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Crónica de D.

João I

Fernão Lopes

Fernão Lopes empurrou para a frente, até nós, uma das épocas mais fascinantes do passado português.
Tudo o que ele escreveu era verdade. No tempo dele davam-lhe o nome de cronista e a sua principal missão era escrever a
história dos reinados que tinham ficado para trás. Quem lhes pagavam eram os reis. Eram, portanto, funcionários públicos.
Fernão Lopes teve a ideia de contar as coisas com o máximo de realismo. E, como observador atento da realidade que era,
não lhe escapou o papel decisivo desempenhado pelo povo anónimo no curso da História.
É graças às suas crónicas que sabemos “tudo” acerca da 2ª metade do século XIV português e que consideramos esse período
um dos mais fascinantes da nossa História.

Glossário
Crónicas- (kronos, tempo) sequência, compilação de factos registados segundo a ordem do seu desenrolar. As crónicas
traçavam a história de um reinado, de uma dinastia ou de uma instituição e mesmo a história de um povo, desde os seus
começos, mas sem que o autor tente determinar as causas e apontar os efeitos.

Crónica de D. João I-obra prima de autoria do cronista português Fernão Lopes. Compõem-na 2 partes e abrange,
historicamente, o período do interregno (período entre 2 reinados em que não há rei hereditário) e os acontecimentos que
antecederam os esposais da infanta D. Beatriz com o filho do conde de Cambridge: a aclamação do Mestre de Avis, o
assassínio do conde Andeiro, a trucidação do bispo de Lisboa pela multidão, o cerco da capital e a peste no arraial castelhano
e as batalhas de Aljubarrota e Valverde.

História:

D. Fernando morre, ficando D. Leonor no trono até que haja um sucessor. D. Beatriz começa a ter relações com um
castelhano. Portugal andava sempre na guerra com Castela (Espanha).
D. Leonor arranja para secretário um homem de Castela, conhecido por Conde Andeiro.
O Mestre de Avis ( D. João I) era filho não legitimo, isto é, era filho fora do casamento de D. Pedro e D. Teresa, filho bastardo.
Mestre de Avis queria armar alguma coisa cena para o povo o apoiar ao trono, então começou-se a espalhar um bvoato
dizendo que D. Leonor e o Conde eram amantes, o que fez o povo odiar D. Leonor, chamando-a de prostituta. Então, o
Mestre de Avis finge que o Conde o quer matar, para que isso também se espalhasse pelo povo.
E assim, o Mestre de Avis aparece ao povo mostrando-se como herói, ficando o povo cada vez mais a apoiá-lo.

Fernão Lopes conta esta história para mostrar o quão inteligente foi o Mestre de Avis.
Crónica de D. João I
Capítulo XI

DO ALVOROÇO QUE HOUVE NA ÇIDADE CUIDAMDO QUE MATAVOM O MESTRE E COMO LÁ FOI ÁLVARO PAIS E
MUITAS GENTES COM ELE
homem que obedecia à ordens do Fidalgo com muita pressa
gritava
O pajem do Mestre, que estava à porta, a quando lhe disseram que fosse
pela vila, segundo já estava preparado, começou a ir rijamente a galope, em O Paje obedece às ordens do
cima do cavalo em que estava, dizendo a altas vozes, bradando pela rua: Mestre de Avis, gritando que o
acudam
Matam o Mestre! Matam o Mestre nos paços da rainha! Acudam ao Mestre
que o matam! E assim chegou a casa de Álvaro Pais, que era dali grande
espaço. convocação

o povo capacete

As gentes que isto ouviam saíam à rua a ver que cousa era. E, começando a O povo sai à rua para ver o que se
falar uns com os outros, alvoroçava-se-lhes o coração, e começavam a passa;
tomar armas cada um como melhor e mais depressa podia.
Álvaro Pais e o Paje passam a
Álvaro Pais, que estava prestes e armado com uma coifa na cabeça,
mensagem;
segundo uso daquele tempo, cavalgou logo à pressa em cima de um cavalo,
apesar de que anos havia que não cavalgara, e todos os seus aliados com O povo segue-os repetindo o que
ele, brandando a quaisquer que achava: Acudamos ao Mestre, amigos, eles diziam
acudamos ao Mestre, que é filho de el-rei D. Pedro! E assim bradavam ele e
o pajem indo pela rua. Álvaro Pais
o povo ia apoiar D. João (Mestre
ruído de Avis) por ser filho de D. Pedro
tinha um amante
Soaram as vozes do arruído pela cidade, ouvindo todos bradar que
matavam o Mestre. E assim como viúva que rei não tinha, como se lhe este O povo dirige-se ao sítio onde ele
ficara em lugar de marido, se moveram todos com mão armada, correndo à ia ser morto.
pressa para onde diziam que isto se fazia, para lhe darem a vida e livrá-lo de
morte. Álvaro Pais não parava de ir para lá, bradando a todos: Acudamos ao
Mestre, amigos, acudamos ao Mestre, que o matam sem porquê!
escuros

A gente começou a juntar-se a ele, e era tanta que era estranha cousa de ver. Realça a quantidade de pessoas
Não cabiam pelas ruas principais, e atravessavam lugares escusos, desejando que ia apoiar o Mestre de Avis.
cada um ser o primeiro. E, perguntando uns aos outros quem matava o
O povo pergunta quem o vai
Mestre, não faltava quem respondesse que o matava o conde João
matar.
Fernandes, por mandado da rainha. D. Leonor

E por vontade de Deus, todos feitos de um coração com vontade de o vingar,


quando chegaram às portas do Paço, que tinham sido fechadas antes que
chegassem, com espamtosas palavras começaram a dizer: Onde matam o
Mestre? Que é do Mestre? Quem fechou estas portas?
Ali ouviam-se brados de diversas maneiras. Tais havia que certificavam que o O povo deseja vingança.
Mestre era morto, pois as portas estavam fechadas, dizendo que as
arrombassem para entrar dentro, é veriam que era do Mestre, ou que cousa As portas do Paço encontravam-se
já fechada quando o povo chega lá.
era aquela. para ver como estava o mestre
D. Leonor barulho tão grande

Alguns bradavam por lenha e que viesse lume para porem fogo aos Paços e
queimarem o traidor e a aleivosa. Outros teimavam pedindo escadas para
subir acima, para verem que era do Mestre. E em tudo isto era ho arroido tão
grande, que se não entendiam uns com os outros nem determinavam cousa
nem viam nada
Crónica de D. João I
nenhuma. E não somente era isto à porta dos paços, mas ainda em redor
deles, por onde quer que coubessem homens e mulheres. Umas vinham com
feixes de lenha, outras traziam carqueja para acender o fogo, cuidamdo
queimar com ela o muro dos paços, dizendo muitos doestos contra a rainha.
de outra maneira insultos querendo D. Leonor
impedir

De cima não faltava quem gritasse que o Mestre estava vivo e o conde João
Fernandes morto. Mas isto ninguém o queria crer, dizendo: Pois se está
vivo, mostrai-no-lo e vê-lo-emos.
Então os do Mestre, vendo tão grande alvoroço como este e que cada vez
se açemdia mais, disseram que fosse sua mercê de se mostrar àquelas
gentes, doutra guisa poderiam quebrar as portas, ou pôr-lhes fogo, e
entrando assim dentro à força não as poderiam depois tolher de fazer o que
quisessem.
Ali se mostrou o Mestre a uma grande janela que dava sobre a rua, onde
estavam Álvaro Pais e a maior força da gente, e disse: Amigos, sossegai, que
eu estou vivo e são, a Deus graças. O Mestre aparece.
E tanta era a perturbação deles, e de tal maneira tinham já em crença que o
Mestre fora morto, que tais havia que porfiavam que não era aquele.
Porem, conhecendo-o todos, claramente ficaram com prazer quando o
ouviram, e diziam uns para os outros: O que mal fez! pois que Então matou
o traidor do Conde, porque não matou logo a aleivosa com ele? Creedes em
O povo diz que o Mestre devia ter
Deus, ainda se há-de vingar dela. Olhai e vides que maldade tão grande,
matado também D. Leonor, pois
mandaram-no chamar onde ia já de seu caminho, pera matarem aqui per sente odio por ela.
traiçom. Ó aleivosa! já nos matou um senhor, e agora nos queria
matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d’acabar por estas cousas que faz!
D. Fernando

E sem dúvida se eles entrassem dentro, nom se salvaria a Rainha da morte,


e fora maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar.
O Meestre estava aa janela, e todos oolhavom contra ele dizendo: Ó,
senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos
guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes
Metre de Avis agrade ao povo o
lá mais. então alegres diabo mais necessidade
apoio e diz que já não precisava de
E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo. Veendo el mais nada.
estonçe que nenhuma duvida tiinha em sua segurança, deceo a baixo e
cavalgou com os seus acompanhado de todos os outros que era maravilha
de veer. Os quaes mui ledos arredor dele, braadavam dizendo: Que nos
mandaes fazer, Senhor? que querees que façamos?
E el lhe respondia, dificilmente podendo seer ouvido, que lho gradecia
muito, mas que por estonce nom havia deles mais mester.
E assim caminhou para os Paços de Almirante, onde se espedava o Conde
Dom Joham Affonso irmão da Rainha com quem ia comer. As donas da
cidade pela rua onde ele ia saiam todas à janela com prazer dizendo a altas
vozes: Mamtenhamos Deos, Senhor. Bem seja Deos que vos guardou de
tamanha traição, da qual tinham preparado. Ca ninguém podia outra coisa
pensar.

E indo assim até á entrada do Rossio, e o Conde vinha com todos os seus, e
outros altos funcionários da cidade que o guardavam, assim como
Crónica de D. João I
AffomssEanes Nogueira, e Martim Afonso Valente, e Estevam Vaasquez
Filipe, e Alvoro do Rego, e outro fidalgos; e quando viu o Mestre hir daquela
guisa, foi abraça-lo com prazer e disse: Mantenha-vos Deos, Senhor. Sei
que vos tirastes de gramde cuidado, mas vos mereçiees esta homra melhor
que nos. Amdaae, vamos logo comer . E assim foram para os Paços onde
pousava o Conde.
E estando eles por se sentar á mesa, disseram ao Mestre que os cidade
queriam matar o Bispo, e que ele devia o socorrer; e o Mestre quisera allo
hir.
Disse então ao Conde: Não pensais disso, Senhor, se o matarem , que o
matem que não, se ele morrer, não faltará outro Bispo português que vos
sirva melhor que ele. Ao ser dito isto ao Conde, ele cessou à vontade do
Mestre, e o Bispo foi morto desta guisa que sse segue.

Análise:

1. O alvoroço […] na çidade” deve-se ao facto de haver rumores de homicídio do Mestre.


Quem espalhou esses rumores foi o Pajem.
Participação das “gemtes” (povo) de Lisboa:
 Convocação/ Apelo: (nas ruas, com a ajuda do pajem e de Álvaro Pais;) “Acorree ao Meestre que matam”;
 Movimentação: (nas ruas) “se moverom todos com maão armada”;
 sentimentos e atuação face à noticia da morte do Mestre: Fúria e curiosidade;
 Concentração: (no Paço) “todos feitos dhu~u coraçom com tallemte de o vimgar”;
 Reações em defesa do Mestre (D. João): Desejo de vingança;
 Aclamação: (à janela) “Mamtenhavos Deos, Senhor.”
 Emoções perante a visão do Mestre: Emoção, desconfiança e ódio em relação a Leonor Teles;
 Dispersão: “[...] cavalgou com os seus acompanhado de todollos outros que era maravilha de veer.”;
 Ações finais: Refeição do Mestre e decisão de os fidalgos matarem o Bispo de Lisboa.

2. Sensações exaltadas durante a descrição da concentração popular: Audição (“começarom de dizer”, l. 24, “Alli eram
ouvidos braados de desvairadas maneiras.”, l. 25, “era ho arroido atam gramde que sse nom emtemdiam huus com os
outros”, ll. 30-31, “braadavom dizemdo”, ll. 61-62,“dizendo altas vozes”, l. 66) e visão (“A gemte começou de sse jumtar
a elle, e era tanta que era estranha cousa de veer.”, l. 18, “veemdo tam gramde alvoroço”, l. 39).
2.1. Expressividade do sensorialismo: Torna os relatos mais realistas, como que transportando o leitor para o local dos
acontecimentos, fazendo-o “ver” e “ouvir” o que se passou.
3. O povo reveste-se de particular importância ao garantir a defesa do Mestre, influenciando o curso da História de
Portugal.
3.2. Sentimentos dos populares: “alvoraçavomsse nas voomtades” (l. 7); “todos feitos dhuu coraçom com tallemte” (l.
22); “tamta era atorvaçam” (l. 47); “ouverom gram prazer quamdo o virom” (ll. 49-50); “muitos choravom com prazer de
o veer vivo” (l. 59); “com prazer” (l. 66).
3.3. Comparação que realça a ligação do povo ao Mestre, aproximando-o de uma figura familiar merecedora de amor.
4. Personagens individuais: Álvaro Pais, o Mestre de Avis e o pajem.
4.1. Caracterização indireta, pois são as suas palavras e, sobretudo, as suas ações que permitem caracterizá-los.
4.3. Álvaro Pais colabora com o pajem na divulgação do boato da morte do Mestre, preparado previamente
(ll. 8-10). Insiste na divulgação da notícia junto do povo, de modo a “convocar” as massas populares e a criar um clima
favorável à aceitação do Mestre e à sua confirmação como herdeiro legítimo do trono português.
Crónica de D. João I
5. O narrador coloca na voz do povo as acusações de traição, transmitindo-se assim uma imagem muito negativa da figura de
Leonor Teles, chegando a ser acusada pela morte de D. Fernando (ll. 53-54).
6. Fernão Lopes manifesta a sua empatia com as camadas populares e apresenta um retrato pouco abonatório de D. Leonor.

Capítulo CXV
preparada
Maneira

PER QUE GUISA ESTAVA A ÇIDADE CORREGIDA PERA ESSE DEFFEMDER, QUAMDO ELREI DE CASTELLA POS ÇERCO
SOBRELLA próximo que estava dentro da cidade de Lisboa
está a cercá-la
estando
Nenhum discurso deve ser mais proximo deste capitulo que haverdes Fala-nos do Mestre e da cidade que
ouvido, do que termos contado aqui brevemente de que maneira estava a estavam em conflito com o Rei de
Castela.
cidade, jazemdo elRei de Castela sobre ela; e de que modo o mestre de
Avis se protegia do Rei de Castela e ao seu povo que detro eram , por não O Mestre manda cercar a cidade,
receber dano de sus emmiigos; e o esforço e fouteza que contra eles porque eles não podem entrar.
mostravam, em enquanto assim estava cercada.
coragem para não serem atingidos pelos seus
refere-se ao texto inimigos (Rei de Castela)

Onde, quando o Mestre a cidade souberam da vinda delRei de Castela, e


esperaram o seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado que
recolhessem os mantimentos que conseguissem, por exemplo pão e Fernão Lopes diz que nenhuma
carne, como quaisquer outras coisas. E iam muitos às liziras, em barcas e descrição de Lisboa vai ser mais
batees, depois que Samtarem esteve por Castela, e dali traziam muitos próxima daquela.
gados mortos que salgavam em tinas para conservar , e outras coisas que
Quando o Mestre soube que o Rei de
fizeram grande abastecimento; e recolheram dentro da cidades muitos Castela o queria cercar, mandou ir
lavradores com as molheres e filhos, e coisas que tinham; e outras buscar mantimentos.
pessoas da comarca de arredor, aqueles a que agradou de o fazer; e
alguns passaram o Tejo com o seu gado e bestas e o com o que puderam Os habitantes de Lisboa iam às liziras
buscar água.
levar, e foram até Setúbal, e para Palmella; outros foram para a cidade e
não quiseram sair de lá; e taaes hi ouve que poserom todo o seu, e
ficaram nas vilas dos Castelhanos. margens do rio
batéis- barcos pequenos procuravam proteção
necessidade construções de cobertura

Os muros todos da cidade não tinham mingua de reparação; e as 77 torres Diz-nos que a cidade estava bem
que tinham em redor de si, foram feitos fortes caramanchoões de protegida, uma vez que as muralhas
madeira, os quais eram bem fornecidos de escudos e lanças e dardos e não precisavam de reparação.
besstas de torno, e doutras maneiras com grande abundância de muitos
setas grandes. armas de arremesso de longo alcance
Os homens estavam armados, bem
Havia mais em estas torres muitos homens com lanças darmas e protegidos à volta das 77 torres da
bacinetes, e doutras armaduras, que reluziam tanto que bem mostrava muralha. A sua armadura era tanta
cada uma das torres que por si era bastante para para se defender. Em que até reluzia (metal).
muitas delas estavam catapultas bem acompanhados de pedras, e
Pelas diversas torres eram colocadas
bandeiras de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros
bandeiras relativas à cidade de Lisboa.
alguns senhores e capitães que as punham nas torres que lhes eram
A de San Jorge era para proteger a
encomendadas. padroeiro de Lisboa, o seu protetor
cidade e para mostrar a sua pátria.
Crónica de D. João I
E hordenou o o Mestre ao ponto da cidade, que fosse repartida a guarda
dos muros pelos fidalgos e cidadãos honrados; aos quais deram certas
quadrilhas e besteiros e homees darmas pera ajuda de cada um guardar
bem a sua. partes da muralha soldados armados com bestas tocar As pessoas foram repartidas para
Em cada quadrilha havia 1 sino para rrepicar quando tal coisa vissem; e guardar cada parte da muralha.
como cada um ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos corriam Em cada quadrilha havia um sino para
rapidamente para ela; por quantas vezes , os que tinham em encargo das tocar quando houvesse algo de
torres, vinham descansar à cidade, e e deixavam-nas encomendadas as suspeito
homes a quem muito confiavam; outras vezes não ficavam com elas e só
ficamavam de vigilantes; mas como davam o sinal de alarme enxiam-se
logo os muros de muita gente de lá de fora. gritos

E não eram só aqueles que estavam responsáveis pelas posições de


defesa, eram também as pessoas da cidade, ouvindo o sino da Sé, e nas
outras torres, agitavam-se os corações deles; e os artesões dando
follgança a seus offiçios, dirigiam-se para o sítio onde diziam que os
Castelhanos vinham. Ali viram os muros cheios de gentes, com muitas
trombetas e braados e apupos esgremimdo espadas e lamças e
semelhantes armas, mostrando força contra os inimigos. reino convento
Não pensavam então do texto que diziam: “Que mais ajuda a igreja o
rregno com suas orações, que os cavaleiros com as armas”; nõ se
respeitava ali o decreto do Papa: “Os clérigos que trazem armas”; aos
quais segundo decreto nom convem de usar armas, uma vez que deviam os membros do clero foram para as
defender a terra; mas os clérigos e frades, especialmente da Trindade, torres ajudar a proteger a sua cidade.
estavam nos muros, com as melhores armas que podiam. Cada um de
noite velavam as suas torres, e os das quadrilhas rondavam todo o muro
e torres, de uma quadrilha até à outra; e outras rondas andavam pelos
muros, huuaas himdo e outras viimdo. umas para cá e outras para lá

E não sendo suficiente tudo isto, o Mestre que tinham um especial o Mestre já não dormia faz tempo,
cuidado da guarda e da governação da cidade, damdo seu corpo a porque estava de guarda na cidade.
mui breve sono, inspecionava por muitas vezes de noite os muros e
O Mestre de Avis quando estava tudo
torres com tochas acesas perto de si, b em acompanhado de muitos
preparado para o cerco da cidade,
que levava sempre consigo. Não havia ninguém que desobedecesse participava na defesa, não dormindo
dos que haviam de vellar, nem tal que esquecesse coisa que lhe fosse muito, não tendo uma atitude passiva.
responsável; estavam todos prontos a fazero que lhe mandavam, de
forma que todo o bom regimento que o Mestre ordenava, nom Ele dava as ordens e os outros
obedeciam.
mimguãva avomdamça de trigosos executores. dormia pouco;
todas as ordens que o Mestre sono muito breve
paus com chama
dava, não diminuíam

De 38 portas que há na cidade, as 12 eram todo o dia abertas,


responsáveis por bons homens darmas que tinham cuidado de as
guardar; pelas quais nenhuma pessoa que não fosse muito As portas que estavam à volta da
conhecida, não havia de entrar nem sair, sem primeiro saber ao certo cidade (38) estavam abertas.
porque razão ia ou vinha; e ali faziam tabuados com paus
12 estavam sempre abertas sendo
atravessados para dormir, o que estavam responsáveis, por de noite vigiadas.
serem deles acompanhadas, e nenhum malicioso ser atrevido de
cometer nenhum erro.
Crónica de D. João I
Algumas pessoas de noite tinham a chave de algumas portas, por barcos pequenos
causa dos batees que a tais horas iam e vinham do além do Tejo (do
A porta de Santa
outro lado do Tejo) com trigo e mantimentos, segundo a descrição; Catarina era
onde morava
cada noite um homem ficava com as chaves, e depois de ver se as importante e onde
portas ficavam fechadas ia até ao Paço onde descansava. Perto da usados como ligaduras havia mais conflitos
porta da Santa Catherina do parque do arraial/acampamento, por entre portugueses e
onde custumavam sair a pequenos conflitos, estava sempre uma casa castelhanos, logo
pronta, com camas e ovos e panos de linho grossom e lenções velhos; havia uma casa para
conflitos socorrer os feridos
e cirurgiões , e remédios,e outras coisas necessárias para tratamento
dos feridos quando voltavam das escaramuças.
Na margem tinham feito duas grandes e fortes cercas de estacos de
grossos e valentes paus, que o Mestre mandara fazer, antes que elRei
de Castela viesse, para defender do combate da margem; e eram
feitas donde o mar mais longe espraya, até à terra junto com a Os homens só podiam saltar as
cidade. E uma foi de Lisboa ao fundo da torre de atallaya contra estacas porque assim não
conseguiam chegar.
aquela parte onde entendeo que ElRei poeria seu arreal ; outros
fizeram no outro cabo da cidade junto com o muro dos fornos da call Havia estacas que impediam as
contra o mosteiro de Santa Clara; as quais eram destacadas as pessoas de passar, mas deixaram
dobradas resistentes, que nenhum cavalo podia passar por elas, e tão uma abertura para passar um
pouco os homens de pé sem primeiro subir por cima da altura dos pequeno barco.
paus, que seria uma coisa dificil de fazer ; e entre as fileiras das
dobradas estacas, havia espaços sem pedra deitada, em que um batel
podia caber sem ramos, postos atraves, se desejasse ali se recolher.
Não deixavam os da cidade por serem assim cercados de fazer o
muro anteposto às muralhas e mais baixo que estas, para defender o
fosso de arredor do muro da parte do areal, da porta de Santa
Catherina, até à torre de Alvaro Pais, que não era ainda feita, que que
seriam dos tiros de besta; e as moças sem nenhum medo,
apanhavam pedras pelas herdades, cantando altas vozes dizendo: “
Esta é a Lisboa prezada,
Canção dedicada aos Castelhanos.
mirala e deixá-la.
Se quiserdes carneiro, As meninas da cidade andavam a apanhar pedras para se
qual deram ao conde Andeiro defenderem.
se quiserdes cabrito,
Podem olhar, mas não ficar com elas, porque assim correm
qual deram ao Bispo,
conde Andeiro era quele que o mestre tinha mandado matar porque
e outras razões semelhantes. E quando os inimigos os incomodar estava em colaboração com o rainha D. Leonor Teles (aleivosa- prostituta,
queriam, eram postos em aquele cuidado, em que foram os filhos porque havia um boato que ela tinha um caso com o conde Andeiro)
de Israel, quando Rei Serges, filho de Rei Dario, deu licença ao aquele que não tocou o sino

profeta Neemias, que refizesse os muros de Jerusalém; que


guerreados pelos vizinhos de arredor, que os não erguesse, com
uma mão punham a pedra, e na outra tinham a espada para se
defender; e os Portugueses fazendo tal obra, tinham as armas
juntos consigo, com que se defendiam dos inimigos, quando se
esforçaram de os impedir, para que a não fizessem.
As outras coisas que pertenciam ao regimento da cidade, todas
eram postas em boas e igual ordem; e não havia nenhum, que com
outro levantasse arroido nem lhe criasse problema de prepósito,
Crónica de D. João I
mas todos todos usavam da amigável concordia, acompanhada de
proveito comum.
Oh que fremosa cousa de ver! Um tão alto e poderoso senhor como
elRei de Castela, com tanta multidão de gemtes assi pelo mar como
por terra, postas em tão grande e boa ordenação, ter cercada tão
nobre cidade. E ela assim guarnecida contra ele de gentes e de
armas com tantos cuidados por sua guarda e defesa; em tanto que
diziam os que o viram, que tão fremoso cerco da cidade não era em
memória de homens que fosse visto de muito longos anos até
aquele tempo.

Análise
Neste texto vamos ver a maneira como o mestre de Avis e os portugueses se defendem da cerca;
Tempo verbal: Pretérito imperfeito do indicativo- a ação está a decorrer, estamos a acompanhar a sua preparação dando-
nos a sensação que estamos lá dentro a assistir;
 P. Perfeito- ação acabada;
 P. Mais que Perfeito- (pouco usado);
 P. Imperfeito- ação inacabada, “construía”

Capítulo CXLVIII As dificuldades Passava por falta


Que ali estava

DAS TRIBULLAÇÕES QUE LIXBOA PADECIA PER MIMGUA DE MANTIIMENTOS


Gastavam-se os mantimentos devido
Estamdo a çidade assi çercada na maneira que ja ouvis-tes,
ao facto das pessoas da cidade e de
gastavomsse os mantimentos, por as muitas gemtes que em ella avia, arredores se quererem acolher lá.
assi dos que sse colherom dentro do termo de homeës aldeaãos com
molheres e filhos, como dos que veherom na frota do Porto; e alguûs Assi- tanto; colherom- acolheram; termo- limite
se tremetiam aas vezes em batees e passavom de noite escusamente Metiam-se dentro de pequenos barcos
comtra as partes de Ribatejo, e metemdosse e alguûs rios, alli secretamente
carregavom de triigo que ja achavom pronto, per rrecados que amte Com muita energia
mandavom. E partiam de noite rremando mui rrijamente, e allguûas
galés
galés (barcos dos castelhanos) quamdo os semtiam viinr remando,
A cidade estava cercada e as pessoas que
isso meesmo rremavom a pressa sobre elles; e os batees por lhe
estavam dentro dos limites (aldeões
fugir, e ellas por os tomar, eram postos em gramde trabalho.
ribatejanos, pessoas que vinham dos
Os que esperavom por tall triigo, amdavom per a rribeira da parte arredores, que já lá estavam e vinham da
de Exobregas (Lisboa) , aguardamdo quamdo vehesse, e os que frota do Porto) queriam-se acolher.
vellavom, se viiam as gallees rremar comtra los, rrepicavom logo por
Havia uma agitação, os Ribatejanos
lhe socorrerem. Os da çidade como ouviam o rrepico, deixavam ho
carregavam o trigo nos bateis através do
ssono, e tomavam as armas e sahia muita gemte, e deffediãnos aas
rio Tejo.
bestas se necessário, ferimdosse aas vezes dhuûa parte e dooutra;
porem nunca foi vez que tomassem alguû, salvo huûa que certos A gales dos castelhanos quando davam
bhatees estavom em Ribatejo com trigo, e forom descobertos per conta iam atrás deles.
huû homem natural dAlmadãa, e tomados per os Castellaãos; e ell foi Cortar a cabeça
depois tomado e preso e arrastado, e deçepado e emforcado. E posto E visto que
que tall triiguo alguüa ajuda fezesse, era tam pouco e tam
As pessoas que estavam à espera do trigo
quando viam os mares agitados,
preparavam-se para defender.
Crónica de D. João I
rraramente, que houve necessidade de o multiplicar como fez Jhesu
Christo aos paães, com que fartou os çimquo mill homeës.
Em esto gastousse a çidade assi, apertadamente, que as pubricas
esmollas começarom desfalleçer, e nehuûa família de pobres achava Menos esmola; começou a faltar
quem lhe dar pam; de guisa que a perda comuù vemcemdo de todo a De modo
A falta de recursos acabou de superar as pessoas
piedade, e veemdo a gram mingua dos mamtiimentos,
A grande falta
estabelleçerom deitar fora minguadas e nom perteeçemtes pera
Deitar fora as pessoas deficientes e incapazes de defenderem
deffemsom; e esto foi feito duas ou três vezes, ataa lamçarem fora as
Não era bem aceite por todos
prostitutas e Judeus e outras semelhamtes, dizemdo que pois taaes
pessoas nom eram pera lutar, que nom gastassem os mantimentos Começaram por deitar fora pessoas para
aos deffemsores; mas isto nom aproveitava cousa que muito que estas não gastassem mantimentos
prestasse.
Os Castellãos aa primeira alegravam-se com eles, e davom-lhe de
comer e acolhimento; depois veemdo que esto era com fome, por
gastar mais a çidade, fez elRei tal hordenamça, que nenhum de
dentro fosse recebido em seu acampamento, mas que todos fossem
lançados fora; e os que sse hir nom quisessem, que os açoutassem e acampamento
fezessem tornar pera a çidade; e esto lhes era grave de fazer, Prisioneiros
tornarem per força pera tal logar, omde choramdo nom esperavom fome
de seer rreçebidos; e taaes hi avia que de seu grado se sahiam da Preferiam ser prisioneiros dos castelhanos
çidade, e se hiam pera o arreall, queremdo amte de todo seer do que voltar para a cidade e morrerem à
cativos, que assi perecerem morremdo de fame. fome
Como não lamçariam fora a gemte mimguada e sem preoveito, que O Mestre (D. João, mestre de Avis) mandou alguém
o Meestre mamdou saber em certo pella çidade que pam avia per certificar-se na cidade a quantidade de pão

todo em ella, assi em celeiros subterrâneos come per outra maneira, Eles já sabiam que era pouco, porque haveriam de
certificar?
e acharomm que era tam pouco que bem avia mester sobrello
comsselho? Subjetividade- Interrogação de Fernão Lopes;
Comsselho- haveria necessidade se seguir o
Na çidade nom avia trigo pera vender, e se o havia, era muito pouco conselho do mestre?
e tão caro, que as pobres gemtes nom podiam chegar a elle; ca valia Antiga unidade de medida de capacidade para secos e líquidos
ho alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quareemta soldos; e a Antiga moeda portuguesa
canada do vinho três e quatro livras; e padeciam mui apertadamente Antiga medida de capacidade equivalente a 2litros
ca dia avia hi, que, aimda que dessem por um pão uma dobra, que o Sofriam muito

nom achariam a vemder; e começarom de comer pão de bagaço A cada dia que passava
Não havia o produto
dazeitona, e dos queyjos das mallvas e rraizes dervas, e doutras
planta
desacostumadas cousas, pouco amigas da natureza; e tais hi avia,
Em melaço
que sse mantinha em alfélloa. No logar hu costumavom vemder o
Fazer buracos
trigo, andavom homens e moços esgaravatamdo a terra; e sse
Rapazes jovens
achavom alguns graãos de trigo, metiãnos na boca sem teemdo outro
mantimento; e outros se fartavo dervas, e beviam tamta água, que Referencia ao pão e ao vinho;
achavom mortos homens e cachopos jazer imchados nas praças e em
Havia dinheiro, mas não haviam produtos,
outros logares. então mantinham-se da natureza, e uns
Das carnes, isso mesmo, avia em ella gramde mimgua; e sse alguns morriam porque comiam ervas venenosas.
criavom porcos, mantiinhasse em eles; e pequena posta de porco,
Também
vallia çimquo e seis livras que era huua dobra castellãa; e a galinha faltava
quarenta soldos; e a dúzia dos ovos, doze soldos; e se almogávares
tragiam alguus bois, vallia cada huu sateemta livras, que eram
quatorze dobras cruzadas, vallemdo emtom a dobra çimquo e sei
livras; e a cabeça e as tripas, hua dobra; assi que os pobres per
Crónica de D. João I
mimgua de dinheiro, nom comiam carne e padeciam mal; e
começarom de comer as carnes das bestas, e nom somente os
pobres e mimguados, mas grades pessoas da çidade, lazeramdo nõ
sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame, bem mostravom
seus emcubertos padecimentos. Amdavom os moços de três e de
quatro anos, pedimdo pam pella çidade por amor de Deos, como lhes
emsinavam suas madres; e muitos nom tinham outra cousa que lhe
dar senom lagrimas que com eles choravom que era triste cousa de
veer; e se lhes davom tamanho pam come hua noz, aviamno por
gramdebem. Desfalleçia o leite aaquellas que tinham criamças a seus
peitos per mimgua de mantimento; e veemdo lazerar seus filhos a
que acorrer nom podiam, choravom ameude sobrelles a morte amte
que os a morte privasse da vida; muitos esguardavom as prezes
alheas com chorosos olhos, por comprir o que a piedade mamda, e
nom teemdo de que lhes acorrer, cahiam em dobrada tristeza.
Toda a çidade era dada a nojo, chea de mezquinhas querellas; sem
nenhuu prazer que hi ouvesse: uns com gram mingua do que Tinham dó
acontecer
padeciam; outros avemdo doo dos atribulados; e isto nom sem
Contudo
rrazom, ca sse he triste e mesquinho o coraçom cuidadoso nas cousas
tristeza
comtrairas que lhe aviinr podem veede que fariam aqueles que as
comthinuadamente tam presentes tinham? Pero com todo esto, frequentemente
quando rerpicavom, nenhum nom mostrava que era faminto, mas prova de subjetividade por parte do autor,
forte e rrijo comtra seus inimigos. Esforçavomsse uns por comsollar pergunta-se a si mesmo
os outros, por dar rremedio a seu gramde nojo, mas nom prestava
está
comforto de palavras, nem podia tall door seer amanssada com
Discutir de outras coisas
nenhumas doçes razões; e assim como é natural coisa a maão hir
falta
ameude omde see a door, assi uns homens falamdo com outros, nom
A fome era tanta que eles falavam sempre disso;
podiam em all departir, senom, em na mimgua que cada um padecia.
Oo quamtas vezes emcomendavom nas missas e pregações que Quando estas discussões apareciam não se
rrogassem a Deos devotamente por o estado da çidade; e de joelhos demonstravam famintos mas fortes para
beijando a terra, braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas prezes defender
socorresse

nõ eram compridas! Uns choravom antre si, mal dizemdo seus dias, Ouvidas, satisfeitas

queixamdosse por que tamto viviam, como se dissessem com o Preferiam morrer do que viver nestas condições
Propheta: Hora vehesse a morte amte do tempo, e a terra cobrisse
nossas façes, pera non veermos tamtos malles! Assi que rrogavom a
Sofrimentos tão cruéis
morte que os levasse, dizemdo que melhor lhe fora morrer, que lhe
serem cada dia rrenovados desvairados padecimentos. Outros se queixavam

querellavom a seus amigos, dizemdo que forom desavemtuiradas Eram gente desgraçada

gemte, que sse amte nom derom a elRei de Castella, que cada dia Antes se tivessem entregado
padecer novas mizquiidades, firmamdosse de todo nas peores cousas sofrimentos

que fortuna em esto podia obrar. Preferiam ter sido entregues ao Rei de
Castela do que estarem neste sofrimento
Sabia porem isto o Meestre e os de seu Comsselho, e eramlhe
Mestre de Avis
doorosas douvir taaes novas; e veemdo estes malles a que acorrer
O povo queixava-se então preferia fechar os
nom podiam ajudar, çarravom suas orlhas do rrumor do poboo.
ouvidos porque não podia ajudar
Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer subjetividade
Estavam entre a vida e a morte. Falavam
alguns homens e mulheres, que tanta diferença há douvir estas Os filhos morriam de fome
mal da sua vida (lamentavam-se)
cousas, aaqueles que as emtom passarom, como há da vida aa desejando a morte. A distância da vida e da
morte? Os padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito morte era curta.
Crónica de D. João I
amavom, rrompiã as faces e peitos sobrelles, nom teemdo com que
lhe acorrer, senom plamto e espargimento de lagrimas; e sobre todo
isto, medo gramde da cruell vimgamça que emtemdiam que elRei de
Castella deles avia de tomar; assi que eles padeciam duas grandes
guerras, uma dos inimigos que os cercados tinham, e outra dos
mantimentos que lhes mimguavom, de guisa que eram postos em
cuidado de sse defemder da morte per duas guisas.
Pera que he dizer mais de taaes falleçimentos? Foi tamanho o gasto
Acrescentar mais sofre
das cousas que mester aviam que sohou um dia pella cidade que o este sofrimento?
Mestre mamdava deitar fora todollos que nom tevessem pam que Tanta a falta das cousas
que tinham necessidade
comer , e que somente os quer o tevessem ficassem em ella; mas
quem poderia ouvir sem gemidos e sem choro tal hordenamça de cidade Ouviu-se
As pessoas sofriam e choravom
mandado aaquelles que o nom tinham? Porem sabemdo que nom Um pouco
era assi, foilhe já mandado aaquelles que o nom tinham? Porem fome
sabemdo que nom era assi, foilhe já quamto de comforto. Omde
Por causa
sabee que esta fame e falleçimento que as gemtes assi padeciam,
nom era por seer o çerco perlomgado, ca nom avia tamto tempo que Se acolheram na cidade
Lixboa era cercada; mas era per aazo das muitas gemtes que sse a
ella colherom de todo o termo; e isso mesmo da frota do Porto A cidade
Aconteceu o mesmo no Porto
quamdo veo, e os mantimentos serem muito poucos.
Vejais
Hora esguardaae como sse fossees presente, uma tall çidade assi certeza
descomfortada e sem nenhuma çerta feuza de seu livramento, como libertação 2ª pessoa do plural
veviriam em desvairados cuidados, quem sofria omdas de taees viveriam
afflições? Oo geeraçom que depois veo, poboo bem avetuirado, que Tais cuidados Dirige-se às futuras gerações.
Tantas aflições
nom soube parte de tantos malles, nem foi quihoeiro de taaes “Deus protegeu-os, pois ele
testemunha
padeçimentos! Os quaaes a Deos por Sua merçee prougue de çedo agradou resolveu o assunto antes que
eles nascessem” - deus
abreviar doutra guisa, como açerca ouvirees. maneira
Em breve mandou a peste negra,
mandando os contaminados
para lá de forma a assustar os
castelhanos (os castelhanos
eram medricas) -
Enaltecimentos do português,
os portugueses são
corajosos/fortes

Análise
Falamos de uma situação que Lisboa passou- a falta dos mantimentos devido ao cerco de Lisboa pelos castelhanos.
Os castelhanos aproveitaram a acolher as pessoas que eram deitadas fora, depois concluíram que era pelo desgosto que
conseguiriam ganhar. Eles preferiam ficar prisioneiros dos castelhanos do que voltar para a cidade, porque lá iriam morrer à
fome.
Descreve como estava a população de Lisboa, esfomeada porque a cidade estava cercada pelos Castelhanos.
Isto é o reatrto fiel de como está a população.
Crónica- objetivo: registar os acontecimentos mais importantes da época de forma objetiva.
O cronista não consegue ser totalmente objetivo, pois Fernão Lopes também dá a sua opinião e fala do que ele sentia acerca
daquilo tudo. Pois ele é português e conta acontecimentos dos portugueses, ele é subjetivo. (Ex na linha 39 que acaba com
2?” logo é a prova de subjetividade pois o autor pergunta-se a si mesmo).

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