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Crónica de D.

João I

Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, escrita em 1443 a pedido do Rei D. Duarte, legitima a
nova dinastia de Avis, iniciada após o período da crise de sucessão dinástica de 1383 a 1385,
composta por 2 partes, onde estudámos os capítulos XI, CXV e o CXLVIII e as suas
características. A primeira que retrata a morte do rei D. Fernando até à vitória dos portugueses
e retrata episódios como: a crise dinástica, a aclamação do Mestre de Avis como D. João I; o
cerco de Lisboa, entre outros e a segunda que regista os acontecimentos ocorridos durante o
reinado de D. João I até à paz com Castela.

Fernão Lopes deu voz ao povo e falou sobre os seus sofrimentos na peste, fome e guerra.
Através dos 3 capítulos usou características que tornaram a obra em algo que pode ser
apreciado em qualquer tempo e por qualquer pessoa, e que deram a conhecer ao leitor um
relato vivo e fundamentado de um momento histórico através de um sentido plástico. As
características mais usadas foram o visualismo ou as descrições objetivas pormenorizadas, o
dinamismo, coloquialismo, a representação de cantares e expressões populares (como
podemos ler no capítulo CXV quando as mulheres cantam em altas vozes, sem medo, ao
mesmo tempo que apanham pedras), o uso de recursos expressivos e auditivos como,
também, de verossimillhança e a consciência coletiva.

No primeiro capítulo estudado, o povo sentia um grande sentido de vingança pelo seu
Mestre, que se pensava morto a pedido da rainha. Fernão Lopes torna-se um intérprete de um
sentir coletivo da população que apresenta um traço psíquico de ingenuidade, por viverem no
campo e não terem muito acesso ao estudo, necessitavam de depositar a sua confiança e a
admiração num Mestre.

No capítulo CXV, os habitantes de Lisboa preparam-se para o cerco castelhano, recolhem


mantimentos e abrigam-se atrás dos muros com cautela. As muralhas são reparadas e as
torres armadas, sendo feita uma distribuição de vigilância por quadrilhas e com sinos de alerta.
No final do mesmo, podemos observar um pouco da subjetividade do autor perante os
acontecimentos, onde demonstra a sua alegria com os minuciosos preparativos para a defesa
da cidade contra o el-rei de Castela e a sua organização do exército seja por Terra ou por mar.

No 148, é onde melhor são retratadas as dificuldades que os habitantes passaram durante o
cerco com o uso de diversas interrogações retóricas, exemplo: linha 46 a 49. Havia uma
escassez de alimentos, principalmente de trigo e carne, e o pouco que havia era inacessível aos
mais pobres pelos preços exorbitantes dados pela inflação, tendo de arranjar estratégias para
os encontrar como ir ao rio, arriscando a sua segurança. O povo em pânico escavava
plantações e comia as sementes de trigo, outros bebiam tanta água que eram encontrados
mortos inchados em praças e outros lugares. As doenças e a subnutrição abundavam, junto à
pobreza e morte espalhadas pela cidade de Lisboa, pedintes nas ruas que chegavam a casa
apenas com lágrimas para dar às famílias e bebés a morrer prematuramente pela falta de leite
das mães, mas apesar de tudo o que aterrorizava o povo português e das tristezas e discussões
mesquinhas os mesmos não desistam perante os Castelhanos mesmo com medo da cruel
vingança de el-rei de Castela se perdessem.
A crónica de D. João I têm uma tradição historiográfica e literária, consegue não apenas
retratar os acontecimentos históricos como, também, apresentar uma dimensão interpretativa
e estética com uma visão global de várias perspectivas, como a do povo, do Mestre ou do
próprio autor; que consegue levar o leitor a refletir sobre a obra e a ficar intrigado pela
mesma, sendo este tipo de crónica medieval inovador perante as comuns com características
únicas.

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