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FERNÃO LOPES

Biografia do Cronista
Fernão Lopes foi escrivão e cronista-mor do Reino de Portugal. Por mais
de 20 anos, registou a memória do povo e do reino desde a primeira
dinastia até ao reinado de D.João I (Avis).
Durante a sua vida prestou serviços à coroa portuguesa como escrivão e
cronista, o que lhe garantiu uma posição melhor, pois Fernão tinha a
grande preocupação de relatar a história de Portugal, sendo deste modo,
um dos grandes renovadores da história portuguesa. A sua visão imparcial
sobre os factos foi, sem dúvida, uma das suas maiores contribuições. Isto
porque o escritor tinha o intuito de separar as lendas dos fatos reais e
ainda, dar prioridade ao povo, em detrimento da visão idealizada dos reis
e governantes.
Com um estilo literário peculiar, Fernão Lopes foi um marco na literatura
medieval da sua época. Isto porque acabou deixou de lado alguns
protagonismos, trazendo à tona características mais populares. Através
dos seus textos, torna-se fácil identificar essa característica que é
ressaltada por meio de uma linguagem mais coloquial. Foi, dessa maneira,
que Fernão Lopes conquistou muitos admiradores no seu tempo.
O escritor português ficou muito conhecido devido às suas crônicas
históricas. Ainda que a prosa historiográfica tenha surgido anteriormente,
no movimento do trovadorismo, esta atingiu o seu apogeu no Humanismo
com a figura de Fernão Lopes. A principal caraterística deste tipo de obra
é o teor histórico que ela carrega, uma vez que relata factos reais. A
grande diferença é que Fernão conseguiu unir a história com a literatura.
Assim, ele produziu diversas obras usando uma linguagem simples e
repleta de diálogos.
Crónica de El-Rei D. João I
A crónica de D. João I foi escrita por Fernão Lopes, por volta de 1450, e
constitui, após as crónicas de D. Pedro e de D. Fernando, a terceira e a
mais perfeita das 3 grandes crónicas compostas pelo primeiro cronista
régio.
Está crónica, impressa pela primeira vez em Lisboa, em 1644, foi deixada
incompleta por Fernão Lopes, sendo da sua auditoria (interregno entre a
morta de D. Fernando e a eleição de D. João I) e a segunda parte (o
reinado de D. João até 1411), não se sabendo se terá legado manuscritos
para a terceira parte, redigida pelo seu sucessor, Gomes Eanes de Zurora,
conhecida como Crónica da Tomada de Ceuta.
É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo
e método de historiar inovador. O seu desejo é “em esta obra escrever
verdade sem outra mistura”, para o que faz concordar toda a gama de
documentos possível, desde narrativos a documento oficiais,
confrontando-os entre si para assegurar a veracidade dos registos
existentes. Ao mesmo tempo, esta crónica precedente, na medida em que
estas preparam os acontecimentos que culminam com a sublevação
popular e consequentemente, com a entronização de D. João I. A primeira
parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célebre dos
episódios quase simultâneos do assassinado do conde Andeiro, do
alvoraço da multidão que ocorre a defender o Mestre e da morte do bispo
de Lisboa. Ao longo dos capítulos, fundamenta-se a legitimidade da
eleição do Mestre, consumada nas Cortes de Coimbra, a sequência da
argumentação do doutor João das Regras, enquanto desfecho inevitável
imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento do
cronista da animação de retratos individuais, como os de D. Leonor Teles
ou D. João I, excede-se na composição de uma personagem coletiva, o
povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o devir dos acontecimentos
históricos. Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora
de reconhecer o rei saído das cortes, e é de novo pela ação do povo que
a glorificação do monarca é transmitida, como, por exemplo, no modo
como o acolhe-o a cidade do Porto. Um outro momento de maior Relevo
é consagrado nesta parte, à narrativa da Batalha de Aljubarrota, embora
aí não ecoe o mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte,
colocara em cena o movimento da massa popular.
A crónica de D. João I espelha narrativamente uma das imagens míticas
da nossa história: o momento da plena fusão entre as pulsões populares
e a elite cavaleiresca vitoriosa de Aljubarrota, refundando o Estado e
consolidando a independência face a Castela. Neste sentido, a descrição
dos movimentos da arraia miúda aquando da morte de D. Fernando
concorrem com a defesa das teses jurídicas de João do Regras nas Cortes
de Coimbra sobre a legitimidade do mestre de Avis para ascender ao
trono, como se, com exceção da antiga nobreza em que a I Dinastia se
cristalizara, Portugal pulasse a um só coração em direção a um só futuro.
O que nos atrai hoje nesta crónica é menos a história real e anais a chama
e o resplendor desta tão bem-sucedida união nacional entre mesteirais
(artificies), burgueses e nobres sob a direção de um só chefe político (D.
João) e um só chefe militar (D. Nuno Álvares Pereira).
Comprometido com a nova corte, não causa espanto, assim, que Fernão
Lopes confira aos seus relatos históricos um empenhado vigor nacionalista
de que ressalta a imagem de Aljubarrota como uma nova carta de
nascimento do país e a nova situação política como a realização da
“sétima idade do mundo”, nacionalismo igualmente patente nas condições
mateada escrita na Crónica de D. João I, redigida pelo “guarda-mor”. Dita
de outro modo, em momento da criação de uma nova dinastia régia, as
crónicas de Fernão Lopes e, mormente as duas primeiras partes da
crónica de D. João I revelam a necessidade de uma legitimação histórica
do novo poder saído de uma insurreição popular e de um corte radical com
a tradição dinástica.
Fernão Lopes fez questão de nos deixar esta obra, que hoje em dia, nos
dá acesso a muita informação e graças ao modo da escrita dele e da sua
imparcialidade podemos ler as obras tal como elas aconteceram na
realidade.

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