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10.º ano
Fernão Lopes
Crónica de D. João I
© AREAL EDITORES
Fernão Lopes é um cronista do século XV, que fixa nas suas crónicas os acontecimentos mais
marcantes dos reinados de D. Pedro I, D. Fernando, D. João I. Apresenta uma nova conceção de
História, baseada na análise imparcial de documentos escritos. A sua escrita é muito rica, carregada
de visualismo e de pormenor descritivo, o que faz dele um notável prosador medieval. A Crónica de
D. João I é uma das obras mais importantes deste cronista. O texto está estruturado em duas partes:
na primeira, relatam-se os acontecimentos mais marcantes da crise de 1383-85 e, na segunda, nar-
ram-se os sucessos mais relevantes do reinado de D. João I, o primeiro rei da segunda dinastia,
mais conhecida como dinastia de Avis.
Fernão Lopes é um cronista medieval que apresenta, nos seus textos, preocupações de registo
histórico fidedigno, objetivo e devidamente suportado por fontes documentais.
Ao mesmo tempo, o seu discurso apresenta inúmeras características que lhe conferem valor
literário. A descrição das personagens individuais variadas surge lado a lado com o desenho com-
plexo e genuíno do povo que se confunde com a própria cidade: “todos animados de uma só von-
tade”. O povo surge como sujeito da história e ganha consciência coletiva sobre os que querem
senhorear a sua terra. O discurso é pleno de emoção, pormenores vivos e dramáticos, efeitos de
visualismo descritivo, apelos ao envolvimento do narratário, que não pode ficar indiferente ao ritmo
da frase e à emoção do próprio narrador. Outros recursos expressivos estão também presentes, con-
ferindo ao texto vivacidade ou dramatismo.
Fernão Lopes, além de historiador de méritos excecionais, foi um verdadeiro artista da palavra,
preocupado com a beleza da forma e não apenas com a verdade do conteúdo. No seu texto prevale-
cem os seguintes valores:
Sentimento coletivo
Noção de comunidade Conceção de ser português
do povo português
• consciência de pertença • sentimento nacional • povo ganha consciência coletiva
• consciência nacional • desejo de derrota dos • povo participa na vida política do
• temor face à invasão castelhanos reino e na salvação da nação
estrangeira • sofrimento conjunto das • povo “salva” o Mestre
• independência e liberdade do privações do cerco • povo mobilizado por uma causa
reino ameaçadas • mobilização à volta de um líder comum
• preparação da resistência da • povo escolhe o seu líder e futuro
nação Rei
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Poesia trovadoresca
D. João I, mestre de Avis. Pintura de Iluminura da Crónica de D. João I, Estátua equestre de D. Nuno Álvares
autor desconhecido (1.ª metade do com a representação do porto de Pereira, 1968, Batalha.
séc. XV). Lisboa.
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II O essencial para o exame…
10.º ano
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• Regência de D. Leonor
– apoio do conde Andeiro
– apoio do rei de Castela
• Herdeira do trono de Portugal, D. Beatriz está casada com o Rei de Castela.
• Revolta do povo que apoia D. João, filho de Inês de Castro e D. Pedro (ausente em Cas-
tela), como líder.
• D. João, mestre de Avis e filho de D. Pedro, assume a liderança e é apoiado pelo povo.
Casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, iluminura do livro Anciennes Chroniques D’Angleterre, de Jean de Wavrin
(séc. XV).
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Poesia trovadoresca
Questões-tipo de exame
Como pode surgir em exame a Crónica de D. João I, de Fernão Lopes?
Análise de um excerto a partir de um questionário interpretativo.
Exercício resolvido
Análise de um texto
Leia o texto.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I de Fernão Lopes (ed. Teresa Amado), Questão 2:
Capítulo CXLVIII, Lisboa: Edição Seara Nova/Comunicação, 1980, pp. 197-198. • Metáfora
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tristeza. 2 tristes. 3 queixas. 4 pena, dó. 5 preocupado. 6 acontecer. 7 todavia. 8 está. 9 outra coisa. 10 falar.
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joelhos. 12 atendidas. 13 queixavam. 14 que tinha sido melhor entregarem-se ao rei de Castela. 15 sofrimentos
16
pensando no pior que naquelas circunstâncias lhes podia acontecer. 17 dolorosas
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II Aprendo como se faz
1. Divida o texto em partes, explicitando a sua organização interna.
Questões-tipo de exame
2. A situação da cidade de Lisboa é muito difícil. Explicite de que modo o narrador demons-
tra a sua compaixão pelo sofrimento da população.
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Como responder ao questionário?
• Leia o texto duas vezes.
Português
• Leia todas as questões colocadas. antigo
• Releia o texto.
• Sublinhe o verbo de instrução Vivacidade:
Técnica
narração,
de cada pergunta. cinematográfica
descrição, diálogo
TEMA
A desorganização A fome
O cerco da cidade
Consequências Reações
individuais passivas
familiares negativas
económicas construtivas
sociais ativas
ESTRUTURA
Pormenor descritivo
emotividade
• Construa as respostas.
• Releia as respostas.
• Verifique se inseriu exemplos textuais.
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Fernão Lopes, Crónica de D. João I
Questões-tipo de exame
Resposta
Neste excerto, relata-se o sofrimento da população de Lisboa
aquando do cerco da cidade pelo rei de Castela.
Introdução
O texto pode ser dividido em dois momentos. No início, o narrador
descreve de forma emotiva a difícil situação em que se encontravam
os habitantes da cidade de Lisboa: “Toda a cidade era dada a nojo,
~ prazer que i houvesse”. De
chea de mezquinhas querelas, sem neuu Desenvolvimento
seguida, refere o sofrimento do Mestre e dos seus por nada poderem • divisão
fazer: “Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe • explicação +
doorosas d’ouvir taes novas”. exemplos
Na realidade, o narrador apresenta detalhadamente a forma esco-
lhida pelo Rei de Castela para enfraquecer a população portuguesa,
que luta pela independência.
Em suma, destaca-se a incapacidade do Mestre e dos seus homens
de lutarem contra a adversidade do cerco da cidade. Conclusão
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II Agora faço eu
Exercício 1
Questões-tipo de exame
(nível 1: com tópicos)
Análise de um texto
Leia o excerto transcrito do Capítulo 115 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.
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Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei
de Castela pôs cerco sobr’ela
Os muros todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento; e em
seteenta e sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caraman-
5 chões de madeira, os quaes eram bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos e
beestas de tomo, e doutras maneiras com grande avondança de muitos viratões.
Havia mais em estas torres muitas lanças d’armas e bacinetes, e doutras
armaduras que reluziam tantas que bem mostrava cada ũa torre per si que abas-
tante era pera se defender. Em muitas delas estavom troõs bem acompanhados
10 de pedras, e bandeiras de Sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e dou-
tros alguũs senhores e capitães que as poinham nas torres que lhes eram
encomendadas.
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda
dos muros pelos fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadri-
15 lhas e beesteiros e homũes d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em
cada quadrilha havia u sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como cada
uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por quanto
aas vezes os que tinham carrego das torres viinham espaçar pela cidade, e leixa-
vom-nas encomendadas a homeês de que muito fiavom; outras vezes nom fica-
20 vom em elas senom as atalaias; mas como davom aa campãa, logo os muros
eram cheos, e muita gente fora.
E nom somente os que eram assinados em cada logar pera defensom, mas
ainda as outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres,
avivavom-se os corações deles; e os mesteirais dando folgança a seus oficios,
25 logo todos com armas corriam rijamente pera u diziam que os Castelãos mostra-
vom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas trombetas e braa-
dos e apupos esgrimindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando
fouteza contra seus êmigos. (…)
Fernão Lopes, Crónica de D. João I de Fernão Lopes (ed. Teresa Amado), Lisboa: Edição Seara Nova/
Comunicação, 1980, pp. 171-172.
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Fernão Lopes, Crónica de D. João I
Questões-tipo de exame
• Cerco de Lisboa pelo Rei de Castela Introdução
• População unida
• Preparação em conjunto Desenvolvimento
• Múltiplas diligências
• Povo trabalha por objetivos comuns Conclusão
Per que guisa1 estava a cidade corregida2 pera se defender, quando el-
-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela
1
maneira. 2 preparada. 3 quando. 4 como. 5 lezírias. 6 abastecimento. 7 acolheram-se. 8 aprouve, quis. 9 alguns.
10
em direção a. 11 alguns. 12 puseram na cidade todos os haveres. 13 falta. 14 reparação. 15 arma de arremesso de setas e
pelouros. 16 abundância. 17 virotões, virotes grandes. 18 homens armados de lanças. 19 peças da armadura que protegem a
cabeça. 20 máquinas que lançavam pedras, catapultas.
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II
Questões-tipo de exame Agora faço eu
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lhas21 e beesteiros e homũes d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I de Fernão Lopes (ed. Teresa Amado),
Lisboa: Edição Seara Nova/Comunicação,1980, pp. 170-171.
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lanço de muralha que cabe a cada vigia.
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Fernão Lopes, Crónica de D. João I
Exercício 1 Exercício 2
Propostas de resolução
1. O texto dá conta da união e da preparação da 1. A partir da leitura do excerto, podemos verificar
população de Lisboa para o ataque de Castela. a presença de vocabulário bélico em simultâ-
neo com vocábulos ligados à alimentação.
Na verdade, ao longo do texto, estão presentes
várias expressões que evidenciam que a ci- Efetivamente, o texto utiliza muito vocabulário
dade de Lisboa está unida e que se prepara ligado à guerra, como “d’escudos e lanças e
em conjunto para o ataque de Castela: “nom dardos e bestas de tomo”, ao mesmo tempo
haviam mingua de boom repairamento”, “forom que se refere a diversos mantimentos: “pam e
feitos fortes caramanchões de madeira”, “Em carnes”. Este facto, aparentemente incon-
muitas delas estavom troõs bem acompanha- gruente, prende-se com a situação de cerco
dos de pedras, e bandeiras de Sam Jorge, e iminente que a cidade de Lisboa ia sofrer. Por
das armas do reino e da cidade, e doutros essa razão, a população tem de se armar, ao
alguũs senhores e capitães que as poinham mesmo tempo que deve recolher provisões.
nas torres que lhes eram encomendadas”, “E Na realidade, perante o cerco do Rei de Castela,
ordenou o Meestre com as gentes da cidade o Mestre ordenou que se recolhesse o máximo
que fosse repartida a guarda dos muros pelos possível de víveres e que a cidade fosse prepa-
fidalgos e cidadãos honrados”, “e como cada uũ rada para a defesa de forma exaustiva.
ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rija- Em suma, a situação de guerra exige não só
mente corriam pera ela”. Estas expressões per- material bélico como também provisões para
mitem verificar o envolvimento de todos em alimentar os defensores da cidade.
prol do bem comum.
2. A partir da leitura deste excerto da Crónica de
Em suma, a população de Lisboa mobilizou-se D. João I, verifica-se que o texto se pode dividir
em conjunto para se defender do inimigo co- em três partes lógicas.
mum e lutar por um ideal de todos: a liberdade. Assim, o primeiro período constitui a primeira
2. A partir da leitura deste excerto da Crónica de parte e apresenta a situação inicial de cerco da
D. João I, de Fernão Lopes, é possível verificar cidade de Lisboa (“souberom a viinda del-Rei
o estado de ânimo da população de Lisboa de Castela, e esperarom seu grande e pode-
aquando do cerco à cidade pelo Rei de Cas- roso cerco”). No desenvolvimento, descrevem-
tela. -se pormenorizadamente as medidas sociais e
militares que foram tomadas (“colherom-se
De facto, a população está solidária com o
dentro aa cidade muitos lavradores com as mo-
Mestre e participa de forma empenhada e en-
lheres e filhos” ou “Em muitas delas estavom
tusiástica em todas as tarefas de defesa, como
troõs bem acompanhados de pedras”). A última
é visível a partir das seguintes afirmações: “E
parte, constituída pelo último parágrafo, refere a
nom somente os que eram assinados em cada
estratégia militar de distribuição dos homens e
logar pera defensom, mas ainda as outras gen-
das armas para defesa da cidade (“guarda dos
tes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas
muros pelos fidalgos e cidadãos honrados”).
outras torres, avivavom-se os corações deles;
e os mesteirais dando folgança a seus oficios, Deste modo, este excerto explicita as princi-
logo todos com armas corriam rijamente pera u pais medidas determinadas pelo Mestre para a
diziam que os Castelãos mostravom de viinr”. cidade de Lisboa estar preparada para o cerco
Na realidade, toda a população estava cons- imposto pelo Rei de Castela.
ciente da gravidade da situação, por isso, to-
dos se uniram à volta do Mestre, líder
incontestado, para em conjunto enfrentarem as
adversidades que se avizinhavam.
Em conclusão, apesar das dificuldades e do
perigo, a população demonstra forte interesse
e dedicação à causa comum.
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