapa de controlo de prejuízos no Regime Especial de Tributação de Grupos
de Sociedades;
 Mapa de controlo da dedução de prejuízos fiscais;
 Dossier de Preços de Transferência (artigo 12.º do Decreto Presidencial n.º
147/13, de 1 de Outubro - Estatuto dos Grandes Contribuintes);
 Mapas Mensais de Retenção na fonte (artigo 17.º da Lei 18/14 de 22 de
Outubro);
 Documentos comprovativos dos créditos incobráveis;
 Inventário de títulos e participações financeiras;
 Listagem dos donativos atribuídos e/ou recebidos, nos termos da Lei do
Mecenato;
 Declaração de isenção da AIPEX.
 Mapa resumo de pagamento de impostos.
• Em caso de Cessação da actividade:
 Declaração Modelo 1 - Declaração de cessação de actividades dos
contribuintes do Regime Geral;
 Relação dos liquidatários;
 Identificação do contabilista envolvido na preparação das demostrações
financeiras da liquidação;
 Identificação do Advogado envolvido nos actos e negócios jurídicos de
liquidação da pessoa colectiva;
 Cópia da Acta da Assembleia Geral de Aprovação de contas do exercício, ou
documento de aprovação de contas, ou havendo aprovação judicial, certidão
da respectiva decisão;
 Mapa da conta de resultados da liquidação, discriminado por rúbricas do
balanço;
 Mapa da conta de resultados do exercício;
 Mapa do Balanço Final;
 Relatório elaborado e assinado por contabilista e Advogado;
b) Regime Simplificado:
• Declaração de rendimentos Modelo 14;
• Modelo de Declaração Simplificada (n.º 4 do artigo 58.º e n.º 1 do artigo 61.º da Lei
26/20, Lei que altera o Código do Imposto Industrial);
• Elementos a serem entregues com a Declaração Modelo 1:
 Elementos contabilísticos do modelo de contabilidade simplificada;
4Caso o sujeito passivo tenha optado por possuir a Contabilidade Organizada para efeitos de determinação da Matéria
Colectável.
30
RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

• Livro de registo de compra e venda e serviços prestados (n.º 1 do artigo 61.º da Lei
26/20, Lei que altera o Código do Imposto Industrial)5.

• Em caso de Cessação da actividade:


• Modelo de Declaração Simplificada - de Cessação de Actividade6;
• Livro de Registo de Compra e Venda e Serviços Prestados - de Cessação de
Actividade7.

c) Dossier de Preços de Transferência


Para a execução das suas obrigações fiscais, as empresas que caem no âmbito do decreto
presidencial 147/13, do estatuto dos grandes contribuintes, para cumprirem o estipulado no
seu artigo 12.º – Dossier de preços de transferência devem produzir os seguintes elementos:

• Descrição e âmbito da situação de relações das entidades relacionadas e/ou especiais;


• Caracterização da actividade exercida pela empresa e pelas entidades relacionadas e/ou especiais com
as quais realiza operações e, em relação a cada uma destas, indicação detalhada, por natureza das
operações, dos valores das mesmas registados pela empresa no período em que estas tenham tido lugar;
• Identificação detalhada dos bens, direitos ou serviços que são objecto das operações vinculadas e dos
termos e condições estabelecidos, quando tal informação não resulte dos contratos celebrados;
• Descrição das funções exercidas, activos utilizados e riscos assumidos, quer pela empresa, quer pelas
entidades relacionadas envolvidas nas operações vinculadas;
• Normas relativas à aplicação da política adoptada em matéria de preços de transferência,
independentemente da forma ou designação que lhes seja atribuída, que contenham instruções
nomeadamente sobre as metodologias a utilizar, os procedimentos de recolha de informação, em
especial de dados comparáveis, internos e externos, as análises a efectuar para avaliar da
comparabilidade das operações e as políticas de custeio e de margens de lucro praticadas;
• Contratos e outros actos jurídicos praticados tanto com entidades relacionadas como com entidades
independentes, com as modificações que ocorram e com informação histórica sobre o respectivo
cumprimento;
• Explicação sobre a aplicação do método ou métodos adoptados para a determinação do preço de plena
concorrência em relação a cada operação e indicação das razões justificativas da selecção do método
considerado mais apropriado;
• Informação sobre os dados comparáveis utilizados, evidenciando, no caso de recurso a entidade
externa especializada em estudos de mercado, a justificação da selecção, nos casos em que se justifique,
a ficha técnica dos estudos e, bem assim, uma análise de sensibilidade e segurança estatística ou, sendo
interna a fonte dos dados, a respectiva ficha técnica;
• Detalhes sobre as análises efectuadas para avaliar o grau de comparabilidade entre operações
vinculadas e operações não vinculadas e entre as empresas nelas envolvidas, incluindo as análises
funcionais e financeiras, e sobre os eventuais ajustamentos efectuados para eliminar as diferenças
existentes;
• Estratégias e políticas do negócio, nomeadamente quanto ao risco, que sejam susceptíveis de
influenciar a determinação dos preços de transferência ou a repartição dos lucros ou perdas das
operações;
• Quaisquer outras informações, dados ou documentos considerados relevantes para a determinação do
preço de plena concorrência, da comparabilidade das operações ou dos ajustamentos realizados.

5 Caso o sujeito passivo tenha optado, para efeitos de determinação da Matéria Colectável, a forma simplificada.
6 Vide (artigo 63.º da Lei 26/20, Lei que altera o Código do Imposto Industrial).
7 Vide (artigo 63.º da Lei 26/20, Lei que altera o Código do Imposto Industrial).

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

Este dossier, ainda de acordo com o artigo 12.º do decreto presidencial 147/13, deverá ser
sempre elaborado pelos contribuintes cujos proveitos anuais na data de encerramento de
contas do exercício sejam superiores a 7.000.000.000,00 Akz, equivalente a 70.000.000,00
USD.

ii. Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho


• Declaração Modelo 1 - Declaração anual de Liquidação pela atribuição de
rendimentos do Grupo A (n.º 1 do artigo 12.º da Lei 18/14 de 22 de Outubro);
• Declaração Modelo 2 - Declaração anual de Liquidação pela atribuição de
rendimentos dos Grupos B e C (n.º 2 do artigo 12.º da Lei 18/14 de 22 de Outubro);
• Declaração Modelo 1 - Declaração anual de Liquidação titulares de rendimentos do
Grupo B (n.º 3 do artigo 12.º da Lei 18/14 de 22 de Outubro);
• Declaração Modelo Oficial - Declaração anual de Liquidação titulares de rendimentos
do Grupo C (n.º 4 do artigo 12.º da Lei 18/14 de 22 de Outubro);
• Mapa resumo de pagamento de impostos.

• Em caso de Cessação da actividade


• Declaração Modelo 3 - Declaração de cessação de Actividade (artigo n.º 18.º
da Lei 18/14 de 22 de Outubro)

iii. Imposto sobre a Aplicação de Capitais


• Declaração Anual de rendimentos recebidos, pagos ou postos à disposição;
• Acta de distribuição de dividendos;
• Comprovativos Bancários de retenções de impostos;
• Mapa resumo de pagamento dos impostos.

iv. Imposto sobre o Valor Acrescentado


a) Regime Geral:
• Declaração periódica do Iva e respectivos anexos;
• Submissão do ficheiro SAFT no Portal do Contribuinte;
• Mapa resumo de pagamento dos impostos.

b) Regime Simplificado
• Declaração do Regime Simplificado;
• Submissão do ficheiro SAFT e Mapa de Fornecedores no Portal do Contribuinte;
• Mapa resumo de pagamento dos impostos.

v. Imposto Predial
• Declaração detenção do imóvel;
• Declaração Modelo 1 pelo senhorio do Imóvel arrendado
• Nas transmissões onerosas sobre bens imoveis - Documentos comprovativos das
respectivas transmissões;
• Mapa resumo de pagamento dos impostos.

vi. Imposto de Selo


• Declaração Anual do Imposto sobre a realização dos actos, contractos e operações
sujeitas à Imposto de Selo;
• Mapa resumo de pagamento dos impostos.
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: O Dossier fiscal

8. Conclusão
É nosso entendimento que o dossier fiscal aqui apresentado, constitui uma ferramenta
importante e que visa auxliliar as empresas na organização do seu arquivo, com vista a
satisfação das necessidades de informação das entidades interessasadas, bem como no
cumprimento do dever de colaboração com a Adminstração Tributária.

Deste modo, tão importante como a documentação que a Administração Fiscal obriga os
contribuintes a elaborar, é também a informação disponibilizada aos outros utilizadores da
informação, como sejam a gestão ou administração da empresa que desta forma fica a dispor
de um conjunto de informações completo sobre determinado exercício que poderá consultar,
e disponibilizar a AGT, sempre que necessário.
A informação constante do dossier fiscal deve ser organizada de modos a que qualquer
utilizador a compreenda sem esforço, devendo ser mantida em suporte de papel por um
período de 5 anos, ou em suporte digital, podendo ainda integrar o ficheiro SAF-T.
Uma vez solicitada pela AGT, a referida informação deve ser disponibilizada o mais
rapidamente possível, num prazo não superior a 30 dias, podendo, em alguns casos e após
análise cuidada, ser concedido mais tempo do que o previsto legalmente.

9. Bibliografia
Imposto Industrial - Lei n.º 19/14, de 22 de Outubro, com as alterações introduzidas pela Lei
n.º 26/20, de 20 de Julho.
Regime de Reintegrações e Amortizações - Decreto Presidencial n.º 207/15, de 5 de
Novembro
Regime das Provisões - Decreto Presidencial n.º 204/15, de 28 de Outubro.
Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho - Lei n.º 18/14, de 22 de Outubro, com as
alterações introduzidas pela Lei n.º 28/20, de 22 de Julho.
Imposto sobre Aplicação de Capitais - Decreto Legislativo Presidencial n.º 2/14, de 20 de
Outubro.
Imposto sobre o Valor Acrescentado - Lei n.º 7/19, de 24 de Abril, com as alterações
introduzidas pela Lei n.º 17/19, de 13 de Agosto.
Imposto Especial de Consumo - Lei n.º 8/19, de 24 de Abril.
Imposto de Selo - Decreto Legislativo Presidencial n.º 3/14, de 21 de Outubro.
Imposto Predial - Lei n.º 20/20, de 9 de Julho.
Lei 21/14, de 22 de Outubro, Lei que aprova o Código Geral Tributário.

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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: Da (im)possibilidade de aceitação do furto ou roubo de dinheiro como custo fiscal em sede de Imposto
Industrial

DA (IM)POSSIBILIDADE DE ACEITAÇÃO DO FURTO OU ROUBO DE


DINHEIRO COMO CUSTO FISCAL EM SEDE DE IMPOSTO INDUSTRIAL

Por: Wilson Salvador1

“Os elementos fundamentais da relação jurídica tributária são,


tal como no Direito Privado, os sujeitos, o objecto, o
facto jurídico e as garantias.”
- Wilson Salvador

No âmbito da sua actividade, de natureza comercial ou industrial, as empresas estão expostas a


vários riscos dos quais, para a nossa análise, destacam-se os de furtos e roubos dos seus
activos.

Entende-se por furto2, como sendo a conduta de, com ilegítima intenção de apropriação para
si ou para outra pessoa, subtrair coisa móvel ou animal alheios.

Por outro lado, roubo3 é o acto de subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outro, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa (ou não), ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência4.
Entretanto, no âmbito da relação jurídica tributária, as pessoas colectivas estão sujeitas ao
cumprimento das suas obrigações tributárias, nomeadamente, as obrigações acessórias
(entrega das Declarações de Impostos, bem como os demais documentos fiscalmente
relevantes) e a obrigação principal (pagamento de impostos), sendo que para o efeito, devem
cumprir com as normas relativas a determinação da matéria colectável.

A matéria coletável é determinada, em regra, com base no método directo, ou seja, com base
nos elementos contabilisticos apresentados pelo sujeito passivo, devendo ter em atenção aos
limites no que a consideração de custos dedutíveis ao lucro tributável diz respeito, sendo que
é obrigatória a apresentação de documentos comprovativos de custos.

Nos termos do Código do Imposto Industrial5 (CII), consideram-se custos ou gastos


imputáveis ao exercício, os que cumprem com os seguintes requisitos:

1 Coordenador da Revista de Fiscalidade Angolana, Licenciado em Contabilidade na Faculdade de Economia da Universidade


Lusiada de Angola, Fiscalista, Formador tendo participado em diversas sessões de formação, incluindo na Ordem dos
Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola – OCPCA, Professor Universitário na disciplina de Fiscalidade.
2
O artigo 392.º, do Código Penal Angolano, aprovado pela Lei n.º 38/20, de 11 de Novembro, Lei que aprova o Código
Penal Angolano, estatuí que, “Quem, com intenção de se apropriar para si ou para outrem, de coisa móvel ou semovente alheia, a subtrair é
punido com penas de:
a) Prisão até 3 anos ou multa até 360 dias, se o valor da coisa subtraída não for elevado;
b) Prisão de 1 a 5 anos, se o valor da coisa subtraída for elevado;
c) Prisão de 2 a 8 anos, se o valor da coisa subtraída for consideravelmente elevado.”
3 Quem, com propósito de se apropriar, para si ou para outrem, de coisa móvel alheia, a subtrair ou obrigar quem a possuir ou detiver a entregar-

lha, usando de violência contra uma pessoa ou de ameaça com perigo eminente para a sua vida ou integridade física ou colocando-a na
impossibilidade de se opor à subtracção ou de resistir à entrega é punido com pena de prisão até 5 anos. Vide, ARTIGO 401.º, do Código
Penal Angolano, aprovado pela Lei n.º 38/20, de 11 de Novembro, Lei que aprova o Código Penal Angolano.
4
https://pt.wikipedia.org/wiki/Roubo.
5 Cfr. Artigo 14.º do Código do Imposto Industrial, aprovado pela Lei.º 19/14, de 22 de Outubro, Lei que aprova o Código

do Imposto Industrial.
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: Da (im)possibilidade de aceitação do furto ou roubo de dinheiro como custo fiscal em sede de Imposto
Industrial

a) Aqueles que sejam custos incorridos pelos próprios contribuintes, no âmbito da sua
actividade comercial ou industrial;
b) Aqueles que tenham sido incorridos pelo contribuinte, e que tenham um documento
de suporte nos termos da legislação em vigor sobre as facturas e documentos
equivalentes6;
c) Aqueles que tenham sido incorridos pelo contribuinte, e que tenham um documento
de suporte nos termos da legislação em vigor sobre a auto facturação7;
d) Aqueles que sejam tomados pela Administração Geral Tributária (“AGT”), como
indispensáveis à manutenção da fonte produtora ou à realização dos proveitos e
ganhos sujeitos a imposto.

Neste sentido, em regra, os custos apenas são dedutíveis desde que incorridos pelo sujeito
passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a Imposto Industrial, ou seja, aqueles
que são realizados pela empresa para prosseguir a sua actividade e obter o seu rendimento, os
quais devem estar comprovados documentalmente, independentemente da natureza ou
suporte dos documentos utilizados para esse efeito. Além disso, os custos para serem
dedutíveis, têm sempre que ter conexão com a obtenção ou garantia de rendimentos sujeitos a
Imposto Industrial.

Do acima exposto, compreende-se que não se pode inserir o furto ou o roubo no quadro
normal da actividade exercida e, embora não se possa ignorar que esses riscos existem, o que
é certo é que podem ser minimizados8 e haverá sempre que acautelar que a eventual relevância
fiscal de um furto ou roubo não se constitua em via relativamente fácil de evasão fiscal.

Por isso, investir em sistemas de segurança contra furtos e roubos, tornou-se uma questão
“obrigatória” nos dias de hoje.
Embora as tarefas de reestruturar o local de trabalho para protegê-lo contra a acção de
criminosos não sejam fáceis, existem algumas alternativas que podem ajudar a promover a
segurança do património das empresas, nomeadamente as seguintes:
• Elaboração de um plano de gestão de riscos para prevenir a empresa contra furtos e roubos
Conhecer quais são os pontos frágeis da sua empresa é o primeiro passo para identificar os
riscos. Para isso, verifique lugares que estão expostos, como corredores, janelas, entre outras
áreas internas e externas que facilitem a entrada de assaltantes.
• Instalação de um sistema de câmaras e alarmes
As empresas precisam garantir a segurança dos seus activos por meio da instalação de
um sistema de monitoramento, pois além de prevenir furtos e roubos, as câmaras e alarmes
são eficientes para documentar tudo o que acontece na empresa, incluindo a possibilidade de
acionarem à polícia a qualquer instante, caso seja necessário.
• Investimento em iluminação

6 Decreto Presidencial n.º 292/18, de 3 de Dezembro, diploma legislativo que aprova o Regime Jurídico das Facturas e dos
Documentos Equivalentes.
7 Decreto Presidencial n.º 194/18, de 24 de Julho, diploma legislativo que aprova o Regime Jurídico Autofacturação.

8 É necessário que a empresa proceda diligencias no sentido de garantir que os seus activos estejam protegidos de furtos e
roubos e que possa provar a existência desses mecanismos de protecção à AGT, pois prevenir a empresa contra riscos é um
tema muito sério, portanto, não pode estar fora do planeamento estratégico.
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RFA – Revista de Fiscalidade Angolana: Da (im)possibilidade de aceitação do furto ou roubo de dinheiro como custo fiscal em sede de Imposto
Industrial

A falta de iluminação pode tornar o roubo mais fácil, além de não permitir identificar os
meliantes durante as investigações. Nesse sentido, as empresas devem instalar lâmpadas com
sensores de presença, evitando assim gastos excessivos com energia eléctrica.
• Controlo da entrada e saída de pessoas na empresa
Saber quais são as pessoas que frequentam a empresa é importante para identificar suspeitos.
Para afastar qualquer tentativa de roubo, é necessário que as empresas invistam na
contratação de seguranças, sendo necessário ainda ter um controle sobre as entradas e saídas,
oferecendo passes de identificação ou qualquer outro tipo de identificação eletrônica.
• Contratação de seguro contra furtos e roubos
Em algumas situações, mesmo que a empresa se previna de todas as formas, os assaltos são
inevitáveis, por isso, apenas a contratação de seguros pode solucionar possíveis perdas no
património da empresa.

Com efeito, as perdas que resultem de furtos ou roubos não podem ser consideradas como
decorrentes da actividade normal desenvolvida pelos sujeitos passivos, nem são custos que
contribuem para obter ou garantir rendimentos sujeitos a Imposto Industrial, não podendo,
por isso, em regra, aceitar-se para efeitos fiscais, a sua dedutibilidade.

A AGT, no âmbito das suas atribuições, respeita o princípio da legalidade, e como vimos
anteriormente, a lei exige que os custos ou gastos considerados fiscalmente dedutíveis devem
estar comprovados documentalmente, o que não ocorre em situação de furto ou roubo.

Contudo, em situações excepcionais e mediante o cumprimento de determinadas condições,


entendemos que aquela regra pode ser derrogada, devendo, para o efeito, proceder-se a uma
análise casuística e circunstanciada da situação em concreto.

Tendo como exemplo as situações de sinistros relacionadas com meios monetários, para que
as respectivas perdas possam ser aceites fiscalmente, entendemos que terão que ser
observadas determinadas condições, nomeadamente, no que respeita à verificação da
necessidade de existir numerário em caixa, que o seu quantitativo seja razoável face ao caso
concreto, e que a ocorrência do sinistro seja devidamente comprovada.

Portanto, no caso de furto ou roubo, para que possa ser aceite como custo ou gasto dedutível,
terão de se verificar circunstâncias muito excepcionais, como um roubo à mão armada por
exemplo, e ainda, a par das condições definidas para os sinistros, outras condições
especificamente previstas para as situações de furto de valores monetários, nomeadamente,
que:

i. O evento que ocasiona a perda não se possa atribuir a deficiências de controlo


interno, designadamente, mediante a adopção de procedimentos com vista à proteção
dos activos em causa;
ii. Tenha sido feita a devida participação à Policia Nacional;
iii. O furto ou roubo não seja atribuído a sócio ou gerente da empresa, ou familiares dos
mesmos, bem como aos trabalhadores.

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