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Luís de Camões viveu numa época em que Portugal gozou o seu ponto mais alto de domínio do
mundo, devido aos Descobrimentos. Esta vivência serviu-lhe de estímulo (histórico) que, aliado
ao renascimento cultural, lhe deu a conhecer as epopeias clássicas, originando então a criação
de uma epopeia nacional.
Os Lusíadas acabam, então, por surgir com um duplo objetivo: exaltar os feitos Portugueses
(ideal cavaleiresco) e enobrecer a Língua Portuguesa.
Estrutura de Os Lusíadas
Estrutura externa
Os Lusíadas estão divididos em dez cantos, cada um deles com um número variável de
estrofes, que, no total, somam 1102. Essas estrofes são todas oitavas (têm oito versos)
decassilábicas (cada verso tem dez sílabas métricas), obedecendo ao esquema rimático
“abababcc” (rima cruzada, nos seis primeiros versos, e emparelhada, nos dois últimos).
Estrutura interna
Camões respeitou com bastante fidelidade a estrutura clássica da epopeia. A obra é
constituída por quatro partes:
Proposição — O poeta começa por declarar aquilo que se propõe fazer, indicando de forma
sucinta o assunto da sua narrativa; propõe-se, afinal, tornar conhecidos os navegadores que
tornaram possível o império português no oriente, os reis que promoveram a expansão da Fé e
do Império, bem como todos aqueles que se tornam dignos de admiração pelos seus feitos
(Canto I, estâncias 1-3).
Invocação — O poeta dirige-se às Tágides (ninfas do Tejo), para lhes pedir o estilo e eloquência
necessários à execução da sua obra; um assunto tão grandioso exigia um estilo elevado, uma
eloquência superior; daí a necessidade de solicitar o auxílio das entidades protetoras dos
artistas (Canto I, estâncias 4 e 5).
Dedicatória — É a parte em que o poeta oferece a sua obra ao rei D. Sebastião (Canto I,
estâncias 6-18).
Narração — O poeta canta os feitos dos Portugueses, tendo como ação central a viagem de
Vasco da Gama à Índia. A par desta, surge a narração da História de Portugal. A narração
constitui o núcleo fundamental da epopeia. Aqui, o poeta procura concretizar aquilo que se
propôs fazer na “proposição”. Surge “in media res”, ou seja, já na viagem (característica da
epopeia clássica).
1. Plano da viagem — A ação central do poema é a viagem de Vasco da Gama. Luís de Camões
percebeu a importância histórica desse acontecimento, devido às alterações que provocou,
tanto em Portugal, como na Europa.
2. Plano da História de Portugal – O objetivo de Camões era enaltecer o povo português e não
apenas um ou alguns dos seus representantes mais ilustres. Tinha, por isso, que introduzir na
narrativa todas aquelas figuras e acontecimentos que, no seu conjunto, afirmavam o valor dos
Portugueses ao longo dos tempos. O poeta utilizou, então, alguns artifícios para contar a
História de Portugal:
a) Narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde — O rei recebe Vasco da Gama e procura
saber quem é ele e donde vem. Para lhe responder, Vasco da Gama localiza o reino de Portugal
na Europa e conta-lhe a História de Portugal até ao reinado de D. Manuel. Ao chegar a este
ponto, conta inclusivamente a sua própria viagem desde a saída de Lisboa até chegarem ao
Oceano Índico, visto que a narrativa principal se iniciara “in media res”, isto é, quando a
armada já se encontrava em frente às costas de Moçambique.
b) Narrativa de Paulo da Gama ao Catual —Em Calecut, uma personalidade hindu (Catual)
visita o navio de Paulo da Gama, que se encontra enfeitado com bandeiras alusivas a figuras
históricas portuguesas. O visitante pergunta-lhe o significado daquelas bandeiras, o que dá a
Paulo da Gama o pretexto para narrar vários episódios da História de Portugal.
c) Profecias — Os acontecimentos posteriores à viagem de Vasco da Gama não podiam ser
introduzidos na narrativa como factos históricos. Para isso, Camões recorreu a profecias
colocadas na boca de Júpiter, Adamastor e Tétis, principalmente.
3. Plano Mitológico, dos Deuses ou Maravilhoso (conflito entre os deuses pagãos) — Camões
imaginou um conflito entre os deuses pagãos: Baco opõe-se à chegada dos Portugueses à
Índia, pois receia que o seu prestígio seja colocado em segundo plano pela glória dos
Portugueses, enquanto Vénus, apoiada por Marte, os protege. O maravilhoso tem uma função
simbólica: esta intriga dos deuses reflete indiretamente as dificuldades que os Portugueses
tiveram que vencer e inculca a ideia de que os portugueses eram seres predestinados para
estas façanhas do destino e que os próprios deuses o desejavam.
A mitologia permite a evolução da ação (os deuses assumem-se como adjuvantes ou como
oponentes dos portugueses) e constitui, por isso, a intriga da obra.
Júpiter - Deus do Céu e da Terra, pai dos deuses e dos homens.
Neptuno - Deus do mar.
Vénus - Deusa do amor e da beleza.
Baco - Deus do vinho e do Oriente.
Apolo - Deus do Sol, das artes e das letras.
Marte - Deus da Guerra, velho apaixonado de Vénus.
Mercúrio - Mensageiro dos deuses.
4. Plano das considerações do poeta — Por vezes, normalmente em final de canto, a narração
é interrompida para o poeta apresentar reflexões de carácter pessoal sobre assuntos diversos,
a propósito dos factos narrados.
“As armas e os barões assinalados/ (...) as memórias gloriosas/ Daqueles Reis (...)/ (...) E
aqueles (...)/ Se vão da lei da Morte libertando:/ Cantando espalharei por toda parte,/ (...) Que
eu canto o peito ilustre Lusitano/ A quem Neptuno e Marte obedeceram.”
Neste excerto, encontram-se todos os agentes do engrandecimento da Pátria que o poeta vai
cantar. Todos eles são sintetizados na força do povo português “...o peito ilustre Lusitano/”, a
quem Neptuno (venceram os mares) e Marte (conquistaram as terras através da guerra)
obedeceram. O povo português é tão sublime, tão digno que glória, determinado e corajoso,
que até os deuses lhe obedecem.
“Do mar que vê do Sol a roxa entrada/” – Perífrase para Oceano Índico, Oriente.
Trágico
Contempla momentos da tragédia clássica:
- a paixão entre Pedro e Inês é um desafio ao poder.
- a punição, a decisão de matar Inês.
- a piedade, presente no discurso de Inês quando tenta demover o rei.
- a catástrofe, quando se consuma a morte de Inês.
Lírico:
O narrador interpela o Amor acusando-o de ser responsável pela tragédia, sendo a
inconformidade do “eu” poético expressa ao longo de todo o episódio, bem como a repulsa
pela morte de Inês, chorada até pela natureza.
- Vasco da Gama relata ao rei de Melinde o episódio trágico de Inês de Castro, cujo
responsável é o Amor.
- Descreve-se a vida feliz e tranquila de Inês nos campos do Mondego. O narrador, neste
momento, vai introduzindo indícios de que essa felicidade não será duradoira “Naquele
engano de alma, ledo e cego” (est. 120, v.3).
- Condenação de Inês – D. Afonso IV decide a morte de Inês, no entanto, tendo-a na sua
presença, vacila, mas as razões do reino levam-no a prosseguir.
- Discurso de Inês – Inês inicia a sua defesa, apelando à piedade do rei através: dos animais
que se humanizam ao cuidar de crianças; da afirmação da sua inocência; do respeito devido às
crianças; do apelo ao desterro.
- Sentença e execução da morte – A determinação do rei mantém-se. Inês é executada.
- Considerações do narrador – vê a morte de Inês como uma atrocidade. Afirma que a própria
natureza chora Inês.
- Vingança de D. Pedro – D. Pedro, quando sobe ao trono, manda matar os carrascos de Inês.
“Do teu príncipe ali te respondiam/ As lembranças que na alma lhe moravam,/ Que sempre
antes seus olhos te traziam,/ Quando dos teus fermosos se apartavam;” – Hipérbato
De notar a impressionista animização da natureza, que chora a morte de Inês “As filhas do
Mondego a morte escura/ Longo tempo chorando memoraram,/” - Animismo
-, como figura mitológica, pertence ao plano mitológico e faz profecias dos acontecimentos
futuros de Portugal, logo, pertence também ao plano da História de Portugal.
- Simbolicamente, este episódio representa os perigos do mar, perigos esses que os
portugueses enfrentaram e ultrapassaram, assemelhando-se, pela grandeza, ao próprio
gigante. Este episódio, por isso mesmo, adquire uma dimensão épica.
- Aparecimento e descrição do Adamastor – figura gigantesca que surge no mar numa atitude
ameaçadora, deixando os marinheiros completamente paralisados “Arrepiam-se as carnes e o
cabelo, / A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!”(est. 49, vv. 7 e 8).
- As profecias: Adamastor começa o seu discurso elogiando os Portugueses. Depois, profetiza
dificuldades futuras na passagem do Cabo.
- A história do Adamastor: era um dos filhos do Céu e da Terra; confrontou-se com Júpiter e
Neptuno; apaixona-se por Tétis, filha de Nereu e Dóris; Dóris promete interceder, dadas as
ameaças de Adamastor em conquistar Tétis pelas armas; Tétis aparece e surge a deceção do
gigante quando se vê abraçado a um rochedo, pensando que abraçava a amada;
transformação de Adamastor em penedo como castigo de Júpiter que venceu os gigantes.
- O Adamastor desaparece, chorando, emocionado com a sua triste sorte – símbolo do
domínio dos mares por parte dos portugueses.
Adamastor
Corpo de super-homem contrasta com a fragilidade psicológica de um herói enganado –
frustração amorosa.
A Tempestade
Na manhã seguinte, já num ambiente calmo, os marinheiros avistam Calecut. Gama agradece
a Deus por ter livrado os portugueses dos perigos da tempestade.
As estâncias relativas à preparação da Ilda dos Amores têm como narrador o poeta e fazem
parte do plano mitológico. Este momento d'Os Lusíadas pode organizar-se em várias partes.
os erros dos humanos, pois «estão, / Amando coisas que nos foram dadas, / Não pera ser
amadas, mas usadas» (est. 25).
São apresentados vários exemplos de situações em que se ama mal, para a expedição de
Cupido: o caçador Actéon, que não soube amar a «bela forma humana» (est. 26) - representa
os que não sabem amar; os homens que se amam a si próprios (est. 27); os aduladores (est.
27); aqueles que amam as riquezas e deixam de lado a «justiça e integridade» (est. 28); os
tiranos (est. 28); as leis feitas a favor do rei e contra o povo (est. 28).
Afirma-se, em síntese, que a expedição de Cupido tinha lugar porque «ninguém ama o que
deve» (est. 29). Por estas razões, Cupido juntou os «Seus ministros» para ajudar a «mal regida
gente» (est. 29) a evoluir no campo do amor.
Leonardo, que até ao momento tinha sido livre; ele continuava a persegui-la apenas porque
tinha esperança de que ela mudasse o destino dele, apaixonando-se.
Est. 145
O poeta, que, por diversas vezes, ao longo do poema, convocou as ninfas para que estas o
inspirassem, vem agora afirmar que não precisa mais da sua inspiração. Tem a lira
«Destemperada» e a «voz enrouquecida», ou seja, não consegue mais continuar o seu canto, o
seu poema. Este cansaço deve-se não ao Longo poema construído, mas à consciência de que
está a cantar para uma «gente surda e endurecida».
Constata, assim, tristemente, que a pátria não o protegerá, por que «está metida / No gosto da
cobiça e na rudeza / Düa austera, apagada e vil tristeza». Os portugueses do tempo de Camões
são, assim, apresentados como totalmente diferentes daqueles que o poeta louvou ao longo
do poema, pois vivem dominados pela cobiça e pela tristeza.
Est. 146
O poeta mostra não compreender por que razão a pátria (os portugueses do seu tempo) não
encara, com alegria e vontade de trabalhar, os desafios que vão surgindo.
Dirige-se a D. Sebastião, apelando a que este se rodeie de «vassalos excelentes», ou seja, de
portugueses que ainda sejam capazes de grandes sacrifícios e que não estejam dominados
pela tristeza, pela preguiça e pela cobiça.
Est. 154-56
Dirigindo-se a D. Sebastião, o poeta autocaracteriza-se de forma humilde, mostrando a sua
pouca Importância: «humilde, baixo e rudo, / De vós não conhecido nem sonhado». Não
obstante, oferece os seus serviços ao rei, mostrando as suas mais-valias: o honesto estudo, a
experiência e o engenho, «Cousas que juntas se acham raramente», como conclui Camões.
Deste modo, o poeta declara-se pronto para servir D. Sebastião tanto na guerra como
enquanto poeta, cantor dos grandes feitos a serem praticados. Se D. Sebastião o aceitar, o
poeta cantará de forma gloriosa todas as grandes vitórias que terão lugar, numa nova epopeia.
Anáfora - Repetição (de que resulta sobressair o que se repete) de uma palavra ou de um
membro de frase "Vistes que, com grandíssima ousadia/ Vistes aquela insana fantasia/ Vistes,
e ainda vemos cada dia," (VI, 29).
Hipérbole - Exagero de qualquer realidade para a tornar mais saliente, exagero este que serve
para ferir o pensamento quando tomada à letra "Que a vivos medo, e a mortos faz espanto,".
Ironia - Exprime o contrário do que as palavras ou frases significam, para que se compreenda
ou a estupidez ou a fraqueza que se pretende castigar após se verificar a discordância:
Ex.: "Oulá, Veloso amigo, aquele outeiro (...)
Por me lembrar que estáveis cá sem mim;" (V, 35).
Metáfora - Consiste em designar um objecto ou ideia por uma palavra que convém a outro
objecto ou outra ideia - ligados aqueles por uma analogia. A metáfora é num único, os dois
termos da comparação sem a partícula comparativa (como) "Tomai as rédeas vós do reino
vosso:" (I, 15).
Onomatopeia - Representação auditiva ou visual pelos sons das palavras, além do respetivo
sentido: tentativa de imitação dos ruídos naturais através dos fonemas da linguagem: "Polas
concavidades retumbando." (III, 107).
Perífrase - Expressão por diversas palavras daquilo que se poderia dizer mais concisamente ou
apenas por uma palavra "Pelo neto gentil do velho Atlante." (=Mercúrio) (I, 20).
Sinédoque - Consiste em tomar o todo pela parte e a parte pelo todo, o plural pelo singular ou
o singular pelo plural "Que da Ocidental praia Lusitana" (=Portugal) (I,1).