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CRÓNICA DE D.

JOÃO I
FERNÃO LOPES:

 Fernão Lopes é, ainda hoje, muitas vezes imaginado como «pai» da historiografia
portuguesa.
 Cerca de três quartos de século mais tarde, Lopes inscreve-se nesta tradição, sendo aliás
a Crónica de 1419 um excelente testemunho desta realidade. Com ele, consolidar-se-á
uma nova fase na evolução da nossa historiografia: aquela que garante a transição do
estilo do “memorial” ou do “cronicão” para o estado de “crónica”.
 A simples anotação do acontecimento, por vezes apenas conhecido pela tradição oral e
registado sem demasiada preocupação de rigor, cede definitivamente o lugar a uma
narrativa ordenada (diacronicamente), de estrutura e apresentação internas muito mais
complexas e apurada no manuseamento de materiais informativos muito diversificados. 
Características de Fernão Lopes:

 Marcas de subjetividade e objetividade


 Coloquialismo: interpelação do ouvinte
 Uso do imperativo
 Uso de exclamação e interrogações retóricas
 Uso de interjeições
 Uso de verbos sensitivos (ex.: ouvir), referindo-se ao interlocutor
 Jogo de planos (visualismo), afunilamento de espaço que se dá do plano geral para o
plano de pormenor
 Recursos estilísticos: comparações, enumeração, hipérbole, personificação, dinamismo
da ação através do relato das ações em conjugação com os planos.
 Uso de verbos sensitivos (ver)
 Recurso a expressões valorativas
 Afirmação nacional/patriotismo (o povo ganha um protagonismo na ação, personagem
coletiva)
Glorificação da memória de D. João I

 Construção dos pilares da consciência nacional, através da criação de uma tradição


histórica legitimadora, mediante a elaboração da História de Portugal desde os
primórdios da nacionalidade.
Narração do reinado de D. João I, desde a sua aclamação (depois da morte do conde Andeiro)
até ao estabelecimento da paz com Castela.
Reinado de D. João I

 Relação e casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles.


 Conflitos com Castela.
 Assinatura do tratado de Salvaterra de Magos (determinando o casamento de D. Beatriz,
filha de D. Fernando e herdeira da coroa portuguesa, com o rei de Castela).
 Morte de D. Fernando
 Envolvimento de D. Leonor Teles com o Conde Andeiro.
 Descontentamento popular.
 Assassínio do Conde Andeiro pelo Mestre de Avis.
 Aclamação de D. João como Regedor e Defensor do Reino e, posteriormente, como rei.
 Manifestação da coragem, do espírito de sacrifício e dos sentimentos de patriotismo da
população durante a guerra civil com Castela.
Afirmação da consciência coletiva
1.ª parte da Crónica: Narração dos acontecimentos desde o assassinato do conde Andeiro
(dezembro de 1383) à aclamação do Mestre de Avis como rei de Portugal (abril de 1385).
(193 capítulos)
A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos
episódios quase simultâneos do assassinato do conde Andeiro, do alvoroço da multidão que
acorre a defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa.
Ao longo dos capítulos, fundamenta-se a legitimidade da eleição do Mestre, consumada
nas cortes de Coimbra, na sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto
desfecho inevitável imposto pela vontade da população.
Nesta primeira parte, o talento do cronista na animação de retratos individuais, como os
de D. Leonor Teles ou D. João I, excede-se na composição de uma personagem coletiva, o
povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o devir dos acontecimentos históricos. Na
segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei saído das
cortes, e é de novo pela ação do povo que a glorificação do monarca é transmitida, como,
por exemplo, no modo como o acolhe a cidade do Porto.
Capítulos-chave na afirmação da consciência coletiva
11- O alvoroço na cidade de Lisboa depois da morte do conde Andeiro e a aclamação do
Mestre de Avis.
115- O cerco castelhano à capital portuguesa e suas consequências.
148- A fome em Lisboa durante o cerco castelhano.
2.ª parte da Crónica: Relato do conflito entre Portugal e Castela, desde a aclamação de D.
João I nas cortes de Coimbra (abril de 1385) à assinatura do tratado de paz (31 de outubro
de 1411). (204 capítulos)

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