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História Integrada
BRASIL: ECONOMIA COLONIAL 5
1. Introdução 2. Ciclo do pau-brasil
Como sucedeu à quase totalidade das possessões Durante o Renascimento Comercial da Baixa Idade
europeias na América, também o Brasil foi uma colônia de Média, os europeus tiveram oportunidade de conhecer
exploração*, submetida às regras do Pacto Colonial para uma madeira originária da Ásia, à qual deram o nome de
proporcionar recursos econômicos a sua metrópole. Para pau-brasil porque produzia um corante cor de brasa, de
alcançar esse objetivo, desenvolveu uma economia grande aplicação no tingimento de tecidos. Quando o
especializada e extrovertida (isto é, direcionada para a Brasil foi descoberto, os portugueses encontraram na
exportação), baseada primordialmente na grande lavoura nova terra uma variante da planta asiática, utilizada pelos
tropical, sobretudo de cana-de-açúcar. A essa atividade índios na confecção de arcos, flechas e também no apro-
devemos acrescentar o extrativismo vegetal e principal- veitamento da tinta, ainda que de forma rudimentar.
mente o mineral, que predominou na maior parte do O pau-brasil é uma árvore de porte médio, com altura
século XVIII. Tais características inseriram o Brasil no superior a 10 metros; atualmente, encontra-se quase extin-
circuito da economia pré-capitalista da Idade Moderna, na to na Natureza, mas outrora foi abundante na Mata
condição de área periférica, fornecedora de metais Atlântica, entre o Rio Grande do Norte e o Rio de Janeiro*.
preciosos e produtos tropicais, além de consumidora de Como os portugueses não encontraram de imediato outros
artigos produzidos nos centros do sistema (países da recursos que pudessem ser explorados de forma consis-
Europa Ocidental). tente**, e considerando que o corante da América era de
* Poucas áreas brasileiras receberam o que se poderia chamar de “colonização
melhor qualidade que seu congênere oriental***, passaram
de povoamento”. Esse processo se restringiu ao Rio Grande do Sul e ao litoral a explorar esse produto, dando início ao ciclo do pau-
catarinense, com a finalidade de conter um possível avanço dos espanhóis na brasil, cujo nome viria a substituir a denominação “Terra
região.
de Santa Cruz”, até então aplicada à colônia.
A historiografia tradicional costuma dividir a
* O quase desaparecimento do pau-brasil não deve ser imputado apenas a sua
economia do Brasil Colônia em ciclos, alguns dominando extração para fins comerciais, pois essa foi uma atividade essencialmente
a produção colonial em certos períodos, outros de âmbito costeira. Nas áreas mais interioranas da Mata Atlântica, a madeira vermelha foi
vítima do desmatamento provocado pela expansão da agricultura.
apenas regional. Há quem critique o uso do termo “ciclo”
** Nos anos que se seguiram ao Descobrimento, animais exóticos brasileiros,
porque ele indicaria a ocorrência de fases que deveriam
principalmente macacos e papagaios, também foram comercializados. A
recomeçar depois de um intervalo – o que não se aplica propósito, em um mapa francês da época, o Brasil constava como “Terra dos
ao curso da economia brasileira, formado por etapas Papagaios”.
distintas. Entretanto, adotaremos essa classificação, por *** O pau-brasil americano e o asiático são espécies vegetais distintas,
denominadas cientificamente Caesalpinia echinata e Caesalpinia sappan.
ser didática e ainda bastante utilizada.
É costume serem considerados quatro grandes ciclos A extração do pau-brasil começou já em 1503, quando
na economia brasileira até a Independência: o do o rei D. Manuel I concedeu a exclusividade da exploração a
um grupo de comerciantes lisboetas, liderados por Fernão
pau-brasil, o da cana-de-açúcar, o da mineração e o
de Noronha*. Entretanto, as contrapartidas exigidas pelo
chamado Renascimento Agrícola. Com exceção do
soberano (reconhecimento do litoral, construção de
último, os demais se caracterizaram pela existência de
fortificações, repressão ao contrabando e pagamento de certa
um produto dominante (“produto-rei”) que, mesmo
quantia à Coroa) inviabilizaram o empreendimento,
coexistindo com outras atividades, superava-as
levando-o à falência. Mesmo assim, a extração do pau-brasil
largamente. continuou a ser monopólio real (estanco), explorado por
Além dos grandes ciclos já mencionados, o Brasil particulares mediante autorização régia.
Colônia conheceu outros de alcance mais restrito, mas que
* Na ocasião, Fernão de Noronha recebeu do rei, como capitania hereditária, o
também serão estudados neste capítulo. Arquipélago de São João (mais tarde redenominado “Fernando de Noronha”).
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Os estancos
Na legislação portuguesa da Época Colonial, estanco
era o monopólio estabelecido pelo rei sobre a produção
e/ou comercialização de determinados artigos, bem como
a exclusividade do comércio em certas regiões. Esse
monopólio podia ser exercido diretamente pela Coroa ou
arrendado a particulares mediante um pagamento – no
primeiro caso, de forma permanente; no segundo, por um
Ilustração quinhentista mostrando a extração do pau-brasil. período convencionado.
O extrativismo do pau-brasil pode ser definido como Ao longo da Idade Moderna, o governo luso criou um
uma atividade predatória, esporádica e itinerante: pre- grande número de estancos, os quais podiam incidir sobre
datória, pois não houve replantio para substituir a madeira produtos tão diversos como óleo de baleia, sabão e cartas de
extraída; esporádica, pois a exploração se processou de jogar (baralho). No Brasil, os monopólios mais importantes
forma intermitente; e itinerante, pois não fixava os por- e duradouros foram os do pau-brasil, do sal, dos diamantes
tugueses nas áreas de extração. A mão de obra utilizada na e do comércio de tabaco (quando exportado para a Europa).
derrubada e transporte do pau-brasil até os locais de Os estancos faziam parte da política mercantilista,
embarque foi a indígena livre. Para realizar essas tarefas, para a qual a intervenção do Estado na economia e a
os nativos eram recompensados com objetos de baixo custo, imposição de monopólios eram princípios fundamentais.
mas muito estimados por eles, como facas, tesouras, ma- Com efeito, a ausência de concorrência permitia que o
chados, espelhos e tecidos de cores vivas. Muitos autores agente monopolizador elevasse os preços, aumentando
consideram que essa relação entre índios e europeus era seus lucros e fortalecendo o tesouro real, fosse pela ação
uma forma de escambo, visto que envolvia a troca de direta da Coroa, fosse pelo pagamento da concessão.
mercadorias com valor monetário desigual. Ora, deve-se A partir de meados do século XVII, os altos preços
observar que o pau-brasil era um recurso natural, sobre o dos produtos estancados, somados à pressão fiscalista do
qual os silvícolas não tinham a propriedade – o que não “arrocho colonial”, causaram irritação entre os colonos,
permite, a rigor, considerar que se tratasse de escambo. inspirando revoltas contra a opressão metropolitana.
Para armazenar a madeira vermelha antes de ser em-
barcada para a Europa, os portugueses instalaram feitorias. 3. Ciclo do açúcar
Estas em nada se assemelhavam às suas correspondentes
africanas, que eram entrepostos comerciais bem montados No início da Baixa Idade Média, os europeus conhe-
e permanentes. No caso brasileiro, tratava-se de instalações ceram o açúcar, considerado uma especiaria, como a
precárias e rudimentares, abandonadas tão logo o produto pimenta-do-reino, o cravo, a canela, o gengibre e a
começasse a escassear. Por essa razão, a exploração do noz-moscada. Originário da Índia, esse produto passou a
pau-brasil não constituiu um fator de colonização, perma- ser comercializado pelos árabes quando se expandiram pelo
necendo como atividade dominante apenas no Período Oriente Médio, após a morte de Maomé. Tendo aprendido
Pré-Colonial. Eis por que o ciclo do pau-brasil se encerrou as técnicas de cultivo da cana e da produção de açúcar –
com o início da colonização portuguesa, embora sua inclusive sua refinação –, os sarracenos (outra denominação
exploração continuasse nos séculos seguintes. Ao que se dos árabes), a partir do século XI, passaram a produzir
sabe, o último embarque desse produto para a Europa foi açúcar nas regiões da Andaluzia (Espanha) e do Algarve
registrado em 1814. (Portugal). Quando portugueses e espanhóis recon-
É interessante notar que a extração da madeira corante quistaram esses territórios, começaram eles próprios a
brasileira teve menos relevância para os portugueses do produzir açúcar, ainda que em quantidade inferior às
que para os franceses que frequentavam o litoral brasileiro necessidades da Europa. A produção foi ampliada quando
no século XVI. Essa discrepância se explica porque os os lusitanos a estenderam, no início do século XV, às recém-
lusitanos dispunham de opções mais lucrativas (produtos descobertas Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde.
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Organização da
produção açucareira
Na agroindústria açucareira* do Período Colonial, a
fazenda de cana e o engenho de açúcar se complemen-
tavam, formando uma unidade econômica praticamente
Número de engenhos existentes no Brasil em fins do século XVI, mostrando
autossuficiente**. Na lavoura propriamente dita, o
a preeminência de Pernambuco e da Bahia na produção açucareira. trabalho era apenas braçal. Já na produção do açúcar, as
diversas etapas do processo (moagem da cana, cozimento
Conforme já foi explicado no capítulo anterior, Por- da garapa e principalmente a secagem do açúcar***) en-
tugal sofreu um grave abalo econômico nos anos finais da volviam conhecimentos de técnicos especializados,
década de 1520, em consequência da abrupta baixa nos geralmente assalariados. A produção açucareira implicava
preços dos produtos orientais, notadamente das especiarias. ainda outras funções (carpinteiros, oleiros, carreiros),
Para compensar a desvalorização desses artigos, o governo desempenhadas quase todas por escravos. Acrescentan-
luso decidiu ampliar a produção de açúcar, até então do-se a todos esses trabalhadores cativos aqueles que
limitada à região do Algarve e às ilhas do Atlântico. O serviam diretamente à família do senhor, executando
Brasil, graças a suas condições climáticas e à extensão de tarefas domésticas, é possível avaliar a relevância da mão
suas terras cultiváveis, seria a escolha natural para a expan- de obra escrava na economia açucareira e, por analogia,
são da lavoura canavieira e da produção de açúcar. Além em outras atividades produtivas da época.
disso, o sedentarismo da atividade agrícola, em oposição
* Embora a produção açucareira colonial tecnicamente estivesse no estágio da
ao caráter itinerante da extração de pau-brasil, contribuiria manufatura, é possível falar em agroindústria do açúcar desde que o termo
para o povoamento da colônia, tornando-a defensável “indústria” não seja usado no sentido de maquinofatura, mas como qualquer
processo de transformar matéria-prima em bem de consumo.
contra possíveis tentativas de fixação dos franceses.
O início do ciclo da cana-de-açúcar coincidiu com a ** Essa autossuficiência era completada por áreas destinadas à agricultura de
subsistência e outras reservadas para as cabeças de gado utilizadas nas
própria colonização portuguesa, quando Martim Afonso atividades do engenho.
de Sousa fundou a vila de São Vicente, em 1532. Na *** As etapas de processamento de açúcar faziam do engenho uma estrutura
ocasião, foram plantadas as primeiras mudas de cana e foi relativamente complexa, na qual se destacavam a casa da moenda, a casa das
construído o primeiro engenho. Mas a produção vicentina fornalhas e a casa de purgar – esta última destinada à secagem e ao
branqueamento do açúcar. O engenho produzia ainda outros derivados da cana:
seria rapidamente suplantada pelo açúcar do Nordeste, melaço, rapadura e principalmente aguardente, muito consumida no mercado
onde o solo de massapê (ou massapé) se mostrou extrema- interno e também um artigo de destaque no escambo de escravos africanos.
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Havia dois tipos de engenhos: o trapiche, em que a ainda hoje caracterizam grande parte da agricultura
moenda era movida por juntas de bois; e o engenho real, brasileira. O polo oposto era integrado pela massa de es-
mais produtivo, no qual a moagem da cana se processava cravos, destituída de quaisquer direitos. O contraste entre
por meio da força hidráulica. A implantação da lavoura os dois extremos podia ser simbolizado por suas respec-
de cana e a construção do engenho demandavam recur- tivas moradias: a casa grande, para os senhores de enge-
sos financeiros de certa monta, acessíveis apenas a quem nho, e a senzala, para os escravos. Quanto ao setor
dispusesse de meios próprios ou conseguisse intermediário, era constituído por feitores, trabalhadores
financiamentos. especializados, artesãos, “lavradores obrigados” (peque-
nos plantadores de cana que recorriam aos engenhos das
Sociedade açucareira colonial grandes fazendas para produzir açúcar) e também homens
armados que impunham a autoridade do senhor de enge-
nho na região.
• Aristocrática: o segmento dominante na sociedade
açucareira, representado pelos senhores de engenho,
assemelhava-se à aristocracia (ou nobreza) existente em
outras regiões e em diferentes períodos históricos. Apesar
de não possuir raízes na nobreza de Portugal, esse grupo
tendia a se considerar superior aos demais componentes
da sociedade colonial, por força de seu poder econômico
e do prestígio social dele decorrente. Por tais razões, essa
camada social, como outros estratos semelhantes, era
pequena, elitista e fechada, não aceitando o ingresso de
elementos provenientes dos grupos considerados “infe-
riores”*. A ela cabia ainda exercer o poder político local
Gravura do artista alemão Johann-Moritz Rugendas (1802-58), mostrando um
engenho real, isto é, movido a água. O desenho também ilustra as relações por meio das câmaras municipais.
sociais presentes na economia açucareira, baseadas no domínio do senhor
* Diferentemente da aristocracia agrária das colônias inglesas, que sempre
sobre a mão de obra escrava.
manteve uma rigorosa separação em relação a seus escravos, os senhores de
engenho tenderam a miscigenar-se com as índias e principalmente com as
Excetuando-se a prática do escravismo, extinta em escravas negras. Todavia, os mestiços resultantes dessas ligações não ascendiam
ao estrato dominante, permanecendo na camada intermediária, ou até mesmo na
1888, é possível considerar a sociedade que se formou em condição de escravos.
torno da economia açucareira como paradigma de outras
formações sociais agrárias, não só do Período Colonial, • Escravista: conforme já foi estudado, a força de
mas também do Brasil Império e das primeiras décadas trabalho utilizada na produção açucareira e nas atividades
do Brasil República. A respeito dela, podemos citar os correlatas era essencialmente escrava. Até princípios do
seguintes traços característicos: século XVII, a escravidão indígena coexistiu com a
africana, mas depois tendeu a desaparecer, em parte
• Rural: embora muitos senhores de engenho manti- devido à crescente dificuldade no apresamento de silví-
vessem casa na vila mais próxima e muitas vezes par- colas, mas sobretudo por conta da intensificação do tráfico
ticipassem dos debates na câmara municipal, a grande negreiro. A existência da escravidão no Brasil Colônia e
maioria da população ligada à produção de açúcar morava também no Império contribuiu poderosamente para o
na zona rural, trabalhando na fazenda ou no engenho. enraizamento de preconceitos e formas de discriminação
• Estratificada: formada por camadas (estratos) bem que ainda marcam a sociedade brasileira atual – inclusive
definidas na estrutura de produção, com pouca ou ne- com relação ao trabalho braçal.
nhuma mobilidade. No entanto, seria exagero conside- • Patriarcal: os grandes proprietários de terras exer-
rá-la uma sociedade estamental, na qual o nascimento – ciam sobre seus familiares, escravos, empregados e agre-
mais que a função dentro do processo produtivo – deter- gados um poder que podia ultrapassar os limites de sua
mina a posição social do indivíduo. fazenda, estendendo-se aos donos de propriedades me-
• Polarizada: constituída basicamente por dois polos nores. Essa autoridade, assegurada pelas Ordenações do
opostos, com um setor intermediário pouco significativo. Reino, podia incluir o direito de sentenciar à morte, caso
O polo dominante era formado pelos senhores de a jurisdição dos funcionários coloniais não alcançasse as
engenho, uma elite numericamente reduzida, mas deten- terras do senhor de engenho, fosse pela distância, fosse
tora da concentração fundiária e também de renda que pelo prestígio do próprio fazendeiro.
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• Conservadora: à aristocracia rural não interessava Não obstante o declínio do açúcar brasileiro no plano
alterar uma estrutura que lhe era totalmente favorável. externo, o Nordeste continuou a tê-lo como principal
Por essa razão, os “homens-bons” que a constituíam artigo de exportação. No final do século XVIII, a produ-
tendiam a rejeitar qualquer mudança de cunho ção açucareira do Brasil se reergueria durante algum
econômico ou social, defendendo intransigentemente o tempo, mas em outro contexto econômico, conhecido
latifúndio, a escravatura e o patriarcalismo, o que incluía como Renascimento Agrícola.
a submissão da mulher e a limitação de seu papel ao Concluindo, é importante observar que, consideran-
ambiente doméstico. do-se a totalidade do Período Colonial (1532-1815), o
açúcar representou, em valor monetário, o principal item
Apogeu e decadência das exportações brasileiras, que superou até mesmo a
do açúcar brasileiro exploração de ouro e diamantes.
Tendo começado na década de 1530, o ciclo do
açúcar estendeu-se pelo século XVII, com Pernambuco e 4. Ciclo da mineração
Bahia ocupando os primeiros lugares na produção. A ne-
cessidade de investir recursos consideráveis nas fazendas De acordo com os princípios mercantilistas vigentes
e nos engenhos, em uma conjuntura de dificuldades na Idade Moderna, o ouro e a prata constituíam os mais
econômicas para Portugal, fez com que os flamengos (ou importantes elementos do sistema econômico porque,
holandeses) desempenhassem um papel fundamental no possuindo valor intrínseco (isto é, valor próprio, indepen-
empreendimento açucareiro, entrando com finan- dentemente de terem sido ou não convertidos em moeda),
ciamentos, fornecendo transporte para a Europa, re- representavam o capital gerador de bens e de serviços.
finando o açúcar e comercializando-o. Com isso, a Dentro dessa concepção, conhecida como metalismo, a
participação flamenga deixava para os luso-brasileiros obtenção de metais preciosos suplantava qualquer outra
apenas as etapas mais onerosas e menos lucrativas do atividade econômica.
processo, a saber, o plantio da cana e a produção de Quando do descobrimento e colonização do Novo
açúcar. Considerando-se o pagamento de juros pelos Mundo, somente a Espanha teve acesso imediato ao ouro
financiamentos, a cobrança de frete pelo transporte e a e à prata, por já serem conhecidos dos astecas e incas, com
grande margem de lucro proporcionada pela refinação do quem os conquistadores entraram em contato. No Brasil,
açúcar bruto, é possível constatar que, contrariamente às os portugueses, ainda no século XVI, encontraram algum
expectativas, o açúcar brasileiro não salvou Portugal da ouro nas proximidades da vila de São Paulo e no litoral
crise econômica, pois os ganhos maiores ficaram com os do atual estado do Paraná. Mas as quantidades do metal
comerciantes dos Países Baixos. eram tão pequenas e o processo de sua obtenção, conhe-
A União Ibérica, iniciada em 1580, interrompeu a cido como ouro de lavagem, tão pouco compensador que
parceria luso-flamenga, uma vez que Portugal foi forçado logo foi abandonado. Na falta de metais preciosos, a
a se alinhar com a política externa da Espanha, então em exploração econômica da colônia brasileira foi direcio-
guerra contra a Holanda. Privados dos rendimentos prove- nada para a grande lavoura de exportação. Mesmo assim,
nientes do comércio de açúcar, os holandeses fundaram os luso-brasileiros continuaram a se impressionar e a se
em 1621 a Companhia das Índias Ocidentais, empresa maravilhar com notícias sobre a existência de fabulosas
que tinha como objetivo principal a conquista do Nordeste riquezas minerais no interior do sertão*, como Sabara-
Brasileiro. buçu, uma montanha feita de esmeraldas, ou a Serra dos
Após um malsucedido ataque contra a Bahia, os Martírios, toda de prata.
flamengos invadiram Pernambuco, onde se mantiveram * Empregaremos o vocábulo “sertão” em duas acepções: a primeira, grafada
com inicial minúscula, indica áreas afastadas, pouco conhecidas ou ainda não
durante 24 anos, sendo expulsos em 1654. Nesse ínterim, desbravadas e de difícil acesso, quase sempre cobertas de mata; a segunda,
tiveram oportunidade de transplantar para as Antilhas o grafada com inicial maiúscula, designa o interior da Região Nordeste, cujo
cultivo da cana e as técnicas de produção açucareira, que conjunto é completado com o Agreste e a Zona da Mata.
eles aperfeiçoaram. Assim, em fins do século XVII, o Na segunda metade do século XVII, bandeirantes
açúcar antilhano suplantou seu concorrente brasileiro nos paulistas, até então voltados para o apresamento de
mercados internacionais, graças a sua melhor qualidade, índios, começaram a empreender expedições em busca
ao preço mais baixo e à maior proximidade em relação à de pedras e metais preciosos. Os resultados foram
Europa. Tal situação pôs fim ao ciclo do açúcar no Brasil, infrutíferos até que, em 1693, Antônio Rodrigues Arzão
abrindo espaço para o ciclo da mineração. encontrou ouro em Cataguazes, na região que depois
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receberia o nome de “Minas Gerais” por causa da riqueza fundição, na qual o ouro extraído seria fundido em
de suas jazidas. Seguiram-se muitos outros achados, com barras, retirando-se o quinto devido à fazenda real.
destaque para as minas de Sabará, descobertas em 1700. Todavia, esse estabelecimento teve curta duração. Em
Esse foi o início do ciclo da mineração (também 1695, uma segunda casa de fundição foi criada em
conhecido como “ciclo do ouro e diamantes” ou simples- Taubaté, na então capitania de São Vicente, logo após o
mente “ciclo do ouro”), que dominaria o cenário achamento de ouro em Minas Gerais. Mas foi somente
brasileiro na maior parte do século XVIII. em 1720 que o governo colonial decidiu abrir casas de
Minas Gerais foi o grande centro aurífero do Período fundição no território mineiro propriamente dito.
Colonial. Entretanto, não se podem esquecer as minas de Contudo, os colonos procuravam burlar o fisco,
Mato Grosso e Goiás, descobertas respectivamente em sonegando o quinto e remetendo ouro clandestinamente
1720 e 1725, depois que a maior parte dos paulistas foi para a Europa.
expulsa de Minas em consequência da Guerra dos Em 1734, o Conselho Ultramarino suprimiu o
Emboabas (1707-09). quinto, substituindo-o por um novo imposto: a
capitação (do latim caput = cabeça). Esta incidia sobre
O processo de mineração todos os trabalhadores de Minas Gerais, livres e
O mineral extraído no Período Colonial foi o ouro escravos, relacionados ou não com a atividade
de aluvião, no qual as partículas auríferas (faíscas) se mineradora. No caso dos escravos, o imposto era pago
misturavam com a areia dos cursos d’água. Não se por seu proprietário; e, em se tratando de trabalhadores
tratava, portanto, da extração do ouro incrustado na individuais (brancos pobres, negros alforriados ou
rocha (ouro de veio), que exigiria a construção de nascidos livres), eles próprios arcavam com o
galerias subterrâneas. A exploração do ouro de aluvião pagamento da capitação. Esse novo sistema era de exe-
era menos trabalhosa, mas em contrapartida tendia a se cução mais fácil que o quinto, mas diminuiu os rendi-
esgotar rapidamente. De qualquer forma, a montagem mentos da Coroa, agravando a situação financeira de
da lavra (local de exploração do ouro) demandava Portugal.
investimentos, mormente na aquisição de escravos. Por A capitação beneficiou a elite econômica de Minas
essa razão, quando o metal começava a escassear, as Gerais (grandes mineradores, comerciantes ricos, agiotas),
lavras se tornavam antieconômicas, pois o trabalho dos pois diminuiu os impostos que lhes eram cobrados,
escravos seria me nos rentável. Eram então contrariando o “arrocho colonial” iniciado no século
abandonadas por seus pro priet ários e ocupadas por anterior. Por outro lado, onerou os habitantes de baixa
garimpeiros ou faiscadores. Estes eram trabalhadores renda, aumentando a miséria que afligia grande parte da
pobres que, equipados apenas com uma bateia população.
(utensílio utilizado para separar o ouro de outros Em 1750, o governo luso fez uma correção de rumo,
sedimentos), buscavam os resquícios auríferos ainda restabelecendo a cobrança do quinto por meio das casas
existentes nas jazidas. de fundição. Essa alteração, porém, veio com uma
Nos primeiros anos do ciclo da mineração, a explo- agravante: o quinto não seria mais cobrado sobre o ouro
ração se processou de forma desordenada, pois não havia efetivamente extraído, mas com base em uma estimativa
autoridades que regulamentassem a distribuição das la- calculada acima das reais possibilidades de Minas
vras. Em 1702, o poder da Metrópole foi estabelecido na Gerais; por isso, o novo imposto foi chamado de finta
região por meio da criação da Intendência das Minas. A (fingimento, simulação). Estipulou-se que a capitania
esta cabia demarcar as datas (terrenos concedidos para a
deveria produzir 500 arrobas (cerca de 7.500 quilos) de
exploração aurífera), dirimir conflitos e organizar a
ouro por ano, o que significava pagar à Coroa 100
administração local.
arrobas (1.500 quilos) anuais. Esse cálculo,
deliberadamente exagerado, criaria um débito fiscal
Tributação sobre o ouro
crescente, a ser zerado pela derrama – cobrança rateada
Quando foi criado o sistema de capitanias hereditá- entre todos os homens livres de Minas Gerais, podendo
rias, em 1534, o foral entregue aos donatários já de- ser paga em espécie (dinheiro) ou com outros bens. Essa
terminava que a Coroa receberia o quinto das pedras e medida tirânica, potencialmente geradora de revoltas,
dos metais preciosos encontrados na colônia. Com o foi aplicada uma única vez, em 1764. Uma segunda
objetivo de controlar a extração do ouro de lavagem, foi derrama deveria ter sido lançada em 1789, mas foi
instalada em São Paulo, em 1580, a primeira casa de suspensa por ocasião da Inconfidência Mineira.
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pobres. Mas, diferentemente da formação social ligada ao ainda pertencentes oficialmente à Espanha – consolidou
açúcar, nela havia um setor intermediário significativo, a presença portuguesa nessas regiões, resultando em uma
constituído por pequenos comerciantes, tropeiros e situação de fato que a Espanha acabaria por reconhecer
profissionais ligados a atividades urbanas, como em 1750, pelo Tratado de Madri.
pedreiros, carpinteiros, latoeiros e artífices do couro. O filho e sucessor de D. João V foi D. José I (1750-
77), o qual teve menos recursos à sua disposição, pois a
• Escravismo e patriarcalismo: nestes dois aspectos,
mineração brasileira, na segunda metade do século XVIII,
a estrutura da mineração assemelhava-se às formações
entrou em rápida decadência. A enérgica administração do
agrárias do Período Colonial. Mesmo assim, é necessário
Marquês de Pombal, primeiro-ministro de D. José, con-
esclarecer que no ciclo da mineração, embora a escravidão
teve temporariamente a crise portuguesa; mas esta reini-
também representasse a mão de obra principal, os
ciaria seu curso no reinado de D. Maria I (1777-1816;
trabalhadores livres, ligados à garimpagem e às profissões
afastada do trono em 1792).
urbanas, tiveram relevância maior do que nas áreas
No Brasil, o ciclo da mineração produziu consequên-
açucareiras. Quanto ao patriarcalismo, apesar de no ciclo
cias de grande alcance, a saber:
da mineração persistirem as fortes restrições ao papel da
mulher, destacaram-se ao menos duas figuras femininas: • acentuado crescimento populacional, decorrente da
Xica da Silva (1732-96), ex-escrava que ganhou grande grande imigração de portugueses e da entrada de dezenas
projeção na sociedade local, e Bárbara Heliodora (1759- de milhares de escravos africanos; no final do século
1819), poetisa, esposa do inconfidente Alvarenga Peixoto, XVIII, a população do Brasil elevava-se a mais de 1
cujo envolvimento na Conjuração Mineira foi bastante milhão de pessoas;
influenciado por ela. • interiorização do povoamento, até então pratica-
mente restrito às áreas litorâneas da colônia;
• Progressismo: ainda que a sociedade mineradora
tenha preservado a hierarquia e os valores patriarcais • urbanização da região aurífera e diamantífera de
tradicionais, orientando-se portanto em um sentido clara- Minas Gerais, com o surgimento de numerosas vilas;
mente conservador, no plano político-intelectual ela se mos- • deslocamento do eixo econômico brasileiro do
trou relativamente progressista. Com efeito, a influência da Nordeste açucareiro para o Sudeste minerador, com des-
Ilustração setecentista foi marcante, produzindo no plano taque para o eixo Minas Gerais-Rio de Janeiro;
literário os poetas da Arcádia Mineira e, no político, a pri- • transferência da capital de Salvador para o Rio de
meira tentativa emancipacionista da História do Brasil. Janeiro, em 1763;
• formação de um ativo mercado interno em Minas
Consequências da mineração
Gerais, contribuindo para integrar economicamente as di-
Nem o ouro nem os diamantes do Brasil contri- versas regiões da colônia*;
buíram para restaurar a prosperidade de Portugal, perdida * Minas Gerais, entre outros produtos, consumia “drogas do sertão” da
no século XVI. A maior parte do ouro, amoedado ou não, Amazônia, açúcar e aguardente de Pernambuco, tabaco da Bahia, produtos
europeus importados através do Rio de Janeiro e gado (principalmente muares)
foi parar nos cofres da Inglaterra, para pagar empréstimos do Rio Grande do Sul.
(com os respectivos juros) e também para cobrir o déficit
• surgimento do barroco mineiro, estilo arquitetônico
da balança comercial portuguesa, agravado após a assina-
e escultórico com características bem definidas;
tura do Tratado dos Panos e Vinhos (ou Tratado de
Methuen). A propósito, deve-se observar que esse acordo • desenvolvimento intelectual da colônia, com in-
aduaneiro, extremamente desvantajoso para Portugal, foi fluência das ideias iluministas do século XVIII, graças aos
assinado em 1703, apenas dez anos após o descobrimento estudos realizados em universidades europeias pelos fi-
das primeiras jazidas auríferas em Minas Gerais. É lhos de mineradores*.
preciso igualmente ressaltar que o apogeu da mineração * Dificilmente filhos de senhores de engenho tinham oportunidade de cursar
universidades, pois os ganhos auferidos por seus pais geralmente eram gastos
coincidiu com o reinado de D. João V (1706-50), o mais na manutenção da fazenda e do engenho, bem como na conservação de seu
perdulário e um dos mais ineptos monarcas lusitanos, que status aristocrático.
dilapidou as finanças do reino para manter uma aparência
de esplendor incompatível com a realidade do país. Pa- O barroco e o arcadismo
radoxalmente, o governo desse soberano foi positivo para O ciclo da mineração deu origem ao barroco mineiro,
o Brasil: sua política de criar núcleos urbanos e construir estilo arquitetônico e escultórico que se manifestou
fortificações na Amazônia e no Centro-Oeste – terras sobretudo na arte sacra – construção de igrejas, pinturas
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murais e principalmente na estatuária. O barroco mineiro e principalmente de meios de transporte, além de força
pode ser considerado tardio em relação ao barroco motriz para os engenhos que não fossem movidos pela força
europeu; este floresceu no século XVII, embora a música hidráulica. Para atender a essas finalidades, desenvolveu-se
barroca tenha abrangido boa parte do século XVIII. a pecuária bovina e, em menor escala, a muar (criação de
Na arquitetura, o barroco mineiro (melhor seria burros, jumentos e mulas, destinados principalmente ao
chamá-lo de barroco colonial, pois não se circunscreveu transporte de carga). Houve também a criação de equinos
a Minas Gerais) notabilizou-se pelas igrejas exteriormente (cavalos), de suínos e, eventualmente, de ovinos e caprinos.
singelas, mas profusamente decoradas no interior, com A pecuária colonial desenvolveu-se principalmente
imagens de forte dramaticidade, pintadas em cores vivas, em duas regiões, a saber:
e altares ricamente trabalhados. O maior representante
desse estilo foi o escultor Antônio Francisco Lisboa, mais Região Nordeste
conhecido como o Aleijadinho (1738-1814).
Outro aspecto importante da produção cultural
brasileira do século XVIII ocorreu na literatura. Dois
poetas do período, Frei José de Santa Rita Durão (1722-
84) e José Basílio da Gama (1741-95), autores respec-
tivamente dos poemas épicos Caramuru e Uraguai,
nasceram em Minas Gerais, mas viveram e morreram na
Europa, não guardando relação com a efervescência
intelectual do ciclo da mineração. As figuras preeminentes
do momento intelectual vivido em Minas Gerais foram os
poetas da Arcádia Mineira (sociedade literária fundada
com o nome de Arcádia Ultramarina). Esses literatos
representaram no Brasil o arcadismo – estilo poético de
motivação campestre e pastoril, marcado pela influência Vaqueiros nordestinos com vestuário de couro, adequado para protegê-los em
da Natureza inspirada nos clássicos latinos (notadamente seu trabalho na caatinga.
Nordeste eram mais próximas da região aurífera do que o escravidão negra (e também indígena, no caso do Nordeste).
território gaúcho; mas o clima ameno, a vegetação mais Com isso, a criação de gado, com o extrativismo vegetal, a
aberta e a existência de farta alimentação para as reses lavoura de subsistência e as profissões urbanas, representou
permitiram que se criassem em terras gaúchas bois, um dos poucos nichos da economia colonial em que o
cavalos e mulas com qualidade superior aos do Nordeste. escravismo não foi dominante.
O gado rio-grandense era conduzido até a vila paulista de No Sertão Nordestino, a mão de obra livre ligada à
Sorocaba, onde intermediários o adquiriam para revendê- pecuária tinha origem indígena; com efeito, os nativos se
lo em Minas Gerais. adaptaram melhor a essa atividade do que à lavoura de
plantation. Por via de regra, o índio era remunerado com
certo número de cabeças de gado, o que viria a transformá-
lo em um pequeno criador inserido na sociedade regional,
com a qual tendia a se miscigenar. Essa circunstância
propiciou o surgimento de um fenótipo característico e ainda
hoje muito presente na população nordestina.
Outra singularidade da pecuária no Nordeste foi o
aproveitamento do couro bovino para a confecção de
diversos produtos, desde o vestuário (mais resistentes aos
espinhos das plantas da caatinga) e arreios até peças rústicas
de mobiliário, sobretudo camas e redes. Essa peculiaridade
levou alguns estudiosos a mencionar a existência de uma
“civilização do couro” na região.
No Rio Grande do Sul, os estancieiros (proprietários de
estâncias – nome dado às fazendas de gado locais) buscaram
contratar empregados assalariados, dando preferência aos
que, como eles próprios, tivessem ascendência europeia.
Essa identidade etnocultural, somada à proximidade entre
patrões e seus peões, todos envolvidos na lida diária com o
rebanho, criou relações de lealdade que fariam dos
agregados servidores fiéis dos donos de terras, inclusive
acompanhando-os em conflitos armados.
Um subproduto da pecuária, ainda que não diretamente
Vaqueiro rio-grandense, cuja indumentária reflete a influência de seus
congêneres uruguaios e argentinos. ligado à atividade criatória, foi o surgimento dos tropeiros.
Estes conduziam as tropas* de burros e mulas e transpor-
Pelo fato de requerer uma mão de obra pouco nume- tavam mercadorias de uma região a outra, trilhando caminhos
rosa, a pecuária por si só não pode ser considerada um já existentes ou abrindo outros novos, de acordo com as
fator de povoamento no Período Colonial. No entanto, ela
necessidades da produção e do consumo. Os tropeiros
contribuiu significativamente para a ocupação de áreas
tiveram importância no comércio inter-regional até princípios
interioranas e, no Rio Grande do Sul, para a expansão
do século XX, quando foram suplantados pelos transportes
territorial brasileira. Durante o Renascimento Agrícola, a
pecuária, até então voltada para o mercado interno, passou ferroviário e rodoviário. Todavia, não se pode minimizar sua
a exportar couros e charque, dentro da diversificação que influência na difusão de notícias e no intercâmbio de
caracterizou o período. costumes regionais. Também criaram uma cultura própria,
cujos traços ainda podem ser notados no interior brasileiro.
Particularidades da pecuária colonial
* Tropa: nesta acepção, conjunto de animais de carga utilizados no transporte
de mercadorias.
A criação de gado empregava menos mão de obra que
a lavoura, pois os animais se reproduziam, se desenvolviam
e se deslocavam por si próprios. Além disso, as áreas “Drogas do sertão”
pecuaristas ficavam distantes dos portos de entrada dos es- As especiarias do Oriente foram muito utilizadas
cravos africanos. Por essas razões, os criadores de gado – pelos europeus durante a Baixa Idade Média, pois se
tanto nordestinos como sul-rio-grandenses – deram pre- acreditava servirem não apenas como temperos e conser-
ferência a trabalhadores livres, sem no entanto prescindir da vantes de alimentos, mas também como possuidoras de
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propriedades medicinais. Esta última crença se desfez do mercado internacional até a proibição definitiva do
quando a abundância dos produtos, tornando-os mais tráfico negreiro, em 1850. Depois disso, a produção fu-
acessíveis aos consumidores, demonstrou que tinham mageira do País direcionou-se quase exclusivamente para
pouco efeito terapêutico. Reduzidas à condição de meros o mercado interno, produzindo charutos, cigarros e tam-
condimentos, as especiarias do Oriente seriam substituí- bém o fumo de corda, consumido sobretudo pelas classes
das, na farmacopeia da época, por plantas da Amazônia populares do interior.
conhecidas genericamente como “drogas do sertão”. Nos
séculos XVII e XVIII, a grande aceitação desses produtos
estimulou os portugueses a comercializá-los. Os princi-
pais itens da flora amazônica eram a castanha-do-pará, o
cacau (cultivado na Bahia a partir do Renascimento
Agrícola), a baunilha, o guaraná, ervas curativas e outras
espécies. Além desses produtos vegetais, eram também
negociados outros de origem animal – gordura do peixe-
boi, ovos de tartaruga e peles de animais silvestres.
Como já acontecera na exploração do pau-brasil, as
“drogas do sertão” eram coletadas por índios das missões
ou contratados por comerciantes lusos. Neste caso, os
indígenas eram pagos com artigos de seu interesse, como
panos, armas e ferramentas. A maioria dos estudiosos con-
sidera essa remuneração uma forma de escambo. Todavia,
semelhantemente ao que ocorreu no ciclo do Pau-Brasil,
as plantas transacionadas não constituíam, aos olhos dos
silvícolas, mercadorias em seu verdadeiro sentido.
Deve-se observar que a extração das “drogas do
sertão” não chegou a prejudicar a Floresta Amazônica,
pois não propiciou a formação de núcleos urbanos
estáveis; mas, por outro lado, contribuiu para confirmar a
Mapa mostrando as principais atividades econômicas do Brasil Colônia.
posse de Portugal sobre a maior parte da região.
O tabaco é uma planta originária da América cujas O algodão começou a ser cultivado no Brasil quase
folhas eram queimadas e aspiradas ou inaladas pelos simultaneamente com a cana-de-açúcar, embora tivesse
indígenas. Introduzido na Europa pelo francês Jean Nicot importância menor. No século XVII, seu cultivo centrou-
no século XVI, seu uso se difundiu primeiro entre os pro- se no Maranhão, estendendo-se ao Ceará e ao Rio Grande
testantes, pois os papas condenaram esse costume como do Norte. Até o advento da Revolução Industrial, a
pecaminoso. Não obstante, no final do século XVII, o posição do algodão brasileiro no mercado internacional
hábito de fumar já se generalizara no continente europeu. era pouco significativa, dada a grande produção das
No Brasil, o fumo foi cultivado na Bahia, com vistas colônias inglesas na América do Norte, direcionada para
principalmente ao escambo de escravos africanos – per- abastecer as manufaturas têxteis do Reino Unido.
dendo nessa finalidade apenas para a aguardente. Parale- Antes que seu produto ganhasse a aceitação dos
lamente, seu consumo se propagou entre a população fabricantes britânicos de tecido, os cotonicultores
colonial. Em meados do século XVII, parte do tabaco maranhenses tinham uma margem de lucro estreita, o que
produzido no Brasil já era exportada para a Europa por dificultava a aquisição de escravos africanos. Essa cir-
ser considerada de boa qualidade, capaz de competir com cunstância levou os fazendeiros a recorrer à mão de obra
seus congêneres turco e virginiano (da colônia inglesa da indígena, capturada por meio de pretensas “guerras jus-
Virgínia, localizada na América do Norte). Em 1642, o tas”, ocasionando choques com os jesuítas, intransigentes
governo português impôs o estanco sobre o fumo destina- defensores da liberdade dos ameríndios.
do ao Velho Mundo, mas não estendeu essa restrição ao
Lavoura de subsistência
produto destinado à Costa da África.
Devido à sua relevância para o comércio de escravos, Apesar de não haver constituído um verdadeiro ciclo
o tabaco brasileiro foi pouco influenciado pelas oscilações econômico, é necessário mencionar a lavoura de subsistên-
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cia, tendo em vista seu papel fundamental para nutrir a Durante a Guerra de Independência (1775-83) dos
população colonial. As grandes fazendas de cana, por exem- Estados Unidos contra a Inglaterra, as exportações brasi-
plo, tinham uma área destinada à produção de alimentos para leiras de algodão atingiram seu pico, devido à interrupção
consumo local, o que incluía o sustento dos escravos. do fornecimento norte-americano à Grã-Bretanha. Mesmo
Os principais produtos cultivados tinham origem depois do término do conflito e da retomada do comércio
nativa, como a mandioca, o milho, o feijão e a abóbora, anglo-norte-americano, os industriais ingleses conti-
podendo ser complementados com frutas da terra e nuaram a importar fibra têxtil do Brasil até as primeiras
hortaliças. O consumo de vegetais era reforçado pela décadas do século XIX, quando nossas exportações do
criação assistemática de galinhas e porcos, além da caça produto começaram a cair – em parte por causa da expan-
e da pesca. A maior ou menor presença desses produtos, são dos algodoais norte-americanos pelo Baixo Mississipi,
bem como o modo de prepará-los e as diferentes após a compra da Louisiana à França, em parte pela
influências etnoculturais, determinaram as características crescente concorrência do algodão indiano e mais tarde,
da culinária de cada região. do egípcio.
Os plantadores nordestinos, que haviam estendido sua
produção ao interior do Rio Grande do Norte e da Paraíba,
6. Renascimento Agrícola viveram uma nova conjuntura favorável durante a Guerra
de Secessão (1861-65), quando o Sul cotonicultor, blo-
Na segunda metade do século XVIII, a decadência da
queado pela marinha do Norte, viu-se impedido de
produção aurífera prenunciava o fim do ciclo da minera-
exportar seu produto para a Inglaterra. Ao fim dessa
ção; a exploração diamantífera seguia a mesma tendência.
efêmera retomada, o algodão brasileiro, cuja qualidade
Face a essa situação, as finanças do Reino Português, já
melhorara consideravelmente, passou a ser consumido
gravemente comprometidas pelo desastroso reinado de
pela nascente indústria têxtil do Sudeste.
D. João V, precisariam encontrar outros recursos. Foi com
esse intuito que o marquês de Pombal incentivou o retorno
Cana-de-Açúcar
do Brasil à grande lavoura tropical de exportação, dando
início a um novo ciclo da economia colonial: o Renas- O açúcar foi o produto-rei da economia brasileira
cimento Agrícola, que se estenderia de aproximadamente desde o começo da colonização até a segunda metade do
1770 até depois da Proclamação da Independência. século XVII, quando se viu suplantado por seu concorren-
O Renascimento Agrícola deve ser visto como um te antilhano. No final do século XVIII, porém, a revolta
ciclo de transição entre a mineração e o café. Nesse dos escravos haitianos* (1791-1804), que estimulou rebe-
sentido, tendo em vista a falta de um produto-rei que liões menores em outras ilhas da região, desorganizou a
dominasse as outras atividades econômicas, ele se carac- produção local, abrindo espaço para a recuperação do
terizou pela diversificação das exportações. Todavia, seria açúcar brasileiro. A Região Nordeste, tradicional produ-
inadequado considerar a economia brasileira do período tora, recobrou por algum tempo sua antiga prosperidade;
como policultora, pois a cotonicultura e a produção
simul-taneamente, um novo polo açucareiro formou-se na
açucareira sobressaíram de forma expressiva, deixando as
porção do planalto paulista conhecida como “Oeste
demais atividades em posição secundária. O algodão e o
Velho”**.
açúcar foram fomentados por Pombal mediante a criação
de duas empresas privilegiadas (monopolistas), fundadas * Em 1697, a Ilha Hispaniola (ou Ilha de São Domingos), que pertencia à
Espanha, teve sua parte ocidental cedida à França, com o nome de Saint-Domin-
respectivamente em 1755 e 1759: a Companhia Geral de gue. Em 1804, esse território teve sua independência reconhecida com o nome
Comércio do Grão-Pará e Maranhão e a Companhia de Haiti (“terra montanhosa”, no extinto idioma indígena da região).
Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba. ** O chamado “Oeste Paulista” recebeu esse nome por estar localizado a oeste
do Vale do Paraíba, embora corresponda à porção central do atual estado de São
Cotonicultura Paulo. Compreendia duas partes: o “Oeste Velho”, mais próximo da cidade de
São Paulo, e o “Oeste Novo”, situado mais ao norte e que se desenvolveu com
Relegado a uma posição secundária durante um a lavoura cafeeira.
século e meio, o algodão brasileiro foi grandemente Mais ou menos na mesma época em que o algodão
favorecido pelo início da Revolução Industrial. Com começou a perder mercados, o açúcar brasileiro sofreu
efeito, a mecanização da atividade têxtil expandiu uma segunda decadência. Os fatores para essa nova crise
rapidamente a produção, tornando insuficiente a matéria- foram a retomada da produção antilhana (agora centrada
prima norte-americana. Nessa conjuntura, os industriais em Cuba, uma colônia da Espanha) e a popularização do
ingleses recorreram ao algodão maranhense – ainda que
açúcar de beterraba europeu, que, por volta de 1850, já
de qualidade inferior –, importando-o por intermédio de
alcançava 14% da produção açucareira mundial.
Portugal.
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8. (PUC-RIO) – A conquista e a colonização europeias na América, II. O estabelecimento de laços de pseudoparentesco, como, por
entre os séculos XVI e XVIII, condicionaram a formação de exemplo, o compadrio, contribuía para conferir à família um
sociedades coloniais diversas e particulares. Sobre tais sociedades, caráter extenso e, ao mesmo tempo, nos revela que as
podemos afirmar: relações nessa sociedade não eram unicamente de natureza
I. Nas áreas de colonização espanhola, explorou-se, exclusiva- econômica.
mente, a força de trabalho das populações ameríndias, sob a III. O casamento era visto como um meio de fortalecimento e ex-
forma de relações servis, como a mita e a encomienda. pansão dos interesses familiares; as filhas casadas eram
II. Nas áreas de colonização portuguesa, particularmente nas excluídas de quaisquer direitos sobre os bens de sua família
regiões destinadas ao fabrico do açúcar, foi empregada, em paterna e, em caso de viuvez, lhes era proibido por lei contrair
larga escala, a mão de obra escrava de negros africanos e/ou de novo matrimônio.
indígenas locais. IV. A fim de assegurar e fortalecer os interesses do núcleo fami-
III. Ao norte do litoral atlântico norte-americano, área de liar, apenas o filho mais velho herdava bens produtivos, como,
colonização inglesa, houve o estabelecimento de pequenas e por exemplo, escravos e terras, cabendo aos demais apenas
médias propriedades, nas quais se utilizou tanto o trabalho livre bens de representação social, como joias, mobiliário, prataria.
quanto a servidão por contrato. V. Os escravos eram excluídos de todo o tipo de contato mais
IV. Na região do Caribe, em áreas de colonização inglesa e direto com o senhor de engenho e seus familiares, o que reve-
francesa, assistiu-se à implantação da grande lavoura, voltada la o racismo característico dessa sociedade e o triunfo de teses
para a exportação e assentada no uso predominante da mão higienistas que condenavam a miscigenação.
de obra de escravos africanos.
Assinale:
a) Se somente as afirmativas I e II estão corretas.
Assinale a alternativa correta.
b) Se somente as afirmativas I e V estão corretas.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
c) Se somente as afirmativas II e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
d) Se somente as afirmativas III e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e) Se somente as afirmativas IV e V estão corretas.
d) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
12. (FUVEST) – Podemos afirmar sobre o período da mineração no
Brasil:
9. (UNIFESP) – O uso do trabalho escravo de africanos na América
a) Atraídos pelo ouro, vieram para o Brasil aventureiros de toda
colonial representou para setores das colônias e das metrópoles,
espécie, que inviabilizaram a mineração.
respectivamente,
b) A exploração das minas de ouro beneficiou apenas Portugal.
a) o aumento do lucro na produção agrícola e a concentração de
c) A mineração deu origem a uma classe média urbana que teve
capital por meio dos ganhos com o tráfico.
papel decisivo na Independência do Brasil.
b) a aceitação passiva, pelos africanos, da condição de escravos e
d) O ouro beneficiou apenas a Inglaterra, que financiou a sua
o controle absoluto da circulação de mercadorias.
exploração.
c) o desconhecimento pelos escravos das novas terras, dificultan-
e) A mineração contribuiu para interligar as várias regiões do Brasil
do as fugas, e a maior especialização da mão de obra.
e foi fator de diferenciação da sociedade.
d) a substituição da mão de obra indígena e a semelhança com as
relações de trabalho então existentes na Europa.
13. (FGV) – Segundo Caio Prado Jr., na História Econômica do Brasil,
e) o repovoamento de áreas cujas populações originais foram
“ao contrário do que se deu na agricultura e em outras atividades
dizimadas e o controle militar do Atlântico.
da Colônia (como na pecuária), a mineração foi submetida desde o
início a um regime especial de minuciosa e rigorosa disciplina”.
10. (FUVEST) – Comparando-se as colônias da América Portuguesa e
da América Espanhola, pode-se afirmar que Com o estabelecimento desse regime especial para a exploração
a) as funções dos encomenderos foram idênticas às dos colonos do ouro, o governo português visava
que receberam sesmarias no Brasil. a) eliminar o sistema tributário metropolitano que não beneficiava
b) a mão de obra escrava africana foi a base de sustentação das a Coroa.
atividades mineradoras, em ambas as colônias. b) estimular o aparecimento de novas áreas agrícolas, ampliando
c) a atuação da Espanha, diferente da de Portugal, foi contrária às a exportação para a metrópole.
diretrizes mercantilistas para suas colônias. c) impedir a emigração portuguesa para a colônia para preservar
d) as manufaturas têxteis foram proibidas por ambas as Coroas, e a exploração do ouro só para os reinóis.
perseguidas as tentativas de sua implantação. d) impulsionar a produção aurífera, determinando a desativação
e) as atividades agrárias e mineradoras se constituíram na base das Casas de Fundição.
das exportações das colônias das duas Américas. e) incentivar a produção do ouro, assegurando os lucros da Coroa,
e evitar o contrabando e a sonegação.
11. Analise as afirmações abaixo, referentes à sociedade que se
constituiu na região açucareira no Período Colonial: 14. (UNIFENAS) – Foram consequências da mineração, exceto
I. A família se organizava em bases patriarcais, o que se eviden- a) o surgimento de um mercado interno.
ciava, entre outros aspectos, pelo fato de o patriarca decidir b) a urbanização.
acerca do futuro dos membros de sua família e pelo hábito de c) a melhoria do nível cultural.
as mulheres só saírem acompanhadas e cobertas por d) a decadência da atividade açucareira.
mantilhas. e) a maior fiscalização da Coroa sobre a colônia.
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15. (FUVEST) – “E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das b) A organização da produção açucareira no Brasil estava voltada
minas passa em pó e em moeda para os reinos estranhos e a para o atendimento da crescente e rentável demanda do
menor quantidade é a que fica em Portugal e nas cidades do mercado europeu, não atendida pelos engenhos da colônia
Brasil...” portuguesa dos Açores.
(João Antonil, Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711.) c) A autoridade do senhor de engenho se restringia aos limites de
sua propriedade, estando fora dela submetida às leis e normas
Esta frase indica que as riquezas minerais da colônia da Coroa Portuguesa, defendidas na colônia por um forte
a) produziram ruptura nas relações entre Brasil e Portugal. aparato militar e judiciário.
b) foram utilizadas, em grande parte, para o cumprimento do d) Os senhores de engenho, em comparação com os barões do
Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra. café, tratavam seus escravos com menos violência, pois estes
c) se prestaram, exclusivamente, aos interesses mercantilistas da eram tidos como mercadorias de alto valor e de difícil
França, da Inglaterra e da Alemanha. reposição.
d) foram desviadas, majoritariamente, para a Europa por meio do e) O alto valor do açúcar no mercado internacional promoveu um
contrabando na região do Rio da Prata. grande acúmulo de riqueza na colônia, que logo superou, em
e) possibilitaram os acordos com a Holanda, que asseguraram a volume, a economia da metrópole.
importação de escravos africanos.
19. (FUVEST)
16. (UEL-Adaptada) – Um dos problemas que a população brasileira
enfrentou no Período Colonial foi a constante escassez de alimen-
tos. Isto ocorria pela seguinte razão (entre outras):
a) a partir de meados do século XIX, o aumento dos preços do
café no mercado internacional provocou uma expansão do
cultivo desse grão no Brasil, levando a uma queda na produção
de itens de subsistência.
b) devido à carência de mão de obra, os escravos eram utilizados
na exploração mineradora, na madeireira e na pecuária, o que
impediu o desenvolvimento da produção de alimentos e a
formação de um mercado internacional.
c) a transferência da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro repre-
sentou um aumento no consumo de produtos alimentícios,
causando um colapso na economia de subsistência do Reino
Unido de Brasil e Portugal.
d) quando a exportação de açúcar se encontrava em uma fase
ascendente, os esforços se canalizavam ao máximo para a sua
produção, diminuindo o cultivo de outros produtos alimentícios.
e) em meados do século XVIII, o desenvolvimento da indústria
têxtil na Inglaterra estimulou a produção pernambucana de
algodão destinado à exportação, o que resultou na redução da
área de plantio de produtos alimentares.
18. (UFC) – Ao contrário da América Espanhola, a América Portuguesa Assinale a alternativa que explica, corretamente, a afirmação anterior.
não apresentou, no princípio, abundância de metais preciosos. Na a) As relações econômico-comerciais entre Inglaterra e Portugal
falta de riqueza mineral, foi o açúcar que, em termos econômicos, estavam baseadas no Pacto Colonial, o que assegurava
tornou viáveis os primeiros passos da colonização. vultosos lucros aos ingleses.
Sobre o contexto da produção de açúcar nos engenhos coloniais b) A Inglaterra participava dos lucros da mineração brasileira, pois
portugueses, no século XVI, assinale a alternativa correta. as trocas comerciais eram favoráveis a ela, estabelecidas com
a) A existência de um solo ideal para o cultivo da cana-de-açúcar Portugal pelo Tratado de Methuen.
levou as capitanias situadas nas atuais Regiões Nordeste e Cen- c) O declínio do setor manufatureiro em Portugal, decorrente do
tro-Oeste do Brasil a experimentarem um maior desenvolvi- Embargo Espanhol, tornou a economia lusa altamente depen-
mento. dente das exportações agrícolas inglesas.
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d) A Revolução Industrial Inglesa foi possível, graças à importação 24. (UFPB) – O título e a letra da música a seguir fazem referência, em
de matéria-prima barata proveniente de Portugal. linguagem artística, ao processo de formação territorial do Brasil.
e) Portugal e Inglaterra eram parceiros no comércio com as colô- Esse processo teve muitas motivações, diversos agentes
nias portuguesas na Ásia; entretanto, o transporte era realizado históricos, variadas formas de organização e múltiplas direções
por navios ingleses, o que lhes assegurava maior participação geográficas, dele resultando o alargamento das dimensões
nos lucros daí advindos. originais das possessões portuguesas na América, que haviam sido
estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas (1494).
21. (UNIFESP) – Entre aproximadamente 1770 e 1830, a região mara-
nhense conheceu um ciclo de prosperidade econômica, graças “ENTRADAS E BANDEIRAS
a) à produção e exportação do algodão, matéria-prima então muito
O que vocês diriam dessa coisa
requisitada por causa da Revolução Industrial em curso na
Que não dá mais pé?
Inglaterra.
O que vocês fariam pra sair desta maré?
b) à criação da pecuária e à indústria do charque, para abastecer O que era sonho vira terra
o mercado interno então em expansão por causa da crise do Quem vai ser o primeiro a me responder?
Sistema Colonial.
c) ao extrativismo dos produtos florestais, cuja demanda pelo Sair desta cidade ter a vida onde ela é
mercado internacional teve lugar exatamente naquele momen- Subir novas montanhas diamantes procurar
to. No fim da estrada e da poeira
d) à produção e exportação de arroz, cacau e fumo, cujos produtos Um rio com seus frutos me alimentar”
começaram a ter aceitação no mercado mundial de matérias- (Milton Nascimento; Fernando Brant. Disponível em: <http://milton
primas. nascimento.letras.terra.com.br/letras/252573/->. Acesso em: 8 set. 2006.)
e) à produção e exportação do açúcar, o qual, com o aumento da
demanda, exigiu novas áreas de cultivo, além da nordestina. Considerando-se a letra da música, as informações apresentadas
e seus conhecimentos sobre o tema, verifica-se que as motiva-
22. (FUVEST) – Ao longo do século XVII, vegetais americanos como ções, os agentes, as formas de organização e a direção geográfica
a batata-doce, o milho, a mandioca, o ananás e o caju penetraram da expansão territorial na América Portuguesa estão, corretamente,
no continente africano. Isso deve ser entendido como correlacionadas em:
a) parte do aumento do tráfico negreiro, que estreitou as relações a) A busca e aprisionamento de índios, para a sua comercialização
entre a América Portuguesa e a África e fez do sistema sul- nos engenhos do atual Nordeste, desfalcados de escravos
atlântico o mais importante do Império Português. negros após a tomada de Angola pelos holandeses, motivou os
b) indício do alinhamento crescente de Portugal com a Inglaterra, habitantes de São Paulo a organizar bandeiras para o extremo
que pressupunha a consolidação da penetração comercial no ocidental da Amazônia.
interior da África. b) A procura de ouro e metais preciosos impulsionou autoridades
c) fruto de uma política sistemática de Portugal no sentido de metropolitanas e colonos a formarem monções, aproveitando
anular a influência asiática e consolidar a americana no interior a navegabilidade do Rio Paraná, em direção à capitania de
de seu império. Minas Gerais.
d) imposição da diplomacia adotada pela dinastia dos Braganças, c) A busca de terras para o gado, afastadas da região canavieira
que desejava ampliar a influência portuguesa no interior da litorânea, estimulou os estancieiros do sul (capitania de São
África, região controlada por comerciantes espanhóis. Pedro do Rio Grande) a empreender entradas nos sertões
e) alternativa encontrada pelo comércio português, já que os paraibanos.
franceses controlavam as antigas possessões portuguesas no d) A procura de ouro e, depois, o interesse no comércio, decorrente
Oriente e no Estuário do Prata. da descoberta das minas na região, incentivaram os colonos
paulistas a organizar monções para a capitania de Mato Grosso,
23. (UFPI-Adaptada) – Considerando-se o Período Colonial Brasileiro penetrando território então pertencente ao Império Espanhol.
(1500-1822) e tomando-se, nesse recorte, aspectos do cotidiano da e) A necessidade de expansão do gado para novas terras induziu
sociedade colonial, é correto afirmar que os habitantes de São Paulo a formar bandeiras contra os índios
a) os sobrados eram armazéns destinados à venda de produtos guaranis, aldeados em Missões ao sudoeste dos limites
importados da Europa, sendo sua denominação decorrente do territoriais da América Portuguesa à época.
modo como, pejorativamente, alguns brasileiros igualavam
esses armazéns às "sobras" do comércio europeu. 25. (VUNESP) – “A cana-de-açúcar começou a ser cultivada igual-
b) a casa-grande, além de encarnar simbolicamente o poder dos mente em São Vicente e em Pernambuco, estendendo-se depois
senhores de escravos e engenhos, expandiu-se também, no à Bahia e ao Maranhão a sua cultura, que onde logrou êxito – me-
Brasil Colônia, como símbolo matriarcal. díocre como em São Vicente ou máximo como em Pernambuco,
c) a miscigenação étnica, decorrente de condições históricas no Recôncavo e no Maranhão – trouxe em consequência uma
típicas no Brasil, contribuiu para a ausência de conflitos entre sociedade e um gênero de vida de tendências mais ou menos
colonizador e colonizados. aristocráticas e escravocratas.”
d) uniões formais e duradouras entre nativas indígenas e coloniza- (Gilberto Freyre, Casa-Grande e Senzala)
dores portugueses comprovam a tese, presente em parte da Tendo por base as afirmações do autor,
historiografia sobre o Brasil, da cordialidade brasileira. a) cite um motivo do maior sucesso da exploração da cana-de-
e) o concubinato nas relações amorosas no Brasil, mais comum na açúcar em Pernambuco do que em São Vicente.
região da capitania de São Vicente, restringiu-se ao Período b) explique por que o autor definiu “o gênero de vida” da socieda-
Colonial, tendo sido completamente banido a partir do início do de constituída pela cultura da cana-de-açúcar como apresentan-
século XIX. do “tendências mais ou menos aristocráticas”.
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26. (FGV) – “É constante que o tabaco do Brasil é tão necessário para a) Poucos se beneficiaram da riqueza oferecida pelos minérios e
o resgate de negros quanto os mesmos negros são precisos para nenhum brasileiro enriqueceu com a extração de ouro ou de
a conservação da América Portuguesa. Nas mesmas circunstân- diamantes porque apenas os portugueses podiam realizá-la.
cias se acham outras nações que têm colônias; nenhuma delas se b) A mão de obra escrava predominava nas Minas Gerais porque
pode sustentar sem escravos e todas precisam do nosso tabaco a Igreja Católica impedia que os índios trabalhassem e nenhum
para o comércio de resgate...”
homem livre se dispunha a enfrentar as dificuldades da região.
(Instrução dada ao Marquês de Valência por
c) O sonho do enriquecimento fácil e rápido atraiu milhares de
Martinho de Melo e Castro em 10 de setembro
de 1779, apud Mafalda P. Zemella, O abastecimento da
pessoas para a região e todos podiam explorar livremente, pois
capitania das Minas Gerais no século XVIII. Adaptado.) a metrópole não estabelecia qualquer limite ou restrição à
atuação dos mineradores.
A partir do documento, é correto afirmar: d) A imensa riqueza extraída era compartilhada de forma desigual,
a) O caráter de extrema especialização da exploração dos metais dada a forte dependência da metrópole, o alto custo dos
preciosos trouxe uma série de descuidos com as outras ativi- alimentos na região e o grande volume de impostos.
dades econômicas, como o tabaco e o açúcar, desorganizando e) Quase todos os escravos que trabalharam nas Minas Gerais
toda a economia colonial. obtiveram alforria por meio do furto de parte do minério
b) A especificidade da exploração de ouro no interior da colônia encontrado ou porque os proprietários libertavam aqueles que
brasileira exigiu uma mão de obra também específica: trabalha- descobriam ouro.
dores em condição intermediária entre o trabalho compulsório
e o trabalho livre.
c) Com a exploração aurífera em Minas Gerais, a necessidade de 28. (MACKENZIE) – "Há dois lados na Divisão Internacional do Traba-
mão de obra compulsória fez com que aumentasse a produção lho: um em que alguns países se especializam em ganhar e outro
de tabaco, pois essa mercadoria servia como moeda de troca em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo,
para escravos na África. que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se
d) Com a presença holandesa no Nordeste do Brasil e a proibição em perder desde os remotos tempos em que os europeus do
Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em
metropolitana em relação ao comércio interno, inúmeros pre-
sua garganta."
juízos atingiram a economia colonial, em especial a produção
(Eduardo Galeano. As veias abertas
de tabaco de Pernambuco.
da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.)
e) Devido ao extremo cuidado com a mineração, o Conselho
Ultramarino proibiu a produção de tabaco fora da Bahia e exigiu I. A economia colonial da América Latina tinha um caráter com-
que a chegada de escravos da África fosse feita apenas pelo plementar em relação às suas metrópoles europeias.
porto do Rio de Janeiro. II. O exclusivo metropolitano resultava em superavit comercial
para as colônias.
27. (PUC-SP) – “Quando a capitania das Minas Gerais conhecia o seu III. A opção pela plantation de cana-de-açúcar, em diferentes áreas
apogeu, milhares de homens viviam na miséria, passavam fome, da América Latina, respondia aos propósitos estabelecidos pela
vagavam sem destino pelos arraiais, tristes frutos deteriorados de política mercantilista.
um sistema econômico doente e de uma estrutura de poder
violenta. Da riqueza extraída das Minas, quase tudo ia para a Considerando I, II e III acima, a tese defendida pelo autor do texto
metrópole, onde se consumia em gastos suntuários, em se reforça
construções monumentais (...), no pagamento das importações de a) somente em I.
que Portugal necessitava.” b) somente em III.
c) somente em I e em III.
O texto acima mostra várias faces da exploração do ouro nas Minas
d) somente em II e em III.
Gerais durante o Período Colonial. A partir dele e de seus conhe-
cimentos sobre o período, indique a alternativa correta. e) somente em I e em II.
8. C 9. A 10. E 11. A 12. E 13. E 25. a) Entre os elementos responsáveis pelo maior sucesso da
exploração da cana-de-açúcar em Pernambuco, encontra-
14. D 15. B 16. D 17. D 18. B
mos: o solo de massapê, a maior proximidade geográfica
com Portugal e a utilização de mão de obra escrava africana.
19. a) Economia baseada na mineração, crescimento do mercado
b) Gilberto Freyre, ao mencionar “tendências mais ou menos
interno colonial e deslocamento do eixo econômico brasi-
aristocráticas” na sociedade canavieira, está se referindo à
leiro do Nordeste para o Centro-Sul. concentração fundiária, ao caráter excludente de uma
b) Trata-se do chamado “Barroco Mineiro”, caracterizado sociedade pautada no escravismo e na imobilidade social.
pela simplicidade externa das construções, contrastando
com a suntuosidade dos interiores. Esse estilo manifestou-
26. C 27. D 28. C
se principalmente na arte sacra, refletindo a forte
influência da Igreja no Período Colonial.