A Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, narra os acontecimentos políticos que ocorreram em
Portugal entre 1383 e 1385. Escrita entre 1434 e 1443, por ordem do rei D. Duarte, esta crónica tem como objetivo «transformar em legítimo o ilegítimo», ou seja, justificar e credibilizar o reinado de D. João I. Fruto de uma escrita apurada e plena de intenção (já que Fernão Lopes é um escritor ao serviço do poder), o cronista, com grande dinamismo e visualismo, narra, no capítulo 11, o plano traçado por Álvaro Pais para matar o Conde Andeiro e impedir a regência de Leonor Teles até que um dos seus netos (filho de D. Beatriz e de D. Juan de Castela) subisse ao trono português. Mais à frente, em especial no capítulo 148, ganha especial destaque o modo como Fernão Lopes descreve o cerco de Lisboa pelo exército castelhano. Neste episódio, o povo («arraia miúda») surge como ator coletivo que age movido pelo amor à Pátria, transcendendo-se no seu esforço e espírito de sacrifício perante as terríveis adversidades impostas pelo cerco. Ao longo da crónica, o cronista descreve pormenorizadamente o ambiente vivido, os diálogos e as atitudes dos diversos intervenientes, conferindo ao texto um grande realismo. Para além do herói coletivo que age pela sua consciência da identidade nacional (o povo), destacam-se duas figuras individuais: D. João (Mestre de Avis), e Nuno Álvares Pereira (o Condestável), que liderou vitoriosamente as tropas portuguesas na Batalha de Aljubarrota. Em suma, a Crónica de D. João I é um documento importantíssimo, dado que assinala o fim da Idade Média em Portugal e o nascimento da força anímica coletiva que conduzirá aos Descobrimentos.